Temas para as reuniões de Catequistas

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Temas para as reuniões de Catequistas
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Temas para as reuniões de Catequistas
A CARIDADE
NA CATEQUESE
E NA VIDA DO
CATEQUISTA
Coimbra – Ano Pastoral 2011-2012
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INTRODUÇÃO
Este Ano Pastoral, o Secretariado Diocesano da Evangelização e Catequese (SDEC)
abordará – de variadas formas e em múltiplas actividades – a temática da Caridade e a sua
relação com a Catequese e a vida do catequista. Ponto alto deste percurso será o Dia
Catequístico Diocesano, em Penela, a 22 de Abril de 2012, sob o tema: «A Caridade: fonte,
tarefa e meta da Catequese».
Porquê este tema? Porque a Caridade é a força da nova-evangelização (cf. DCE 31). Ela é
a essência da vida cristã. É a graça de poder experimentar Deus na própria vida.
Frequentemente, na vivência da missão catequética, somos demasiado lógicos, estrategas e
funcionais. Nos nossos trabalhos com as crianças e seus pais, queremos resolver logo as
situações e ver o resultado, esquecendo o fim último e profundo que devemos alcançar. Outro
aspecto é reduzir a catequese a mero ensinamento, esquecendo a vida que nos rodeia, com os
problemas reais que a caracterizam. A consequência é, então, não percebermos que a Caridade
e os «frágeis» que a requerem, são sinais dos tempos, ou melhor, o aceno de Deus a manifestar
o Seu amor por nós e a desafiar-nos a amar também.
Para qualquer catequista, a força da evangelização tem de estar intimamente ligada à
Caridade, nesse envio de anunciar o Evangelho a toda humanidade, com palavras e obras de
amor (cf. DGC 48). Contudo, antes de cumprirmos a nossa missão catequética, precisamos de
permanecer em estado de missão! Significa isto que não há missão sem despojamento,
entrega, confiança, para ficarmos enraizados em Cristo. Como hoje precisamos de nos
despojarmos das opiniões e modas, das manias e das cobardias do nosso ser cristão, perante a
realidade do mundo e os seus problemas! Mais, não há missão sem conhecermos e nos
identificarmos com Aquele que se despojou da Sua condição divina e se entregou por nós.
Como é preciso curvarmo-nos perante esta realidade!
Por fim, o desafio da «nova evangelização» requer e reclama que toda a Igreja volte a
colocar a Caridade no lugar nuclear que lhe pertence, assim como o lugar do «pobre» volte a
ser opção prioritária e preferencial da sua missão. Acerca disto, afirma o documento
preparatório do Sínodo dos Bispos de 2012, sobre a nova evangelização: “Para anunciar e
difundir o Evangelho é preciso que a Igreja edifique comunidades cristãs capazes de articular
com precisão as obras fundamentais da vida de fé: caridade, testemunho, anúncio, celebração,
escuta, partilha.” (XIII ASSEMBLEIA-GERAL ORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS, A nova Evangelização
para a transmissão da fé cristã. Lineamenta, nº 12).
Nesta linha, propomos aos Catequistas uma preparação cuidada e atenta, quer a nível
pessoal quer a nível de grupo sobre a Caridade. Um dos aspectos desta preparação é o estudo
deste tema catequético, abordando a nossa missão caritativa. Este tema foi estruturado para
quatro reuniões. Devem ser feitas com seriedade e profundidade, sendo importante que as
respostas às perguntas aí propostas sejam enviadas para os serviços do SDEC, antes da
Páscoa. Outras acções, a nível paroquial e diocesano, irão completar esta consciencialização e
formação, mas a seu tempo daremos conta delas. Que a beleza do Amor de Deus em nós, nos
converta em amor para com os mal-amados deste tempo.
P. Rodolfo Leite
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INDICAÇÕES METODOLÓGICAS
Objectivo do ciclo de reuniões
Ajudar os catequistas a despertar e a consolidar a vivência da virtude
da Caridade e, de acordo com as exigências da sua missão catequética,
concretizá-la, em especial, no compromisso com os pobres. (cf. DGC 163)
Temas dos encontros
I – A CARIDADE: A ESSÊNCIA DO SER CRISTÃO
II – QUEM SÃO OS POBRES, HOJE?
