laranjeira `folha-murcha` - Estação Experimental de Citricultura de
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laranjeira `folha-murcha` - Estação Experimental de Citricultura de
BOLETIM CITRÍCOLA UNESP/FUNEP/EECB Março nº 12/2000 LARANJEIRA ‘ ’ FOLHA-MURCHA LARANJEIRA “FOLHA-MURCHA” Eduardo Sanches Stuchi & Luiz Carlos Donadio EECB Eduardo Sanches Stuchi Luiz Carlos Donadio LARANJEIRA ‘FOLHA-MURCHA’ Jaboticabal - SP Funep 2000 Copyright ©: Fundação de Estudos e Pesquisas em Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia - Funep Diagramação: Renato Trizolio Ilustração e impressão da capa: Gráfica Multipress Impressão e acabamento: Funep Ficha catalográfica preparada pela Seção de Aquisição e Tratamento de Informação do Serviço de Biblioteca e Documentação da FCAV. S929l Stuchi, Eduardo Sanches Laranjeira ‘Folha-Murcha’ / Eduardo Sanches Stuchi e Luiz Carlos Donadio. -- Jaboticabal : Funep, 2000. 35 p. il. ; 21 cm. - (Boletim citrícola, 12). 1. Laranja - citros. 2. Variedade. I. Título. CDU - 634.31 2000 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão punidos na forma da lei. FUNDAÇÃO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM AGRONOMIA, MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA - Funep Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/nº 14884-900 - Jaboticabal - SP Tel.: (16) 3209-1300 / Fax: (16) 3209-1306 Home Page: http://www.funep.com.br ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO ................................................................... 1 2. ORIGEM ............................................................................. 1 3. CARACTERÍSTICAS ........................................................... 3 3.1. Botânicas .................................................................... 3 3.2. Vigor ........................................................................... 4 3.3. Produtividade ............................................................. 9 3.4. Qualidade dos frutos e época de maturação ......... 11 3.5. Resistência a doenças .............................................. 18 4. PORTA-ENXERTOS ......................................................... 21 5. ESPAÇAMENTO .............................................................. 28 6. CONSIDERAÇÕES GERAIS ............................................. 30 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................... 30 Boletim Citrícola 1 LARANJEIRA ‘FOLHA-MURCHA’ Eduardo Sanches Stuchi1 Luiz Carlos Donadio2 1. INTRODUÇÃO A laranjeira doce ‘Folha-Murcha’ (Citrus sinensis L. Osbeck) é uma variedade originária do Rio de Janeiro, com frutos de ótima qualidade, cuja maturação se dá nos meses de janeiro a março nas condições daquele Estado, período em que existe uma forte demanda por laranjas (entressafra). Tem, por isso, grande interesse para o mercado de fruta fresca em São Paulo (POMPEU JÚNIOR, 1988). O incremento da produção e comercialização de suco fresco para o mercado interno, que já demanda em torno de três milhões de caixas, segundo TEÓFILO SOBRINHO et al. (1994), também faz desta variedade uma boa opção. Por sua boa performance, quando em competição com outras variedades tardias, poderia ser utilizada na diversificação das atuais variedades tardias industriais (DONADIO et al., 1999). 2. ORIGEM A laranjeira ‘Folha-Murcha’, também denominada de ‘Valência Folha-Murcha’, ‘Natal Folha-Murcha’ e de ‘Seleta Folha-Murcha’ (PAIVA et al., 1993b), tem sua origem exata de difícil estabelecimento. 1 2 Engº Agrº, Dr., EECB, Bebedouro, SP. Engº Agrº, Prof. Titular, Depto. Produção Vegetal, FCAV, Unesp. 2 Folha-Murcha Acredita-se que seja um mutante natural de ‘Pêra’ ou ‘Seleta’ descoberto no município de Araruama/RJ, que tenha chamado a atenção por duas de suas características: o permanente enrolamento das folhas e a maturação extremamente tardia (ARAÚJO & VASCONCELLOS, 1974). Para SALIBE (1987), a ‘Folha-Murcha’ é uma seleção de ‘Valência’ de maturação muito tardia, caracterizada por apresentar folhas enroladas, que demonstrou ser uma quimera periclinal, e todos os “seedlings” mostraram folhas normais e similares à ‘Valência’. LEITE JÚNIOR (1992) assim a descreveu: “é originária do Rio de Janeiro e atualmente é a cultivar mais plantada nesse Estado. É provavelmente uma mutação da laranja ‘Valência’, com frutos semelhantes, porém a planta apresenta como característica as folhas enroladas. Os frutos da laranja ‘Folha-Murcha’ têm aceitação na indústria e no mercado de frutas frescas interno e externo. Características: frutos médios, achatados e esféricos, de coloração alaranjada; casca quase lisa; suco abundante e ligeiramente ácido; poucas sementes. Plantas de porte médio. Resistente ao cancro cítrico.” HODGSON (1967) descreveu-a sucintamente: variedade brasileira, tardia, com frutos que se assemelham aos da laranja ‘Valência’. A árvore é moderadamente vigorosa, de crescimento ereto, com ramos grossos e folhas grandes, verde-escuras, que lhe dão alguma semelhança com a ‘Shamouti’. As folhas são enroladas e parecem murchas, daí a origem do nome. ‘Folha-Murcha’ é uma variedade produtiva. De origem desconhecida, é, presumivelmente, uma variação de gema. Esta