Coisa de - Folha Carioca
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Coisa de - Folha Carioca
CIDADANIA & SUSTENTABILIDADE Mudanças de hábito para um consumo1 consciente comes & bebes A profunda ligação entre cinema e gastronomia ARTE & CULTURA Literatura erótica: Drummond, Brigitte Causse, Mano Melo e Enoli Lara Coisa de criança Pérolas da lógica muito peculiar dos baixinhos 2 3 www.pommerland.com.br sumário sumário capa Entrevista Zezé Motta www.folhacarioca.com.br Fundadora Regina Luz Conselho Editorial Paulo Wagner (editor executivo) Lilibeth Cardozo (editora de conteúdo) Vlad Calado Arquimedes Celestino Fred Alves A Folha deste mês oferece um pouco da história de nossa grande artista Zezé Motta, contada por ela mesma. Maria José, a Zezé, é gente nossa: brasileira, negra, artista de viver, de interpretar e cantar. Nascida em Campos dos Goytacazes, veio ainda criança viver no Rio de Janeiro, no morro do Cantagalo. Daí, Zezé ganhou o mundo das artes e não parou mais. Nos palcos, encanta. Em casa, é mãe, amiga, mulher de muitas tarefas. Amiga desde menina de outras grandes atrizes como Marieta Severo e Marília Pera, guarda suas amizades com carinho. Em um país de história escravocrata, Zezé não deixou de lutar pela libertação de seu povo negro. Fez parte do elenco de Roda Viva à época da ditadura, e Xica da Silva foi seu grande papel , levando-a ao estrelato. Divirta-se com um pouco da história de Zezé e encante-se com o sorriso largo e simpático de uma mulher carioca que leva sua cor no colorido da arte aos palcos do Brasil e do mundo. Jorge Souto [email protected] Jornalista responsável Fred Alves (MTbE-26424/RJ) Design e Criação www.Ideiatrip.com.br Projeto gráfico Vlad Calado Foto de capa Jorge Souto 4 Diagramação Yuri Bigio, Carlos Pereira, Marcos Vilaça Fotografia Arthur Moura, Fred Pacífico Revisão Marilza Bigio e Carmen Pimentel Colaboradores Alexandre Brandão, Ana Flores, André Leite, Arlanza Crespo, Carmen Pimentel, Fred Alves, Gláucia Pinheiro, Gisela Gold, Haron Gamal, Iaci Malta, Lilibeth Cardozo, Marilza Bigio, Oswaldo Miranda, Renato Amado, Sérgio Lima Nascimento , Suzan Hanson, Tamas Distribuição Gratuita, veja na página 42 os pontos de distribuição e assinatura postal Publicidade Verônica Lima, Angela Bittencourt, Solange Santos (21) 2253-3879 [email protected] Uma publicação: 22 colunas & artigos 06 Arlanza Crespo 20 Alexandre Bandão 07 Lilibeth Cardozo www.arquimedesedicoes.com.br Av. Marechal Floriano, 38 / 705 Centro – Rio de Janeiro – RJ CEP.: 20080-007 19 Iaci Malta 32 Oswaldo Miranda Quem é Quem 12 Gisela Gold 18 Suzan Hanson No Osso 28 Carmem Pimentel Língua Portuguesa 30 Bijux in the Box 33 Tamas 33 Ana Flores 38 Haron Gamal editorial saúde & bem-estar 9 Pele seca envelhece: hidrate COMES & BEBES 14 Cinema e gastronomia Educação & conhecimento 26 Coisa de Criança ARTE & CULTURA 34 Literatura erótica:Carlos Drummond de Andrade, Brigitte Causse Caferro, Mano Melo e Enoli Lara cidadania & sustentabilidade 40 Pequenas escolhas, grandes transformações Uma urna de boa leitura Nós fazemos a Folha Carioca para você, leitor. Queremos, a cada mês, ganhar sua atenção e lhe oferecer uma leitura agradável, com uma apresentação sempre muito bem cuidada. Portanto, nos escreva, comente, critique, sugira e recomende a Folha aos amigos. Ninguém é mais importante que você. Neste mês, com as eleições municipais, nossa cidade está vivendo intensamente a disputa partidária e de candidatos à prefeitura e à Câmara de Vereadores. Quando quase todos os veículos de comunicação estão voltados para as disputas, fizemos uma revista leve com textos agradáveis e interessantes. Acreditamos seriamente na importância da administração de nossa linda cidade, nos problemas e nas soluções propostas por homens e mulheres que têm planos, mas, apartidários, preferimos oferecer poesia, histórias, personagens e acontecimentos do Rio de Janeiro que sempre nos dão orgulho de sermos cariocas. Assim, seguimos nossa linha de fazer comunicação: leveza com muita seriedade. Vá folheando a revista e se divertindo. Alexandre Brandão, em tempos de eleições, nos regala com uma crônica em que lemos pérolas como “Democracia é também o ciscar da galinha, quero dizer, a coisa simples da vida comezinha” (pág. 26). Nossa capa já oferece ao leitor uma bela expressão de grito forte da grande artista Zezé Motta, nossa entrevistada. Sua fisionomia bonita, forte e muito expressiva, mostra o grito de cada carioca pedindo por nossa cidade. Pedimos licença a Zezé para ilustrarmos com seu grito o quanto a Folha Carioca brada pelo bem da cidade. É um grito de basta de desmandos, transgressões, inverdades. Queremos os e as “zezés” cariocas com largos sorrisos de alegria em viver no Rio de Janeiro. Negra e guerreira como a Zezé Motta, trazemos um personagem carioca que merece ovações. Confira quem é Laura, na página 6. Uma medalhista de velocidade nas raias de atletismo que acalma sua alma e conserva sua aparência jovem com um belo sorriso, pescando nas tardes bonitas na murada da Urca. Laura, com 76 anos, tem energia e alegria sobrando para oferecer a muitos jovens. Leia o exemplo de saúde, destemor e batalha dessas duas mulheres! Zezé e Laura são nossas cariocas eleitas pelo voto do reconhecimento! No mês das crianças, trazemos algumas boas e divertidas falas dos pequenos que estão sempre nos ensinando. Fazendo perguntas aos pequeninos, ouvimos da pequena Maria Eduarda: você está perguntando por que é jornaleira, não é? E selecionamos algumas frases que nos fazem rir. E risos celebram crianças! Leia na página 18 e delicie-se com as fotos lindas dos nossos pequenos cariocas. Carmen Pimentel , no texto Percalços da Língua, nos ensina e nos diverte com as armadilhas dos verbos irregulares. Carmen quase escreve: “eu fazi um texto legal”. Ela merecia! Tem muito mais na edição de outubro. Nossos articulistas levam os leitores ao amor de amantes, no erotismo de Drummond, Mano Mello e Enoli Lara. Tem cuidados com a pele, comida e confiança e a boa mistura de cinema e gastronomia muito bem sentido e escrito por André Leite. Oswaldo Miranda rende homenagem ao grande Nelson Rodrigues, e não falta poesia e coisas de família nos textos da revista do início da primavera carioca. Boa leitura! Conselho Editorial 5 A rlanza Crespo | QUEM É QUEM [email protected] Ser e não transparecer 6 Quem quiser conhecer uma das melhores velocistas do mundo, que já representou o Brasil em três continentes; quem quiser saber sobre as 680 medalhas dessa grande atleta da Seleção Brasileira, também professora de Educação Física, e tudo mais sobre sua vida profissional é só ir ao Google e digitar Laura Eunice das Chagas. Vai encontrar muita coisa. Mas quem quiser conhecer a Laura, sua simpatia e alegria, leia esta entrevista. Marcamos por telefone, eu não a conhecia pessoalmente. Ela me disse: “Espero você às 16h no ponto final do ônibus 511, na Urca”. “Mas como vou saber quem é você?" perguntei. "É fácil, sou pretinha e magrinha". E lá fui eu, de táxi. Cheguei cinco minutos antes, mas ela já estava lá, cheia de energia, com um sorriso maior que o rosto. Simpatizei de cara! Laura nasceu em 1936, em Santa Cruz. É formada em Educação Física pela UFRJ em 1968, com pósgraduação em 1969. Fez também Faculdade de Pedagogia e trabalhou como professora em escolas particulares. É árbitra da Federação do RJ. Para ela, tudo foi conseguido através de muito estudo, e teve a sorte de sempre estudar em bons colégios. Sua mãe trabalhava como cozinheira na casa do ministro Edgard Romero e morreu quando Laura tinha quinze anos. Mas Laura continuou morando lá até se estabilizar na vida. Estudava no Colégio Leitão da Cunha em 1953 quando começou a competir influenciada pela professora de Educação Física, que fazia uns jogos internos no Colégio. “Ela me observava e dizia que eu tinha nascido para ser atleta. E eu perguntei: ‘O que é ser atleta?’ Ela me explicou e disse que no ano seguinte ia ter uns jogos pelo Jornal dos Sports, e eu ia competir. Comecei em corrida, 50 metros, e venci o Anglo Americano no salto em distância. Quando foi em 1955, o Anglo Americano me chamou e me deu uma bolsa de estudos. Fiquei lá até 1959 e ainda tenho uma grande amiga dessa época chamada Helena Fernando Martins”. Com 19 anos, Laura já era dona do seu nariz e foi morar sozinha. Trabalhou no Hospital Souza Aguiar, no Salgado Filho, fez concurso público, passou em primeiro lugar, sempre vencendo pelos próprios méritos. Nunca quis se casar. Uma vez namorou um rapaz por quatro anos, mas ele não estudava, não deu certo. Laura sempre pensou no futuro. Laura mora sozinha, no Méier. Sua vida é baseada na disciplina, como deve ser a de todo atleta. São cinco refeições por dia, sem nunca sair do sério. "Estou no que chamo de terceira fase da vida. Nessa fase, temos mais do que nunca ter disciplina. A terceira fase é o fecho do ser humano". Quando não está competindo, ela está pescando. São quarenta anos ali na Urca. O que ela pesca? Olhode-cão, cocoroca, bagre. Mas os recém-nascidos voltam para o mar, só os maiores é que vão para a panela. Setenta e seis anos, 1,54m de altura, 680 medalhas no currículo, sempre competindo. Laura foi atleta do Vasco da Gama, de 1954 até 1965, quando o clube acabou com o atletismo. Depois ela foi para o Botafogo, onde está até hoje e é sócia emérita. "Qual o reconhecimento que o país lhe dá?", perguntei. De novo o sorriso bonito: "Nenhum, sempre fiz tudo às minhas custas, pagando do meu bolso, sem patrocínio". Mas não tem ódios nem rancores. Seu júbilo é ser agraciada lá em cima: "Minha mãe deve ter dito: Senhor, não dê nada para mim, dê pra ela". Só este mês, Laura já ganhou oito medalhas. No Rio de Janeiro, agora em outubro, tem o campeonato estadual, e tem só ela representando o estado. "A crioula aqui é danadinha!". Quando perguntei qual o título que gostaria de ter na história de sua vida, a resposta veio rápida: "Ser e não transparecer". Realmente, quem vê aquela baixinha, magrinha ali sentada no muro pescando, nem pode imaginar que está diante de uma grande atleta, várias vezes campeã brasileira! l ilibeth cardozo [email protected] Voltar à casa materna Escrevo um texto de saudade. Difícil não manchar o papel que fica enrugado, quase solidário às minhas lágrimas. Fui visitar minha cidade natal, a casa dos meus pais. Lá, onde nasci, cresci e fui velar os corpos dos meus irmãos recentemente. De coração apertado de tantas saudades, fui buscar um pouco da minha história para me deleitar com lembranças. Chegando ao município, já fui sendo abraçada pelas serras que enfeitam os limites do território: ainda verdes, serpentinas da Serra do Mar envolvem a pequena cidade. No centro, uma agressão aos ouvidos: o barulho intenso de muitos e muitos carros! A cidade do automóvel! Mas não me aborreci, embora sentisse saudades dos tempos mais silenciosos, quando as pessoas caminhavam a pé. Meu intento era ir à casa onde nasci e vivi até vir para a Universidade, aos 17 anos. A casa da minha mãe era nossa referência de origem, nosso ninho para aconchegos, a casa para voltar, nossa casa de festas. Morreram meus avós, meus tios-avós, meus pais e todos os filhos foram saindo. Ficaram meus irmãos. Um deles, nunca saiu, e lá era sua casa sempre. O outro, depois de um casamento desfeito, voltou. Depois de muitos anos, a referência da casa da vovó, onde moravam os dois, num repente, de um mês, velou os corpos deles, meus únicos irmãos. No jardim daquela casa, flores eram cuidadas por um deles, os cães eram o xodó do outro. O canto do corrupião do meu irmão foi ouvido a noite toda de sua partida. Ao voltar à casa, encontrei saudades. Tudo vazio. Entrei buscando os sons de minha infância: a algazarra da grande família, crianças, adultos e idosos, todo mundo família! No jardim, a grama já não é tapete aparado. O mato cresceu por entre as plantas que eram bem cuidadas. Algumas já tombam por falta das mãos que as regavam. Nunca encontrei cores falsas nas flores do jardim da minha mãe. Apesar de vazia fica pouco espaço para ausências. Entro e vejo logo que casa de mãe tem viga forte e sustenta do chão à cumeeira. Em casa materna, a vida inteira, as imagens da família dançam nas sombras de cada janela. É casa bem assombrada! E saudade tem som e cheiro. As lembranças tomam meu coração e saem desenhando as histórias das emoções. Cheiro do barulho das crianças e o barulhinho de vida na fervura do feijão na cozinha. Som entrecortado pelas batidas do alho socado para o tempero. O corrupião cantando solene enquanto salta nos poleiros da gaiola. Os latidos dos cães, a vassoura de piaçaba varrendo as folhas do quintal, e as cores viçosas das flores que emolduram o muro envelhecido. Tudo tem vida nas lembranças! Saudades podem também fazer muito bem. Não tenho vontade de chorar; só de recordar. Onde estão todos? Casa vazia é quase nada. O que dói, arranha, machuca, é a falta daquele calor do corpo do irmão que partiu. Mistério não é esse tanto de vida que tivemos juntos . Mistério é a morte! 