Clipping Fenep 26-10 Clipping 26/10

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Clipping Fenep 26-10 Clipping 26/10
Clipping Nacional
de
Educação
Segunda-feira, 26 de Outubro de 2015
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Valor Econômico
26/10/15
POLÍTICA
Parlamentar que quer cortar
Bolsa Família se sente um "pop star"
Por Vandson Lima | De Brasília
do Congresso Nacional, Renan
Calheiros (PMDB-AL), e da
presidente Dilma Rousseff, que foi
às redes sociais garantir que não
haverá tesourada no programa.
Barros: vice-líder de Dilma é
casado com a vice-governadora do
Paraná e aliado do tucano Beto
Richa.
Barros diz não ter se
surpreendido nem se ofendido com
as reações. E garante que não vai
recuar. "Vamos decidir isso lá na
Comissão de Orçamento. Eu
proponho o corte. Eles que
apresentem um destaque e
proponham tirar de outras rubricas
para preservar o Bolsa Família."
"O Bolsa Família me tornou um
pop star". Aos risos no telefone, o
deputado Ricardo Barros (PP-PR)
contava ao ministro da Aviação
Civil, Eliseu Padilha (PMDB),
que passou a ser reconhecido na
rua, conceder dezenas de
entrevistas por dia e receber
conselhos até da ascensorista da
Câmara depois de propor, na
semana passada, um corte de 35%
nos recursos destinados ao
programa que é vitrine do governo
após a eleição de Luiz Inácio Lula
da Silva, em 2003.
A postura de enfrentamento com
o Executivo na questão faz com que
muitos esqueçam, mas Barros é um
dos vice-líderes da base
governista da Câmara. Surgido na
política pelas mãos do antigo PFL
(hoje DEM), Barros foi eleito
prefeito de Maringá, no norte
paranaense, aos 28 anos, em 1989.
Está em seu quinto mandato como
deputado federal, tendo sido líder
do governo no Congresso durante
o segundo mandato de Fernando
Henrique Cardoso (PSDB) e vicelíder na gestão Lula (PT).
Criticado por petistas, como o
líder da bancada no Senado,
Humberto Costa (PE), que o
chamou de "Robin Hood do
avesso", que quer "tirar dos
pobres e dar aos empresários", o
relator do Orçamento de 2016
recebeu também a contrariedade
de oposicionistas, do presidente
Companheiros de partido o
descrevem como um pragmático,
que se adapta ideologicamente à
melhor circunstância. De família
de políticos - a filha Maria
Victoria, de 23 anos, é deputada
estadual e a esposa, Cida
Borghetti, vice-governadora do
Paraná, deve, segundo ele,
concorrer à sucessão de Beto
Richa (PSDB) em 2018 -, Barros
compõe a burocracia do PP como
tesoureiro, mas não pertence a
grupos. É visto como inteligente,
mas seus críticos o consideram
algo arrogante.
Engenheiro civil por formação,
é dono de várias cotas de capital
em empresas diversas, de
construtoras a empresas de rádio
e locação de veículos, como
aponta sua prestação de contas
eleitoral. Sem ligação com o
sistema financeiro, até onde sabem
os colegas, está capitalizando o
fato de vender com insistência o
discurso de que o mercado precisa
acreditar no Orçamento que será
aprovado pelo Congresso.
Na eleição de 2014, arrecadou
R$ 3,1 milhões em doações de
campanha, sendo a maior parte
proveniente de repasses do PP de
doações da JBS (R$ 1,25 milhão)
e da Galvão Engenharia (R$ 583
mil). Entre seus maiores doadores
diretos, com R$ 65 mil, está a
Usina Alto Alegre S/A Açúcar e
Álcool. Defensor de um aumento
de R$ 0,40 na Cide sobre a
gasolina, Barros diz que a medida
traria sobrevida ao setor
sucroalcooleiro.
Franco, Barros duvida que as
contas de 2014 do governo, que
tiveram recomendação de rejeição
do Tribunal de Contas da União
26/10/15
(TCU) por conta das chamadas
pedaladas
fiscais,
serão
igualmente desaprovadas na
Comissão Mista de Orçamento
(CMO), responsável pelo parecer
que será votado pelo Congresso
Nacional.
"A tradição da CMO é não
acatar as recomendações do TCU",
crava. Favorável à volta da
Contribuição Provisória sobre
Movimentações Financeiras
(CPMF), Barros repete que não
vai mesmo inclui-la na previsão de
receitas para 2016. A seguir,
trechos da entrevista com o Valor:
Valor: O senhor foi chamado
de Robin Hood às avessas por
petistas por propor um corte no
Bolsa Família. Até a presidente
Dilma
rechaçou
essa
possibilidade. Vai recuar?
Ricardo Barros: Quando
anunciei a proposta, o fiz porque
estudei a matéria. Não estou
atirando a esmo. No 'site' do Bolsa
Família está escrito que 75% dos
beneficiados declaram estar no
mercado de trabalho. Não vejo
nenhuma dificuldade de se
implementar esse ajuste, retirando
os 700 mil que normalmente têm
rotatividade no programa e fazendo
uma peneirada para acabar com as
fraudes, que são muitas. Estou
propondo um corte de 35%. Serão
preservados R$ 18,8 bilhões.
Todos os programas sociais
tiveram cortes de 50% para 2016.
Pronatec, Minha Casa Minha Vida,
Ciência sem Fronteiras. Não há
porque o Bolsa Família ficar de
fora desse corte.
Valor: Então vai manter a
proposta? Como recebeu as
críticas?
Barros: Ninguém do governo
falou comigo [sobre isso] até o
momento. Não vejo como crítica.
Eles estão defendendo o programa,
não querem cortar, mas estou
convencido de que, se tirar esses
R$ 10 bilhões, não vai prejudicar
ninguém que realmente precise do
programa. Vamos decidir isso lá
na Comissão de Orçamento. Eles
que apresentem um destaque e
proponham o corte em outras
rubricas para preservar o Bolsa
Família.
Valor: O senhor também tirou
R$ 4,5 bilhões do PAC para
atender as emendas de bancadas
estaduais. Não é incoerente?
Barros: Sou vice-líder do
governo, mas sou antes de tudo
parlamentar. E minha obrigação é
empoderar o Parlamento. Nos
últimos quatro anos, o anexo de
metas da LDO [Lei de Diretrizes
Orçamentárias], que recebe
centenas de emendas, é vetado
integralmente. A gente pode
considerar que é um desrespeito à
decisão do Congresso. As emendas
de bancada envolvem os
governadores, prefeitos de capitais
e também não são executadas.
Valor: Isso vai mudar?
Barros: Nós vamos mudar isso.
No meu relatório separarei 0,6%
da Receita Corrente Líquida para
a execução impositiva de uma
prioridade de cada Estado. Cada
um de nós poderá chegar no seu
Estado e dizer: esta obra está
acontecendo porque os deputados
federais e senadores decidiram que
era prioridade. Isso é valorizar o
Congresso.
"Estou convencido que, se
tirar R$ 10 bilhões, não vai
prejudicar ninguém que
realmente precise do programa"
Valor: Isso amarra as
possibilidades do governo, certo?
Barros: Se nós fazemos um
Orçamento muito elástico, como
nos últimos três anos, o governo
escolhe o que quer executar, pois
tem uma autorização ampla do
Congresso. O que temos de fazer
agora é resgatar a nossa
prerrogativa, que é autorizar um
orçamento que se realize da forma
mais precisa possível. Se nós é que
temos direito de dizer como serão
gastos os impostos pagos pela
população, queremos fazer um
orçamento enxuto, claro, realista,
para que o governo execute o que
autorizamos.
Valor: Não haverá CPMF na
previsão orçamentária de 2016?
Barros: Sou favorável e votarei
a favor da proposta, mas não
computarei nos recursos do
Orçamento do ano que vem. O
mercado não acredita que virá.
Falo com analistas políticos e
economistas-chefes de várias
instituições, que querem entender
nossa visão do Orçamento.
26/10/15
Ninguém acredita que a CPMF vai
passar. Eu até acredito. A
presidente
vai
mobilizar
governadores, prefeitos, dividir os
recursos para criar musculatura
para aprovar.
Valor: O momento é adequado
para alta de impostos?
Barros: Sou contra aumento da
carga tributária, mas estamos em
um momento em que é preciso
pagar um pouco mais de imposto.
É melhor do que perder o grau de
investimento. Para o mercado, é
pior perder o grau. O mercado
quer um orçamento crível, que
olhe para as receitas e despesas e
acredite que aquilo vai se realizar,
que o governo vai sair desses
déficits consecutivos.
Valor: O senhor fala muito em
mercado. Qual a sua relação?
Barros: Eu falo tanto em
mercado porque são as empresas
as que empregam o trabalhador. O
governo precisa fazer o que tem de
ser feito, não o que ele gostaria de
fazer.
Valor: Passou a ser
consultado depois de virar
relator?
Barros: Com muita frequência.
Tenho atendido pessoas do
mercado que querem saber quais
são as chances de a peça
orçamentária chegar com superávit
à sua aprovação.
Valor: E vai ter superávit
primário de 0,7% do PIB no
Orçamento?
Barros: O governo pretende.
Eu, com os instrumentos que tenho,
não sei se consigo chegar a isso.
Se o governo cooperar com
receitas que sejam críveis... a Cide
[Contribuição de Intervenção no
Domínio Econômico] sobre
gasolina, por exemplo, é uma
receita crível, só depende da
presidente Dilma Rousseff assinar.
Não depende do Congresso.
Valor: O governo indicou que
topa a Cide? E que outras
receitas extraordinárias podem
aparecer?
Barros: Não, o governo estudou
a Cide e não quis fazer nesse
momento. Propôs o aumento do
Imposto de Renda (IR) sobre o
ganho de capital e acho que a
Câmara vai aprovar. O governo
retirou alguns benefícios fiscais de
alguns setores, como Reintegra e
outros, que já estão produzindo
resultado de arrecadação. E
propôs uma contribuição do
Sistema S, mas ainda não mandou
para o Congresso.
Valor: O senhor diz que é
preciso mudar a Previdência.
Como?
Barros: Idade mínima é uma das
coisas. Igualar homem e mulher [na
idade para aposentadoria] é outra,
importante. As mulheres têm
expectativa de vida de quatro anos
a mais que os homens. Precisamos
ajustar as contas. A Previdência
gastou R$ 40 bilhões a mais de
2014 para 2015 e gastará outros
R$ 40 bilhões a mais em 2016. É
uma CPMF. Ou vamos conter esse
gasto, ou não conseguiremos
estabilizar as contas públicas,
porque não poderemos criar outra
CPMF no próximo ano. O mercado
entenderá
mais
medidas
previdenciárias que não criam
receitas para 2016, mas que
ajustam os próximos orçamentos,
do que arranjar uma receita nova.
Eles sabem que em 2017 o
problema retorna.
Valor: O governo tem feito sua
parte ou pode fazer mais?
Barros: O governo já fez cortes
muito profundos. A consultoria da
Câmara produziu 47 propostas
para o ajuste do orçamento, sendo
que 30 delas tratam sobre
Previdência. Se fossem todas
implementadas, gerariam uma
economia, uma diferença positiva
de R$ 120 bilhões para o
Orçamento de 2016. Daquelas
medidas anunciadas pelo governo
para evitar o déficit de R$ 30,5
bilhões, aproximadamente 80%
estavam nessa proposta. Estamos
tentando convencer o governo a
continuar a fazer o que precisa.
Valor: As contas de 2014,
rejeitadas pelo TCU por conta
das pedaladas, serão também
rejeitadas pela Comissão de
Orçamento (CMO) e pelo
Congresso?
Barros: A tradição da Comissão
de Orçamento é não acatar as
recomendações do TCU. Em 95%
dos casos, ela não acata. Todos os
anos isso acontece com pedidos de
paralisação de obras. É difícil
prever porque não sabemos
quando as contas serão votadas,
mas se tramitarem rapidamente,
26/10/15
pelo ambiente que temos neste
momento, elas serão aprovadas
pela CMO.
Valor: Aprovadas?
Barros: Sem nenhuma dúvida.
Essa é a tradição. Avalie como a
CMO tratou todas as demais
recomendações do TCU. Fui
membro da comissão de obras
irregulares. Nós que decidimos a
paralisação das quatro refinarias
da Petrobras em 2010. Mas
liberamos as obras da Valec, da
Infraero, do Dnit. Só não
liberamos da Petrobras porque o
presidente deles na época, o José
Sérgio Gabrielli, não quis firmar
um acordo, como fizeram os outros,
comprometendo-se a não cometer
mais aquelas irregularidades
observadas pelo TCU. Se o
governo tomar as providências
para que não se repitam os erros
apontados pelo TCU, as contas
serão aprovadas.
Valor Econômico
26/10/15
OPINIÃO
Para quem não gosta da 'detestável' matemática
Por Flavio Comim
Se você não gostava e tem más
lembranças das suas aulas de
matemática dos tempos da escola,
você não está sozinho. Uma
pesquisa feita pelo Instituto TIM/
O Círculo da Matemática do
Brasil mostrou que 65% dos
brasileiros maiores de 25 anos têm
lembranças desagradáveis das
aulas de matemática da escola.
Percentual idêntico disse
simplesmente que não gostava e
não achava fácil essas aulas. Isso
fez com que a matemática fosse
eleita por 43% das pessoas como
a "'matéria mais detestada" da
escola. Curioso que 91% das
pessoas expressaram a opinião de
que o conhecimento da matéria
não é decisivo para encontrar um
bom trabalho. De modo similar,
89% delas afirmaram que não usa
a matemática que aprenderam na
escola nos problemas do dia-a-dia.
A triste realidade é que
vivemos em um país onde as
pessoas não apenas não sabem
matemá tica, mas parecem não se
importar muito com isso. Seguimos
como "zumbis da matemática"
levando vidas socialmente e
economicamente incompletas. Não
é nenhum exagero dizer que o
berço da desigualdade social no
Brasil hoje é o ensino da
matemática. Já no 3º ano do ensino
fundamental 57% das crianças de
8-9 anos não tê conhecimento
adequado de matemática.
A matemática intimida,
desmotiva, cria ansiedades,
reforça preconceitos, diminui
aspirações, consolida barreiras de
gênero e de raça para milhões de
crianças e jovens no Brasil,
principalmente as que estão nas
escolas públicas. Esse hiato
cognitivo (e psicossocial) apenas
cresce durante a vida escolar de
nossas crianças e jovens. De fato,
90% delas concluem o ensino
médio sem o aprendizado
desejado na matéria.
Deixar de ser um país de
'zumbis da matemática' não é só
uma questão de
desenvolvimento, mas de justiça
social
Mas isso é somente parte da
história. O nosso problema escolar
não é apenas de "fluxo" (das
crianças e jovens que ainda estão
na escola e não aprendem), mas sim
de "estoque" (das pessoas jovens
e adultas que já saíram da escola
e não aprenderam o que deveriam
ter aprendido). A pesquisa do
Instituto TIM traz dados
aterradores sobre "a matemática
dos adultos": 75% dos brasileiros
não conseguem fazer médias
simples com 3 números, 75% não
entendem frações, 59% não
conseguem fazer uma regra de três,
32% não conseguem fazer
multiplicações básicas.
Esses números não deveriam
surpreender na teoria em um país,
cujo último Censo informa que
49% de sua população acima de
25 anos não chega a ter o ensino
fundamental completo, mas devem
surpreender a todo momento na
prática quando as pessoas não
conseguem fazer as operações
mais elementares para sua
sobrevivência econômica e social.
Estamos falando no "nível
micro" de pessoas que não
conseguem resolver logicamente
situações corriqueiras e práticas
do seu cotidiano, como nas
respostas acima, calcular um
desconto nas compras, ou aplicar
uma regra de três para saber como
usar ingredientes em uma receita
de bolo, ou adicionalmente,
planejar um trajeto de ônibus para
não chegar tarde (70% erraram a
hora de sair de casa) ou calcular
uma taxa de juros (69% não
souberam calcular) ou mesmo
avaliar o risco de um tratamento
médico não dar certo (a pergunta
'qual número representa o maior
risco de um tratamento médico dar
errado? 1 em 100, 1 em 10.000 ou
1 em 10?' teve 50% de respostas
erradas).
Fica claro que um número
excessivo de pessoas no Brasil não
sabe matemática suficiente para
tomar decisões práticas no seu
cotidiano relacionadas não
somente a esses elementos
26/10/15
avaliados, mas a uma ampla gama
de decisões pessoais nas áreas da
saúde, educação, oferta de
trabalho, cuidado dos filhos etc.
De fato, o mais dramático de
tudo é que 63% não conseguem
sequer entender e calcular
percentuais. Se você consegue é
sinal que você deveria gostar mais
da matemática do que diz que
gosta, pois ela lhe dá acesso a
vários mundos que estão fechados
para aqueles que não a entendem.
Esses resultados são coerentes
com os dados de uma pesquisa de
2012 do Instituto Paulo
Montenegro e Ação Educativa
sobre analfabetismo funcional, que
sugeria naquele momento que 77%
dos brasileiros entre 15 e 64 anos
não tinham níveis adequados de
conhecimento funcional da
matemática.
Por outro lado, no "nível
macro", falamos de um país que
recentemente caiu 18 posições no
ranking de competitividade global
do Fórum Econômico Mundial, que
não figura como relevante na
maioria dos índices de inovação
do mundo - como o Índice de
Inovação Global da Bloomberg-,
que enfrenta grandes dificuldades
para realizar seu potencial de
ciência e tecnologia e cuja
população enfrenta altos níveis de
endividamento (mesmo no précrise) e baixa educação financeira.
Nem tudo pode ser associado
aos resultados insatisfatórios na
matemática medidos por testes
nacionais e internacionais,
principalmente porque esse não é
apenas um problema de fluxo, mas
de estoque de analfabetismo
matemático da população
brasileira.
Sabemos que a escola pública
brasileira ensina muito pouco. Mas
pouco também sabemos sobre a
falta de conhecimento básico de
matemática dos adultos e de suas
consequências "micro" (para os
indivíduos e suas famílias) e
"macro" (para o país). As
evidências coletadas pela pesquisa
do Instituto TIM sugerem que o
problema parece ser muito mais
sério do que se considera
normalmente e exige pesquisas
sistemáticas para entendermos os
desdobramentos também em
termos de gênero e desigualdade
do conhecimento matemático e
lógico entre as pessoas.
Nossas estatísticas de fluxo
escolar são como a ponta de um
iceberg de disfuncionalidade
matemática acumulada cuja parte
principal, constituída pelos que
saíram da escola, fica "escondida"
nas relações econômicas e sociais
que marcam nossa vida pública e
nosso subdesenvolvimento. Se não
reconhecermos que somos uma
nação de "zumbis da matemática"
vamos perder tempo e recursos
discutindo problemas para os quais
uma melhoria de nossa capacidade
de raciocínio lógico e matemático
pode ser decisiva. Essa não é
somente uma questão de eficiência
e desenvolvimento econômico,
mas principalmente de justiça
social.
Flavio Comim é professor de
economia associado da UFRGS e
professor
visitante
da
Universidade de Cambridge.
Valor Econômico
26/10/15
EMPRESAS
Kroton vende Uniasselvi para Carlyle e Vinci
Por Beth Koike | De São Paulo
A Kroton fechou, na madrugada
de sábado, a venda da Uniasselvi
para os fundos Carlyle e Vinci
Partners por cerca de R$ 1 bilhão.
A transação deve ser anunciada
hoje, conforme antecipou ontem o
Valor PRO, serviço de
informações em tempo real do
Valor.
A compra da Uniasselvi por
cerca de R$ 1 bilhão é a segunda
grande transação do Carlyle no
Brasil neste ano. Em abril, a
gestora americana adquiriu 8,3%
da Rede D'Or, maior rede de
hospitais do país, por R$ 1,75
bilhão.
A Uniasselvi, instituição de
ensino a distância, estava sendo
negociada desde o ano passado,
após determinação do Conselho
Administrativo de Defesa
Econômica (Cade) que aprovou
com restrições a fusão entre Kroton
e Anhanguera.
A Uniasselvi foi adquirida pela
Kroton no começo de 2012 por R$
510 milhões, ou seja, a companhia
vendeu o ativo pelo dobro do valor
adquirido há três anos. Os
recursos chegam em momento
oportuno para a Kroton, que
engordará seu caixa, enquanto há
drástica redução e atrasos no
pagamento do Fies, financiamento
estudantil do governo.
O fundo Carlyle estreia no setor
de educação no Brasil com a
Uniasselvi, instituição que já foi
totalmente reorganizada pela
Kroton e que atua em ensino a
distância. Este segmento ganhou
relevância com as restrições ao
Fies e cenário macroeconômico
fraco, uma vez que a mensalidade
de um curso a distância é inferior
ao dos cursos presenciais.
Para a Vinci Partners, o setor
de educação não é totalmente
desconhecido, pois em 2009
participou da transação da Fanor,
instituição de que atua no Nordeste
e pertence ao grupo americano
DeVry.
O principal concorrente do
Carlyle em ensino a distância será
a Kroton que tem mais de 500 mil
alunos matriculados nesta
modalidade. Além disso, o
Ministério da Educação (MEC)
liberou muitos polos de ensino a
distância neste ano a fim de tornar
esse mercado mais competitivo.
A Uniasselvi tem cerca de 80
mil alunos matriculados no ensino
a distância e outros 10 mil
estudantes em cursos presenciais.
A instituição registrou em 2012
uma receita líquida de R$ 224
milhões e lucro operacional de R$
45 milhões, segundo dados
divulgados na época da aquisição.
O Carlyle e Vinci Partners
disputaram a Uniasselvi com
vários fundos e grupos de ensino.
Na última etapa do processo
competitivo,
os
fundos
concorreram com outro grupo
formado pelo fundo inglês Actis e
pela Cruzeiro do Sul que fez uma
proposta bem distinta. A ideia era
fazer uma cisão entre Kroton e
Uniasselvi, mas manter essa
segunda empresa listada e
absorver as ações da Cruzeiro do
Sul.
Segundo fontes do setor, as
negociações entre Carlyle e
Kroton emperraram na última
etapa porque o fundo americano
queria reduzir o montante da
transação devido ao cenário
macroeconômico no país e
restrição ao Fies, que fez o valor
das ações das companhias de
educação despencar neste ano. No
entanto, a Kroton não teria aceito
uma redução nos valores e chegou
a procurar novamente a Cruzeiro
do Sul e Actis que, por sua, vez
também não quiseram negociar nos
mesmos patamares da proposta
anterior.
Um ponto a favor da Kroton
neste cenário nebuloso foi que, na
semana passada, a companhia
anunciou um crescimento de 5% na
base total de alunos no processo
seletivo do meio ano, percentual
bem acima dos seus concorrentes,
e que fez os analistas manterem as
recomendações de compra dos
papéis de Kroton.
Valor Econômico
26/10/15
CARREIRAS
Escolas de negócios se unem por visão global
Por Della Bradshaw | Do
Financial Times
Depois de apenas uma hora da
primeira aula do programa de
MBA executivo Trium, da London
School of Economics (LSE), de
Londres, o professor Robert
Falkner, especialista em política
econômica, faz a pergunta: "Por
que
a
globalização
é
controversa?".
Quando os 69 alunos se juntam
em grupos de dois ou três para
apresentar respostas, fica claro
que os pontos de vista da turma
são variados. "A única coisa
controversa é o fluxo de capital",
declara um aluno. Outros, no
entanto, têm um foco diferente e
citam questões como poluição,
incertezas e corrosão da
identidade nacional.
Para Eitan Zemel, vice-reitor
de ensino global e executivo da
NYU Stern - que desenvolveu o
programa Trium juntamente com a
LSE e a HEC Paris -, essa mescla
de ideias é exatamente o que torna
o programa tão especial. "Quando
começamos não sabíamos o quão
oportuno ele seria e como ele iria
repercutir."