variedade única é atualmente de menor importância, porém é considerada promissora. O que se sabe é que se trata de uma variedade tipicamente brasileira, pois não há na literatura mundial citação de tipos semelhantes (DONADIO et al., 1995). Boletim Citrícola 3 3. CARACTERÍSTICAS 3.1. Botânicas A característica típica desta variedade é apresentar as folhas enroladas, ou retorcidas, o que lhe dá o nome, pois parece estar sentindo a falta de água. Medições realizadas em Jaboticabal, em folhas adultas, deram os seguintes dados: comprimento 9,08 cm, largura 5,59 cm. Pecíolo pouco alado, com comprimento de 1,75 cm e largura de 0,51 cm. A folha, pela sua forma enrolada, parece ter apenas 2 cm de largura (DONADIO et al., 1995). PACE (1984) constatou que as células epidérmicas da ‘Folha-Murcha’ são semelhantes às de ‘Pêra’ quanto a forma em todas as regiões da folha, entretanto, na cultivar ‘FolhaMurcha’ ocorre um crescimento desigual entre a largura das células epidérmicas das duas faces, muito mais acentuado do que na ‘Pêra’. Portanto, o crescimento tardio das células da superfície abaxial, que continua a se expandir após o desenvolvimento da epiderme adaxial, explicaria o enrolamento das folhas da ‘Folha-Murcha’. Pela observação da meiose constatou-se ser o número básico da ‘Folha-Murcha’ igual a nove cromossomos, número este característico das diversas espécies dos gêneros Citrus, Fortunella e Poncirus (VASCONCELLOS et al., 1975). Campelo et al. (1972), citados por PAIVA et al., (1993b), estudaram botanicamente a variedade e concluíram que a mesma se enquadra no mesmo grupo das outras variedades de Citrus sinensis. VASCONCELLOS et al. (1975) afirmaram que a variedade apresenta vários problemas de natureza agronômica, entre eles a ausência de fixação de alguns caracteres fenotípicos, já que é comum nas plantas aparecerem ramos com folhas normais, ou mais vigorosas do que as típicas, o que também foi referido por DONADIO et al. (1995). Folha-Murcha 4 O germoplasma existente no Centro de Citricultura “Sylvio Moreira”, em Cordeirópolis, é portador de sorose fraca, e recentemente a variedade foi saneada pela técnica da microenxertia e premunizada e está sob avaliação quanto à preservação das características típicas em ambiente telado; isso quer dizer que em breve haverá borbulhas sadias para fornecimento aos interessados. Esse trabalho vem sendo desenvolvido pelo Centro de Citricultura em Cordeirópolis (S.A.Carvalho, comunicação pessoal). As flores da ‘Folha-Murcha’ são típicas das laranjas doces. Um estudo do número de cromossomos da variedade, feito pela contagem em grãos de pólen coletados de botões florais em diferentes estágios, resultou que o número diplóide de cromossomos, na variedade, é 18, ou seja, o mesmo que predomina na maioria das espécies e gêneros cítricos. Os frutos da ‘Folha-Murcha’ são tardios, tendo boa conservação na planta. Medem em média 6,35 cm de altura, 6,48 cm de diâmetro, apresentando forma arredondada, levemente achatada, com ocorrência também de frutos oblongos. A casca é fina, levemente rugosa, de cor laranja, típica das laranjeiras doces. A polpa é fina, com eixo central compacto. O ápice do fruto é côncavo e a base, convexa (DONADIO et al., 1995). 3.2. Vigor O vigor da planta é menor do que o da ‘Natal’ e ‘Valência’, mas isso pode estar ligado à presença de viroses em alguns clones da variedade. O vigor da ‘Folha-Murcha’ varia muito, possivelmente devido à existência de diferentes clones (DONADIO et al., 1995). PACE et al. (1981) avaliaram o comportamento agronômico de onze clones de ‘Folha-Murcha’, dos quais cinco clones novos e seis clones velhos, sobre limoeiro ‘Cravo’. Nas quatro safras estudadas (2º ao 5º ano após o Boletim Citrícola 5 plantio) houve superioridade dos clones novos, no vigor, a altura das plantas de clone novo variou de 3,8 a 4,0 m, enquanto as de clones velhos apresentaram altura de 3,1 a 3,5 m aos cinco anos de idade. O desenvolvimento vegetativo da ‘Folha-Murcha’ sobre citrumelo ‘Swingle’ avaliado pelo diâmetro da copa e pela altura das plantas, em 1998, foi inferior aos de ‘Natal’, ‘Valência’ e ‘Lue Gim Gong’, num experimento de competição de variedades tardias nas condições da EECB, conforme pode ser visto na Tabela 1 (STUCHI & DONADIO, 1999). Tabela 1. Tamanho das plantas de variedades de laranja doce em comparação com a ‘Folha-Murcha’, enxertadas sobre citrumelo ‘Swingle’, aos 9 anos de idade. EECB, 2000. Variedade Folha-Murcha Altura das plantas (m) Relativa (%) 3,3 100 Diâmetro da saia (m) Relativo (%) 3,7 100 Volume da copa (m3) Relativo (%) 24,2 100 Valência 3,5 106 4,0 108 29,6 122 Lue Gim Gong 3,6 109 4,0 108 30,2 124 Natal 3,7 112 4,3 116 36,9 152 O tamanho das plantas (altura e diâmetro da copa) de ‘Folha-Murcha’ foi medido num experimento de competição de dez porta-enxertos quando as plantas apresentavam oito anos de idade. As plantas mais altas foram aquelas cujos portaenxertos eram, em ordem decrescente: tangerineira ‘Cleópatra’, limoeiro ‘Rugoso da Flórida’, tangerineira ‘Sunki’, limoeiro ‘Volcameriano’, tangeleiro ‘Thornton’, laranjeira ‘Valência Americana’, limoeiro ‘Cravo’, citrangeiro ‘Troyer’, citrumeleiro ‘Swingle’ e limoeiro ‘Rugoso Nacional’. Com