7 SAÚDE & BEm-ESTAR FC Marketing O reducionismo da medicina Terapêuticas diversas > apenas alopatia 8 Tive a honra de ter sido convidado para com ele trabalhar pelo professor Carlos Chagas Filho, diretor do Instituto de Biofísica da Universidade do Brasil e titular da cadeira na então Faculdade Nacional de Medicina. Foi ele o meu primeiro contato com nossa profissão e, a cada tempo que passa, aumenta o meu orgulho em relação à nossa convivência. O ano era 1959 e em julho fui convidado para participar do Congresso Internacional de Fisiologia, presidido pelo Premio Nobel, Bernardo Houssay. A maior produção brasileira era do nosso Instituto. Em 1972 foi convidado para presidir a Pontifícia Academia de Ciência no Vaticano e lá ficou por 16 anos. Foi um dos (ou talvez o mais) que mais recebeu prêmios nacionais internacionais. Digo tudo isso para mostrar que o meu pensamento médico teve origem na área científica. Meu chefe direto, Antonio Paes de Carvalho que acabara de se formar e já era citado no “Best and Taylor”, livro de fisiologia adotado por quase todas as escolas de Medicina. À nossa volta, cientistas de reconhecimento internacional, como Chagas, e simples como ele. E com ele aprendi a humildade da ciência que, na atualidade, se arvora em dona da verdade. “Comprovado cientificamente” era um termo nunca usado. Dizia ele que a ciência demonstrava com os dados forneci- dos para estudo, um pensamento que poderia ser alterado por menor que fosse a alteração dos dados. E era o que víamos: demonstrações desmentidas por novos estudos, sem acusar de errôneos os estudos anteriores. Mostrava nas entrelinhas que a função da ciência é saber fazer as perguntas e montar os estudos. A veracidade das respostas será sempre passageira. Chagas não aceitava verdades aleatórias. Quando disse a ele que eu iria fazer o MBA disse: “Pela primeira vez temo pela Clínica São Vicente”. Já percebia que a administração estava se tornando reducionista, como a mente da maior parte das pessoas. Eu me matriculara nesse curso logo após terminar e defender a tese do mestrado em filosofia que tinha como sub-título “Medicina – um encontro de pessoas”. Foi nesse mestrado e sempre lembrando o comentário dele, que abri as portas do conhecimento amplo da Medicina. Fui às suas origens e percebi então o que seria a ciência ela aplicada. As curas eram, dependendo de onde e da época, feitas por shamans, magos, sacerdotes, filósofos e finalmente cientistas, a partir de Vesalius. Isto nos mostra que a ciência tem pouco mais de 600 anos enquanto as curas diversas têm milênios. Por que então reduzir a Medicina a um de seus métodos de estudo? Vemos em nossos dias a crescente conscientização dessa distorção. Cresce o interesse e a crença em métodos outros de terapia, alguns antes descartados pela alopatia e alguns reintegrados, ou seja, mostrando que as verdades científicas são passageiras. Entre outras tantas estão: Homeopatia, Acupuntura, Fitoterapia, Medicina Ayurvédica, Medicina Ortomolecuar e mais recentemente Medicina Quântica e Medicina Espiritual. A aceitação dogmática da aloterapia traduz uma crença cega de que o conhecimento parou em outras épocas. Ela tem uma ação reconhecida em situações agudas, mas há algumas dúvidas em relação às patologias cronificadas. O estudo filosófico alargou meu campo de conhecimento. Colocava questões que eu não conseguia responder. Passei a ler, me comunicar e visitar com pensadores diversos que tinham, em relação à Medicina olhares mais ricos, fruto de observações e reflexões muito mais amplas que o olhar da Ciência. Entre outros Edmund Pellegrino e Robert Veatch em Washington, David Thomasma em Chicago, Eric Cassell em Nova Iorque e, no Brasil, Genival Veloso de França em João Pessoa e Gilberto Freyre em Recife. Esses mestres com sua envergadura pelo visto conheciam mais a Medicina que muitos professores e outros luminares da prática médica. A Medicina jamais progredirá se nos ativermos aos conhecimentos atuais e tomá-los como verdade absoluta e imutável. Lembremos que a ciência não explica a psicoterapia nem o efeito placebo, mas aceita ambos, mesmo que os seus resultados não sejam “comprovados cientificamente”. Por que então se colocar frontalmente contra esses métodos? Devemos sempre nos lembrar que a ciência é um método de estudo e a alopatia é um modo de praticar a Medicina. Nem um nem outro são verdades absolutas. Mas são a base para desenvolvermos os novos conhecimentos. A Medicina alopática entregouse a medicamentos químicos com efeitos colaterais e custos crescentes, a cirurgias agressivas por vezes mutilantes, a máquinas cada vez mais complexas, a próteses diversas, a exames de todos os tipos e passou a desconsiderar a integralidade do paciente. Todos eles podem ter um uso, mas rapidamente se institucionaliza o abuso. E aí está a grande contribuição das chamadas medicinas alternativas. Crescem rapidamente em tempo e intensidade os desvios da Medicina. Mas vemos, no nascedouro, mas já tomando corpo, a conscientização a esse respeito, recolocando o paciente, para quem deve estar voltada a missão médica e entendendo que sem a relação médico-paciente é o cerne da Medicina. EMERGÊNCIA Tel.:2529-4505 Luiz Roberto Londres é médico e diretor da Clínica São Vicente. GERAL Tel.:2529-4422 Estética e beleza Pele seca envelhece: hidrate CONHEÇA A REVOLUCIONÁRIA DEPILAÇÃO SEM DOR. O ressecamento da pele é comum nesta época do ano e pode ser causado por diversos fatores: desde um banho quente e demorado até o mau uso do hidratante Gláucia Pinheiro* O mês de outubro é muito especial! Com a chegada da primavera, a natureza nos dá de presente dias quase perfeitos. Hoje, por exemplo, ainda é de manhã e o sol está lindo, o verde das matas está mais verde e entremeado de árvores floridas, de diferentes cores. O mar, só não está mais azul do que o céu. A época também é de ventos… uma delícia sentir esse ventinho fresco e perfumado que agora está soprando mais forte! Entretanto, é conveniente prevenir nossa pele contra o ressecamento, que envelhece. A superficie da pele é constituída pelo manto hidrolipídico, uma mistura de sebo e suor, que tem função de manter o nível de hidratação e de lubrificação adequadas da pele. O vento, as mudanças bruscas de temperatura, o ar seco e o ar condicionado provocam a evaporação da água da nossa pele tornando-a desidratada. Com o envelhecimento, ocorre diminuição das taxas hormonais, e a pele se torna ainda mais desidratada. Alguns medicamentos também facilitam esse processo como, por exemplo, os diuréticos. É importante observar que produtos que eliminam a gordura superficial da pele também provocam a desidratação. Um exemplo é o uso excessivo de adstringentes. Uma pele oleosa pode ficar desidratada. Podemos identificar a pele desidratada e seca porque ela se apresenta áspera, sem brilho e sem elasticiddade. Cuidados devem ser tomados com relação a algumas práticas como banhos quentes e demorados e, principalmente, usando sabonetes com pH alcalino (os em barra apresentam pH próximo de 10). Os sabonetes líquidos podem ter o pH ajustado para próximo ao da pele, isto é, entre 5,5 e 6,0, o que os torna menos agressivos. No final do banho, ainda sob o chuveiro, passe um óleo de semente de uvas ou de amêndoas doces, retire o excesso com água, e após secar o corpo com a toalha, aplique um bom hidratante, que deve ser aplicado enquanto a pele ainda está úmida. Você encontra no mercado hidratantes específicos para o rosto e para o corpo, que podem conter ureia, óleo de girassol, PCANa, aloe vera, ácido hialurônico, ceramidas, elastinol, colágeno marinho ou de origem vegetal, óleo de arroz, complexos vegetais tipo hidroglicólico composto por cereja, framboesa e amora, e muitos outros. Para o rosto, é importante consultar um especialista que vai adequar INDOLOR UNISSEX DURADOURO as formulações de acordo com seu tipo de pele. Se for oleosa, os ativos hidratantes devem estar sob a forma de géis ou loções oil-free; se for mista, o tratamento é combinado, isto é, um produto oil-free ou gel, ou gel-creme na zona T (testa, nariz e queixo) e outro nas bochechas. Você também encontra ótimos produtos para a hidratação das pálpebras e dos lábios, que são áreas mais delicadas e deficientes em glândulas sebáceas. Para os lábios, é indicado o uso de formulações que contenham hidratantes associados aos filtros solares. As formulações para os olhos devem ser específicas, pois alguns ativos são potencialmente irritantes e podem entrar nos olhos quando aplicados, ou durante a noite, ao deitar. Atenção, o protetor solar não pode ser esquecido e deve seguir a mesma regra. Inicie os cuidados agora e prepare-se, pois o verão vem logo depois! * Glaucia Pinheiro é farmacêutica [email protected] Botafogo 2577-5935 Copacabana I 3734-2100 Copacabana II 2543-5124 Flamengo 8356-4555 Ipanema 2512-7773 Leblon 3045-7815 Shopping da Gávea 2146-9833 www.naomaispelo.com.br 9 SAÚDE 10 & BEm-ESTAR V itrine decoração Sua casa mais criativa Bem-humoradas, despojadas, curiosas. Com uma variedade imensa de objetos de decoração, a Arcana traz em suas peças uma experiência lúdica para dar leveza à sua casa. Objetos assinados, luminárias. esculturas, relógios são algumas das opções da loja. 21 2226-7187 Rua Humaitá, 63 A - Humaitá (próximo a Cobal) [email protected] Ambientes elegantes Localizada no coração de Copacabana, a OD Decorações se destaca por oferecer um atendimento especializado em cortinas, venezianas, pisos e revestimentos. Distribuidor exclusivo Luxaflex, oferece persianas em alumínio, madeira ou PVC, que se destacam pela beleza, sofisticação, elegância, harmonia e praticidade. 21 3820-0002 / 2275-5812 Av. 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E num desses desatinos, a menina em excursão pelo colégio, viu um dos quadros em que um moço aparecia com as duas mãos segurando a face, com a boca aberta. A moça do museu falou que é um quadro famoso: “O Grito”, de Munch. Ao chegar em casa, a menina contou ao pai sobre a excursão e comentou o tal quadro. 12 - Paiê, a moça disse que o quadro do tal do Munch, da Noruega, era importante. Ouvi ela falando assim pra moça mais velha, até anotei, ó: “A obra representa uma figura andrógina em momento de profunda angústia e desespero existencial”. Parece outra língua. Isso é Português, pai? A única coisa que me lembrei é da mamãe que fala muito essa palavra “angústia” quando tem problema. Mas deve ter alguma coisa de problema, claro, né, pai, se tem grito, óbvio que vai ter problema. Ããããã! Engraçado, não vi nada disso. Pra mim aquela figura com a cabeça entre as duas mãos me lembrou a vovó quando a gente deu um susto com a barata debaixo da poltrona dela. A cara dela ficou assim. Mas depois que ela soube que fui eu quem colocou a barata, ela gritou e me deixou sem bolo de chocolate de sobremesa. No dia seguinte, eu escrevi que amava ela no caderno de receita e ficou tudo bem. Eduarda, de doze, tinha mania de ver as coisas sem perguntar pro pai o que era pra achar. No dicionário dos afetos, isso se lê “liberdade”. G UIA sHOPPING CIDADE COPACABANA 13 Anuncie no G UIA sHOPPING CIDADE COPACABANA (21) 2253-3879 [email protected] comes & bebes Cinema e gastronomia TEXTO_ANDRÉ LEITE 14 A gastronomia é uma arte que envolve todos os sentidos; mas, sem sombra de dúvida, tudo começa pelo visual. Talvez seja por isso que com o cinema haja um relacionamento tão íntimo. O fato é que ambas as formas de arte são extremamente eficientes em emocionar as pessoas. Desde os primeiros filmes, a gastronomia sempre esteve presente. A arte dos irmãos Lumière reflete as nuances da vida, e a comida tem servido no cinema para celebrar, reunir, seduzir, presentear, matar e mostrar como os relacionamentos quase sempre existem em torno da mesa ou na cozinha. Segundo Bruno Adnet, colunista do site CineFanático Brasil, “todo filme tem uma estória pra contar, e a culinária pode ajudar muito a desenvolvê-la. Os que têm cenas envolvendo gastronomia, seja na cozinha de um restaurante gourmet ou de um pequeno apartamento, podem nos mostrar a magia dessas duas artes juntas. O cinema ajuda a mostrar para o mundo como e quão importante é a arte de cozinhar e preparar pratos, sejam eles complica- dos ou simples. Grandes personalidades do mundo se expressavam através de sua comida. Nunca poderemos provar da cozinha ou conversar com várias delas, mas os filmes sobre elas nos ajudam a entender mais sobre o grande amor e delicadeza que existe dentro delas sobre a gastronomia.” Também é lugar comum, durante refeições memoráveis, perceber o quanto as pessoas, além de comer, gostam de saber como se faz cada prato, e descobrir detalhes históricos ou peculiares. Um lugar, logo ali em Botafogo, consegue capturar essa atmosfera. O Espaço Carioca de Gastronomia é tão especial que já está sendo considerado como referência no mercado de gastronomia. Desde 2010, funciona como um centro inovador, que dispõe de estrutura e equipamentos necessários que podem ser utilizados para a execução de cursos, workshops e degustações, voltados tanto para profissionais quanto para amadores. Criaram também uma programação de eventos temáticos regulares de tirar o fôlego: Gastrologia, para combinar os sabores com os signos; Segunda Cultural, com palestras sobre a história da gastronomia; Quarta Carioca, quando são ensinados nossos pratos típicos; e, para promover o convívio, existe a confraria Gourmet, uma espécie de clube que reúne amantes da boa mesa. Mas, o que considero uma joia rara, é o chamado CineBistrô, quando se debate sobre um filme que fale da gastronomia, promovido com profissionais da área de cinema e finalizando a noite com um jantar envolvido na temática apresentada do filme. O formato do evento não é um jantar baseado no cardápio do filme, nem tão pouco uma sessão de cinema seguida de degustação. Na verdade, algumas das principais cenas são selecionadas, tanto pelo pessoal de cinema como pelo chef. E, então, cada cena é discutida sob os dois aspectos. Ao longo desse delicioso bate-papo, são servidos os pratos harmonizados com vinhos, realçando a essência do filme, e dando toda uma complexidade à experiência. “Já podemos ver em vários filmes que os pratos feitos pelas personagens demonstram seus sentimentos e suas personalidades. As comidas presentes nesses filmes têm um valor significativo para o enredo ou para a construção da personagem. Um hambúrguer pode mostrar que, por mais que o protagonista seja um assassino profissional, ele ainda é um ser humano que se alimenta e gosta desse específico sanduíche, mostrando outro lado do assassino. No CineBistrô, analisamos cenas e tecemos comentários sobre o valor da gastronomia na sétima arte e como ela tem o poder de mudar qualquer coisa dentro do cinema”, completa Bruno. O clima de descontração e informalidade favorece a participação do público. A troca de impressões é muito enriquecedora. Os gourmets presentes podem comparar as sensações e ouvir novos pontos de vista. E, como é um hábito comum entre os cinéfilos assistir ao mesmo filme muitas vezes para se ater a determinadas facetas, nesse formato, o conhecimento acumulado sofre o efeito sinérgico. Algumas cenas marcantes guardadas em nossas memórias, muitas vezes, refletem o caminho de nossa criatividade e a maneira como nos identificamos com a culinária. Por isso, cinema e gastronomia sempre renderam uma boa mistura. É uma forma nova de vivenciar