reduzindo os danos: novas formas de pensar o consumo
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reduzindo os danos: novas formas de pensar o consumo
REDUZINDO OS DANOS: NOVAS FORMAS DE PENSAR O CONSUMO JULIANI KARSTEN ALVES Universidade Federal de Santa Maria [email protected] MATHEUS GIACOMINI PALMA UFPEL [email protected] REDUZINDO OS DANOS: NOVAS FORMAS DE PENSAR O CONSUMO Resumo: Há uma eminente preocupação com o futuro do planeta Terra, desde 1987 é abordada a necessidade da adesão aos modelos de desenvolvimento sustentáveis. Consumimos mais bens e serviços do que todas as gerações anteriores reunidas, esquecendo-nos que o modelo de consumo que praticamos não é sustentável e não será capaz de possibilitar que futuras gerações supram suas necessidades. Apesar de o enfoque do desenvolvimento sustentável ser mais relacionado ao mundo empresarial, a adesão às práticas sustentáveis deve ser assentida, com a igual importância, tanto pelas organizações como pelos indivíduos. O presente trabalho tem como objetivo sugerir uma outra forma de consumir: o consumo colaborativo através da reutilização contribuindo com a redução de danos para o planeta. Para isso, através da pesquisa bibliográfica são fundamentados referenciais que abarcam o conceito de subjetividade e que denunciam o mal-estar na sociedade atual, como também de consumo colaborativo e reutilização como uma alternativa de consumir menos agressiva para o meio ambiente. Constata-se que, apesar de o consumo ser um dos grandes instrumentos de bem-estar atual, é necessário aprender a consumir os bens e serviços de uma maneira diferente da praticada atualmente, não basta que consumamos menos lixo doméstico ou destinemos à reciclagem, mas sim modifiquemos nossa relação com o que consumimos de novo proveniente do processo industrial. - Palavras-chave: Redistribuição; Consumo colaborativo; Subjetividade. REDUCING THE DAMAGE: NEW WAYS OF THINKING CONSUMPTION Abstract: There is an imminent concern for the future of planet Earth since 1987 is discussed the need for adherence to sustainable models of development. Consume more goods and services than all previous generations combined, forgetting that the consumption model that practice is not sustainable and not be able to enable future generations Supram your needs. Although the focus of sustainable development to be more related to the business world, adherence to sustainable practices must be assented, with equal importance, both by organizations and by individuals. This paper aims to suggest another way to consume: collaborative consumption through reuse contributing to the reduction of damage to the planet. For this, through literature references that cover the concept of subjectivity and denouncing the malaise in contemporary society, as well as collaborative consumption and reuse as an alternative to consume less aggressive to the environment are based. It appears that, although the consumption is one of the great instruments of current well-being, you must learn to consume the goods and a different way of services currently practiced, is not enough we consume less destinemos household waste or recycling, but yes we change our relationship to what we consume again from the industrial process. - Key Words: Redistribution; Collaborative consumption; Subjectivity. 1 INTRODUÇÃO Há uma eminente preocupação com o futuro do planeta Terra, desde 1987 é abordada a necessidade da adesão aos modelos de desenvolvimento sustentáveis. Porém o enfoque dado nessa área é evidentemente voltado ao mundo empresarial, esquecendo-se que a adesão às práticas sustentáveis também deve abranger os indivíduos, esses que além de consumidores de produtos e serviços, são os escolhedores da destinação dada ao que sobra após a realização do consumo. Vivemos em uma sociedade individualista que nos estimula a viver além dos nossos recursos, tanto financeiros quanto ecológicos, consumindo mais bens e serviços do que todas as gerações anteriores reunidas e em décadas cerca de um terço dos recursos naturais do planeta. Certamente o modelo de consumo que praticamos não é sustentável, uma vez que apesar de suprir nossas necessidades e