relação ao diâmetro das copas, as maiores foram aquelas cujos portaenxertos, em ordem decrescente, eram: tangerineira ‘Cleópatra’, limoeiro ‘Rugoso da Flórida’, limoeiro Folha-Murcha 6 ‘Volcameriano’, limoeiro ‘Cravo’, tangerineira ‘Sunki’, laranjeira ‘Valência Americana’, citrumeleiro ‘Swingle’, limoeiro ‘Rugoso Nacional”e citrangeiro ‘Troyer, conforme pode ser visto na Tabela 2 (STUCHI, 1999). Nas fotos de 1 a 10, além do desenvolvivento vegetativo pode-se notar o efeito inicial do déficit hídrico em agosto de 1999, que se acentuaria até outubro (Veja avaliação da tolerância à seca na Tabela 8). Tabela 2. Altura da planta (m), diâmetro e volume da copa (m), em 1998, de laranjeira ‘Folha-Murcha’ sobre dez portaenxertos, aos 8 anos de idade. Bebedouro, 2000. Porta-enxertos Cleópatra Rugoso Florida Volcameriano Cravo Sunki Valência Americana Swingle Rugoso Nacional Troyer Thornton Médias Altura da Planta (m) 3,51 3,33 3,25 3,13 3,28 3,16 3,01 2,93 3,07 3,17 3,18 Diâmetro da Copa (m) 3,75 3,61 3,58 3,43 3,38 3,26 3,18 3,13 3,07 2,98 3,34 Volume da Copa (m3) 25,84 22,72 21,81 19,28 19,62 17,58 15,94 15,03 15,15 14,74 18,57 Quando comparados com outras onze variedades, os clones ‘Folha-Murcha’ e ‘Natal-Murcha’, enxertados sobre citrumelo ‘Swingle’, apresentaram as menores alturas aos seis anos de idade: 2,44 e 2,47 m, respectivamente, enquanto as alturas médias das demais variedades eram na faixa de 2,76 a 2,97 m. Com relação ao diâmetro da copa, na mesma idade, esses dois clones também apresentaram os menores valores, 2,23 e 2,30 m para ‘Natal-Murcha’ e ‘Folha-Murcha’, respectivamente. O diâmetro médio de copa das demais variedades variou de 2,76 a 2,94 m (MARTÍNEZ-PÉREZ, 1997). Boletim Citrícola 7 Fotos 1 e 2. Planta de ‘Folha-Murcha’ sobre ‘Thornton’ e ‘Troyer’, em agosto de 1999 (8,5 anos de idade). Fotos 3 e 4. Planta de ‘Folha-Murcha’ sobre ‘Swingle’ e‘Cleópatra’, em agosto de 1999 (8,5 anos de idade). 8 Folha-Murcha Fotos 5 e 6. Planta de ‘Folha-Murcha’ sobre ‘Valência Americana’ e ‘Volcameriano’, em agosto de 1999 (8,5 anos de idade). Fotos 7 e 8. Planta de ‘Folha-Murcha’ sobre ‘Rugoso Nacional’ e ‘Rugoso da Flórida’, em agosto de 1999 (8,5 anos de idade). Boletim Citrícola 9 Fotos 9 e 10. Planta de ‘Folha-Murcha’ sobre ‘Cravo’ e ‘Sunki’, em agosto de 1999 (8,5 anos de idade). 3.3. Produtividade TEÓFILO SOBRINHO et al. (1994) relataram a produtividade média anual da laranjeira ‘Folha-Murcha’ sobre limoeiro ‘Cravo’, plantada em diferentes espaçamentos. A maior produtividade média foi de 33,28 t/ha no espaçamento de 6,5 x 2,0 m (769 plantas por hectare) e a menor foi de 15,39 t/ha no espaçamento de 6,5 x 6,0 m (256 plantas por hectare). Os autores consideraram baixas as produções de frutos por hectare nas primeiras 8 safras, para todos os espaçamentos testados. PACE et al. (1981) avaliaram o comportamento agronômico de onze clones de ‘Folha-Murcha’, dos quais cinco clones novos e seis clones velhos, sobre limoeiro ‘Cravo’. Nas quatro safras estudadas (2º ao 5º ano após o plantio) houve superioridade dos clones novos, na produção. 10 Folha-Murcha A produção de frutos dos clones novos variou de 168 a 215 kg / planta contra 116 a 147 kg dos clones velhos. STUCHI & DONADIO (1999), em Bebedouro, encontraram que a produção de frutos de ‘Folha-Murcha’ enxertada sobre citrumeleiro ‘Swingle’, na média do período de 1994 a 1998 (4º ao 8º ano após o plantio), foi de 59,22 kg por planta, enquanto um outro clone chamado de ‘NatalMurcha’ produziu em média 53,68 kg por planta. Comparativamente à ‘Valência’, essas produtividades são 28 e 35% menores, respectivamente. STUCHI (1999) relatou que a produtividade média, num experimento com dez porta-enxertos para ‘Folha-Murcha’, no período de 1994 a 1998, foi de 29 kg por planta. DONADIO (1999) encontrou que a produtividade média de ‘Folha-Murcha’ sobre ‘Swingle’, no período de 1994 a 1998 (4º ao 8º ano do pomar), foi de 59,22 kg por planta, valor superior ao valor médio encontrado para as plantas sobre ‘Swingle’ no trabalho de STUCHI (1999). MARTÍNEZ-PÉREZ (1999), para plantas enxertadas sobre ‘Swingle’, encontrou que a produtividade média de dois anos (sétimo e oitavo) foi de 1,75 caixas por planta (70,47 kg/planta, ou 22 t/ha). A baixa produtividade média desta variedade já havia sido referida por TEÓFILO SOBRINHO et al. (1994), que encontraram produtividade de 43 kg por planta na densidade de 769 plantas por hectare, e de 60 kg por planta na densidade de 256 plantas por hectare; e por STUCHI & DONADIO (1999), que informaram que a produtividade média de ‘Folha-Murcha’ (59,2 kg por planta) foi inferior às de ‘Natal’ (78,1 kg por planta) e ‘Valência’ (82,4 kg por planta) num experimento de competição de variedades tardias sobre citrumelo ‘Swingle’, no período de 1994 a 1998 (4º ao 8º ano). Essa produtividade inferior pode ser atribuída ao fato do material de propagação disponível até o momento, em São Paulo, ser de origem não nucelar (clone velho infectado Boletim Citrícola 11 por sorose) (MULLER et al., 1986; GUIRADO et al., 1994). Entretanto, uma vez que, no Rio de Janeiro, clones nucelares de ‘Folha-Murcha’ alcançaram produtividades médias que variavam de 42 a 54 kg