a gastronomia... A vinte e quatro quadros por segundo! Vale conferir! Espaço Carioca de Gastronomia Rua Teresa Guimarães, 26, Botafogo G ASTRONOMIA CARIOCA 15 G ASTRONOMIA CARIOCA 16 17 Anuncie no guia G ASTRONOMIA CARIOCA (21) 2253-3879 [email protected] SAÚDE & S BEm-ESTAR uzan hanson [email protected] Comida e confiança 18 De alguma forma sempre tive certeza de que essas duas palavras estão visceralmente ligadas. Como comer algo vindo de alguém ou lugar em que você não confia? A etimologia da palavra confiança: “vem do Latim CONFIDENTIA, “confiança”, de CONFIDERE, “acreditar plenamente, com firmeza”, formada por COM, intensificativo, mais FIDERE, “acreditar, crer”, que deriva de FIDES, “fé””. Ter fé, acreditar na comida de alguém é reconfortante. Tem a amplitude que passa por navegar em mares tranquilos e já conhecidos, até se permitir deixar levar por rotas mais tempestuosas e nunca antes navega- das. De olhos fechados. Falo de segurança e tranquilidade. Do que há em comum e familiar, da crença no talento, do crédito dado para experimentar algo novo com o carimbo de quem você confia. Minha amiga poetisa, resumindo, brincou com as palavras: COM + FIANÇA = com aval. Com carimbo. Minha relação com a comida se faz em primeiro lugar através dessa contínua afirmação. Sinto que quem me conhece sabe que, ao compartilhar meus pratos, terá o melhor de mim, toda a minha dedicação e atenção. Da mesma forma, com quem estabeleci essa relação, mergulho de peito aberto, saboreio. O melhor é que a confiança muitas vezes se consolida através de pequenos detalhes interessantes. Como a música alimenta minhas vivências na cozinha, divido uma das minhas maiores confianças nessa arte: Abe Laboriel Junior: - com Paul McCartney : http://www.youtube.com/ watch?v=9rofczyq12s, “Sargent’s Pepper Lonely Heart Club Band” – onde aparece a competência; http://www.youtube.com/ watch?v=bzLEy1d8UVI , “Dance Tonight” - onde se estabelece a confiança: quem tem coragem de dançar de forma tão ingênua?; - com Mylène Farmer h t t p : / / w w w. y o u t u b e . c o m / watch?v=FspTcSh00NM, “Les Mots” - com a confiança adquirida, só prazer. i aci malta [email protected] O amor de amantes Após ler meu texto sobre o amar e o gostar, um dos meus amigos leitores me encomendou uma reflexão sobre o que chamarei de amor de amantes. Acho que todos entendem, mas não custa nada deixar bem explícito que estou me referindo ao amor dos casais, daqueles que se encontram e se escolhem (ou não) para tentar viver uma relação amorosa. O amor sem adjetivos, simplesmente amor, aquele que eu disse não depender de reciprocidade, aquele que não se confunde com a necessidade ou desejo de ser amado, pode ou não estar presente no amor de amantes. Haja vista que o amor sem adjetivos nunca pode se transformar em ódio, como vemos acontecer (infelizmente, não tão poucas vezes) com o amor de amantes. Se o amor é um mistério, o amor de amantes é uma mistura (casamento?) do mistério com o óbvio. Antes de mais nada, não devemos confundir paixão com amor de amantes. A paixão é um estado transitório que tem por objetivo promover o encontro dos futuros amantes. E tem que passar para dar lugar ao amor de amantes: se não passa, se torna patológica. Antes que os eternamente apaixonados se revoltem, esclareço que considero “paixão eterna” (ou duradoura) uma forma romântica de expressar o amor de amantes que inclui o amor sem adjetivos. A paixão pode acontecer repentinamente; o amor é algo construído na vivência da relação. O mistério: por que desejamos o amor daquele que não nos quer amar? Por que não amamos aquele que nos quer amar? Por que desejamos alguém que consideramos não ser a pessoa adequada e não conseguimos desejar aquele que acreditamos ser até ideal? Por que nos sentimos atraídos sexu- almente por uns e não por outros? Eu sei que tem a tal da química, mas será que química não é apenas uma forma de nomear o mistério do amor de amantes? O óbvio: a necessidade de reciprocidade, a atração sexual, a admiração, o deslocamento inconsciente de afetos não recebidos no passado (busca de preenchimento de faltas vividas no passado), as ilusórias compensações narcísicas (sou maravilhoso porque sou amado por esse outro que todos admiram), a necessidade da convicção de possuir o ser amado (presente mesmo naqueles que aceitam alguma forma de compartilhamento – eu sou o verdadeiramente amado). Enfim, tentei. Mas... admitindo que o amor de amantes envolve algum mistério, para atingirmos sua compreensão talvez tenhamos que apelar para a Física quântica – afinal de contas, atualmente, para tudo que envolve algum mistério há alguém que apresenta uma explicação quântica. No caso, a explicação poderia ser: o amor de amantes nada mais é do que um efeito quântico da sexualidade. E com isso, como em outros mistérios da vida, tudo estaria entendido sobre o amor de amantes. 19 a LEXANDRE brandão | no osso [email protected] Esfinge voraz Estamos na época de digitar o voto na urna eletrônica — orgulho tecnológico que deixa muita gente com a pulga atrás da orelha — e apontar nossos futuros prefeitos e vereadores. Elegemos no plural, mas o meu ou o seu candidato podem muito bem passar longe, bola chutada pra fora do estádio. Ele ou ela terão ideias próprias e, por essa razão, serão derrotados? Ou ela ou ele não passarão de fanfarrões corretamente sepultados pelo voto, ou melhor, pela falta de voto? Democracia: esfinge que, quanto mais deciframos, mais nos devora. Sem democracia não viria à tona a voz das minorias, dos marginalizados ou dos que, persuasivos, opõem-se à situação. Mas, na democracia, elegem-se os que têm tutu à beça ou os que, mesmo não o tendo, acercam-se dos que têm. A 20 aliança circunstancial serve bem no dedo de quem não se presta a casamento duradouro, de quem gosta das festas do matrimônio e, mais ainda, dos divórcios, porta que se abre para nova conquista. Não é jabuticaba, fruta que viceja apenas em nosso solo gentil. Vejam a eleição americana (se aproximando) ou a francesa (recém-acontecida): nelas também o dindim é o diapasão que orienta a orquestra. Lá e cá, orquestra na qual tocam célebres artistas ao lado de burocráticos leitores de pauta. Péssima metáfora, os burocráticos leitores de pauta fazem mal ao ouvido e sensibilidade alheios; por sua vez, os maus políticos subtraem os instrumentos da orquestra e deixam o verdadeiro artista preso à pantomima. Por isso encontramos muitos spalle pelas ruas passando o arco invisível no violino igualmente invisível. Democracia não é apenas o espetáculo do sufrágio universal. Esse é apenas o momento de sua celebração. Democracia é também o ciscar da galinha, quero dizer, a coisa simples da vida comezinha. É minha relação com meus filhos, e a deles com seus professores. E a dos professores com seus superiores. É o respeito aos mais velhos, aos mais pobres. É a convivência com a diferença. É a discussão de ideias. É, ainda, a possibilidade de termos todos as mesmas oportunidades. Como a democracia se fixa também na dinâmica do corriqueiro, podemos atuar com mais desembaraço em sua consolidação. Contraditoriamente, maldita esfinge, é justamente esse o espaço de maior dificuldade, pois temos de brigar com nossos preconceitos mais arraigados. Meter o dedo na máquina é fácil, viver democraticamente é que são elas. 21 capa Entrevista Zezé Motta Uma atriz e cantora feita de emoções 22 TEXTO_Sérgio Lima Nascimento FOTO_JORGE SOUTO Maria José Motta de Oliveira mudou-se com a família de Campos para o Rio de Janeiro quando tinha três anos de idade. Frequentou a escola do teatro O Tablado, sendo aluna de Maria Clara Machado. Começou a carreira de atriz em 1967, estrelando a peça Roda Viva, de Chico Buarque. Ao longo de sua carreira, foram 27 novelas e 39 filmes. A carreira de cantora teve início em 1971 em casas noturnas paulistas, tendo gravado 10 discos e um DVD. Na entrevista, ela fala do início de sua carreira, quando já na primeira peça, Roda Viva, foi agredida por delinquentes, no período da ditadura militar; de Xica da Silva, um marco para a mulher brasileira e para todos os afrodescendentes; do Movimento Negro; e do seu coração de mãe maior que o mundo, pois ao longo de sua vida adotou cinco meninas, hoje, adultas: Luciana, Nadine, Sirlene, Carla e Cíntia, além de um menino, Robson. Ela criou sozinha as meninas desde que elas eram bebês. Seu início de carreira foi como atriz, mas sua origem é de uma família de músicos. Fale um pouco de seu inicio de carreira, sua cidade natal e a vinda para o Rio. ZM: Eu nasci em Campos dos Goytacazes. Minha avó era parteira e, quando minha mãe começou a sentir as dores do parto, ela foi para a casa dela, que era do outro lado da linha do trem, onde já era São João da Barra. Mas eu não consigo dissociar a minha identidade de campista. Entretanto, quando vou a Campos, vejo que não sou nem são-joanense nem campista, e sim carioca (risos). Estou exagerando! Mas eu me identifico mais com o Rio de Janeiro, pois vim para cá com três anos de idade. Meu pai era músico; minha mãe, costureira, e eles foram morar no Morro do Cantagalo. Como tinham que trabalhar, não podiam me deixar o dia inteiro sozinha em casa. Então, fui morar com meus tios e uma prima no Jacarezinho. Depois, morei com outro tio, na Rua José Linhares, no Leblon, onde ele era porteiro. Uma das moradoras do prédio era Marieta Severo. E a vida inteira eu lembrava que dos quatro aos seis anos de idade, a minha melhor amiga se chamava Marieta Severo. Como meu tio era porteiro e só tinha filhos homens, eu ficava meio perdida. Ia, então, para a casa do Dr. Luís, pai da Marieta, brincar com ela. Disso eu nunca esqueci. E quando estreei numa peça do Chico Buarque de Holanda, que já era casado com a Marieta, quem descobriu que “eu era eu” foi a mãe dela. Ela não me reconheceu de imediato, pois fui para o prédio muito pequena, e a gente se reencontrou quando eu já tinha 21 anos! Demos um abraço daqueles. Tem uma coisa muito bonita: toda vez que encontro a Marieta, a gente dá esse abraço, pois foi uma coisa muito forte! A vida a fez guerreira desde sua estreia em Roda Viva, peça de Chico Buarque no pior momento da ditadura, quando o CCC (Comando de Caça aos Comunistas) perseguiu e agrediu os atores no palco. Fale um pouco desse episódio e dos atores que sofreram essa agressão, ocorrido em 1968, que é desconhecido das novas gerações. ZM: É verdade, eu já estreei apanhando em vários sentidos! Roda Viva era do Chico Buarque, com direção do José Celso Martinez Corrêa. Um grupo de universitários de extrema direita ficou frequentando a peça durante algum tempo para estudar toda a geografia do teatro. Isso foi em São Paulo. A peça tinha sido proibida no Rio de Janeiro, mas depois que fomos para a rua protestar, voltamos com a encenação e foi um sucesso. Seis meses em cartaz no Teatro Princesa Isabel! Era uma peça marcada pela agressividade proposital com o intuito de chocar o público para os problemas que cercavam o país na época. Metade do elenco representava policiais, e “Aprendi com Marília Pêra que um dos segredos para uma carreira bem sucedida é ter disciplina” outra metade, estudantes. Os policiais entravam em cena espancando os estudantes e estes gritavam: “Abaixo a ditadura”. Em São Paulo, o CCC estudou todos os detalhes, por exemplo, como se chegava ao camarim, a que horas começava... De repente, um dia, ao fim da peça, eles estavam tão ansiosos para nos espancar e eram tão violentos, que os últimos espectadores foram empurrados por eles para sair logo do teatro. Eu me lembro que ouvi um tumulto, fui lá ver do que se tratava e me deparei com uns homens fortões, com soco-inglês, cassetete. Saí correndo! Entrei no camarim com o Rodrigo Santiago, que era protagonista da peça, e ficamos empurrando a porta. Só que não conseguimos segurar porque eles eram muito fortes. Invadiram o camarim e saíram espancando todo mundo. Me lembro de ter levado muita cassetada. Teve gente que foi parar no hospital! No grupo de atores tinha André Valle, aquele que foi o Visconde de Sabugosa do Sitio do Pica-pau Amarelo, Pedro Paulo Rangel, Paulo Cesar Pereio, Marilia Pera que substituiu a Marieta Severo, Samuca, Flavio Santiago... Isso virou um grande pesadelo! Tinha ator entrando em cena mancando, com braço engessado... Pior foi em Porto Alegre, onde distribuíram panfletos dizendo: “Se você é adepto das drogas, maconha e do LSD, assista a peça hoje, porque vai ser só hoje!” Quando chegamos ao teatro, ele já estava lacrado e cercado de policiais. Tinha um ator de Porto Alegre que nos escondeu na casa da avó, e nós fingindo que era uma festa porque estávamos ameaçados de morte, enquanto a vovó nos servia biscoitinhos. Você é uma artista versátil levando a representação para o canto e, muitas vezes, o canto para as personagens. O que você prefere fazer: cantar, representar, ou as duas coisas são indissociáveis? ZM: Ah, que pergunta difícil! Eu realmente me sinto em estado de graça quando estou representando e cantando. Se me encostassem na parede e me fizessem decidir entre cantar e representar, eu acho que escolheria cantar. Você estudou canto ou aconteceu de forma natural? ZM: Canto foi uma coisa muito louca na minha vida. Eu estudei doze anos. No início da carreira, estava muito indefinido o que era ter um registro vocal privilegiado. Eu sou contralto. Eu não tinha consciência disso, então cantava em qualquer registro. Com o tempo e com as aulas, descobri que meu grave era muito bonito. Quem te inspirou no seu início de carreira, no canto e na representação? Quem são seus grandes ídolos? ZM: Minha guru foi Marília Pêra, que hoje em dia é minha amiga e comadre. No início da carreira, quando vi que era muito difícil, queria desistir. Pensava que, como eu tinha mãe, pai, casa no Rio de Janeiro (nessa época não morava mais no Cantagalo e sim no Leblon) então não tinha porque ficar passando sufoco em São Paulo, comendo macarrão e sanduíche porque era mais barato, correndo o risco de ter problemas de saúde... Um dia eu cheguei para a Marília, estava no início de Roda Viva, e disse: “Estou desistindo”. Ela respondeu: “De jeito nenhum”; me levou para a casa dela e lá morei uns quatro anos. Ela me indicou para fazer “A