O Trium é um dos cinco cursos
no topo do ranking do "Financial
Times" de programas de MBA
executivo (EMBA), voltados para
profissionais que já possuem
experiência gerencial. Embora
cada um dos programas aproveite
a bagagem de duas ou mais
escolas, eles têm características
bem diferentes entre si. Os cursos
da London Business School e da
Columbia, por exemplo, reúnem as
competências de dois dos maiores
centros financeiros do mundo,
enquanto os três restantes trazem
perspectivas sobre a Ásia e suas
relações com os Estados Unidos e
a Europa.
Urs Peyer, reitor dos programas
de graduação da Insead, diz que um
dos pontos fortes do curso conjunto
que a escola têm com a Tsinghua é
o grande conhecimento dos
professores chineses sobre seu país
e sua economia. "Gostamos da
visão que eles nos passam. Na
China, você precisa ter um
conhecimento regulador e político
interno." Já o ponto forte do Trium
está em trabalhar perspectivas de
mundo muito diferentes e os estilos
de ensino das três instituições,
afirma o professor Zemel. "Não
conseguiríamos criar nada
parecido com isso por conta
própria."
A maioria das 11 escolas de
negócios que estão ministrando
esses cinco programas também tem
cursos
próprios.
Essa
fragmentação e diversificação
contrasta com o MBA em período
integral, em que as escolas mais
bem ranqueadas possuem apenas
um programa.
Mesmo
para
aquelas
instituições de ensino que oferecem
apenas seus próprios EMBAs,
esses programas executivos são
invariavelmente
os
mais
globalizados. Até os mais bem
estabelecidos reservam um tempo
para receber e ensinar
participantes de outros países. O
da Chicago Booth, por exemplo,
que afirma ser o mais antigo
EMBA do mundo, agora ensina
estudantes de Chicago, Londres e
Hong Kong.
A mudança do local para o
global não está ocorrendo apenas
nos Estados Unidos e Europa.
Camelia Ilie-Cardoza é reitora de
ensino executivo da escola de
negócios Incae, da Costa Rica, que
hoje leva seus participantes de
EMBA para Boston, nos Estados
Unidos, Espanha e China. Como
resultado, o número de alunos está
crescendo, assim como as receitas.
No ano passado, houve 80
participantes e, este ano, são 117.
Junto com o aumento das taxas,
isso fez a receita do EMBA crescer
em 53% na comparação com o ano
anterior, segundo Ilie-Cardoza.
O bom número de matrículas é
evidente em toda a indústria dos
EMBAs, o que evidencia o
contraste com as fracas matrículas
dos programas tradicionais de
26/10/15
MBA em período integral. Um dos
motivos é que o mercado de
EMBA vem se mostrando na
vanguarda da experimentação no
ensino reforçado pela tecnologia.
Isso permite às escolas atrair
estudantes de muito longe para seus
cursos, além de proporcionar uma
grande flexibilidade na maneira
como os programas são
ministrados.
Diane Morgan, reitora
associada de programas da
Imperial College Business School,
de Londres, afirma que essa
flexibilidade vai aumentar, com as
empresas
buscando
uma
combinação de cursos executivos
de curta duração com outros
personalizados, que possam ser
combinados e certificados como
EMBA.
Para muitos participantes de
programas de EMBA, a riqueza
cultural e as diferentes bagagens
encontradas na sala de aula podem
ser tão valiosas quanto o
conhecimento do corpo docente.
"Quando o professor olha para a
turma, ele vê 1.200 anos de
experiência", diz o professor
Zemel sobre o curso Trium. E os
alunos estão preparados para pagar
por isso.
Um dos maiores desafios do
mercado de EMBA na última
década tem sido o financiamento
dos participantes. Vinte anos atrás,
quase todos os alunos eram bancos
por suas empresas, mas agora a
grande maioria paga o programa
por conta própria.
Outros aspectos também
precisam mudar. Há anos as
escolas de negócios tentam
descobrir como aumentar o
número de mulheres nesses
programas executivos de alto nível
- o número raramente fica acima
de 30%. Este ano, a Yale School
of Management registrou um
recorde de 41% de mulheres entre
os 63 participantes, segundo o
reitor sênior associado David
Bach. Mais significativo ainda é a
sua adesão, com 90% das mulheres
admitidas
no
programa
efetivamente fazendo suas
matrículas - em comparação a 82%
dos homens.
O professor Bach acredita que
o foco de Yale em negócios e seu
impacto na sociedade ajudou. "O
curso não quer apenas acelerar sua
carreira em Wall Street." No
entanto, ele destaca a importância
do apoio pessoal dado durante o
processo de admissão. "As
mulheres percebem que o
programa é muito mais voltado
para a comunidade e não apenas
transacional", diz.
O ESTADO DE S. PAULO 26/10/15
METRÓPOLE
Tema da Redação provoca polêmica
26/10/15
26/10/15
O ESTADO DE S. PAULO 26/10/15
METRÓPOLE
Índice de abstenção, de 25,5%,
foi o menor desde 2009
26/10/15
O ESTADO DE S. PAULO 26/10/15
METRÓPOLE
Segundo dia teve filas na entrada, desespero
de atrasados e revisão
26/10/15
CORREIO BRAZILIENSE
26/10/15
POLÍTICA
O corte das bandeiras históricas dos petistas
encontrar áreas para promover
cortes, a recessão econômica vai
se aprofundar. Aposto que, entre os
benefícios e os empregos, governo
e oposição esperam a manutenção
dos segundos”, justificou Barros.
As críticas retumbantes feitas
pelo PT e pelo governo à proposta
do relator do orçamento 2016,
deputado Ricardo Barros (PPPR), de promover um corte de R$
10 bilhões no orçamento do Bolsa
Família — o que significa
aproximadamente 35% dos
recursos destinados ao programa
— não contêm apenas uma questão
ideológica ou econômica para
preservar o principal programa
social petista. É a prova da
dificuldade de ver que já não há
mais onde cortar nas bandeiras
programáticas e nas promessas de
campanha da presidente Dilma
Rousseff. Levantamento feito pela
Organização Não governamental
Contas Abertas mostra que tudo o
que a presidente prometeu na
corrida eleitoral do ano passado
foi alvo de tesouradas
orçamentárias. Só o Bolsa Família
tem permanecido intacto. Até
agora.
“Cortar o Bolsa Família
significa atentar contra 50 milhões
de brasileiros que hoje têm uma
vida melhor por causa do
programa”, protestou a presidente
Dilma Rousseff nas redes sociais.
“Não podemos permitir que isso
aconteça. Estou certa que o bom
senso prevalecerá na destinação
de recursos para o programa”,
declarou a presidente. O relator
Ricardo Barros (PP-PR) defendeu
que boa parte dos beneficiários do
programa social têm emprego. E
que o seu esforço é garantir a
permanência desses postos de
trabalho. “Se não conseguirmos
A situação não é tão simples
como se parece. Nos cálculos da
equipe econômica, a cada R$ 1
pago no Bolsa Família,
aproximadamente R$ 1,75 retorna
graças ao aumento da atividade
econômica. “É injeção na veia
contra a recessão. Se tirarmos isso,
aí mesmo que a economia para de
vez. O Bolsa Família é o carrochefe do nosso governo, é
praticamente uma cláusula pétrea”,
resumiu o líder do governo no
Senado, Delcídio Amaral (PTMS). “Qualquer corte no programa
seria parecido a uma expressão que
adotamos no Mato Grosso do Sul:
estamos jogando o boi com a
corda dentro do rio. É inviável”,
resumiu o petista.
Até porque o governo federal
já mexeu demais em outros
programas. A Pátria Educadora,
slogan escolhido pelo marqueteiro
João Santana para definir o
segundo mandato de Dilma, já foi
vítima
das
tesouradas
orçamentárias. O Fies —Programa
de Financiamento Estudantil —
distribuiu, entre janeiro e agosto
de 2014, R$ 9,71 bilhões para que
estudantes pudessem cursar a
26/10/15
universidade e pagar os
empréstimos para as mensalidades
depois que já estivessem formados.
No mesmo período deste ano,
foram disponibilizados R$ 9,103
bilhões. O Pronatec, uma das
maiores vitrines da gestão dilmista
com cursos profissionalizantes,
teve uma queda ainda maior. Nos
primeiros oito meses do ano
eleitoral, foram investidos R$ 3,27
bilhões. Em 2015, foram R$ 2,25
bilhões.
Recursos
Lançado com estrondo pelo expresidente Luiz Inácio Lula da
Silva em janeiro de 2007 —
primeiro mês de seu segundo
mandato — o Programa de
Aceleração do Crescimento
despencou de R$ 47,19 bilhões,
investidos entre janeiro e agosto
de 2014 para R$ 30,21 bilhões no
mesmo intervalo deste ano.
“Voltamos, em termos nominais,
aos níveis de investimento de
2012”, resumiu o fundador do site
Contas Abertas, Gil Castelo
Branco. No Minha Casa, Minha
Vida, outra iniciativa cara à
presidente, as reduções também
foram significativas. Em 2014,
foram liberados R$ 7,63 bilhões
em recursos entre janeiro e agosto.
Neste ano, apenas R$ 4,45 bilhões.
Para Gil, o governo não tem
outro caminho a não ser avançar
nos programas sociais para
garantir
um
reequilíbrio
orçamentário. “Como o orçamento
tem praticamente 90% de seus
recursos engessados e vivemos em
um país no qual o Congresso
Nacional não é solidário, restam
pouco menos de 10% das
chamadas receitas discricionárias
(que incluem investimentos) para
serem cortados. Não existe mágica
a ser feita”, disse o fundador do
Contas Abertas.
O líder do PSDB no Senado,
Cássio Cunha Lima (PB), garantiu
o empenho da oposição para
manter os recursos do Bolsa
Família. “Ele é fundamental para
a economia do país e para garantir
renda aos mais necessitados. Pena
que o ex-presidente Lula sempre
omite que o Bolsa Família teve sua
gênese nos programas sociais
lançados pelo ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso. Lula
teve o mérito de unificar os
cadastros e ampliar a base de
atendimento”, acrescentou Cássio.
O tucano paraibano criticou o
governo Dilma por chegar à
situação de que é preciso discutir
cortes nos programas sociais.
“Estamos pagando quase R$ 500
bilhões de juros. Chegaremos ao
ponto de uma dominância fiscal,
momento no qual qualquer política
monetária será insuficiente para
fechar as contas do país”, apontou
Cássio.
“É injeção na veia contra a
recessão. Se tirarmos isso, aí
mesmo que a economia para de
vez. O Bolsa Família é o carrochefe do nosso governo, é
praticamente uma cláusula pétrea”
Delcídio Amaral, líder do
governo no Senado
26/10/15
CORREIO BRAZILIENSE
26/10/15
OPINIÃO
MARCELO AGNER »
Enem, um espetáculo
[email protected]
Na divertida viagem no tempo
que fizemos na semana passada,
inspirada pelo filme De volta para
o futuro, deparei-me com essa
notícia publicada pelo Correio em
26 de outubro de 1985 (data em
que o personagem Marty McFly
inicia outra aventura maluca):
“UnB defenderá o fim do
vestibular”. Há 30 anos, a
Universidade de Brasília
repensava a fórmula para avaliar
os estudantes. Dez anos mais tarde,
em 1995, a instituição inovou com
a criação do PAS, um verdadeiro
avanço. Mas, até hoje, a seleção
por meio de uma maratona de
provas resiste no sistema
educacional do país. O Enem
simboliza e reforça essa tradição
difícil de derrubar.
Nos anos 1970 e 1980, os
vestibulares chegavam a durar
uma semana. Eram grande eventos.
No Rio de Janeiro, por exemplo,
o Maracanã era usado como local
de provas. O Enem trouxe mais
organização ao processo, mas
manteve as características desse
tipo de seleção. Pior, cresceu tanto
que se transformou num gigante. E
assusta: são sete milhões de
candidatos que demandam
caríssimas estruturas para
aplicação das provas e para a
segurança. O governo aposta alto
no exame e até o ministro da
Educação dá plantão e entrevistas
após cada dia de provas.
O atual sistema parece ser mais
eficiente que os velhos
vestibulares. E tem ares
democráticos. Teoricamente, um
brasileiro do Amazonas pode
concorrer a uma vaga no Rio
Grande do Sul! Mas, no fundo,
nada muda em relação aos
certames tradicionais. O Enem
continua incentivando a cruel
disputa entre os jovens e mantém
o abismo entre os ricos, que podem
pagar escolas caras e cursinhos, e
os pobres, que dependem da
sucateada rede pública. Com ele,
surgiu um questionável ranking,
que serve mais ao marketing dos
colégios que à melhora da
educação.
O Enem não provocou
significativas mudanças no ensino
médio e acredito que dificilmente
será um instrumento inovador. A
prioridade nas escolas continua
sendo preparar os estudantes para
as provas e o consequente ingresso
nas faculdades e universidades. A
formação do ser humano, do
cidadão, fica em evidente segundo
plano. Há uma espetacularização
do processo — ou alguém acredita
que uma aula com um professor
vestido de Darth Vader, na véspera
da prova, vai acrescentar algo ao
candidato? —, conveniente a
muitos setores envolvidos, e
discussões importantes acabam
ofuscadas pelos dramas dos alunos
barrados nos portões.
CORREIO BRAZILIENSE
26/10/15
OPINIÃO
Crianças e famílias invisíveis
NATACHA COSTA
diretora-executiva
da
Associação Cidade Escola
Aprendiz
ELIANA SOUSA SILVA
diretora da Redes da Maré e
Diuc -UFRJ
A cidade do Rio de Janeiro vem
tentando desatar um dos nós mais
intrincado da educação brasileira:
a identificação de crianças de 6 a
14 anos ainda fora da escola e a
sua recondução à sala de aula. A
missão é complexa.O Brasil
atingiu 97,7% de matrículas na
faixa etária assinalada. A
conquista foi impulsionada pelo
fato de a maioria dos programas
de transferência de renda criada
nos últimos anos condicionar a
liberação dos recursos à presença
das crianças na escola. Mesmo
assim, quase um milhão delas
continua fora da instituição. No
caso da capital fluminense, elas
somavam 24.455, em 2010 —
3,1% do universo total —, de
acordo com o Censo IBGE. Essas
crianças e suas famílias são o
maior desafio social do país, visto
que continuam invisíveis para as
políticas públicas.
O fenômeno não é privilégio do
Brasil. Por isso, foi estabelecida
no âmbito das Nações Unidas,
como a segunda Meta do Milênio,
a universalização da educação
fundamental. Ela prevê a matrícula
de todas as crianças a partir de 6
anos. Em todo o mundo, a meta é
inserir pelo menos 10 milhões de
crianças e adolescentes de 34
países. O projeto Aluno Presente
— uma parceria entre a Prefeitura
do Rio, a ONG Cidade Escola
Aprendiz e a Fundação Education
Above All (Educação Acima de
Tudo), do Qatar — é parte desse
esforço.
A estratégia elaborada no
projeto para encontrar essas
crianças e famílias passa pelo
cruzamento de informações da
própria rede municipal de ensino
— a maior parte delas já passou
pela escola e saiu por motivos
diversos — com as informações
coletadas por 50 profissionais
encarregados de buscá-las em
todos os bairros da cidade. Em
geral, elas estão nos mais pobres
e periféricos locais e muitas têm
necessidades especiais.
Depois de localizadas, o
desafio é superar as condições que
geraram sua saída ou não ingresso:
falta de documentação, mudança
frequente
de
residência,
negligência ou falta de estrutura
familiar, inserção precoce no
mercado de trabalho informal, grau
de violência no território de
moradia etc.
Os relatos de vida dessas
pessoas demonstram que o
fenômeno — assim como o da
evasão — só será resolvido
quando reconhecerem que a
educação é importante demais para
ser responsabilidade apenas da
escola e de seus profissionais. De
fato, atendê-la plenamente, assim
como as outras demandas básicas
da população, exige a construção
de políticas intersetoriais que
levem em conta educação, saúde,
desenvolvimento social, habitação,
transporte, geração de trabalho e
renda etc. Significa dizer que o
cidadão não pode ser atendido de
forma fragmentada, mas na
globalidade, considerando-se as
suas características singulares, as
condições objetivas e a inserção
territorial.
Da mesma forma, é central que
se amplie a compreensão da coisa
pública para além do Estado. Os
desafios sociais contemporâneos
exigem ação compartilhada entre
os órgãos estatais e os atores da
sociedade civil, além da
contribuição, em circunstâncias
específicas, das empresas em seus
territórios de atuação. Essas
instâncias devem ser pensadas de
forma complementar, cada uma
cumprindo funções específicas,
mas articuladas, sem disputa pelo
protagonismo em relação às ações
e sua expressão pública. À medida
que se exercita essa experiência de
integração solidária na gestão
social, vai se criando e
consolidando uma tecnologia
26/10/15
social inovadora, capaz de dar
conta da complexidade do
atendimento das populações
invisíveis para o Estado.
O Aluno Presente é uma
demonstração
cabal
da
importância dessa integração. Ele
já reconduziu mais de 5 mil
crianças à escola e está
consolidando um banco de dados
global sobre o perfil delas, suas
famílias e as principais causas de
estarem fora da escola. Ao fim do
projeto, em 2016, as instituições
que conduzem a iniciativa
entregarão à cidade do Rio e ao
país tecnologia capaz de ser
replicada não apenas em cidades
brasileiras, mas em todos os países
onde houver crianças e famílias
que sofrem processo de
invisibilidade social ofensivo à
dignidade humana.
CORREIO BRAZILIENSE
26/10/15
CIDADES
EDUCAÇÃO »
Uma chance de conscientização
Tema da redação do Enem é
comemorado por especialistas e
professores.
Candidatos
escreveram sobre a persistência
da violência contra a mulher
» RICARDO DAEHN
» MARYNA LACERDA
» ALESSANDRA OLIVEIRA
ESPECIAL
PARA
O
CORREIO
Emanuelly se baseou no
cotidiano das mulheres para
escrever o texto e achou o exame
tranquilo
Clara recebeu o apoio da mãe
e do cão de estimação antes de
começar a prova
No país que amarga a sétima
posição no ranking mundial de
violência contra a mulher — 15
são mortas a cada dia no Brasil —
, a escolha do tema da redação do
Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem) foi comemorada por
especialistas e professores. Cerca
de 5,8 milhões de candidatos
participaram dos dois dias de
exame e completaram a maratona
de provas escrevendo redações
sobre “A persistência da violência
contra a mulher na sociedade
brasileira”.
“Depois que planos nacionais
ameaçaram retrocesso no tema, no
começo do ano, o Ministério da
Educação mostra que a escola não
pode ignorar a sexualidade. E faz
acertadamente o papel de levar aos
cidadãos
questionamentos
importantes”, opina a antropóloga
Debora Diniz, professora da
Universidade de Brasília (UnB).
Ela se refere à retirada da palavra
gênero de diversos planos locais
de educação, inclusive o do
Distrito Federal.
Larissa Souza, supervisora de
redação do Sistema Ari de Sá
Cavalcante, comemorou o tema
selecionado. “Comum, viável e
esperado”, observa a especialista,
e acrescenta que o assunto trouxe
conformidade em relação ao
momento atual. O quanto vale cada
opinião e argumento dos
estudantes, no entanto, fica difícil
de prever. A exposição de
estratégias de solução para o
problema da violência é o que
poderia contribuir, na avaliação de
Larissa. “Apontar motivos da
persistência do ato; descrever
fatores que levam à condição das
mulheres, apesar dos avanços
governamentais, como a Lei Maria
da Penha e a Lei do Feminicídio;
além de levar em conta índices
alarmantes dos casos de agressão,
trariam um bom texto”, analisa a
professora.
Para alcançar a nota máxima na
prova, de mil pontos, a professora
acredita que o tratamento dado a
entraves culturais, como o
machismo, e a crítica às
delegacias sem estrutura e às
limitações que desencorajam
denúncias devem ser pontos
valorizados pelos examinadores.
“O aluno não deve ser superficial,
mas mostrar um conhecimento de
mundo livre de clichês. Pode
avançar na proposição de solução
concreta e viável”, assinala.
Para Clara Demeneck, 19 anos,
a questão com a citação da autora
francesa Simone de Beauvoir, na
prova de sábado, foi um indicativo
de que o assunto estaria presente
no segundo dia. A jovem
considerou o tema importante e
válido para conscientizar a
população. “Ontem, cheguei a
pensar em algum tema relacionado
ao feminismo por causa da questão
26/10/15
da Simone Beauvoir. No entanto,
acabei desconsiderando porque as
provas do Enem não são
temáticas”, afirma. Essa é a
terceira vez que Clara presta a
prova com o objetivo de conseguir
uma vaga em medicina. Ela estava
acompanhada da mãe, do namorado
e do cachorro de estimação,
Joaquim. “O beijo dele é para me
dar sorte, assim como a presença
do meu namorado e da minha mãe.
Eu me sinto mais confiante este
ano”, conta.
Emanuelly Lima, 15 anos, fez a
avaliação para treinar os
conhecimentos e foi uma das
primeiras a deixar o local de prova
e também não se surpreendeu com
a temática proposta. “O tema da
redação não era óbvio, mas foi
tranquilo de escrevê-lo. No
cursinho, eles tinham colocado
esse assunto em discussão”, disse.
Seja por debates prévios, seja por
informações da imprensa ou pelo
contexto social, cada estudante
deveria encontrar argumentos para
discorrer sobre o assunto. “Fiz o
Enem pela primeira vez. Para a
redação, mantive a calma e usei
mais a minha opinião para
escrever. Não me baseei em
nenhuma notícia. Fui mais pelo que
as mulheres vivem no dia a dia”,
acrescenta o estudante Caio Alves,
19 anos.
Para Flávia Taiane de Jesus
Silva, 27 anos, o tema da redação
não foi um problema. “Sou
feminista, então, 30 linhas foram
pouco para escrever”, conta ela,
que cursa direito e pretende
pleitear bolsa integral na
faculdade. A oferta de textos de
apoio foi um ponto positivo. “Teve
um gráfico com as denúncias de
casos da Lei Maria da Penha de
2007 a 2011, e ainda um banner
de ‘basta ao feminicídio’”, lembra.
Além da redação, foram
aplicadas ontem as questões de
linguagens e código e de
matemática. Pixinguinha, Cecília
Meireles e Olavo Bilac foram
alguns dos autores citados na
prova. Na parte de exatas, foram
cobrados conteúdos como análise
combinatória e probabilidade.
Confira ao lado o gabarito
extraoficial elaborado por
professores do Sistema Ari de Sá.
Confusão
Jackson Teixeira, 24 anos, tem
problema cardíaco e precisou ser
atendido pelo Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência
(Samu). Ao chegar ao local de
prova, na Asa Norte, e deparar-se
com os portões fechados, ele
passou mal. O jovem alega que se
atrasou por causa de uma pane no
ônibus em que estava. Ele saiu de
Samambaia às 10h30, mas, mesmo
assim, não conseguiu chegar no
horário para fazer a prova. Ao ter
a entrada impedida pelos fiscais,
ele vomitou e, em seguida,
desmaiou. “A gente gasta com
cursinho o ano todo e estuda para
isso. Meu sonho está lá dentro.
Essa é a oportunidade que eu
tenho”, reclamou. Ele tentava uma
vaga para tecnologia da
informação.
Enquanto alguns candidatos
ficaram de fora da prova por terem
chegado com minutos de atraso,
outros ganharam um tempo extra
para ter acesso ao local de
avaliação. Em uma escola na Asa
Sul os portões foram reabertos por
alguns minutos depois das 13h e
candidatos atrasados conseguiram
entrar. O Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais
(Inep) informou que todos os
incidentes são relatados na ata pelo
coordenador do local de provas e
que, depois, o órgão avalia as atas.