por planta contra 29 a 37 kg por planta dos clones velhos, no período do 2º ao 5º ano após o plantio, indicando um ganho de 22% para o material sadio, mas ainda com produção média baixa. Por outro lado, quando se comparou o índice de produtividade (produção de frutos em kg por volume de copa em m3) da ‘Folha-Murcha’ com outras variedades tardias, obtido na média de três safras estudadas (4º a 6º ano), observou-se que este índice foi o mais elevado (9,98 kg/m3), tendo superado o da variedade ‘Valência’, com 9,2 kg/m3, conforme MARTÍNEZ-PÉREZ (1997). O mesmo autor, estudando as safras do 7º e 8º ano, encontrou que o índice de produtividade da ‘Folha-Murcha’ foi de 5,39 kg/m3, enquanto o da variedade ‘Valência’ foi de 5,98 kg/m3 (MARTÍNEZ-PÉREZ, 1999). Com base nesses resultados, o mesmo autor conclui que a ‘Folha-Murcha’ pode ter vantagens se cultivada em plantações adensadas, por seu menor vigor e bom índice de produtividade. Isso é devido em parte ao seu menor volume médio de copa, cerca de 25% menor (Tabela 1) quando comparado a outras variedades tardias. Com os dados obtidos por STUCHI (1999), calculouse o índice médio de produtividade da ‘Folha-Murcha’sobre dez porta-enxertos, que foi de 7,84 kg/m3. Entre os portaenxertos considerados como mais apropriados para a variedade por esse mesmo autor, os valores foram os seguintes: 12,27 kg/m3, para o ‘Volcameriano’, 10 kg/m3, para o ‘Swingle’, 8,25 kg/m3, para a ‘Sunki’, 7,63 kg/m3, para o ‘Cravo’ e 5,58 kg/m3 para a ‘Cleopatra’. 3.4. Qualidade dos frutos e época de maturação As características gerais citadas (DONADIO et al., 1995), quando comparadas às obtidas por outros autores (ARAÚJO Folha-Murcha 12 & VASCONCELLOS,1974; LEITE JÚNIOR, 1992; STUCHI, 1999), indicam que a ‘Folha-Murcha’ é muito semelhante à Valência ou à Natal. O número médio de sementes varia entre dois e seis por fruto, para frutos de clones velhos e de clones novos, respectivamente (PACE et al., 1981). Frutos colhidos em Limeira, a partir de setembro, mostram-se ainda verdes, com acidez de 1,30%, mas os sólidos solúveis já atingem 11,35 oBrix nesse período. A acidez só cai para próximo de 1% em dezembro e, a partir daí, os frutos atingem sua melhor qualidade, apresentando sólidos solúveis de 13 o Brix (DONADIO et al., 1995). A maturação tardia foi comprovada por ARAÚJO & VASCONCELLOS (1974) em um estudo, sobre a qualidade da variedade, em que a colheita se estendeu até o final de janeiro. ARAÚJO (1972) encontrou que a ‘Folha-Murcha’ foi mais tardia que ‘Natal’ e ‘Pêra’ em uma série de amostras tomadas em pontos de distribuição comercial. A qualidade dos frutos de ‘Folha-Murcha’, originários de um lote existente na Estação Experimental de Londrina, foi avaliada no período de 1984 a 1990. Foi encontrado peso médio dos frutos de 191 g, porcentagem de suco ao redor de 51%, sólidos solúveis de 10%, acidez de 0,81% e ‘ratio’ 12,4 (LEITE JÚNIOR, 1992). Em Bebedouro, foram estudadas as características tecnológicas dessa variedade sobre dez porta-enxertos, em quatro diferentes safras (1995 a 1998). Os resultados médios podem ser vistos Tabela 3 (STUCHI, 1999). Tabela 3. Valores médios de características de qualidade dos frutos, no período 1995 a 1998, de laranjeira ‘Folha-Murcha‘. EECB, 2000. Média SST Acidez (oBrix) (%) 10,63 0,69 Ratio 15,95 Suco IT (%) (SST/caixa) Altura Diâmetro (cm) (cm) Peso (g) 52,5 2,28 7,45 7,43 220 Boletim Citrícola 13 O número médio de sementes não foi influenciado significativamente pelos diferentes porta-enxertos. A média geral do número de sementes foi de 3,22 sementes por fruto, podendo, portanto, a variedade ‘Folha-Murcha’ ser considerada comercialmente sem semente (0 a 8 sementes por fruto em média), de acordo com DAVIES & ALBRIGO (1994). Nenhum dos porta-enxertos estudados induziu um número médio de sementes superior a quatro (Tabela 4). A faixa mais ampla de variação do número de sementes por fruto ocorreu com os porta-enxertos ‘Volcameriano’ e ‘Sunki’ (0 a 8 sementes), e a menor variação foi induzida pelo limoeiro ‘Cravo’ (1 a 4 sementes). Os valores encontrados condizem com os resultados de PACE et al. (1981), isto é, o número médio de sementes varia entre duas e seis por fruto, para frutos de clones velhos e de clones novos, respectivamente (STUCHI, 1999). MARTÍNEZ-PÉREZ (1999) encontrou que o número médio de sementes foi de 3,43 sementes por fruto e que o peso de todas as sementes no fruto foi muito pequeno para ‘Folha-Murcha‘ e para ‘Natal-Murcha’, com 1,02 e 1,15 g, respectivamente, representando menos de 0,57 e 0,66% cada, do peso total dos frutos. A evolução da maturação dos frutos de ‘Folha-Murcha’ sobre citrumelo ‘Swingle’, expressa pelo “ratio”, no ano de 1997, pode ser visto na Figura 1, elaborado a partir de dados de MARTÍNEZ-PÉREZ (1999). A Figura 2 mostra a evolução da maturação dos frutos de ‘Folha-Murcha’ sobre dez porta-enxertos, expressa pelo “ratio”, no ano de 1997 (STUCHI, dados não publicados). Como se pode observar, independentemente do portaenxerto, a variedade inicia sua maturação em setembro, atingindo a faixa ideal em outubro, mas conserva boas características de “ratio” até a terceira semana de dezembro. Observações de campo realizadas na EECB, em árvores sobre citrumelo ‘Swingle’, mostraram que a variedade tem boa Folha-Murcha 14 conservação na arvore até fevereiro, com boas características internas e externas. 