opinião - Revista Rogate

Transcrição

opinião - Revista Rogate
OPINIÃO
OPINIÃO
Natal tem que ser assim
E
stamos vivendo a expectativa de
mais um Natal, onde celebraremos
Deus-conosco, Emanuel, Jesus que
se revela um como nós, o humano no divino e vice-versa. O Tempo do Advento, bem
celebrado, com suas quatro semanas, vai
criando um clima todo especial. Famílias
apressam-se em montar os presépios, alguns antigos, guardados desde o tempo dos
avós, ou até dos bisavós, outros mais modernos, recém comprados ou ganhados. O
comércio, mais apressado ainda, enfeita
seu ambiente interno e externo, com inúmeras luzes coloridas, sem esquecer da
figura de um velhinho com barba branca e
vestido de vermelho e branco, com roupa
de frio (em pleno início de verão). O cenário mexe com os sentimentos de todos:
adultos e crianças. Pais e mães recordam
o seu tempo de infância, as músicas, as alegrias do encontro familiar, os doces e guloseimas preparados com carinho; as crianças vão descobrindo que é um tempo diferente, prevalecendo o amor entre as pessoas, manifestado geralmente por troca de
presentes. É o Natal!
E poderia ser diferente?
Lembro-me de algumas músicas natalinas (quem não se lembra?), com belas
letras e melodias. Há uma, em especial,
que todo ano sai dos arquivos (para não
dizer da gaveta) e é veiculada na mídia:
“Hoje é um novo dia de um novo tempo,
que começou nesses novos dias. As alegrias serão de todos, é só querer. Todos os
nossos sonhos serão verdade, o futuro já
começou. Hoje a festa é sua, hoje a festa é
nossa, é de quem quiser, quem vier...”. Há
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uma outra, do meu tempo de criança, que
fazia parte de um comercial de uma empresa que nem sei se ainda existe. Crianças cantavam: “Natal tem que ser assim,
alegria em todos os corações; Natal tem
que ser feliz, muita festa, muitas emoções...”. E, ainda, uma que era cantada pelo
coral de minha paróquia, que começava
desta forma: “Sim, um anjo proclamou o
primeiro Natal a uns pobres pastores ao
céu de Belém. Lá nos campos a guardar os
rebanhos do mal, numa noite tão fria e escura também...”. Impossível não recordar
das músicas natalinas, destas e de tantas
outras, contendo belas mensagens.
E poderia ser diferente?
Afirmar que todo Natal é a mesma coisa tem um fundo de verdade. O clima, o
cenário, com suas músicas, presépios e
luzes, os sentimentos, as fórmulas e orações litúrgicas...
E poderia ser diferente?
Sim e não. Natal tem que ser assim,
com todos estes ingredientes, alguns mais
importantes do que outros, sem dúvida. No
entanto, em cada celebração do Natal devemos fazer algo diferente. Precisamos
aumentar nossos esforços para, de fato,
concretizar o Deus-conosco no dia a dia, isto
é, viver cada dia de nossa vida como se fosse o dia de Natal, quando Jesus nasce em
Belém, torna-se um humano e revela que
somos divinos. Sim, quanto mais humanos,
vivendo no amor, buscando a justiça, promovendo a paz, construindo comunidade,
mais divinos seremos. É Natal! Deus nasce em nossos corações...
Juarez Albino Destro
1
EDITORIAL
F
NESTA EDIÇÃO
eliz Natal e próspero ano novo! Certamente esta será a frase mais ouvida nestes próximos dias, ao nos
aproximarmos da festa do nascimento de
Jesus. Poderia ser diferente? Na seção inicial da revista há uma reflexão sobre esta
pergunta (cf. “Opinião”).
Esta edição traz, ainda, uma bela entrevista com o Pe. José Bortolini, religioso
da Sociedade de São Paulo, que aborda temas relacionados ao Ano Paulino, iniciado em junho último. Destaca, também, o
25° Encontro Rogate e o lançamento do primeiro desenho animado do Triguito (cf.
“Especial”).
Por ser a última edição do ano, como já
vem fazendo costumeiramente, a Rogate
apresenta os seus temas publicados, com a
indicação dos títulos, respectivos autores,
seções e páginas. Um bom índice que tem
por objetivo facilitar possíveis pesquisas.
A equipe Rogate agradece a sua companhia e colaboração em mais este ano, desejando um ótimo Natal e um novo ano
repleto de realizações, com muito ânimo no
serviço vocacional. E espera poder continuar contando com sua parceria em 2009.
Poderia ser diferente? Não. Nosso objetivo
é continuar servindo da melhor forma possível nesta área vocacional...
Entrevista
O despertar vocacional de Paulo
Estudo
Autoridade e obediência
Lançada em maio de 1982, a revista Rogate tem
registro de matrícula em São Paulo, 01/10/87,
no Livro B de Matrículas do 1º Cartório de Registros de Títulos e Documentos, sob o nº
98.906, nos termos dos artigos 8º e 9º da Lei
Federal nº 5.250, de 1967. A revista é de propriedade dos Rogacionistas do Coração de Jesus, em colaboração com as revistas: Rogate
Ergo e MondoVoc (ltália), Vocations and
Prayer (EUA) e Rogate Ergo (Filipinas).
2
Os artigos assinados não expressam,
necessariamente, a opinião da Revista
10
Especial
25° Encontro Rogate
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Animação Vocacional
Francisco e o leproso
15
Informação
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Mística da Vocação
Há vocação fora da Igreja?
20
Especial
Índice Remissivo 2008
21
ENCARTES
A Turma do Triguito
Celebração Vocacional
Epifania e vocação
Capa: O nascimento de Jesus, celebrado no Natal e
simbolizado por tantos presépios espalhados no mundo inteiro (cf. “Opinião”).
DIRETOR DE REDAÇÃO
SEDE CENTRAL/CONTATOS
Juarez Albino Destro
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EDITOR
Ano XXVII - nº 268
Dezembro de 2008
03
Jefferson Silveira
COLABORADORES
Armando Del Mercato (capa), Geraldo Tadeu
Furtado, Osmar Koxne (Triguito),
Patrício Sciadini e Vito Domenico Curci
CONSELHO EDITORIAL
Izabel Bitencourt Pereira, Dárcio Alves da
Silva, Dilson Brito Rocha, Maria da Cruz
Santos, Cláudio Feres e Therezinha Brito Feres
JORNALISTA RESPONSÁVEL
Ângelo Ademir Mezzari - Mtb 21.175 DRT/SP
IMPRESSÃO
Gráfica e Editora Linarth Ltda - Curitiba (PR)
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Nacional: 40 reais (10 edições ao ano)
Exterior: África, Ásia e Oceania - 50 dólares
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Europa - 50 euros
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83.660.225/0004-44). Neste caso, enviar o
comprovante por fax, correio ou e-mail, com
nome e endereço completos.
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ENTREVISTA
ENTREVISTA
Fotos: Arquivo pessoal
O despertar vocacional de Paulo
Em entrevista para a Rogate,
Pe. José Bortolini destaca
o itinerário percorrido pelo
apóstolo Paulo e apresenta
diversos ensinamentos deste
santo da Igreja, que continuam
extremamente atuais
D
esde criança José Bortolini sonhava em ser padre, médico ou mili
tar. Até que pelos idos de 1960, no
pequeno distrito de Faria Lemos, em Bento
Gonçalves (RS), onde nasceu, um jovem
sacerdote paulino, Pe. José Dias, visitou a
localidade em busca de possíveis vocacionados. A mãe de José Bortolini indicou o
nome do filho. No ano seguinte lá estava o
Pe. Dias decidido a levá-lo ao seminário
da congregação. Bortolini completara 11
anos e poderia ter ingressado no seminário menor da diocese de Caxias do Sul (RS),
afinal o vigário de sua paróquia, no primeiro sábado do mês, reunia os meninos que
pretendiam ir para o seminário e lhes dava
uma pré-formação. Porém, como o próprio
Bortolini lembra, “a rede se rompeu e escapamos. Acabei sendo encaminhado aos
paulinos, sem conhecê-los”. Hoje, Pe. José
Bortolini reconhece: “Sem desmerecer os
diocesanos, graças a Deus me senti muito
a vontade na congregação e pude exercer
meus dotes de escritor e de comunicador”.
Aos 56 anos de idade, sendo 35 como reli-
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gioso e 31 de ministério ordenado, Pe.