III – JESUS: MODELO DA VIVÊNCIA DA CARIDADE COM OS POBRES
IV- ALGUMAS ATITUDES DE CONVERSÃO PARA VIVER A CARIDADE
Siglas
EN – Evangelii Nuntiandi
CIC – Catecismo da Igreja Católica
DGC – Directório Geral da Catequese
DCE – Deus Caritas est
SRS – Sollicitudo Reis Socialis
GS – Gaudium et Spes
LG – Lumen Gentium
Esquema da reunião
Oração inicial
1. Etapa da partilha
2. Etapa de estudo
3. Etapa do compromisso
Oração final
Material necessário para a reunião
Sagrada Escritura
Directório Geral da Catequese
Documento do Concílio Vaticano II
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I – A CARIDADE: A ESSÊNCIA DO SER CRISTÃO
Oração inicial (O catequista coordenador deve orientar a oração, preparando-a previamente)
Leitura: 1Cor. 13, 1-13
Momento de silêncio
Cântico: “Onde há Caridade verdadeira…” de Carlos Silva (ou outro adequado)
1. Etapa da partilha (Um catequista lê os seguintes textos)
“Compreendi que a Igreja tinha um corpo composto por diversos membros e não
faltava o membro mais nobre e necessário.
Compreendi que a Igreja tinha um coração, um coração ardente de amor. Entendi
que somente o amor estimulava os membros da Igreja à acção e que, se esse amor se
apagasse, os Apóstolos não teriam anunciado o Evangelho, os mártires já não teriam
derramado o seu sangue (…).
Compreendi que o amor abraçava todas as vocações, que o amor era tudo, que se
estendia a todos os tempos e a todos os lugares (…), numa palavra, que o amor é eterno.”
(Santa Teresinha do Menino Jesus, Manuscritos autobiográficos, B 3v)
“A caridade, como amor que renova todas as coisas, parte do Coração de Deus para
o Coração de Jesus Cristo e difunde-se pelo mundo através do Seu Espírito. Este amor
nasce do encontro com Cristo na fé.”
(Bento XVI aos participantes na Sessão plenária da Congregação para a Doutrina da Fé – 10/02/2006)
Afinal, o que é a Caridade (amor), segundo nos sugerem os textos?
Como é que a Caridade está a ser vivida por nós catequistas?
(Depois da partilha, um catequista faz a leitura pausada e explicita do texto seguinte)
2. Etapa de estudo
A Caridade é fundamentalmente o amor de Deus ao homem. É uma graça
concedida gratuitamente ao ser humano por infusão do Espírito Santo, que é o amor do
Pai e do Filho. Oferta divina, para crescer no coração daqueles que livre e
amorosamente, também a acolhem, e só aumentará se for exercida com as obras e
atitudes concretas. Deste crescimento da Caridade na vida do homem depende o
caminho cristão, pois se não crescesse neste e para este Amor – com que se é amado –,
deixaria de caminhar, estagnava.
A Caridade, por sua vez, é igualmente a resposta de amizade e comunhão com
Deus dada pelo ser humano, «com todo o seu coração e com toda a sua alma» (cf. Mc.
12, 30). O amor a Deus é o «sim» total e preferencial, sem condições nem reservas, à
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Sua Pessoa e aos Seus mandamentos (cf. Jo. 14, 15-17); um «sim» que somente o amigo
pode pronunciar porque anseia conhecer o Amigo (cf. Jo. 15, 15). A satisfação deste
anseio, que se pode fazer por vários caminhos, acontece favorável e eficazmente na
comunidade cristã – a Igreja, incarnada na história e na humanidade.
Com efeito, a maior parte daqueles que vivem na e a Caridade – na Igreja e no
mundo –, sentem como que um impulso de pôr o seu coração em Deus, de modo que
nada mais importe senão a Sua vontade. Desta forma, o amor de e a Deus torna-se o
sinal e a plenitude da vida cristã e da vida humana (cf. GS 22), pois quem não o vive é
como se fosse nada (cf. 1Cor 13). Na medida em que o homem se vai esquecendo de si
mesmo, por amor a Deus e se supera incessantemente no amor, encontra n’Ele a sua
própria e verdadeira perfeição.
Só em Deus e com Ele, na Caridade, é que o ser humano pode também amar-se a
si mesmo, os outros e a Criação. Na verdade, a Caridade orienta-se também para os
outros, em especial os pobres: neles amamos a Deus, porque aí Se «esconde» por amor
(cf. LG 8). Mas, esta forma de viver a Caridade só é possível se a pessoa se ama a si
mesma, como pertencente a Deus, como mistério amorosamente criado e redimida em
Cristo Jesus.
A vivência da Caridade produz então na pessoa humana frutos estupendos de
alegria, de paz e de misericórdia, que estimulam e motivam mais profundamente o
bem-fazer, a partilha, a correcção fraterna, no fundo, o serviço libertador no concreto
da vida do outro. Mais, uma vida de e na Caridade não se detém diante da ingratidão e
da repulsa dos outros, porque inclui sempre os maus e os inimigos, os bons e os amigos.