18 16 14 01/07/97 "ratio" 12 01/08/97 10 01/09/97 8 01/10/97 30/10/97 6 20/11/97 4 2 0 Figura 1. Evolução do “ratio” de ‘Folha-Murcha’ sobre ‘Swingle’ em Bebedouro em 1997. Thornton 25 Troyer Sw ingle 20 "ratio" Cleópatra 15 Val.Amer. Volcam. 10 Rug. Nac. Rug.Flor. 5 Cravo Sunki 0 Setembro Outubro Dezembro Figura 2. Evolução do “ratio” de ‘Folha-Murcha’ sobre dez portaenxertos em 1997 em Bebedouro, SP. Ocorreram diferenças significativas entre os portaenxertos no que se refere à espessura de casca. ‘Valência Boletim Citrícola 15 Americana’ e ‘Swingle’ induziram as maiores espessuras médias de casca, diferindo significativamente de ‘Troyer, sem diferirem dos demais porta-enxertos (Tabela 4). DONADIO et al. (1995) relataram que a espessura média da casca mais albedo de frutos de ‘Natal’, uma variedade tardia, variou de 4,3 a 4,9 mm, valores esses próximos ao da média obtida num experimento de portaenxertos, e inferiores aos dos frutos dos porta-enxertos ‘Swingle’ e ‘Valência Americana’, que podem ser considerados como de espessura média (STUCHI, 1999). Tabela 4. Valores médios, em 1998, de algumas características de qualidade dos frutos de laranjeira ‘Folha-Murcha’ sobre dez porta-enxertos. Bebedouro, 2000. Porta-enxerto Thornton Troyer Swingle Cleópatra Val. Americana Volcameriano Rug. Nacional Rug. Florida Cravo Sunki DMS CV (%) Médias 1 Número de sementes 3,73 a 2,59 a 3,11 a 3,50 a 3,27 a 3,40 a 3,14 a 3,40 a 2,60 a 3,45 a 1,60 20,41 3,22 Espessura da casca Mm 4,64 ab1 3,95 b 5,38 a 4,81 ab 5,50 a 4,58 ab 4,82 ab 5,11 ab 4,91 ab 4,61 ab 1,19 10,11 4,83 Retenção dos frutos Newton (N) 19,95 ab 21,80 ab 18,56 b 24,89 ab 24,61 ab 26,48 ab 26,62 ab 31,48 a 24,05 ab 22,00 ab 12,87 22,01 24,04 Médias seguidas das mesmas letras minúsculas na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey no nível de 5% de probabilidade. Pelos dados da Tabela 4, observa-se que houve diferenças entre os porta-enxertos quanto à retenção dos frutos nas plantas. O ‘Rugoso Nacional’ demandou a maior força para que os frutos pudessem ser destacados das árvores, diferindo do ‘Swingle’, e ambos não diferiram dos demais (STUCHI, 1999). SILVA et al.(1997) encontraram que a força necessária para destacar frutos de ‘Hamlin’ sobre ‘Cravo’ não 16 Folha-Murcha tratados com ácido giberélico, deixados como testemunha, foi de 30,47 N em novembro. Para frutos de ‘Pêra’ sobre ‘Cleópatra’ não tratados com giberélico, deixados como testemunha, foi de 69,02 N em outubro e 119,93 em dezembro. Os resultados obtidos no trabalho de STUCHI (1999) são discrepantes com os dos citados autores, pois a maior força necessária para a remoção dos frutos foi de 31,48 N, no caso do ‘Rugoso Nacional’, em dezembro de 1998. MARTÍNEZ-PÉREZ (1999) encontrou que o valor médio de tensão foi de 43,19 N, valor superior ao encontrado por STUCHI (1999). Segundo STUCHI (1999), os dez porta-enxertos estudados induziram valores distintos nas características de qualidade analisadas industrialmente (Tabela 5). A seguir são comentados os dados obtidos para algumas características qualitativas: • Vitamina C Com relação aos teores de vitamina C, destacaram-se ‘Swingle’, ‘Cravo’ e ‘Sunki’, pois induziram valores semelhantes aos encontrados por DONADIO et al. (1999) e por DONADIO (1999), da ordem de 400 mg/L, e superiores aos relatados por DI GIORGI et al. (1990) para a variedade ‘Valência’, com 239 mg/L. Os demais porta-enxertos também induziram valores superiores aos encontrados por esse último autor, e um pouco abaixo da faixa comercial citada por KIMBALL (1991), assim como a média do experimento. • Óleo DONADIO et al. (1999) e DONADIO (1999) encontraram um teor médio de óleo de 0,039 mL/100 mL. Os porta-enxertos ‘Swingle’ e ‘Sunki’ induziram valores Boletim Citrícola 17 superiores. Valores estes inclusive superiores à faixa máxima admitida para suco de grade B, que é de 0,040 a 0,045, segundo KIMBALL (1991). Os demais porta-enxertos induziram valores próximos aos referidos por DONADIO (1999) e mesmo inferiores, como, por exemplo, para o ‘Volcameriano’. • Prolina O conteúdo em prolina variou consideravelmente, desde 281 mg/L para ‘Volcameriano’ e ‘Rugoso da Flórida’ até 1.034 mg/L para ‘Troyer’, valores estes abaixo dos valores médios encontrados por DONADIO et al. (1999) e DONADIO (1999), de 1.355 mg/L, para a ‘Folha-Murcha’. Apenas os portaenxertos ‘Troyer’ e ‘Swingle’ induziram valores superiores ao mínimo citado por KIMBALL (1991), que é de 575 mg/L. O teor médio do prolina no experimento foi inferior ao mínimo. • Cor Quando a cor foi avaliada através do colorímetro de citros (ptN), o valor máximo alcançado foi de 37,56 com ‘Cleópatra’, e o mínimo com o ‘Volcameriano, de 35,93. Os valores de escore de cor do suco foram inferiores quando os porta-enxertos eram o ‘Volcameriano’ e o ‘Thornton’, com 37. Todos os demais porta-enxertos apresentaram valores de 38. Os valores encontrados estão próximos aos médios, citados por DI GIORGI et al. (1991, 1993), e dentro, ou mesmo acima, da faixa encontrada por