Bortolini é mestre em Sagrada Escritura
pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma,
Itália. Elaborou muitos cursos, escreveu
diversos livros e tem inúmeros artigos publicados. É responsável pelas publicações
da área bíblica de Edições Paulinas e
Paulus. Durante vários anos foi redator
da revista Vida Pastoral, e seus roteiros
homiléticos continuam a ser fonte de inspiração de muitos ministros ordenados.
Pe. Bortolini tem uma dedicação especial
pelo estudo do apóstolo Paulo. E é sobre
este santo que a Rogate conversou com
o religioso.
Rogate: Conte-nos sobre o itinerário vocacional que o levou a ingressar na Pia Sociedade de São Paulo...
Pe. Bortolini: Penso que nas neblinas
da estrada da vida, Deus me conduziu no
caminho certo. Foram 14 anos de formação. Não quer dizer que eu não tivesse
dúvidas, o que ocorreu até as vésperas da
minha ordenação. Isso acontece porque a
3
ENTREVISTA
gente confia pouco em Deus e teme muito
as próprias limitações. Porém Deus confia
nas potencialidades das pessoas e não leva
em conta as suas limitações. Deus vê de
um modo diferente. Eu dizia: ‘será que
consigo, pois sou uma pessoa limitada’. E
Deus pensava: ‘ele vai conseguir, apesar
dos limites’. É o caminho vocacional de
toda pessoa. Os grandes personagens da
Bíblia também colocavam em primeiro plano as próprias limitações, casos de Moisés,
Isaías, Jeremias. Acho que a certeza de
uma vocação vai sendo construída.
Rogate: Estamos celebrando o Ano
Paulino. Como religioso paulino, qual a importância deste apóstolo em sua vida?
Pe. Bortolini: São Paulo é quem dá o
nome à nossa congregação e à família
paulina, que é um complexo de congregações. Nosso fundador, Pe. Tiago Alberione,
afirmava explicitamente que São Paulo é
pai, modelo, exemplo, mestre e fundador
da família paulina. Por isso não nos chamamos de ‘alberionianos’. A espiritualidade de nossa congregação parte de Jesus
Mestre, Caminho, Verdade e Vida (Jo 14,6),
e, no dizer de Pe. Alberione, Paulo foi o
melhor discípulo, pois entendeu isso perfeitamente e o transmitiu.
Rogate: Paulo era jovem quando passou a seguir o projeto de Jesus, mas é possível que ele tenha se encontrado pessoalmente com “o messias” antes da morte e ressurreição do Cristo?
Pe. Bortolini: Não creio! Entretanto
Paulo afirma na Carta aos Gálatas (2,20):
‘Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que
vive em mim’. E na 1ª aos Coríntios (11,1):
‘Sejam meus imitadores como eu imito
Cristo’. O fato de conhecer é relativo. E
conhecer em que sentido? Físico? Na 2ª
4
aos Coríntios, capítulo 12, Paulo fala de
uma experiência mística de Jesus, explicando que foi arrebatado ao terceiro céu,
escutou palavras que não são permitidas
dizer em linguagem humana, isto é, uma
experiência transcendental que ele fez da
pessoa de Jesus Cristo.
Rogate: É o encontro de Damasco?
Pe. Bortolini: Paulo nunca fala da experiência de Damasco, mas são os Atos dos
Apóstolos que tocam neste assunto. Há
uma questão aberta: ‘será que tudo o que
Lucas diz de Paulo é verdadeiro, autêntico, ou se trata de um gênero literário?’ O
fundamental é que Paulo fez uma experiência de Jesus Cristo, experiência esta que
marcou sua vida.
Rogate: Neste caso, qual sua opinião sobre a conversão de Paulo?
Pe. Bortolini: Veja que chamamos erradamente, ao meu modo de ver, o episódio de Damasco como sendo a “conversão
de Paulo”, quando aquele é um texto vocacional. Rigorosamente ele não é um convertido. O Deus no qual Paulo acredita e
que anuncia é sempre o mesmo. O Deus
do Antigo Testamento, Javé. O que deve
ter acontecido com Paulo foi uma mudança radical no modo de ver Deus, as pessoas e o mundo. A questão fundamental é a
passagem do Paulo fariseu para o Paulo
cristão. Como fariseu, ele acreditava que
poderia manipular Deus pela prática do
bem e da justiça. O apóstolo fala, na carta
aos Filipenses (Fl 3,5), que do ponto de
vista da prática da lei ele era irrepreensível,
o estágio mais elevado ao qual um fariseu
poderia chegar. E os fariseus pensavam
que quando todos fossem irrepreensíveis
o Messias viria como prêmio. E o que Paulo descobre? Exatamente o contrário. Em
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ENTREVISTA
Romanos (Rm 5,8) ele diz que o ‘Filho de
Deus morreu e se entregou por nós quando ainda éramos pecadores’. Esse é o golpe fatal na espinha dorsal do fariseu, do
ponto de vista da sua teologia, da visão
de Deus.
Pe. Bortolini: Para falar neste aspecto é necessário retomar o episódio, que é
contado em três ocasiões nos Atos. Não é
um relato de conversão, mas do ponto de
vista literário é um relato vocacional, que
tem sempre os seguintes elementos: uma
aparição transcendente, uma reação de fraRogate: É o fim de Paulo fariseu...
queza por parte da pessoa, a visão transPe. Bortolini: Ele descobriu que não
cendente conforta, a visão transcendente
é o seu amor que obriga Deus a coisa alguconfia uma missão. É possível encontrar
ma. É dele que vem o amor primeiro e inisso no relato da vocação de outros persosuperável. ‘Éramos todos penagens bíblicos, como Moicadores, mas Jesus veio e deu
sés, Jeremias, Isaías, Maria.
a vida por nós, por puro amor
Veja o caso de Maria: aparece
Será que
de Deus’. Isto também é dito
o anjo, há uma reação de fratudo o que
em Gálatas (Gl 2,20). Houve
queza e incompreensão, o
Lucas diz
uma completa mudança na caanjo explica, conforta e conde Paulo,
beça de Paulo. E mais. Como
firma. Com Paulo acontece o
fariseu, Paulo tinha uma visão
mesmo esquema. Há uma luz,
nos Atos dos
separatista, segregacionista. A
Paulo cai, a voz que vem do
Apóstolos,
palavra fariseu significa sepacéu insiste para levantar e
é
verdadeiro,
rado. Os fariseus se consideentrar na cidade, depois há a
autêntico,
ravam os puros, enquanto os
confirmação de que ele é uma
ou se trata de
outros eram pecadores, afaspessoa escolhida para uma
tados de Deus e merecedores
missão específica diante dos
um gênero
da ira de Deus. É a questão do
pagãos, dos judeus e das auliterário?
puro e do impuro. O fariseu
toridades. São esquemas vovivia preocupado com a avalicacionais. Também devem ter
ação do que poderia tocar e
marcado este despertar de
comer. E Paulo diz que tudo é puro para
Paulo a experiência do martírio de Estequem é puro. Penso que essa é a chave da
vão e o exemplo cristão de fraternidade e
mudança que houve em Paulo, uma a muperdão de Ananias, líder da comunidade de
dança de mentalidade sobre Deus, as pesDamasco, que chama de irmão aquele que
soas, o mundo e as coisas. O fariseu via o
veio matá-lo.
mundo como lugar de perdição; Paulo cristão vê o mundo como um campo, uma seRogate: Esse despertar de Paulo contimeadura da palavra de Deus, como uma
nua sendo uma lição para nós hoje!
lavoura e um lugar para se construir o
Pe. Bortolini: Sem dúvida! Penso que
Reino de Deus.
para sermos missionários e anunciadores
da Palavra de Deus temos que ter em priRogate: Podemos afirmar que tenha
meiro lugar a experiência de Jesus na próocorrido um belo despertar vocacional em
pria vida. Como falar dele se nós não vivePaulo?
mos esta comunhão?
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ENTREVISTA
Rogate: Há quem diga que Paulo é o
fundador do cristianismo. O que acha?
