FENDEL, Thomas Renatus. Energias renováveis. Elétrica, São

Transcrição

FENDEL, Thomas Renatus. Energias renováveis. Elétrica, São
FENDEL, Thomas Renatus. Energias renováveis. Elétrica, São Paulo, setembro de 2005.
Disponível em http://www.eletrica.com.br/Colunistas/colunistas.asp?Id_Colunista=196. Acesso em
27 setembro de 2005. Entrevista concedida a Eco Terra Brasil. Assunto: Novo Modelo.
O
que
se
pode
definir
sobre
energias
alternativas
ou
renováveis?
Fendel: Primeiro vamos corrigir o termo alternativa. Como diz o mestre Bautista Vidal, que é o
papa mundial das bioenergias, o brasileiro que inventou o Pro Álcool, as energias que nós
chamamos de alternativas são definitivas. Alternativo é o petróleo, que não é renovável. Energias
definitivas são as energias renováveis, como a biomassa, vento, sol, etc.
Atualmente se fala muito na utilização do biodiesel como uma opção ecológica de
combustíveis, já que incorpora óleos vegetais ao diesel comum. Qual é a sua opinião?
Fendel:O biodiesel, na minha opinião, é uma forma transitória entre a era fóssil e a era solar das
bioenergias. Biodiesel é algo bom, ótimo, mas eu acredito que se pode usar o óleo vegetal natural.
Tenho esta convicção. Como exemplo tem o caminhão que estou viajando nesta expedição. Eu
esquento o óleo, ele fica mais fluido e queima diretamente no motor. Acho que podem ser
desenvolvidos motores para óleo vegetal. Não precisa adaptar o óleo no motor. Deve-se adaptar o
motor para o óleo. Com os recursos que a gente tem hoje em dia, acho que se deve partir para isso.
O Brasil desenvolveu e domina a tecnologia do álcool combustível. O que impede a expansão
da
produção
desta
e
outras
energias
renováveis?
Fendel:Eu acho que nós estamos atrasados. A gente já deveria ter deslanchado nestas energias há
muito mais tempo. O Brasil deu um exemplo para o mundo com o Pro Álcool, mas infelizmente o
brasileiro não deu valor. Agora o mundo todo está apavorado atrás de álcool.
Quais são os benefícios das energias eólica e solar? O custo ainda é alto ou já existem
alternativas
viáveis?
Fendel:A energia eólica é uma maravilha. Ainda é um pouco cara, mas em regiões onde tem muito
vento já é rentável e vale a pena fazer. O Brasil tem ótimos lugares para produzir energia eólica. A
energia solar é a energia radiada pelo sol e que faz crescer os vegetais. Utilizar energia solar através
de placas fotovoltaicas é ótimo. Mas placas de energia solar são caras. Então quem tem dinheiro
sobrando e quer ser ecológico pode fazer uma instalação desta injetando energia na rede.
O
Brasil
vive
uma
crise
energética?
Fendel:Vive porque quer. O nosso potencial de biomassa (energia obtida a partir de estrume de
gado, lixo orgânico, restos agrícolas, aparas de madeira ou óleos vegetais) é algumas vezes maior
do
que
as
reservas
de
petróleo
da
Arábia
Saudita.
O senhor tem um projeto sobre aproveitamento da energia elétrica. Como é desenvolvido este
trabalho?
Fendel:Eu tenho um projeto chamado ENERNET, que eu estou mudando o nome para
BIOENERREDE. Por exemplo, um hotel precisa de água quente, e o Brasil, terra do chuveiro
elétrico, precisa de energia das seis da tarde às nove da noite, no horário de pico. Seria ótimo se os
pequenos pudessem gerar energia neste horário. O hotel pode gerar sua energia elétrica com álcool
ou com óleo vegetal e aproveitar o calor residual. Isto se chama co-geração. Então, no horário de
pico se o hotel gera 50 kwh e gasta 5 kwh, injeta 45 kwh na rede. Se gasta R$ 0,40 por kwh recebe
R$ 0,30 de volta. Isto é totalmente automático. Seria justo e todo mundo sairia ganhando.
Muito se fala na utilização do hidrogênio como uma nova forma de energia, com menor custo
e
em
grande
quantidade.
Existe
esta
possibilidade?
Fendel:A questão do hidrogênio é uma palhaçada enorme porque não existe solto na natureza. Ele
existe na água, no álcool, nós temos o hidrogênio no corpo, mas para retirar o hidrogênio da água e
transformar em combustível, se gasta quatro vezes mais energia nobre, elétrica e cara, do que a
energia que você vai obter com o hidrogênio. Sua produção é impossível sem o uso de gás natural,