A medida do amor ao próximo é, em última análise, aquele Amor que Jesus Cristo
deixou presente e operante nos corações humanos, com a Sua Páscoa e o verdadeiro
critério de toda a evangelização da Igreja (cf. GS 1).
O cristão é, assim, inserido no movimento do amor que provém de Deus,
tornando-se Seu «instrumento» e enriquecendo a sua vida com os frutos desse amor
maior e pleno. Por isso, o preceito mais importante é o duplo mandamento de amor a
Deus e ao próximo (cf. Mt. 22, 40), do qual depende tudo o resto e donde brotam os
verdadeiros frutos da caridade. Estes frutos traduzem-se na prática integral das obras
de justiça, de misericórdia e de lealdade.
Por fim, a verdadeira Caridade é impossível sem fé e sem esperança. Ama o outro
quem dá crédito ao outro e quem ainda pode esperar dele algo bom. Em relação a Deus,
é o mesmo, isto é, o amor que lhe manifestamos nasceu previamente da certeza e da
confiança no Amor que Ele sempre e gratuitamente nos manifesta e na confiança que
nos concede ao revelar-Se como sumo bem e meta da nossa aspiração e felicidade (cf.
CIC 1822).
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3. Etapa do compromisso (O catequista coordenador orienta o diálogo)
Que posso mudar em mim e no grupo de Catequese para:
uma maior consciência da Caridade (amor) como o dom com que Deus ama?
uma melhor resposta de Caridade a esta graça que Deus nos concede?
uma vivência mais concreta da Caridade com os outros na Igreja e no mundo?
uma manifestação mais visível dos frutos da Caridade no dia-a-dia?
uma vivência da Caridade que aumente a fé e a esperança?
Oração final (O catequista coordenador deve orientar a oração)
Rezar: Pai-nosso
Cântico: “Onde há Caridade verdadeira…”
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II – QUEM SÃO OS POBRES, HOJE?
Oração inicial (O catequista coordenador deve orientar a oração, preparando-a previamente)
Leitura: Tg. 9, 4-11
Momento de silêncio
Cântico: “O pobre clamou, o Senhor o ouviu.” de M. Luís (Salmo 33) (ou outro adequado)
1. Etapa da partilha (Um catequista lê os seguintes textos)
“Acho eu que a parte principal da caridade é o amor aos pobres, a misericórdia
compassiva para com os nossos semelhantes. Não há culto melhor que se possa prestar a
Deus, pois Ele tem predilecção pela misericórdia e pela verdade (…). Tu, robusto, ajuda o
enfermo; tu, rico, ajuda o necessitado. Tu, que não caíste, ajuda o que caiu e está
atribulado; tu, que estás animado, ajuda o desalentado; tu, que gozas de prosperidade, o
que sofre na adversidade. Dá graças a Deus por seres um dos que podem fazer o benefício
e não um dos que necessitam recebê-lo; agradece por não teres que olhar as mãos alheias
como outros olham para as tuas. Não sejas rico apenas por tua opulência, mas por tua
piedade, não só pelo ouro, mas pela virtude (e até, somente pela virtude!).”
(São Gregório Nazianzeno século IV)
“O que despoja um homem das suas vestes terá nome de ladrão. E o que não veste a
nudez do mendigo, quando pode fazê-lo, merecerá um outro nome? Ao faminto pertence o
pão que tu guardas. Ao homem nu, o manto que fica nos teus baús. Ao descalço, o sapato
que apodrece na tua casa. Ao miserável, o dinheiro que tu guardas enfurnado.”
(São Basílio – século IV)
Que mensagem se pode tirar destes textos e que concepção de «pobre» eles
expressam?
Qual a actualidade destes textos? Porquê?
(Depois da partilha, um catequista faz a leitura pausada e explicita do texto seguinte)
2. Etapa de estudo
Após o primeiro encontro sobre o tema da Caridade, vamos fazer uma abordagem
sobre os pobres, na sociedade actual. Tarefa complexa! Mas aqui centramo-nos nos pobres
que são vítimas. Contudo, há a realçar que é preciso sempre fazer um discernimento
lúcido, assente na verdade e na justiça, para a sua identificação. Onde não há pessoas
justas, não pode haver justiça. Por outras palavras, que sejamos capazes de ser justos e
verdadeiros na análise, para que os «pobres» continuem a ser um desafio de Deus à nossa
missão.
Há quem pense que a pobreza existe como resultado da escassez de meios, fruto
do pouco desenvolvimento da sociedade, das carências de serviços e meios. Há mesmo
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a ideia de que os pobres existem pelos bens serem insuficientes para todos, mas o
desenvolvimento da sociedade irá eliminar pouco a pouco a sua pobreza. Contudo, o
progresso que se está a promover não tem estado orientado para tal. Pelo contrário, ele
vai permitindo um nível de vida cada vez melhor para alguns, à custa da exclusão de
muitos outros. O problema faz-se sentir também a nível global, onde, por exemplo, as
grandes potências económicas aumentam o seu nível de vida à custa da exploração dos
países mais pobres.