Pe. Bortolini: É uma tese, sobretudo,
protestante, à qual eu não compartilho. O
fundador do cristianismo é Cristo, caso
contrário se chamaria paulinismo. O bonito é que Paulo levou a pessoa de Jesus
Cristo para fora da cultura e geografia judaica, tentando inculturar a pessoa de Jesus em um mundo cultural distinto, que
era o mundo greco-romano. Ao observar a
atividade de Jesus, percebe-se que ela se
restringia praticamente à Galiléia, que é
um espaço geográfico reduzidíssimo. Jesus tinha essencialmente a cultura judaica, enquanto Paulo era judeu, mas se movimentava no mundo greco-romano. Jesus
quase sempre se encontrou com judeus, e
assim seus discípulos são judeus. Paulo tinha companheiros judeus e não judeus. Por
isso, ao meu modo de ver, é errado pensar
que Paulo seria o fundador do cristianis-
mo. Para mim não há uma separação entre
Jesus e Paulo, mas uma seqüência.
Rogate: O fato é que o apóstolo Paulo
foi fundamental para a expansão do cristianismo...
Pe. Bortolini: Graças a Paulo que Jesus foi anunciado fora do território judaico. Se não fosse por ele, o cristianismo
talvez continuaria sendo um braço, um
ramo do judaísmo. No capítulo 20 dos Atos
dos Apóstolos se constata que os cristãos
de Jerusalém estavam umbilicalmente
unidos ao judaísmo, ao passo que Paulo,
por exemplo, nunca pregou para os pagãos
a ida ao Templo de Jerusalém para os sacrifícios e as celebrações. Porém, Jesus
tem a mesma importância tanto para os
judeus de Jerusalém como para os pagãos
com os quais Paulo convivia. Tanto que
alguns chegam a dizer que Paulo teria traído Jesus ao inculturá-lo no mundo grecoromano. Não se pode duvidar da fé que os cristãos
de Jerusalém tinham em
Jesus, mas eles continuavam ligados à circuncisão.
Paulo nega a necessidade
da circuncisão para ser
discípulo de Jesus. Esse é
o divisor de águas.
Rogate: Em seu artigo “Libertar Paulo” (revista Vida Pastoral, maio-junho de 2008), o senhor explica que Jesus viveu em
um contexto rural, enquanto Paulo era inserido
no contexto urbano. Como
essas diferentes culturas
influenciaram os primór“É errado pensar que Paulo seria o fundador do cristianismo. Para
mim não há uma separação entre Jesus e Paulo, mas uma seqüência” dios da Igreja?
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ENTREVISTA
Pe. Bortolini: É o tema da inculturação. No citado artigo falo dos quadros
referenciais do universo simbólico de Jesus, ligados à aldeia, ao campo, com seus
valores e paradigmas. Enquanto Paulo era
o homem das grandes cidades. Naquela
época havia cinco grandes metrópoles no
Império Romano: Roma, Corinto, Éfeso,
Antioquia (da Síria) e Alexandria (do Egito). Paulo esteve em quatro delas. Pelo que
se sabe, o apóstolo só não esteve em
Alexandria. A comunidade de Paulo não era
em Jerusalém, mas em Antioquia, da Síria,
de onde ele partia e retornava de suas viagens. De acordo com o livro dos Atos, capítulos 11 ao 13, esta era uma comunidade
aberta, internacional e multicultural.
Rogate: Em uma sociedade urbanizada
como a atual, Paulo tem muito a nos ensinar.
Pe. Bortolini: O desafio hoje é encontrar a linguagem própria para falar de Jesus em uma cultura urbana. Porque há crianças da cidade que não sabem o que é um
grão de trigo. Houve casos em que perguntei às crianças de onde vêm os ovos e
o leite e elas responderam que vêm da
geladeira. Certo amigo não acreditou quando lhe disse que a cebola, a beterraba, a
batata nasciam debaixo da terra. Paulo, em
sua linguagem e escritos, usava imagens
urbanas, ao passo que Jesus usava imagens
rurais, como as aves, as sementes, a rede
com os peixes, o pastor com suas ovelhas.
Como falar na periferia da cidade de São
Paulo, por exemplo, sobre o pastor e suas
ovelhas? Dificilmente as pessoas vão intuir
que se trata de um pequeno proprietário,
que possui algumas ovelhas, passa o dia
inteiro em pastagens onde elas se alimentam, caminha com elas em busca de fontes para beber e à noite coloca-as em um
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cercado. É o mundo pastoril. Mesmo a passagem em que Jesus afirma ‘Eu sou a videira e vós sois os ramos’: pouquíssimos
sabem o que é uma parreira.
Rogate: Em sua opinião, a Igreja católica vive o ensinamento de Paulo quanto a
inculturar-se na realidade do povo?
Pe. Bortolini: Esse é um desafio, sobretudo para os agentes de pastoral, mas
também para os ministros ordenados que
atuam nas grandes cidades. A formação dos
seminaristas deveria dar mais atenção ao
tema. Pergunto-me se este não é um dos
fatores responsáveis pela diminuição do
número de vocações. As congregações normalmente buscavam vocações na roça, nas
pequenas cidades, pois havia uma interação
entre a cultura dos evangelhos e a do povo
da roça. Será que não existem vocações nas
grandes cidades, com uma cultura urbana
própria das metrópoles? Talvez nós não
saibamos falar com as pessoas da cidade.
Rogate: No livro “Os desafios da cidade no século XXI” (editora Paulus), Pe. José
Comblin adverte que a sociedade atual é urbana, mas a Igreja ainda está estruturada
a partir da realidade rural, tendo a diocese
e as paróquias como centros administrativos e da fé. O que o apóstolo Paulo poderia
nos dizer em relação a isso?
Pe. Bortolini: Paulo tem algo neste
sentido. Ao ler com atenção o capítulo 18
de Atos, sobre a fundação da comunidade
de Corinto, observa-se que Paulo organizou núcleos domésticos, igrejas domésticas. Paulo não construía paróquias e templos, mas núcleos nas casas. Primeiro na
casa de Áquila e Priscila, onde se hospeda. Depois se dirige à casa de ‘um certo
Justo’. Também ‘Crispo, chefe da Sinagoga, crê no Senhor’ e forma outro núcleo. O
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ENTREVISTA
novo chefe da Sinagoga, Sóstenes, igualferia e se expandindo para o entorno das
mente parece se tornar dirigente de uma
grandes cidades.
igreja doméstica em sua casa. No capítulo
16 da carta aos Romanos, Paulo saúda a
Rogate: Formava-se uma rede.
Igreja que se reúne na casa de Prisca e
Pe. Bortolini: É uma evangelização em
Áquila, saúda os da casa de Aristóbulo,
rede. Isso se percebe no início da carta aos
também da casa de Narciso e muitos mais.
Colossenses. Paulo fala de Epafras, que era
Só nesta passagem se descobre que havia
seu companheiro. Pelo que se supõe, Pauao menos cinco igrejas domésticas em
lo nunca esteve em Colossas. O que deve
Roma, na qual as pessoas se conhecem e
ter acontecido? Paulo fundou núcleos crisse relacionam melhor. No tempo de Paulo
tãos em Éfeso. Epafras esteve em um desestas igrejas domésticas atenses núcleos e foi para Colosdiam inclusive a uma necessas, onde fundou outro núcleo
sidade física, porque as casas
cristão. E há também em CoE pensar que
dos pobres eram de um cômolossas as igrejas domésticas
atualmente
do. Como reunir 10, 20, 30
de Ninfas e de Arquipo, talvez
ainda há casos
pessoas? Quem possuía uma
filho de Filemon. É importan[...] de padres
casa maior, acolhia em sua rete perceber que a estratégia
centralizadores, de Paulo não era evangelizar
sidência a comunidade para a
celebração. Penso que uma inde início toda metrópole, mas
que seguram
dicação interessante para a
criar núcleos que vão se extudo em suas
pastoral urbana atual seria a
pandindo.
mãos, quando
criação de igrejas domésticas,
o trabalho
descentralizadas.
Rogate: Qual a importância da utilização das cartas por
é mais de
Rogate: Essa era a proposparte de Paulo?
coordenar...
ta de trabalho de Paulo?