No mesmo local, uma candidata
saiu da sala com caderno de provas
por volta das 16h, ou seja, duas
horas e meia antes do permitido.
Os fiscais correram atrás dela para
recuperar o documento. Os
inscritos têm autorização para
deixar os locais de prova às
15h30, mas sem o caderno de
questões.
Participaram da cobertura Isa
tacciarini, Flávia Maia e Mariana
Niederauer, especial para o
Correio
» Leia mais na página 16
» Para saber mais
Divulgação e resultados
O gabarito oficial do Enem
2015 será divulgado em
portal.inep.gov.br até a próxima
quarta-feira. O Ministério da
Educação ainda vai definir as datas
de divulgação dos resultados
individuais, no início de janeiro de
2016. Os candidatos devem
acessar o site para conferir e
precisam informar CPF e senha.
CORREIO BRAZILIENSE
26/10/15
CIDADES
EDUCAÇÃO »
Enem registra a menor abstenção em 6 anos
Índice é o menor desde 2009,
quando a prova passou a adotar o
modelo atual. Segundo ministro,
vagas do Sisu devem diminuir em
2016 por causa de cortes
» RODOLFO COSTA
de Seleção Unificada (Sisu), que,
segundo Mercadante, poderá
apresentar número menor de vagas
em razão da conjuntura do governo
e da redução do orçamento das
instituições federais de ensino
superior. No mesmo período deste
ano, foram oferecidas mais de 205,5
mil vagas.
Investigação
O ministro da Educação, Aloizio
Mercadante, voltou a destacar,
ontem, que o Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem) de 2015 foi
um sucesso, ressaltando que a
edição deste ano teve o menor índice
de abstenção desde 2009. Ao todo,
1,975 milhão dos 7,746 milhões de
inscritos não realizaram a prova, ou
seja, apenas 25,5% não fizeram as
provas, contra um índice de 28,9%
registrado no ano passado (veja o
quadro).
Aloizio Mercadante acrescentou
que problemas pontuais, como a
candidata que saiu de sala com a
prova e os que entraram após o
fechamento dos portões na Asa Sul,
serão avaliados individualmente. “Se
for constatado que houve falha, os
responsáveis serão excluídos de
qualquer outro exame do Enem no
futuro”, declarou. Ao todo, 743
participantes foram eliminados: 677
por uso de equipamentos
inadequados, 63 por objetos não
permitidos descobertos pelos
detectores de metal e três por
postarem fotos das provas em redes
sociais. No ano passado, 1.519
alunos tiveram suas provas
canceladas. A “cultura de respeito às
regras”, de acordo com Mercadante,
teria sido o motivo para a queda no
número de eliminados.
“Nossa avaliação é que foi o mais
completo êxito”, afirmou o titular da
pasta de Educação. A expectativa do
MEC é de que as notas do Enem
sejam divulgadas na primeira semana
de janeiro, quando também deverá
sair o edital com as vagas do Sistema
A formação dos fiscais, que
estariam “mais qualificados e prontos
para atender às demandas de
aplicação do exame”, segundo o
ministro, também contribuiu para o
sucesso da prova. Mercadante
elogiou ainda o uso da tecnologia e
No segundo dia do exame,
candidatos chegaram mais cedo aos
locais de prova para evitar
imprevistos
o trabalho da Polícia Federal. Os
esforços orçamentários para reduzir
as despesas do exame compensaram:
o MEC economizou R$ 40 milhões.
O tema da redação — A
persistência da violência contra a
mulher na sociedade brasileira —,
também foi abordado na coletiva de
imprensa. “O tema foi estimulante
para o Brasil, para a cultura e para
os estudantes”, resumiu Mercadante.
“Ainda há muita violência contra a
mulher, apesar das políticas públicas
existentes. Precisamos refletir sobre
isso.”
R$ 40 ilhões
Valor economizado pelo
Ministério da Educação este ano com
a prova do Enem
CORREIO BRAZILIENSE
26/10/15
CIDADES
Prova bomba nas redes sociais
» RICARDO DAEHN
» MARIANA NIEDERAUER
ESPECIAL
PARA
O
CORREIO
Internautas fizeram alusão à
derrota do Brasil na Copa de 2014
O Enem 2015 bombou nas redes
sociais. Memes com os atrasados
e em relação à redação foram
postados durante todo o segundo
dia de provas. As hashtags
#Enem2015
e
#ShowDosAtrasados2015 foram
usadas para identificar as piadas,
que vinham acompanhadas de fotos
feitas durante a cobertura do
exame.
O tema da redação — A
persistência da violência contra a
mulher na sociedade brasileira —
também foi alvo de aplausos e de
críticas na internet. A hashtag
#EnemFeminista foi usada tanto
para exaltar o espaço dado à
discussão sobre agressões sofridas
por mulheres quanto por pessoas
que criticaram a opção dos
formuladores da prova.
Além de ser tratada na redação,
a discussão sobre gênero apareceu
em uma das questões da prova de
sábado. Os deputados federais
Marco Feliciano (PSC/SP) e Jair
Bolsonaro (PP/RJ) voltaram a
causar polêmica. Desta vez, os dois
criticaram o que chamaram de
doutrinação na prova do Enem. O
alvo das reclamações dos
parlamentares foi essa questão,
que trazia uma citação da escritora
Simone de Beauvoir.
“Não adianta usar desses
rasteiros expedientes. Vamos
protestar sempre e extirpar de
nossos currículos teorias
alienígenas que nada acrescentam
ao engrandecimento de nossa
cultura e tradições”, escreveu
Feliciano. Bolsonaro, por sua vez,
acusou
o
Partido
dos
Trabalhadores
(PT)
de
doutrinação marxista. “O sonho
petista de querer nos transformar
em idiotas materializa-se em várias
questões”, escreveu.
A antropóloga Debora Diniz,
professorsa da Universidade de
Brasília (UnB), defende o tema
abordado na prova. “Uma onda de
repercussão contrária ao tema tão
somente demonstra limitação do
interlocutor que seja incapaz de
ver a mulher como distanciada
daquela predestinada à casa, à
inferioridade e à subalternização”,
afirma a Debora.
Memória
A filósofa francesa ficou
conhecida pelas obras que
retratavam o papel da mulher na
sociedade. Morreu em 1986. A
frase publicada na prova foi:
“Ninguém nasce mulher: torna-se
mulher. Nenhum destino
biológico,síquico, econômico
define a forma que a fêmea humana
assume no seio da sociedade; é o
conjunto da civilização que
elabora esse produto intermediário
entre o macho e o castrado que
qualificam o feminino”.
CORREIO BRAZILIENSE
26/10/15
CIDADES
Saudosa trajetória
O Curso de Verão da Escola de
Música de Brasília é considerado
o maior da América Latina. Ainda
não há verba para a próxima
edição. Quem participou relembra
momentos marcantes
CAROLINE POMPEU
Especial para o correio
Passar quase dez dias entre
músicos renomados, ouvindo
concertos, shows, recitais e
participando de workshops, tudo
isso de graça, é algo que a Escola
de Música de Brasília (EMB)
oferece. O Curso de Verão de
Brasília (Civebra), que chegará à
sua 38ª Edição, em 2016, começou
em 1978. Foi criado pelo primeiro
diretor da escola, o maestro Levino
de Alcântara. Em janeiro, alunos
da escola e de outras regiões do
Brasil, e até do mundo, vêm até a
capital para participar do curso,
considerado o maior da América
Latina e o quarto do mundo, em
ensino e aprendizagem musical.
Professores de vários países são
convidados para ministrar aulas.
Diversos gêneros, entre eles a
MPB, o jazz, o choro, a música
erudita antiga e contemporânea,
têm espaço.
Professores e funcionários
lutam para manter o curso, mesmo
em momentos de crise, com a falta
de verba. Com orçamento apertado
para a edição que ocorreu no
começo de 2015, a seleção dos
alunos foi rígida. Em 2006, por
exemplo, 3,5 mil alunos
candidataram-se, mas apenas 800
participaram. Neste ano, a
participação foi menor. Foram
apenas 491 alunos e 44
professores, mas a qualidade do
curso, de acordo com o diretor da
Escola de Música, o maestro
Ayrton Pisco, não caiu. Para se
adaptar à crise, muitos cortes no
orçamento foram realizados.
Alguns professores deixaram de
apoiar a realização do evento no
fim do ano passado, porque ele
aconteceria em locais que não
tinham estrutura.
O investimento do governo para
a edição de 2015 foi de R$ 900
mil e todas as atividades foram
realizadas, pela primeira vez,
dentro da Escola de Música.
Apesar das dificuldades, o diretor
dá o seu depoimento, emocionado.
“Em 1980, cheguei a Brasília para
o Curso de Verão e, há quase 36
anos, sempre participo. Ele
representa um momento único,
principalmente, para estudantes
carentes. É quando eles podem
respirar o oxigênio musical com
pessoas do mundo inteiro. Mesmo
com o desgaste emocional que
tivemos este ano para a realização,
quando vi vans velhas e quebradas
chegando de estados como Piauí e
Rondônia; e estudantes descendo,
vindo me abraçar, agradecendo
pela oportunidade, isso faz com
que qualquer sacrifício valha a
pena.”
Ainda não há previsão de como
será o curso, em 2016. “Não tem
verba, por enquanto. Vamos
começar a planejar quando o
dinheiro aparecer”, disse o diretor.
Apesar da crise, a edição mais
recente chegou ao fim em grande
estilo: pela primeira vez, o Teatro
da Escola de Música de Brasília
acolheu em seu palco uma ópera,
com a encenação de Gianni
Schicchi, do italiano Giacomo
Puccini. Confira uma retrospectiva
de eventos marcantes, em anos
anteriores.
26/10/15
Depoimentos
1997
“Um ano marcante do Curso de
Verão foi o de 1997. Houve
intercâmbio entre os professores
de música erudita e popular. Tive
a oportunidade de estar com
grandes nomes da música como
Hamilton de Holanda, Gustavo
Tavares, Marco Pereira e Mario
Ulloa, professor de violão na
Universidade da Bahia. Foi um
intercâmbio muito forte. Logo
depois, em 2001, no meu primeiro
curso como professor, trabalhei
com a orquestra de violões,
fundada por mim e pelo Paulo
André Tavares. Foi muito bonito
porque dessa orquestra no curso,
acabou que um aluno, o Ulisses,
um rapaz de Taguatinga, fez um
movimento de orquestra de violões
na região dele e que existe até
hoje”
Jaime Ernest Dias, violonista,
compositor e arranjador, aluno de
1974 a 1977 e professor da EMB,
de 1979 a 2013
2005/2007
“Entre 2005 e 2007, estava
dando aula na orquestra de violões
e fizemos uma apresentação muito
bonita em que participaram outros
professores, como Eduardo
Meirinhos,
professor
da
Universidade Federal de Goiânia,
também, André Vidal, professor de
canto erudito. Foi um momento de
grande integração no concerto
entre alunos e professores. Foi uma
orquestra grande, com 20 e poucos
alunos, foi muito legal. A Escola
de Música de Brasília é a maior
referência de música do país”
trompista Sören Hermansson e da
Alemanha, além de Roth, o
contrabaixista Gottfried Engels.
Paulo André Tavares, aluno da
Escola de Música em 1968. Em
1977, ele se tornou professor de
violão clássico e atuou até 2013
2006
O curso ofereceu aulas de gaita
pela primeira vez em quase 30
anos. O professor que ministrou as
aulas foi um dos maiores artistas
do instrumento no Brasil: o carioca
Maurício Einhorn, à época com 50
anos de carreira. Aulas de
etnomusicologia e oboé barroco
também foram novidades. Com
duração de 18 dias, foram 67
professores do país e do exterior.
Alunos vieram de diversas
regiões, como Argentina, Uruguai,
Venezuela, Peru e, pela primeira
vez, do Chile e dos Estados
Unidos.
2000
Em um dos anos de maior
repercussão no exterior do curso,
uma expedição estrangeira aportou
na Escola de Música de Brasília
para o 22º Curso Internacional de
Verão. Entre os convidados
estavam a soprano
nova-iorquina
Deborah
Birnaum e o regente alemão
Gerhart Roth. Da Suécia, veio o
2002
Além do lado artístico e
profissional, o curso tem uma
tradição distante das partituras e
instrumentos: a de unir casais que,
a partir da convivência em sala de
aula, resolvem construir uma vida
em comum. Nesse ano, o Correio
homenageou as dezenas de
histórias de amor vividas ali.
O GLOBO
26/10/15
RIO
Vai ser difícil passar de ano
LUIZ GUSTAVO SCHMITT
MARCO GRILLO
Orçamento de 2016 prevê
verba 46% menor para
investimentos em universidades
estaduais
Em discussão na Assembleia
Legislativa do Rio, o orçamento
de 2016 para as cinco
universidades do estado prevê um
corte de 27,7% nas despesas de
manutenção e de 46% nos
investimentos. A crise financeira
do estado já provocou cortes em
vários setores este ano e deverá
tornar os gastos de áreas
essenciais, como a educação, mais
enxutos em 2016. Uma proposta
orçamentária apresentada pelo
governo, que se encontra em
discussão na Assembleia
Legislativa (Alerj), prevê uma
redução drástica nos recursos
destinados às instituições de
ensino superior, entre elas a
Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (Uerj) e a Universidade
Estadual do Norte Fluminense
(Uenf ). No custeio, que envolve
as despesas para a manutenção
básica — incluindo água, luz,
segurança e limpeza —, a queda
prevista é de 27,7%. Em relação
a investimentos, como aquisição
de equipamentos para laboratórios
e reforma ou construção de salas
de aula, haverá uma diminuição de
46% em comparação a 2015.
MARCELO CARNAVAL
Problemas. Em um corredor da
Uerj, equipamentos e móveis
quebrados que deveriam ir para o
lixo: universidade começou 2015
com paralisação de prestadores de
serviço
Em números absolutos, a
previsão é que as verbas para
custeio caiam de R$ 618,1 milhões
para R$ 446,5 milhões. Quanto ao
investimento, deve passar de R$
109,5 milhões para R$ 58,7
milhões. O levantamento foi feito
com base na comparação entre o
projeto de lei em tramitação na
Alerj e o orçamento aprovado para
2015. A conta levou em
consideração cinco unidades de
ensino superior: além da Uerj e da
Uenf, o Centro Universitário
Estadual da Zona Oeste (Uezo), a
Fundação de Apoio à Escola
Técnica (Faetec) e a Fundação
Cecierj, que atua na educação à
distância.
ARROCHO MAIOR
NA UENF E NA UEZO
Os cortes mais expressivos são
vistos na Uenf, que tem unidades
em Campos dos Goytacazes e
Macaé, ambas cidades do Norte
Fluminense, e na Uezo, que não
conta com sede própria e funciona
de maneira improvisada nas
instalações do Colégio Estadual
Sarah Kubitschek, em Campo
Grande, desde a inauguração, em
2005. No caso da Uenf, serão
menos 46% no total do custeio (de
R$ 71,3 milhões para R$ 38,5
milhões) e menos 63% nos
investimentos (de R$ 12,1 milhões
para R$ 4,4 milhões). Enquanto
isso, a Uezo só poderá investir R$
134 mil em 2016, o que
corresponde a apenas 1% do valor
aprovado para 2015 (R$ 13,3
milhões). No custeio, o aperto
chega a 41% (de R$ 8,3 milhões
para R$ 4,8 milhões) na
universidade, que já reduziu de
140 para cem o seu quadro de
professores.
Vice-reitor da Uenf, Edson
Corrêa calcula que o valor mínimo
necessário para o funcionamento
da universidade gira em torno de
R$ 150 milhões por ano, total que
abrange os gastos com pessoal. O
orçamento de 2015 previa R$
190,7 milhões para a instituição,
mas o governo anunciou
contingenciamentos ainda no início
do ano. Até o momento, R$ 120,4
milhões foram efetivamente
repassados pelo tesouro estadual.
— Esse valor (R$ 190,7
milhões) foi fictício, porque houve
contingenciamento. O que vamos
ter disponível é algo em torno de
R$ 150 milhões. Com menos do
que isso, não dá para manter a
universidade — alerta o vicereitor.
A proposta para a Uenf em 2016
é de R$ 161,6 milhões, mas cortes
não estão descartados.
— Já estamos no limite, não tem
mais onde cortar. É só subsistência
— garante Corrêa.
26/10/15
Segundo ele, a falta de
pagamentos de terceirizados da
limpeza e da segurança chegou a
colocar as aulas em risco este ano.
As linhas telefônicas ficaram
cortadas por três dias, por
inadimplência. Para o presidente
da Associação de Docentes da
Uenf, Raul Ernesto, os alunos ainda
não foram prejudicados porque
professores vêm ajudando na
compra de material para aulas
práticas em laboratórios e até na
aquisição de cartuchos para
impressoras.
— O orçamento do ano que vem
não dá para chegar até setembro.
O governo está tratando as
universidades como gasto
supérfluo. Somos o papel higiênico
caro do estado — diz Ernesto.
Diretor de comunicação do
DCE da Uenf, o estudante de
Administração Pública Gilberto
Gomes relata que, este ano, o
pagamento das bolsas dos alunos
atrasou ao longo de três meses. A
direção da instituição foi
procurada, mas não falou sobre o
assunto. Em audiência pública na
Alerj no último dia 14, o reitor da
Uezo, Alex da Silva Cerqueira,
contou ter solicitado mais R$ 10
milhões ao orçamento para
concluir a primeira fase da
construção do campus.
PREOCUPAÇÃO COM
A SITUAÇÃO DA UERJ
Na Uerj, que tem o maior
orçamento entre as universidades
estaduais, a redução prevista é de
22% no custeio (R$ 394,2 milhões
para R$ 306,1 milhões) e de 4%
no investimento (R$ 37,1 milhões
para R$ 35,4 milhões). Mas a
instituição já vem sofrendo com
problemas de caixa. O ano letivo
de 2015 começou atrasado devido
a uma greve. A paralisação
provocou o caos: havia lixo
espalhado pelos corredores e
banheiros ficaram em estado
insalubre.
— O corte no orçamento só
aprofunda a crise — afirma a
presidente da Associação de
Docentes da Uerj, Lia Rocha. —
Quem está pagando a conta é a
educação. Estamos trabalhando
para produzir conhecimento, mas
não somos prioridade. É um
processo de sucateamento.
O Colégio de Aplicação, que
recebe verbas do orçamento da
Uerj, também deve ser atingido.
— Ainda persiste uma situação
de incerteza em relação ao
pagamento de terceirizados e
professores substitutos — diz
Lincoln Tavares, ex-diretor da
instituição.
A assessoria de imprensa da
Uerj afirmou que a universidade
não se manifestaria porque passa
por um momento de transição. Na
quinta-feira, o professor Ruy
Garcia Marques foi eleito reitor.
Ele não respondeu a um pedido de
entrevista.
Na
rede
Faetec,
o
contingenciamento teve impacto
em unidades de referência como o
tradicional Instituto Estadual de
Educação (Iserj), na Tijuca, e os
Centros de Vocação Tecnológicos
(CVTs). No Iserj, as aulas
começaram atrasadas este ano
porque não havia merendeiros,
faxineiros e inspetores. No CVT
do Gradim, em São Gonçalo, que
deveria ser voltado para a
atividade pesqueira, hoje só há
aulas de espanhol. A unidade,
aberta desde 2009, chegou a ter
300 alunos e a oferecer 16 cursos,
como mecânica e carpintaria naval
e beneficiamento de pescado. O
diretor da instituição, Sérgio de
Mattos Fonseca, conta que, este
ano, 15 professores tiveram seus
contratos suspensos pela Faetec e
só restaram 40 alunos.
— Tudou parou porque não há
professor. Um laboratório de alta
tecnologia que custou R$ 70 mil
está fechado — lamenta o
professor.
Procurada, a Faetec não
retornou as ligações. O presidente
do Cecierj, Carlos Eduardo
Bielschowsky, ressalta que o
orçamento em discussão para a
fundação é o mesmo de 2015, já
descontados
os
valores
contingenciados pelo governo.
Este ano, investimentos foram
cortados, e os planos de construir
mais unidades não saíram do
papel.
Presidente da Comissão de
Educação da Alerj, o deputado
Comte Bittencourt (PPS)
reconhece que todas as áreas do
governo devem participar do
esforço financeiro em meio à crise.
Contudo, ele afirma que os cortes
em custeio nas universidades
ficaram acima dos previstos para
outros setores.
— Em média, a redução em
custeio feita por órgãos do
governo varia de 15% a 20%. Mas,
nas universidades, esses cortes
chegam a passar de 30%. A
comissão pretende fazer emendas
ao orçamento para tentar alinhá-los
à média praticada pelo Executivo
26/10/15
— adiantou o deputado.
COMISSÃO DA ALERJ VAI
APRESENTAR EMENDAS
O secretário estadual de
Ciência e Tecnologia, Gustavo
Tutuca, cuja pasta é responsável
pelas instituições, afirma que a
saída para as universidades é
buscar outras fontes de receitas:
— É preciso inovar na gestão e
buscar recurso novo. No mundo
inteiro, há empresas que
desenvolvem projetos em parceria
com universidades. A UFRJ tem
uma parceria com a Petrobras.
Além disso, há um parque
tecnológico onde muitas empresas
pagam para estar ali. Temos que
nos inspirar nesses modelos.
Apesar do cenário de
austeridade, o secretário descarta
a possibilidade de um quadro
caótico na educação em 2016. Ele
afirma que greves, atrasos de
salários e falta de insumos são
problemas que não deverão se
repetir:
— Este ano foi complicado
porque tínhamos restos a pagar
(dívidas anteriores), além das
despesas correntes. Mas a
previsão é fechar o ano sem restos
a pagar. Então, teremos mais fluxo
de caixa.
Em nota, a Secretaria estadual
de Fazenda afirmou que tem
priorizado os recursos para a
educação e que o investimento na
pasta em 2015 é de 26%, acima
da exigência constitucional, de
25%. O órgão não comentou a
previsão de cortes para as
instituições em 2016.
O GLOBO
26/10/15
SOCIEDADE
Uma redação para elas
Candidatas se identificam com
tema violência contra a mulher,
e prova gera debate nas redes
RIO E CURITIBA- Um assunto
dominou, ontem, as redes sociais
e as rodas de conversa na saída
do segundo e último dia do Exame
Nacional do Ensino Médio
(Enem): o tema da redação. A
prova pediu aos milhões de
candidatos para escrever sobre “A
persistência da violência contra a
mulher na sociedade brasileira”.
Assim que a notícia foi divulgada,
logo após o início do exame, às
13h (horário de Brasília), o debate
tomou conta da internet no país.
Mais tarde, ao deixar os locais de
prova, candidatas contaram que o
tema fez com que elas refletissem
sobre suas próprias experiências.
— Já passei por uma situação
de violência e não denunciei, tive
medo. Acabei saindo de casa e fui
procurar abrigo na casa de
parentes. Então, me identifiquei
com a prova — contou Daiana dos
Santos, de 26 anos, que fez o
exame no campus da Uerj, no
Maracanã.
No mesmo local, Carla
Carolina Souza, de 19 anos, disse
que a redação foi um estímulo a
todas as mulheres.
— É uma forma de nos
encorajar e mostrar que podemos
lutar para nos libertar desse tipo
de agressão.
Já em Curitiba, a participante
Angelina Baclan, de 21 anos,
contou que conhece o drama da
violência. Sua mãe fugiu de
Londrina, interior do Paraná,
carregando os filhos pequenos
devido ao “comportamento
agressivo" do pai de Angelina.
— Meu pai veio atrás, ameaçou
tirar a guarda dos filhos. Foi muito
difícil. É um tema importante e
interessante, que conheço muito —
relatou.
No segundo dia de Enem, os
candidatos também tiveram que
resolver 45 questões de
Matemática e 45 de Linguagens.
Todas objetivas. Mas a única
prova escrita dos dois dias de
exame foi também o maior alvo de
comentários.
