formação e estética: articulação a partir de hans-georg

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formação e estética: articulação a partir de hans-georg
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FORMAÇÃO E ESTÉTICA: ARTICULAÇÃO A PARTIR
DE HANS-GEORG GADAMER
V Mostra de
Pesquisa da PósGraduação
Clenio Lago1, Profa. Nadja Hermann1 (orientador)
1
Faculdade de Educação, PUCRS,
2
Instituto de Educação
Resumo
Introdução
Frente aos desafios da dinamicidade o paradigma ocidental ousou formar o homem
racional, aquele capaz de agir racionalmente, em que, pela educação transforma-se em
humano. Mas com a crise da modernidade efetivada desde a ruptura da metafísica, bem
expressa por Nietzsche (2005), este ideal é profundamente questionado. Em seu lugar emerge
o paradigma estético. Porém, atualmente incorre-se na esteticização do mundo da vida,
situação em que a sensibilidade perde sua capacidade crítica tornando-se incapaz de perceber
seus princípios desviantes, como bem sinalizou Welsch (1995). Uma vez mostrados e tocados
os limites do paradigma racional e os limites do paradigma estético em sua pureza, surge a
preocupação em visualizar um horizonte sem que a humanidade beire à barbárie, tanto através
da pura formalidade quanto através da pura sensibilidade. Buscando responder esses desafios
destaca-se o pensamento filosófico de Hans-Georg Gadamer, articulado desde a
fundamentação ontológica da obra uma nova forma de compreender a experiência estética e
com isso a educação. Dado ao exposto, esta pesquisa tem como questão central o que segue:
A articulação estética na formação, desde Gadamer, constitui-se em resposta plausível à
ruptura dos referenciais metafísicos, à esteticização do mundo da vida, num contexto em que
a Bildung entra em crise? A pergunta movedora dessa proposta de tese alcança importância
ante aos desafios da atualidade marcada pela pluralidade e pelos questionamentos sobre a
natureza humana, uma vez que a Hermenêutica Filosófica se opõe ao mito positivista e
rearticula a tradição da Bildung, desde a dimensão ontológica, no horizonte da linguagem.
Quanto à educação, o problema de pesquisa, justifica-se ante à crise dos referenciais de
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justificação da educação até então ancorados na metafísica, ante à pluralidade ética, aos rumos
da ciência, estando por um lado as exigências de princípios éticos universais e, por outro, o
pluralismo que perpassa os contextos educacionais geradores de múltiplas relações. Quanto a
Gadamer, o grande ícone da Hermenêutica Filosófica: sua importância está no fato de
rearticular a formação desde a experiência estética na plataforma da intersubjetividade
retomando o espírito da Bildung. Por fim, pergunta-se pela relação entre experiência estética e
formação, pois a experiência estética libera a lógica das relações, o ser para o vir-a-ser, à
medida que tira o acontecer do determinismo característico, tanto do discurso científico,
quanto da tradição pela tradição e do acaso, ao mesmo tempo em que possibilita novas
articulações em que a realidade abre-se como projeto.
Metodologia
Esta pesquisa está sendo desenvolvida como um trabalho teórico argumentativo, de
cunho filosófico. Têm como base de tensionamento a Hermenêutica Filosófica, buscando
articular a tradição filosófica e a experiência estética, duas dimensões autônomas e
necessárias na formação. Será efetivada com base no diálogo entre autores que tematizam a
experiência estética na formação tendo por referencia central Hans-Georg Gadamer. Está
divida em quatro grandes capítulos: o primeiro versando sobre a estética anterior a Gadamer;
o segundo, versando sobre as proposições gadamerianas quanto a dimensão ontológica da arte
e a experiência estética; o terceiro, versando sobre o lugar da linguagem no horizonte da
experiência estética em Gadamer; o quarto, versando sobre a formação no horizonte do
acontecer primordial do humano.
Resultados (ou Resultados e Discussão)
De nossas discussões iniciais destacamos a arte na perspectiva da estética empirista
que centra o referencial de beleza no objeto, já da estética kantiana destacamos a abordagem
subjetiva da estética com destaque para a figura do gênio e o juízo reflexionante. De Schiller
sinalizamos a necessária consideração dos elementos formal e sensível através do impulso
lúdico conferindo autonomia à arte, consequentemente, destaque à experiência estética. De
Hegel, sinalizamos o fato de, na contraposição com Kant, apresentar a arte como produto do
espírito e a experiência estética a situação em que o homem se encontra consigo mesmo, toma
consciência de si como espírito. De Gadamer evidenciamos as argumentações em torno da
fundamentação ontológica da arte, em que no jogo o “[...] modo de ser da própria obra de
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arte” (GADEMER, 2005, p. 154) ganha o seu verdadeiro ser ao transformar-se em
experiência que transforma. E, quem participa do jogo joga e jogado, nunca volve o mesmo,
torna-se outra coisa. É a presença da obra de arte, do o ser ai que nos interpela gerando
transformação em configuração, o que equivale a dizer que na experiência estética “[...] algo
se torna uma outra coisa, de uma só vez e como um todo, de maneira que essa outra coisa em
que se transformou passa a constituir o seu verdadeiro ser, em face do qual o seu ser anterior é
nulo” (GADAMER, 2005, p. 166). Isso porque, a obra de arte diz algo a cada um gerando a
verdadeira experiência, a “[...] experiência da própria historicidade” (GADAMER, 2005, p.
467). Dessa forma, Gadamer ultrapassa a relação fragmentária entre sujeito e objeto, a teoria
da consciência estética, situação em que o ver deixa de ser percepção pura para ser a
articulação.
Conclusão
Abordar a relação entre formação e estética desde Gadamer não é um atarefa tão fácil
como parece a primeira vista. Devido ao estágio de desenvolvimento da pesquisa as
considerações apontadas aqui apenas indicam o caminho. As contribuições de Gadamer
permitem pensar que, como o mundo munda conforme sinalizou Heidegger, apoiado na
linguagem e na dimensão ontológica da obra de arte, o humano humana. Isso significa dizer
que não apenas se torna humano desenvolvendo suas potencialidades pela formação
cumprindo a finalidade de uma natureza, ou que simplesmente é resultado de um processo de
formação. Disso decorre que, para Gadamer, “educar é educar-se”. Mas isso somente é
possível no jogo intersubjetivo, do qual nunca volvemos os mesmos, pois nos transformamos
em outro à medida que experienciamos a realidade, o outro e de forma sempre diferente, a
exemplo da obra de arte que diz algo a cada um.
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