Relatório Final - Pesquisa no Catálogo
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Relatório Final - Pesquisa no Catálogo
PROGRAMA DE MONITORIZAÇÃO DO PATRIMÓNIO NATURAL (Área de Regolfo de ALQUEVA e PEDROGÃO) PMo 6 – Projectos de Monitorização de Mamíferos Projecto PMo 6.3 – Monitorização de Carnívoros Relatório Final DEZEMBRO 2003 A ti Guadiana A ti te agradecemos Guadiana por seres belo, mas sobretudo por ainda te termos conhecido livre. A ti e ao Vale que tu percorres dedicamos o nosso empenho e este trabalho. Nunca esquecendo que.... A tua liberdade é tão digna quanto a de um homem livre. Joaquim Pedro Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) O presente relatório deve ser citado como: Santos-Reis, M., J.P. Ferreira, N. Pedroso, C. Baltazar, H. Matos, I. Pereira, C. Grilo, T. Sales-Luís, M.J. Santos, A..T. Cândido, I. Sousa & M. Rodrigues 2003. Projectos de Monitorização de Mamíferos. Monitorização de Carnívoros. Relatório Final. 2ª Fase de Monitorização. (Programa de Minimização para o Património Natural). Centro de Biologia Ambiental (FCUL) e Centro de Estudos da Avifauna Ibérica (CEAI). 207 págs. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________i Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) PROGRAMA DE MINIMIZAÇÃO PARA O PATRIMÓNIO NATURAL (Área de Regolfo de ALQUEVA e PEDROGÃO) Projectos de Monitorização de Mamíferos PMo 6.3) Monitorização de Carnívoros Equipa do projecto Instituições Envolvidas Equipa de Investigação Professora Drª Margarida Santos-Reis (Coordenadora Científica) Licº Joaquim Pedro Ferreira (Bolseiro de Investigação Científica) Licº Nuno Miguel Pedroso (Bolseiro de Investigação Científica) Licª Carla Baltazar (Bolseira de Investigação Científica) Licº Hugo Matos (Bolseiro de Investigação Científica) Licª Iris Pereira (Bolseira de Investigação Científica) Licª Clara Bentes Grilo (Bolseira de Investigação Científica) Licª Teresa Sales Luis (Bolseira de Investigação Científica) Licª Maria João Santos (Bolseira de Investigação Científica) Licª Ana Teresa Cândido (Bolseira de Investigação Científica) Licª Inês Sousa (Bolseira de Investigação Científica) Licª Marina Rodrigues (Bolseira de Investigação Científica) Financiado por: Cofinanciado pelo FEDER Agradecimentos Um agradecimento é devido às licenciadas Carla Azeda, Carla Barrinha e Sílvia Rosa pelo apoio prestado nos trabalhos de laboratório e pela sua ajuda nos trabalhos de campo e igualmente a Giovanni Manghi, pelo grande apoio prestado nos trabalhos de campo. Agradece-se ainda à Professora Doutora Maria João Collares-Pereira e à sua equipa pela cedência de dados referentes à ictiofauna, bem como ao Dr. David Draper pelo contributo nas medidas de recuperação e conservação dos habitats. À Stephanie Frees, Maria Inês Morte, Paula Pinheiro, Susana Margarida Amaral, Dália Freitas e Carla Marques, pela colaboração na análise da dieta da lontra e pelo trabalho de campo. Um agradecimento especial é também devido ao Mário Mota pela fotointerpretação, bem como ao Pedro Geraldes, Miguel Lecoq e Rogério Cangarato pela cedência de dados de campo e a todos os alunos da FCUL que se voluntariaram para ajudar no trabalho de campo. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________ii Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Índice 1. Introdução ........................................................................................................................................................... 1 2. Estado actual dos conhecimentos acerca das espécies alvo........................................................................ 4 2.1. Toirão (Mustela putorius Linnaeus, 1758) .................................................................................................... 4 2.2. Lontra (Lutra lutra Linnaeus, 1758) .............................................................................................................. 5 2.3. Gato-bravo (Felis silvestris, Schreber 1777) ................................................................................................ 7 2.4. Lince (Lynx pardinus Temminck, 1827) ....................................................................................................... 7 3. Área de estudo ................................................................................................................................................... 9 4. Estratégia global de amostragem ................................................................................................................... 10 4.1. Inquéritos .................................................................................................................................................... 11 4.2. Pesquisa de indícios de presença .............................................................................................................. 12 4.3. Modelos preditivos de distribuição espacial ......................................................................................................... 13 4.3.1. Análise de regressão logística ........................................................................................................... 14 4.3.1.1. Selecção de variáveis para construção do modelo .............................................................. 16 4.3.1.2. Avaliação da qualidade de ajustamento do modelo ............................................................. 17 5. Mapeamento da ocupação do solo ................................................................................................................ 18 5.1. Metodologia ................................................................................................................................................. 18 5.2. Resultados e discussão............................................................................................................................... 19 6. Avaliação da distribuição e abundância do coelho-bravo.............................................................................. 22 6.1.Metodologia................................................................................................................................................... 22 6.1.1. Estratégia pré-desmatação/desarborização ....................................................................................... 22 6.1.2. Estratégia pós-desmatação/desarborização ...................................................................................... 25 6.2. Resultados e discussão................................................................................................................................ 25 6.2.1. Evolução do padrão de distribuição ................................................................................................... 26 6.2.2. Modelo preditivo de distribuição espacial .......................................................................................... 28 7. Avaliação da distribuição e abundância das espécies alvo........................................................................... 35 7.1. Toirão ........................................................................................................................................................ 36 7.1.1. Metodologia......................................................................................................................................... 36 RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________iii Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 7.1.1.1. Estratégia pré-desmatação/desarborização....................................................................... 36 7.1.1.2. Estratégia pós-desmatação/desarborização ...................................................................... 38 7.1.2. Resultados e discussão..................................................................................................................... 44 7.1.2.1. Evolução do padrão de distribuição .................................................................................... 44 7.1.2.2. Modelo preditivo de distribuição espacial .......................................................................... 59 7.2. Lontra ........................................................................................................................................................ 63 7.2.1. Metodologia....................................................................................................................................... 63 7.2.1.1. Estratégia pré-desmatação/desarborização ...................................................................... 63 7.2.1.2. Estratégia pós-desmatação/desarborização ..................................................................... 65 7.2.1.3. Avaliação das necessidades tróficas .................................................................................. 67 7.2.2. Resultados e discussão................................................................................................................... 70 7.2.2.1. Evolução do padrão de distribuição ................................................................................... 70 7.2.2.2. Modelo preditivo de distribuição espacial .......................................................................... 99 7.2.2.3. Avaliação das necessidades tróficas .................................................................................. 103 7.3. Gato-bravo .............................................................................................................................................. 108 7.3.1. Metodologia....................................................................................................................................... 108 7.3.1.1. Estratégia pré-desmatação/desarborização ...................................................................... 108 7.3.1.2. Estratégia pós-desmatação/desarborização ...................................................................... 112 7.3.2. Resultados e discussão ................................................................................................................... 114 7.3.2.1. Evolução do padrão de distribuição .................................................................................... 114 7.3.2.2. Modelo preditivo de distribuição espacial ........................................................................... 123 7.3.3. Avaliação do núcleo populacional Monsaraz/Azevel ....................................................................... 128 7.3.3.1. Mapeamento da ocupação do solo ...................................................................................... 128 7.3.3.2. Distribuição de coelho-bravo ............................................................................................... 130 7.3.3.3. Distribuição de gato-bravo .................................................................................................. 131 7.4. Lince-Ibérico ......................................................................................................................................... 134 7.4.1. Metodologia .................................................................................................................................... 134 7.4.2. Resultados e discussão .................................................................................................................. 137 RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________iv Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 8. Considerações finais ......................................................................................................................................... 144 8.1. Estatuto regional das espécies alvo ............................................................................................................. 144 8.1.1. Toirão ................................................................................................................................................. 144 8.1.2. Lontra ................................................................................................................................................. 146 8.1.3. Gato-bravo ......................................................................................................................................... 148 8.1.4. Lince-Ibérico ....................................................................................................................................... 149 8.2 Avaliação de impactes previsíveis................................................................................................................. 151 8.3 Medidas de minimização/compensação de impactes ................................................................................... 156 8.3.1. Medidas relativas ao plano de desmatação / desarborização ............................................................ 156 8.3.2. Medidas relativas à fase pós-desmatação / enchimento .................................................................... 157 8.3.2.1. Medidas de intervenção directa ............................................................................................. 157 8.3.2.2. Medidas de gestão ambiental ................................................................................................ 158 8.3.2.2.1. Recuperação/Conservação de habitats.................................................................. 158 8.3.2.2.2. Recuperação das populações de coelho-bravo ..................................................... 184 8.3.2.3. Outras medidas / recomendações ......................................................................................... 186 8.3.3. Enquadramento no Plano de Minimização e Compensação (PMC1) ............................................... 193 8.4 Necessidades futuras de pesquisa................................................................................................................ 194 9. Bibliografia ........................................................................................................................................................ 196 Anexos RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________v Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Índice de Figuras Nº Pág 1 Área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva e respectivo posicionamento no âmbito concelhio........................................................................................................................................................ 9 2 Área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva. ......................................................... 10 3 Representação espacial do Sistema de Coordenadas GAUSS 5*5 Km da área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva................................................................................................................... 12 4 Mapa de uso do solo na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, definida para o desenvolvimento de modelos espaciais........................................................................................................ 20 5 Esforço de amostragem para o coelho-bravo na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva definida para o desenvolvimento de modelos espaciais ............................................................ 23 6 Esforço de amostragem para o coelho-bravo na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, na fase pós-desmatação/desarborização...................................................................................... 25 7 Mapeamento da abundância relativa de coelho-bravo na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva..................................................................................................................................... 26 8 Mapeamento da abundância relativa de coelho-bravo nas quadrículas 1*1 Km seleccionadas para monitorização, na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva...................................... 27 9 Mapeamento da probabilidade de ocorrência de coelho-bravo (quadrículas 1*1 Km) estimada pelo modelo de regressão logística para a área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva........................................................................................................................................................... 29 10 Mapeamento da probabilidade de ocorrência de coelho-bravo (quadrículas 1*1 Km) estimada pelo modelo de regressão logística para a área de influência directa da barragem de Alqueva........................................................................................................................................................... 32 11 Representação gráfica da curva ROC para o modelo preditivo do coelho em 2000..................................... 33 12 Representação gráfica da curva ROC para o modelo preditivo do coelho em 2001..................................... 34 13 Representação espacial das quadrículas 1*1Km contendo linhas e planos de água seleccionadas para prospecção na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, na fase prédesmatação/desarborização.......................................................................................................................... 37 14 Dejecto de toirão, na ribeira de Guadalim (carta 483)................................................................................... Áreas de amostragem seleccionadas para a captura de toirão na área cartográfica de influência directa 15 da barragem de Alqueva................................................................................................................................ 38 40 16 Mapa com as 4 áreas efectivamente amostradas para a captura de toirão na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva.................................................................................................... 41 17 Representação espacial das quadrículas 5*5 Km prospectadas para o toirão na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, na fase pós-desmatação/desarborização................................. 43 18 Aspecto das “track-plates” colocadas no campo para o registo de pegadas de toirão................................. 43 19 Toirão encontrado morto na estrada de Reguengos de Monsaraz para Mourão........................................... 45 20 Mapeamento da ocorrência de toirão na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, na fase pré-desmatação/desarborização....................................................................................................... 46 21 Número de indícios de toirão encontrados em cada estação do ano............................................................ 49 22 Monitorização sazonal de toirão nas quadrículas GAUSS 1*1 km seleccionadas na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, a fase pré-desmatação/desarborização.................................... 50 23 Variação sazonal do número de quadrículas 1*1 km onde foi detectada presença de toirão em cada trimestre de 2000.. ........................................................................................................................................ 51 RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________vi Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 24 Macho adulto de toirão e biótopo onde ocorreu a captura............................................................................. 52 25 Mapeamento da ocorrência de toirão área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, na fase de pós-desmatação/desarborização...................................................................................................... 56 26 Aspecto da pegada e rasto de toirão recolhidos através das “track-plates”................................................... 57 27 Mapeamento da probabilidade de ocorrência de toirão (quadrículas 1*1 Km) estimados pelo modelo de regressão logística para a área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva....... 62 28 Aspecto da Ribeira de Mures (Juromenha), e respectiva galeria ripícola...................................................... 63 29 Indícios de presença de lontra....................................................................................................................... 64 30 Representação espacial das quadrículas 1*1 km seleccionadas para prospecção da lontra na área cartográfica de influência directa da barragem do Alqueva, na fase pós-desmatação/desarborização ....... 66 31 Localização na área de estudos das estações de amostragem seleccionadas para avaliação da dieta....... 67 32 Mapeamento da ocorrência da lontra na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, na fase pré-desmatação/desarborização....................................................................................................... 71 33 Variação sazonal do número de quadrículas 1*1 km onde foi detectada presença de lontra em cada trimestre de 2000............ .............................................................................................................................. 73 34 Monitorização sazonal da lontra nas quadrículas 1*1 Km seleccionadas na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, a fase pré-desmatação/desarborização.................................... 74 35 Variação sazonal do número de indícios detectados nas quadrículas 1*1 km seleccionadas para monitorização................................................................................................................................................. 75 36 Quilométrico de Abundância Médio de lontra em função do tipo de ambiente dulciaquícola........................ 76 37 Tipos de ambiente dulciaquícola.................................................................................................................... 76 38 Variação sazonal do Índice Quilométrico de Abundância de lontra em relação aos diferentes ambientes dulciaquícolas. ............................................................................................................................................... 78 39 Lontras capturadas na ribeira do Álamo (Quadrícula 474F) e na ribeira de Alcarrache (Quadrícula 483H).............................................................................................................................................................. 79 40 Ribeira do Álamo e Ribeira de Azevél após a desmatação........................................................................... 80 41 Mapeamento da ocorrência da lontra nos meses seguintes ao início da desmatação na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva (mês 0, 3 e 6). ...................................................................... 81 42 Mapeamento da ocorrência da lontra nos meses seguintes ao início da desmatação na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva (mês 9 e 12).......................................................................... 82 43 Mapeamento da ocorrência da lontra nos meses seguintes ao início da desmatação na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva (mês 18, 21, 24 e 27)............................................................ 83 44 Evolução da presença da lontra nas quadrículas amostradas ao longo da desmatação.............................. 84 45 Mapeamento da ocorrência da lontra após o enchimento na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva (mês 0, 3 e 6).............................................................................................................. 85 46 Mapeamento da ocorrência da lontra após o enchimento na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva (mês 9, 12 e 15).......................................................................................................... 86 47 Evolução da presença da lontra nas quadrículas amostradas ao longo do enchimento............................... 87 48 Quadrícula 86 a) antes e b) depois do enchimento). .................................................................................... 87 49 Quadrículas 89 (Ribeira de Agosto), 90 (Ribeira de Codes) e 91 (Ribeira das Vinhas)................................ 88 50 Evolução da marcação da lontra nas quadrículas sujeitas ao enchimento.................................................... 89 RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________vii Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 51 Evolução da marcação da lontra nas quadrículas negativas no mês 0 do enchimento................................. 89 52 Zonas de enseada com marcação de lontra ................................................................................................. 90 53 Média do Índice Quilométrico de Abundância das fases de pré-desmatação, desmatação e enchimento... 91 54 Ribeira de Azevel (época húmida – Março e época seca – Outubro). .......................................................... 91 55 Percentagens de ocorrência de lontra para cada época de amostragem, nas quadrículas fora da área sujeita a inundação........................................................................................................................................ 92 56 Mapeamento da ocorrência da lontra na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, na fase pós-desmatação/desarborização (2001)........................................................................................... 94 57 Mapeamento da ocorrência da lontra na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, na fase pós-desmatação/desarborização (2002). ......................................................................................... 95 58 Mapeamento da ocorrência da lontra na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, na fase pós-desmatação/desarborização (2003). ......................................................................................... 96 59 Índice Quilométrico de Abundância médio de lontra em função do tipo de ambiente dulciaquícola.............. 97 60 Representação gráfica da Curva ROC para o modelo da lontra................................................................... 100 61 Percentagem de ocorrência das categorias de presa na dieta da lontra (análise temporal)......................... 103 62 Percentagem de ocorrência das categorias de presa na dieta da lontra (análise espacial).......................... 104 63 Percentagem de ocorrência das espécies de peixes consumidas pela lontra............................................... 105 64 Percentagens de ocorrência das espécies exóticas e nativas....................................................................... 105 65 Comparação entre a percentagem de ocorrência e a percentagem de biomassa da dieta da lontra............ 106 66 Comparação entre a percentagem de ocorrência de peixes consumidos e capturados para as amostragens de Abril e Agosto...................................................................................................................... 106 67 Habitat considerado favorável para o gato-bravo e representação espacial das quadrículas 2*2 Km seleccionadas para a prospecção de indícios de presença de gato-bravo na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, na fase pré-desmatação/desarborização.................................. 109 68 Afloramentos rochosos numa ribeira próxima do rio Guadiana.................................................................... 110 69 Dejecto e latrina de gato-bravo encontradas, respectivamente, num vale de ribeira junto ao rio Degebe) e numa ribeira adajacente ao rio Guadiana...................................................................................................... 110 70 Área onde decorreu uma das sessões de armadilhagem, próxima do rio Degebe....................................... 111 71 Representação espacial das quadrículas 2*2 Km seleccionadas para a prospecção de indícios de gatobravo na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, na fase pósdesmatação/desarborização.......................................................................................................................... 113 Mapeamento da ocorrência de gato-bravo na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva e delimitação dos principais núcleos de ocorrência, na fase de prédesmatação/desarborização.......................................................................................................................... 115 73 Gato-bravo encontrado morto por atropelamento numa zona adjacente à área de estudo........................... 116 74 Vales dos rios Guadiana, Alcarrache e Degebe, respectivamente................................................................ 117 75 Pormenores da estrutura dos habitats associados aos rios Guadiana, Alcarrache e Degebe...................... 117 76 Mapeamento de ocorrência de gato-bravo na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, na fase pós-desmatação/desarborização.................... ................................................................... 120 77 Área desmatada e desarborizada ao longo da ribeira do Zebro.................................................................... 121 72 RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________viii Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 78 Mapeamento da probabilidade de ocorrência de gato-bravo (quadrículas 1*1 km) estimados pelo modelo de regressão logística para a área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva.................... 79 Mapeamento da cobertura do solo nas cartas 472,473 e 474, correspondentes à área adjacente ao núcleo populacional Monsaraz/Azevel........................................................................................................... 127 129 80 Localização das principais zonas com habitat favorável para o gato-bravo na área adjacente ao núcleo populacional Monsaraz/Azevel....................................................................................................................... 129 81 Representação espacial das quadrículas 2*2 Km prospectadas para o coelho-bravo, na área adjacente ao núcleo populacional Monsaraz/Azevel...................................................................................................... 130 82 Mapeamento da abundância relativa de coelho-bravo nas quadrículas 2*2 Km seleccionadas para monitorização nas temporadas de campo de Fevereiro e Junho, na área adjacente ao núcleo populacional Monsaraz/Azevel....................................................................................................................... 131 83 Representação espacial das quadrículas 2*2 Km prospectadas para o gato-bravo, na área adjacente ao núcleo populacional Monsaraz/Azevel........................................................................................................... 132 84 Mapeamento de ocorrência de gato-bravo na área adjacente ao núcleo populacional Monsaraz/Azevel.... 132 85 Localização das áreas com maior importância para o gato-bravo , de acordo com as zonas de maior abundância relativa de coelho-bravo, na área adjacente ao núcleo populacional Monsaraz/Azevel............ 134 86 Habitat considerado favorável para o lince na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva........................................................................................................................................................... 135 87 Representação espacial quadrículas 2*2 Km seleccionadas para prospecção de indícios de lince na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva.................................................................... 136 88 Mapeamento da evolução da distribuição de lince na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva com base nos resultados dos inquéritos e indícios de presença................................. 138 89 Pegada provável de lince na área de Vera Cruz - Portel (Quadrícula 490G)................................................ 139 90 Cenário óptimo de habitat para o lince no Sítio Moura/Barrancos................................................................. 141 91 Cenário sub-óptimo de habitat para o lince no Sítio Moura/Barrancos.......................................................... 142 92 Distribuição em Espanha do lince-ibérico...................................................................................................... 159 93 Ribeira do Lucefecit pós-enchimento de Alqueva e impacte do gado, respectivamente............................... 161 94 Localização e dimensão da intervenção na ribeira de Lucefecit.................................................................... 162 95 Estrutura típica da ribeira de Azevel.............................................................................................................. 163 96 Localização e dimensão da intervenção na ribeira de Azevel........................................................................ 164 97 Estrutura típica da ribeira do Degebe na fase pré-desmatação/enchimento................................................. 165 98 Localização e dimensão da intervenção no Rio Degebe............................................................................... 166 99 Galeria ripícola numa das margens da ribeira de Pardais............................................................................ 167 100 Localização e dimensão da intervenção na ribeira de Pardais...................................................................... 168 101 Ribeira de Guadalim....................................................................................................................................... 169 102 Localização e dimensão da intervenção na ribeira de Guadalim................................................................... 170 103 Estrutura típica da ribeira do Ardila perto da foz (zona de contacto com o Guadiana).................................. 171 104 Localização e dimensão da intervenção no Rio Ardila (troço de ligação Guadiana/Toutalga)...................... 172 105 Estrutura típica do rio Ardila no Sítio Moura-Barrancos................................................................................. 173 106 Localização e dimensão da intervenção no Rio Ardila................................................................................... 174 RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________ix Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 107 Troços da ribeira de Toutalga preservado e degr5adado, respectivamente............................................ 175 108 Troço da ribeira de Toutalga degradada........................................................................................................ 175 109 Localização e dimensão da intervenção na ribeira de Toutalga.................................................................... 176 110 Ribeira de S. Pedro........................................................................................................................................ 177 111 Localização e dimensão da intervenção na ribeira de S. Pedro.................................................................... 178 112 Área envolvente á ribeira do Murtigão no Perímetro Florestal da Contenda................................................. 179 113 Localização e dimensão da intervenção na ribeira de Murtigão.................................................................... 180 114 Matos mediterrâneos da Serra da Preguiça................................................................................................... 181 115 Extensão de olival explorado.......................................................................................................................... 181 116 Localização e dimensão das áreas de intervenção para ligação das serras Preguiça, Malpique, Adiça e Ficalho............................................................................................................................................................ 182 117 Localização de todas as intervenções propostas para recuperação/conservação de habitats na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva.............................................................................................................. 118 Localização das áreas para repovoamentos de coelho-bravo na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva....................................................................................................................................................... 119 Espaço cartográfico para repovoamento de coelho-bravo no Perímetro Florestal da Contenda ao longo da ribeira do Murtigão.......................................................................................................................................................................... 183 185 186 RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________x Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Índice de Tabelas Nº Pág. 1 Caracterização das amostras das espécies analisadas. ............................................................................... 14 2 Fontes de informação para as variáveis ambientais utilizadas na análise preditiva da distribuição das espécies alvo. .......................................................... ..................................................................................... 16 Classes de ocupação do solo e a sua representatividade na área de estudo (% de OCUP.- % de ocupação de cada biótopo; N.º MANCH.- n.º de manchas de cada biótopo; T. MED. MANCH.- Tamanho médio das manchas de cada biótopo) ........................................................................................................... 21 Variáveis seleccionadas para o modelo de regressão logística e mapeamento da probabilidade de ocorrência de coelho-bravo na área cartográfica do Empreendimento para Fins Múltiplos do Alqueva, e respectivos coeficientes (β ) e erros-padrão (S.E.(β )), estatística de Wald (Wald), graus de liberdade (g.l.), significância do teste de Wald (Wald (p)) e Odds ratio (ψ ).................................................................. 28 Variáveis seleccionadas para o modelo de regressão logística e mapeamento da probabilidade de ocorrência de coelho-bravo na ea de influência directa da barragem de Alqueva, e respectivos coeficientes (β ) e erros-padrão (S.E.(β )), estatística de Wald (Wald), graus de liberdade (g.l.), significância do teste de Wald (Wald (p)) e Odds ratio (ψ )........................................................................... 32 Variáveis seleccionadas para o modelo de regressão logística e mapeamento da probabilidade de ocorrência de coelho-bravo na área cartográfica do Empreendimento para Fins Múltiplos do Alqueva na fase pós-desmatação/desarborização, e respectivos coeficientes (β ) e erros-padrão (S.E.(β )), estatística de Wald (Wald), graus de liberdade (g.l.), significância do teste de Wald (Wald (p)) e Odds ratio (ψ )............................................................:............................................................................................. 34 Tipo, número e respectiva percentagem das evidências da presença de toirão na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva, na fase pré-desmatação/desarborização........................... 46 8 Número de evidências em cada tipo de biótopo, na fase pré-desmatação/desarborização.......................... 47 9 Períodos de amostragem, noites armadilha, capturas e recapturas por espécie, abundância e esforço de captura por área de amostragem e no total................................................................................................... 52 Dados biométricos de um toirão (macho) capturado na área de regolfo de Alqueva e Pedrógão em 7 de Março de 2001.......................................................................................................................................... 53 Períodos de amostragem, noites armadilha, capturas e capturas por espécie, abundância e esforço de captura por sessão de armadilhagem e no total............................................................................................ 53 Tipo, número e respectiva percentagem das evidências da presença de toirão na área cartográfica do Empreendimento de Fins mùltiplos de Alqueva, na fase pós-desmatação/desarborização.......................... 55 Espécie, número e respectiva percentagem das evidências (rastos/pegadas) das espécies detectadas através das “track-plates”. ............................................................................................................................. 57 14 Número de evidências em cada tipo de biótopo............................................................................................ 58 15 Variáveis seleccionadas para a análise multivariada (p<0,05) no modelo de regressão logística para o toirão. ............................................................................................................................................................ 59 Variáveis seleccionadas para o modelo de regressão logística e mapeamento da probabilidade de ocorrência do toirão na área cartográfica do Empreendimento para Fins Múltiplos do Alqueva, e respectivos coeficientes (â ) e desvios-padrão (S.E.(â )), estatística de Wald (Wald), graus de liberdade (g.l.), significância do teste de Wald (Wald (P)) e Odds ratio (ψ ).................................................................. 60 Tipo, número e respectiva percentagem das evidências da presença de lontra, fase prédesmatação/desarborização......................................................................................................................... 72 Tipo, número e respectiva percentagem das evidências da presença de lontra, fase pósdesmatação/desarborização. ........................................................................................................................ 80 3 4 5 6 7 10 11 12 13 16 17 18 RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________xi Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 19 Variáveis seleccionadas para a análise multivariada (p<0,05) no modelo de regressão logística para a lontra (a caracterização diz respeito ao segmento de 100m)...................................................................... 99 Variáveis seleccionadas para o modelo de regressão logística e mapeamento da probabilidade de ocorrência da lontra, os respectivos coeficientes (β) e erros padrão (S.E.(β)), significância do teste de Wald (Wald (P)) e odds ratio (ψ).................................................................................................... 100 21 Número de indícios analisados durante os meses de amostragem em 2000.............................................. 103 22 Espécies de peixe consumidas pela lontra nas estações de amostragens durante 2000............................ 104 23 Localização, tipo e número de indícios de gato-bravo encontrados na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva na fase de pré-desmatação/desarborização...................... 115 Dimensão da área de estudo e das áreas favoráveis à ocorrência do gato-bravo às duas cotas de enchimento da barragem de Alqueva............................................................................................................ 118 Localização, tipo e número de indícios de gato-bravo encontrados na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva na fase de pós-desmatação/desarborização...................... 119 Períodos de amostragem, noites-armadilha, capturas e esforço de captura por área de amostragem e no total...... .......................................................... ............................................................................................... 122 Variáveis seleccionadas para a análise multivariada (p<0,05) no modelo de regressão logística para o gato-bravo. .......................................................... ......................................................................................... 124 Variáveis seleccionadas para o modelo de regressão logística e mapeamento da probabilidade de ocorrência do gato-bravo na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva, e respectivos coeficientes (β) e erros padrão (S.E.(β)), estatística de Wald (Wald), graus de liberdade (g.l.), significância do teste de Wald (Wald (P)) e Odds ratio (ψ).................................................................. 125 Impactes a curto, médio e longo prazo da implementação da barragem de Alqueva nas espécies alvo..................... 155 20 24 25 26 27 28 29 RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________xii Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Índice de Anexos I Biótopos representados na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva II Listagem das variáveis ambientais analisadas no desenvolvimento dos modelos preditivos de ocorrência das espécies em estudo na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva III Codificação das variáveis utilizadas no desenvolvimento do modelo preditivo de ocorrência para as várias espécies IV Testes estatísticos utilizados nos modelos de regressão logística. V Georreferenciação dos dados relativos à ocorrência das espécies em estudo na área de regolfo de Alqueva e Pedrogão. VI Ficha do toirão capturado VII Resultados do teste da análise univariada para o desenvolvimento dos modelos preditivos de ocorrência das espécies em estudo na futura área de regolfo de Alqueva e Pedrogão. VIII Codificação das variáveis utilizadas no desenvolvimento do modelo predictivo de ocorrência de toirão na área cartográfica do Empreendimento para Fins Múltiplos do Alqueva. IX Listagem das quadrículas para a lontra amostradas na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva X Proposta Síntese para a criação de uma Unidade Móvel para a Resolução de Situações de Emergência envolvendo Carnívoros na área de regolfo de Alqueva e Pedrogão XI Proposta Síntese para a Operação coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus) na área de regolfo de Alqueva e do açude de Pedrogão. XII Propostas de áreas para libertação de coelhos-bravos (Oryctolagus cuniculus) resultantes do programa de cativeiro no âmbito das medidas de Compensação de Alqueva RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________xiii Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 1. INTRODUÇÃO O Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA), um projecto adiado por mais de duas décadas, é considerado o principal investimento recente na região do interior Alentejano e tem sido entendido como um claro exemplo de desenvolvimento de uma região até então considerada desfavorecida em termos nacionais. As expectativas geradas em torno deste empreendimento eram e são ainda elevadas, não apenas do ponto de vista ambiental mas também nas perspectivas política e social, considerando os múltiplos objectivos que justificaram a sua construção (reserva estratégica de água, regularização do caudal do Guadiana, alteração do modelo cultural da agricultura Alentejana, criação de postos de trabalho e potenciação de expectativas empresariais). O referido projecto, que tem o seu expoente máximo na barragem de Alqueva, o maior lago artificial da Europa, constitui sem dúvida um dos problemas ambientais mais graves da actualidade e um desafio em termos empresariais pelo grau de impacte que vai gerar sobre o património natural nacional e que não se restringe apenas à área prevista para inundação, cerca de 25 000 ha (ao Nível Pleno de Armazenamento - NPA – 152m), mas a uma escala mais vasta (120 589 ha) cujos limites não são ainda claramente previsíveis face ao panorama de indefinição que envolve as redes primária, secundária e terciária de irrigação, de implantação prevista no âmbito do plano de rega. Os impactes a serem gerados pelo EFMA são tanto mais gravosos quanto se referem a uma área de elevado valor patrimonial em termos naturais – a bacia hidrográfica do rio Guadiana e áreas envolventes, que representam alguns dos ecossistemas mais preservados do sul da Península Ibérica. De facto os padrões de biodiversidade desta região são reconhecidos como dos mais elevados a nível nacional e peninsular (PPRVCVEAAP – CHIRON & NEMUS 2001). A construção de barragens desde sempre constituiu um aspecto ambiental muito polémico, sobretudo devido aos impactes que gera nos ambientes ripícolas e populações animais a eles associadas, ao transformar sistemas lóticos em sistemas lênticos. A comunidade piscícola da bacia hidrográfica do rio Guadiana destaca-se de entre outras bacias com representação no território nacional não só pela diversidade de formas aí presente mas sobretudo pela sua originalidade ao incluir um endemismo Ibérico (o saramugo – Anaecypris hispanica) e outras espécies de distribuição a ela confinada como a boga do Guadiana (Chondrostoma willkommii), o barbo-de-cabeça-pequena (Barbus microcephalus) e o caboz-de-água-doce (Salaria fluviatilis) (SNPRCN 1991). As consequências mais directas da transformação de rios e ribeiras em vastas e profundas massas de água são, pois, a redução da diversidade autóctone das comunidades de macroinvertebrados e peixes (TIAGO et al. 2001), para além da degradação da qualidade da água (COWX & WELCOMME 1998) e da erosão das margens. Contudo, os impactes gerados pela construção de uma barragem afectam igualmente outras espécies de vertebrados, nomeadamente os que se especializaram na exploração da interface água-terra (anfíbios, répteis de hábitos aquáticos e mamíferos anfíbios), pois induzem a destruição e fragmentação de habitats propícios (através de acções de desmatação da área prevista para inundação e da reflorestação das margens com matas de exóticas para produção). A zona de influência directa do EFMA tem como característicos os montados de azinho, azinhal reliquial, matos e matagais desenvolvidos e a vegetação ribeirinha com particularidades únicas. Serão precisamente estes povoamentos RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________1 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) os mais afectados. Como consequência desta intervenção, muitas áreas de coberto homogéneo sofrerão regressão, conduzindo a uma quebra na sua continuidade. Este processo irá resultar obviamente, na morte ou dispersão dos indivíduos que integram as populações aí residentes. Tão grave como o inevitável processo destrutivo representado pela desmatação/desarborização, com a consequente redução da sua importância como recurso vital para espécies animais, nomeadamente as que são alvo do presente estudo, é a fragmentação do continuum vegetal. O desaparecimento de corredores ecológicos, fundamentais na dispersão terá como consequência mais próxima o isolamento populacional e como consequência última um maior risco de extinção. Toda a dinâmica ecológica da área de influência directa do regolfo de Alqueva e Pedrógão irá assim ser profundamente alterada, e de forma irreversível se não forem adoptadas medidas de minimização e compensação à escala da destruição. Assistiremos, por certo, a processos irreversíveis de extinções locais e de desestabilização do funcionamento dos ecossistemas, já por si bastante afectados pelos impactes directos gerados. Não menos importante que a área de influência directa da barragem de Alqueva, é toda a área envolvente afecta ao EFMA , que possui igualmente um elevado valor patrimonial e que vai ter um papel fundamental na manutenção de populações viáveis das espécies afectadas pelo processo de desmatação/desarborização e enchimento da barragem de Alqueva. Contudo, a manter-se o panorama de indefinição relativamente às medidas de actuação previstas no âmbito da estratégia de desenvolvimento da Empresa de Infraestruturas e Desenvolvimento de Alqueva (EDIA, SA), empresa responsável pela implementação do projecto e futura gestão, nomeadamente no que se refere aos perímetros de rega, não será possível avaliar de uma forma integrada e contextual os resultados gerados no decurso das duas fases de monitorização, nem propor medidas realistas e eficazes de minimização/compensação. Dando resposta às exigências legais, a partir de 1987 foram realizados vários estudos de avaliação de impactes (ver historial em SOUSA 1997), promovidos pela EDIA, SA mas, ao terem por base sobretudo recolha de informação pré-existente e esta ser manifestamente escassa, estes mostraram-se insuficientes para prever os efeitos reais da implementação do referido empreendimento. Em 1998 foi então lançado o “Plano de Minimização e de Compensação dos Impactos sobre o Património Natural na área do futuro regolfo de Alqueva e Pedrogão (PMC I)” que previa a realização de um conjunto significativo de projectos de monitorização de conjuntos de espécies (Pmos), seleccionadas no âmbito do “Quadro Geral de Referência do Património Natural no Regolfo de Alqueva + Pedrogão” elaborado pelo Núcleo de Património Natural da Direcção de Ambiente e Património da EDIA (SOUSA 1997). Este foi entendido como o documento de referência “zero” a partir do qual, e no decurso dos projectos de monitorização acima referidos, seriam aferidos e acompanhados os impactes ambientais ocorrentes sobre as espécies vegetais e animais consideradas prioritárias e seriam apresentadas propostas de projectos de compensação a serem protagonizados na área de Guadiana/Alqueva. Os critérios de selecção das espécies consideradas para efeitos de monitorização tiveram por base a sua classificação numa das três categorias de espécies presentes na área inerente ao regolfo (Prioritárias, Ameaçadas e Não Ameaçadas), sendo que apenas as duas primeiras categorias foram alvo de selecção. A magnitude dos impactes previstos na área considerada, o estatuto de conservação em Portugal e a relevância da área de ocupação na zona RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________2 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) considerada, foram os critérios utilizados no processo de decisão de inclusão das espécies numa das categorias consideradas (SOUSA 1997). Devido às suas dimensões, dietas, e susceptibilidade a perturbações de origem antropogénica, os carnívoros são frequentemente apontados como espécies-chave nos sistemas naturais (SCHONEWALD-COX et al. 1991). No universo das 14 espécies de carnívoros ocorrentes em Portugal (SNPRCN 1990), onze das quais potencialmente presentes na área cartográfica de regolfo considerada (SOUSA 1997), uma enquadra-se na categoria de prioritária (lince Ibérico - Lynx pardinus Themminck 1827) e três na categoria de espécie ameaçada (toirão – Mustela putorius Linnaeus 1758; lontra Lutra lutra Linnaeus 1758; e gato-bravo – Felis silvestris Schreber 1777). É ainda de referir o lobo (Canis lupus signatus Cabrera 1907), que foi classificado como presente e prioritário na área de estudo, mas cuja inclusão traduz uma interpretação abusiva da informação existente pois não são conhecidos registos fiáveis da sua presença desde a década de 80 (PETRUCCI-FONSECA & ALVARES 1997) devendo, como tal, ser considerada como extinta na referida área, como aliás foi comprovado no decurso dos trabalhos realizados no âmbito da primeira fase de monitorização (SANTOSREIS et al. 2000). No âmbito do projecto de monitorização de carnívoros (Pmo6.3), o presente relatório inclui resultados das duas fases de implementação da barragem de Alqueva (pré-desmatação/desarborização e pós-desmatação/desarborização), incluindo assim dados cumulativos obtidos nos últimos cinco anos (1999 - 2003) no que diz respeito às quatro espécies alvo em análise (toirão, lontra, gato-bravo e lince). Para além das espécies-alvo definidas contratualmente optou-se por considerar para avaliação igualmente o coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus). A opção de investir na avaliação do padrão de distribuição e abundância desta espécie, é justificada pela sua reconhecida importância como presa-chave das comunidades de carnívoros em habitats mediterrânicos (VILLAFUERTE et al. 1994; IBORRA et al. 1997,), situação a que não deverá ser alheio o facto de esta espécie ser originária da Península Ibérica (ZEUNER 1963 in ROGERS 1981, ARTHUR 1980), reflectindo por isso um longo percurso de co-evolução com os seus predadores (JAKSIĆ & OSTFELD 1983 in SIMONETTI 1989). Mais ainda os resultados obtidos no decurso dos estudos de biologia e ecologia de duas das espécies-alvo (toirão e gato-bravo) desde cedo apontaram para a importância do coelho-bravo como recurso trófico (MATOS et al. 2001, PEREIRA et al. 2001). O estado dos conhecimentos acerca das espécies-alvo na área definida contratualmente para o efeito, e cujo âmbito geográfico é mais amplo do que a área prevista para o regolfo (ver Cap. 3), era de um desconhecimento quase generalizado (ver Cap. 2), pelo que o presente relatório pretende contribuir de uma forma significativa para colmatar a ausência de conhecimento acerca das espécies-alvo na área de intervenção do projecto. Não obstante o facto de os trabalhos não estarem concluídos previamente ao início da construção do paredão e da conclusão das acções de desmatação/desarborização da zona prevista para inundação, como seria desejável dado que o objectivo era minimizar os impactes decorrentes, conseguiu-se obter um conjunto de resultados relevantes para o conhecimento das espécies na área de estudo e da sua resposta aos impactes gerados (ver Cap. 7). Complementarmente, e apesar de o período de tempo disponível para a realização dos trabalhos ser manifestamente escasso tendo em conta que se trata de espécies com estatuto de ameaça, logo ocorrendo RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________3 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) presumivelmente em baixa densidade, foi efectuada um avaliação do respectivo estatuto local (distribuição geográfica e tendência demográfica), são propostas medidas de actuação directa e indirecta que visam minimizar os impactes gerados pelo Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva e contribuir para a sobrevivência das espécies na área, e são, ainda, apresentadas as áreas prioritárias para a sua conservação face ao estado dos conhecimentos no momento actual e ao cenário previsível num futuro próximo desde que tomadas em consideração as necessárias medidas de compensação (ver Caps. 7 e 8). 2. ESTADO ACTUAL DOS CONHECIMENTOS ACERCA DAS ESPÉCIES ALVO Todas as espécies propostas para monitorização são espécies de carnívoros com estatuto de ameaça, embora em diferentes graus, e que ocorrem ou ocorreram, de forma mais ou menos representativa, na área de intervenção do EFMA. Assim, o lince Ibérico (Lynx pardinus) está classificado como em perigo de extinção, sendo a sua sobrevivência improvável se os factores limitantes continuarem a actuar, enquanto que relativamente às restantes, o insuficiente grau de conhecimentos não permite ainda a definição rigorosa do seu estatuto. A lontra (Lutra lutra) e o toirão (Mustela putorius) beneficiam do estatuto de Insuficientemente Conhecidas e o gato-bravo é considerado como de estatuto Indeterminado (SNPRCN 1990). O grau de conhecimentos previamente existente acerca da distribuição e tendência demográfica destas espécies era muito variável, tanto a nível nacional como a nível local, como a seguir se resume. 2.1. TOIRÃO (Mustela putorius Linnaeus, 1758) O toirão é um dos carnívoros Portugueses relativamente aos quais a escassez de estudos é muito significativa embora se reconheça, com base em dados empíricos, que as suas populações apresentam grandes descontinuidades e enfrentam o declínio (SANTOS-REIS 1983a). Além de referências históricas relativas à sua ocorrência em diferentes pontos do país, e que remontam aos finais do século passado e início deste século (BOCAGE 1863, SEABRA 1900, 1910, OLIVEIRA & VIEIRA 1902, NOBRE 1903, AYRES 1914, THEMIDO 1931), podem considerar-se como nulos os estudos que apresentam dados relativos à espécie e os poucos dados existentes são bastante restritos tanto no espaço como no tempo. De facto, apenas se reconhece que o toirão ocorre por todo o território nacional, embora se admita que em escassa abundância e de uma forma descontínua, por apresentar uma certa especialização em termos de habitat e as suas populações enfrentarem a regressão (MAGALHÃES & PALMA 1985, SANTOS-REIS & MATHIAS 1996, MATHIAS et al. 1998). A primeira tentativa de sistematizar a informação disponível acerca da presença ou ausência da espécie em Portugal, e de tentar inferir acerca da sua abundância relativa, foi realizada por SANTOS-REIS (1983a). Contudo, os dados apresentados, referem-se a uma escala temporal heterogénea e não resultam da aplicação de uma metodologia de amostragem sistematizada. Dos 15 concelhos abrangidos, total ou parcialmente, pela área de intervenção do “Plano RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________4 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) de Minimização e de Compensação dos Impactos sobre o Património Natural na área do futuro regolfo de Alqueva e Pedrogão (PMC I)”, apenas é mencionada uma referência à ocorrência da espécie (Concelho de Évora) pelo que a situação de partida era de um desconhecimento generalizado. Os restantes dados disponíveis para Portugal, diziam respeito a referências pontuais em áreas protegidas, relativamente às quais foi efectuada uma inventariação da fauna de carnívoros (e.g. ABREU 1993, MATHIAS & SANTOSREIS 1994, MARQUES et al. 1995, SARMENTO et al. 1997), ou decorriam de estudos de avaliação de impacte ambiental, onde as diferentes espécies presentes nas respectivas áreas de intervenção, são enunciadas (e.g. PETRUCCI-FONSECA & SANTOS-REIS 1983, MATHIAS et al. 1993). Dado que a maioria destes estudos assumem a forma de relatórios técnicos, protegidos ao abrigo da confidencialidade dos dados, torna-se difícil efectuar uma cartografia actual da distribuição da espécie. Nos finais de 2002 e início do corrente ano, e no âmbito do processo de revisão do Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (SNPRCN 1990) da responsabilidade do Instituto de Conservação da Natureza, decorreu um projecto de actualização da distribuição do toirão no centro e norte do país (num total de 154 concelhos) o qual, com base em inquéritos orais e escritos, veio a demonstrar a ocorrência generalizada da espécie na área de intervenção do projecto (MATOS & SANTOS-REIS 2003), sendo a primeira abordagem realizada de uma forma sistematizada. O âmbito geográfico deste projecto e os objectivos do mesmo não trouxe um contributo acrescido para o conhecimento da espécie na área do EFMA. 2.2. LONTRA (Lutra lutra Linnaeus, 1758) Portugal aparenta suportar uma das mais abundantes populações Europeias de lontra e a razão deste facto pode estar relacionada com a sua localização geográfica e o fraco desenvolvimento industrial comparativamente com outros países Europeus onde a espécie está extinta ou seriamente ameaçada (e.g. MASON & MACDONALD 1986, KRUUK 1995). Apesar de estarmos perante uma das populações mais “saudáveis” no contexto Europeu, o grau de conhecimentos existente sobre a espécie a nível nacional é, contudo, ainda claramente insuficiente (SANTOS-REIS et al. 1995). Exceptuando o recente trabalho publicado por TRINDADE et al. (1998) cujo objectivo foi, com recurso a uma metodologia padrão e uma estratégia sistematizada, cartografar a distribuição da lontra em Portugal, o número de trabalhos produzido é ainda reduzido e restringe-se a estudos localizados no espaço e/ou tempo. De facto, embora a situação da lontra na Europa fosse bem conhecida desde há muito (para uma revisão ver MACDONALD & MASON 1994), em Portugal BOCAGE (1863) relata a presença frequente da lontra em todos os rios portugueses, mas SEABRA (1900) refere-a apenas na zona norte, considerando-a mais tarde em perigo de extinção (SEABRA, 1924). Segue-se um período onde não ocorreu qualquer publicação, o que terá levado REUTHER (1977) a afirmar que a espécie se teria extinguido em Portugal. Apenas nos anos 80 se começou a recolher informações de uma RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________5 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) forma mais ou menos regular. Os trabalhos então desenvolvidos constituem a base de grande parte do conhecimento actualmente existente sobre o estatuto e a distribuição da lontra. FERRAND-ALMEIDA (1980) encontra sinais da presença da lontra considerando-a frequente no norte e centro do país, dados que são posteriormente confirmados por MACDONALD & MASON (1982). É também nesta época que é publicada a primeira referência a lontras que utilizam os ambientes dulciaquícolas costeiros efectuando incursões no mar (SIMÕES 1982). Mais tarde, SANTOS-REIS (1983 a, b) confirma a presença da lontra em todo o território Português e a partir desse momento outros autores assinalam a presença regular da espécie publicando dados sobre a sua ocorrência em regiões particulares (SIMÕES-GRAÇA & FERRAND-ALMEIDA 1983, TRINDADE 1987, 1990, 1991, BEJA 1989a,b, 1991, 1992, 1995, GOMES et al. 1989, SILVEIRA et al. 1991, CAMPOS 1993, FLORÊNCIO 1994, TRIGO 1994, SOUSA 1995, CHAMBEL 1997, PEDROSO 1997, AZINHEIRA 1998, GOMES 1998, SALES-LUÍS 1998, FREITAS 1999, LOPES 1999, MATOS 1999, PEDROSA 2000, TRINDADE 2002). Num passado relativamente recente foi publicada uma revisão do estado actual dos conhecimentos sobre a espécie em Portugal, no qual é igualmente feita referência às linhas de investigação actualmente em curso (SANTOS-REIS et al. 1995). Apesar deste elevado número de estudos levados a efeito até à data, os quais permitiram confirmar a presença da espécie numa grande variedade de ambientes húmidos, em nenhum dos casos é possível inferir acerca da sua abundância real uma vez que estimativas em função do número de indícios de presença são fortemente desaconselhadas (MELQUIST & HORNOCKER 1979; KRUUK et al 1986; KRUUK & CONROY 1987). No que se refere à área de intervenção do EFMA, TRINDADE et al. (1998) referem que das 86 quadrículas, do sistema de coordenadas Universal Transverse de Mercantor (UTM) à escala 10*10 Km, 96.5% reveleram-se como positivas em 1995 e as três quadrículas onde não foi possível confirmar a ocorrência de lontra ou não foi possível identificar nenhuma linha de água ou estas eram em escasso número e de má qualidade. Uma nova monitorização realizada em 1998, e que envolveu uma sub-amostragem das quadrículas alvo do primeiro estudo, veio a apresentar resultados concordantes (todas as 24 quadrículas amostradas reveleram-se como positivas) e a denunciar uma situação de estabilidade espacial (FARINHA 1999). Para além deste facto, os resultados de uma campanha de captura levada a cabo em Março e Abril de 2000 numa área restrita da bacia do Guadiana, e direccionada para a captura de alguns indivíduos sub-adultos destinados a um programa de re-introdução na Catalunha (Parc Natural dels Aiguamolls de l’Empordà) permitiram a captura de 18 individuos (10 machos, 7 fêmeas e 1 juvenil de sexo indeterminado) num período de 40 dias e numa área que envolveu 11 linhas de água principais de 3 cartas militares 1:25 000, sendo estes resultados indicadores de uma elevada abundância populacional1. Protocolo de cooperação estabelecido entre o Instituto de Conservação da Natureza e a Fundación Territorí i Paisatge e que contou com o apoio do Centro de Biologia Ambiental da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Dos 18 indivíduos capturados apenas 10 (6 fêmeas e 4 machos) foram alvo de translocação para o território Espanhol. 1 RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________6 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 2.3. GATO-BRAVO (Felis silvestris, Schreber 1777) O gato-bravo é outra das espécies de carnívoros relativamente às quais a escassez de estudos em território nacional é muito significativa embora se reconheça, com base em dados empíricos, que as suas populações apresentam grandes descontinuidades e enfrentam o declínio (FERNANDES 1996). Para além de referências históricas relativas à ocorrência da espécie em diferentes pontos do país, e que remontam aos finais do século passado e início deste século (BOCAGE 1863, SEABRA 1900, 1910, OLIVEIRA & VIEIRA 1902, NOBRE 1904, AYRES 1914, THEMIDO 1931), são escassos os estudos que apresentam dados relativos à distribuição da espécie e estes também são bastante restritos tanto no espaço como no tempo. De facto, relativamente a esta espécie, apenas se reconhece que ocorre por todo o território nacional, embora se admita que em escassa abundância e de uma forma fragmentada por as suas populações enfrentarem a regressão (MAGALHÃES & PALMA 1985, FERNANDES 1996, SANTOS-REIS & MATHIAS 1996, MATHIAS et al. 1998, ICN 1999). O estado dos conhecimentos acerca da espécie alvo na área de estudo, à data de início do projecto, estava limitado a uma abordagem preliminar da sua distribuição à escala do concelho (FERNANDES 1996). Dos quinze concelhos abrangidos total ou parcialmente pela área de intervenção do EFMA, apenas relativamente a seis a espécie era dada como presente (Barrancos, Beja, Moura, Mourão, Serpa e Vidigueira) e os quatro restantes não foram alvo de pesquisa (Évora, Elvas, Portel e Reguengos de Monsaraz). Esta forma de representação dificulta uma análise mais detalhada e não permite evidenciar eventuais padrões de regressão. A situação à partida era então, e tal como o referido para o toirão, de um desconhecimento generalizado. Analisando, contudo, o padrão de distribuição Ibérico do gato-bravo (MITCHELL-JONES et al. 1999) verifica-se que os eixos de ligação entre as populações “Portuguesa” e “Espanhola”, se situam no Nordeste e Sudeste de Portugal. Um desses eixos de ligação é precisamente o constituído pela Bacia do Rio Guadiana e pela Zona Especial de Conservação Moura-Barrancos da Rede Natura 20002, áreas que serão afectadas pela implantação das albufeiras da barragem de Alqueva e do açude de Pedrogão e pelas redes primária e secundária do plano de rega, sendo expectável que sofram por isso mesmo impactes negativos. 