NONINO (1995) para suco de ‘Valência’ da região Norte de São Paulo. Também estão dentro da faixa prevista por KIMBALL (1991), que é de 36 a 40, para suco grade A. Já DONADIO et al. (1999) e DONADIO (1999) relataram que a cor média da ‘Folha-Murcha’ foi de 37,55, estando os valores encontrados próximos a este valor. Folha-Murcha 18 • Sabor Todos os porta-enxertos induziram os mesmos valores de sabor, 37, que é o valor encontrado por DI GIORGI et al. (1990, 1993) para suco de ‘Valência’, e também o valor médio da ‘Folha-Murcha’ relatado por DONADIO et al. (1999) e por DONADIO (1999). Tabela 5. Valores médios, em 1998, de algumas características de qualidade dos frutos de laranjeira ‘Folha-Murcha’ sobre dez porta-enxertos; amostras de 40 frutos analisadas industrialmente. Bebedouro, 2000. 3.5. Resistência a doenças MÜLLER et al. (1986) afirmaram que árvores de ‘FolhaMurcha’ de clone velho existentes na Estação Experimental de Limeira do IAC, hoje Centro de Citricultura “Sylvio Moreira”, apresentavam sorose e foram mantidas em casa de vegetação na Seção de Virologia do IAC para estudos. Posteriormente, foram saneadas dessa e de outras viroses através da técnica de microenxertia. GUIRADO et al. (1994) relataram que na coleção de isolados de sorose da secção de virologia do Instituto Boletim Citrícola 19 Agronômico de Campinas há um isolado obtido a partir de material de laranjeira ‘Folha-Murcha’. Este isolado apresentou notas médias de sintomas inferiores a outro isolado obtido de laranjeira ‘Natal’ em sete indicadoras distintas, tanto na primeira como na segunda brotação. NAMEKATA et al. (1992) relataram que várias introduções de ‘Folha-Murcha’, todas de maturação tardia, presentes no Banco Ativo de Germoplasma do Centro de Citricultura “Sylvio Moreira” (BAG-CCSM), mostraram bons níveis de resistência ao cancro cítrico e boas características agronômicas, a saber: Murcha 558 (número da introdução no BAG-CCSM), Murcha 559, Natal-Murcha 771 e NatalMurcha 782. LEITE JÚNIOR (1992) afirmou que a ‘FolhaMurcha’ é resistente ao cancro cítrico. LEITE JÚNIOR (1990), citando estudos de Leite & Mohan (1984a) e de Mohan et al. (1985), classificou apenas duas laranjas doces como resistentes ao cancro cítrico: ‘FolhaMurcha’ e ‘Moro’. Variedades como ‘Valência e ‘Pêra Premunizada’ foram classificadas como moderadamente resistentes, enquanto ‘Natal’ foi classificada como moderadamente suscetível. ‘Hamlin’ e ‘Seleta Vermelha’ foram clasificadas como suscetíveis, juntamente com ‘Baianinha’. Quanto ao declínio, não se conhece o comportamento da ‘Folha-Murcha’, mas havia indícios de baixa incidência em um pomar comercial em Casa Branca (DONADIO et al., 1995). STUCHI (1999) estudou a incidência de declínio em todas as plantas de um experimento com dez porta-enxertos para ‘Folha-Murcha’. A Tabela 6 mostra os resultados do teste de injeção de água para avaliação da incidência de declínio. Nela, pode-se notar não ter havido diferenças significativas entre os porta-enxertos com relação ao volume médio de água absorvido em 15 segundos. Os valores médios obtidos indicam que as plantas estavam sadias, se considerados: os valores médios encontrados por TAVARES (1987), na região de Barretos, para plantas sadias, isto é, 15,9 mL/15 seg.; os valores referidos por WUTSCHER & HILL (1995), 20 Folha-Murcha 16,43 mL/15 seg.; e os valores encontrados por COELHO et al. (1997), na Bahia, 30 a 60 mL/ 15 seg. Exceto uma planta de ‘Rugoso Nacional’ que absorveu apenas 3 mL/15 seg e apresentou reação positiva forte no teste de DIBA (em destaque na Tabela 6), apresentou a doença aos 8 anos de idade. Isso significa menos de 1% de incidência da doença. Tabela 6. Absorção de água (mL/15 seg.) por planta de laranjeiras ‘Folha-Murcha’, aos oito anos de idade, em função de dez porta-enxertos; através do teste de injeção com seringa; resultados do teste de DIBA e teste de Tukey para absorção de água. Bebedouro, 2000. * plantas mortas ou com problemas sanitários ** Médias seguidas de letras iguais na coluna não diferem pelo teste de Tukey (5%) *** positiva para declínio por DIBA, em 02/1999. MARTÍNEZ-PÉREZ (1999) estudou a intensidade da CVC em 13 variedades de laranjas tardias. Encontrou que com relação à CVC, tanto a ‘Folha-Murcha’ como a ‘NatalMurcha’ não apresentaram diferenças, nem no número médio de ramos afetados com mais de 50 cm de comprimento, nem no número médio de ramos afetados com menos de 50 cm de comprimento, quando comparadas às demais 11 variedades, porém a incidência no pomar experimental não era muito expressiva. Apesar de não ter havido diferenças significativas, observou uma tendência de menor infecção Boletim Citrícola 21 com CVC nas variedades: ‘Telde’, ‘Bidewells Bar’, ‘FolhaMurcha’, ‘Lue Gim Gong’, ‘Natal-Murcha’ e ‘Vaccaro Blood’. FIGUEIREDO (1999) afirma que a ‘Folha-Murcha’ mostra certa tendência a ser menos suscetível ao amarelinho. LI (1997) encontrou que ‘Folha-Murcha’ apresentou um dos menores valores de número de lesões de CVC em folhas, após inoculação artificial, em uma série de variedades tardias. A ‘Folha-Murcha’ é tolerante à tristeza, comportandose como a ‘Natal’ ou a ‘Valência’ e diferindo da ‘Pêra’ nesse aspecto (DONADIO et al., 1995). MARTÍNEZ-PÉREZ (1999), estudando a intensidade da tristeza, relatou que ‘NatalMurcha’ foi a menos afetada (nota média de 0,085) e ‘FolhaMurcha’ apresentou valor intermediário (0,498), na escala de nota de 0 a 4 empregada. Com relação à rubelose, MARTÍNEZ-PÉREZ (1999) observou a menor incidência dessa doença nas seguintes variedades: ‘Natal-Murcha’, ‘Folha-Murcha’, ‘São Miguel’, ‘Valência 1’, ‘Valência 2’, ‘Valência Late’ e ‘Vaccaro Blood’. A ‘Folha-Murcha’ é suscetível à leprose no mesmo grau de outras laranjeiras doces, ou até mais, pois em observações em uma coleção em Jaboticabal, entre as variedades de laranjas doces, essa variedade era uma das mais afetadas (DONADIO et al., 1995). 