as s has anhas - Trupe Artemanha

Transcrição

as s has anhas - Trupe Artemanha
Autor
Luciano Santiago Lima
Teatrólogo, ator, encenador, dramaturgo e orientador
artístico. Nasceu em março de 1978 na cidade de São
João de Meriti, RJ, passando sua bela infância, segundo o autor, no bairro de Santa Maria, Belford Roxo, RJ,
onde viveu até os 10 anos de idade.
A Trupe Artemanha foi fundada em 1996 em Taboão da Serra-SP, onde
trabalhou por oito anos e realizou um importante processo de formação
de público. A partir de 2005 o grupo expandiu seus trabalhos para a Zona
Sul do município de São Paulo, sediando-se em Campo Limpo, e atuando
também nos bairros de Capão Redondo, Vila Andrade e Paraisópolis, que
juntos, compreendem aproximadamente 700 mil habitantes.
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Desde 2005 a Trupe Artemanha realiza apresentações de espetáculos,
oficinas, palestras e mostras de teatro nesta região, promovendo
apresentações de grupos de teatro de diferentes cantos da cidade de
São Paulo, do interior do estado e de outras cidades do país, com uma
programação totalmente gratuita e diversificada, recebendo públicos
de todas as faixas etárias e classes sociais, sobretudo, pessoas que
dificilmente têm acesso ao teatro e à arte de modo geral. Este é um
diferencial do projeto artístico-político do grupo, pois o Artemanha
está distante dos centros de cultura e lazer e suas ações fortalecem o
movimento teatral em sua região de atuação, expandindo-se para outros
bairros de São Paulo e cidades do país, possibilitando um maior contato
com os moradores e artistas locais.
ANHAS
A Trupe Artemanha sempre procurou trazer para cena temas que
dialogassem com fatos históricos do país. Em seus trabalhos, a Trupe
mescla elementos circenses, danças dramáticas, ritmos populares
e o trabalho com máscaras, com o principal objetivo de apresentar
espetáculos que provoquem exercícios de reflexão, deformando a
realidade apresentada.
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Luciano S
O livro Revelando Artemanhas – A quebrada Reage e
Age! revela um pouco da história do grupo Trupe Artemanha de investigação teatral, coletivo radicado
desde 1996 na cidade de São Paulo. O livro foi organizado pelo fundador-integrante Luciano Santiago, que
vivenciou todas as fases do grupo e pôde relatar e sintetizar com uma linguagem coloquial o que se passou
durante os 18 anos de trajetória do Artemanha. Dando
foco principalmente aos anos que foram vivenciados
no bairro do Campo Limpo, zona sul de São Paulo.
O Artemanha está no bairro do Campo Limpo desde
2005, contribuindo consideravelmente com o cotidiano cultural da região. Nesses últimos 9 anos, o grupo
criou os seguintes projetos e ações: FESTCAL – Festival Nacional de Teatro de Campo Limpo (2006); Artemanha Recebe (2008); Artemanha nas Praças (2009);
Ocupação de um espaço público, hoje conhecido como
Espaço Cultural CITA (desde 7 de maio de 2011); Escola
Popular de Teatro CITA (2011); Revirada Cultural da
Resistência, criada em 2011 para defender a Ocupação
do Espaço Cultural CITA, entre outras ações apoiadas
pelo Programa de Fomento ao Teatro para a cidade de
São Paulo.
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AS
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A quebrada Reage e Age!
Estudou e se formou no Teatro Escola Macunaíma
(1997-2000), além de ter participado de oficinas livres
e treinamentos com Tiche Vianna, Renato Ferracini, Tânia Farias, Antônio Rogério Toscano, Alexandre
Mate, Iná Camargo Costa, Ingrid Koudella, Marcelo Bones, Ligia Veiga, Pax Bittar, Lu Grimaldi, Grupo Espanhol Ponkã, Jair Assumpção, Roberto Vignati, Ednaldo
Freire, Amauri Alvarez, Wolney de Assis, entre outros
mestres que contribuíram para sua formação artística.
ARTEMANH
REVELANDO ARTEMANHAS
Chegando a São Paulo, morou no bairro Jardim Scândia, em Taboão da Serra, município da Grande São
Paulo. Teve o primeiro contato com a arte teatral em
março de 1994, quando ingressou no grupo amador
SCART, encenando no mesmo ano seu primeiro trabalho como ator: Santuário de Vampiros, de Salvador
Ribeiro. Foi um dos fundadores da Trupe Artemanha,
em 1996, participou de outros grupos em Taboão da
Serra: Quem Diria e Deixa-Comigo, em 1996; e foi ainda um dos fundadores da U.T.T - União Teatral Taboão,
em 1997.
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TRUPE ARTEMANHA
DE INVESTIGAÇÃO TEATRAL
APOIO INSTITUCIONAL:
CO-PATROCÍNIO:
CULTURA
17/1/2014 10:31:09
Autor
Luciano Santiago Lima
Teatrólogo, ator, encenador, dramaturgo e orientador
artístico. Nasceu em março de 1978 na cidade de São
João de Meriti, RJ, passando sua bela infância, segundo o autor, no bairro de Santa Maria, Belford Roxo, RJ,
onde viveu até os 10 anos de idade.
A Trupe Artemanha foi fundada em 1996 em Taboão da Serra-SP, onde
trabalhou por oito anos e realizou um importante processo de formação
de público. A partir de 2005 o grupo expandiu seus trabalhos para a Zona
Sul do município de São Paulo, sediando-se em Campo Limpo, e atuando
também nos bairros de Capão Redondo, Vila Andrade e Paraisópolis, que
juntos, compreendem aproximadamente 700 mil habitantes.
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Desde 2005 a Trupe Artemanha realiza apresentações de espetáculos,
oficinas, palestras e mostras de teatro nesta região, promovendo
apresentações de grupos de teatro de diferentes cantos da cidade de
São Paulo, do interior do estado e de outras cidades do país, com uma
programação totalmente gratuita e diversificada, recebendo públicos
de todas as faixas etárias e classes sociais, sobretudo, pessoas que
dificilmente têm acesso ao teatro e à arte de modo geral. Este é um
diferencial do projeto artístico-político do grupo, pois o Artemanha
está distante dos centros de cultura e lazer e suas ações fortalecem o
movimento teatral em sua região de atuação, expandindo-se para outros
bairros de São Paulo e cidades do país, possibilitando um maior contato
com os moradores e artistas locais.