O professor de redação Raphael
Torres, da plataforma de ensino
on-line QG do Enem, elogiou o
enunciado da redação devido à
relevância do assunto para a
sociedade, mas fez uma ressalva.
Ele disse que, por ser um tópico
que desperta muito sentimento, era
grande o risco de o candidato ser
levado pela emoção, deixando de
lado a estrutura a ser obedecida na
redação do Enem.
— É um tema que puxa para o
lado da emoção. Um candidato
menos preparado quanto à estrutura
do texto exigido no Enem pode ter
decidido usar um relato em
primeira pessoa, por exemplo —
pontuou o especialista. — Isso
seria visto da pior forma possível
pela banca. É muito problemático
transformar algo pessoal em
sustentação de uma ideia. No
máximo, poderia ser usado um
exemplo em terceira pessoa, desde
que muito bem amarrado com o
restante do texto.
Como consta no edital, a
redação do Enem deve ser
elaborada como um texto
dissertativo-argumentativo, a
partir de uma situação-problema e
de subsídios oferecidos pelos
textos de apoio publicados na
prova. Para uma boa avaliação, é
fundamental o candidato
apresentar
argumentação
consistente, a partir de um
repertório sociocultural produtivo.
‘NECESSIDADE
DE MUDANÇA’
De acordo com o professor de
redação Rafael Pinna, do colégio
e curso de Aa Z , o aluno deveria
demonstrar senso de cidadania,
com argumentos sobre violência de
gênero como um problema cultural
e legal. Nesse sentido, o caminho
mais lógico, disse ele, seria a
identificação das causas da
violência de gênero, como a
cultura do machismo, que leva à
naturalização desse tipo de
agressão, e a escassez relativa de
punições.
— O estudante poderia falar
sobre a necessidade de se aplicar
com maior eficácia a Lei Maria da
Penha, sobre a importância da
tipificação do feminicídio como
crime hediondo no Código Penal
26/10/15
e, principalmente, sobre a
necessidade de uma mudança de
valores,
que
depende
principalmente da mídia e das
escolas — comentou.
Para desenvolver a redação, o
candidato tinha quatro conteúdos
de apoio. Um deles era um cartaz
de uma campanha contra o
feminicídio. Também havia um
gráfico com dados sobre o tipo de
violência cometida contra
mulheres, além de uma reportagem
que abordava o impacto da Lei
Maria da Penha e estatísticas do
Mapa da Violência.
Para a professora de redação do
Colégio Objetivo, Cida Custódio,
o tema trouxe uma discussão atual
e fundamental:
— A violência contra a mulher
é indefensável, os candidatos não
ficariam em dúvida sobre como
abordar.
Especialistas ligadas ao direito
das mulheres também comentaram.
Para Marlise Matos, coordenadora
do Núcleo de Estudos e Pesquisas
sobre a Mulher da Universidade
Federal de Minas Gerais, a
abordagem é oportuna. Ela
destacou que isso também
aconteceu no sábado, quando uma
questão da prova de Ciências
Humanas usou trecho da francesa
Simone de Beauvoir, escritora e
feminista.
— Foi uma escolha feliz por
fazer um contraponto num momento
complicado no Brasil, em que
sofremos ataques aos direitos das
minorias, sobretudo no Congresso
— avaliou Marlise.
Por outro lado, o assunto
também gerou polêmica. No
sábado, o deputado Jair Bolsonaro
(PP-RJ) postou críticas à prova
pelo Facebook. “Tão grave quanto
a corrupção é a doutrinação
imposta pelo PT junto a nossa
juventude”, escreveu. O deputado
Marco Feliciano (PSC) foi outro
que se manifestou na rede social:
“Vejo a imperiosa necessidade de
questionar o exmo. ministro da
Educação sobre a abordagem do
assunto teoria de gênero, que já
deveria estar sepultado.”
Tão logo o tema da redação foi
divulgado, comentários e piadas
machistas correram as redes
sociais. “O melhor jeito de acabar
com a violência doméstica é minha
roupa estar lavada e a comida estar
na mesa na hora certa”, ironizou
um usuário do Twitter. Mas a
grande maioria dos posts
elogiavam o conteúdo da prova.
“Espero que os machistas que
acham que a violência contra a
mulher é algo normal saiam com
vontade de pensar de outra forma”,
escreveu um rapaz no Twitter.
Participaram da cobertura
Alessandro Giannini, Dandara
Tinoco, Eduardo Vanini, Efrém
Ribeiro, Elton Ponce, Flavia
Aguiar, Giulia Mendes, Junia
Gama, Paula Ferreira, Raphael
Kapa, Renata Mariz, Sérgio
Matsuura e Thais Skodowski.
O GLOBO
26/10/15
SOCIEDADE
O GLOBO
26/10/15
SOCIEDADE
Matemática foi a parte mais difícil e teve
‘pegadinhas’, dizem professores
Questões desta edição exigiram
atenção a conceitos específicos e
dedicação dos estudantes
As provas do Exame Nacional
do Ensino Médio (Enem)
começaram a surpreender os
professores desde o início da
edição deste ano. Ontem, no
segundo e último dia de prova, não
foi diferente. A presença de um
elemento que não costumava
aparecer nos outros anos do Enem
chamou atenção: as famosas
“pegadinhas”. Professores do QG
do Enem e da rede de ensino Eleva
Educação corrigiram a prova
deste domingo a pedido do
GLOBO.
Segundo Moysés Cohen,
professor de Matemática, a
avaliação desta disciplina veio
recheada de artifícios que
poderiam confundir os alunos.
— Essa prova trouxe muitas
questões com pegadinhas. Um
aluno que não estivesse bastante
atento acabaria errando. Isso é
algo que não existia no Enem dos
últimos anos — analisou Cohen.
O professor afirmou ainda que
a prova de Matemática foi mais
trabalhosa e exigiu um pouco mais
de conhecimento por parte dos
candidatos:
— Havia mais questões num
nível médio de dificuldade do que
fácil. Antes o que acontecia era o
contrário. Além disso, apareceram
pelo menos duas questões bem
mais difíceis que o normal. Uma
que envolvia logaritmo e conceitos
de Bhaskara, e outra que exigia um
conceito
específico
de
trigonometria.
De acordo com Márcio Cohen,
também professor de matemática,
apesar disso a prova manteve o
perfil de trazer questões
contextualizadas com o cotidiano.
—
Matemática
vem
apresentando uma linha constante
de evolução. O Enem em geral foi
bem contextualizado, e com
surpresas.
As
chamadas
pegadinhas realmente chamaram
atenção — avaliou.
A prova de Linguagens também
trouxe um grau de dificuldade
maior em relação às edições
anteriores. Carolina Pavanelli,
professora de Língua Portuguesa e
Redação, considerou que as
questões desse ano exigiram uma
dedicação que os alunos não estão
acostumados a dispensar na prova
da disciplina.
— Quem deixa a prova de
Linguagens por último porque acha
mais fácil teve um baque desta vez.
Normalmente existem duas
questões que geram mais dúvidas,
mas desta vez o número foi maior.
Eram questões difíceis. Se a
redação ficou mais fácil em
relação ao ano passado, a prova
de linguagens ficou mais difícil.
Uma coisa compensou a outra —
comentou Carolina.
A professora também chamou
atenção para a presença de
questões abordando a linguagem
indígena e africana, algo que ainda
não havia aparecido nas provas do
Enem. Ao contrário dos outros
anos, também houve presença forte
de questões de Literatura:
— Quem pensou que
encontraria só questões de
interpretação se surpreendeu.
O GLOBO
26/10/15
SOCIEDADE
Exame tem 740 eliminados
por descumprir regras
Número é 50% menor do que
ano passado; estudante em Belo
Horizonte foi desclassificado por
uso de lápis
-BELO HORIZONTE E
BRASÍLIA- O estudante Elvis
John, de 18 anos, se preparou,
chegou cedo para fazer as provas,
mas foi eliminado do Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem)
por um detalhe: o uso de um lápis
para fazer o rascunho da redação.
Ele foi um dos 740 candidatos que
perderam a chance de concorrer a
uma vaga no ensino superior na
edição deste ano do concurso por
descumprimento das regras.
GIULIA MENDES
Regras rígidas. Elvis John foi
eliminado por usar lápis para fazer
a redação
— Já tinha feito a prova toda,
só faltava a redação, não sabia que
não podia escrever o rascunho de
lápis — lamentou Elvis, que fez o
Enem na PUC-Minas, em Belo
Horizonte.
O número total de eliminados
este ano foi 50% menor do que em
2014, quando 1.519 foram
desclassificados.
— As providências de
segurança, como uso de detectores
de metal e treinamento dos fiscais,
estão surtindo efeito — disse o
ministro da Educação, Aloizio
Mercadante, após o exame.
Pela primeira vez, fiscais
tiveram um período de 30 minutos
entre o fechamento dos portões e
o início das provas para inspeções
de segurança. Do total de
eliminados, 63 foram flagrados
pelo detector de metais, e o
restante desrespeitou outras
normas do concurso, como o porte
de equipamentos eletrônicos ou de
material impresso. Destaque para
a redução no número de candidatos
que postaram fotos em redes
sociais de dentro dos locais de
prova. Em 2014 foram 236, contra
três este ano: um no sábado e dois
no domingo.
A fiscalização foi rígida, até
mesmo para pequenos deslizes
como o cometido por Elvis John.
Ele chegou a fazer toda a prova
objetiva e, para escrever a
redação, usou o lápis. Pelas regras,
ele deveria usar apenas caneta
transparente de tinta preta. Em
Macapá, no Amapá, o estudante
João Flávio Ribeiro, de 21 anos,
foi eliminado após ir ao banheiro
com um chaveiro com o controle
remoto do portão de casa.
O MEC destacou a taxa de
abstenções, a menor desde a
reforma do Enem, em 2009. Dos
7,7 milhões de inscritos, 25,5%
não compareceram aos locais de
prova. Contudo, Mercadante
reconheceu que a queda “não é tão
significativa” em relação a 2014,
quando 28,9% dos candidatos
faltaram. Para reduzir os custos, o
ministério adotou algumas
políticas nesta edição, como o
reajuste no valor de inscrição, de
R$ 35 para R$ 64, e o corte da
isenção de taxa para alunos
faltosos no concurso do ano que
vem.
— O benefício da isenção tem
que ser condicionado a regras
claras: alunos de escola pública e
carente. Quem tem benefício, mas
não o exerce, perde— disse o
ministro. — A motivação para
fazer o Enem vem crescendo.
O ministério também divulgou
os eventos que complicaram a
realização dos exames em algumas
praças. Ao todo, foram nove
emergências médicas — cinco no
sábado, incluindo o óbito de uma
fiscal de provas, e quatro no
domingo — e 23 interrupções no
fornecimento de energia. Em um
colégio em Marituba, no Pará, a
falta de luz foi prolongada, e os
661 candidatos terão que refazer
as provas nos dias 1 e 2 de
dezembro, junto com os estudantes
de Rio do Sul e Taió, que tiveram
o concurso suspenso por causa das
chuvas.
FOLHA DE SÃO PAULO
26/10/15
COTIDIANO
FOLHA DE SÃO PAULO
26/10/15
COTIDIANO
FOLHA DE SÃO PAULO
26/10/15
COTIDIANO
28/10/15
PÁGINAS AMARELAS
César Camacho
Caminho para a excelência
Um dos responsáveis por fazer
do Impa um centro de relevo
mundial na matemática diz que o
mais difícil é escapar do peso do
Estado, que emperra a pesquisa de
alto nível no Brasil
Instalado em meio à Floresta da
Tijuca, no Rio de Janeiro, o
Instituto Nacional de Matemática
Pura e Aplicada (Impa) ganhou
relevância mundial levando o
conceito da meritocracia às
últimas consequências e
desviando-se, sempre que
possível, das amarras da
burocracia federal. Em 2014, um
pesquisador de lá conquistou a
medalha Fields, que ombreia em
prestígio com o Nobel. Um de seus
mais antigos quadros é o
matemático peruano César
Camacho, 72 anos de idade e
cinquenta de Brasil. Doutor pela
Universidade da Califórnia em
Berkeley, ele tornou-se testemunha
e protagonista da história do Impa,
fundado em 1952, que comandou
nos últimos doze anos. Prestes a
deixar o cargo (mas não o
instituto), Camacho está
convencido de que só um choque
de gestão elevará as universidades
brasileiras também ao topo da
pesquisa.
Como o Impa conseguiu
estatura internacional enquanto
a grande maioria dos centros de
pesquisa no Brasil não tem
nenhuma visibilidade?
No DNA do Impa sempre houve
a ambição de competir com os
melhores do mundo. E sabemos
que não há caminho para alcançar
excelência máxima que não conte
com mentes do mais alto nível, de
dentro e de fora do país. Por isso,
sempre fomos absolutamente
intransigentes com a mediocridade,
sem
nenhum
tipo
de
condescendência. Um matemático
só se torna pesquisador
permanente do instituto depois de
quatro anos sendo avaliado, em
caráter probatório, como ocorre
em universidades americanas. Se
não vai bem, ele é expelido por
um sistema guiado única e
exclusivamente pelo mérito, e não
por interesses individuais ou de
grupos.
Por que não funciona assim
nas universidades que produzem
pesquisa no Brasil?
Ali, muitas vezes, interesses
alheios
à
produtividade
sobrepõem-se aos demais. Para
apaziguar disputas internas, não é
raro que se criem divisões na
pesquisa e novos departamentos.
E quando os interesses de grupo
falam mais alto do que o propósito
comum. Não estou dizendo que em
nossas universidades não existem
pesquisadores de alto gabarito,
sintonizados com os avanços e
procedimentos dos melhores do
mundo. Mas muitos deles acabam
engolidos por um sistema que
claramente não é feito para
competir.
Quais são os grandes
obstáculos?
As universidades brasileiras
padecem do mesmo mal de outras
instituições latino-americanas:
estão todas engessadas por regras
que impedem a busca pelos mais
talentosos. Os concursos públicos
recrutam gente que terá sua vaga
garantida até a aposentadoria, à
revelia dos resultados obtidos ao
longo do trabalho. Essas pessoas
não podem ser dispensadas.
O sistema em vigor, em geral,
ainda restringe a prova a quem
fala português, uma limitação
grave. Se você pode abrir seu
leque de escolhas ao mundo
inteiro, por que estabelecer uma
norma que deixa de fora tantos
estrangeiros?
Os países de maior sucesso
acadêmico caçam mentes
brilhantes independentemente de
fronteiras geográficas, e vão longe.
Esses são alguns dos nós na
cartilha
de
gestão
das
universidades que refreiam o
progresso da pesquisa no país.
Dinheiro também é um
problema?
Na comparação internacional, é
verdade que o Brasil investe pouco
em ciência e tecnologia. Enquanto
os países mais desenvolvidos
destinam em torno de 2,5% de seu
PIB à área, os brasileiros não
28/10/15
chegam à metade disso. Mais
recursos, portanto, ajudariam a
expandir a pesquisa. Só que ainda
faltariam os mecanismos
essenciais para tornar as
universidades competitivas no
tabuleiro global.
Além de mais liberdade para
recrutar talentos, que mudanças
precisam ocorrer nos centros de
pesquisa para que se tornem
mais competitivos?
O modelo existente tem de ser
inteiramente repensado. Hoje ele
é voltado para dentro e não para
fora dos muros universitários.
Levanto aqui uma questão que
considero das mais relevantes. Por
que os reitores não podem ser
executivos recrutados no mercado
e talhados para a gestão, como
acontece em tantos outros países?
Por que eles precisam vir do corpo
docente? A resposta reside em uma
única palavra: corporativismo. A
escolha acaba assim tendo um viés
mais político do que meritocrático.
Nenhuma
universidade
brasileira aparece entre as 100
melhores do mundo nos mais
respeitados
rankings
internacionais. Elas têm, afinal,
essa ambição?
Do jeito que estão programadas
para funcionar, fica difícil pensar
em um projeto consistente, para
daqui a cinquenta anos, visando ao
pódio mundial. Os planos sempre
vão depender do próximo reitor,
que pode emergir de outra corrente
ideológica e querer mudar tudo o
que seu antecessor plantou. As
universidades públicas no Brasil
são instituições políticas que se
devoram. Os que se destacam lá
dentro, normalmente, vão adiante
por iniciativas pessoais. É gente
ao mesmo tempo muito capacitada
e disposta a lutar contra as amarras
da burocracia. Aliás, nunca vi
nenhum reitor aqui dizer que tem
por meta figurar entre os melhores
do planeta.
Quais são os riscos de ser uma
exceção, como é o caso do Impa?
O princípio geral é que uma ilha
de excelência sempre corre perigo
porque a entropia trabalha para
torná-la igual ao ambiente mediano
ao redor. É preciso de uma vez por
todas disseminar boas práticas em
outras instituições. Do contrário,
o governo pode subitamente baixar
uma regra que abranja a todos,
alterando a lógica da meritocracia
que sempre regeu o instituto.
Já houve algum caso concreto
nesses sessenta anos?
Um episódio nos preocupou por
seu potencial de pôr em xeque os
princípios nos quais sempre nos
baseamos. Quando veio a
Constituição de 1988, ela definiu
um regime único de contratação
para 100% das universidades e
núcleos de pesquisa federais,
eliminando por uma década no
Impa o sistema que nos permitia
recrutar em caráter probatório,
com a possibilidade de demitir
quadros de baixa produtividade. A
partir de 88, os pesquisadores
passaram a ser chamados via
concurso público, com as devidas
garantias que essa carreira
proporciona. Foi uma camisa de
força com a qual tivemos de
conviver. Um grande risco à
qualidade.
Como a história se reverteu?
Em 2000, o governo federal
abriu uma brecha importante, que
o Impa aproveitou prontamente. O
Ministério da Ciência e
Tecnologia ofereceu a certos
centros de pesquisa a ele ligados
uma mudança de status: poderiam
virar organização social, uma OS.
O dinheiro viria sem carimbos,
assim como as regras de gestão
seriam definidas internamente,
desde que cumprissem metas
preestabelecidas. Aceitamos de
bom grado, mas outros foram
contra a ideia do ministério. Havia
de fato um risco. A OS é uma
organização privada. Fora do
regime estatal, como garantir que
o governo pagaria os salários?
Também entrou em campo um
discurso superficial e ideológico
do tipo "isso não pode, estão
privatizando o que é público".
Esse poderia ser um caminho
para as universidades federais?
Nunca se ofereceu tal regime às
universidades, mas tenho dúvida de
que elas aceitariam. Afinal, isso
traria vulnerabilidade a quem tem
o emprego garantido e atingiria em
cheio
o
coração
do
corporativismo. É preciso ter
elevado grau de confiança para
condicionar o repasse de dinheiro
a metas ambiciosas.
Como um centro de pesquisa
que vive basicamente de verbas
federais consegue há tanto tempo
blindar-se contra decisões vindas
da esfera política, como
indicações para altos cargos?
Além de acolher riscos quando
eles podem trazer grandes avanços
e tentar fugir sempre que der do
28/10/15
gesso público, há que ter no Brasil
também um pouco de sorte. Olhe o
nosso caso. As bases da pesquisa
brasileira foram fincadas nos anos
1950, com o aparecimento da
Capes e do CNPq, mas o Estado
passou a apoiar a ciência para
valer na década seguinte, enviando
centenas de estudantes para o
exterior. O Impa havia surgido, em
1952, pelas mãos de três
matemáticos. Era portanto mínimo
num tempo em que não havia ainda
cérebros disponíveis. Essa foi uma
sorte: se fosse maior, mais rico e
vistoso, certamente se teria
transformado em um cabide de
empregos. Mas ficou meio que
adormecido naqueles anos, para
vir a despertar quando jovens
muito bem formados começaram a
regressar ao país.
O senhor considera a
exposição à cultura de
universidades estrangeiras
importante para moldar as
instituições daqui?
A influência americana na
matemática brasileira foi
determinante. Ela é muito objetiva
e direta; menos teórica e mais
baseada em problemas. Mas
também lemos muito os franceses.
Culturalmente, ir para fora reforça
a ideia de que não há trilha para a
qualidade que não passe pela
valorização de talentos. Incute
ainda um espírito empreendedor
precioso aos pesquisadores.
Falta uma maior integração
entre a pesquisa e a indústria no
Brasil?
Sem dúvida. Esse elo acontece
em casos isolados, mas está longe
de ser regra. A ligação entre as
duas partes requer justamente
mentes empreendedoras e a
organização de redes de cientistas
de
diferentes
formações
debruçados sobre um mesmo
problema concreto do setor
produtivo. Estamos falando aqui de
algo distante da clássica postura
do pesquisador brasileiro,
interessado em resolver os
próprios problemas restritos à sua
área de atuação. Isso é necessário,
claro, mas não suficiente em um
país que quer ter condições de
disputar lugar entre os grandes.
O Impa também sofreu com
os recentes cortes no orçamento
para a pesquisa?
Por enquanto, não. Mas só
Brasília sabe dizer se haverá
cortes mais adiante. O momento é
de apreensão na academia.
O que o senhor aprendeu com
sua experiência de percorrer
gabinetes em Brasília em busca
de apoio e recursos?
Brasília não é para amadores.
Ali, é preciso construir caminhos
para ter acesso aos centros de
decisão maior. A olimpíada de
matemática que organizamos
(Obmep) funcionou como um bom
cartão de visitas. É investimento
público de grande visibilidade,
chega aos estratos mais baixos de
renda e efetivamente encaminha
meninas e meninos talentosos a
carreiras universitárias de
qualidade.
O Brasil aproveita mal os seus
talentos?
Não há dúvida. A olimpíada,
inclusive, tem lançado luz sobre
vários alunos de alto potencial que
ficariam no meio do caminho se
não tivessem recebido um
empurrão. Imagine quantos ainda
estão invisíveis por aí. Eles
precisam ser rastreados, lapidados
e levados adiante por várias vias.
Nenhum país pode se dar ao luxo
de desperdiçar seus talentos.
A medalha Fields conquistada
pelo matemático Artur Avila deu
maior projeção ao Impa?
Deu, e, quanto mais o tempo
passa, isso se faz sentir. O próprio
Artur experimentou momentos de
pop star, virando ídolo de uma
meninada que, quem sabe um dia,
pode vir a se interessar por
matemática na vida adulta.
O Brasil está discutindo os
rumos de seu primeiro currículo
nacional. O castigado ensino da
matemática no país pode se
beneficiar da medida?
É louvável que estejam
providenciando um currículo
unificado que sirva de roteiro e dê
clareza sobre as metas de ensino.
Mas essa é apenas a casca do
problema. Sem um mestre que
domine minimamente o conteúdo
e que tenha capacidade para
transmiti-lo, o currículo periga
virar peça decorativa. É
emergencial, portanto, aumentar o
nível das faculdades que ainda
preparam mal os aspirantes à
docência. Esse é um papel para o
governo federal. Especialmente na
matemática — disciplina em que
o aluno, se não assimila um
conceito, fica boiando no seguinte
—, um professor ruim representa
grande perigo. Ele pode
comprometer o futuro do estudante
e do próprio país.
28/10/15
ARTIGO
O valor do sabe medido em quilos
Eduardo Oineque
Em um país burocrático,
cartorial,
extremamente
regulamentado, de alta e complexa
carga tributária, com baixo nível
educacional e baixíssima
produtividade, o estímulo à
competição tende a zero
O Brasil exportou 225 bilhões
de dólares em 2014 com uma pauta
diversificada. Adubo, aeronaves,
álcool, cerâmica, chocolate,
ferragens, frutas, grãos, madeira,
móveis, plástico, produtos
farmacêuticos, refrigeradores,
veículos, vidro. São 7 000 itens
diferentes. Cinco deles, no entanto,
concentram mais de 40% do valor
das vendas — açúcar, carne, soja,
petróleo e minério de ferro. O
minério de ferro, que trouxe 26
bilhões de dólares em divisas para
o Brasil no ano passado, exige
gigantesca infraestrutura. Os
caminhões nas minas têm 8 metros
de altura. Só o pneu tem 4 metros.