Pe. Bortolini: No seu
Pe. Bortolini: Falemos de
tempo Paulo empregou os
estratégia pastoral de Paulo.
meios mais rápidos e eficazes
Ele chegava a uma cidade e criava alguns
para a evangelização, que eram as cartas.
núcleos cristãos nas casas. Veja Corinto,
Primeiro havia a comunicação pessoal, algo
por exemplo, cidade de talvez meio milhão
indispensável, pois Paulo fundava as comude habitantes naquele tempo. As comuninidades e as acompanhava. Só que, depois,
dades de Paulo, de acordo com Atos 18,
Paulo servia-se de uma rede de colaborareuniam-se em quatro casas. Quantas pesdores e de caminhos de comunicação para
soas então formavam a comunidade dos
chegar às comunidades. Na época, o impécristãos de Corinto? Em torno de 100 pesrio romano havia construído boas estradas
soas. Só que a estratégia pastoral de Paulo
para fins militares e de comunicação. Esera formar pequenos núcleos nas casas,
tas estradas serviam para as legiões de
que vão crescendo e se espalhando para a
ocupação do exército, para o escoamento
criação de novos lugares de encontro, que
de tributos e para as comunicações. A cada
por sua vez crescem e formam outros nú30 km nestas estradas havia um entreposto
cleos, multiplicando-se, atingindo a peridos correios com cavalos e cavaleiros. Uma
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Rogate 268
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ENTREVISTA
carta de Éfeso a Tarso chegava tão rápido
como uma carta que hoje vai de avião, pois
os mensageiros trabalhavam dia e noite.
Rogate: Além da celebração dos dois mil
anos de nascimento do apóstolo Paulo, o senhor acredita que o papa Bento XVI instituiu o Ano Paulino para que Igreja se inspire nos ensinamentos do santo?
Pe. Bortolini: Penso que sim, pois não
existe na história da Igreja pessoa mais
envolvida e bem sucedida no processo de
evangelização do que Paulo. Ele é bastante atual justamente porque é o homem das
grandes cidades, onde vive a maioria da
população. Temos muito a aprender dele.
E o Ano Paulino suscitou um grande interesse pelo apóstolo. No entanto é preciso
ver o que pretendemos: fazer só uma comemoração ou ter o apóstolo como uma
espécie de luz e ponto de apoio para uma
nova visão da pastoral e da evangelização?
Mesmo porque há várias formas de entender o Ano Paulino. Para mim o modo correto é ver em Paulo a pessoa que mais viveu Jesus Cristo e mais o anunciou.
Rogate: E o que podemos aprender da
prática de Paulo?
Pe. Bortolini: Ele nos ensinou o trabalho coordenado. No capítulo 16 da carta
aos Romanos o apóstolo cita mais de 30
colaboradores. Rastreando os Atos e as
cartas de Paulo podemos chegar a uma centena deles. E pensar que atualmente ainda há casos em paróquias de padres
centralizadores, que seguram tudo em suas
mãos, quando o trabalho é mais de coordenar, delegar, animar, sustentar, criar novas lideranças... Pode parecer escandaloso, mas é claro que as comunidades de
Paulo celebravam a eucaristia. E quem presidia? Eram leigos! Em Filipos, provavelRogate 268
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mente eram mulheres: Evódia e Síntique,
que brigavam entre elas, mas deveriam ser
dirigentes e lideranças da comunidade (Fl
4,2). Não havia ministérios ordenados
como temos hoje. É como se fosse uma
paróquia funcionando sem padre. Somos
uma Igreja muito ligada aos sacramentos,
que estão dependentes do ministro ordenado. Por que as Comunidades Eclesiais
de Base (CEBs) arrefeceram? Justamente
porque se insistiu para que ficassem dependentes das paróquias.
Rogate: E hoje se constata a presença
até de padres jovens com esta mesma visão
de poder, de centralização... Paulo se assustaria com esta postura na Igreja?
Pe. Bortolini: É triste hoje em dia perceber que há uma parcela do clero que se
agarra com unhas e dentes ao poder como
forma de auto-afirmação. Acredito que a
autoridade quando é boa não se manifesta.
Como no futebol: se o juiz é bom ele não
aparece, e o jogo corre. Mas se o juiz é
estrela, ele estraga o jogo. Em uma paróquia, quando as lideranças têm liberdade e
responsabilidade, tudo funciona e o papel
do padre é salientado como coordenador,
não como alguém que domina e manipula.
A concentração de poder infantiliza as pessoas e impede o surgimento de novas lideranças. João Batista dizia ‘é preciso que
ele cresça e eu diminua’. O encontro definitivo, e que vale, é o encontro com Jesus
Cristo e não com o padre.
Rogate: Uma mensagem final.
Pe. Bortolini: Que todos amem o apóstolo Paulo como homem de Deus e homem
do povo; e que nunca separem as duas coisas. Separá-las seria mutilar o apóstolo
Paulo. Homem de Deus: espiritualidade.
Homem do povo: missão.
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ESTUDO
ESTUDO
Autoridade e obediência
- parte 3 -
Na conclusão da Instrução elaborada pela Congregação para
os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida
Apostólica a missão é o tema em destaque
N
a terceira e última parte da reflexão sobre a Instrução “O Serviço
da Autoridade e a Obediência”, verificar-se-á como se articulam a autoridade e a obediência em relação à missão.
Desta forma, concluiremos o estudo com
a visão completa do triplo serviço da autoridade: a pessoa, para que seja animada a
viver a própria consagração (primeira parte); a comunidade, para que seja de fato
fraterna (segunda parte); e a missão, em
vista da realização do projeto comum (terceira parte).
A terceira parte da Instrução tem início com o resgate da imagem de Jesus Cristo, modelo por excelência da vida consagrada, como grande missionário do Pai,
enquanto Filho obediente e que vem para
realizar a vontade do Pai. Jesus é, em síntese, o paradigma da missão cristã. Por sua
vida, ele nos faz compreender a relação
íntima e singular que existe entre a missão e a obediência. Cada religioso ou religiosa, consagrado ou consagrada, é convidado a participar dessa missão acolhendo
a Jesus e tornando-se espaço de sua presença na história, possibilitando aos outros
a chance de encontrá-lo.
A missão traz em si exigências tanto à
autoridade quanto àqueles que devem obedecer. Estar em missão é assumir as pos10
síveis dificuldades no caminho da vida cristã. É saber enfrentá-las com a graça do
Senhor, tendo sempre a consciência de que
ele próprio foi quem enviou a cada um e
que, por isso mesmo, não os desamparará
nas dificuldades. Elas existem tanto para
quem obedece quanto para quem exerce a
autoridade. Há o risco da autoridade passar por momentos de cansaço e desânimo,
por exemplo, podendo levar a atitudes de
renúncia ou omissão no exercício da orientação e animação da comunidade.
Como a qualquer ser humano, também
aos superiores há a possibilidade do erro,
do desvio. Contudo é fundamental que se
possa recordar a importância da fé como a
base necessária para a vivência do voto de
obediência. A fé levará à compreensão e
superação de qualquer dificuldade que se
apresente no exercício da autoridade e
obediência.
O documento mostra, no entanto, que
o exercício da autoridade é imprescindível para o desempenho e a vivência missionária da comunidade. É através da autoridade e de sua liderança que se consegue atingir, na missão, a fidelidade ao próprio carisma. Ela é forte elemento de convergência que guia ao objetivo comunitário. Sob a liderança da autoridade, a convergência só ocorrerá caso a pessoa a
Rogate 268
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ESTUDO
quem cabe obedecer se reconheça em
jeção da consciência. “Pode acontecer, pormissão e saiba abrir mão dos próprios
tanto, que a pessoa consagrada tenha de
desejos e aspirações em vista do todo.
aprender a obediência também a partir do
Desta forma, a comunidade adquire a
sofrimento, ou pelo menos de certas situconsciência de ser guiada pelo Espírito do
ações particulares e difíceis” (n. 10).
Senhor e de ser missionária.