Neste contexto, a pobreza já não é fruto da escassez de meios e de bens, porque
esses existem actualmente em sobra para satisfazer as necessidades de todos. Ela é sim
o resultado dum determinado tipo de desenvolvimento, económico e social, onde
pobres são, cada vez mais, um «produto calculado» do sistema. Aceita-se como algo
quase normal e inevitável que o desenvolvimento e o bem-estar dum grupo da
população tragam consigo a exclusão de outro sector.
Contudo, não podemos olhar a pobreza e os pobres somente a partir do ponto de
vista económico, pois há diversos tipos de pobreza, embora todos relacionados entre si
e geradores de sofrimento e marginalização.
Por exemplo, o desemprego actual põe em marcha um processo de degradação e
empobrecimento progressivo. Os primeiros a notarem-se são os efeitos económicos:
renúncia ao nível de vida anterior, falta de meios para gastos familiares normais
(vestuário, vestidos, escolaridade dos filhos…), dependência dos subsídios, das ajudas
das instituições, dos pais… Ao mesmo tempo, começa-se a deterioração das relações
entre marido e mulher, os conflitos entre pais e filhos, tentação do álcool, evasão no
jogo, depressões, frustração, falta de auto-estima e de estímulo para viver.
Com frequência, a família actual, em lugar de ser um grupo e um espaço
acolhedor, converteu-se num factor negativo e desintegrador. A crise familiar surge
quando há o abandono dum membro do casal, nos maus-tratos à mulher ou aos filhos,
na falta de organização familiar, na despreocupação com os filhos. Trata-se duma
pobreza crescente: mulheres abandonadas, sem meios para subsistir com os seus
filhos; crianças sem um lar acolhedor e sem experiência de amor paternal; adolescentes
afundados no fracasso escolar; jovens inadaptados de famílias conflituosas e instáveis
com risco de caírem na delinquência.
As diferentes dependências vão criando outro grupo crescente de pobres:
alcoólicos, toxicodependentes, viciados no jogo, etc. Uma pobreza geradora da
degradação progressiva e mais profunda da pessoa humana, com as doenças, a SIDA, a
depressão, a solidão, a prostituição, a autodestruição… A velhice é outro factor de
marginalização e sofrimento. Juntamente à fragilização física e psíquica, próprios da
idade, produzem-se muitas vezes nos idosos o isolamento, a falta de afecto dos
familiares e amigos, a incapacidade para defender os seus direitos. São muitos os
«velhos» que fechados na sua própria casa, ou em lares, que vão vivendo os últimos
anos da sua vida afundados na depressão, na solidão e no desespero.
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Juntamente aos «pobres de sempre», a sociedade actual gera outro tipo de pobres
com rosto indefinido. Pessoas sozinhas que não são amadas por ninguém, pessoas
depressivas às quais todos abandonam, maridos e esposas traídos ou desprezados pelo
cônjuge querido; gente mentalmente débil, pobres envergonhados; homens e mulheres
sem família…!
3. Etapa do compromisso (O catequista coordenador orienta o diálogo)
Nas catequeses, que tipos de pobres aparecem?
Na comunidade, ou na Paróquia, o que já se faz para combater a pobreza?
Como Catequistas, que podemos fazer mais e melhor para a combater?
Oração final (O catequista coordenador deve orientar a oração)
Rezar um mistério do terço recordando os mais pobres da Paróquia
Cântico: “O pobre clamou, o Senhor o ouviu.” (ou outro adequado)
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III – JESUS: MODELO DA VIVÊNCIA DA CARIDADE COM OS POBRES
Oração inicial (O catequista coordenador deve orientar a oração, preparando-a previamente)
Leitura: 2Tm. 2, 1- 13
Momento de silêncio
Cântico: “Nada te turbe, nada te espante…” (ou outro adequado)
1. Etapa da partilha (Um catequista lê os seguintes textos)
São João Crisóstomo, como resposta ao luxo e à ociosidade dos ricos do seu
tempo (século IV), realçou sempre a importância de ter coisas em comum, do trabalho e
da necessidade de libertar os escravos; apelou à partilha individual e colectiva. Segundo
ele, a Caridade, mais do que um trabalho de uma boa consciência ou uma forma
espiritual de celebrar, era um sacramento, um sinal da presença de Cristo no mundo.
