Gênero e altas habilidades/superdotação: incidência

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Gênero e altas habilidades/superdotação: incidência
ÁREA TEMÁTICA: 4- A inclusão dos superdotados na escola e na sociedade.
GÊNERO E ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO: INCIDÊNCIA
MENOR EM MENINAS?
PALUDO, Karina I. 1
DALLO, Luana 2
RESUMO:
A par de uma breve análise histórica acerca dos gêneros, averígua-se que as mulheres por
muito tempo estiveram à margem do desenvolvimento das teorias científicas, pela falta de
oportunidade de acesso ao conhecimento sistematizado, o que solidificou a androgenia. Esse
quadro contribuiu para a representação naturalizante do homem como um ser racional,
distinto e com capacidades superiores à mulher. Este trabalho pretende discutir a construção
social implícita acerca das questões de gênero e se estas influenciam na perpetuação do mito
de que existe uma menor incidência de mulheres com altas habilidades/superdotação. Para
tanto, utilizar-se-á como caminho metodológico, pesquisa quanti-quali, por meio da análise
bibliográfica acerca dos conceitos de gênero e altas habilidades/superdotação e levantamento
de matrículas dos alunos identificados na educação fundamental de uma rede de educação de
um município localizado no leste do estado do Paraná. Apesar de a pesquisa estar na fase
inicial, pode-se observar, até o presente momento, um maior atendimento educacional
destinado a meninos. Pode-se inferir que este quadro explica-se pela influência cultural, no
qual as mulheres com altas habilidades/superdotação frequentemente não tem seu potencial
reconhecido e valorizado por outros e nem por elas mesmas, prevalecendo as características
de que as mulheres são cuidadoras, mães e donas de casa, e os homens inteligentes, racionais
e provedores.
Palavras-Chave: Gênero; Altas Habilidades/Superdotação; Afetividade.
1
Mestranda em Educação, Universidade Federal do Paraná. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Práticas
Educativas – Mediar/UNIOESTE. E-mail: [email protected]
2
Doutoranda em Educação, Universidade Estadual Paulista. E-mail: [email protected]
GENDER AND WITH HIGH ABILITY/GIFTEDNESS: MINOR IMPACT ON
GIRLS?
ABSTRACT:
Along with a brief historical analysis about the genres, ascertains that women have long been
on the fringes of the development of scientific theories, the lack of opportunity of access to
systematized knowledge, which solidified androgyny. This situation contributed to the
naturalistic representation of man as a rational being, separate and superior capabilities of
women. This paper discusses the social construction of implicit questions about gender and
whether they influence in perpetuating the myth that there is a lower incidence of women with
high ability / gifted. For this purpose, use will be as methodological approach, qualitativequantitative research, by analyzing literature about the concepts of gender and high ability /
gifted and raising students' enrollment in primary education identified a network of education
of a city located in the eastern state of Parana. Although the research being in the initial phase,
it can be seen, to date, a higher educational service aimed at boys. It can be inferred that this
framework is explained by cultural influence, in which women with high ability / gifted often
do not have their potential recognized and valued by others and not for themselves, the
prevailing characteristics of caregivers are women, mothers and housewives, and men
intelligent, rational and providers.
Keywords: Gender, High Abilities / Giftedness; Affectivity.
A par de uma breve análise histórica acerca dos gêneros, averígua-se que as mulheres
por muito tempo estiveram à margem do desenvolvimento das teorias científicas pela falta de
oportunidade de acesso ao conhecimento sistematizado, o que solidificou a androgenia. Esse
quadro contribuiu para a representação naturalizante do homem como um ser racional,
distinto e com capacidades superiores à mulher.
Como desdobramento desse contexto histórico, construiu-se um estereótipo de
desigualdade entre gênero no que concerne a inteligência. Apesar de se acreditar que todos os
seres são inteligentes, quando se remete à ideia desta qualidade em níveis superiores,
constata-se
uma
tendência
em
se
relacionar
a
figura
masculina
às
altas
habilidades/superdotação. Pode-se inferir, deste modo, que essa representação social
influencia a família, a escola e a sociedade no que tange a identificação dessa população e,
consequentemente a disponibilização de atendimento educacional.