2.4. LINCE (Lynx pardinus Temminck, 1827) O lince Ibérico é a espécie de carnívoro relativamente à qual o Instituto de Conservação da Natureza (ICN) tem vindo a concentrar esforços nos últimos anos, numa tentativa de avaliar a situação populacional da espécie à escala A Zona Especial de Conservação Moura-Barrancos foi criada no âmbito da directiva Habitats - Directiva n.º 92/43/CEE – que visa a conservação da biodiversidade através da conservação dos habitats naturais e da fauna e da flora selvagens do território da União Europeia, nomeadamente mediante a criação de um conjunto de sítios de interesse comunitário, designados como zonas especiais de conservação (ZECs) - sítios de importância comunitária no território nacional em que são aplicadas as medidas necessárias para a manutenção ou o restabelecimento do estado de conservação favorável dos habitats naturais ou das populações das espécies para as quais o sítio é designado (Decreto-Lei n.º 140/99 – artigo 3º). Assim, a directiva prevê o estabelecimento de uma rede ecológica europeia de zonas especiais de conservação, a Rede Natura 2000 que englobará as ZEC, bem como as ZPE – Zonas de Protecção Especial – estas criadas no âmbito da directiva Aves (Directiva n.º 79/409/CEE). 2 RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________7 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) nacional e de estabelecer uma estratégia nacional de conservação da espécie (Programa Liberne - CEIA et al. 1998, FERNANDES et al. 2001). Considerado actualmente como o carnívoro mais ameçado da Europa (NOWELL & JACKSON 1996), até meados do séc. XIX o lince podia ser encontrado em quase toda a Península (DELIBEs 1979, RODRIGUEZ & DELIBES 1990, CASTRO & PALMA 1996). No entanto, a sua área de distribuição foi drasticamente reduzida e fragmentada, entre finais do século passado e início do séc. XX, tendo-se notado esse efeito em Portugal nos anos 30 - 40, inicialmente sobretudo nas regiões montanhosas do Norte e Centro mas posteriormente em toda a sua primitiva área de distribuição (PALMA 1980, CASTRO & PALMA 1996). O declínio evidenciado pelo lince e assumido como preocupante nos anos 80, motivou os primeiros estudos sobre a distribuição e situação da populacional da espécie tendo sido delineado em 1987 um plano de recuperação na Reserva Natural da Serra da Malcata, local emblemático na consciência nacional envolvida na conservação deste endemismo Ibérico. A distribuição do lince no nosso país é, de acordo com os trabalhos mais recentes (CASTRO & PALMA 1996, CEIA et al. 1998, FERNANDES et al. 2001, PALMA et al. 1999) extremamente fragmentada, consistindo uma parte considerável da sua área de ocorrência no prolongamento ocidental da população espanhola. De acordo com estes trabalhos, o lince é passível de ser encontrado nas áreas transnacionais do centro (Serra da Malcata – Serra da Gata, Serra de São Mamede – Serra de São Pedro) e sul (Vale do Guadiana – Serra Morena Ocidental) do país, para além do vale do Sado e das serras algarvias (Algarve – Odemira). Considerando a área de intervenção do EFMA, PALMA (1980) refere uma zona de ocorrência de 60 km2, que denomina Contenda-Barrancos, que será uma extensão da população espanhola existente na Serra Morena ocidental e estará, aparentemente, isolada da restante população de lince no sul de Portugal. FERNANDEZ (2003) confirmam a potencialidade da área no lado espanhol. De acordo com o mesmo autor tratar-se-ia de um dos três principais núcleos de lince no país. CASTRO & PALMA (1996) mencionam para a mesma área ocorrências para os anos de 1981-1988 e 1994, e ocorrências não confirmadas no vale do Guadiana. Os dados apresentados pela equipa do ICN (Projecto LIFE Nº B4-3200/94/767 - CEIA et al. 1998, FERNANDES et al. 2001) para o período compreendido entre 1987 e 1996, indicam como áreas de presença de lince as áreas da Adiça e de Barrancos – Contenda, a primeira de carácter regular e a segunda irregular, e identificam ainda outras duas áreas de ocorrência indeterminada (Alcarrache – Guadelim e Chança Internacional), num total de 270 Km2 de ocupação e com um efectivo populacional estimado de 4 a 7 indivíduos. Passados cerca de 7 anos (em 2002), realizou-se um novo censo nacional, com recurso a metodologias mais restritivas (armadilhagem fotográfica e análise molecular de ADN fecal), que excluem dados resultantes de inquéritos, e os resultados preliminares divulgados (P. SARMENTO, com. pess.) não confirmam a presença actual da espécie e apontam para um cenário de pré-extinção mantendo-se como último dado comprovado de ocorrência da espécie, um excremento recolhido em 1997 na Serra da Malcata (SARMENTO 2002). RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________8 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 3. ÁREA DE ESTUDO A área de estudo a que se refere o presente relatório (155 428 ha) diz respeito às 11 cartas militares (nºs 441, 452,463, 474, 481, 482, 483, 490, 491, 492 e 501), à escala 1:25000, consideradas contratualmente, e que se distribuem no interior do espaço geográfico formado maioritariamente pelos concelhos de Alandroal, Moura, Mourão, Portel e Reguengos de Monsaraz, e parcialmente pelos concelhos de Évora, Serpa, Vidigueira e Vila Viçosa (Fig. 1). N 441 452 Concelhos ALANDROAL EVORA MOURA MOURÃO PORTEL 463 REGUENGOS DE MONSARAZ SERPA VIDIGUEIRA VILA VICOSA Cartas militares 1:25 000 474 474 # Localidades Rios Área inundável # Mourão 481 482 483 491 492 # Portel 490 0 5 km 501 Moura # Figura 1 – Área cartográfica de influência directa de Alqueva e respectivo posicionamento no âmbito concelhio. No caso pontual do lince Ibérico, e por acordo expresso com a EDIA, S.A., foram igualmente consideradas para monitorização outras áreas incluídas no espaço envolvente, representado pelas 18 cartas adicionais (440, 451, 462, 473, 483, 493, 500, 502, 503, 511, 512, 513, 514, 515, 522, 523, 524, 525) consideradas no âmbito dos estudos de biologia e ecologia, nomeadamente do toirão e do gato-bravo. O conjunto das 29 militares assim consideradas representa o espaço cartográfico do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (Fig. 2). RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________9 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) N 440 # 441 Alandroal Redondo # 451 452 462 463 473 Reguengos de Monsaraz 474 # Concelhos Alandroal Barrancos Beja Borba Elvas Estremoz Évora Moura Mourão Portel Redondo Reguengos de Monsaraz Serpa Vidigueira Vila Viçosa # Cartas militares 1:25000 Cidades Rios Área inundável 481 482 Mourão 483 Portel 490 491 492 493 500 501 502 503 # # Moura 504 Barrancos # # 511 512 513 514 522 523 524 525 515 0 5 km Figura 2- Área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva. 4. ESTRATÉGIA GLOBAL DE AMOSTRAGEM A estratégia de investigação proposta para análise da distribuição e estatuto regional das espécies de carnívoros alvo de monitorização na área de regolfo das albufeiras de Alqueva e Pedrogão, foi delineada tendo em atenção o reduzido grau de conhecimentos acerca das espécies na área geográfica de intervenção do projecto (ver Cap. 2), o conhecimento dos requisitos mínimos à sua sobrevivência tendo por base os estudos efectuados em outras áreas da sua repartição geográfica, em particular os referentes a Portugal, os hábitos discretos das espécies e as presumíveis baixas densidades populacionais (nula no caso do lobo Ibérico). Numa primeira fase foi adoptada uma estratégia multi-direccionada que envolveu diferentes metodologias tradicionalmente preconizadas para avaliação da presença de mamíferos solitários e de hábitos secretivos, como a generalidade dos carnívoros (WILSON et al. 1996). Assim, foram efectuados inquéritos previamente delineados para o efeito e dirigidos a um público-alvo (e.g. guardas-florestais, caçadores, agricultores e pastores, entre outros). RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________10 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Paralelamente foram efectuados transectos diurnos para pesquisa de indícios de presença (pegadas, dejectos e tocas) das espécies-alvo presentes na actualidade. A selecção dos transectos a efectuar obrigou ainda a um conhecimento previo da estrutura da paisagem pelo que os trabalhos tiveram início com uma prospecção extensiva da globalidade da área de estudo, para caracterização paisagística da área de regolfo das albufeiras de Alqueva e Pedrogão a qual, complementada com informação digital, permitiu proceder ao mapeamento da ocupação do solo (ver Cap. 5). A vastidão da área de estudo, os diferentes requisitos das espécies-alvo, os constrangimentos temporais impostos pelas diferentes fases de implementação da barragem de Alqueva e a necessidade de identificar áreas importantes para a actuação ao nível da gestão ambiental, conduziram, numa segunda fase, à necessidade de recorrer a uma abordagem analítica que passa pelo desenvolvimento de modelos preditivos de distribuição espacial constituindo estes últimos uma das mais valias do presente estudo. Numa primeira fase a unidade de amostragem seleccionada foi a quadrícula 5*5 Km do sistema de projecção GAUSS, elipsóide Hayford Datum Lisboa3, num total de 76 quadrículas das quais 68,4% (n=52) traduzem uma representação completa e 31,6% (n=24) apenas se incluem parcialmente na área de estudo com representatividades que variam entre os 20 e os 80%. As quadrículas do sistema GAUSS, a diferentes níveis de resolução (1*1Km, 2*2Km ou 5*5Km) como será oportunamente referido em cada capítulo, representam as células da estrutura de dados em grelha utilizada no Sistema de Informação Geográfica (SIG) desenvolvido no âmbito deste projecto para permitir as diferentes abordagens analíticas. 4.1. Inquéritos Os inquéritos, realizados sob a forma oral, não obedeceram a uma estrutura fixa pois o seu desenvolvimento depende do inquirido, nomeadamente do seu grau de abertura ou comprometimento (CÂNDIDO 1997). No entanto, um conjunto de questões base foi previamente definido de forma a garantir alguma homogeneidade no tratamento dos resultados (SANTOS-REIS et al. 1999 - Anexo I). A ordem de colocação das questões junto ao inquirido foi variável, bem como a forma como a questão era abordada. Frequentemente foram colocadas questões complementares, cuja pertinência surgiu no decorrer de cada entrevista. Na interpretação dos resultados dos inquéritos a informação obtida foi “filtrada” com recurso a parâmetros como, por exemplo, o cruzamento de informação entre inquéritos, e os dados obtidos em áreas próximas e paisagisticamente semelhantes. Assim, as informações que, de algum modo, pudessem suscitar dúvidas não foram incluídas na base de dados (MICROSOFT ACESS 97) gerada para permitir análises subsequentes. Os inquéritos foram realizados em toda a área de estudo definida para a primeira fase, tendo para tal sido efectuada uma tentativa de contactar habitantes das pequenas povoações incluídas na área de estudo e, sobretudo, proprietários e/ou trabalhadores dos “montes” (denominação pela qual são conhecidas as herdades alentejanas). 3 Devido a problemas de ordem técnica na conversão dos dados georreferenciados, e após vários testes realizados no terreno em pontos de localização precisa, o Datum Lisboa foi aquele que revelou uma maior precisão pelo que foi o adoptado subsequentemente. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________11 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) O método de representação espacial seleccionado como base de trabalho para o mapeamento da ausência/presença de cada espécie na área de intervenção do projecto, com base nos resultados dos inquéritos orais, foi igualmente a quadrícula 5*5 Km (Fig. 3). 441B 441C 441D 441F 441G 441H 452B 452C 452D 452F 452G 452H 463B 463C 463F 463G 474B 474C 474F 474G N Cartas militares 1:25 000 Quadrículas GAUSS 5*5 Km Rios Área inundável Área de estudo 481A 481B 481C 481D 482A 482B 482C 482D 483A 483B 483C 483D 481E 481F 481G 481H 482E 482F 482G 482H 483E 483F 483G 483H 490A 490B 490C 490D 491A 491B 491C 491D 492A 492B 492C 492D 490E 490F 490G 490H 491E 491F 491G 491H 492E 492F 492G 492H 501A 501B 501C 501D 501E 501F 501G 501H 0 5 km Figura 3 – Representação espacial do sistema de coordenadas GAUSS 5*5 km da área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva. 4.2. Pesquisa de indícios de presença A pesquisa de indicíos de presença é um dos métodos mais usuais no estudo de mamíferos carnívoros (WILSON et al. 1996) não só pela dificuldade de implementação de técnicas de detecção directa, advinda dos hábitos secretivos e nocturnos das referidas espécies, mas também pelas características particulares dos mesmos que permitem uma identificação muito rigorosa (e.g. FAPAS 2000). O método de representação espacial seleccionado no âmbito deste estudo foi também utilizado como base de trabalho para a definição dos percursos pedestres, metodologia utilizada na prospecção de indícios de presença das várias espécies de ocorrência potencial na área de estudo. Em cada quadrícula 5*5 Km foi definido um percurso com a extensão de 10 Km, numa primeira fase distribuído pela área de acordo com a representatividade de cada elemento de RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________12 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) paisagem. O percurso amostrado foi caracterizado em termos de variáveis físicas (temperatura, nebulosidade, vento) e ambientais (tipo de biótopo, tipo de linha de água, entre outras). Em cada um dos transectos foi registado o número de indícios de presença identificados, bem como as características do habitat envolvente dos mesmos. A resolução espacial dos indícios de presença de cada espécie na área prospectada foi pontual, e todos os pontos foram georreferenciados, recorrendo ao sistema de posicionamento global com correcção diferencial (GPS Magellan PromarkX). Após a avaliação prévia da distribuição das espécies-alvo na área de intervenção do projecto (1999), as estratégias de amostragem subsequentes foram revistas e direccionadas tendo em atenção os padrões de distribuição emergentes da referida análise, para aplicação entre Janeiro e Dezembro de 2000 (ver Cap. 7). Na segunda fase (Janeiro de 2001 a Dezembro de 2003) foi dada especial ênfase aos efeitos da desmatação e desarborização efectuados na área da barragem do Alqueva, até às cotas de 150 e 152 metros, respectivamente, e do enchimento, iniciado em Fevereiro de 2002. 4.3. Modelos Preditivos de Distribuição Espacial Através da análise da adequabilidade do habitat para cada uma das espécies dentro e fora da área inundável é possível prever a distribuição potencial das mesmas e o impacte da construção da barragem, e consequentemente fundamentar a proposta de algumas medidas de minimização. Para fazer esta análise tentou-se conhecer a associação entre a ocorrência das espécies e diversas variáveis ambientais, de forma a calcular a probabilidade de ocorrência dessas espécies na globalidade da área afecta ao Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva. Os níveis mais elevados de probabilidade de ocorrência corresponderão às áreas que lhe são potencialmente mais favoráveis. Assim, se as áreas mais adequadas em toda a área de intervenção do projecto estiverem dentro da área inundável o impacto será mais elevado, do que se estiverem tanto nas áreas dentro como fora da área inundável. Por outro lado, o conhecimento da adequabilidade do habitat nas áreas envolventes à zona inundável permitirá definir medidas de gestão ambiental de forma a minimizar os impactes gerados quer com a desmatação/desarborização quer com o subsequente enchimento. Para a análise da probabilidade de ocorrência do toirão, lontra e gato-bravo (únicas passíveis de análise uma vez que o lobo está extinto e o lince pré-extinto), para além do coelho-bravo como espécie-presa chave, utilizou-se o método de regressão logística múltipla. Este método é mais flexível que outras técnicas, por ser relativamente livre de restrições. Esta análise tem a capacidade de avaliar todo o tipo de variáveis (discretas, contínuas ou dicotómicas), a variedade e complexidade dos dados que podem ser analisados é quase ilimitada (TABACHNICK & FIDELL 1996), para além da fácil utilização do ponto de vista matemático e o facto de conduzir a uma interpretação com significado biológico (HOSMER & LEMESHOW 1989). RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________13 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 4.3.1 Análise de Regressão Logística O modelo de regressão logística, apresenta-se da seguinte forma: π ( x ) = e e g ( x ) g ( x ) + 1 sendo π (x) a probabilidade de ocorrência de uma dada espécie que assume valores entre 0 e 1. O valor de g (x) obtém-se através da seguinte equação: g(x) = β0 + β1x1 + β2x2 +..... + βpxp, onde β0 é uma constante e β1, β2....βp, são os coeficientes das respectivas variáveis independentes x1, x2... xp (HOSMER & LEMESHOW 1989). A construção do modelo envolve duas fases: (1) a selecção das variáveis ambientais e (2) a avaliação da qualidade do modelo que deve ter em conta a significância dos parâmetros que explicam a variação da variável dependente e o ajustamento do modelo aos dados (TREXLER & TRAVIS 1993). Para a construção do modelo recorreu-se ao programa estatístico SPSS (NORUSIS 1993). A análise de regressão logística necessita de dois tipos de informação: dados biológicos que correspondem à informação sobre a ocorrência das espécies e um conjunto de variáveis independentes potencialmente associadas a essas ocorrências. Esta informação é reunida numa matriz de dados em que as unidades de amostragem, definidas previamente para cada espécie, são caracterizadas quer em termos biológicos como de variáveis ambientais. Dados biológicos As amostras relativas às diferentes espécies em análise correspondem a quadrículas GAUSS com diferentes graus de resolução e, na maioria dos casos, foram seleccionadas aleatoriamente para prospecção no terreno (Tab. 1). No caso do toirão e do gato-bravo, a amostra contém, para além das quadrículas aleatórias seleccionadas, outras com presença confirmada (dados pontuais). Tabela 1 – Caracterização das amostras das espécies analisadas em termos de tipo de informação, unidade e de nº de unidades de amostragem. Tipo Unidade de de informação amostragem Nº de unidades de amostragem Toirão Presença/ausência Quadrícula 1*1 Km 116 Lontra IQA(1) Segmentos de 0,2 Km2 99 Gato-bravo Presença/ausência Quadrícula 1*1 Km 89 Coelho-bravo(2) Presença/ausência Quadrícula 1*1 Km 998 Coelho-bravo(3) Presença/ausência Quadrícula 1*1 Km 198 (1) Índice Quilométrico de Abundância (nº de indícios/Km) (STAHL 1986) (2) Modelo preditivo desenvolvido para as 21 cartas militares (3) Modelos preditivos desenvolvidos para as 11 cartas militares RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________14 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) O tipo de informação utilizado no desenvolvimento do modelo para a lontra é diferente do utilizado relativamente às outras espécies abordadas neste projecto (Tab. 1). A amostra utilizada para a análise estatística da situação da lontra corresponde aos resultados da aplicação da metodologia de campo do ano 2000 (ver ponto 7.2.1.1.), sendo o modelo construído com base em informação recolhida relativamente às 11 cartas consideradas prioritárias (área de influência directa da albufeira de Alqueva). Dada a ampla distribuição da lontra na área de estudo, a informação pretendida é, não a distribuição potencial da lontra, mas sim conhecer as suas zonas de utilização preferencial. Assim, nesta situação, a variável dependente consiste no indíce quilométrico de abundância (IQA) o qual foi codificado em duas classes. A classe 0 representa o menor grau de utilização da área e inclui os 40 valores de IQA mais baixos, e a classe 1, que corresponde a um maior grau de utilização e inclui os 40 valores de IQA mais altos, sendo o valor máximo obtido 202 indícios/Km. A predição da intensidade de utilização do habitat por parte da lontra só faz sentido nas linhas e planos de água visto ser uma espécie comprovadamente dependente da presença de água e que raramente se afasta de uma forma significativa das mesmas excepto quando em dispersão e na época do cio. Também a marcação do território está estritamente relacionada com a linha de água visto que a grande maioria dos indícios encontrados ocorrem a distâncias inferiores a 5 m da margem da água (e.g. PEDROSO 1997). Assim, para caracterizar a área envolvente das linhas e planos de água construíram-se segmentos com 1000 m de comprimento e 200 m de largura em média. Desta forma o mapeamento da adequabilidade do habitat é feito por segmentos e não por quadrículas. Os modelos desenvolvidos quer para o toirão, quer para o gato-bravo, foram construídos com informação obtida no conjunto das 21 cartas prospectadas no âmbito da realização dos estudos de biologia e ecologia destas espécies (MATOS et al. 2001, PEREIRA et al. 2001). No entanto, e uma vez que no âmbito do projecto de monitorização apenas as 11 cartas prioritárias são alvo de análise, a informação constante deste relatório diz apenas respeito a estas. Relativamente ao coelho-bravo, foram desenvolvidos 3 modelos: um primeiro com os dados recolhidos no conjunto das 21 cartas, igualmente no âmbito dos estudos de biologia e ecologia de toirão e gato-bravo, e um segundo e um terceiro apenas com dados relativos às 11 cartas prioritárias, sendo o primeiro relativo aos dados recolhidos em 2000, durante a fase pré-desmatação, e o segundo aos dados obtidos no ano seguinte, fase pós-desmatação, nas mesmas quadrículas amostradas, servindo de base para comparação da distribuição da espécie nos dois anos consecutivos. Neste relatório será igualmente apresentado o primeiro modelo relativo às 21 cartas pelo facto do trabalho de prospecção para o lince Ibérico abranger esta área mais vasta. Variáveis ambientais Para o desenvolvimento dos modelos de regressão logistica reuniu-se uma série de variáveis ambientais que potencialmente estão associadas às espécies alvo, as quais estão apresentadas na tabela que se segue e que inclui igualmente as respectivas fontes de informação (Tab. 2). A descrição das variáveis ambientais seleccionadas para análise relativamente a cada uma das espécies encontra-se no Anexo II. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________15 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Tabela 2 – Fontes de informação para as variáveis ambientais utilizadas na análise preditiva da distribuição das espécies alvo. Variáveis ambientais Ocupação do solo/ biótopos Fonte Fotointerpretação de ortofotomapas Map/Euroteam(1) Cartas uso do solo do CNIG de 1990 e trabalho de campo(2) Aglomerados de pedra Cartas militares 1:25000 e trabalho de campo Afloramentos rochosos Trabalho de campo Solo Instituto de Hidráulica, Engenharia Rural e Ambiente e trabalho de campo(2) Geologia Maps/Euroteam(1) Hidrologia Maps/Euroteam(1) Gado Trabalho de campo(2) Zonas de caça Instituto Florestal e trabalho de campo(2) Densidade populacional Instituto Nacional de Estatística - Censo de 1990 Áreas urbanas e casas Fotointerpretação dos ortofotomapas Map/Euroteam(1) Estradas Map/Euroteam(1) e trabalho de campo Coelho(3) Trabalho de campo e modelo preditivo de distribuição espacial Presas da lontra(4) Trabalho de campo Fontes de Poluição(4) Map/Euroteam(1) Métricas para o uso do solo Cálculos em Arcview 3.2 sobre a ocupação do solo digitalizada (1) Informação cedida pelo Núcleo de Património Natural da EDIA S.A. (2) A informação recolhida no trabalho de campo foi utilizada apenas no desenvolvimento dos modelos preditivos do coelho-bravo. (3) Variável utilizada apenas no desenvolvimento do modelo preditivo do toirão e gato-bravo. (4) Variáveis utilizadas apenas no desenvolvimento do modelo preditivo da lontra. Relativamente à informação obtida no terreno, esta apresenta a desvantagem de estar limitada apenas às áreas prospectadas, que conforme oportunamente explicitado (ver Cap. 3) correspondem apenas a uma sub-amostra da totalidade da área de intervenção do projecto. Nesta situação se o modelo desenvolvido seleccionar este tipo de variáveis não é possível extrapolar para toda a área de estudo e mapear o resultado final. 4.3.1.1. Selecção de variáveis para construção do modelo Para a selecção das variáveis a incorporar no modelo utilizou-se a análise univariada. Para que as variáveis sejam candidatas ao modelo, têm de apresentar pelo menos um moderado nível de associação com a presença/ausência da espécie. No contexto univariado foi utilizado, para o toirão e gato-bravo, o teste do Qui-Quadrado de Pearson (variáveis em classes) e o teste de Mann-Whitney (U) (variáveis contínuas) (PEREIRA 1996). No caso da lontra foi usado o teste de Wald. As variáveis foram codificadas em classes por este procedimento revelar melhores resultados (Anexo III). Nesta fase preliminar da análise optou-se por seleccionar as variáveis de reconhecida importância biológica e as que apresentavam uma significância inferior a 0,25 de forma não serem eliminadas variáveis que possam ter uma associação, mesmo que ténue, com a ocorrência da espécie (HOSMER & LEMESHOW 1989). Quando o número variáveis RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________16 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) com significância menor que 0,25 era elevado, seleccionavam-se as variáveis com um nível de significância inferior. No caso da lontra, o valor de significância considerado foi 0,05 devido ao elevado número de variáveis seleccionadas nesta fase. Para as variáveis seleccionadas pela análise univariada foi testada a multicolinearidade, dada a elevada sensibilidade que os modelos de regressão logística demonstram a este factor (TABACHNICK & FIDELL 1996). A multicolinearidade ocorre quando uma variável independente está correlacionada com outra variável independente. Assim para encontrar as variáveis correlacionadas foi calculado o coeficiente de correlação de Spearman (rs) entre cada par. Este teste não-paramétrico foi seleccionado pelo facto das variáveis seleccionadas não apresentarem uma distribuição normal. Foram apenas seleccionadas entre os pares de variáveis correlacionadas (r> |0,65|) as variáveis que apresentam maior significado biológico ou que traduzem melhor as características da área de estudo (MORISSON et al. 1992). Ao nível da análise multivariada, começou por aplicar-se o sistema de inclusão progressiva de variáveis passo-apasso (“stepwise forward”). Deste modo, os limites máximo e mínimo que se fixaram para a inclusão e exclusão das variáveis são 0,15 como valor máximo de significância de entrada, e 0,20 como mínimo valor associado à remoção de uma variável (HOSMER & LEMESHOW 1989). A significância das variáveis independentes do primeiro modelo construído foi avaliada através do ψ - odds ratio (valor da razão das possibilidades) e do seu significado biológico. O odds-ratio permite uma interpretação quantitativa de cada coeficiente: um valor igual a 1 indica que tem influência reduzida na variável independente; quando é maior ou menor que 1, a variável representa respectivamente uma contribuição positiva ou negativa para a presença da espécie (TABACHNICK & FIDELL 1996). 4.3.1.2 Avaliação da qualidade de ajustamento do modelo Depois de seleccionadas as variáveis que se mostraram informativas para o modelo é necessário avaliar a linearidade da associação de cada variável em relação à variável dependente. Para tal, foi utilizada a comparação do Teste da Razão das Verosimilhanças (Teste G) do modelo com a variável categorizada e não categorizada. As variáveis que apresentavam uma relação não linear com a presença/ausência da espécie são incluídas na análise sob a forma de variáveis categóricas. Estudaram-se possíveis interacções biologicamente plausíveis entre as variáveis seleccionadas para o modelo, através do Teste da Razão das Verosimilhanças (Teste G). As interacções que maximizem a capacidade preditiva do modelo são incluídas no modelo, em detrimento das contribuições individuais das variáveis envolvidas. Os testes apresentados estão descritos no Anexo IV. Com o objectivo de avaliar a capacidade preditiva do modelo e analisar em que medida este descreve a realidade, foram calculadas as taxas de classificação correctas e realizou-se o Teste χ2 de Pearson. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________17 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Relativamente às taxas de classificação correctas, ao comparar o modelo construído com a real distribuição da espécie é possível identificar dois resultados potencialmente correctos e dois tipos de erros. O erro Tipo I ocorre quando o modelo prevê a presença da espécie e na realidade ela está ausente. Este erro pode ocorrer devido a vários factores: devido a uma incorrecta ou inadequada amostragem da espécie; uma sobrevalorização do modelo para algumas variáveis ambientais; ou ainda porque falhou em encontrar o parâmetro ambiental que influencia a presença da espécie. Pelo contrário, o erro Tipo II ocorre quando o modelo prevê a ausência da espécie e na realidade está presente. Este erro pode ocorrer por vários factores: porque os animais detectados ocorrem esporadicamente; porque a sua presença não indica uma verdadeira qualidade do habitat; por um efeito de amostragem; ou porque o modelo não inclui uma variável vital para a presença da espécie. Com base nas taxas de classificação correcta é possível identificar o ponto de corte. Este será tanto melhor quanto maior o equilíbrio entre os erros e as taxas de classificação correctas. Uma vez que se pretendem encontrar as áreas potencialmente favoráveis à ocorrência da espécie, deve-se seleccionar como ponto de corte aquele que minimize o erro Tipo I no sentido de maximizar a classificação correcta do modelo em relação às presenças (MORISSON et al. 1992). O modelo com taxa de classificação correcta superior a 70% é considerado um bom modelo. A distância entre os valores observados e os estimados foi medida através do Teste χ2 de Pearson. O valor do X2 é obtido por Σ r(yj, πj)2, onde r(yj, πj) = (yj, πj)/(πj.(1-πj), sendo y as presenças observadas da espécie, π a probabilidade de ocorrência da espécie, j o número de quadrículas da amostra e os graus de liberdade = j – (nº variáveis +1) para p<0,05 (ZAR, 1984). Sendo Ho o ajustamento do modelo aos dados, a Ho não é rejeitada se χ2 >X2 para p> 0,05. Outra forma de avaliar a “performance” do modelo é através da curva ROC (“Receiver-Operating Characteristics”), a partir da qual se obtém a área abaixo da curva ROC, considerada um indicador efectivo da “performance” do modelo independente da probabilidade do intervalo de confiança na qual a presença da espécie é aceite e que optimiza as probabilidades dos intervalos de confiança que maximizam a percentagem de verdadeiras presenças e ausências correctamente classificadas (MANEL et al. 2001). 5. MAPEAMENTO DA OCUPAÇÃO DO SOLO 5.1. Metodologia Para o mapeamento da ocupação do solo da área de estudo, numa primeira fase efectuou-se uma prospecção extensiva de toda a área de estudo para uma caracterização paisagística preliminar e definição das unidades de paisagem a considerar em todo o processo analítico subsequente. De facto, nesta primeira abordagem foi inventariado um número demasiado elevado (n= 82) de classes de ocupação do solo (Anexo IV), uma diversidade que, embora previsível dada a vastidão da área, colocava alguns constrangimentos no processo de delineamento da estratégia de amostragem a implementar no terreno e no processo analítico subsequente. Assim, e tendo em conta que os valores de ocupação do solo se mostraram muito heterogéneos em termos de representatividade de cada classe, optou-se por RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________18 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) agrupar as classes com mais afinidades em termos da sua função e significado para as espécies, de acordo com o conhecimento existente. A metodologia empregue durante o processo de mapeamento foi a fotointerpretação de ortofotomapas digitais (1995, escala 1:5 000) disponibilizados pela Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva, S.A. tendo esta informação sido complementada com as cartas de ocupação do solo disponibilizadas pelo Centro Nacional de Informação Geográfica (dados de 1990). A delimitação das respectivas manchas e o agrupamento das diferentes classes de ocupação, foram realizados com recurso ao programa ArcView 3.1 para Windows. A validação deste processo de interpretação, bem como o mapeamento de áreas relativamente às quais não havia informação digital disponível, foi efectuada no terreno por processos manuais utilizando como base cartográfica as cartas militares à escala 1:25 000 e fazendo recurso ao sistema de posicionamento global com correcção diferencial (GPS Magellan Promark-X). 5.2. Resultados e discussão Uma vez que o processo de fotointerpretação e de validação e mapeamento no terreno era bastante moroso, facto que implicava um esforço de campo adicional inicialmente não previsto, a área de estudo não foi cartografada na sua totalidade, mas apenas as cartas que prioritariamente interessavam ao cumprimento dos objectivos propostos neste projecto. Assim, no total foram cartografadas 21 cartas (e adicionalmente a carta 525A) das 29 correspondentes à área global de intervenção do projecto (por ausência de fotografias aéreas), correspondendo a uma área de 267 529 ha (Fig. 4). Do total inicial de 82 biótopos (Anexo IV) resultaram 16 classes de ocupação do solo (Tab. 3), a serem consideradas em todas as fases subsequentes do trabalho desenvolvido. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________19 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) N Ocupação do solo Área social Estepes Eucaliptal Matagal Matos Montado com subcoberto Montado sem subcoberto Olival selvagem Pinhal Planos de água Plantações recentes Olival/Pomar/Horta Rio Rocha nua Vegetação ripicola Vinha Cartas militares 1:25 000 0 5 km Figura 4 – Mapa da ocupação do solo na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, definida para o desenvolvimento de modelos espaciais. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________20 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Tabela 3 – Classes de ocupação do solo e a sua representatividade na área de estudo (% de OCUP.- % de ocupação de cada biótopo; N.º MANCH.- n.º de manchas de cada biótopo; T. MED. MANCH.- Tamanho médio das manchas de cada biótopo). CLASSES DE OCUPAÇÂO DE SOLO % de OCUP. N.º MANCH. T. MED. MANCH. (ha) 1 Área Social 0,56 702 1,24 2 Estepes 33,64 1139 45,91 3 Eucaliptal 2,95 107 42,79 4 Matagal 0,71 99 11,17 5 Matos 3,61 459 12,21 6 Montado com subcoberto 11,12 828 20,87 7 Montado sem subcoberto 32,98 890 57,59 8 Olival / Pomar / Horta 9,47 654 22,51 9 Olival selvagem 0,13 23 9,05 10 Pinhal com subcoberto 0,15 36 6,43 11 Planos de água 0,20 327 0,93 12 Plantações recentes 1,16 61 29,60 13 Rio 1,09 77 21,95 14 Rocha nua 0,01 4 4,64 15 Vegetação ripícola 0,77 839 1,42 16 Vinha 1,46 162 14,03 100,00 6047 302,33 TOTAL Da análise do mapeamento realça-se a reduzida representatividade da rocha nua presente na área de estudo apenas em 4 manchas (4,64%) e com uma percentagem de ocupação do solo de 0,01% (Tab. 3). Também com uma representatividade relativamente reduzida surgem o olival selvagem e o pinhal com subcoberto (com percentagens de ocupação do solo de 0,13% e 0,15%, respectivamente), presentes num número reduzido de pequenas manchas (23 manchas de olival selvagem de tamanho médio de 9,05 ha e 36 manchas de pinhal com subcoberto de tamanho médio de 6,43 ha). A par com estes biótopos estão os planos de água (charcas, açudes, pequenas barragens) e a área social, também com uma baixa percentagem de representação no conjunto da área prospectada (0,20% e 0,56%, respectivamente), muito embora ocorram dispersos num número elevado de manchas (n= 327 e 702) de dimensões muito reduzidas (0,93 ha e 1,24 ha). Efectivamente, estes dois biótipos apresentam as manchas mais pequenas encontradas na área de estudo. As unidades de paisagem de presença mais regular no conjunto foram as estepes e o montado sem subcoberto, presentes respectivamente em 33,64% e 32,98% das quadrículas prospectadas, apresentando as estepes o maior número de manchas da área (n= 1139) do total dos 16 biótopos considerados, enquanto que o montado sem subcoberto é o que apresenta o tamanho médio por mancha (57,59 ha) mais elevado. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________21 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 6. AVALIAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA DO COELHO-BRAVO 6.1.Metodologia 6.1.1.Estratégia pré-desmatação / desarborização A área de estudo para efeito do mapeamento da distribuição e abundância do coelho-bravo consistiu na globalidade da área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva, num conjunto de 21 cartas militares à escala 1:25 000, tendo como objectivo avaliar a situação populacional do coelho-bravo não apenas nas 11 cartas prioritárias, mas igualmente nas áreas seleccionadas para prospecção de lince Ibérico. A unidade de amostragem seleccionada para a representação espacial do padrão de distribuição e abundância do coelho-bravo foi a quadrícula 1*1Km do sistema de projecção GAUSS (elipsóide Hayford Datum Lisboa), correspondendo a um total de 2 708 quadrículas. Sendo o objectivo a realização de um censo circunscrito temporalmente, de forma a evitar enviesamento de resultados, mas que fosse representativo da área de estudo, optouse por seleccionar quadrículas com uma disposição alternada (Fig. 5), nas quais seria avaliada a situação da espécie e seria efectuada uma caracterização em termos do tipo e representatividade dos biótopos presentes, características do solo, regime cinegético e ocorrência de gado (Anexo II). Assim, o esforço de amostragem para o coelho-bravo na área cartográfica definida para o desenvolvimento dos modelos espaciais traduz-se em 998 quadrículas 1*1 Km nas quais foram efectuados transectos e 1082 quadrículas 1*1 Km apenas caracterizadas; apenas relativamente a 628 quadrículas 1*1 km não foi obtida qualquer informação. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________22 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) N Transecto+caracterização Caracterização Sem informação Cartas militares 1:25 000 Área prevista para inundação 0 5 km Figura 5 – Esforço de amostragem para a avaliação da situação populacional do coelho-bravo na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva definida para o desenvolvimento de modelos espaciais. A avaliação da situação do coelho-bravo na área de estudo baseou-se na contagem de latrinas e dejectos isolados em transectos realizados ao longo de caminhos de terra cuja largura não excedesse os 2m. PAIS & PALMA (1998) referiram, para o nordeste Algarvio, que os caminhos são pontos de amostragem representativos da presença de coelho-bravo, embora não necessariamente da sua abundância relativa nos habitats adjacentes aos mesmos. Contudo, ÂNGELO (2000), e para a mesma área, analisou esta questão e verificou que a contagem de latrinas em caminhos de terra pode ser utilizada para determinação das abundâncias relativas de coelho-bravo nos habitats adjacentes. PALOMARES (2001) refere que a contagem de dejectos traduz aceitavelmente a abundância relativa de coelho-bravo, tornando-se particularmente útil em amostragens de larga escala. Os transectos tiveram uma extensão de 250m, ao longo dos quais foi quantificado o número de latrinas, definidas como aglomerados de 20 ou mais dejectos dentro de um raio de 10cm, à semelhança de outros estudos realizados em Portugal (ABREU et al. 1998, PAIS & PALMA 1998, BASTO 1999); em 6 rectângulos de 1*2m dispostos a cada 50m do transecto foi igualmente contado o número de dejectos isolados. Sempre que possível, o transecto posicionou-se no centro da quadrícula e no biótopo dominante da mesma, evitando ecótonos. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________23 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) O objectivo de realizar uma amostragem tão pontual quanto possível no tempo terá sido cumprido apesar de aquela ter decorrido entre 12 de Maio e 7 de Setembro de 2001, em resultado da dimensão da área prospectada, do esforço de campo envolvido e de não estar previsto contratualmente. De facto, o Inverno anterior foi excepcionalmente chuvoso, tendo lixiviado todos os dejectos e resíduos anteriores. Além disso, a amostragem teve início no final da época reprodutora, quando as populações de coelho apresentam os efectivos máximos (ALVES & MORENO 1996, GIL-SÁNCHEZ et al. 1999, PALOMARES 2001). Assim, podemos considerar que foi contabilizado o número máximo de dejectos, uma vez que, a partir daí, a taxa de deposição terá sido mais lenta, bem como a taxa de desaparecimento dos mesmos, uma vez que esta última ocorre mais rapidamente na Primavera, quando as condições de temperatura e humidade permitem o início da actividade por parte de organismos que degradam mais rapidamente os dejectos (LUMARET & KIRK 1987 in IBORRA & LUMARET 1997). 6.1.2. Estratégia pós-desmatação/desarborização Durante o mês de Julho de 2002 foi efectuada uma reavaliação da abundância relativa de coelho-bravo de forma a obter uma perspectiva da evolução da distribuição e abundância da espécie na área de estudo em monitorização, ou seja, as 11 cartas prioritárias, por serem as únicas que foram sujeitas a intervenção. Face a constrangimentos logísticos e temporais, tanto mais que se trata de uma espécie cuja monitorização não estava prevista contratualmente, apenas foi possível monitorizar 33,7% das quadrículas amostradas em 2001 de entre as 11 cartas consideradas prioritárias para efeitos de monotorização, tendo-se optado por efectuar uma amostragem de todas as quadrículas que tinham revelado presenças e uma selecção aleatória de quadrículas que tinham revelado ausências, num total de 191 quadrículas 1*1 Km do sistema de projecção GAUSS (Fig. 6), onde se realizaram transectos, seguindo a metodologia anteriormente descrita. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________24 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) N Transectos Cartas militares 1:25 000 Quadrículas GAUSS 1*1 Km Área prevista para inundação 0 5 km Figura 6 – Esforço de amostragem para o coelho-bravo na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, na fase pós-desmatação/desarborização. 6.2. Resultados e discussão 6.2.1. Evolução do padrão de distribuição FASE PRÉ-DESMATAÇÃO/DESARBORIZAÇÃO Os dois métodos testados para estimar a abundância relativa de coelho-bravo, revelaram uma elevada concordância entre o número de latrinas e de dejectos isolados registados nos transectos (rS= 0,74; p= 0,000; n= 995), tal com o demostrado num estudo realizado na Zona Especial de Conservação Moura/Barrancos por BALTAZAR (2001), pelo que a utilização de qualquer um destes indícios como indicador da abundância relativa de coelho-bravo se revelou adequada, tendo sido seleccionado apenas um (a contagem de latrinas) para as análises subsequentes. Foram consideradas as seguintes classes de abundância relativa de coelho-bravo: ausente (0 latrinas); pouco abundante (1 a RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________25 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 7 latrinas) e abundante (8 ou mais latrinas). O coelho-bravo encontrava-se presente em quase metade das quadrículas prospectadas (41,4%; n= 412), distribuindo-se de uma forma relativamente generalizada por toda a área (Fig. 7). No entanto, cerca de um terço (31,8%; n= 131) das ocorrências traduzem, na realidade, uma reduzida abundância relativa da espécie. Ou seja, o coelho-bravo é abundante em apenas 28,2% (n= 281) das quadrículas onde foi efectuado transecto, sendo observável uma forte associação destas ao vale do rio Guadiana. De entre estas últimas, 25,0% (n= 70) ficarão submersas quando do enchimento da Barragem à cota 152. N Abundante Pouco abundante Ausente Quadrículas não prospectadas Cartas militares 1:25 000 Área inundável 0 5 km Figura 7 - Mapeamento da abundância relativa de coelho-bravo na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva e parte da área cartográfica envolvente. De referir ainda que os núcleos de maior abundância da espécie apresentam um padrão fragmentado, indiciando um possível isolamento entre as populações e uma maior vulnerabilidade com consequente risco de extinção. Com intuitos comparativos, na figura 8 podemos observar a abundância relativa de coelho-bravo nas quadrículas seleccionadas para efectuar a reavaliação do padrão de distribuição e abundância da espécie na fase seguinte e construção do modelo preditivo. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________26 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) FASE PÓS-DESMATAÇÃO/DESARBORIZAÇÃO Os resultados da amostragem efectuada nas 191 quadrículas 1*1 km, dentro das 11 cartas prioritárias, foi comparada com os relativos à amostragem anterior (fase pré-desmatação/desarborização). Observa-se uma redução na abundância de coelho-bravo de 40,8% para 26,1% e considerou-se a espécie pouco abundante em 24,6% das quadrículas, comparativamente com os 9,4% observados em 2000 (Fig. 8). N Fase pré-desmatação/desarborização Fase pós-desmatação/desarborização Abundante Pouco abundante Ausente Quadrículas não prospectadas Cartas militares 1:25 000 Área inundável Rios 0 5 km Figura 8 - Mapeamento da abundância relativa de coelho-bravo nas quadrículas 1*1 Km seleccionadas para monitorização, na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva. À semelhança do ano anterior , o coelho-bravo mostra-se ausente em 49% das quadrículas mas os núcleos de maior abundância apresentaram um padrão ainda mais fragmentado e com menor extensão, comparativamente com a situação anterior (Fig. 8). RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________27 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Conclui-se assim que, os efeitos da desmatação/desarborização não influenciaram o padrão de distribuição (presença/ausência) da espécie, mas afectaram de forma significativa a abundância da mesma. 6.2.2. Modelo preditivo de distribuição espacial FASE PRÉ-DESMATAÇÃO/DESARBORIZAÇÃO O modelo representado na tabela 4 e figura 9 refere-se, não apenas à área de influência directa da barragem de Alqueva mas ao um conjunto de 21 cartas na área de implantação do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva e foi construído no decurso dos estudos de biologia e ecologia de toirão e gato-bravo (MATOS et al. 2001; PEREIRA et al. 2001). Tabela 4 – Variáveis seleccionadas para o modelo de regressão logística e mapeamento da probabilidade de ocorrência de coelhobravo na área cartográfica do Empreendimento para Fins Múltiplos do Alqueva, e respectivos coeficientes (β ) e erros-padrão (S.E.(β )), estatística de Wald (Wald), graus de liberdade (g.l.), significância do teste de Wald (Wald (p)) e Odds ratio (ψ ). Variáveis β S.E.(β) Montado de azinho com subcoberto Wald g.l. Wald (P) 6,589 2 0,037 ψ Montado de azinho com subcoberto [0-50%[ 0,402 0,274 2,152 1 0,142 1,495 Montado de azinho com subcoberto [50%-100%] 0,805 0,343 5,500 1 0,019 2,237 5,424 2 0,066 Matos Matos [0-50% [ 0,677 0,294 5,294 1 0,021 1,969 Matos [50%-100%] 0,325 0,553 0,345 1 0,557 1,384 Aglomerados de pedras 1,141 0,483 5,584 1 0,018 3,130 16,460 2 0,000 Regime cinegético especial Regime cinegético especial ]0,25-0,75Km2] Regime cinegético especial ]0,75-1Km2] 0,528 0,338 2,437 1 0,006 1,695 1,057 0,266 15,779 1 0,000 2,879 12,245 2 0,002 Distância às zonas urbanas Distância às zonas urbanas [2501-5000m[ 0,903 0,328 7,555 1 0,006 2,466 Distância às zonas urbanas [>5000m[ 1,105 0,317 12,136 1 0,000 3,018 Constante 1,784 0,332 28,925 1 0,000 0,168 RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________28 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) N Probabilidade de ocorrência de coelho-bravo 0 - 25% 25% - 50% 50% - 75% 75% - 100% Área inundável Cartas militares 1:25000 0 5 km Figura 9 - Mapeamento da probabilidade de ocorrência de coelho-bravo (quadrículas 1*1 Km) estimados pelo modelo de regressão logística para a área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva. Avaliação da qualidade de ajustamento do modelo Verifica-se que o modelo obteve uma percentagem de classificação correcta intermédia, 66,9%, na classificação dos próprios casos sobre os quais havia sido construído (69,7% de presenças correctamente classificadas e 64,2% de ausências; ponto de corte = 0,5), taxa que esteve ligeiramente abaixo do valor mínimo considerado para um modelo com um bom poder preditivo. Apesar da considerável quantidade e diversidade de variáveis independentes que foram tidas em consideração para a construção dos modelos, o facto de não terem sido considerados factores que se esperava terem uma influência significativa nas populações de coelho-bravo – os surtos de mixomatose e, mais recentemente, da doença hemorrágica viral (VILAFUERTE et al. 1994 in ALVES & MORENO 1996, SUMPTION & FLOWERDEW 1985, CASTRO 1992), bem como a forma como tem sido exercida a gestão cinegética desta espécie, que é uma das mais exploradas da Península Ibérica (ALVES & MORENO 1996), nomeadamente através de operações de repovoamento (MONTEIRO 1994) - terá possivelmente originado estes desvios relativamente ao ajuste ideal. A razão da não inclusão das referidas variáveis RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________29 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) prende-se com o facto de não se encontrarem disponíveis dados em formato digital nos serviços oficiais competentes (Direcção Geral de Veterinária e Direcção Geral de Florestas), sendo que a sua inclusão exigiria um esforço no terreno não compatível com os outros trabalhos em curso. Observa-se, igualmente, um desequilíbrio entre as percentagens de previsões correctas para as presenças e ausências de coelho-bravo, sempre com vantagem para as primeiras. Em parte, este resultado deve-se ao facto de a classificação ser sensível ao número de observações para cada classe da variável resposta, favorecendo sempre o grupo maior (HOSMER & LEMESHOW 1989). No entanto, em qualquer dos modelos, a diferença entre o número de observações de presença e ausência de coelho-bravo ocorre sempre a um nível aceitável, não excedendo a proporção de 60/40. Para a avaliação da qualidade do ajustamento do modelo da ocorrência do coelho-bravo, utilizou-se uma amostra de validação previamente definida e constituída por 107 quadrículas, e de acordo com os resultados do Teste χ2 de Pearson (χ2=428,13; g.l.=407; p=0,228), o modelo demonstra um bom ajustamento aos dados reais. Interpretação dos coeficientes dos modelos Do modelo considerado, quer relativamente à amostra sobre a qual foi construído, quer no que se refere àquela a partir da qual foi efectuada a sua avaliação surge um conjunto de variáveis ambientais com aparente maior influência na ocorrência de coelho-bravo na área de estudo. Com base no sinal dos coeficientes da equação de regressão e no valor da razão das possibilidades (ψ–oddsratio), observa-se que as variáveis que mais contribuem para que o coelho-bravo esteja presente numa determinada quadrícula 1*1 km (odds ratio>2,0) são: a presença de aglomerados de pedra; a ocorrência de montado de azinho com sub-coberto em mais de 50 % da área; a ocorrência de matos diversificados em 50% da área; o facto de mais de 75% da quadrícula se integrar no regime cinegético especial; e o facto de estar a distâncias superiores a 2 500 m, ou melhor ainda a 5 000 m, das zonas urbanas (Tab. 4). A existência de zonas de abrigo adequadas parece constituir, à primeira vista, o principal requisito para a ocorrência de coelho-bravo na área de estudo. A única inferência que se pode tecer quanto à influência de biótopos tipicamente mais associados à alimentação do coelho-bravo (essencialmente herbáceas - MORENO & VILLAFUERTE 1995, PALOMARES & DELIBES 1997), é o facto de os aglomerados de pedra estarem estreitamente relacionados com áreas abertas, particularmente o pousio. No entanto, a amostragem foi realizada durante o Verão, quando as plantas de que o coelho-bravo se alimenta preferencialmente se encontram completamente secas, pelo que a espécie tem necessidade de recorrer a plantas lenhosas, nomeadamente matos jovens (ALVES & MORENO 1996, REIS 1999, SORIGUER 1981). Ou seja, durante a época estival, as actividades de alimentação e refúgio tenderão a concentrar-se no mesmo tipo de biótopo (o arbustivo). A reforçar a importância do refúgio para a ocorrência do coelho-bravo na área de intervenção do projecto é ainda de referir a vulnerabilidade à predação que resulta da situação de reduzido efectivo populacional detectada no decurso RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________30 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) das amostragens no terreno. Em situação de reduzida abundância de presas, o impacte da predação assume uma importância acrescida com efeitos negativos no potencial de recuperação da espécie. Embora com menor intensidade, são de salientar ainda a não coexistência do coelho com gado, nomeadamente ovino, bem como a ocorrência deste lagomorfo em quadrículas que incluem rios largos (Tab. 4). No primeiro caso, estamos provavelmente perante uma situação de competição pelos mesmos recursos (ROGERS & MYERS 1979, PAGES 1980), para além da perturbação causada pela acção de pisoteio do gado. O segundo resulta da significativa associação dos rios de maior ordem a biótopos de abrigo (e.g. galerias ripícolas) e com margens arenosas que facilitam a escavação de tocas, além de serem zonas pouco perturbadas, nomeadamente pela sua inacessibilidade. Embora, à partida, a figura 9 apenas identifique áreas adequadas à ocorrência de coelho-bravo, com base nas variáveis independentes que constituem o modelo desenvolvido, a mesma pode ser também considerada como traduzindo a sua intensidade de ocorrência em toda a àrea de estudo, uma vez que se encontra significativamente correlacionada com um indicador real e fiável da abundância relativa deste lagomorfo – o número de latrinas encontradas nos transectos (rs = 0,42; p<0,001; n = 997). De novo se verifica que, apesar de o coelho-bravo ocorrer em cerca de metade da área de estudo (48,4%, n = 1 311), essa presença se traduz, na realidade, por um nível de abundância escasso (apenas em 25,6% da sua área de ocorrência – n=335 - a probabilidade é superior a 75%). As principais bolsas de maior ocorrência da espécie que não se inserem na área de regolfo, são três e encontram-se nos limites fronteiriços entre os concelhos de Alandroal/Vila Viçosa, Reguengos de Monsaraz/Portel, Moura e Barrancos (ver Fig. 2). A distância entre as mesmas demonstra que a distribuição do coelho-bravo apresenta um padrão fragmentado na área de estudo, sendo que as grandes áreas de habitat pouco favorável que separam locais adequados à ocorrência da espécie permitem colocar a hipótese de uma ausência de fluxo genético entre os principais núcleos populacionais. A associação previamente encontrada entre a ocorrência do coelho-bravo e os rios de maior ordem, concretiza-se agora pela estreita relação observada entre as bolsas de maior abundância deste lagomorfo e os troços médio e inferior do rio Guadiana e os vales dos rios Degebe, Alcarrache e ribeira do Murtigão. De facto, é notória a coincidência observável entre a área que virá a ficar submersa quando do enchimento da barragem de Alqueva à cota máxima prevista (152 m) e um conjunto de quadrículas com elevado potencial para a ocorrência do coelho-bravo: cerca de 35,5% (n= 119) das quadrículas com elevada abundância da espécie (probabilidade > 75%) encontram-se na futura área de regolfo do Alqueva. Na tabela 5 e figura 10 estão representados os resultados do modelo preditivo para o coelho-bravo elaborado com base na sub-amostra (191 quadrículas) utilizada para reavaliar a distribuição da espécie na fase seguinte, e que servirá como base de comparação no referente apenas à zona de influência directa da barragem de Alqueva. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________31 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Tabela 5 – Variáveis seleccionadas para o modelo de regressão logística e mapeamento da probabilidade de ocorrência de coelhobravo na área de influência directa da barragem de Alqueva, e respectivos coeficientes (β ) e erros-padrão (S.E.(β )), estatística de Wald (Wald), graus de liberdade (g.l.), significância do teste de Wald (Wald (p)) e Odds ratio (ψ ). Variáveis β S.E.(β) Wald g.l. Wald (P) ψ Presença de montado de azinho com subcoberto 1,829 0,432 17,910 1 0,000 6,227 24,483 3 0,000 Regime cinegético especial Regime cinegético especial [0-0,25km2[ 0,168 0,299 0,316 1 0,574 1,183 Regime cinegético especial [0,25km2-0,75km2[ 0,217 0,356 0,372 1 0,542 1,243 Regime cinegético especial [0,75km2-1km2[ 1,136 0,289 15,469 1 0,000 3,113 Presença de Charcas 1,554 0,541 8,243 1 0,004 4,729 Constante -2,662 0,584 20,762 1 0,000 0,070 Pode considerar-se este um modelo com um bom poder preditivo, visto apresentar uma taxa total de classificação de 76,5% (onde 77,1% são presenças correctamente classificadas e 75,8% são ausências). N Fase pré-desmatação/desarborização Fase pós-desmatação/desarborização Probabilidade de ocorrência de coelho-bravo 0% -25% 25%-50% 50%-75% 75% -100% Cartas militares 1:25 000 Área inundável 0 5 km Figura 10 - Mapeamento da probabilidade de ocorrência de coelho-bravo (quadrículas 1*1 Km) estimados pelo modelo de regressão logística para a área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________32 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) A área sob a curva ROC apresenta um valor de 0,865 (Fig. 11), que indica uma boa precisão de classificação (MANEL et al. 2001). Curva ROC Sensibilidade 1,00 ,75 ,50 ,25 0,00 0,00 ,25 ,50 ,75 1,00 Especificidade Figura 11 – Representação gráfica da curva ROC para o modelo preditivo do coelho-bravo em 2000. No entanto este modelo mostra de novo um padrão bastante fragmentado para a probabilidade de ocorrência de coelho-bravo. O modelo anterior parece mostrar um padrão mais real, uma vez que a espécie tem tendência a aparecer em bolsas que se relacionam com o padrão de abundância (Fig. 7). Por outro lado, o melhor poder preditivo deste modelo, implica que esta área tenha melhores condições de adequabilidade de habitat para o coelho-bravo do que quando considerada a área envolvente (21 cartas). Este modelo restringe-se à area de influência directa da barragem de Alqueva, verificando-se que a presença de aglomerados de pedras, não aparece como variável associada à presença do coelho-bravo, o que parece indicar que nesta área não são significativos. Tanto a presença de montado com subcoberto como a percentagem de área ocupada pelo regime cinegético especial aparecem como variáveis positivamente associadas à espécie nos dois modelos. As charcas surgem agora como positivamente associadas à espécie, pois existem em maior número nesta área. FASE PÓS-DESMATAÇÃO/DESARBORIZAÇÃO Na tabela 6 estão representados os resultados do modelo preditivo para o coelho-bravo (Fig. 8) elaborado com base nos resultados da reavaliação da distribuição da espécie, na sub-amostra de 191 quadrículas consideradas para análise da evolução da distribuição da espécie. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________33 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Tabela 6 – Variáveis seleccionadas para o modelo de regressão logística e mapeamento da probabilidade de ocorrência de coelhobravo na área de influência directa da barragem de Alqueva na fase pós-desmatação/dsarborização, e respectivos coeficientes (β ) e erros-padrão (S.E.(β )), estatística de Wald (Wald), graus de liberdade (g.l.), significância do teste de Wald (Wald (p)) e Odds ratio (ψ ). β S.E.(β) Wald g.l. Wald (P) ψ Presença de solos pesados -0,758 0,351 4,668 1 0,031 0,469 Biótopos com função de abrigo 1,298 0,360 12,997 1 0,000 3,662 Presença de charcas 1,590 0,503 10,015 1 0,002 4,906 Constante -1,243 0,869 2,044 1 0,153 0,289 Variáveis Pode considerar-se este um modelo com um razoável poder preditivo, visto apresentar uma taxa total de classificação de 70,4% (onde 66,7% são presenças correctamente classificadas e 73,9% são ausências). A área sob a curva ROC apresenta um valor de 0,807 (Fig. 12), que indica uma boa precisão de classificação (MANEL et al. 2001). Curva ROC 1,00 Sensibilidade ,75 ,50 ,25 0,00 0,00 ,25 ,50 ,75 1,00 Especificidade Figura 12 - Representação gráfica da curva ROC para o modelo preditivo do coelho em 2001. A presença de biótopos com função de abrigo continua a mostrar grande importância para a ocorrência de coelhobravo, como já tinha sido demonstrado no primeiro modelo efectuado (Tab.4). Neste modelo a presença de charcas parece ser também um factor de influência para a espécie, com uma associação positiva a este biótopo, tal facto pode dever-se a que se encontrem relativamente longe de linhas de água ou outras fontes de água. Os solos pesados surgem negativamente associados ao coelho-bravo visto serem solos mais compactos, onde a construção de tocas é difícil. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________34 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Na figura 10, estão identificadas as áreas adequadas á ocorrência de coelho-bravo, na fase pós-desmatação, de acordo com as variáveis seleccionadas pelo modelo (Tab. 6). Este modelo revela uma redução bastante evidente nas probabilidades de ocorrência de espécie na área de estudo, após a perturbação causada pela desmatação/desarborização e enchimento. Observa-se uma redução nas bolsas anteriormente identificadas como de maior ocorrência da espécie (Fig. 10), e nos locais onde a espécie estava ausente mantém-se a baixa probabilidade de ocorrência da espécie. Assim um nível de abundância escasso continua a caracterizar a situação da espécie, verificando-se uma probabilidade superior a 75% em apenas 6,13% da sua área de ocorrência (n=94). O principal resultado desta reavaliação da distribuição e abundância do coelho-bravo na área de influência directa da barragem de Alqueva é o panorama de declínio continuado do lagomorfo, estando as suas populações ainda mais debilitadas e fragmentadas do que estavam na fase de pré-desmatação/desarborização. 7. AVALIAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA DAS ESPÉCIES ALVO Tal como oportunamente referido, após a avaliação prévia da distribuição das espécies-alvo na área de intervenção do projecto, com recurso aos inquéritos e a transectos de 10 Km nas quadrículas 5*5 Km, as estratégias de amostragem foram revistas e direccionadas tendo em atenção os padrões de distribuição emergentes da referida análise preliminar, conforme descrição que se segue. Assim, a estratégia de amostragem preconizada no terreno divide-se em 2 fases, uma referente ao período de prédesmatação/desarborização e outra ao período pós-desmatação/desarborização, tendo como objectivos principais: i) obter dados acerca da distribuição e abundância relativa das espécies na área de estudo; ii) inventariar todos os núcleos populacionais; iii) identificar e cartografar áreas de habitat favorável; iv) avaliar os efeitos do processo de desmatação/desarborização; v) avaliar os efeitos do enchimento. Mais especificamente, procurou-se contribuir para a obtenção de informação básica sobre a distribuição e abundância da espécie, por forma a permitir o delineamento de medidas de minimização e de gestão eficazes e adequadas à sua conservação, e ainda apresentar um estudo de referência cujas medidas propostas possam ser aplicadas em situações idênticas, como seja a construção de empreendimentos com impactes similares. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________35 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 7.1. TOIRÃO 7.1.1. Metodologia 7.1.1.1. Estratégia pré-desmatação/desarborização Relativamente ao toirão a estratégia de amostragem após a avaliação prévia da sua distribuição (SANTOS-REIS et al. 2000) visou, para além da monitorização da espécie (através da pesquisa de indícios de presença e armadilhagem), uma análise da variação sazonal da sua ocorrência e a elaboração de um modelo preditivo da respectiva distribuição. Depois da abordagem inicial à escala 5*5 Km optou-se, então, por uma prospecção e caracterização a uma escala mais precisa, seleccionando-se como unidade de amostragem a quadrícula 1*1 Km. Como se demonstrou, durante a primeira fase dos trabalhos, que as linhas e planos de água foram os habitats onde se encontrou um maior número de indícios da espécie, seleccionaram-se todas as quadrículas que continham estes habitats. Destas quadrículas, e devido ao seu elevado número (n= 422), foram aleatoriamente seleccionadas 20% (n= 84), valor apontado como suficiente para a elaboração do modelo preditivo de distribuição bem como para a realização eficaz da prospecção de campo (Fig. 13). Estas 84 quadrículas (48 no interior da área prevista para inundação e 36 exteriormente a esta) foram amostradas trimestralmente, realizando-se um ou mais percursos pedestres, ao longo das margens, em cada um dos tipos de ambientes aquáticos (charca, albufeira, escorrência, ribeira e rio) presentes em cada quadrícula, perfazendo um total de 600m de prospecção por quadrícula. A extensão dos transectos teve por base a metodologia padronizada sugerida por MASON & MACDONALD (1986). A monitorização trimestral das 84 quadrículas 1*1 Km constitui a base de trabalho para a abordagem sazonal. Os dados obtidos durante esta fase foram convertidos para a escala 5*5 Km permitindo, conjuntamente com informação ad hoc sobre a presença desta espécie (excrementos, pegadas, observações directas e animais encontrados mortos), uma actualização do mapa de distribuição da espécie no conjunto das 11 cartas que constituem objecto de estudo. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________36 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) N Quadrículas aleatórias 1*1 km Quadrículas com linhas e planos de água Cartas militares Quadrículas GAUSS 5*5 km Rios Área inundável Área de estudo 0 5 km Figura 13 - Representação espacial das quadrículas 1*1Km contendo linhas e planos de água seleccionadas para prospecção na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, na fase pré-desmatação/desarborização. Pesquisa de indícios de presença Os indícios de presença desta espécie são normalmente constituídos por pegadas e por dejectos, reflexo dos seus hábitos secretivos e actividade maioritariamente nocturna. A ocorrência na área de estudo de outras espécies de pequenos mustelídeos (doninha, Mustela nivalis e fuinha, Martes foina) tornou necessária uma selecção criteriosa dos indícios detectados tendo em conta o comprimento e largura no caso das pegadas e a morfologia, dimensões, odor e cor em relação aos dejectos. Assim, apenas foram consideradas como pegadas de toirão aquelas cujas dimensões estivessem entre 2,5 cm e 3,8 cm em relação ao comprimento e entre 2 e 3,6 cm relativamente à largura (SIDOROVICH 1999). Os dejectos considerados foram aqueles que possuíam diâmetros compreendidos entre 0,5 cm e 0,9 cm e comprimentos até 7 cm (BLANDFORD 1987), além de serem consideradas todas as outras características relativas a este tipo de indício, como sejam cor escura e odor muito intenso (Fig.14). RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________37 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Figura 14 – Dejecto de toirão, na ribeira de Guadalim (carta 483). 