Em terra, antes de chegarem aos
portos, os trens de minério formam
gigantescas lagartas mecânicas de
até 3,5 quilômetros sobre os
trilhos. Em comprimento, os
navios, de 340 metros, ocupariam
quase quatro quarteirões. Tudo é
superlativo quando se trata de
minério de ferro. Tudo? Bem,
quase tudo. O preço não é. Uma
tonelada de minério de ferro vale
210 reais. Já custou mais que o
triplo — 677 reais — em 2011,
mas desde então perdeu dois
terços do valor. Ferro, açúcar,
carne, soja e petróleo são matériasprimas, ou commodities, termo em
inglês universalmente consagrado
para definir esses itens de
exportação. As commodities têm
várias características positivas.
São essenciais, todo mundo
precisa, todo mundo compra. São
comercializadas em larga escala.
Não ficam tecnologicamente
ultrapassadas e nunca saem nem
entram na moda. Ninguém diz
“Você precisa ver as commodities
que eu comprei em Londres”. O
bom desempenho econômico do
Brasil nos últimos anos e o
equilíbrio das contas externas se
devem à constante demanda
mundial por esses produtos. Mas
as commodities têm suas
fragilidades. A mais assustadora é
a volatilidade de preços. A
exemplo do ferro, o preço do
petróleo também desabou. O barril,
cotado agora a 49 dólares, variou
nos últimos quinze anos de um
mínimo de 23 dólares (dezembro
de 2000) a um
máximo de 125 dólares (abril
de 2011). Os preços das
commodities são fixados em bolsas
internacionais com base nos
movimentos de oferta e procura e,
portanto, dissociados das vontades
do produtor. Daí por que é
altamente recomendável que um
país fortemente exportador de
commodities invista paralelamente
no desenvolvimento de produtos e
serviços de consumo mundial que,
no jargão dos economistas,
“agreguem valor”.
E o que significa agregar valor?
Digamos que todos os produtos,
mesmo os indivisíveis, pudessem
ser comprados por quilo. Um quilo
de minério de ferro custaria 21
centavos. Um quilo de leite, cerca
de 2 reais. Já 1 quilo do carro
popular zero-quilômetro mais
vendido no Brasil, que pesa 920
quilos e é comercializado a 28 000
reais nas concessionárias, custaria
30 reais, o mesmo valor cobrado
nos supermercados por 1 quilo de
queijo fatiado. O que ocorreu na
transformação de ferro (e, claro,
outros insumos) em carro e de leite
em queijo é o que os economistas
chamam de agregação de valor. A
tecnologia e o saber adicionaram
valor ao leite e ao ferro, de modo
que o produto final pôde ser
ofertado a um preço bem maior do
que a simples soma aritmética dos
insumos utilizados em seu fabrico.
Conhecimento e tecnologia são a
chave. Automóveis
mais
avançados valem mais por quilo
do que o carro popular. O quilo de
um Ford Fusion pode ser vendido
a 90 reais. O quilo de um BMW
X6 chega a 233 reais. Ficou claro?
Se não ficou, faça o exercício
inverso. Pegue o carro popular
comprado a 28 000 reais e procure
um ferro-velho. Sabe quanto
pagará por ele? Os 21 centavos por
quilo do ferro. Daria 193 reais no
28/10/15
total, o equivalente a 0,7% do
preço do carro novo com valor
agregado pela marca, pelo estilo e
pela tecnologia embarcada.
A agregação de valor está na
base
do
processo
de
enriquecimento das nações. Nações
mais desenvolvidas vendem
produtos mais elaborados. O
produto interno bruto dos Estados
Unidos quadruplicou em valor nos
últimos cinquenta anos. Já o peso
físico dessa produção toda se
manteve mais ou menos inalterado.
Os principais produtos da pauta de
exportação da Alemanha são
reatores nucleares, caldeiras,
máquinas, aparelhos, automóveis,
tratores, material elétrico e artigos
farmacêuticos. Em 2014, as cinco
principais commodities brasileiras
exportadas renderam ao país 100
bilhões de dólares. No mesmo ano,
só as vendas do iPhone renderam
à Apple os mesmos 100 bilhões de
dólares. Tudo calculado,
descobre-se que a Apple precisou
de apenas 24600 toneladas de
iPhone para atingir o valor obtido
pelo Brasil com a venda de um
volume de commodities que se
conta na casa das centenas de
milhões de toneladas — só de
minério de ferro foram 344
milhões. Colocado de forma ainda
mais dramática: para faturar o
mesmo que a Apple fatura com um
único iPhone, o Brasil precisa
exportar 8 toneladas de minério de
ferro.
O que nos salva — e de certa
forma consola — é a crescente
utilização de alta tecnologia na
produção de commodities. A
produção agrícola nacional mais
do que triplicou em vinte anos, e a
produtividade teve uma das
maiores taxas de crescimento do
mundo. O campo brasileiro é
atualmente o mais capitalista do
planeta. A safra bate recordes
seguidos todo ano — e deve
repetir o feito em 2015. Temos a
maior produtividade mundial em
algodão e em soja. A exportação
de celulose mais do que triplicou
em alguns anos. Somos recordistas
em produção de laranja e é
brasileira a maior empresa de
processamento de proteína animal
do mundo. Não podemos perder
terreno nesse campo de modo
algum. Mas também não podemos
depender apenas de commodities,
cujos preços são definidos por
terceiros, segundo variáveis
externas e internas incontroláveis.
Investir em produtos de maior
valor agregado é, portanto, uma
forma não apenas de qualificar e
fortalecer a economia, mas de
diminuir a exposição a riscos.
Fazer isso, no entanto, significa
entrar em uma guerra igualmente
cheia de desafios. Requer o acesso
a investimentos e a garantia de
educação de qualidade. O grupo
dos países que exportam produtos
de maior valor agregado investe
pesado no ensino e na formação de
cientistas. É preciso aplicar
volumes monumentais de recursos
em pesquisa e tecnologia para que
um dia apareçam descobertas
científicas que possam ser
rapidamente transformadas em
produtos
e
tecnologias
comercialmente viáveis.
Também não se chegará a canto
algum sem o fortalecimento da
indústria nacional e o estímulo à
inovação. A indústria nacional vem
perdendo espaço na economia, e
seu grau de inovação é
limitadíssimo. Uma pesquisa
recente feita pela Confederação
Nacional da Indústria mostrou que,
para o empresário, a competição
é o principal estímulo à inovação.
Em um país burocrático, cartorial,
extremamente regulamentado, de
alta e complexa carga tributária,
com baixo nível educacional e
baixíssima produtividade, o
estímulo à competição tende a
zero. Vale mais aplicar os recursos
excedentes no rentável mercado de
papéis do governo do que arriscarse no desenvolvimento, fabricação
e venda de um produto
verdadeiramente inovador. A
prova dessa limitação aparece no
ranking internacional de países
segundo o número de patentes
registradas. O total de patentes que
o Brasil precisa de um ano para
registrar, o Reino Unido o faz em
um único mês; a Coreia do Sul em
vinte dias — e os Estados Unidos
em apenas uma semana. Enquanto
Brasília discute a baixa política, a
Terra continua a dar uma volta em
torno de seu eixo a cada dia e uma
volta em torno do Sol a cada ano
— e a cada novo raiar do dia o
mundo lá fora está dizendo que não
vai esperar pelo amadurecimento
do Brasil.
O GLOBO
25/10/15
O PAÍS
Tempo parado entre a economia e a política
Nos últimos 12 meses, governo
navegou na tempestade da relação
com o Congresso, da alta do dólar
e da inflação
SIMONE
IGLESIAS
CATARINA ALENCASTRO
Passado um ano da reeleição da
presidente Dilma Rousseff, que se
completa amanhã, o país vive uma
sensação de tempo perdido. A
deterioração política virou
combustível para a crise
econômica, criando um círculo
vicioso que o governo parece
incapaz de romper. De outubro de
2014 até hoje, a situação da
economia piorou, e a relação com
o Congresso — ruim desde sempre
— oscilou, mantendo-se o quadro
de incapacidade de conquistar uma
maioria governista fiel. Apesar do
momento difícil, na avaliação de
integrantes do governo, o mandato
não está comprometido, e há saídas
para a crise.
A estabilidade na relação com
o Congresso e a aprovação do
ajuste fiscal são, segundo
auxiliares presidenciais, cruciais
para um novo ciclo. A receita é
antiga, mas não foi cumprida nos
últimos 12 meses. Na avaliação de
ministros, Dilma tomou decisões
erradas desde a reeleição,
construindo seu novo governo sem
ouvir os aliados, o PT e o expresidente Lula — acabou se
isolando. Somado a isso, “caiu na
armadilha” de estabelecer prazos
e
metas
inexequíveis,
especialmente em momento difícil
da economia.
Os dados mostram o tamanho da
deterioração econômica. Quando
foi reeleita, em outubro do ano
passado, o dólar custava R$ 2,46,
contra R$ 3,90 desta semana; a
inflação anual estava em 6,75%,
contra os 9,77% atuais; e a dívida
bruta do setor público figurava em
61,7% do PIB, contra os 65,3% do
mês passado. Pior: entre o 2º
trimestre do ano passado e o deste
ano, a economia regrediu 1,9%.
Agora, a ordem é correr contra
o tempo para estancar a sangria.
Para isso, o governo quer contar
com o principal algoz, o presidente
da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ). Para o Planalto,
apoiar a estabilidade e o ajuste
seria uma forma de Cunha manter
do seu lado o apoio do
empresariado, já que está vendo a
adesão entre os partidos diminuir,
na medida em que aumentam as
denúncias de corrupção e lavagem
de dinheiro. No governo, ninguém
trabalha com a ideia de que Cunha
deixará nas próximas semanas o
comando da Casa, e este período
é essencial para a aprovação do
pacote.
— Cunha é inteligente e sabe
que não pode ser contra a agenda
do crescimento, porque é pior para
ele virar um problema para o
Brasil. É uma questão de
sobrevivência para ele manter
imagem neutra e
Expectativa e realidade.
Dilma e Temer durante a
cerimônia de posse para o segundo
mandato, em janeiro, no Palácio do
Planalto ser um agente da
estabilidade — disse um ministro.
Para garantir crescimento, o
Executivo admite rever pontos do
ajuste, como recriar a CPMF. Há
setores do governo trabalhando
com o aumento de arrecadação
pela Cide, com a legalização dos
jogos presenciais e eletrônicos, e
também com anúncio de novo Refis
(Programa de Recuperação
Fiscal).
— Se a gente conseguir aprovar
a repatriação, a desvinculação de
receitas da União e trabalhar com
alternativas
à
CPMF,
conseguiremos criar uma agenda e
possibilitar um novo cenário de
crescimento — avaliou um
auxiliar presidencial.
Ao falar no futuro, integrantes
do governo voltam ao começo
deste ano para exemplificar os
motivos pelos quais o cenário
ficou tão ruim: Dilma cometeu
muitos erros.
— Ela está enfrentando um
batismo de fogo. Até a reeleição,
administrou ancorada no Lula.
Depois, confessou aos mais
próximos que faria deste um
governo com a cara dela. Foi
altamente testada com a falta de
apoio no Congresso, a ação do
Tribunal de Contas, a Lava-Jato.
Com isso, pode ter criado
25/10/15
condições para se firmar com as
próprias forças — afirmou um
ministro que pediu reserva ao
GLOBO.
O ex-ministro Delfim Netto,
que foi conselheiro informal de
Dilma no primeiro mandato,
afirmou que, para dar a volta por
cima, a presidente tem que
“enfrentar os panelaços” e ir para
as ruas apontar soluções “pensando
no futuro de seus netos”.
— Evidente que há solução, o
Brasil não vai terminar. A situação
é delicada, há um problema fiscal
muito sério, e isso é estrutural,
então, não vai ser resolvido com
pequenas medidas, insistindo em
soluções pequenas diante deste
problema, como solucionar o
superávit primário. É preciso uma
ação muito forte, que faça o
governo retomar o protagonismo
— afirmou Delfim.
Delfim crê que, daqui a dez
anos, o Brasil terá crescimento de
um ponto a mais no PIB por
respeitar as instituições e evitar o
afastamento de Dilma:
— É melhor o Brasil ser visto
como país que respeita as suas
instituições, não como pastelaria.
O Brasil não é uma pastelaria. Vai
passar por isso, e daqui a dez anos
vamos crescer 1% a mais ao ano
pelo fato de termos respeitado as
nossas instituições — analisou.
(Colaborou Gabriela Valente)
O GLOBO
25/10/15
SOCIEDADE
Desistência passa de 25%
Primeiro dia do exame teve 1,8
milhão de faltosos, confusão com
atrasos e lições de perseverança
No primeiro dia do Exame
Nacional do Ensino Médio
(Enem), mais de 1,8 milhão de
candidatos, ou 25,31% do total de
inscritos
apurados,
não
compareceram aos locais de
prova, sendo que 837.612 nem
chegaram a consultar o cartão de
confirmação pela internet. No ano
passado, o índice de abstenções
foi de 28,64% nos dois dias. O
estado da Paraíba registrou a
menor taxa, com 20,67% de
faltosos; e Roraima, a maior:
34,91%. No Rio, o percentual foi
de 25,32%. De acordo com o
Ministério da Educação, em todo
o país 364 candidatos foram
eliminados, sendo 330 por uso de
material impresso, por ausentaremse antes do horário permitido ou
por desobedecerem fiscais. Os 34
restantes foram flagrados por
detectores de metal com
equipamentos
eletrônicos
proibidos.
— Houve mais de uma tentativa
de usar ponto eletrônico para fazer
a
prova.
Todos
foram
encaminhados à Polícia Federal —
disse, em entrevista coletiva, o
ministro Aloizio Mercadante.
As provas aplicadas ontem
foram de Ciências da Natureza e
Ciências Humanas. Hoje, será dia
de Redação, Linguagens e
Matemática.
Diferentemente de anos
anteriores, apenas uma candidata
foi eliminada por publicar fotos em
redes sociais de dentro dos locais
de prova. No ano passado, foram
236 casos.
—Mas qualquer participante
pode ser eliminado a qualquer
tempo — alertou Mercadante.
O primeiro dia de exame
também registrou um óbito. Uma
fiscal de prova de 22 anos passou
mal antes do início das provas, em
Campo Grande, Mato Grosso do
Sul. Segundo informações, ela teve
convulsões devido a uma alergia.
Levada a uma unidade de saúde,
faleceu em seguida.
CORRERIA
NO
FECHAMENTO DOS PORTÕES
Os portões foram fechados
pontualmente às 13h, pelo horário
de Brasília, e, como de costume,
houve desespero entre os
atrasados. Em São Paulo, sete
candidatos tentaram invadir o
campus da Universidade Nove de
Julho (Uninove), na Barra Funda.
Eles afrouxaram as barras de uma
grade lateral e se espremeram para
entrar no prédio, mas foram
impedidos por seguranças e
policiais militares. Uma estudante,
identificada apenas como Evelyn,
desmaiou após o tumulto e foi
socorrida por uma ambulância do
Serviço de Atendimento Móvel de
Urgência (Samu).
Alguns candidatos culparam a
falta de sinalização nas entradas
dos locais de prova. Graziele
Santos Fernandes, de 30 anos, e
seu primo, Gabriel Ribeiro,
perderam o exame. Chegaram às
12h55m, mas perceberam que
estavam no portão errado da
Uninove. O ministro Mercadante
lamentou o episódio, mas afirmou
que os culpados são os próprios
candidatos.
— Por que 25 mil entraram e
cinco ou seis não conseguiram? O
problema foi a sinalização? —
provocou Mercadante.
No Rio, os professores Augusto
Melo e Victor Roberto, do curso
Reforço, em Niterói, cumpriram
uma aposta feita com alunos e
foram para a prova fantasiados de
Batman e Robin. Só houve um
problema: a dupla dinâmica foi
para o local errado.
— Fizemos uma aposta com os
alunos de que viríamos para a
prova assim. Só não reparamos
que o cartão de confirmação dizia
que o local de prova era no campus
da Uerj em São Gonçalo. Viemos
para o Maracanã — contou Melo.
Felizmente, a maioria dos
candidatos se programou para
chegar com tranquilidade. No
Recife, uma tenda de oração foi
montada perto da Universidade
Católica de Pernambuco (Unicap)
para motivar as pessoas. Na
Uninove, em São Paulo, um
professor que montou um quadro
branco na rua foi cercado de
estudantes interessados na última
revisão.
25/10/15
Candidatos de todas as idades
levaram histórias de perseverança.
Em Belo Horizonte, a baiana
Vanessa do Amaral, de 23 anos, que
tem lesão na medula espinhal e por
isso se locomove numa cadeira de
rodas, chegou à Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG)
para fazer o Enem pela segunda
vez. Quer estudar Psicologia. Na
Uerj, antes do início das provas, o
aposentado Carlos Alberto
Barbosa, de 84 anos, estava
ansioso. Ele participa do exame
pela quarta vez.
— Sempre quis ser médico,
cheguei a ficar na lista de espera
do vestibular para Medicina em
1967. Agora, quero fazer faculdade
de Biologia — disse o exfuncionário da Comlurb, que tem
três filhas, cinco netos e dois
bisnetos.
Já a estudante Camila Tobolski,
de 23 anos, chegou à Uerj com a
filha Ariel, de 3 meses. O sonho
da jovem é cursar Publicidade. Por
causa da filha recém-nascida,
pensou em adiar os planos, mas,
em cima da hora, mudou de ideia.
Durante a prova, o bebê ficou em
uma sala separada, sob os cuidados
da avó, Ana Cláudia.
— Não ia fazer a prova por
conta da minha filha, mas resolvi
participar. Não me preparei muito
bem, devido aos cuidados com ela
— contou Camila. — Esse foi o
maior tempo que ficamos
separadas em toda a vida da Ariel.
Participaram da cobertura
Alessandro Giannini, Eduardo
Vanini, Efrém Ribeiro, Elton
Ponce, Flavia Aguiar, Giulia
Mendes, Junia Gama, Paula
Ferreira, Raphael Kapa, Renata
Mariz, Sergio Matsuura e Thais
Skodowski
O GLOBO
25/10/15
SOCIEDADE
Provas foram mais exigentes
do que em anos anteriores
Questões cobraram muito
conteúdo dos candidatos, afirmam
professores
Igualdade de gênero, crise
hídrica, questão ambiental e até
mesmo a “obsessão das selfies”
foram alguns dos assuntos
abordados em questões do
primeiro dia de provas do Exame
Nacional do Ensino Médio
(Enem), conhecido por recorrer a
temas do cotidiano. Mas, para a
surpresa de professores da rede de
ensino Eleva Educação e QG do
Enem, especialistas no processo
seletivo do MEC ouvidos pelo
GLOBO, as provas de Ciências
Humanas e Ciências da Natureza
este ano estavam muito mais
exigentes do que nas edições
anteriores.
— Caíram conteúdos que nunca
haviam aparecido, com questões
mais difíceis e elaboradas que nos
anos anteriores. A prova de
Ciências da Natureza foi,
certamente, a mais difícil dos
últimos anos. Houve uma questão
sobre interferência de ondas que
nunca foi cobrada no Enem e que
também não costuma aparecer em
outros vestibulares do Rio —
avaliou o professor de física Fábio
Oliveira. — É um conteúdo
superespecífico, que, geralmente,
não é nem ensinado com
profundidade nos colégios. Esta
questão deve ter deixado muitos
estudantes sem saber o que fazer.
Mesmo o bom aluno não costuma
estudar isso.
Bastante comentada pelos
estudantes, a prova de química
também apresentou surpresas na
edição deste ano. De acordo com
o professor da disciplina Leonardo
Fillipe, apesar de a prova manter
a contextualização com uma dose
de realidade, essa parte do exame
se tornou mais complexa:
— Apareceram questões sobre
reações orgânicas, algo que
raramente é cobrado. Houve
muitas questões sobre isso. Não sei
se é audacioso dizer, mas talvez
essa tenha sido a prova mais
conteudista dos últimos tempos,
mudou bastante a cara. Não
perderam a contextualização das
questões, o que sempre foi uma
marca do Enem, mas o exame deste
ano se concentrou em nichos
diferentes.
O professor de biologia Pedro
Sultano também enxergou
temáticas novas, como perguntas
sobre o sistema excretor e funções
básicas de organelas celulares.
— Com o passar dos anos, o
exame vem melhorando em termos
de conteúdo e aprofundamento da
matéria. A prova vem assumindo
uma nova cara— avaliou Sultano.
SIMONE DE BEAUVOIR
A parte de Ciências Humanas
foi bastante elogiada pelos
professores, que classificaram o
Enem como uma prova
“extremamente bem feita”.
Segundo Marcelo Tavares, que
ensina História, o exame trabalhou
assuntos importantes, que estão na
“crista da onda”, de maneira
complexa.
— Em alguns pontos foi mais
difícil que no ano passado, mas foi
uma prova de muita qualidade.
Uma questão, com texto de Simone
de Beauvoir, leva em consideração
manifestações da década de 60 em
favor das mulheres, que levanta um
ponto superatual: a luta não só por
liberdade
sexual,
mas,
principalmente, da igualdade de
gênero— analisou Tavares.
Outro ponto inusitado foi o fato
de a geografia física ter sido mais
explorada que a geografia política.
O professor Thiago Fernandes
sentiu falta de geopolítica
internacional nas questões do
Enem.
— Houve uma cobrança
surpreendente de geografia física,
algumas questões com nível de
cobrança de terminologia bem alto.
Especialmente de temas como
erosão e conservação do solo—
comentou o professor após a
prova.
FOLHA DE SÃO PAULO
25/10/15
MERCADO
Recordar é viver: Dilma 2014
VINICIUS TORRES FREIRE
Nas semanas que antecederam o
segundo turno da eleição de 2014,
havia uma brisa forte de otimismo
no Brasil, apesar do clima político
odiento, do noticiário crescente da
roubança na Petrobras e do declínio
econômico perceptível.
Os humores melhoravam desde
o início da campanha eleitoral, em
meados do ano. O primeiro semestre
fora de exasperações: protestos de
rua, contra a Copa, contra tudo,
incêndios de ônibus, greves de
polícias, rolezinhos (lembra?). O
desânimo econômico medido pelo
Datafolha chegava a níveis vistos
apenas nos piores dias de FHC.
Em junho, 64% dos eleitores
achavam que a inflação subiria. Um
mês antes da eleição, ainda eram
50%. Na semana do segundo turno,
apenas 31%.
Em junho, eram 48% os que
acreditavam em alta do desemprego;
à beira da eleição, 26%. No caso da
situação do país, seria pior para 36%
em junho. Em outubro, 15%.
Entende-se, pois, a explosão de
pessimismo inédito em janeiro,
exposta a traição do estelionato
eleitoral; tais humores não vão escoar
tão cedo.
Recordar o logro é viver, vide os
trechos do artigo publicado pela
presidente-candidata nesta Folha, no
dia da eleição. A reeleição faz um ano
amanhã.
"Diante da crise, ao contrário do
que acontecia no passado,
mantivemos o emprego e a renda.
Hoje, enquanto boa parte do mundo
desemprega e reduz salários e
direitos, o Brasil tem a menor taxa
de desemprego da sua história
(4,9%) e continua a avançar na
redução da pobreza e das
desigualdades."
O desemprego está em 7,6%.
Deve chegar a 10% no fim de 2016.
Não há dados suficientes para saber
o que será da pobreza e da
desigualdade neste ano. Em agosto,
a renda do trabalho caía 4,3% nas
seis maiores metrópoles, ante o ano
passado.
"Tudo isso foi acompanhado de
um
importante
equilíbrio
macroeconômico. Em meu governo,
a inflação se manteve dentro do
regime de metas. Governamos com
responsabilidade fiscal...".