vontades, não comportará que futuras gerações também supram as suas. Em nosso tempo há uma emergência que muitas vezes é esquecida, porém não por um nível baixo de importância ou aplicabilidade, mas arriscando uma resposta, pela falta de interesse ou insight de poucos e muitos respectivamente. Quando falamos interesse estamos ligando aos grandes produtores, as grandes empresas que não demonstram estar interessadas no uso inapropriado, contínuo e excessivo dos recursos de nosso planeta. Já por outro lado, o insight, ou também em outras palavras, uma tomada de consciência das pessoas que consomem os mais diversos produtos, também marcados pelo excesso, que além de reforçar a produção em massa, produzem uma quantidade enorme de lixo e não percebendo que suas ações são ativas e de grande importância na relação com o planeta. Nosso trabalho é atravessado por dois problemas que são encontrados na contemporaneidade, o vazio existencial que gera o ato de repetição em forma de consumação capitalística e também a produção que tem como finalidade saciar essa eterna repetição. Temos como objetivo não demonstrar uma solução para esse vazio existencial, mas sugerir uma outra forma de consumir, que age como uma redução de danos para o planeta, especificamente o consumo colaborativo visando a reutilização. Frente a isso são fundamentados referenciais que abarquem o conceito de subjetividade e que denunciam o mal-estar na sociedade atual, como também, a reutilização como uma forma de consumir menos agressiva para o meio ambiente. 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Forma de entender a subjetividade. Para compreender a subjetividade nesse trabalho foi usado referenciais específicos da filosofia e psicologia, especificamente a filosofia da diferença e psicanálise. No começo do livro Mil Platôs (1995), os autores relatam o que escrevem e ao colocar seus nomes é por pura formalidade, pois já não eram somente estes que haviam composto o livro. O que os autores evidenciam é a multiplicidade de um sujeito, ou seja, todas as ações do mesmo não partem de atitudes isoladas e exclusivamente intrínsecas, mas de um conjunto de outros dispositivos que o compõe em sua multiplicidade, em suma, delegam a parte política dos sujeitos. Mais à frente retomares a esse ponto, quando trataremos do mal-estar da repetição em forma de consumação, sendo que agora vamos apresentar como fundamentamos a subjetividade. A fundamentação sobre a subjetividade se dá em dois pontos, mas estes não são dialeticamente separados, mas se constroem simultaneamente, por meios extrapessoais e infrapsíquicos (GUATTARI, ROLNIK, 1986). Para os autores, o processo de construção da subjetividade não se limita somente em meios individuais ou grupais, mas como dito por meios extrapessoais, sendo estes na relação com diversos sistemas, sendo sociais, maquínicos, 2 econômicos, tecnológicos, midiáticos e também os infrapsíquicos, como sistemas de percepção, de sensibilidades, de afeto, desejo, entre outros. Devemos ressaltar, que por mais que haja uma separação, os autores o fazem didaticamente, pois não há como retirar a esfera política de ambas. Para esse trabalho, nos interessa ressaltar nesse momento os mecanismos extrapessoais, que se dão como dispositivos. Dispositivo é um conceito muito usados nas obras de Foucault, porém sem uma definição específica sobre o mesmo. Para clarificar esse conceito, fazemos o uso do livro de Deleuze (1990) que em nossa visão satisfaz nosso problema. Para compreender o conceito de dispositivo, Deleuze (1990) o compara com um novelo de lã, um emaranhado de linhas heterogêneas. Essas linhas heterogêneas são a metáfora para exemplificar as diferentes formas de subjetividade que o sujeito pode consumir presentes no social. Essas linhas objetivamente, podem ser consideradas como a instituição da família, da educação, da mídia, da psicanálise, da ciência, religião entre outras que produzem a subjetividade do sujeito. Vale ressaltar quando nos referimos a subjetividade, não estamos falando de ideologia, ou seja, reduzindo a um simples, modo de pensar. Quando se fala em subjetividade abarcamos todos os modos de ser, viver, sentir e