ANHAS
A Trupe Artemanha sempre procurou trazer para cena temas que
dialogassem com fatos históricos do país. Em seus trabalhos, a Trupe
mescla elementos circenses, danças dramáticas, ritmos populares
e o trabalho com máscaras, com o principal objetivo de apresentar
espetáculos que provoquem exercícios de reflexão, deformando a
realidade apresentada.
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O livro Revelando Artemanhas – A quebrada Reage e
Age! revela um pouco da história do grupo Trupe Artemanha de investigação teatral, coletivo radicado
desde 1996 na cidade de São Paulo. O livro foi organizado pelo fundador-integrante Luciano Santiago, que
vivenciou todas as fases do grupo e pôde relatar e sintetizar com uma linguagem coloquial o que se passou
durante os 18 anos de trajetória do Artemanha. Dando
foco principalmente aos anos que foram vivenciados
no bairro do Campo Limpo, zona sul de São Paulo.
O Artemanha está no bairro do Campo Limpo desde
2005, contribuindo consideravelmente com o cotidiano cultural da região. Nesses últimos 9 anos, o grupo
criou os seguintes projetos e ações: FESTCAL – Festival Nacional de Teatro de Campo Limpo (2006); Artemanha Recebe (2008); Artemanha nas Praças (2009);
Ocupação de um espaço público, hoje conhecido como
Espaço Cultural CITA (desde 7 de maio de 2011); Escola
Popular de Teatro CITA (2011); Revirada Cultural da
Resistência, criada em 2011 para defender a Ocupação
do Espaço Cultural CITA, entre outras ações apoiadas
pelo Programa de Fomento ao Teatro para a cidade de
São Paulo.
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A quebrada Reage e Age!
Estudou e se formou no Teatro Escola Macunaíma
(1997-2000), além de ter participado de oficinas livres
e treinamentos com Tiche Vianna, Renato Ferracini, Tânia Farias, Antônio Rogério Toscano, Alexandre
Mate, Iná Camargo Costa, Ingrid Koudella, Marcelo Bones, Ligia Veiga, Pax Bittar, Lu Grimaldi, Grupo Espanhol Ponkã, Jair Assumpção, Roberto Vignati, Ednaldo
Freire, Amauri Alvarez, Wolney de Assis, entre outros
mestres que contribuíram para sua formação artística.
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REVELANDO ARTEMANHAS
Chegando a São Paulo, morou no bairro Jardim Scândia, em Taboão da Serra, município da Grande São
Paulo. Teve o primeiro contato com a arte teatral em
março de 1994, quando ingressou no grupo amador
SCART, encenando no mesmo ano seu primeiro trabalho como ator: Santuário de Vampiros, de Salvador
Ribeiro. Foi um dos fundadores da Trupe Artemanha,
em 1996, participou de outros grupos em Taboão da
Serra: Quem Diria e Deixa-Comigo, em 1996; e foi ainda um dos fundadores da U.T.T - União Teatral Taboão,
em 1997.
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TRUPE ARTEMANHA
DE INVESTIGAÇÃO TEATRAL
APOIO INSTITUCIONAL:
CO-PATROCÍNIO:
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REVELANDO
ARTEMANHAS
A quebrada Reage e Age!
Um projeto:
Livro Documental publicado com o CO-PATROCÍNIO da
21ª Edição do Programa de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo
Pelo projeto: “CITA – 3 Eixos: Ocupar, Revelar e Difundir...”
REVELANDO
ARTEMANHAS
A quebrada Reage e Age!
Organizado por Luciano Santiago
REALIZAÇÃO:
APOIO INSTITUCIONAL:
CO-PATROCÍNIO:
CULTURA
Índice
7APRESENTAÇÃO
17
ARTE CAMPO LIMPO MANHA
23FESTCAL
43
TRUPE ARTEMANHA NO FOMENTO AO TEATRO - PROJETOS
44 Trupe artemanha de investigação urbana
51 Revelando Artemanhas
61 15 Anos revelando Artemanhas
70 Cita – 3 Eixos: Ocupar, Revelar e Difundir
101 TRUPE ARTEMANHA DE INVESTIGAÇÃO TEATRAL
109 RELATOS SOBRE A OCUPAÇÃO DO ESPAÇO CULTURAL CITA
117 MEMÓRIAS TRUPE ARTEMANHA
139AGRADECIMENTOS
142 Consultas bibliográficas
- Ei! O que vocês fazem?
- Teatro.
- O que é isso?
- Teatro.
- Vocês trabalham com o quê?
- Teatro.
- Tá, mas vocês vivem de quê?
- Teatro.
APRESENTAÇÃO
O parto se deu em janeiro de 1996 numa tarde
chuvosa como de costume nessa época, São Paulo
se desmancha em água. Exatamente num dia 06,
sábado, dia de Reis (feliz coincidência com essa tão
importante data), nascia o Grupo Teatral Artemanha, na Escola Estadual Laurita Ortega Mari, bairro Jardim Clementino, no município de Taboão da
Serra, São Paulo.
Os articuladores e participantes daquele primeiro
encontro foram Flávia D’Á Lima, Ney Rodrigues,
Luciano Santiago, Daniela Alves, Solange Alves
e Wilames Alves os três últimos faziam parte da
mesma família “Alves”, que optariam em não mais
fazer teatro depois de alguns anos. Em algum momento dessa história, Flávia D’Á Lima, que permaneceu na primeira formação do grupo até o final
de 1997, voltaria para o Artemanha em 2007 e,
depois, continuaria sua linda trajetória de atriz no
Grupo Encena. O ator e diretor Ney Rodrigues, que
foi responsável pela primeira direção de um espetáculo do Artemanha, também saiu em 1997 e não
mais voltou, seguiu seu rumo fazendo trabalhos
solo e com outros grupos um desses importantes
coletivos foi o Engenho Teatral, que, de 2002 a
2004, ocupou com o seu Teatro Itinerante a Praça
do Campo Limpo (que mais tarde se tornaria a casa
ou praça do Artemanha). E, finalmente, Luciano
Santiago, o único dos fundadores que continua no
coletivo e que narrará neste livro, em formato documental, uma breve trajetória desse grupo que
completou 18 anos de história no início de 2014.
Este livro pretende relatar importantes acontecimentos que o Artemanha passou em seus anos
na cidade de Taboão da Serra (1996 a 2004); principalmente no bairro do Campo Limpo, cidade de
São Paulo (2005 até 2013). Serão relatadas ações e
atividades que foram criadas nesses últimos anos,
como a criação do FESTCAL (Festival Nacional de
Teatro de Campo Limpo), a participação do grupo
no Programa de Fomento ao Teatro, como a criação
da Escola Popular de Teatro CITA, até a ocupação
do espaço público que se tornou sede do grupo e
de vários coletivos artísticos, e o Espaço Cultural
CITA – Centro de Investigação Teatral Artemanha.
