este PDF - Aula Magna

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este PDF - Aula Magna
Mensal
Novembro | dezEMbro 2008. Distribuição gratuita
R.A.P.
regressa
às aulas
O RJIES
para os alunos
BANDAS
ESTUDANTIS
número
00
EDITORIAL
Estatuto editorial
Parcerias
A Aula Magna rege-se pelos princípios
deontológicos e pela ética profissional dos
jornalistas, respeitando a boa fé dos leitores.
É um órgão isento e independente de todas
as formas de poder político, económico,
religioso e de quaisquer grupos de pressão.
Procura sempre a verdade dos factos e a
pluralidade das opiniões fundamentadas,
separando sempre de forma clara uma e
outra coisa.
A Aula Magna é um órgão de informação sobre todo o ensino superior, um meio
de propagação de ideias e de correntes de
pensamento, um espaço de debate e reflexão livre, responsável e civilizado.
A Aula Magna é um meio de dinamização e de divulgação do trabalho dos estudantes do ensino superior que aposta num
sistema redactorial comunitário e aberto à
participação de todos.
A Aula Magna é um meio de dinamização e de divulgação do trabalho dos estudantes do ensino superior que aposta num
sistema redactorial comunitário e aberto à
participação de todos.
A Aula Magna é um projecto de imprensa estudantil herdeiro da tradição académica e de associativismo estudantil, sempre
defensora dos princípios da liberdade de
expressão, da democracia, do respeito pelos
direitos humanos, da igualdade social e da
universalidade do ensino superior. A Aula
Magna pugna pela ideia de Universidade
(de onde não se exclui o ensino politécnico)
enquanto centro de criação, transmissão e
difusão de cultura e ciência de um país.
Colabora, inscreve-te num dos nossos grupos ou entrega os teus textos e fotos através
de www.aulamagna.pt
aulamagna
aulamagna 0
Assim nos apresentamos, como somos
e queremos ser: estudantes em formato de
revista.
Direcção
Luís Oeiras Fernandes
Consultores de Edição
Anick Bilreiro
Filipe Pedro
Luís Ricardo Duarte
Consultor de Fotografia
José Miguel Soares
Consultora de Grafismo
Filipa Lourenço
Consultores de Internet
Abílio Santos
Jorge Martins
Escrevem
Frederico Pedreira
Golgona Anghel (FLUL)
João Pedro Barros
Luís Ricardo Duarte
Virgílio A. P. Machado (FCT UNL)
Imagens
Filipe Mateus
João Fazenda
José Miguel Soares
Diogo Santos
Banda desenhada
Projecto Pandora Box
Álvaro Áspera (edição, texto e guião)
Ana Afonso (desenho e cor da
primeira página)
Filipe Alves (desenhos e cor)
imagem de capa José Miguel Soares
A revista Aula Magna é um órgão de imprensa estudantil. Feita por nós e para ser
lida por nós, os estudantes. Vem para falar
de nós, do que fazemos, do que procuramos,
do que nos rodeia. Vem fazer tudo isso por
dentro, não como algo que nos é oferecido,
mas como algo que nos pertence..
Herdeira do espírito estudantil que se bateu pela liberdade de expressão num tempo
em que ela não existia, a Aula Magna é um
órgão de informação independente, isento
e de qualidade. Nada do que é académico
nos é indiferente, desde as políticas educativas e pedagógicas, passando pela produção
científica e artística, até às festas, tunas e
actividades recreativas. Atenta, crítica e fiel
aos factos, esta revista é estudante do Norte,
do Sul do país e das ilhas, é estudante do
ensino universitário como do politécnico,
do público como do privado.
Este projecto acredita que nos falta a
nós, estudantes, sabermos uns dos outros,
do que andamos a fazer, do que se passa
à nossa volta, para onde caminha o ensino superior e em que nos vai afectar essa
caminhada. Se o reitor decidiu, nós queremos saber. Se o grupo de teatro nasceu,
nós queremos divulgar. Se aqueles caloiros
que estavam sempre no bar com as guitarras formaram uma banda, nós queremos
dizer onde e quando é que eles vão tocar.
Queremos ser a revista de tudo o que nos
diz respeito e não do que outros acham que
nos diz respeito.
Juntamos aos nossos projectos-colegas
da imprensa estudantil, os recursos profissionais que não existiam, os meios que não
estavam ao alcance, a abrangência nacional
que não era possível, a colaboração com os
professores e funcionários.
ANFITEATRO
Aveiro
DECA da U-Aveiro
Campus Universitário de Santiago
234 37 03 89
http://www.ua.pt/ca/
Improvisação - oficina por Mário Laginha
19 de Nov
Teatro Aveirense
Rua Belém do Pará
234 400 920
http://www.teatroaveirense.pt/
Concerto de encerramento dos Festivais de
Outono da U-Aveiro
Orquestra Filarmonia das Beiras, Coro e
Orquestras do DECA da U-Aveiro (Elsa Silva,
piano e Luís Carvalho, direcção)
21 de Nov: 21h30
Reitoria da Universidade de Aveiro
Campus Universitário de Santiago
234 37 06 06
http://www.ua.pt/
Semana aberta da ciência e tecnologia da
Universidade de Aveiro – 2008
A Universidade de Aveiro apresenta palestras,
aulas, sessões de esclarecimento, de cinema,
exposições e outros eventos sobre ciência e
tecnologia. Para estudantes, professores e
público em geral.
24 a 29 de Nov: das 9h00 às 18h00
Auditório da Reitoria da U-Coimbra
Paço das Escolas
239 859 800
http://www.ces.uc.pt/
direitoshumanoscoloquio/
Desafios aos direitos humanos e à justiça
global - Colóquio internacional
Na comemoração dos seus 30 anos, o Centro
de Estudos Sociais da Universidade de
Coimbra organiza um colóquio internacional
sobre direitos humanos e justiça global.
27 e 28 Nov: das 9h30 às 18h30
Évora
Auditório da Reitoria da U-Évora
Largo dos Colegiais, 2
266 740 800
http://www.ciep.uevora.pt/eps/
II Congresso Nacional de Educação para
a Saúde
Conferência Alimentação Saudável: Desafios
Alcançáveis, de Isabel do Carmo, directora
-do Serviço de Endocrinologia, Diabetes e
Metabolismo do Hospital de Santa Maria
(CHLN)
Conferência Drogas ou Vida: Uma Opção
Decisiva, de João Goulão, presidente do
Conselho Directivo do Instituto da Droga e da
Toxicodependência
Conferência Educação Sexual na Actualidade:
Perspectivas e Caminhos, de Marta Reis
Conferência Promoção e Educação para a
Saúde, de José Robalo, sub-director geral da
Direcção-Geral de Saúde
Conferência Violência(s) em Meio Escolar, de
Pedro Strech
Conferência de encerramento, de Filomena
Araújo, vereadora da Câmara Municipal de
Évora
19, 20 e 21 de Nov: das 9h00 às 18h00
Faro
Reitoria da Universidade de Faro
Campus de Gambelas
289 800 100
http://congresso.amigosdoscastelos.org.pt/
A décima edição do Festival de
Tunas S. Vicente é dedicada a
Júlio Verne, o conhecido escritor
visionário do início do século XX.
Será uma inspiração futurista
para a tuna anfitriã, a VicenTuna,
da Faculdade de Ciências da
Universidade de Lisboa (UL), e
para as outras cinco que vão submeter-se a concurso. Recordese que a Magna Tuna Cartola
de Aveiro, a Tuna da Escola
Superior de Comunicação Social,
a Estudantina Universitária de
Lisboa e a Tuna Académica do
ISCTE foram os vencedores da
edição do ano passado. O Festival
realiza-se na Aula Magna da UL
a 22 de Novembro, às 21 horas.
À semelhança da edição anterior, parte dos lucros revertem a
favor do Instituto Português de
Oncologia.
Prémio Jacinto Prado Coelho
Literatura clássica distinguida
Carlos Ascenso André, da
Universidade de Coimbra, e José
Pedro Serra, da Universidade
de Lisboa (FLUL), foram distinguidos em ex-aequo com o
Prémio Jacinto Prado Coelho,
no valor de cinco mil euros. As
obras em causa foram Caminhos
do Amor em Roma, uma edição
rector do Conselho Directivo da
Faculdade de Letras de Coimbra,
Carlos Ascenso André tem vindo a estudar e a traduzir alguns
dos principais nomes do chamado século de ouro do Império
Romano, tutelado pela figura
de Augusto, e em particular os
temas do exílio e do amor na
antiguidade. São da sua responsabilidade as traduções de Arte
de Amar e Amores, de Ovídio,
poeta que é abordado neste ensaio, a par de Vergílio, Propércio,
Catulo e Tibulo.
Pensar o trágico: categorias da
tragédia grega foi a tese de doutoramento, defendida em 1999,
de José Pedro Serra, professor
do Departamento de Clássicas
da Faculdade de Letras da UL.