habitar o presente que nos rodeia (GUATTARI, ROLNIK, 1986). Assim nossa porção fechada de subjetividade é denominada de território, como um lugar que habitamos, porém sempre na presença de uma linha nova, no momento em que a consumimos, nosso território não é o mesmo, fazendo o movimento de abrir-se ao novo, para depois fechar-se com a nova linha consumida. Linguisticamente essas três etapas são chamadas de territorialização (subjetividade fechada), desterritorialização (subjetividade aberta e consumindo) e por fim, a reterritorialização (que consiste em seu fechamento). O capitalismo se enquadra no conceito de dispositivo, pois produz nos sujeitos modos que de viver que não são ontológicos, ou seja, inatos ao ser. Não podemos negar que há vantagens neste modo econômico, porém também não negligenciamos que há uma produção de doença da mesma forma. Há também a necessidade de ressaltar que este trabalho não quer propor outro modo econômico, mas repetidamente já dito, demonstrar outras maneiras de habitar este modo. Com essa breve contextualização, adentraremos então ao mal-estar gerado e seu objeto. 2.2 O nosso mal-estar Há uma diferença entre singularidade e individualidade (GUATTARI, ROLNIK, 1986). Quando falamos em individualidade de acordo com o referencial proposto, nos referimos aos sujeitos com sua subjetividade produzida em massa. Produção em massa é o problema central em nosso trabalho, pois denota dois prejuízos: 1) a produção em massa de produtos, que fazem o uso excessivo de matéria-prima da natureza; e 2) a produção em massa da subjetividade dos sujeitos. O capitalismo produz sua doença contemporânea, a massificação de modos de pensar e viver, e por isso a necessidade de tratar da singularidade, isto é, a capacidade dos sujeitos escaparem dos modos de produção da subjetividade em massa, desta esteira de produção, para assim conseguirem sintetizar o que lhe é posto e criar seu próprio modo de habitar o mundo, um modo não massificado. Birman (2005, 2012) ressalta o modo que vivemos na atualidade, isto é, imersos num vazio gerador de mal estar. O capitalismo como já dito, fator incisivo para a massificação dos modos de pensar e agir, ao ser imposto sem uma crítica pelo sujeito, gera uma negatividade, uma falta de sentido nas ações contemporâneas. Estas ações, de produção e consumo não são pensadas a longo prazo ou em relação ao bem-comum, causando danos aos próprios sujeitos, como também nas gerações póstumas. Citando fielmente o autor: “Age-se frequentemente sem que se pense naquilo a que se visa a ação, de forma que os indivíduos nem sempre sabem dizer 3 o que os leva a agir” (BIRMAN, 2012, p. 82). Em uma leitura psicanalítica sobre o problema, Birman (2012) caracteriza a compulsão pelo consumo de novos produtos a todo momento. Por essa leitura, o autor se posiciona que essa compulsão toma a forma de um ato repetitivo, que nunca se esgota, uma necessidade de preencher um vazio que está em intrinsicamente nos sujeitos, que sempre muda de objeto, fazendo com que os sujeitos necessitem de um produto hoje, amanhã outro, outro e outro. Estes outros, além de não saciar, produzem o mal estar no bem comum, isto é, nosso planeta, pelo acúmulo de um consumo. Essa necessidade de consumo pode ser muito bem vista nos grandes dispositivos gerados pela mídia, onde se cria a necessidade de consumir. Qualquer produto que é oferecido, antes de surgir nas prateleiras há um grande investimento por trás, que faz criar o desejo da falta nos sujeitos, que os fazem sentir a necessidade de os comprar. Guattari (2012) propõe que contra essa força, necessita de uma força maior ainda que parte dos sujeitos que re-signifiquem os modos de habitar esse capitalismo. Assim há a emergência do sujeito produzir novos modos de agir com as três grandes esferas, a da subjetividade, a do social e com a natureza. A proposta que expomos nesse trabalho também não demonstra uma solução ao nosso vazio, porém uma nova forma de se relacionar com as três grandes esferas. O pensamento permeado pela sustentabilidade será fundamentado, para tentar demonstrar esta nova forma de relação, onde há ganhos principalmente com a natureza, porém que agrega outros territórios com o social e a subjetividade. 