Com a reação, cria-se a ação
Poderia ser um time de futebol que se encontraria
para bater bola aos domingos e extravasaria a dura
semana de trabalho que cada um dos filhos e pais
de famílias dos bairros mais afastados do Centro
têm como opção de lazer, já que a rotina criada e
herdada de gerações passadas continua a existir
na vida de cada um desses mesmos jovens que nascem nas ditas periferias.
Poderia ser mais um grupo de pagode que cantaria
músicas melancólicas tendo como inspiração: Raça
Negra, Katinguelê, Negritude Jr, Arte Popular, Só
pra Contrariar... Uma imensidão de pagodeiros que
eram fenômenos entre as casas de tijolos à mostra,
entre as vizinhanças que penduravam suas roupas
em varais armados nos fundos das casas, nas lajes
ou em qualquer lugar apertado que permitisse estender os uniformes dos operários paulistanos das
classes D e E, cantando músicas que muitas vezes
lembrariam os clássicos tocados nos anos 70 e 80,
hoje considerados bregas: Antônio Marcos, Amado
Batista, Ovelha, Reginaldo Rossi, entre outros que
agora recebiam como “homenagem” composições
e ritmos diferentes, mas que mantinham as declarações melosas de amor ou os ressentimentos por
um rompimento qualquer. Ou poderia ter sido um
grupo de rap, ritmo musical de protesto contra as
mazelas de bairros pobres das cidades da Grande
São Paulo, que ganhou força principalmente na década de 90.
E enquanto isso, “do outro lado da ponte”, aconteciam apresentações dos espetáculos que fizeram
parte da trilogia bíblica do Teatro de Vertigem,
sob a direção de Antônio Araújo: Paraíso Perdido
(1992), Livro de Jó (1995) e Apocalipse 1.11 (2000),
inspiradores de diversos grupos, um teatro concebido para espaços alternativos que tratavam de
questões do homem urbano atual a partir de uma
releitura de capítulos da Bíblia, um teatro mais intimista, utilizando-se de recursos cênicos extravagantes que depois viraram referência de encenação. O principal dos elementos é o termo “teatro
colaborativo”, que se desdobra e se aproxima do
“teatro de grupo”.
Mas o que foi esse teatro colaborativo oficializado na
década de 90? É importante mencionar um dos trechos escritos pelo dramaturgo Luiz Alberto de Abreu:
[...] Pode-se dizer que o processo colaborativo é
um processo de criação que busca a horizontalidade nas relações entre os criadores do espetáculo teatral. Isso significa que busca prescindir de
qualquer hierarquia preestabelecida e que feudos e espaços exclusivos no processo de criação
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são eliminados. Em outras palavras, o palco não é
reinado do ator, nem o texto é arquitetura do espetáculo, nem a geometria cênica é exclusiva do
diretor. Todos esses criadores e todos os outros
mais colocam experiência, conhecimento e talento
a serviço da construção do espetáculo de tal forma
que se tornam imprecisos os limites e o alcance da
atuação de cada um deles. [...]
Apesar da grande admiração que existe pelos mestres, e que com certeza essa dinâmica de trabalho
“processo colaborativo” foi algo que rompeu com
o teatro besteirol da época, que ainda consegue
fazer estragos em todo cenário do teatro nacional, que merece uma aprofundada discussão. Hoje,
considera-se a partir de discussões dentro da Trupe Artemanha, de relatos de grupos do interior
do estado, das periferias da cidade de São Paulo e
Grande São Paulo, que esse tipo de processo colaborativo está enraizado nos pilares de grupos que
contam com seus próprios integrantes para construção de cenários, adereços, figurinos, etc. tendo
em cada um uma afinidade específica para determinada tarefa que surge naturalmente dentro do
coletivo; ou seja, o fazer teatral em processo colaborativo existe há anos, levando em conta outros
coletivos que surgiram, ainda os que se desfizeram
por não conseguir manter dignamente seus trabalhos, pois a organização da sociedade em um país
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como o Brasil ainda não permite uma dedicação
exclusiva da maioria da população interessada em
pesquisar e produzir arte.
Foi nesse contexto que surgiu a Trupe Artemanha,
num bairro da periferia do município de Taboão
da Serra que faz divisa com os bairros do Campo
Limpo e Capão Redondo, tendo a oportunidade de
conhecer de perto a dura realidade desses lugares
que nos anos noventa tiveram uma das maiores
taxas de homicídios do mundo e revertendo esse
quadro com movimentos sociais e culturais de
seus próprios moradores. O que fazer? Muito Teatro.
A reação que surge está conexa à falta de investimentos de políticas públicas para a cultura que
assola cidades de todo o país. Se levarmos em
consideração que, com a criação da Lei de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo1, que
¹ LEI Nº 13.279, 8 DE JANEIRO DE 2002
(...) Tem como objetivo apoiar a manutenção e criação de projetos de
trabalho continuado de pesquisa e produção teatral visando o desenvolvimento do teatro e o melhor acesso da população ao mesmo.
Fonte: http://www3.prefeitura.sp.gov.br/cadlem/secretarias/negocios_
juridicos/cadlem/integra.asp?alt=09012002L%20132790000
deu certo fôlego para uma filosofia de investimento direto em grupos para realizarem a
manutenção e organização de suas pesquisas,
priorizando dar continuidade a um projeto artístico maior do que apenas a produção de um
espetáculo é importante pontuar, ressaltar,
enfatizar, todos os adjetivos referentes a tal
Programa de Fomento ao Teatro, que, inclusive, permitiu que fosse publicado esse livro,
distribuído gratuitamente e que resultará em
mais um registro de resistência da arte teatral
a feudos do mercado.
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ARTE CAMPO LIMPO MANHA
O Campo Limpo tem cerca de 600 mil habitantes.
Está localizado na Zona Sul de São Paulo, próximo ao
Capão Redondo e Jardim Ângela e vizinho ao Bairro
do Morumbi. Também é considerado um corredor
cultural, pois tem acesso aos municípios de Taboão da
Serra, Embu das Artes e Itapecerica da Serra, que em
suas particularidades possuem movimentos artísticos
diversificados. O bairro tornou-se um local centralizado da maioria das manifestações artísticas da região.