Esquilo, Sófocles e Eurípides são
alguns dos autores analisados
neste périplo pelo mundo helénico. Uma revisitação que tem
como objectivo «lançar mão a
esses textos antigos, compreender como deles florescem radicais questões que nos habitam,
tomando para nós o mesmo
heróico desejo de querer ver, de
querer saber, na procura do nosso rosto mais autêntico».
O júri do prémio, atribuído pelo
Centro Português da Associação
Internacional de Críticos Literários, foi constituído por
Fernando J. B. Martinho, Helder
Godinho e Fernando Pinto do
Amaral.
IP-Leiria
Conferência de 6 Sigma
Ernesto Castro Leal
Os republicanos da I República
Divulgar as vantagens da metodologia 6 Sigma é o objectivo
da conferência que o Instituto
Politécnico de Leiria e a empresa
Sinmetro organizam nos dias 4
e 5 de Dezembro. É a primeira
apresentação em Portugal deste
sistema de trabalho que pretende
rentabilizar o binómio serviço/
cliente, através de um elaborado
Contribuir para o estudo do
campo partidário republicano português, entre 1910 e
1926, é o principal objectivo
do livro Partidos e Programas,
de Ernestro Castro Leal.
Recorrendo a um conjunto muito alargado de documentação,
em grande parte inédita, o professor de História da Faculdade
Joana Hartmann (legendagem)
Paginam
Filipa Lourenço
Projecto gráfico (papel)
Marisa Rodrigues (FBAUL)
Estudo para projecto gráfico (papel)
Eunice Oliveira (FBAUL)
Sara de Castela Coelho (FBAUL)
Marisa Rodrigues (FBAUL)
Agradecimentos
Faculdade de Belas Artes da
Universidade de Lisboa
Prof. Doutor Aurelindo Ceia
Prof. Doutor Emílio Vilar
AEESD IPL
AEESM IPL
AEESTC IPL
AEESTS IPL
AEFBAUL
AEFFUL
AEFPCEUL
AAMDL
Editor e redacção
Magna Estudantil – Publicações S.A.
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Conselho de administração
Luís Oeiras Fernandes
Miguel Tapada
Vanda Matias Fernandes
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Coimbra
processo de definição, medição,
análise, melhoria e controlo.
A conferência, que decorre no
Auditório da Escola Superior
de Tecnologia e Gestão, conta
com a participação de especialistas nacionais e estrangeiros.
Nas várias intervenções, falarse-á das aplicações do 6 Sigma
em sistemas de saúde, indústrias
farmacêuticas, laboratórios e actividades musicais, entre outras.
Porque, qualquer que seja a área,
o cliente tem sempre razão.
U-Lisboa
Festival de Tunas
da Cotovia, e Pensar o trágico:
categorias da tragédia grega, da
Fundação Calouste Gulbenkian.
Trata-se de dois estudos sobre
a literatura clássica, o primeiro centrado na poesia latina do
século I a.C, o segundo, na herança do teatro grego. Actual di-
Este projecto beneficia do apoio
do programa Finicia e é participado
pela Inovcapital.
Impressão
Lisgráfica
Rua Consiglieri Pedroso, n.º90,
Casal de Sta. Leopoldina
Barcarena
Periodicidade
Mensal
Tiragem
60 mil exemplares
Iniciado o processo de inscrição
na APCT
As informações para a agenda
devem ser enviadas através de
www.aulamagna.pt
Agenda
As opiniões veiculadas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores e não reflectem necessariamente a opinião da revista ou dos seus colaboradores. Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos ou imagens por quaisquer meios e para quaisquer fins.
ANFITEATRO
VIII Congresso dos monumentos militares
27, 28 e 29 Nov: das 9h00 às 18h00
Universidade de Lisboa
Oficina de Shiatsu
A secção de Desporto da Universidade de Lisboa promove,
no dia 22 de Novembro, das 10
às 13 horas, nas suas instalações, uma oficina de Shiatsu.
Esta velha técnica de massagem, originária do Japão, tem
como objectivo a recuperação
e manutenção da saúde do alinhamento energético do corpo.
Um bálsamo para a agitação
da vida contemporânea. A oficina destina-se a pessoas sem
qualquer experiência nesta disciplina. Os preços variam entre os
20 e os 30 euros.
de Letras da Universidade de
Lisboa analisa a estrutura, evolução e fragmentação do Partido
Republicano Português, com
a consequente pulverização de
pequenos organismos partidários. «Os vários partidos e grupos políticos republicanos configuraram múltiplas identidades
políticas, sem apresentarem uma
diferenciação intensa, dado que
se inscreviam no património
comum do republicanismo histórico», escreve Ernesto Castro
Leal. No entanto, a par de rivalidades de chefia e de carácter, ou
tácticas, os diversos protagonistas da agitada I República, como
se demonstra neste estudo, podem filiar-se ideologicamente
em duas identidades políticas:
«O demoliberalismo unitarista e
o radicalismo federalista». Além
de Partidos e Programas, editado
pela Imprensa da Universidade
de Coimbra, Ernesto Castro
Leal publicou, entre outros títulos, António Ferro: espaço político e imaginário social e Nação e
nacionalismos: a cruzada nacional D. Nuno Álvares Pereira e as
origens do Estado Novo.
George Steiner
Os romances do ensaísta
Anno Domini é a mais recente
colectânea contos de George
Steiner publicada em Portugal.
A edição é da Gradiva, que
tem vindo a traduzir uma faceta menos conhecida do prof.
da Universidade de Oxford e
reputado ensaísta: a de ficcionista. O pós-guerra é o cenário
comum às três histórias de Anno
Domini, também marcadas
pela evocação da violência da
Guerra. Não é só a dor física que
atormenta estas personagens,
mas também o mal existencial
provocado pela consciência de
terem vivido o fim de um tempo. Tal como em O Transporte
para San Cristobal de A. H. ou
Provas e Três Parábolas, também
lançados pela Gradiva, a literatura de George Steiner é fortemente contaminada pela teses
que defende nos seus ensaios.
Não poucas vezes ecoam nestas
páginas livros tão importantes
como Nostalgia do Absoluto,
No Castelo do Barba Azul ou O
Silêncio dos Livros.
Bragança de Miranda
A imagem do corpo,
o corpo da imagem
Que relações se estabelecem
entre o corpo e a imagem? De
que forma as novas tecnologias
alteraram essa ligação? Quais as
consequências dessa mudança?
Estas são algumas das questões
a que J. A. Bragança de Miranda
tenta responder em Corpo e
Imagem, uma edição da Vega.
Este ensaio parte do princípio
de que a «imagem, num sentido
lato, constituiu historicamente
uma forma de protecção do corpo». Porém, com a fotografia, o
cinema e o advento do digital
verificaram-se dois fenómenos.
Por um lado, «o deslocamento
das imagens que passam a circular livre e desencontradamente». Por outro, «a sua hibridação
com o imaginário teológico, estético e técnico». Foi essa nova
«plasticidade» que pôs em causa
a noção clássica de corpo.
Na mesma editora, o professor
do Departamento de Ciências
da Comunicação da F-Ciências
Sociais e Humanas da U-Nova
de Lisboa publica Envios, uma
antologia de textos curtos que
escreveu para o seu blogue,
Reflexos de Azul Eléctrico.
ISG - Escola de Gestão
Rua Vitorino Nemésio, n.º 5
21 751 37 00
http://www.isg.pt/
DEBATES DO CICLO SERÕES DA
JUSTIÇA DO ISG
Justiça e a Questão Penitenciária
Com Anabela Miranda Rodrigues (Centro
de Estudos Judiciários), Conceição Gomes
(Observatório Permanente da Justiça
Portuguesa) e Nuno Caiado (Direcção Geral
de Reinserção Social)
19 de Nov: das 18h30 às 21h30
Eficiência e Equidade na Tributação
Com Eduardo Paz Ferreira (F-Direito da
U-Lisboa), Paulo Macedo (BCP) e Rogério
Fernandes (ISG)
10 de Dez: das 18h30 às 21h30
Departamento de Engenharia de
Electrónica e Telecomunicações e de
Computadores do ISEL
R. Conselheiro Emídio Navarro, 1
21 831 71 80
http://www.deetc.isel.ipl.pt/
JETC08 - Jornadas de Engenharia de
Electrónica e Telecomunicações e de
Computadores
Organizadas de três em três anos, as JETC
incluem conferências, concursos, oficinas
(workshops) e outras iniciativas.
20 e 21 de Nov: das 9h00 às 18h00
Aula Magna da U-Lisboa
Alameda da Universidade
21 011 34 00
http://www.ul.pt/
Mercury Rev
Concerto de apresentação do álbum
Snowflake Midnight
29 Nov: 22h00
F-Letras da U-Lisboa
Alameda da Universidade, Sala 67
21 792 00 86
http://www.fl.ul.pt/centros_invst/teatro/
pagina/poeticas_rock.htm
Poéticas do Rock em Portugal (call for
papers)
Colóquio sobre literatura, música e palco. As
letras, os textos, a poesia e a sua encenação na
música Pop e Rock.