7.1.1.2. Estratégia pós-desmatação/desarborização Armadilhagem Perante os resultados decorrentes da estratégia de amostragem seleccionada nas fases antecedentes (transectos), e as dúvidas suscitadas relativamente à identificação de alguns indícios de presença, optou-se por investir num programa para captura de indivíduos para confirmação da presença da espécie e posterior radio-seguimento com o objectivo de compreender a estratégia de uso do espaço. A referida estratégia envolveu uma rede de armadilhagem distribuída pela área cartográfica de regolfo, tendo como base cartográfica a quadrícula 1*1 Km do sistema de projecção GAUSS. Atendendo a que a melhor época para a captura de toirão se refere aos meses de Março, Abril e Maio, uma vez que, é neste período que se verifica maior mobilidade dos indivíduos desta espécie como consequência da sua actividade reprodutora (BIRKS & KITCHENER 1999, MATOS et al. 2001), foi delineada uma estratégia para que as capturas se concentrassem neste período. Assim, e tendo por base a estratégia de monitorização da espécie no Reino Unido (BIRKS & KITCHENER 1999) foram estabelecidas 10 áreas de amostragem, cada uma delas compreendendo aproximadamente 130 quadrículas. O esforço de armadilhagem para cada área esteve sujeita a constrangimentos espaciais (elevada extensão da área a prospectar – em média 131 500 ha) e temporais (período considerado mais favorável – 3 meses). Em cada área, foram posteriormente seleccionadas 50 quadrículas a amostrar, à excepção de uma das áreas em que apenas se seleccionaram 45 quadrículas devido às suas menores dimensões (Fig. 15). A estratégia definida consistiu na amostragem de quadrículas não adjacentes, tendo sido eliminadas da análise as quadrículas que não tinham acesso e aquelas que se encontravam ocupadas por zonas urbanas. Por cada quadrícula seleccionada foi colocada uma caixa colapsável de rede metálica e com uma entrada (Tomahawk Live Traps Co., mod. 204) durante 6 noites consecutivas (J. BIRKS com. pess.). Cada armadilha foi iscada com “miúdos” de frango e foi visitada uma vez por dia. Foi também colocada em cada armadilha uma pequena quantidade de feno com urina e fezes de furão (Mustela furo, forma doméstica de toirão). Pretendia-se com este RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________38 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) procedimento, induzir os toirões eventualmente presentes na área a entrar nas caixas, uma vez que poderiam interpretar esse odor como uma intrusão na sua área vital por competição pelos parceiros sexuais e por conseguinte reforçar a sua própria marcação. Por outro lado, poderiam considerá-lo como pertencente a indivíduos do sexo oposto e consequentemente entrarem na caixa em busca de eventuais parceiros. Além disso, esperava-se que indivíduos de outras espécies não entrassem nas caixas, evitando eventuais confrontos inter-específicos. Devido a limitações logísticas (apenas um veículo para verificar todas as caixas de determinada área) e climatéricas (elevada pluviosidade) o número de quadrículas amostradas por área foi subsequentemente reduzido a 40. No total realizaram-se 1443 noites-armadilha, sendo a unidade noite-armadilha definida como a disponibilidade de uma caixa para a captura de um carnívoro durante uma noite (POUNDS 1981). Independentemente do sucesso da captura relativamente à espécie-alvo a estratégia empregue, por não se tratar de um método selectivo, resultou na captura de outros carnívoros presentes na área de estudo e que fornecem dados complementares relativos à comunidade na qual o toirão se integra. Os animais capturados foram anestesiados com uma injecção intramuscular de Imalgéne 1000 (mistura de hidrocloreto de ketamina e clorbutol 20:1, Laboratórios Rhône Mérieux), na razão de 0,1 ml por Kg de peso do animal. Sob o efeito da anestesia era seguido um protocolo de manuseamento que consistia na determinação do sexo, registo de vários parâmetros biométricos (peso e outras medidas somáticas) e avaliação da classe etária com base nas características da dentição e das estruturas reprodutoras externas (HARRIS 1978). O estatuto reprodutor era igualmente avaliado através da observação externa das estruturas reprodutoras, bem como o estado sanitário do animal através da verificação da existência de feridas, cicatrizes ou quaisquer outras marcas e da presença de ectoparasitas. Foi igualmente recolhido material para eventual análise genética (amostras de pêlo, pedaço de unha, e pedaço de orelha). A todos os animais foi-lhe atribuída uma marca individual (furo na orelha em local pré-definido) de forma a possibilitar o seu reconhecimento numa situação de recaptura. Com o mesmo objectivo era registado qualquer particularidade que o indivíduo apresentasse (e.g. característica da pelagem, marcas individuais). Os animais foram libertados no mesmo local em que foram capturados, logo após a total recuperação do efeito do anestésico. Os dados referentes às capturas foram analisados em termos de número de capturas e esforço de captura, definido como as noites-armadilha necessárias para capturar um indivíduo da espécie em estudo, o que significa que no respectivo cálculo não são consideradas as caixas encontradas fechadas mas vazias, nem as que efectuaram capturas de outras espécies que não a espécie-alvo (POUNDS 1981). Todavia, o programa abortou antes da data inicialmente prevista, uma vez que, a amostragem implicava um esforço demasiado elevado (humano, logístico e financeiro) face aos resultados quase nulos obtidos após as primeiras áreas amostradas (um mês após o início do programa). Assim, das 10 áreas planeadas apenas 4 foram efectivamente amostradas, as quais se encontram representadas na figura 16. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________39 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) N Rib .ª Rib. ª M u re Cartasmilitares 1:25000 QuadrículasGAUSS1x1Km s Rios Área prevista para inundação Pa s ai rd Área 1 amostrada não amostrada Área 2 amostrada não amostrada Área 3 Rib.ª Luc efé c it Área 4 amostrada não amostrada amostrada não amostrada Área 5 b.ª Ri amostrada não amostrada e ev Az Área 6 Área 7 Ri b. ª R io De ge amostrada não amostrada amostrada não amostrada Área 8 Ál am amostrada não amostrada o Área 9 amostrada não amostrada Área 10 amostrada não amostrada be Rib. ª che Alcarra Ri b. ªG od eli m 4 Km Rio G 0 uadiana Figura 15 – Áreas de amostragem seleccionadas para a captura de toirão na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva. Posteriormente, e mantendo-se a necessidade de capturar indivíduos para radio-seguimento e análise do seu padrão de utilização de recursos com o objectivo de redireccionar a estratégia de amostragem, de 24 de Maio de 2001 a 7 de Junho de 2001 uma segunda tentativa foi realizada na Ribeira de Pardais (carta militar 441), local onde se verificara a única captura da espécie alvo (ver 7.1.2.1.). Neste local pretendeu-se aumentar a densidade de caixas tendo em vista não só a captura do referido indivíduo, mas também a de outros indivíduos eventualmente presentes na área. Para o efeito, seleccionaram-se cinco quadrículas num total de 500 ha e aumentou-se o número de caixas por quadrícula de apenas uma para dez, em média, optando-se por uma disposição linear das mesmas, de forma a acompanhar a ribeira seleccionada. Nesta sessão de armadilhagem foram utilizadas caixas não colapsáveis de rede RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________40 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) metálica e uma entrada (FENN & Company - UK) utilizadas na monitorização da espécie no Reino Unido e graciosamente cedidas pela organização Vincent Wildife Trust (BIRKS & KITCHENER 1999). N Ri b .ª Rib.ª Mu res Pa r is da Cartasmilitares 1:25000 Quadrículas GAUSS1x1Km Rios Área prevista para inundação Rib.ª L Area 1 uc efé c S/ armadilhas C/ armadilhas i t Area 2 S/ armadilhas C/ armadilhas Area 3 b.ª Ri S/ armadilhas C/ armadilhas el ev Az Area 4 Ri b.ª Ál am o R io De ge S/ armadilhas C/ armadilhas be Al Rib. ª carrache Ri b. ªG od e li m 4 Km Ri o G 0 uadiana Figura 16 - Mapa com as 4 áreas efectivamente amostradas para a captura de toirão na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva. Face aos resultados nulos persistentemente obtidos e perante a necessidade premente de capturar indivíduos para tornar possível a compreensão dos seus requisitos ecológicos, foram realizadas mais duas sessões de armadilhagem entre Évora e Montemor-o-Novo, numa área exterior à área de estudo mas onde a presença da espécie está confirmada e existia suspeita de que esta apresentaria uma densidade considerável devido ao elevado número de atropelamentos registados durante os anos de estudo. O objectivo era o de capturar apenas um ou dois indivíduos para radio-seguimento e, uma vez compreendida a estratégia de utilização do espaço, retomar o plano de capturas na área de estudo seleccionando-se pontos em habitats de maior probabilidade de ocorrência da espécie. Estas duas sessões adicionais decorreram em Abril, Maio e mais RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________41 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) tarde em Setembro, optando-se pela estratégia adoptada na Ribeira de Pardais com uma densidade, em média, de seis armadilhas por 100 ha. O local de colocação de cada armadilha foi georreferenciado no sistema de projecção GAUSS, elipsóide Hayford Datum Lisboa, para futuro mapeamento. Nos intervalos entre as sessões de armadilhagem continuou-se com a prospecção de indícios de presença, que se cingiu à realização de transectos de 600 m ao longo margens, em cada um dos tipos de ambientes aquáticos (charca, albufeira, escorrência, ribeira e rio) presentes nas quadrículas onde anteriormente se haviam registado presenças. Assim, foram prospectadas 30 quadrículas 5*5 Km, de forma não sistematizada, para averiguar o impacto da desmatação. Em consequência dos resultados persistentemente negativos das capturas e do reduzido número de indícios encontrados após a fase de desmatação, optou-se por prosseguir os trabalhos retomando de novo a uma estratégia multi-direccionada fazendo recurso a métodos alternativos de inventariação. Inicialmente, repetiram-se os transectos com resultados anteriormente positivos, mas devido ao reduzido número de indícios detectados, optou-se por uma prospecção mais alargada nas 11 cartas militares contempladas nesta fase de monitorização do projecto. Para tal, efectuaram-se transectos de dimensão variável, elegendo os locais com maior probabilidade de ocorrência de toirão, de acordo com o habitat potencialmente favorável (ver 7.1.2.2.) e onde o coelhobravo estivesse presente (ver 6.2.1.), espécie que com base nos resultados de dieta do mustelídeo revelou maior percentagem de ocorrência - 23% (MATOS et al. 2001). Esta nova prospecção das 11 cartas militares visava a globalidade da área de estudo, no entanto, devido a constrangimentos temporais e espaciais, apenas se conseguiram prospectar 44 quadrículas 5*5 Km, que correspondem a 58% da área de estudo. O enchimento registado principalmente no segundo semestre de 2002 restringiu ainda mais o número de quadrículas possíveis de serem prospectadas (Fig. 17). De 25 de Março a 5 de Abril de 2002, procedeu-se a uma nova sessão de armadilhagem, na zona norte da área de estudo (carta 441), mais concretamente na Ribeira de Pardais, onde foi capturado o único indivíduo desde o início do trabalho. Complementarmente foi testada a aplicação de uma nova metodologia para detecção da presença da espécie através do registo de impressões plantares e digitais. Esta técnica consistiu na utilização de “track-plates” (Fig. 18), constituídas por um túnel de uma entrada (com 30 cm de largura e 20 cm de altura), onde é colocada uma placa fumada, com um papel autocolante e um isco, que no caso concreto consistiu em “miúdos” de frango, ficando impressas as pegadas (ZIELINSKI et al. 1995). As reduzidas dimensões do túnel tiveram por objectivo restringir ao máximo o seu acesso por outras espécies que não o toirão, ainda que não fosse possível evitar a penetração de fuinhas, genetas, sacarrabos juvenis, ouriços e micromamíferos. No entanto, esta metodologia só foi utilizada durante 2 meses e numa perspectiva experimental devido ao esforço que implicaria a sua utilização à larga-escala RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________42 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) N Quadrículas prospectadas Quadrículas não prospectadas Cartas militares 1:25 000 Quadrículas GAUSS 5*5 Km Rios Área inundável 0 5 km Giovanni Manghi Giovanni Manghi Figura 17 - Representação espacial das quadrículas 5*5 Km prospectadas para o toirão na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, na fase pós-desmatação/desarborização. Figura 18 – Aspecto das “track-plates” colocadas no campo para o registo de pegadas de toirão. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________43 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Igualmente coma finalidade de testar novas metodologias, entre Junho e Outubro de 2002 e em noites de lua cheia, foram efectuadas faroladas (RUETTE et al. 2003) com o intuito de tentar efectuar observações directas de indivíduos em locais onde a sua presença fora detectada anteriormente com base em indícios de presença. Após anoitecer (entre as 20H e as 22H, consoante o mês) e durante 2 a 3 horas, efectuou-se um percurso de jipe, de aproximadamente 4 Km e a uma velocidade constante de 10 km/h, iluminando cada um dos lados da estrada com o auxílio de 2 faroís de longo alcance e parando de cada vez que se conseguia um avistamento, a fim de efectuar o reconhecimento da espécie com o auxílio de binóculos. Em 2003, manteve-se a necessidade de compreender o padrão de distribuição da espécie e da forma como esta utiliza o espaço disponível, no momento em que a albufeira está na sua fase de enchimento. Na sequência do sucesso associado à utilização de “track-plates” para detecção da presença da espécie através do registo de impressões plantares e digitais, utilizaram-se 18 “track-plates”, de forma sistematizada e em locais seleccionados, colocando uma placa por cada quadrícula 1*1 Km alternadamente, durante 15 dias. Esta técnica foi utilizada na área de influência directa da barragem, e principalmente em linhas de água com características favoráveis à ocorrência da espécie, no entanto, pela vastidão da área de estudo e constrangimentos temporais, optou-se por investir numa zona onde anteriormente se confirmou a presença da espécie. A verificação das placas foi efectuada de 2 em 2 dias (ZIELINSKI et al 1995), a não ser quando detectada uma pegada de mustelídeo suspeita de ser toirão, situação em que a placa passou a ser verificada diariamente, com posterior colocação de uma caixa não colapsavél de uma entrada, para tentativa de captura do indivíduo. Complementarmente foram retomados os transectos para prospecção de indícios, elegendo não só os locais onde foram registadas presenças, como também em outros adjacentes aos pontos onde a espécie desapareceu, para detecção de um possível deslocamento. Assim, foi mantida a anterior definição para os transectos, assim como as quadrículas anteriores e outras com boas probabilidades de ocorrência, de acordo com o modelo preditivo (ver ponto 7.1.2.2.). A fim de manter actualizada a distribuição da espécie à escala cartográfica habitual para representação espacial da presença/ausência da espécie (5*5 Km) foram efectuadas prospecções direccionadas para cada quadrícula, sendo estas abandonadas logo que provada a presença da espécie. 7.1.2. Resultados e discussão 7.1.2.1. Evolução do padrão de distribuição FASE PRÉ-DESMATAÇÃO/DESARBORIZAÇÃO A cartografia da distribuição da espécie resultante desta fase, relativa às quadrículas 5*5 Km, foi actualizada com base nas presenças obtidas através das prospecções realizadas nas quadrículas 1*1 Km, nos dados recolhidos ocasionalmente durante as prospecções efectuadas para a monitorização da lontra e do gato-bravo em 2000 e em RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________44 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) observações de animais mortos recolhidas na área de estudo (Fig. 19), informação que se encontra representada na figura 20 e tabela 7). Figura 19 – Toirão encontrado morto na estrada de Reguengos de Monsaraz para Mourão. Assim, das 76 quadrículas 5*5 Km que constituem a área de estudo, 31 revelaram-se positivas, correspondendo a 40,8% da área. A distribuição dos pontos de presença recolhidos durante 1999 e 2000 e respectiva georeferenciação encontram-se no Anexo V. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________45 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) T $ N # S # S # S S ## S Indícios de presença de toirão Ñ Animal morto # S # S # Dejecto $ Pegada $ Rasto ; # S # S Trilho Presença de toirão # S Ausência de toirão # S Núcleos populacionais de toirão Cartas militares 1:25000 # S # S # S Quadrículas GAUSS 5*5Km Rios Área inundável # S # S Ñ Ñ # S # S # S # S # S # T $ S # S S ## S # S # S # S T $ # S # ## S S S # S # S# S # S T $ # S 0 # S 5 km # S # S T $ Figura 20 - Mapeamento da ocorrência de toirão na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, na fase prédesmatação/desarborização. Tabela 7 – Tipo, número e respectiva percentagem das evidências da presença de toirão na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva, na fase pré-desmatação/desarborização. Tipo de evidências N.º de evidências % Animais mortos 3 5,26 Dejectos 49 85,97 Pegadas 3 5,26 Rastos 2 3,51 TOTAL 57 100 RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________46 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Do total de evidências encontradas para a espécie, a maioria é constituída por dejectos (85,97%) encontrados durante a realização dos transectos definidos para a detecção da espécie. Este valor não é surpreendente, pois como se trata de uma espécie com hábitos secretivos e actividade maioritariamente nocturna (BIRKS & KITCHENER 1999, PALAZÓN et al. 2001) a sua detecção é mais frequentemente realizada através de indícios indirectos da sua presença como é o caso dos dejectos. Em relação às pegadas e rastos, apesar de também serem indícios indirectos da presença da espécie, a sua detecção está dependente da natureza do solo, pelo que um solo mais firme não é propício à impressão deste tipo de vestígio, caso que se verificou na maior parte dos transectos realizados, uma vez que, 46,1% (33 415 ha) dos solos presentes na área de intervenção deste projecto são classificados como litossolos esqueléticos (e.g. xistos) (PPRVCVEAAP – CHIRON & NEMUS 2001). Verifica-se, então, que esta espécie apresenta uma distribuição que se pode considerar globalmente generalizada por as ocorrências se distribuírem por praticamente toda a área de estudo (Fig. 20). Observa-se também uma clara associação às linhas de água de maiores dimensões (Tab. 8). Este facto poderá, contudo, estar enviesado por questões metodológicas que se prendem com a maior facilidade de prospecção de indícios de presença nestas áreas, uma vez que, a bibliografia especializada refere que o toirão não deposita os seus excrementos de forma conspícua, estando concentrados junto às principais tocas e locais de refúgio (BLANDFORD 1987, ROGER et al. 1988). Assim, a detecção dos indícios estaria facilitada em linhas de água de maiores dimensões pois as margens são geralmente mais abertas como consequência do menor grau de coberto vegetal. Apesar das linhas de água de menores dimensões, também serem utilizadas pelo toirão como zonas de refúgio, a prospecção destas é dificultada pela elevada densidade do coberto vegetal, particularmente no período de maior exuberância da vegetação. Apesar deste facto, a grande concentração das localizações em torno de linhas de água de maiores dimensões está de acordo com dados obtidos em outras áreas da repartição da espécie como a França e Reino Unido (ROGER et al. 1988, BIRKS & KITCHENER 1999). Tabela 8 – Número de evidências em cada tipo de biótopo, na fase pré-desmatação/desarborização. Tipo de biótopo Nº de evidências Estepe 16 Eucaliptal 1 Matagal 1 Matos 3 Montado com subcoberto 7 Montado sem subcoberto 15 Planos de água 1 Pomar 1 Rio 8 Vegetação ripícola 4 Raio de 500m a partir das principais linhas de água 37 RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________47 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Uma explicação igualmente possível para esta aparente associação do toirão às linhas de água poderá ser a maior disponibilidade de alimento que aí encontra, nomeadamente de coelhos. De facto, a importância do coelho para o toirão dentro da área de estudo, foi confirmada através dos resultados obtidos para a dieta (MATOS et al. 2001). Além disso, através dos resultados dos modelos preditivos de distribuição espacial do coelho-bravo, também foi possível constatar a associação desta presa com as linhas de água de maiores dimensões (ver ponto 6.2.2.). Assim, a associação deste predador com linhas de água de maiores dimensões, poderá dever-se também ao facto de uma das suas principais presas se encontrar também ela associada a este meio. Também ROGER (1990), por exemplo, verificou existir uma especialização por parte do toirão no consumo de coelho e que por esse motivo explorava o meio de acordo com a distribuição desta presa. Verifica-se também que um número considerável de indícios de presença foi detectado em charcas (n=8). Este facto parece estar relacionado com a localização geográfica das charcas, uma vez que elas se encontram distanciadas de linhas de água importantes, fazendo desses locais um valioso recurso tanto ao nível da disponibilidade de água como, e sobretudo, das presas associadas a este sistema (pequenos mamíferos, anfíbios, etc.). Este facto conduz a que 40,35% de todos os indícios detectados se encontrem dentro dos limites do futuro regolfo de Alqueva. Verifica-se que a distribuição dos pontos de presença (Anexo V), recolhidos durante 1999 e 2000 (n= 57), se concentra em 3 núcleos principais de ocorrência, definidos com recurso ao método de Kernel a 50%4 (WORTON 1989): o troço mais a norte do rio Guadiana dentro da área de estudo, incluindo a ribeira de Pardais (núcleo norte); o troço central do rio Guadiana que inclui a ribeira de Azevel, do Álamo e do Alcarrache (núcleo central), bem como toda a Bacia do rio Degebe (núcleo da Bacia do rio Degebe) (Fig. 20). Os pontos de presença de toirão estão presentes em 14,04% (n=8) na primeira zona, em 12,28% (n=7) na segunda zona e em 26,32% (n=15) na terceira zona; 47,37% dos pontos (n=27) não foram incluídos em nenhum dos núcleos, estando dispersos pela globalidade da área de estudo. Análise sazonal da distribuição Ao longo do ano 2000, a amostragem das quadrículas aleatórias de 1*1 Km revelou presença de toirão em 28,57% das quadrículas prospectadas (n=24), enquanto que 71,43% das quadrículas foram classificadas como negativas (n=60). De salientar que o número de quadrículas seleccionadas para prospecção trimestral sofreu uma redução de 84 para 82, por constrangimentos vários. 4 O método de Kernel constitui um método probabilístico não paramétrico de estimação de áreas vitais, calculando a função densidade de probabilidade a partir da concentração das localizações. Para o cálculo das áreas de máxima actividade frequentemente são utilizadas apenas 50% do total de localizações. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________48 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Analisando os resultados à luz das 48 quadrículas incluídas na área inundável, 15 destas revelaram presença de toirão. Das quadrículas fora da área inundável (n=34) apenas se verificou a presença de toirão em 8 delas. Estes resultados apontam para uma maior utilização por parte do toirão das áreas de influência directa da barragem. Durante a prospecção efectuada foram encontrados 34 indícios nas quadrículas de 1*1 Km da área de estudo. Nota-se, no entanto, uma diminuição acentuada do número de indícios encontrados durante as diferentes estações do ano, com redução progressiva do Inverno para a Primavera, Verão e Outono. A maior diferença no número de indícios encontrados ocorreu do Inverno para a Primavera (n=22 e n=8, respectivamente), facto que poderá ser explicado por esta espécie se encontrar em cio durante o Inverno, aumentando assim a marcação durante este período (ROGER et al. 1988). Além disso, durante a Primavera registou-se um elevado grau de precipitação que terá certamente potenciado a lixiviação dos indícios e, consequentemente, contribuindo para a redução observada no número de indícios detectados. Verifica-se também que o número de indícios detectado nos últimos dois trimestres foi consideravelmente reduzido (Fig. 21). A diminuição verificada entre a Primavera, o Verão (n=2) e o Outono (n=2) está também referida bibliograficamente, e provavelmente está relacionada com um comportamento mais secretivo, devido a um maior tempo dispendido em cuidados parentais (ROGER et al. 1988). Além disso, em locais de clima ameno, como o mediterrânico, a época de reprodução desta espécie poderá ser mais alargada atingindo o início do Verão à semelhança do verificado relativamente a outra espécie de pequeno mustelídeo – a doninha (SANTOS-REIS 1989). número de indícios 25 20 15 10 5 0 Inverno Primavera Verão Outono Figura 32 – Número de indícios de toirão encontrados em cada estação do ano. Analisando o padrão de ocorrência da espécie numa perspectiva sazonal verificou-se igualmente uma variação de estação para estação (Fig. 22). No Inverno observaram-se 16 quadrículas positivas (19,05%) e 65 negativas (77,38%) e relativamente a 3 das quadrículas (3,57%) não se obteve informação. Na Primavera, observou-se um decréscimo acentuado do número de presenças. Assim, apenas 8 quadrículas foram positivas (9,64%) enquanto que 75 quadrículas se mostraram negativas (90,36%). Não foi possível prospectar uma das quadrículas, que foi posteriormente anulada. No Verão e no Outono foram apenas prospectadas 82 quadrículas. No Verão verificou-se uma nova diminuição do número de quadrículas positivas, com apenas duas presenças (2,44%) e 80 ausências (97,56%), situação que se manteve no Outono (Fig. 23). RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________49 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Presença de toirão Ausência de toirão Sem informação N Rios Área inundável Cartas militares 1:25 000 Quadrículas GAUSS 5*5 km Primavera Inverno Verão Outono 0 5 Km Figura 22 - Monitorização sazonal de toirão nas quadrículas GAUSS 1*1 km seleccionadas na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, a fase pré-desmatação/desarborização. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________50 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 90 número de quadrículas 80 70 60 Positiva 50 Negativa 40 Sem informação 30 20 10 0 Inverno Primavera Verão Outono Figura 23 – Variação sazonal do número de quadrículas 1*1 Km onde foi detectada presença de toirão em cada trimestre de 2000. Analisando a variação dos valores obtidos, assiste-se a uma diminuição progressiva do número de quadrículas onde foi detectada a presença de toirão e nenhuma das quadrículas apresenta uma presença constante de toirão ao longo do ano, existindo apenas uma (quadrícula 5*5 Km número 474C – ver Fig.3 - dentro da área inundável) em que se observou a presença desta espécie em três das estações (Inverno, Primavera e Outono). Outra das quadrículas (quadrícula 5*5 Km número 452D, dentro da área inundável) apresentou presença de toirão em duas das estações, no Inverno e na Primavera. Todas as restantes apenas registaram a presença numa das estações. Pode então concluir-se que, nesta fase, a distribuição do toirão na área de intervenção do projecto é generalizada, apresentando contudo grandes descontinuidades e variações sazonais significativas. Além disso, é de destacar a elevada representatividade de linhas e planos de água com vegetação ripícola nos locais onde comprovadamente se detectou a presença de toirão, o que vem corroborar a forte associação do toirão a ambientes aquáticos, tal como referido bibliograficamente (e.g. RODRIGUEZ-PIÑERO 1996). Contudo a versatilidade demonstrada pela espécie em utilizar outros habitats, principalmente a zona de interpenetração destes com as zonas ripícolas, permite-lhe também tirar partido de outros biótopos, nomeadamente os florestais. FASE PÓS-DESMATAÇÃO/DESARBORIZAÇÃO Armadilhagem Os resultados da campanha de armadilhagem levada a efeito para capturar toirão estão expressos na tabela 9. Tabela 9 - Períodos de amostragem, noites armadilha, capturas e recapturas por espécie, abundância e esforço de captura por área de amostragem e no total (N.A. – Noites armadilha; M.p. – Mustela putorius; H.i. – Herpestes ichneumon; G.g. – Genetta genetta). RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________51 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Tabela 9 - Períodos de amostragem, noites armadilha, capturas e recapturas por espécie, abundância e esforço de captura por área de amostragem e no total (N.A. – Noites armadilha; M.p. – Mustela putorius; H.i. – Herpestes ichneumon; G.g. – Genetta genetta). Capturas (Recapturas) Abundância % Esforço de captura Área Período de amostragem N.A. M.p. H.i. G.g. M.p. H.i. G.g. M.p. H.i. G.g. 1 3 a 10 de Março de 2001 196 1 4 1 0,52 2,06 0,52 191 48,5 191 2 12 a 18 de Março de 221 0 0 4 0 0 1,81 ------ ------ 55,25 180 0 3 0 0 1,67 0 ------ 60 ------ 220 0 3 3 0 1,38 1,38 ------ 72,33 72,33 626 0 6(1) 2(1) 0 0,96 0,32 ------ 89,14 309,50 1443 1 16(1) 10(1) 0,07 1,12 0,70 1415 84,24 142,50 2001 3 20 a 26 de Março de 2001 4 28 de Março a 3 de Abril de 2001 Rib.ª 24 de Maio a 7 de Junho de Pardais de 2001 TOTAL De um total de 1443 noites armadilha resultou apenas a captura de um toirão (Fig. 24), para além de 16 sacarrabos (Herpestes ichneumon) e 10 genetas (Genetta genetta). É ainda de destacar o elevado número de ratazanas (Rattus sp.; n= 37), que embora não tenham sido contabilizadas para os cálculos subsequentes, foram responsáveis pela indisponibilidade de um considerável número de armadilhas. a) b) Figura 24 – (a) Macho adulto de toirão capturado na área de estudo e (b) biótopo onde ocorreu a referida captura. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________52 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) O indivíduo capturado (Fig. 24) era um macho adulto em actividade sexual, como o demonstrava a visibilidade e dimensão dos testículos (Anexo VI), e possuía o fenótipo selvagem característico da espécie. As dimensões corporais do referido indivíduo (Tab. 10) enquadram-se nos limites referidos para outras populações. BIRKS & KITCHENER (1999), por exemplo, mencionam que a categoria de peso mais frequente para os machos desta espécie por eles capturados, se situava entre os 1251 e 1350 g. BLANDFORD (1987) apresenta valores que são igualmente concordantes com o que se obteve, referindo um intervalo de pesos que se situava entre 405 e 1710 g, valores que incluem indivíduos dos dois sexos. Além disso, refere também comprimentos totais que podem atingir os 61,5 cm, valor ligeiramente inferior ao único obtido para a área de estudo. Tabela 10 – Dados biométricos de um toirão (macho) capturado na área de regolfo de Alqueva e Pedrógão em 7 de Março de 2001 (CT – Comprimento Total; CC – Comprimento Cauda; CPP – Comprimento da Pata Posterior; AG – Altura ao Garrote; CO – Comprimento da Orelha; LO – Largura da Orelha; PP – Perímetro do Pescoço). Peso (g) CT (cm) CC (cm) CPP (cm) AG (cm) CO (cm) LO (cm) PP (cm) 1300 66,7 16,4 6,9 15,8 2,2 1,6 17,0 Os resultados obtidos para as duas sessões adicionais realizadas numa área entre Évora e Montemor-o-Novo estão representados na tabela 11, e não resultaram em nenhuma captura de toirão. No entanto, o esforço de armadilhagem envolvido (maior número de armadilhas) resultou na captura de 9 fuinhas, 16 sacarrabos e 8 genetas (Tab. 11). Tabela 11 - Períodos de amostragem, noites armadilha, capturas e capturas por espécie, abundância e esforço de captura por sessão de armadilhagem e no total (N.A. – Noites armadilha; M.f. – Martes foina; H.i. – Herpestes ichneumon; G.g. – Genetta genetta). Capturas Abundância (Recapturas) % Esforço de captura Período de amostragem N.A M.f. H.i. G.g. M.f. H.i. G.g. M.f. H.i. G.g. 27 de Abril a 10 de Maio 235 3 7 4 1,34 3,07 1,78 74,67 32,57 56,25 234 6(3) 9(2) 4(2) 2,80 4,15 1,89 24,11 19,91 35,67 469 9(3) 16(2) 8(2) 2,05 3,60 1,83 36,75 24,83 43,90 de 2001 18 a 29 de Setembro de 2001 Total RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________53 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Do esforço desenvolvido apenas um indivíduo foi capturado na área global de intervenção do projecto, pelo que o método empregue para a captura e subsequente análise dos requisitos ecológicos desta espécie se revelou pouco eficiente. Estes resultados poderão ser explicados por vários factores, quer relacionados com aspectos da biologia da espécie, quer com aspectos da aplicabilidade deste método a esta espécie, ou ainda com aspectos relacionados com as condições climatéricas particulares que se fizeram sentir durante o Inverno de 2001. Assim, relativamente a aspectos da biologia da espécie, o pressuposto assumido de que a espécie apresentaria maior mobilidade nos meses de Março, Abril e Maio (correspondentes à sua época de reprodução) poderá não ser aplicado a Portugal, área da distribuição da espécie relativamente à qual não existem conhecimentos acerca da respectiva biologia da reprodução. Além disso, o rigoroso Inverno de 2001, com elevados níveis de precipitação e reduzidas temperaturas, poderá ter levado à alteração dos hábitos da espécie e a um desfasamento na época de reprodução durante este período. De facto, referências bibliográficas indicam que os toirões não hibernam mas, a baixas temperaturas podem deixar de se alimentar e dormir profundamente durante vários dias (BLANCO 1998). A aplicabilidade do método de captura empregue poderia também ser questionável, uma vez que este derivou do sugerido por BIRKS & KITCHENER (1999). Estes autores empregam uma rede de 16 armadilhas por cada 1*1Km, enquanto que devido à dimensão da área de estudo a que respeita este trabalho, o número de armadilhas por 1*1Km foi reduzido para apenas uma. Assim, o espaçamento destas poderia ser demasiado elevado para produzir o mesmo sucesso do apresentado pelos autores acima referidos. No entanto, nas tentativas subsequentes de captura, como a levada a cabo numa área onde na primeira fase se tinha obtido uma captura de toirão (Ribeira de Pardais), recorreu-se a um número mais elevado de armadilhas (cerca de 25 armadilhas por 1Km), mas o sucesso de captura foi igualmente nulo. Assim, talvez a baixa densidade de armadilhas dentro da área de estudo não tenha sido o factor determinante para o insucesso verificado. Nesta segunda tentativa, suspeita-se que o principal factor da inexistência de capturas, poderá ter sido o elevado número de capturas de outros carnívoros (n= 10) que indisponibilizou uma percentagem considerável de armadilhas por noite, o mesmo tendo sucedido nas duas sessões adicionais que se realizaram na área de Évora/Montemor-o-Novo (n=40), estas últimas, não esquecendo igualmente o elevado número de capturas de ratazanas (n= 35), facto que provoca a indisponibilidade das armadilhas reduzindo assim as hipóteses de captura da espécie-alvo. Ainda que não podendo ser considerado como definitivos, os resultados levam a que seja colocada a hipótese de que este carnívoro poderá apresentar uma densidade relativamente baixa dentro da área de estudo, podendo contribuir para este facto a aparente elevada abundância de outros carnívoros de médio porte, como o sacarrabos, a geneta e a fuinha. A competição pelos mesmos recursos, a interferência directa e eventualmente a predação, poderão ser factores actuantes neste cenário e que importa averiguar no futuro. O papel da predação entre carnívoros tem sido negligenciado, mas investigações mais recentes acerca dos factores de mortalidade de carnívoros de pequeno-médio porte (e.g. Martes americana – marta americana, FREDRICKSON & BISSONETTE 1990) têm vindo a corroborar a importância deste factor na dinâmica das populações daqueles predadores. Se a predação de geneta e fuinha sobre o RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________54 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) toirão é pouco previsível, devido às dimensões e hábitos alimentares destas espécies, a mesma inferência já não é imediata relativamente ao sacarrabos, cujo porte é muito superior ao do toirão (peso médio = 2,3 Kg na área de estudo) e sobretudo apresentam ritmos de actividade muito distintos. Enquanto o toirão é reconhecidamente uma espécie de hábitos crepusculares e nocturnos (BIRKS & KITCHENER 1999, PALAZÓN et al. 2001), o sacarrabos encontra-se activo no período diurno (PALOMARES & DELIBES 1993), logo no período de maior vulnerabilidade do toirão que se encontra em repouso. A crescente expansão do sacarrabos (BORRALHO et al. 1996) deverá pois ser encarada como um dos factores com potencial influência na eventual regressão do toirão no sul da Península Ibérica. Indícios de presença Os dados de ocorrência da espécie recolhidos durante esta fase, estão representados na figura 25 e resultam de um conjunto mais vasto de evidências da presença da espécie (Tab. 12 e Anexo V) do que na fase prédesmatação/desarborização. Além destas evidências na área de estudo, ainda foram registadas 12 outras evidências da espécie em áreas adjacentes, e que se encontram igualmente representadas na mesma figura 25: 8 animais atropelados (cartas 472 e 473), 3 dejectos (cartas 503 e 513) e 1 observação directa no Rio Ardila (carta 502), onde foi avistado um indivíduo ao crepúsculo. Tabela 12 – Tipo, número e respectiva percentagem das evidências da presença de toirão na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva, na fase pós-desmatação/desarborização. Tipo de evidências N.º de evidências % Animais mortos 3 10,3 Capturas 1 3,4 Observações 2 6,9 Dejectos 15 51,8 Pegadas 6 20,7 Rastos 2 6,9 TOTAL 29 100 As observações directas efectuadas dentro da área de estudo (Tab. 12), inserem-se ambas na carta 483, mas em quadrículas 5*5 Km distintas. Uma ocorreu na Ribeira de Alcarrache, onde foram observadas 4 a 5 crias acompanhadas da sua progenitora (A.RAINHO & J.TEODÓSIO com. pess.) durante breves segundos ao crepúsculo e outra resultou de uma farolada, onde foi observado um indivíduo adulto a atravessar a estrada alcatroada, durante alguns segundos e ao início da noite. Apesar dos dejectos desta espécie terem sofrido uma selecção criteriosa quanto ao seu comprimento, diâmetro, cheiro e cor, a sua identificação suscita ainda assim alguma dúvida, especialmente quando os dejectos encontrados se encontram muito degradados, podendo por isso, ser confundidos com os dejectos de fuinha, espécie pertencente à mesma família. De facto, os dejectos destas duas espécies são muito semelhantes em termos de comprimento e RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________55 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) diâmetro, apresentando por isso uma margem de sobreposição elevada (ver ponto 7.1.1). Numa tentativa de colmatar esta dificuldade de identificação, os dejectos recolhidos em 2001, foram armazenados para uma posterior identificação específica através de técnicas moleculares (ADN) (HANSEN & JACOBSEN 1999). Apesar de difícil detecção, este tipo de indícios continuam a constituir a maior percentagem de evidências da espécie (51,8%), encontradas durante as prospecções (Tab. 12). N Indícios de presença Ñ Atropelado U % % Captura # & $ $ $ T W ' Dejecto Observação Rasto Pegada $ T$ T Presença de toirão Ausência de toirão Quadrículas não prospectadas W ' Cartas militares 1:25 000 Área inundável Rios W ' Ñ W ' Ñ ÑÑ Ñ Ñ $ T Ñ ' W $ T ÑÑ W '' W Ñ W ' W ' &Ñ V $ T W &' V W ' $ T W ' W ' 0 5 km $ T V & W ' W ' Figura 25 - Mapeamento da ocorrência de toirão área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, na fase de pós-desmatação/desarborização. Através da aplicação das “track-plates”, obteve-se 4 indícios de toirão (Fig. 26), resultados que se encontram expressos na tabela 13. Também foram registados rastos e/ou pegadas de outras espécies, sendo de destacar que 35,13% dos registos eram de ouriço (Erinaceus europaeus), espécie cujo reduzido tamanho lhe permite facilmente RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________56 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) entrar nos túneis e que embora insectívora, levava o isco que estava disponível, reduzindo o poder atractivo do Giovanni Manghi dispositivo para o toirão (Tab. 13). Figura 26 – Aspecto da pegada e rasto de toirão registados com o auxílio de “track-plates”. Tabela 13– Espécie, número e respectiva percentagem das evidências (rastos/pegadas) das espécies detectadas através das “track-plates”. Espécie N.º de evidências % Toirão 4 5,41 Fuinha 6 8,11 Geneta 9 12,16 Sacrrabos 2 2,70 Raposa 3 4,06 Gato 9 12,16 Cão 1 1,36 Ouriço 26 35,13 Micromamíferos NI 11 14,86 Répteis 3 4,05 TOTAL 74 100 Observando o mapa de ocorrência da espécie relativo a esta fase (Fig. 25), é aparente a redução do número de evidências da espécie, ainda que estas estejam mais fundamentadas. A espécie continua a estar claramente associada às linhas de água, observando-se que 65,5% das evidências estão num raio de 500m a partir das principais linhas de água (Tab. 14). A justificação para tal facto é idêntica à já referida na fase pré-desmatação. Assim, tendo as acções de desmatação incidido principalmente nestes biótopos, o seu RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________57 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) desaparecimento influenciou, tal como previsto no 3º Relatório de Progresso de Dezembro de 2000 (SANTOS-REIS et al 2000), a distribuição da espécie, que se terá deslocado para áreas adjacentes ou desaparecido. Tabela 14 – Número de evidências de toirão em cada tipo de biótopo. Tipo de biótopo Nº evidências Estepe 5 Matos 3 Montado com subcoberto 4 Montado sem subcoberto 7 Rio 1 Vegetação ripícola 9 Raio de 500m a partir das principais linhas de água 19 Dos 3 núcleos inicialmente considerados, apenas o núcleo central parece ainda persistir, de acordo com a concentração de indícios encontrados nesta zona da Ribeira de Azevel e Ribeira de Álamo. Tal facto poderá ficar a dever-se à densidade de coelho-bravo que ainda se mantém na zona envolvente a Monsaraz (ver ponto 6.2.1.), mesmo após a desmatação/desarborização, e que muito provavelmente influencia a regularidade da presença do toirão nesta zona. Do núcleo norte, ainda se registou a ocorrência da espécie na Ribeira de Lucefece, numa área não sujeita a desmatação; no entanto na margem do Rio Guadiana, zona desmatada, não foi encontrado nenhum indício. Este facto indicia que a espécie tenha desaparecido nos locais sujeitos a desmatação, devido à grande perturbação causada. O núcleo da Bacia do rio Degebe também parece ter desaparecido possivelmente por ser um local onde vários factores se associam: construção de diversas estradas e pontes nas imediações de localidades, nomeadamente da Amieira, e desmatação de grande extensão das margens do Rio Degebe. De salientar que, após a ausência de vestígios na zona sul da área de estudo (carta 490, 491 e 501) (PEDROSO et al. 2003), onde fica localizado o paredão da barragem e esta tem a maior extensão em largura, voltaram-se a encontrar alguns indícios. Esta situação decorre já na fase de enchimento da barragem, em que a perturbação humana já não se faz sentir com tanta intensidade como na fase antecedente, o que pode ser um sinal de que os indivíduos estão a repovoar a zona após um suposto afastamento gerado pelo excesso de perturbação. Com os indícios encontrados nesta fase, voltaram a definir-se núcleos de ocorrência, novamente com recurso ao método de Kernel a 50%, apenas persistindo o núcleo central (Monsaraz). Este resultado poderá ter sido influenciado, em parte, pelo intenso esforço de prospecção nesta área imposto pela aplicação do método das “track-plates”, e do qual resultou uma maior concentração de indícios nesta zona de ocorrência da espécie. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________58 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) No final deste trabalho, o toirão apresenta uma distribuição fragmentada na área de estudo, ocupando locais isolados, relativamente afastados uns dos outros, facto este que compromete o futuro da espécie na área, situação já prevista nos estudos de biologia e ecologia da espécie (MATOS et al. 2001). Os dados apresentados constituem uma importante contribuição para o conhecimento desta espécie reconhecida como ameaçada desde 1990 (SNPRCN 1990) e sobretudo um valioso contributo à escala regional através da disponibilização de dados cartográficos baseados numa pesquisa sistematizada. 7.1.2.2.Modelo preditivo de distribuição espacial Análise de regressão logística Selecção de variáveis para inclusão no modelo Os resultados da análise univariada a que foram submetidas todas as variáveis ambientais encontram-se no Anexos VII. Verifica-se que, das 40 variáveis independentes iniciais, 16 revelaram algum nível de associação à ocorrência de toirão. De entre estas, dois pares evidenciaram um nível de correlação significativo e demasiado elevado (rS =0,7), tendo sido seleccionada, por cada par, a variável que apresentou uma associação mais forte com a variável dependente. Previamente à construção do modelo, todas as variáveis contínuas seleccionadas foram reduzidas a classes (Anexo VIII), resultando num conjunto de 31 parâmetros que serviram de base à regressão logística múltipla. As variáveis que foram seleccionadas para entrar na análise multivariada (17) são aquelas que apresentam uma significância no teste univariado <0,05 e não estão correlacionadas entre si (Tabela 15). Tabela 15 – Variáveis seleccionadas para a análise multivariada (p<0,05) no modelo de regressão logística para o toirão. Distância aos rios Percentagem de biótopos fechados Distância aos rios de ordem 34 Percentagem de intervenção humana Presença de charcas Número de polígonos das classes do uso do solo Presença de afloramentos rochosos Dimensão média dos polígonos das classes uso solo Presença de aglomerados de pedras Índice da forma média dos polígonos das classes Percentagem de matagais Índice de diversidade de Shannon Percentagem de eucaliptal/pinhal Densidade das estradas O modelo de regressão logística construído com as variáveis incluídas e os respectivos coeficientes, erros-padrão, significância do teste de Wald e Odds ratio está expresso na tabela 16. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________59 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Tabela 16 – Variáveis seleccionadas para o modelo de regressão logística e mapeamento da probabilidade de ocorrência do toirão na área cartográfica do Empreendimento para Fins Múltiplos do Alqueva, e respectivos coeficientes (â ) e erros-padrão (S.E.(â )), estatística de Wald (Wald), graus de liberdade (g.l.), significância do teste de Wald (Wald (P)) e Odds ratio (ψ ). Variáveis β S.E.(β) Diversidade de biótopos Wald g.l. Wald (P) 11,468 2 0,003 ψ Diversidade de biótopos [0-0.5[ 1,547 0,465 11,043 1 0,001 4,695 Diversidade de biótopos [0.5-1.00] 0,577 0,761 0,575 1 0,448 1,781 Afloramentos rochosos -1,227 0,486 6,365 1 0,012 0,293 Constante -0,772 0,381 4,100 1 0,043 0,462 Entre as variáveis seleccionadas para inclusão no modelo, não foi encontrada nenhuma interacção que optimizasse o mesmo. A equação do modelo final consistiu em 3 parâmetros (excluindo a constante), denotando uma importante simplificação relativamente ao conjunto de variáveis iniciais (31 parâmetros). O conjunto de variáveis ambientais que melhor prevê a ocorrência de toirão na área cartográfica do Empreendimento para Fins Múltiplos de Alqueva é então o nível moderado de diversidade de biótopos e a ocorrência de afloramentos rochosos. Avaliação da qualidade de ajustamento do modelo O ajustamento do modelo aos dados foi avaliado em termos de taxas de classificação correcta e do teste χ2 de Pearson. O ponto de corte que apresenta o melhor equilíbrio entre os erros e as classificações correctas em relação às presenças é de 0,4. A partir de 40% de probabilidade de ocorrência da espécie o modelo considera a sua presença. O modelo classificou correctamente 66 % das presenças e 65 % das ausências, incorrendo, portanto, com a mesma frequência, nos erros de Tipo I e II (ver ponto 4.3.1.2.). Isto significa que, em cerca de 1/3 das quadrículas para as quais o modelo prevê a ausência de toirão, foram detectados indícios da sua ocorrência durante os trabalhos de prospecção no terreno, sucedendo ao mesmo tempo o inverso relativamente a 1/3 das quadrículas para as quais o modelo prevê a presença deste mustelídeo. Consequentemente, a taxa de classificação correcta média (65,5 %) esteve também ligeiramente abaixo do valor mínimo considerado para um modelo com um bom poder preditivo (70 %; ver 4.3.1.2.). Esta situação poderá resultar do facto de não se haver considerado, para o presente modelo, determinada variável ou variáveis que estejam a exercer também uma influência significativa sobre a ocorrência do toirão, ou, muito simplesmente, por se tratar de uma espécie generalista (tanto em termos tróficos como de refúgio). Também o facto de a amostragem não ser 100% segura (ou fiável) poderá a influenciar os resultados. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________60 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) No entanto, a distância entre as probabilidades de ocorrência de toirão calculadas pelo modelo construído e a real ocorrência da espécie foi reduzida e aceitável, como o demonstra o resultado do Teste χ2 de Pearson (X2 = 113,25; g.l.= 113; p = 0,48). Este facto permite-nos, portanto, considerar como fiáveis essas probabilidades. Interpretação dos coeficientes do modelo De acordo com os resultados, o toirão parece estar associado a um nível moderado de diversidade de biótopos e parece evitar os afloramentos rochosos. De facto, um moderado nível de diversidade de biótopos pode ser favorável, uma vez que, se pode traduzir pela existência de biótopos com coberto vegetal denso que atravessam outros menos propícios, servindo os primeiros como corredores usados por esta espécie para se deslocar ao abrigo da vegetação, podendo no entanto, realizar algumas incursões nas áreas mais abertas para procurar alimento. Por outro lado, um nível demasiado elevado de diversidade de biótopos pode significar uma situação de elevada fragmentação, onde não se encontram reunidas as condições para o estabelecimento deste carnívoro, que não se movimenta em meios demasiado abertos. De certa forma não é surpreendente que o toirão evite os afloramentos rochosos, uma vez que, não é um biótopo favorável para as suas presas. Além disso, poderão existir interacções com outras espécies que utilizam preferencialmente este tipo de biótopo, como é o caso do bufo-real (Bubo bubo), que o utiliza como local de nidificação, e o gato-bravo, que procura estes locais para se abrigar, não sendo de excluir a hipótese da predação. Mapeamento da distribuição potencial do toirão O mapeamento da distribuição potencial do toirão na área de estudo, que traduz a adequabilidade da área para a espécie, baseou-se apenas nos níveis de probabilidade estimados pelo modelo de regressão logística. Da análise do mapa, pode observar-se que a área não apresenta elevada probabilidade de ocorrência de toirão (p=0,9) em nenhuma das quadrículas (Fig. 27). No entanto, a área de probabilidade intermédia (0,4 < p < 0,9) é bastante abrangente, representando 45,05% da totalidade de quadrículas. É ainda possível constatar que esta área apresenta um padrão heterogéneo de adequabilidade, o que indicia um risco de fragmentação. Analisando os resultados do modelo na perspectiva da influência do regolfo a ser criado após o enchimento, observa-se que 46,10% das quadrículas de probabilidade intermédia estão incluídas na área prevista para inundação à cota 152 m. Além disso, foi também dentro dos limites desta área que se observou a maior concentração de evidências inequívocas desta espécie, que consiste em 5 registos de animais mortos e duas observações directas, uma de cerca de 6 indivíduos (A. Raínho e J. Teodósio) e outra de um único indivíduo (ver Tabela 12). RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________61 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) N Probabilidade de ocorrência de toirão 0% - 20% 20%-40% 40%-60% 60%-80% Cartas militares 1:25 000 Rios Área inundável 0 5 km Figura 27 - Mapeamento da probabilidade de ocorrência de toirão (quadrículas 1*1 Km) estimada pelo modelo de regressão logística para a área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________________62 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 7.2. LONTRA 7.2.1. Metodologia 7.2.1.1 Estratégia pré-desmatação/desarborização Relativamente à lontra, após a avaliação inicial da situação da espécie (SANTOS-REIS et al. 2000), delineou-se uma estratégia que visou uma análise da variação sazonal da presença da mesma e a elaboração de um modelo preditivo da respectiva distribuição (ver ponto 4.3). Optou-se, então, por uma prospecção a uma escala mais precisa de que a anteriormente utilizada (5*5 Km), escolhendo-se como unidade de amostragem a quadrícula 1*1 Km. Como base de trabalho foram seleccionadas todas as quadrículas que continham linhas e planos de água de regime mais permanente, uma vez que se demonstrou serem estes os habitats onde, durante a primeira fase dos trabalhos, foi encontrado um maior número de indícios de presença da espécie (Fig. 28). Destas quadrículas, e devido ao seu elevado número (n= 422), foram aleatoriamente seleccionadas 20% (n= 84), valor apontado como suficiente para a elaboração dos modelos preditivos de distribuição bem como para a realização eficaz da prospecção de campo. Estas 84 quadrículas 1*1 Km, comuns às amostradas para detecção da presença de toirão, foram prospectadas trimestralmente (ainda que apenas para 82 tenha sido possível completar o ano de amostragem por o acesso das restantes ter sido restringido). Realizaram-se um ou mais percursos pedestres, de acordo com o tipo de linhas e planos de água presentes por quadrícula, perfazendo um total de 600m de prospecção (Fig. 13). Figura 28 - Aspecto da Ribeira de Mures (Juromenha) e respectiva galeria ripícola. Pesquisa de indícios de presença As lontras são animais difíceis de observar directamente no seu habitat natural devido à sua timidez e aos seus hábitos maioritariamente nocturnos. Por essa razão, o número e a distribuição dos vestígios indirectos da sua presença são vulgarmente usados para avaliar a distribuição, a actividade e as preferências de habitat da população RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________63 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) (MACDONALD & MASON 1982, BAS et al. 1994, MASON & MACDONALD 1986), embora alguns autores aconselhem precaução nestas estimativas (MELQUIST & HORNOCKER 1979, KRUUK et al 1986, KRUUK & CONROY 1987). As características peculiares e únicas dos indícios de presença da lontra (pegadas, dejectos, marcações odoríferas, tocas e restos de presas) (Fig. 29), bem como a sua abundância e conspicuidade na área de estudo, permitiram que a detecção da presença da espécie se basea-se exclusivamente neste método de amostragem, simultaneamente eficaz e de baixo custo. De facto, as pegadas de lontra dejectos e marcações odoríferas (“jellies” e “smears”), são facilmente identificados pelo seu aspecto e odor (forte cheiro a peixe), muito característicos nesta espécie. As pegadas apresentam uma forma estrelada pois os cinco dedos dispõem-se em semi-círculo em torno da almofada central, podendo mostrar a membrana interdigital e as garras muito curtas, e os dejectos são pequenos e geralmente sem extremidade espiralada, variando de mais escuros (quando frescos) a acinzentados (mais envelhecidos), contendo ossos de peixes e vertebras (ICN 1999; FAPAS 2000). As tocas são igualmente reconhecidas pela presença de dejectos e/ou pegadas na entrada e no interior do refúgio. Os restos de presas correspondem a restos semidevorados de peixe e lagostim. a) c) b) Figura 29 – Indícios de presença de lontra a) dejecto b) restos de presa c) pegadas RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________64 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 7.2.1.2. Estratégia pós-desmatação/desarborização À semelhança da fase pré-desmatação/desarborização, a estratégia pós-desmatação/desarborização foi baseada na pesquisa de indícios de presença, já referida no ponto 7.2.1.1. Na segunda fase e tendo em conta que o objectivo primeiro era a análise do efeito da desmatação / desarborização e do enchimento sobre a lontra, delineou-se uma abordagem em que partindo de uma situação de pré-desmatação se acompanhasse a evolução da marcação da lontra durante o processo de desmatação e desarborização. Assim, das 82 quadrículas 1*1 Km que foram prospectadas quatro vezes em 2000, apenas 80 foram continuadas (as quadrículas 55 e 38 ficaram sem acesso logo no início de 2001). Estas foram agrupadas em dois conjuntos: 34 quadrículas no interior da área prevista para inundação, ou seja, sujeita a desmatação, desarborização e enchimento; e 36 quadrículas exteriores a esta. As restantes 10 quadrículas não foram acompanhadas após 2000, uma vez que as quadrículas 5*5 Km das quais fazem parte já estavam a ser alvo de monitorização. Formaram-se então dois grupos baseados nos conjuntos anteriores (Fig. 30): - grupo 1 – com o objectivo da avaliar a resposta da lontra à desmatação, desarborização e enchimento, e constituído por quadrículas dentro da área prevista para inundação: - - 34 quadrículas que transitaram de 2000; - 6 quadrículas adicionais (que não foram prospectadas em 2000) - D5, 86, 87, Tvinhas, Tcodes e Tagosto. grupo 2 – com o objectivo de complementar a informação relativa à distribuição da espécie na área de estudo e avaliar a evolução da situação na área adjacente à área sujeita a inundação, e constituído por quadrículas fora da área sujeita a inundação: - 37 quadrículas que transitaram de 2000; - 34 quadrículas adicionais (por forma a ter pelo menos uma quadrícula 1*1 Km em todas as 5*5 Km da área de estudo); no caso da quadrícula 1*1 Km se revelar negativa, a prospecção era estendida a outras linhas e planos de água presentes na 5*5 Km e esta última só era considerada negativa para a lontra se todas as prospecções resultassem negativas. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________65 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) N Grupo 1 Grupo 2 Cartas militares 1:25 000 Quadrículas GAUSS 5*5 Km Quadrículas 1*1 km Rios Área inundável 0 5 km Figura 30 - Representação espacial das quadrículas 1*1 Km seleccionadas para prospecção da lontra na área cartográfica de influência directa da barragem do Alqueva, na fase pós-desmatação/desarborização. As 40 quadrículas do grupo 1 foram prospectadas de 3 em 3 meses, decorrendo a primeira visita logo que os trabalhos de desmatação na área da quadrícula tivessem terminado, de forma a avaliar primeiramente a resposta da lontra a esta perturbação, e posteriormente ao enchimento. Todas estas quadrículas foram prospectadas anteriormente à perturbação pelo menos uma vez (ou durante as prospecções de 2000 ou, no caso de serem quadrículas novas, imediatamente antes da desmatação), garantindo assim que existem leituras anteriores passíveis de comparação com a situação pós-desmatação. De referir que 8 quadrículas (4, 5, 7, 8, 13, Tvinhas, Tcodes e Tagosto) só sofreram efeito do enchimento, uma vez que não foram desmatadas. Um ajuste do transecto de prospecção era realizado, acompanhando o efeito do enchimento, ou seja, sempre que possível a prospecção acompanhava o nível de subida da água, por forma a que o transecto fosse na faixa imediatamente adjacente à água. As 71 quadrículas do grupo 2, dado não serem afectadas pelas acções de desmatação e desarborização e enchimento, foram prospectadas apenas 2 vezes por ano (uma na época húmida – Março e Abril - e outra na época seca – Setembro e Outubro). Esta metodologia permite verificar a situação da lontra em todas as quadrículas 5*5 Km da área de estudo, tanto em situação de abundância como de escassez de água. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________66 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) No Anexo IX estão indicadas as quadrículas que compõem cada grupo e as respectivas datas de prospecção. Os dados obtidos durante as duas fases foram convertidos para a escala 5*5 Km permitindo, conjuntamente com informações ad hoc sobre a presença desta espécie (dejectos, pegadas, observações directas e animais encontrados mortos), uma actualização do mapa de distribuição da espécie no conjunto das 11 cartas que constituem objecto de estudo. 7.2.1.3 Avaliação das necessidades tróficas Apesar de não estar definido como objectivo no âmbito da monitorização da lontra, a importância que os recursos tróficos assumem no padrão de distribuição e abundância da espécie, e a ausência de estudos prévios na área de estudo, obrigou a que fosse efectuada uma breve análise da sua dieta, permitindo recolher informações importantes nomeadamente para o desenvolvimento do modelo e para a definição da adequabilidade da área para a espécie. Assim, durante esta fase foram analisados um conjunto de dejectos recolhidos em 8 estações de amostragem dispersas pela área sujeita a inundação (Fig. 31). AL2 Figura 31 – Localização na área de estudo das estações de amostragem seleccionadas para avaliação da dieta da lontra. Para a selecção destes 8 locais teve-se em conta a necessidade de amostrar rios e ribeiras de dimensões e caracteristicas diferentes, e a vantagem associada em escolher locais que estivessem integrados na rede de pontos de amostragem da equipa de monitorização de peixes dulciaquícolas, de forma a ter uma noção da disponibilidade de presas nos locais de amostragem. Ao longo do ano de 2000 foram realizadas 5 amostragens (Fevereiro, Abril, Junho, Agosto e Outubro) para detecção de indícios de presença de lontra e recolha de dejectos, sendo que nos meses de Abril e Agosto estão igualmente disponíveis dados relativos à disponibilidade de peixes. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________67 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) As estações de amostragem seleccionadas podem ser sumariamente descritas como: G6 - situada na margem esquerda, da parte superior do Guadiana Português. A largura do rio ronda os 40m e contém várias pequenas ilhas que, por estarem relativamente afastadas da margem são normalmente inacessíveis a pé. Assim sendo, apenas a margem esquerda foi prospectada. Em metade do transecto a margem é rochosa, com pouca vegetação, na sua maioria eucaliptos (Eucaliptus globosus), e na outra metade é arenosa com algumas praias de calhau rolado e vegetação ripária densa. As espécies dominantes na galeria ripícola são freixos (Fraxinus angustifolia), zambujeiros (Olea europaea var. sylvestris) e juncos (Juncos sp.). As ilhas apresentam-se cobertas apenas por herbáceas. O rio aqui é de caudal permanente e a variação sazonal só é sentida no nível de água e na velocidade da corrente, que pode ser bastante intensa na época das chuvas. A área envolvente é usada para cultivo intensivo de frutas e vinho. G3 – situada na margem direita do Rio Guadiana e inclui o moinho dos Clérigos. Nesta zona o rio tem uma largura média de 40m e uma pequena ilha. O açude do moinho está partido e por isso normalmente submerso não sendo, por isso prospectado. Devido à largura do rio e à inacessibilidade da ilha só a margem direita é prospectada. A margem é rochosa e tem uma “praia” de calhau rolado a jusante do moinho. A vegetação ripícola é esparsa não formando uma verdadeira galeria, embora a ilha tenha uma vegetação densa e luxuriante. As espécies vegetais mais abundantes são o freixo, os zambujeiros e os juncos. O rio tem caudal permanente e a variação entre as estações do ano só é notada na largura do rio. A área envolvente é um montado de azinho sem subcoberto. A perturbação humana é baixa devido à dificuldade de acesso ao local. AZ3 – situada na ribeira do Azevel, um tributário do Guadiana. A ribeira tem aqui 10 m de largura e as suas margens são maioritariamente rochosas embora apresentem pequenas praias arenosas. A profundidade é sempre inferior a 80 cm e a corrente nunca é forte. Na época seca a ribeira seca quase completamente mantendo unicamente alguns pêgos de tamanho considerável. A vegetação ripícola não é densa mas é contínua. As espécies dominantes são o aloendro (Nerium oleander) e o freixo (Fraxinus angustifolia). A área envolvente é um mato bastante denso. A pressão humana é mediana sendo o local utilizado ocasionalmente para dar de beber ao gado. AL2 – situada na ribeira do Álamo, um tributário do Guadiana. A ribeira tem cerca de 3 m de largura, as suas margens são bastante inclinadas e formadas por blocos rochosos. O leito é coberto por calhau rolado. A profundidade é irregular variando entre os pequenos rápidos e os pêgos mais fundos. Na época seca a ribeira seca totalmente, mantendo alguma água apenas nos pegos maiores. A vegetação ripícola é densa e contínua e as espécies dominantes são o choupo-negro (Populus nigra), o freixo, as silvas (Rubus sp.) e a cana (Arundo donax). A área envolvente é cultivada e frequentemente utilizada por rebanhos de ovelhas. A pressão humana é considerável devido á proximidade de uma quinta. D17 – situada junto à vila de Monte do Trigo no troço médio do Rio Degebe e inclui o moinho e açude do Monte Novo. A montante do moinho o rio tem uma largura média de 15m, uma galeria ripícola densa e o substracto do leito é composto por calhau rolado. Logo a jusante do açude encontra-se uma área de blocos rochosos e seguidamente a largura do rio diminui consideravelmente e a galeria ripícola torna-se mais fechada e bastante difícil de prospectar. A RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________68 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) galeria ripícola é formada na sua maioria por freixos, choupos-negros, zambujeiros, canas e aloendro. A área envolvente é composta por grandes extensões de campos agrícolas na sua maioria de sequeiro. Embora na época das chuvas o nível de água possa atingir a altura do açude (1m) a corrente nunca é forte. Na época seca formam-se grandes pegos a montante do açude e pequenos a jusante. O lagostim é bastante abundante podendo ser visto na zona do açude. A perturbação humana não é muita embora seja ocasionalmente utilizada por pescadores desportivos. D5 – situada no troço final da Ribeira da Amieira junto à vila com o mesmo nome, logo antes da ribeira desaguar no Rio Degebe. A ribeira tem uma largura média de 6m e o seu substracto é composto por blocos rochosos de tamanho razoável e calhau rolado. A profundidade máxima não ultrapassa os 80cm e a média ronda os 30cm. A corrente durante a época das chuvas é média formando pequenos rápidos e na época estival a ribeira seca quase totalmente mantendose apenas alguns pegos de tamanho médio. A galeria ripícola é aberta e pouco densa, mas contínua, sendo constituída por freixos e aloendro. Na Primavera os anfíbios são muito abundantes provavelmente favorecidos pela baixa profundidade. A área envolvente é composta por um campo agrícola onde costuma pastar um rebanho de ovelhas, e um eucaliptal. Embora a ribeira seja atravessada por uma estrada alcatroada que leva à vila da Amieira a perturbação humana não é muito intensa. ALC2 – situada no troço final da Ribeira do Alcarrache junto á ponte da estrada que vai de Mourão para a Póvoa de São Miguel. A área é frequentada por pescadores e ocasionalmente por manadas de vacas. A ribeira tem uma largura média de 10m, a profundidade ronda os 80cm e a corrente chega a ser forte na época das chuvas. No verão formam-se numerosos pequenos pegos. O substracto é rochoso e no meio do leito existem pequenas ilhas de vegetação, maioritariamente aloendro e juncos. A vegetação ripícola nas margens é praticamente inexistente sendo a área envolvente constituída por matos na margem direita e montado sem subcoberto na margem esquerda. Z3 – situada no rio Zebro, um tributário da margem esquerda do Guadiana, perto da vila da Estrela. A largura do rio não excede os 5m, e no verão seca completamente. O substrato é alternadamente de areia, calhau rolado e blocos rochosos. A vegetação ripícola é densa e contínua e a espécie dominante é o tamujo (Securinega tinctoria). A área envolvente é constituída por montado com um subcoberto de matos denso. A pressão humana é considerável devido á proximidade da vila e do facto de ser bebedouro habitual de uma manada de vacas. Procedimento laboratorial O estudo do regime alimentar da lontra foi baseado na análise dos restos alimentares presentes nos dejectos e nos restos de presa recolhidos. A metodologia aplicada para o manuseamento dos dejectos e restos de presa para a identificação das peças diagnosticantes das várias classes presa foi a utilizada por PEDROSO (1997). A composição do espectro alimentar foi expressa em termos de Percentagem de Ocorrência (P.O.), quociente entre o número de ocorrências de uma determinada categoria de presa x 100 e o número total de ocorrências de todas as categorias de presas (1 ocorrência = 1 indivíduo) e de Percentagem de Biomassa (P.B.), quociente entre o peso consumido de uma determinada categoria de presa x 100 e o peso total consumido de todas as categorias de presa. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________69 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) O cálculo da biomassa consumida foi aplicado a todas as espécies de peixes constituintes da dieta da lontra e ao lagostim-de-rio (Procambarus clarkii), tendo em conta que estas constituem a maior parte da dieta da lontra e dada a impossibilidade de se obter pesos correctos para as outras categorias de presa. Este cálculo foi possível através da utilização de rectas de regressão (FREITAS, 1999) que, com base nas dimensões das estruturas esqueléticas utilizadas na estimativa do número de indivíduos, permitem estimar o comprimento e, subsequentemente, o peso das presas consumidas. 7.2.2. Resultados e Discussão 7.2.2.1. Evolução do padrão de distribuição FASE PRÉ-DESMATAÇÃO / ENCHIMENTO A cartografia da distribuição resultante do primeiro ano de trabalhos (1999) e relativa às quadrículas 5*5 Km foi actualizada com as presenças resultantes das prospecções das quadrículas 1*1 Km, com dados recolhidos ocasionalmente durante as prospecções efectuadas para os estudos do toirão e gato-bravo em 2000 e ainda com as capturas efectuadas no âmbito do protocolo estabelecido entre o Instituto da Conservação da Natureza/Governo Regional da Catalunha (ver ponto 2.2, Fig. 32) É ainda de referir que para além destas observações, foi ainda realizada uma observação directa no Rio Guadiana (carta 453D). Assim, das 76 quadrículas 5*5 Km que constituem a área de estudo, 64 revelaram-se positivas, correspondendo a 84,4% da área, o que significa um aumento de 17,8% em relação a 1999. A distribuição dos pontos de presença recolhidos durante 1999 e 2000 e respectiva georeferênciação encontram-se no Anexo V. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________70 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) N # S Indícios de presença Ñ Animal morto $ Captura # Observação # Observação crias Presença de lontra Ausência de lontra Cartas militares 1:25 000 Rios Área inundável T $ T $ Ñ T $ T $ T $ Ñ T $ # S T $ 0 5 km Figura 32 - Mapeamento da ocorrência da lontra na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, na fase prédesmatação/desarborização. É de salientar ainda que as quadrículas indicadas como ausências se referem, na sua maioria, a áreas de reduzida adequabilidade para a espécie, principalmente por terem linhas de água pouco significativas e consequentemente apresentarem-se secas durante grande parte do ano. Na tabela 17 estão indicados os indícios encontrados durante a fase de pré-desmatação/desarborização. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________71 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Tabela 17 – Tipo, número e respectiva percentagem das evidências da presença de lontra na fase pré-desmatação/desarborização. Tipo de evidências N.º de evidências % Dejectos 5340 91,3 Restos de presa 392 6,7 Pegadas 79 1,3 Rastos 16 0,3 Marcações odoríferas 21 0,4 5848 100 TOTAL Como seria de esperar e à semelhança de outros trabalhos (e.g. PEDROSO 1997; SALES-LUÍS 1998), a grande maioria dos indícios encontrados são dejectos e restos de presa. Relativamente à metodologia aplicada durante o ano 2000, é de referir que, das 84 quadrículas 1*1 Km seleccionadas aleatoriamente para prospectar trimestralmente, em duas não foi possível essa prospecção nos últimos dois trimestres, por constrangimentos encontrados ao efectuar as prospecções. Assim optou-se por realizar a análise anual considerando apenas 82 quadrículas. Numa abordagem sazonal (Fig. 33) é possível verificar que no Inverno, 69 (84%) das quadrículas seleccionadas aleatoriamente foram positivas e apenas em 10 não se encontrou qualquer tipo de indício da presença espécie (13,1%), não tendo sido possível prospectar as restantes 3 das quadrículas. Na Primavera todas as 82 quadrículas foram prospectas, tendo o número de quadrículas positivas diminuído para 63 (76,8%) e, correspondentemente o número das negativas aumentando para 19 (23,2%). No Verão praticamente não se alterou a proporção de quadrículas positivas e negativas em relação à Primavera: 61 quadrículas positivas (74,4%) e 21 quadrículas negativas (25,6%). Finalmente no Outono voltou a ocorrer um aumento das quadrículas positivas – 72 (81,8%) e uma diminuição nas negativas – 10 (12,2%). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________72 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) número de quadrículas 80 70 60 50 positivas 40 negativas 30 s/informação 20 10 0 Inverno Primavera Verão Outono Figura 33 – Variação sazonal do número de quadrículas 1*1 Km onde foi detectada presença de lontra em cada trimestre de 2000. Analisando o conjunto dos dados obtidos no decurso do ano de 2000, 53 quadrículas foram sempre positivas e apenas 5 quadrículas se revelaram negativas durante as quatro prospecções (Fig. 34). Estas últimas quadrículas apresentam características que podem justificar a ausência da espécie: em 2 delas, os locais de prospecção são escorrências, secas praticamente todo o ano; outras 2 são ribeiras, que estão secas durante muito tempo do ano, sendo uma delas uma área ardida e intervencionada, envolvida por um eucaliptal; a quinta quadrícula negativa é uma pequena charca, localizada numa estepe utilizada por gado bovino. Um factor comum a todas as quadrículas é a total ou quase total ausência de presas principais da lontra (peixes, lagostim e/ou anfíbios) durante todo o ano. É ainda de referir que das 5 quadrículas negativas ao longo de 2000, 4 são fora da área sujeita a inundação e 1 é dentro, e das 53 positivas, 19 são fora e 34 são dentro da área sujeita a inundação. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________73 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Presença de lontra Ausência de lontra Sem informação N Área inundável Quadrículas GAUSS 5*5 Km Rios Cartas militares 1:25 000 Primavera Inverno Outono Verão 0 5 km Figura 34 - Monitorização sazonal da lontra nas quadrículas 1*1 Km seleccionadas na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, a fase pré-desmatação/desarborização Assim, nota-se uma maior tendência de sucesso de prospecção no Inverno e Outono, confirmada pelo número de dejectos encontrado em cada estação do ano (Fig. 35). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________74 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 1800 1600 nº indícios 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 Inverno Primavera Verão Outono Figura 35 – Variação sazonal do número de indícios detectados nas quadrículas 1*1 Km seleccionadas para monitorização. Este facto poderá ser explicado pelos elevados níveis de precipitação verificados em Abril e Maio de 2000 durante os dias de prospecção e anteriores, factor indicado por vários autores como determinante na lixiviação dos indícios de presença no terreno e na submersão das margens e dos locais preferenciais de marcação, como zonas de rocha e aglomerados de pedra no leito (PEDROSO 1997, SALES-LUÍS 1998). No entanto, o factor mais determinante para estes valores reduzidos poderá ser o grau de desenvolvimento da vegetação ripícola que se apresentava muito exuberante em vários locais de amostragem, dificultando a prospecção e, consequentemente, influenciando o número de indícios encontrados. Esta situação verificou-se na Primavera e prolongou-se durante o Verão. Outro factor que poderá influenciar os resultados é a época de reprodução desta espécie que, apesar de não ter um período definido está descrita como concentrando a maior frequência de partos na Primavera (por questões de disponibilidade de presas e de refúgio) (BEJA 1996), o que resulta numa menor movimentação por parte das fêmeas reprodutoras e consequentemente uma marcação mais concentrada em torno das tocas e menos dispersa pelo território. Tratando-se de uma espécie frequente na área de estudo, e cujos indícios de presença são fáceis de detectar por serem numerosos e apresentarem um padrão de distribuição linear ao longo das linhas e planos de água, as prospecções efectuadas permitiram a obtenção de uma medida relativa de abundância, expressa através do Índice Quilométrico de Abundância (IQA = n.º de indícios por Km percorrido, STAHL 1986). O referido índice, ainda que não deva ser considerado como um indicador rigoroso da abundância de uma espécie (por depender de factores como o sexo, a idade, o estado sanitário e efectivo populacional), apresenta-se como útil na comparação entre áreas, à mesma escala temporal, ou numa mesma área ao longo do tempo. De facto, o número de dejectos num dado troço de rio pode representar a quantidade de tempo despendido pela lontra numa dada área, logo, uma medida de utilização. Nesta perspectiva, e como análise preliminar, tentou-se analisar o número de indícios por Km em cada tipo de linha ou plano de água (rios, ribeiras, escorrências e reservatórios ou charcas) (Fig. 36 e 37). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________75 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 rios ribeiras escorrências reservatórios Figura 36 - Índice Quilométrico de Abundância Médio de lontra em função do tipo de ambiente dulciaquícola. a) b) c) d) Figura 37 - Tipos de ambiente dulciaquícola a) rio principal b) reservatório c) escorrência d) ribeira Todos os habitats são usados, e este parece ser o ponto mais importante e o que melhor justifica a distribuição generalizada da lontra na área de estudo. No entanto, as escorrências são nitidamente menos usadas, provavelmente pelo número de presas disponível ser quase nulo ao nível das espécies principais na área de estudo (peixes e lagostim), como resultado do reduzido ou nulo caudal, e pelas menores potencialidades de refúgio que oferecem (na sua maioria não apresentam boas galerias ripícolas). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________76 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) A importância destas classes de presa foi determinada através da análise do regime alimentar (ponto 7.2.2.3), bem como através dos resultados do modelo preditivo (ponto 7.2.2.2). As ribeiras e os reservatórios apresentam valores de IQA semelhantes. As ribeiras fornecem disponibilidade de presas e, acima de tudo, possibilidade de refúgio. Os reservatórios, apesar de, em geral, não terem vegetação circundante, e como tal, não proporcionarem qualquer possibilidade de abrigo, são ambientes ricos em presas e onde estas são mais facilmente capturáveis por se tratarem de águas paradas e por vezes pouco profundas. De uma forma geral, as albufeiras (planos de água de média dimensão) e as charcas (planos de água de pequena dimensão) têm elevadas abundâncias de peixes (geralmente introduzidos) e de anfíbios, particularmente na época de reprodução destes últimos (Primavera). A lontra aparenta ainda, uma preferência pelo troço principal dos rios em comparação com os restantes tipos de habitat, o que pode ser resultado dos seguintes factores: • Apesar de à partida a massa de água dos rios ter um volume mais elevado e, como tal, dificultar a captura das presas, estas estão mais disponíveis, quer em termos de diversidade, quer em termos de abundância e da regularidade de ocorrência, ao contrário do que acontece com as ribeiras que na área se caracterizam por apresentar um regime intermitente e, consequentemente representarem um recurso mais irregular em termos qualitativos e quantitativos; • Os reservatórios, para além de muitos não fornecerem locais de refúgio, alguns também não apresentam uma presença regular de presas, o que poderá resultar no menor uso de um número considerável destes planos de água em relação aos rios, e por consequência um valor geral de IQA mais baixo quando se comparam os dois tipos de habitat. No entanto, é preciso ter em conta que há um factor alheio à ecologia da espécie e que pode estar a condicionar parcialmente estes resultados. Nomeadamente, a prospecção nas margens dos rios e nos reservatórios é mais fácil pois os locais de defecação são mais conspícuos e a vegetação é menos exuberante nos meses de Primavera e Verão, períodos em que se verificou uma grande dificuldade de prospecção nas ribeiras causada pelo grande desenvolvimento da vegetação ripícola. Esta menor eficiência de prospecção nas ribeiras é assim um factor a ter em atenção quando se tentam averiguar preferências do habitat. Analisando as 48 quadrículas incluídas na área sujeita a inundação, observa-se que o seu IQA médio é superior ao registado nas 34 quadrículas não incluídas nesta zona, ainda que não de uma forma significativa: 29,4 indícios/km vs 24,6 indícios/km. Ao analisarmos os valores sazonais do IQA (Fig. 38) é visível que, para todos os ambientes dulciaquicolas excepto para as escorrências que não apresentam valores significativos de marcação em nenhuma das estações do ano, a Primavera é a estação do ano que apresenta o IQA mais baixo (reflexo das condicionantes de amostragem e dos factores ecológicos explicados anteriormente). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________77 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 70 60 IQA 50 Inverno Primavera Verão Outono 40 30 20 10 0 rios ribeiras escorrências reservatórios Figura 38 – Variação sazonal do Índice quilométrico de abundância de lontra em relação aos diferentes ambientes dulciaquícolas Nos rios, é o Inverno que apresenta o valor mais elevado. Este resultado é inesperado pois nesta estação do ano as chuvas costumam ser intensas e o caudal dos rios elevado. No entanto tal não se verificou no ano de 2000 em que o primeiro trimestre se revelou bastante seco e com temperaturas relativamente elevadas. Consequentemente, as extensões de margem expostas e a própria preservação dos indícios foi superior à esperada para esta estação do ano. Após a descida drástica dos valores de IQA da Primavera (acima explicada) observou-se um incremento gradual no Verão e no Outono o que pode ser justificado pela descida dos caudais, aumento do número de locais preferenciais de marcação emersos e, em alguns locais, à formação de pegos que normalmente são intensamente marcados por conterem um recurso que nestas situações se torna escasso, o peixe. Como as chuvas mais intensas do Outono do ano 2000 se verificaram maioritariamente em Dezembro não afectaram de forma significativa os valores desta estação do ano. Nos reservatórios o Inverno apresenta valores comparativamente mais reduzidos pois, nesta altura, a quantidade de alimento (peixe) é em geral abundante em quase todos os ambientes dulciaquícolas. Dado serem locais pouco apelativos pois não fornecem refúgio, os reservatórios com dimensão suficiente para não secarem são mais usados nas estações mais secas em que a disponibilidade de alimento e água noutros locais é escassa. O incremento gradual do valor de IQA da Primavera para o Outono pode ser relacionado com o aumento dos locais secos em torno destes reservatórios, o que os torna, muitas vezes, o único local de obtenção de alimento num raio considerável de terreno. Esta foi a situação verificada especificamente numa quadrícula 1*1 Km situada perto da Póvoa de São Miguel (492F – ver Fdig.3) que se apresentou negativa relativamente à presença de lontra durante todo o ano e onde só no Outono foram encontrados indícios. Outro ponto atractivo destes locais são os anfíbios que os procuram para se reproduzirem tornando-se presas muito disponíveis em determinadas épocas do ano. Em 2000, o facto de, ao contrário do que é habitual, a Primavera ter sido a estação mais chuvosa, atrasou a reprodução deste grupo de vertebrados para o Verão. As ribeiras apresentam valores de IQA constantes ao longo do ano com excepção da Primavera cuja inflexão de valores já foi explicada. Tal pode ser atribuído ao balanço existente entre diferentes factores positivos e negativos nas RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________78 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) diferentes estações do ano. Assim, no Inverno, actuou positivamente a fraca pluviosidade, embora os caudais fossem relativamente elevados não havendo muitos locais de marcação, e no Verão actuou positivamente a não ocorrência de pluviosidade, o maior número de locais expostos e a existência de pegos, mas negativamente a vegetação exuberante que dificultou a prospecção. No Outono, a vegetação já não dificultou tanto a prospecção, mas algumas ribeiras já se encontravam totalmente secas e sem interesse do ponto de vista dos recursos alimentares para a lontra. No entanto, outras apresentavam pegos intensamente marcados. Assim os resultados corroboram e aprofundam os dados obtidos em 1995 por TRINDADE et al. (1998), pois são reveladores de uma distribuição generalizada e de uma situação de estabilidade da espécie na área, e fornecem informação mais detalhada à escala regional. Mais ainda, os resultados permitem confirmar a presença da lontra em todos os tipos de linhas (Fig. 39) e planos de água e indicar como factores determinantes da presença da espécie a existência de presas e, num plano secundário, a presença de refúgios. A observação de duas crias de lontra em 1999 (501C) e de uma fêmea prenhe (492D) em 2000, é reveladora da ocorrência efectiva de reprodução na área estudo. Mais ainda as sessões de captura oportunamente referidas (ver ponto 2.2) permitiram efectuar 19 capturas e verificar a ocupação de quase todas as linhas de água prospectadas por pelo menos um casal e, por vezes, por alguns juvenis/sub-adultos, provavelmente em dispersão (ver Figura 39). Também os resultados comparativos entre a zona inundável e a área circundante apontam para uma maior utilização, por parte da lontra, da zona de influência directa da barragem. Figura 39 - Lontras capturadas na ribeira do Álamo (Quadrícula 474F) e na ribeira de Alcarrache (Quadrícula 483H). FASE PÓS-DESMATAÇÃO / DESARBORIZAÇÃO A análise desta fase (Janeiro de 2001 a Dezembro de 2003) abordará os seguintes aspectos: • Efeitos da desmatação/desarborização • Efeitos do enchimento • Variações Época Húmida/Seca • Actualização da distribuição da lontra na área de estudo RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________79 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) • Uso dos vários tipos de ambiente dulciaquícola Na tabela 18 estão representados os indícios encontrados durante a fase de pós-desmatação/desarborização, mantendo-se o domínio dos dejectos e restos de presa. Tabela 18 – Tipo, número e respectiva percentagem das evidências da presença de lontra na fase pós-desmatação/desarborização. Tipo de evidências N.º de evidências % Dejectos 2642 86,9 Restos de presa 294 9,7 Pegadas 65 2,1 Marcações odoríferas 28 1,0 Rastos 8 0,3 TOTAL 3037 100 É de salientar que foi efectuada uma observação directa da espécie, na Ribeira de Alcarrache (carta 492B). Efeitos da desmatação/desarborização Tal como referido no ponto 7.2.1, das 40 quadrículas 1*1 Km do Grupo 1 definidas para avaliar a resposta da lontra à desmatação, desarborização e enchimento, 32 foram acompanhadas a partir do momento da sua desmatação e até ao momento em que ficaram submersas como resultado do enchimento da albufeira (Fig. 40). a) b) Figura 40 – a) Ribeira do Álamo e b) ribeira de Azevel após a desmatação. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________80 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Das prospecções efectuadas imediatamente a seguir à desmatação (0 meses – 32 quadrículas 1*1 Km), 9 quadrículas revelaram-se negativas (28,1%) e 4 não tiveram acesso. Após 3 meses, o número de ausências diminuiu para 16,1% das 31 quadrículas prospectadas, continuando a diminuir até aos 6 meses (13,7% em 29 quadrículas) (Fig. 41). As duas amostragens seguintes, 9 e 12 meses após a desmatação, inverteram a tendência até aqui verificada, aumentando a percentagem de quadrículas negativas (20,8% em 24 quadrículas prospectadas e 28,6% em 14 quadrículas prospectadas) (Fig. 42). N Mês 3 Mês 0 Grupo1 Presença de lontra Ausência de lontra Anulada Sem informação Quadrículas GAUSS 5*5 Km Cartas militares 1:25 000 Área inundável Rios Mês 6 0 5 Km Figura 41 - Mapeamento da ocorrência da lontra nos meses seguintes ao início da desmatação na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva (mês 0, 3 e 6). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________81 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) N Mês 9 Mês 12 Grupo1 Presença de lontra Ausência de lontra Anulada Sem informação Quadrículas GAUSS 5*5 Km Cartas militares 1:25 000 Área inundável Rios Mês 15 0 5 Km Figura 42 - Mapeamento da ocorrência da lontra nos meses seguintes ao início da desmatação na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva (mês 9,12 e 15). A partir dos 15 meses, o número de quadrículas amostradas nunca foi superior a 5 (5 aos 15 e 18 meses de enchimento, 4 aos 21 e 24 meses e apenas 2 aos 27 meses), pelo que o facto da percentagem de quadrículas negativas ser mais reduzida quando comparada com as amostragens anteriores poderá não ter significativo (Fig. 43). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________82 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Grupo1 Presença de lontra Ausência de lontra Anulada Sem informação N Quadrículas GAUSS 5*5 Km Cartas militares 1:25 000 Área inundável Rios Mês 18 Mês 21 Mês 24 Mês 27 Figura 43 - Mapeamento da ocorrência da lontra nos meses seguintes ao início da desmatação na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva (mês 18, 21, 24 e 27). As únicas quadrículas a apresentarem-se como negativas para a lontra nestas amostragens relativas à desmatação foram: a quadrícula 82 (501C), apesar de na fase pré-desmatação/desarborização ter apresentado um IQA superior à média (33,8 indícios/km) e a quadrícula 45 (481D), embora ambas apenas tenham sido amostradas uma vez após o início da desmatação. As quadrículas 76 e 78 (491G), nas 5 amostragens de que foram alvo, revelaram-se igualmente negativas à excepção de uma amostragem. Estas quadrículas, embora com IQAs reduzidos (9,2 e 8,8 indícios/km) foram sempre positivas nas 4 amostragens sazonais em 1999-2000. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________83 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Relembra-se que das 82 quadrículas 1*1Km da primeira fase, apenas 5 se revelaram negativas nas quatro amostragens pelas razões já explicadas oportunamente e nenhuma delas faz parte da lista das 32 que são aqui analisadas. Ao comparar o IQA obtido em 1999-2000 (Fase pré-desmatação/desarborização) – 23,2 indícios/km nas quadrículas dentro da área sujeita a inundação – com o obtido em 2001, 2002 e 2003 – 13,5 indícios/km nas quadrículas desmatadas e desarborizadas, e não entrando em conta com quadrículas já sujeitas ao enchimento, é visível o decréscimo no valor deste Índice. É assim notório que as acções de desmatação e desarborização tiveram um impacte importante no uso de habitat por parte da lontra, levando a um menor uso destas áreas e nalguns casos mesmo ao seu abandono. Parece haver um primeiro impacte forte, um relativo retorno aos locais desmatados (6 meses) e novamente um abandono de algumas destas áreas (12 meses), denotando eventualmente uma tentativa/necessidade de recolonização dos anteriores territórios mas sem sucesso duradouro. 30 nº quadrículas 25 20 presente 15 ausente s/acesso 10 5 0 0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 meses após desmatação/desarborização Figura 44 - Evolução da presença da lontra nas quadrículas amostradas ao longo da desmatação Efeitos do enchimento Em 24 quadrículas do Grupo 1 foi possível avaliar a resposta da lontra ao enchimento, acompanhando durante 9 meses um número considerável de quadrículas (entre 24 e 12). Até ao final de 2003, apenas 6 destas quadrículas tinham já sido afectadas ao longo de 12 meses, o que condiciona conclusões mais sólidas numa perspectiva temporal para além dos 9 meses, pelo que os resultados para além deste tempo não vão ser alvo de análise específica. Assim, é possível verificar que das quadrículas afectadas pelo enchimento (n=24), 62,5% foram negativas no mês 0 de enchimento, valor que aumentou na amostragem realizada 3 meses após o enchimento ter inundado os transectos amostrados (73,7%). Das 15 quadrículas que estiveram 6 meses sob a influência do enchimento 60% foram negativas (Fig. 45). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________84 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) N Mês 3 Mês 0 Grupo1 Presença de lontra Ausência de lontra Cartas militares 1:25 000 Área inundável Rios Quadrículas GAUSS 5*5 Km Mês 6 0 5 Km Figura 45 - Mapeamento da ocorrência da lontra após o enchimento na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva (mês 0, 3 e 6) É de salientar ainda a amostragem de 12 quadrículas sujeitas a 9 meses de enchimento, das quais 50% foram negativas, encontrando-se em Outubro de 2003, totalmente submersos os transectos habituais (Fig. 46). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________85 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Grupo1 Presença de lontra Ausência de lontra Anulada Sem informação N Quadrículas GAUSS 5*5 Km Cartas militares 1:25 000 Área inundável Rios Mês 9 Mês 15 Mês 12 Mês 18 Figura 46 - Mapeamento da ocorrência da lontra após o enchimento na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva (mês 9, 12, 15 e 18) Assim, é possível verificar que, ao contrário do que ocorria antes do enchimento, até 9 meses após o enchimento, o número de quadrículas negativas é superior às positivas (Fig. 47). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________86 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 16 nº quadrículas 14 12 10 presente 8 ausente 6 s/informação 4 2 0 0 3 6 9 12 15 18 meses de enchimento Figura 47 - Evolução da presença da lontra nas quadrículas amostradas ao longo do enchimento As quadrículas apresentaram ou ausência de lontra ou um máximo de 17 indícios/km, sendo a média de 4,1 indícios/km. Duas hipóteses se podem colocar para explicar estes resultados. A primeiro resulta do facto de os transectos habituais (efectuados pelo leito ou margens das linhas e dos planos de água), terem ficado submersos, sendo o transecto ajustado ao nível de água da barragem na altura da prospecção. Este facto tornou a prospecção em certos casos mais difícil (dada a maior inclinação das encostas dos vales das linhas de água) ou a dimensão do transecto inferior aos habituais 600 metros. De referir igualmente a menor disponibilidade de locais de marcação. Como tal, comparações entre IQAs dos transectos anteriores ao enchimento e transectos pós-enchimento, devem considerar a influência deste factor (Fig. 48). a) b) Figura 48 – Quadrícula 86 a) antes e b) depois do enchimento A segunda é que, apesar do reduzido IQA poder ter uma justificação (ver parágrafo acima), o enchimento provocou na realidade um forte impacte na lontra, pois as percentagens de quadrículas negativas são muito elevadas. Apesar de o número de locais de marcação ter diminuído, alguns ainda persistem, bem assim como locais de prospecção com características suficientes para tornar possível a detecção da presença da lontra. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________87 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Para além das 24 quadrículas analisadas acima, mais 3 (89, 90 e 91 – Fig. 49) foram acompanhadas em 2002 e 2003 embora seguindo uma estratégia de amostragem diferente. Nestas quadrículas, , e aproveitando ribeiras de importância média perpendiculares à massa de água lêntica já existente na altura do início da sua prospecção (Setembro de 2002), foram delineados transectos que permitissem a execução de um troço de 600 metros que acompanhasse a subida do nível de água. Esta abordagem permitiria acompanhar a evolução do comportamento de marcação à medida que o nível de água fosse subindo, de forma a permitir uma comparação com os transectos que estavam a ficar submersos. Duas destas quadrículas são precisamente as mais marcadas (20,9 e 19,2 indícios/km), enquanto que a quadrícula 89 foi negativa nas 2 amostragens (mês 0 e 3). a) b) c) Figura 49 – Quadrículas a) 89 (Ribeira de Agosto), b) 90 (Ribeira de Codes) e c) 91 (Ribeira das Vinhas) Na Figura 50 observa-se a evolução observada na marcação consoante o nível do enchimento das quadrículas amostradas. Note-se que não existe uma evolução nítida da marcação com a progressão do enchimento, sendo o número de indícios reduzido na maioria das quadrículas, tal como já foi referido. O valor mais elevado refere-se à quadrícula 83, que corresponde a um transecto na Ribeira de Codes (501B), que aos 6 meses apresentava uma zona de enseada e ainda algum refúgio, o que poderá justificar o seu maior uso nesse período. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________88 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 16 17 20 14 21 23 12 31 32 35 36 nº indícios 10 37 41 8 58 62 6 73 75 76 78 82 86 87 54 4 2 0 83 0 3 6 9 12 meses de enchimento 15 18 Figura 50 – Evolução da marcação da lontra nas quadrículas sujeitas ao enchimento (cada cor corresponde a uma quadrícula) À semelhança do que aconteceu com o processo de desmatação e desarborização, o impacte inicial foi elevado (no caso do enchimento levou mesmo ao abandono de muitos dos locais inundados) mas não se notou um retorno, à semelhança do que aconteceu com a desmatação nesses locais. Na Figura 51 estão apenas representadas as 11 quadrículas que apresentaram à partida ausência no mês 0 de enchimento. Aqui, é possível observar que existe, de alguma forma um retorno após algum tempo, mas nada que se assemelhe à situação anterior ao enchimento, e mesmo à desmatação. nº indícios 16 17 14 35 12 36 37 10 41 8 58 6 73 75 4 82 2 54 0 83 0 3 6 9 12 meses de enchimento 15 18 Figura 51 – Evolução da marcação da lontra nas quadrículas negativas no mês 0 do enchimento (cada cor corresponde a uma quadrícula). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________89 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) É de salientar que a maior parte das quadrículas que apresentaram recuperação da marcação são ribeiras que ainda apresentam zonas com alguma vegetação e que desembocam em pequena enseadas, mais uma vez revelando a importância que estas zonas representam no actual estado dos habitats aquáticos para a lontra (Fig. 52). Figura 52 – Zonas de enseada com marcação pela lontra. A explicação provável para esta diminuição ou mesmo ausência de uso dos locais após o enchimento relaciona-se com o resultado obtido para o modelo preditivo (ver ponto 7.2.2.2.), onde a disponibilidade de presas assume uma importância elevada face ao refúgio. Assim, enquanto que a desmatação/desarborização afecta a disponibilidade de refúgio, com perturbações ao nível populacional, ainda poderá permitir a captura de presas (especialmente lagostim e peixes) uma vez que a própria linha de água mantém as suas características em termos de profundidade e largura. Este facto não se mantém com o enchimento, uma vez que o sistema lótico é transformado num sistema lêntico, constituído por uma massa de água larga e profunda, com margens por vezes inclinadas, o que, em oposição às águas menos profundas e com remansos, não é ideal para as lontras caçarem (MACDONALD & MASON 1994, KRUUK 1995). Há ainda a acrescentar que as alterações na diversidade e abundância das espécies ícticas durante o processo de passagem de um sistema lótico para lêntico não são imediatas. Assim, durante o processo de enchimento as espécies ícticas sofrem um grande impacto, sendo previsível alguma mortalidade e/ou o deslocamento para áreas mais favoráveis, reduzindo o número de indivíduos disponíveis para a lontra. Para além disso estas presas sofrem um “efeito de diluição” devido ao maior volume de água, tornando-se mais difíceis de capturar. Estas ilações são apoiadas pelos resultados obtidos nos transectos das quadrículas 90 e 91 (482B e 501B - IQA relativamente elevado) enquanto mantiveram as características de ribeira (vale encaixado e pouco profundo) em contraste com o transecto da quadrícula 89, onde a Ribeira de Agosto é mais profunda e completamente desmatada (e que foi negativa nas 2 prospecções efectuadas após o enchimento). O facto de se observar algum retorno às quadrículas após algum tempo pode indiciar alguma adaptação à nova situação. No entanto, o decréscimo evidente do IQA (Fig. 53) revela, sem dúvida, que o nível de uso da albufeira é nitidamente inferior ao que existia após a desmatação, e ainda mais reduzido quando se compara com a situação de referência, o que permite concluir que apesar de haver uma adaptação à nova situação, esta é mais desfavorável para a lontra do que a que existia na fase pré-implementação da barragem. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________90 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 25,0 20,0 IQA 15,0 10,0 5,0 0,0 pré-desmatação desmatação enchimento Figura 53 – Média do Índice Quilométrico de Abundância das fases de pré-desmatação, desmatação e enchimento. Variações Época Húmida/Seca Tal como já foi referido no ponto 7.2.1, as 71 quadrículas 1*1 Km do grupo 2, por não serem afectadas pelas acções de desmatação / desarborização e enchimento, foram prospectadas apenas 2 vezes por ano (uma na época húmida – Março e Abril - e outra na época seca – Setembro e Outubro) (Fig. 54). Figura 54 – Ribeira de Azevel (época húmida – Março e época seca – Outubro). Do conjunto inicial de 71 quadrículas apenas se apresentam resultados respeitantes a 69 por em 2 não ter sido possível recolher informações porque as quadrículas deixaram de ter acesso (50, 52 – 481C e D). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________91 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Na figura 55 estão representadas as percentagens de quadrículas positivas e negativas para a lontra em cada época de amostragem. Presenças Ausências 90 80 Percentagem 70 60 50 40 30 20 10 0 Húmida 2001 Seca 2001 Húmida 2002 Seca 2002 Húmida 2003 Seca 2003 Figura 55 – Percentagens de ocorrência de lontra para cada época de amostragem, nas quadrículas exteriores à área sujeita a inundação. É visível que o número de quadrículas positivas foi sempre muito superior ao das negativas. O decréscimo de locais positivos verificado em 2001 (76,9% para 72,6%) deverá resultar do facto de durante a época seca, algumas linhas de água secarem e não apresentarem condições propícias à presença da lontra (caso das quadrículas com escorrências ou linhas de água pequenas). No entanto, é possível verificar que esse padrão se inverteu em 2002, onde o número de quadrículas positivas foi superior na época seca (81,5%), sendo mesmo superior ao da época húmida do ano anterior. Este facto poderá resultar de ter sido apenas no 2º semestre de 2002 (quando ocorreu a amostragem da época seca) que o enchimento adquiriu importância, altura em que a lontra terá sido obrigada a procurar novos territórios exteriores à área sujeita a inundação. No ano de 2003, já com grande influência do enchimento, os valores não são muito diferentes, com 73,7% de quadrículas positivas na época húmida e 72,4% na época seca, o que revela alguma estabilização nos valores iniciais. De qualquer forma é de salientar que o número de quadrículas com presença de lontra não variou muito (72,4% na época seca de 2003 a 81,5% na época húmida de 2002), o que poderá indiciar que as quadrículas com condições para a existência desta espécie estão quase todas ocupadas, em qualquer época do ano. Este aspecto vem corroborar a expansão da lontra, verificada em 2002 na área não inundada, causada provavelmente pela necessidade de procurar territórios alternativos após o impacte inicial do enchimento; no entanto a lontra acaba por regredir, atingindo o valor mínimo precisamente na última amostragem (época seca de 2003), podendo significar que as quadrículas temporariamente ocupadas não apresentavam condições para a manutenção de indivíduos a médio prazo. O IQA médio dos 4 valores de 2001 e 2002 (18,9 indícios/km) é inferior aos 29,4 indícios/km obtidos nas quadrículas dentro da área sujeita a inundação na fase pré desmatação/desarborização, mas semelhante ao obtido RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________92 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) para a mesma área após a desmatação/desarborizarão (17,7 indícios/km), o que poderá indiciar que as áreas fora da área sujeita a inundação adquiriram o mesmo estatuto de importância que a área presentemente inundada, reflexo da já anteriormente referida redução de adequabilidade da área inundada para a lontra. No entanto, o IQA referente a 2003 é na época seca mais elevado que na época húmida, o que pode significar que os ambientes propícios fora da área inundável são ainda mais importantes, após o enchimento, reflectindo a baixa qualidade do habitat disponível na área inundada, bem como eventualmente a já referida incapacidade das quadrículas fora desta área suportarem a médio prazo, indivíduos. É de referir que as ausências registadas especialmente na época seca são em quadrículas caracterizadas por terem linhas de água muito estreitas, ou escorrências ou ribeiras que secam durante a época de maior calor, não assegurando assim as condições para a subsistência da lontra. Por outro lado, os valores mais elevados de IQA durante a época seca reflectem quadrículas que ou têm linhas de água de maiores dimensões ou formam pegos com acumulação de presas (peixes mas especialmente lagostim), o que implica por parte da lontra uma maior marcação, como reflexo da importância que estes locais assumem nesta época. Actualização da distribuição da lontra na área de estudo A cartografia da distribuição relativa às quadrículas 5*5 Km, resultante da segunda fase de trabalhos (2001 a 2003), foi actualizada com as presenças resultantes das prospecções das quadrículas 1*1 Km (Grupo 1 e Grupo 2), com dados recolhidos ocasionalmente durante as prospecções efectuadas para os estudos e monitorização dos restantes carnívoros em 2001, 2002 e 2003 e ainda com registos de observações de animais vivos e mortos recolhidos por outros membros da equipa. Optou-se por avaliar separadamente os anos correspondentes à fase pós-desmatação, uma vez que existem factores bastante diferentes a actuar em cada ano (desmatação/desarborização em 2001 e 2002 e enchimento em 2002 e 2003). Assim, em 2001, das 76 quadrículas 5*5 Km que constituem a área de estudo, 65 revelaram-se positivas, correspondendo a 85,5% da área, o que significa um aumento mínimo de 1,3% em relação a 2000 (Fig. 56). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________93 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) N Presença de lontra Ausência de lontra Sem informação Cartas militares 1:25 000 Rios Área inundável 0 5 km Figura 56 - Mapeamento da ocorrência da lontra na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, na fase pósdesmatação/desarborização (2001) É de salientar que, à semelhança do que ocorreu na fase pré-desmatação/desarborização, as quadrículas indicadas como ausências se referem, na sua maioria, a áreas de reduzida adequabilidade para a espécie, principalmente por terem linhas de água pouco importantes e consequentemente apresentarem-se secas durante grande parte do ano (casos das quadrículas 441A, 441E, 463A, 474E, 481B, 482C, 482G e 490E – ver Fig. 3). As 4 primeiras são ainda quadrículas 1*5 Km, o que implica uma menor área possível de ocorrência da lontra. Não foram encontradas condições de prospecção na quadrícula 481H482E durante o ano 2001, uma vez que as zonas de linhas de água com possibilidades de ocorrência da espécie se encontravam vedadas, por se tratarem de zonas de caça. As restantes 2 quadrículas do total de 10 negativas para a presença de lontra apresentam condições para a sua subsistência, uma vez que incluem um pequeno reservatório e algumas linhas de água de relativa importância (caso da 492G) ou um reservatório de média dimensão (caso da 483C). Esta ausência da espécie não tem uma explicação clara, embora possa sugerir que a lontra não ocupou todos os nichos possíveis na área de estudo, escolhendo possivelmente os que melhor condições apresentam, como os rios. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________94 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Em 2002, das 76 quadrículas 5*5 Km que integram a área de estudo e à semelhança do verificado em 2001, também 65 revelaram-se positivas, correspondendo a 85,5% da área. A diferença para 2001 prende-se com a quadrícula 481H482E que foi confirmada como positiva (sem informação em 2001) e a mudança de algumas quadrículas positivas para negativas e vice-versa (Fig. 57). À excepção das quadrículas com menor área (1*5 Km), todas as outras que anteriormente tinham sido negativas, revelaram-se positivas em 2002. Este facto vem corroborar a ideia de que com os efeitos sentidos na área prevista para inundação (desmatação/desarborizarão e especialmente enchimento), a lontra viu-se forçada a procurar outros territórios fora do leito principal do rio e em locais que não apresentam as melhores condições para a sua presença. Das 6 novas quadrículas negativas, 4 foram em grande parte inundadas. N Presença de lontra Ausência de lontra Cartas militares 1:25 000 Rios Área inundável 0 5 km Figura 57 - Mapeamento da ocorrência da lontra na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, na fase pós-desmatação/desarborização (2002). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________95 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Em 2003, das 76 quadrículas 5*5 Km que constituem a área de estudo, 63 revelaram-se positivas (menos duas que nos anos anteriores), correspondendo a 79,4% da área (Fig. 58). N Presença de lontra Ausência de lontra Cartas militares 1:25 000 Rios Área inundável 0 5 km Figura 58 - Mapeamento da ocorrência da lontra na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, na fase pós-desmatação/desarborização (2003). As quadrículas 463G e 482H, que anteriormente nunca se tinham revelado negativas, foram-no em 2003. Este facto deverá ser resultado da inundação na maior parte das suas áreas, bem como da não utilização da parte da margem do rio Guadiana não inundada igualmente em ambos os casos. Na prática, e em ambos os casos, representam uma perda de território devido à inundação. A mesma explicação poderá ser aplicada às quadrículas 491D/492A e 491H/492E que já tinham sido negativas em 2002, quando tiveram grande parte das suas áreas inundadas. As quadrículas 474A , 481B e 482C voltaram a ser negativas em 2003, após terem sido negativas na fase prédesmatação/desarborização e positivas em 2002, o que poderá revelar que após o enchimento as lontras tiveram a RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________96 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) necessidade de se deslocarem e tentarem ocupar outros territórios na área não inundável, não tendo sido, contudo, capazes de se instalar a médio prazo. Assim, de uma forma geral, pode-se concluir que presentemente, para além das quadrículas sem linhas de água significativas, existem outras que têm a maioria da sua área submersa e que não estão a ser utilizadas pela lontra. Como resultado desta constatação, no fim de 2003 a área de estudo apresenta piores condições para a população de lontras do que na fase pré-desmatação/enchimento. Uso dos vários tipos de ambiente dulciaquícola Tal como previsto, efectuou-se uma comparação entre os diferentes tipos de ambiente dulciaquícola, à semelhança do que já tinha sido levado a efeito para a fase pré-desmatação/desarborização. Os transectos e respectivas amostragens utilizados para esta análise foram agrupados consoante eram influenciados pela desmatação/desarborização e pelo enchimento, uma vez que tal como já foi descrito, os efeitos são diferentes. Assim, optou-se por apresentar os resultados com 3 fases (pré e pós-desmatação/desarborização e enchimento). Na figura 59 está representado o IQA de lontra em função do tipo de ambiente dulciaquícola, para as 3 fases. pré-desmatação desmatação enchimento 45,0 40,0 35,0 IQA 30,0 25,0 20,0 15,0 10,0 5,0 0,0 reservatórios escorrências ribeiras rios Figura 59 - Índice Quilométrico de Abundância médio de lontra em função do tipo de ambiente dulciaquícola. À semelhança do que ocorreu na fase pré-desmatação (ver Figura 36), todos os habitats foram usados, quer durante a desmatação, quer durante o enchimento. As escorrências foram sempre o tipo de habitat menos marcado, provavelmente devido ao número de presas disponível ser quase nulo no que se refere às presas principais na área de estudo: peixes e lagostim. No entanto, o seu IQA foi menor na fase pré-desmatação do que na de desmatação. Este facto poderá, mais uma vez, ser resultado da diminuição de qualidade dos rios e ribeiras durante a desmatação, sendo RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________97 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) esta confirmada pela diminuição do IQA observada nestes ambientes da fase pré para a fase pós-desmatação, podendo as lontras encontrar nas escorrências, pelo menos parcialmente, o tipo de refúgio que perderam nos rios e ribeiras. Os reservatórios, apesar de, em geral, não terem vegetação circundante e, como tal, não proporcionarem qualquer possibilidade de abrigo, são ambientes ricos em presas e onde estas são mais facilmente capturáveis por se tratarem de águas paradas e por vezes pouco profundas. Assim, apesar do IQA ter diminuído antes e depois da desmatação (26,2 para 15,1 indícios/Km), proporcionalmente às anteriores presenças este ambiente diminuiu menos, o que vem mais uma vez confirmar a sua importância como ambiente mais estável (em termos de disponibilidade e facilidade de captura de presas), essencial para a manutenção das populações de lontra após os impactos verificados com a desmatação e enchimento. Quer os rios, quer as ribeiras, quer os reservatórios sofreram um decréscimo acentuado na sua utilização com a desmatação, principalmente no primeiro caso. Este facto reflecte a importância que o coberto vegetal tem para a lontra e a forma como as acções de desmatação e desarborização afectaram esta espécie. Os reduzidos valores de IQA verificados principalmente nos rios, reservatórios e escorrências que foram afectados pelo enchimento são acima de tudo resultado directo das muitas ausências de lontra nas quadrículas amostradas para o enchimento. No entanto, os transectos positivos que ainda se mantêm reflectem igualmente um baixo valor de uso, o que indica que, apesar da lontra poder ainda ocupar nalguns casos os locais que ocupava antes do enchimento, a sua importância diminuiu, sem dúvida resultado da ausência de refúgio, mas essencialmente da diminuição das presas disponíveis bem como da sua capacidade para capturar essas mesmas presas na actual massa de água. As ribeiras foram proporcionalmente os locais onde o enchimento, quando comparado com a situação anterior, resultou numa menor diminuição do IQA. Este facto poderá ser explicado da seguinte forma: ao contrário dos rios, grande parte das ribeiras amostradas, mesmo que o transecto efectuado esteja neste momento transformado em albufeira, estão parcialmente fora do nível de enchimento. Notou-se que quando marcados, os transectos efectuados tinham uma aglomeração de indícios na boca da ribeira (onde esta desagua na albufeira), o que indica que a lontra poderá usar a parte não inundada destes ambientes, bem como a pequena enseada pouco profunda que se forma na desembocadura da linha de água na albufeira, local de captura de peixes. É de salientar ainda que os reservatórios, resultado da inundação destes ambientes que presentemente estão total ou parcialmente integrados na massa de água da albufeira, perderam a sua importância como fonte de alimento. O decréscimo do IQA deve-se essencialmente a locais que presentemente já não são reservatórios, sendo que os que ainda são apresentam um IQA muito semelhante à fase da desmatação. Optou-se por não comparar o IQA médio entre as quadrículas amostradas dentro e fora da área sujeita a inundação, dado as condições de amostragem não terem sido as mesmas. Assim, pode-se concluir que o enchimento teve um grande impacte em todos os ambientes lóticos e lênticos estudados, sendo este ainda mais significativo do que a própria desmatação e desarborização. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________98 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 7.2.2.2 Modelo preditivo Selecção de variáveis para o modelo Os resultados da análise univariada para selecção das variáveis a incluir no modelo em relação ao grau de utilização da área encontram-se no Anexo VII. As variáveis que foram seleccionadas para entrar na análise multivariada (17) são aquelas que apresentam uma significância no teste univariado <0,05 e não estão correlacionadas entre si (Tabela 19). Tabela 19 – Variáveis seleccionadas para a análise multivariada (p<0,05) no modelo de regressão logística para a lontra (a caracterização diz respeito ao segmento de 100m): Velocidade Percentagem de vegetação ripícola Profundidade Galeria ripícola aberta ou fechada Eutrofização Percentagem de freixos Peixes Freixos dominantes na galeria ripícola Lagostim Presença/ausência de canas Ordem dos rios Presença/ausência de depósitos recentes Poluição Presença/ausência de xistos Percentagem de matos e matagal Presença/ausência de afloramento rochoso Declive máximo Na tabela 20 é apresentado o modelo de regressão logística construído com as variáveis incluídas e os respectivos coeficientes, erros padrão, significância do teste de Wald e graus de liberdade. Obteve-se uma associação positiva da maioria das variáveis com a variável dependente. Significa isto que quanto maior o valor da variável mais elevado o grau de utilização por parte da lontra. Apenas a Eutrofização (média) e a Eutrofização (alta) apresentaram relação negativa com a variável dependente. Nenhuma interacção entre variáveis testada demonstrou melhorar a capacidade preditiva do modelo. A equação do modelo final consistiu em 11 parâmetros (excluindo a constante), denotando uma importante simplificação relativamente ao conjunto de variáveis iniciais (40 parâmetros). O conjunto de variáveis ambientais que melhor prevê a ocorrência de lontra na área cartográfica do EFMA é então a presença de xistos, a abundância de lagostim e peixes, o nível de eutrofização, a percentagem de matos e matagais e o nível de poluição. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________99 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Tabela 20 - Variáveis seleccionadas para o modelo de regressão logística e mapeamento da probabilidade de ocorrência da lontra, os respectivos coeficientes (β) e erros padrão (S.E.(β)), significância do teste de Wald (Wald (P)) e odds ratio (ψ). Variáveis β S.E.(β) Wald (P) g.l. Wald ψ Presença/ausência de xistos 2,815 1,365 4,252 1 0,044 16,695 Lagostim (ausência ou baixa abundância) 0,565 10,410 0,003 1 0,957 1,759 Lagostim (abundância média) 3,816 10,418 0,134 1 0,714 45,439 Lagostim (abundância alta) 4,878 10,414 0,219 1 0,640 131,33 Percentagem de matos e matagal 0,076 0,034 5,005 1 0,025 1,079 Peixes 2,800 1,022 7,510 1 0,006 16,448 Eutrofização (ausência) 2,319 12,178 0,036 1 0,849 10,169 Eutrofização (baixa) 0,853 12,180 0,005 1 0,944 2,346 Eutrofização (média) -2,340 12,221 0,037 1 0,848 0,096 Eutrofização (alta) -7,459 48,605 0,024 1 0,878 0,001 Poluição 0,001 0,000 7,435 1 0,006 1,001 Constante 12,390 16,208 0,584 1 0,445 0,000 Avaliação da qualidade de ajustamento do modelo O ajustamento do modelo aos dados foi avaliado em termos de taxas de classificação correcta para o ponto de corte 0.5 e o teste de ROC. O modelo classifica correctamente 95,0% das observações com grau de utilização elevado e 87,5% das observações com baixo grau de utilização, constituindo uma média de 91,3% de classificação correcta das observações. Uma vez que a área da curva de ROC é de 0,951 (Fig. 60). O ajustamento do modelo aos dados é confirmado, com uma excelente classificação (MANEL et al. 2001). Sensibilidade Curva ROC Especificidade Figura 60 - Representação gráfica da Curva ROC para o modelo da lontra. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________100 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Interpretação dos coeficientes do modelo As variáveis responsáveis por uma maior explicação da intensidade de marcação da lontra são a presença de lagostim (abundâncias média e alta) e a presença de peixe. É de concluir que o principal factor responsável pelo uso do habitat pela lontra é a presença de presas, sendo a presença destas determinante para a presença da lontra na área de estudo. Em menor grau de importância surge a Presença/ausência de xistos, o que pode ser explicado pelo comportamento de marcação da lontra, que escolhe locais proeminentes de marcação para depositar dejectos e marcas odoríferas. A relação positiva determina que existe uma maior marcação nos locais de solos xistosos, ou seja, com maior disponibilidade de locais de marcação. Este aspecto é suportado, embora em menor grau, pela presença da variável Presença/ausência de afloramento rochoso, variável seleccionada para a análise multivariada mas não para o modelo. A eutrofização também é responsável em algum grau pela intensidade de marcação da lontra. A sua associação negativa pode ser explicada pelo facto de em linhas e massas de água eutrofizadas, a comunidade de ictiofauna ser menos rica, quer em termos de abundância, quer em termos de diversidade. Este facto, em conjugação com uma eventual maior dificuldade de captura de peixes por parte da lontra, resultado da menor visibilidade, pode justificar o menor uso de locais eutrofizados. Como resultado do modelo, surgem mais duas variáveis (Percentagem de matos e matagal e a Poluição) que, no entanto, assumem menor importância comparativamente com as restantes. A primeira variável quantifica a percentagem de matos e matagais que se encontram no segmento de 100m delineado no troço de linha ou plano de água e representa, por isso, a disponibilidade de refúgio. A menor representatividade desta variável face, especialmente, à presença de presas, significa que a lontra é mais condicionada (ou está mais dependente) pela disponibilidade de presas do que pela presença de refúgio. No entanto, este deve ser entendido como importante para a espécie, especialmente quando outras cinco variáveis relacionadas com o refúgio foram seleccionadas para a análise multivariada: Percentagem de vegetação ripícola, Galeria ripícola aberta ou fechada, Percentagem de freixos, Freixos dominantes na galeria ripícola e Presença/ausência de canas. A segunda variável é a Poluição, mas a sua influência é desprezável, não se devendo retirar muitas ilações desta variável. No entanto, a sua influência positiva é compreensível uma vez que esta variável é definida pela distância às fontes de poluição, sendo que a sua relação vai no sentido de quanto maior a distância a fontes de poluição, maior a presença de lontra. Quando comparado com o modelo anteriormente construído (SANTOS-REIS et al. 2000), este novo modelo traduz claramente uma melhor qualidade, o que seria de esperar dado que existe um maior número de dados e mais variáveis, que por sua vez estão melhor caracterizadas, nomeadamente através de uma caracterização mais pormenorizada dos segmentos de 100m em torno das linhas e planos de água, efectuada no terreno, assim como uma classificação em classes de abundância dos grandes tipos de presas (lagostim, peixes, anfíbios, répteis e aves). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________101 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) No entanto é de salientar que as variáveis explicativas para a presença da lontra no primeiro modelo estão, de alguma forma, entre as variáveis que resultaram deste segundo modelo. As variáveis resultantes do primeiro modelo, e respectivas justificações, foram as seguintes (SANTOS-REIS et al. 2000): Presas – esta variável classifica as presas principais (peixe, lagostim e anfíbios) como ausentes, esporádicas ou constantes ao longo do ano e foi aferida pela equipa no campo durante as prospecções efectuadas. Assim, a ocorrência regular das principais presas da lontra no troço parece ser o factor mais importante para a presença e intensidade de utilização de um dado habitat pela lontra. Matos – esta variável é quantificada pelo número de manchas de matos que se encontram no segmento de 100m delineado no troço de linha ou plano de água e representa por isso, uma quantificação da disponibilidade de refúgio. Através do modelo é assim evidenciada a importância da existência de refúgio para a lontra. Squalius alburnoides – a distribuição desta espécie aparece relacionada com o grau de utilização da lontra, mas trata-se de um artefacto de cálculo devido ao facto de ambas as espécies terem distribuições generalizadas e abrangendo vários tipos de linhas de água, dos maiores rios às ribeiras de menores dimensões. Assim, muitos dos segmentos classificados com IQA correspondem a locais de presença de Squalius alburnoides e consequentemente, esta associação é provavelmente devido ao acaso e não propriamente um factor influente no grau de utilização do habitat por parte da lontra. À semelhança do que aconteceu no primeiro modelo, a informação sobre as variáveis Lagostim, Peixes e Eutrofização apenas está disponível para a área prospectada no campo, não sendo possível extrapolar este novo modelo para toda a área de estudo. Para o primeiro modelo, considerou-se que locais que apresentavam as variáveis Matos e Squalius alburnoides tinham uma elevada adequabilidade para a lontra; locais onde só uma das variáveis estava presente tinham média adequabilidade; e locais em que ambas as variáveis estavam ausentes tinham reduzida adequabilidade. Foi possível verificar a ampla distribuição de locais com boa adequabilidade para a lontra sendo de referir a importância atribuída aos vales do rio Guadiana e ribeira de Azevel, classificados na sua totalidade com um elevado grau de adequabilidade. Estes dados, mesmo tendo em conta a sua importância relativa devido ao facto de não representarem o modelo na sua integridade, reforçam uma vez mais, a utilização preferencial por parte da lontra da zona sujeita à inundação. O segundo modelo (mais robusto) vem reforçar a importância da área sujeita a inundação, especialmente os rios e ribeiras com algum refúgio que, para além de garantir protecção para a lontra, proporcionam igualmente boas condições para a ocorrência das comunidades ícticas. No entanto, a presença de lagostim é determinante para a subsistência da lontra. Neste aspecto, os reservatórios e charcas assumem, com a perda das condições lóticas nos rios principais, um papel de suporte importante pois contêm em geral abundância elevada de lagostim e/ou peixes. Ao mesmo nível situam-se as linhas de água que na época seca formam pegos onde a lontra facilmente captura estas presas e que ainda subsistem com níveis de água reduzidos (quando comparados com o sistema lêntico) mas suficientes para albergar lagostim e eventualmente alguns peixes. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________102 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 7.2.2.3 Avaliação das necessidades tróficas Ao longo das 5 amostragens foram analisados 675 dejectos e restos de presas (Tabela 21). Tabela 21 – Número de indícios analisados durante os meses de amostragem em 2000. Indícios analisados Fevereiro Abril Junho Agosto Outubro 675 217 80 129 233 157 Foi possível comprovar a grande importância dos peixes, que representam 58,9% da percentagem de ocorrência (P.O.). O lagostim-do-rio-americano (único representante da classe Crustacea) é igualmente fundamental para a dieta da lontra, representando 36,6% de P.O., sendo inclusivamente a espécie mais consumida no mês de Fevereiro. Os restantes grupos de presas (anfíbios, répteis, mamíferos e aves) não apresentaram ocorrências significativas, representando apenas recursos ocasionais (<3%) (Fig. 61). PO 80 70 peixes 60 crustáceos 50 anfíbios 40 repteis 30 mamíferos aves 20 10 0 Fevereiro Abril Junho Agosto Outubro T.FINAIS Figura 61 – Percentagem de ocorrência das categorias de presa na dieta da lontra (análise temporal). O grupo dos peixes é sempre o mais importante em termos de P.O., à excepção do mês de Fevereiro, onde o lagostim é consumido numa percentagem ligeiramente superior aos peixes. Apesar desta espécie ser consumida durante o ano todo, este aparente maior consumo em Fevereiro já foi descrito por outros autores (CRUZ, 2003) em habitats de regime intermitente, podendo ser resultado do lagostim apresentar um período de reprodução em Outubro/Novembro, o que leva a existência de uma elevada abundância desta espécie no Inverno. Quando se foca a análise na variação espacial, é evidente a maior importância que o lagostim tem sobre os peixes em termos de P.O. consumida nas estações AZ3 e D5 (Fig. 62). A explicação deriva do facto de ambos serem linhas de água secundárias e terem caudais que ficam reduzidos a pegos durante a parte seca do ano. Esta situação promove a acumulação de lagostins aumentando o consumo destes em detrimento dos peixes que por vezes não suportam as condições e se tornam menos disponíveis durante esta época. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________103 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) É ainda de referir a relativa importância que os anfíbios têm na estação Z3, que reflecte a aparente abundância de Percentagem de ocorrência Rã comum neste local durante a Primavera. 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 peixes crustáceos anfíbios repteis mamíferos aves AZ3 AL2 D5 D17 ALC2 G6 G3 Z3 Figura 62 – Percentagem de ocorrência das categorias de presa na dieta da lontra (análise espacial). A diversidade de espécies de peixes consumidos foi considerável (15 a 16 espécies) sendo a família Cyprinidae a mais representada (9 a 10 espécies). A incerteza no número concreto de espécies prende-se com o facto de não ser possível diferenciar ao nível das peças ósseas diagnosticantes as espécies barbo-do-Sul (Barbus sclateri) e barbo de Steindachneri (Barbus steindachneri). Não é pois possível saber se a lontra consumiu efectivamente as duas espécies embora, dada a abundância relativa das duas espécies no meio, seja provável que o consumo se refira na realidade a Barbus steindachneri por B. sclateri nunca ter sido capturado nas estações amostradas em 2000 (Tabela 22): Tabela 22 – Espécies de peixe consumidas pela lontra nas estações de amostragens durante 2000 Família Centrarchidae Cyprinidae Nome científico Lepomis gibbosus Nome comum perca-sol Micropterus salmoides achigã Squalius alburnoides bordalo Squalius pyrenaicus escalo-do-Sul Barbus comiza Barbus microcephalus Barbus sclateri /Barbus steindachneri Cyprinus carpio cumba barbo-de-cabeça-pequena barbo-do-Sul/Barbo-de-Steindachneri carpa Chondrostoma lemmingii boga-de-boca-arqueada Chondrostoma willkommii boga-do-Guadiana Carassius auratus bimpão Blennidae Salaria fluviatilis caboz-de-água-doce Poeciliidae Gambusia holbrooki gambusia Cobitidae Cobitis paludica verdemã Cichlidae Cichlasoma facetum chanchito RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________104 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) A importância de cada espécie em termos de percentagem de ocorrência está representada na figura 63. Percentagem de ocorrência 35 30 25 20 15 10 5 0 NI l.g m.s s.a s.p g.h c.p b.c b.m b.sc/st b.sp c.c c.f c.l c.w s.f c.a Figura 63 – Percentagem de ocorrência das espécies de peixes consumidas pela lontra (NI – peixes não identificados; l.g. Lepomis gibbosus; m.s. – Micropterus salmoides; s.a. – Squalius alburnoides; s.p. – Squalius pyrenaicus; g.h. - Gambusia holbrooki; c.p. - Cobitis paludica; b.c. - Barbus comiza; b.m. - Barbus microcephalus; b. sc/st. - Barbus sclateri/Barbus steindachneri; b.sp. – Barbus não identificados; c.c. - Cyprinus carpio; c. f. - Cichlasoma facetum; c.l. - Chondrostoma lemmingii; c.w. - Chondrostoma willkommii; s.f. - Salaria fluviatilis; c.a. - Carassius auratus. Nesta tabela, é possível verificar que a espécie mais consumida é a perca-sol(30,5%). Á excepção do bordalo (10,94%), as restantes especies representam menos de 10% de P.O. Dada a dificuldade de distinção das diferentes espécies de barbos, não só pela semelhança das suas peças osseas mas também pela ausência de peças diagnosticantes nos dejectos (só escamas), existe ainda uma percentagem importante de barbos não identificados. Assim, os barbos no seu conjunto representam igualmente uma importante fracção da dieta da lontra nas áreas amostradas. Das espécies consumidas, 6 são exóticas: perca-sol, achigã, carpa, pimpão, gambusia e chanchito. Na totalidade, estas espécies têm uma importância ligeiramente superior em termos de P.O. à das espécies nativas (Fig. 64). Percentagem de ocorrência 80 70 60 50 NI 40 Exóticas (6) 30 Nativas (10) 20 10 0 Fevereiro Abril Junho Agosto Outubro Total Figura 64 – Percentagens de ocorrência das espécies exóticas e nativas (NI – peixes não identificados; l.g. - Lepomis gibbosus; m.s. – Micropterus salmoides; s.a. – Squalius alburnoides; s.p. – Squalius pyrenaicus; g.h. - Gambusia holbrooki; c.p. - Cobitis paludica; b.c. - Barbus comiza; b.m. - Barbus microcephalus; b. sc/st. - Barbus sclateri/Barbus steindachneri; b.sp. – Barbus não identificados; c.c. - Cyprinus carpio; c. f. - Cichlasoma facetum; c.l. - Chondrostoma lemmingii; c.w. - Chondrostoma willkommii; s.f. Salaria fluviatilis; c.a. - Carassius auratus). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________105 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) No entanto, as espécies nativas adquirem uma importância nitidamente superior em Fevereiro e Abril, épocas que correspondem a períodos de recrutamento dos barbos e das bogas. Nesta altura, a disponibilidade destas espécies aumenta, bem como o seu consumo por parte da lontra, o que pode significar que, quando na presença de espécies exóticas e de autóctones em quantidades consideraveis, a lontra preferirá as autóctones, sem dúvida pela maior biomassa que fornecem (e.g. barbos e bogas) face à maioria das exóticas (e.g. perca-sol, gambuzia e chanchito) (ver outras considerações sobre a questão da biomassa mais abaixo). A proporção de exóticas/autóctones inverte-se à medida que a quantidade de água diminui, dada a maior adaptação das exóticas à seca. É ainda de salientar que é provável que a maioria dos indivíduos consumidos não identificados (NI) sejam ciprinídeos, o que implica que a importâncias das espécies autóctones seja ainda superior. Em termos de percentagem de biomassa, tal como já foi referido, os calculos foram efectuados para 4 das estações de amostragem e para o grupo dos peixes. Na figura 65 é feita a comparação entre a P.O. das espécies consumidas e a sua P. B. PO vs PB P.O. P.B. 45 40 35 30 25 20 15 10 5 G.h. S.a. C.c. S.p. C.w. C.a. B.st/sc B.m. B.c. C.p. M.s. L.g. 0 Figura 65 – Comparação entre a percentagem de ocorrência e a percentagem de biomassa da dieta da lontra(l.g. - Lepomis gibbosus; m.s. – Micropterus salmoides; s.a. – Squalius alburnoides; s.p. – Squalius pyrenaicus; g.h. - Gambusia holbrooki; c.p. Cobitis paludica; b.c. - Barbus comiza; b.m. - Barbus microcephalus; b. sc/st. - Barbus sclateri/Barbus steindachneri; b.sp. – Barbus não identificados; c.c. - Cyprinus carpio; c. f. - Cichlasoma facetum; c.l. - Chondrostoma lemmingii; c.w. - Chondrostoma willkommii; s.f. - Salaria fluviatilis; c.a. - Carassius auratus). A Família Cyprinidae foi a de consumo mais importante, representando 83,3%, logo seguida da Família Centrarchidae (16,3% de P.B.). Os barbos, barbo-de-Steindachneri e barbo-de-cabeça-pequena (39,9% e 33,7% de P.B.; 3,8% e 5,2% de P.O.), a perca-sol (11,7% de P.B.) e, em menor grau, o achigã (4,5% de P.B.), são as espécies mais importantes. É evidente a discrepância que existe entre a grandeza de biomassa que os barbos têm face à sua ocorrência, sendo o oposto com espécies como a perca-sol. Através destes valores é possível afirmar que, sobre uma perspectiva de interesse de qualidade de presas, as espécies autóctones assumem uma importância superior às exóticas, facto que sem uma análise da biomassa correspondente às diferentes espécies não seria perceptível. Finalmente, quando se compara a dieta com a disponibilidade de presas para os meses de Abril e Agosto RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________106 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) (correspondendo à época húmida e à época seca), é possível afirmar que existe um consumo que acompanha de alguma forma a disponibilidade de presas (Fig. 66). Abril Capturado Consumido 40 35 30 25 20 15 10 5 M.s. G.h. C.c. S.f. C.a. NI M.s. G.h. C.c. S.f. C.a. NI H.f. L.g. C.p. C.W. C.l. B.c. B.m. B.st/sc. B.sp. S.a. S.p. 0 Agosto Capturado Consumido 45 40 35 30 25 20 15 10 5 H.f. L.g. C.p. C.W. C.l. B.c. B.m. B.st/sc. B.sp. S.a. S.p. 0 Figura 66 – Comparação entre a percentagem de ocorrência de peixes consumidos e capturados para as amostragens de Abril e Agosto (L.g. - Lepomis gibbosus; M.s. – Micropterus salmoides; S.a. – Squalius alburnoides; S.p. – Squalius pyrenaicus; G.h. Gambusia holbrooki; C.p. - Cobitis paludica; B.c. - Barbus comiza; B.m. - Barbus microcephalus; B. sc/st. - Barbus sclateri/Barbus steindachneri; B.sp. – Barbus não identificados; C.c. - Cyprinus carpio; C.f. - Cichlasoma facetum; C.l. - Chondrostoma lemmingii; C.w. - Chondrostoma willkommii; S.f. - Salaria fluviatilis; C.a. - Carassius auratus). As principais espécies consumidas (P.O.) são precisamente as mais capturadas em ambos os meses (perca-sol e bordalo). A excepção é a gambusia, que no mês de Agosto foi capturada em elevada densidade, mas esta preponderância numérica não se traduziu no equivalente em termos de consumo. Este facto prende-se com a baixa biomassa que esta espécie representa, não sendo assim uma presa apetecível para a lontra. A diferença entre os barbos consumidos e capturados em Abril deverá ser explicada pela impossibilidade de identificação de um elevado número de indíviduos que são provavelmente ciprinideos (pela observação das vértebras partidas) e por isso com boas possibilidades de serem barbos ou bogas, aproximando o consumo da disponibilidade. Assim, é possível afirmar que a lontra se comporta como uma espécie oportunista, predando sobre as espécies mais disponíveis nos ambientes aquáticos, desde que estas tenham biomassa significativa. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________107 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 7.3. GATO-BRAVO 7.3.1. Metodologia 7.3.1.1. Estratégia pré-desmatação/desarborização Após a avaliação preliminar da situação da espécie na área de estudo (SANTOS-REIS et al. 2000) optou-se por uma prospecção a uma escala mais precisa, tendo como unidade de amostragem a quadrícula 2*2Km do sistema de projecção de GAUSS. A redução na escala de amostragem para 2*2Km teve como objectivos intensificar e dirigir a prospecção para as áreas favoráveis, de acordo com os requisitos da espécie (ver 2.3). Para tal foram seleccionadas apenas quadrículas que integravam mais de 40% de habitats considerados propícios à ocorrência da espécie - áreas florestadas com subcoberto, matagais, matos e olival selvagem (Fig. 67) tendo como base o mapeamento de ocupação do solo construído para o efeito (ver capítulo 5). Estes habitats foram seleccionados por estarem associados à presença da espécie, tal como o comprovaram os resultados obtidos no decurso do primeiro ano do projecto (SANTOS-REIS et al. 2000), os quais confirmaram, aliás, o já descrito bibliograficamente por outros autores (e.g. RAGNY 1981, DELIBES 1983, URRA 1998). Assim foram seleccionadas 69 quadrículas 2*2Km (38 no interior da área prevista para inundação e 31 na área exterior a esta), tendo estas sido amostradas com periodicidade semestral, excepto nas áreas previstas para desmatação e adjacentes onde a periodicidade foi inferior (Fig. 67). Para além destas, foram ainda incluídas 24 quadrículas complementares devido à presença de afloramentos rochosos (biótopos que se verificaram ser relevantes para a presença da espécie) e ao registo de observações directas de indivíduos. Em cada quadrícula foram prospectados caminhos pouco utilizados, trilhos e zonas rochosas ao longo dos vales de ribeiras. Esta estratégia mais direccionada permitiu uma prospecção mais exaustiva das áreas com maiores potencialidades para a ocorrência de gato-bravo, conduzindo a amostragem para locais onde a probabilidade de encontrar indícios de presença era mais elevada, como alguns afloramentos rochosos de acesso difícil, e que de outro modo não seriam visitados (Fig. 68). Como método complementar, procedeu-se a armadilhagem com vista à captura de alguns indivíduos de gato-bravo. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________108 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) N Matagal Matos Montado com subcoberto Olival selvagem Quadrículas prospectadas Cartas militares 1:25 000 Quadrículas GAUSS 2*2 Km Rios Área inundável Área de estudo 0 5 km Figura 67 – Habitat considerado favorável para o gato-bravo e representação espacial das quadrículas 2*2 Km seleccionadas para a prospecção de indícios de presença da espécie na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, na fase prédesmatação/desarborização. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________109 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Figura 68 – Afloramentos rochosos numa ribeira próxima do rio Guadiana. Pesquisa de indícios de presença A peculiaridade dos indícios de presença (pegadas, dejectos e latrinas) de gato-bravo permite o seu reconhecimento com relativa facilidade, ainda que os seus dejectos possam ocasionalmente, quando não apresentam a sua forma característica, ser confundidos com os de outros carnívoros de médio porte como o lince-Ibérico, o sacarrabos ou a raposa, espécies que também ocorrem na área de intervenção do projecto. Assim, os excrementos da espécie, com dimensões médias de 5 a 9cm de comprimento e 1,3 a 2cm de diâmetro (e.g. RODRÍGUEZ-PIÑERO 1996), apresentam uma forma cilíndrica, com estrangulamentos acentuados, que podem, por vezes, resultar na separação em vários troços (Fig. 69). Apresentam uma cor tipicamente negra, que se vai tornando mais clara à medida que o dejecto envelhece. Muito frequentemente o gato-bravo cobre os seus dejectos, parcial ou totalmente, factor que pode condicionar consideravelmente a sua descoberta. No entanto, em determinados caminhos e, sobretudo, na periferia do seu território, frequentemente utiliza-os como marcação olfactiva, e por isso mesmo, estes encontram-se a descoberto. A espécie pode também estabelecer latrinas (ROPER et al. 1993) (Fig. 69), com o mesmo propósito de demarcar os limites territoriais (e.g. RICHARDSON 1990, 1991, 1993). a) b) Figura 69 – Dejecto a) e latrina b) de gato-bravo encontradas, respectivamente, num vale de ribeira junto ao Rio Degebe) e numa ribeira adjacente ao Rio Guadiana. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________110 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Relativamente às suas pegadas, estas têm a forma característica dos felídeos, com 4 almofadas digitais arredondadas e uma almofada central (palmar/plantar) trilobada, sendo comum as unhas não aparecerem marcadas, por estarem retraídas durante o andamento. Este indício de presença é de todos o mais fiável, uma vez que as suas dimensões (em média com 4 a 4,5cm de comprimento e 4 a 4,2cm de largura – e.g. RODRÍGUEZ-PIÑERO 1996) são consideravelmente menores que as de lince (em média com 5,5cm de comprimento e 4,8cm de largura - RODRÍGUEZPIÑERO 1996) e maiores que as de um gato doméstico (cujo comprimento não ultrapassa os 3 - 3,5cm - RODRÍGUEZPIÑERO 1996) e, como tal, específicas da espécie. Contudo, em solos mais duros, a impressão destes vestígios ocorre numa frequência muito menor, constituindo também outro dos factores condicionantes para aferição da presença da espécie numa dada área. Entre estes solos figuram os litossolos esqueléticos (e.g. xistos), tipo de solo mais comum na globalidade da área de intervenção deste projecto, sendo identificados em quase metade da área, mais concretamente em 46,1% (33 415ha) (POAAP - FBO & CHIRON 2001). Armadilhagem O objectivo que fundamentou a aplicação desta técnica de amostragem foi o de confirmar inequivocamente a presença da espécie e ainda conhecer o padrão de utilização do tempo e do espaço, tendo em conta a escassez de dados existentes para o gato-bravo em Portugal, nomeadamente na região do Alentejo (PEREIRA et al. 2001). Mais ainda afigurou-se como prioritário a necessidade de obter informação sobre a eventual reacção da espécie (vias de dispersão, novas áreas de ocupação) aos trabalhos de desmatação e desarborização que decorreram, durante o ano de 2001 e parte de 2002, na área prevista para inundação. Sendo assim, a finalidade última foi a de maximizar as hipóteses de captura de indivíduos desta espécie para posterior radio-seguimento, obedecendo a metodologia de campo, nomeadamente a disposição das armadilhas no terreno, a esta lógica e não tendo como intuito tentar esclarecer outros parâmetros como seja a abundância e a riqueza específica da comunidade de carnívoros existente na área. A armadilhagem compreendeu três períodos decorridos de Março a Maio de 2001, em duas áreas próximas do Rio Degebe (carta 491). A selecção destas zonas justificou-se por, numa fase prévia do projecto, ter sido identificado na Bacia dos rios Degebe-Guadiana o núcleo populacional de gato-bravo mais importante na área cartográfica do regolfo de Alqueva e por ser uma das áreas sujeites às acções de desmatação/desarborização (Fig. 70). Figura 70 - Área onde decorreu uma das sessões de armadilhagem, próxima do Rio Degebe. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________111 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) A armadilhagem consistiu em sessões mensais com a duração média de 10 dias (algumas das armadilhas estiveram no terreno apenas 9 dias devido a condicionalismos de ordem prática, e.g. tempo disponível para montar todas as caixas no tempo útil de um dia, presença humana nos locais de armadilhagem). Em cada uma das áreas de amostragem as armadilhas, caixas colapsáveis de rede metálica de uma ou duas entradas, com 66x24x24 cm e 107x41x39 cm respectivamente (Tomahawk Life Trap Co. Modelos 205 e 208), foram dispostas em linha, com um espaçamento médio de 50 m, e num número que variou mensalmente entre 15 e 20. Para a sua colocação foram seleccionados vales de ribeiras pouco frequentados, dispondo-se as armadilhas, fundamentalmente ao longo das linhas de água (e.g. silvados) ou em zonas com vegetação arbustiva densa (matos). Teve-se ainda o cuidado de disfarçar as armadilhas com vegetação local, por forma a reduzir ao máximo a sua visibilidade. Este procedimento tinha por objectivo, tanto provocar o mínimo de alteração possível ao local, maximizando assim a probabilidade de captura, como evitar o seu furto. Todas as armadilhas eram verificadas ao princípio da manhã e iscadas com sardinhas em óleo, “miúdos” de frango e ocasionalmente pombos ou ratazanas, estas últimas apanhadas nas caixas em noites anteriores. O tipo de isco usado servia não só de atractivo, através do odor, como para despertar a atenção do predador através do barulho emitido pelos pombos e pelas ratazanas, uma vez que no gato-bravo, de entre todos os sentidos, destaca-se a audição estando o seu ouvido adaptado para captar os sons de alta frequência produzido pelos roedores (RODRÍGUEZ-PIÑERO 1996). Sempre que necessário o isco era renovado. No total realizaram-se 523 noites-armadilha e todos os carnívoros capturados, independentemente da espécie, foram sujeitos ao procedimento de anestesia e manuseamento, de acordo com o protocolo descrito previamente (ver pág. 39), sendo a unidade noite-armadilha definida como a disponibilidade de uma caixa para a captura de um carnívoro durante uma noite (POUNDS 1981). Os animais foram libertados no mesmo local em que foram capturados, logo após a total recuperação do efeito do anestésico. Os dados referentes às capturas foram analisados em termos de número de capturas e esforço de captura, definido como as noites-armadilha necessárias para capturar um indivíduo da espécie em estudo, o que significa que no respectivo cálculo não são consideradas as caixas encontradas fechadas mas vazias, nem as que efectuaram capturas de outras espécies que não a espécies-alvo (POUNDS 1981). 7.3.1.2. Estratégia pós-desmatação/desarborização De modo a avaliar o efeito do processo de desmatação/desarborização nos núcleos populacionais de gato-bravo identificados, todas as latrinas detectadas na fase pré-desmatação/desarborização na área cartográfica do regolfo de Alqueva, foram revisitadas com uma periodicidade trimestral, com o objectivo de monitorizar a presença da espécie nesta zona e obter alguma informação sobre a reacção do felídeo aos trabalhos de intervenção na área prevista para inundação. Complementarmente, a maioria dos dejectos observados no decurso das prospecções no terreno foram recolhidos para posterior análise no laboratório, tendo em vista o estudo do regime alimentar da espécie (PEREIRA et al. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________112 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 2001). Alguns destes dejectos foram utilizados para recolha de amostras para futura análise genética com vista à confirmação da sua identidade específica através de técnicas moleculares (HÖSS et al. 1992, KOHN & WAYNE 1997, BEAUMONT et al. 2001). Esta estratégia prolongou-se pela fase de enchimento. As quadrículas que haviam sido seleccionadas para prospecção, na fase de pré-desmatação, e que foram entretanto desmatadas/desarborizadas, foram sendo substituídas por quadrículas adjacentes dominadas por habitat favorável de modo a monitorizar eventuais alterações espaciais dos locais de marcação (latrinas). Assim, as quadrículas alvo de monitorização após a desmatação/desarborização e inundação foram 22, correspondendo estas a áreas para onde seria previsível o deslocamento de indivíduos a partir dos locais de maior perturbação, consequência das acções acima referidas (Fig. 71). N Quadrículas prospectadas Quadrículas não prospectadas Cartas militares 1:25 000 Quadrículas GAUSS 2*2 Km Rios Área inundável 0 5 km Figura 71 - Representação espacial das quadrículas 2*2 Km seleccionadas para a prospecção de indícios de gato-bravo na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, na fase pós-desmatação/desarborização. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________113 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Em 2003 prosseguiu a monitorização nas 11 cartas abrangidas pela área de influência directa do regolfo de Alqueva (ver Fig. 3). Esta consistiu na intensificação dos esforços de prospecção nas áreas adjacentes às zonas desmatadas/desarborizadas e inundadas, e onde potencialmente seria previsível a ocorrência de gato-bravo. Para a delineação da estratégia de amostragem foram tidos em conta os modelos probabilísticos elaborados para prever a ocorrência de gato-bravo (Fig. 78) e de coelho-bravo (Fig. 10) nas 11 cartas prioritárias. No entanto, após as acções de desmatação/desarborização as áreas favoráveis para gato-bravo reduziram-se significativamente, sendo as zonas anexas ao núcleo Monsaraz-Azevel as únicas que apresentavam condições para albergar os indivíduos que muito provavelmente ocupariam as áreas agora inundadas. Assim, após a identificação dessas áreas, foi feito um investimento acrescido nas mesmas de forma a confirmar e avaliar o seu grau de adequabilidade para o gato-bravo. Paralelamente prosseguiu-se a avaliação da abundância de coelho, mas desta vez para uma área mais restrita (cartas militares 472, 473 e 474) e exterior mas adjacente à área definida contratualmente. O investimento numa área mais reduzida, justificou-se pela importância da mesma para o gato-bravo, de acordo com a sua localização, aparente abundância de coelho e adequabilidade do habitat. Esta opção foi reforçada pelo facto de o modelo probabilístico prever uma continuação de valores elevados de probabilidade de ocorrência de gato-bravo (Fig. 65) para esta área. Assim em 2003 foram concretizados os seguintes objectivos específicos: mapeamento da ocupação do solo e avaliação da abundância relativa de coelho-bravo e da distribuição de gato-bravo na área correspondente às cartas 472, 473 e 474. 7.3.2. Resultados e discussão 7.3.2.1. Evolução do padrão de distribuição FASE PRÉ-DESMATAÇÃO/DESARBORIZAÇÃO A cartografia da distribuição resultante do primeiro ano de trabalhos (1999) relativa às quadrículas 5*5 Km foi actualizada com as presenças resultantes das prospecções das quadrículas 2*2 Km e ainda com os registos de observações directas efectuadas ao acaso. Na fase de pré-desmatação/desarborização, para o total da área cartográfica de intervenção do projecto, foram encontrados 45 indícios de presença de gato-bravo (30 dejectos isolados e 15 latrinas), e efectuadas 3 observações directas de indivíduos de adultos (Tab. 23) (Fig. 72) (Anexo V). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________114 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Tabela 23– Localização, tipo e número de indícios de gato-bravo encontrados na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva na fase de pré-desmatação/desarborização. Carta Militar n.º indício e Tipo 501 1 dejecto 491 5 latrina, 8 dejectos 492 1 latrina, 2 dejectos 482 3 latrina, 1 dejecto 483 2 latrina, 4 dejectos, 1 observação 481 1latrina, 2dejecto, 1observação 474 3 latrina, 4 dejecto, 1 observações 463 1dejecto 452 3 dejectos 441 4 dejectos # S N # S # S# S Indícios de presença # Dejecto % Latrina & Observação # S Presença de gato-bravo Ausência de gato-bravo Quadrículas não prospectadas # S Núcleos populacionais de gato-bravo Cartas militares 1: 25 000 Quadrículas GAUSS 2*2 Km Rios Área inundável %# U # S# U % S S # S % U U % U % V & # S # S U % # S% U # # SS # S % U # S S #% U # S S ## S V & # S U %% U U % 0 5 km # S Figura 72 - Mapeamento da ocorrência de gato-bravo na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva e delimitação dos principais núcleos de ocorrência, na fase de pré-desmatação/desarborização. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________115 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) É ainda de referir que, em 15 de Novembro de 2001, foi encontrado um gato-bravo morto por atropelamento5 (Fig. 73) numa zona adjacente à área de estudo (aproximadamente a 5,5km), próxima do Rio Degebe, distando aquele local apenas cerca de 7,5km do registo mais próximo de presença de gato-bravo. Figura 73 - Gato-bravo encontrado morto por atropelamento numa zona adjacente à área de estudo (próxima do rio Degebe) Verificou-se assim que a metodologia iniciada em Janeiro de 2000 (2ª fase), baseada numa amostragem mais dirigida e adequada para a prospecção de indícios de presença de gato-bravo (realizada apenas nas quadrículas que apresentavam mais de 40% de habitat favorável), e estratificada (nas áreas com maiores potencialidades à ocorrência da espécie a prospecção foi feita à escala 2*2 Km), revelou-se substancialmente mais eficaz na obtenção de dados relativos à espécie, dado o elevado acréscimo (87,3%) de indícios detectados relativamente ao sucedido em 1999, onde apenas tinham sido detectados 8 dejectos e efectuada uma observação directa. É de salientar a importância de terem sido detectadas latrinas de gato-bravo (Fig. 69), facto que se reveste de um interesse acrescido por ser um bom indicador da ocorrência regular da espécie na zona. De facto, à semelhança de outras espécies de carnívoros, o gato-bravo deposita os seus dejectos em locais específicos designados por latrinas (ROPER et al. 1993), assumindo esta uma importância particular, pois funcionam como locais de troca de informação, orientação e familiarização com a sua área vital (e.g. CLAPPERTON 1989), cumprindo igualmente uma importante função territorial como locais de marcação (e.g. BEARDER & RANDALL 1978, RICHARDSON 1990, 1991, 1993). 5 Sexo do indivíduo: macho; Medidas corporais (em kg e cm): peso- 4; comprimento total- 79,5; comprimento da cauda- 27,3; comprimento / largura do crânionão foram tiradas estas medidas pois este apresentava-se desfeito; altura ao garrote- 28; perímetro do pescoço- 19,2; comprimento / largura da pata anterior esquerda - 7,4 / 4,3; comprimento / largura da pata posterior esquerda- 11,8 / 4,5; altura do membro posterior esquerdo- 32; comprimento / largura da orelha- 5,9 / 4,2; comprimento / largura da almofada anterior esquerda- 3,3 / 3,3; comprimento / largura da almofada posterior esquerda- 3,5 / 3,8; comprimento / largura do canino superior- 0,103 / 0,42; comprimento / largura do canino inferior- 0,96 / 0, 36; Descrição da pelagem: n.º de bandas negras caudais- 2 completas muito nítidas, 1 completa nítida e 2 incompletas, todas não fundidas; n.º de riscas da face- 2; n.º de riscas do corpo- 8; manchas negras no calcanhar- em toda a face posterior do metatarso; manchas brancas inguinais- 1 à volta do anus, manchas brancas torácicas- não apresentava; mancha jugular- sim; manchas negras dos membros anteriores- completas muito nítidas e fundidas posteriormente; manchas negras dos membros posteriores- completas, mas menos nítidas e não fundidas. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________116 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) As latrinas encontradas situam-se frequentemente em linhas de água de vales encaixados (89% das vezes), normalmente em afloramentos rochosos, dos quais destacamos os vales dos rios Guadiana, Degebe, bem como os das ribeiras do Alcarrache e Azevel que, pelas suas características topográficas e florísticas, se tornam particularmente importantes à ocorrência do felídeo (Fig. 74). De facto, estes biótopos apresentam na maioria dos casos uma elevada disponibilidade de abrigos (e.g. silvados, matos e/ou matagais densos) e estão sujeites a uma perturbação reduzida ou nula (Fig. 75). a) b) c) Figuras 74 - a) Vales dos rios Guadiana, b) Alcarrache e c) Degebe, respectivamente. a) b) c) Figuras 75 - Pormenores da estrutura dos habitats associados aos rios a) Guadiana, b) Alcarrache e c) Degebe. A estreita associação da espécie aos vales das ribeiras e rios, indicia uma elevada vulnerabilidade já que, no caso da futura área de regolfo, se tratam das zonas mais afectadas com os impactes induzidos pelo Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva: numa primeira fase com a desmatação e desarborização, e posteriormente com o subsequente alagamento. De facto, dos 42 indícios de gato-bravo detectados na área cartográfica do regolfo, 16 (38,10%) estão incluídos na área intervencionada até à cota 139 (1ª fase do Plano de desarborização/desmatação). Ainda que este número duplique para 23 (54,76%) à cota 152 (2ª fase do Plano de desarborização/desmatação), esta situação ilustra a vulnerabilidade da espécie na área. Assim, com a execução da desmatação/desarborização até à cota 152m, há um incremento de 16,66% no número de indícios afectados pelo Empreendimento de Alqueva. Se esta percentagem pode à partida não parecer significativa, há que ter em conta que com a 2ª fase do Plano de desmatação/desarborização até à cota 152 m ocorreu a destruição de mais 7000 ha (47,62%) de área favorável à ocorrência de gato-bravo relativamente àquela que foi destruída na 1ª fase do Plano de desmatação/desarborização. Fazendo uma análise RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________117 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) quantitativa e qualitativa dos impactes gerados pela implementação do Plano de desmatação/desarborização da albufeira de Alqueva , verifica-se que na 1ª fase a área afectada corresponde a 11 900ha em que 7 700ha (65%) é área favorável à ocorrência de gato-bravo e, à cota 152m a área de regolfo será de 24 600ha em que 14 700ha (60%) é área favorável para o felídeo (Tab. 24). Tabela 24 – Dimensão da área de estudo e das áreas favoráveis à ocorrência do gato-bravo às duas cotas de enchimento da barragem de Alqueva. Área de Estudo (ha) Cota 152m (ha) Cota 139m (ha) Área ocupada pelo regolfo 264 100 24 600 11 900 Área favorável para gato-bravo 110 800 14 700 7 700 42 60 65 % de área favorável Ainda que as evidências da espécie se distribuam pela generalidade da área de estudo (Fig. 72), uma vez que em apenas 9,09% (n=1) das cartas não foi detectado nenhum indício da sua ocorrência, é de destacar o relativamente reduzido número de ocorrências, face ao enorme esforço de amostragem desenvolvido no terreno (tanto em termos espaciais como temporais), e a sua concentração num número restrito de áreas que foram, até prova em contrário, consideradas como ocupadas por diferentes núcleos populacionais (Fig. 72). Foram assim considerados 2 núcleos principais de ocorrência, definidos ( e à semelhança do referido para o toirão) (ver pág. 48) com recurso ao método de Kernel (WORTON 1989) a 50%: Bacia do Degebe-Guadiana e Monsaraz-Ribeira do Azevel (Fig. 72). De destacar que as duas únicas observações directas efectuadas correspondem aos 2 núcleos designados como principais, e que o atropelamento observado, ainda que situando-se fora dos limites da área de estudo, ocorreu a uma distância suficientemente próxima para ser considerado como pertencente ao núcleo do rio Degebe (Fig. 72). Foi ainda delimitado um terceiro núcleo principal de ocorrência, o da Bacia de Alcarrache-Guadelim, que, apesar de não ter sido definido com base no referido método, se apresenta como muito importante devido à sua localização espacial, que traduz uma importante ligação aos outros dois núcleos. Para além disso, este núcleo encontra-se numa mancha de habitat bastante favorável para a espécie devido à presença de afloramentos rochosos e a uma elevada probabilidade de ocorrência de coelho-bravo (Fig. 9). O núcleo da Bacia do Degebe-Guadiana aparece como o núcleo mais importante por ser aquele que concentra um número maior de indícios de presença da espécie (n=16), nomeadamente latrinas6 (n=9), sendo o principal motivo para esta ocorrência as excelentes condições de refúgio que este vale proporciona e a sua proximidade a zonas com elevada abundância de coelho-bravo (Fig. 7). Em inúmeras zonas, o vale da Bacia do Guadiana-Degebe apresenta-se bastante encaixado, com importantes formações rochosas e, antes de se iniciarem os trabalhos de desmatação/desarborização, com uma perturbação muito reduzida (note-se que a 6 Apesar do rio Guadiana permanecer intransponível durante parte do ano (Outono e Inverno), não deverá constituir uma barreira à dispersão da espécie durante a estação seca (Primavera e Verão), pelo que as latrinas encontradas em ambas as margens muito provavelmente pertencem aos mesmos indivíduos. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________118 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) totalidade dos indícios encontrados na área cartográfica do regolfo se referem ao ano 2000, portanto, numa fase prédesmatação/desarborização). Da análise das figuras 67 e 72 verifica-se que as presenças confirmadas da espécie se situam nos habitats favoráveis para a sua ocorrência. Apresentando os resultados por quadrícula 5*5Km, unidade cartográfica habitualmente utilizada ao nível regional para mapeamento da distribuição das espécies, das 184 quadrículas que compõem a área de estudo, apenas 30 se revelaram positivas, correspondendo apenas a 16,03% da área (Fig. 72). Assim, é possível considerar que a distribuição do gato-bravo na zona de intervenção deste projecto se apresenta em regressão perspectivando um cenário de fragmentação. Em suma, podemos concluir que o padrão de distribuição obtido para o gato-bravo na área de estudo reflecte, de certo modo, a reduzida adequabilidade da área para a espécie, facto aliás já indiciado (e oportunamente referido) pela análise do mapeamento da cobertura do solo (ver cap. 4.3). FASE PÓS DESMATAÇÃO/DESARBORIZAÇÃO Na fase pós-desmatação/desarborização a monitorização das latrinas foi um aspecto fundamental na avaliação do impacte deste processo destrutivo nos núcleos principais de ocorrência até então identificados (Figura 59). Assim, na fase de pós-desmatação/desarborização, para o total da área cartográfica de intervenção do projecto, foram apenas encontrados 5 indícios de presença de gato-bravo (5 dejectos isolados) e efectuadas 2 observações directas de indivíduos de adultos (Tab. 25, Fig. 76, Anexo V). Tabela 25 – Localização, tipo e número de indícios de gato-bravo encontrados na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva na fase de pós-desmatação/desarborização. Carta Militar n.º indício e Tipo 501 2 dejectos 490 1 dejecto 474 2 dejecto, 2 observações Relativamente às visitas trimestrais efectuadas às latrinas de gato-bravo encontradas durante o ano 2000 na área cartográfica do regolfo de Alqueva (n=15), apenas 13 foram alvo de monitorização, por motivos de ordem prática, nomeadamente constrangimentos temporais para realizar todo o trabalho planeado para 2000. Verificou-se então que a maioria destas foi abandonada, tendo-se mantido activas apenas 3 latrinas (todas estas localizadas na Bacia do Degebe-Guadiana). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________119 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) N Indícios de presença # Dejecto Presença de gato-bravo Ausência de gato-bravo # S ## S S Quadrículas não prospectadas Cartas militares 1: 25 000 # S S # S# # S ## S S S # # S Quadrículas GAUSS 2*2 Km Rios Área inundável # S # S # S 0 5 km Figura 76 - Mapeamento de ocorrência de gato-bravo na área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva, na fase pós-desmatação/desarborização. Das 9 latrinas que compunham o núcleo da Bacia do Degebe-Guadiana, somente uma continuou a ser regularmente usada, tendo sempre apresentado dejectos em todas as revisitações (a última realizada em Outubro de 2000, mês em que se iniciaram os trabalhos de desmatação e desarborização) muito embora o número destes indícios fosse decrescendo ao longo do tempo, provavelmente reflexo da perturbação causada pelas desmatações efectuadas pelo proprietário da herdade. Esta latrina localizava-se muito próxima de outras 3 que em conjunto parecem constituir um complexo, pelo que se conclui ser o referido local uma zona de elevada importância no território de 1 ou mais indivíduos da espécie. É pois muito provável que a latrina em causa constituísse o local principal de marcação, enquanto que as outras 3, seriam apenas locais temporários de demarcação territorial, facto que parece sugerir a rotatividade destes sítios. Seria então de esperar que, novas prospecção do local em outras áreas próximas tivessem permitido detectar novas latrinas, o que de facto não se veio a verificar. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________120 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Ainda neste núcleo, 3 outras latrinas que também pareciam constituir um complexo (uma vez mais devido à sua proximidade) deixaram de ser usadas 2 meses após a sua descoberta (meados de Março de 2000), facto a que não será alheio a política de abate indiscriminado de todos predadores levada a cabo na herdade onde se localizavam estes indícios (com. pess. do guarda da zona de caça). Este complexo foi o que contribuiu com o maior número de dejectos encontrado em toda a área de ocorrência do gato-bravo, num total de 105. Para além disso, numa zona próxima aos locais de deposição dos dejectos foram encontrados restos de cabras que aparentavam ter sido comidas, o que vem fortalecer a ideia de se tratar de um local de elevada importância estratégica para a espécie. Embora não tenha sido possível confirmar a ocorrência de reprodução efectiva de gato-bravo na área de intervenção do projecto, algumas evidências são merecedoras de algumas considerações. De facto, a presença de complexos de latrinas, e o seu padrão de utilização, e as potencialidades de abrigo, poderão indiciar a importância dos locais para a reprodução da espécie. Se analisarmos os parâmetros atrás referidos, verifica-se que os dois complexos de latrinas encontrados parecem sustentar a hipótese atrás referida. Esta é suportada pelos seguintes factos: utilização regular, deposição regular de grande quantidade de dejectos, presença regular de restos de presas e ocorrência na Primavera de dejectos de dimensões mais reduzidas. Relativamente às 3 latrinas que foram efectivamente alvo de monitorização no decurso do ano 2001, confirmou-se que duas destas deixaram de ser usadas logo após as acções de desmatação e desarborização das zonas onde se encontravam, não se tendo registado a deposição de novos dejectos até ao momento, sugerindo deste modo o seu abandono efectivo. Em 2002, nas quadrículas 2*2 Km alvo de prospecção, somente se encontraram dejectos no núcleo de Monsaraz, embora as latrinas desta zona não tenham sido utilizadas até ao momento (Fig. 76). Assim, é possível considerar que a distribuição do gato-bravo na zona de intervenção deste projecto, foi fortemente afectada com os processos de desmatação e desarborização, indiciando um cenário de extinção local dos núcleos populacionais identificados, como consequência dos impactes das intervenções acima referidas (Fig. 77). Figura 77 – Área desmatada e desarborizada ao longo da ribeira do Zebro. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________121 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Relativamente à campanha de armadilhagem levada a efeito na tentativa de captura de indivíduos de gato-bravo em duas áreas próximas do Rio Degebe, os resultados encontram-se expressos na tabela 24. De um total de 523 noites-armadilha resultaram as capturas de 3 sacarrabos, 3 genetas e 2 raposas, não tendo sido capturado nenhum gato-bravo. Tabela 26- Períodos de amostragem, noites-armadilha, capturas e esforço de captura por área de amostragem e no total (N.A. – Noites-armadilha; H.i. – sacarrabos; G.g. – geneta; V.v. – raposa). Área Área 1 Área 1 Área 2 TOTAL Margem esquerda do Degebe (quadrícula 491G) Margem esquerda do Degebe (quadrícula 491G) Margem esquerda do Degebe (quadrícula 491B) Capturas Esforço (n.º indivíduos) de captura Período de amostragem N.A H.i. G.g. V.v. H.i. G.g. V.v. 05 a 15 de Março de 2001 181 1 0 0 181 ---- ---- 03 a 13 de Abril de 2001 192 0 3 0 ---- 64 22 de Maio a 1 de Junho 150 2 0 2 74 ---- 523 3 3 2 74 162, 7 162,7 243,5 Ambas as áreas de armadilhagem referem-se à margem esquerda do Rio Degebe, a área 1 abrangendo a zona onde foi detectado um dos complexos de latrinas e a área 2 uma zona de habitat muito favorável à ocorrência da espécie pela existência de matagais densos e vales de ribeiras com importantes formações rochosas. Assim, do esforço despendido não resultou qualquer captura de indivíduos da espécie alvo, pelo que esta estratégia de amostragem se revelou ineficaz na concretização dos objectivos propostos (ver 7.3.1.2.). Os resultados poderão ser explicados por vários factores, quer relacionados com aspectos da biologia e ecologia do gato-bravo, quer com aspectos relativos à estratégia adoptada, bem como às condições encontradas no local de armadilhagem, muito embora se admita a hipótese de ter havido várias outras causas a actuar. Se atendermos ao período reprodutor referido para o gato-bravo no Sul da Península Ibérica (entrada em cio em meados de Janeiro, prolongando-se este até ao final de Fevereiro (e.g. RODRÍGUEZ-PIÑERO 1996) após o que, passado um período de cerca de 65 dias de gestação, nascem entre uma a sete crias (e.g. RODRÍGUEZ-PIÑERO 1996, BLANCO 1998), então verifica-se um desfasamento entre a altura do ano em que as armadilhas estiveram colocadas no terreno e a época em que os machos efectuam deslocamentos consideravelmente maiores, alargando o seu território na procura de fêmeas receptivas (época do cio). Na realidade, a armadilhagem coincidiu precisamente com o período em que as fêmeas prestam cuidados parentais e por isso mesmo também estas executam deslocamentos bastante menores nesta fase. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________122 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Por outro lado, tal como já foi referido (ver cap. 7.3.1.2.), a disposição das caixas no terreno fez-se de uma forma muito concentrada, pois o objectivo era o de maximizar a captura de indivíduos que ocorressem na zona para acompanhar a sua reacção ao processo de desmatação/desarborização e enchimento. Daí resultou uma rede de armadilhas pouco extensa, o que se por um lado aumentava a probabilidade de captura (na área 1, as evidências apontavam para que, pelo menos, um gato-bravo utilizava a zona com muita regularidade), por outro, limitou o seu raio de acção pois abrangeu um espaço de dimensões muito reduzidas. Para além disso, há que ter em conta que, devido a vários condicionalismos de ordem prática (e.g. tempo reduzido para cumprir todos os objectivos propostos para 2001, número reduzido de pessoas envolvidas na campanha) o número de armadilhas colocadas foi relativamente diminuto (apenas entre 15 a 20 caixas por sessão). Estes factores aliados à, muito provável, baixa densidade do felídeo na área de intervenção do projecto (os resultados obtidos relativos ao padrão de distribuição e abundância relativa do gatobravo parecem-no evidenciar (Fig. 72), terão contribuído para o insucesso desta técnica de amostragem. A maior abundância de espécies de carnívoros de hábitos reconhecidamente generalistas, como é o caso da raposa (MACDONALD 1983, ABREU 1993), da geneta (PALOMARES & DELIBES 1991a, 1991b, ABREU 1993, FERREIRA 1997, ROSALINO & SANTOS-REIS 2002) e do sacarrabos (PALOMARES & DELIBES 1991b, 1991c, CLAMOTE 1997), é outro dos factores a ter em conta já que a sua captura diminuiu ainda mais a probabilidades de captura da espécie-alvo ao reduzir o número de noites/armadilha disponíveis para o efeito. Finalmente, há que referir o factor perturbação ocorrido nos locais de armadilhagem resultante de actividades humanas, e ao qual o gato-bravo parece ser bastante susceptível (e.g. MAGALHÃES & PALMA 1985, LIBOIS 1992, PUZACHENKO 1992, BLANCO 1998). Na área 1, sensivelmente duas semanas antes de se iniciarem as capturas foram realizadas desmatações pontuais em zonas próximas do local de armadilhagem, o que muito provavelmente terá contribuído para o menor uso da área ou até mesmo o abandono temporário desta pelos indivíduos da espécie. Na área 2, o corte de árvores levado a cabo pela Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva numa zona muito próxima, terá de alguma forma influenciado os resultados obtidos. Em conclusão, parecem terem sido vários os factores que influenciaram o abandono dos locais de marcação por indivíduos da espécie, sendo a perturbação de todos o mais prejudicial, podendo mesmo conduzir ao afastamento e/ou desaparecimento do gato-bravo das zonas afectadas. No entanto, é de salientar o desaparecimento das áreas de maior adequabilidade, como consequência da destruição e submersão dos habitats favoráveis situados na área de regolfo. 7.3.2.2. Modelo preditivo de distribuição espacial Selecção de variáveis para inclusão no modelo Os resultados da análise, a que foram submetidas todas as variáveis ambientais encontram-se no Anexo VII. Verifica-se que, das 40 variáveis independentes iniciais, 15 revelaram algum nível de associação à ocorrência de gatoRELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________123 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) bravo. Uma vez que, de entre estas, não se observou nenhum par com um nível de correlação significativo e demasiado elevado (rS ≥0,7), todas foram usadas na análise multivariada subsequente. Previamente à construção do modelo, todas as variáveis contínuas seleccionadas foram reduzidas a classes (Anexo III), resultando num conjunto de 33 parâmetros que serviram de base à regressão logística múltipla (Tab. 27). Tabela 27 – Variáveis seleccionadas para a análise multivariada (p<0,05) no modelo de regressão logística para o gato-bravo. Distância aos rios de ordem 12 Percentagem de biótopos fechados Percentagem de estepes Percentagem de intervenção humana Presença de afloramentos rochosos Densidade de zonas urbanas Presença de aglomerados de pedras Área de Regime Cinegética Turística Área de Regime Cinegética Especial Distância às estradas principais Percentagem de matagais Densidade das estradas Percentagem de eucaliptal/pinhal Presença de coelho-bravo Índice da forma das manchas N.º latrinas de coelho-bravo por m2 O modelo de regressão logística construído com as variáveis incluídas e os respectivos os coeficientes, erros padrão, significância do teste de Wald e Odds ratio está expresso na tabela 28. Entre as variáveis seleccionadas para inclusão no modelo, não foi encontrada nenhuma interacção que optimizasse o mesmo. A equação do modelo final consistiu em 7 parâmetros (excluindo a constante), denotando uma importante simplificação relativamente ao conjunto de variáveis inicial. O conjunto de variáveis ambientais que melhor prevê a ocorrência de gato-bravo na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva são então, pela positiva, a densidade de latrinas de coelho-bravo e a presença de aglomerados de pedra, e, pela negativa, a área de todas as zonas de caça e a ocorrência de áreas florestadas por exóticas (i.e. eucaliptal e/ou pinhal). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________124 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Tabela 28 – Variáveis seleccionadas para o modelo de regressão logística e mapeamento da probabilidade de ocorrência do gato-bravo na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva, e respectivos coeficientes (β) e desvios padrão (S.E.(β)), estatística de Wald (Wald), graus de liberdade (g.l.), significância do teste de Wald (Wald (P)) e Odds ratio (ψ). VARIÁVEIS β S.E.(β) Coelho_latrinas_2x2km Wald Wald g.l. 6,941 2 0,031 (P) ψ Coelho_latrinas_2x2km [0.001-0.01 lat/m2[ 1,080 0,636 2,879 1 0,090 2,944 Coelho_latrinas_2x2km [0.01-0.13 lat/m2[ 1,858 0,707 6,912 1 0,009 6,412 7,469 3 0,058 Área de todas as zonas de caça Área de todas as zonas de caça [1-500 mil m2[ -1,585 1,176 1,813 1 0,178 0,205 Área de todas as zonas de caça [500 mil-1 milhão m2[ 0,033 0,960 0,001 1 0,973 1,033 Área de todas as zonas de caça [1 milhão m2] 0,848 0,900 0,886 1 0,347 2,334 Presença/ausência de eucaliptal/pinhal -1,312 0,633 4,296 1 0,038 0,269 Aglomerados de pedra 2,654 1,083 6,001 1 0,014 14,207 Constante -1,451 0,963 2,271 1 0,132 0,234 Avaliação da qualidade de ajustamento do modelo O ponto de corte, que apresenta o melhor equilíbrio entre os erros e as classificações correcta em relação às presenças, é de 0,4. A partir de 40% de probabilidade de ocorrência da espécie o modelo considera a sua presença. O modelo classificou correctamente 80% das presenças e 67% das ausências. Verifica-se, portanto, que em 33% das quadrículas onde não haviam sido encontrados quaisquer indícios de ocorrência de gato-bravo, o modelo prevê a presença da espécie, enquanto em 20% dos casos em que havia sido confirmada a sua ocorrência durante os trabalhos de campo, o modelo considera a sua ausência. Ou seja, o modelo construído incorre mais frequentemente no erro de Tipo I. Assim, sucede que, em algumas quadrículas, apesar de estarem presentes os requisitos favoráveis à ocorrência de gato-bravo (existência de aglomerados de pedra e grande abundância de coelho-bravo, para enumerar as que têm os maiores valores de odds ratio), não foram encontrados quaisquer indícios deste carnívoro durante as prospecções efectuadas. Este facto parece indicar que, para além destas duas variáveis, que são efectivamente importantes para a ocorrência de gato-bravo, existirá(ão) mais alguma(s) com uma influência igualmente significativa mas que não foram incluídas na construção do presente modelo. Por exemplo, variáveis que actuam muito directamente sobre a ocorrência do gato-bravo, como sejam as acções de controlo de predadores que, ao abrigo da Lei da Caça (Artigo n.º 109 do decreto-lei n.º 227 – B/2000 de 15 de Setembro), não contemplam o gato-bravo, sendo como tal ilegais e de quantificação impossível. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________125 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Por sua vez, a taxa de classificação correcta média de 72% permite-nos considerar com alguma segurança que se trata de um modelo que traduz satisfatoriamente os dados reais. A confirmação de estarmos perante um ajustamento significativo à informação real advém-nos do Teste χ2 de Pearson, uma vez que o valor de X2 calculado é 97,904 (p=0,24). No entanto a qualidade do ajustamento ainda se afasta do resultado ideal que deveria corresponder a uma probabilidade tão próxima quanto possível de 1 (ajuste máximo). Este resultado significa que a inclusão de outras variáveis não consideradas poderia vir a optimizar o modelo. Para tal, contudo, torna-se necessário um melhor conhecimento da biologia e ecologia da espécie na área de estudo. Interpretação dos coeficientes do modelo Perante os resultados da avaliação da qualidade do modelo construído, procedemos à interpretação dos seus coeficientes (Tab. 28). Assim, observa-se efectivamente uma influência muito marcada de determinadas variáveis sobre a ocorrência de gato-bravo: este carnívoro encontra-se presente 14,2 vezes mais frequentemente nas quadrículas 1*1Km onde existam aglomerados de pedra e 6,4 vezes mais nas quadrículas com a maior abundância relativa de coelho-bravo; relativamente à caça, a influência é mais marcada quando a ocupação por todas as zonas de caça é máxima; finalmente, a presença de gato-bravo é ligeiramente desfavorecida nas áreas cobertas por floresta de produção (a espécie ocorre 0,3 vezes menos vezes nesses locais). É notória a importância da presença do coelho-bravo para a ocorrência do gato-bravo. Os aglomerados de pedra haviam já sido a variável que mais contribuiu para a ocorrência de coelho-bravo (ver 6.2.2 e Tab. 4), pois constituem bons locais de abrigo para este lagomorfo. Assim, esta componente do habitat situa-se no cruzamento entre os requisitos de alimento e abrigo para o gato-bravo, já que o facto de os aglomerados de pedra se encontrarem quase sempre sob árvores (azinheira, zambujeiro) e entre arbustos desenvolvidos (silvas, aroeira Pistaccia lentiscus, carrasco) os potencia como pontos onde o gato-bravo se poderá refugiar para além de aí encontrar alimento em abundância. A sua importância como locais de abrigo aumenta pelo facto de os aglomerados de pedra se encontrarem fortemente associados a biótopos abertos. De referir ainda que a variável presença/ausência de coelho-bravo não foi seleccionada para o modelo final, apesar de se reportar a uma escala de resolução mais fina (quadrículas 1*1Km). Este facto parece significar que para o gato-bravo não é suficiente que exista coelho, mas que este ocorra num determinado nível de abundância, aproximando-se, por isso, de um comportamento mais especialista em relação a esta presa, como fazia prever a análise da sua dieta realizada no âmbito dos estudos da Biologia e Ecologia da espécie na área de intervenção do Empreendimento Fins Múltiplos de Alqueva (PEREIRA et al. 2001). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________126 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Mapeamento da distribuição potencial do gato-bravo A figura 78 apresenta os níveis de probabilidade de ocorrência do gato-bravo estimados pelo modelo de regressão logística e faz transparecer um padrão de adequabilidade heterogéneo, com tendência para a fragmentação, que corresponde ao resultado obtido relativamente à ocorrência real da espécie. N Probabilidade de ocorrência de gato-bravo 0%-20% 20%-40% 40%-60% 60%-80% 80%-100% Área prevista para inundação Cartas militares 1:25000 0 5 km Figura 78 - Mapeamento da probabilidade de ocorrência de gato-bravo (quadrículas 1*1 Km) estimados pelo modelo de regressão logística para a área cartográfica de influência directa da barragem de Alqueva. Analisando a ocupação da área favorável para o gato-bravo relativamente à globalidade da área de estudo e à localizada às cotas 152 e 139, verifica-se que o troço principal do Guadiana, o troço do Degebe até à foz, e as ribeiras de Alcarrache e Azevel são as áreas de maior probabilidade de ocorrência na envolvência do futuro regolfo de Alqueva. Sobrepondo as áreas de maior adequabilidade do habitat (Fig. 67) com as manchas de maior probabilidade de ocorrência (Fig. 78), verifica-se que estas integram por completo as áreas de habitat adequado para o gato-bravo. Tal é resultado da elevada fragmentação dos habitats preferenciais para a espécie na área de estudo. Assim, a albufeira da barragem de Alqueva e o futuro açude de Pedrógão irão certamente alterar, de um modo drástico, as áreas de habitat disponível para a espécie, como também o seu padrão de ocorrência potencial. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________127 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Pela observação da figura 78 verifica-se uma das áreas de maior probabilidade se localiza a norte do núcleo de Monsaraz e Guadiana na carta 482, fazendo supor uma continuidade para Norte, ou seja para a carta 473. Esta mancha de maior probabilidade de ocorrência de gato-bravo poderá ser uma área potencial de acolhimento dos animais em fuga dos núcleos atrás referidos, motivo pela qual foi alvo de um estudo direccionado. 7.3.3. Avaliação do núcleo populacional Monsaraz/Azevel Conforme anteriormente referido, como resultado do processo de desmatação/desarborização somente o núcleo de populacional de Monsaraz-Azevel permanece com evidências continuas da ocorrência de gato-bravo. Por outro lado, o modelo de ocorrência probabilística de gato-bravo (Fig. 78) indicia áreas de probabilidade de ocorrência elevada nas áreas anexas ao núcleo de Monsaraz-Azevel (cartas militares 1:25 000 - 474, 473 e 472) o que justificou uma avaliação das potencialidades desta área para o gato-bravo. Nesta perspectiva, e tendo em conta as variáveis que determinam a ocorrência da espécie na área de regolfo de Alqueva (habitats favoráveis e abundância de coelho-bravo), foi feito um levantamento cartográfico das cartas 474, 473 e 472, bem como do padrão de abundância de coelho-bravo nas mesmas, para aferir à cerca da sua adequabilidade para indivíduos em dispersão. 7.3.3.1.Mapeamento da ocupação do solo Relativamente à ocupação do solo diferenciaram-se 38 classes de acordo com os critérios definidos no capitulo 5.1. Pela análise da figura 79, na carta 472, verifica-se que a cobertura do solo está muito associada à produção agrícola – estepes (searas e pousios), olival, vinha, regadio ou terreno lavrado. Na zona Norte da margem do rio Degebe e no Sudeste desta carta é onde se verifica a existência de áreas com habitats adequados para o gato-bravo (Fig. 80). A primeira zona é composta por uma faixa de montado de azinho denso adjacente ao rio Degebe e a segunda é formada por um reticulado de matos mediterrânicos e montado em diversos estágios de sucessão. A conectividade entre as duas zonas faz-se sobretudo através do rio Degebe, que poderá actuar como corredor ecológico entre o Norte e o Sul da carta. Na carta 473, na zona envolvente a Reguengos de Monsaraz observa-se uma exploração intensiva da vinha e olival numa área de grande dimensão (Fig. 79). Para Norte e Este da figura 80, cartas 473 e 474, a paisagem altera-se e apesar de existir alguma actividade agrícola esta ocorre em manchas de menor dimensão localizadas na maioria das vezes em redor dos aglomerados urbanos. Assim podem-se destacar 3 zonas com habitat favorável para a ocorrência de gato-bravo: Noroeste da carta 473, a faixa a Este de Reguengos de Monsaraz, e a zona que acompanha a albufeira de Alqueva/ribeira do Azevel cartas 473/474 (Figura 80). A primeira é caracterizada pela existência de áreas de montado de azinho denso com aglomerados rochosos e matagal composto na sua maioria por zambujeiros. A faixa a Este de Reguengos de Monsaraz, onde os solos são maioritariamente arenosos e com aglomerados rochosos em grande densidade, a paisagem é dominada por um conjunto de grandes manchas de montado de azinho denso e de RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________128 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) matagal em que predomina a aroeira Por fim na terceira zona destacam-se as manchas de matos e montados de azinho com estevais com algum nível de fragmentação. Entre estas 3 zonas poderá existir alguma conectividade através de habitats de transição (montado pouco denso/disperso sem subcoberto) ou das faixas de vegetação ripícola. Cobertura do solo Área social Estepes Eucaliptal Matagal Matos Montado com subcoberto Montado sem subcoberto Olival/Pomar/Horta Pinhal Planos de água Plantações Recentes Vegetação ripícolas Vinha 0 10 km N Albufeira de Alqueva Área de estudo Figura 79 - Mapeamento do uso do solo nas cartas 472,473 e 474, correspondentes à área adjacente ao núcleo populacional Monsaraz/Azevel. Área social Matagal Matos Montado com subcoberto Montado sem subcoberto Planos de água Vegetação ripícola 0 10 km N Zonas de maior importância para gato-bravo Albufeira de Alqueva Área de estudo Rios Figura 80 – Localização das principais zonas com habitat favorável para o gato-bravo na área adjacente ao núcleo populacional Monsaraz/Azevel. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________129 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 7.3.3.2. Distribuição de coelho-bravo Para avaliar a abundância relativa, distribuição e variação temporal do coelho-bravo na área de estudo, realizaram-se dois censos em diferentes alturas do ano – Fevereiro (de 3.02.2003 a 11.02.03) e Junho (de 3.06.03 a 12.06.03) – seleccionadas por corresponderem respectivamente aos períodos mínimo e máximo da abundância da espécie. Assim, a área de estudo foi dividida em quadrículas 2*2 Km, num total de 94, de onde 47 foram seleccionadas para serem amostradas correspondendo a 50% da área total (Fig. 81). Em cada quadrícula foram efectuados 4 transectos de 250m, dispostos, sempre que possível, no interior dos habitats dominantes, por forma a evitar as influências dos ecótonos de transição. Os transectos foram realizados em caminhos pouco utilizados. Os parâmetros recolhidos no terreno são os mesmos que foram registados no decurso da abordagem global levada a efeito no âmbito deste projecto (ver capitulo 6, PEDROSO et al 2003). Para se compararem os diferentes locais, definiram-se classes de abundância através do método dos intervalos naturais e utilizaram-se as classes definidas em Fevereiro para atribuir classificação a todos os casos. Deste modo, para 0 latrinas considerou-se “Ausente”, de 1 a 4 latrinas “Pouco abundante”, de 5 a 14 “Abundante” e 15 ou mais “Muito abundante”. Quadrículas prospectadas Área social Habitats favoráveis 0 10 km N Área de estudo Rios Pla nos de água Alb ufeir a de Alqueva Figura 81 - Representação espacial das quadrículas 2*2 Km prospectadas para o coelho-bravo, na área adjacente ao núcleo populacional Monsaraz/Azevel. As duas amostragens efectuadas permitiram verificar que existe um gradiente de abundância relativa. É notória a diferença entre a região Oeste (quase toda a carta 472), onde se verifica a ausência ou abundâncias muito reduzidas de coelho-bravo, e a região Este onde se registam os maiores níveis de abundância do lagomorfo (Fig. 82). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________130 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Fevereiro Junho Latrinas 0 1- 4 5 - 14 14 - 51 0 10 km N Albufeira de Alqueva Área de estudo Figura 82 - Mapeamento da abundância relativa de coelho-bravo nas quadrículas 2*2 Km seleccionadas para monitorização nas temporadas de campo de Fevereiro e Junho, na área adjacente ao núcleo populacional Monsaraz/Azevel. De facto, quando se analisa a situação do coelho-bravo para cada uma das cartas militares, percebe-se que existe uma grande variação na presença e abundância da espécie. Enquanto que nas cartas 473 e 474 em 45% dos transectos efectuados o coelho-bravo está ausente, na carta 472 este valor chega aos 80% dos transectos efectuados. A comparação entre o número de latrinas contabilizadas em cada transecto em Fevereiro e em Junho (Z=-3.093, p=0.002) revela uma diferença significativa que traduz o crescimento dos efectivos populacionais de coelho-bravo da primeira para a segunda amostragem. Contudo, verificou-se uma forte associação positiva entre os transectos efectuados em Fevereiro e Junho (Rs=0.706, p=0.0001), o que permite indiciar que as zonas de maior abundância de coelho-bravo se mantêm de Fevereiro para Junho. 7.3.3.3.Distribuição de gato-bravo A área de estudo foi dividida em 94 quadrículas 2*2 km seguindo a mesma metodologia que havia sido empregue na restante área de regolfo de Alqueva para o gato-bravo (ver capitulo 7.3). Assim, e com base no mapeamento do uso do solo, seleccionaram-se as quadrículas em que se verificou a existência de habitats adequados para a espécie, em pelo menos, 40% da área. Desta forma, foram seleccionadas 59 quadrículas para a prospecção perfazendo 63% da área total (Fig. 83). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________131 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Quadrículas prospectadas 0 Área social Habitats favoráveis Planos de água 10 km N Albufeira de Alqueva Área de estudo Rios Figura 83 - Representação espacial das quadrículas 2*2 Km prospectadas para o gato-bravo, na área adjacente ao núcleo populacional Monsaraz/Azevel. Nas 59 quadrículas prospectadas foram encontrados 36 indícios de presença (1 latrina e 35 dejectos) e uma observação directa. Estes dados suportam a evidência da presença de gato-bravo em 22 quadrículas, correspondendo a 37% das quadrículas prospectadas, encontrando-se distribuídos de forma agregada e associados a áreas de habitats favoráveis (Fig. 84). È de salientar a continuidade aparente com o núcleo Monsaraz-Azevel, onde foi observado um indivíduo adulto (numa zona actualmente submersa) e detectados 15 dejectos (43% do total) e a latrina atrás referida. # S # S # S Ñ # S # S # S # # SS Mapa de presenças de gato # S Dejecto Ñ Indivíduo atropelado U Latrina % V Observação directa & T Pegada ou Rasto $ # S T $ # S $$ T T # S # # SS 0 S # S# # S # S# S # S # S S ## S U % 10 # S # S# S V & km N Albufeira de Alqueva Área de estudo Rios Área social Habitats favoráveis Planos de água Figura 84 - Mapeamento de ocorrência de gato-bravo na área adjacente ao núcleo populacional Monsaraz/Azevel. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________132 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Como demonstram os resultados obtidos na prospecção para gato-bravo, pode-se considerar a manutenção do núcleo populacional de “Monsaraz-Azevel” devido à detecção regular de indícios de presença. A constante presença do núcleo nesta área estará, provavelmente, relacionada com as características do habitat (manchas de esteval denso e de zonas de montado denso com subcoberto intercaladas com áreas de pousio) e com a disponibilidade de presas (coelho-bravo). No entanto, a perturbação causada pelos trabalhos de desmatação/desarborização decorrentes de Alqueva poderão ter induzido impactes significativos nos efectivos populacionais da espécie, por interferir ao nível da disponibilidade de recursos e das dinâmicas inter e intra-populacionais. Assim, embora o núcleo de “Monsaraz-Azevel” continue a existir, é de supor que a desmatação/desarborização tenha tido efeitos negativos no número de efectivos presentes na área, até pelo diminuição de conectividades a áreas favoráveis para o gato-bravo. A quantidade de dejectos encontrados na fase final das prospecções (Junho e Julho) na zona da ribeira do Azevel evidenciam a sua importância para o gato-bravo. Por outro lado na área adjacente a Monsaraz os indícios de presença da espécie reduziram-se drasticamente, o que poderá ter sido consequência da desmatação/desarborização e posterior inundação de habitats favoráveis, incluindo zonas de grande abundância de coelho-bravo, a que acrescem os factores de perturbação e possível perseguição directa como consequência de um plano de água que promove a presença humana. Na margem esquerda do rio Degebe a presença da espécie também foi detectada tanto na zona Norte como na zona Sudeste da carta 472, no entanto entre estas duas áreas situa-se uma das estradas como maior volume de tráfego da região e onde em 2001 foi recolhido exemplar de gato-bravo atropelado. Este facto pode evidenciar um sério constrangimento à conexão entre as áreas atrás referidas, uma vez que poderá actuar como barreira à movimentação de indivíduos. As estradas são referenciadas como elementos de perturbação (FERREIRA 2003) e de fragmentação de habitats (STAHL & ARTOIS 1991, FERREIRA 2003) de tal forma que, na Escócia, são responsáveis pelo limite a Sul da distribuição nacional de gato-bravo (HUBDARD et al 1992). Em conclusão, salientam-se as 3 áreas com maior importância para o gato-bravo: Zona a Este de Reguengos de Monsaraz; Zona a Norte de Reguengos de Monsaraz e Zona ao longo do Azevel (Fig. 85). A área com melhores condições para a recepção de indivíduos em dispersão provenientes de zonas contíguas à barragem de Alqueva será a faixa a Este de Reguengos de Monsaraz, porque se encontra geograficamente mais próxima e possui grande disponibilidade de recursos. No entanto, é importante salientar que grande parte dos locais favoráveis à ocorrência deste felino na área de estudo apresentam níveis crescentes de fragmentação e perturbação, sobretudo devido a uma actividade cinegética cada vez mais intensa e ao aumento da rede viária. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________133 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Latrinas Abundante Muito abundante 0 Zonas de maior importÂncia para gato-bravo 10 km N Área de estudo Rios Área social Habitats favoráveis Planos de água Albufeira de Alqueva Figura 85 - Localização das áreas com maior importância para o gato-bravo , de acordo com as zonas de maior abundância relativa de coelho-bravo, na área adjacente ao núcleo populacional Monsaraz/Azevel. 7.4. LINCE – IBÉRICO 7.4.1. Metodologia Para avaliar o estado da população de lince na área de intervenção do projecto (11 cartas alvo de monitorização) a estratégia metodológica inicialmente proposta foi idêntica à aplicada relativamente às restantes espécies alvo de monitorização. Esta consistiu, inicialmente, numa abordagem por inquéritos orais e na realização de percursos de 10 Km por cada quadrícula 5*5 Km relativamente à qual havia indicação de provável ocorrência do predador desde a década de 70, tendo sido estes dados obtidos quer através de inquéritos orais (SANTOS-REIS et al. 2000) quer na consulta da documentação bibliográfica disponível (CEIA et al. 1998, LEITÃO 1998). Contudo, esta demonstrou não ser a estratégia de amostragem que melhor se adaptava às características, quer da área de estudo, quer da possível população de lince aí existente. Tendo em conta não só a quase ausência de resultados gerados, como também a grande coincidência nas exigências em termos de habitat para o gato-bravo e para o lince, optou-se, numa segunda fase, por adoptar uma estratégia de amostragem similar para ambas as espécies. Assim, foram seleccionadas para prospecção um total de 22 quadrículas 5*5 Km, 16 onde de acordo com os inquéritos orais, existiam indicações da provável presença da espécie, e dados bibliográficos (CEIA et al. 1998, LEITÃO 1998) e outras 6 de habitat favorável. Numa fase subsequente foi feita uma prospecção mais intensiva e precisa nas cartas alvo de monitorização (11 cartas da área de regolfo de Alqueva ) que integravam áreas de habitat favorável (Fig. 86) e/ou descritas como de ocorrência potencial de lince (CEIA et al. 1998), correspondendo a um total de 22 quadrículas 2*2 Km (Fig. 87). Dessa RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________134 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) forma prospectaram-se não só as quadrículas em que, com base em informação obtida a priori, poderia ocorrer lince como também aquelas que apresentam habitat potencial para a espécie. N Matagal Matos Montado com subcoberto Olival selvagem Vegetetação ripícola Rios Área inundável Área de estudo Cartas militares 1:25000 0 5 km Figura 86 - Habitat considerado favorável para o lince na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________135 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) N Quadrículas 2*2 km não prospectadas Quadrículas 2*2 km prospectadas Quadrículas 5*5 km prospectadas Cartas militares 1:25 000 Rios Área inundável 0 5 km Figura 87- Representação espacial quadrículas 2*2 Km seleccionadas para prospecção de indícios de lince na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva. Conforme previsível, o esforço de procura de indícios de lince concentrou-se na tentativa de obtenção de dados que permitissem inferir algo acerca da situação actual do núcleo de lince de Alcarrache-Guadalim - população do Vale do Guadiana (CEIA et al. 1998, LEITÃO 1998), zona de confluência da ribeira de Alcarrache com o troço médio do rio Guadiana e que na fase de pós-desmatação/desarborização, irá deixar de funcionar como possível corredor de dispersão entre aquele núcleo (Alcarrache – Guadalim) e as outras duas áreas de ocorrência mais ou menos regular de lince no vale do Guadiana (Adiça e Barrancos – Contenda) (CEIA et al. 1998). Foi ainda efectuada uma prospecção direccionada para toda a área da Zona Especial de Conservação MouraBarrancos, que serviram para identificar as áreas de maior adequabilidade para a espécie, quer pela presença/abundância de coelho, quer pela qualidade dos habitats (Fig. 87). O investimento de esforços nesta área foi consequência de 3 factores: a sua ligação ao troço médio do Vale do Rio Guadiana, o facto da área estar referenciada como integrando um núcleo populacional de lince-Ibérico (CEIA et al. 1998) e por se tratar de uma área fronteiriça onde RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________136 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) a extensão de habitats favoráveis em Espanha pressupõe a possibilidade de deslocamento de indivíduos para as áreas Portuguesas adjacentes. É de referir que a adopção desta estratégia já havia sido referida no anterior relatório de progresso (SANTOS-REIS et al. 2000). A metodologia adoptada permitiu uma prospecção mais exaustiva das áreas propícias à ocorrência quer de lince quer de gato-bravo e direccionada para locais onde existe maior probabilidade de encontrar indícios de presença, como sejam alguns afloramentos rochosos de acesso menos fácil e trilhos de veado e javali, que de outro modo não seriam visitados. A diferença entre os indícios de presença das 2 espécies de felídeos do património natural nacional tornou necessária uma selecção criteriosa dos indícios detectados tendo em conta a morfologia e dimensões das pegadas e dejectos. Assim, apenas foram consideradas como pegadas de lince as que apresentavam forma circular ,4 dedos sem unhas marcadas e uma almofada plantar, medindo 6 * 5 cm, e que embora sendo muito semelhantes às de gato e geneta, variam consideravelmente nas dimensões. Ao andar, a distancia entre as pegadas é de cerca de 80cm. Os dejectos provisoriamente classificados como de lince eram compostos por troços grossos e muito consistentes. A sua cor variava nos tons de cinzento, mais ou menos escuro. As suas medidas variavam entre 6-8cm de comprimento e 11,5cm de largura (FAPAS 2000). Relativamente a estes, foram efectuadas recolhas de amostras para posterior análise molecular no laboratório de genética da Estación Biológica de Doñana. Os custos associados a este tipo de análise e o facto de inicialmente não ter sido previsto este tipo de análises, levou a que apenas os excrementos relativamente aos quais havia uma forte suspeita de serem de lince fossem enviados para análise. Os resultados obtidos durante os primeiros anos de execução do projecto (ver 7.4.2, PEDROSO et al. 2003) levaram a que no início de 2003 se intensificasse a prospecção nas áreas de maior adequabilidade para a espécie, nomeadamente na zona fronteiriça da bacia do rio Ardila de forma a confirmar os locais de presença e avaliar as condições de adequabilidade das zonas de ocorrência. De forma a consolidar e ampliar o esforço de prospecção, esta incidiu sobre as áreas onde num passado recente existiram indícios da ocorrência da espécie. Complementarmente foram identificadas áreas que poderão constituir potenciais corredores ecológicos e de dispersão. 7.4.2. Resultados e discussão Dos resultados dos inquéritos, na área das 11 cartas prioritárias, verifica-se que em 85,5% das quadrículas não existe qualquer informação acerca da presença deste felídeo, i.e., apenas em 14,5% foi sugerida a sua ocorrência na década de 70 (Fig. 88). A década de 90 corresponde a 9,2% das quadrículas, havendo informações relativas à sua presença nos anos 70 e 80 em 5,3% das quadrículas da área de estudo. Cerca de 54,5% das quadrículas referentes a informações desde a década de 80 interceptam o núcleo populacional de Alcarrache-Guadelim (população do Vale do Guadiana), localizando-se as restantes fora da área de distribuição proposta por CEIA et al. (1998) e LEITÃO (1998). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________137 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) N Inquéritos Ausência Década 70 Década 80 Década 90 % Dejecto confirmado de lince Indícios de presença Pegada provável de lince # Dejectos duvidosos # & Rios Cartas militares 1:25000 Área inundável # # Área de estudo # # # & # % 0 5 km Figura 88 - Mapeamento da evolução da distribuição de lince na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva com base nos resultados dos inquéritos e indícios de presença. No que respeita aos resultados obtidos por prospecção de indícios de presença no campo (numa primeira fase através de transectos de 10 Km e, subsequentemente, utilizando uma metodologia similar à implementada para o gatobravo), estes foram escassos, como seria de esperar tendo em conta a extrema dificuldade em detectar indícios desta espécie de hábitos secretivos e que ocorre comprovadamente a uma muito reduzida densidade. Efectivamente, para o núcleo populacional Alcarrache-Guadalim trabalhos anteriores apontavam a existência, a confirmar já que se trata de uma área com estatuto indeterminado, de apenas um único indivíduo nos 135 Km2 de superfície do núcleo (CEIA et al. 1998). Ainda assim, encontraram-se dois dejectos (quadrícula 482E) de características similares aos de lince. Todavia, a análise genética a que foram submetidos não foi conclusiva. Essa análise, solicitada ao Instituto de Conservação da Natureza (que na época se encontrava a desenvolver um estudo de identificação de dejectos de lince), consistiu na RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________138 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) tentativa de amplificação de quatro primers de DNA específicos para o lince. Tendo o resultado sido negativo, i. e., não foi possível amplificar os fragmentos diagnosticantes, e tendo sido confirmada a priori a existência de DNA na amostra, foi considerado pela equipa responsável pela análise serem muito fortes as probabilidades de não se tratar de um dejecto de lince. Em 2000, foi igualmente efectuado o registo fotográfico de um conjunto de pegadas (Fig. 89) detectadas na quadrícula 490G (serra de Portel), tendo sido solicitado o apoio de investigadores Portugueses e Espanhóis, afectos ao Parque Nacional de Doñana, ao Instituto de Conservação da Natureza, à Universidade do Algarve e outras instituições, que se têm dedicado ao estudo do lince. As opiniões emitidas não reuniram consenso pelo que não foi possível afirmar com segurança que se confirmava a presença actual da espécie na área de regolfo da albufeira de Alqueva. Figura 89 - Pegada provável de lince na área de Vera Cruz - Portel (Quadrícula 490G). Não existindo prova cabal de que os vestígios encontrados diziam respeito ao lince, e não havendo outros indícios de presença da espécie, foi mais prudente considerá-lo ausente da área de estudo (11 cartas militares, abrangendo a área inundável) ou numa situação de pré-extinção local. Efectivamente, e apesar de existirem algumas áreas com habitat adequado ao predador, verifica-se que as manchas de qualidade são dispersas e pouco extensas não garantindo, muito provavelmente, protecção suficiente a um animal de hábitos tão elusivos. Com base em observações feitas no decorrer do trabalho de campo e de acordo com os censos efectuados constata-se que os lagomorfos são, de uma forma geral, pouco abundantes (Fig. 7). Assim, tendo em conta a estrita dependência alimentar do lince em relação ao coelho (PALMA 1977, DELIBES 1979, PALMA 1980, CASTRO 1992), não seria pois de esperar uma presença regular nas 11 cartas prospectadas. Apesar dos poucos resultados gerados, que não traduzem necessariamente uma ausência real de lince na área, a importância desta espécie justificou um continuado investimento na sua monitorização. Com o objectivo de avaliar a situação do lince em áreas potenciais anexas à área de regolfo e que incluíam áreas referenciadas como de presença regular da espécie (CEIA et. al. 1998), a prospecção na área da sub-bacia do Ardila traduziu-se na recolha de 10 dejectos potenciais de lince, corroborando informações de um passado recente. A RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________139 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) intensificação de esforços de prospecção em áreas, exteriores à zona de influência directa do regolfo de Alqueva, ao permitir a confirmação da ocorrência da espécie, demonstrou ter sido uma aposta vital com consequências inevitáveis para o futuro do lince-Ibérico em Portugal. Por o Instituto de Conservação de Natureza ter suspendido as análises em curso, os dejectos recolhidos nesta segunda fase de prospecção foram enviados para o Laboratório de Genética da Estação Biológica de Doñana, instituição que desenvolveu os respectivos marcadores moleculares e se tem responsabilizado pelas análises de excrementos recolhidos em Espanha e Portugal por outras equipas de investigação. Das análises resultou a confirmação de que um era efectivamente da espécie alvo (SANTOS-REIS 2003). Para se comprovar se os dejectos são de lince-Ibérico foram utilizados marcadores genéticos específicos desta espécie – DL7F/CR2Br (PALOMARES et al. 2002) – que permitem amplificar um fragmento de ADN de 130 pares de bases (pb), correspondente a uma zona conservada da região controlo do ADN mitocondrial. Neste procedimento foi utilizado um dejecto conhecido de lince-Ibérico, que funciona como controlo positivo para a extracção de ADN, e um controlo negativo contendo todos os reagentes utilizados na extracção excepto DNA de modo a detectar possíveis contaminações. A análise do excremento que se revelou positivo foi repetida seguindo outro protocolo de extracção (HOSS et al. 1992. KOHN et al. 1999), tendo sido amplificado em duas reacções de PCR (reacção em cadeia pela polimerase) independentes e em ambas foi confirmado o resultado. O ADN deste indivíduo foi sequenciado com o objectivo de obter uma confirmação adicional em como pertence à espécie de lince-Ibérico. Assim, usaram-se os oligonucleótidos iniciadores ATP8F/R, que permitem amplificar um fragmento de gene ATP8 de 233 pb (JOHNSON et al. 1998), quer em reacções de PCR quer nas reacções de sequenciação. Os produtos de PCR foram purificados a partir de fragmentos dos géis de agarose de acordo com procedimentos de rotina. As reacções de sequenciação foram realizadas de forma independente e em ambos os sentidos, directo e inverso. As amostras de ADN foram preparadas usando o kit de sequenciação – ABI Prism BigDye Terminator Cycle Sequencing Ready Reactions Kit – recomendado para utilização com o sequenciador automático ABI Prism 310 (Applied Biosystems) seguindo as instruções do fabricante. Os produtos das reacções de sequenciação foram purificados utilizando colunas de Shephadex. As sequências foram editadas e alinhadas usando o programa Sequencer (Gene Codes Corporation). As sequências obtidas foram comparadas com as sequências de lince-Ibérico, lince do Canadá (L. canadensis), lince-Americano (L. rufus), lince Euroasiático (L. lynx), gato-bravo Europeu e gato doméstico (Felis catus) com o objectivo de identificar a espécie geneticamente mais próxima daquela a que corresponde o dejecto analisado. Esta análise confirmou que o dejecto analisado pertence à espécie de lince Ibérico, pois, não se verificou nenhuma diferença em termos da constituição de nucleótidos entre a sequência deste indivíduo e as desta espécie: TGC ATT AAC CTT TTA AGT TAA AGA CTG GGA GCT TAG ACC TCT CCT TAA TGA CAT GCC ACA GCT GGA CAC GTC AAC CTG ATT TAT CAC TAT CAT ATC AAT AAT CAT AAC ACT ATT CAT TGT ATT TCA ACT AAA AAT CTC AAA ACA TCT ATA TCC ATC AAA CCC AGA ACC TAA ATC CAC GAC TAC ACC AAA ACA ACT TAA TCC TTG AGA AAA AAA ATG AAC GAA AAT CTA TTC GCC A RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________140 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Complementarmente, e beneficiando do facto da referida equipa espanhola ter desenvolvido os primers necessários para a determinação do sexo através de amostras fecais (PIRIZ & GODOY, 2003), foi determinado que o dejecto em causa pertencia a um indivíduo macho. Uma vez confirmada a presença de lince na área do Sítio-Moura Barrancos fez-se uma avaliação das potencialidades deste Sítio para a ocorrência de lince utilizando informação relativa à estrutura da vegetação e conhecimento obtido no Parque Nacional de Doñana relativamente aos requisitos ecológicos do lince (PALOMARES et al. 2001). Assim, foram construídos dois cenários: um cenário óptimo, em que foi considerado como habitat favorável áreas de matagal, matos clímax e vegetação ripícola e rupícola, e um cenário sub-óptimo a que se acresceu o montado com sub-coberto. O procedimento seguido em ambos os cenários foi a delimitação de manchas de habitat favorável com uma dimensão superior a 500ha (correspondente aproximadamente aos 40% de habitat favorável estimado por PALOMARES et al. 2001). Considerando que, segundo o mesmo autor, o lince pode utilizar áreas não favoráveis até uma distância média de 300m de áreas favoráveis, num segundo passo criou-se um “buffer” de 300m em torna das manchas definidas no primeiro passo. Independentemente da sua dimensão, todas as manchas de habitat favorável incluídas neste “buffer”, foram adicionadas à mancha inicial. Este procedimento foi sucessivamente repetido até não serem detectadas novas manchas de habitat favorável no respectivo “buffer”. Como resultado da aplicação desta estratégia estimou-se no cenário óptimo uma área de 100 Km2 de habitat favorável para o lince (Fig. 90), enquanto no cenário sub-óptimo esta área corresponde a 284 Km2 (Fig. 91). De salientar que o só no cenário sub-óptimo está incluída a área onde foi encontrado o dejecto de lince. Figura 90 – Cenário óptimo de habitat para o lince no Sítio Moura/Barrancos. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________141 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Figura 91 – Cenário sub-óptimo de habitat para o lince no Sítio Moura/Barrancos. Considerando que a área vital de um lince pode variar entre 7.3 e 18.2 Km2 e que os indivíduos dos dois sexos podem sobrepor as respectivas áreas vitais (PALOMARES et al. 2001), ambos cenários demonstram a possibilidade desta área poder suportar mais do que um indivíduo. No entanto, há que ter em conta que a abordagem seguida apenas contempla a adequabilidade da área em termos de refúgio. Considerando a situação debilitada do coelho-bravo, tal como foi detectado no decurso deste projecto, está assim justificada a aparente raridade da espécie no Sítio MouraBarrancos. A elaboração de Cartas de Potencialidade de Habitat e da disponibilidade de coelho-bravo será uma ferramenta fundamental na definição de um plano de reabilitação do lince-Ibérico na Bacia do Guadiana. Por outro lado, a possibilidade de determinar que áreas constituirão possíveis corredores de dispersão, como o vale do Rio Chança, deverão ser alvo de avaliação e protecção prioritária. Efectivamente, e apesar de existirem algumas áreas com habitat adequado ao lince, verifica-se que as manchas de qualidade são dispersas e pouco extensas na área do EFMA não garantindo, muito provavelmente, protecção suficiente a uma população viável de animais de hábitos tão elusivos e com áreas vitais tão vastas (RODRIGUEZ & DELIBES 1990). Também, á semelhança do verificado no Sítio Moura-Barrancos e com base em observações feitas no decorrer do trabalho de campo constata-se que os lagomorfos são, de uma forma geral, pouco abundantes (ver 6, fig. 7) sendo urgente dar continuidade ao programa de reprodução em cativeiro e ás acções de repovoamento. Deverá ser consolidado e ampliado o esforço de prospecção nas áreas onde num passado recente existiram indícios da ocorrência de lince. Por outro lado, deverá ser feita uma avaliação da influência do bloco de rega do Ardila RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________142 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) na conservação do lince, bem como a importância desta área a nível regional e nacional, sendo de salientar que o local onde foi encontrado o dejecto confirmado de lince dista 3,7 Km do limite do projectado bloco de rega do Ardila. Complementarmente dever-se-ão implementar medidas de gestão ambiental (ver 8.3.2.2) nas áreas que constituam potenciais corredores ecológicos e de dispersão para o felídeo. Assim muitas das medidas de conservação propostas situam-se no Sítio Moura/Barrancos e ao longo da fronteira com Espanha, o que se justifica por esta ser uma área com historial de lince, e pelo facto de esta ser uma área de ligação com áreas de habitat favorável em Espanha. Uma destas áreas - troço Rio Chança Internacional - faz a ligação de um contínuo de habitats favoráveis entre as áreas classificadas Portuguesas (Moura/Barrancos) e Espanholas (Picos de Aroche e Serra de Aracena) e as áreas classificadas mais a Sul (Parque Natural do Vale do Guadiana e Serra do Caldeirão), que são comprovadamente muito importantes para a conservação do lince-Ibérico. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________143 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS 8.1. Estatuto local das espécies alvo As propostas de miminização / compensação de impactes causados por grandes empreendimentos numa dada área natural deverão surgir como uma consequência directa da avaliação do estatuto regional e factores de ameaça das espécies que integram as comunidades afectadas, sendo de maior preocupação aquelas cujo estatuto nacional já revelou previamente uma situação debilitada que levou à sua classificação como espécies ameaçadas, mesmo que esta classificação derivasse da aplicação de critérios não quantitativos (SNPRCN 1990). Por forma a obviar às evidentes subjectividades suscitadas pela análise dos diferentes Livros Vermelhos nacionais, desde 1994 que o conselho da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) propôs a adopção de um novo sistema de classificação de taxa na sua Lista Vermelha. Este sistema inclui novas categorias e critérios quantitativos que se regem por objectivos específicos, nomeadamente o de fornecer um sistema que possa ser aplicado consistentemente por diferentes pessoas, o de melhorar a objectividade ao fornecer ao utilizador uma forma clara de avaliar os factores que afectam o risco de extinção, o de fornecer um sistema que facilitará comparações entre taxa muito distintos e o de dar aos utilizadores das listas de espécies ameaçadas uma melhor compreensão dos critérios que justificaram a respectiva classificação (http://www.iucn.org//themes/ssc/redlists/redlistcatsenglish.pdf). O recente sistema de classificação proposto pela IUCN (2001) assenta em 5 critérios de aplicação, dos quais os dois primeiros se referem ao declínio estimado das populações, quer em termos do efectivo populacional quer da respectiva área de distribuição geográfica. O terceiro critério traduz as estimativas do número de indivíduos maturos, o quarto diz respeito a populações muito pequenas ou restritas espacialmente e o último considera a probabilidade de extinção na natureza. Estes critérios não são de utilização simples e imediata, nomeadamente por exigirem um conhecimento muito completo da situação populacional de cada espécie. Para além disso, a sua descrição teve por base a necessidade de coerência num vasto âmbito geográfico (escala supranacional), havendo subsequentemente a necessidade de correcção no contexto regional (escala nacional) (GARDENFORS et al submetido). Ainda que a utilização destes critérios não esteja prevista para escalas locais como a afecta ao Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva, com base nos conhecimentos adquiridos ao longo dos cinco anos de monitorização e tendo presentes os referidos critérios de aplicação, é possível tecer algumas considerações sobre o estatuto das espécies alvo nessa área, nomeadamente através da análise de alguns dos referidos critérios (e.g. tamanho da população, extensão de ocorrência e área de ocupação, declínio populacional, fragmentação, etc.), considerações essas que motivaram as propostas de minimização / compensação subsequentes. 8.1.1. TOIRÃO Os dados sobre esta espécie eram escassos a nível nacional, reconhecendo-se uma distribuição generalizada (SANTOS-REIS 1983a) mas não existindo quaisquer estimativas de abundância nem o conhecimento dos seus RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________144 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) parâmetros demográficos e requisitos ecológicos (ver Cap. 2 – Estado actual dos conhecimentos). Neste contexto, o seu estatuto actual é o de Insuficientemente Conhecido (SNPRCN 1990). Apesar do investimento feito na área do EFMA, verifica-se que continua a subsistir um grande desconhecimento relativamente à maioria dos parâmetros populacionais e da situação passada ao nível do padrão de distribuição, mas é agora possível tecer algumas considerações sobre a situação actual da espécie. TAMANHO POPULACIONAL: Apesar das tentativas levadas a cabo para determinar a densidade populacional da espécie, e que envolveram, entre outros métodos, uma intensa campanha de armadilhagem, os resultados não permitiram uma estimativa rigorosa (apenas uma captura num esforço de 1443 armadilhas/noite) mas são indiciadores de uma situação de fraca abundância populacional. Esta constatação é corroborada pelas outras evidências que se baseiam no número de indícios de presença (dejectos, rastos e pegadas), igualmente escassos (n= 77 em 5 anos de pesquisa com um esforço médio de 10 dias / mês no campo), e no reduzido número de observações directas efectuadas (n=2). De destacar o papel dos atropelamentos como fonte de informação (n= 6), ainda que também apontem para uma fraca abundância da espécie na área. EXTENSÃO DE OCORRÊNCIA E ÁREA DE OCUPAÇÃO: Apesar do relativamente reduzido número de evidências da espécie na área de estudo, foi possível constatar que o polígono que delimita a extensão de ocorrência da espécie nas 11 cartas militares alvo de monitorização engloba praticamente a totalidade da região do EFMA (1085 Km2 – Mínimo Polígono Convexo - WHITE & GARROTT 1990) para a fase pré-desmatação/desarborização. Já no que refere à área de ocupação real são vários os indicadores que apontam para uma redução significativa da mesma quando comparada com a respectiva extensão de ocorrência. São eles a aparente associação da espécie aos ambientes ripícolas e o padrão agregado das evidências da presença da espécie, que levaram inclusivamente à delimitação de três núcleos populacionais principais na situação pós-desmatação. De reforçar que esta situação se agravou na sequência do processo de desmatação / desarborização conduzindo muito provavelmente ao declínio da área de ocupação. DECLÍNIO CONTINUADO: De acordo com os critérios propostos pela IUCN, um declínio continuado é um declínio recente, em curso ou previsto (que pode ser suave, irregular ou esporádico) e que é presumível que continue a verificarse a não ser que se tomem medidas de recuperação (IUCN 2001). Na sequência do que foi dito no ponto anterior é pois previsível que esteja em curso um declínio na área de ocupação da espécie na região do EFMA, como consequência da referida associação da espécie com os ambientes ripários, sendo estes aqueles que maiores impactes sofreram com a construção do empreendimento, nomeadamente durante a fase actual de enchimento da albufeira de Alqueva. No actual cenário de indefinição relativamente à implementação das possíveis medidas de minimização / compensação apresenta-se como igualmente indefinida num futuro próximo. FRAGMENTAÇÃO: Refere-se à situação, na qual o aumento do risco de extinção da espécie resulta do facto, de que a maior parte dos seus indivíduos se encontram em populações pequenas e relativamente isoladas (em algumas circunstâncias isto pode ser inferido a partir da informação sobre o seu habitat); estas populações podem extinguir-se e ter uma reduzida probabilidade de recolonização (IUCN 2001). Como oportunamente referido, embora o padrão de RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________145 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) distribuição local traduza o padrão nacional, com referências à espécie generalizadas por toda a área de intervenção do EFMA, foram detectadas importantes descontinuidades e um enfeudamento a ambientes ripários e ao coelho-bravo, espécie-presa em situação muito debilitada na área de estudo e também ela associada às áreas de vale. De igual modo a análise efectuada para avaliar as potencialidades da área para albergar a espécie revelaram algumas descontinuidades. Contudo não é possível assumir que a espécie se encontra fragmentada na área do EFMA. LOCALIZAÇÃO: O termo “localização” define uma área, geográfica ou ecologicamente distinta, na qual uma única ameaça pode afectar rapidamente todos os indivíduos da espécie considerada; o tamanho da localização depende da área abrangida pela ameaça e pode incluir parte de uma ou mais sub-populações (IUCN 2001). O toirão mostrava estar bastante associado aos vales do Guadiana e Degebe, e aos seus afluentes, nomeadamente as ribeiras de Azevel e Guadalim, seguindo uma distribuição que acompanhava as linhas de água. Estas são as zonas que ofereciam condições de abrigo e alimento favoráveis à reprodução da espécie, dada a associação de coelho-bravo também às linhas de água, pelo que o seu desaparecimento contribui para a fragilidade da espécie nas áreas em questão. Dadas as actuais condições do toirão na área de estudo, suspeita-se então de uma situação de reduzida densidade e elevada instabilidade populacional. Contudo, fazendo o paralelo com o sistema de classificação a ser aplicado no contexto nacional, no momento actual e adoptando uma estratégia cautelar, a única categoria passível de incluir a espécie a nível local deverá ser a de Informação Insuficiente (DD – “Data Deficient”). Esta classificação significa, em termos gerais, que não existe informação adequada para fazer uma avaliação directa ou indirecta do risco de extinção baseada na sua distribuição e/ou na sua situação populacional, não sendo portanto uma categoria de ameaça. A classificação nesta categoria indica que mais informação sobre a espécie é necessária e admite a possibilidade de que pesquisas futuras venham a mostrar que a sua classificação como ameaçada poderá ser apropriada. 8.1.2. LONTRA Tal como no referente ao toirão, os dados relativos à lontra na altura da definição do seu estatuto eram escassos a nível nacional (ver Cap. 2 – Estado actual dos conhecimentos), pelo que o seu estatuto neste contexto foi considerado como Insuficientemente Conhecido (SNPRCN 1990) muito também por influência do declínio enfrentado pela espécie na maioria da sua área de distribuição Europeia (MACDONALD & MASON, 1984). Apesar do desconhecimento que subsiste relativamente a vários parâmetros populacionais (e.g. tamanho da população, razão entre sexos, maturidade sexual, taxas de imigração e migração), face à evolução observada desde a situação de referência até à situação actual após o enchimento parcial da albufeira, é possível comentar alguns parâmetros necessários à classificação do seu estatuto a nível local. TAMANHO POPULACIONAL: Existem alguns indicadores sobre a densidade populacional da espécie, e que envolveram, entre outros: uma campanha de armadilhagem nalguns locais da área de estudo (ver ponto 2.2) que permitiram efectuar 19 capturas e verificar a ocupação de quase todas as linhas de água prospectadas por pelo menos RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________146 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) um casal e, por vezes, por alguns juvenis/sub-adultos, provavelmente em dispersão (ver Figura 39); um número de indícios de presença (dejectos, rastos, restos de presa, pegadas e marcações odoríferas) elevados (n= 8885 em 5 anos de pesquisa com um esforço médio de 10 dias / mês no campo). Assim, apesar dos resultados não permitirem uma estimativa rigorosa da densidade da espécie na área de estudo, são indiciadores de uma situação de abundância populacional. EXTENSÃO DE OCORRÊNCIA E ÁREA DE OCUPAÇÃO: Foi possível constatar que o polígono que delimita a extensão de ocorrência da espécie engloba praticamente a totalidade da região do EFMA (1365 Km2 – Mínimo Polígono Convexo - WHITE & GARROTT 1990) para a fase pré-desmatação/desarborização. Já no que refere à área de ocupação real são vários os indicadores que apontam para uma redução significativa da mesma quando comparada com a respectiva extensão de ocorrência. Esta redução era esperada uma vez que resulta da associação da espécie aos ambientes aquáticos, com especial incidência para os rios e ribeiras de maior dimensão. Esta situação agravou-se em parte na sequência do processo de desmatação / desarborização, mas de uma forma muito evidente durante o enchimento, conduzindo à diminuição da área de ocupação desta espécie. DECLÍNIO CONTINUADO: É expectável uma redução em termos de densidade total da lontra na área de estudo, mesmo após a estabilização das populações desta espécie que se espera que ocorra no período pós-enchimento. A distribuição da lontra na área de estudo, ainda que mantendo o padrão de distribuição generalizada, sofreu uma pequena redução (86,8% em 2000 para 79,4% em 2003), resultado dos efeitos da desmatação e do enchimento. FRAGMENTAÇÃO: É de esperar que a vasta e profunda massa de água, bem como o paredão que se afigura intransponível para a lontra, induzam a fragmentação de uma população outrora contínua ao longo do vale do Guadiana. Estes factores, a acrescer à pressão social causada pelo efeito de dispersão dos indivíduos com territórios previamente estabelecidos na actual área de albufeira para os sistemas lóticos adjacentes a essa área (na sua grande maioria já ocupados por outros indivíduos), resulta numa situação de grande instabilidade populacional na área do EFMA. LOCALIZAÇÃO: A lontra mostrava estar bastante associada aos vales do Guadiana e Degebe, e aos seus afluentes, seguindo uma distribuição que acompanhava as linhas de água. De facto, e sabendo que estas zonas são as que ofereciam condições de abrigo e locais favoráveis à reprodução da espécie, o seu desaparecimento causa na área em questão uma diminuição das condições para a presença da lontra, e põe em causa a curto prazo a manutenção do efectivo populacional da espécie. Tendo em conta a situação populacional favorável da lontra a nível nacional (TRINDADE et al, 1998), que se reflecte igualmente na região em estudo, bem como a comprovada capacidade de adaptação da espécie a habitats sub-óptimos como os representados pelas grandes albufeiras (PEDROSO, 1997; SALES-LUÍS, 1998), é de prever que a espécie recupere num futuro próximo dos impactes induzidos pela construção do empreendimento e que, a manterem-se os RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________147 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) níveis de abundância demonstrados no programa de captura levado a efeito (ver ponto 7.2.2), a situação da espécie seja considerada como de Preocupação Mínima (LC – “Least concern”) ou seja, não ameaçada 8.1.3. Gato-bravo Conforme oportunamente referido (ver Cap. 2 – Estado actual dos conhecimentos), os dados previamente existentes acerca do gato-bravo eram residuais resultando na atribuição do estatuto nacional de Indeterminado por se suspeitar que as suas populações enfrentavam a regressão (SNPRCN 1990). Tendo em conta a importância da área cartográfica de regolfo de Alqueva, face aos núcleos populacionais aí detectados, e à semelhança do sucedido relativamente às restantes espécies alvo, foi efectuada uma avaliação preliminar da situação populacional da espécie na área de estudo a qual se baseou em parâmetros de índole ecológica, que resultam do conhecimento adquirido no decurso do presente projecto ao nível do(a): padrão de distribuição e localização dos principais núcleos populacionais; dimensão e localização da área potencial à sua ocorrência; distribuição e extensão dos habitats favoráveis à sua ocorrência; requisitos ecológicos / dependência do coelho bravo e associação com habitats rupícolas, florestas de quercíneas, bosques e matagais mediterrânicos. TAMANHO POPULACIONAL: O gato-bravo aparentemente tem um tamanho populacional reduzido na área de estudo, estando os seus principais núcleos populacionais concentrados na confluência dos rios Degebe e Guadiana. EXTENSÃO DE OCORRENCIA E ÁREA DE OCUPAÇÃO: Na área das 11 cartas militares alvo de monitorização a extensão de ocorrência corresponde a 634 Km2 ( Mínimo Polígono Convexo - WHITE & GARROTT 1990) correspondente à fase pré-desmatação/desarborização. Como já foi referido o gato-bravo encontrava-se bastante associado ao vale do rio Guadiana onde se localizavam os seus principais núcleos populacionais. Esta associação ao vale do Guadiana e seus principais afluentes deriva do facto de ser nestas áreas que se encontram os habitats favoráveis à ocorrência da espécie. DECLÍNIO CONTINUADO: A destruição de grande parte da área favorável à ocorrência de gato-bravo, e onde se inseriam os principais núcleos de ocorrência, como consequência actividade de desmatação/desarborização, induziu previsivelmente um declínio imediato do efectivo populacional que provavelmente se acentuou por ainda não terem sido postas em prática nenhumas medidas de minimização/compensação. Tendo ainda em conta que grande parte de área com adequabilidade do habitat para o gato-bravo desapareceu, o contínuo na distribuição da espécie foi quebrado, bem como os corredores de dispersão para outras áreas favoráveis (e.g. Zona Especial de Conservação Moura-Barrancos integrada na Rede Natura 2000). FRAGMENTAÇÃO: De facto, se analisarmos a situação do principal núcleo populacional de gato-bravo (DegebeGuadiana) na área de estudo, verificamos que o seu desaparecimento com Alqueva poderá dar origem a um cenário de extinção local provável, apesar da distância entre núcleos ser inferior a 10km (10km entre o núcleo Degebe-Guadiana e o núcleo Monsaraz-Azevel; 8km entre Degebe-Guadiana e Alcarrache-Guadalim; e 8km entre Monsaraz-Azevel e Alcarrache-Guadalim), ou seja inferior ao deslocamento médio para a espécie, que pode ser superior a 12km (BLANCO RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________148 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 1998). Tal situação deriva do facto de todos os núcleos populacionais de gato-bravo se localizarem na área de regolfo, ou seja na área intervencionada. Este conjunto de acontecimentos, a que acresce a destruição de uma vasta área de habitat favorável para a fixação e dispersão de indivíduos, justificam um cenário de bastante apreensão quanto ao futuro da espécie na área de estudo. Actualmente o único núcleo existente (Monsaraz-Azevel) está ameaçado pela intensificação das actividades antropogénicas associadas ao EFMA, como a construção de estradas e pontes de que é exemplo a nova ponte sobre a ribeira do Azevel. LOCALIZAÇÃO: O gato-bravo mostrava estar bastante associado ao vale do Guadiana e aos seus afluentes, seguindo uma distribuição que acompanhava as linhas de água. De facto, e sabendo que estas zonas são as que ofereciam condições de abrigo e locais favoráveis à reprodução da espécie, o seu desaparecimento poderá implicar também o do gato-bravo. Com base no conhecimento agora disponível a espécie poderia então ser considerada como “Em Perigo” a nível local. No entanto, e de acordo com o esquema conceptual de procedimento na atribuição de uma categoria à escala regional (GARDENFORS et al submetido), ao tratar-se de uma espécie residente na área e relativamente à qual não se conhece se é alvo ou não de imigração significativa o estatuto a considerar pode incorrer num processo de “downgrading”, sendo mais correctamente aplicável a categoria de Vulnerável. 8.1.4. LINCE-IBÉRICO O estatuto de conservação do lince Ibérico em Portugal é, desde 1990, o de espécie Em Perigo (SNPRCN 1990), sendo o Vale do Guadiana um dos locais tradicionais de ocorrência do lince (ver Cap. 2 – Estado actual dos conhecimentos). A vulnerabilidade desta espécie emblemática, autóctone da Península Ibérica, levou a que o Instituto de Conservação da Natureza tenha vindo a investir consideravelmente na correcta avaliação do seu estatuto populacional. Os resultados obtidos, apenas disponibilizados tardiamente (CEIA et al. 1998) e não incluindo todos os dados disponíveis na actualidade, são indiciadores de um cenário de elevada preocupação, tanto a nível nacional como local. Por este motivo, os dados complementares obtidos no decurso do esforço de monitorização levado a cabo no âmbito deste projecto de monitorização são um importante contributo na referida avaliação. TAMANHO POPULACIONAL, EXTENSÃO DE OCORRÊNCIA E ÁREA DE OCUPAÇÃO: A espécie apresenta uma existência critica na área de estudo onde parece estar dependente de indivíduos em dispersão de áreas naturais espanholas. O tamanho populacional é desconhecido mas poderá corresponder a indivíduos isolados em dispersão, sendo a bacia do Ardila uma área de provável ocorrência de lince-Ibérico, como ficou demonstrado com a descoberta do mais recente indício da espécie em Portugal. DECLÍNIO CONTINUADO: A aparente estreita associação do lince ao vale do Guadiana (nomeadamente ao troço que se situa entre Perdigão e Luz, à foz do Degebe e à ribeira de Alcarrache e Guadalim) resulta da baixa adequabilidade do habitat em grande parte da área de estudo, onde predominam vastas áreas de estepe e montado RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________149 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) sem sub-coberto. As zonas de matagal e zonas florestadas com matos desenvolvidos, que conferem refúgio e tranquilidade para a reprodução, estão muito pouco representadas e situam-se maioritariamente ao longo, ou na proximidade das zonas rochosas do rio Guadiana e seus principais afluentes. Na zona de regolfo de Alqueva as áreas mais conservadas e que correspondiam a habitats favoráveis para o lince-Ibérico situavam-se vales dos rios e ribeiras, e onde se situava o núcleo populacional do Alcarrache-Guadalim (CEIA et al. 1998, LEITÃO 1998). Para além disso, o facto de no decurso deste projecto se ter confirmado uma situação de aparente pré-extinção é indicador de uma elevada vulnerabilidade da espécie às acções de desmatação/desarborização que certamente contribuíram para um agravamento do declínio que se tem vindo a sentir ao longo dos anos. FRAGMENTAÇÃO: Na área de regolfo, e com a finalização do empreendimento de Alqueva, o troço médio do Vale do Guadiana (Pedrógão e Luz à foz do Degebe e à ribeira de Alcarrache e Guadalim) desaparece, bem como os seus eixos de ligação (ribeira Ardila-Murtigão e ribeira Ardila-Toutalga) a áreas favoráveis e de ocorrência tradicional de lince, como são o caso das serras da Adiça, Malpique e Preguiça onde foi confirmada a presença da espécie (SantosReis 2003, PEDROSO et al 2003), ficando ainda interrompidos corredores ecológicos importantes para o lince-Ibérico, nomeadamente pela interrupção do corredor que liga a Malcata aos núcleos do Algarve (Caldeirão e Monchique) (CEIA et al, 1998). Esta situação potencia ainda mais o nível de fragmentação populacional que se tem vindo a evidenciar ao longo dos tempos. LOCALIZAÇÃO: A maior especialização em termos de habitat (matagais mediterrânicos) e alimento (80% ou mais das presas consumidas são coelho - PALMA 1977, CASTRO 1992) fazem do lince uma espécie bastante vulnerável. Tendo este recurso sido fortemente afectado com as acções de desmatação/desarborização devido ao facto de estar bastante associado ao vale do rio Guadiana e seus principais afluentes, onde se situavam as áreas de maior abundância populacional de coelho-bravo. Para além disso, o lince é uma espécie que se caracteriza por um largo período de dependência dos juvenis (7 a 10 meses) o que na prática implicou, e na hipótese remota da existência de indivíduos reprodutores, o insucesso de descendências futuras da espécie na área afectada pelo EFMA. Fora da área directa de influência da barragem de Alqueva, mas na área cartográfica do projecto referente à monitorização do lince, a presença da espécie foi confirmada no complexo das serras calcárias Adiça-Ficalho-Malpique-Preguiça reforçando a importância desta área no contexto nacional e ibérico. De facto, esta área tem um historial continuado de presença da espécie sendo mesmo considerada no relatório elaborado pelo ICN sobre a situação populacional do lince-Ibérico como um dos seus núcleos estáveis (Ceia et al. 1998) e de provável reprodução. Esta importância foi reforçada por se tratar do único indício comprovado de lince-Ibérico nos últimos anos encontrado em Portugal e pelo facto de se tratar de uma área com conexão a populações espanholas, o que lhe confere um papel importante numa recuperação natural do lince em Portugal. A localização cada vez mais restrita da área de ocorrência do lince, tornam a espécie cada vez mais vulnerável e cujo conjunto de indivíduos subsistentes é passível de ser afectada por uma ameaça única, como por exemplo, desmatação integral de uma vasta área ou extinção local do coelho devido a um surto de mixomatose ou febre hemorrágica viral. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________150 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Tendo em conta a situação populacional claramente desfavorável do lince no contexto nacional (CEIA et al, 1998), que, como foi possível comprovar, se reflecte igualmente na região em estudo, é de prever que a espécie dificilmente recupere num futuro próximo dos impactes induzidos pela construção do empreendimento e que, a manterem-se os níveis de abundância demonstrados no decuros do programa de monitorização levado a efeito, a situação da espécie seja considerada como de Criticamente em Perigo (CR – “Critically Endangered” ). Pode mesmo afirmar-se que a nível local o Empreendimento Fins Múltiplos de Alqueva poderá ter um papel decisivo para uma provável extinção da espécie no Alentejo Central e em Portugal, caso se não se ponham em prática medidas de conservação imediatas para recuperação dos habitats preferenciais da espécie e incremento da sua presa (coelho-bravo). 8.2. Avaliação de impactes previsíveis Tendo por base a situação descrita relativamente ao conjunto de espécies alvo de monitorização na área de regolfo de Alqueva e Pedrogão, e excluindo o lobo dada a sua condição de extinto a nível local, é possível avaliar os impactes resultantes da fase de desmatação/desarborização, a médio (fase de enchimento) e longo prazo (caso não sejam, tomadas medidas de gestão ambiental, enquadradas em programas de compensação). Todas as espécies consideradas sofreram os efeitos dos referidos impactes, embora em maior ou menor grau e em fases distintas. Assim, durante a fase correspondente ao período da desmatação/desarborização, o impacte foi significativo sobre todas as espécies, embora por razões distintas conforme a seguir se descreve. Relativamente ao toirão, a avaliar pelos resultados obtidos, a acção de desmatação/desarborização teve um impacte bastante significativo, já que os habitats favoráveis para esta espécie desapareceram na área prevista para inundação. De facto, considerando a sua associação com os ambientes ripários, verifica-se que 38% da área de ocorrência na zona de influência directa do futuro regolfo de Alqueva inclui-se na área prevista para inundação à cota 152m, logo sujeite a desmatação/desarborização. Destacam-se em particular as zonas com maior número de evidências da ocorrência da espécie, nomeadamente as que permitiram a delimitação dos três núcleos populacionais principais, os quais sofreram consequentemente um impacte muito significativo. Estes impactes foram também significativos pelo facto de o toirão se ter revelado dependente de linhas de água de maiores dimensões e de áreas de matos, quer como fonte de recursos alimentares quer em termos de disponibilidade de refúgios. Assim, a associação do toirão às zonas de matos parece ser devida à sua dependência pelo coelho-bravo, tanto através do seu consumo como presa principal (MATOS et al. 2001) como pela utilização dos seus complexos de tocas para refúgio. Uma vez que é nestes biótopos que as acções de desmatação foram mais frequentes e intensivas, o seu desaparecimento irá influenciar ainda mais a já descontinuada ocorrência da espécie. A lontra é reconhecidamente um mamífero anfíbio que depende estritamente das linhas e planos de água, alimentando-se nas mesmas, refugiando-se e criando nas suas margens e defendendo territórios lineares cuja largura é reduzida dada a sua menor aptidão para se deslocar em terra. Na área de estudo, estes constrangimentos foram confirmados com os dados obtidos, nomeadamente através da inclusão da variável MATOS no modelo preditivo da RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________151 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) distribuição espacial da lontra (que evidencia a importância de coberto vegetal nas margens dos rios) e pelo registo de indícios de reprodução em alturas diversas do ano. A desmatação/desarborização promoveu assim a destruição de vastas áreas de habitats de utilização preferencial criando uma situação de elevada instabilidade populacional com a necessidade de deslocamento de indivíduos para procura de outras áreas. Contudo, e tendo em conta a situação da espécie no contexto nacional (TRINDADE et al. 1998) e regional (SANTOS-REIS et al. 2000, PEDROSO et al. 2003), há que considerar que as áreas mais favoráveis para dispersão estão, muito provavelmente, ocupadas por outros indivíduos o que representa uma dificuldade acrescida no estabelecimento dos novos territórios e uma situação de instabilidade nos grupos familiares que, de outro modo, não seriam directamente afectados pelo Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva. É de salientar ainda que, apesar de a reprodução desta espécie poder ocorrer em qualquer altura do ano, existe uma maior probabilidade desta ocorrer durante a Primavera, uma vez que é nesta época que existem melhores condições de refúgio e maior disponibilidade de alimento. Assim, e segundo a revisão do plano de desmatação e desarborização da albufeira de Alqueva, as áreas desmatadas durante os meses da Primavera (Março, Abril e Maio de 2001) poderão ter correspondido às alturas mais críticas para a espécie dada a condicionante da reprodução, confirmada no local pela observação de juvenis e uma fêmea prenhe em Março. Estas áreas são o troço principal do Guadiana junto à Estrela e à Ribeira do Zebro, áreas de presença regular da espécie e que foram classificadas com elevado nível de adequabilidade para a lontra. Embora talvez de uma forma menos expressiva que para o lince, conforme adiante mencionado, os impactes da desmatação sobre o gato-bravo foram igualmente muito significativos. De facto, 78% da área de ocorrência (Fig. 76) incluía-se na área inundável, logo sujeita a desmatação. Destacam-se em particular as zonas de utilização mais regular (Bacia do Degebe, Monsaraz - Ribeira do Azevel e Bacia do Alcarrache-Guadalim) que, sofreram um impacte muito significativo, levando ao desaparecimento dos núcleos populacionais da Bacia do Degebe e Bacia do AlcarracheGuadalim, dois dos três núcleos identificados. Na restante área de ocorrência a situação desta espécie é menos precária por ser menos especialista que o lince em termos de habitat e de alimento, logo com mais potencialidades de dispersão. Já o lince, espécie tipicamente terrestre que habitualmente não se apresenta tão enfeudada aos vales dos rios e ribeiras, apresenta no caso do núcleo populacional do Alcarrache-Guadalim, uma situação particular devido ao reduzido efectivo populacional estimado e à disposição linear da mancha de ocupação sugerida por CEIA et al. (1998) e LEITÃO (1998). Para além disso, o facto de no decurso deste projecto se ter confirmado uma situação de aparente pré-extinção é indicador de uma elevada vulnerabilidade da espécie às acções de desmatação/desarborização. De facto, esta aparente estreita associação do lince ao vale do Guadiana (nomeadamente ao troço que se situa entre Pedrógão e Luz, à foz do Degebe e à ribeira de Alcarrache e Guadalim) resulta da baixa adequabilidade do habitat em grande parte da área de estudo, onde predominam vastas áreas de estepe e montado sem sub-coberto (Fig. 86). As zonas de matagal e zonas florestadas com matos desenvolvidos, que conferem refúgio e tranquilidade para a reprodução, estão muito pouco representadas e situam-se maioritariamente ao longo, ou na proximidade dos vales (Fig. 86). Para além disso, o lince é uma espécie que, apesar de ter um período de reprodução bem definido (cio em Janeiro/Fevereiro e 2 meses de gestação), se caracteriza por já referido largo período de dependência dos juvenis o que inviabilizou a opção de colocar RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________152 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) constrangimentos temporais às acções de desmatação dado que o ciclo reprodutor ocupa praticamente todo o ciclo anual. Findo o processo de desmatação/desarborização deu-se início à fase de enchimento da albufeira e os impactes gerados sobre o gato-bravo e o toirão, terão provocado situações de instabilidade populacional devido à redução de habitats favoráveis, em termos de alimentação, refúgio e adequabilidade para a reprodução. Tendo em conta que as áreas onde se encontram os núcleos populacionais mais importantes, tanto de toirão como de gato-bravo, foram desmatadas e desarborizadas quase na sua totalidade, suspeita-se de um impacte muito significativo com consequente extinção local nas áreas intervencionadas, o que se terá acentuado por não se terem assegurado medidas de minimização/compensação que visassem promover a dispersão e fixação de indivíduos para áreas relativamente próximas com adequabilidade para as referidas espécies. A lontra foi significativamente afectada pela destruição dos locais de refúgio e por se ter verificado um desfasamento temporal extenso entre as acções de desmatação e o enchimento da barragem. Enquanto se mantiver a faixa desmatada acima do nível da água, a adequabilidade das linhas de água será muito reduzida, uma vez que não haverá condições de refúgio para a lontra, quer nas margens da própria linha de água quer em áreas adjacentes. Para além disso, existem as questões relativas à qualidade da água devido aos resíduos da desmatação e à alteração de factores como o ensombramento, que vão certamente ter consequências na disponibilidade de presas, sobretudo de peixes. O enchimento, ao contrário do sucedido relativamente ao toirão e gato-bravo, teve efeitos ainda mais perturbadores do que a desmatação/desarborização, pois para além de as condições de refúgio serem inexistentes, a capacidade de captura das presas por parte da lontra foi reduzida devido ao “efeito de diluição” das populações presa. A situação mais problemática continua a ser a do lince dada a maior especialização em termos de habitat e alimento (PALMA 1977, CASTRO 1992), sobretudo porque a desmatação teve consequências muito significativas na população de coelho-bravo já que as áreas de maior abundância desta espécie se localizavam ao longo do vale do rio Guadiana e seus principais afluentes (ver Cap. 6.2.1.) e foram as primeiras a sofrer o impacte das acções de desmatação/desarborização. Este impacto foi agravado pelo facto de não se ter implementado, como foi proposto no terceiro relatório de progresso (SANTOS-REIS et al. 2000), uma estratégia integrada que minimizasse o impacto sobre os núcleos viáveis de coelho. Na fase pós-enchimento da albufeira de Alqueva, com a regeneração das áreas de matos adjacentes e com a diminuição da perturbação causada pelas acções de desmatação/desarborização, os impactes gerados sobre o toirão consideram-se pouco significativos, tanto mais que se trata de uma espécie com elevado potencial reprodutor (ROGER et al. 1988) e um aparente menor grau de especialização tanto ao nível do habitat como do alimento, comparativamente com as restantes espécies-alvo. Apesar do enchimento ter sido determinante para a fragmentação/desaparecimento dos principais núcleos populacionais, caso verificado em Monsaraz (onde mesmo após a desmatação a espécie RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________153 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) continuou a ocorrer, possivelmente devido à elevada disponibilidade de presas, mas cujo o enchimento e consequente submersão da área obrigou os indivíduos a deslocarem-se), prevê-se que esta espécie recupere, utilizando os habitats favoráveis adjacentes à albufeira, ainda que dependendo da protecção conferida pela vegetação das margens. Dada a situação favorável da lontra na globalidade da área de estudo, é previsível que a longo prazo a espécie repovoe a albufeira e torne a estabilizar a sua densidade populacional, embora previsivelmente numa densidade inferior, resultado da redução da capacidade de suporte após a implementação da albufeira. Esta diminuição da capacidade de suporte resulta da diminuição da área de território com habitat adequado. Segundo o modelo preditivo, as melhores áreas para a lontra localizavam-se na área inundada; grande parte do perímetro da albufeira não apresenta condições de refúgio; e a presente massa de água torna mais difícil a captura de presas pois a análise dos resultados das frequências numéricas dos itens da alimentação da lontra indica que os itens mais frequentemente consumidos são os mais vulneráveis nos distintos períodos, permitindo verificar a ideia de que não é unicamente a quantidade de presas disponíveis o factor determinante na escolha do item da alimentação, mais sim a vulnerabilidade destas presas face à estratégia de predação da lontra (CALLEJO & DELIBES, 1987). Assim, à partida, e segundo os resultados deste projecto, o tipo de habitat gerado pela construção da barragem é menos adequado (do ponto de vista de preferências) para a lontra do que o que existia na fase de pré-desmatação/desarborização, sendo expectável que o efectivo populacional nas zonas adjacentes à zona inundável actue como um factor de pressão e leve à ocupação deste habitat sub-óptimo, à semelhança do observado em outras áreas da distribuição da espécie no contexto nacional (PEDROSO 1997; SALES-LUÍS 1998). Para esta situação se verificar vai ser determinante a disponibilidade de presas, dependente da existência de habitats adequados como linhas de água com vegetação e pontos de água como pequenos reservatórios ou charcas com capacidade de suportar populações de peixes, lagostins e anfíbios. É de esperar que com o crescimento da massa de água da albufeira, as comunidades de espécies exóticas como a perca-sol ou o lagostim acompanhem esse crescimento, o que é bastante preocupante em termos ecológicos mas poderá contribuir para a manutenção de populações de lontra na região, tendo sido demonstrado noutros locais que a espécie pode subsistir quase exclusivamente com base em presas exóticas (PEDROSO 1997). No entanto, mais uma vez este facto constitui uma situação de compromisso de adaptação pela lontra pois, pelo que se verificou na abordagem à dieta neste projecto e noutros trabalhos (e.g. CLAVERO & PRENDA 2002), devido à biomassa correspondente a espécies autóctones como os barbos e as bogas, estas são preferencialmente predadas comparativamente com espécies exóticas como a perca-sol e o achigã. Salienta-se assim a importância da lontra no controle das populações de exóticas na comunidade aquática, especialmente o lagostim, o que tem benefícios ao nível das comunidades de anfíbios e peixes. Não considerando a aplicação de quaisquer medidas de gestão ambiental que visem a compensação dos impactes gerados, e uma vez que as medidas de minimização previstas não foram na sua maioria concretizadas, a situação do gato-bravo afigura-se mais comprometida a longo prazo devido à sua, já referida, distribuição, aparentemente restringida ao vale do Guadiana, e às reduzidas possibilidades de expansão para áreas adjacentes às que ocupavam antes do processo de desmatação/desarborização. Esta situação é mais gravosa na margem esquerda do Guadiana, onde a percentagem de área desfavorável é muito superior (Fig. 67). Na margem direita o maior constrangimento é a fragmentação das áreas de habitat favorável e a dimensão das manchas residuais. A não serem efectivas as medidas RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________154 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) de compensação preconizadas a situação do gato-bravo a longo prazo apresenta-se como muito precária, já que os núcleos principais, logo aqueles que deveriam representar pólos de dispersão, terão desaparecido. Finalmente no que se refere ao lince, não tendo sido possível confirmar a tipologia da mancha de distribuição assinalada por CEIA et al. (1998) e LEITÃO (1998) e a não serem tomadas medidas de gestão, o futuro previsível será a extinção local efectiva. Esta situação tem consequências não só na viabilidade da já reduzida população do vale do Guadiana, que engloba outros três núcleos (Barrancos, Serra da Adiça e Chança Internacional), apesar da comprovação da ocorrência actual da espécie, mas também no contexto nacional, nomeadamente no que se refere às duas outras metapopulações mais próximas (S. Mamede e Algarve-Odemira), já que vai contribuir para um risco de extinção acrescido no contexto nacional. Em resumo, todas as espécies alvo sofreram impactes muito negativos a curto-prazo (fase de desmatação/desarborização), impactes estes que se mantiveram a médio-prazo (fase de enchimento); a longo prazo (fase pós-enchimento), e considerando um cenário de não aplicação das medidas de gestão ambiental preconizadas, prevê-se a recuperação parcial da lontra e toirão e um agravamento da situação do gato-bravo e do lince que, no caso deste último, pode significar mesmo a extinção local (Tabela 29). Tabela 29 – Impactes a curto, médio e longo prazo da implementação da barragem de Alqueva nas espécies alvo. Curto (desmatação) Médio (após enchimento) Longo (sem gestão do habitat) Gato-Bravo Toirão Destruição de abrigo e refúgio Lontra Destruição de abrigo e refúgio Lince Destruição da área do núcleo do Guadiana Extinção local Muito Significativo Desaparecimento do núcleo do Guadiana Significativo Pouco Significativo RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________155 Destruição total de refúgio Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 8.3 Medidas de minimização/compensação de impactes 8.3.1. Medidas relativas ao plano de desmatação / desarborização No que diz respeito às medidas relativas ao plano de desmatação/desarborização já anteriormente preconizadas até à cota de enchimento 139, verificou-se que algumas das propostas, nomeadamente sentido/direcção e ordem nos trabalhos de desmatação/desarborização, visando minimizar os impactes gerados com esta actividade não foram postas em prática (PEDROSO et al. 2003). Estas recomendações tiveram como objectivo principal assegurar as vias de dispersão dos indivíduos para áreas mais favoráveis, e consequentemente uma maior probabilidade de fixação dos animais em fuga, inserindo-se num quadro de minimização de impactes gerados a curto-prazo com o processo de desmatação/desarborização. Assim, a sua não aplicabilidade condicionou o efeito de minimização de impactes, dando origem a um cenário de reforço dos estragos ambientais. A exemplificar esta situação é de referir o exemplar de gatobravo encontrado atropelado numa área de habitat desfavorável, provavelmente em fuga em consequência do processo de desmatação/desarborização não ter respeitado as condicionantes espaciais e temporais para os sub-blocos do Degebe, bem como o sentido de progressão dos trabalhos. Numa análise à paisagem da área cartográfica do regolfo de Alqueva, nomeadamente à ocupação do solo, verificase que o vale do Rio Guadiana e os seus tributários eram as zonas onde a estrutura da vegetação se encontrava num estado mais próximo do original e com um melhor grau de preservação, quer pela diversidade de espécies, quer pela idade dos povoamentos vegetais. De facto, as áreas de montado com subcoberto, zambujeiros (olival selvagem), vegetação ripícola, matos e matagais situavam-se precisamente ao longo do rio Guadiana e dos seus afluentes. A existência destes habitats é condição essencial para a presença de um conjunto de espécies de conservação prioritária e com elevados requisitos ecológicos, como o toirão, o gato-bravo e o lince-Ibérico, que os utilizam como zonas de abrigo, reprodução e alimentação. Ao contrário, as zonas situadas nos planaltos e a níveis de altitude superiores, ou seja acima da cota de enchimento de 152m, estão bastante intervencionadas, não apresentando condições ecológicas para a manutenção das espécies acima referidas. É de salientar que algumas zonas de vales mais encaixados, geralmente associados a linhas de água onde a vegetação estava bem preservada, funcionavam como potenciais corredores de ligação entre áreas de habitat favorável, e consequentemente como vias de dispersão de indivíduos. Deste modo, a desmatação/desarborização até à cota 152m, significou: a) Quebra de corredores ecológicos e impedimento da dispersão de indivíduos; b) Fragmentação do habitat; c) Destruição da maior parte das áreas de habitats favoráveis para espécies ameaçadas, como o toirão, o gato-bravo e o lince-Ibérico, e das áreas de galerias ripícolas para a lontra; d) Isolamento ou desaparecimento dos núcleos populacionais de toirão e gato-bravo; e) Quebra na dinâmica das populações de gato-bravo a nível regional, com consequências negativas para o “pool” genético global da metapopulação nacional e ibérica da espécie; RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________156 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) f) Destruição de núcleos populacionais de coelho-bravo, espécie-chave dos ecossistemas mediterrânicos, e presa base na dieta de gato-bravo e lince-Ibérico; g) Perturbação, ao nível populacional, da lontra com aumento da pressão sobre os territórios existentes em redor da área sujeita a inundação. Dada a impossibilidade de repor, a curto / médio prazo, os povoamentos vegetais acima referidos e, tendo em conta que as exigências ecológicas das espécies em causa não são compatíveis com tempos de espera prolongados, a desmatação e desarborização até à cota 152m e 150m respectivamente, poderá ter significado o desaparecimento, como consequência da destruição de parte significativa dos seus habitats de ocorrência, do gato-bravo e do lince na área de influência directa do regolfo de Alqueva. 8.3.2. Medidas relativas à fase pós-desmatação/desarborização 8.3.2.1. Medidas de intervenção directa Por medidas de intervenção directa entendiam-se as operações de salvamento de indivíduos que no decurso do processo de enchimento ficaram retidos em manchas residuais de habitat favorável (e.g. as ilhas) que, pelas dimensões exíguas em termos dos requisitos das diferentes espécies em consideração, não assegurassem a sua viabilidade futura. O plano de desmatação/desarborização, que careceu de um planeamento eficaz nomeadamente no que se refere à articulação com as equipas a desenvolver trabalhos de campo, tornou praticamente inviáveis quaisquer operações de salvamento na fase pré-desmatação/desarborização. Por outro lado era também pouco previsível a captura de indivíduos durante o processo de desmatação/desarborização, tanto mais que falamos de animais com capacidade de fuga elevada e muito atentos aos factores de perturbação externa (e.g. ruído). Contudo, há que ter em consideração que a maior parte das espécies em causa têm actividade maioritariamente nocturna estando o seu metabolismo diurno bastante reduzido, facto este que influencia significativamente a capacidade de reacção, fundamental em situações extremas. Tendo em conta esta situação foi apresentada à EDIA, S.A. uma estratégia de actuação, devidamente fundamentada (ver Anexo X), que contemplava a criação de uma unidade móvel dotada de todas as condições técnicas e logísticas necessárias para fazer frente a situações de emergência. A referida proposta não recebeu parecer positivo por parte do Conselho de Administração da EDIA, S.A. que considerou já estarem reunidas as condições necessárias e suficientes para avançar com a referida unidade sob a coordenação do Núcleo de Património Natural da EDIA, S.A.. Perante esta determinação, e por considerar que a contraproposta não era exequível, a coordenadora da equipa responsável pelo desenvolvimento de estudos e monitorização de mamíferos carnívoros na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva, decidiu não assumir a responsabilidade de tal projecto. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________157 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Relativamente às operações de captura e translocação de coelhos foi, e à semelhança do referido relativamente ao salvamento de carnívoros, apresentada uma proposta à EDIA, S.A., devidamente fundamentada (ver Anexo XI). Na sequência desta proposta estava previsto que o esforço de captura fosse concentrado numa zona sujeita a impactes significativos (troço do vale do Guadiana entre Mourão e a zona a sul da foz da ribeira do Zebro) e que os indivíduos fossem translocados para áreas que apresentassem habitat mais favorável, nomeadamente devido à existência de maiores manchas de montado denso e matos, e que fossem de importância prioritária para a manutenção de populações viáveis das espécies-alvo. Também à semelhança do sucedido anteriormente, no que se referiu à criação de uma unidade móvel de salvamento, a proposta apresentada foi recusada pelo Conselho de administração da EDIA S.A., por questões monetárias ainda que tivesse sido reconhecida a sua qualidade técnica. 8.3.2.2. Medidas de gestão ambiental Finalmente as medidas de gestão ambiental, fundamentais como forma de compensação dos impactes gerados, dizem respeito, por um lado à recuperação e conservação adequada dos habitats na área de envolvência da futura albufeira sobretudo daqueles com maior potencialidade para albergar as espécies-alvo e, por outro, a um plano de recuperação das populações de coelho-bravo na área não inundada, visto tratar-se de uma espécie-chave. 8.3.2.2.1. Recuperação / conservação de habitats Com a finalização do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva e Pedrógão o troço médio do vale do Guadiana (Pedrógão e Luz à foz do Degebe e à ribeira de Alcarrache e Guadalim) ficou desnaturalizado, bem como os seus eixos de ligação (ribeira Ardila-Murtigão e ribeira Ardila-Toutalga) a áreas favoráveis e de ocorrência tradicional de lince, como são o caso das serras da Adiça, Malpique, Preguiça e Ficalho onde foi detectado um excremento positivo de lince (PEDROSO et al 2003), ficando ainda interrompidos corredores ecológicos importantes para o lince-Ibérico e gato-bravo, nomeadamente pela interrupção do corredor que liga a Malcata aos núcleos do Algarve (Caldeirão e Monchique) (CEIA et al, 1998). Na fase pré-desmatação/desarborização existia um contínuo de habitats favoráveis em ambas as margens do rio Guadiana o que permitia o fluxo de indivíduos de várias espécies de carnívoros, nomeadamente o gato-bravo, entre as duas margens do rio, possibilitando a troca de indivíduos entre núcleos populacionais das duas margens. Por outro lado, muitos habitats importantes para as comunidades de carnívoros, tais como galerias ripícolas, montados, zonas rupícolas e matagais desapareceram. Estes habitats, de que se destacam os existentes nos vales das ribeiras do Lucefecit, Alcarrache, Álamo, Guadalim, Azevel, Degebe, Pardais e Zebro, desempenhavam o papel de corredores de dispersão bem como representavam locais de reprodução e abrigo contribuindo para a diversidade de espécies presentes a nível regional. No que diz respeito à recuperação dos habitats é assim de realçar a necessidade de criar corredores entre manchas de habitat favorável, próximas e que permaneçam inalteradas. Trata-se de uma medida que carece de uma actuação rápida, pela morosidade que envolve a manipulação dos habitats. A articulação das medidas de recuperação RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________158 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) dos habitats e repovoamento de coelho-bravo é fundamental para o sucesso desta medida de gestão ambiental. Na definição dos corredores há que ter particularmente em linha de conta a estrutura metapopulacional dos núcleos de lince, nomeadamente nas ligações às áreas de distribuição em Espanha (Fig. 92), sugerindo-se como fundamental um contacto estreito com o Instituto de Conservação da Natureza, entidade que tem tido a seu cargo o estudo deste felídeo, classificado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) o mais ameaçado a nível mundial (NOWELL & JACKSON 1996). Troço de continuidade da distribuição de lince-Ibérico no Sítio Moura-Barrancos Figura 92 - Distribuição em Espanha do lince-Ibérico (segundo PALOMO & GISBERT 2002) Ao nível das intervenções é fundamental a recuperação do contínuo ecológico, sendo de vital importância garantir a existência de vegetação ripícola bem conservada e não fragmentada. É de referir que as ribeiras da Toutalga, Murtigão, Ardila são elos fundamentais de conexão, no Sítio Moura-Barrancos, entre os vários tipos de habitats, podendo funcionar como corredores para um vasto número de espécies, de onde se destaca o lince-Ibérico (Fig. 92). Por outro lado, ao longo das ribeiras acima referidas deverão existir zonas tampão (faixas de protecção) que permitam sustentar possíveis impactes sobre a vegetação ripícola, de que é exemplo a pastorícia intensiva e o seu acesso desordenado às linhas de água. Uma galeria ripícola bem conservada potencia um aumento da diversidade de presas, refúgios e locais de reprodução para a comunidade de mamíferos carnívoros. As áreas de matos climax do complexo de serras Adiça-Malpique-Preguiça-Ficalho deverão ser ligadas entre si, reduzindo assim os efeitos de fragmentação que estes habitats actualmente enfrentam. Uma medida seria a criação de pequenas manchas de subcoberto arbustivo nas áreas de olival explorado, formando faixas de conexão entre áreas de matos climax. A recuperação do subcoberto arbustivo é igualmente uma medida a implementar em algumas áreas de montado sem subcoberto, permitindo a sua regeneração natural, o aumento do número e diversidade de presas (micromamíferos e coelho-bravo), bem como de locais de refúgio para a restante comunidade de mamíferos. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________159 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Assim, sugerem-se 3 grandes áreas para serem intervencionadas, sendo para cada uma apresentada a justificação da importância da intervenção, indicadas as espécies-alvo a serem favorecidas com esta medida de actuação, descrito o tipo de intervenção sugerido e feito o enquadramento à luz do PMC1: • área envolvente ao regolfo da barragem de Alqueva • zona de transição entre a área de regolfo e a ZEC Moura / Barrancos • área da ZEC Moura / Barrancos 1 ) ÁREA ENVOLVENTE AO REGOLFO DA BARRAGEM DE ALQUEVA As zonas ripícolas, por se tratarem de habitats bem conservados e geralmente associados a uma grande diversidade biológica, nomeadamente como consequência do elevado número de espécies vegetais que as compõem, permitem uma maior densidade e diversidade de presas e uma maior disponibilidade de locais de abrigo, sendo naturalmente áreas de elevada adequabilidade para mamíferos ameaçados de que são exemplo as espécies alvo deste projecto de monitorização. Por outro lado, a vegetação estruturada em galerias ripícolas funciona como corredores de ligação a áreas adjacentes de habitat favorável para as espécies alvo, assumindo um papel relevante em zonas onde a fragmentação dos habitats é elevada. Tendo em conta a dimensão da intervenção de Alqueva, bem como o curto espaço de tempo em que ela decorreu, muitas espécies não tiveram tempo de se adaptar à nova realidade. Neste quadro pós Alqueva as linhas de água veêm reforçada a sua importância ecológica, sendo a sua recuperação e conservação uma das principais intervenções na minimização/compensação dos impactes de Alqueva. Ribeiras que devem ser alvo de recuperação: A - RIBEIRA DO LUCEFECIT Justificação da importância da intervenção A ribeira do Lucefecit tinha ao longo do seu percurso uma galeria ripícola bastante bem preservada. A sua complexa estrutura permitia que fosse um habitat com bastante diversidade biológica e onde os mamíferos carnívoros encontravam alimento e abrigo antes da desmatação/desarborização. Por outro lado esta ribeira servia de elo de ligação natural entre a serra d’ Ossa e o vale do Guadiana, elo este que ficou interrompido com o empreendimento de Alqueva. Embora, por consequência do empreendimento atrás referido, a estrutura de galeria da ribeira do Lucefecit seja de impossível reposição tal como existia, é possível plantar nas margens da albufeira vegetação ripícola (Fig. 93). Por outro lado deverão ser mantidos e conservados os troços ainda bem preservados fora da área de intervenção do EFMA. Com o desaparecimento do núcleo de gato-bravo “Degebe-Guadiana” da margem direita da albufeira, o único núcleo ainda existente “Monsaraz-Azevel” passou a ficar numa preocupante situação de isolamento, daí a necessidade da criação de corredores a outras áreas favoráveis para a espécie. Uma das zonas com maior potencial é a Serra d’ Ossa. Esta área situa-se a cerca de 25 Km a Norte da área de estudo dispondo a sua vertente Sul de habitats RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________160 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) favoráveis para o gato-bravo. A ligação entre estas poderia ser criada e/ou consolidada através da recuperação de habitats associados ás ribeiras de Lucefecit e Azevel. Figura 93 – Ribeira do Lucefecit pós-enchimento da albufeira de Alqueva e pressão de pastorícia, respectivamente. Espécies alvo Toda a comunidade de mamíferos carnívoros, com especial relevância para a lontra, toirão e o gato-bravo. Tal deve-se á disponibilidade de recursos em termos de alimentos e locais de abrigo para a fauna de mamíferos carnívoros. No caso da lontra e do toirão esta medida servirá para compensar a área destruida de vegetação ripícola e permitirá incrementar os locais de abrigo e reprodução para estes dois mustelídeos. Já no que se refere ao gato-bravo a ribeira do Lucefecit assume um papel importante como estrutura natural de ligação entre áreas favoráveis. Tipo de intervenção Recuperação dos troços degradados promovendo o seu adensamento através da reposição de espécies ripícolas presentes nos troços bem preservados, optando essencialmente por espécies arbustivas de crescimento mais rápido: salgueiro Salix sp.; tamujo Securinega tintorea; aloendro Nerium oleander; ulmeiro Ulmus minor; tamargueira Tamarix africama; pilriteiro Crataegus monogyna; catapereiro Pyrus bourgeana. Estas são espécies autóctones da área do EFMA e que podem mais rapidamente estabelecer povoamentos vegetais que estruturalmente forneçam condições de abrigo e reprodução para a comunidade de mamíferos carnívoros. No entanto, algumas destas espécies têm diferentes exigências e potencial adaptativo e estas carcaterísticas deverão ser consideradas nas futuras acções de reflorestação. Exemplos desta situação são o tamujo (zonas de afloramentos rochosos, solos espessos e pedregosos, suporta bem as flutuações dos níveis de água e as cheias), o aloendro (solos espessos e pedregosos, periferia de silvados); os silvados (nas zonas de areal são a melhor solução), e os salgueiros (serve de protecção e suporta a oscilação do nível da água). Simultaneamente dever-se-á reflorestar com espécies de crescimento mais lento, mas que façam a transição entre a vegetação arbustiva e arbórea. As espécies a utilizar nestes povoamentos deverão ser catapereiro (nos troços ladeados por montados), ulmeiro (é equivalente ao salgueiro em estrutura mas de crescimento intermédio entre este e o freixo Fraxinus angustifolia), pilriteiro (zonas húmidas e sombrias de galeria ripícola, espécie complemento para a RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________161 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) estruturação de galeria). No que diz respeito às espécies de crescimento lento de porte arbóreo a reflorestação deverá ser efectuada paralelamente ao de espécies de desenvolvimento mais rápido acima descritas, sendo a espécie alvo de reflorestação o freixo. Esta espécie garante a estrutura vertical da vegetação junto à linha de água e permite que os buracos que forma no seu tronco, numa fase mais avançado do seu desenvolvimento, sirvam de local de abrigo e reprodução para as espécies de mamíferos carnívoros com aptidão trepadora, de que é exemplo o gato-bravo. Por outro lado, será necessário criar uma zona tampão ao longo de toda a ribeira, com uma largura aproximada de 50 m e composta por mato e matagais,com particular relevância para os zambujeiro Olea europaea var. silvestris, aroeira Pistacia lentiscus, carrasco Quercus coccifera, e medronheiro Arbutus unedo, dado que a sua estrutura e frutos são muito importantes para a comunidade de mamíferos carnívoros e presas associadas (coelho-bravo. Estas espécies deverão ser acompanhadas por outras (e.g.: tojo Ulex sp, giestas Genista sp.) de modo a incrementar a sua diversidade (Fig. 94). A dimensão da zona tampão tem como objectivos a adequabilidade da área para a comunidade de mamíferos carnívoros, a protecção da vegetação ripícola e a melhoria da qualidade da água (MACDONALD et al. 2004). Localização geográfica N 267000 268000 269000 270000 271000 272000 273000 274000 275000 182000 182000 181000 181000 180000 180000 179000 179000 178000 178000 177000 177000 176000 176000 267000 268000 269000 Troço do Lucefecit para recuperação Zona tampão com matos 270000 271000 272000 273000 274000 0 275000 2 km Albufeira de Alqueva Figura 94 – Localização e dimensão da intervenção na ribeira de Lucefecit. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________162 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Enquadramento no PMC1 PC1.2. Reflorestação Ribeirinha PIC5. Áreas Classificadas na Região de Guadiana/Alqueva B - RIBEIRA DO AZEVEL Justificação da importância da intervenção Dada a proximidade e similaridade entre esta ribeira e a do Lucefecit, a sua importância em termos de intervenção é semelhante, como é visivél através das características patentes na figura 95. Figura 95 – Estrutura típica da ribeira de Azevel. Espécies alvo Toda a comunidade de mamíferos carnívoros, com especial relevância para o gato-bravo que tem nesta região o único núcleo actualmente conhecido na envolvente à área de regolfo (ver 7.3.2.1.), bem como para a lontra, que tinha na Ribeira de Azevel os maiores índices de IQA, para além do modelo indicar esta zona como uma das de maior adequabilidade de habitat para a espécie (ver 7.2.2.1.). Para além destes factores, note-se que está prevista a criação de uma zona húmida na ribeira do Azevel, pelo que mais importante se torna a existência de vegetação ripicola a acompanhar a implementação desta zona, por forma a promover condições de refúgio para a lontra, numa zona que será de eventual atracção para esta espécie em termos de alimento. Tipo de intervenção Tipo de intervenção semelhante ao descrito para a ribeira do Lucefécit. (Fig. 96). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________163 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Localização geográfica N 265000 266000 267000 268000 269000 270000 271000 272000 273000 274000 171000 171000 170000 170000 169000 169000 168000 168000 167000 167000 166000 166000 165000 165000 164000 164000 265000 266000 267000 268000 Troço do Azevel para recuperação 269000 270000 271000 272000 273000 0 274000 2 km Zona tampão com matos Zonas húmidas proposta pela EDIA Albufeira de Alqueva Figura 96 - Localização e dimensão da intervenção na ribeira de Azevel. Enquadramento no PMC1 PC1.2. Reflorestação Ribeirinha PC5.1. Regeneração de Matos Mediterrânicos C - RIO DEGEBE Justificação da importância da intervenção O rio Degebe tinha ao longo do seu percurso zonas rupícolas e vegetação ripícola bastante bem preservada, a que estavam associados azinhais reliquiais. Esta sua estrutura permitia que fosse um habitat com bastante diversidade RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________164 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) biológica (considerado um dos hotspots de diversidade a nível regional) e onde os mamíferos carnívoros encontram alimento e abrigo, nos troços não intervencionados que ainda restam. De modo a compensar os efeitos do desaparecimento da envolvente de habitats na rio do Degebe, as margens da albufeira nos locais onde outrora este rio corria deverão ser povoadas com vegetação ripícola, tal como foi referido oportunamente para a ribeira do Lucefecit. Por sua vez a vegetação ripícola deverá estar protegida, em cada uma das margens da albufeira, por zonas tampão compostas por matos e bosque mediterrânico (Fig. 97) e deverão ser mantidos e conservados os troços ainda bem preservados fora do EFMA. Figura 97 – Estrutura típica do rio Degebe na fase pré-desmatação/enchimento. Espécies alvo Toda a comunidade de mamíferos carnívoros, com especial relevância para o gato-bravo e toirão, que numa fase de pré–desmatação/desarborização/enchimento aqui tinham núcleos populacionais importantes. No caso da lontra, esta recuperação é importante, não só pelo facto de alguns troços do Degebe terem, sido classificados com elevada adequabilidade de habitat antes da desmatação, mas também pelo o desaparecimento da ribeira da Amieira (uma das linhas de água com maior uso/importância para a lontra). Tipo de intervenção Idêntica ao descrito para a ribeira do Azevel (Fig. 98). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________165 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Localização geográfica N 235000 237500 240000 242500 245000 247500 250000 252500 255000 257500 260000 262500 160000 160000 157500 157500 155000 155000 152500 152500 150000 150000 147500 147500 145000 145000 142500 142500 140000 140000 235000 237500 240000 242500 Troço do Degebe para recuperação Zona tampão com matos 245000 247500 250000 252500 255000 257500 0 260000 262500 2 km Albufeira de Alqueva Figura 98 - Localização e dimensão da intervenção no rio Degebe. Enquadramento no PMC1 PC1.2. Reflorestação Ribeirinha PC5.1. Regeneração de Matos Mediterrânicos RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________166 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Ribeiras que devem ser alvo de conservação: D - RIBEIRA DE PARDAIS Justificação da importância da intervenção A ribeira de Pardais é exemplo de uma das melhor preservadas galerias ripícolas na área de intervenção do EFMA (Fig. 99), razão pela qual devem ser feitos esforços no sentido da sua preservação. Figura 99 – Galeria ripícola numa das margem da Ribeira de Pardais. Espécies alvo Toda a comunidade de mamíferos carnívoros, com especial relevância para a lontra e o toirão. No caso do toirão por esta ribeira mostrar ser uma área importante e onde foi capturado o único indíviduo desta espécie. Para a lontra a recuperação de estruturas ripícolas é uma medida fundamental para compensar a destruição dos seus locais de reprodução e abrigo com a construção da albufeira de Alqueva. Tipo de intervenção Aplicação de medidas que reduzam o impacte dos factores de ameaça actuantes (gado, desmatações, poluição) na linha de água e criação de zona tampão ao longo de toda a ribeira, com a largura de 50m e composta por matos e matagais. Sugere-se, à semelhança do referido para as ribeiras alvo de acções de recuperação, a utilização de espécies como o zambujeiro, a aroeira, o carrasco e o medronheiro dado que a sua estrutura e frutos são muito importantes para a comunidade de mamíferos carnívoros e presas associadas (coelho-bravo) (Fig. 100). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________167 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Localização geográfica N 266000 267000 268000 269000 270000 271000 272000 273000 274000 275000 196000 196000 195000 195000 194000 194000 193000 193000 192000 192000 191000 191000 190000 190000 266000 267000 268000 269000 Troço da Ribeira de Pardais para Conservação Zona tampão com matos 270000 271000 272000 0 273000 274000 275000 2 Km Albufeira de Alqueva Figura 100 - Localização e dimensão da intervenção na ribeira de Pardais. Enquadramento no PMC1 PC1.2. Reflorestação Ribeirinha PC5.1. Regeneração de Matos Mediterrânicos E - RIBEIRA DO GUADALIM Justificação da importância da intervenção A ribeira do Guadalim (Fig. 101) insere-se numa área de transição entre zonas favoráveis para lontra e toirão, quer por atravessar habitats desfavoráveis (áreas estepárias) para estas duas espécies, proporcionando locais de abrigo e RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________168 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) refúgio. No caso do toirão, e pelo facto de ao longo desta ribeira existir alguma abundância de coelho-bravo, a sua importância vê-se reforçada. È de recordar ainda que esta ribeira integrava-se no “sistema” Alcarrache e Guadalim referenciado como local de ocorrência de lince-Ibérico (CEIA 1998). Figura 101 – Ribeira deGuadalim. Espécies alvo Toda a comunidade de mamíferos carnívoros, com especial relevância para a lontra (grande parte da Ribeira de Guadalim foi classificada como área de habitat altamente adequado) e o toirão (devido á estrutura pedregosa da ribeira e à abundância de coelho-bravo). Por outro lado, esta ribeira percorre uma extensão considerável de estepe (habitat desfavorável para ambas as espécies), o que a torna um elemento da paisagem de elevada importância como abrigo e elo de ligação entre habitats favoráveis. Tipo de intervenção Sugere-se uma intervenção idêntica à descrita para a ribeira de Pardais (Fig.102). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________169 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Localização geográfica N 275000 276000 277000 278000 279000 280000 281000 282000 283000 284000 152000 152000 151000 151000 150000 150000 149000 149000 148000 148000 147000 147000 146000 146000 275000 276000 277000 278000 279000 Troço da Ribeira de Guadalim para Conservação 280000 281000 282000 0 283000 284000 2 Km Zona tampão com matos Albufeira de Alqueva Figura 102 - Localização e dimensão da intervenção na ribeira deGuadalim. Enquadramento no PMC1 PC1.2. Reflorestação Ribeirinha PIC5. Áreas Classificadas na Região de Guadiana/Alqueva RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________170 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 2) ZONA DE TRANSIÇÃO ENTRE A ÁREA DE REGOLFO E A ZEC MOURA / BARRANCOS F - RIO ARDILA (TROÇO DE LIGAÇÃO GUADIANA/ SÍTIO MOURA - BARRANCOS) Justificação da importância da intervenção O troço do rio Ardila entre o rio Guadiana e a ribeira da Toutalga caracteriza-se por alternar zonas ripícolas com rupícolas. As primeiras situam-se na proximidade da foz e as segundas já na proximidade da ribeira da Toutalga. Este troço do rio Ardila irá ser profundamente afectado com a albufeira de Pedrógão, não só porque ficará interrompida a sua ligação ao Guadiana com também será submersa uma faixa de vegetação/galeria ripícola significativa. Torna-se assim necessário compensar as alterações profundas que este troço do Ardila irá sofrer com Pedrógão, não só pelo seu papel na continuidade ecológica como também para a recuperação dos habitats destruídos (Fig. 103). Figura 103– Estrutura típica da ribeira do Ardila perto da foz (zona de contacto com o Guadiana) Espécies alvo Toda a comunidade de mamíferos carnívoros, com especial relevância para a lontra e o gato-bravo. No caso da lontra esta medida é uma forma de disponibilizar abrigos e locais de reprodução num troço de rio (Guadiana e Ardila que irão ser afectados com a albufeira de Pedrógão.Para o gato-bravo esta é uma área de ligação entre possiveis populações da serra Mendro/Portel e a as populações existentes na Bacia do rio Ardila. Tipo de intervenção Sugere-se uma intervenção idêntica à descrita para a ribeira do Degebe (Fig.104). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________171 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Localização geográfica N 256000 258000 260000 262000 264000 266000 268000 270000 272000 274000 140000 140000 138000 138000 136000 136000 134000 134000 132000 132000 130000 130000 256000 258000 260000 262000 264000 Troço do Ardila para conservação 266000 268000 270000 0 272000 274000 4 Km Zona tampão com matos Figura 104 - Localização e dimensão da intervenção no Rio Ardila. Enquadramento no PMC1 PC1.2. Reflorestação Ribeirinha PC5.1. Regeneração de Matos Mediterrânicos PIC5. Áreas Classificadas na Região de Guadiana/Alqueva PIC6. Sítios Rede Natura 2000 3) ÁREA DA ZEC MOURA / BARRANCOS O sítio Moura-Barrancos é limitado a Norte pelo Rio Ardila e a Sul pelas Serras Adiça, Malpique e Ficalho, em estreita ligação com o troço ocidental da Serra Morena situada em Espanha. Á semelhança no referido para a área envolvente ao regolfo de Alqueva são novamente as galerias ripícolas o principal alvo das acções de recuperação / conservação de habitats. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________172 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) G - RIO ARDILA Justificação da importância da intervenção O vale do Rio Ardila é o mais encaixado desta área, observando-se uma alternância de matos com áreas abertas, onde predominam as zonas rupícolas (Fig. 105). Para manter uma linha de continuidade ecológica no rio Ardila será necessário recuperar zonas degradadas e garantir a conservação dos troços bem conservados. Por outro lado é fundamental a criação de uma faixa tampão ao longo do seu percurso, que tenha como objectivo a manutenção do contínuo ecológico e a recuperação das áreas de matos e matagais da região. Figura 105 – Estrutura típica do rio Ardila no Sítio Moura-Barrancos Espécies alvo Toda a comunidade de mamíferos carnívoros, com especial relevância o gato-bravo e lince, já que esta ribeira é um dos elos naturais mais estruturantes numa das áreas mais importantes para a conservação dio lince a nível regional e nacional (CEIA et al. 1998). No caso do gato-bravo por ser um corredor natural de ligação entre áreas favoráveis das serras do Mendro e Portel e a Bacia do Ardila/Sítio Moura-Barrancos. Tipo de intervenção Sugere-se uma intervenção do tipo da sugerida para o rio Degebe (Fig.106). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________173 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Localização geográfica N 275000 280000 285000 290000 295000 300000 305000 140000 140000 135000 135000 130000 130000 275000 280000 285000 Troço do Ardila para conservação 290000 295000 300000 0 305000 4 Km Zona tampão com matos Figura 106 - Localização e dimensão da intervenção no rio Ardila. Enquadramento no PMC1 PC1.2. Reflorestação Ribeirinha PC5.1. Regeneração de Matos Mediterrânicos PIC5. Áreas Classificadas na Região de Guadiana/Alqueva PIC6. Sítios Rede Natura 2000 H - RIBEIRA DE TOUTALGA Justificação da importância da intervenção A ribeira da Toutalga é um elo de ligação bastante importante entre o rio Ardila e as serras da Adiça-MalpiquePreguiça-Ficalho e, também, pela proximidade às áreas fronteiriças espanholas. Por outro lado, em alguns dos seus troços esta linha de água atravessa áreas de regadio tornando a galeria presente nas suas margens importante por permitir o deslocamento de elementos da comunidade de mamíferos (Fig.107). No entanto, uma parte do seu percurso, com cerca de 3,6Km encontra-se totalmente degradado, traduzindo a ausência de vegetação um cenário de desertificação (Fig.108). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________174 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Figura 107 – Troços preservado e degradado da ribeira de Toutalga. Figura 108 – Troço da ribeira deToutalga degradada. Espécies alvo Toda a comunidade de mamíferos carnívoros, com especial relevância para o gato-bravo e lince-Ibérico. A ribeira da Toutalga é um afluente do Ardila que estabelece a ligação entre o complexo de serras da Adiça-Ficalho-MalpiquePreguiça e o rio Ardila, áreas muito importantes para a conservação destas duas espécies de felídeos (CEIA et al. 1998, FERREIRA 2003). Tipo de intervenção Tendo em conta o estado do troço a recuperar (ausência quase total de vegetação) sugere-se a curto-prazo a reflorestação com retamas monosperma e Retama sphenocarpa na zona do nível de flutuação, pois suportam a aridez e têm um crescimento rápido, sendo estas acompanhadas por espécies como o aloendro e a tamargueira. Para além de autóctones estas espécies podem mais rapidamente estabelecer povoamentos vegetais que estruturalmente forneçam condições de abrigo para a comunidade de mamíferos carnívoros, até que se estabeleçam outras espécies de crescimento mais lento como o freixo e a roseira brava Rosa canina estas duas espécies disponibilizaria abrigo, sobretudo para as espécies com aptidão trepadora, e a segunda produz frutos comestíveis até ao Outono. Paralelamente, na zona de pré-ribeira e numa faixa entre 10-15m anexa, seria plantados matos rasteiros que serviriam RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________175 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) de protecção à ribeira tais como o tojo, sargaço Cistus salvifolius e as lavandulas Lavandula sp (Fig. 109). O restante corpo da linha de água seria envolvido por uma zona tampão de 50m (ver ribeira do Degebe). Localização geográfica N 274500 275000 275500 276000 276500 277000 277500 278000 278500 124000 124000 123500 123500 123000 123000 122500 122500 122000 122000 121500 121500 121000 121000 274500 275000 275500 Troço da Toutalga para recuperação Zona tampão com matos 276000 276500 277000 277500 278000 0 278500 2 km Figura 109 - Localização e dimensão da intervenção na ribeira deToutalga. Enquadramento no PMC1 PC1.2. Reflorestação Ribeirinha PC5.1. Regeneração de Matos Mediterrânicos PIC5. Áreas Classificadas na Região de Guadiana/Alqueva PIC6. Sítios Rede Natura 2000 RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________176 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) I - RIBEIRA DE S. PEDRO Justificação da importância da intervenção A ribeira de S. Pedro corre quase paralelamente à ribeira da Toutalga, assumindo juntamente com esta um importante papel de ligação estrutural no Sítio Moura-Barrancos, não só pela sua ligação ao complexo de serras AdiçaFicalho-Malpique-Preguiça como também às áreas naturais espanholas. A ribeira de S. Pedro encontra-se globalmente bem preservada (Fig. 110), no entanto essa é uma situação instável tendo em conta a sua envolvente mais directa ser constituída por habitats bastante humanizados (olival explorado, regadios, plantações recentes de pinhal), tornando-se por isso necessário a criação de zonas tampão compostas por matos e matagais. Estas zonas tampão têm como objectivo não só a conservação da linha de água como também conectar esta ribeira às serras calcárias e à ribeira da Toutalga. Figura 110 – Ribeira de S. Pedro. Espécies alvo Toda a comunidade de mamíferos carnívoros, com especial relevância para o lince-Ibérico e o gato-bravo. A ribeira de S. Pedro é um afluente da ribeira de Toutalga que estabelece a ligação entre o complexo de serras da Adiça-FicalhoMalpique-Preguiça e o rio Ardila, áreas muito importantes para a conservação destas duas espécies de felídeos (CEIA et al 1998, FERREIRA 2003). Tipo de intervenção Sugere-se uma intervenção do tipo da sugerida para o rio Degebe (Fig. 111). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________177 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Localização geográfica N 271000 272000 273000 274000 275000 276000 277000 278000 124000 124000 123000 123000 122000 122000 121000 121000 120000 120000 119000 119000 271000 272000 273000 274000 Troço da ribeira de S. Pedro para conservação 275000 276000 277000 0 278000 3 Km Zona tampão com matos Figura 111 - Localização e dimensão da intervenção na ribeira de S.Pedro. Enquadramento no PMC1 PC5.1. Regeneração de Matos Mediterrânicos PIC5. Áreas Classificadas na Região de Guadiana/Alqueva PIC6. Sítios Rede Natura 2000 J - RIBEIRA DE MURTIGÃO Justificação da importância da intervenção A ribeira do Murtigão caracteriza-se por correr ao longo de vales encaixados, geralmente com zonas rupícolas associadas, e com uma vegetação típica, dominadas pelo tamujo, sendo ao longo desta ribeira que se encontram as RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________178 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) manchas de maiores dimensões e melhor preservadas de matos e matagais (Fig. 112). As características estruturais da ribeira do Murtigão são únicas no contexto regional, constituindo esta linha de água um dos principais elos do contínuo ecológico com áreas protegidas na vizinha Espanha, com a qual o Sítio Moura-Barrancos faz fronteira, nomeadamente com os Parques Naturais de Serra de Aracena e Picos de Aroche, Serra Norte e Serra de Hornachuelos. A preservação e incremento da adequabilidade da ribeira do Murtigão para a comunidade de mamíferos carnívoros é essencial num contexto de conservação da natureza a nível regional e ibérico. Figura 112 – Área envolvente á ribeira do Murtigão no Perímetro Florestal da Contenda. Espécies alvo Toda a comunidade de mamíferos carnívoros, com especial relevância para o lince-Ibérico e o gato-bravo. A ribeira de Murtigão é um afluente do rio Ardila que estabelece a ligação entre as áreas fronteiriças do Perímetro Florestal da Contenda e as áreas mais a jusante da Bacia do Ardila. As caracteristicas estruturais e estado de conservação destas linhas de água tornam-nas elos fundamentais para o deslocamento de índividuos de gato-bravo e lince entre áreas favoráveis e núcleos populacionais. Tipo de intervenção Sugere-se um tipo de intervenção semelhante à referida para a ribeira de Pardais (Fig. 113). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________179 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Localização geográfica N 282000 284000 286000 288000 290000 292000 294000 296000 298000 300000 134000 134000 132000 132000 130000 130000 128000 128000 126000 126000 124000 124000 122000 122000 120000 120000 282000 284000 286000 288000 290000 Troço da ribeira de Murtigão para conservação 292000 294000 296000 0 298000 300000 4 Km Zona tampão com matos Figura 113 - Localização e dimensão da intervenção na ribeira de Murtigão. Enquadramento no PMC1 PC5.1. Regeneração de Matos Mediterrânicos PIC5. Áreas Classificadas na Região de Guadiana/Alqueva PIC6. Sítios Rede Natura 2000 RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________180 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) L - COMPLEXO DE SERRAS PREGUIÇA / MALPIQUE/ ADIÇA / FICALHO Justificação da importância da intervenção Os matos mediterrâneos climax são habitats bastante favoráveis para o gato-bravo e lince-Ibérico (PALMA et. al. 1999) distribuindo-se no Sítio Moura-Barrancos por faixas estreitas ao longo dos cumes das serras de MalpiqueFicalho-Preguiça-Adiça (Fig. 114), já que a restante área é ocupada por olival explorado sem subcoberto (Fig. 115). Para além das potencialidades que oferece, em termos de refúgio e reprodução para as duas espécies de felídeos e para a restante comunidade de mamíferos, é de acrescentar a sua adequabilidade para o incremento e manutenção de populações de coelho-bravo com níveis de abundância apreciáveis. Assim torna-se vital a ligação entre as manchas destes habitats, ou seja a ligação entre as várias serras desta região (Adiça-Ficalho-Malpique-Preguiça). Figura 114 – Matos mediterrâneos da Serra da Preguiça Figura 115 – Extensão de olival explorado Espécies alvo Toda a comunidade de mamíferos carnívoros, com especial relevância para o lince-Ibérico e o gato-bravo. O complexo de serras Adiça-Ficalho-Malpique-Preguiça foi o local onde se registou o último índicio da presença de lince em Portugal (SANTOS-Reis 2003, PEDROSO et al. 2003) e apresenta elevados índices de adequabilidade para o gatobravo (FERREIRA 2003). Tipo de intervenção Ligação entre as manchas de bosque mediterrâneo bem conservado existentes nas serras calcárias da Adiça, Ficalho, Malpique, Preguiça e as ribeiras de Toutalga e S. Pedro. Esta intervenção pressupõe o abandono de pequenas manchas de olival explorado. De facto, as zonas lavradas de olival poderão mostrar elevados níveis de recuperação RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________181 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) passados 4/5 anos. As zonas a abandonar seriam manchas de matagais diversificados que ocupariam as áreas abertas entre as oliveiras num raio entre 8 e 10m, esta dimensão tem que ver com a sua adequabilidade como abrigo para a comunidade de carnívoros e em especial para o lince-Ibérico, permitindo ao felídeo abrigar-se durante o dia e utilizar estas manchas para a caça de emboscada tipica da espécie (MORENO, S. & R. VILLAFUERTE (1995). Esta medida fomentaria igualmente a abundância de coelho-bravo na área já que permitiria a sua expansão na área como consequência do sistema de manchas proposto permitindo a disponibilidade de recursos alimentares e locais de reprodução e abrigo (Fig. 116). No caso de áreas de estepe e montado o processo será o mesmo. Para esta medida ter sucesso terá de haver uma articulação entre critérios biológicos (únicos aqui propostos), rentabilidade económica das explorações agrícolas (critérios económicos) e número de proprietários envolvidos (critérios sociais), por forma a avaliar os custos económicos ao nível das compensações por perda de produtividade e implementação de acções de intervenção ecológica. Para tal será necessária uma articulação entre a EDIA SA, como entidade promotora, e as instituições responsáveis pela Agricultura e Ambiente – DRAAL e ICN ). Localização geográfica N 264000 266000 268000 270000 272000 274000 276000 278000 280000 124000 124000 122000 122000 120000 120000 118000 118000 116000 116000 114000 114000 112000 112000 264000 266000 268000 270000 Áreas para recuperação de matagais 272000 274000 0 276000 278000 280000 5 Km Figura 116 - Localização e dimensão das áreas de intervenção para ligação das serras Preguiça, Malpique, Adiça e Ficalho RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________182 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Enquadramento no PMC1 PC5.1. Regeneração de Matos Mediterrânicos PIC5. Áreas Classificadas na Região de Guadiana/Alqueva PIC6. Sítios Rede Natura 2000 As medidas de recuperação de habitats deverão ser articuladas e avaliadas com a equipa de investigação do Jardim Botânico de Lisboa e responsável pelo banco de sementes, de modo a evitar contaminações genéticas e usar as espécies mais indicadas nas medidas propostas. Na figura 117 está representado o cenário de glogal ao nível da Recuperação/conservação dos habitats. D 440 441 N 451 A 452 462 B 463 473 481 C 474 482 483 490 491 492 500 501 511 512 522 523 ZEC Moura-Barrancos Rios Cartas militares E 0 F 502 H I 513 K 524 20 493 G 503 514 504 J 515 525 Km Figura 117 – Localização de todas as intervenções propostas para recuperação/conservação de habitats na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (as letras indicadas na figura referem-se ao texto anteriormente exposto). RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________183 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 8.3.2.2.2. Recuperação das populações de coelho-bravo Além da recuperação do habitat, para a comunidade de mamíferos carnívoros com especial ênfase para a maioria das espécies alvo (toirão, gato-bravo e lince-Ibérico), é fundamental a recuperação das populações de coelho-bravo. A recuperação das populações de coelho-bravo, em áreas onde actualmente se encontra ausente ou em baixa densidade, dever-se-à fazer através de acções de repovoamento a partir de núcleos de reprodução em cativeiro, e nas zonas onde existe em média abundância, por acções de recuperação do habitat no sentido de garantir os requisitos necessários ao seu incremento populacional. O repovoamento e/ou incremento dos efectivos populacionais de coelho-bravo é uma medida de conservação essencial para as populações de carnívoros, em particular em áreas de ocorrência efectiva e potencial de lince-Ibérico e gato-bravo, para além de ser uma medida extremamente benéfica para a comunidade de mamíferos carnívoros e outros predadores em geral. Tipo de intervenção As acções de repovoamento de coelho, tendo em vista principalmente a conservação do lince e do gato-bravo, deverão incidir na área envolvente ao regolfo de Alqueva nas ribeira de Lucefecit e serra de Portel, na bacia do Ardila com especial importância para a sub-bacia da ribeira de Murtigão (Fig. 118) e em áreas fronteiriças, nomeadamente a Herdade da Negrita e Perímetro Florestal da Contenda (Fig. 119). A selecção das áreas propostas para repovoamento assentou em critérios relativos à estrutura do habitat, ao contributo no estabelecimento de corredores ecológicos e à abundância observada de coelho-bravo. Sugerem-se assim as seguintes áreas para intervenção: a) b) área de regolfo da barragem de Alqueva • Zona envolvente à rib.ª de Lucefecit • Serra de Portel/Mendro zona de transição entre a área de regolfo e a ZEC Moura / Barrancos • c) Zona envolvente ao Rio Ardila área da ZEC Moura / Barrancos Sub-bacia do Murtigão/áreas fronteiriças com Espanha • Ao longo de toda a ribeira do Murtigão • Perímetro Florestal da Contenda • Herdade da Negrita RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________184 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Descrição da intervenção De acordo com o anexo XI. Localização geográfica 440 441 451 452 462 463 473 474 481 482 483 490 491 492 493 500 501 502 503 504 511 512 513 514 515 522 523 524 N Serra de Portel e Mendro Na área envolvente ao Rio Degebe Na área envolvente à ribeira de Lucefecit Ao longo do Rio Ardila, na zona de transição Perímetro Florestal da Contenda ao longo da ribeira de Murtigão 525 Ao longo da Ribeira de Murtigão ZEC Moura-Barrancos Rios e ribeiras Cartas militares 0 9 18 Km Albufeira de Alqueva Figura 118 – Localização das áreas para repovoamentos de coelho-bravo na área cartográfica de Alqueva. As medidas de repovoamento de coelho-bravo deverão ser articuladas com o Instituto de Conservação da Natureza que é responsável pela conservação de espécies ameaçadas como o lince-Ibérico e pela implementação de medidas de conservação em áreas classificadas, onde se propôem alguns repovoamentos. Estas acções de repovoamento inserem-se numa lógica de articulação com as medidas de recuperação/conservação dos habitats descritas anteriormente (ver 8.3.2.2.1.) de modo a potenciar a exequabilidade das propostas para intervenção para as espécies RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________185 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) de mamíferos carnívoros, com especial ênfase para as espécies alvo deste projecto. De facto os locais propostos para repovoamentos de coelho-bravo inserem-se em áreas com adequabilidade de habitats mas onde a(s) espécie(s) está ausente ou com abundâncias reduzidas, ou então em áreas que foram propostas acções para recuperação dos habitats (Figs 117 e 118). N 295000 296000 297000 298000 299000 300000 124000 124000 123000 123000 122000 122000 121000 121000 295000 296000 297000 298000 0 299000 300000 2 Km Figura 119 - Espaço cartográfico para repovoamento de coelho-bravo no Perímetro Florestal da Contenda ao longo da ribeira do Murtigão. 8.3.2.3. Outras medidas / recomendações De entre os factores ambientais que afectam a viabilidade populacional, e que representam factores de ameaça, realçam-se as de origem antropogénica, pela redução progressiva dos habitats originais, introdução de exóticas, caça excessiva, perseguição directa, e impactes gerados por poluentes e substâncias tóxicas nas linhas de água e cadeia RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________186 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) trófica. As alterações nos habitats naturais são, talvez, a causa principal do declínio das populações animais. De facto, os processos de fragmentação dos habitas induzem variações demográficas nas populações, dando origem a núcleos populacionais com número reduzido de individuos, muitas vezes sem comunicação entre si, contribuindo para a perda de variabilidade genética e aumentando o risco de extinção, como já foi referido anteriormente. Assim, para além das medidas de intervenção globais propostas ao nível da recuperação dos habitats e populações de presas (coelho-bravo), existem outras de caracter mais pontual, mas que são fundamentais para reduzir a influência de outro tipo de factores de ameaça sobre as espécies alvo deste estudo e da comunidade de mamíferos carnívoros em geral. Algumas destas medidas são dirigidas à espécie, de acordo com diferentes requisitos ecológicos das mesmas e os efeitos de factores de ameaça de âmbito específico. Deste modo sugere-se um conjunto de outras medidas /recomendações complementares: a) Acções ao nível da comunidade piscícola Espécies beneficiadas: lontra Tal como já foi descrito, existe vantagem, quer para a lontra, quer para a valorização geral da comunidade ictíca na área de estudo, que se promova a manutenção das espécies autóctones e se combata a proliferação das espécies exóticas. Para tal podem-se tomar acções como: - Repovoar os tributários e albufeiras com espécies autóctones, em detrimento das exóticas que são sempre a primeira escolha por parte de pescadores e particulares, neste casos; - Actuar para aumentar a vulnerabilidade das presas de lontra, quer através da promoção das espécies autóctones (mais facilmente capturáveis por este carnívoro dada a sua menor mobilidade e maior dimensão), quer ao nível da promoção de zonas de enseada (locais de maior facilidade de capturas quer pela sua concentração, quer pela maior facilidade de emboscar os indivíduos quando comparardo com a massa de água). A efectivação desta medida seria beneficiada pela continuidade da colaboração que se tem verificado entre esta equipa e a equipa responsável pela monitorização da comunidade ictíca (coordenada pela Profª Doutora Maria João Collares-Pereira da FCUL) dado que seria fundamental acompanhar as variações na composição e disponibilidade de presas e no seu consumo pela lontra durante o período de enchimento até à cota prevista e até à fase de estabilização da comunidade ictíca da nova albufeira. Apenas deste modo será possível avaliar se a diversidade, disponibilidade e vulnerabilidade da comunidade íctica vão sendo reduzidas, e de que forma a lontra se adaptará a essa nova situação. A evolução esperada é que passe a estar disponível uma menor biomassa, a dieta base passe dos ciprinídeos para os centrarquídeos e que a maior parte dos exemplares consumidos sejam menores em termos de dimensão e de biomassa. No entanto, todas estas hipóteses terão de ser testadas, dado que são elementos essenciais para a compreensão do processo de estabilização da lontra na área de estudo. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________187 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) b) Acções ao nível dos sistemas lóticos e lênticos adjacentes Espécies beneficiadas: lontra e toirão - Avaliar se e como se altera a importância dos sistemas lênticos e lóticos adjacentes, em termos de coberto e disponibilidade de presas; - Impedir a captação de água em pegos durante a época seca, de forma a proporcionar fontes de alimentação que podem ser determinantes para a existência de lontra nalgumas zonas da área de estudo; - Fomentar a presença de linhas de água e pequenas charcas com capacidade para suportar populações de peixes e anfíbios (neste caso seria bastante benéfico para o toirão). b) Acções ao nível da albufeira Espécies beneficiadas: lontra É previsível um aumento da densidade humana e das actividades na albufeira o que implica um aumento da perturbação, com relevância para a lontra devido ao seu caracter anfíbio e secretivo. É preciso identificar quais as zonas do perímetro da barragens que poderão ser importantes para a lontra, nomeadamente no que se refere à sua reprodução, e regulamentar e fiscalizar a navegabilidade e utilização das margens nestas zonas, bem como na albufeira e ilhas. Neste momento, é possível adiantar que as pequenas zonas de desembocadura das ribeiras na albufeira, que formem pequenas enseadas e que ainda mantenham algum refúgio, devem ser alvo de protecção por serem locais privilegiados para a lontra se poder deslocar entre a albufeira e os sistemas lóticos adjacentes. c) Acções ao nível das ilhas Espécies beneficiadas: lontra É sabido que entre as cotas 147 m e 153 m está prevista a formação de 93 ilhas. Estas ilhas podem constituir locais de refúgio determinantes para a espécie numa zona em que estes são escassos, nomeadamente à medida que a perturbação for aumentando. Por este motivo, é determinante proteger as ilhas, especialmente as de maiores dimensões. É igualmente necessário avaliar se as ilhas são usadas ou não pela lontra, de forma a contribuir para a sua conservação e gestão. d) Promover um plano de monitorização da situação pós-enchimento Espécies beneficiadas: lontra RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________188 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) O enchimento foi o principal efeito negativo sentido para a lontra no decurso da implementação do EFMA. O facto deste ainda não ter terminado, condiciona em muito a avaliação do verdadeiro impacte da Barragem de Alqueva sobre as populações de lontra desta zona, e não permite uma avaliação completa da capacidade de adaptação que esta espécie apresenta a este novo ambiente. Vários aspectos já foram referidos (dieta, disponibilidade de presas, uso das ilhas) mas o mais importante é avaliar como respondem as populações de lontra sobre pressão de densidade nos sistemas lóticos adjacentes, através da comparação de locais prospectados anteriormente em termos de marcação e presentemente/a curto e médio prazo. Esta monitorização permitiria verificar se existe reprodução efectiva nas margens da barragem, o que pode ser feito através da procura intensiva de tocas de reprodução, de pegadas de crias, da realização de esperas nocturnas para visualização de indivíduos, bem como através dos resultados de avaliação dos efeitos do enchimento com acompanhamento das estações de amostragem actuais e construção de um novo modelo de adequação de habitat. e) Promover um plano de monitorização das medidas de compensação Espécies beneficiadas: lontra, toirão, gato-bravo e línce-Ibérico Num cenário provável de aplicação global ou parcial das medidas de compensação anteriormente propostas na sequência deste projecto, a implementação de um plano de monitorização dessas medidas para avaliação dos seus efeitos surge como um passo natural. f) Actuação ao nível do projecto das zonas húmidas Espécies beneficiadas: lontra A criação das zonas húmidas prevista pela EDIA poderá ser positivo para a lontra mas apenas do ponto de vista de disponibilidade de presas, pois se não for acompanhada da recuperação do coberto vegetal da margem terá uma importância limitada. Igualmente, é preciso não esquecer que estas zonas serão previsivelmente zonas de atracção para espécies exóticas e fontes de perturbação pelas actividades humanas associadas, o que deve ser combatido no sentido de manter uma sustentabilidade ecológica. Da mesma forma, o número previsto de zonas húmidas a criar (n=8) é manifestamente reduzido, para que o seu efeito seja significativo em termos populacionais. g) Manutenção de um caudal ecológico a jusante (Rio Guadiana) Espécies beneficiadas: lontra RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________189 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) É essencial a manutenção do caudal ecológico normal do rio Guadiana, não contribuindo, através da retenção prolongada da água, para alterações no caudal para além das flutuações típicas da sazonalidade e mesmo diversidade interanual, de forma a afectar ao mínimo a comunidade de ictiofauna, determinante para a lontra. Deve-se igualmente evitar as descargas súbitas a jusante, de forma a evitar a inundação de eventuais tocas existentes na área, bem como a perturbação de uma forma geral sobre a espécie. h) Acções ao nível das futuras áreas de regadio Espécies beneficiadas: lontra, toirão, gato-bravo e línce-Ibérico Tendo em conta o elevado impacte que a implementação da albufeira de Alqueva está a ter sobre as populações das espécies-alvo, é de prever que este será potenciado por acção dos impactes cumulativos que a implementação dos futuros perímetros de rega terão. É assim fundamental identificar zonas de maior importância para as espécies dentro destas áreas, bem como identificar os sistemas lóticos e lênticos afectados, por forma a permitir uma análise integrada da albufeira e dos perímetros de rega, especialmente dos seus efeitos para a lontra e toirão. Esta abordagem aos perímetros de rega é essencial para a subsistência das espécies na área, através de actuações ao nível dos principais impactes, como a destruição da vegetação ripícola, a redução da biomassa e da diversidade ictíca, a degradação da qualidade da água e a mortalidade causada pelos canais de rega. Uma área evidente e preocupante é a da Rede Natura 2000, adjacente ao bloco de rega do Ardila, e como tal, passível de ser influenciada pelas acções implementadas no referido bloco de rega. As futuras albufeiras associadas à rede primária de rega, pelo efeito cumulativo de transformação de sistemas lóticos em lênticos, bem como por eventuais impactes diferentes dos registados na albufeira de Alqueva, devem ser alvo de acções de monitorização e minimização desses mesmos impactes. i) Correcta gestão das áreas de montado Espécies beneficiadas: toirão, gato-bravo e línce-Ibérico As áreas de montado não apresentam, globalmente, um subcoberto regenerativo, devido à pastorícia intensiva e desmatações sucessivas. De facto o excessivo encabeçamento de gado e as desmatações do sub-coberto em grandes extensões não permitem a fixação de comunidades de presas, principalmente micromamíferos e coelho-bravo. Por outro lado, verifica-se uma diminuição progressiva da densidade de árvores (sobretudo azinheiras) nos montados, associado a más condições fitosanitárias. A estes factos não serão alheios a incapacidade regenerativa dos povoamentos, pelos motivos atrás referidos e as podas excessivas que são feitas ás árvores com a finalidade de uma maior rentabilidade através da venda de lenha (sobretudo azinho). Estes são problemas muito graves que põem em causa o futuro dos nossos montados e por consequência das espécies associadas, muito em particular o gato-bravo. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________190 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) j) Acções ao nível da fragmentação de habitats causado pelo paredão da barragem Espécies beneficiadas: lontra, toirão, gato-bravo e línce-Ibérico A questão da fragmentação causada pelo paredão é um factor de grande impacte, especialmente pela fragmentação que causa nas espécies-alvo, com especial incidência para a lontra. Em termos estruturais do paredão, dada a sua grande dimensão não há possibilidade de intervenção. No entanto, é possivel actuar ao nível da criação de passagens para fauna na estrada (Alqueva-Moura), onde já foi encontrada uma lontra atropelada a cerca de 1Km do paredão da albufeira de Alqueva.. No caso desta espécie, factores como o declive das margens adjacentes e das zonas húmidas envolventes devem ser analisados por forma a proporcionar medidas que promovam uma deslocação mais fácil entre a albufeira e o rio Guadiana a jusante, e vice-versa. K) Acções ao nível da educação ambiental Espécies beneficiadas: lontra, toirão, gato-bravo e línce-Ibérico No caso da lontra seria importante actuar ao nível da imagem que a espécie tem como grande predador de peixes. Realçar ainda a questão da lontra actuar como um elemento que contribui para uma diminuição das espécies exóticas, especialmente para o lagostim, o que tem benefícios ao nível das comunidades de anfíbios e peixes. No caso do, toirão, gato-bravo, lince e mesmo do lobo, torna-se necessário desmistificar a ideia errada que lhes está associada de espécies daninhas à caça. No caso do lobo a perseguição directa tem sido ao longo dos tempos uma das suas principais ameaças, fruto de falta de informação e ignorância e para que muitas histórias infantis têm contribuído (ex: capuchinho vermelho, três porquinhos, etc.). Apesar de o lobo já não ocorrer na área de estudo, o futuro da conservação desta espécie ameaçada de extinção tem de ser acautelado, daí a necessidade de preparar as gerações futuras para o regresso do lobo ao Sul do país. No caso do gato-bravo é conhecido o problema de hibridação com o gato-doméstico, sendo este factor potenciado nas zonas de contacto de ambas as espécies, ou seja nas zonas rurais. Os gatos-domésticos existentes em montes têm uma maior tendência para se tornarem assilvestrados, muitas vezes pelo facto de o local ser abandonado pelos proprietários. Uma campanha para alertar os proprietários rurais para este problema de conservação é assim fundamental, como contributo para a manutenção do património genético da espécie silvestre. No caso do toirão existe igualmente um problema de hibridação, que aparentemente poderá não ser tão acentuado como o do gato-bravo, até porque o furão está apenas associado a actividade pontuais na caça ao coelho não se distribuindo de forma generalizada como o gato-doméstico, no entanto este problema deverá ser alvo de uma campanha de sensibilização junto dos caçadores. No caso do lince-Ibérico, o felino mais ameaçado do mundo, é extremamente urgente uma campanha de sensibilização junto da população Portuguesa, recorrendo a tempo de antena televisivo e a actividades de educação RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________191 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) ambiental junto das escolas, com prioridade para aquelas que se situem em áreas de ocorrência potencial da espécie. Por outro lado, seria muito importante fazer acções de sensibilização dos caçadores nas áreas de ocorrência potencial de lince antes de cada montaria ou batida (esta medida deveria ser articulada com o ICN e DRAAL). l) Redes nas zonas de caça Espécies beneficiadas: gato-bravo e lince-Ibérico Na sua maioria as zonas de caça turísticas estão delimitadas por extensas vedações que, pela sua estrutura (malha fina e altura) poderão funcionar como barreiras na movimentação de algumas espécies de mamíferos carnívoros, nomeadamente o lince. Algumas destas áreas localizam-se na área cartográfica do projecto de Alqueva e em Sítios Classificados, como é o caso do Sítio Moura-Barrancos, ao longo do Rio Ardila (Herdade Garrochais, Butefa e Fornilhos) e da Ribeira do Murtigão (Herdade das Tesas e Marvões). Este é um problema ambiental grave já com alguma dimensão, pois ocorre um pouco por todo o país e em áreas extremamente sensíveis do ponto de vista da conservação da natureza, sendo muitas delas áreas de ocorrência potencial de lince. Torna-se pois urgente regulamentar este tipo de estruturas e cooperar com os proprietários para minimizar os efeitos deste problema ambiental. m) Zonas de caça-controle de predadores Espécies beneficiadas: lontra, toirão, gato-bravo e línce-Ibérico A maioria dos carnívoros é muitas vezes vitima da ignorância e intolerância do Homem pois, muito embora alguns tenham estatuto de espécie protegida, admite-se que sejam frequentemente perseguidos, sendo muito provável que o uso generalizado de laços, ferros e veneno atinja as suas populações, mantendo-as com densidades bastante reduzidas. Em Portugal, a utilização de meios não selectivos no controle de predadores, ao abrigo legal das chamadas acções de correcção de densidade (Lei da Caça - artigo n.º 109 do Decreto-Lei n.º 227 – B/2000 de 15 de Setembro), constitui comprovadamente uma ameaça generalizada à sobrevivência da maioria das espécies de mamíferos carnívoros, que são ilegalmente capturadas, e sem qualquer controlo, muito provavelmente numa vasta área do território nacional. Este é um problema que requer uma fiscalização eficaz, por exemplo através do reforço de meios ás Brigadas Verdes da Guarda Nacional Republicana entidade que tem tido mais sucesso na execução desta missão e igualmente um esforço na sensibilização e cooperação com os gestores de caça. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________192 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) n) Excesso de caça ao coelho-bravo Espécies beneficiadas: toirão, gato-bravo e línce-Ibérico Sensibilizar os gestores cinegéticos para a situação real do coelho-bravo e para a necessidade de fazer uma moratória para a caça ao coelho-bravo nunca inferior a 2 anos. Outra alternativa é regulamentar esta moratória pelo menos nas áreas mais sensíveis e de provável ocorrência de lince-Ibérico. 8.3.3. Enquadramento no Plano de Minimização e Compensação (PMC1) O presente estudo, integrado no Plano de Minimização e de Compensação dos Impactes sobre o Património Natural de Alqueva (PMCI), teve como grandes objectivos elaborar a situação de referência para as cinco espécies alvo de mamíferos carnívoros e, com base no conhecimento adquirido, apresentar propostas que visassem a compensação e/ou minimização dos impactes gerados com o EFMA sobre as mesmas. Para além de projectos de investigação, como o presente estudo, o PMC1 previa igualmente o desenvolvimento de projectos para a implementação de medidas de gestão ambiental e conservação de espécies e habitats, alguns dos quais serviram de enquadramento às medidas de minimização/compensação propostas ao longo deste realtório: PC1.1. Valorização do Montado de Azinho, PC1.2. Reflorestação Ribeirinha, PC5.1. Regeneração de Matos Mediterrânicos, PIC1. Criação de um Corredor Ecológico de Montado, PIC5. Áreas Classificadas na Região de Guadiana/Alqueva, PIC6. Sítios Rede Natura 2000. No entanto, e apesar da sua importância em termos de compensação na escala de impactes gerados, o conhecimento adquirido na área durante os trabalhos de campo e os resultados difundidos por elementos da EDIA, no decurso do 2º Encontro dos Trabalhos de Biologia em Alqueva, permitiu verificar que o nível de execução dos referidos projectos é reduzido e ainda não foram implementados projectos práticos de compensação efectiva aos impactes gerados sobre as espécies e habitats. Neste contexto, é de reforçar novamente a importância dos projectos PIC5, PIC6, para a compensação dos efeitos do EFMA em áreas classificadas no âmbito da Rede Natura 2000 de acordo com as Directivas Comunitárias que as classificam (Directiva Habitats). Como já foi referido em pontos anteriores (8.3.2) os impactes do EFMA no Sítio MouraBarrancos traduzem-se no desaparecimento das ligações naturais desta área ao troço médio do vale do Guadiana, sendo por isso vital a construção de corredores naturais alternativos através da implementação de medidas de gestão ambiental ao nível dos habitats. A não articulação dos conhecimentos e medidas de compensação sugeridas pelas RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________193 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) equipas de investigação com os restantes projectos do PMC1 resultaram, em nossa convicção, na perda de oportunidade de compensar e minimizar em tempo efectivo os impactes do EFMA . No que diz respeito, em concreto, às espécies alvo deste relatório, mantendo-se este cenário de não implementação de medidas de conservação/gestão ambiental e o facto de estas não acompanharem em termos quantitativos e qualitativos as necessidades de compensação preve-se o insucesso do PMC1 na concretização dos objectivos para o qual foi concebido. 8.4. Necessidades futuras de pesquisa Conforme oportunamente referido (ver 2. Estado actual dos conhecimentos), o grau de conhecimento existente sobre as populações Portuguesas de toirão e gato-bravo é muito reduzido, sendo este o mais completo e exaustivo trabalho feito até ao presente, ainda que num âmbito regional, visando conhecer a distribuição das espécies-alvo na área de intervenção do projecto, com a delimitação dos principais núcleos populacionais. Quanto à lontra este trabalho constitui uma inovação em termos do acompanhamento da implementação de uma grande infra-estrutura hidráulica, desde a situação de referência até a fase inicial de enchimento. No entanto, e como ponto de partida, este estudo poderá servir de base metodológica e de planeamento para a elaboração de novos trabalhos sobre estas espécies em Portugal. A criação de um protocolo de execução científica torna-se urgente, de forma a criar uma base de conhecimento a nível nacional, que permita avaliar a situação das espécies e a redefinição do actual estatuto de conservação à luz dos novos critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Assim, e como resultado da estratégia adoptada, da experiência adquirida e dos resultados obtidos, sugerem-se algumas vias de pesquisa, em que a informação obtida será avaliada e cruzada, determinando prioridades de actuação e sugerindo medidas de conservação e gestão ambiental para estas espécies. Na área de estudo, perante os dados actuais, surge então como principal prioridade a avaliação do sucesso das medidas de gestão ambiental propostas, devendo a sua promoção ser da responsabilidade da EDIA S.A., empresa responsável pela albufeira de Alqueva. A avaliação deste sucesso não deve resultar apenas de uma mera enumeração das medidas preconizadas e efectivamente realizadas, mas também da escala (espacial e temporal) em que as mesmas foram implementadas e da avaliação da resposta das populações locais das espécies-alvo a essas mesmas medidas. Para dar cumprimento a este objectivo, e ainda que se reconheça que à EDIA S.A. não compete promover o conhecimento científico per si, é fundamental a manutenção de algumas acções de monitorização, desde que bem justificadas e enquadradas no cenário actual. Aliás, e beneficiando do Sistema de Informação Geográfico construído no âmbito deste projecto, um dos aspectos críticos seria o desenvolvimento de cenários futuros fazendo recurso à modulação e tendo em atenção as inúmeras propostas de actuação sugeridas e que visam aumentar a adequabilidade da área para as espécies-alvo. Bons exemplos desta situação, seriam as situações do gato-bravo e do próprio lince Ibérico, uma vez que ao longo deste estudo foi demonstrado o quão essencial é para a recuperação das duas espécies as medidas de gestão do habitat e de recuperação das populações de coelho-bravo. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________194 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Uma outra via de pesquisa crítica para o futuro do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva, como um empreendimento ecologicamente sustentável, tem a ver com a área cartográfica envolvente à área do regolfo e que vai sofrer impactes potencialmente importantes com a construção da barragem do Pedrógão, e outras previstas, e com a concretização do projecto de regadio. Sem uma definição clara da dimensão e limites dos perímetros de rega não foi possível avaliar eficazmente esses impactes que urge agora avaliar previamente à sua implementação. Utilizando os dados cartográficos de base obtidos sobre as diferentes espécies-alvo, uma vez aqueles conhecidos será possível fazer um exercício de avaliação e propor medidas de actuação exequíveis. Novamente surge a necessidade de manter algumas acções de monitorização que permitam acompanhar a implementação desta fase do Empreendimento e promover a sustentabilidade do mesmo em termos ambientais. Esta fase será particularmente crítica para a lontra e, em menor grau, para o toirão pela dependência que estas espécies têm ou revelaram ter com o meio aquático e pelos efeitos negativos identificados durante a fase pré e pós-enchimento da albufeira de Alqueva. A avaliação, nas áreas de ocorrência das espécies, do impacte de novas infra-estruturas de desenvolvimento (estradas, pontes, barragens, canais, etc.), actividades turísticas e alterações nos métodos agrícolas a serem geradas na área de intervenção do EFMA é outra das importantes vias de pesquisa aqui sugeridas, e que beneficia de um conhecimento acumulado de cinco anos que abrangeu as várias fases do projecto (situação pré-implementação, fase de desmatação/desarborização e fase de enchimento) e se apresenta como inovadora por nunca ter sido implementada no âmbito de uma infra-estrutura desta dimensão. Para além de dar resposta às exigências do projecto em causa, a estratégia futura aqui preconizada, contribuirá ainda certamente, como um complemento a custo zero ou diminuto, para a obtenção de dados que ainda de nível local ou regional são fundamentais no desenvolvimento de planos de conservação (Planos de Acção) das espécies-alvo à escala nacional, como seja a actualização das bases cartográficas de ocorrência das espécies, a identificação de potenciais factores de ameaça, e a resposta das populações a alterações do habitat e na disponibilidade de presas. Como conclusão, reforça-se a ideia da necessidade de actuação contínua, cientificamente suportada, para que se garanta que o Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva seja uma infraestrutura em que os custos ecológicos da sua implementação foram considerados e, sobretudo, compensados à escala da intervenção. RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________195 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) 9. BIBLIOGRAFIA ABREU, M.P. (1993). A comunidade de carnívoros da Reserva Natural da Serra da Malcata. Uma partilha de recursos. Relatório de Estágio Profissionalizante para obtenção da licenciatura em Recursos Faunísticos e Ambiente, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, 197pp. ALVES, P. C. & MORENO S. (1996). Estudo da reprodução do coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus) em Portugal. Revista Florestal, 9 (1): 149-166. ÂNGELO I.S. (2000). Comparação de duas metodologias para estimar a abundância relativa do coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus) no Nordeste Algarvio. Relatório de Estágio Profissionalizante para obtenção da licenciatura em Recursos Faunísticos e Ambiente, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, 197pp AYRES, B. (1914). 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RELATÓRIO FINAL (2003)___________________________________________________________________________________________________________207 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) ANEXO I Biótopos representados na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva N.º Descrição 1 Hortas 2 Pomares 3 Vinhas 4 Olival com subcoberto 5 Olival sem subcoberto 6 Montado de sobro novo denso sem subcoberto 7 Montado de sobro novo denso com subcoberto 8 Montado de sobro novo pouco denso sem subcoberto 9 Montado de sobro novo pouco denso com subcoberto 10 Montado de sobro novo disperso sem subcoberto 11 Montado de sobro novo disperso com subcoberto 12 Montado de sobro velho denso sem subcoberto 13 Montado de sobro velho denso com subcoberto 14 Montado de sobro velho pouco denso sem subcoberto 15 Montado de sobro velho pouco denso com subcoberto 16 Montado de sobro velho disperso sem subcoberto 17 Montado de sobro velho disperso com subcoberto 18 Montado de azinho novo denso sem subcoberto 19 Montado de azinho novo denso com subcoberto 20 Montado de azinho novo pouco denso sem subcoberto 21 Montado de azinho novo pouco denso com subcoberto 22 Montado de azinho novo disperso sem subcoberto 23 Montado de azinho novo disperso com subcoberto 24 Montado de azinho velho denso sem subcoberto 25 Montado de azinho velho denso com subcoberto 26 Montado de azinho velho pouco denso sem subcoberto 27 Montado de azinho velho pouco denso com subcoberto 28 Montado de azinho velho disperso sem subcoberto 29 Montado de azinho velho disperso com subcoberto 30 Montado com aglomerados rochosos 31 Carvalhais perenifolios 32 Plantações recentes (até 1m) 33 Afloramentos rochosos 34 Plantações velhas (> 1m) de pinheiro manso densas 35 Plantações velhas (> 1m) de pinheiro manso dispersas 36 Plantações velhas (> 1m) de pinheiro bravo densas 37 Plantações velhas (> 1m) de pinheiro bravo dispersas 38 Pinhal manso denso sem subcoberto 39 Pinhal manso denso com subcoberto 40 Pinhal manso disperso sem subcoberto 41 Pinhal manso disperso com subcoberto 42 Pinhal bravo denso sem subcoberto 43 Pinhal bravo denso com subcoberto 44 Pinhal bravo disperso sem subcoberto 45 Pinhal bravo disperso com subcoberto 46 Eucaliptal sem subcoberto 47 Eucaliptal com subcoberto 48 Zonas de corte 49 Estevais altos (>1,70 m) RELATÓRIO FINAL (2003)______________________________________________________________________________________________________ANEXO I Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) N.