Neste sentido, este trabalho tem como objetivo avaliar a incidência de matrículas de
meninas e meninos com altas habilidades/superdotação, registrado pela Sala de Recursos –
Altas Habilidades/Superdotação, da Rede Pública Estadual de Curitiba/Paraná no primeiro
semestre de 2012, com o intuito de analisar se há diferença quantitativa nos registros de
matrículas e atendimento educacional especializado para reflexão quanto à mudança (ou não)
da representação social formada sobre gênero em torno das altas habilidades/superdotação.
Para tanto, o texto será apresentado da seguinte maneira: primeiro, tratar-se-á dos conceitos de
gênero e altas habilidades/ superdotação, e depois, a análise das matrículas dos estudantes
com altas habilidades/superdotação no atendimento educacional mencionado.
Gênero: construção e reconstrução do conceito
Segundo Pedro (2005) gênero refere-se a uma categoria de análise, como tantas outras
como classe e raça/etnia. Em gramática, sabe-se que quando é perguntado pelo gênero de uma
palavra, invariavelmente a resposta em português é: masculino ou feminino. Em português,
como na maioria das línguas, todos os seres animados e inanimados têm gênero. No entanto,
somente alguns seres vivos têm sexo. Não são todas as espécies que se reproduzem de forma
sexuada, porém, as palavras que as instituem, na nossa língua, lhes atribuem um gênero.
Para a autora, justamente pelas palavras na maioria das línguas serem compostas de
gênero, mas não de sexo, que os movimentos feministas, nos anos 60 e 70 passaram a usar a
palavra “gênero”. “As feministas da segunda fase estenderam o significado do termo para
com ele se referir também a muitas das diferenças entre mulheres e homens expostas na
personalidade e no comportamento” (Nicholson, 2000, p. 10)
Enquanto que na primeira fase, momento das reivindicações políticas, a ideia
dominante era a de que a distinção masculino/feminino, na maioria dos seus aspectos era
causada e expressada pelos “fatos da biologia” denominados de determinismo biológico, na
segunda, “gênero” surgiu para se contrapor ao determinismo biológico, designando sexo ao
biológico e gênero ao socialmente construído. Entretanto, rejeitar o determinismo biológico
não significou a ausência do biológico para se pensar o social, mas entender o aspecto
biológico para explicar comportamento e personalidade, chamado de fundacionalismo
biológico (Nicholson, 2000).
Porém, para algumas feministas (Butler, 2003; Nicholson, 2000), o funcionalismo
biológico apresenta algumas barreiras à “(...) verdadeira compreensão de diferenças entre
mulheres, diferenças entre homens e diferenças em relação a quem pode ser considerado
homem ou mulher” (Nicholson, 2000, p. 11), pois as explicações biológicas para
comportamento e personalidade generalizam equivocadamente aspectos que são específicos
da personalidade. Desta forma, estas teóricas tem posto em questão a diferença entre sexo e
gênero, conforme Butler (2003, p.25): “talvez o sexo sempre tenha sido o gênero, de tal forma
que a distinção entre sexo e gênero revela-se absolutamente nenhuma”. Ou seja, sexo não é
natural, mas é ele também discursivo e cultural como o gênero.
O termo “gênero” tem sido usado, cada vez mais, como referência a qualquer
construção social que tenha analisado a distinção masculino/feminino, incluindo as
construções sobre o que separam corpos “masculinos” e “femininos”. Esse último uso
apareceu quando foi percebido por muitos que a sociedade constitui não só a personalidade e
o comportamento, mas também a forma como o corpo aparece. E se o próprio corpo é visto
através de uma interpretação social, então o “sexo” também não pode ser independente do
“gênero”, nesse sentido, sexo deve ser algo que possa ser subsumido pelo gênero (Nicholson,
2000).
Com base neste pressuposto, as formas antigas e modernas de dualismos e binarismos
(razão/afeto, masculino/feminino, universal/particular) serviram bem ao propósito de
justificar e reproduzir as relações de dominação, opressão e exploração (de gênero e outras),
marcas sensíveis de subordinação das mulheres, mas não apenas delas. O que coloca
recentemente nos estudos de gênero e feministas é a questão da diversidade e pluralismo
numa visada complexa e paradoxal, por imediata oposição aos binarismos de todas as ordens
(Matos, 2008).