Podemos encontrar diversos saraus, em especial o Sarau do Binho, instituições culturais (Projeto Arrastão,
Capão Cidadão, Turma da Touca, Parque Santo Dias)
e uma grande concentração do movimento hip-hop.
Um local que sempre ferveu de manifestações produzidas em mais uma das periferias de uma grande
cidade, que acaba criando uma nova maneira de se
compreender a Arte, novas estéticas e os desdobramentos desse processo. E foi nesse intenso movimento cultural que o grupo se envolveu rapidamente e
chegou de vez ao bairro Campo Limpo, pois já estava
familiarizado com artistas e militantes de movimentos sociais da região, atuando também com apresentações do espetáculo Soltando o Verbo.
Primeiro local para residência artística, dificuldades e
persistências
Sempre existiu nas cidades brasileiras a dificuldade
de grupos culturais terem espaços para trabalhar e
desenvolver suas pesquisas. E não foi diferente com
a Trupe Artemanha, que teve esse mesmo tipo de
dificuldade em Taboão da Serra e que também teria no bairro Campo Limpo. Mesmo assim, algumas
possibilidades surgiram na época com bastante persistência. E o primeiro local em que os integrantes
do grupo começaram sua história no bairro foi no
salão superior da Biblioteca Municipal Marcos Rey,
localizado na Avenida Anacé, n° 92 – Jardim Umarizal, na região do Campo Limpo, onde realizou encontros, reuniões, pesquisas, leituras e ensaios.
Apesar de o grupo ter conseguido esse local para
os encontros, surgiram certas limitações para que
pudessem ser realizados os trabalhos, a principal
delas era o horário, que se limitava ao funcionamento da biblioteca. E por ser uma biblioteca e
É importante ressaltar
que foram feitos esforços
imensuráveis pela
gestora carinhosamente
chamada de Marjô, que
se reuniu diversas vezes
com os integrantes do
Artemanha para traçar
opções que pudessem
atender às demandas
dos trabalhos do grupo.
não dispor de um espaço adequado para os encontros, diferente de algumas bibliotecas municipais,
como a Monteiro Lobato, por exemplo, da qual a
Cia Truks faz sua residência. Era difícil conter os vários sons que um grupo teatral normalmente produz, acabando por causar reclamações naturais dos
usuários que frequentavam o local para leituras e
estudos. Às vezes, conseguíamos horários diferentes do funcionamento habitual do espaço, como
aos finais de semana ou em algumas vezes no período noturno. Mas isso era bem de vez em quando,
por causa das responsabilidades e estrutura para
se manter o local aberto, preservando os bens
patrimoniais pertencentes à sociedade pública.
É importante ressaltar que foram feitos esforços
imensuráveis pela gestora carinhosamente chamada de Marjô, que se reuniu diversas vezes com
os integrantes do Artemanha para traçar opções
que pudessem atender às demandas dos trabalhos
do grupo. E lógico, muitas vezes encontramos soluções, mas, quase sempre só era possível utilizar
o local para reuniões. E como um grupo de teatro
necessita de práticas, e não somente de reuniões,
buscamos outras opções antes testadas, como ensaios no Centro Educacional Unificado Casablanca.
Mas a distância com a consequente necessidade
de locomoção dos integrantes do grupo era um
fator que também acabava pesando no bolso literalmente. Pois todos os integrantes do Artemanha
Revelando Artemanhas
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sempre trabalharam em outras áreas para tentar
se dedicar, mesmo que minimamente, à Arte Teatral. Por opção? Não.
O grupo sempre teve em seu quadro filhos de
operários que se empenhavam bastante para se
manterem dignamente, mesmo não querendo, na
lógica do mercado. Que, de certa forma, os privilégios para a dedicação necessária a esse processo de fazer parte de um grupo teatral que precisa
de encontros com mais frequência para aprimorar o trabalho artístico não eram suficientes, mas
que não nos desmotivaram para continuar nesse
caminho, pelo contrário, nos deram mais força e
estímulos, inclusive que reverberaram em nossos
espetáculos. Tudo feito com muita militância e
amor no modo de se produzir, vivenciar e realizar.
No entanto, nesse tempo não foi possível que algumas pessoas pudessem continuar no trabalho,
tomando outros caminhos ou dando conta de outras demandas, fazendo-nos, muitas vezes, perder
a batalha contra o mercado.
Primeiros passos, primeira ação
A Trupe Artemanha contribuiu com a comunidade
e os artistas da região, realizando debates, saraus
urbanos e apresentações do espetáculo Soltando
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19
A Trupe Artemanha
contribuiu com a
comunidade e os artistas
da região, realizando
debates, saraus urbanos
e apresentações
o Verbo. Além disso, participava de Fóruns de Cultura que discutiam políticas culturais para o Campo
Limpo e região, inclusive a construção da primeira
Casa de Cultura, que até hoje não foi implantada.
Desses encontros surgiu a ideia de que cada coletivo cultural fizesse propostas para estreitar relações com a população, criando um espaço para
discussões sociais e culturais. Eis que a Trupe Artemanha propôs a criação de um festival de teatro,
idealizado por Luciano Santiago, que aconteceria
totalmente no bairro do Campo Limpo, nascendo,
assim, o FESTCAL – Festival Nacional de Teatro de
Campo Limpo em 2006.
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FESTCAL
Festival Nacional de Teatro de Campo Limpo
Um dos principais projetos, ações, movimentações, contribuições para a região do Campo Limpo surgiu em 2006, com a criação de um Festival
de Teatro que logo se transformaria em um dos
mais importantes eventos culturais do calendário
alternativo da cidade de São Paulo, acontecendo
totalmente no bairro do Campo Limpo, que inclusive hoje, tem importância nacional, pela forma
porque foi se fortalecendo tanto na interação
com a comunidade, como com os grupos que já se
apresentaram em ruas e espaços do bairro.
E cada vez mais essa relação vem sendo ampliada,
com o passar dos anos, pelo entendimento da população que o FESTCAL é importante para a região,
assim como outras ações culturais de coletivos que
resistem produzindo seus trabalhos nas chamadas
bordas periféricas que se transformaram em verdadeiras ilhas isoladas pelo atropelo e imposição
econômica da cidade, excluindo sempre, incluindo
nunca. E não falo sobre “inclusão social”, e, sim,
pelo direito fundamental que cada cidadão de
qualquer local do País tem, que seria o retorno de
seus impostos “caros” pagos às Gestões Públicas
que têm o dever de oferecer serviços públicos de
qualidade em áreas essenciais, como, Saúde, Educação, Transporte e Cultura. De certa forma, grupos artísticos tem dado conta de tais demandas
com a contemplação em editais públicos, que foram conquistas de movimentos sociais e culturais
da cidade de São Paulo e do Estado, que tiveram
verdadeiras ações de guerrilha para que a Gestão
Pública entedesse sua responsabilidade em ter
que fomentar os fazedores de arte.
