Pombos urbanos: biologia, problemas, manejo e controle.

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Pombos urbanos: biologia, problemas, manejo e controle.
Pombos urbanos: biologia,
problemas, manejo e controle.
por Maria Luisa Marinho de Noronha
(Marilu de Noronha)
Columba livia var. domestica
• Ave, Columbiformes, Columbidae (289 spp.) em
cerca de 9.750 spp. de aves existentes;
• Os columbiformes têm de mais 20 milhões de anos
de história evolutiva no planeta;
• 23 spp no país, sendo 22 nativas;
• Habitat original de C. livia: mediterrâneo
• Introduzido no Brasil no século XVI;
• C. livia foi domesticada há mais de 6.000 anos no
antigo Egito;
Os pombos no mundo
• Foram utilizados como pombos-correio até o início
do séc. XX (pombais militares), também em
competições de tiro;
• Hoje: pombos de corrida (criadores no mundo todo e
alto valor zootécnico), pombos para consumo
humano, para pesquisa científica e obtenção de
variedades para exposição;
• Inspiraram Charles Darwin (seleção artificial >
seleção natural).
Aspectos biológicos
• Aves oportunistas e
onívoras, adaptadas às
cidades;
• Machos ≈ fêmeas;
• Coloração variada,
alguns c/ plumagem
selvagem;
• Cerca de 40 cm de
comprimento x 45 cm
de envergadura de asa;
• Andar característico;
• Bebem por sucção;
• Os casais permanecem
unidos por toda vida;
• Após o acasalamento, o
macho traz material
(gravetos, palha) e ambos
fazem o ninho com suave
depressão e mal acabado;
• Fezes, penas e restos são
incorporados ao ninho
com o tempo;
• 2 ovos por postura (5 a 6
por ano).
• Pombos arrulham;
• Incubação dura de 17-19 dias;
• Ambos chocam (fêmea só no
meio da manhã e no fim da
tarde);
• Alimentados inicial/ com leite
de papo (puro, 5 dias + 5 dias
de dieta mista);
• Voam com 25-35 dias;
• Aprendem com os pais e
jovens do bando;
• Seguem com os pais até os 45
dias de vida;
• Tornam-se sexualmente ativos
entre os 4 e os 8 meses;
• Quando podem, ficam no
território onde nascem;
• A área de alimentação pode ser
longe dos poleiros, ninhos,
banhos e bebedouros;
• Alto índice de natalidade e de
mortalidade;
• ≈ 57% não sobrevivem ao
primeiro ano de vida;
• Em cativeiro e em vida livre
vivem de 10 a 30 anos;
• Nas cidades: de 2 a 4 anos;
• Fartos recursos no ambiente
explosão demográfica;
• Interferência humana
alterados.
hábitos
Os problemas
• Danos a estruturas e
superfícies pintadas,
metálicas e de alvenaria;
• Danos a equipamentos,
alguns sofisticados;
• Obstrução de calhas e
dutos de ventilação;
• Contaminação de cereais
em silos;
• Barulho que incomoda
no forro das casas;
• Imundice em áreas
públicas e privadas;
• 2,5 kg excrementos/
pombo/ano;
• Invasão de recintos de
outros animais;
• Transmissão de doenças
a pessoas e a estoques de
aves de granja, zoos e
criadouros.
Transmissão de doenças
Assunto polêmico:
• Representantes da proteção animal (radicais) se
revoltam quando veterinários tocam no assunto;
• Como as zoonoses costumam ser sub-notificadas,
mal aparecem nas estatísticas da OMS
(principalmente, as transmitidas por aves);
• Doenças próprias das aves  prejuízo econômico,
perda de aves de granja, criadouros e zoológicos;
• Zoonoses e doenças compartilhadas  problema de
saúde pública.
Zoonoses e doenças comuns
(homem & aves)
• São conhecidas mais de 40 viroses e 60 doenças
transmissíveis atribuídas a aves e a seus excrementos;
• Há poucos trabalhos publicados sobre casos humanos;
• Nem sempre é possível comprovar a participação da ave na
cadeia de transmissão;
• Os riscos de contrair doenças com os pombos são menores
do que é alardeado, mas existem, principalmente para
indivíduos imunodeprimidos ou imunossuprimidos;
• Merecem destaque: a Criptococose, a Chlamydiose, a
Salmonelose e as alergias.