um combustível fóssil. Então é uma coisa sem fundamento. Tem pessoas querendo fazer hidrogênio
a partir do álcool. Não é melhor usar o álcool? E além do mais, armazenar hidrogênio é muito
complicado. A molécula passa pelo aço. Então para fazer um tanque ele tem que ser em altíssima
pressão e é perigoso. O mundo inteiro fala em hidrogênio, mas não se ouve tanto como em alguns
anos
atrás.
Quais as diferenças entre o gás natural, um combustível fóssil, e o biogás, produzido a partir
da
decomposição
de
matéria
orgânica?
Fendel:Dizem que o gás natural é limpo, mas não é tão limpo. É carbono tirado da terra e jogado no
ar. As bioenergias são justamente o contrário. Por exemplo, o álcool, óleo vegetal, biogás e carvão
vegetal são de atmosfera limpa, porque saem de vegetais, que nada mais são do que gás carbônico
seqüestrado do ar através da energia solar, da fotossíntese, da água. As bioenergias fazem o
contrário do que fazem os fósseis. O biogás é feito em digestores, em estações de tratamento de
esgoto e de lixo. Isso é bioenergia. Realmente as plantas absorvem muito mais carbono do que o
carbono que você devolve para a atmosfera. Se nós fizéssemos este marketing, ao invés de efeito
estufa com os fósseis, nós poderíamos fazer o efeito geladeira com as bioenergias. Se tivesse
marketing
do
álcool,
nenhum
brasileiro
estaria
consumindo
gasolina.
Hoje temos no mercado carros bicombustíveis e com o gás natural veicular (GNV). É possível
adaptar
um
motor
para
funcionar
só
com
óleo
vegetal?
Fendel:Claro, na Alemanha existem mais de vinte mil carros andando a óleo vegetal, locomotivas
andando a óleo vegetal. Existia um motor chamado Elko, há uns vinte anos, que inclusive veio aqui
para o Brasil, mas não sei por que foi esquecido. Eu acho que nunca um motor vai ter o mesmo
rendimento andando com gasolina, com álcool, com gás e com óleo. Um motor feito para funcionar
com vários combustíveis não vai ser tão bom quanto aquele motor feito só para um tipo de
combustível.
O que é preciso para efetivar a produção do motor movido à óleo vegetal?
Fendel:É preciso que o povo comece a raciocinar que o petróleo é finito. As guerras do Bush são
por causa do petróleo, “para inglês ver”. É estúpido o mundo se sujeitar a isso. Nós estamos no
paraíso do mundo. Nós vamos fornecer energia para eles. O mundo não se divide mais em ocidental
e oriental. Segundo o meu mestre Bautista Vidal, o mundo se divide nos trópicos. Nós trópicos tem
sol, energia solar que produz a biomassa. Nós temos tudo aqui, sabemos fazer computador, fazer
programas, tricot, prego, motores, aliás, os melhores motores do mundo são feitos aqui no Brasil.
De
quem
depende
esta
mudança
na
forma
de
pensar?
Fendel:Eu acho que tem que partir da mídia. Ela tem que começar a pensar mais e não engolir
qualquer coisa. Se a mídia quer eleger um presidente, ele é eleito. A mídia, que é divulgadora,
deveria
trabalhar
melhor
os
assuntos
relevantes.
Como
o
senhor
imagina
o
futuro
do
meio
ambiente?
Fendel:Eu vejo que daqui a seis meses o barril do petróleo vai custar U$100. Isto vai dar uma
reviravolta, uma conscientização. Acredito que com a crise energética que precede a crise climática,
o mundo pode acordar. E espero que os brasileiros acordem e parem de ser “capachos”. Que
acordem e percebam o real valor deles. A floresta amazônica, por exemplo, não contribui com a
limpeza do ar. A floresta velha não cresce. O ciclo do carbono ali está fechado. O que capta carbono
é floresta nova, replantada, de preferência com biodiversidade e várias espécies. O meio ambiente
deve
ser
repensado,
reformulado
e
“remarquetado”.
O
que
cada
brasileiro
pode
fazer
para
contribuir?
Fendel:Exigir comportamentos. A Alemanha é um exemplo de guerra contra a energia nuclear. Os
alemães não deixam fazer energia nuclear e estão desmontando todas as suas usinas nucleares no
prazo de vinte anos. Já se passaram três, então daqui dezessete anos não vai mais ter energia nuclear
na Alemanha. Este é um exemplo fantástico a ser seguido. Lá, mesmo tendo pouco sol, eles
plantam, fazem óleo de canola, óleos energéticos. O mundo é das bioenergias. Nós temos que
acordar pra isso.

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