Até 30 Nov
Porto
F-Engenharia da U-Porto
Rua Dr. Roberto Frias
22 508 14 00
http://sicc.fe.up.pt/conf/manager.php/
gescon/home
Fórum Internacional de Gestão da
Construção - GESCON 2008
O evento abordará temas como
o Financiamento, Planeamento e Concepção,
a Gestão de Projecto, a Gestão da Construção/
Desconstrução e a Gestão da Utilização.
Principais oradores: Vitor Abrantes, Hipólito
Ponce de Leão, Reis Campos (FEPICOP),
Jorge Moreira da Costa (IcBench), Daniel
Bessa (EGP-UPBS), Pedro Gonçalves (Soares
da Costa)
11 e 12 Dez: das 9h00 às 18h00
Cheltenham, Reino Unido
University of Gloucestershire
+44 (0)844 8010001.
http://www.wam-research.org.uk/
conference/
Conferência Crossing Cultures: Women,
Ageing and Media
5 Dez
Eleições
AE F-Psi. e C.da Educação da U-Lisboa
4 e 5 de Dezembro
A-Académica da U-Lisboa
Votação: 10 e 11 de Dezembro
Tomada de posse: 8 de Janeiro
A-Académica de Coimbra
Primeira volta: 26 e 27 de Novembro
Segunda volta: 3 e 4 de Dezembro
AE F-Belas Artes da U-Lisboa
Votação: 27 e 28 de Dezembro
Tomada de posse: 2 de Dezembro
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Lisboa
ANFITEATRO
Os efeitos do RJIES
Estudantes longe
das decisões
O novo regime jurídico já mexe com o funcionamento
das instituições de ensino superior, deixando os alunos
mais desprotegidos. Pelo menos, é isto que pensam várias
personalidades ligadas ao meio estudantil. A Aula Magna faz
as contas ao que vai mudar
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texto João Pedro Barros, fotografias Diogo Santos
Para uma grande parte dos alunos do ensino superior, a sigla RJIES deve soar, na
melhor das hipóteses, a um palavrão dito
em croata. Aos medianamente informados, pode evocar mudanças no ensino
superior. Os outros, muito provavelmente uma minoria, saberão do que se trata:
Regime Jurídico das Instituições de Ensino
Superior ou, trocado por miúdos, a mais
profunda reforma do ensino superior
desde a aprovação da Lei da Autonomia
das Universidades, em 1982. Na teoria,
o RJIES é uma extensa lei, composta por
185 artigos e aprovada na Assembleia da
República a 19 de Julho de 2007, com os
votos favoráveis do Partido Socialista e os
votos contra de toda a oposição. O documento só agora começa a ter verdadeiras
consequências no terreno, já que houve a
necessidade de alterar os estatutos das universidades e institutos politécnicos e eleger
os novos órgãos, como o Conselho Geral,
que substitui o anterior Senado. O governo
das instituições de ensino superior compreende ainda um Reitor/presidente (eleito pelo Conselho Geral) e um Conselho de
Gestão. Nas faculdades, cai a Assembleia
de Representantes (substituída por um órgão colegial com um máximo de 15 membros) e há ainda um director, um Conselho
Científico e um Conselho Pedagógico. As
mudanças estruturais são estas, mas, na
prática, em que é que mudam a vida de um
estudante?
As personalidades contactadas pela revista Aula Magna para comentar o assunto
destacaram, sem excepção, o decréscimo da
representatividade dos alunos nos órgãos de
governo das instituições. Sublinharam também a evidência: o novo regime deixa-os
mais desprotegidos na defesa dos seus pontos de vista, na maioria das situações. Porém,
discordaram quanto à relevância que estas
alterações possam ter no seu dia-a-dia. Para
André Moz Caldas, eleito para o Conselho
José Soeiro acha
que as instituições
se vão tornar «mais
agrestes» para os
alunos
Geral da Universidade de Lisboa (UL) e membro do Núcleo de Estudantes Socialistas da
Faculdade de Direito da UL, o RJIES apenas se
sentirá «muito a jusante», uma opinião compartilhada por Negesse Pina, vice-presidente
da Associação Académica da Universidade
de Aveiro (AAUAv). Do lado oposto está José
Soeiro, que, com 24 anos, foi até Julho o mais
jovem deputado da Assembleia da República,
pelo Bloco de Esquerda. O sociólogo, que fez
parte do Senado da Universidade do Porto
(UP) durante dois anos, acha mesmo que
as instituições se vão tornar «mais agrestes»
para os alunos.
Órgãos mais pequenos e funcionais O RJIES
toma uma orientação clara: retirar a classe
discente (ou reduzir fortemente a sua presença) dos órgãos que tomam as opções
estratégicas das instituições. «Ficamos com
órgãos mais pequenos, funcionais e dinâmicos, mas também menos democráticos»,
«No novo conselho
geral, com três ou
quatro votos, os
estudantes quase
não vão ter peso
para propor (...)
matérias» Pedro
Barrias
Reitor| Estudantes perdem peso na eleição
considera Moz Caldas, que reconhece que
havia um problema de sobredimensionamento. «Há uma tentativa de arrumar a casa,
de reunir responsabilidades espalhadas e
competências conflituantes», acentua Bruno
Carapinha, estudante de doutoramento em
Ciência Política na UL, e membro do Comité
Executivo da Associação de Estudantes Europeus (ESU). O dirigente pensa que se passa
de um processo de decisão «lento» e gerador
de consensos para outro «ágil e muito organizado», mas que pode gerar «conflitos e situações de boicote». A composição do Con-
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Representantes| De dezenas os estudantes passam para três ou quatro
selho Geral, onde a representação dos alunos
(mínimo de 15 por cento) é cerca de metade
da das personalidades externas (mínimo de
30 por cento) é o principal alvo das críticas.
No Senado, os estudantes tinham paridade
com os docentes e investigadores, agora estes
ocupam, obrigatoriamente, mais de metade
dos lugares.
E os alunos que não se preocupam com a
gestão da sua universidade ou faculdade, vão
sentir a diferença? «É mais do que evidente
que o novo modelo está mais preocupado
na obtenção de receitas e lucros, deixando
de lado tudo o resto, como as actividades lúdicas, as cidadanias activas», observa Bruno
Carapinha. José Soeiro antevê que as universidades e politécnicos se vão tornar em locais
de «prestação de serviços a quem pode pagálos», em vez de serem um «lugar de acesso a
formação e conhecimento», com cursos ou
programas dirigidos à comunidade. O antigo
dirigente estudantil dá conta de casos em que
a força dos alunos nos órgãos da universidade foi decisiva: «Fiz parte de um Conselho
Directivo onde os estudantes conseguiram
travar o processo de subida das propinas, e
de uma Assembleia de Representantes onde
conseguimos fazer passar uma resolução
Bruno Carapinha
Membro do Comité Executivo
da Associação de Estudantes
Europeus (ESU)
O RJIES é como dizer aos
estudantes: «deixem-se
lá de manifestações, de
discutir a política geral das universidades,
e estudem». Para mim, isto é uma visão
retrógrada do papel das universidades. Há
uma tentativa de arrumar a casa, de reunir
responsabilidades espalhadas e competências conflituantes, mas elas continuam
a existir.
que permitia aos estudantes divulgar os
seus materiais e cartazes, que tinham sido
retirados», relata. Pedro Barrias, presidente
da Federação Académica do Porto (FAP)
durante dois anos (2006 e 2007) acrescenta
mais uma preocupação: «No Senado da UP
éramos 42 alunos. No novo conselho geral,
com três ou quatro votos, os estudantes quase não vão ter peso para propor, quanto mais
discutir, matérias relativas, por exemplo, ao
estatuto de atleta de alta competição ou dirigente associativo».
E há vantagens? Apesar das críticas, a FAP
manifestou uma «posição concordante», na
generalidade, com o RJIES, por «permitir alguma autonomia das universidades». Também a AAUAv, diz Negesse Pina, «não é contra». «Mas acreditamos que três alunos não
conseguem representar a voz dos 12.000 que
«Ficamos com órgãos
funcionais (...) mas
também menos
democráticos» André
Moz Caldas
estudam em Aveiro. É uma questão democrática, nem queremos paridade», salienta.
É caso para perguntar: há alguma vantagem
para os alunos? Os inquiridos neste artigo
consideram, de uma forma genérica, que há
um reforço de poderes do Conselho Pedagógico, onde se mantém a paridade com os
professores. «É mais fácil tratar das questões
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«O provedor
é uma espécie
de gabinete de
apoio ao cliente.