O desequilíbrio macroeconômico
é muito grave. Mesmo com uma
recessão estimada em 3% para este
ano, a inflação deve chegar a 10%,
acima do limite superior de tolerância
de descumprimento da meta, de
6,5%. As estimativas para 2016 se
aproximam outra vez desse limite.
A dívida do governo cresce sem
limite. O deficit nominal, o excesso
de gastos do governo, se aproxima
de 10% do PIB, o maior em duas
décadas.
"Mas a grande prioridade
estratégica do meu governo é e será
a educação. Ela é fundamental para
assegurar a competitividade do país
e a continuidade dos processos de
distribuição da renda."
Além de cortar despesas em
educação, nenhum programa foi
lançado. Ainda não se sabe na prática
(nem em teoria) o que Dilma quis
promover com "Pátria Educadora".
"...Implementamos o maior
programa de ensino técnico da nossa
história: o Pronatec... abrimos as
portas das universidades para os
mais precisavam, com o Prouni, o
Reuni, as cotas, o Fies e o programa
Ciência Sem Fronteiras. Este é um
país que tem muito mais futuro."
Os programas de subsídios à
educação estão sendo drasticamente
reduzidos, pois seus gastos
cresceram de modo descontrolado,
como reconheceu o próprio
governo. "Vou dar absoluta
prioridade à reforma política." Sem
mais.
FOLHA DE SÃO PAULO
25/10/15
COTIDIANO
FOLHA DE SÃO PAULO
25/10/15
COTIDIANO
FOLHA DE SÃO PAULO
25/10/15
COTIDIANO
Estudantes trocam anotações em
cadernos por foto da lousa no celular
JULIANA GRAGNANI
DE SÃO PAULO
Copiar a lousa? Para que, se dá
para fotografá-la? Estudantes de
São Paulo usam agora um novo
método para registrar a matéria
ensinada pelo professor: tirar foto
do quadro ao invés de copiar o
conteúdo à mão, no caderno.
Segundo os alunos, a lousa vai
para o celular quando não dá
tempo de copiá-la, quando dá
preguiça, quando a lição é passada
no fim da aula ou quando o desenho
do professor é muito complexo
(como os de biologia e química).
Depois, as imagens circulam em
grupos de salas no WhatsApp,
aplicativo de mensagens pelo
celular.
O recurso é usado a partir do
momento em que os jovens ganham
celular –nos casos observados
pela reportagem, pelo menos
desde os 11 anos, no 6º ano– e com
a anuência dos professores.
Amanda, 16, aluna do Colégio
Dante Alighieri, nos Jardins (zona
oeste de SP), até criou pastas das
disciplinas –como "história" e
"biologia"– na galeria de fotos do
celular para ficar organizado.
João Vitor, 17, do Magno, diz
que esse xerox moderno ajuda a
passar o foco da escrita para o
professor.
Já Gustavo, também de 17, e
aluno do Bandeirantes, admite que,
"às vezes não dá tempo e, às é
vezes, é a preguiça" que o motiva
a tirar fotos.
"Meu pai fala que, quando você
escreve, aprende melhor", diz a
aluna do Band Gabriela, 11.
"Então eu tiro foto e depois passo
para o papel."
Psicóloga e professora da
Faculdade de Educação da
Unicamp, Ângela Soligo diz que
não vê problema em tirar fotos da
lousa, desde que o estudante se
sinta confortável.
"Muitos alunos precisam copiar
para prestar atenção. Para eles, só
tirar a foto não é tão adequado.
Outros preferem e se dão melhor
prestando atenção e não se
distraindo com a cópia, daí a foto
é uma vantagem", observa.
É o argumento de Emerson
Pereira, diretor de tecnologia
educacional
do
Colégio
Bandeirantes, na Vila Mariana
(zona sul de SP). Ele diz que
jovens assimilam o conteúdo de
formas diferentes, e não é papel dos
educadores inibir o mecanismo
adotado por eles.
Para o diretor do ensino médio
do Móbile, Wilton Ormundo,
"fotografar não faz o menor
sentido". "A lousa é uma
construção de um pensamento que
25/10/15
está sendo discutido em sala", diz.
"Professores e alunos elaboram
juntos um conceito. Com a foto,
todo o mecanismo de construção
desse saber se perde."
Luciana Fevorini, diretora do
colégio Equipe, em Higienópolis
(região central de SP) diz que o
recurso pode funcionar para um
aluno que perdeu a aula, por
exemplo, mas não deve ser
corriqueiro.
Um estudo da Universidade de
Stanford, nos EUA, comparou a
eficácia de anotações feitas à mão
e pelo laptop. Os pesquisadores
concluíram que a escrita era melhor
para fixar o conteúdo visto em
aula; ao usar o computador, os
participantes testados só
transcreviam sem reflexão.
E anotar no caderno versus tirar
foto da lousa? Segundo a psicóloga
americana Pam Mueller, que
coordenou a pesquisa, contar com
o registro do celular no fim da aula
pode atrapalhar a retenção de
informação. "Quando você anota,
você é forçado a processar a
matéria", diz.
'CONSCIÊNCIA LIMPA'
Consulte a galeria de fotos do
smartphone de um adolescente. É
provável que encontre muitas fotos
de lousas, tiradas só para serem
descartadas
depois.
Os
adolescentes admitem que nem
sempre reveem o conteúdo, mas se
sentem seguros por tê-lo à mão.
"Das cinco fotos que eu tirei
hoje, só vou ver duas", diz um
aluno do último ano do
Bandeirantes. "A gente acaba
tirando foto mais para ficar com a
consciência limpa."
"Com o caderno acontecia o
mesmo", avalia a diretora do
colégio Magno, Cláudia Tricate.
"Há alunos que copiam e nunca
mais olham o caderno, ou então que
copiam o caderno do amigo para
o professor passar o visto. Isso é
do aluno, não tem nada a ver com
a tecnologia", afirma a diretora.
FOLHA DE SÃO PAULO
25/10/15
COTIDIANO
Escolas em SP divergem sobre
uso de smartphone nas salas de aula
JULIANA GRAGNANI
DE SÃO PAULO
As cinco escolas no topo do
ranking do Enem em São Paulo
divergem quanto ao uso de celular
em sala de aula.
No colégio que ficou em
primeiro lugar na prova de 2014,
o Objetivo, há "um acordo de
cavalheiros",
segundo
a
coordenadora geral Vera Lúcia da
Costa Antunes.
A professora diz que o aluno
tradicionalmente não usa celular
durante a aula, mas a escola
investe em recursos visuais e
incentiva o uso do tablet. O
estudante pode registrar a lousa
com autorização do professor.
Já no Bandeirantes, 5º no
ranking do Enem do ano passado,
o uso do celular é permitido –
desde que não seja para atividades
extraclasse. Segundo Emerson
Pereira, diretor de tecnologia
educacional da escola, alunos do
6º e do 7º ano usam cerca de 40
aplicativos. Para esses anos, o uso
do tablet é obrigatório.
"A sociedade está em rede. A
escola não pode colocar um muro",
justifica Pereira.
No Vértice, 2º lugar no Enem,
celular é proibido. O diretor do
fundamental 2 e do ensino médio,
Adilson Garcia, diz que "raramente
os alunos podem utilizar o celular
para pesquisa, sob supervisão dos
professor ou, quando participam
de projeto envolvendo foto nas
aulas de artes".
Slides das aulas são
disponibilizados para suprir a
necessidade da lousa, afirma.
No Móbile, 3º no Enem, os
celulares podem ser usados se
houver necessidade pedagógica,
mas não para fotografar a lousa,
por exemplo.
O Santa Cruz, 4º no Enem,
informa que algumas atividades
didáticas preveem a utilização do
celular.
Para Bruna Waitman, do Media
Education Lab, empresa de
inovação na área de educação,
"quando a escola proíbe o uso do
celular, ela inibe o aluno que
poderia
potencializar
o
aprendizado
com
aquela
ferramenta".
Waitman diz que as escolas que
aceitam celular na sala dão aos
alunos mais autonomia para decidir
que forma de aprendizado é
melhor, no caso das imagens de
lousas.
No Dante, placas em frente às
salas alertam que é proibido tirar
fotos ou gravar vídeos pelo celular
sem a autorização do professor.
Alunos dizem, porém, que a
maioria permite fotografar o
quadro.
No colégio Equipe, o celular
deve estar desligado e na mochila,
porque chama a atenção do aluno,
segundo a diretora Luciana
Fevorini.
As salas de aula do Magno têm
QR codes (código de barras que
podem ser escaneados por
celulares e tablets) com
informações como lição e cardápio
do dia.
O ESTADO DE S. PAULO 25/10/15
METRÓPOLE
Enem tem abstenção de 25%
no 1º dia e grupo tenta fraude
JOSÉ MARIA TOMAZELA,
LUIZ FERNANDO TOLEDO,
PAULO SALDAÑA, RACHEL
GAMARSKI E VICTOR VIEIRA
- O ESTADO DE S. PAULO
Candidatos com ponto
eletrônico e jovem que tentou
publicar prova foram eliminados
no primeiro dia de provas
SÃO PAULO - Apesar das
novas regras para inibir faltosos
no Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem), o primeiro dia de
provas teve 25,31% de ausentes –
1,8 milhão dos 7,7 milhões de
inscritos não fizeram o teste neste
sábado, 24. O índice ainda é
considerado alto se comparado a
outros vestibulares, que têm taxas
de abstenção inferiores a 10%. O
Ministério da Educação (MEC)
também eliminou 364 estudantes
por violarem regras do edital.
Neste ano, a pasta criou uma
nova regra para inibir o número
de ausentes no Enem. Candidatos
isentos da taxa de inscrição que
faltarem dois dias sem justificativa
perdem o direito à gratuidade na
edição seguinte da prova. Não
precisam pagar candidatos de
baixa renda e alunos da rede
pública.
No Enem 2014, a taxa de
abstenção dos dois dias havia sido
de 28,64%. A expectativa é que o
impacto da mudança seja maior nas
próximas edições. A queda na taxa
de ausentes reduz o desperdício de
dinheiro com impressão e
transporte de provas.
A nova regra sobre faltas
também havia sido apontada pelo
MEC como um dos motivos para a
queda do número de participantes.
O Enem teve 11% candidatos a
menos do que em 2014. Foi o
primeiro recuo desde 2009, quando
o exame foi reformulado e passou
a ser o principal vestibular do
País.
As 63 universidades federais
usam o exame como parte ou como
único o processo seletivo. O Enem
também é obrigatório para
concorrer à bolsas em faculdades
privadas pelo ProUni e ao
financiamento estudantil, o Fies.
O balanço parcial é de 364
eliminados – 330 portavam
equipamentos inadequados e 34
foram identificados pelos
detectores de metal com objetos
proibidos. Nos dois do Enem
anterior, 1.519 foram eliminados
por uso indevido de aparelhos.
Entre os flagrados desta edição,
alguns tinham pontos eletrônicos.
A Polícia Federal está
investigando os casos. “O ponto
eletrônico não estava em uma única
cidade e nem em um único Estado.
Houve mais de uma tentativa e
foram abertos inquéritos em todos
os casos”, limitou-se a dizer o
ministro da Educação, Aloizio
Mercadante.
Uma candidata usou redes
sociais para publicar imagens da
prova. A estudante assumiu o ato e
foi eliminada.
Nova data. As cidades de Taió
e Rio do Sul, em Santa Catarina,
são as únicas que poderão fazem
o Enem em outra data, em
decorrência das fortes chuvas das
últimas semanas. Cerca de 4,5 mil
alunos farão a prova até a primeira
semana de dezembro.
Dezenove locais tiveram
quedas temporárias de energia, mas
sem prejuízos. Uma aplicadora da
prova morreu após convulsão no
Mato Grosso do Sul.
Em São Paulo e Belo Horizonte,
atrasados culparam o trânsito. Em
Sorocaba, parte dos candidatos
desceu dos carros e chegou ao
prédio da Unip a pé.
Muitos deixaram para consultar
de última hora o local de prova no
sistema online. Após o meio-dia,
eram 1,2 mil acessos a cada dez
minutos.
O ESTADO DE S. PAULO 25/10/15
METRÓPOLE
Estudante tenta entrar à força
para fazer o Enem e desmaia em SP
O ESTADO DE S. PAULO 25/10/15
METRÓPOLE
25/10/15
O ESTADO DE S. PAULO 25/10/15
METRÓPOLE
O ESTADO DE S. PAULO 25/10/15
METRÓPOLE
25/10/15
O ESTADO DE S. PAULO 25/10/15
ECONOMIA
25/10/15
O ESTADO DE S. PAULO 25/10/15
ECONOMIA
CORREIO BRAZILIENSE
25/10/15
BRASIL
EDUCAÇÃO »
MEC comemora prova com poucos problemas
No primeiro dia do Enem 2015,
apenas um candidato foi
desclassificado por postar foto do
exame em rede social e a pasta
não resgistrou falhas na
segurança
MARYNA LACERDA
NATHÁLIA CARDIM
João Pedro (D) e os colegas de
cursinho só deixaram o local de
prova após a liberação para sair
com o caderno de questões
Segurança e organização os
pontos destacados pelo ministro da
Educação, Aloizio Mercadante, no
primeiro dia de provas do Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem)
2015. Apesar das críticas de
alguns candidatos de Sãoo Paulo
em relação à sinalização dos
pontos de avaliação, o exame foi
avaliado como exitoso pelo
ministro. No primeiro dia do
certame, 7.369.321 milhões de
candidatos de todo o país,
responderam às questões de
ciências humanas e ciências da
natureza. Outros 1.865.255 milhão
não compareceram aos locais de
provas, o que corresponde
25,31% de abstenção. Além disso,
364
participantes
foram
eliminados, 330 deles por uso de
equipamentos eletrônicos. Os
outros 34 candidatos foram
flagrados pelo detector de metais.
Houve apenas uma expulsão por
postagem de imagens da prova em
redes sociais.
As provas começaram às 13h,
horário de Brasília, nos 14.455
locais distribuídos pelo país.
Foram registrados apenas
incidentes pontuais, como
interrupção temporária de energia
em 19 escolas, em diversos
estados, mas não houve
necessidade de estender o horário
de aplicação. No entanto, cinco
candidatos, na Uninove, em São
Paulo, perderam a hora de entrada
e tentaram invadir a instituição.
Eles forçaram as barras dos
portões e passaram entre elas.
Houve empurra-empurra na porta.
A Polícia Militar precisou tirar os
candidatos da unidade. Uma delas
desmaiou na calçada por causa da
confusão. Em Campo Grande
(MS), uma aplicadora de provas
sofreu convulsão na sala de aula.
Tatiana Macedo de Carvalho, 22
anos, foi atendida por uma equipe
médica, mas não sobreviveu.
Mais atenção
A segurança nas redes sociais
foi intensificada na edição deste
ano e apenas uma pessoa foi
impedida de permanecer na
avaliação após ser identificada por
postar uma foto do cartão de
identificação em redes sociais. O
Ministério da Educação (MEC)
não divulgou o nome nem o local
em que essa situação ocorreu. A
Polícia Federal também flagrou
tentativas de fraude por meio do
uso de pontos eletrônicos em
diversos estados. Investigações
estão em curso para identificar se
se tratam de quadrilhas. A
avaliação do ministro foi positiva.
“Nós tivemos, hoje, grande êxito.
Não tivemos nenhum incidente que
pudesse prejudicar a realização do
exame. Os participantes tiveram as
condições adequadas para fazer a
prova. Estamos, portanto,
celebrando um grande Enem. Bem
organizado, seguro. Os nossos
procedimentos e planejamentos se
desenvolveram como nós
prevíamos”, disse Mercadante.
Expectativa
Serão aplicadas, hoje, as
provas de linguagens e códigos e
de matemática. Além disso, os
candidatos farão a redação. Por
isso, o exame terá uma hora a mais
de duração neste domingo e só
terminará às 19h30. Ontem, por
volta das 17h30, os candidatos
começaram a deixar os locais do
exame com os cadernos de prova
em mãos. Os amigos Denise
Cristiane Fonseca, 34 anos,
Larissa de Oliveira, 20, Fábio José
Pereira, 31, e Juciara Carneiro de
Almeida, 25, combinaram de só
25/10/15
sair do exame quando o tempo
terminasse, pois queriam levar o
documento para casa.
Fábio é projetista e tenta uma
vaga pelo Programa Universidade
para Todos (ProUni) no curso de
engenharia civil. “Estou estudando
para concurso e vou aproveitar
matérias como português e
matemática para me auxiliar
também no Enem. Não achei o
primeiro dia de prova tão difícil,
mas tem muito texto, e isso toma
muito tempo. Amanhã (hoje), acho
que vai ser mais complicado. Estou
ansioso para saber o tema da
redação. O importante é vir mais
descansado e também preparado
para todas as horas de prova”,
acredita.
Outro grupo de estudantes de
um mesmo cursinho do Distrito
Federal também esperou o tempo
limite para deixar o local de prova
com os cadernos. Aluno do 2º ano
do ensino médio, João Pedro
Moretti Rangel, 16 anos, fez a
prova como treineiro para testar os
conhecimentos. Ele almeja entrar
em uma universidade pública no
curso de comunicação. “As
questões estavam bem misturadas
e eu consegui fazer o conteúdo do
1º e do 2º anos, mas, nos itens do
3º ano, tive mais dificuldade. Se
comparar com a prova de amanhã
(hoje), acho que foi menos
cansativo, mas estava trabalhosa.
Agora, acho que todo mundo fica
na expectativa da redação”,
ressalta.
“Não tivemos nenhum
incidente que pudesse prejudicar
a realização do exame. Os
participantes tiveram as
condições adequadas para fazer
a prova”
Aloizio Mercadante, ministro
da Educação
ATENÇÃO
Veja hoje à noite, no site do
Correio, o gabarito extraoficial do
Enem, elaborado pela equipe de
professores do Sistema Ari de Sá.
Essas respostas também estarão
disponíveis na edição de amanhã
do jornal.
CORREIO BRAZILIENSE
25/10/15
CIDADES
EDUCAÇÃO »
DF tem abstenção de 29%
O calor e a corrida dos
atrasados marcaram o primeiro
dia de provas do Enem.
Candidatis que chegaram menos
de cinco minutos depois do
horário não conseguiram entrar.
Hoje, estudantes farão as provas
de linguagens e códigos e de
matemática, além da redação
» Alessandra Oliveira
Especial para o Correio
» Gláucia Chaves
O tráfego próximo ao UniCeub
estava intenso por volta das 13h
Candidatos
atrasados
precisaram correr para pegar
portões abertos
Brenda saiu às 11h30 de casa,
no Itapoã, mas não conseguiu entrar
Otrânsito
intenso
nas
proximidades dos locais de prova
e, em alguns casos, a falta de
planejamento, fez com que muitos
candidatos ao Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem) 2015
chegassem atrasados e perdessem
o certame. A abstenção no Distrito
Federal foi de 29,36%, superior à
nacional, de 25,31%. Apesar de a
chuva da última sexta-feira ter
amenizado as altas temperaturas
dos últimos dias, o clima não deu
trégua no primeiro dia de provas.
Além da caneta esferográfica preta,
do documento de identificação
original com foto e do cartão de
confirmação da inscrição, a garrafa
d’água tornou-se item obrigatório
para a prova, graças ao calor de
31ºC, registrado na cidade pelo
Instituto Nacional de Meteorologia
(Inmet).
Os portões foram fechados
pontualmente às 13h. Alguns
candidatos reclamaram da oferta
insuficiente de transporte público
e também de terem sido alocados
em locais de prova muito distantes
de onde moram. A estudante Brenda
Fonseca, 18 anos, chegou a ver o
portão fechando e correu, mas
ficou de fora. “Meu irmão
conseguiu entrar, ele correu mais
rápido que eu, agora não sei o que
faço”, disse. Brenda mora no
Itapõa e saiu 11h30 de casa para
chegar ao local da prova, na Asa
Norte. “Eu estou decepcionada.
Eles colocam a gente em um lugar
distante, eu almoço de qualquer
jeito para chegar aqui e acontece
isso”, lamenta a estudante, que não
sabe dizer se fará a segunda parte
do exame hoje.
Tempo para relaxar
Quem chegou cedo
conseguiu aproveitar o tempo antes
da abertura dos portões para
revisar conteúdos, ouvir música ou
simplesmente se concentrar.
Vanessa Barreira da Silva, 16
anos, foi a primeira a chegar ao
Centro de Ensino Fundamental 1
(CEF 1) do Guará. Estudante do
3º ano do ensino médio, ela sonha
com o diploma de advogada. Os
estudos começaram para valer no
ano passado: depois da escola,
Vanessa estudava das 14h às 19h.
Ela mora na Cidade Estrutural e
se organizou para conseguir chegar
com tempo de sobra para nada dar
25/10/15
errado: saiu de casa exatamente às
10h02. “Estou sempre muito
atrasada, mas, hoje, sabia que, se
deixasse para sair muito tarde, não
chegaria a tempo”, justifica.
O estudante Thiago Pereira
Nonato, 17, também estava entre
os primeiros a chegar ao local de
prova do Guará. Visivelmente
tenso, ele contou que se prepara
para a prova desde o ano passado.
Munido de duas barras de cereal e
uma garrafa d’água, Thiago disse
que refez todas as provas antigas,
revisou os conteúdos e tirou todas
as dúvidas na própria escola, já
que não fez cursinho preparatório.
“Vi na televisão que muita gente
que chega um minuto atrasado não
entra, fiquei com medo e preferi
garantir”, contou o futuro educador
físico.
Essa foi a quarta vez que Érika
Bezerra, 19, fez o Enem, agora,
com um estímulo a mais. A mãe
dela, Cleide Bezerra, 40,
participou do exame com a filha.
“O apoio dela ajuda a diminuir a
tensão. Eu fico mais calma”, conta
Érika. E ela tem motivos para ficar
nervosa: está tentando uma vaga no
curso de medicina, um dos mais
concorridos. Cleide, que trabalha
com contabilidade e sonha em
fazer um curso na área, fez a prova
por dois motivos: “Quero pegar o
certificado de conclusão do ensino
médio e também usar a nota para
ingressar na universidade”.
O companheirismo das duas
não é só no dia da prova, mas
também ao longo de toda a
preparação, como conta Érika. “Eu
faço cursinho, mas ajudo minha
mãe em casa com as dúvidas dela
e, assim, estudamos juntas”, relata.
As duas fizeram a prova em uma
escola particular na Asa Sul e
moram no Lago Norte. “Sabemos
que tem trânsito, por isso, nós nos
organizamos para chegar mais
cedo”, ressalta. Mãe e filha
chegaram por volta de 11h da
manhã e foram de carro para evitar
qualquer estresse.
CORREIO BRAZILIENSE
25/10/15
CIDADES
Atualidades dominam
Candidatos que fizeram a prova
ontem destacaram os temas de
atualidade cobrados, entre eles a
crise
hídrica,
o
grupo
fundamentalista Estado Islâmico e
discussões sobre gênero. Havia
questões ainda que incluíram
pensadores como David Hume,
Karl Marx e Friedrich Nietzsche.
opinou. A falta de água, inclusive,
é a aposta do diretor para o tema
da redação de amanhã. “A redação
é o maior funil que existe para a
aprovação do candidato”, alerta.
“É um tema que pode ser abordado
com muita força, mas a redação é
uma antena social. É difícil saber
qual tema será.”
As questões de química foram
consideradas as mais difíceis pela
maioria e abordaram teoria de
química orgânica. Em física, os
candidatos encontraram itens sobre
aceleração, e a parte de biologia
abrangeu genética e citologia.