Comentando frequentemente a frase de Jesus: «O que fizestes a um destes meus irmãos
mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes», concluiu que um pobre é «outro Cristo» e que
o «sacramento do altar» tem de ser continuado «na rua» pelo «sacramento do irmão». É
o próprio que afirma:
“Queres honrar o Corpo do Senhor? Aquele que disse: Isto é o meu corpo, disse
também: Vistes-me com fome e não me destes de comer. O que não fizestes a um dos mais
pequenos, foi a mim que o recusastes! Honra portanto a Cristo partilhando os teus bens
com os pobres.”
(S. João Crisóstomo, século IV)
Que importância tem as outras pessoas e as suas necessidades na minha
vida?
Vemos nelas Jesus Cristo a chamar-nos para O servir no amor?
Sentimos que Deus nos ama nas pessoas dos mais pobres?
(Depois da partilha, um catequista faz a leitura pausada e explicita do texto seguinte)
2. Etapa de estudo
O compromisso cristão nasce sempre das convicções e opções claras e firmes de
quem vive o Evangelho de Jesus Cristo, em Igreja. Não se resume a uma mera actuação
momentânea ou esporádica, mas é um posicionamento, um estilo de vida que compromete
de forma permanente a toda pessoa (cf. DGC 156). Mais, a fé em Jesus Cristo leva
necessariamente a tê-l’O como único modelo. Nesta linha, após termos reflectido sobre os
pobres, vejamos algumas dimensões fundamentais que devem nortear a nossa acção para
com eles.
Crer em Deus significa trabalhar com e pelo pobre. Ao longo de toda a história
bíblica, Deus vai-se revelando como Alguém que está sempre a favor dos que sofrem,
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dos maltratados, dos mais pobres. A bela oração de Maria, na cena da Visitação,
expressa bem esta imagem de Deus amigo dos pobres (cf. Lc. 1, 46-55). Quando Jesus
anuncia a chegada dum Deus que quer reinar entre os homens, dirige-se aos pobres
como os primeiros que hão-de escutar este anúncio como boa nova (cf. Lc. 4, 18); isto é,
o Reino de Deus é bom para os pobres, para os homens e mulheres que vivem em
necessidade. Trata-se dos indefesos, das vítimas dos poderosos, dos incapazes de
defenderem os seus direitos perante os abusos dos fortes, pessoas a quem ninguém faz
justiça, que não têm lugar no mundo nem no coração dos outros.
Mas, porque é que o Reino de Deus é Boa Nova para os pobres? Deus não é
neutral? São, por acaso, os pobres melhores que os outros para merecer o Reino de
Deus antes de todos e para terem um tratamento especial da parte de Jesus? O carácter
privilegiado dos pobres não se deve aos seus méritos, nem sequer à sua maior
capacidade para acolher a mensagem de Jesus. A pobreza, por si mesma, não faz bem a
ninguém. A única razão é simplesmente que são pobres e estão abandonados, e Deus,
Pai de todos, não pode reinar na humanidade senão fazendo justiça precisamente a
estes homens e mulheres aos quais ninguém faz (cf. Sal. 72, 12-14; Sal 146, 7-10).
Se Deus reina de verdade e reina o Seu amor e a Sua justiça, já não reinarão o
dinheiro, o lucro, o próprio bem-estar, como senhores absolutos. O Senhor Jesus já o
tinha dito: “Não se pode servir ao mesmo tempo a Deus e ao dinheiro” (Lc. 16, 13). Seja
onde for que se esteja a trabalhar na linha do Reino de Deus e da sua justiça, haverá
sempre a Boa Nova para os pobres, será sempre um tempo e um espaço bons para os
pobres, mesmo na Catequese (cf. DGC 101-102).
O pobre é também memória vivente de Cristo. O Evangelho muda radicalmente a
nossa maneira de olhar os pobres e a nossa maneira de entender a sociedade, isto
porque os pobres são precisamente a memória vivente de Jesus Cristo e a Igreja
descobre neles e nos que sofrem a imagem do Seu fundador pobre e sofredor (cf. LG 8).
Esta maneira de olhar o pobre é uma exigência do próprio Senhor Jesus que se
identifica sempre com os mais pequenos, com os que têm fome, os que estão nus, os
doentes... (cf. Mt. 25, 40).
Assim, Cristo fala-nos a partir da situação da pobreza e do sofrimento; a partir
deles, Ele interpela-nos, convida-nos ao amor comprometido. A partir dos pobres,
chama-nos à conversão, desmascara o nosso cristianismo, questiona a nossa maneira
de viver a fé e de a celebrar, rompe os nossos esquemas e a nossa tranquilidade e
impele-nos ao serviço e ao compromisso. Dificilmente nascerá em nós um autêntico
compromisso se não for na escuta a este chamamento de Cristo a partir dos mais
pobres.