4. PORTA-ENXERTOS BARROS et al. (s.d.) relataram que os porta-enxertos Citrus pennivesiculata, limões ‘Rugoso da Flórida’, ‘Cravo’ e ‘Volkameriano’ e a tangerina ‘Cleópatra’ induziram as maiores produções de laranja ‘Folha-Murcha’ no período de 1986 a 1988 (4º ao 6º ano do plantio), sem diferenças na qualidade da fruta e na eficiência de produção. BARROS et al. (1998) apresentaram resultados de um experimento de porta-enxertos para ‘Folha-Murcha’, plantado em 1986 em Silva Jardim-RJ. No período de 1988 a 1997 foram 22 Folha-Murcha avaliados o desenvolvimento vegetativo, a produção e a qualidade dos frutos. O maior crescimento das plantas foi proporcionado pelo limoeiro ‘Mazoe’, não diferindo dos limoeiros ‘Rugoso da Flórida’ e ‘Bandhuri’. Os porta-enxertos ‘Volcameriano’, ‘Mazoe’ ‘Bandhuri’, ‘Sunki’ e ‘Cravo’ propiciaram as melhores produções à laranjeira ‘Folha-Murcha’. Quanto à eficiência de produção, pôde-se verificar também que ‘Volcameriano’, ‘Bandhuri’ e ‘Sunki’ ocuparam posições destacadas, não diferindo do limoeiro ‘Cravo’, o que ocorreu também com os híbridos citrange ‘Troyer’ e citrumelo ‘Swingle’. Quanto à indução da qualidade de frutos, não houve diferenças significativas para peso médio e percentagem de suco. Para os teores de sólidos solúveis totais e para o “ratio”, verificou-se que a laranjeira ‘Caipira’ e o citrange ‘Troyer’ propiciaram os melhores índices, seguidos pelos limoeiros ‘Volcameriano’ e ‘Bandhuri’. STUCHI (1999) relatou que, para a média das cinco safras estudadas, a maior produtividade foi induzida pelo ‘Volcameriano’, que diferiu significativamente dos demais porta-enxertos, e a menor produtividade média foi proporcionada pelo ‘Thornton’, sem diferença significativa quando comparado com o ‘Troyer’, que foi o penúltimo colocado. O ‘Rugoso da Flórida’ foi superior a ‘Valência Americana’, ‘Troyer’ e ‘Thornton’, enquanto ‘Sunki’ foi superior a ‘Troyer’ e ‘Thornton’. ‘Rugoso da Flórida’, ‘Sunki’, ‘Swingle’, ‘Rugoso Nacional’, ‘Cleópatra’ e ‘Cravo’ apresentaram produções próximas, sem diferirem entre si (Tabela 7). Os resultados obtidos nesse trabalho se aproximam dos de BARROS et al. (1998) no qual os porta-enxertos ‘Volcameriano’, ‘Mazoe’, ‘Bandhuri’, ‘Sunki’ e ‘Cravo’ propiciaram as melhores produções à laranjeira ‘Folha-Murcha’, considerando-se que ‘Mazoe’ e ‘Bandhuri’ são tipos de limoeiro Rugoso. Também os resultados de BARROS et al. (s.d.) apontam que os limões ‘Rugoso da Flórida’, ‘Cravo’ e ‘Volcameriano’, e a tangerina ‘Cleópatra’ induziram as maiores produções de laranja ‘FolhaMurcha’ no período de 1986 a 1988 (4º ao 6º ano do plantio). Boletim Citrícola 23 Tabela 7. Produtividade média e acumulada de frutos (kg/pé, caixas/pé, caixas/ha, t/ha) da laranjeira ‘Folha-Murcha’ sobre dez porta-enxertos em Bebedouro no período de 1994 a 1998 (4º ao 8º ano do pomar). EECB, 2000. Apesar de apresentar folhas enroladas, não se conhece se essa característica auxilia na economia de água, o que poderia ser vantajoso, tanto para o uso de cavalos mais sensíveis à seca, como a ‘Caipira’, como para plantio adensado, quando a concorrência por água é maior. No Rio de Janeiro, a ‘Folha-Murcha’ é referida como tendo maior tolerância à seca, o que também tem sido observado em São Paulo (DONADIO et al., 1995). Entretanto, estudo realizado por STUCHI (1999) em que a influência de dez porta-enxertos na tolerância à seca da laranjeira ‘Folha-Murcha’ foi avaliada, em Bebedouro, mostrou que a tolerância à seca está relacionada com o porta-enxerto empregado. Os principais resultados mostraram que houve diferenças significativas entre os porta-enxertos quanto à sensibilidade à seca avaliada visualmente em 1994, quando as plantas tinham quatro anos de idade (Tabela 8). O portaenxerto mais sensível foi o ‘Thornton’, que não diferiu significativamente de ‘Troyer’ e de ‘Valência Americana’. 24 Folha-Murcha ‘Volcameriano’ foi o porta-enxerto menos sensível à seca, sem diferir significativamente de ‘Cravo’ e de ‘Rugoso Nacional’. ‘Swingle’, ‘Cleópatra’, ‘Rugoso da Flórida’ e ‘Sunki’ apresentaram sensibilidades intermediárias e semelhantes. Fotos 11 a 18. Esses resultados estão de acordo com os referidos por POMPEU JÚNIOR (1991) e CARLOS et al. (1997). Fotos 11, 12, 13 e 14. Planta de ‘Folha-Murcha’ sobre ‘Cleópatra’, ‘Thornton’, ‘Troyer’ e ‘Swingle’, em outubro de 1994 (4,5 anos de idade). Boletim Citrícola 25 Fotos 15, 16, 17 e 18. Planta de ‘Folha-Murcha’ sobre ‘Valência Americana’, ‘Volcameriano’, ‘Rugoso Nacional’ e ‘Rugoso da Flórida’, em outubro de 1994 (4,5 anos de idade). 