As alergias
• Agentes: poeira com resíduos orgânicos (penas,
plumas, escamas de pele, secreções corporais, pó
das penas, excrementos) e exposição aos
ectoparasitos de animais (ácaros de pele e pena,
carrapatos, piolhos, pulgas e moscas)
• Fonte: aves, em especial, os pombos porque
chegam perto demais das janelas, das caixas de ar
condicionado onde há pessoas alérgicas;
• Sensibilização: pela inalação, pelo contato com os
agentes irritantes e pela picada dos ectoparasitos;
• Patologias: podem produzir diversos sintomas, que
vão desde irritação e pruridos na pele e corizas, até
sufocação por edema de glote. É comum a
bronquite asmática alérgica, principalmente em
crianças e idosos;
• Pessoas com doença pulmonar crônica podem
sofrer muito com a proximidade das aves;
• Como evitar: impedir o acesso dos pombos aos
beirais, janelas etc, e manter limpos os aparelhos de
ar condicionado (sempre umedecendo as superfícies
antes de limpar).
Ainda sobre doenças
• Vem aumentando o relato de casos de infestação de
lares por Dermanyssus gallinae, um ácaro que vive nas
camas e ninhos de galinhas e de outras aves de granja
ou silvestres. À noite, o ácaro se alimenta do sangue
das aves. As pessoas picadas durante o sono podem
desenvolver urticária papular;
• os ninhos com excrementos, penas, plumas, aves
mortas também atraem insetos e ratos, que podem
invadir as residências anexas e/ou exalar mal-cheiro.
• Atenção! O pombo não transmite a Toxoplasmose
para o homem (salvo se ele mesmo apresentar cistos
do protozoário e for comido semi-cru).
• Outras zoonoses transmitidas por aves são
motivo de preocupação, embora sejam raras
e/ou ainda não tenham sido registradas no país
ou em certas regiões do país;
• São apresentadas como um alerta para todos os
que lidam com aves e venham a encontrar, de
uma hora para outra, aves morrendo em
quantidades acima do esperado. São elas:
Influenza Aviária (H5N1) e a Febre do Nilo
Ocidental.
• Sempre ouço a pergunta: Se essas doenças
também podem ser transmitidas por outros
animais, porque tanto alarde em relação aos
pombos?
• Porque os pombos são os aves de vida livre que,
no meio urbano, mais se aproximam das pessoas,
ficando perto o bastante para veicularem doenças,
mas em locais de difícil acesso para limpeza. Há
casos de pombos que invadem cozinhas, comem
nas mesas e no fogão. Frequentam as mesas dos
bares e algumas pessoas até estimulam este
comportamento.
Os Pombos e a pesquisa científica
• No Rio de Janeiro, as queixas sobre pombos
começaram a chegar aos órgãos de saúde no final dos
anos 90;
• No mundo, o problema é bem mais antigo;
• Já nos anos 60, os pombos eram vistos como pragas
em Londres, em Veneza, em Barcelona etc;
• A pesquisa científica e o controle de pombos: (a) os
trabalhos de C. J. Feare (1985, 1986, 1990 e 1991)
sobre o controle de pombos com técnicas humanitárias; (b) nos estudos Daniel Haag, na Basileia, Suíça, a
prova definitiva que: FEEDING PIGEONS IS
ANIMAL CRUELTY.
Por que é crueldade alimentar
pombos?
• Pombos em superpopulação vivem menos e e
vivem mal;
• Pombos superalimentados procriam mais e mais...
• Pombos alimentados nas praças tornam-se
preguiçosos e comem pior (menor variedade de
itens, dieta não balanceada), embora comam muito
(pombo mendigo x pombo caçador);
• Perfil dos alimentadores de pombos (Weber et al,
1994): mulher, idosa e solitária.
Pombos em superpopulação
Vida estressante:
• Disputa por alimentos (no lugar da caça sadia);
• Disputa por abrigos e poleiros ideais;
• Disputa pelos nichos de nidificação;
• Intensa troca de doenças e traumatismos (pisoteio);
• Queda da qualidade de vida (curta e sofrida);
• Escravidão à generosidade humana (o mais cruel).
Na Suíça, alimentar pombos tornou-se um tabu (em
quatro anos, 50% de redução). Em Londres, foi
proibido em 2000. No Rio de Janeiro (há novidades)
Por que é tão difícil controlar
pombos no Brasil?