Larissa de Oliveira, 20 anos,
faz um curso técnico na área de
edificações e pretende usar a nota
do Enem para uma vaga no curso
de arquitetura. “Eu me preparei
com os conteúdos que achava mais
importantes. As questões de
química hoje (ontem) foram as
mais difíceis, mas respondi as
perguntas por etapas, para não
ficar muito cansativo. Amanhã
(hoje), espero uma prova mais
difícil, mas pretendo manter a
tranquilidade”, disse.
Ademar Celedônio, diretor de
ensino e de tecnologia educacional
do Sistema Ari de Sá, classificou
a prova da primeira parte do Enem
como eclética. “Isso demonstra que
o aluno precisa ter conhecimentos
que vão além do conteúdo”,
CORREIO BRAZILIENSE
25/10/15
CIDADES
COLÉGIO PRESBITERIANO MACKENZIE »
Ensino superior de qualidade no DF
O Colégio Mackenzie tem 145
anos de história no Brasil e, agora,
chega ao Distrito Federal como
universidade
Ciente da importância da
educação, o Colégio Presbiteriano
Mackenzie trabalha de forma a
valorizar valores éticos e morais.
Respeito, unidade e colaboração são
alguns dos princípios seguidos pela
instituição de ensino. Presente há 19
anos no Distrito Federal, a escola
cristã completa, neste ano, 145 anos
de história no Brasil. Na educação
básica, atua em Brasília, São Paulo
e Barueri. No ensino superior, está
em Higienópolis, Alphaville,
Campinas e Rio de Janeiro. A grande
novidade é que, no próximo ano, a
capital federal também fará parte
dessa lista.
Tudo começou em 1870, quando
um casal de missionários decidiu
interferir diretamente no ensino da
juventude. Mary Annesley e George
Chamberlain criaram a Escola
Americana, que logo obteve destaque
na cidade de São Paulo. A iniciativa
chamou a atenção da comunidade
pelas estratégias pedagógicas e pela
prática da inclusão social, étnica e
política. Daí em diante, teve início a
trajetória do Mackenzie. “As décadas
que encerraram o século 19 viram
surgir o Mackenzie College, com seus
primeiros cursos superiores de
filosofia, comércio e, principalmente,
a escola de engenharia”, lembra o
diretor-geral da instituição, Walter
Ribeiro, 61 anos.
que abrigam os câmpus. “O
programa promove a participação
social como forma de aprendizagem
e exercício da cidadania”, descreve
o diretor-geral. Em resumo, a ideia é
proporcionar aos voluntários a
convivência com as mais diversas
realidades sociais. O contato com
comunidades carentes favorece a
valorização do trabalho voluntário,
consolidando comportamentos e
atitudes solidárias.
Para se fixar no mercado
brasiliense, a escola busca oferecer
um atendimento personalizado a pais
e alunos. Como diferencial, a
instituição disponibiliza material
didático de excelência, segurança no
câmpus, ampla estrutura física, além
de turmas desde a educação infantil
até o ensino médio, robótica e
esportes. Fora isso, a unidade tem
laboratórios modernos e um histórico
de bons resultados em vestibulares,
PAS e Enem. “Contamos com
ambiente acolhedor e buscamos
estabelecer uma parceria família entre
aluno e escola”, detalha Walter.
Durante o ano letivo, uma série de
eventos possibilitam essa relação,
como Festa da Família, Feira Cultural
e Feira do Livro.
Internacional
O High School oferecido pelo
Mackenzie permite ao aluno estudar
disciplinas do currículo do ensino
médio americano, simultaneamente
ao do Brasil — sem a necessidade
de sair do país. O processo funciona
de maneira muito simples. Ao
concluir o curso, o estudante recebe
dois diplomas: um brasileiro e outro
americano. Partindo desse sistema de
ensino, o documento é emitido por
uma universidade americana, que
endossa e certifica o rigor dos
resultados alcançados pelo aluno ao
longo do currículo. “Ele sai
preparado para buscar as melhores
oportunidades no mundo acadêmico
e profissional”, orgulha-se Walter.
Desejando fazer a diferença na
sociedade, a instituição também é
protagonista em um projeto de
voluntariado. O Mackenzie
Voluntário foi implantado em 2004.
O objetivo é sensibilizar, mobilizar e
integrar gestores, colaboradores,
alunos e familiares em um movimento
de aproximação das comunidades
"As décadas que encerraram o
século 19 viram surgir o Mackenzie
College, com seus primeiros cursos
superiores de filosofia, comércio e,
principalmente, a escola de
engenharia”
Walter Ribeiro, diretor-geral do
Colégio Presbiteriano Mackenzie
CORREIO BRAZILIENSE
25/10/15
TRABALHO
EDUCAÇÃO INTERNACIONAL »
Para estudar na Suécia
Avaliada como a segunda
melhor educação superior do
mundo, o destino é boa opção
para pós-graduação %u2014 a
maior parte delas oferecidas em
inglês. Com o Ciência sem
Fronteiras, o país tem recebido
cada vez mais brasileiros
» ANA PAULA LISBOA
Quando alguém diz que vai
estudar na Suécia, é comum ouvir
“por quê?” Apesar de não ser um
destino popular entre brasileiros,
o local chama a atenção de quem
quer internacionalizar o currículo
pela grande quantidade de cursos
ministrados em inglês (só de
mestrado são mais de 900 com
duração de 1 ou 2 anos) e pelo fato
de oferecer a segunda melhor
educação superior do mundo —
atrás apenas dos Estados Unidos
— de acordo com a rede
Universitas 21. A pergunta deveria
ser, então, “por que não?”
Outros fatores se juntam à lista
de razões para escolher o país
escandinavo: ambiente propício à
inovação, cultura laica e com
liberdade de pensamento,
comunidade aberta a estrangeiros,
bom sistema de transporte,
segurança e alta qualidade de vida.
A capital, Estocolmo, é a maior
cidade universitária entre os
países nórdicos, com 80 mil
estudantes, dos quais 5 mil são
internacionais. O maior entrave
para brasileiros que escolhem
estudar no reino nórdico está no
alto custo.
Uma lei de 2011 estabeleceu
que o ensino superior só seria
gratuito para suecos e moradores
da União Europeia. A introdução
das taxas reduziu drasticamente o
número de estrangeiros nas
instituições — a Universidade de
Umeå, por exemplo, perdeu 90%
dos estudantes internacionais. A
ministra da Educação Superior da
Suécia, Helene Hellmark
Knutsson, revela que o governo
“está trabalhando para atrair
jovens de outros países”, já que a
internacionalização, segundo ela,
é essencial a um ensino de
qualidade. Bolsas de estudo são
um dos caminhos para isso (veja
quadro).
Universitários de diferentes
nacionalidades provam que é
possível vencer essa barreira. A
indonésia Alicia Nevriana, 24
anos, está no segundo ano do
mestrado em saúde pública no
Instituto Karolinska e diz que, com
um estilo econômico, dá para viver
muito bem. “A maior despesa é a
moradia, então é mais barato
procurar uma por meio da
universidade. Para economizar,
comparo
preços
entre
supermercados, cozinho em vez de
comer fora e compro roupas de
segunda mão. Vale a pena para ter
uma experiência única e uma
educação de qualidade.”
Ficou interessado na terra do
grupo ABBA? Então conheça três
faculdades especializadas e três
universidades que podem ser
ótimas opções.
Faculdades
Os alunos Matheus, do Brasil;
Huanling Lai, da China; Manjula
Bhuma, da Índia; e Alicia
Nevriana, da Indonésia
instituto Karolinska (KI)
Localização: Estocolmo
Foco: medicina e ciências da
saúde
Fundação: 1810
Corpo discente: 6 mil alunos de
graduação e mestrado, 2.071 de
doutorado e pós-doutorado
Equipe: 500 funcionários, dos
quais, 367 são professores
Informações: www.ki.se
Com 22 departamentos, é
responsável por mais de 40% da
pesquisa acadêmica médica da
Suécia. Professores da instituição
são responsáveis por escolher os
vencedores do Prêmio Nobel de
Medicina. “Temos apenas uma
faculdade, então temos excelência
nessa área — aparecemos em 48º
lugar no mundo e em 12º na Europa
(de acordo com o Academic
Ranking of World Universities)”,
conta Maria Grazia Masucci, vicechanceler
para
internacionalização. Matheus
Ravel Timo Barbosa é um dos 16
25/10/15
bolsistas do Ciências sem
Fronteiras (CsF) na instituição. No
geral, são alunos de graduação que
cursam matérias de mestrado, já
que são administradas em inglês.
Originalmente aluno de medicina
da Universidade de Brasília (UnB),
ele está na Suécia há um mês e
meio. “A troca de conhecimentos
com estudantes de todo o mundo é
muito rica. Voltarei para casa com
conhecimentos globais sobre
sistemas de saúde”, revela.
Aluno de engenharia Yuri é um
dos 35 bolsistas do Ciência sem
Fronteiras na instituição
Instituto Real de Tecnologia
(KTH)
Localização: Estocolmo
Foco: engenharia, tecnologia e
arquitetura
Fundação: 1827
Corpo discente: 15 mil
estudantes de graduação, 1,7 mil
pós-graduandos
Equipe: 4,9 mil funcionários,
dos quais mil são professores
Informações: www.kth.se/en
Todo ano, a maior e mais antiga
universidade técnica da Suécia
recebe mais de mil estudantes de
fora da União Europeia. Uma
vantagem da instituição é a
existência de parcerias com
empresas e indústrias. Eva
Malmström, vice-reitora, explica
a tática. “Os estudantes trabalham
com problemas reais e ganham
conexões no mercado de trabalho.”
Alunos e ex-alunos criaram
companhias como a plataforma de
comunicação Skype e os jogos
Minecraft e Angry Birds. Uma boa
notícia aos interessados em estudar
lá é que 35% das vagas são
destinadas a bolsistas. A
instituição, visitada pela
presidente Dilma Rousseff no
último fim de semana, conta com
35 estudantes do CsF este ano.
Entre eles, está Yuri Alexandre
Moraski, 21, aluno de engenharia
elétrica na Universidade Federal
do Paraná (UFPR), que se
interessou pelo país depois de
estagiar na Volvo. “O aprendizado
é muito prático. Sem contar que
viver aqui é muito bom, a
qualidade de vida é ótima, e tem
floresta em todo lugar.”
Getulio Vargas. Foi lá que se
graduou Diana Pires, 24, que
conseguiu uma bolsa para estudar
mestrado em administração. “É
muito bom estudar aqui, mas
conseguir emprego é difícil.
Mesmo que todo mundo fale
inglês, aprender sueco é
importante”, percebe. A maior
diferença cultural, segundo Diana,
está na postura mais fechada dos
nativos. “Eles são educados e
simpáticos, mas todo mundo se
cumprimenta com aperto de mão,
nada de beijinho!”
Mestranda em administração,
Diana percebe diferenças culturais
entre os países
Universidades
Nimish Godble, aluno de
mestrado da universidade mais
antiga da Suécia
Escola de Economia de
Estocolmo (HHS)
Localização: Estocolmo
Foco: economia, administração,
marketing, humanidades e artes
Fundação: 1909
Corpo discente: 1.800 alunos
Equipe: 100 funcionários e 120
professores
Informações: www.hhs.se
Na melhor escola de negócios
do norte da Europa, todos os
programas de mestrado são
oferecidos em inglês. Com
parcerias com mais de 110
empresas, a faculdade mantém uma
incubadora de empresas. “Vários
de nossos alunos abrem o próprio
negócio. É um ambiente
intelectualmente vibrante, com boa
reputação. O que buscamos nos
estudantes são pessoas ambiciosas
com vontade de fazer mudanças no
mundo”, explica o reitor Lars
Strannegard. No Brasil, a única
instituição parceira é a Fundação
Universidade de Uppsala
Localização: Uppsala (140 mil
habitantes)
Foco: direito, linguagens, artes,
ciências educacionais, medicina,
farmácia, ciência e tecnologia,
ciências sociais e teologia
Fundação: 1477
Corpo discente: 45.354 alunos
e 2.848 de doutorado e pósdoutorado
Equipe: 1.534 professores
Informações: www.uu.se
A primeira universidade da
Suécia foi fundada para ensinar
teologia e, com o tempo, expandiu
o escopo de atuação para diversas
áreas do conhecimento; 40
mestrados e mais de 800
disciplinas livres são oferecidos
em inglês. A cidade cresceu com a
universidade, e um dos fortes da
comunidade são as “nações
estudantis”. Essas associações de
universitários são comuns na
Suécia: os discentes pagam uma
25/10/15
mensalidade e, em contrapartida,
tem desconto para almoço,
participam de palestras, festas e
outros eventos. A instituição abriga
1,6 mil estudantes de intercâmbio,
além de diversos professores
estrangeiros, como a indiana
Suparna Sanyal, diretora do
mestrado em biotecnologia
aplicada. “Apesar de antiga,
Uppsala junta tradição e
modernidade.” O indiano Nimish
Godble, 25, mestrando em saúde
global, avalia a experiência
positivamente. “Tem sido um dos
melhores períodos da minha vida.
A qualidade do ensino é alta, e a
vida universitária é muito intensa.”
Universidade de Lund
Localização: Lund (110 mil
habitantes),
Foco: engenharia, tecnologia e
arquitetura
Fundação: 1666
Corpo discente: 42 mil alunos
Equipe: 7.680 funcionários
Informações: www.lu.se
A 60ª melhor do mundo
segundo o QS ranking e a segunda
mais antiga da Suécia, a
Universidade de Lund tem
estudantes de mais de 130 países
e parcerias com instituições de 70
nações. A cidade fica no sul do
país e é considerada uma das
melhores para estudantes, com um
clima mais ameno. O custo total de
um programa de estudo varia de
SEK 100 mil a SEK 200 mil, mas
30% das bolsas oferecidas pelo
Sweedish Institute são destinadas
a Universidade de Lund. A
instituição gira em torno da
pesquisa, e 2/3 do orçamento é
destinado a essa finalidade. Por
causa disso, estudantes são
estimulados
a
fazerem
experimentos e invenções. O
estudante sueco Kent Ngo, por
exemplo, criou frutas em pó com
grande prazo de validade para
ajudar a erradicar a fome no
mundo. Aluno de engenharia de
produção da Universidade
Estadual Paulista (Unesp), Dante
Padilha Uvo, 24, estuda gestão de
cadeia de suprimentos em Lund e
se sente muito acolhido. “Estou
aqui há um mês e tenho amigos.
Quero tentar estagiar numa
empresa sueca, e estou me
dedicando aos estudos”, diz o
bolsista do CsF. Depois de ter feito
intercâmbio na instituição com
bolsa do governo federal, Hélio
Munhoz, 22, graduado em
arquitetura pela UFPR, conseguiu
emprego em Kopenhagen, na
Dinamarca, que fica a apenas 40
km de Lund. “O custo de vida é
praticamente o mesmo, e essa
experiência me abriu muitas
portas.” Mestre em arquitetura,
Gisele Paiva Nilsson, 33, foi a
primeira brasileira a estudar na
instituição. “Eu era aluna de
graduação da UFRJ e queria fazer
intercâmbio aqui. Mandei vários
e-mails, batalhei muito. Como não
havia parceria, diziam que era
impossível, mas consegui. Depois
voltei para fazer mestrado”,
lembra. Hoje, ela trabalha num
escritório de arquitetura.
Universidade de Umeå
Localização: Umeå (117 mil
habitantes)
Foco: arquitetura, design,
negócios e economia, artes,
pedagogia,
gastronomia,
tecnologia e educação física
Fundação: 1965
Corpo discente: 31.506
estudantes
Equipe: 4.335 funcionários e
2.035 professores
Informações: www.umu.se
Classificada como a melhor da
Suécia e a terceira da Europa no
International Student Barometer,
que leva em conta a opinião de
estudantes estrangeiros, a
universidade tem 8% do corpo
discente formado por estrangeiros
e 32 programas em inglês (30 deles
de mestrado). “Ficamos a duas
horas do Círculo Polar. Os
estudantes que vêm para cá
aprendem a gostar da neve, e há
intensas atividades em qualquer
período do ano”, conta Greg Neely,
diretor do escritório internacional.
Um dos atrativos da cidade é o
centro de esportes, em que
qualquer um pode se exercitar
pagando uma mensalidade
acessível — foi lá que a jogadora
de futebol Marta começou a
carreira. A universidade recebe 34
alunos do Ciência sem Fronteiras
e outros quatro brasileiros em
2015. Adriele Pradi, 25, e
Madyana Torres, 24, se
apaixonaram pelo país nórdico.
“Vejo a aurora boreal da janela da
minha casa”, conta Adriele, que faz
mestrado em desenvolvimento de
negócios e internacionalização.
“Consegui bolsa de estudos, mas
ainda tenho que bancar meus
custos. Dá para viver com menos
da metade das 8 mil coroas suecas
que exigem por mês para o visto.
Basta saber administrar: cozinho
em casa e ando só de bicicleta”,
conta a jovem natural de Jaraguá
do Sul (RS). Mestranda em design
de interação, Madyana veio para
25/10/15
Umeå depois de ter estudado no
local pelo Ciência sem Fronteiras
em 2013. “Consegui aproveitar as
matérias e, agora, vou ficar um ano
para completar o mestrado. Adoro
estudar aqui. É um ambiente
acolhedor, em que se preocupam
muito com sua saúde mental e com
seu bem-estar.”
Custo de vida mensal
Acomodação - SEK 3,2 mil
Comida - SEK 2,3 mil
Taxa de associação de
estudantes e livros - SEK 500
Viagens locais - SEK 500
Lazer - SEK 500
Roupas - SEK 450
Telefone, internet, TV, jornal SEK 300
Produtos de higiene - SEK 250
Total: SEK 8 mil* (cerca de R$
3.692)
*Estudantes de fora da União
Europeia precisam comprovar ter
SEK 8,1 mil por mês para se
manter
Fonte: Sweedish Institute
Mercado de trabalho
Estudantes internacionais
podem trabalhar. Depois do fim do
curso, têm seis meses para arranjar
emprego (que permite a concessão
de visto de trabalho).
Oportunidades de bolsa
Toda universidade sueca
oferece bolsas de estudo
diretamente na instituição e é
possível conferir informações no
site de cada uma. Além disso, o
Sweedish Institute fornece outras
oportunidades que podem ser
acessadas
pelo link: eng.si.se.
A jornalista viajou a convite do
Sweedish Institute
JORNAL DE BRASÍLIA
25/10/15
BRASIL
MEC atrasa verba para escolas públicas
25/10/15
FOLHA DE SÃO PAULO
24/10/15
TENDÊNCIAS & DEBATES
Nova lei que limita meia-entrada e torna
carteirinha obrigatória beneficia estudantes?
Sim
Direito na mão de quem tem direito
Carina Vitral
"Você não sabia? A meia é a
nova inteira e a inteira é o novo
dobro." Assim ocorre o diálogo
entre a atendente de um cinema e
um espectador que tenta comprar
um ingresso. São dois personagens
do vídeo "Meia", do grupo de
humor Porta dos Fundos, que
revela a tragicomédia em que se
transformou a meia-entrada nos
últimos 15 anos.
A enxurrada de falsas
"carteirinhas" e de falsos
estudantes, a confusão de
diferentes regras estaduais e
municipais, o sobrepreço e até
subterfúgios como a "meia para
todas as categorias" pintam o
quadro da desmoralização e
banalização de um direito legítimo
e fundamental para os estudantes.
A UNE (União Nacional dos
Estudantes) batalhou por décadas
pela criação dessa legislação e
compreende que a cultura e o
esporte são instrumentos
essenciais de complementação da
formação educacional, do
desenvolvimento crítico e da
cidadania da juventude.
Agora, o cenário começa a
mudar com a aprovação e
regulamentação da lei federal nº
12.933/2013, que passará a valer
a partir de 1º de dezembro de
2015. Pela primeira vez, a meia
será regida por regras claras em
todo o território nacional.
A relação do movimento
estudantil com a cultura tem marcos
importantes desde os anos 1960,
com o CPC (Centro Popular de
Cultura) e o cinema novo. E se
mantém até hoje, por meio da rede
do Cuca (Circuito Universitário de
Cultura e Arte) e bienais da UNE.
A ditadura militar tirou direitos
e colocou na ilegalidade as
entidades estudantis. Somente
após a reorganização do
movimento, nos anos 1980,
começaram a surgir as leis de
retomada da meia-entrada.
Entretanto, a perseguição não
aconteceu somente no período
ditatorial. Um grande retrocesso
tomou a cena em 2001 com a
medida provisória 2.208, uma
clara tentativa de atacar o
movimento estudantil. A medida
permitiu a empresas e associações
emitirem carteirinhas, alimentou
uma verdadeira máfia no setor,
mercantilizou um direito e golpeou
diretamente as entidades
representativas dos estudantes.
Produtores, artistas e estudantes
passaram então a discutir a
elaboração de novas regras para
combater a confusão e a falta de
credibilidade no direito à meia.
Fruto desse movimento, a nova lei
pactua uma relação entre o setor
cultural e a rede da economia da
cultura.
Acabaram as falsas carteiras e
os falsos estudantes. Agora, haverá
um padrão nacional definido pelas
entidades estudantis –UNE, UBES
(União Brasileira dos Estudantes
Secundaristas)
e
ANPG
(Associação Nacional dos PósGraduandos)–, o que facilitará a
fiscalização. O documento também
será confeccionado pelas uniões
24/10/15
estaduais e municipais, centros
acadêmicos,
diretórios
acadêmicos e diretórios centrais
dos estudantes.
Acabou também o argumento de
que os eventos são caros por conta
da confusão no acesso à meia.
Estaremos
vigilantes
no
cumprimento da reserva de pelo
menos 40% de ingressos de meiaentrada por evento –antes a
garantia era de 0%–, exigindo os
relatórios que a própria lei nos
assegura supervisionar.
Portanto, os produtores
culturais podem agora diminuir o
valor total dos ingressos, como já
anunciaram alguns representantes
do setor que estimam redução de
20%. Lutaremos para que isso
aconteça.
Dessa forma, a nova lei
beneficiará a todos, estudantes e
não estudantes, e incentivará
também a formação de público ao
promover nos mais jovens o
interesse
em
frequentar
espetáculos teatrais e de música,
cinemas e estádios.
Cabe agora ao poder público e
à sociedade civil fiscalizar o
cumprimento da legislação em
todo o país. Assim, ao retornar para
as mãos de quem tem direito, a
meia voltará a ser meia de verdade.
CARINA VITRAL, 26,
estudante de economia da PUC-SP,
é presidenta da UNE - União
Nacional dos Estudantes
FOLHA DE SÃO PAULO
24/10/15
TENDÊNCIAS & DEBATES
Nova lei que limita meia-entrada e torna
carteirinha obrigatória beneficia estudantes?
Não
Meia-entrada sem meias palavras
Luis Sobral
Em 2001, ainda como
representante estudantil, me
incomodei com o monopólio da
produção descontrolada de
carteiras de estudantes pela UNE
e contestei seu monopólio com um
pequeno grupo. Fomos atendidos
pela medida provisória 2.208/
2001.
O texto da MP, sobre
comprovação da qualidade de
estudante como condição de
acesso à meia-entrada, foi
aprovado e derrubou a reserva de
mercado, consolidando a
democratização do acesso à
cultura para quem mais precisava.
de sustentação política e de
sobrevivência, decretou a
regulamentação do direito à meiaentrada –com dois anos de atraso,
diga-se–, obrigando os jovens a
adquirir a CIE (Carteira de
Identidade Estudantil), mais um
documento da série que o
brasileiro é obrigado a ter em
pleno século 21.
Agora, um jovem aos 18 anos
em plena formação intelectual, mas
que, por falta de oportunidade,
tenha interrompido os estudos, teve
seu direito de acesso à cultura
extinto pela presidente Dilma por
meio do decreto federal nº 8.537/
2015. Isso não aconteceria se fosse
estabelecido o critério de idade
como garantia de acesso.