moreninha”, “Beto Rockfeller”... Enfim, a Marília Pêra é uma pessoa muito importante na minha vida porque foi minha madrinha, irmã, comadre e, como eu morei com ela, aprendi que um dos segredos para uma carreira bem sucedida é a disciplina. E ela nos dizia que um ator tem que ser completo. Na casa de Zezé, seu cantinho das lembranças, onde sempre cabe mais uma emoção O Brasil não tem, como nos Estados Unidos, uma grande tradição no gênero teatro musical. As peças que fazem grande sucesso por aqui são geralmente adaptações (Hair, Noviça Rebelde, Hair Spray, Cabaret, My Fair Lady etc.). Como você vê a produção desse gênero com autores brasileiros? Você acha que a repercussão junto ao público se iguala às internacionais? ZM: Os musicais aqui têm sido um sucesso. Têm crescido cada vez mais! Eu mesma participei de um com músicas do Ed Motta “7 – o Musical”, que... nossa! Foi uma das peças que a gente tinha certeza de que a plateia já estaria lotada todos os dias! Um cantor tem geralmente seu compositor preferido. Qual é o que você mais se identifica? ZM: É muito difícil escolher um compositor preferido no Brasil porque acho que nós somos privilegiados neste tratamento. Mas eu tenho um carinho especial pelo Luiz Melodia. Foi o compositor que mais gravei. Estou lançando agora um CD com músicas dele e do Jards Macalé, “Negra Melodia”. Você acha que essa posição dos atores negros nos papéis da dramaturgia mudou, ou mesmo nos comerciais de TV? ZM: Sempre me fazem essa pergunta, se houve uma mudança... É claro que tenho que voltar quarenta anos atrás, quando eu comecei. Um ator ou atriz negro protagonizar uma novela, era um evento raríssimo. Nós hoje temos o Lázaro Ramos como protagonista. Eu mesma fiz várias empregadas domésticas, e nada contra fazer esse papel. O que me incomodava era ter tido o privilégio de ganhar uma bolsa de estudo no Tablado, ser aluna da Maria Clara Machado e depois entrar numa novela só para servir cafezinho, abrir porta e dizer “Sim senhor, sim senhora”. Isso me deixava muito angustiada. Batalhei muito... eu e vários outros negros, para mudar essa história! O que é o CIDAN - Centro de Informação e Documentação do Artista Negro? ZM: Quando fiz sucesso com Xica da Silva, dava muitas entrevistas por dia. Percebi que não estava preparada para essas entrevistas quando me faziam perguntas, por exemplo, sobre a questão do negro. Sentia dentro do meu coração que tinha que fazer alguma coisa, que tinha algo errado, que nós éramos injustiçados. Mas 23 capa 24 eu não tinha um discurso articulado sobre isso, até que abri o jornal e li um anúncio “Curso de Cultura Negra no Parque Lage”. E lá fui eu. Tinha que me preparar para aquilo. A minha ideia de criar o CIDAN veio daí, que pode ser visitada no endereço www.cidan.org. br. Lá encontrarão mais de 500 atores negros. Vocês estão vendo todos esses atores negros em cena? Não! Mas, apesar disso, de quarenta anos para cá, as coisas mudaram. A gente não faz mais aquele papel que estava destinado só ao negro, que era o motorista, a enfermeira, a empregada doméstica, o mordomo... Nada contra fazer esses personagens, pois todo ser humano é importante na vida. O que mais me incomodou foi que, antes de Xica da Silva, eu conhecia 3 países. Depois que o filme estourou no mundo, fui bem recebida em mais de 16 outros e, quando voltei para o Brasil, parecia que nada disso tinha acontecido, e voltei a fazer as mesmas coisas de antes! A personagem Xica da Silva virou um alter ego de Zezé Motta? ZM: ...meu Deus, eu batalhando para imprimir meu nome na mídia: Zezé Motta! E aí, faço sucesso e só me chamam de Xica. Depois descobri que ela era minha fada-madrinha, que eu não tinha que reclamar de nada, que ela só me fez bem. Como foi rever a personagem feita por uma nova atriz, Thaís Araújo, quando você fazia a mãe da Xica, em 1996? ZM: Estava em Cabo Verde fazendo um filme com Francisco Manso, chego ao hotel e recebo uma ligação do Walter Avancini perguntando se Zezé atuou na telenovela Xica da Silva (1996), vinte anos depois de protagonizar o filme que a consagrou internacionalmente. Na televisão atuou em diversas novelas e seriados topava ser a mãe da Xica da Silva. Eu tomei um susto. Perguntei se podia pensar, ele disse: “Claro, amanhã você me responde”. Fui fazer as contas, e o filme já tinha 23 anos. Então, claro, tinha idade para ser a mãe dela! (risos) Percebi também que era uma homenagem muito bonita porque não se sabia nada sobre a mãe da Xica. No dia seguinte disse ao Avancini que topava. Foi um trabalho muito importante na minha carreira. Ser dirigida pelo Avancini era um privilégio! Ele foi um dos maiores diretores desse país! Era tão especial que combinava com o ator qual deveria ser o olhar do personagem, como impostar sua voz, qual seu signo... qual o orixá da personagem! E Em seu CD mais recente - Negra Melodia - Zezé canta composições de Luiz Melodia e Jards Macalé Xica era de Iansã, certamente! (risos) Você chegou a rodar dois filmes em Cabo Verde. O que você acha dessa nova interação entre Brasil e países como Angola e Cabo Verde, que tiveram o mesmo tipo de colonização portuguesa? ZM: Eu acho emocionante, muito bom. Já me apresentei em Portugal numa dessas propostas, que era uma noite só de cantores da língua portuguesa. Foi um dos maiores públicos que já tive, cantando numa praça para mais de 30.000 pessoas, e quando chegou Gilberto Gil foi a 110 mil! Eu estava fazendo um sucesso enorme numa novela chamada Kananga do Japão, que estava passando em Portugal. Eu acho isso fantástico, faria mais! Tenho orgulho de ter um cinema com o meu nome em Cabo Verde. Países como Cabo Verde e Angola têm capoeira, que hoje é o maior divulgador da cultura brasileira e da língua portuguesa no mundo. Como foi sua participação nos Jogos Mundiais Femininos Abadá Capoeira, que aconteceu em julho, no Rio de Janeiro? ZM: Foi uma emoção! Foi um privilégio ter sido convidada para participar. Eu tive várias surpresas, por exemplo, não sabia que a capoeira estava tão disseminada no mundo. De repente, estava vendo lá uma americana, sei lá, uma alemã, uma inglesa (risos) jogando capoeira. Fiquei muito emocionada, pois não sabia que estava ali presenciando uma cultura genuinamente brasileira e que é conhecida no mundo inteiro! Foi muito interessante essa experiência de poder falar para essa gente e também cantar. Em recente entrevista o jornalista Domingos Meirelles colocou que a história tem dois lados: o da vítima e o do algoz. Após séculos de escravidão e outros tantos de racismo, será que a história oficial já começa a reconhecer e divulgar como afrodescendentes grandes nomes como Machado de Assis, Mário de Andrade, Aleijadinho, Chiquinha Gonzaga, ou mesmo o berço da civilização, por exemplo, o Antigo Egito? ZM: Não é oficial, mas estamos chegando lá. Ainda vai demorar algum tempo para essas coisas todas “O Movimento Negro virou essa coisa dos negros em movimento, denunciando, cobrando, discutindo a irem para seus lugares certos. Mas esse reconhecimento do Machado de Assis foi algo emocionante. Achei que foi um bom começo. Acho que a Academia Brasileira de Letras está num momento muito especial. Eu já assisti Escola de Samba no jardim da Academia Brasileira de Letras. Já fui homenageada lá e neste mês será Martinho da Vila... quer dizer, eu acho que são passos lentos, mas a gente vai chegar lá. Você que sempre foi uma ativista do Movimento Negro. Como vê hoje as conquistas alcançadas e as ainda desejadas? Fale um pouco do seu lado ativista em movimentos sociais e anti-racistas. ZM: Acho que o Movimento Negro avançou bem! Avançou porque me lembro do tempo em que a gente se reunia, e eram encontros muito fechados. Reuníamos muito para nos queixar da vida e fazíamos movimento em datas especiais, 13 de maio, que passou a ser 20 de novembro, porque se concluiu que Zumbi era mais importante que a Princesa Isabel... Léa Gonzáles colocou então que não havia mais tempo para lamúrias! O Movimento Negro, hoje, não se reúne mais. As pessoas da minha geração, que criaram o Movimento nos anos 70, como diz o Milton Gonçalves, são Negros em Movimento, cada um tentando contribuir de alguma forma. Então surgiram os bailes soul, a revista Raça, uma empresa de vídeo “Cor da pele” que documenta tudo ligado ao movimento... O Movimento Negro virou essa coisa dos negros em movimento, denunciando, cobrando, discutindo a questão das cotas... O que você pensa dessa cota racial em universidades? ZM: Sou a favor das cotas pelo seguinte motivo: acho que o Brasil tem uma dívida com o negro. Se a cota é uma forma de minimizar essa dívida, sou a favor dela. E tenho certeza de que essa questão das cotas não é para sempre, é uma ação provisória. Acredito que as cotas contribuíram para que se discutisse a questão da desigualdade, da falta de oportunidade questão das cotas...” do negro chegar à faculdade, porque a maioria dos negros tem poder aquisitivo baixo! Inclusive está comprovado que os cotistas se dedicam mais, porque são muito gratos por ter essa oportunidade. Eu mesma me considero uma cotista, pois se eu não ganhasse uma bolsa de estudo para fazer o Tablado nos anos 60, não sei se estaria aqui. Fico emocionada quando me perguntam se alguma coisa mudou nesses quarenta anos (Zezé fala com os olhos marejados e muito emocionada)... Na época falei: quero entrar para esse movimento porque eu quero preparar um mundo melhor para os meus filhos, para os meus netos. Quando temos 20 anos de idade, não sabemos se vamos viver até os 40. Quando temos 40 não sabemos se vamos até os 60, e eu hoje com 68 fico muito emocionada de ter lutado por isso, contribuído com isso e estar aqui viva presenciando esta virada lenta... mas que é uma virada! Apesar da perseguição que certas seitas fazem a religiões de matrizes afro, será que o Candomblé e a Umbanda têm hoje mais aceitação, ou mesmo uma certa elitização, do que em épocas passadas? ZM: Acho que essas religiões estão sendo menos discriminadas do que antes. Quando eu era adolescente, a minha mãe frequentava a Umbanda. Eu não comentava com as minhas colegas que ela era umbandista e meu pai kardecista, porque seríamos discriminados. Acho que a gente avançou um pouco nesse sentido. Não me lembro de na época tantos brancos se assumirem como umbandistas ou candomblecistas... brancos e negros, as pessoas de um modo geral! Infelizmente sofremos muita perseguição por parte dos evangélicos. Eu fui testemunha disso! Vi uma casa de Umbanda ser totalmente destruída por evangélicos, mas tive o privilégio também de acompanhar sua reconstrução e ir à reinauguração. Acho que isso não é tratado como crime, mas deveria! É tratado apenas como intolerância religiosa. É direito de cada cidadão ser fiel a sua convicção religiosa. Qualquer tipo de intolerância é abominável! Como você se posiciona religiosamente? Seria o teatro um templo onde o artista exerce uma função espiritual? ZM: Quando minha mãe era da Umbanda, ela dizia que eu era uma médium nata e que eu tinha que desenvolver, e de repente recebi um recado que eu exercia isso no palco. Fiquei aliviada, até porque é uma grande responsabilidade se dedicar a isso. Hoje me coloco como kardecista. Minha mãe, que atualmente é Testemunha de Jeová, não aceita muito minha relação com o Candomblé. Você não teve filhos naturais, mas adotou vários, além daqueles que te consideram também como mãe. Como é a Zezé Motta mãezona? Será que você vai levantar a bandeira da “adoção” também no seu ativismo social? ZM: (risos) É uma boa ideia. São três sobrinhas, duas órfãs e um menino, o Robson de Sousa, que o “Clube da Luluzinha” nunca deixou morar na casa e tive que adotá-lo num abrigo. E a Erika, minha sobrinha, que mora comigo e considero minha filha... que a mãe dela não me ouça (risos). Tem ainda a Luciana que eu adotei aos quatro anos de idade. São seis meninas. A Luciana nunca me perdoou por ter adotado outros, pois ela foi filha única durante muitos anos. São seis meninas e um menino como filhos e ainda tenho seis netos. 25 educação & conhecimento Coisa de criança Laura TEXTO_Lilibeth Cardozo 26 Criança, sem muita censura e cheia de curiosidade, questiona e fantasia, criando várias definições que são expressões genuínas de sua percepção do mundo e da realidade que a cerca. Ainda sem muito conhecimento, vai descobrindo o mundo, perguntando e opinando. A alegria das crianças e a natural curiosidade por tudo que as que as rodeia, dizem muito sobre suas. A Folha Carioca, para celebrar o Dia da Criança, foi buscar máximas de crianças que colocam os adultos embevecidos diante de sua vivacidade, inteligência e questionamentos. São incontáveis os momentos de pais e filhos, adultos e crianças que merecem registro. Algumas famílias costumam registrar esses momentos e guardar para mais tarde oferecer a seus filhos as graças infantis que passam a fazer o colar de registros Pedro preciosos das famílias. Selecionamos algumas passagens, relatadas por familiares, que nos dão alegria em publicar e ter a certeza de que nossos leitores vão se divertir ao ler, dando boas risadas com meninos e meninas cariocas. Bernardo, aos seis anos, super ligado na tecnologia de computadores e jogos eletrônicos, pergunta a seu pai: “Pai, nós já nascemos com senha ou a gente tem que criar?” Carolina Gabriel, aos três anos, come muito bem e quase não recusa alimentos. Mas não gosta de cebola. Seu pai, que cozinha para a família, lhe serviu o jantar. Gabriel, mexendo no prato servido, encontrou um pedaço de cebola e perguntou: “Pai o que é isto?” O pai respondeu: “É peixe voador que eu pesquei”. Ele, mais do que depressa, rebateu: “Pai, quando você pescou o peixe, seu olho ardeu?” João costumava chamar seu umbigo de “meu bigo”. Sua mãe explicou: “Não é bigo, João, é umbigo. Ele, em sua lógica de criança de 5 anos, rebateu irritado: “Mãe, mas é o meu bigo, não é um”. Laurinha, é uma linda menina com 3 anos. Vaidosa, inteligente e astuta, manda cada uma que diverte e encanta a todos. Filha de um jovem casal de jornalistas, muito amorosos e dedicados, tem sua história de três anos registrada num blog muito lindo feito por sua mãe, Luciana. Uma das boas da Laurinha foi uma de suas decisões verbalizadas para a mãe que todos os dias sai muito cedo para o trabalho: ”’Mamãe, não vou mais usar fraldinha de noite. Vou pedir para o papai me levar no banheiro de noite, porque você, depois que eu durmo, já era! Vai embora para o trabalho!’ e, diante de seu crescimento, Laura verbaliza o que quer ou não quer e seu entendimento do que ouve. No seu blog, a mãe registrou: Cena 1:- Nossa, Laura! Seu pé cresceu! Essas sandálias já não cabem mais... Vamos trocar! Cena 2:- Filha, sábado nós vamos lá no salão cortar o seu cabelo. Seu cabelo cresceu. - Cresceu, mamãe? Por quê? - Porque tudo cresce filhinha... suas unhas, seu pé, seu cabelo, tudo cresce. - Mas mamãe, eu vou ter que cortar o meu pé também?” Pedro é um menino muito inteligente, esperto e falador. Aos 5 anos brincava subindo numa escada perigosa. Sua avó o repreendeu dizendo: “Pedro, se tua mãe souber que você está subindo aí, vai te bater. E Pedro retrucou do meio da escada: “Vó, minha mãe é psicóloga, e psicóloga não bate em filho”. Um outro Pedro, aos 5 anos, Maria Joana gosta muito”. Mariana imediatamente responde à professora: - Já sei, é o dia do silicone! A avó da Aninha, 7 anos, recomendou à neta: “Preste atenção à aula e na hora da prova não fique pensando na morte da bezerra”. Aninha, depois de um dia de prova, chega em casa e declara que não fez nada na prova. E esclarece: “Vovó, eu fiquei pensando o tempo todo na morte da bezerra e não descobri do que ela morreu”. ouvia na casa de uma amiga de sua mãe uma “ladainha” de conselhos para não riscar as paredes de sua casa. Olhando as paredes limpinhas da sala onde ouvia os conselhos, parou seus olhos num quadro de uma grande artista que era uma colagem de papel rasgado, pintado com lápis de cor. Mais que depressa mandou: - E quem fez aquela bobagem ali na sua parede? Miguel estava na casa da avó. Saiu da sala e foi ao banheiro. A família ouviu o estraçalhar de um vidro no banheiro, e o menino gritou: - É mentira do barulho! Mariana, uma linda menina na sala de aula, no Dia da Bandeira, aos 5 anos ouve a professora dizer: “Hoje é um dia muito importante para o Brasil. É o dia de um símbolo que guardamos no peito, e o Brasil inteiro Felipe Marina tinha 4 anos quando passava a semana inteira sozinha com sua mãe e irmãos enquanto seu pai, por razões de trabalho, só passava os fins de semana com a família. Ao passear com a mãe na cidade, viu homens com cabelos longos, presos em rabos de cavalo e perguntou à mãe se eram homens. A mãe respondeu que sim e que achava bonito. Dias depois, andando na rua com o pai e a mãe ela avistou um homem usando rabo de cavalo na rua e denunciou logo: “Mãe, olha lá, o tipo de homem que você gosta”. Pedro Henrique, descendo no elevador com sua mãe, encontra uma vizinha. A vizinha o vê com um álbum de figurinhas na mão, e a mãe comenta que estão indo comprar figurinhas. A vizinha interpela: “Pedro, figurinha não enche barriga de ninguém”. E ele responde de pronto: “Mas enche álbum”. João Marcelo era ainda um menino de cerca de 5 anos. Seus pais o levavam para cerimônias de formatura. Eram muitas. Um dia João Marcelo, muito zangado com a mãe, a xingou com veemência: “Formatura!”. A mãe não entendeu e perguntou: - O que é isso João, porque está falando assim? - Ele esclareceu: - Você é chata igual a uma formatura. Nossa colaboradora Arlanza nos conta da vivacidade e inteligência de sua neta Maria Joana, de 4 anos. Entrando numa padaria, eu disse: - Moço, tem pão de queijo? - Tem sim, senhora! - Eu quero cem gramas... (pedi). E minha netinha, rebateu imediatamente: - E eu quero com...! Sobre o sono, a menina aos 7 anos se defende de um erro na escola: - Eu não errei na prova. Só disse que o Sol nasce no nascente e dorme no dormente. E uma das melhores. Uma menina negra, pobre e muito bem cuidada por sua mãe, ia sempre para a escola muito bem arrumada, sempre se destacava na escola pública por sua aparência. Uma de suas amigas pergunta: Você é rica? Ela responde: Não, acho que sou bem de vida. Minha mãe tem uma faxina e duas lavagens de roupa! E sobre definições, as crianças são fantásticas. Eis algumas definições infantis: FUTURO – é tudo que vem depois e, quando chega, já era. PACIÊNCIA – é uma coisa que mamãe perde sempre. POLUIÇÃO – é sujeira do progresso. GÊMEAS - duas meninas de cara repetida. NOITE - é o dia com luz apagada W - são dois vês que nasceram gêmeos Y - é uma letra parecida com um estilingue, que é intrometida. Gabriel 27 educação & conhecimento C armen pimentel | língua portuguesa [email protected] Percalços da língua Mês de outubro: mês das crianças. Aproveito, então, para falar dos verbos irregulares, aqueles que foram sendo modificados ao longo do tempo, por conta da evolução da nossa língua. Você deve estar se perguntando: o que uma coisa tem a ver com a outra? Pois vamos lá! Quem já prestou atenção a uma criança de mais ou menos 2 anos falando, deve ter percebido que ela diz “eu fazi”, “eu sabo”, “eu consego”, no lugar de “eu fiz”, “eu sei”, “eu consigo”. Por que isso acontece? 28 Quando uma criança diz "fazi", ela entende que a estrutura de construção do pretérito perfeito do indicativo do verbo fazer é radical faz + desinência de pretérito i, já que é assim que acontece com outros verbos que ela escuta a sua volta: vender – vendi / comer – comi / perder – perdi, logo, fazer – “fazi”, ou ainda, cantar – cantei / falar – falei / comer – “comei” Em outras palavras: ela faz uma analogia com a construção dos verbos regulares, que são maioria na língua portuguesa, portanto, mais usados pelos falantes. Com o tempo, ela vai percebendo essas diferenças, e a correção acontece automaticamente. Lá pelos 4 anos, já fala direitinho. É claro que alguns pais, na ansiedade que lhes é peculiar, dão uma ajudinha, repetindo da forma correta para garantir que a criança não vai falar assim para sempre! Tudo bem, não faz mal, nada de errado com isso... Aliás, é assim mesmo que a criança aprende: por repetição! Os verbos podem ser classificados da seguinte maneira: • Regulares – seguem o paradigma de sua conjugação. São conjugados no presente, no passado ou no futuro sem sofrerem alterações em seu radical (por exemplo, os verbos comer, cantar, partir); • Irregulares – apresentam modificação em algumas formas, afastando-se do paradigma de sua conjugação. Modificam-se no radical e na flexão (exemplo: fazer, dizer, pedir); • Anômalos – apresentam radicais primários diferentes (caso dos verbos ser e ir que se alteram demais); • Abundantes – apresentam duas ou três formas de igual valor e função, principalmente no particípio ); • Defectivos – não apresentam todas as formas na sua conjugação, por motivos de eufonia e significação (os verbos chover e abolir são exemplos desse caso: não se diz “eu chovo” nem “eu abolo”). Calma, não vou me deter nisso com a profundidade que o tema necessita, mas apenas o suficiente para tentar explicar o motivo de alguns falantes cometerem certas gafes linguísticas... Se for criança, pode! Está em fase de aquisição da linguagem e experimenta diversas formas até compreender os mecanismos da língua materna. Com criança, achamos bonitinho, fofo. Mas, se for com adulto... Volta e meia a internet ou a tv trazem à nossa lembrança as famosas pérolas futebolísticas. Você, com certeza, já ouviu ou leu isto: • “Haja o que hajar, o Corinthians vai ser campeão.” (Vicente Matheus) • “Eu peguei a bola no meio de campo e fui fondo, fui fondo, fui fondo e chutei pro gol.” (Jardel, ex-jogador do Vasco e Grêmio, ao relatar ao repórter o gol que tinha feito) • "A bola foi fondo, fondo, fondo e, quando eu vi, ela iu." (Dudu, tentando justificar um frango inexplicável que sofreu) • "Fiz que fui, não fui, e acabei fondo!" (Nunes, ex-atacante do Flamengo) Como explicar esses desastres linguísticos??? Da mesma forma que a criança faz a analogia com os verbos regulares para dizer “eu fazi”, as pessoas que dizem essas pérolas também generalizam as estruturas verbais. Vejamos: O verbo ir está no grupo dos verbos anômalos, aqueles que sofrem muita variação durante sua conjugação: eu vou, eu fui, eu irei... Dessa forma, na cabeça dos desavisados, acontece o seguinte raciocínio: foi/fui: deve ser do verbo “for” (sic) / para fazer o gerúndio, acrescenta-se –ndo, logo “fondo” (sic) sair – saiu / partir – partiu / ir – “iu” (sic) É de arrepiar os cabelos dos mais afeitos à nossa língua portuguesa, mas não deixa de ter certa lógica... Incorreta! Assustadora! Mas, com um pouco de benevolência da parte do ouvinte, compreensível... Outro caso, este bastante divertido: Mais uma vez, o que vemos aqui é o uso da língua por analogia: Partir – partida Dormir – dormida Curtir – curtida Fazer – “fazida”, no lugar do particípio feita. E, ainda: Quem não partiu, parta. Quem não dormiu, durma. Quem não curtiu, curta. Quem não pediu, “pida”. O verbo irregular pedir, na verdade, tem como imperativo peça. Se a intenção do vendedor foi chamar a atenção dos consumidores para sua mercadoria ou se foi desconhecimento dos pormenores da língua, nunca saberemos... Pelo menos, demos boas risadas! (Não vou nem comentar agora o “quebra queicho”, escondido pela sacolinha... Fica para outra ocasião!) educação & conhecimento Publieditorial Espaço Envolvimento: evoluir e crescer Para evoluir, às vezes é preciso mudar, ficar, ir, refletir por um tempo, para depois vir, reunir, juntar as experiências e multiplicar conhecimento. Isso aconteceu recentemente com duas instituições de ensino infantil na Gávea: Ciranda Cirandinha e Espaço Envolvimento. Agora as duas são uma escola só. Renata Brasil, Joana Figueira de Mello e Juliana Baldaque Batista juntaram suas experiências para criar um espaço onde a relação de confiança, a afetividade, o cuidado e o lúdico se fazem presentes diariamente na vivência entre crianças, pais e educadores. Em uma rua tranquila e arborizada da Gávea, lá está ela... uma casinha branca começando o dia, recebendo seus pequenos alunos. Cada criança que chega carrega consigo, no seu olhar e no seu interior, uma grande vida para criar, Rua Major Rubens Vaz, 537 – Gávea Tel: 2274-3846 / 2529-2756 www.espacoenvolvimento.com contar, cantar e encantar. Assim é o Espaço Envolvimento. Além de um espaço físico privilegiado, a escola conta com uma equipe de profissionais especializados e atualizados, que proporciona um trabalho pedagógico de qualidade. O Espaço Envolvimento tem como objetivo construir o conhecimento junto às suas crianças, num ambiente acolhedor, seguro e estimulante, transmitindo-lhes valores sociais e éticos, no qual a parceria família/escola acontece a todo momento. 29 educação & conhecimento B ijux in the box [email protected] Vida inteligente na TV Lá em casa, quando as crianças eram pequenas, a gente chamava o horário eleitoral de 'Rá 'rê 'rê. Era pra facilitar, e dar alguma graça ao sacrifício diário, além de uma maneira de fazer os garotos saírem da frente da TV e ir brincar lá fora. Tá na hora do 'rá 'rê 'rê, gente!- era uma debandada geral, todo mundo pro quintal, ou pro play-ground. 30 Hoje as crianças nem sabem o que está rolando, porque estão ligadas na internet, ainda bem. Mas os adultos sofrem. O troço entra bem na hora da novela, atrasa ou adianta os jornais, faz um estrago nos horários do jantar, e principalmente detona com a sagrada rotina dos idosos - que, todos sabem, adoram uma rotina! Mas há males que vêm pra bem, diz a sabedoria antiga. Desde o início do horário burro nacional, eu e milhares de telespectadores usamos o nosso poderoso controle para fugir. Infelizmente, me refiro a quem tem TV paga, pois a aberta não dá nenhuma saída. Nos canais por assinatura, descobrem-se programas até divertidos, ou recheados de boa informação e debates. Exemplos são o Em Pauta, da Globo News, às 20:30h, capitaneado por Sergio Aguiar, que traz momentos bem interessantes, com comentaristas bem informados falando desde Nova York, São Paulo e Brasília. Os temas são os do dia. O mesmo se dá com o Studio I, que nos salva do 'rá 'rê 'rê das 13 horas. Com destaque para a bela Maria Beltrão – que mulher grande e linda é essa? Profissionais de diversas áreas apresentam matérias ou comentam vídeos e notícias. Tudo sob a batuta da Beltrão, que comanda com desenvoltura. Há outras opções na TV paga: informam-me que o Canal Brasil, o History, o Discovery e o Futura também nos oferecem boas atrações durante o horário ridículo nacional. Pena que a TV aberta ainda seja refém do troço – e há mais de 20 anos. Pelo menos sabemos que existe vida inteligente na TV na maldita hora do 'rá 'rê 'rê. Eu vi... Hora da Arte - A novela da seis é sempre garantia de momentos de beleza, poesia, valorização da nossa História, cenas hilariantes e, ao mesmo tempo, cenas de grande intensidade dramática. Se tem uma coisa na qual a Globo nunca erra, é na novela das seis. Só pra citar algumas: A Padroeira, Chocolate com Pimenta (ora em reapresentação), Cordel Encantado, a recente Amor, Eterno Amor. Agora, temos esta linda Lado a Lado, com aquele ambiente em sépia que nos faz voltar no tempo, com aquele verdadeiro hino que é o samba-enredo (do Império Serrano?) Liberdade, Liberdade. E mais: com a volta da brilhante Patrícia Pillar, a vilã delicada; com o comovente Tiago Fragoso; com a Marjorie Estiano e sua deliciosa risada, além de sua corretíssima atuação. E, claro, com a beleza e a competência do casal principal, Lázaro Ramos e Camila Pitanga. formigas, besouros, cachorras e outros bichos. Tenham paciência! Desagradável – É ouvir repórteres e apresentadores assassinando a língua pátria com coisas como “seje”, “teja”, “tava”. A linguagem falada também tem as suas responsabilidades! Não vou dedurar quem são, até porque são muuuuitos. Atrás da Grade Hora do Pânico – Em compensação, temos aquele momento Mundo Cão, aquele programa que a cada dia faz mais questão de afastar dele as pessoas que têm ainda algum tipo de Si Mancol no sangue. Já era ruim no outro canal, agora na Band, mais solto, choca o distinto público de todas as formas possíveis. Até mesmo com baratas, – A Globo tem uma grade de programação tão intensa, e tão rígida, que acaba por ficar presa atrás dela. Digo isso porque Record, Band e outras, sem tais compromissos, arriscam mais, e acabam por se tornar alternativas para as