É então apresentada, como
Foto: web
Tanto mais fruto dará a misobediência difícil, a situação
são, quanto mais generosa for
de religiosos ou religiosas que
a resposta da comunidade
têm dificuldade em cumprir o
que, sabendo trabalhar unida,
que lhes é pedido. Nesse ponfor capaz de se doar, colocanto, citando São Francisco de
do-se sempre na atitude huAssis, a Instrução resgata a
milde do serviço.
prática da “obediência caritaNesse aspecto da mútua
tiva” ou “obediência perfeita”,
colaboração, ganha relevo a
onde os religiosos enxergam
fraternidade. O texto a trata
coisas melhores e mais úteis
como uma das fontes capazes
para sua alma do que as ordede alimentar a missão comunadas pelo superior, sacrifinitária. Tal e qual a qualidade
cam voluntariamente os seus
“Quem quiser
da unidade entre os religiopontos de vista e cumprem a
ser o primeiro
sos e religiosas de uma coordem dada, satisfazendo, asentre
vós,
seja
munidade, que se percebe
sim, a Deus e ao próximo.
vosso servo.
missionária, é a qualidade dos
A Instrução termina refrutos produzidos como vidas
lembrando que a vida do fiel é
Pois o Filho do
que são oferecidas ao Senhor
toda ela uma busca de Deus,
Homem não
e aos irmãos.
logo, um contínuo aprender a
veio para ser
O texto aponta também os
escutar sua voz e cumprir sua
servido, mas
múltiplos desafios que têm a
vontade. Isso, no entanto, prepara
servir
autoridade e cita algumas tacisa ser realizado com muito
refas importantes do seu seresforço. Lembra, também,
e dar a vida
viço. São elas: encorajar a asque todos vieram à vida por
em resgate
sumir responsabilidades e as
um ato de obediência e que,
por muitos”
respeitar quando assumidas;
por outro lado, concluíremos
convidar a enfrentar as difenosso caminho nessa terra
(Mt 20,27-28)
renças em espírito de comuindo “em direção àquele Pai
Instrução, n. 21
nhão; manter o equilíbrio enbom que nos chamará definitre as várias dimensões da
tivamente a si” (n. 29).
vida consagrada; ter um coraO documento traz, em seu
ção misericordioso; ter o sentido da justiúltimo parágrafo, uma prece à Virgem
ça; promover a colaboração com os leigos.
Maria, na qual apresenta o itinerário da
Ao final do documento são abordadas
Mãe de Jesus no enfoque da autoridade e
as dificuldades na relação entre a obediênda obediência (cf. n. 31).
cia e autoridade, bem como o tema da obCarlos André Câmara
Rogate 268
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11
ESPECIAL
ESPECIAL
25° Encontro Rogate
“Vocação e Corporeidade no evangelho de Lucas”
foi o tema do jubileu do Encontro Rogate,
assessorado pela Ir. Terezinha Veroneze
N
A Turma do Triguito: “A competição” (ver
box pág. 14). Participaram do evento cerca
de 30 pessoas, provenientes de vários estados do País.
O início do encontro foi marcado por um
momento de espiritualidade, seguido pela
acolhida feita por Ir. Antonia Dal Mas, religiosa da Congregação Missionárias da
Imaculada, assessora executiva regional da
CRB-SP; por Ir. Maria da Cruz da Silva
Santos, da Congregação das Filhas de Nossa Senhora da Misericórdia, diretora-presidente do IPV; e Pe. Juarez Albino Destro, religioso da Congregação dos Rogacionistas, diretor do Centro Rogate. Todos
destacaram a importância do evento para
a formação dos agentes que atuam na aniFotos: Arquivo Rogate
os dias 1° e 02 de novembro, na
sede da Conferência dos Religiosos do Brasil, Regional São Paulo
(CRB-SP), na cidade de São Paulo (SP), foi
realizado o 25º Encontro Rogate, para animadores e animadoras vocacionais. Promovido em conjunto pelo Centro Rogate do
Brasil, CRB-SP e Instituto de Pastoral Vocacional (IPV), a 25ª edição do encontro
apresentou o tema “Vocação e Corporeidade no evangelho de Lucas; leitura bíblica e sua implicação na juventude atual”.
Foi assessorado pela religiosa da Congregação das Irmãs da Providência de Gap, Ir.
Terezinha Maria Veroneze. Na tarde de sábado, primeiro dia do encontro, houve também o lançamento do desenho animado de
Ao lado, os
participantes;
acima, a assessora
12
Rogate 268
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ESPECIAL
mação vocacional, e Pe. Juarez ressaltou,
ainda, o fato de estar sendo celebrado ali o
jubileu: “Em suas 25 edições o encontro
fez história, e se atualizou, acompanhando
a trajetória do próprio serviço de animação vocacional no Brasil”.
Para promover a integração dos participantes, Ir. Terezinha Veroneze começou
os trabalhos do dia organizando uma dinâmica com lençóis e bexigas. Depois apresentou a introdução do tema. Inicialmente
pediu para que todos relacionassem onde
se encontram em nossa sociedade os corpos feridos e, por outro lado, onde estão
presentes os sinais de solidariedade. A
partir das próprias considerações dos presentes, Ir. Terezinha passou a analisar as
compreensões que Igreja e sociedade têm
em relação ao corpo, bem como sobre o
comércio que envolve esta questão. A violência e a exploração sexual de crianças
e adolescentes foi um dos pontos debatidos, e ainda nesta linha foi abordada a
temática do medo, que leva ao silêncio.
Para ilustrar o assunto, a assessora apresentou parte do filme brasileiro “Anjos do
Sol” (de Rudi Lagemann, 2006, 92 min.),
que retrata a dramática realidade de meninas adolescentes no Brasil, vendidas para
o mercado da prostituição.
Na seqüência, Ir. Veroneze fez um resgate histórico, explicando que no judaísmo não havia separação entre corpo e alma,
tanto que o Primeiro Testamento (ou Antigo Testamento) concebe o ser humano
de forma integral. A religiosa justifica sua
tese apresentando um estudo sobre a
menorá (castiçal de sete pontas), que representa a árvore da vida. Segundo a assessora, é a filosofia grega quem faz esta
distinção, pois a alma para os gregos simbolizava os nobres, enquanto o corpo era
associado à escravidão. Terezinha esclareRogate 268
dez/08
ce que apesar de sofrer influência da filosofia grega, o apóstolo Paulo não separava
corpo e alma. O evangelista Lucas trabalha a partir da perspectiva paulina e igualmente não faz esta distinção.
A partir da Bíblia, e inspirada nos livros
“Corpos solidários em tempo de travessia”, publicação da CRB, e “Corpo: território do sagrado”, de autoria de Evaristo
Eduardo de Miranda (Loyola), Ir. Terezinha
Veroneze levou os participantes do encontro a se aprofundarem no estudo do evangelho de Lucas. Iniciou incentivando a observarem onde o corpo está presente já no
princípio deste evangelho, desde a experiência de Zacarias e Isabel, pais de João
Batista, passando pela anunciação do anjo
a Maria, a encarnação, a gravidez de Maria
e de Isabel, o nascimento de João Batista
e de Jesus, depois avançando nos capítulos e apresentando os sinais da misericórdia de Deus e de como ele cura os corpos
feridos.
Após o almoço, houve a cerimônia de
lançamento do primeiro filme de A Turma
do Triguito. Na seqüência, Ir. Terezinha Veroneze trabalhou a temática do puro e impuro, questão muito presente na Bíblia, em
especial porque a purificação dos corpos
implicava em recursos financeiros a serem
angariados pelos sacerdotes para o Templo. O evangelista Lucas também aborda
13
Lançamento do DVD
“A competição”
ESPECIAL
urante a realização do 25° Encontro
Rogate, mais precisamente no dia 1°
de novembro, na sede da Conferência dos
Religiosos do Brasil, Reginal São Paulo
(CRB-SP), foi lançado oficialmente o primeiro desenho animado de “A Turma do Triguito”, com o título: “A competição”. O DVD tem
nove minutos e aborda várias temáticas da
atualidade, como o meio ambiente e a
reciclagem, a ação voluntária em prol de
obras sócio-educativas carentes, a dialética
justo-injusto ou certo-errado, a conversão
e o perdão. Outros aspectos, como o suborno e a corrupção, ou o olhar compassivo que gera transformação, também poderão ser trabalhados junto com as crianças e
os adolescentes, público-alvo do filme.
“A repercussão foi bastante positiva”,
ressaltou o diretor do Centro Rogate do Brasil, Pe. Juarez Destro. “Trata-se do primeiro
filme, onde foi abordada a questão da vocação à vida. Cabe-nos responder a este
chamado através do
cuidado e zelo pela obra
da criação, natureza e
seres humanos”, completou. Pe. Juarez afirmou, ainda, que o projeto prevê o lançamento de mais cinco filmes,
sempre com temáticas
vocacionais.
este tema em diversas passagens, casos
da mulher com o perfume, de Zaqueu, do
samaritano, entre outros.
Em profunda sintonia com o estudo elaborado pela equipe de reflexão bíblica da
CRB, sobre os “Corpos solidários em tempo de travessia”, Ir. Veroneze foi levando
os participantes do Encontro Rogate a perceberem como Lucas insiste na necessidade de mudança de mentalidade para que
se possa fazer a travessia, isto é, passar
de uma cultura de morte para a cultura da
vida em plenitude, anunciada por Jesus.