2.3 Sustentabilidade O termo sustentabilidade remete à característica de um processo ou sistema que possibilita sua existência por determinado tempo ou por tempo indeterminado. Até os anos 1980, esse termo era utilizado com maior frequência por profissionais da área ambiental, porém em 1987 o termo foi apresentado ao mundo através dos resultados publicados no relatório Our Common Future pela Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento, ou Comissão Brundtland, surgindo um novo olhar acerca do desenvolvimento sustentável, definindo esse como o processo realizado que supra a necessidade atual sem que haja comprometimento da capacidade de que gerações futuras também supram as suas. Indo de encontro a isso, o termo sustentabilidade tem sido utilizado atualmente para exprimir ambições de continuidade, durabilidade ou perenidade, remetendo ao futuro da espécie humana, tratando-se assim de um conceito associado a novos valores com sentido essencial a responsabilidade pelas condições de vida das futuras gerações. (PEREIRA, 2008) O desenvolvimento sustentável empresarial está baseado internacionalmente na relação entre três dimensões: econômica, ambiental e social. (VELLANI, 2011) O triple bottle line, criado pelo inglês John Elkington e traduzido ao português como "linha dos três pilares", é baseado na relação dessas dimensões para afirmar que a sustentabilidade deve envolver pessoas, o planeta e o lucro. John defende assim que as organizações não devem avaliar seu sucesso somente através do desempenho financeiro, mas também avaliar também o impacto sobre a economia mais ampla, sobre o meio ambiente e sobre a sociedade em que está inserida. Conforme ilustra a figura 1, a organização somente seria sustentável no momento que obtivesse sucesso em relação as três dimensões constantes nesses pilares. (PEREIRA, 2008) 4 Figura 1 – O tríplice resultado Fonte: PEREIRA, 2008, p.78 A ideia expressa no triple bottle line foi fortalecedora do movimento empresarial pela sustentabilidade desde a década de 1990, porém da forma que é posto em prática atualmente privilegia a visão dos negócios para sustentabilidade colocando a dimensão econômicofinanceira como norte para as outras dimensões e legitimando somente algumas iniciativas questionáveis em relação ao tema. A ISO 26000, norma mundial de responsabilidade social, nos lembra que o objetivo do desenvolvimento sustentável não está focado em uma organização específica, como é praticado atualmente, mas em atingir um estado de sustentabilidade para o planeta. A GEO-5, documento elaborado pela ONU para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável realizada 2012, relata sobre as mudanças ambientais observadas no sistema Terra chamando atenção quando informando que apesar de muitas medidas de mitigação, o escopo e a velocidade dessas mudanças não diminuíram nos últimos cinco anos. A conscientização pelo desenvolvimento sustentável, assunto abordado desde 1987 como citado anteriormente, vem ganhando progressiva relevância no ambiente dos negócios porém sem que sejam tomadas ações coletivas que resultem em reais mudanças positivas. (FIALHO, 2013) É necessário, além do reconhecimento da necessidade de mudanças no modelo atual de exploração de recursos naturais, no direcionamento de investimentos, na orientação do desenvolvimento tecnológico e nos valores institucionais, buscando a sintonia com as necessidades atuais e das gerações futuras, que também o consumo responsável, um dos fatores determinantes para que o desenvolvimento sustentável seja atingido, seja praticado. (PEREIRA, 2008) Dessa forma, deveria ser adotada uma ética por parte da sociedade consumidora para que houvesse a promoção da sustentabilidade: - a vivência de um constante exercício de descobrir, respeitar, valorizar e saber cuidar do “outro”; - a adoção de um estilo de vida que promova a maximização dos impactos positivos e a minimização dos negativos frente à saúde da biodiversidade e dos ecossistemas e à promoção da dignidade, da justiça e do bem-estar social; - a promoção de valores e atividades econômicas que mantenham os padrões de 5 consumo