I t i n e r a n d o
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I t i n e r a n d o
Ano IV– Julho/ 2004 Itinerando Juntos tecendo uma Amazônia mais fraterna e plural, mais justa e solidária. Rua Luiz de Freitas, 113 São Jorge 69033- Manaus – AM. BRASIL Fone/Fax: (92) 625-2899. E-mail: [email protected] NOTÍCIAS * Quanto à composição completa da Equipe Itinerante e a distribuição dos seus integrantes entre Manaus e Fronteira, desde o mês de julho, ficou estabelecido o seguinte: No Núcleo Manaus: Sub-equipe Ribeirinha: Paco e Carmem Sub-equipe Indígena: Vanildo e Arizete Obs: Jorge Carlos realizará uma experiência com os ribeirinhos e indígenas, no núcleo Manaus. No Núcleo Fronteira: Neori, Odila, Fernando, Rai e Enrique Obs: como a equipe está começando não dividimos por sub-equipes. * Esteve conosco, nos meses de junho e julho, o Pe. Andrés sj (Chileno). A sua experiência e participação nestes dias na Equipe Itinerante fazem parte de sua terceira provação. * Aconteceu, entre os dias 2425/06, aqui em Manaus, “O Fórum Social das Águas”. Nele, pudemos refletir e avaliar as políticas públicas, em vista a um maior empenho e ação quanto a programas sobre educação e proteção ambiental. P E L A S R I B E I R A S E S C O N D I D A S Nós, da sub-equipe Ribeirinha, itineramos nestes meses particularmente em duas regiões: Alto Rio Purus (região da Boca do Acre) e Rio Negro (região de Barcelos). Região da BOCA DO ACRE Carmem Salete (irmã FSCJ, novo membro da Equipe Itinerante, mas já definitivo) e Paco, itineraram por esta região da Amazônia durante um mês e meio. É longe de Manaus: 1.020 km em linha reta, mas 2.240 km indo pelo rio Purus, pois é o mais sinuoso do mundo. Nos fizemos presentes em dois ambientes: Na cidade Boca do Acre e Piquiá: É uma mesma prefeitura que, após a terrível enchente do ’97, decidiu puxar a cidade Boca do Acre 7 quilômetros mais adentro, chamada Piquiá. Nos dois lugares visitamos famílias, hospital, cadeia, doentes... participamos de programa da rádio... assessoramos alguns encontros de Liturgia, Sacramentos, Jovens, 1a Eucaristia... e ajudamos nas celebrações da Semana Santa. Convivemos muito fraternalmente com os párocos haitianos: pe. Benjamim, pe. Rony e diácono Valon. Nas Comunidades do interior: Visitamos 23 comunidades subindo o rio Purus. Seu Manduca (Manoel), pai de família, animador da comunidade Maracajú e missionário da região, nos levou na sua canoa com motor pequeno, numa viagem de 9 horas, até a sua comunidade. Nos dias seguintes, íamos descendo e cada comunidade nos deixava na seguinte. Ficamos dependendo deles para viajar, comer e dormir: uma beleza! Em cada comunidade, além de participar da vida (farinhada, pescaria, descascar cipó, visitar e conversar, brincar com as crianças, jogar futebol, etc), reunimos as pessoas para falarmos juntos sobre a caminhada deles e no outro dia celebramos tudo isso na Eucaristia. Daria para escrever um livro com as coisas boas que a gente viu nestas comunidades, apesar do isolamento e descaso em relação à saúde e educação. No meio da linda e exuberante paisagem, encontramos muita lama escorregadia nos barrancos para chegar até as casas, e algumas “pragas” como pium (minúsculos insetos voadores diurnos) e carapanã (mosquitos). 1 Algumas das frases que ficaram no nosso coração: “Que bom que vocês se lembram de nós. Ninguém nos visita. Com vocês nossa vida fica melhor!” (Dona Osmarina). “Bom dia pessoal, vão entrando... Eu tenho dois aninhos de vida!” (menina Jovana). “O prefeito pode dar motor, pode trazer remédio... mas eu não troco mil visitas dele por uma Santa Missa. A Missa pra mim é a coisa mais importante do mundo!” (seu Chico). Região de BARCELOS Enrique (estudante jesuíta que está passando dois anos na Equipe) e Paco, itineraram durante mais de um mês pelas comunidades dos rios Uniní-Pauniní e Jaú. O impressionante aqui é as distâncias e, portanto, o isolamento entre as comunidades. Este é o município e paróquia maior do mundo, com 122.000 quilômetros quadrados. E apenas o padre Francisco, de certa idade e sem muita saúde, para atender a todos: cidade e interior. Por isso nós sempre voltamos uma ou duas vezes por