O construto gênero foi apropriado das maneiras mais distintas pelas inúmeras áreas
disciplinares e suas teorias, mas é fundamental apontar que, sendo essa aproximação mais
superficial ou mais substantiva, todos deveriam partir de um ponto comum que seria o da
subordinação da mulher ao homem, para compreender como as relações de dominação e
opressão são elaboradas na sociedade. Além disso, o conceito formalizou um espaço para se
questionar as próprias categorias de homem e de masculino, como também de mulher e de
feminino, que passam por um intenso processo de desconstrução.
Altas habilidades/superdotação: breve conceituação
Amparados na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva, conceitua-se os sujeitos com altas habilidades/superdotação como aqueles que,
(...) demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas:
intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes. Também apresentam elevada criatividade,
grande envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse (Brasil, 2008a,
p. 15).
Em outras palavras, o sujeito com altas habilidades/superdotação é aquele que tem um
potencial elevado quando comparado com sujeitos da mesma faixa etária. Deste modo,
Renzulli (citado por Virgolin, 2007b) apresenta o potencial superior sendo obtido por um
conjunto de três fatores, a saber: habilidade acima da média em alguma área do
conhecimento, envolvimento com a tarefa e por fim, criatividade, concretizando em sua teoria
denominada Concepção dos Três Anéis.
A habilidade acima da média engloba a habilidade geral e habilidade específica. A
habilidade geral se refere à “(...) capacidade de utilizar o pensamento abstrato ao processar
informação e de integrar experiências que resultem em respostas apropriadas e adaptáveis a
novas situações”. A habilidade específica consiste na “(...) habilidade de aplicar várias
combinações das habilidades gerais a uma ou mais áreas especializadas do conhecimento ou
do desempenho humano, como dança, fotografia, liderança, matemática, composição,
musical, etc”. (Virgolin, 2007b, p. 33). O envolvimento com a tarefa é o empenho empregado
pelo indivíduo em uma área específica. Tal comprometimento pode ser entendido como
autoconfiança, perseverança e paciência (Virgolin, 2007b). E a criatividade, por sua vez, se
revela através da originalidade e flexibilidade de pensamento, curiosidade, ausência de medo
em correr riscos e sensibilidade a detalhes (Alencar & Fleith, 2001, p. 59).
É importante observar que nenhum dos traços nomeados de superdotação (habilidade
acima da média, envolvimento com a tarefa e criatividade) é um mais importante que o outro
e, que estes não precisam necessariamente estar presentes ao mesmo tempo e na mesma
proporção para que os comportamentos de superdotação de concretizem (Virgolin, 2007a).
Alunos com altas habilidades/superdotação estão incluídos na modalidade de
educação especial, por possui necessidades educacionais especiais, o que implica em um
atendimento educacional diferenciado, tendo como pressuposto as particularidades, estilos de
aprendizagem e expressão e interesses dos educandos (Paludo, 2009).
(...) o reconhecimento das peculiaridades e das necessidades educacionais dos alunos com altas
habilidades/superdotação possibilita que se possa estar realizando a inclusão de maneira mais eficaz
para estes alunos, permitindo aos mesmos avançar em seus conhecimentos e estimular as suas
potencialidades (Freitas & Pérez, 2010, p. 09).
No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (lei nº 9.394) reconhece a
necessidade
de
atendimento
educacional
diferenciado
ao
aluno
com
altas
habilidades/superdotação: “haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na
escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial” (artigo, 58, §
1º) (Brasil, 1996). Direito este reafirmado pela Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva (Brasil, 2008a).
O atendimento educacional especializado pode se dar de diferentes maneiras:
implantação de salas de recursos multifuncionais, formação continuada de professores,
gestores e demais profissionais da educação, ajustamento arquitetônico de prédios escolares e
criação de núcleos de acessibilidade em instituições federais de educação superior (Brasil,
2008b).
Apesar da implantação e garantia legal quanto a dispensação de atendimento
educacional especializado que atenda as necessidades individuais dos alunos com altas
habilidades/superdotação, averígua-se uma grande discrepância entre o plano de implantação
e implementação, isto porque, o que está apregoado na legislação nem sempre é concretizado.
Faz-se emergente se voltar à atenção para esse cenário com vistas a revertê-lo.