dentro do limite das possibilidades ecológicas a que todos possam, de modo razoável, aspirar; - o aprofundamento do conhecimento sobre o ciclo natural do planeta e do universo, de forma a entender-se parte integrante desse sistema; - a conscientização de que eu sou peça fundamental para a mudança e que isso envolve um contínuo aprimoramento da qualidade dos meus pensamentos, atitudes e serviços na construção de um mundo mais justo, viável e vivível. (FIALHO, 2013, p. 133) 2.4 Consumo Colaborativo Fazemos parte de uma sociedade individualista que há mais de 50 anos nos estimula a viver além dos nossos recursos, tanto financeiros quanto ecológicos, consumindo mais bens e serviços do que todas as gerações anteriores reunidas. Fazemos parte de um mecanismo de consumo e descarte cada vez mais acelerado que, desde 1980, consumiu um terço dos recursos naturais do planeta. É nesse cenário que o consumo colaborativo surge como alternativa sustentável. (BOTSMAN; ROGERS, 2011) O consumo colaborativo se torna uma alternativa capaz de combinar a coletividade com o individual e mudar a maneira de consumo atual. Essa forma de consumo foi primeiramente definida por Algar (2007) como sendo "uma prática de partilha, empréstimos comerciais, aluguel e trocas, transposta para o século XXI", surgindo como forma de adaptação ao contexto capitalista que vivemos atualmente que esquece que somos dependentes dos recursos finitos da Terra. Esse conceito é melhor explorado por Botsman e Rogers, principais autores acerca do tema, que o definem como sendo uma alternativa de satisfazer as necessidades e anseios do homem moderno através de uma prática mais sustentável e que seja capaz de reduzir os prejuízos causados para e pela sociedade como um todo. (SALES, 2013) Esse movimento ganhou ascensão a partir da crise de 2008: Quando a grande recessão chegou em 2008, alguns especialistas e economistas anunciaram o fim do consumismo, enquanto alguns sugeriram que os consumidores precisavam ser estimulados a comprar novamente. De qualquer maneira, eles supuseram que o modelo tradicional de consumismo, aquele em que compramos produtos, os utilizamos, os jogamos fora e depois compramos mais, continuaria existindo, ainda que em menor escala. Embora a solução “gastar mais, consumir mais” funcione no curto prazo, ela não é nem sustentável nem saudável (BOTSMAN; ROGERS, 2011, p. XVIII) Se tornando uma maneira com a qual as pessoas podem ter acesso ao que precisam de forma menos predatória, mais ecológica e economicamente sustentável. Como é fundamentado no compartilhamento de produtos e serviços e nas trocas, o consumo colaborativo causa um menor impacto ambiental com o reaproveitamento e a reciclagem de objetos ociosos, aliado a isso ainda, a satisfação dos desejos individuais com o interesse coletivo, incluindo uma maior preservação do meio ambiente. (SALES, 2013) Abrangendo participantes de todos os cantos do mundo, o consumo colaborativo permitiu que esses percebessem os benefícios de acesso a produtos e serviços em detrimento da propriedade, economizassem dinheiro, espaço e tempo, fizessem novos amigos e se tornassemse cidadãos ativos novamente. São vários os exemplos de consumo colaborativo no mundo que expressam a ascensão explosiva ao mercado colaborativo: o compartilhamento de bicicletas é a forma de transporte que cresce mais rapidamente no mundo, com a expectativa de que a quantidade de programas aumentaria em 200% em 2010; o Freecycle, um cadastro mundial que faz circular itens gratuitos para reutilização ou reciclagem com mais de 5,7 milhões de membros em mais de 85 países; o Bartecard, a maior rede mundial de escambo entre empresas em 2009, 6 onde foram negociadas cerca de 2 bilhões e que teve um aumento de 20% em relação a 2008; e o thredUP, um intercâmbio de roupas infantis, no qual aproximadamente 12 mil itens foram negociados nos oito primeiros dias de funcionamento em abril de 2010. Sendo que esses ocorrem em três sistemas: os sistemas de serviços de produtos, os mercados de redistribuição e os estilos de vida colaborativos, que juntos reinventam o que consumimos e como consumimos. (BOTSMAN; ROGERS, 2011) O consumo colaborativo é