ano. No rio Uniní-Pauniní: Visitamos 10 comunidades, sempre no mesmo estilo, demorando 2 ou 3 dias, visitando cada família, participando da vida, reunindo e celebrando com a comunidade. Eles estão bastante bem organizados em Associação (AMORU): fizeram um “Acordo de Pesca” para defender a preservação do peixe, com autoridades competentes e representantes de entidades afins; e estão encaminhando a criação de uma “Reserva Extrativista” para poder extrair sem prejudicar à natureza. No rio Jaú: É a primeira vez que entramos neste rio que está no meio do “Parque Nacional do Jaú” (2o maior da América Latina). Um labirinto de rio de uma beleza extrema. No ano passado tentamos chegar, mas acabou nosso combustível e não deu. Neste rio já houve muitas comunidades, mas desde a criação do Parque em 1980, as famílias foram sendo indenizadas e expulsas. Apenas restam 4 comunidades, bem distantes. Chegamos até a última (umas 20 horas subindo o rio), o Tambor, onde moram 13 famílias. Seu Zé Rufino, presidente da comunidade nos disse: “Que alegria grande vocês terem chegado até aqui! Nós pertencemos ao outro município de Novo Airão, mas os padres de lá nunca nos visitaram. O último padre que nos visitou foi o padre Clemente, que foi vigário de Barcelos, já falecido. Foi ele que fez meu casamento... disto faz 28 anos...!”. “Nas horas de Deus amém, que o coração do meu povo ... ... de amor se torne novo, nas horas de Deus amém!” P E L A S A L D E I A S I N D Í G E N A S De fato, nestes últimos meses, marcamos presença em vários lugares desta imensa Amazônia. Dentre os lugares e trabalhos que desempenhamos junto aos povos indígenas, destacamos as “Oficinas de Direito Indígenas”, realizadas nesta ordem: Roraima - com lideranças Macuxi da região do São Marcos; Parintins – com lideranças Sateré dos rios Andirá e Marau; Lábrea – com lideranças Apurinã, Paumari, Jamamadi, Jarawara; Maués – comunidades Sateré do rio Marau. Estas oficinas pretendem se guiar pelos princípios do Direito, dando enfoque em alguns artigos principais da lei que estão relacionados com a luta indígena, privilegiando a orientação pragmática da aplicação dessa lei (norma positiva). Venezuela Colômbia Alto Solimões Guiana Manaus Perú Brasília BRASIL 2 Como é bonito perceber que, ao contrário do que muitos dizem, não existem culturas inferiores e culturas superiores. O entendimento do protagonismo indígena, como sujeito de seu processo e projetos próprios, vai transparecendo em seus discursos. Veja o que nos diz Moacir, líder indígena Apurinã: “Quem conhece a terra onde vive é o próprio índio que mora dentro dela. É ele que sabe o que é preciso prá viver, e isso tem que entrar na cabeça do branco. As terras continuam sendo invadidas e tendo a mesma discussão do passado com os órgãos de apoio, como a Funai. Hoje, ainda existe a discriminação por parte da sociedade que não acredita no que realmente o índio quer e está buscando ´não queremos terras demarcadas como fazendas!’. O índio não é preguiçoso. Acontece, entretanto, que estão deixando os índios sem os seus recursos naturais. Estamos juntos para lutar e reivindicar nossos direitos.” A Ir. Laura também partilha conosco como sente a missão junto a Equipe Itinerante: “Desta vez, eu também somei com Vanildo Filho sj e ir.Arizete em minhas primeiras andanças, não mais nas montanhas italianas, mas nos rios amazonenses e entre as populações indígenas do Médio-Purus e da área Sateré-Mawé. Deparei assim com os desafios desta missão e deste estilo itinerante muito exigente e ao mesmo tempo muito fascinante e estimulante; aprendi a entrar no ritmo local de dias e dias de barco que marcam também um ritmo interior bem diferente do que eu estava acostumada; conheci realidades sofridas que nem imaginava; partilhei a esperança e a força para continuar a caminhada na luta por seus direitos e na construção de uma vida melhor para todos... Foram experiências ricas humana e espiritualmente, pelas quais agradeço meus companheiros de viagem e os indígenas encontrados, com toda sua sabedoria e desejo de ver seus povos felizes. A mochila já está pronta... embora itinerar!” 3
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