26 Folha-Murcha Tabela 8. Valores médios das notas de avaliação visual de sensibilidade à seca em 1994, de perda percentual de frutas em 1999 e resultados do teste de Tukey, Bebedouro, 2000. 1 Médias seguidas de letras iguais na coluna não diferem pelo teste de Tukey (5%) * Dados em percentagem transformados Quanto à avaliação por meio das perdas de frutas em 1999, houve diferenças significativas entre os porta-enxertos. As maiores porcentagens de perda de frutos em relação ao total de frutos produzidos foram induzidas pelo ‘Troyer’ e pela ‘Valência Americana’, que não diferiram significativamente entre si, nem de ‘Thornton’, ‘Swingle’, ‘Rugoso da Flórida’, ‘Volcameriano’ e ‘Rugoso Nacional’, com valores intermediários. As menores porcentagens de perda foram induzidas, em ordem decrescente, por ‘Cravo’, ‘Cleópatra’ e ‘Sunki’ que diferiram significativamente de ‘Troyer’ e ‘Valência Americana’, sem diferir dos demais, que apresentaram valores intermediários. Estes resultados não guardam semelhança com os obtidos na avaliação visual, na qual o ‘Volcameriano’ foi o porta-enxerto menos sensível à seca, sem diferir Boletim Citrícola 27 significativamente de ‘Cravo’ e de ‘Rugoso Nacional’, e ‘Swingle’, ‘Cleópatra’, ‘Rugoso da Flórida’ e ‘Sunki’ apresentaram sensibilidades intermediárias e semelhantes, entretanto, pela avaliação visual, há semelhança quando se trata dos porta-enxertos mais sensíveis, que foram ‘Thornton’, ‘Troyer’ e ‘Valência Americana’. Considerando-se o índice de sensibilidade, calculado pela média dos produto das duas avaliações, os porta-enxertos apresentaram a seguinte ordem crescente de tolerância à seca: ‘Troyer’, ‘Thornton’, ‘Valência Americana’, ‘Swingle’, ‘Rugoso da Flórida’, ‘Cleópatra’, ‘Rugoso Nacional’, ‘Volcameriano’, ‘Sunki’ e ‘Cravo’. Não houve problemas de incompatibilidade com os diversos porta-enxertos testados, mesmo o citrumeleiro ‘Swingle’, até o nono ano após o plantio, nas condições da EECB, conforme pode ser visto na Foto 19. Foto 19. Detalhe da região da enxertia, mostrando não haver incompatibilidade entre ‘Folha-Murcha’ e citrumelo ‘Swingle’. 28 Folha-Murcha 5. ESPAÇAMENTO Considerando que o índice de produtividade da ‘FolhaMurcha’ (kg/m3) é elevado e que seu desenvolvimento vegetativo é menor quando comparado com outras variedades, é esperado que, com espaçamentos mais reduzidos, a produtividade da variedade seja incrementada. Para testar essa suposição, foram feitas algumas projeções, como se segue. Com base nos resultados obtidos num experimento de porta-enxertos para a variedade, conduzido em Bebedouro, calcularam-se os espaçamentos possíveis em função do diâmetro das copas das plantas aos oito anos de idade e a densidade possível (número de plantas por ha) de ser usada sem prejudicar o trânsito de máquinas e as demais operações (colheita, desbrotas, controle de formigas etc). Com este valor, calcularam-se as produtividades projetadas média e acumulada, multiplicando-se a produção média e acumulada pela produção em kg/planta média e acumulada, respectivamente. Pode-se notar, pelos dados da Tabela 9, que se se fizessse o plantio nas densidades projetadas da ‘FolhaMurcha’ sobre todos os porta-enxertos, exceto sobre ‘Rugoso da Flórida’ e ‘Cleópatra’, haveria ganhos consideráveis na produção. Entretanto esses ganhos não são suficientes para suplantar a produtividade induzida pelo ‘Volcameriano’ na densidade de 408 plantas/ha, e muito menos na densidade projetada. 2 1 Espaçamento projetado entre ruas = Diâmetro da copa + 2,5. Espaçamento projetado entre plantas = Diâmetro da copa. Calculada em função do espaçamento projetado. Tabela 9. Diâmetro da copa (m), em 1998, aos 8 anos de idade, e espaçamentos, densidades e produtividades projetadas de laranjeira ‘Folha-Murcha’ sobre dez porta-enxertos, nas cinco primeiras safras. Bebedouro, 1999. Boletim Citrícola 29 30 Folha-Murcha 6. CONSIDERAÇÕES GERAIS Apesar das poucas informações sobre a ‘FolhaMurcha’, os dados comentados nesse trabalho indicam algumas peculiaridades dessa variedade brasileira, a começar pelas suas diferentes características botânicas. Dados originais obtidos na região de Bebedouro, de vigor da planta, produtividade e qualidade do fruto, são comparados com dados obtidos na sua região de origem, o Rio de Janeiro e em outras regiões do Estado de São Paulo. Características do suco são comentadas, tendo sido a maioria delas obtidas pela primeira vez. Destacam-se os dados obtidos pela influência de diferentes porta-enxertos, com o limoeiro ‘Volcameriano’, com as maiores produções e produtividade. Essas, de um modo geral, foram baixas, indicando a necessidade de melhoramento desta variedade. Neste sentido, o clone ‘Folha-Murcha’ IAC, obtido por microenxertia e premunizado no C.C.S.M., está em avaliação no referido Centro. Também será avaliado em condições de campo na EECB, sobre diferentes porta-enxertos, devendo este experimento ser instalado em dezembro de 2000. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, C.M. Variações sazonais em laranjas da baixada fluminense. Viçosa, 1972. 54p. 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