Não bastasse retornar ao século
passado, quando a emissão dos
documentos de identificação
estudantil era centralizada pela
UNE, a nova legislação limita a
meia-entrada a uma cota de 40%
dos ingressos disponíveis para
cada evento.
Em segundo lugar, a descabida
proliferação de beneficiários
elevou os preços, resultando na
máxima "tudo pela metade do
dobro". Ocorreu, portanto, a
maximização de preços ao longo
dos anos, uma vez que 3 a cada 4
ingressos são adquiridos pela
meia-entrada, por meio de algum
tipo de benefício.
Há dois anos, porém, o Estatuto
da Juventude retomou esse debate
e, por infelicidade, encerrou
aquela conquista universal que não
exigia a filiação associativa a uma
entidade que pouco representa a
classe.
Há mais uma flexibilização
esperta: o limite deverá ser
respeitado até 48 horas antes do
evento, o que significa que a partir
dali os ingressos serão vendidos
pelo preço inteiro.
Agora, com a maior crise
econômica brasileira já vivida
pelas presentes gerações, a
presidente da República, em busca
Muitas coisas estão fora do
lugar. A primeira delas é o fato de
tratarmos equivocadamente o
direito de acesso à cultura.
Nesse contexto, a demanda de
grandes grupos promotores e
proprietários de equipamentos
culturais pela redução de
beneficiários foi atendida, mas
atingiu quem mais deveria ter o
direito: o jovem de até 29 anos,
faixa etária abrangida pelo Estatuto
da Juventude.
24/10/15
Em terceiro lugar, o momento
da decisão não poderia ser pior. A
crise econômica, a inevitável
diminuição de recursos para a área
cultural e a evidente diminuição de
público farão com que todos
percam.
Nem os preços se ajustarão para
baixo, dados a desconfiança
econômica, a inflação e o silêncio
do mercado, e tampouco aqueles
que perderão o benefício, pela
lógica da trava de 40%, pagarão
valores inteiros.
Arrisco dizer que assistiremos
à mais acentuada queda de público
em eventos culturais dos últimos
tempos. Subtraída a ansiedade da
geração jovem e tecnológica que
tem necessidade de viver o minuto
como se fosse uma década, não há
o que substitua o tempo perdido às
oportunidades de formação
cultural.
Haverá quem diga que isso será
passageiro, que tudo se corrigirá
e voltará ao normal. Aqueles que
vociferarem
essa
tolice
provavelmente tiveram seus
direitos de acesso à cultura
cassados na sua juventude.
LUIS SOBRAL, 37, é diretorexecutivo da Apaa - Associação
Paulista dos Amigos da Arte e foi
secretário-adjunto da Secretaria de
Estado da Cultura de São Paulo
(2011 e 2012)
FOLHA DE SÃO PAULO
24/10/15
MERCADO
O ESTADO DE S. PAULO 24/10/15
METRÓPOLE
24/10/15
O ESTADO DE S. PAULO 24/10/15
METRÓPOLE
24/10/15
O ESTADO DE S. PAULO 24/10/15
METRÓPOLE
O ESTADO DE S. PAULO 24/10/15
METRÓPOLE
CORREIO BRAZILIENSE
24/10/15
Risco de inundação suspende
Enem em Santa Catarina
Cinco locais de prova do
Exame Nacional do Ensino Médio
em Santa Catarina não realizarão
a avaliação neste fim de semana,
devido a condições climáticas.
Mais de 4 mil alunos com as
provas agendadas em duas
instituições no município de Rio
do Sul e em três instituições de
Taió terão as provas suspensas.
Em entrevista coletiva, o ministro
da Educação, Aloizio Mercadante,
ressaltou que não existem
condições físicas para que a
avaliação aconteça na data
programada. “A casa desses
participantes está inundada. É uma
situação muito difícil. Não faz
sentido expor esses estudantes a
fazer
provas
nessas
circunstâncias”, disse. Os
estudantes afetados devem realizar
o exame até a primeira semana de
dezembro.
BRASIL
CORREIO BRAZILIENSE
24/10/15
OPINIÃO
Mais literatura nas provas
ARNALDO NISKIER
Membro da Academia
Brasileira de Letras, da Academia
de Letras de Brasília e presidente
do CIEE/RJ
recentes apontam uma diminuição
gradual das questões de literatura
nos últimos anos (com exceção de
2012). E há pouca presença em
história da literatura brasileira,
assim como a concentração em
determinados períodos históricos
e movimentos literários”.
A iniciativa foi da deputada
Maria do Rosário (PT/RS): a
realização de audiência pública
para debater a situação da leitura
e do ensino de literatura na
educação básica, particularmente
no ensino médio. Assim,
especialistas de diversos setores
se reuniram no Anexo 2 da Câmara
dos Deputados. Sob a inspiração
da Comissão de Educação, com o
apoio também da deputada
Margarida Salomão (PT/MG),
foram apresentadas e discutidas
sugestões por parte do escritor
Luís Augusto Fischer, de Zoara
Failla (Instituto Pró-Livro), de
Germana Maria Araújo Sales
(Abralic), de Adelaide Ramos e
Côrte (Conselho Federal de
Biblioteconomia), de Volnei
Canônica (Ministério da Cultura),
de Ricardo Magalhães Cardozo
(MEC) e do autor destas linhas,
representante da Academia
Brasileira de Letras. Tudo com
base em texto preliminar,
elaborado pela deputada Maria do
Rosário, em que ela afirma
lamentar a redução do número de
leitores no Brasil e o Enem tem
importância crescente: “Estudos
No momento que o Brasil
discute uma Base Nacional
Comum Curricular, a Comissão de
Educação da Câmara dos
Deputados decide promover
debates sobre o tema, o que é
bastante auspicioso. O escritor
gaúcho Luís Augusto Fischer
condenou a concentração de
questões em determinados autores
e sugere aproveitar a discussão em
torno da BNC para elaborar
propostas de renovação. Além
disso, propôs leituras renovadas no
Enem. Zoara Failla, do Instituto
Pró-Livro, mostrou que houve
redução de 7 milhões de leitores
em cinco anos corridos. Por outro
lado, as mulheres assumiram a
liderança dos índices de leitura.
A especialista Germana Araújo
Sales reclamou da redução do
espaço da literatura no Enem e
Volnei Canônica, do Ministério da
Cultura, entende que o professor é
o principal vetor de acesso ao
livro. Pedimos a palavra para
argumentar que no Japão essa
responsabilidade também é dos
pais: “Toda noite, o pai ou a mãe
lê o capítulo de um livro para o
filho, entronizando nele o gosto
pela leitura”. Ricardo Magalhães
Cardozo, da Secretaria de
Educação Básica do MEC, entende
que a atual discussão sobre a BNC
é excelente oportunidade para
corrigir essas distorções. O mesmo
podendo ser dito sobre o Sistema
Nacional de Educação, que deve
ser muito valorizado.
Há necessidade de maior
entendimento com o Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacional (Inep), ao qual
incumbe a montagem das questões
do Enem. Não deve se deixar levar
pelas
divergências
entre
gramáticos e linguistas. Assim
estará mais disponível para
valorizar a literatura, como é o
desejo de todos. Outro problema
relevante é a qualidade da
alfabetização, a partir dos
primeiros anos do ensino
fundamental. Hoje, é comum a
criança chegar ao 4º ano sabendo
escrever, mas não compreendo
adequadamente o que lê. Isso influi
no conjunto dessa etapa essencial.
Melhorar a formação dos
professores é tarefa fundamental.
Fizemos questão de externar
nossos pontos de vista. Primeiro
revelando que nos falta clara
definição sobre o que se entende
por Política Nacional de
Educação. Colocamos a Academia
Brasileira de Letras à disposição
dos interessados para transmitir a
24/10/15
sua experiência sobre projetos de
defesa da língua portuguesa e
valorização da cultura nacional,
conforme, aliás, consta do artigo
1o do seu pétreo Estatuto, assinado
por Machado de Assis. Aliás,
sobre o patrono da ABL,
praticamente todos os oradores da
eficiente audiência pública
confessaram sua convicção de que
nenhum jovem estudante de ensino
médio pode completar seus
estudos sem conhecer plenamente
as obras do Bruxo do Cosme
Velho.
CORREIO BRAZILIENSE
24/10/15
CIDADES
CRISE NO GDF »
Reajuste do servidor em outubro de 2016
Rodrigo Rollemberg: "Só não estamos pagando (agora) por
total impossibilidade"
Calendário divulgado ontem
pelo governador Rodrigo
Rollemberg deixa para o fim do
próximo ano o pagamento dos
reajustes concedidos pelo
governo Agnelo Queiroz.
Definição revolta sindicalistas,
que mantêm as greves, apesar de
declaradas ilegais
» MATHEUS TEIXEIRA
» JOÃO GABRIEL AMADOR
Especial para o Correio
O governador Rodrigo
Rollemberg (PSB) anunciou ontem
o calendário de pagamento dos
reajustes concedidos pelo governo
Agnelo Queiroz. Segundo o
cronograma determinado pelo
GDF, os servidores públicos
perceberão as mudanças no
contracheque a partir de outubro
de 2016. O socialista pediu
compreensão e afirmou que “a
capital deve ser a única unidade
da Federação a aumentar salarial
em meio à crise”. “Só podemos
garantir os aumentos, com
responsabilidade, para outubro.
Todos sabem as dificuldades em
que vivemos. Escancaramos as
contas públicas, os sindicatos
podem designar especialistas para
acompanhas os números. Só não
estamos pagando por total
impossibilidade”,
afirmou
Rollemberg. A situação revoltou os
sindicalistas.
O governador chegou cedo para
a coletiva, por volta das 8h,
acompanhado do chefe da Casa
Civil, Sérgio Sampaio, e do
secretário adjunto de Fazenda, José
Antônio Fleury. O chefe do
Executivo local comentou sobre o
dia cinzento. “A chuva chegou para
renovar as energias”, disse. Os
auxiliares ficaram sentados à mesa
com o governador, mas não
conversaram com a imprensa: o
socialista fez questão de passar
todas informações e detalhar a
situação financeira do GDF a fim
de explicar o motivo da suspensão
dos reajustes.
Logo nas primeiras palavras,
Rollemberg recordou a situação
em que pegou o governo no início
do ano. “Assumimos o GDF com
13º, horas-extras e outros
benefícios
atrasados.
Comprometemo-nos e pagamos
tudo como havíamos prometido”,
ressaltou. E lembrou do rombo nas
contas públicas. “Peguei o governo
com um deficit de R$ 3 bilhões,
mais um buraco de R$ 3 bilhões
no orçamento deste ano, perfazendo
um rombo de R$ 6 bilhões. Mesmo
assim, chegamos a outubro com os
salários em dia”, destacou.
Sobre começar a pagar os
reajustes no fim do ano que vem, o
governador explicou que precisou
de coragem para chegar a essa
proposta. “De acordo com
informações das secretarias da
24/10/15
Fazenda e Planejamento,
deveríamos implementar os
reajustes apenas em janeiro de
2017”, revelou. A todo momento,
porém, ele lembrou que só será
possível depositar os aumentos em
outubro, caso as matérias do
Executivo sejam aprovadas na
Câmara Legislativa. “Estamos
assumindo gastos contínuos. E
muitos projetos nossos só garantem
recursos para o ano que vem, como
a venda de imóveis. Não
representam uma arrecadação
contínua.”
Rollemberg disse confiar na
aprovação dos projetos na
Câmara, mas lembrou que sofreu
derrotas na Casa (leia reportagem
na página 26). “É importante
lembrar que, desde que
suspendemos o reajuste, algumas
matérias que garantiriam
arrecadação continuada foram
recusadas na Casa, como as
alterações na Contribuição de
Iluminação Pública, na Taxa de
Limpeza Pública e no IPTU”,
recordou. Sobre pagar retroativo,
ele rechaçou a possibilidade: “Não
conseguimos. Como governador,
adoraria implantar os aumentos já
neste ano, mas estamos agindo com
responsabilidade”.
Assembleias
Mesmo que a Justiça tenha
decretado a ilegalidade dos
movimentos da saúde e da
educação, os profissionais
decidiram continuar a paralisação
Servidores da educação se reuniram na Praça do Buriti logo após
o anúncio cronograma: mais protestos
após o anúncio do GDF. Das 32
categorias, apenas a carreira
socioeducativa decidiu retornar
aos trabalhos. Na Praça do Buriti,
500 servidores da educação,
segundo a Polícia Militar — ou 5
mil, de acordo com a organização
do evento —, reuniram-se para
debater os rumos da greve, iniciada
no último dia 15. Além das queixas
sobre a falta de diálogo, o atraso
dos reajustes salariais causou
revolta. “Esse anúncio é uma
provocação. Só servirá como
motivo para intensificarmos a
luta”, discursou Cláudio Antunes,
diretor do Sindicato dos
Professores (Sinpro).
Pouco tempo após o término da
assembleia dos professores, foi a
vez de os servidores da Saúde se
manifestarem. Por volta das 14h,
cerca de 450 funcionários da rede
pública tomaram o auditório da
Confederação Nacional dos
Trabalhadores da Indústria para
analisar a greve, iniciada em 8 de
outubro. “Não houve conversa ou
proposta. Eles (governo) acham
que pagar os salários é suficiente.
É preciso manter o movimento
para entenderem que estão tirando
um direito nosso”, queixou-se a
presidente do Sindicato dos
Empregados em Estabelecimentos
de Serviços de Saúde do DF
(SindSaúde), Marli Rodrigues.
Para a próxima semana, diversas
assembleias estão marcadas. A do
Sindicato dos Servidores da
Assistência Social e Cultural do
DF será na quinta-feira.
24/10/15
CORREIO BRAZILIENSE
24/10/15
CIDADES
CRISE NO GDF »
Distritais recuam diante da pressão
Sociedade de Abastecimento de
Brasília (SAB) e a negociação de
13 terrenos da empresa e a
alteração nas poligonais do Parque
Ecológico Ezechias Heringer para
desapropriar e colocar em leilão
uma área vizinha ao ParkShopping
dariam a chance de arrecadar, por
exemplo, mais de R$ 700 milhões.
Pressão diante da Câmara: deputados devem colocar em pauta
só projetos que não aumentam a arrecadação
Com a insatisfação dos
sindicatos
grevistas,
parlamentares descumprirão
acordo feito com o Executivo
local para votar, na próxima
terça-feira, os projetos de
aumento da receita. O governo,
no entanto, acredita que ainda
pode sensibilizar os deputados
» GUILHERME PERA
Pressionados por sindicalistas,
os distritais mudaram o discurso.
Um acordo entre integrantes do
GDF,
parlamentares
e
representantes das categorias em
greve, firmado há 48h, dava como
certa a votação de sete projetos do
Executivo na próxima terça-feira.
Após a repercussão do cronograma
de pagamentos dos reajustes
salariais, porém, o clima entre os
deputados é de não colocar as
matérias do governo em pauta. Sem
uma base consolidada na Casa, o
governador Rodrigo Rollemberg
(PSB) deve marcar novas
conversas com os parlamentares.
A presidente da Casa, Celina
Leão (PDT), disse que a semana
que vem será marcada por um
“reinício nas negociações”. Até
então, a ideia era aprovar, na
primeira sessão da semana,
projetos que poderiam render
recursos a mais para os cofres
públicos. A venda de 32 imóveis
do GDF, a liquidação da
Agora, apenas um consórcio
entre cinco unidades federativas,
conhecido como Brasil Central,
deve ser posto em votação. A
proposição daria ao Banco de
Brasília (BRB) as condições para
poder administrar o Fundo
Financeiro Constitucional do
Centro-Oeste (FCO). Projetos
como Código de Obras,
impermeabilização e Relatório de
Impacto de Trânsito (RIT) também
devem entrar na pauta da Câmara.
“O acordo era dar o fim à greve
antes de votar. Ficou difícil e virou
uma loucura”, afirmou Celina. “O
telefone não para de tocar, seja por
parlamentares,
seja
por
representantes sindicais. O
descontentamento está grande.
Devemos nos reunir na terça-feira
para recomeçar as negociações”,
explicou a distrital.
Apesar do clima negativo, o
secretário adjunto de Relações
Institucionais, Igor Tokarski, disse
que, na segunda-feira, haverá
muitas conversas, e a ideia será
“sensibilizar os distritais”. “Há
projetos a apresentar, e os
24/10/15
deputados ainda não conhecem o
teor de algumas matérias. A partir
de segunda, detalharemos e vamos
levar números à Câmara
Legislativa para mostrar a
importância da aprovação”,
revelou o responsável do GDF
pelas negociações com os
distritais.
“Inabilidade”
Três líderes de blocos na
Câmara — Chico Vigilante, do PT;
Wellington Luiz, do PMDB; e
Bispo Renato Andrade (PR), da
Maioria — haviam assinado um
comunicado de obstrução a todos
os projetos de interesse do
Executivo, enquanto não houvesse
avanço nas negociações. Como os
calendários não agradaram, o trio
segue o mesmo discurso: pouca
pressa para aprovar medidas que
aumentem a receita do DF.
O trio não economiza críticas
ao GDF. “Mais uma vez, o governo
mostra uma inabilidade sem
tamanho. A depender de mim, não
se vota nada na próxima semana”,
disse Wellington. “Está faltando
seriedade ao governo para
negociar, falei para (o governador)
Rollemberg conversar com cada
sindicato para saber as
prioridades, e isso, claramente,
não aconteceu. Como é só em
outubro de 2016, podemos votar
projetos de aumento de receita no
ano que vem”, defendeu Vigilante.
“Ainda não conversei com os
sindicalistas, mas tenho certeza de
que essa data deve impedir os
andamentos”, completou Bispo
Renato.
CORREIO BRAZILIENSE
24/10/15
CIDADES
EDUCAÇÃO »
Enem mobiliza 160 mil no DF
Hoje e amanhã, estudantes
enfrentam maratona de provas
para ingressar na universidade.
Fique atento aos detalhes de
última hora
» Alessandra Oliveira
Especial para o Correio
Yan Mateus aproveitou o aulão
de ontem para revisar química, seu
ponto mais fraco
Chegou o tão esperado dia para
mais 7 milhões de estudantes
inscritos no Exame Nacional do
Ensino Médio. No Distrito
Federal, 160 mil candidatos estão
aptos a fazer as provas, hoje e
amanhã. A grande procura fez do
Enem o segundo maior exame de
acesso ao ensino superior do
mundo. Ficando atrás apenas do
Gaokao, realizado na China, que
superou 9 milhões de inscritos.
A corrida para fazer o exame
ocorre por ele ser um facilitador
de acesso às universidades
públicas e às privadas, por meio
de programas do governo, como o
Sisu (Sistema de Seleção
Unificada), o ProUni (Programa
Universidade para Todos), o Fies
(Fundo de Financiamento
Estudantil), entre outros. Renan
Barros, 17 anos, está por dentro
dos benefícios da prova e já se
organizou para, assim que sair o
resultado, tentar uma vaga no curso
de medicina ou direito, por meio
do Sisu. “Acho que o Enem
facilitou a entrada dos estudantes
na universidade, porque abrange o
país todo. Diversificou as
oportunidades.”
Para o professor de geografia
Paulo Macedo, estudar, neste
momento, só pode resultar em
ansiedade. “Se o aluno resolve dar
uma revisada e descobre que há um
conteúdo de que não se lembra,
isso vai causar angústia. É preciso
pôr na cabeça que o momento de
preparação já passou.” O ideal
mesmo é “não acordar em cima da
hora da prova, dar uma caminhada
para despertar o organismo e se
organizar para chegar na hora”.
O Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep) recomenda que o
estudante chegue ao local da prova
até o meio-dia, pois os portões
fecham, rigorosamente, às 13h.
Para os alunos que vão em
transporte público ao local da
prova, é importante ficar de olho
nos horários. As frotas do DFtrans
serão reforçadas nos dois dias do
exame. A operação se dará nas
linhas circulares das regiões
administrativas, principalmente
nas que vão para o Plano Piloto, e
que passam por locais onde estão
concentradas as instituições de
ensino nas asas Sul e Norte (L2,
L4 e W3). O metrô, porém, não
ampliará o número de trens nem o
horário. Hoje, funcionará das 6h
às 23h30 e, amanhã, das 7h às 19h.
Aulão
Mais de mil estudantes da rede
pública do DF lotaram o auditório
do Colégio Militar de Brasília. Os
alunos aproveitaram a tarde de
ontem, um dia antes do Enem, para
rever o conteúdo das provas. O
aulão contou com estudantes de
escolas públicas do Plano Piloto,
do Cruzeiro e de Ceilândia.
As aulas foram ministradas
voluntariamente por professores de
escolas particulares e cursinhos.
Com essa chance, os estudantes
aproveitaram para tirar todas as
dúvidas. Yan Mateus, 17 anos,
estuda no Setor Leste e foi ao aulão
com o intuito de prestar toda a
atenção na revisão de química,
matéria em que tem mais
dificuldade. “A maior vantagem
desse aulão é porque os
professores ensinam a estrutura da
prova do Enem, que é única, e eu
não conhecia bem.” O aluno do
terceiro ano quer entrar no curso
de relações internacionais.
24/10/15
E não foram só alunos do ensino
médio que aproveitaram a tarde.
Isabela Castilho, 18, concluiu o
ensino médio no ano passado, no
Colégio Militar, mas precisa
continuar atenta às matérias porque
ainda não conseguiu ingressar no
curso de nutrição. “Eu vejo esse
dia como um bônus, uma forma a
mais de fixar o que eu preciso, e
compreender melhor o conteúdo.”
Atenção
Veja hoje à noite, no site do
Correio, o gabarito extraoficial do
Enem, elaborado pela equipe de
professores do Sistema Ari de Sá.
Essas respostas também estarão
disponíveis na edição de domingo
do jornal.
CORREIO BRAZILIENSE
24/10/15
CIDADES
Tempo precioso
O Inep disponibiliza 270
minutos para responder as 90
questões e preencher o gabarito.
Para o coordenador do prévestibular do Galois, Paulo Perez,
o estudante deve reservar, no
máximo, 2m30 por questão para
que sobre tempo para ir ao
banheiro e marcar o gabarito com
calma. “É importante que o
estudante foque nas questões mais
fáceis para que sobre tempo para
as mais difíceis”, acrescenta o
professor de matemática Pedro
Nakamura.
No domingo, a prova tem uma
hora a mais e todos os professores
são unânimes: é necessário
reservar essa hora apenas para a
redação. É preciso atenção para
marcar o gabarito. Só é permitida
caneta de cor preta, e toda a
bolinha que compreende a
alternativa escolhida deve ser
preenchida. Caso o estudante
marque um item diferente do
caderno da prova, não adianta
remarcar a correta. A questão será
anulada.
O que comer?
Como o Enem começa no
horário do almoço, o ideal é fazer
a refeição às 11h, mas a preparação
deve vir desde o café da manhã,
orienta a nutricionista Elisa
Goulart. “O café deve ser tomado
às 8h e ter, preferencialmente,
carboidratos, para ajudar a manter
o raciocínio e dar mais energia.”
No almoço, é importante que o
candidato inclua todos os grupos
de alimentos. “Deve-se, porém,
evitar alimentos de difícil
digestibilidade, como massas e
feijoada.”
Como a prova é muito extensa,
é importante ficar atento à
hidratação e ao lanche. Elisa
indica frutas como banana, que dá
saciedade, como uma boa opção,
além de barrinhas de cereal e
chocolates — de forma moderada
e, de preferência, amargo. Ela
explica que o chocolate ajuda os
ansiosos, é ótimo para manter o
cérebro em atividade, deixa o
raciocínio rápido e tira a sensação
de sonolência.
JORNAL DE BRASÍLIA
24/10/15
POLÍTICA
Greve se amplia
Jogo duro de todos os lados
24/10/15
JORNAL DE BRASÍLIA
24/10/15
POLÍTICA
JORNAL DE BRASÍLIA
24/10/15
BRASIL

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