Seguir Jesus Cristo é levar a Boa Nova ao desvalido. Seguir a Jesus Cristo significa
levar a Boa Nova aos pobres, pois o mesmo Senhor Jesus afirma que foi enviado a
«anunciar aos pobres a Boa Nova» (cf. Lc. 4, 18). Nisto consiste, no seu núcleo essencial,
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o compromisso evangelizador: em sentir-se chamado a ser Boa Nova para os pobres,
seguindo os passos de Jesus, colaborando com a sua libertação (cf. EN 30). Daí que é
importante saber como se situa perante eles e como Ele actua neles.
Jesus é alguém que se identifica com a humanidade, sobretudo com a sua vida de
dor, de solidão, de impotência daqueles que não têm rosto e lugar na sociedade. Este é
um dado fundamental: Jesus, antes de proporcionar ajuda, aproxima-se da prostituta,
do doente, do esquecido, do leproso… isto é, de todos os que vivem no mundo, sem que
o mundo seja para eles uma casa, um lar. O compromisso cristão começa por esta
aproximação na nossa vida, nas nossas preocupações, no nosso tempo, na nossa acção
pastoral, como catequistas, aos que não têm lugar nesta sociedade.
É outro rasgo fundamental de Jesus: defender sempre os débeis, os que vivem
aflitos pelo peso da vida, do esquecimento, da doença, da miséria, da solidão. Os que
estão desamparados. Os que não podem valer-se a si próprios. Nós falamos dos
«pobres», mas Jesus fala muitas vezes dos «pequenos», os que não têm poder nem força
para se defenderem.
A actuação de Jesus é conhecida: rompe as barreiras sociais, senta-se à mesa com
os marginalizados, toca nos leprosos, estabelece comunicação, reabilita, recorda a todos
a dignidade de cada homem e de cada mulher. Na actuação de Jesus percebemos um
inédito interesse por aquele que está perdido; uma tendência para os que vivem de
rastos; dirige-se preferencialmente aos não-homens; possui uma predilecção pelos
débeis, pelos que não são capazes de valer-se a si próprios. O compromisso cristão vai
crescendo em nós, catequistas, quando começarmos a ter mais interesse pelos débeis;
quando no nosso coração nos aproximarmos dos que estão em baixo, ou em último
lugar; quando sentimos predilecção pelos frágeis e nos pomos ao seu lado de forma
concreta e comprometida.
Em Jesus há quase uma obsessão pelos que estão «perdidos» expressa nas Suas
parábolas, onde fala da ovelha perdida, do filho pródigo, da moeda perdida. É o lema da
Sua vida: o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido (cf. Lc. 19, 10).
Dentro da sociedade israelita, Jesus faz-se presente aonde a vida parece estar ameaçada
e deteriorada. Ele sente-se enviado às ovelhas perdidas da casa de Israel (cf. Mt. 15, 24),
isto é, aos excluídos, aos últimos, aos perdidos, àqueles a quem a sociedade de Israel
deixou de fora. Ao ver aquelas pessoas abandonadas, traídas pelos seus dirigentes
políticos e religiosos, Jesus sentiu compaixão delas porque estavam cansadas e
esgotadas, como ovelhas sem pastor (cf. Mt. 9, 38). Ele entende que assim há-de ser
também a actuação dos seus discípulos: envio-vos às ovelhas perdidas de Israel (cf. Mt.
10, 6).
Esta proximidade de Jesus aos «perdidos» é feita de gestos concretos de apoio,
acolhimento pessoal, defesa, cura, escuta, perdão, reabilitação, integração à
convivência. Com a Sua actuação, Jesus vai-lhes revelando um «novo rosto de Deus».
Torna-lhes palpável a ternura e o carinho do Pai. Todos estes reconheceram a mão
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amorosa do Senhor Deus estendida até eles, por Jesus. Com a Sua vida e o Seu serviço,
Ele é o sinal de que Deus não os abandona, mesma na pobreza e na miséria.
Esta é a maneira cristã de nos situarmos na sociedade. Estarmos junto dos
últimos, aproximarmo-nos dos que se estão a perder, defender e elevar as vidas
daqueles que estão nos charcos da «perdição». Por aqui passa assim o compromisso de
ser catequista: fazer-se presente aonde a vida se encontra mais deteriorada e
definhada, Enfim, «sair da sacristia» e ir ao encontro do outro. Só depois é que podemos
anunciar, com ardor e paixão, a todos que Deus é amigo da vida, fonte de salvação de
toda a pessoa humana.
3. Etapa do compromisso (O catequista coordenador orienta o diálogo)
Temos consciência da exigência do Reino de Deus em fazer justiça aos
pobres?
Na nossa vida, que atitudes e comportamentos de Jesus podemos assumir?