Dinâmicas e trabalhos em grupos contribuíram na reflexão.
Na manhã de domingo, o 25º Encontro
Rogate foi retomado com a oração inicial,
seguido do aprofundamento da temática
trabalhada no dia anterior. Segundo a assessora, a necessidade de se promover
uma mudança de mentalidade, conforme indicado no evangelho de
Lucas, é fundamental para o cristão,
pois a cultura grega de divisão “corpo/alma” está enraizada na sociedade. Novamente as dinâmicas e os trabalhos em grupo foram utilizados,
assegurando uma participação animada dos presentes. No plenário, por
exemplo, os grupos apresentaram
suas conclusões de forma criativa.
Na manhã de domingo houve a celebração eucarística, seguida do almoço
festivo em homenagem ao jubileu do Encontro Rogate. O encerramento da 25ª edição do encontro foi marcado pelo clima de
confraternização, com direito a champanhe, canto de “parabéns” (para o encontro
e para os aniversariantes da semana), além
de sorteio de brindes, como a Agenda Vocacional Caminhos 2009 e o DVD “A competição”, recém lançado.
A Redação
D
Pe. Juarez Destro no lançamento do DVD
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Rogate 268
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ANIMAÇÃO VOCACIONAL
VOCACIONAL
Francisco e o leproso
“Embora eu seja livre em relação a todos, tornei-me o servo
de todos, a fim de ganhar o maior número possível”
(1Cor 9,19)
C
ontam-nos as biografias de Francisco de Assis que o santo tinha grande repulsa em relação ao aspecto
físico dos leprosos, reação totalmente natural, mas que em Francisco lentamente
se transforma, antes em simpatia, depois
até em atração, ao ponto de o próprio santo não hesitar, um belo dia, em abraçar e
beijar um deles. A mesma coisa aconteceu
com Teresa de Calcutá, uma ex-professora de ricas meninas, que passa por uma rua
da cidade e vê um pobre deitado no chão,
doente e sozinho, talvez agonizante. Ela
se aproxima, abraça-o, aperta-o ao coração,
leva-o em casa, assiste-o, cura-o, está ao
seu lado até o último respiro.
São somente dois, porém há muito mais
exemplos de pessoas menos famosas e
atos menos grandiosos, e que, todavia,
anunciam-nos a mesma sensacional conclusão: o ser humano é livre para provar
sensações e atrações nada naturais e espontâneas, fruto de uma lenta educação,
mas que lhe consente viver ao máximo a
sua humanidade e liberdade.
Vejamos um outro exemplo, entretanto
em uma diferente vertente da vida. Pensamos no caso de um jovem rico e com infinitas possibilidades para gozar a vida, e que,
de fato, procura alegrias após alegrias. Vive
realmente alegre e se sente satisfeito, mas
depois sonha com algo diferente e se vê
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novamente em busca de satisfação, numa
certa coação a repetir o anterior: mesmo
esquema, mesmo desejo, mesma conquista, mesma satisfação e, talvez, também, insatisfação, porque deve sempre recomeçar
de novo e os gostos continuam sempre os
mesmos, até, enfim, enojar-se.
Entre Francisco e este jovem, qual dos
dois é o mais livre? Ou entre Teresa e o
tipo que anda pela rua e vê o pobre e segue adiante, porque tem outro programa a
cumprir? “Livre” de um ponto de vista
simplesmente humano, não no sentido de
melhor ou mais santo ou heróico.
Alguns sinais da pessoa livre
Novidade e originalidade
Antes de tudo, liberdade é novidade e
variedade de vida, de gostos, interesses,
atrações. Liberdade é vida, e não existe
vida em quem se repete, de forma cansativa, ou em quem está sempre em busca da
mesma gratificação e, num certo sentido,
se dá por satisfeito em desejar o que todos
querem. Copia os outros e faz uma cópia
de si mesmo, ou seja, não cresce nunca no
coração e na mente, é um velho precoce.
Não expressa a sua individualidade e originalidade, nem se dá conta de que o prazer se repete até a diminuição da própria
capacidade de sentir prazer.
15
ANIMAÇÃO VOCACIONAL
Verdade e humanidade
Não é a novidade, enquanto tal, a responsável pela liberdade, mas aquela novidade que permite cumprir a verdade, ou
que vai na direção do que é autenticamente humano. A atração de Francisco para
com o leproso, por exemplo, diz respeito à
dignidade do ser humano, de cada pessoa,
independentemente de suas condições físicas. Por isso expressa a liberdade de
Francisco, que vive a sua própria verdade
enquanto vê e promove a humanidade não
contaminada atrás de um rosto deturpado.
Ao contrário, não pode ser considerado livre um gesto que ofende a verdade,
ou que simplesmente, e de forma obsessiva, gratifica apenas uma parte do próprio
eu, que é “verdadeira”, mas no entanto
corre o risco de não sê-la mais quando se
ignora o todo do qual faz parte. “A verdade
não é uma pedra preciosa que se pode colocar no bolso, mas um mar imenso no qual
se cai e se fica submerso” (Robert Musil,
1880-1942, escritor austríaco, um dos mais
importantes romancistas modernos). Neste conceito de “imenso” está escondido o
segredo da liberdade, que é sem limites e,
portanto, atinge Deus...
Responsabilidade e.fraternidade
Há quem diga, pensando ter feito alguma descoberta, que a minha liberdade termina lá onde inicia a sua. Na realidade não
pode ser assim. A autêntica liberdade é
construída junto: se meu irmão não é livre,
eu também não sou. É livre tão somente
aquele gesto que é libertador ou que exprime o ato de assumir responsabilidades em
16
relação ao
outro. Teresa, que se comove vendo o
moribundo abandonado por todos,
não manifesta apenas
a liberdade de quem
pode sair de si mesmo
para acolher o outro,
mas liberta a pessoa da
solidão para que viva,
embora somente por
um instante, cercado pelo amor e
morra em paz e
com dignidade, como é direito de todos!
Quem pensa apenas na sua liberdade é escravo de si, e é também um pouco idiota,
porque não sabe que é a pior escravidão.
Ilustração: Osmar Koxne
Quem é livre, ao contrário, é criativo,
experimenta sensações novas, nem sequer
imaginadas, como Francisco, que chega a
provar atração por um leproso.
Felicidade e alegria de viver
Enfim, a liberdade genuína é também
gratificante, porque possibilita descobrir as
incríveis potencialidades do coração humano e abre horizontes inéditos. Mas, acima
de tudo, porque permite colher o gosto
daquilo que se faz, como uma atração sempre mais intensa, que facilita o agir e encoraja a fazer também coisas difíceis. É a
força da verdade: nada atrai o coração humano mais do que a verdade, uma atração
que não se repete (como a do prazer do
instinto), todavia que é sempre nova. E é
também a força do amor, porque o ser humano é livre justamente por isso, para querer bem. “Viver é um pouco de tempo concedido às nossas liberdades para aprender
a amar e se preparar ao eterno encontro
com o Eterno Amor” (Abbé Pierre, 19122007, sacerdote francês, fundador do Movimento Emaús).
Amedeo Cencini
Rogate 268
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IN FORMAÇÃO
IN FORMAÇÃO
Reunião ampliada da CMOVC
Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados
e a Vida Consagrada (CMOVC), da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB), reúne-se em Brasília (DF)
e define programa até 2010
de 2010. Uma comissão específica para
preparar o evento foi nomeada e já estará
reunida no início de dezembro, no Centro
Rogate do Brasil, em São Paulo (SP).
