Se a Casa da Criatividade não tiver receitas o
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Se a Casa da Criatividade não tiver receitas o
24 • Público • Sexta-feira 14 Outubro 2011 Local S. João da Madeira Novo espaço cultural pretende afirmar-se como projecto nacional Se a Casa da Criatividade não tiver receitas o director artístico não recebe ordenado Espaço abrirá no último trimestre do próximo ano e aposta num modelo de gestão de risco partilhado. Está na calha a criação de uma companhia de teatro amadora residente Sara Dias Oliveira a O nome de baptismo foi abreviado. De Casa das Artes e da Criatividade passou a Casa da Criatividade de São João da Madeira e está a nascer no antigo edifício do Cinema Imperador, no coração da cidade. A fachada do edifício permanece intocável, mas o interior está totalmente remodelado. A sala de espectáculos ficou com capacidade máxima para 550 lugares e com um sistema que permite mudar a configuração das cadeiras e do palco numa hora. A sala será uma espécie de caixa metálica, com um topo a sair pelo telhado. À entrada, os visitantes não esbarrarão nas bilheteiras, mas num espaço com muita luz natural. O foyer estará aberto todos os dias, terá café e livros e coisas sempre a acontecer: um artista plástico a mostrar a sua obra, aulas abertas de pintura, de dança, de escultura. Também aqui serão mostradas as melhores propostas artísticas apresentadas e que mereçam a incubação na iniciativa Casa Aberta. Apesar de se situar no município mais pequeno do país, a Casa da Criatividade quer abraçar Portugal com uma oferta que apostará no teatro musical e em produções nacionais e internacionais. “O projecto terá um posicionamento nacional: queremos criar e levar as nossas produções a todo o lado”, adianta Fernando Pinho, o director artístico. “O objectivo não é trazer gente de todo o lado, mas ir a todo o lado”. Nesse sentido, estão já a ser contactados vários teatros do país. A abertura está prevista para o último trimestre de 2012 com um musical desenhado para toda a família e com um elenco que chegará de Londres. A programação está a ser trabalhada e será anunciada em Março do próximo ano, mas a criação de um grupo de teatro amador está já na lista. Há meio ano que o director artístico anda a planear o que vai acontecer numa sala única no país e com um modelo de gestão diferente do usual. A ideia é ter uma equipa pequena, que contará com uma estrutura fixa de cinco pessoas, para poupar e investir na programação. “Vamos programar a Casa para que caminhe para a auto-sustentabilidade”. Fernando Pinho acredita que esse desafio poderá ser atingido no primeiro ano de funcionamento, mas a nível de programação a auto-sustentabilidade será um objectivo desde a abertura. “Há um risco bem calculado e tudo o que se fizer tem de ser pago”, refere. “Não há uma empresa muni- NELSON GARRIDO Câmara investiu cerca custou cinco milhões de euros no equipamento De gestor a produtor Fernando Pinho nasceu em S. João da Madeira e tem vivido em Londres Fernando Pinho é natural de São João da Madeira e vive em Londres, onde tem desenvolvido diversos projectos culturais. No ano passado, produziu o musical The Last Five Years no Silk Street Theatre, na capital britânica. Correu bem e imediatamente foi convidado pelos responsáveis do Barbican Centre, também em Londres, para repor o espectáculo, que esgotou a casa. Colabora com a Royal Opera House e fez parte da equipa de produção que apresentou Dom Pasquale e Tsarina’s Slippers. No ano passado, nas comemorações do Dia de Portugal, foi distinguido pelo Presidente da República entre um grupo de 30 personalidades que se têm destacado em Portugal e no estrangeiro. Recentemente, venceu o prémio Deutsche Bank Awards pelo carácter empreendedor dos seus projectos. Antes de se dedicar à cultura, foi gestor de projectos na área de apoio a clientes do Grupo Sonae. Em 2003, apresentou Sofia Escobar, a actriz de Guimarães que vive em Londres, ao público nacional, num musical que produziu e que ocupou o palco do Rivoli no Porto. Quatro anos depois, fez as malas e mudou-se para Londres. Quis aprender a fazer. E para perceber as técnicas do teatro e da produção de palco, inscreveuse na Guildhall School of Music and Drama. Durante dois meses, quis ver como as coisas funcionavam. Trabalhou no Royal Albert Hall, como assistente de sala. Percebeu que dizer “boa-noite” aos espectadores é muito importante. Aprendeu detalhes que, na sua opinião, fazem toda a diferença. Neste momento, faz parte do Sindicato dos Produtores Ingleses, que impõe o cumprimento de regras muito precisas no sector, do número de horas de trabalho à temperatura da sala. Exigências que quer implementar no seu trabalho em Portugal. Mantém a residência em Londres e regressa à terra natal para, a convite da câmara, dirigir uma casa que lhe enche as medidas. cipal, não há uma estrutura agarrada à Casa, e, portanto, os custos para a cidade são reduzidos”. Além disso, se não houver receita, o director artístico não terá direito a ordenado e será co-responsabilizado pelos resultados negativos. É um modelo de risco partilhado. “O presidente da câmara teve muita coragem para investir num modelo de gestão que nunca foi testado em Portugal”, refere. Logo que assumiu o projecto da câmara, num investimento superior a cinco milhões de euros, quis conhecer os comportamentos do seu público-alvo. Avançou com um inquérito para confirmar que o teatro, a dança, o teatro musical e a música são as áreas que mais despertam a atenção. E descobriu que 80 por cento de quem consome cultura em São João da Madeira também o faz no Porto. As escolas da cidade também já foram contactadas para se envolverem no projecto e o espaço cultural trabalhará em articulação com o Museu da Chapelaria e com a futura Oliva Creative Factory.