Sem título-2 - Portal SUCESSO!

Transcrição

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Recado
Funk reinventado
N
ão é de hoje que a indústria da música envelopa gêneros e
artistas para torná-los mais palatáveis ou aproximá-los de
determinado tipo de público. O sertanejo trocou a viola pela
guitarra e os tambores da Bahia ganharam o apoio de instrumentos
eletrificados para criar o carnaval de Salvador, uma das maiores festas
populares do mundo. Roqueiros como Lulu Santos e Pitty capricham
no visual moderno e astros da MPB há tempos deixaram o velho e
bom “banquinho e violão”. Só Roberto Carlos mantem-se o mesmo
há décadas – em termos sonoros, claro, já que ele cuida do corpo e da
aparência mais do que no passado, justamente para esbanjar “juventude” e ampliar seu imenso público admirador.
O funk, tanto em sua versão carioca quanto na paulista, rendeu-se
às estratégias de marketing para embalar melhor sua música. No caso
do Rio, onde tudo começou, diferentemente de anos atrás, quando
Tati Quebra Barraco, MC Serginho e Lacraia, MC Créu ou Bonde
do Tigrão – ícones de então – praticamente se apresentavam apenas
nos salões dos morros e na periferia da capital fluminense, hoje o funk
é cultura popular de primeira linha. Está presente nas emissoras de
TV, em centenas de produtos licenciados, é referência no YouTube (é
o gênero que mais tirou proveito do canal de vídeos) e está na agenda de eventos e casas de shows de norte a sul do país.
Para isso, foi preciso “dourar a pílula”. Amenizar nas letras – ora
obcenas e vulgares ora fazendo apologia à violência e uso de drogas
– e produzir os CDs e DVDs de forma mais profissional. Assim, ficou
bem mais fácil deixar o gueto. Hoje temos inúmeros representantes
do gênero, todos eles se reinventando a cada trabalho. Naldo, Buchecha, Sapão, Koringa e outros enchem casas sofisticadas, integram
trilhas de novelas e viajam com grandes equipes de produção.
Mas nenhum exemplo é tão claro neste universo como o de Anitta. Graças ao escritório K2L e à Warner, a cantora foi pensada como
produto desde o momento em que surgiu. Em pouquíssimo tempo,
deixou de ser a “poderosa” das comunidades para se tornar uma das
maiores estrelas pop do país. Anitta se cercou de profissionais que
moldaram seu perfil. Talentosa, incansável e carismática, a artista
mudou o jeito de se comunicar com a imprensa e com o público –
seja em entrevistas, shows ou nas redes sociais, onde ela reina como
poucas –, refinou seu figurino e postura cênica, focou num repertório mais família, capaz de cativar públicos de todas as idades, e viu
sua marca e seu nome ganharem expressão nacional. Melhor que
tudo: suas músicas tocam à exaustão e seu cachê, merecidamente,
está entre os mais altos do mercado. Um pouco deste fenômeno
produzido pelo talento artístico e ações de management estão na
páginas 16 e 17 desta edição.
Também nesta edição entrevistamos Hugo Máximo, dono da
Máximo Produtora, empresa que administra a carreira de vários
funkeiros paulistanos, entre eles Guimê. Na entrevista, Hugo explica como transformou a imagem e a proposta artística de Guimê,
que começou como ícone do funk ostentação (que falava de mulheres, carrões e dinheiro) e hoje, assim como Anitta, transita pelo
universo pop. Se apresenta em grandes eventos e baladas de endinheirados, já foi capa da revista Veja e atualmente canta o tema da
novela Geração Brasil, da Rede Globo. "Tivemos que contratar
profissionais de várias áreas para nos ajudar a diminuir o preconceito que o mercado e a mídia tem com o funk”, conta Máximo na
matéria nas páginas 52 e 53.
De fato, Anitta e Guimê, assim como outros representantes do
funk paulista e carioca, passaram a fazer escola. Hoje, aqueles que
estouram nos guetos sabem que precisarão se readaptar se quiserem
atingir mercados maiores. E não apenas os iniciantes. Valesca Popozuda, que antes abusava dos palavrões e danças sensuais, viu sua carreira dar uma guinada pra cima com o lançamento (nas rádios e no
YouTube) da simpática Beijinho no ombro.
Gilmar Laurindo e Tom Gomes
ANO 19 • Nº 158 • JulhO/AgOStO 2014
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