Noruega – 2ª parte
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Noruega – 2ª parte
Sul Noruega – 2ª parte maravilha Texto Arnold Weisz Fotos Stein Johnsen (sub) e Arnold Weisz Escondida a 40 metros de profundidade, uma bela anêmona se prende á pedra lisa 54 >>mergulho Depois do sol da meianoite e dos fantásticos mergulhos no Oceano Ártico (que você viu em Mergulho 139) conheça agora os litorais Oeste e Sul da Noruega, com vida e naufrágios tão atraentes quanto o Ártico – e com possibilidade até de água mais quente: “mornos” 18º C no verão... Brrrrrrrrr! A vila de Risor possui centenas de casinhas tradicionalmente pintadas de branco, todas muito conservadas U ma boa olhada no mapa da costa oeste da Noruega revelará milhares de baías, fiordes e ilhas. São esses acidentes geográficos que proporcionam abrigo em praticamente qualquer condição de tempo e oferecem vasta variedade de pontos de mergulho – de fundos de areia abrigados e paredes verticais a poderosos drifts (para não mencionar uma série de naufrágios, antigos ou modernos...). O litoral meio-oeste norueguês também é famosa por suas florestas de algas. A maioria dos pontos possui frondosas florestas de kelps, graças à água muito limpa da região. Não é raro encontrá-las estendendo-se aos 25 metros de altura. A maior diferença é que as algas do oeste estão mais espaçadas e a topografia do fundo é formada por grandes pedras e profundos canais, então é muito mais fácil movimentar-se pela “floresta”. A selva de kelps é um perfeito refeitório para a maioria da fauna local, e a melhor época está entre agosto e setembro, quando as algas atingem seu ápice e ficam lotadas de criaturas fascinantes. Mergulhar entre os kelps é tão excitante quanto o fazê-lo num recife de corais: você tem de mover-se cuidado- samente na semi-escuridão e deixar-se levar pelas correntes enquanto nada no meio da “floresta tropical subaquática”. E, da mesma forma que numa floresta tropical terrestre, há sempre uma surpresa à espreita... A Atlantic Ocean Road cobre um dos mais notáveis trechos da costa norueguesa. A estrada dá acesso a uma das melhores áreas de mergulho do país: Hustadvika. Esse é o nome da do litoral entre Kristiansund e Molde, ci- dades da costa ocidental. Por séculos, esse pedaço de costa foi um importante pólo de pesca. Na verdade, até hoje Kristiansund é a capital do “peixe empilhado”: é de onde a maioria do mais que famosos bacalhau da Noruega é exportado para Portugal e Brasil. Os nove quilômetros da Atlantic Ocean Road são pontuados por inúmeras ilhotas, ligadas por uma série de pontes e aterros, exatamente na faixa de litoral entre essas duas cidades. É ali Essa pequena sépia foi fotografade durante um mergulho noturno. Raramente são avistadas durante o dia mergulho << 43 Noruega – 2ª parte Este rebocador é um dos três naufrágios localizados um ao lado dos outros. E apenas um dos mais de dez visitáveis na região de Kristiansand também onde se encontram fiordes e montanhas com os picos cobertos de neve com a majestade interminável do Atlântico. Hustadvika está apinhada de pequenas ilhas e recifes que são um eldorado para mergulhadores. Entre elas, uma mistura de fundos de areia e kelps. É muito comum encontrar mantas e halibuts (uma espécie de linguado gigante, que pode chegar aos 300 quilos). O inconveniente da região é a instabilidade do clima. Mesmo no verão, é necessário ter na 56 >>mergulho bagagem roupas para as quatro estações. Ainda assim, dá para mergulhar praticamente o ano todo. Mesmo quando as ondulações estão pesadas, com vento e chuva mandando ver, ainda há um bom número de pontos abrigados nos fiordes a sotavento da AOR. Parte da vida marinha dos fiordes é a mesma do mar desprotegido. Algumas criaturas se dão melhor no kelps mais afastado da costa, enquanto outras preferem a tranqüilidade dos fiordes. Nessa área, boa parte dos fiordes pode ter maiores profundidades do que a plataforma continental perto da costa, criando diferentes condições de fundo e, portanto, vida marinha distinta. Nos fiordes mais profundos, freqüentemente com paredões caindo a várias centenas de metros, o movimento de água é menos significativa – e a presença de sedimentos é maior. Já na floresta de kelp offshore, as correntes se encarregam de deixar o fundo limpo de qualquer suspensão. O SUL Mais ao sul, a paisagem muda e não é tão espetacular quanto no Ártico ou no oeste do país. A diferença entre as marés alta e baixa é de apenas 30 a 50 centímetros contra os vários metros do norte. Mas menos correntezas de marés não significam menos vida marinha. Ainda que raramente a visibilidade supere os 20 metros, o mergulho sulista pode ser tão prazeroso quanto do norte. A água “quente” (pelo menos para os padrões norue- A volta de uma visita ao naufrágio M/S Sattle é sempre motivo para muitas conversas e sorrisos No sul da Noruega linguados (acima) são facilmente avistados. Já algumas espécies de tainhas (nesta foto) são mais raras, mas às vezes vêm do norte, trazidas por correntes quentes Noruega – 2ª parte As correntes de marés em Oslofjord proporcionam excelentes condições para a vida marinha. Corais-moles cobrem a maioria das pedras na região Toda a ilha onde o Forte Oscarborg foi construído é aberta ao público. Existe