novelas, filminho da tarde e da segunda-feira (sempre velhos), e programas pós-novela das 9. *Bijux é Marilza Bigio, jornalista e telespectadora fiel 31 educação &O conhecimento swaldo miranda [email protected] Ainda Nelson 32 Miranda, você é torpe! Daqui a pouco: – Não, me enganei, Miranda, você é doce. – As imprevisibilidades do Nelson... A redação do Última Hora tinha uma mesa grande lá no fundo, dando para os trilhos da Central. Máquinas de escrever, uma ao lado da outra. Ele, Sérgio Porto, às vezes, Otto Lara Rezende, eu... o menor de todos. Fumava. Balbuciava, não. Mexia os lábios, sem voz, quem sabe, ensaiando com gestos, no seu imaginário, olhos no nada, o que viria a escrever na máquina. Com dois dedos. Articulava o pensamento assim quando redigia. Será que estou certo ao dizer que ele foi também Suzana Flag? Dois telefones, um à sua mão. Eram mulheres, mulheres e mais mulheres querendo falar com ele, viva-voz... Ia dialogando como podia, em meio à produção de uma de suas “A vida como ela é”. Gostava, claro que gostava! Estar sendo desejado... Era como elas o entendiam, pelo que sentiam nos seus escritos tão, digamos, libertários para aquele tempo, década de 50. Sua expressão ao telefone no papo com mil admiradoras desconhecidas era de prazer, alegria, sabendo-se então um cara capaz de, a distância, alterar a libido de tantas de suas leitoras tesudas... Não sei se digo... Uma vez ali mesmo na mesa, diante da máquina de escrever, me pareceu estar chegado a um orgasmo, provocado por alguma das que lhe teriam excitado demais em sua fala - voz apaixonada. Sei lá. Sexo por telefone. Está aí uma que nosso Freud não deve ter explicado. Sigo. O Pessanha, negrinho contínuo viu: - IIII, seu Nelson tá engraçado... *** No concurso de palpites de futebol, uma das minhas promoções, certa vez quem ganhou era torcedora do Flamengo e votou vitória do Vasco e um escore maluco num Bonsucesso x Olaria. Depois dos escores viáveis, os leitores faziam os improváveis – 7 a 3, 8 a 5. E a vencedora era minha conhecida! Nelson botou a boca no trombone: - Não pode, Miranda! isso é pior do que as dez pragas do Egito! A matéria não saiu. Mas o Nelson insistia e lá pela onze da noite, ele e equipe, seu irmão Augusto, Carlos Renato, Aparício Pires, Albert Laureneo bateram no apartamento, reforçando a pressão: - Todo mundo vai dizer que foi marmelada, Miranda. O povo não Histórico: Brasil num pódio triplo! Desde que me entendo por gente, acompanho as Olimpíadas, a dos deficientes, mais recente. E não me lembro de ter visto um momento inusitado, inédito nas competições, qual seja, a de um único país no pódio. Sim, isso aconteceu na competição que terminou em 9 de setembro, agora, em Londres. Nos 100m, um pódio triplo com as ceguinhas Tereza Guilhermina, recorde mundial com 12s01, Jerusa Santos e Júlia Santos e seus respectivos guias, Guilherme Soares de Santana, Luiz Henrique Barboza da Silva e Fábio Dias de Oliveira Silva. A imagem desse feito maravilhoso só pode ser vista no canal 35, SPTV-3, que com sua excelente equipe cobriu todo o belo evento, no caso, sem qualquer registro em toda a mídia – lamentável! A Folha Carioca aqui está com a foto das heroínas e seus guias no pódio triplo, exclusivo, só do Brasil, sil, sil! No auditório da TV-Tupi, Nelson comenta meu “Desafios humanos” que o inspiraram para um “A vida como ela é”. Ao nosso lado, a pernambucana Aglae de Oliveira, que respondia sobre Lampião, e os representantes da censura, de olho em tudo o que eu fazia – anos de chumbo... vai engolir essa, um vexame para o Última Hora. Dia seguinte, reunião à espera que Samuel Wainer chegasse. Ele e toda a direção: Bocaiúva Cunha, Etcheverry, Octávio Malta... Argumento daqui, argumento dali, Samuel falou: - Está tudo certo, Miranda? - Como sempre, Samuel. - Então pode entregar o prêmio à moça, e todo mundo para a redação. Acarinhei Nelson: - A vida como Lea é... querido... Dei detalhes sobre o comportamento dos leitores apostadores, exibindo-lhe cupões, uma verdadeira mixórdia de palpites e até ali mesmo tinha flamenguista apostando no Vasco. O Imprevisível de Almeida? Ele aceitou minha exposição e ficamos de bem. *** Numa noite, foi ver meus “Desafios humanos”, no programa que eu produzia para J.Silvestre, na TV-Tupi. 20 de julho de 1970. Era a parte final do “Show sem limite”, reportagens pesadas. Dali ele saiu para produzir no dia seguinte mais um “A vida como ela é.” Vixe! Eu parceiro de um gênio da moderna dramaturgia brasileira, cujo centenário o Brasil celebrou até com o mestre Daniel Filho no Fantástico, dando formas televisivas à sua série de sucesso em Última Hora. t amas REDE GLOBO - Coro cantando melodia conhecida, com letra escrachada, destaque para Salsichona, ator vestido de noiva, adentrando o vagão do metrô, gritando je t'aime, je t'aime! Foi assim a abertura do Zorra Total de 8 de setembro. Um achincalhe, sim! A melodia era nada mais, nada menos do que A Marselhesa, o belíssimo hino nacional da França, de Rouget de Lisle: Allons enfant de Ia Patrie / Le jour de gloire est arrivé... Sherman, meu diretor, transformar A Marselhesa em Salsichona, qual é a graça? DATAFOLHA: Levantamento sobre o mensalão dá que 73% devem ir mesmo para cadeia, 11% não acreditam nisso, e 37% acham que o grupo será punido apenas com prestação de serviços." Já imaginaram o Zé Dirceu como cuidador aqui do velhinho? CLASSIFICADOS: "Vende-se uma Orquestra Filarmônica da mais qualidade artística”. Maestro•Florentino Dias, criador e regente, pondo dinheiro do bolso para mantê-la, desesperado, promete um concerto de despedida dia 29 de outubro, depois de esgotadas todas as tentativas possíveis. Manutenção: 40 milhões por ano. Aceita lances entre Mozart e Beethoven. Está aí uma boa para Marta começar sua gestão na Cultura. O GLOBO: "Dilma lança Plano Brasil Medalha”. Um bilhão para o grande vestibular das nossas Olimpíadas. Dinheiro para atletas, técnicos, centros de treinamento e preparação em tempo intensivo. “Que haja cada vez mais peitos para medalhas e mais medalhas”. Incrível, Dilma leu meu pensamento. Pensamentos Pró-fundos [email protected] “O ovo e a galinha discutindo filosofia acabaram ambos na panela da cozinha.” “O som do supersônico sufoca o silêncio do meu sonho.” “Temos dois braços para que o abraço seja envolvente, apertado e terno. Abrace.” “Sem vencedor e sem final, prossegue a interminável luta entre o bem e o mal.” “O ouro brilha, ilude e mata.” “Leis são prosas que gostariam de virar poesias.” “O que é mais útil: a língua ou o idioma?” “Meu olhar passeia pelo mundo com vontade de sonhar.” ESTADÃO: “Filme ofensivo ao Islam, com Maomé em cenas pornô, provocou a fúria dos muçulmanos em onze países, com atentados a embaixadas americanas e morte de um embaixador e diplomatas”. Hillary Clinton correu à televisão para dizer que os EUA não tinham nada com o filme, produção particular... mas feito por um americano. Vai explicar à turba... GNT - Semana do Jô: “Lawrence Whaba, documentarista da natureza, denunciando que tubarões são sacrificados para a retirada das barbatanas e depois são devolvidos ao mar”. Dizem que com elas, as barbatanas, são feitas sopas deliciosas. Sim, mas que a denúncia precisa ser apurada, lá isso, precisa. O DIA: “Vende-se a Rua da Carioca. A Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, dona de todo o lado esquerdo, faz negócio por 40 milhões de reais”. E a gente fica sem o Bar Luiz, sua salada de batatas, seu doce de maçã? A na flores [email protected] HERÓIS Heróis não choram não têm medo não transgridem não recuam não desistem não fogem não sentem saudade. Heróis não existem. 33 & & arte artecultura cultura 34 TEXTO_ricardo lindgren arte_vlad calado O que pretende um escritor ao eleger o Erotismo como tema prevalente em suas obras? Causar impacto? Compartilhar fantasias? Superar limites? Ou uma mera opção comercial? Dado que as respostas a essas perguntas são próprias a cada escritor, escolhemos quatro perfis para nossa reflexão: Carlos Drummond de Andrade, ícone da nossa Literatura; o poeta e ator Mano Melo; a jovem poetisa Brigitte Caferro; e como atração final, a multimídia Enoli Lara. O nosso objetivo não é esgotar a biografia e tampouco a dimensão do trabalho desses autores, mas dar aos leitores a chance de entender um pouco das suas almas e das suas obras. Drummond CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE nasceu em Itabira - MG, em 31.10.1902. Educado em internatos em Belo Horizonte e Friburgo, saúde frágil, sem aptidão para as práticas comuns da juventude, tornou-se um adulto polivalente: boticário, professor, repórter, editor, burocrata, romancista e, principalmente, poeta! Irônico, pessimista bem humorado, traçava retratos existenciais facilmente entendidos pelos leitores. Aposentou-se do Serviço Público e teve, no período 60/70, os seus anos mais produtivos. Em 1987, escreveu o último poema. Faleceu em 17 de agosto do mesmo ano, 12 dias após a morte de sua filha. Escreveu além da vida! O Amor Natural, seu festejado livro de poemas eróticos, só foi publicado após sua morte, a seu pedido. O livro não é um “desbunde” pontual do autor. Lançado em 1992, revelou a exuberância desenvolvida a partir do Modernismo, e um jeito moleque de escrever (Era manhã de Setembro/ e/ ela me beijava o membro). O repórter e escritor Geneton Moraes Neto, em Dossiê Drummond, diz que apesar do sucesso e reconhecimento público, Drummond era um homem sem orgulho e vaidade; desiludido; agnóstico; solitário; cético; injusto com a própria obra; um burocrata sem brilho e cargos que exigissem decisões importantes Brigitte para mudar o destino da sociedade. Sem ambições literárias, foi poeta pelo desejo e pela necessidade de exprimir sensações e emoções que perturbavam seu espírito e causavam angústia. Fez da poesia o sofá do analista! Mas o que tornava esse Clark Kent de Itabira, jornalista tímido e burocrata metódico, um SUPERMAN apaixonado, descontraído e brincalhão? Segundo Geneton, o motivo tinha nome e sobrenome: Lygia Fernandes protagonizou com Drummond uma bela história de amor. Um poeta e uma bibliotecária, colegas do IPHAN, ele com 49 anos e ela com 24, se conheceram e se apaixonaram. O amor secreto durou 36 anos e mostrou ao mundo um “outro” Drummond. O casamento com Dolores Dutra de Morais sucumbiu aos encantos da bela e culta Lygia, e os dois se amaram intensa e secretamente até a morte do poeta. Geneton pede perdão a Dona Dolores, por ter sido um fã fervoroso desse amor, mas certamente foi Lygia quem o fez escrever versos fantásticos. A hipotética paixão incestuosa pela filha Maria Julieta, e também a suposta eutanásia, foram literalmente desmentidas por Lygia. Ele encerra seu dossiê dizendo que, após a morte de Lygia Fernandes, em 2003, seus familiares venderam seu apartamento, recolheram o material contido no imóvel, e recusaram-se a divulgá-lo, ou mesmo falar sobre. “Isso me faz crer, que versos maravilhosos Drummond deve ter colocado, ternamente, nas mãos de Lygia, inspirados nos momentos de amor adúltero, porém divinos, e que um dia, quem sabe, chegarão até nós”, afirma o autor. No corpo feminino, esse retiro | - a doce bunda - é ainda o que prefiro.| A ela, meu mais íntimo suspiro,| pois tanto mais a apalpo quanto a miro.| Que tanto mais a quero, se me firo | em unhas protestantes, e respiro | a brisa dos planetas, no seu giro | lento, violento... Então, se ponho e tiro | a mão em concha - a mão, sábio papiro | iluminando o gozo, qual lampiro | ou se, dessedentado, já me estiro, | me penso, me restauro, me confiro,| o sentimento da morte eis que o adquiro: | de rola, a bunda torna-se vampiro. BRIGITTE CAUSSE CAFERRO nasceu em 09.03.1985, em Saurimo, Angola. Cursava administração pública na Universidade Agostinho Neto, quando ganhou uma bolsa de estudos do INABE, instituição conveniada com universidades públicas brasileiras, e veio cá estudar. Chegou ao Rio em fevereiro de 2008, mas logo foi para Curitiba, onde vive. Cursa administração na Universidade Federal do Paraná e presta estágio na Caixa Econômica Federal, além, é claro, de escrever. Brigitte nos conta: “Comecei a escrever aos 13 anos, e profissionalmente aos 25, e o faço pela necessidade de compartilhar meus sentimentos mais íntimos, mostrando ao mundo a minha forma de pensar.” Brigitte prossegue: “A vontade de publicar um livro partiu do incentivo de um amigo que apreciava meus escritos. Vivências de Brigitte seria o título do meu primeiro trabalho, baseado em experiências pessoais, e que por razões comerciais foi mudado para Do Meu Íntimo Mais Íntimo. Para citar alguns poemas, escolho Silêncio porque é nele que a minha alma cria asas e transforma palavras em arte; Nosso Tempo Acabou fala da minha ânsia em estar ao lado do meu amado, o que, por uma força maior, não aconteceu; Monstruosa Escuridão também fala do meu conflito sentimental por estar longe desse mesmo amado. Os que fazem maior sucesso com o público, medidos através de visualizações, 35 & & arte artecultura cultura 36 comentários, e links na internet, são: Catarse, Cupido e Vulcão.” Brigitte também divulga seus trabalhos nas mídias sociais e conta: “Além do perfil no Facebook, mantenho um blog onde mostro alguns dos meus poemas e falo de outros assuntos. Chama-se Muxima Camanga, palavras de duas línguas regionais angolanas, que significam Coração de Diamante, porque meus poemas vêm do coração e têm para mim o valor de um diamante.” Quanto aos planos, Brigitte diz: “Quero formar-me num futuro não muito distante, ter um bom emprego em Angola, ter meus negócios próprios e, é claro, escrever e publicar os meus poemas. Quanto à família, o bem mais precioso que se pode ter, pretendo constituir a minha, com a graça do Todo Poderoso.” Sobre Angola e Cidadania, Brigitte comenta: “O meu país passou por um longo período de guerra civil. Vulcão Felizmente, em 2002, as armas se calaram e, desde então, vivemos a paz tão almejada. Ainda temos muito a fazer, mas segundo o FMI, Angola tem hoje uma das economias mais promissoras do Continente Africano. Se tivesse condições, gostaria de ajudar os menos favorecidos, principalmente crianças e portadores de doenças.” Curiosamente, Brigitte tem um ”Q” de timidez! Canta na paróquia N.S. de Lourdes, igreja católica, no bairro do Jardim Botânico, onde reside. Acompanhada pelo violão de Dario Júnior, a dupla se apresenta em missas, inclusive no Natal, por amor à fé. A criatividade de Brigitte está também no artesanato. Modela apliques coloridos sobre as popularissimas Havaianas. Imagens podem ser vistas na sua página pessoal, no Facebook. Brigitte finaliza a nossa entrevista dizendo: “A poesia tornou-se a minha vida e o mundo a minha inspiração” Vem meu ébano, | se arrocha, | na minha coxa, | derreta-te em meus braços.