Não é isso que
as associações
e os estudantes
pretendiam. É o
reconhecimento
de que o estudante
passa a ser um
elemento externo
à comunidade
académica»
curriculares», admite Pedro Barrias. André
Moz Caldas salienta o facto do órgão passar
a ter competências para aprovar o regulamento de avaliação do aproveitamento dos
estudantes. No entanto, lamenta-se o facto
do organismo ter um carácter essencialmente consultivo. A AAUAv defende mesmo
que as suas decisões «deviam ser vinculativas», de forma a «garantir que aquilo que se
decide num órgão paritário tem reflexo no
Conselho Geral». Para Pedro Barrias, o Conselho Pedagógico acaba por ser vinculativo
«na prática», porque «há muitas questões
que só ele é que trata». Ainda assim, a ausência, no papel, de um poder «vinculativo
ou executivo» impede o órgão de tomar
decisões, por exemplo, no caso de «um professor que maltrata um aluno». «Aí, o que se
pode fazer é remeter o caso para o Conselho Científico ou Executivo», explica. Bruno
Carapinha tem um olhar mais crítico sobre
as novas competências do Conselho Pedagógico, classificando o órgão, na prática, como
«esvaziado de poder»: «Qualquer implicação
financeira, ou interligada com a área científica, não é aplicada. Há um boicote dos Conselhos Científicos e Directivo», acusa.
Conselho Pedagógico| Alunos mantêm paridade em relação ao número de professores
Uma segunda mudança potencialmente favorável é a criação de um provedor do
estudante, «cuja acção se desenvolve em
articulação com as associações de estudantes», lê-se na lei. Porém, a AAUAv é contra
os moldes desta figura, e Bruno Carapinha
volta a não poupar críticas: «O provedor é
uma espécie de gabinete de apoio ao cliente.
Não é isso que as associações e os estudantes
pretendiam. É o reconhecimento de que o
estudante passa a ser um elemento externo
à comunidade académica». Há ainda um
novo regime disciplinar do aluno, aplicado
pelo reitor ou presidente, e que substitui o
Pedro Barrias
Antigo presidente da Federação Académica do Porto (FAP)
Os estudantes deixam de ter margem para discutir algumas matérias no
Conselho Geral. Em algumas questões ainda podem ter uma minoria de
bloqueio, algum poder de decisão, mas na maioria delas não terão peso
quase nenhum.
Ricardo Pinto
Presidente da Federação Nacional das Associações de Estudantes do Ensino Superior Politécnico
Era necessária uma mudança de paradigma no ensino superior português,
mas não concordamos com a falta da participação estudantil na sua gestão.
As personalidades exteriores devem participar nos conselhos gerais, são
os reais empregadores, mas achamos que o seu peso é demasiado. Pela
minha experiência, não há assim tantas pessoas de mérito interessadas
em participar.
«É mais do que
evidente que o novo
modelo está mais
preocupado na
obtenção de receitas
e lucros, deixando
de lado tudo o resto,
como as
actividades lúdicas,
as cidadanias
activas»
decreto de 1932 que ainda vigorava. A pena
de expulsão aí prevista é eliminada, e Pedro
Barrias julga que há um maior «rigor» e
«responsabilização» dos alunos. «Fiz parte
da secção disciplinar do Senado, e era muito
difícil sancionar alguma coisa, a lei era muito
omissa».
O novo regime prevê ainda a possibilidade
das universidades se transformarem em
fundações públicas de direito privado, o
que lhes permitirá uma maior autonomia.
Para André Moz Caldas, a passagem do
direito público para o direito privado
pode trazer «muitas diferenças em termos
de relacionamento» com os alunos. Mas
isso já são contas para outro artigo. No
imediato, sobra alguma indignação – «não
concordamos com a forma como a mudança
foi feita, como se os alunos fossem os
culpados do estado do ensino superior»,
lamenta Negesse Pina – e um alerta de Bruno
Carapinha para as instituições: «Andamos
entretidos com isto há um ou dois anos, e
não fazemos o que devia ser feito em termos
educativos».
ANFITEATRO. OPINIÃO
Pedagogia
Abaixo assinado
O prof. Virgílio Machado chegou já ao ponto de ameaçar impedir-nos de cometer fraudes
nos testes. Impede-nos, assim,
de nos iniciarmos numa prática que tencionamos aperfeiçoar durante o nosso curso e na
nossa vida profissional, que é a
de actuarmos, o mais possível,
desonestamente, tornando a
fraude, o suborno e a corrupção generalizada, parte do nosso
dia-a-dia. Procuraremos, assim,
amassar fortunas, não como fruto do nosso trabalho e do desenvolvimento do bem-estar geral,
mas de processos que permitam
apropriarmo-nos daquilo que
não nos pertence e de técnicas
de dissimulação que construam
as nossas riquezas à custa da miséria dos outros.
A fraude nos testes é, além
do mais, um processo que nos
permite manter o subdesenvolvimento das nossas faculdades
intelectuais. Não queremos correr o risco de nos habituarmos a
responder a questões que nos são
postas, analisando-as à luz dos
nossos conhecimentos. Também
não queremos ser obrigados a
ter a franqueza de admitir que
não sabemos. Queremos, pelo
contrário, mostrar que temos
conhecimentos que não possuímos. Faremos assim, aquilo que
esperamos vir a fazer pela vida
fora: dar a perceber, aos nossos
empregadores e aos nossos subordinados, que somos muito
mais sabedores do que realmente somos, criando, assim, não
uma relação de respeito mútuo,
mas de venaração, como génios
intelectuais. Para esse fim, achamos mais próprio apropriarmonos do trabalho dos outros, dando respostas que são deles, que
não sabemos, nem percebemos,
Virgílio A. P. Machado
Prof. da F-Ciências e Tecnologia
da U-Nova de Lisboa
O estado de
embrutecimento
intelectual em que
nos encontramos,
não nos permite
participar ou
acompanhar
a discussão de
qualquer assunto
dentro do âmbito
da disciplina ou
pertinente para a
nossa formação
mas que subscrevemos como se
fossem nossas.
O prof. Virgílio Machado
exige, também, que sejamos
pontuais às aulas e não se coíbe
de assinalar quando não comparecemos ou chegamos atrasados.
Ora, nós somos contra o regime
de faltas. Não porque seja desnecessário, por só faltarmos por
motivo de força maior, mas porque achamos que as faltas ficam
a atestar o nosso desinteresse em
participar na vida académica.
As faltas obrigam-nos a fazer o
sacrifício de frequentar as aulas,
de conviver com colegas e professores. Nas aulas temos de ouvir falar de assuntos em que não
estamos minimamente interessados. Nós não queremos saber
nada do que se passa nas aulas.
Queremos é acabar o curso!
Achamos que não temos qualquer contributo a dar nas aulas.
O estado de embrutecimento intelectual em que nos encontramos, não nos permite participar
ou acompanhar a discussão de
qualquer assunto do âmbito da
disciplina ou pertinente para a
nossa formação. Não nos sentimos capazes de dirigir qualquer
questão ao prof., porque temos
receio de cair no ridículo de perguntar qualquer coisa que possa
interessar aos outros ou de elucidar dúvidas que também existam no espírito dos colegas, ou
pedir um esclarecimento que, na
verdade, o prof. devia ter dado,
mas que, eventualmente, se tenha esquecido de dar.
Temos, também, o direito de
chegar atrasados, quando muito
bem entendermos. Não queremos deixar de contribuir para
que esta nossa terra continue a
ser um país atrasado. Pela nossa
vida fora, queremos continuar a
não respeitar quaisquer horários
ou compromissos. No nosso futuro emprego, tencionamos,
aliás, iniciar o trabalho sempre
fora de horas, dando, assim, o
exemplo a todos os nossos subordinados e ao operariado em
geral. Não tencionamos, nunca,
respeitar horas marcadas para
encontros, reuniões, negócios ou
quaisquer actividades profissionais ou privadas, contribuindo,
assim, para grandes prejuízos,
para todos, em tempo perdido,
esperas inúteis e evitáveis.
Além do mais, o prof. Virgílio
Machado pretende que nos
mantenhamos em silêncio nas
aulas, quando ele se nos dirige
ou um colega faz qualquer intervenção. Obriga-nos, assim, a
dar provas de uma educação que
não possuímos, a um respeito
pelos outros que não temos.
Achamos que, nas aulas, devemos poder falar do que muito
bem entendermos, uns com os
outros, fazendo a algazarra necessária para nos fazermos ouvir
no meio da confusão geral, tal
qual um grupo de ébrios numa
taberna. Outro processo não há,
aliás, de impedir que aqueles
que estão interessados possam
acompanhar as aulas, desmotivando-os de fazerem um estudo
sério e incentivando-os a aderirem à mediocridade geral.