Foto: Arquivo Rogate
O
encontro foi realizado entre os dias
27 e 30 de outubro, no qual participaram representantes regionais do
Serviço de Animação Vocacional (SAV), Organização dos Seminários e Institutos do
Brasil (OSIB), Comissão Nacional dos Diáconos (CND) e Comissão Nacional dos
Presbíteros (CNP), além dos presidentes
da Conferência dos Religiosos do Brasil
(CRB) e da Conferência Nacional dos Institutos Seculares (CNIS). Dentre os assuntos tratados na área das vocações, o destaque é a realização do 3° Congresso Vocacional do Brasil, marcado para setembro
O serviço de escuta
E
dez/08
o
Rogate 268
Divulgaçã
ditora Santuário lançou a obra “O serviço de escuta; à luz da Palavra de Deus:
desafios pastorais”, de autoria da teóloga gaúcha Dione Maria Sachet Teixeira. A
partir de sua percepção de como as pessoas nas grandes metrópoles não estão
mais conseguindo ouvir e nem serem ouvidas, ela enfrentou o desafio de escrever um livro que buscasse contemplar essa angústia. É
preciso ouvir sem julgar, sem rejeição, levando em conta a vivência
de cada pessoa, assim como Jesus, que acoFormato: 10,5 x 17,5 cm
lhia a todos com amor e sem distinção, afirma
Páginas: 120
a autora. O livro segue o método “ver-julgarPreço: R$ 10,50
agir”, trazendo em seu terceiro capítulo a defiPedidos:
nição de pastoral da escuta, e na conclusão
www.editorasantuario.com.br
algumas sugestões para a organização desta
Tel.: (12) 3104-2000
pastoral na comunidade paroquial.
17
Encontro Vocacional
no Regional Sul 4
IN FORMAÇÃO
Fotos: Regional Sul 4
50 anos da OSLAM
D
e 24 a 26 de outubro de 2008, na cidade catarinense de Lages, realizou-se
um encontro de formação para animadores
vocacionais do Regional Sul 4 da CNBB
(Santa Catarina), com o tema: “Propostas
de organização do serviço de animação vocacional”. A assessoria foi do religioso
Rogacionista, Pe. Geraldo Tadeu Furtado,
responsável pelo setor de formação do Centro Rogate do Brasil, atual secretário do Instituto de Pastoral Vocacional (IPV), com
sede em São Paulo (SP).
Participaram 93 pessoas, provenientes
das 10 dioceses do Regional (Blumenau,
Caçador, Chapecó, Criciúma, Florianópolis,
Joaçaba, Joinville, Lages, Rio do Sul e Tubarão). Além da preocupação em fornecer
elementos em vista do planejamento vocacional, tanto do ponto de vista da organização em si, quanto dos processos vocacionais, respeitando os itinerários, o encontro
possibilitou socializar e partilhar as experiências vocacionais das várias dioceses.
No último dia do evento foi aprovado o planejamento para 2009, com
destaque para o próximo
encontro regional, marcado para os dias 02 a 04
de outubro, também em
Lages. Catequese e Vocação será a prioridade
em 2009, em sintonia
com o Ano Catequético
no Brasil.
18
A cidade de Mérida, Yucatán, no México, sediou o encontro da Organização dos
Seminários da América Latina e do Caribe
(OSLAM), de 13 a 18 de outubro. Participaram do evento 25 delegados provenientes
dos 22 países que formam o continente, entre secretários executivos das conferências episcopais para os ministérios ordenados e representantes dos seminários. Do
Brasil estiveram presentes o assessor da
Comissão Episcopal para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB, Pe.
Reginaldo de Lima, e o vice-presidente da
Organização dos Seminários e Institutos do
Brasil (OSIB), Pe. Olindo Furlanetto. Durante o encontro fez-se memória dos 50
anos da OSLAM. Entre as conclusões, foram aprovadas a continuidade dos encontros de capacitação para os formadores; atualização do cadastro dos seminários; criação de páginas na web da OSLAM para circular material e experiências. No encerramento os delegados escreveram uma mensagem, dirigida a todos os envolvidos no
processo de formação. “Aos consagrados e
leigos, que partilham o nosso amor, trabalho e preocupação pelas vocações e pela formação, nosso mais sincero agradecimento
pela sua proximidade, dedicação e testemunho, o que enriquece com o seu próprio
carisma vocacional o seguimento de nossos seminaristas às pegadas de Jesus!”, afirma um trecho da carta.
Simpósio de Comunicação
De 05 a 08 de dezembro, em Roma,
acontece um simpósio com o tema: “Anunciar o Rogate na nova era da comunicação”.
O evento, promovido pelos Rogacionistas
e pelas Filhas do Divino Zelo, as duas congregações fundadas por Santo Aníbal Maria Di Francia (1851-1927), visa aprofundar
Rogate 268
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IN FORMAÇÃO
as novas linguagens da comunicação para
difundir e inculturar no mundo o Rogate,
carisma específico dos “filhos e filhas espirituais” de Santo Aníbal. O evento celebra, também, o centenário do impresso
“Deus e o Próximo”, periódico lançado por
Santo Aníbal em 1908, destinado a todos
os animadores vocacionais da época (cristãos leigos e leigas, ministros ordenados,
pessoas de vida consagrada). Do Brasil
participa o diretor de redação da revista
Rogate, Pe. Juarez Destro, inclusive colaborando na mesa-redonda sobre “Os Rogacionistas e as Filhas do Divino Zelo no
mundo da mídia atual”. Sua exposição aborda a comunicação dos Centros Rogate.
Escola Vocacional do IPV
De 05 a 17 de janeiro de 2009, em
Jundiaí (SP), realiza-se a Escola de Preparação de Animadores e Animadoras Vocacionais (ESPAV), promovida pelo “Centro
de Formação Dom Joel Ivo Catapan”, do
Instituto de Pastoral Vocacional (IPV). Os
quatro módulos da escola ocorrem no período, sendo o primeiro (Antropologia da
Vocação) e o terceiro (Itinerário Vocacional) entre os dias 05 e 10; o segundo (Teologia e Eclesiologia da Vocação) e o quarto
(Planejamento e Organização do Serviço
de Animação Vocacional), realizados de 12
a 17. Informações:
Site: www.ipv.org.br
Tel.: (11) 3931-5365
Cursos da CRB 2009
Estão abertas as inscrições para alguns
cursos de formação promovidos pela Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB),
em âmbito nacional, destinados a religiosos e religiosas com votos perpétuos. O
primeiro programa é chamado de “Cerne”
(Centro de Renovação Espiritual) e será
realizado em dois lugares diferentes, um
em Brasília (DF), de 15 de fevereiro a 27
de março, e outro em Belo Horizonte
(MG), de 20 de setembro a 30 de outubro.
O segundo programa de formação permanente da CRB é chamado de “Profolider”
(Programa de Formação de Lideranças). O
curso é ministrado em quatro módulos:
pessoa e instituição; realidade; teologia da
vida consagrada; espiritualidade e missão.
Tem a duração de dois meses, com início
em 08 de junho. Será realizado no Centro
Cultural Missionário, em Brasília (DF). As
inscrições deverão ser feitas até fevereiro
de 2009:
E-mail: [email protected]
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MÍSTICA DA VOCAÇÃO
MÍSTICA
Há vocação fora da Igreja?
D
eus chama alguém a assumir uma
determinada missão, a exercer um
carisma que ele mesmo, na sua
gratuidade, doa a quem ele quer, quando e
como ele deseja. Ao ser humano cabe a responsabilidade de permanecer aberto e dócil a este dom. Mas cabe à Igreja reconhecer a genuidade do carisma. Neste sentido, podemos afirmar que fora da Igreja não
há vocação. Veremos que a afirmação está
presente no próprio Documento de Aparecida (DA).
Não pode ser compatível na Igreja a
busca de uma espiritualidade individualista, pessoal, onde o centro não é Deus, mas
é o indivíduo (cf. DA 164). Nem tampouco
uma vocação que sirva como um meio de
se manter economicamente e ter um estilo de vida confortável. Há grupos de “vocações” que se aproveitam mais para poder sustentar uma vida de mordomias do
que de doação completa ao serviço de
Deus. Cabe à Igreja, que é Mãe, a responsabilidade de discernir a autenticidade do
chamado de Deus e acompanhá-lo para que
possa se desenvolver, não só dentro do
caminho da doutrina da Igreja, mas também com o testemunho de fidelidade e
austeridade de vida que esteja em sintonia
com o povo de Deus.
As vocações individualistas, onde o centro é o ser humano, são destinadas a morrer, mais cedo ou mais tarde, porque não
possuem raízes. A idolatria pelo “fundador e fundadora” não é sinal de verdadeiro
amor à Igreja. Todas as vocações, desde a
vocação ao matrimônio, laical, consagrada
ou sacerdotal, devem estar ao serviço do
20
Reino de Deus, cujo centro de tudo é Jesus: Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14,6).
Ninguém, além dele, pode exigir o nosso
serviço.