considerado uma tendência global, que vem acendendo cada vez mais especialmente nos Estados Unidos e na Europa. No Brasil, ainda que como uma iniciativa tímida, cada vez mais se tem o surgimento de novos negócios nesse mercado. (SALES, 2013) Podemos citar como exemplos de empreendimentos colaborativos no mercado brasileiro que estão obtendo sucesso o ZazCar, uma empresa de aluguel de carros em São Paulo que funciona nos moldes do Zipcar american, CaronaBrasil, um site de compartilhamento de carros em pares, o Xcambo, site de troca de produtos entre pessoas, e o Trocandolivros, site de troca de livros entre pessoas. (BOTSMAN; ROGERS, 2011) 2.5 A redistribuição Incluso no sistema proposto pelo consumo colaborativo, está a redistribuição: forma de movimentar bens que antes estavam em desuso, impedindo o desperdício de bens que ainda podem ser utilizados. Esse seria o quinto “R” – reduzir, reciclar, reutilizar, reformar e redistribuir – e é considerado uma forma sustentável de comércio, contrariando o relacionamento tradicional entre produtor, varejista e consumidor, e interrompendo as doutrinas de “comprar mais” e de “comprar um novo”. O mercado de redistribuição, tanto através das trocas livres ou mercadorias em troca de dinheiro, além de estimular a reutilização e a revenda de itens antigos, invés jogá-los fora, reduz expressivamente o desperdício e os recursos que acompanham uma nova produção. (BOTSMAN; ROGERS, 2011) Em décadas passadas apesar do surgimento de programas de reciclagem e da perseverança de bazares realizados em garagens e quintais, o ato de vender, trocar ou dar de presente mercadorias usadas ou possuídas anteriormente não é algo natural para a maioria das pessoas. Porém essas trocas se tornaram muito eficiente no mundo online que estimula o compartilhamento. (BOTSMAN; ROGERS, 2011) Podemos mencionar no mercado de redistribuição brasileiro iniciativas como o aplicativo Dois Camelos, que permite que os usuários realizem trocas conforme suas necessidades, promovendo o consumo consciente e aproximando pessoas identificadas por uma causa, e o site DescolaAi, que permite que pessoas compartilhem objetos que estão em desuso de forma segura, aumentando a vida útil do bem e evitando que adquiram um novo. (SALES, 2013) 3 METODOLOGIA Pesquisa pode ser definida como “o processo formal e sistêmico de desenvolvimento do método científico, que tem como objetivo descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos”. (GIL, 1999, p.42) A pesquisa apresentada no presente trabalho é de natureza qualitativa, caracterizando-se em relação ao seu objetivo como descritiva por visar analisar e interpretar os fenômenos sem que os pesquisadores tenham influência sobre esses. (GIL,2008) O procedimento técnico adotado para a realização dessa é a pesquisa bibliográfica, devido a essa possibilitar a explicação de um problema a partir de referenciais publicados em documentos, tanto na forma de livros ou artigos de periódicos. (CERVO;BERVIAN, 2002) 7 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS Para elucidar os nossos resultados, trazemos o conceito de redução de dando como ampliação de vida. (LANCETTI, 2014) O leitor familiarizado com o pensador citado, pode questionar-se o porquê de um conceito de saúde pública em relação às drogas pode contribuir com a sustentabilidade aqui proposta. Na verdade, pegamos o conceito emprestado pois pensamos que o propomos em nosso referencial funciona como uma redução de danos em nosso planeta. A redistribuição não extingue o mal-estar presente nos sujeitos, da mesma forma que não extingue a direção que esse vazio toma, ou seja, o consumo em excesso. O redistribuir garante que o alvo do consumo seja algo que já foi produzido, assim não necessitando para que haja o consumo uma nova produção. Dessa forma, através dos mercados de redistribuição os bens continuam circulando, maximizando o seu uso e ampliando a longevidade. Ao mesmo tempo há a redução do desperdício e emissões de carbono que acompanham uma nova produção. O impacto que a redistribuição pode propiciar é expresso por William McDonough, coautor do livro Cradle to Cradle, ao calcular que um produto isoladamente contém