Como Catequistas, que podemos fazer mais e melhor para ir ao encontro do
outro?
Oração final (O catequista coordenador deve orientar a oração)
Rezar: Pai-nosso
Cântico: Nada te turbe, nada te espante… (ou outro adequado)
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IV- ALGUMAS ATITUDES DE CONVERSÃO PARA VIVER A CARIDADE
Oração inicial (O catequista coordenador deve orientar a oração, preparando-a previamente)
Leitura: 1Jo. 3, 11-24
Momento de silêncio
Cântico: “Senhor, fazei-me instrumento…” de CT 214 (ou outro adequado)
1. Etapa da partilha (Um catequista lê o seguinte texto)
“No seu hino à caridade (cf. 1 Cor 13), São Paulo ensina-nos que a caridade é sempre
algo mais do que mera actividade: «Ainda que distribua todos os meus bens em esmolas e
entregue o meu corpo a fim de ser queimado, se não tiver caridade, de nada me aproveita» (v.
3). Este hino deve ser a Magna Carta de todo o serviço eclesial; nele se encontram resumidas
todas as reflexões que fiz sobre o amor, ao longo desta Carta Encíclica. A acção prática tornase insuficiente, se não for palpável, nela, o amor pelo homem, um amor que se nutre do
encontro com Cristo. A íntima participação pessoal nas necessidades e no sofrimento do
outro torna-se, assim, um dar-me eu próprio a ele: para que o dom não humilhe o outro, não
devo apenas dar-lhe qualquer coisa minha, mas dar-me a mim próprio, devo estar presente
no dom como pessoa.”
(Deus Caritas est, 34)
Qual a mensagem deste texto?
Segundo o texto, qual a grande exigência da vivência da Caridade?
Em que é que a vivência da fé é fundamental para a prática da Caridade?
(Depois da partilha, um catequista faz a leitura pausada e explicita do texto seguinte)
2. Etapa de estudo
Após o estudo dos temas anteriores, há questões que nos vêm à mente e ao coração,
sobretudo, aquela que se refere à forma de viver a Caridade, enquanto catequistas no
seguimento de Jesus Cristo, e ser Boa Nova para os outros, em especial, os pobres. No fundo, é
saber qual deve ser a nossa atitude e o nosso compromisso perante a pobreza e a
marginalização na sociedade contemporânea, sobretudo, quando já não conseguimos muito
na nossa Catequese. Claro que não vamos especificar acções concretas nos diversos campos,
em especial para a Catequese, mas apenas referir algumas atitudes, ou posturas de fundo,
que dão orientação integral à nossa vida, como cristãos e como catequistas (cf. DGC 239).
Primeiramente, perante a idolatria do bem-estar tempo de viver a austeridade.
Facilmente, todos percebem que a nossa sociedade está dominada pelo anseio do bemestar e pela idolatria do dinheiro. Muitos respiram um clima no que apenas conta o valor
do dinheiro, do êxito, do consumo, do fim-de-semana, do último modelo de automóvel, da
moda. Nesses ambientes, fala-se da crise, mas não se escuta o grito dos que sofrem.
Protesta-se com a situação política, mas vive-se cada vez melhor.
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Temos de recordar que existe uma atitude profundamente cristã, a vivida pelo
próprio Senhor Jesus: o atrevimento da pobreza voluntária, eleita somente por serviço ao
Reino de Deus. «Felizes os pobres porque será deles o Reino de Deus» (cf. Lc. 6, 20). Viver a
pobreza evangélica contém em si uma grande força libertadora, pois faz-nos mais livres
perante a sociedade do bem-estar e do progresso, quando estes escravizam e produzem
marginalização. Liberta-nos de viver dependentes da posse das coisas, do prestígio social e
da moda. Deixa-nos com as mãos mais livres para actuar ao serviço dos pobres, pondo-nos
próximos deles.
Perante o desenvolvimento desumano temos de viver em defesa da pessoa. A ciência e
o desenvolvimento técnico só têm sentido humano se estão ao serviço da pessoa; mas, se
estão ao serviço de interesses duns poucos, convertem-se em critério único de medidas
económicas que marginalizam e afundam a miséria de outros e chegam a ser factor de
opressão e desumanização. Não se trata de desapreciar a ciência ou o progresso sem mais,
mas de pô-los sempre ao serviço da pessoa. Nada pode justificar que se sacrifiquem os
mais desfavorecidos da sociedade, enquanto o resto vive cada vez melhor. Há já entre nós
pessoas que não têm o suficiente para subsistir (cf. Eclo. 34, 22), pois foram
marginalizadas por medidas económicas que as deixaram sem trabalho.