Controle & manejo de pombos
1) O controle da população de pombos: visa
reduzir, e manter baixo, o número de pombos
nas cidades. É um problema de governo (com
vontade política e coragem para agir);
2) O manejo de pombos: Visa a exclusão dos
pombos de áreas onde vêm causando
problemas. É um trabalho para empresas de
controle de pragas. Sempre vai haver.
Controle de pombos: as queixas
• Chegam de formas diversas: telefonemas,
queixas formais nas RA(s), pessoalmente,
disque-denúncia, ouvidorias, através de outros
órgãos, [em breve, pelo 1746];
• Quando há provedores (alimentadores): tentar
conseguir nomes e endereços;
• Mapear as queixas: quais as áreas da cidade
onde o problema é mais sério (banco de dados);
• Censos nos locais onde for agir.
Os censos
• Em praças, pátios e largos (lugares amplos
tradicionais): as aves preferem se alimentar onde
podem avistar se o perigo se aproxima;
• Contagem de hora em hora (das 5 à 17 horas,
uma semana) das quatro faces laterais e o piso
de um cubo imaginário.
• Não contar aves em voo;
• Fazer o gráfico para comparar com outros censos
posteriores;
Controle de pombos:
o que não se deve fazer
1) Usar técnicas de extermínio: não devemos porque são
cruéis, impopulares e pouco efetivas (exige o abate de
80-90% dos adultos);
2) Usar armadilhas, capturar e soltar longe das cidades:
pombos urbanos são espécie exótica ao país e poderiam
competir deslealmente com as espécies nativas, com
prejuízo destas. Isso, se não voltarem por conta própria
para seus nichos que podem, também, ser ocupados por
outros pombos;
3) Usar anticoncepcionais: caríssimos, perigosos para o
meio ambiente, difícil controlar (dose eficaz
dose
letal).
Controle de pombos: o que os
governos devem fazer
1) Ampla campanha educativa em todas as mídias preconizando a não alimentação das aves, explicando o porquê.
Mostrando a protetores de animais (radicais) que esta é
a técnica humanitária de maior aceitação no planeta. Se
a redução é gradual, cai a taxa reprodutiva e os pombos
reaprendem a “caçar” seu alimento (que sempre haverá
nas grandes cidades). Em alguns anos, a população de
pombos se reduzirá a níveis que os recursos naturais do
ambiente suportam. A regulação populacional natural é
o que acontece com as outras aves urbanas e nos
ecossistemas. Intervenção humana pragas;
2) Divulgar amplamente, através de cartilhas e
panfletos, os danos provocados pelos pombos e
o que se deve fazer para evitá-los;
3) As páginas de órgãos de saúde de governo na
INTERNET devem disponibilizar a orientação
sobre o assunto;
4) Retirar ninhos ou os ovos dos ninhos, a cada
duas semanas, nos prédios públicos, caso não
possam ser utilizadas técnicas de exclusão;
5) Pesquisas de opinião pública para respaldar
as suas ações (confrontar o radicalismo);
6) Criar legislação que proíba a alimentação dos
pombos em áreas públicas, instituir multas e
penas de limpeza de monumentos públicos
para os renitentes;
7) Informar e preconizar os cuidados de higiene
no desalojamento de forros e na limpeza de
superfícies (uso de EPI);
8) Contatar provedores e orientá-los para não
alimentar as aves. Deixar claro que não se
aprova o uso de venenos, mas que é a teimosia
dos que insistem em alimentar que fomenta a
ação dos que envenenam as aves. Pedir a
colaboração de todos. Principal argumento:
columbiformes 20 milhões de anos, homens
(hominídeos) 5 a 7 milhões;
9) Abordar os provedores e, caso haja legislação
municipal punitiva, aplicar
a
lei aos
alimentadores renitentes. Alimentar pombos é
torná-los escravos da generosidade humana.
Quando for
necessário fazer mais
do que isso...
• IBAMA - Instrução Normativa No 141/2006 (Fauna
Nociva):
Considerando a necessidade de ordenar os critérios de
manejo e controle da fauna sinantrópica nociva... resolve:
Art. 1º - Regulamentar o controle e o manejo ambiental da
fauna sinantrópica nociva.