Assim, e resumindo, porque
o prof. Virgílio Machado insiste
em que nós temos que estudar,
desenvolver qualidades de trabalho, de integridade pessoal e
consciência profissional para as
quais não estamos vocacionados, nem é para isso que estamos cá, pedimos a sua imediata
substituição por outro que nos
dê uma boa nota no fim do ano
e nos chateie o menos possível.
aulamagna 0
Os alunos, abaixo assinados, do 1.º ano dos cursos de […] desta universidade
[…], onde foram admitidos, tornando assim impossível o acesso à universidade
de outros candidatos, vêm, por este meio, manifestar-se contra as medidas
repressivas, de que têm sido alvo, da parte do prof. Virgílio Machado
laboratório
Bandas estudantis
Fazer da universidade
um palco
As faculdades e os institutos politécnicos são viveiros onde
nascem os mais variados projectos musicais. E todos temos
um amigo que pertence a um. As bandas com estudantes
não são mais apoiadas porque ninguém dá apoios ou porque
ninguém os sabe pedir?
aulamagna 10
texto Frederico Pedreira, fotografias Filipe Mateus, ilustração João Fazenda
Foi numa praxe académica que Mafalda
Arnauth, então caloira de Veterinária, acedeu ao pedido para cantar um fado. O tema
de Amália Rodrigues, Triste Sina, desbravou-lhe o caminho para uma promissora
carreira nos palcos e para a edição de seis
discos, sendo o mais recente Flor de Fado.
Muitos são os artistas e bandas, nacionais e
internacionais, que se desenvolveram num
ambiente universitário, aprimorando os
seus ímpetos criativos através de um intenso percurso estudantil.
Se Mafalda Arnauth assistiu ao traçar
do seu destino numa praxe, a vocalista dos
Deolinda, Ana Bacalhau, desencantou-o
no ambiente descontraído do Bar Novo
da Faculdade de Letras da Universidade
de Lisboa (FLUL). Foi na véspera de mais
«Se não existir uma
iniciativa clara das
vossas associações
de estudantes no
sentido da promoção
de acções culturais,
que as proponham
os músicos, as
bandas, os fãs»,
apela Ana Bacalhau
dos músicos», na medida em que esses elementos podem «chamar à atenção», através,
por exemplo, de uma colaboração com um
artista de renome ou o trabalho demonstrado numa área artística diferente.
Os membros da banda devem assim
«seleccionar os elementos mais fortes», sabendo que serão estes a despertar a curiosidade das associações de estudantis. «Não
basta dizer que a música é interessante», diz
certos a tempo», para além de «fazerem um
apanhado dos jornalistas que escrevem sobre música», tendo em conta as áreas de especialização de cada um. «Depois, é enviar
os press-releases e as maquetes ao cuidado
dessas pessoas», explica Pedro Barros.
Vice-presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências da
Universidade de Lisboa e organizador de
um torneio de bandas universitárias, Tiago
Veríssimo acredita que é possível dar apoio
a bandas que tenham um projecto bem
estruturado, incluindo as autorizações necessárias, por parte do Conselho Directivo,
para alugar um espaço da universidade
para ensaios. Foi o que a associação de estudantes fez para a tuna, a quem foi atribuído uma sala num dos pavilhões da faculdade. Para este dirigente, a primeira acção
que as bandas devem tomar é apresentar
um projecto na associação de estudantes
seguindo os critérios da «concisão e cre-
aulamagna 11
um concerto e na «correria típica destes
dias» que explicou como conheceu Dídio
Pestana e Gonçalo Tocha, os músicos com
quem viria a formar a sua primeira banda,
os Lupanar: «Participava sempre que havia
uma sessão de Karaoke e, além disso, pedia
para cantar a capella uma música da Janis
Joplin.» Havia também um núcleo de rádio
para o qual contribuía com um programa
de música semanal. É por isso que Ana
Bacalhau acredita que o contexto universitário foi fundamental para o seu desenvolvimento artístico e para o a da banda:
«Partilhávamos o interesse pela Língua
Portuguesa, pela música, e achámos que
nos poderíamos juntar e criar um grupo
que trabalhasse diferentes linguagens musicais», afirma.
Começaram por ensaiar em casa de
Dídio Pestana, mas durante o ano lectivo de 2000/2001 decidiram aumentar o
número de músicos para sete. Desta forma, passaram a ocupar as salas de aula da
FLUL com ensaios acústicos. Em 2002, os
Lupanar continuaram a crescer e a Reitoria
da Universidade de Lisboa, atenta às iniciativas de índole criativa, mostrou-se interessada na banda. O auge do início de
carreira seria atingido com um espectáculo
para cerca de 800 pessoas na Aula Magna
da Universidade de Lisboa.
Ana Bacalhau diz que este concerto
foi «crucial» para o desenvolvimento dos
Lupanar. «Nunca poderíamos suportar
sozinhos todos os custos financeiros, logísticos e humanos que fazer um espectáculo
naquele espaço implica.» Apoio idêntico
tiveram, em 2005, para a edição de autor
do primeiro álbum da banda. Os Lupanar
angariaram outros financiamentos, mas
foi a associação de estudantes da FLUL a
assegurar o material promocional, como
postais e cartazes.
O papel das associações Os Lupanar consti-
tuem um bom exemplo de como uma banda
estudantil, com um ou mais membros a frequentarem o ensino superior, pode singrar
nos circuitos comerciais da música optando, numa primeira etapa, pela divulgação
académica e pelos apoios universitários.
Surgem então as questões: como se procuram estes apoios e quem pode ajudar?
Para Pedro Barros, dirigente associativo
da FLUL entre 1994 e 1997, não poderá ser
uma AE a assumir o apadrinhamento das
bandas, o que acabaria por resultar numa
pré-definição estética dos grupos ou na criação de «boybands ou girlbands». No entanto,
sublinha o papel fundamental da estrutura
universitária para acolher projectos e iniciativas musicais. Nesse sentido, é essencial as
bandas entregarem nas AE um «dossier de
apresentação do grupo», onde deve constar uma maquete. «Acima de tudo, o que
vai seduzir é o projecto musical», afirma. É
importante também incluir «uma biografia
Deolinda| A primeira banda de Ana Bacalhau nasceu na universidade
Pedro Barros. Outros aspectos que fazem a
diferença são «a linha gráfica da maquete e
um bom texto de apresentação da banda».
E os contactos com a imprensa. As bandas
devem também estar a par «do fecho das
agendas dos jornais para anunciar os con-
dibilidade». Assim, no portfólio da banda
«devem constar dados simples, como o
número de membros, há quanto tempo se
juntaram, que instrumentos usam, descrevendo o tipo de música e a quem pode interessar, anexando também um historial de
aulamagna 12
concertos». Tiago Veríssimo afirma já ter
uma considerável experiência no contacto
com músicos, mas num circuito comercial
exterior à universidade. Conclui que, com
uma abordagem informada por parte da
banda, os responsáveis pelos espaços «ficam quase obrigados a aceitar os pedidos
que forem feitos».
A atitude das bandas Agora jornalista na
Agência Lusa, Filipe Pedro colaborou activamente na revista estudantil Subcave,
onde se empenhou na divulgação de bandas portuguesas em início de carreira. Recordando o caso dos Ornatos Violeta, «que
viviam todos juntos quando se formaram»,
e dos Zen, «que surgiram de jam sessions
ocasionais e de uma mescla de diferentes
bandas», sublinha a importância do convívio universitário. «É necessário criar
uma rede de contactos e uma componente
intelectual que seja comum aos membros
da banda», afirma. No entanto, para obter
apoios, as bandas devem «ter objectivos
bem delineados» quando procuram a ajuda
da sua universidade e «saberem que tipo de
apoios precisam e o que pretendem conseguir através deles». «Para cada fase de desenvolvimento da banda corresponde um
tipo de apoio diferente», lembra.
Mas nem todo o trabalho de promoção
deve ser feito pelos músicos. Da sua experiência, Pedro Barros pode afirmar que «não
há uma política de incentivo» por parte das
as bandas devem
«ter objectivos
bem delineados»
quando procuram
a ajuda da sua
universidade e
«saberem que
tipo de apoios
precisam»,
diz Filipe Pedro
entidades soberanas do meio universitário.
Aquilo que há são «as festas do caloiro e
semanas culturais.» Destaca a necessidade das próprias associações de estudantes
«olharem para o que está à sua volta, saírem mais à noite e procurarem projectos
interessantes que possam ser integrados
em espectáculos organizados pelas faculdades». Considera «inacreditável» que,
por exemplo, a Associação Académica da
Universidade de Lisboa tenha convidado
novamente Quim Barreiros para a festa
do caloiro deste ano, quando há projectos
mais pequenos mas de qualidade superior.
«Pegar em coisas interessantes feitas pelos
alunos das universidades» é o que propõe
para uma melhoria da programação desses concertos. Ana Bacalhau completa a
questão com um incentivo aos leitores: «Se
não existir uma iniciativa clara das vossas
associações de estudantes no sentido da
promoção de acções culturais, que as proponham os músicos, as bandas, os fãs».