A reacção fácil da sociedade é a discriminação, ou o esquecimento dos
desempregados, o ressentimento para com os estrangeiros, a xenofobia, etc. O
compromisso cristão significa sempre a defesa das pessoas: ajudar os desempregados,
lutar contra a descriminação, reagir contra o desprezo que é feito aos estrangeiros,
defender os maltratados pela sociedade, estar junto dos presidiários, apoiar a família que
se afunda… Numa palavra, procurar sempre o bem da pessoa, defender os seus direitos e a
sua dignidade.
Perante uma cultura individualista temos de viver a solidariedade. Um dos rasgos da
sociedade actual é o individualismo e a insolidariedade. Cada um preocupa-se com o seu
bem-estar e o seu futuro. O mote é: «salve-se quem puder». Não importa que tudo continue
igual, desde que a minha situação e a minha família esteja bem. Aparece assim o
corporativismo insolidário: reivindicam-se os direitos do próprio grupo ou «classe». As
pessoas mobilizam-se quando estão em jogo os seus próprios interesses. As greves e as
manifestações de outros grupos não fazem outra coisa senão atrapalhar os meus
interesses.
É urgente promover uma nova consciência inspirada pela solidariedade que seja a
determinação firme e perseverante de empenhar-se pelo bem-comum; isto é, pelo bem de
todos e de cada um, para que também todos sejam verdadeiramente responsáveis de e por
todos (cf. SRS 38). Esta consciência de solidariedade exige: despertar para a
responsabilidade colectiva para com as vítimas da sociedade; suscitar a sensibilidade para
com a sua situação de necessidade; promover a integração dos marginalizados;
desenvolver a partilha e criticar a competitividade como valor absoluto. Compromisso
cristão quer dizer hoje comprometer-se em criar outra cultura, outro tipo de convivência
social.
16
Por fim, perante a insensibilidade social temos de viver a misericórdia. Na sociedade
actual, cresce a insensibilidade e a apatia. Estamos muito longe daquela «civilização do
amor» com que o Papa Paulo VI sonhava. O desenvolvimento da técnica, a procura da
eficácia e do rendimento, a organização burocrática dos serviços, trazem consigo o risco de
reprimir a «civilização do coração». Pouco a pouco, a ternura, o carinho, o acolhimento
cálido a cada pessoa são varridos da sociedade. Cada vez há menos lugar para o coração.
Muitas pessoas vivem a pobreza do afecto, do carinho, do amor próximo e cordial.
São pessoas as quais ninguém escuta, ninguém espera em nenhum sítio, ninguém acaricia e
beija. Gente, afinal, que não conta para nada. As instituições e os serviços sociais podem
cobrir um tipo de necessidades materiais, mas não podem oferecer amizade, escuta,
compreensão, carinho, ternura. O compromisso cristão está chamado a introduzir
misericórdia nesta sociedade, a «pôr coração» nas engrenagens da vida actual para que
seja libertada da solidão e se possa acompanhar os outros na depressão, aliviar a velhice
dos idosos, animar a vida dos desvalidos.
Perante o fatalismo viver a responsabilidade e o compromisso. Em pouco tempo,
passámos do optimismo à desilusão. A sociedade atravessa hoje uma forte crise de
esperança. Cresce o cepticismo e o pessimismo. Pedem-se sacrifícios às pessoas, mas não
se vêm resultados. Já ninguém acredita nas promessas dos dirigentes políticos. Não se
espera muito dos especialistas. Ninguém se acredita nas suas palavras e projectos!
É o momento de actuar de forma responsável e comprometida, sem perder a
esperança. Duas convicções têm de nos animar: o homem não perdeu a capacidade de ser
mais humano e de organizar a sociedade de forma mais humana. O que é necessário é
reagir e comprometer-se numa nova direcção, libertando-nos de esquemas e mecanismos
desumanizadores. Por outro lado, o Espírito de Deus continua actuando. «Onde abundou o
pecado, superabundou a graça» (cf. Rom. 5, 20). Inclusive, os pobres, que hoje sofrem as
consequências duma sociedade pouco humana, são portadores de esperança, pois a sua
situação está a clamar algo realmente novo. Enfim, importante é permanecer junto das
vítimas da nossa sociedade, apoiar a sua causa, valorizar as suas vidas como algo precioso
e comprometermo-nos na sua defesa. Aí estaremos já a evangelizar.
3. Etapa do compromisso (O catequista coordenador orienta o diálogo)
Que mudanças temos de operar em mim para vivermos estas atitudes?
Como podemos transformar de forma responsável estas atitudes em gestos
concretos?
Oração final (O catequista coordenador deve orientar a oração)
Rezar: Pai-nosso
Cântico: Senhor, fazei-me instrumento… (ou outro adequado)

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