10 Anos de Artemanhas, surge o
FESTCAL
Com a necessidade de dialogar com a população,
tendo como objetivo ocupar os espaços ociosos
do bairro, que a Trupe Artemanha, em seus anos
de história (2006), criou um Festival de Teatro de
Grupos, com o propósito de ampliar o contato
com coletivos espalhados pelo País, conhecendo
de perto seus processos de trabalhos, vivências
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Revelando Artemanhas
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e engajamentos políticos. Além de colocar em
prática um antigo sonho: o de realizar um festival
de teatro totalmente na periferia de São Paulo,
envolvendo grupos e artistas das mais variadas
localidades, com vivência teatral adquirida nos
processos de pesquisas para compartilhar com o
público e demais participantes.
O primeiro FESTCAL contou com a participação
de 11 grupos da região e de outros municípios
(Taboão da Serra, São Caetano e Poá). As encenações foram divididas entre os CEUs (Centros
Educacionais Unificados) Casablanca e Campo
Limpo, com cerca de 2.000 espectadores registrados durante o evento. No ano seguinte
(2007), o festival foi contemplado pelo Programa
VAI – Valorização a Iniciativas Culturais (primeiro
edital público que a Trupe Artemanha recebeu, depois de 11 anos de existência), ampliando para o
número de 18 grupos de teatro adulto e infanto-juvenil, além da criação da primeira Mostra de Teatro de Rua, que reuniu 6 grupos da cidade de
São Paulo, com um total de 24 coletivos, e cerca
de 8.000 espectadores que assistiram e participaram das apresentações dos grupos.
O FESTCAL já chegou a contar com mais de 38
grupos em 2009 (4ª edição), sendo considerado o
maior festival de teatro do estado em quantidade
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de coletivos, mesmo sendo realizado sempre
com poucos recursos. Porém, constatamos que
o número elevado de grupos impedia algo que
era importantíssimo como principal conceito da
mostra, o de ter tempo para o diálogo entre os
coletivos, tendo nas edições posteriores o número máximo de 20 grupos. Com isso, passamos a
convidar os grupos que achávamos interessantes para cada edição, realizando uma espécie de
rodízio, mesmo sendo alguns deles parceiros de
luta que se apresentaram em várias edições pela
aproximação e afinidade de trabalho, com ou sem
cachê, eliminando de vez a seleção por material
de vídeo e projeto.
O FESTCAL reúne diversas categorias: Teatro Adulto, Infanto-Juvenil, Teatro de Rua e Teatro Experimental em espaços alternativos, criando uma
programação diversificada, perpetuando seu objetivo principal, que é o de receber grupos com características de processos em pesquisas continuadas de várias cidades do País. Outra forte marca
da mostra é a de homenagear um artista e/ou um
grupo, com objetivo de manter as características
do festival, homenageando grupos de teatro que
transitam entre a arte e a educação popular e que
estão aliados ao desenvolvimento social, enriquecendo e fortalecendo cada vez mais as ações desse
importante projeto.
Revelando Artemanhas
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Senhoras e...
Senhores!!!
A Trupe Artemanha tem a honra de apresentar:
Todos os FESTCALs que aconteceram de 2006 a
2013.
8º FESTCAL - Festival Nacional de Teatro de Campo Limpo – 2013 – Homenagem ao Movimento Popular Escambo Livre de Rua e 3ª Revirada Cultural
da Resistência
Período: 29 de maio a 2 de junho de 2013
20 grupos participantes:
Mostra Estadual de Teatro de grupos com sede
no Estado de São Paulo, que contou com nove
companhias teatrais: Cia Teatro dos Ventos (Osasco - SP), Grupo Pombas Urbanas (Cidade Tiradentes – São Paulo - SP), Contadores de Mentira (Suzano - SP), Coletivo Foz de Arte (Paraisópolis – São
Paulo - SP), Teatro Popular União e Olho Vivo (Bom
Retiro – São Paulo - SP), Grupo Rosa dos Ventos
(Presidente Prudente - Sp), Trupe Olho da Rua
(Santos - SP), Sarau do Binho, Trupe Artemanha –
SP – Grupo que organiza o Festcal.
Mostra Nacional de Teatro de Grupos com sede
em outros estados, contando com cinco grupos
representantes de cada região do País: Movimento Popular Escambo Livre de Rua, Grupo Off-Sina
Revelando Artemanhas
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Revelando Artemanhas
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Homenagem a Amir
Haddad, Dulce Muniz e
ao Grupo Tá na Rua (RJ).
Homenagem aos 45
Anos do TUOV – Teatro
Popular União e Olho
Vivo - 2011.
(RJ), Grupo Tia (RS), Grupo Teatro de Caretas (CE),
Grupo de Teatro Cafuringa (PE).
3ª Revirada Cultural da Resistência – 36 horas de
atividades artísticas diversas em comemoração ao
aniversário de Ocupação do Espaço Cultural CITA
pela Trupe Artemanha, contando com os seguintes artistas, em geral da região sul da cidade de
São Paulo: DJ: Will Cavagnolli / Projeção de Fotos:
Sheila Signário / Intervenções de Graffiti: Peu Pereira, Bruno Perê, Sandro Lima, Nave Mãe, Carolina
Teixeira, Paloma Xavier, Pato, Augusto Cerqueira,
entre outros / Camila Brasil/ Fernanda Coimbra e
Banda / Trupe Dunavô / Maracatu Ouro do Congo
/ João Luiz do Couto / Grupo Quereres de Teatro /
Geraldo Magela e Banda.
7º FESTCAL – Festival Nacional de Teatro de Campo Limpo – 2012 – Homenagem a Amir Haddad,
Dulce Muniz e ao Grupo Tá na Rua (RJ).
Aconteceu no seguinte período: 12 a 21 de outubro de 2012.