Todo o processo de obtenção de apoios
pode revelar-se complicado, e por vezes até
frustrante. Como Tiago Veríssimo explica,
um dos factores negativos é o Orçamento
de Estado, que torna quase impossível um
maior investimento nas actividades culturais: «Não há dinheiro nem para o material
necessário para as aulas». Hugo Barros, produtor freelancer e habitué na produção de
concertos na Aula Magna da Universidade
de Lisboa, completa o cenário menos propício: «Nas AE há um processo burocrático
pesado, e as poucas pessoas que dela fazem
parte têm de passar o tempo todo a tentar
segurar a própria estrutura». No entanto,
há todo um trabalho de promoção interna, incluindo a tarefa incansável que Pedro
Barros denomina de «bater a todas as portas», que a banda deve desenvolver e que, tal
como sucedeu com os Lupanar, pode abrir
caminhos auspiciosos. E é de bom grado
que Ana Bacalhau se lembra dos incentivos
prestados pela FLUL aos Lupanar, que se
revelaram «essenciais», «quer em termos
logísticos, como em termos de promoção e
do boca-a-boca». Revela-se então essencial
uma vontade inabalável das bandas para
se auto-promoverem, até porque alguns
apoios são realmente possíveis. Filipe Pedro
concorda que todo o processo de obtenção
de apoios universitários «não é uma batalha fácil», mas que é fundamental as bandas
«acreditarem» em si mesmas. E acrescenta:
«Só assim é possível dar o salto».
laboratório
Ricardo Araújo Pereira
De regresso às aulas
Diz que nunca escreverá um romance, embora admita que
a Literatura sempre o fascinou. Por isso, dez anos depois da
licenciatura, inscreveu-se num mestrado
aulamagna 14
texto Luís Ricardo Duarte, fotografias José Miguel Soares
Parece que foi de propósito. Um momento
à Gato Fedorento precisamente antes da
entrevista ao Ricardo Araújo Pereira. Dez
da manhã, no café do costume. Uma senhora bem composta, com ar de avó, senta-se
na mesa ao lado. Traz um livro meio lido
debaixo do braço. Com calma, abre o romance e, quando o empregado chega, pede
«Dois rissóis e uma míni...» Mais tarde, o
espectáculo continua. Depois de pousar o
matinal manjar, o empregado diz-lhe: «Já
lhe trago a cervejinha...».
Está bom de ver que facilmente se faria um
sketch do Gato Fedorento com este episódio. Até porque, como me dirá Ricardo
Araújo Pereira, é nos «contrastes» que se
encontra a chave de uma boa piada. Mas
não falámos só de humor. Depois de uma
licenciatura em Comunicação Social, na
Universidade Católica, ele está de regresso às aulas. Passados dez anos, inscreveuse no mestrado em Teoria da Literatura,
na Faculdade de Letras da Universidade
de Lisboa.
Quisemos saber como é a sua vida de estudante, quais os seus planos para a tese,
como vê o Ensino Superior hoje em dia,
o que há de científico nos sketches que
escreve e representa. Pelo meio, houve referências à Bíblia, Umberto Eco,
Shakespeare, Nietzsche, Eça de Queirós,
Aristóteles, David Lodge, Woody Allen
e Flaubert. É que, a brincar a brincar,
Ricardo Araújo Pereira sabe do assunto.
E muito a sério.
Qual foi o objectivo do teu regresso à
universidade?
Fazer o que sempre quis. Se tivesse podido
escolher sem constrangimentos, quando
acabei o 12.º ano, teria seguido Literatura.
Mas os meus pais acharam que não tinha
saídas profissionais, que não se ganhava
dinheiro a escrever, que jornalismo era
melhor. Vê-se mesmo que não percebem
nada do mercado de trabalho. Não há jantar de família em que não lhes recorde isso
amargamente. Depois de velho, vim tentar
recuperar esse projecto.
Um investimento pessoal nessa área,
como autodidacta, não era suficiente?
Com o mestrado posso continuar a fazêlo. Compro e leio tudo o que me apetece,
mas ter uma orientação, ainda por cima a
este nível, é muito importante. É óptimo
ter Miguel Tamen ou António Feijó como
professores, uma grande mais-valia.
Como está a ser a experiência de voltar
às aulas?
Simpática. Sempre gostei de estudar.
Entretanto, tive uma experiência fugaz na
Universidade Nova de Lisboa. Inscrevi-me
na licenciatura de Estudos Portugueses [na
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas],
mas por falta de tempo só fiz duas cadeiras. Agora que tivemos a inteligência de
assinar um contrato [com a SIC] em que a
carga horária é mais leve, fiquei com tempo para este tipo de coisas.
Além disso, uma
pessoa com 18 anos
não está preparada
para a universidade.
Eu, pelo menos,
não estava.
Aos 18 anos é-se
uma besta. Não se
está minimamente
interessado em
aprender. Agora,
tenho outra vontade
Encontraste muitas diferenças no ensino superior, passados dez anos?
No mestrado é tudo diferente. A própria
sala, enquanto espaço físico, muda (estamos todos à volta de uma mesa) e não há
exactamente uma matéria que se vá percorrendo ao longo das aulas. Na Universidade
Católica o curso de Comunicação Social
estava a começar. Por essa razão ou por
outras, era uma grande balbúrdia, com cadeiras canceladas, outras que fazíamos por
cancelar porque não tinham interesse al-
gum. Além disso, uma pessoa com 18 anos
não está preparada para a universidade.
Eu, pelo menos, não estava.
Porquê?
Aos 18 anos é-se uma besta. Não se está
minimamente interessado em aprender.
Agora, tenho outra vontade.
Hoje levas-te mais a sério?
Talvez menos ainda... Se calhar esse é o problema quando se tem 18 anos, em que tudo
tem uma enorme importância. Hoje, tenho
uma perspectiva diferente sobre o assunto.
Mas não quero estar a fazer a rábula do tipo
que envelheceu e ficou mais maduro. No
meu caso, aos 18 anos era uma besta.
Sentiste diferenças entre o ensino público e privado?
Não muito. Na Católica foi diferente, mas
provavelmente porque o curso estava no
início. Suponho que os cursos de Direito e
de Economia sejam exigentes e estimulantes como noutras faculdades, admitindo
que esses cursos possam ser estimulantes.
Por isso, não tenho nada contra a Católica.
A biblioteca, por exemplo, era bastante
boa e permitia o acesso directo às estantes,
como o Umberto Eco defende. Também
fiz o curso todo sem grande interesse pelo
jornalismo e pelo fenómeno da comunicação em geral. Aproveitei todas as hipóteses
que tinha para escolher opções relacionadas com os meus gostos pessoais. Foi assim que fiz Literatura Brasileira ou Cultura
Clássica, por exemplo.
Como é a tua vida de estudante?
Igual às dos outros, imagino. O mestrado
ainda vai muito no início, mas apresentome aqui à hora marcada e vou-me embora
quando a aula acaba.
E acompanhas a vida académica?
Referes-te a quê?
Lutas estudantis, tunas, jornais, esplanadas...
aulamagna 15
Nada. Só venho aqui pela razão por que
isto foi criado. Não tenho interesse em
mais nada. Por exemplo, praxes... coisa
linda, não é?
Nem pelas associações de estudantes?
Não, embora tenha sido presidente de uma.
Mas na Católica aquilo tinha outra piada.
Dava para passar o tempo e para chatear algumas pessoas. Foi divertido fazer uma associação de extrema-esquerda. Uma vez organizámos um conjunto de colóquios, com
Francisco Louçã e Al Berto, entre outros.
Quando pedimos uma sala deram-nos uma
das melhores, na Biblioteca João Paulo II,
visível de todos os pontos da faculdade. No
entanto, assim que afixámos o cartaz com
os oradores, fomos remetidos para uma
subcave impossível de encontrar.
A graça que o humor tem
Alguns sketches do Gato Fedorento
brincam com a ideia de professor e
aluno. É um universo potencialmente
engraçado?
Muito. A ideia de haver um tipo a falar
para vários que estão a ouvir é divertida
de corromper. Exemplos: se o professor
não for assim tão admirável, se os alunos
tiverem menos capacidade para aprender
ou se tiverem outros interesses. Lembrome de um sketch sobre um professor que
vai apresentar um poema, mas como é
particularmente difícil pede ajuda a outro
professor que é homossexual. Depois, faz
o outing dele à frente dos alunos. O sketch
sobre o curso de literatura para porteiras
tinha o mesmo espírito. A ideia surgiu a
partir de uma frase de David Lodge, segundo a qual a Literatura é coscuvilhice
para intelectuais. Daí ao curso sobre a
Madame Bovary foi um passo.
Na universidade ainda há os formalismos, os senhores professores, senhores
mestres, senhores doutores, senhores
catedráticos, jubilados, honorários…
Pois. Talvez seja uma coisa muito portuguesa, como toda a gente diz. Mas é divertido, um gajo que é só professor, ou
professor doutor por extenso, ou prof. não
sei o quê. Essas nuances às quais se presta
atenção são muito giras.
O humor do Gato Fedorento tem muito de investigação social e linguística.
Achas que dava uma tese de qualquer
coisa?
Ficaria muito surpreendido se alguém
pretendesse estudar as nossas fantochadas.
Mas por acaso vai haver uma tese em que
seremos objecto ou caso de estudo.