Esta preocupação com o atendimento destes alunos se exalta quando se pensa que estes, por não serem
reconhecidos e estimulados, podem estagnar seu desenvolvimento potencial, podendo vir a adaptaremse ao contexto rotineiro da sala de aula, muitas vezes ficando frustrados e tornando-se alunos
desinteressados. Por isso a necessidade de se estar investindo nas condições deste alunado e nas
diferentes possibilidades de se disponibilizar um atendimento educacional especializado, o que reforça a
ideia de uma inclusão com maior qualidade (Freitas & Pérez, 2010, p. 10/11).
Diante do explanado, considera-se importante refletir acerca das implicações das
distinções de gênero na área da educação, enfocando a necessidade de mudanças de atitudes
dos
profissionais
de
educação
referentes
à
identificação
de
alunas
com altas
habilidades/superdotação, buscando-se a igualdade de gênero.
Destaca-se, conforme Reis e Gomes (2011), que igualdade de gênero não tem o
mesmo significado que paridade de gênero. A segunda, paridade de gênero, é um conceito
unicamente numérico e significa ter a mesma proporção de meninas e meninos no sistema
educacional. O que se busca, a igualdade, é mais difícil de medir e alcançar e denota que
meninos e meninas aproveitem das mesmas vantagens quanto ao acesso e tratamento no
sistema educacional.
Método
Aborda-se nesta oportunidade, uma temática pouco estudada no meio acadêmico.
Deste modo, como caminho metodológico, utilizar-se-á pesquisa de modelo misto, na
combinação dos enfoques qualitativo e quantitativo, a partir de um estudo exploratório, isto é,
quando a revisão de literatura revela que há temas pouco pesquisados e ideias vagamente
relacionadas com o problema de estudo (Sampieri et al, 2006, p. 99).
Para coleta de dados, partiu-se de levantamento de matrículas de alunos com altas
habilidades/superdotação, que recebem atualmente atendimento educacional especializado na
Sala de Recursos – Altas Habilidades/Superdotação, da rede pública estadual da cidade de
Curitiba/Paraná. Além da análise de germes de estudos anteriormente realizados.
Resultados e Discussão
Os resultados desta pesquisa referem-se a um estudo-piloto por haver pouca
abrangência populacional. Alude apenas ao número de alunas e alunos participantes de uma
Sala de Recursos Multifuncionais localizada na cidade de Curitiba, capital do Paraná, com
base nas fichas de controle de registro dos alunos atendidos. Apesar desta limitação, estas
informações devem ser avaliadas, pois as diferenças percentuais entre meninos e meninas não
foram significativas nessa região, propiciando uma reflexão a respeito da possibilidade de
mudança de pré-conceitos direcionados às questões de “gênero”.
Destaca-se, portanto, a partir destes dados, a importância de se realizar novos estudos
nas diversas regiões do Brasil para averiguar de que forma a percepção social relativa a
“gênero” pode interferir na identificação e encaminhamento do trabalho com pessoas com
altas habilidades/superdotação, com vistas em seu pleno desenvolvimento. Rótulos que se
constituem na história do que é ser menina ou menino poderiam criar obstáculos na
observação das meninas que possuem altas habilidades/superdotação num processo complexo
envolvendo a família e os diversos profissionais que atuam com este público.
Tabela 1 - Matrículas de alunos com Altas Habilidades/Superdotação na
Sala de Recursos (1º semestre de 2012)
Meninos
Meninas
Total
Nº
30
24
54
%
55,5%
44,5
100
Os dados apresentam uma diferença pouco significativa quanto ao número de
matrículas e consequentemente ao atendimento oferecido a meninos e meninas. Entretanto,
esses números são diferentes dos encontrados em outras pesquisas (Chagas, 2003; Maia-Pinto
& Fleith 2002; Sakaguty, 2010) que mencionam um número significativamente maior de
meninos sendo atendidos em programas educacionais em detrimento de meninas. O cenário
encontrado na coleta de dados para o presente estudo (24 meninas e 30 meninos matriculados)
na Cidade de Curitiba, por sua vez, pode representar uma mudança recente do mito de que
existem mais homens com altas habilidades/superdotação.