apenas 5% da matéria-prima usada para produzí-lo. Dessa forma, na produção de um novo produto já há um desperdício de 95% de matéria-prima que poderia ser poupado através da prática da reutilização. Além disso, o ambiental Paul Hawken estimou que para cada 45 quilos de produto fabricado, 1.450 quilos de resíduos sejam produzidos, uma razão de 32 para 1.5. Portanto, se há a redistribuição de um sofá velho para outra pessoa, além de estar mantendo aproximadamente 45 quilos fora de um lixão, também estaria-se economizando 1.450 quilos de resíduos que teriam sido usados para a produção de um sofá novo. E apesar de termos o pensamento de que destinando à reciclagem nosso papel, nossas garrafas e nossos plásticos já estamos sendo sustentáveis, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA estimou que 98% de todo o lixo seja industrial e apenas 2% seja lixo doméstico. Comprovando assim, que por mais que destinemos corretamente o nosso lixo doméstico, a melhor maneira de ajudar a evitar o desperdício é adquirindo menos coisas novas e reutilizando e redistribuindo o que já possuímos. A produção e o consumo como são vistos na atualidade são territórios compartilhados pela grande parte, fazendo parte dos modos de viver de cada um. Voltando ao aspecto da subjetividade e das três ecologias fundamentas no referencial teórico, entende-se que a ligação entre sustentabilidade e estes produz um desterritório, isto é, outro modo de encarar o consumo. Como trazidos nos dados anteriormente, cria-se uma relação positiva com a esfera da natureza havendo a menor produção de lixo e desperdício de recursos. Somado a isto, indiretamente, têm-se outras formas de relacionar com o subjetivo e o social, pois mesmo o vazio não se eliminando, esse novo modo de consumir traz benefícios também ao social. Além da questão econômica envolvida ao adquirir bens por valor inferior ao pago para adquirir um bem novo, há a interação entre pessoas que se interessam pela mesma causa, criando vínculos de amizade e reforçando seu espírito cidadão. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho mostra-se de extrema importância vista a emergência desse modo de pensar em prol do bem comum. Ainda que o consumo seja um dos grandes instrumentos de bem-estar atual, é necessário aprender a consumir os bens e serviços de uma maneira diferente da praticada atualmente. Não basta que consumamos menos lixo doméstico ou destinemos à 8 reciclagem, é necessário que hajam mudanças em relação ao que consumimos de novo proveniente do processo industrial. O consumo colaborativo, não somente através da redistribuição, é uma tendência mundial que deve ser incentivada pois demonstra-se como uma alternativa através da qual as pessoas podem ter acesso ao que precisam de forma menos predatória, mais ecológica e economicamente sustentável. Por fim, é válido ressaltar que caso não haja modificação nossos hábitos de consumo, não haverão recursos que supram as necessidades de gerações futuras e assim, ocorrerá um detrimento da vida. REFERÊNCIAS BIRMAN, J. Mal-estar na atualidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. BIRMAN, J. O sujeito na contemporaneidade: espaço, dor e desalento na atualidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012. BOTSMAN, R; ROGERS, R. O que é meu é seu: Como o consumo colaborativo vai mudar o (seu) nosso mundo. São Paulo: Saraiva, 2011. CERVO, A.L.; BERVIAN, P.A. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Pretince Hall, 2002. DELEUZE, G. Michel Foucault, filósofo. Barcelona: Gedisa, 1990. DELEUZE, G., GUATTARI, G. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Ed. 34, 1995. FIALHO, C.A. A ética da sustentabilidade. In:PEREIRA, T. Cuidado e Sustentabilidade. São Paulo: Atlas, 2013. p. 119 – 133. GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2008. GIL, A. C.; Método e técnicas de pesquisa social. 5 ed. São Paulo: Atlas, 1999. GUATTARI, G. As três ecologias. São Paulo: Papirus, 2012. 9 GUATTARI, F., ROLNIK, S. Micropolítica: cartografias do desejo. Rio de Janeiro: Vozes, 1986. LANCETTI, A. Clínica Peripatética. São Paulo: Hucitec, 2014. PEREIRA, A. 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