| ...Deita-te na minha cama, | me beija... | Diga que me ama. | Vem que eu te cuido, | e não te deixo morrer nunca... | Cubrate com a minha colcha, | enrosca-te em meu corpo... | Acende o vulcão que habita em mim... | Se queimarmos o colchão, | faremos no chão. | Porque onde o amor habita, | não há escuridão Mano Para entender MANO MELO, pegue as chanchadas de Zé Trindade, Oscarito, e Grande Otelo; a literatura de Zé Lins, Amado, Graciliano, Veríssimo, Guimarães Rosa, Pessoa, Shakespeare, Homero, Goethe, Patativa e Baudelaire. Adicione as correntes do cinema, teatro e literatura, do clássico ao moderno. Ponha tudo numa centrífuga, bata por 55 anos, et voilà! Carioca há 16 anos, já publicou 8 livros de poesia e o romance Viagens e Amores de Scaramouche Araújo. Como ator, foram 15 filmes, entre longas, curtas, e documentários, além de peças de teatro, e inúmeras aparições em novelas e comerciais. No momento, comanda o stand up poetry Mano a Mano, sempre às primeiras terças de cada mês no Zero-Zero da Gávea, onde interpreta e recebe convidados, compartindo o palco com a atriz Cristina Bethencourt. O escritor comenta com a Folha Carioca: “Meu interesse literário foi precoce. Antes mesmo da escola, já lia out-doors e itinerários dos ônibus de Fortaleza. Nunca fui bom de bola, nem de briga. Tímido com as meninas, percebi que a literatura, a poesia e o teatro me davam poder de encantamento, impulso para o autoconhecimento, e compreensão do mundo e da nossa época. A primeira manifestação ocorreu aos 11 anos em um concurso promovido por uma rádio local. O vencedor seria escolhido por aclamação da plateia. Fomos trancados numa cabine para escrever. Meus concorrentes eram todos adultos, e vieram com textos piegas e chorosos como boleros. Eu apresentei uma história jocosa, em que dispensava a namorada após flagrá-la num amasso com um soldado na Praça da Lagoinha, abrigo preferido dos casais do centro de Fortaleza, cidade ainda sem motéis. A plateia riu muito e ganhei um prêmio em dinheiro e uma cesta de produtos. Percebi que poderia ganhar a .... Encontrei a Madonna na Praça da Paz | Numa limousine Mitsubishi lilás | Calcinha preta peitinhos soltos botas de salto | Algemas na cinta corrente nos pulsos coleira no pescoço | E incrustado num boné de marujo que lhe cobria a cabeça | Um crucifixo de ouro com um homem nu | Abriu a porta do carro olhou pra mim e disse assim: | - Entra aí seu bunda suja, | Vamos tirar um sarro! vida dessa forma, e não quis mais outra coisa. Uma palavra ouvida no ônibus, uma notícia no jornal, uma frase em lugar público, sentimentos por uma namorada, amigo, ou cidade, tudo pode virar poesia. É o caso de Avenida Paulista, no meu livro O Lavrador de Palavras. Certa vez, em São Paulo, entrei no banheiro de um boteco e vi escrito na parede: “Uma mulher sem bunda é como uma cidade sem igrejas”. Saí rindo, sentei-me numa mesa, papel e caneta na mão, e o poema surgiu desse grafite. São muitas as referências literárias, mas puxando a brasa para o erótico, destaco Giácomo Casanova, Henry Miller e Anais Nin. Gosto do tema porque é energia vital, mas algumas pessoas generalizam e me veem como arauto da sacanagem, carapuça que me recuso a vestir. Madonna é um dos meus eróticos mais conhecidos. Quando me perguntam se eu comi a Madonna, respondo como o personagem de James Stewart no filme O Homem que Matou o Facínora: “Meu jovem, quando a lenda é maior que o fato, publique-se a lenda”. O poema é uma crítica ao star-system e à indústria do entretenimento. A personagem é uma referência para satirizar o sistema. Escrevi Sexo em Moscou numa noite insone, brincando com o som das palavras e ícones do comunismo. Não fui exilado, mas diante das incertezas e restrições da ditadura, achei que sair do país seria oportuno e engrandecedor. Tinha dúvidas se o título seria Amor, ou Sexo em Moscou, mas o grande Cazuza fechou questão e batizou a criança, num bar de Ipanema que já não lembro o nome.” “Poesia é arte para pequenas multidões. Enquanto o destino me conceder, estarei aí, a escrever e interpretar. Um dia jurei que me transformaria numa máquina de escrever. Continuo tentando!” Enoli Trilogia do Prazer, a biografia de ENOLI Maria de LARA, lançada em 2010 pela Nova Razão Cultural, é a história da Sacerdotisa do Sexo no Reino de Muirapuana, que professa o místico, o erótico, e orgasma com o sedutor e o seduzido. Mostra suas origens; a adolescência religiosa; as mulheres libertárias, revolucionárias, e transgressoras que nela habitam. Fala da paixão pelo Rio, Carnaval, Maracanã, Flamengo e, claro, das suas experiências de alcova. Lara é curitibana, como sua mãe. O pai era gaúcho, a figura masculina mais marcante na sua vida. Aluna aplicada, mesmo reprimida pela forte educação religiosa, já deixava fluir o erotismo precoce. Aos 17, ganhou a Maratona Literária da Prefeitura de Curitiba. Linda e articulada, trabalhou como recepcionista, manequim e modelo fotográfico. Emprestou a bela voz para locução e publicidade. Foi eleita por duas vezes a Melhor Garota Propaganda da TV. Casou, teve um filho, e separou-se um ano depois. Chegou ao Rio em 73 e tornou-se carioca. Posou para Di Cavalcanti e Edgard Duvivier, com quem casou e viveu por 10 anos. Da relação veio a paixão por esculpir, tendo como temas preferidos o calipígio e o fálico. Expôs suas obras no Brasil, Estados Unidos e Europa. Trilogia do Prazer mostra a trajetória de Lara, tão polêmica quanto a de Elvira Pagã, Luz Del Fuego ou Leila Diniz. No Carnaval de 88, desfilou nua, com o corpo pintado, e em 89, exibiu o inédito nu frontal, fazendo com que, a partir de 90, a LIESA proibisse a “genitália desnuda”. Ganhou fama com o processo contra a Globotec, por uso indevido da imagem do seu bumbum. O país inteiro quis vê-lo. Um sucesso tão arrebatador quanto os orgasmos de Lara! Foi a primeira a estrelar um vídeo Playboy em segmento nacional, Playboy Paixão Nacional, Enoli Lara, um bumbum de 40 mil dólares. Eleita uma das 200 playmates mais desejadas no mundo, e um dos 10 mais belos e perfeitos bumbuns da revista. Candidata a vereadora em 92, distribuiu preservativos em vez de santinhos, na luta pela educação sexual nas escolas. Encenou Nelson Rodrigues, Shakespeare, e passou pelo O Tablado. Como escritora, além de Trilogia do Prazer, assinou crônicas para A Notícia, Ultima Hora, Ele & Ela, e Internacional Big Man. Na Rádio Manchete, em 2000, dava dicas de alcova em Na Cama com Enoli. Na TV, atuou em praticamente todas as emissoras. Fez novelas, minisséries, programas de humor, entrevistou e foi entrevistada em inúmeros programas jornalísticos e de variedades. Apresentou A Mística do Nu, na extinta TV RIO, dando origem ao video book de mesmo nome, e que teve as imagens adquiridas pela Abril Cultural, para produção do famoso vídeo da Playboy. Participou de Documento Especial, com a coluna Sexualidade Feminina, na TV Manchete, que precede o documentário em vídeo, “Usufruo de inefável prazer em tudo que faço. Do orgasmo sexual, ao transcendental, que possuem a mesma carga erótica. Algumas modelos fazem o nu só pelo dinheiro. Eu não! Adoro estar nua, e fotografo orgasticamente. Sou epicurista, tudo pelo prazer! (...) Cleópatra tinha mais sede de poder do que de prazer. Eu, apesar de toda a luxúria, tenho mais sede de saber do que de prazer. Meu objetivo não é agradar, mas surpreender e provocar. Pode escrever aí: Enolí é bem mais que uma bela bunda!” homônimo, e oito vezes premiado. Lara ainda se dedicou à música, como cantora e compositora. Lara sempre bebeu na fonte de Drummond, e O Amor Natural é a sua leitura de cama. Seus próximos livros serão: Amantes de Alma, sobre os pares perfeitos formados pela semelhança de almas; A Papisa Virtual, sobre suas experiências na Internet. Lara quer reviver os mitos de Cleópatra, Salomé, Messalina e Joana D'Arc. Quer falar de Santo Agostinho e sua vida pregressa, devassa; de Santa Tereza D´Avila, e a lança abrasadora que veio do céu, penetrou-a e levou-a ao êxtase. Lara abomina a Seita das Princesas contra os Homens Cachorros e concorda que as mulheres, incluindo a própria mãe, influem na formação desse perfil cafajeste. Aliás, o filho de Lara, Jefferson, é um gentleman. Teólogo, Biólogo, Professor de Criacionismo, deu a sua mãe, recentemente, o primeiro neto, Adrian, que continuará a dinastia de Lara. “Você que já foi ousada não permita que a amansem (Isadora Duncan)” 37 arte & cultura H aron Gamal [email protected] A perpétua busca da literatura Novo livro de Magalhães estabelece diálogos entre poetas, musas e períodos literários 38 Publicar resenhas sobre livros de literatura brasileira está se tornando um grande problema. É vasto o número de autores que se arriscam nessa seara, mas pouco o espaço para discutir suas obras. Uma das questões que angustiam muitos ficcionistas e poetas é a pouca divulgação dos seus trabalhos, o que faz muitos buscarem apadrinhamento no vasto aparato da cultura de massa, como nos jornais de grande circulação ou mesmo na TV. Em contrapartida ao grande número de publicações, observa-se que a nossa literatura, embora de nível elevado, carece na atualidade de escritores geniais. Um autor que engrossa a média, podendo tornar-se genial daqui a alguns anos é Jorge Eduardo Magalhães. Além de escrever também para teatro, ele já está no seu quarto livro de ficção, tendo até agora como o de maior sucesso o cult: Vagando na noite perdida. Seu último livro, O retrato de Perpétua, apresenta trama muito interessante. Um poeta solitário, que vende seus livros boca a boca, sobretudo à noite, encontra num sebo a obra de Ribeiro Gomes. Segundo o narrador, trata-se de um poeta da literatura portuguesa da primeira metade do século 19, autor que escrevia poemas a uma mulher idealizada, cujo nome é Perpétua. Ao mesmo tempo, o poeta de hoje descobre nas imagens de TV uma repórter muito semelhante a tal Perpétua do romantismo português. Assim como o poeta esquecido, o atual escreverá poemas para a sua musa da pós-modernidade. O que o livro apresenta de mais instigante é que o autor criou não só dois poetas, mas também dois tipos de literatura: uma nos moldes românticos, outra sob o ceticismo da contemporaneidade. O personagem chega a procurar sua musa na emissora de TV com o objetivo de presenteá-la com os poemas dedicados a ela, mas o encontro nunca se realiza. O que se pode dizer é que a tensão interna deste pequeno romance é o diálogo entre a literatura do poeta esquecido, que viveu a maior parte do tempo em Portugal, e a do poeta dos dias atuais, homem que se relaciona com uma portuguesa pela internet, que frequenta centros de lazer masculino para namorar as prostitutas e que, mesmo assim, amarga uma tremenda solidão, vagando dias e noites pelas ruas do centro do Rio, tendo como companhia apenas a febre, que reaparece a cada anoitecer. O que se pode sugerir para que Jorge Eduardo torne-se um autor de destaque na literatura brasileira contemporânea? Aconselho maior cuidado com a linguagem, sobretudo com a revisão, já que sua editora, a Multifoco, não é uma casa voltada para o fino acabamento de nenhum tipo de livro. Quem se aventura nesse mercado, não pode enviar para as lojas livros com erros grosseiros, como o que aparece logo no início e que está corrigido com corretor manual. Um autor, além de criador, não tem como dar conta de todo o processo de editoração, por isso a necessidade de um bom revisor e de uma boa casa editorial. Isso evitaria erros como “imacular”, ao invés de “macular” (p. 68), “esquecia”, no lugar de “esquecida” (p. 69) etc. Um problema estrutural, que poderia também ter sido sanado com olhar mais atento, ocorre na página 5. O narrador diz “Fazia quase dois anos que não via Priscila”; três parágrafos abaixo, está escrito: “Naquele mesmo ano, um pouco antes de conhecer Priscila...”