No entanto, deve se considerar que mesmo sendo pequena a diferença de atendimento
entre os gêneros feminino e masculino, é necessário refletir que os registros de matrículas do
ensino regular apontam que as meninas são maiorias. Segundo Reis e Gomes (2011, p. 504),
“sabe-se que os processos de seleção de alunos refletem estereótipos e caminhos de privilégio
sociocultural e socioeconômico. Nessas situações, profissionais são chamados a tomar
decisões de impactos, não raro irreversíveis, sobre a vida posterior de crianças e
adolescentes”.
Nesse sentido, em relação aos educandos com altas habilidades/superdotação ressaltase que as indicações de pais e professores, na maioria das pesquisas, são maiores em relação
aos meninos porque correspondem melhor à imagem estereotipada de criança mais dotada
(Sakaguty, 2010). Assim, constroem-se concepções errôneas na relação entre inteligência e
gênero por diferentes esferas da sociedade, como família e a escola (Landau, 2002).
Segundo Sabatella (2005, p. 95) “as meninas brilhantes, altamente verbais, curiosas e
que gostam de discutir ou argumentar, na maioria das vezes são vistas pelos professores como
agressivas ou pouco femininas. Já os meninos brilhantes que manifestam esses mesmos traços
são considerados precoces”, dessa forma, socialmente se permite a uns e não a outros,
modulando-os conforme as expectativas (Reis & Gomes, 2011).
Pode-se aferir que há uma tendência androgênica que corresponde mais a estereótipos
culturais do que à realidade. Diante desse contexto, a ausência de modelos femininos bemsucedidos em áreas de domínio tradicionalmente masculino e a prevalência de incentivos ao
desempenho maior dos meninos favoreceram uma menor motivação entre as mulheres num
longo período histórico, o que dificultou que mostrassem seus talentos e fez com que tivessem
um maior índice de baixa-estima entre elas (Pérez, 2003). Pode essa realidade estar se
modificando atualmente, assim, necessita de um número maior de pesquisas que investiguem
a intersecção do gênero na identificação de crianças e adolescentes que apresentam altas
habilidades/superdotação.
Considerações Finais
Pode-se estimar que homens e mulheres vivem numa cadeia de interações sociais,
constituídas nas relações de afetividade, entendida esta a partir de sua etimologia, como o ato
de afetar, no qual a todo tempo o sujeito afeta e é afetado por tudo que o circunscreve (Loos,
Sant’ana & Cebulski, 2010).
Neste sentido, a partir dos “afetamentos” tem-se a constituição do sujeito, numa
relação dialética com o desenvolvimento da filogênese. Deste processo advêm marcas que
imprimem aos sujeitos identificações do que é ser masculino ou feminino e no decorrer da
história promoveram a desvalorização da mulher em todas as esferas, não se restringindo ao
ambiente de trabalho, por exemplo, mas em toda e qualquer circunstância, justamente porque
se vive numa rede de relações, que mesmo de forma indireta, se é atingido.
Deste modo, visualiza-se ainda este cenário no que concernem as mulheres com altas
habilidades/superdotação. Apesar dos dados indicarem uma possibilidade de mudança dos
possíveis estereótipos relativos às questões de “gênero”, frequentemente as mulheres não tem
seu potencial reconhecido e valorizado por outros e nem por elas mesmas, prevalecendo as
características naturalizantes de que as mulheres são cuidadoras, mães e donas de casa, e os
homens inteligentes, racionais e provedores.
Destaca-se, nessa oportunidade, a necessidade de formação continuada para os
profissionais da educação, os quais fazem a identificação do aluno com altas
habilidades/superdotação. No estudo realizado por Reis e Gomes (2011), identificou-se no
relato dos educadores que eles não possuem experiência na área, que os critérios para a
seleção são muito subjetivos e pautados na percepção pessoal. Desse modo, indaga-se em qual
medida a seleção é embasada no senso comum, no qual possam incidir preconceitos contra a
menina ou mulher.
Dessa forma, sugere-se o desenvolvimento de políticas públicas para a formação
continuada de profissionais da educação para que os mesmos possam efetivamente ter
conhecimento quanto às pessoas com altas habilidades/superdotação e assim propiciar os
encaminhamentos baseados em conhecimento científico. É também indispensável, pensar
sobre uma reestruturação dos critérios de seleção, com vistas a atender de forma igualitária a
ambos os gêneros.
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