A ideia de haver
um tipo a falar
para vários que
estão a ouvir é
divertida
de corromper
Mas reconheces essa dimensão de estudo de comportamentos e de tiques
de linguagem?
Não diria estudo, porque parece que estamos a fazer uma tese em forma de programa humorístico. Há um lado infantil
em nós que faz com que reparemos em
duas ou três coisas que as pessoas adul-
tas não estão vocacionadas para reparar.
Acontece-nos muitas vezes uma criança
fazer uma pergunta que nos confronta
com algo que vimos durante anos e anos
mas em relação à qual nunca tínhamos
pensado daquela maneira. Basicamente, o
nosso trabalho é fazer esse tipo de perguntas e observações.
Como se estivéssemos a ver as coisas
pela primeira vez?
Exactamente. Temos, no dia-a-dia, o
olhar calejado. Estamos fartos de ver
determinada coisa a acontecer e por
isso deixamos de a questionar. No Gato
Fedorento, procuramos ver as coisas pelo
olhar de uma criança ou de um extraterrestre. Isso ajuda a manter uma imaturidade bastante grande, o que, por sua vez,
prejudica muito o relacionamento com o
sexo feminino...
Vês-te a dar aulas sobre humor?
Já dei umas aulas de escrita humorística.
Tem um lado divertido e outro enfadonho.
Enfadonho porque a conversa sobre humor normalmente não tem graça nenhuma. E retira graça ao que antes achávamos
graça.
aulamagna 16
Então onde está a graça?
Em fingir que o que dizemos para ter graça
está a ser inventado na altura. A simulação
Temos, no dia-a-dia,
o olhar calejado.
Estamos fartos
de ver determinada
coisa a acontecer
e por isso deixamos
de a questionar.
No Gato Fedorento,
procuramos ver
as coisas pelo
olhar de uma
criança
ou de um
extraterrestre
da espontaneidade é provavelmente um
dos elementos mais importantes nisto de
fazer rir. Mas não passa de uma simulação.
Woody Allen diz que nunca improvisa
quando está em palco, porque as pessoas pagam para o ver. Só improvisa quando está a escrever. Conta dez piadas para
chegar a duas que são boas. Com o Gato
Fedorento passa-se o mesmo.
É a dimensão escrita do humor que
mais te interessa?
Sim. Porque depois é preciso um actor – e
essa é a parte para a qual temos pouco jeito
– para fingir que aquilo está a ser inventado no momento.
O riso e a morte
São as relações entre o riso e a morte que
mais interessam a Ricardo Araújo Pereira.
E até podem vir a ser o tema da sua tese
de mestrado, embora não queira dar muitas garantias, sabendo as voltas que a vida
dá. Certo é que, dentro desta área, já tem
muitas leituras feitas, que lhe apontam
para um preconceito histórico face ao riso
e para uma íntima proximidade com a
consciência da morte. Falta, caso a ideia
avance, circunscrever o projecto, porque a
empreitada é interminável. Mas qualquer
que seja o resultado final, Ricardo Araújo
Pereira já parece ter acertado na epígrafe,
que retirará do Hamlet, de Shakespeare.
É uma fala do príncipe da Dinamarca,
quando este se encontra no cemitério, junto à cova que está a ser criada para Ofélia.
Quando vê a caveira de Yorick, o bobo da
corte, com quem tanto brincara, Hamlet
afirma: «Diz as coisas que tu dizias antes,
que faziam rir uma mesa inteira. Vai ter
com a minha senhora e diz-lhe que, por
muita maquilhagem que ponha na cara,
vai acabar por ficar como tu estás agora.
Fá-la rir disso.»
Gostavas de fazer uma tese de mestrado sobre as relações entre o riso e
a literatura?
Sim, sobretudo sobre as relações entre o
riso e a morte. Aristóteles defende que o
Homem é o único animal que se ri. Muitos
outros cientistas e antropólogos subscreveram esta teoria. Ao mesmo tempo, somos o único animal que tem consciência
da morte. Não sei se as duas coisas não estarão relacionadas, como apontam alguns
escritos de Nietzsche, que fala sobre a melancolia e o riso.
O riso é um fenómeno interessante de
se estudar?
Em muitos sentidos. O riso nunca teve
um prestígio muito grande, mesmo hoje
em dia, o que é paradoxal, já que um argumentista que escreve textos humorísticos
para televisão ganha muito mais do que
qualquer outro. Incomparavelmente mais,
pelo menos em Portugal. Historicamente
também comprovamos essa tendência. O
riso nunca recebeu muita consideração.
Uma pessoa que se ri não é séria, nas várias acepções da palavra, não só no sentido de não ser circunspecta, mas também
de não ser honesta e digna de confiança.
As gargalhadas são mais diabólicas do
que divinas?
Justamente. É suposto que Deus não tenha
rido. Pelo menos nos evangelhos canónicos, Jesus Cristo chora várias vezes, mas
nunca ri. No Génesis, há dois ou três momentos de riso mas também há margem
para interpretar a reacção de Deus ao riso
como má (embora admita que se possa entender o contrário). Mas tradicionalmente
foi interpretado dessa forma. Um dos momentos é Sara, mulher de Abraão, que se ri
quando Deus lhe diz que vai ser mãe. Aos
99 anos. Quando a Virgem Maria recebe
a notícia que vai ser mãe, mesmo sabendo que nunca teve relações sexuais, não se
ri. E o modelo de fé sempre foi a Virgem
Maria, e não Sara, que questiona o poder
de Deus.
A minha vida
é escrever, mas
não literatura.
Escrevo crónicas
e textos
humorísticos.
Mais do que isso
não creio que
tenha competência
Hoje fui tomar o pequeno-almoço a um
café. Sentou-se ao meu lado uma senhora toda bem-posta e pediu dois rissóis
e uma míni. Isto dava um sketch?
Uma mini logo de manhã? Epá, isso é muito bom.
O humor nasce assim?
Claro. O contraste é uma das ferramentas
fundamentais, exactamente como descreveste. Imagina que era um trolha a beber
uma míni, ou uma senhora muito bemposta a beber chá? Ninguém acharia piada.
Uma senhora a beber uma míni tem graça,
tal com um trolha a beber chá e biscoitos.
Indícios literários
Isso é uma pergunta complicada... Sempre
tive interesse na Literatura. Passei a infância na casa da minha avó, que sabia
ler muito mal e escrever pior ainda. Lá
em casa havia uns livros do meu tio, incluindo os contos de Eça de Queirós. De
vez em quando lia alguns para a minha
avó. Um deles, A Aia, narra a história de
um reino e de uns bandidos que querem
raptar o príncipe. Ao longo do conto, Eça
vai dando a entender o que vai acontecer.
À medida que eu ia lendo, a minha avó,
que nem a quarta classe tinha, percebia
que estava ali um indício, que qualquer
coisa ia correr mal. Para mim era divertido perceber como uma coisa sofisticada,
como é a Literatura, ainda assim, conseguia fazer-se entender a uma pessoa sem
instrução.
Atingir uma certa universalidade?
Sim. Depois há outra questão. Sem querer
fazer psicanálise, não sou uma pessoa especialmente terna, no sentido em que não
consigo comunicar muito bem fisicamente. Não sou uma pessoa carinhosa, com os
gestos não vou lá. É algo que me preocupa
desde que sou pai.
A tua linguagem não verbal é pouco expressiva?
É isso, não sou competente na linguagem
não verbal. Mas a linguagem verbal sempre me interessou imenso. Por exemplo,
mesa. É uma palavra que não tem nada a
ver com o objecto a que se refere, é uma
absoluta convenção. Eu digo mesa, tu ou-
aulamagna 17
Qual o teu interesse na Literatura?
ves mesa, eu estou a pensar numa mesa,
tu estás a pensar noutra, mas o certo é que
nos entendemos com essas quatro letras
juntas. São mecanismos de linguagem que
sempre me fascinaram. Ou o modo como
a poesia, que é racional porque se baseia
nas convenções das palavras, consegue ser
ao mesmo tempo irracional.
Com essas preocupações literárias,
podemos esperar um romance teu?
Eu próprio escrever? Duvido muito. A
minha vida é escrever, mas não literatura.
Escrevo crónicas e textos humorísticos.
Mais do que isso não creio que tenha competência.
Este mestrado não é uma forma de perceber melhor o interior da Literatura?
É obviamente uma maneira de saber mais,
É suposto que
Deus não tenha
rido. Pelo menos
nos evangelhos
canónicos, Jesus
Cristo chora
várias vezes,
mas nunca ri
mas não necessariamente para perceber
como se escreve um romance. Nem sei se
é esse o caminho.
Escreveres um romance pode ser uma
piada de mau gosto?
Pois pode. Pode ser uma péssima piada.
Prefiro ter graça quando pretendo tê-la.
Não é tão giro quando as pessoas se riem
de nós sem querermos.