21 grupos participantes:
Mostra Estadual de Teatro de Grupos com sede
no Estado de São Paulo, que contou com quatorze
companhias teatrais: Engenho Teatral, Grupos Teatral Parlendas, Cia. Humbalada, Cia. dos Inventivos,
Brava Companhia, Cia. As Capulanas Arte Negra,
Cia. do Miolo, Cia. Antropofágica, Grupo Pombas Urbanas, e Trupe Artemanha de investigação
teatral, todos da cidade de São Paulo; Grupo Rosa
dos Ventos, de Presidente Prudente; Cia. Forrobodó, de São José do Rio Preto; Contadores de Mentira, de Suzano; e Trupe Olho da Rua, de Santos.
Mostra Nacional de Teatro de Grupos com sede
em outros estados, contando com sete grupos representantes de cada região do País: Grupo Quem
tem boca é pra gritar (João Pessoa - PB); Grupo Nu
Escuro (Goiânia - GO); Grupo Tá na Rua (Rio de Janeiro - RJ); Grupo O Imaginário (Porto Velho - RO); Grupo Ás de Paus (Londrina - PR); Grupo Dona Zefinha
(Fortaleza - CE), e Grupo Vivarte (Rio Branco – AC).
Mostra Mistura de Linguagens (Música, Dança e Noite Cariri Cearense): Banda Dona Zefinha
(CE), Show Musical com João do Crato (CE), Banda
Z’África Brazil (SP), Maracatu Ouro do Congo (SP)
e Palestra com a pesquisadora Dane de Jade (CE).
6º FESTCAL – Festival Nacional de Teatro de Campo Limpo – 2011 – Homenagem aos 45 Anos do
TUOV – Teatro Popular União e Olho Vivo - 2011.
Período: 15 a 20 de novembro de 2011
10 grupos participantes: TUOV – Teatro Popular
União e Olho Vivo (S. Paulo - SP), Barracão Teatro
(Campinas, SP), Trupe Olho da Rua (Santos-SP),
Grupo XIX (São Paulo, SP), GTI – Grupo Teatro do
Imprevisto (São José dos Campos – SP), Grupo
Contadores de Mentira (Suzano, SP), Grupo Athos
(Batatais – SP), Cia. Soltando o Verbo (Taboão da
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Serra – SP), Cia. Estável (S. Paulo - SP), Banda Musical Preto Soul (Taboão da Serra – SP).
5º FESTCAL – Festival Nacional de Teatro de Campo Limpo – 2010 – Homenagem aos grupos de teatro de rua de São Paulo.
Período: 20 e 21 de novembro de 2010
8 grupos Participantes: Buraco D’Oráculo (São
Paulo – SP), Núcelo Pavanelli de Teatro e Circo
(São Paulo-SP), Trupe Olho da Rua (Santos – SP),
Cia. Levante (Santo André-SP), Cia. dos Inventivos
(São Paulo – SP), Grupo Trilhos Urbanos (São Paulo – SP), Grupo Pombas Urbanas (São Paulo – SP) e
Grupo Equus Bipes (Taboão da Serra – SP).
4º FESTCAL – Festival Nacional de Teatro de Campo Limpo – 2009 – Homenagem às Companhias
Lume Teatro (SP), Cia. do Latão (SP), Fraternal de
Artes Malas-Artes (SP) e Grupo Andante (MG).
Período: 27 de agosto a 07 de setembro de 2009
38 grupos Participantes: Lume Teatro (Campinas –
SP), Cia. do Latão (São Paulo – SP), Barracão Teatro
(Campinhas –SP), Teatro Andante (Belo Horizonte
– MG), Franternal Cia. de Arte e Malas-Artes (São
Paulo – SP), Voar Teato de Bonecos (Gama - DF),
Cia. de Teatro Nu Escuro (Goiânia – GO), Cia Entreato (Rio de Janeiro – RJ), Traço Cia. de Teatro (Florianópolis – SC), Território Sirius Teatro (Salvador
– BA), Cia. Tramédia (S. Paulo – SP), Grupo Clariô de
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Teatro (Taboão da Serra – SP), Cia. Sansacroma (S.
Paulo – SP), Grupo Teatral Engasga Gato (Ribeirão
Preto – SP), Grupo Fuleragem (S. Paulo - SP), Teatro
do Pé (Santos – SP), Núcleo Zirkus (S. Paulo - SP),
Grupo Luz e Ribalta (S. Paulo - SP), Teatro de La Plaza (S. Paulo - SP), Caixa de Histórias (São José dos
Campos – SP), Casa da Tia Siré (Santo André – SP),
Cia. Zero a Zero de Teatro (S. Paulo – SP), Cia. Luis
Louis (S. Paulo - SP), Maria Basso de Teatro de Formas Animadas (Bauru – SP), Morpheus de Teatro
(S. Paulo - SP), Cia Lona de Retalhos e Cia. Estrela Dalva (Santo André – SP), Formação 10 da ELT
(Santo André – SP), Cia. Artehúmus (S. Paulo - SP),
Núcleo Pavanelli de Tetro de Rua e Circo (S. Paulo
- SP), Cia. Mamulengo da Folia (S. Paulo - SP), Trupe
Olho da Rua (Santos – SP), Grupo Rosa dos Ventos
(Presidente Prudente – SP), Parafornalha Coletivo
de Criadores (S. Paulo - SP), Forte Casa Teatro (S.
Paulo - SP), Pombas Urbanas (S. Paulo - SP), Cia. Levante (Santo André – SP), IVO 60 (S. Paulo - SP) e
Trupe Artemanha (S. Paulo - SP).
3º FESTCAL – Festival Nacional de Teatro de Campo Limpo – 2008 - Homenagem aos 30 anos da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz (RS).
Período: 29 de agosto a 27 de outubro de 2008
33 grupos participantes: Tribo de Atuadores Ói
Nóis Aqui Traveiz (Porto Alegra – RS), Circo Teatro Udigrudi (Brasília – DF), Troupp Pas D’ Argent
Homenagem aos grupos
de teatro de rua de São
Paulo.
Homenagem às
Companhias Lume
Teatro (SP), Cia. do
Latão (SP), Fraternal de
Artes Malas-Artes (SP) e
Grupo Andante (MG).
Homenagem aos 30 anos
da Tribo de Atuadores Ói
Nóis Aqui Traveiz (RS).
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(Rio de Janeiro – RJ), Cia. Paidéia (S. Paulo – SP),
Cia da Boca (São José do Rio Preto – SP), Grupo
Eboka (S. Paulo – SP), Grupo Jogando no Quintal
(S. Paulo – SP), Teatro de Paisagem (S. Paulo – SP),
Morpheus Teatro (S. Paulo – SP), Grupo Os Geraldos (Campinas – SP), Grupo Teatral Atos & Cenas
(Lençóis Paulista – SP), Cia. do Riso (S. Bernardo do
Campo – SP), Las Noias e Cia. (S. Paulo – SP), Grupo Curupira (S. Bernardo do Campo – SP), Nacompanhiadosanjos (S. Paulo – SP), Cia. Pé na Porta (S.