1º - Declarações locais e temporais de nocividade de
populações de espécies da fauna deverão, sempre que
possível, ser baseadas em protocolos definidos pelos
Ministérios da Saúde, da Agricultura ou do Meio Ambiente.
• IBAMA - Instrução Normativa No 141 (continuação):
2º - Com base no protocolo referido no parágrafo anterior, populações
de espécies sinantrópicas podem ser declaradas nocivas pelos órgãos
federal ou estaduais do meio ambiente ou, ainda, pelos órgãos da Saúde
e Agricultura, quando assim acordado com o órgão do meio ambiente.
Art. 2º - Para os efeitos desta Instrução Normativa, entende-se por:
...
IV - fauna sinantrópica: populações animais de espécies silvestres
nativas ou exóticas, que utilizam recursos de áreas antrópicas, de forma
transitória em seu deslocamento, como via de passagem ou local de
descanso; ou permanente, utilizando-as como área de vida;
V - fauna sinantrópica nociva: fauna sinantrópica que interage de forma
negativa com a população humana, causando-lhe transtornos
significativos de ordem econômica ou ambiental, ou que represente
riscos à saúde pública;
• IBAMA - Instrução Normativa No 141 (continuação):
Art. 7º - Fica facultada ação emergencial aos Ministérios da Saúde e ao
da Agricultura, no que diz respeito ao manejo ambiental e controle da
fauna sinantrópica nociva, observadas a legislação e as demais
regulamentações específicas vigentes.
1º - Ação Emergencial caracteriza-se pela necessidade premente de
adoção de medidas de manejo ou controle de fauna, motivadas por risco
de vida iminente ou situação de calamidade e deve ser comunicada
previamente ao Ibama por meio de ofício, via postal ou eletrônica, de
forma que lhe seja facultado indicar um técnico para acompanhar as
atividades.
2º - As atividades e resultados das ações emergenciais devem ser
detalhados em relatório específico encaminhado ao Ibama 30 dias após
sua execução.
Art. 8º - Fica facultado aos órgãos de segurança pública, Polícia Militar,
Corpo de Bombeiros e Defesa Civil, o manejo e o controle da fauna
sinantrópica nociva, sempre que estas representarem risco iminente
para a população.
Manejo de pombos: o que cabe às
empresas de controle de pragas
1) Exclusão mecânica: redes, telas, alvenaria,
cortina de vento etc;
2) Dissuasão do pouso: geleias, líquidos e tintas
repelentes, serpentina, espículas, arame porcoespinho, eletro-repulsão, fios de arame fino
com molas tensoras, coroa-de-cristo (planta
artificial) etc;
3) Desconforto ambiental: auditivos e visuais;
4) Susto: utilização de predadores treinados por
falcoeiros (o IBAMA já autorizou);
5) Desalojamento de forros, higienização e desodorização: (enzimas digestoras, bactericidas e
inseticidas);
6) Piscinas: rebaixamento do espelho d’água ou
elevação/inclinação (60º) da borda.
7) Observação: Qualquer produto, químico ou
mecânico empregado, precisa ser seguro para as
aves, meio-ambiente e homem. Precisa ser
registrado na ANVISA.
Soluções de manejo (exemplos)
A NOVIDADE
Em outubro, INEA e COMLURB fecharam um
convênio;
• 1 peça de teatro com 15 minutos de duração;
• Várias apresentações em cada uma das 30 praças
escolhidas;
• Peça em DVD para distribuição para Secretarias
de Saúde municipais em todo o estado.
• Enfoque: não fornecimento de alimentos aos
pombos.
Mensagem (quase) final
• Sabendo que a
observação de aves é
uma atividade
prazerosa, lúdica,
educativa, que
proporciona contato
sadio com a natureza
e belos ambientes,
além de ser própria
para todas as idades,
recomendamos:
Dados para contato
Maria Luisa M. de Noronha (Marilu de Noronha)
Médica Veterinária e Bióloga,
Mestranda em Epidemiologia em Saúde Pública na ENSP/Fiocruz,
Pesquisadora colaboradora do Laboratório de Ornitologia,
do Instituto de Biologia da UFRJ.
Servidora da SMSDC do Rio de Janeiro, lotada no
Unidade de Diagnóstico, Vigilância, Fiscalização Sanitária e
Medicina Veterinária Jorge Vaitsman
Av. Bartolomeu de Gusmão, 1120, São Cristóvão
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