PÁTIO.FESTAS
FEP Street e Baconal
20 de Novembro - discoteca Vougue
DIOGO SANTOS
Mário Lourenço
P. da AE da ES de Tec da Saúde do IP-Porto
Não perde uma. Por mais festas
que tenha no currículo, nada se
compara à FEP Street, que anima
a semana de recepção ao caloiro
da AE da Faculdade de Economia
da Universidade do Porto (UP). «É
uma festa que chama muita gente,
tem boa música e um óptimo ambiente», assegura Mário Lourenço.
Este ano, a FEP Street realizou-se
na discoteca Via Rápida, com música a cargo da dupla Funkyou2 e
«Nada se
compara à
FEP Street, que
anima a semana
de recepção ao
caloiro da AE
da Faculdade
de Economia da
Universidade
do Porto»
dos Dj Luís Santos e Nuno Beleza.
«Imperdível», garante. Mário
Lourenço também não falta às
festas que organiza, enquanto presidente da AE da Escola Superior
de Tecnologia da Saúde do Instituto Politécnico do Porto. E não
vai faltar, dia 20 de Novembro, a
mais uma edição da All You Need
is Vougue. Mas, a norte, a oferta é
grande. E o cardápio de festas não
ficaria completo, diz, sem uma
referência à Baconal, a festa da
Faculdade de Medicina da UP. É
remédio santo.
As noites do GANK
26 de Novembro - FCT UNL
«Muita música,
bar aberto ou
happy hours e
temas sempre
diferentes. São
as «famosas»
noites
académicas da
FCT»
Carlos João e Carolina Costa
Membros da AE FCT
Às quartas-feiras, de 15 em 15 dias.
O ritual repete-se na Faculdade
de Ciências e Tecnologia da
Universidade Nova de Lisboa (FCT
UNL). Carlos João e Carolina Costa
marcam presença sempre que podem. Muita música, bar aberto ou
happy hours e temas sempre diferentes. São as «famosas» noites académicas organizadas pelo Grupo
Académico Nús Koppus, conhecido
por GANK. Não terão seguramente
o glamour de outros espaços, nem
a promoção de outras iniciativas,
como a Gala Anual da AE da FCT
UNL, no Buddha Bar, em Lisboa.
Mas a sua regularidade cativa muitos adeptos, garantem Carlos João e
Carolina Costa. E a «originalidade»
também. No 29.º aniversário da AE
FCT UNL, assinalado no passado
dia 12, houve um pouco de tudo.
Magusto à tarde, porco no espeto ao cair do dia, promoções para
quem foi trajado e música pela noite
dentro. A última, antes das férias do
Natal, é dia 26 de Novembro.
No convento de Belas Artes
FILIPA LOURENÇO
André Martins
F-Belas Artes da U-Lisboa
Soaram aleluias quando o Conselho
Directivo da Faculdade de Belas
Artes de Lisboa voltou atrás na decisão de suspender as festas dentro
do edifício. É que não há festa como
esta, garante André Martins. «Como
a faculdade fica num antigo convento, é um espaço diferente, que fica
espectacular com o jogo de luzes e
com a amplificação natural do som»,
descreve. Numa das últimas, que decorreu nos corredores, até houve ví-
«O toque
artístico é uma
das imagens
de marca das
noites de Belas
Artes»
deo no tecto. O toque artístico é uma
das imagens de marca das noites de
Belas Artes. «A música não é a martelo», afirma, lembrando algumas
sessões mais alternativas. Depois, é o
carnaval que se repete sempre que os
estudantes querem. Recentemente,
houve uma festa dedicada aos anos
80 e outra sobre as personagens dos
filmes do Tarantino. À lei da bala, ou
ao ritmo da série B, a ficção invadiu
a realidade. «As pessoas mascaradas vêm com outro espírito», atira
André Martins. «Sentem-se mais à
vontade».
aulamagna 19
DIOGO SANTOS
PÁTIO.DESPORTO
Esgrima
Pouca esgrima
nas academias
A vida não está fácil para um estudante do ensino superior
que se queria iniciar na esgrima. Com excepção de Lisboa, a
modalidade está ausente da oferta de desporto académico e
concentrada em clubes.
aulamagna 20
texto João Pedro Barros
Os clubes são os locais de eleição para a
prática da esgrima em Portugal. Numa
ronda efectuada entre as principais
academias do país, a Aula Magna
apenas conseguiu encontrar aulas da
modalidade em Lisboa, na Escola de
Desportos de Combate, que funciona
no Estádio Universitário. «Somos uma
espécie de ilha, porque a esgrima que se
faz em Portugal é de clubes», reconhece
André Escobar, professor no Estádio
Universitário de Lisboa. No entanto, esta
é uma esgrima «de lazer» e não filiada, já
que o Centro Desportivo Universitário de
Lisboa (CDUL) abandonou a sua prática,
apesar do largo historial na modalidade.
Na Associação Académica de Coimbra,
também já não há esgrima, há cerca de
dez anos. Nem o facto de o primeiroministro José Sócrates ter sido atirador
da instituição, entre 1975 e 1980, salvou a
secção.
«Já nem sequer existe uma competição
universitária», nota Joaquim Videira, o
melhor esgrimista português no ranking
internacional (35.º lugar), que esteve
presente nos Jogos Olímpicos de Pequim.
O facto pode parecer pouco relevante a
quem apenas procura uma actividade
física salutar, mas é representativo da
pouca aposta na esgrima ao nível do
ensino superior. André Couto, presidente
da Federação Académica do Desporto
Universitário, reconhece mesmo que o
Evento Nacional Universitário de Esgrima
(uma espécie de campeonato oficioso),
previsto para o dia 18 de Abril de 2009,
«não teve instituições interessadas na sua
organização».
Fora de Lisboa, a situação torna-se
ainda mais difícil e os clubes são a única
opção. Enquanto estudou e treinou no
«A esgrima que se
faz em Portugal é
de clubes», reconhece
André Escobar,
professor no Estádio
Universitário
de Lisboa
Porto, entre 2005 e 2007, Joaquim Videira
tentou «iniciar um projecto», que poderia
ter sido desenvolvido em torno do Centro
Desportivo Universitário do Porto, mas
não teve sucesso. Consultando a lista de
salas de armas da Federação Portuguesa
de Esgrima (disponível no sítio www.
fpe.pt/~fpept/SGC/index.php/fpe_site/
salas_de_armas), é possível verificar
a concentração em torno das grandes
cidades.
Quanto custa começar? A esgrima tem fama
Nem o facto do
primeiro-ministro
José Sócrates ter
sido atirador
da Associação
Académica de
Coimbra salvou
a esgrima
de ser um desporto caro, mas André Escobar rejeita essa ideia. Em primeiro lugar,
porque na maioria das instituições o material pode ser emprestado «até um máximo
de um ano, se for preciso». Depois, para
começar basta «um fato de treino, ténis e
boa disposição». Para disputar provas nacionais, o professor estima que seja necessário gastar «cerca de 500 ou 600 euros em
equipamento».
E o preço das aulas? No Estádio
Universitário de Lisboa, as condições
são mais favoráveis para os estudantes,
que pagam 17,5 euros mensais por duas
aulas por semana e 22 euros por três aulas
semanais, para além de uma inscrição no
valor de 25 euros. Os outros utentes têm
de despender consideravelmente mais
dinheiro, o que também é a situação mais
usual nos clubes.
BAR
Direito a
votar
aulamagna 30
Golgona Anghel
encontrar-te-ás sozinho à porta do delírio,
terás os cognomes da espera e o direito a votar,
comprarei um passe para visitar o museu das tuas obsessões,
saberás fazer-me voltar a horários fixos,
tirarei notas de rodapé com pormenores complicados e referências exaustivas,
farei esboços dos teus sorrisos,
apunhalar-me-ás com ideias universais e alegres
a caminho das coisas particulares e tristes,
sangrarei adjectivos ao modo superlativo, formas retóricas imprecativas
e estruturas paralelísticas,
deixarei as veias dos cárpatos abertas até encherem a tua piscina,
chamarás o segurança e dirás: isto não é hollywood, babe!,
aqui ninguém se suicida com uma overdose de felicidade,
não temos rottweilers a vigiar o sono das crias,
nem personal shopper para tratar as depressões,
terei o tamanho das minhas cicatrizes e as pestanas a fazer tim-tim-tim,
terás fome de mim,
prender-me-ás à cama como nos abraçámos às nossas ilusões,
subirei àquele comboio chamado desejo,
gritarás o meu nome de boca virada para a estação do prazer,
confundir-me-ás com as outras,
serei as outras nesse flutuar branco e veloz,
declinar-te-ei nas conjugações do passado,
desprezarás os volumes que imitam o contorno do meu corpo,
arrumarás num canto do mapa as ruas que levam a nós,
colocarás cartazes em cima dos destroços
enquanto um néon publicitário da boticário executará o papel do ocaso.
dois minutos antes de cair o pano, o director de som escolherá para o nosso fim
uma banda sonora na moda.

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