um museu e tours guiados por diferentes partes do forte durante praticamente o ano todo. Você pode visitar o bunker de onde eram lançados os torpedos, os canhões e ter uma boa noção da importância que o Forte Oscarborg teve para a Noruega. Na ilha, é possível encontrar hotel com spa e vários restaurantes. De maio a setembro, um ferryboat faz o trajeto de Oslo até a ilha – leva cerca de uma hora e é um belo passeio, pelas cercanias de Oslofjord. O resto do ano, o serviço de ferryboat é feito da vila Drobak. Mais informações, acesse: www.oscarsborgmuseum.no 58 >>mergulho gueses...) pode chegar aos 18 ou 20º C em agosto e setembro, permitindo uma outro tipo de fauna. As águas do sul da Noruega são temperadas, não árticas, e pode-se observar peixes-agulha, labros, peixes-escorpião, tainhas, linguados e tubarões, só para citar alguns. As rochas normalmente estão cobertas por alguma forma de vida que, por sua vez, servem de lar para uma variedade de animais. Fotógrafos macro não costumam se mover mais do que alguns metros em seus mergulhos, tal a abundância de bichinhos escondidos. A região também oferece muitos naufrágios “mergulháveis”. Entre eles, o M/S Seattle, resquício da 2ª Grande Guerra e em excelente estado de conservação. O cargueiro de 141 metros afundou em abril de 1940 e repousa dos 20 aos 75 metros sobre um fiorde perto de Kristiansand. A Noruega é um dos “grandes” da indústria náutica internacional. Adicione a isso duas guerras mundiais e é fácil entender a enorme quantidade de naufrágios ao longo da costa. Há, inclusive, um grande oferta de mergulhos técnicos. A Noruega tem razoável comunidade de mergulhadores técnicos e toda a logística e equipamentos para esse tipo de mergulho são facilmente encontradas. CRUZANDO A FRONTEIRA Bem, não é o mergulho mais excitante do planeta quando se pensa em vida marinha e o ponto é um tanto recatado, mas é um dos poucos lugares no mundo em que você pode mergulhar em dois países na mesma descida – e sem levar um tiro! É perfeitamente legal e, mesmo que não consiga ver a fronteira debaixo d’água nem carregue passaporte, você estará cruzando da Noruega para a Suécia. Se a visibilidade permitir, uma maravilhosa visão subaquática das pontes sobre o fiorde que divide os dois países o aguarda. Outra coisa diferente é que, por causa do leito de água doce que vem do fiorde e desliza por cima da água salgada, de acordo com as condições, mesmo de dia, a sensação pode ser de um mergulho noturno. A água doce se origina de uma área cercada de Este labro macho é um das espécies mais coloridas da fauna marinha norueguesa (as fêmeas são avermelhadas...). Nudibrânquios abundam entre as florestas de kelps da Noruega. Um delírio para os “macromaníacos” mergulho << 59 Noruega – 2ª parte Apesar de não sabemos dizer maria-da-toca em norueguês, blênios também são figuras fáceis ao norte do mundo As florestas de kelp ao centro da costa norueguesa são magníficas. Mergulhar nessa selva é como fazer uma trilha na floresta tropical: muitas surpresas! Cuidado com os dedos! Lagostas protegem suas tocas tanto lá como cá Parente distante dos cavaolos-marinhos, este peixe-agulha aodra ser fotografado florestas e é marrom, por isso tampa quase toda a luz. Mas assim que chega aos 4 ou 5 metros de profundidade, volta a ser salgada e cristalina. Fortaleza Oscarborg Este último ponto não fica distante de Oslo, capital norueguesa. Famoso pela defesa do país em 1940, quando os nazistas atacaram a Noruega, o grande feito do forte foi provocar o afundamento do cruzador Blücher – um pesado golpe na força alemã. O naufrágio pode ser visitado por mergulhadores técnicos aos 90 metros de profundidade. Mas mergulhadores recreativos também têm bastante diversão: a ilha sobre a qual o Forte está erguido oferece enorme variedade de mergulhos. Do lado leste, o fiorde avança rumo ao fundo e há várias paredes com mergulhos emocionantes. O lado oposto da ilha é um pouco mais raso e bem diferente – em 1860 a marinha norueguesa construiu uma parede submersa para impedir a passagem de grandes navios por parte do fiorde, o que restringiu qualquer tentativa de invasão à área bem diante dos canhões do forte. Atualmente, a parede não tem qualquer função, mas se tornou um fantástico ponto de 600 metros. O paredão artificial se transformou num atraente recife para todo tipo de vida marinha. O Oslofjord possui 110 espécies de peixes durante o ano todo, mais 40 espécies “plus”, que aparecem no verão. Adicione ainda lagostas, caranguejos, nudibrânquios e o mergulho está mais do que pronto! Ainda que a visibilidade seja menor do que no norte e no oeste do país e que a florescência das algas ocorra na primavera e no verão, é possível pegar 15 metros nos bons dias, e até 25 metros no inverno – mas vá protegido do frio, pois talvez seja preciso entrar na água por um buraco no gelo... Uma das vantagens de mergulhar em Oslojord é estar perto de tudo. Essa é a área mais densamente povoada do país: mais da metade da população norueguesa mora ali! Isso significa facilidades em acesso aos divecenters, acomodação, banheiros públicos, estacionamentos etc. Até mesmo alguns pontos de mergulho onde você encontra bares e lanchonetes assim que sai da água. E isso é imbatível. mergulho << 61