Paulo – SP), Grupo Caldeirão (S. Paulo – SP), Grupo
Girandolá (Franscisco Morato – SP), Grupo Pé de
Lama (S. Paulo – SP), Trupe Artemanha (S. Paulo –
SP), Cia. Levante (Santo André – SP), Grupo Vital
(S. Paulo – SP), Circo Navagador (S. Paulo – SP), Cia.
do Bafafá (S. Paulo – SP), Cia. Os Crespos (S. Paulo
– SP), Trupe Sinha Zózima (S. Paulo – SP), Circo Teatro Rosa dos Ventos (Presidente Prudente – SP),
Núcleo Pavanelli de Teatro de Rua e Circo (S. Paulo
– SP), The Pambazos Bros (Uruguai/S. Paulo – SP),
Circo Nosotros (S. Paulo – SP), Buraco D’Oráculo (S.
Paulo – SP), Trupe Olho da Rua (Santos – SP) e Brava Cia. (S. Paulo – SP).
2º FESTCAL – Festival de Teatro de Campo Limpo
– 2007 - Homenagem ao Bairro do Campo Limpo.
Período: 10 de setembro a 28 de outubro de 2007
24 grupos participantes: Grupo Galeria 4 (Campinas – SP), Cia. Meketréfi de Teatro (Campo Limpo
Paulista – SP), Grupo Arteiros (Vinhedo – SP), Grupo Imagem Bruta (Vinhedo – SP), Cia. I-Moraes (Suzano – SP), Cia. de Teatro Uni-Duni-Tê (S. Paulo –
SP), Grupo Estudantil E.E. Maud Sá (S. Paulo – SP),
Cia. Lona de Retalhos (Santo André – SP), Grupo
Barra Manteiga (S. Paulo – SP), Cia. Litero Dramática Martins Pena (Taboão da Serra – SP), Cia. Teatral Barca Cênica (Guarulhos – SP), Grupo Pé de
Lama (S. Paulo – SP), Cia. As Tias (Vinhedo – SP),
Cia. Humbalada de Teatro (S. Paulo – SP), Grupo de
Teatro do CIL (S. Paulo – SP), Coisas de Teatro Cia.
de Arte (S. Vicente – SP), Os Coringas Cia. de Teatro (S. Paulo – SP), Grupo Faces Oculta (S. Paulo –
SP), Cia. do Miolo (S. Paulo – SP), Cia. Ditos Cujos (S.
Paulo – SP), Grupo Arcênicos (Atibaia – SP), Buráco
D’ Oráculo (S. Paulo – SP), Brava Cia. (S. Paulo – SP)
e Teatro de Rocokós (Santo André – SP).
1º FESTCAL – Festival de Teatro de Campo Limpo – 2006 – Homenagem aos 10 Anos da Trupe
Artemanha.
Período: 15 de novembro a 8 de dezembro de 2006
11 grupos participantes: Grupo Pé de Lama (S.
Paulo – SP), Núcleo Teatro Opereta (Poá – SP),
U.T.T – União Teatral Taboão (Taboão Serra – SP),
Grupo Vital (S. Paulo – SP), Grupo Arte que Liberta (Taboão Serra – SP), Grupo Sete Faces (S. Paulo – SP), Grupo Teatralizando (S. Paulo – SP), Grupo Teatro e Vida (S. Paulo – SP), Grupo T.E.M.T
Revelando Artemanhas
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(São Caetano do Sul – SP), Cia. Mamulengos (S.
Paulo – SP), Grupo Reflexo (S. Paulo – SP), Grupo
Quimera (S. Paulo – SP).
Alguns dos pesquisadores, dramaturgos e diretores que realizaram palestras, debates e oficinas:
Antônio Araújo (Teatro da Vertigem - SP), Marcelo
Bones (Teatro Andante - MG), Tiche Vianna (Barracão Teatro - SP), Alexandre Mate, Antônio Rogério Toscano, Bete Dorgam, Ednaldo Freire (Fraternal Cia. de Arte e Malas-Artes - SP), Tania Farias
e Paulo Flores (Ói Nóis Aqui Traveiz - RS), Newton
Moreno (Cia. Os Fofosencenam), Márcio Vinicius,
Gabriel Guiumerd, Amauri Falseti (Cia. Paidéia) e
atores-pesquisadores do Lume Teatro, Amir Haddad (Grupo Ta na Rua), César Vieira (TUOV-SP),
Junio Santos e Ray Lima do Movimento Escambo
Livre de Rua.
Os grupos não vêm até o Campo Limpo para cumprir um trabalho para o qual foram contratados
com suas formalidades, vêm PARTICIPAR, trocar
e contribuir na construção do festival. Do mesmo
modo, vêm se alimentar e se fortalecer para voltarem pra casa renovados, VIVOS! Todavia, para
que tudo isso seja possível, é fundamental que o
público apareça e viva esse momento único conosco, pois ele é o nosso motivador e justificativa de
acontecer o FESTCAL.
O VIVA tem que ser dado ao Artemanha, que encontra em seu fazer artístico um projeto como
esse, merecedor de investimento público, que coloca a Arte onde ela realmente deve estar! Próxima das pessoas, em praças abertas e livre!
Por Grupo Rosa dos Ventos
(Presidente Prudente – SP)
O FESTCAL, suas ARTES, suas MANHAS!
Participar do FESTCAL significa encontrar coletivos artísticos de vários lugares do Brasil. Junto
com a diversidade de linguagem e às histórias das
suas regiões, cada coletivo traz suas conquistas,
suas buscas, suas dúvidas, sua ARTE! O resultado
em constante transformação dos processos vividos por pessoas que olharam para esse mundão e
resolveram fazer da vida: Arte!
Revelando Artemanhas
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Os grupos não vêm
até o Campo Limpo
para cumprir um
trabalho para o qual
foram contratados
com suas formalidades,
vêm PARTICIPAR,
trocar e contribuir na
construção do festival.
Do mesmo modo,
vêm se alimentar e se
fortalecer para voltarem
pra casa renovados,
VIVOS! Todavia, para que
tudo isso seja possível,
é fundamental que o
público apareça e viva
esse momento único
conosco, pois ele é o
nosso motivador e
justificativa de acontecer
o FESTCAL.