. O que se deduz é que, no momento da primeira referência à mulher, o narrador encontra-se no presente, e que, na segunda, faz um flashback para contar como conheceu Priscila. Um bom revisor tiraria o segmento “naquele mesmo ano” e tudo estaria resolvido. A ideia de Jorge Eduardo é boa. Eu mesmo, como leitor experiente, fui averiguar sobre a suposta existência do poeta citado no livro. Como nada encontrei, escrevi ao autor, que me confessou ter sido tudo criação sua. Uma vez que Magalhães tem verve para criar e citar autores fictícios, enganando até mesmo o resenhista, acredito que seu talento seja maior para olhar a própria obra com mais cuidado. Assim, daqui a algum tempo, não tardará a lermos um autor genuinamente carioca, que saberá retratar com esmero e minúcia as paixões e os sofrimentos dos habitantes desta cidade. É digna de nota a passagem do livro em que o poeta está prestes a encontrar sua musa, a repórter de TV. Ela apresenta uma matéria ao vivo numa igreja ameaçada de desabamento, no centro da cidade. Na verdade, ele quer entregar-lhe, em mãos, o livro de sonetos que escreveu inspirando-se nela. Mas, num último momento, hesita: “Não, uma musa não deve ser tocada. O poeta nunca deve se aproximar de sua amada. A musa deve ser sublimada, inatingível. Aquela era uma mulher bonita e qualquer contato, por menor que fosse, poderia desmistificála. Sentou no meio fio, escreveu uma breve dedicatória na contracapa do livro e pediu ao motorista da emissora para entregar a P.H. Agradeceu e foi andando sem olhar para trás. Tinha certeza de que Ribeiro Gomes nunca se aproximou de sua Perpétua.” O retrato de Perpétua Jorge Eduardo Magalhães Anthology – Editora Multifoco, 89 páginas arte & cultura ROTEIRO BOÊMIO CULTURAL Torre de Babel que se entende Mochileiros de todo o mundo se encontram semanalmente em quiosque de Copacabana TEXTO_Renato Amado Que tal viajar e ficar hospedado na casa de outra pessoa? Aluguel de quarto? No CouchSurfing, o pagamento é a troca de experiências. Criado em 2003, o projeto visa aproximar pessoas de diferentes partes do mundo. Não apenas através do “surfe de sofá”, ou seja, pela hospedagem gratuita, como também através de encontros em que locais e turistas podem se conhecer. Por isso, o domínio www.couchsurfing.org, uma espécie de Orkut para mochileiros, além do perfil detalhado dos seus usuários, conta com comunidades de centenas de cidades, pelas quais os cadastrados podem combinar diversos programas. Uma da mais ativas, a comunidade do Rio de Janeiro percebeu, há cerca de três anos, a necessidade de fazer um evento semanal. Foi criado então o CouchSurfing weekly meeting. Inicialmente os encontros eram no Mercadinho São José, em Laranjeiras, mas a procura fez com que se buscasse um local mais amplo. Por isso, já há dois anos, os encontros ocorrem no quiosque Pizza em Cone, em frente à antiga Help - onde hoje está sendo construído o Museu da Imagem e do Som. O público é variado. Tem desde mochileiros bicho-grilo rodando o mundo, a fiéis eleitores republicanos passando um feriado num paraíso tropical. E como um público tão eclético consegue se entender tão bem? “A grande sacada é perceber que diferente não é melhor nem pior, mas simplesmente diferente. Com esse entendimento acho que falar outro idioma se torna só um mero detalhe”, conta Márcio Attie, um dos assíduos frequentadores. E realmente, os participantes querem mesmo é diversidade. Por isso não se espante se num dado momento se der conta de que está numa roda de bate-papo com um alpinista carioca, uma cientista política americana e um universitário indiano. “Conheci muitos locais que foram ótima companhia e que ajudaram a fazer com que minha viagem fosse ótima”, conta o turista britânico Thomas Forsayeth. 39 A quantidade de frequentadores, assim como a proporção turistaslocais, varia de acordo com a temporada. Com não mais de cinquenta pessoas numa semana de maio ou setembro, o encontro se torna uma bombação para cerca de quatrocentos mochileiros ávidos por curtição na alta temporada, tendo o inglês como língua franca. Segundo o carioca e morador de Copacabana Juan Miguel, “nas semanas próximas ao carnaval fica até difícil de passar no calçadão”. E enquanto o verão não chega, vale a pena ir se ambientando. O encontro é aberto, mas o cadastro é incentivado, para que o frequentador seja um membro da comunidade mundial do CouchSurfing. Simples e gratuito, ele é realizado no site do projeto. CS weekly meeting Todas as quintas-feiras, das 20h à1h O local tradicional do evento é o Quiosque Pizza em Cone, na Av. Atlântica, altura do Museu da Imagem e do Som Porém o local está em obras e é preciso acompanhar no site o local das próximas edições Eventio Gratuito Cerveja, refrigerante e comida com desconto para surfistas de sofá cidadania & sustentabilidade Consumo consciente Pequenas escolhas, grandes transformações Para poder estar em dia com a sustentabilidade de suas ações, o consumidor deve ter informações sobre origem, composição, embalagem e destino final dos produtos 40 No dia 15 de outubro é comemorado o Dia do Consumo Consciente. A data foi instituída pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), no Brasil, para conscientizar a população sobre os problemas socioambientais que os padrões atuais de produção e consumo estão causando ao planeta Terra e aos próprios seres humanos. Ações cotidianas, concretas e voluntárias de consumo consciente permitem a qualquer pessoa contribuir para a preservação do meio ambiente e melhorar a qualidade de vida de todos. Um amplo despertar de consciências para esta nova realidade é um dos desafios da vida moderna. Você é o tipo de pessoa que entra no supermercado e avalia cada produto que vai colocar dentro do carrinho ou não está nem aí para sua origem e se realmente precisa daquilo naquele momento, muitas vezes pagando caro por sua escolha? Quem sabe, não chega a esse ponto, mas adora produtos bem baratos, de origem um tanto quanto suspeita e que podem ser consumidos de forma exagerada, sem passar por sua cabeça que está por trás desse baixo custo a exploração da mão-de-obra e geração de problemas sociais ou, até mesmo, o trabalho infantil? A consciência tem um preço, o qual nem todo mundo concorda em pagar, já que aparenta ser mais elevado do que se gostaria. Hoje muitas questões, sobretudo as ecológicas e ambientais, perpassam pelo seu despertar, nem sempre aceito com tanta prontidão quanto necessário. Criar uma nova cultura que abra espaço para a qualidade e uma vida sustentável ainda parece utópico e distante. No entanto, o aumento populacional e o consumo desenfreado há tempos vêm gerando problemas de grande monta que se tornam cada vez mais críticos, ao ponto de ameaçar a viabilidade de toda espécie de vida sobre a Terra. Esse contexto iminente faz parte de todo um sistema, desencadeado por uma lógica de funcionamento que necessita ser repensada para uma mudança urgente e global. Para a formação de consumidores conscientes a estratégia de mudança passa pelo processo educativo, pois é uma ferramenta poderosa, capaz de gerar um senso crítico e ampliar a visão para que novas escolhas sejam estabelecidas. O processo de construção do conhecimento parte do princípio do que as pessoas sabem sobre o tema, possuindo liberdade para formular seus próprios conceitos, A principal organização não-governamental focada neste conceito é o Instituto Akatu, criado no âmbito do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Seu objetivo, desde o princípio, foi educar e mobilizar a sociedade para o consumo consciente. Os pilares do Instituto são: educar, informar, sensibilizar, mobilizar e animar cidadãos para assimilarem, em seus comportamentos e atitudes, o conceito e a prática do consumo consciente. Para cumprir esta espécie de "missão" é necessário um trabalho com várias frentes de atuação, como o desenvolvimento de atividades em comunidades; divulgação de conceitos e de informações na internet, em publicações, na mídia e em campanhas publicitárias; geração de pesquisas; e elaboração de instrumentos de avaliação e informação sobre o consumo consciente. O consumo consciente ou sustentável é um conceito bem mais aberto, que hoje está além da direção da economia, dos direitos do consumidor e da reciclagem de lixo. Não é uma postura reativa, mas leva o consumidor a se identificar como um protagonista dentro desse amplo contexto social, político e cultural. O consumidor tem poder. Pode e deve usá-lo em benefício de uma sociedade mais sustentável. Ele parte da forma básica do cidadão consumidor para se tornar um consumidor cidadão. Como ser um consumidor socialmente responsável • Leve uma sacola de pano ou plástico reutilizável para o supermercado e evite as sacolinhas plásticas. • Priorize serviços e produtos de empresas com responsabilidade socioambiental. • Tente equilibrar a satisfação pessoal com o ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável. • Consuma alimentos produzidos localmente e dê prioridade aos sem agrotóxico. • Não deixe torneiras pingando: uma gota por segundo desperdiça em média 46 litros de água. • Economize água no banho: diminua o tempo ou feche a torneira enquanto estiver se ensaboando. Em 10 minutos, são gastos em média 160 litros de água. • Escove os dentes com a torneira fechada. A cada dois minutos, são gastos 13 litros de água. • Vasos sanitários com caixa d’água acoplada e descarga diferenciada gastam menos água. • Use vassoura para limpar a calçada e o quintal de casa. • Use bacias ou a própria pia tampada para lavar a louça. Ao lavar a louça durante 15 minutos com a torneira aberta, gastam-se 240 litros de água. Dicas para um consumo consciente no Dia das Crianças Acerte no presente Minimize o risco de errar nos presentes: pergunte o que as crianças querem ganhar ou, se preferir fazer surpresa, reflita bem antes de comprar, buscando algo que tenha a ver com os gostos e interesses de quem você irá presentear. Controle o impulso consumista Compre menos, planeje suas compras, estabeleça um limite de gastos e não o ultrapasse. Dê presentes alternativos Faça você mesmo alguns dos seus presentes. Compre produtos artesanais feitos por comunidades, cooperativas ou entidades do terceiro setor e opte por objetos feitos com matéria-prima reciclada. Não compre produtos piratas ou contrabandeados Pagar menos por produtos piratas ou contrabandeados não compensa: você estará contribuindo com o crime organizado e com o consequente aumento da violência no seu bairro, na sua cidade, no seu país. Escolha produtos de empresas social e ambientalmente responsáveis Informe-se sobre as empresas das quais vai comprar. Avalie bem quando comprar a prazo Caso opte por comprar a prazo, verifique a taxa de juros e analise se a prestação é adequada ao seu orçamento. Caso pague à vista, busque negociar um desconto no preço. E não se esqueça de fazer uma reserva no seu orçamento para os gastos que sempre ocorrem no início de ano. Cuidado com as embalagens Dê preferência a papéis e embalagens recicladas, escolha as embalagens duradouras e que possam ser reutilizadas, e encaminhe para reciclagem as que não puderem ser reaproveitadas. Dissemine o consumo consciente Aproveite a comemoração e dissemine o consumo consciente entre seus amigos, colegas de trabalho e familiares. Esse é o melhor presente que você pode dar à humanidade E lembre-se há coisas que por um milagre, quanto mais consumimos, mais se multiplicam. Por isso consuma exageradamente amor, beleza, alegria, carinho e amizade. 41 O nde encontrar OX Fitness Club Mourisco Praia de Botafogo 501 Banca da Gávea R. Prof. Manoel Ferreira, 89 Tel.: 2294-2525 OX Fitness Club Praia Praia de Botafogo, 488 21 2295-2211 Banca Dindim da Gávea Av. Rodrigo Otávio, 269 Tel.: 2512-8007 COPACABANA Banca do Carlos Rua Arthur Araripe, 1 Tel.: 9463-0889 BOTAFOGO Banca Bolivar Rua Bolivar, 134 Banca Dias da Rocha Rua Dias da Rocha, 09 Banca do Babau Rua Inhangá esquina c/ NSC Banca Miguel Lemos, 24 Rua Miguel Lemos, 24 Banca Prado Jr. Rua Prado Jr., 335 Banca New Life R. Mq. de São Vicente,140 Tel.: 2239-8998 Banca Planetário Av. Vice Gov. Rubens Berardo Tel.: 9601-3565 Banca Raimundo Corrêa Rua Raimundo Corrêa, 09 21 9824-0150 Banca Speranza Praça Santos Dumont, 140 Tel.: 2530-5856 Banca Sá Ferreira Rua Sá Ferreira, 44 Banca Speranza Rua dos Oitis esq. Rua José Macedo Soares Banca Tia Vânia Rua Xavier da Silveira, 45 42 Banca Feliz do Rio Rua Arthur Araripe, 110 Tel.: 9481-3147 Banca Xavier da Silveira Rua Xavier da Silveira, 40 Casa da Táta R. Prof. Manoel Ferreira,89 Tel.: 2511-0947 Empório Occiale Rua Siqueira Campos, 143 – Loja 141-142 Chaveiro Pedro e Cátia R. Mq. de São Vicente, 429 Tels.: 2259-8266 Espaço Brechicafé R. Siq. Campos 143 - loja 31 Tel: 2497-5041 Igreja N. S. da Conceição R. Mq.de São Vicente, 19 Tel.: 2274-5448 Farmácia do Leme Av. Prado Jr.,237 – A Menininha Rua José Roberto Macedo Soares, 5 loja C Tel.:3287-7500 Graça Brechó Av. N.S.Copabana 959 - Loja E Ao lado do Cine Roxy Livraria Nobel Rua Barata Ribeiro, 135 Tel.: 2275-4201 Posto BR – loja de conveniência Rua Mq. São Vicente, 441 Quiosque de Inf. Turísticas Av. Atlântica, Posto 3 Restaurante Villa 90 Rua Mq. de São Vicente, 90 Tel.: 2259-8695 Rest. Príncipe de Mônaco Rua Miguel Lemos, 18- Loja A HUMAITÁ Sebo Baratos da Ribeiro Rua Barata Ribeiro, 354 Shopping 195 Av. N.S.Copacabana, 195 Sorveteria Lopes Av. N.S.Copa., 1.334 - loja A FLAMENGO Academia Max Forma Rua Clarisse Índio do Brasil,20 Banca do Alexandre R.Humaitá esq. R.Cesário Alvim Tel.: 2527-1156 IPANEMA Armazem do Café Rua Maria Quitéria, 77 Banca do Renato Rua Teixeira de Mello, 35 Centro Cultural Laura Alvim Av. Vieira Solto, 176) Mundo Verde Rua Visconde de Pirajá, 35 Supervídeo Rua Visconde de Pirajá, 86 lj.C e D 21 2522-6893 Via Verde R. Vinicius de Moraes, 110, LJ. C Wash Club Visconde de Pirajá, 12, loja D JARDIM BOTÂNICO Carlota Portella Rua Jardim Botânico, 119 Tel: 2539-0694 Le pain du lapin Rua Maria Angélica, 197 Tel: 2527-1503 Livrarias • Bancas • Cafés • Restaurantes Espaços Culturais • Lojas cadastradas • Academias Banca do Mário Rua Gen. Artigas, 325 Tel.: 2274-9446 Banca do Vavá Rua Gen. Artigas, 114 Tel.: 9256-9509 Banca Encontro dos Amigos Rua Carlos Goes, 263 Tel.: 2239-9432 Posto Ypiranga Rua Jardim Botânico, 140 Tel:2540-1470 Banca HM Rua Dias Ferreira, 154 Tel.: 9270-6337 Supermercado Crismar Rua Jardim Botânico, 178 Tel: 2527-2727 Banca Largo da Memória Rua Dias Ferreira, 679 Tel: 8079-8360 LAPA Banca Luísa Rua Cupertino Durão, 84 Tel.: 2239-9051 Restarante Nova Capela Av. Mén de Sá, 96 Tel: 2252-6228 LAGOA Bistrô Guy Rua Fonte da Saudade, 187 LARANJEIRAS Casa da Leitura Rua Pereira da Silva, 86 Mundo Verde Rua das Laranjeiras, 466 – loja D 3173-0890 LEBLON Banca Miguel Couto Rua Bartolomeu Mitre, 1082 Tel.: 3861-7989 Banca Rainha R. Rainha Guilhermina,155 Tel.: 9394-6352 Banca Scala Rua Ataulfo de Paiva, 80 Tel.: 2294-3797 Banca Top Rua Ataulfo de Paiva, 900 esq. Rua General Urquisa Tel.: 2239-1874 Café com Letras Rua Bartolomeu Mitre, 297 Café Hum Leblon Rua Gen. Venâncio Flores, 300 Tel.: 2512-3714 Armazém do Café Rua Rita Ludolf, 87 Tel.: 2259-0170 Cidade do Leblon Av. Ataulfo de Paiva, 135 Banca Café Pequeno Rua Ataulfo de Paiva, 285 Entreletras Shopping Leblon nível A 3 Banca Canto Livre Rua Gen. Artigas, s/nº Tel.: 2259-2845 Embalo Bar R Dias Ferreira, 113 Maison 25 Haute Coiffeur Rua Roberto Dias Lopes, 25 OX Fitness Clube Leme Rua Gustavo Sampaio, 542 - loja A OX Hair Lounge Rua Gustavo Sampaio, 723 - loja B Quiosque Espaço OX Av. Atlântica, Posto 1 SANTA TERESA Banca Chamarelli Rua Áurea, 02 Banco do Lgo. dos Guimarães Largo dos Guimarãess/nº Bar do Gomes Rua Áurea, 26 Café do Alto Largo dos Guimarães, 143 URCA Banca da Deusa Banca da Teca Fotografia Digital Av. Afranio de Melo Franco, 310 Banca do Círculo Militar em frente ao Círculo Militar Banca do EPV República Animal R. Marquês de Abrantes, 178 lj. B Tel.: 2551-3491 / 2552-4755 Receba a Folha Carioca no conforto de sua casa. 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