º 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 Descrição Estevais baixos (< 1 m) Giestais Matos rasteiros (< 2,5 m) Matagais (> 2,5 m) Zonas rupícolas (com afloramentos rochosos) Linha de água seca Linha de água com muitos pegos Linha de água com poucos pegos Linha de água contínua Vegetação ripícola rasteira, linha de água larga Vegetação ripícola rasteira, linha de água mediana Vegetação ripícola rasteira, linha de água estreita Vegetação ripícola de médio porte, linha de água larga Vegetação ripícola de médio porte, linha de água mediana Vegetação ripícola de médio porte, linha de água estreita Galeria ripícola aberta, linha de água larga Galeria ripícola aberta, linha de água mediana Galeria ripícola aberta, linha de água estreita Galeria ripícola fechada, linha de água larga Galeria ripícola fechada, linha de água mediana Galeria ripícola fechada, linha de água estreita Albufeiras Reservatórios Tanques Açudes Estepe de solo argiloso plantada Estepe de solo argiloso em pousio Estepe de solo pobre plantada Estepe de solo pobre em pousio Terreno baldio / solo nú / terreno lavrado Cavidades naturais e artificiais Outros … RELATÓRIO FINAL (2003)______________________________________________________________________________________________________ANEXO I ANEXO II Listagem das variáveis ambientais analisadas no desenvolvimento do modelo preditivo de ocorrência do coelho-bravo na área cartográfica do Empreendimento para Fins Múltiplos do Alqueva e respectiva codificação e classes. Cobertura do solo / Biótopos Informação recolhida no trabalho de campo: Variável Descrição Ocupação por montado de azinho s/ sub-coberto Código MASS_O Densidade do montado de azinho s/ sub-coberto MASS_D Idade do montado de azinho s/ sub-coberto MASS_I Ocupação por montado de azinho c/ sub-coberto Densidade do montado de azinho c/ sub-coberto Idade do montado de azinho c/ sub-coberto Ocupação por montado de sobro s/ sub-coberto Densidade do montado de sobro s/ sub-coberto Idade do montado de sobro s/ sub-coberto Ocupação por montado de sobro c/ sub-coberto Densidade do montado de sobro c/ sub-coberto Idade do montado de sobro c/ sub-coberto Ocupação por montado misto s/ sub-coberto Densidade do montado de misto s/ sub-coberto Idade do montado de misto s/ sub-coberto MACS_O MACS_D MACS_I MSSS_O MSSS_D MSSS_I MSCS_O MSCS_D MSCS_I MMSS_O MMSS_D MMSS_I Classes 0 = ausente 1 = [1-25%[ 2 = [25-50%[ 3 = [50-75%[ 4 = [75-100%] 0 = mass ausente 1 = disperso 2 = pouco denso 3 = denso 0 = mass ausente 1 = muito jovem 2 = jovem 3 = adulto 4 = velho ver MASS_O ver MASS_D ver MASS_I ver MASS_O ver MASS_D ver MASS_I ver MASS_O ver MASS_D ver MASS_I ver MASS_O ver MASS_D ver MASS_I Ocupação por montado de misto c/ sub-coberto Densidade do montado de misto c/ sub-coberto Idade do montado de misto c/ sub-coberto Ocupação por montados sem sub-coberto (MASS_O + MSSS_O + MMSS_O) Ocupação por montados com sub-coberto (MACS_O + MSCS_O + MMCS_O) Ocupação por pousio MMCS_O MMCS_D MMCS_I MONT_S_1 MONT_C_1 POUSIO Ocupação por estepe cerealífera Ocupação por restolho Ocupação por solo nu, desmatado ou lavrado Ocupação por esteval alto (> 1,70 m) Ocupação por esteval médio (1-1,70 m) Ocupação por esteval baixo (< 1 m) Ocupação por giestal Ocupação por matos diversificados Ocupação pela associação vegetal Cistus ladanifer + Ulex sp Ocupação pela associação vegetal Cistus sp + Erica sp + Lavandula sp Ocupação por matagal Ocupação por eucaliptal sem sub-coberto Ocupação por eucaliptal com sub-coberto Ocupação por pinhal sem sub-coberto Ocupação por pinhal com sub-coberto Ocupação por pomares Ocupação por vinhas ou hortas Ocupação por cultura de regadio Ocupação por olival explorado Ocupação por olival selvagem Ocupação por plantações recentes Ocupação por zonas rupícolas Ocupação por afloramentos rochosos ESTEPE_1 RESTOLHO SOLO_NU EST_ALT EST_MED EST_BAI GIESTAL MATOS_1 LAD_ULEX ERI_LAV MATAGAL EUC_S EUC_C PINH_S PINH_C POMAR_1 VINH_HOR REGADIO OLI_EXP OLI_SEL PL_REC_1 RUPICOLA AFL_ROCH ver MASS_O ver MASS_D ver MASS_I ver MASS_O ver MASS_O 0 = ausente 1 = [1-25%[ 2 = [25-50%[ 3 = [50-75%[ 4 = [75-100%] ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO 0 = presentes 1 = ausentes AGL_PEDR Ocupação por galerias ripícolas Ocupação por planos de água Ocupação por zonas urbanizadas Ocupação por eventuais biótopos de abrigo p/ coelho (MONT_C + EST_ALT + EST_MED + EST_BAI + MAT_DIV + LAD_ULEX + ERI_LAV + MATAGAL) Ocupação por eventuais biótopos de alimentação p/ coelho (POUSIO + ESTEPE) Ocupação por biótopos com maior intervenção humana (EUC_S + EUC_C + PINH_S + PINH_C + POMAR + VINH_HOR + REGADIO + OLI_EXP + PLT_REC + URBANO) Tipo de solo RIPIC_1 PLN_AG URBANO 0 = presentes 1 = ausentes ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ABRIGO ver POUSIO ALIMENTO ver POUSIO HUMANA_1 TIP_SOLO Gado ovino OVINO Gado caprino Gado bovino Gado suíno Gado equino Aparcamento de gado CAPRINO BOVINO SUINO EQUINO APARCAM Regime Cinegético Especial - Zona de Caça Municipal CÇ_MUN Campo de Treino de Caça Reserva de Não Caça Zona livre CÇ_TRE CÇ_RES CÇ_LIV ver POUSIO 1 = arenoso sem pedras 2 = arenoso com pedras 3 = argiloso sem pedras 4 = argiloso com pedras 5 = pedregoso/xistoso 6 = mais de um tipo 0 = ausente 1 = esparso 2 = generalizado 3 = intenso ver OVINO ver OVINO ver OVINO ver OVINO 0 = ausente 1 = presente 0 = ausente 1 = presente ver CÇ_MUN ver CÇ_MUN ver CÇ_MUN Caça Gado Solo Ocupação por aglomerados de pedras Informação digitalizada: Solo Uso do solo Variável Ocupação por estepes + pousio + solo nu Descrição Código ESTEPE_2 Ocupação por montado sem sub-coberto MONT_S_2 Ocupação por montado com sub-coberto Ocupação por matos + matagais + olival selvagem MONT_C_2 MATOS_2 Ocupação por eucaliptal + pinhal Ocupação por pomares + olival explorado Ocupação por plantações recentes Ocupação por galerias ripícolas Ocupação por zonas agrícolas (POMAR_2 + vinhas) Ocupação por zonas abertas (ESTEPE_2 + MONT_S_2) EUC_PINH POMAR_2 PL_REC_2 RIPIC_2 AGRICOLA ABERTOS Ocupação por zonas fechadas (MONT _ 2 + MATOS_2 + RIPIC_2) Ocupação por zonas de maior intervenção humana (EUC_PINH + AGRICOLA + zonas urbanas) Profundidade (cm) FECHADOS HUMANA_2 PRF_SOLO Textura - solo ligeiro (m2) SOLO_LIG Classes 0 = ausência 1 = [1 m2; 0,1 km2] 2 = ]0,1; 1 km2] 0 = ausência 1 = [1 m2; 0,25 km2] 2 = ]0,25; 1 km2] ver MONT_S_2 0 = ausência 1 = presença ver MONT_S_2 ver ESTEPE_2 ver MATOS_2 ver MATOS_2 ver ESTEPE_2 0 = ausência 1 = [1 m2; 0,1 km2] 2 = ]0,1; 0,5 km2] 3 = ]0,5; 1 km2] ver ABERTOS ver ABERTOS 1 = [0 a 25 cm] 2 = ]25 a 50 cm] 3 = ]50 a 75 cm] 4 = mais de 75 cm 0 = ausência 1 = [1 m2; 0,25 km2] 2 = ]0,25; 0,5 km2] 3 = ]0,5; 0,75 km2] 4 = ]0,75; 1 km2] Geologia Hidrologia Ca ça Textura - solo médio SOLO_MED Textura - solo pesado Xistos SOLO_PES XISTOS Ígneas IGNEAS Carbonatadas Metavulcanitos Depósitos recentes CARBONAT METAVULC DEPOSIT Ordem dos rios ORD_RIOS Distância a todos os rios (m) DIS_RIOS Distância aos rios de ordem 1 e 2 DIS_RIO1 Distância aos rios de ordem 3 e 4 DIS_RIO3 Distância aos rios de ordem 5 e 6 Perímetro de água DIS_RIO5 PER_AGUA Charcas CHARCAS Ocupação Zonas de Caça Nacional CÇ_NAC 0 = ausência 1 = [1 m2; 0,25 km2] 2 = ]0,25; 0,5 km2] 3 = ]0,5; 1 km2] ver SOLO_MED 0 = ausência 1 = [1 m2; 0,75 km2] 2 = ]0,75; 1 km2] 0 = ausência 1 = presença ver IGNEAS ver IGNEAS 0 = ausência 1 = [1 m2; 0,5 km2] 2 = ]0,5; 1 km2] 0 = sem rios 1 = rios de ordem 1 2 = rios de ordem 2 e 3 3 = rios de ordem 4 a 6 1 = [0 - 250 m] 2 = ]250 - 500 m] 3 = mais de 500 m 1 = [0 - 1000 m] 2 = mais de 1000 m 1 = [0 - 1000 m] 2 = ]1000 - 5000 m] 3 = mais de 5000 m ver DIS_RIO3 0 = sem cursos nem planos de água 1 = [1 - 1500 m] 2 = mais de 1500 m 0 = ausência 1 = presença 0 = ausência por unidade de uso do solo Perturbação humana Métricas para o uso do solo: Ocupação Zonas de Caça Social Ocupação Zonas de Caça Associativa CÇ_SOC CÇ_ASS Ocupação Zonas de Caça Turística CÇ_TUR Ocupação do total de zonas de caça Densidade da população humana CÇ_TOT POP_HUM Distância às áreas urbanas DIST_URB Densidade de estradas DENS_EST Distância às estradas principais DIST_EST Número de polígonos NUM_PG_U Dimensão média dos polígonos DIM_PG_U Comprimento da orla entre polígonos ORL_PG_U Índice da forma média dos polígonos FOR_PG_U 1 = presença ver CÇ_NAC 0 = ausência 1 = [1 m2; 0,25 km2] 2 = ]0,25; 0,75 km2] 3 = ]0,75; 1 km2] 0 = ausência 1 = [1 m2; 0,5 km2] 2 = ]0,5; 1 km2] ver CÇ_ASS 1 = [0 - 10 hab/km] 2 = mais de 10 hab/km 1 = [0 - 2500 m] 2 = ]2500 - 5000 m] 3 = mais de 5000 m 0 = ausência 1 = [1 m2; 0,015 km2] 2 = ]0,015; 1 km2] 1 = [0 - 500 m] 2 = ]500 - 1500 m] 3 = ]1500 - 5000 m] 4 = mais de 5000 m 1 = [1 - 5[ 2 = [5 – 15] 3 = mais de 15 1 = [0 - 10 Km2[ 2 = [10 - 30 Km2] 3 = mais de 30 Km2 1 = [1 - 7000 m[ 2 = [7000 - 14000 m] 3 = mais de 14000 m 1 = [0 - 1,4[ 2 = [1,4 - 1,7] por classe de uso do solo * Índice de diversidade de Shannon DIV_PG_U Número de polígonos NUM_PG_C Comprimento da orla entre polígonos ORL_PG_C Índice da forma média dos polígonos FOR_PG_C Índice de diversidade de Shannon * Classes de uso do solo: ABERTOS, FECHADOS E HUMANA_2 DIV_PG_C 3 = mais de 1,7 1 = [0 - 0,25[ 2 = [0,25 - 0,5] 3 = mais de 0,5 1 = [1 - 3] 2 = [4 - 7 ] 3 = mais de 7 1 = [0 - 7000 m[ 2 = [7000 - 12000 m] 3 = mais de 12000 m 0=0 1 = [1 - 1,5] 2 = mais de 1,5 ver DIV_PG_U Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) ANEXO III Codificação das variáveis utilizadas no desenvolvimento do modelo preditivo de ocorrência para as várias espécies Variável Descrição Altitude média Altitude Altitude máxima Amplitude de altitude Declive médio Declive Declive máximo Amplitude de declive Distância a todos os rios Distância aos rios de ordem 1 Distância aos rios ordem 2 Distância aos rios ordem 3 Hidrologia Distância aos rios ordem 4 Distância aos rios ordem 1 e 2 Distância aos rios ordem 3 e 4 Distância aos rio ordem 5 e 6 Comprimento dos rios todos Classes 1 2 1 2 3 1 2 3 1 2 3 4 1 2 3 1 2 3 1 2 3 4 0 1 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 1 2 3 1 2 3 1 2 3 Intervalos [0,160[ [160,+ ∞[ [0,180[ [180,220[ [220,+ ∞[ [0,40[ [40,80[ [80,+ ∞[ [0,4[ [4,6[ [6,10[ [10,+ ∞[ [0,30[ [30,45[ [45,+ ∞[ [0,20[ [20,40[ [40,+ ∞[ [0,200[ [200,300[ [300,500[ [500,+∞ [ [0,100[ [100,+ ∞[ [0,1000[ [1000,5000[ [5000,+ ∞[ [0,3000[ [3000,7000[ [7000,+ ∞[ [0,2000[ [2000,10000[ [10000,+ ∞[ [0,500[ [500,+ ∞[ [0,500[ [500,4000[ [4000,+ ∞[ [0,2000[ [2000,8000[ [8000, + ∞[ [0,800[ [800,1400[ [1400,+ ∞[ RELATÓRIO FINAL (2003)______________________________________________________________________________________________________ANEXO III Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Comprimento dos rios de ordem 1 Comprimento dos rios de ordem 2 Comprimento dos rios de ordem 3 Comprimento dos rios de ordem 4 Comprimento dos rios de ordem 1 e 2 Comprimento dos rios de ordem 3 e 4 Comprimento dos rios de ordem 5 e 6 Hidrologia Tipo de linha de água dominante Características do rio Largura Velocidade Profundidade Grau de eutrofização Transparência da água Ordem dos rios Substrato do leito 1 2 3 1 2 1 2 1 2 1 2 3 1 2 1 2 1 2 3 1 2 3 1 2 3 4 0 1 2 3 1 2 3 4 1 2 3 0 1 0 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 [0,200[ [200,1200[ [1200,+ ∞[ [0,100[ [100,+ ∞[ [0,500[ [500,+ ∞[ [0,200[ [200, + ∞[ [0,200[ [200,1200[ [1200, + ∞[ [0,500[ [500, + ∞[ [0,100[ [100,+ ∞[ Estreita Mediana Larga Temporário Semi-temporário Permenente [0,1[ [1,3[ [3,6[ [>6[ Parada Fraca Média Forte [<0.5[ [0.5,1.5[ [1.5,2.5[ [>2.5[ Baixo Médio Alto Transparente Turva Charca Ordem1 Ordem2 Ordem3 Ordem4 Ordem5 Ordem6 Areia Gravilha (<1cm) Pedra (>1cm e <15cm) Rocha (15cm) RELATÓRIO FINAL (2003)______________________________________________________________________________________________________ANEXO III Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Área total de charcas Planos de água Nº charcas Abundância de espécies vegetais Presença/ausência de freixo Presença/ausência de zambujeiro Presença/ausência de silvados Margem dos rios Presença/ausência de juncos Presença/ausência de aloendro Presença/ausência de Securinega tinctoria Presença/ausência de choupo Presença/ausência de amieiro Presença/ausência de eucalipto Presença/ausência de Quercus sp. Presença/ausência de salsa parrilha Presença/ausência de herbáceas Presença/ausência de canas Presença/ausência de outros Altura das árvores Altura dos arbustos Altura da vegetação nas margens Cobertura vegetal Substrato da margem Galeria ripícola aberta/fechada Galeria ripícola contínua/ descontínua Classes de galeria ripícola 1 2 1 2 3 [0,1000[ [1000,+ ∞[ 0 0.8 >1 0 1 2 3 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 m m m % 1 2 3 4 5 6 1 2 1 2 0 1 2 3 4 Ausente Herbáceas Lenhosas Arbustivo+árvores Ausência Presença Ausência Presença Ausência Presença Ausência Presença Ausência Presença Ausência Presença Ausência Presença Ausência Presença Ausência Presença Ausência Presença Ausência Presença Ausência Presença Ausência Presença Ausência Presença Arenoso Intermédio Compacto Argiloso Pedregoso Rochoso Aberta Fechada Contínua Descontínua Ausente Aberta e descontínua Aberta e contínua Fechada e descontínua Fechada e contínua RELATÓRIO FINAL (2003)______________________________________________________________________________________________________ANEXO III Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Presença/ausência de Cambissolo Tipo de solo Presença/ausência de Litossolo Presença/ausência de Luvissolo Presença/ausência de Xistos Presença/ausência de Ígneas Geologia Presença/ausência de Carbonatadas Presença/ausência de Metavulcanitos Presença/ausência de Depósitos recentes 1 2 1 2 1 2 Presença Ausência Presença Ausência Presença Ausência 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 Presença Ausência Presença Ausência Presença Ausência Presença Ausência Presença Ausência Aglomerados rochosos Presença/ausência de aglomerados 1 2 Presença Ausência Afloramentos rochosos Presença/ausência de afloramentos* 1 2 Presença Ausência Cobertura do solo Área de estepes 1 2 3 1 2 3 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 3 0 1 2 3 4 1 2 [0,10[ [10,50[ [50,100[ [0,10[ [10,70[ [70,+ ∞[ [0,10[ [10,100[ [0,5[ [5,+ ∞[ [0,5[ [5,+ ∞[ [0,5[ [5,+ ∞[ [0,5[ [5,+ ∞[ [0,1[ [1,3[ [3,+ ∞[ S/ vegetação ripícola Veg. ripícola rasteira Veg.ripícola médio porte Galeria ripícola aberta Galeria ripícola fechada [0,5[ [5,+ ∞[ [0,40[ [40,80[ [80,+ ∞[ Área de montado sem subcoberto Área de montado com subcoberto Área de matos Área de matagal Área de pomar Área de vinha Área ripícola Vegetação ripícola dominante Área de matos + matagais Área de áreas abertas 1 2 3 RELATÓRIO FINAL (2003)______________________________________________________________________________________________________ANEXO III Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Área de áreas fechadas Área de pinhal + eucaliptal Área de agrícolas Area de elevada intervenção humana (eucaliptal+pinhal+pomar+vinha+área social) Número de polígonos Comprimento de orla Índice da forma média das manchas de biótopos Índice da dimensão média das manchas de biótopos Índice de diversidade de Shannon 1 2 3 1 2 1 2 1 2 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 4 [0,10[ [10,50[ [50,+ ∞[ [0,5[ [5,+ ∞[ [0,5[ [5,+ ∞[ [0,5[ [5,+ ∞[ [0,6[ [6,10[ [10,+ ∞[ [2000,8000[ [8000,14000[ [14000,+ ∞[ [1.1,1.5[ [1.5,1.8[ [1.8,+ ∞[ [0,10[ [10,25[ [25,+ ∞[ [0,0.5[ [0.5,0.8[ [0.8,1.1[ [1.1,+ ∞[ 1 2 3 [0,5[ [5,8[ [8,+ ∞[ 1 2 3 4 1 2 3 1 2 3 1 2 3 4 [0,10000[ [10000,14000[ [14000,20000[ [20000,+ ∞[ [0,1.4[ [1.4,1.8[ [1.8,+ ∞[ [0,10[ [10,30[ [30,+ ∞[ [0,0.3[ [0.3,0.7[ [0.7,1.1[ [1.1,+ ∞[ Uso do solo Nº de polígonos nas novas classes Comprimento da orla nas associações Índice da forma média das manchas de biótopos Índice da dimensão média das associações de biótopos Índice de diversidade de Shannon das associações Coelho Áreas urbanas Abundância de coelho nas aleatórias 0 1 2 3 Ausência Ocorrência esporádica ou marginal Ocorrência constante sem evidência de reprodução Ocorrência constante com evidência de reprodução Distância às áreas urbanas Densidade de população humana 1 2 3 Nº/km2 [0,4000[ [4000,6000[ [6000,+ ∞[ RELATÓRIO FINAL (2003)______________________________________________________________________________________________________ANEXO III Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Casas rurais Nº de casas rurais 1 2 Presença Ausência Fontes de poluição Distância a fontes de poluição 1 2 3 [0,2000[ [2000,4000[ [4000,+ ∞[ 1 2 1 2 1 2 3 1 2 Presença Ausência Presença Ausência [0,100000[ [100000,1000000[ [1000000,+ ∞[ <1000000 >1000000 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 [0,2[ [2,4[ [4,+ ∞[ [0,1500[ [1500,3500[ [3500,+ ∞[ [0,2000[ [2000,10000[ [10000,+ ∞[ [0,1500[ [1500,3500[ [3500,+ ∞[ 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3 Ausente Pouco Médio Muito Ausente Pouco Médio Muito Ausente Pouco Médio Muito Ausente Pouco Médio Muito Ausente Pouco Médio Muito Ausente Pouco Médio Muito Área total das zonas de caça associativa Área total das zonas de caça social Zonas de caça Área total das zonas de caça turística Área total das zonas de caça Nº de estradas Distância a todas as estradas alcatroadas Estradas Distância às estradas principais Distância às estradas secundárias Nº de estradões a 100m dos rios estradas Classes de disponibilidade de bivalves Classes de disponibilidade de lagostim Presas de Lontra Classes de disponibilidade de peixes Classes de disponibilidade de anfíbios Classes de disponibilidade de répteis Classes de disponibilidade de presas total RELATÓRIO FINAL (2003)______________________________________________________________________________________________________ANEXO III Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) ANEXO IV Testes estatísticos utilizados nos modelos de regressão logística múltipla. ⇒ Teste do Qui-Quadrado (PEREIRA, 1996) H0 = não existe associação entre a variável dependente e cada uma das variáveis independentes. Se os valores obtidos traduzirem um p<0.25 rejeita-se a H0, isto é, a variável entra no próximo passo. ⇒Teste da Razão de Verosimilhanças para interacções (PEREIRA, 1996) G = D (modelo sem a interacção) – D (modelo com a interacção) onde, D= -2 log likelihood O valor de G é comparado com χ2 para os graus de liberdade g.l.= nº de variáveis indicatrizes da 1º variável × nº de variáveis indicatrizes da 2º variável, para a hipótese nula do modelo se ajustar aos dados. Se p for <0.05 então a interacção entre as duas variáveis optimiza o modelo. RELATÓRIO FINAL (2003)_____________________________________________________________________________________________________ANEXO IV Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) ANEXO V Georreferenciação dos dados relativos à ocorrência de Mustela putorius na área de Regolfo de Alqueva e Pedrógão ( fase pré-desmatação/desarborização) (coordenadas no sistema de projecção GAUSS elipsóide Hayford Datum Lisboa) Quadrícula 441B 441D 452B 452B 452B 452D 452D 452D 452D 452D 452F 452F 452F 463C 463G 474B 474C 474C 474C 474C 474F 474G 481C 481C 481C 481G 482E 482F 483H 483H 483H 490B 490C 490C 490C 490D 490D 490G 491A 491C 491F 491F 491F 491F 491F 491G 491G 491H492E 492C Coordenada X 267656 276433 267248 267316 266919 275145 275188 275173 275172 275127 268412 266605 265222 272570 271412 269127 272057 272790 272829 272790 269148 273656 240712 240722 244213 242265 248154 250164 264481 264437 264238 239997 241777 244879 241777 245994 245269 240396 249061 256755 252079 252063 252055 252348 254543 255323 255118 261298 272368 Coordenada Y 195505 199452 188851 188875 188667 188462 189441 188321 188255 188196 181649 182791 183278 176070 171315 169626 168432 167336 167379 167336 164548 162347 159615 159579 157566 150899 153892 151575 158539 158553 158976 148958 144969 147537 144969 146178 147703 141663 146055 148477 141071 141084 141093 140421 143034 143124 142790 143811 149438 Tipo de Indício Dejecto Rasto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Animal morto Animal morto Animal morto Dejecto Dejecto Dejecto Pegada Dejecto Dejecto Dejecto Pegada Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto RELATÓRIO FINAL (2003)______________________________________________________________________________________________________ANEXO V Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Quadrícula 492H 501B 501C 501C 501C 501E 501F Coordenada X 278691 251151 259419 255522 255565 249119 254796 Coordenada Y 141971 136749 136150 138728 139784 134297 132464 Tipo de Indício Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Rasto Dejecto Pegada Georreferenciação dos dados relativos à ocorrência de Mustela putorius na área de Regolfo de Alqueva e Pedrógão ( fase pós-desmatação/desarborização) (coordenadas no sistema de projecção GAUSS elipsóide Hayford Datum Lisboa) Quadrícula 441C 441F 441F 452E 463C 463G 472 472D 472D 473 473G 473G 473H 474 474 474F 474F 474F 474F 474F 474F 481B 481C 481C 482F 483A 483A 483H 483H 483H 490 490 490 490D 492D 492E 501G 503 Coordenada X 274965 267103 267483 264894 272759 271168 230952 246103 240215 258156 260709 261906 261920 265626 268586 269411 265426 265701 264295 261100 268910 235079 242018 241817 250678 264825 264063 275899 275887 275561 240305 240305 240305 245892 279275 265255 256118 285258 Coordenada Y 195311 193865 192855 183315 176249 171931 171207 164290 166069 161503 165055 165198 161279 165947 168244 164885 161081 160741 162586 160933 164433 159859 158824 158917 152563 159086 158722 151464 151456 151363 141574 141574 141574 146341 148892 183300 133264 135384 Tipo de Indício Pegada Dejecto Rasto Pegada Dejecto Dejecto Atropelado Atropelado Atropelado Atropelado Atropelado Atropelado Atropelado Atropelado Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Atropelado Atropelado Dejecto Rasto Pegada Dejecto Pegada Atropelado Observação Dejecto Dejecto Observação Dejecto Dejecto Dejecto Pegada Dejecto Rasto Pegada Dejecto RELATÓRIO FINAL (2003)______________________________________________________________________________________________________ANEXO V Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Quadrícula 503 513 513 Coordenada X 285291 276260 271288 Coordenada Y 135352 122486 121068 Tipo de Indício Dejecto Dejecto Dejecto Georreferenciação dos dados relativos à ocorrência de Lutra lutra na área de Regolfo de Alqueva e Pedrógão ( fase pré-desmatação/desarborização) (coordenadas no sistema de projecção GAUSS elipsóide Hayford Datum Lisboa) Quadrícula 5x5 441B 441B 441C 441D 441D 441D 441D 441E 441G 441G 441G 441H 441H 441H 441H 441H 441H 452A 452B 452B 452D 452D 452D 452E 452E 452F 452F 452F 452G 452H 452H 452H 452H 452H 463A 463C 463C 463C 463C 463E Coordenada X 267706 269146 271862 277639 278169 276447 279579 261400 274122 273639 271437 275315 275982 275148 275384 275337 275428 263687 266520 267441 274990 275177 275183 264757 264716 268193 265226 266606 274875 275899 275632 275618 275847 275214 262819 272588 272640 273464 273902 262996 Coordenada Y 195648 199237 197922 197774 196929 199458 198947 192144 190602 191736 192604 193028 194024 194307 190328 190512 192652 185507 185917 188969 189738 189361 188246 184036 183982 182376 183283 182795 182651 181429 184565 181580 181347 182425 179243 175951 176722 179552 178981 170384 Tipo de Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício RELATÓRIO FINAL (2003)______________________________________________________________________________________________________ANEXO V Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Quadrícula 5x5 463F 463F 463F 463F 463G 463G 463G 474A 474B 474B 474B 474B 474C 474C 474C 474C 474C 474E 474F 474F 474F 474F 474F 474F 474F 474G 474G 481A 481B 481C 481C 481C 481C 481C 481C 481C 481C 481C 481C 481D 481D 481E 481E 481E 481F 481F 481G 481G 482A 482A 482A Coordenada X 266326 266331 266929 268324 271209 271415 271264 263182 268364 269051 268996 268361 271172 270766 270320 272248 272886 262983 269411 266147 265858 267601 267970 267018 266458 273651 273652 233381 235748 242829 241461 240786 241994 241540 241901 244102 241414 241838 242905 245456 245541 232149 234087 234115 237498 254875 241389 242240 249920 248564 248742 Coordenada Y 172156 172155 172416 172598 171989 171397 170501 165106 167776 169221 169290 167801 168975 167959 167804 168521 167699 162845 164885 162155 160088 161927 161907 161132 160062 162259 162264 159004 155692 155074 159121 159545 159655 159120 159548 157609 156986 156607 155032 157363 157325 152952 151360 151341 154507 140535 152831 150861 156252 158480 158347 Tipo de Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Observação/Captura Observação/Captura Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício RELATÓRIO FINAL (2003)______________________________________________________________________________________________________ANEXO V Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Quadrícula 5x5 482A 482D 482D 482E 482E 482F 482F 482G 482G 482H 482H 482H 483A 483B 483B 483C 483F 483G 483G 483G 483H 483H 490C 490C 490C 490C 490C 490C 490D 490D 490D 490E 490F 490G 490G 490G 490H 491A 491A 491A 491A 491A 491A 491B 491B 491C 491D 491E 491F 491F 491F Coordenada X 249216 262414 263143 248738 248154 250146 251367 259400 259575 262089 261649 261555 265157 265933 265428 270244 269376 273490 270599 270610 277405 277436 243407 241381 241515 241989 242908 241777 245875 246359 246043 233428 237362 240455 241413 240396 245170 249061 249305 249193 249563 249269 249563 251570 252909 256755 261756 249236 252055 252714 254447 Coordenada Y 156023 159326 159154 152794 153892 151537 151800 150750 150575 152405 152650 151265 158404 156385 159496 158754 150682 151495 150272 150287 152138 152206 147059 146529 146601 147626 147419 144969 149254 145384 146383 142214 142233 140598 142005 141663 143382 146055 147496 147318 147217 145697 147217 147978 146651 148477 148234 143404 141093 140622 140230 Tipo de Indício Indício Indício Observação/Captura Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Observação/Captura Indício Indício Indício Indício Observação/Captura Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Observação/Captura Indício Indício Indício Morto Indício Indício Indício Indício RELATÓRIO FINAL (2003)______________________________________________________________________________________________________ANEXO V Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Quadrícula 5x5 491F 491F 491G 491G 491H 492B 492B 492B 492B 492B 492B 492C 492C 492D 492D 492D 492F 492F 492F 492F 492G 492G 492H 492H 501B 501B 501B 501B 501C 501C 501C 501E 501F 501G 501H Coordenada X 254667 254551 255338 255299 261274 268879 269061 268316 269113 269061 265612 270105 272330 279239 278734 279969 265075 265122 269545 265381 270297 271969 277170 278691 253878 254285 253877 253056 255519 257172 258824 248605 254796 255198 263595 Coordenada Y 142967 143027 143096 141903 143762 149726 149941 147570 149909 149941 149818 159117 149687 148984 149573 148182 143949 143853 142654 142878 144450 141393 141133 141971 139071 138593 139069 139616 139891 138202 139298 132919 132464 132660 133788 Tipo de Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Observação/Captura Indício Indício Indício Indício Indício Indício Fêmea grávida Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Indício Observação Crias Indício Indício Indício Indício Indício Georreferenciação dos dados relativos à ocorrência de gato-bravo na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva ( fase pré-desmatação/desarborização) (coordenadas no sistema de projecção GAUSS elipsóide Hayford Datum Lisboa) Quadrícula 5x5 440 441 441 441 452 452 463 472 Coordenada X 250373 267691 271122 271210 267704 267316 271154 241323 Coordenada Y 193416 195520 199173 199203 188387 188874 175331 165512 Tipo de Indício 1 dejecto 2 dejectos 1 dejecto 1 dejecto 1 dejecto 2 dejectos 1 dejecto Indivíduo atropelado RELATÓRIO FINAL (2003)______________________________________________________________________________________________________ANEXO V Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Quadrícula 5x5 Coordenada X Coordenada Y Tipo de Indício 474 474 474 474 474 474 474 481 481 481 482 482 482 482 483 483 483 483 483 483 491 491 491 491 491 491 491 491 491 491 491 491 491 492 492 493 500 501 501 502 502 503 513 513 514 515 515 515 515 515 524 270132 266676 266558 266283 266480 266480 267183 244376 244247 242942 248964 249202 261426 261582 265452 273455 274032 276550 277512 277770 259209 258421 259179 255301 256141 259303 259100 259034 256213 256151 262518 262646 262518 266571 265307 283985 243290 251487 258935 265281 275292 295431 270797 272252 280030 298808 298819 298780 299068 298262 274050 168247 163083 162687 163209 162600 162600 162656 157343 156894 151632 150886 150734 153797 151201 155139 151467 152607 150965 152353 152392 141018 149035 149091 141884 142587 142636 141400 141218 142596 142505 142029 142178 142029 148412 142951 146593 137050 135932 138249 133216 131547 134619 121338 120290 129191 123507 123582 123476 124119 121573 109928 1 dejecto 1 dejecto 1 dejecto 1 latrina 1 latrina 2 dejectos 1 dejecto 1 dejecto 1 latrina Observação directa 1 dejecto 1 latrina 1 latrina 1 latrina 1 latrina 1 dejecto 1 dejecto Observação directa 1 dejecto 1 dejecto 1 latrina 1 dejecto 1 dejecto 1 dejecto 1 latrina 1 dejecto 1 dejecto 3 dejecto 1 latrina 1 latrina 2 latrinas 1 latrina 1 latrina 2 dejectos 1 latrina 1 latrina 1 dejecto 1 dejecto 1 dejecto 1 latrina 2 dejectos 1 latrina 1 dejecto 1 dejecto 1 dejecto 1 dejecto 1 dejecto 1 dejecto 1 dejecto 1 dejecto 1 dejecto RELATÓRIO FINAL (2003)______________________________________________________________________________________________________ANEXO V Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Georreferenciação dos dados relativos à ocorrência de gato-bravo na área cartográfica do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva ( fase pós-desmatação/desarborização) (coordenadas no sistema de projecção GAUSS elipsóide Hayford Datum Lisboa) Quadrícula 5x5 474 474 474 474 474 474 474 474 474 474 474 474 474 490 501 501 Coordenada X 264752 267968 268284 268264 268264 268293 268264 268264 268264 268264 267217 267137 266501 242924 258898 262717 Coordenada Y 161964 168424 168325 168410 168410 168303 168410 168410 168410 168410 162658 162556 161572 140763 138167 137748 Tipo de Indício Dejecto 2 dejectos Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Dejecto Observação directa Dejecto Dejecto Dejecto RELATÓRIO FINAL (2003)______________________________________________________________________________________________________ANEXO V ANEXO VI – Ficha do toirão capturado Captura de Carnívoros Espécie: Sexo: M Mustela putorius Modo de captura: Data de análise: 7/03/2001 Nº Mp 1 Local: Quadrícula 36 – A1 Freguesia/Concelho: Caixa de 1 entrada Data de captura: ____7/03/2001_______ Recaptura Alandroal Data de libertação:_____7/03/2001________________ Biótopo: Galeria ripícola Pelagem: Normal UTM: Anestésico Tipo: Quantidade (ml) / Horas Q 0,2 H 16:40 Imalgéne 1000 Início act. 1º mov. Recuper. total Comportamento do animal: __Não adormeceu completamente____________________________ Biometria Peso 1,300 CT CC 66,7 Kg CPP 16,4 cm cm H. ichneumon: AG 6,9 CO 15,8 cm 2,2 cm C. pincel: LO PP 1,6 cm 17,0 cm cm C. fim coluna ao fim pincel: Cicatrizes/Feridas/Marcas naturais – Não tem Cabeça/Pescoço Dorso Ventre Traseira Outras Dentição Descrição: __Dentição completa, sã e romba_____________________________ Idade: __Adulto 1____ Mamas Local. Peitorais Esq D Abdominais Dir ND D Esq ND D Inguinais Dir ND D Esq ND D Dir ND D ND Nº Comp. Comp. Vagina Perf Não Perf Esfregaço Forma Humidade Gestação: Evidente Não evidente Testículos - Escrotais Comp 1,5 cm Larg “Pinch” Posição Forma Dens. pelagem Mov. 3 cm (2) Sinais externos de doença: X Não Sim Identificação: ____________________________________________________ Parasitas Pulgas Ectoparasitas Piolhos Endoparasitas Carraças Identificação Identificação Temperatura anal: __37,4__ (ºC) DNA X Fezes Garra, orelha e pêlo X Sangue Hemat. (%) GV (mm3) GB (mm3) Hemog. (Hb/dl) Urina PH Glucose Ac. Ascorb. Cetonas Nitritos Prot. Bilir. Urobilin. Sangue Diagnóstico Rápido Colar de rádio Frequência: Data: Marcação Localização da marca (corte): Bordo anterior da orelha direita Registo fotográfico Registo de: _____Slides (Hugo)____Negativos (Maria João)________________________________________ Observações: ___________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) ANEXO VII Resultados do teste da análise univariada para o desenvolvimento do modelo preditivo da ocorrência de toirão na área cartográfica do Empreendimento para Fins Múltiplos do Alqueva (as variáveis a verde foram seleccionadas para análise seguinte). Descrição Ordem do rios Distância a todos os rios Distância aos rios ordem 1 e 2 Distância aos rios ordem 3 e 4 Distância aos rio ordem 5 e 6 Presença/ausência de charcas Perímetro de água Presença/ausência de aglomerados rochosos Presença/ausência de afloramentos rochosos Área de Estepes Área de Montado sem subcoberto Área de Montado com subcoberto Área de Matos+ Matagal+ Olival selvagem Área de Plantações recentes Área de Eucaliptal+ Pinhal Área de Pomar Área de Agrícola (Vinha+ pomar) Área de Vegetação ripícola ASSOCIAÇÕES DE BIÓTOPOS Área de Abertos (estepes+mon_s_sub) Áreas de Fechados (mon c/ sub+matos+matagais+olival selv,+ripicola) Área de elevada intervenção humana (eucaliptal+pinhal+pomar+vinha+área social) Número de polígonos Comprimento da orla total entre biótopos Índice da forma média das manchas de biótopos Índice médio da dimensão das manchas de biótopo Índice de diversidade de Shannon Número de polígonos nas associações Comprimento da orla total entre associações Índice da forma média das manchas de associações Índice médio da dimensão das manchas de associações Índice de diversidade de Shannon das associações Densidade de latrinas de coelho em 2x2km Presença/ausência de coelho em 1x1Km Densidade de população humana Distância às áreas urbanas Densidade de estradas Distância às estradas principais Área de todas as zonas de caça Área das zonas de caça associativa Área das zonas de caça turística Valor de p do Teste MannWhitney 0,036 0,592 0,188 0,776 0,151 0,472 0,729 0,284 0,115 0,768 0,035 0,348 0,349 0,432 0,947 0,010 Valor de p do Teste do χ2 0,465 0,039 0,193 0,033 - 0,177 - 0,214 0,355 0,136 0,217 0,027 0,349 0,969 0,961 0,256 0,080 0,416 0,606 0,783 0,497 0,217 0,443 0,953 0,973 0,492 - RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________ANEXO VII Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Resultados do teste da análise univariada para o desenvolvimento do modelo preditivo da ocorrência de lontra na área cartográfica do Empreendimento para Fins Múltiplos do Alqueva (as variáveis a verde foram seleccionadas para análise seguinte). Descrição Altitude média Declive máximo Características do rio Largura Velocidade Profundidade Grau de eutrofização Transparência da água Ordem dos rios Presença/ausência de charcas Classes de ordem dos rios Distância a todos os rios Distância aos rios ordem 1 Distância aos rios ordem 2 Distância aos rios ordem 3 Distância aos rios ordem 4 Distância aos rios ordem 5 Distância aos rios ordem 6 Distância aos rios ordem 1 e 2 Distância aos rios ordem 3 e 4 Distância aos rios ordem 5 e 6 Substrato do leito Abundância de espécies vegetais Presença/ausência de freixo Presença/ausência de zambujeiro Presença/ausência de silvados Presença/ausência de juncos Presença/ausência de aloendro Presença/ausência de Securinega tinctoria Presença/ausência de canas Presença/ausência de outros Altura das árvores Altura dos arbustos Altura da vegetação nas margens Cobertura vegetal Substrato da margem Presença/ausência de xistos Presença/ausência de igneas Presença/ausência de carbonatadas Presença/ausência de metavulcanitos Presença/ausência de depósitos recentes Presença/ausência de afloramentos rochosos Área de Estepes Área de Eucaliptal+ Pinhal Área de Matos+ Matagal Área de Montado sem subcoberto Área de Plantações recentes Área de Agrícola (Vinha+ pomar) Área de Vegetação ripícola Área de Abertos (estepes+mon_s_sub) Áreas de Fechados (mon c/ sub+matos+matagais+olival selv,+ripicola) Área de elevada intervenção humana (eucaliptal+pinhal+pomar+vinha+área social) Classes de disponibilidade de bivalves Classes de disponibilidade de lagostim Valor de p do teste de Wald 0,081 0,023 0,051 0,004 0,017 0,006 0,005 0,223 0,001 0,304 0,06 0,644 0,331 0,808 0,092 0,512 0,530 0,690 0,989 0,415 0,644 0,083 0,957 0,002 0,724 0,557 0,775 0,785 0,405 0,125 0,533 0,181 0,605 0,136 0,497 0,180 0,042 0,693 0,564 0,646 0,017 0,030 0,113 0,167 0,030 0,492 0,483 0,850 0,009 0,029 0,043 0,161 0,938 0,014 RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________ANEXO VII Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Classes de disponibilidade de peixes Classes de disponibilidade de anfíbios Classes de disponibilidade de répteis Classes de disponibilidade de presas total Densidade de população humana Distância às áreas urbanas Distância às fontes de poluição Número de estradões a 100m dos rios Densidade de estradas Distância às estradas principais Ordem do rio Linha de água Galeria ripícola aberta/fechada Galeria ripícola contínua descontínua Presença/ausência de choupo Presença/ausência de amieiro Presença/ausência de eucalipto Presença/ausência de Quercus sp. Presença/ausência de salsa parrilha Presença/ausência de herbáceas Classes de galeria ripícola 0,000 0,135 0,949 0,049 0,185 0,112 0,137 0,225 0,354 0,172 0,008 0,010 0,117 0,793 0,297 0,731 0,329 0,393 0,780 0,223 0,643 RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________ANEXO VII Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Resultados do teste da análise univariada para o desenvolvimento do modelo preditivo da ocorrência de gato-bravo na área cartográfica do Empreendimento para Fins Múltiplos do Alqueva (as variáveis a verde foram seleccionadas para análise seguinte). Descrição Ordem do rios Distância a todos os rios Distância aos rios ordem 1 e 2 Distância aos rios ordem 3 e 4 Distância aos rio ordem 5 e 6 Presença/ausência de charcas Perímetro de água Presença/ausência de aglomerados de pedra Presença/ausência de afloramentos rochosos Área de Estepes Área de Montado sem subcoberto Área de Montado com subcoberto Área de Matos+ Matagal+ Olival selvagem Área de Plantações recentes Área de Eucaliptal+ Pinhal Área de Pomar Área de Agrícola (Vinha+ pomar) Área de Vegetação ripícola ASSOCIAÇÕES DE BIÓTOPOS Área de Abertos (estepes+mon_s_sub) Áreas de Fechados (mon c/ sub+matos+matagais+olival selv.+ripicola) Área de elevada intervenção humana (eucaliptal+pinhal+pomar+vinha+área social) Número de polígonos Comprimento da orla total entre biótopos Índice da forma média das manchas de biótopos Índice médio da dimensão das manchas de biótopo Índice de diversidade de Shannon Número de polígonos nas associações Comprimento da orla total entre associações Índice da forma média das manchas de associações Índice médio da dimensão das manchas de associações Índice de diversidade de Shannon das associações Densidade de latrinas de coelho em 2x2 Km Presença/ausência de coelho em 1x1 Km Densidade de população humana Distância às áreas urbanas Densidade de estradas Distância às estradas principais Área de todas as zonas de caça Área das zonas de caça associativa Área das zonas de caça turística Valor de p do Teste Mann-Whitney 0,356 0,200 0,640 0,395 0,415 0,152 0,962 0,378 0,057 0,872 0,024 0,716 0,458 0,302 Valor de p do Teste do χ2 0,278 0,326 0,121 0,013 - 0,250 0,154 0,010 0,666 0,386 0,642 0,694 0,774 0,957 0,791 0,221 0,970 0,774 0,002 0,018 0,910 0,200 0,227 0,175 0,050 0,994 0,179 - RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________ANEXO VII Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) ANEXO VIII Codificação das variáveis utilizadas no desenvolvimento do modelo predictivo de ocorrência de toirão na área cartográfica do Empreendimento para Fins Múltiplos do Alqueva. Descrição Distância a todos os rios Distância aos rios de ordem 3 e 4 Presença/ausência de aglomerados de pedra Presença/ausência de afloramentos rochosos Perímetro de água Área de Matos+ Matagal+ Olival selvagem Área de Eucaliptal+ Pinhal Áreas de Fechados (mon_c_sub+matos+matagais+olival selv.+ripicola) Área de elevada intervenção humana (eucaliptal+pinhal+pomar+vinha+área social) Nº de polígonos de biótopos Índice da forma média das manchas de biótopos Índice da dimensão média dos polígonos Índice de diversidade de Shannon Densidade de estradas Classes [0, 250[ [250, 500[ [500, 1000[ [1000, +∞ [ [0, 1000[ [1000, 5000[ [5000, 10000[ [10000, +∞ [ Presente Ausente Presente Ausente 0 [1,1000[ [1000,2500[ [2500,6000[ 0 [1, 50000[ [50000, +∞[ Presente Ausente 0 [1, 50000[ [50000, 150000[ [150000, +∞[ 0 [1, 10000[ [10000, 100000[ [100000, +∞ [ [1-7[ [8-15[ [15, +∞[ [0,1.5[ [1.5, 1.75[ [1.75, 2[ [2, +∞[ [1, 7[ [7, 13[ [13, +∞[ [0, 0.5[ [0.5, 1[ [1, +∞[ 0 [1,15000[ [15000, +∞[ Códigos 1 2 3 4 1 2 3 4 1 0 1 0 1 2 3 4 1 2 3 1 0 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 1 2 3 4 1 2 3 1 2 3 1 2 3 RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________ANEXO VIII ANEXO IX Grupo 1 para analisar efeito da desmatação, desarborização e enchimento quadriculas 17 20 21 22 23 26 27 30* 31 32 35 36 37 41 45 58 59 62/ALC2 73 75 76 77 78 79 82 D5 antes 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 2000 0 meses Dez-01 Dez-01 Dez-01 Jan-02 Jan-02 Dez-01 Dez-01 Out-01 Out-01 Out-01 Ago-01 Ago-01 Ago-01 Dez-01 Dez-01 Jul-01 Jul-01 Ago-01 Out-01 Out-01 Out-01 Jun-01 Out-01 Jun-01 Dez-01 Jul-01 3 meses Mar-02 Mar-02 Mar-02 Abr-02 Abr-02 Mar-02 Mar-02 Jan-02 Jan-02 Jan-02 Nov-01 Nov-01 Nov-01 Mar-02 Mar-02 Out-01 Out-01 Nov-01 Jan-02 Jan-02 Jan-02 Set-01 Jan-02 Set-01 Mar-02 Set-01 6 meses Jun-02 Jun-02 Jun-02 Jul-02 Jul-02 Jun-02 Jun-02 Abr-02 Abr-02 Abr-02 Fev-02 Fev-02 Fev-02 Jun-02 Jun-02 Jan-02 Jan-02 Fev-02 Abr-02 Abr-02 Abr-02 Dez-01 Abr-02 Dez-01 Jun-02 Dez-01 9 meses Set-02 Set-02 Set-02 Out-02 Out-02 Set-02 Set-02 Jul-02 Jul-02 Jul-02 Mai-02 Mai-02 Mai-02 Set-02 Set-02 Abr-02 Abr-02 Mai-02 Jul-02 Jul-02 Jul-02 Mar-02 Jul-02 Mar-02 Set-02 Mar-02 12 meses Dez-02 Dez-02 Dez-02 Jan-03 Jan-03 Dez-02 Dez-02 Out-02 Out-02 Out-02 Ago-02 Ago-02 Ago-02 Dez-02 Dez-02 Jul-02 Jul-02 Ago-02 Out-02 Out-02 Out-02 Jun-02 Out-02 Jun-02 Dez-02 Jun-02 15 meses Mar-03 Mar-03 Mar-03 Jan-03 Jan-03 Jan-03 Nov-02 Nov-02 Nov-02 Out-02 Out-02 Nov-02 Jan-03 Jan-03 Jan-03 Jan-03 - 18 meses Jun-03 Jun-03 Jun-03 Abr-03 Abr-03 Abr-03 Fev-03 Fev-03 Fev-03 Jan-03 Jan-03 Fev-03 Abr-03 Abr-03 Abr-03 Abr-03 - 21 meses Set-03 Set-03 Set-03 Jul-03 Jul-03 Jul-03 Mai-03 Mai-03 Mai-03 Abr-03 Abr-03 Mai-03 Jul-03 Jul-03 Jul-03 Jul-03 - 24 meses Out-03 Out-03 Out-03 Ago-03 Ago-03 Ago-03 Jul-03 Jul-03 Ago-03 Out-03 Out-03 Out-03 Out-03 - Grupo 2 para analisar efeito da desmatação, desarborização e enchimento novas 86 87 antes 2001 2001 0 meses Jun-01 Jun-01 3 meses Set-01 Set-01 6 meses Dez-01 Dez-01 9 meses Mar-02 Mar-02 12 meses Jun-02 Jun-02 15 meses - 18 meses - 21 meses - 24 meses - 2ª fase 18 29 54 83 antes 2000 2000 2000 2000 0 meses Mar-02 Mar-02 Mai-02 Mai-02 3 meses Jun-02 Jun-02 Ago-02 Ago-02 6 meses Set-02 Set-02 Nov-02 Nov-02 9 meses Dez-02 Dez-02 Fev-03 Fev-03 12 meses Mar-03 Mar-03 Mai-03 Mai-03 15 meses Jun-03 Jun-03 Ago-03 Ago-03 18 meses Set-03 Set-03 - 21 meses - 24 meses - 3 meses Mai-02 Mai-02 Mai-02 Mai-02 Mai-02 3 meses Dez-02 Dez-02 Dez-02 6 meses Ago-02 Ago-02 Ago-02 Ago-02 Ago-02 6 meses Mar-03 Mar-03 Mar-03 9 meses Nov-02 Nov-02 Nov-02 Nov-02 Nov-02 9 meses Jun-03 Jun-03 Jun-03 12 meses Fev-03 Fev-03 Fev-03 Fev-03 Fev-03 12 meses Set-03 Set-03 Set-03 para analisar efeito do enchimento quadriculas 4/G6 5 7 8 13 transectos TVinhas TCodes TAgosto antes 2000 2000 2000 2000 2000 antes 2002 2002 2002 0 meses Fev-02 Fev-02 Fev-02 Fev-02 Fev-02 0 meses Set-02 Set-02 Set-02 Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) ANEXO X Proposta Síntese para a criação de uma Unidade Móvel para a Resolução de Situações de Emergência envolvendo Carnívoros na área de regolfo de Alqueva e Pedrogão ENQUADRAMENTO A criação de uma Unidade Móvel para a resolução de situações de emergência envolvendo carnívoros na área de regolfo de Alqueva e Pedrogão deve ser entendida como uma medida minimizadora dos impactes decorrentes das acções de destamatação e desarborização na área a ser sujeita a inundação, tendo por objectivo o salvamento e recuperação de indivíduos cuja sobrevivência se encontre ameaçada devido às acções acima referidas. Os estudos desenvolvidos até ao momento têm vindo a revelar a importância vital do vale do rio Guadiana e seus principais afluentes para espécies de carnívoros, e outros predadores (aves de rapina), alguns dos quais considerados prioritários devido ao seu estatuto conservacionista (ver Relatório de Progresso relativo à Monitorização de Carnívoros, 2000). A proposta consubstanciada no presente documento representa, assim, uma medida de intervenção directa que visa salvaguardar um conjunto de espécies que ainda se encontram presentes na área de actuação do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva. Conforme já amplamente divulgado, quer através dos relatórios de progresso, quer em pareceres emitidos, nomedamente para o GTPN, quer em reuniões tidas com representantes da EDIA, e dada a capacidade de reação das espécies em causa a factores externos de perturbação, os cenários mais previsíveis são os que se referem a: (i) indivíduos adultos que, por apresentarem actividade maioritariamente nocturna, possam inadvertidamente ficar encurralados nos seus refúgios diurnos e sofrerem a acção directa das máquinas que lhes poderão causar ferimentos em diferentes graus; (ii) crias dependentes dos adultos e, como tal, sem capacidade de fuga. Face à cronologia do ciclo reprodutor das espécies envolvidas, a primeira situação (i) será a mais previsível no imediato e atingirá sobretudo fêmeas que, uma vez em fase de gestação, darão início às actividades de procura e preparação do local onde devrão ocorrer os nascimentos. A vulnerabilidade das fêmeas reprodutoras manter-se-á, contudo, até ao período de emancipação das crias (Setembro/Outubro) já que está documentado o forte instinto que une as fêmeas de carnívoros às suas crias, particularmente em espécies não sociais. A ocorrência da segunda situação (ii) será mais provável a partir de finais de Abril/Maio e manter-se-á até Setembro/Outubro, altura em que os juvenis já atingiram dimensões corporais próximas das dos adultos e logo maior capacidade de fuga. Não é de excluir contudo a possibilidade de ocorrência de segundas gestações no final do Verão ou príncipio do Outono, facto este já registado em outros locais (e.g. serra de Grândola) e que está relacionado com a amenidade do clima e as disponibilidades alimentares. RELATÓRIO FINAL (2003)______________________________________________________________________________________________________ANEXO X Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) REQUISITOS A proposta apresentada contempla os meios (recursos humanos e logísticos) necessários ao conjunto de intervenções exequíveis, apesar de já se ter dado início aos trabalhos de desmatação e desarborização na bacia do Guadiana e seus afluentes. Perante os dois cenários previamente apresentados, e face à vastidão da área a ser intervencionada e ao afastamento relativamente aos centros de tomada de decisão (e.g. ICN, CBA) a primeira medida que deve ser tomada é a da contratação, no minímo, de dois técnicos com formação, experiências profissionais e competências distintas (1 biólogo e 1 médico veterinário) que passarão a constituir uma unidade móvel para resolução de situações de emergência. Os referidos técnicos deverão ser contratados em regime de exclusividade e deverão, preferencialmente, possuir experiência no manuseamento de animais selvagens. Se tal não for possível, deverá ser realizado um curso de formação (uma a duas semanas), por profissionais competentes na matéria, a fim dos técnicos contratados serem instruídos nos procedimentos e cuidados a ter. A criação da referida unidade móvel impõe uma série de exigências que deverão ser integralmente cumpridas por forma a garantir o sucesso da operação: • Garantia de contracto após o términus dos trabalhos conducentes à desarborização do último sub-bloco, por forma a garantir o acompanhamento de animais em cativeiro e que aguardem libertação; • Garantia de alojamento, ou disponibilidade monetária para tal, em locais tão próximo quanto possível do centro momentâneo das operações; • Cedência de telemóveis, e pagamento das respectivas despesas, por forma a permitir um contacto telefónico permanente, incluindo com as equipas de desmatação; • Viatura com tracção às quatro rodas e com caixa longa, para permitir o transporte de animais em jaulas, e respectivas despesas de combustível e portagens; • Caixas para transporte e imobilização de animais; • Equipamento e material de imobilização e primeiros socorros para solução de situações pouco gravosas e que permitam a libertação dos indivíduos no imediato; deve ser igualmente considerado o material necessário para proceder à eutanásia de animais gravemente feridos (ferimentos que incapacitem a sobrevivência do indivíduo a longo prazo ou que exigam a amputação de partes do corpo (exceptua-se o lince desde que não esteja em causa a sua capacidade reprodutora); • Apresentação, por parte da EDIA, dos referidos técnicos aos responsáveis no terreno pelas equipas de desmatação, a fim de que as mesmas sejam sensibilizadas e responsabilizadas pela resolução de eventuais situações de emergência; é fundamental a garantia de que as referidas equipas têm a possibilidade de contactar a unidade móvel de emergência a qualquer momento; • Articulação com os centros de acolhimento (nacionais e internacionais) identificados e seleccionados na sequência de outra proposta, já viabilizada pela EDIA, que teve por objectivo a contratação de um biólogo que terá a seu cargo a RELATÓRIO FINAL (2003)______________________________________________________________________________________________________ANEXO X Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) responsabilidade de efectuar um inventário e caracterização de todos os centros disponíveis e com condições para receber animais e de estabelecer protocolos de cooperação com os mesmos. • Aquisição de duas ou três arcas frigoríficas, a serem colocadas em pontos estratégicos no interior da área de intervenção, a fim de que possam ser recolhidos corpos de animais eventualmente mortos durante as acções de desmatação/deasrborização, ou que tenham sido eutanasiados, por forma a permitir a subsequente necrópsia; • Estabelecimento de uma avença com um veterinário que demonstre experiência com animais selvagens a fim de que o mesmo se responsabilize por eventuais intervenções cirúrgicas e pelo acompanhamento das necrópsias. Durante o período em que os animais sejam mantidos em cativeiro, que deve ser o menor possível e determinado caso a caso, devem assegurar-se as condições de isolamento relativamente a outros animais e o menor contacto possível com o homem, por forma a garantir uma maior viabilidade da operação de translocação. Uma vez que a libertação não pode ocorrer no local original de captura, a mesma deverá ter lugar tão próximo quanto possível deste, sugerindo-se para o efeito os terrenos entretanto expropriados pela EDIA desde que as características dos habitats envolventes não ponham em causa a sua sobrevivência futura. Caso assim seja, deve procurar-se a área mais próxima com capacidade de suporte, de preferência áreas sob a admnistração do estado. Caso tal não seja possível, deve haver um contacto prévio com os proprietários dos terrenos mais adequados e o eventual comprometimento através da atribuição de contrapartidas (a este propósito tanto o ICN como a EDIA poderão ter um papel fulcral) deve ser tido em consideração. Para que seja possível fazer uma avaliação do sucesso destas operações de salvamento de emergência, torna-se imprescindível que todos os indivíduos libertados sejam marcados e, sempre que possível, munidos de um radio-emissor para que possam ser monitorizados no período pós-libertação. No que se refere à situação das crias, e como se trata de indivíduos cuja sobrevivência deverá ser assegurada por outrém, que represente o papel da progenitora, torna-se necessário assegurar um local de cativeiro adequado onde os referidos indivíduos possam ser utilizados como instrumentos de reprodução (centros de reprodução em cativeiro) ou de sensibilização e educação ambiental. A este propósito, os centros de acolhimento nacional apenas podem ser encarados numa perspectiva temporária pois não está nas suas atribuições a manutenção de indivíduos em cativeiro a longo-prazo. Aqui assumem um papel primordial os Jardins Zoológicos europeus, incluindo o de Lisboa, e os centros de reprodução em cativeiro. EQUIPA RESPONSÁVEL A responsabilidade da coordenação das acções preconizadas na presente proposta ficará a cargo do Centro de Biologia Ambiental (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa), ainda que seja assegurada parceria com o Instituto de Conservação da Natureza. Os elementos das duas instituições que assumirão a responsabilidade da presente proposta são, respectivamente: • Centro de Biologia Ambiental, Profª Doutora Margarida Santos-Reis • Instituto de Conservação da Natureza, Drª Margarida Lopes Fernandes RELATÓRIO FINAL (2003)______________________________________________________________________________________________________ANEXO X Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) CUSTOS E JUSTIFICAÇÃO RUBRICAS ORÇAMENTO PREVISTO (EM CONTOS) Recursos Humanos 5 760 Viatura todo-o-terreno 5 600 Combustíveis 1 560 Revisões e reparações 1 000 Ajudas de Custo 7 680 Equipamento 5 000 Comunicações 320 Avença (Médico Veterinário) 800 Vários 1 000 TOTAL 28 720 Aos custos apresentados deve ser acrescido o IVA à taxa em vigor. A rubrica Recursos Humanos refere-se ao pagamento de um biólogo e um veterinário em regime de exclusividade, de acordo com a tabela prevista pela Fundação para a Ciência e Tecnologia para licenciados (145 contos/mês), a que se acrescem os encargos com a Segurança Social. O número de meses contabilizado na presente proposta foi de 16 meses (Setembro de 2001 a Dezembro de 2002). Face às características fisiográficas do terreno onde decorrem os trabalhos, torna-se impriscindível a utilização de uma Viaturatodo-o-terreno, sugerindo-se para o efeito, e por forma a reduzir os custos inerentes à presente proposta, a aquisição de uma carrinha Mitsubishi. A referida viatura tem de possuir uma caixa longa e fechada por forma a alojar as caixas de transporte dos animais e restante equipamento. No cálculo dos Combustíveis foi considerado o valor de 200Km como distância média percorrida diariamente e o dispêndio de 12 l /100 Km de gasóleo, e em Revisões e Reparações foi considerado o valor de 500 contos / ano, tendo por base o conhecimento prévio decorrente do desgaste de viaturas em permanente trabalho-de-campo. Nas Ajudas de custo foi tido em consideração o valor tabelado no Diário da república para o ano de 2001 (7 947 contos /dia) dado que está prevista uma constante mobilidade por forma a garantir uma actuação rápida e eficaz (16 meses = 480 dias). A rubrica Equipamento contempla a aquisição de material de imobilização e anestesia, a aquisição de um telemóvel, caixas de transporte e equipamento de telemetria e a preparação de uma caixa de primeiros socorros. As Comunicações referem-se a despesas de telefone e faxes, estimando-se o valor de 20 contos /mês. RELATÓRIO FINAL (2003)______________________________________________________________________________________________________ANEXO X Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Propõe-se ainda o valor de 50 contos / mês para o estabelecimento de uma Avença com um Médico Veterinário, para formação, consultadoria e intervenção em situações mais gravosas (e.g. necessidade de intervenção cirúrgica). Finalmente, acresce-se uma rubrica de Vários que se destina à aquisição de materiais perecíveis e de outros que se afigurem como necessários no decorrer do plano de actividades. NOTA FINAL A presente proposta é da responsabilidade da responsável pelo projecto de Monitorização de Mamíferos na área de regolfo de Alqueva e Pedrogão, que a seguir assina. Para a sua elaboração foi ouvida a técnica do Instituto de Conservação da Natureza indigitada como elemento de ligação da referida instituição, por forma a tirar partido do seu conhecimento na matéria e a garantir o enquadramento da operação na Estratégia Nacional de Conservação da Natureza. Lisboa, 10 de Junho de 2001 Margarida Santos-Reis Centro de Biologia Ambiental, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa RELATÓRIO FINAL (2003)______________________________________________________________________________________________________ANEXO X ANEXO II Listagem das variáveis ambientais analisadas no desenvolvimento do modelo preditivo de ocorrência do coelho-bravo na área cartográfica do Empreendimento para Fins Múltiplos do Alqueva e respectiva codificação e classes. Cobertura do solo / Biótopos Informação recolhida no trabalho de campo: Variável Descrição Ocupação por montado de azinho s/ sub-coberto Código MASS_O Densidade do montado de azinho s/ sub-coberto MASS_D Idade do montado de azinho s/ sub-coberto MASS_I Ocupação por montado de azinho c/ sub-coberto Densidade do montado de azinho c/ sub-coberto Idade do montado de azinho c/ sub-coberto Ocupação por montado de sobro s/ sub-coberto Densidade do montado de sobro s/ sub-coberto Idade do montado de sobro s/ sub-coberto Ocupação por montado de sobro c/ sub-coberto Densidade do montado de sobro c/ sub-coberto Idade do montado de sobro c/ sub-coberto Ocupação por montado misto s/ sub-coberto Densidade do montado de misto s/ sub-coberto Idade do montado de misto s/ sub-coberto MACS_O MACS_D MACS_I MSSS_O MSSS_D MSSS_I MSCS_O MSCS_D MSCS_I MMSS_O MMSS_D MMSS_I Classes 0 = ausente 1 = [1-25%[ 2 = [25-50%[ 3 = [50-75%[ 4 = [75-100%] 0 = mass ausente 1 = disperso 2 = pouco denso 3 = denso 0 = mass ausente 1 = muito jovem 2 = jovem 3 = adulto 4 = velho ver MASS_O ver MASS_D ver MASS_I ver MASS_O ver MASS_D ver MASS_I ver MASS_O ver MASS_D ver MASS_I ver MASS_O ver MASS_D ver MASS_I Ocupação por montado de misto c/ sub-coberto Densidade do montado de misto c/ sub-coberto Idade do montado de misto c/ sub-coberto Ocupação por montados sem sub-coberto (MASS_O + MSSS_O + MMSS_O) Ocupação por montados com sub-coberto (MACS_O + MSCS_O + MMCS_O) Ocupação por pousio MMCS_O MMCS_D MMCS_I MONT_S_1 MONT_C_1 POUSIO Ocupação por estepe cerealífera Ocupação por restolho Ocupação por solo nu, desmatado ou lavrado Ocupação por esteval alto (> 1,70 m) Ocupação por esteval médio (1-1,70 m) Ocupação por esteval baixo (< 1 m) Ocupação por giestal Ocupação por matos diversificados Ocupação pela associação vegetal Cistus ladanifer + Ulex sp Ocupação pela associação vegetal Cistus sp + Erica sp + Lavandula sp Ocupação por matagal Ocupação por eucaliptal sem sub-coberto Ocupação por eucaliptal com sub-coberto Ocupação por pinhal sem sub-coberto Ocupação por pinhal com sub-coberto Ocupação por pomares Ocupação por vinhas ou hortas Ocupação por cultura de regadio Ocupação por olival explorado Ocupação por olival selvagem Ocupação por plantações recentes Ocupação por zonas rupícolas Ocupação por afloramentos rochosos ESTEPE_1 RESTOLHO SOLO_NU EST_ALT EST_MED EST_BAI GIESTAL MATOS_1 LAD_ULEX ERI_LAV MATAGAL EUC_S EUC_C PINH_S PINH_C POMAR_1 VINH_HOR REGADIO OLI_EXP OLI_SEL PL_REC_1 RUPICOLA AFL_ROCH ver MASS_O ver MASS_D ver MASS_I ver MASS_O ver MASS_O 0 = ausente 1 = [1-25%[ 2 = [25-50%[ 3 = [50-75%[ 4 = [75-100%] ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO 0 = presentes 1 = ausentes AGL_PEDR Ocupação por galerias ripícolas Ocupação por planos de água Ocupação por zonas urbanizadas Ocupação por eventuais biótopos de abrigo p/ coelho (MONT_C + EST_ALT + EST_MED + EST_BAI + MAT_DIV + LAD_ULEX + ERI_LAV + MATAGAL) Ocupação por eventuais biótopos de alimentação p/ coelho (POUSIO + ESTEPE) Ocupação por biótopos com maior intervenção humana (EUC_S + EUC_C + PINH_S + PINH_C + POMAR + VINH_HOR + REGADIO + OLI_EXP + PLT_REC + URBANO) Tipo de solo RIPIC_1 PLN_AG URBANO 0 = presentes 1 = ausentes ver POUSIO ver POUSIO ver POUSIO ABRIGO ver POUSIO ALIMENTO ver POUSIO HUMANA_1 TIP_SOLO Gado ovino OVINO Gado caprino Gado bovino Gado suíno Gado equino Aparcamento de gado CAPRINO BOVINO SUINO EQUINO APARCAM Regime Cinegético Especial - Zona de Caça Municipal CÇ_MUN Campo de Treino de Caça Reserva de Não Caça Zona livre CÇ_TRE CÇ_RES CÇ_LIV ver POUSIO 1 = arenoso sem pedras 2 = arenoso com pedras 3 = argiloso sem pedras 4 = argiloso com pedras 5 = pedregoso/xistoso 6 = mais de um tipo 0 = ausente 1 = esparso 2 = generalizado 3 = intenso ver OVINO ver OVINO ver OVINO ver OVINO 0 = ausente 1 = presente 0 = ausente 1 = presente ver CÇ_MUN ver CÇ_MUN ver CÇ_MUN Caça Gado Solo Ocupação por aglomerados de pedras Informação digitalizada: Solo Uso do solo Variável Ocupação por estepes + pousio + solo nu Descrição Código ESTEPE_2 Ocupação por montado sem sub-coberto MONT_S_2 Ocupação por montado com sub-coberto Ocupação por matos + matagais + olival selvagem MONT_C_2 MATOS_2 Ocupação por eucaliptal + pinhal Ocupação por pomares + olival explorado Ocupação por plantações recentes Ocupação por galerias ripícolas Ocupação por zonas agrícolas (POMAR_2 + vinhas) Ocupação por zonas abertas (ESTEPE_2 + MONT_S_2) EUC_PINH POMAR_2 PL_REC_2 RIPIC_2 AGRICOLA ABERTOS Ocupação por zonas fechadas (MONT _ 2 + MATOS_2 + RIPIC_2) Ocupação por zonas de maior intervenção humana (EUC_PINH + AGRICOLA + zonas urbanas) Profundidade (cm) FECHADOS HUMANA_2 PRF_SOLO Textura - solo ligeiro (m2) SOLO_LIG Classes 0 = ausência 1 = [1 m2; 0,1 km2] 2 = ]0,1; 1 km2] 0 = ausência 1 = [1 m2; 0,25 km2] 2 = ]0,25; 1 km2] ver MONT_S_2 0 = ausência 1 = presença ver MONT_S_2 ver ESTEPE_2 ver MATOS_2 ver MATOS_2 ver ESTEPE_2 0 = ausência 1 = [1 m2; 0,1 km2] 2 = ]0,1; 0,5 km2] 3 = ]0,5; 1 km2] ver ABERTOS ver ABERTOS 1 = [0 a 25 cm] 2 = ]25 a 50 cm] 3 = ]50 a 75 cm] 4 = mais de 75 cm 0 = ausência 1 = [1 m2; 0,25 km2] 2 = ]0,25; 0,5 km2] 3 = ]0,5; 0,75 km2] 4 = ]0,75; 1 km2] Geologia Hidrologia Ca ça Textura - solo médio SOLO_MED Textura - solo pesado Xistos SOLO_PES XISTOS Ígneas IGNEAS Carbonatadas Metavulcanitos Depósitos recentes CARBONAT METAVULC DEPOSIT Ordem dos rios ORD_RIOS Distância a todos os rios (m) DIS_RIOS Distância aos rios de ordem 1 e 2 DIS_RIO1 Distância aos rios de ordem 3 e 4 DIS_RIO3 Distância aos rios de ordem 5 e 6 Perímetro de água DIS_RIO5 PER_AGUA Charcas CHARCAS Ocupação Zonas de Caça Nacional CÇ_NAC 0 = ausência 1 = [1 m2; 0,25 km2] 2 = ]0,25; 0,5 km2] 3 = ]0,5; 1 km2] ver SOLO_MED 0 = ausência 1 = [1 m2; 0,75 km2] 2 = ]0,75; 1 km2] 0 = ausência 1 = presença ver IGNEAS ver IGNEAS 0 = ausência 1 = [1 m2; 0,5 km2] 2 = ]0,5; 1 km2] 0 = sem rios 1 = rios de ordem 1 2 = rios de ordem 2 e 3 3 = rios de ordem 4 a 6 1 = [0 - 250 m] 2 = ]250 - 500 m] 3 = mais de 500 m 1 = [0 - 1000 m] 2 = mais de 1000 m 1 = [0 - 1000 m] 2 = ]1000 - 5000 m] 3 = mais de 5000 m ver DIS_RIO3 0 = sem cursos nem planos de água 1 = [1 - 1500 m] 2 = mais de 1500 m 0 = ausência 1 = presença 0 = ausência por unidade de uso do solo Perturbação humana Métricas para o uso do solo: Ocupação Zonas de Caça Social Ocupação Zonas de Caça Associativa CÇ_SOC CÇ_ASS Ocupação Zonas de Caça Turística CÇ_TUR Ocupação do total de zonas de caça Densidade da população humana CÇ_TOT POP_HUM Distância às áreas urbanas DIST_URB Densidade de estradas DENS_EST Distância às estradas principais DIST_EST Número de polígonos NUM_PG_U Dimensão média dos polígonos DIM_PG_U Comprimento da orla entre polígonos ORL_PG_U Índice da forma média dos polígonos FOR_PG_U 1 = presença ver CÇ_NAC 0 = ausência 1 = [1 m2; 0,25 km2] 2 = ]0,25; 0,75 km2] 3 = ]0,75; 1 km2] 0 = ausência 1 = [1 m2; 0,5 km2] 2 = ]0,5; 1 km2] ver CÇ_ASS 1 = [0 - 10 hab/km] 2 = mais de 10 hab/km 1 = [0 - 2500 m] 2 = ]2500 - 5000 m] 3 = mais de 5000 m 0 = ausência 1 = [1 m2; 0,015 km2] 2 = ]0,015; 1 km2] 1 = [0 - 500 m] 2 = ]500 - 1500 m] 3 = ]1500 - 5000 m] 4 = mais de 5000 m 1 = [1 - 5[ 2 = [5 – 15] 3 = mais de 15 1 = [0 - 10 Km2[ 2 = [10 - 30 Km2] 3 = mais de 30 Km2 1 = [1 - 7000 m[ 2 = [7000 - 14000 m] 3 = mais de 14000 m 1 = [0 - 1,4[ 2 = [1,4 - 1,7] por classe de uso do solo * Índice de diversidade de Shannon DIV_PG_U Número de polígonos NUM_PG_C Comprimento da orla entre polígonos ORL_PG_C Índice da forma média dos polígonos FOR_PG_C Índice de diversidade de Shannon * Classes de uso do solo: ABERTOS, FECHADOS E HUMANA_2 DIV_PG_C 3 = mais de 1,7 1 = [0 - 0,25[ 2 = [0,25 - 0,5] 3 = mais de 0,5 1 = [1 - 3] 2 = [4 - 7 ] 3 = mais de 7 1 = [0 - 7000 m[ 2 = [7000 - 12000 m] 3 = mais de 12000 m 0=0 1 = [1 - 1,5] 2 = mais de 1,5 ver DIV_PG_U Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) ANEXO XII Propostas de áreas para libertação de coelhos-bravos (Oryctolagus cuniculus) resultantes do programa de cativeiro no âmbito das medidas de Compensação de Alqueva Para além das espécies-alvo definidas contratualmente (lobo, toirão, lontra, gato-bravo e lince) optou-se por considerar para avaliação igualmente o coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus). A opção de investir na avaliação do padrão de distribuição e abundância desta espécie, é justificada pela sua reconhecida importância como presa-chave das comunidades de carnívoros em habitats mediterrânicos (IBORRA et al. 1997, VILLAFUERTE et al. 1994), situação a que não deverá ser alheio o facto de esta espécie ser originária da Península Ibérica (ZEUNER 1963 in ROGERS 1981, ARTHUR 1980), reflectindo por isso um longo percurso de co-evolução com os seus predadores (JAKSIĆ & OSTFELD 1983 in SIMONETTI 1989). Por outro lado, a grande coincidência nas exigências em termos de habitat para o gato-bravo e para o lince faz com que as medidas de conservação propostas abranjam de igual modo as duas espécies de felídeos (PEDROSO et al 2003). O lince-ibérico (Lynx pardinus), espécie tipicamente terrestre que habitualmente não se apresenta tão enfeudada aos vales dos rios e ribeiras, apresenta(va) no caso do núcleo populacional do AlcarracheGuadelim, uma situação particular devido ao reduzido efectivo populacional estimado e à disposição linear da mancha de ocupação tal como sugerido por CEIA et al. (1998) e LEITÃO (1998) (Fig. 1). Esta aparente estreita associação do lince ao vale do Guadiana (nomedamente ao troço que se situa entre Pedrógão e Luz, à foz do Degebe e à ribeira de Alcarrache e Guadalim) resulta da baixa adequabilidade do habitat em grande parte da área de estudo, onde predominam vastas áreas de estepe e montado sem sub-coberto (Fig. 1). As zonas de matagal e zonas florestadas com matos desenvolvidos, que conferem refúgio e tranquilidade para a reprodução, estão muito pouco representadas e situam-se maioritariamente ao longo, ou na proximidade dos vales (Fig 1). RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________ANEXO XII Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) N W N E S W E S 0 Cartas militares 1:25000 Areas_lince.shp Matagal Matos Montado com subcoberto Olival selvagem Veget. ripicola Rios Área inundável Área de estudo 50 Km Limite de Portugal Continental Proposta de corredores para lince-ibérico (LPN) Núcleo Alcarrache/Guadalim Carta militar 1:25000 Área inundável Habitat favorável para Lince Corredor rio Chança Figura 1 – Habitat favorável para o lince e gato-bravo na área de estudo de Alqueva, com indicação das áreas importantes para a sua conservação. Por outro lado, a maior especialização em termos de habitat (matagais mediterrânicos) e alimento (80% ou mais das presas consumidas são coelho - PALMA 1977, CASTRO 1992) fazem do lince uma espécie bastante vulnerável. As acções de desmatação/desarborização tiveram consequências negativas muito significativas sobre as áreas de habitats favoráveis e populações de coelho-bravo, devido ao facto de estes RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________ANEXO XII Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) dois tipos de recursos estarem bastante associados ao vale do rio Guadiana e seus principais afluentes (Fig. 2). De facto, as áreas de maior abundância de coelho situam-se ao longo da área a inundar com Alqueva. N Área prevista para inundação Cartas militares 1:25000 0 - 25% 25% - 50% 50% - 75% 75% - 100% 0 5 km Figura 2 – Mapeamento da probabilidade de ocorrência de coelho-bravo (quadrículas GAUSS 1*1Km) estimada pelo modelo de regressão logística para a área cartográfica de fins múltiplos de Alqueva. Este impacto foi agravado pelo facto de não ter existido, como foi proposto no terceiro relatório de progresso (SANTOS-REIS et al. 2000), a implementação de uma estratégia integrada que minimizasse o impacto sobre os núcleos viáveis de coelho. Com a finalização do empreendimento de Alqueva o troço médio do Vale do Guadiana (Pedrogão e Luz à foz do Degebe e à ribeira de Alcarrache e Guadalim) desaparece, bem como os seus eixos de ligação (ribeira Ardila-Murtigão e ribeira Ardila-Toutalga) a áreas favoráveis e de ocorrência tradicional de lince, como são o RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________ANEXO XII Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) caso das serras da Adiça, Malpique e Preguiça onde recentemente foi detectado um excremento positivo de lince (PEDROSO et al 2003), ficando ainda interrompidos corredores ecológicos importantes para o lince-ibérico e gato-bravo, nomeadamente pela interrupção do corredor que liga a Malcata aos núcleos do Algarve (Caldeirão e Monchique) (CEIA et al, 1998). Deste modo, as medidas de conservação para o lince e gatobravo na bacia do Ardila devem-se centrar nas áreas existentes com viabilidade para acolher linces vindos de zonas fronteiriças espanholas, e que funcionem como corredores ecológicos alternativos e viáveis a curto/médio prazo (Fig. 1). A ausência de um conjunto de trabalhos preparatórios com vista à selecção e preparação das áreas para onde os indivíduos deveriam ser translocados condicionam o sucesso da operação de repovoamento. A selecção das áreas está estritamente dependente de dois critérios: a capacidade de suporte para a espécie, tendo em vista as características físiográficas da área e os atributos da população receptora, e a viabilidade socio-económica da operação. Por outro lado, paralela e antecipadamente deviam ter sido postas em prática medidas de melhoramento do habitat nas áreas receptoras. Tendo em vista estes constrangimentos as acções de repovoamento de coelho, tendo em vista a conservação do lince e do gato-bravo na área do EFMA, deverão então ser implementadas ao longo da bacia do Murtigão, Ardila e áreas fronteiriças. A selecção das áreas propostas para repovoamento assentou em critérios relactivos à estrutura do habitat, ao contributo no estabelecimento de corredores ecológicos e à abundância potencial de coelho. Sugerem-se assim as seguintes áreas por ordem de prioridade: 1) Herdade da Negrita – fronteira com Espanha, 2) Bacia do Murtigão (Troço do Murtigão na Herdade da Contenda como hipótese mais viável), 3) Bacia do Ardila (Herdade das Russianas) (Fig. 3). RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________ANEXO XII Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) N W E S Dejecto de lince ibérico 2001 Limites do Sitio Moura-Barrancos Nisa / Lage da Prata Classes de uso do solo 0 10Km Matagais Matos climax Matos esteva dom Montado_c/sub Zonas Ripícolas Zonas Rupícolas Monfurado Figura 22 - Habitats favoráveis para gato-bravo na área cartográfica do Sitio Moura-Barrancos Moura / Barrancos Rios principais Arade / Odelouca Caldeirão Corredores propostos Rede Natura ZEC Rede Natura 2000 ZPE Herdade da Negrita (1ª opcção) P.F. da Contenda (2ª opcção) Herdade das Russianas (3ª opcção) Continuidade da adequabilidade para o lince ao longo da ZEC. Figura 3 – Estratégia e opções de repovoamento de coelho-bravo para a ZEC Moura-Barrancos. Considerações Finais: A confirmar-se a tipologia da mancha de distribuição assinalada por CEIA et al. (1998) e LEITÃO (1998) e a não serem tomadas medidas de gestão, o futuro previsível será a extinção local efectiva. Esta situação tem consequências não só na viabilidade da já reduzida população do vale do Guadiana, comprovada com a ocorrência da espécie em 2001 (PEDROSO et al 2003, SANTOS-REIS 2003), mas também no contexto nacional, nomeadamente no que se refere às duas outras áreas de ocorrência mais próximas (S. Mamede e Algarve- RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________ANEXO XII Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) Odemira), já que vai contribuir para uma redução significativa das potencialidades de recuperação da espécie no contexto nacional. No que diz respeito à recuperação dos habitats é de realçar a necessidade de criar corredores entre manchas adjacentes que permaneçam inalteradas. Trata-se de uma medida que carece de uma actuação rápida, pela morosidade que envolve a manipulação dos habitats. A articulação destes dois planos é fundamental para o sucesso desta medida de gestão ambiental. Na definição dos corredores há que ter particularmente em linha de conta a estrutura metapopulacional dos núcleos de lince, sugerindo-se como fundamental um contacto estreito com o Instituto de Conservação da Natureza, entidade que tem tido a seu cargo o estudo deste felídeo, classificado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) o mais ameaçado a nível mundial (NOWELL & JACKSON 1996). A elaboração de uma Carta de Potencialidade de Habitat e disponibilidade de coelho-bravo será uma ferramenta particularmente útil na definição de um plano de reabilitação do lince-ibérico na Bacia do Guadiana. Por outro lado, a possibilidade de determinar que áreas constituirão possíveis corredores de dispersão, como o vale do Rio Chança, deverão ser alvo de avaliação e protecção prioritária (Fig. 3). Efectivamente, e apesar de existirem algumas áreas com habitat adequado ao lince, verifica-se que as manchas de qualidade são dispersas e pouco extensas não garantindo, muito provavelmente, protecção suficiente a um animal de hábitos tão elusivos e com áreas vitais tão vastas (RODRIGUEZ & DELIBES 1990). Também, e com base em observações feitas no decorrer do trabalho de campo constata-se que os lagomorfos são, de uma forma geral, pouco abundantes (Fig. 2) sendo urgente dar continuidade ao programa de reprodução em cativeiro e ás acções de repovoamento. Deverá ser consolidado e ampliado o esforço de prospecção nas áreas onde num passado recente existiram indícios da ocorrência de lince. Por outro lado, deverá ser feita uma avaliação da influência do bloco de rega do Ardila na conservação do lince e do gato-bravo, bem como a importância desta área a nível regional e nacional. Complementarmente deveram-se implementar medidas de gestão ambiental nas áreas que constituam potenciais corredores ecológicos e de dispersão para o felídeo. RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________ANEXO XII Monitorização de Mamíferos Carnívoros na Área de Intervenção do EFMA (Pmo 6.3) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARTHUR, C. P. (1980). Démographie du lapin de garenne, Oryctolagus cuniculus (L.) 1758, en région parisienne. Bull. Mens. Off. Nation., Nº Sp. Scien. Tech. 127-162. CEIA, H., L. CASTRO, M. FERNANDES & P. ABREU (1998) - Lince-ibérico em Portugal. Bases para a sua conservação. Relatório final do Projecto “Conservação do Lince-ibérico”. ICN/UE (Programa LIFE). Lisboa, 191pp. LEITÃO, D. (1998). Situação e Distribuição do Lince-Ibérico em duas regiões de Portugal: Beira Baixa e Vale do Guadiana. Programa Liberne – Conservação do Lince Ibérico em Portugal. ICN/UE (Programa LIFE). Lisboa. IBORRA, O. & J.P. LUMARET (1997). Validity limits of the pellet group counts in wild rabbit (Oryctolagus cuniculus). Mammalia, 61 (2): 205-218. NOWELL, K. & P. JACKSON, EDS. (1996). Status, survey and conservation action plan. Wild Cats IUCN/SSC, Cat Specialist Group, Gland, Switzerland, 382pp. PALMA, L.M. (1977). Contribuição para o estudo do lince Ibérico Lynx pardina (Temminck, 1824) e da sua conservação na serra da Malcata. Relatório de Estágio, Departamento de Zoologia e Antropologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Lisboa, 126pp. PEDROSO, N., J. P. FERREIRA, C. BALTAZAR, C. GRILO, H. MATOS, I. PEREIRA, T. SALES-LUIS & M. SANTOS-REIS 2003. Projectos de Monitorização de Mamíferos. Monitorização de Carnívoros. Relatório de Progresso. 2ª Fase de Monitorização. (Programa de Minimização para o Património Natural). Centro de Biologia Ambiental (FCUL) e Centro de Estudos da Avifauna Ibérica (CEAI), 159 págs. + 11 anexos. RODRIGUEZ, A. & M. DELIBES (1990). El lince ibérico (Lynx pardina) en España. Distribution y problemas de conservacion. ICONA. 114pp. ROGERS, P. M. (1981). Ecology of the european wild rabbit Oryctolagus cuniculus (L.) in Mediterranean habitats. II. Distribution in the landscape of the Camargue, S. France. Journal of Applied Ecology, 18: 355-371. SANTOS-REIS, M., A.T. CÂNDIDO, C.B. GRILO, J.P. FERREIRA, M.J. SANTOS, N.M. PEDROSO & T. SALES-LUÍS (2000). Pmo 6 – Projectos de Monitorização de Mamíferos, Projecto Pmo 6.3 – Monitorização de Carnívoros, Relatório Técnico da 1ª Fase de Monitorização, 39pp. SIMONETTI, J. A. (1989). Microhabitat use by Oryctolagus cuniculus in Central Chile: a reassessment. Mammalia, 53 (3): 363-368. VILLAFUERTE R., C., CALVETE, C GORTÁZAR & S. MORENO (1994). First epizootic of rabbit hemorrahagic disease in free living populations of Oryctolagus cuniculus at Doñana Park, Spain. Journal of Wildlife Disease, 30, 176-179. SANTOS-REIS, M. (2003). De novo no rasto do Lince ibérico! www.naturlink.pt/canais/Artigo.asp?iArtigo=11268&iLingua=1 RELATÓRIO FINAL (2003)____________________________________________________________________________________________________ANEXO XII