É interessante notar isto nas primeiras comunidades cristãs. Paulo se queixa
e sofre ao ver que alguns se reúnem ao
redor de Pedro, de Apolo e dele próprio. E
diz: “Quem, afinal, morreu na cruz para nos
salvar? Não foi nem Pedro, nem Apolo e
nem Paulo. Foi Jesus Cristo” (cf. 1Cor 1,1213). Esta ousadia paulina de lucidez, afirmando que só Cristo é fonte e meta de todas as vocações, é necessária em todos os
momentos de nossa vida.
“A vocação ao discipulado missionário
é con-vocação à comunhão em sua Igreja.
Não há discipulado sem comunhão. [...] A
fé nos liberta do isolamento do eu, porque
nos conduz à comunhão” (DA 156). Isto
significa que uma dimensão constitutiva do
acontecimento cristão é o fato de pertencer a uma comunidade concreta, na qual
podemos viver uma experiência permanente de discipulado e de comunhão com
os sucessores dos apóstolos e com o papa.
A diversidade de vocações e carismas
é uma maravilhosa primavera na Igreja,
mas é necessário distinguir se são todas
plantas frutíferas ou se há ervas “daninhas” que não produzem frutos mas empobrecem o próprio terreno da Igreja. Teresa de Ávila, já no alto do monte da contemplação, ouve o Senhor que lhe diz:
“Obras, obras quer o Senhor!” E tudo em
sintonia com a Igreja; sem a Igreja não há
vocações para o Reino de Deus.
Patrício Sciadini
Rogate 268
dez/08
ESPECIAL
ESPECIAL
Índice Remissivo 2008
A Rogate apresenta todo o conteúdo deste ano, em suas
diversas seções, com indicação de página, facilitando a busca
das matérias. Foram mais de 80 títulos, divididos nas suas
nove seções, incluindo os dois encartes
Ilustrações: Arquivo Rogate
ANIMAÇÃO VOCACIONAL
• Os verbos da vida. Por Amedeo Cencini* (259, p. 18)
• O drama da escolha (260, p. 17)
• Resgate histórico da abertura do Ano Vocacional de 1983.
Da Redação (260, p. 07)
• Vocação e revelação do “eu” (261, p. 17)
• Estigmas e autenticidade vocacional (262, p. 17)
• O relacionamento, origem e destino da liberdade (263,
p. 17)
• Escravos de si mesmos (264, p. 17)
• Liberdade de escolha ou escolha de ser livre? (265, p.
18)
• A auto-condenação de Narciso (266, p. 17)
• O dom da liberdade (267, p. 19)
• Francisco e o leproso (268, p. 15)
* Os artigos não assinados são de Amedeo Cencini
ATUALIDADES
• A Vida Consagrada é dom divino. Por Bento XVI (259, p.
Capa das duas primeiras
edições do ano
Rogate 268
dez/08
12)
• 45º Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Por Bento
XVI (260, p. 13)
• 42º Dia Mundial das Comunicações. Por Bento XVI (261,
p. 13)
• Reunião debate o serviço da animação vocacional. Da
Redação (263, p. 08)
21
ESPECIAL
A TURMA DO TRIGUITO
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259: Preparando a Páscoa*; Ovos de Páscoa (HQ)**
260: Vocação e Missão; Inculturação (HQ)
261: Na Escola de Maria; Muito fácil (HQ)
262: Rezando com Jesus; O Dia da Amizade (HQ)
263: Mês das Vocações; Também somos chamados (HQ)
264: Anjos do Senhor; O Empate (HQ)
265: Aparecida, nossa protetora; Dia das Crianças (HQ)
266: Todos os Santos; Cultura (HQ)
267: Preparando o Natal; Surpresa de Natal (HQ)
268: Paz sem limites; Dia Mundial da Paz (HQ)
* Título correspondente à seção “Vamos Rezar”
** HQ: História em Quadrinhos
CELEBRAÇÃO VOCACIONAL
• Via Sacra vocacional. Por Dárcio Alves da Silva (259)
• Vocação e missão. Por Juarez Albino Destro (260)
• Maria, mãe dos sacerdotes. Por Danilo Silva Bártholo
(261)
• Rezando pelas vocações com Santo Aníbal. Por Dilson
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Brito da Rocha (262)
Vem e segue-me! Por Dárcio Alves da Silva (263)
A Palavra de Deus nos convoca a optar pela vida! Por
Juarez Albino Destro (264)
Os mistérios da luz na ótica vocacional. Por Daniel Leão
(265)
Vocação à santidade. Por Édson Júlio Ferreira ( 266)
Natal e vocação. Por Francisco Batista Amarante (267)
Epifania e vocação. Por Vergílio Moretto Junior (268)
ENTREVISTA (p. 03)
• “Felizes os que promovem a paz”. Com Ana Elídia Caffer
Neves (259)
• “Toda vida humana é um chamado de Deus”. Com Rafael
Sacco (260)
• Psicanálise e vocação. Com Ario Borges Nunes Junior
(261)
• Em busca da unidade. Com José Bizon (262)
22
Rogate 268
dez/08
ESPECIAL
• “Temos que saber lançar as redes”. Com Reginaldo Lima
(263)
• “Uma história de serviço à Igreja”. Com Ângelo Ademir
Mezzari (264)
• “Faltam ideais!”. Com Heloísa Helena Campos (265)
• “Missão é um estado permanente de vida, serviço e
anúncio”. Com Daniel Lagni (266)
• O poder da evangelização dos quadrinhos. Com Osmar
Koxne (267)
• O despertar vocacional de Paulo. Com José Bortolini (268)
ESPECIAL
• Jubileu do primeiro Ano Vocacional do Brasil. Por Juarez
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Destro (259, p. 09)
A Páscoa é nossa vocação. Por Gilson Luiz Maia (260,
p. 09)
Os presbíteros em busca da própria identidade. Da Redação (261, p. 09)
Trindade e Vocação. Por Helena Rech (262, p. 10)
América com Cristo: escuta, aprende e anuncia. Da Redação (263, p. 12)
Mês Vocacional reflete e aprofunda chamado à vida e
missão. Da Redação (264, p. 14)
A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja. Da
Redação (265, p. 14)
Declaração final do CAM 3 / COMLA 8. Da Redação (266,
p. 10)
A vocação de um povo. Da Redação (267, p. 10)
25° Encontro Rogate. Da Redação (268, p. 12)
ESTUDO
• Deus nos chama à defesa da vida. Por Mário Alves Ban•
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Rogate 268
dez/08
deira (259, p. 14)
Salvos na Esperança. Por Paulo E. Müller (262, p. 13)
Uma vocação à beira do caminho. Por Gilson Luiz Maia
(264, p. 10)
A vocação na Bíblia. Da Redação (265, p. 10)
Autoridade e obediência. Por Carlos André Câmara (266,
p. 14; 267, p. 12; 268, p. 10)
Estatísticas vocacionais. Da Redação (267, p. 14)
23
ESPECIAL
MÍSTICA DA VOCAÇÃO
• Em Jesus, a vocação humana se revela. Por Patrício
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Sciadini* (259, p. 24)
A vocação dos leigos missionários (260, p. 24)
A vocação, dom original de Deus (261, p. 24)
Deus sai de si para nos chamar (262, p. 24)
A vida consagrada... grávida de uma nova vida (263, p.
24)
Jesus, nosso formador pessoal (264, p. 24)
Proibido desanimar (265, p. 24)
Sem Igreja não há cristãos (266, p. 24)
A pastoral da conversão (267, p. 24)
Há vocação fora da Igreja? (268, p. 20)
* Todos os artigos são de Patrício Sciadini
OPINIÃO (p. 03)
• Epifania é a festa da inclusão. Por Jefferson Silveira (259)
• Mulheres de ontem e de hoje, gestando e criando vida!
Por Maria da Cruz da Silva Santos (260)
• Educação a serviço da vida. Por Rogério Darábas (261)
• A tão necessária luz do Espírito Santo. Por Juarez Albino
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As capas de novembro e
dezembro completam mais
um ano de muito conteúdo
informativo e formativo
da revista Rogate
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Destro (262)
Santidade... Por Jefferson Silveira e Letícia Liñeira Soares (263)
A Transfiguração como vocação ao serviço. Por Carlos
André Câmara (264)
Caça de votos nas comunidades. Por Cilto José Rosembach (265)
No colo da Mãe Aparecida. Por Jefferson Silveira (266)
“Ainda não me cansei de ser feliz!”. Por Maria Elizabeth
da Trindade (267)
Natal tem que ser assim. Por Juarez Albino Destro (268)
APE
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