Homenageados
Movimento Escambo Livre de Rua
O Movimento Escambo surge no inicio da década
de 90 envolvendo grupos e artistas de rua dos estados do Ceará e Rio Grande do Norte, tendo como
diferencial a forma autônoma de produção. Nesses 21 anos de vida, o movimento reuniu e reúne
grupos e artistas das mais diversas manifestações
culturais populares, que se encontram – quando
se é possível e desejável – em cidades, vilas, comunidades, sítios, assentamentos pra uma dinâmica
troca de saberes e de dúvidas.
Um fenômeno que surge e se irradia no Escambo
é a junção de grupos e artistas de localidades diferentes e distintas pra produzirem espetáculos que
contemplem as diferenças e necessidades de cada
uma, sendo esse um processo dinâmico de aprendizagem e de relação afetiva.
Por Junio Santos
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Movendo a arte, nos moveremos também...
Luciano Santiago
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TRUPE ARTEMANHA NO FOMENTO
AO TEATRO - PROJETOS
A história da Trupe Artemanha no bairro do Campo
Limpo se relaciona diretamente ao Programa de Fomento ao Teatro que transformou a cena paulistana nos últimos anos, revolucionou as produções de
grupos, coletivos, companhias que já realizavam seus
trabalhos, mas que precisavam de recursos para ampliar suas próprias pesquisas, dar continuidade aos
trabalhos, circulando por bairros de toda a cidade.
O espírito da lei está objetivamente ligado à questão de fomentar grupos teatrais de pesquisas
continuadas, indo contra a lógica de mercado e a
renúncia fiscal. Fortalecendo os experimentos dos
coletivos; estabelecendo um local como sede para
os trabalhos, tanto como residência em um espaço
público, como a locação, mesmo que temporária;
evitando pressão pelo mercado para a venda de ingressos, dependendo de bilheteria como forma de
sobrevivência, inclusive afetando negativamente a
pesquisa teatral; realizando ações artísticas no local de atuação do grupo; circulando com espetáculos e realizando temporadas a preços populares ou
gratuitos. A Lei de Fomento ao Teatro é considera
como um dos maiores programas públicos de incentivo do país, inclusive estimulando a luta de outras cidades para implantação de leis semelhantes.
A Trupe Artemanha iniciou sua trajetória com o programa de fomento em 2008 sendo contemplado com
o projeto que levou o mesmo nome do grupo, pois isso
foi de fundamental importância, conhecer primeiro as
próprias bases para fortalecer os pilares que sustentariam nossos trabalhos. E todos os projetos propostos
que foram contemplados em 2008 (12ª edição), 2009
(15ª edição), 2011 (18ª edição) e o mais recente em
2013 (21ª edição) tiveram a continuidade que permitiu ao grupo não só o fortalecimento de sua pesquisa,
mas a conquista de um local (Espaço Cultural CITA),
que foi ocupado em maio de 2011 com a criação de
uma Escola Popular de Teatro, transformando-se em
um pólo de referência artística e de resistência política. Tendo uma grande importância nos vários momentos de ameaça pelos quais o grupo passou nesses
anos de ocupação. O programa de Fomento ao Teatro
foi responsável direto por ser uma “carta” considerável “nas mangas” para reduzir as especulações dos
Gestores Públicos que eram ou ainda são contrários ao
nosso trabalho, tentando desapropriar o grupo e outros coletivos que hoje ocupam e realizam importante
trabalho no Espaço Cultural CITA.
Assim, uma política pública como a Lei de Fomento
ao Teatro para a Cidade de São Paulo possibilita a
realização de todas as ações propostas e todos os
encontros programados ou espontâneos, revelando novas possibilidades de atuação, permitindo a
melhoria de nossa realidade atual.
A seguir, serão relatados cada um dos projetos com
que a Trupe Artemanha foi contemplada:
Trupe artemanha de investigação
urbana
Projeto contemplado na 12ª Edição do Programa
de Fomento ao Teatro
Dados sobre o projeto:
Tempo de duração: 12 meses.
Período que foi executado: Maio de 2008 a Abril
de 2009.
Local que foi realizado: Campo Limpo, São Paulo – SP.
Ficha técnica do projeto que foi contemplado: Alexandre Mattos, Flavia D’á Lima, Luciano Santiago, Sérgio Carozzi e Thania Rocha.
Convidados: Maithê Alves (Orientadora de Direção), Manuel Boucinhas (Interpretação), Juliana
Aguiar (Atriz/Produção), Léo Santiago (Ator), Gil
Caetano (Preparador circense), Márcio Monjolo
(Preparador musical de instrumentos de percussão) e Fábio Pinheiro (Preparador vocal) e Marcelo
Callavitto (Introdução à Comedia Dell’Arte).
O projeto Trupe Artemanha de Investigação Urbana apresentou como proposta as seguintes ações:
A) Deu continuidade à pesquisa Investigação
Urbana, iniciada em 2005, tendo como proposta a elaboração de uma dramaturgia fortemente
apoiada na experiência de grupos fomentados que
já trabalharam na mesma linha de interesse do Artemanha, tendo como material a leitura de relatórios de grupos fomentados, fazendo entrevistas
ou convites para o diálogo.
B) Estabeleceu uma sede para o Grupo.
C) Deu continuidade às ações artísticas que o Grupo realizou em torno da região de Campo Limpo
desde 2005.
Como aconteceu o projeto
Revelando Artemanhas
Com a contemplação, na 12ª edição (janeiro/2008),
do Programa de Fomento ao Teatro para a Cidade
Revelando Artemanhas
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de São Paulo, o grupo contou, pela primeira vez
em 12 anos de história, com a locação de um espaço para o desenvolvimento de seus trabalhos
de pesquisa, ensaios, treinamentos, oficinas livres
para a comunidade, palestras e apresentações, o
que fortaleceu o movimento teatral nos bairros
do Campo Limpo. Essa nova realidade causou importantes “transformações” na relação do grupo
com a comunidade, permitindo um contato maior,
utilizando o teatro como ferramenta de reflexão
social, política e cultural.
Investigação Urbana na Secretaria
O grupo trabalha com temas relacionados ao
urbano desde 2005, realizando pesquisas e experimentações como base para o trabalho artístico. Uma das propostas foi abastecer-se de
materiais colhidos em leituras e estudos dos
diversos relatórios de grupos que trabalham
com pesquisas conexas às nossas. O Grupo solicitou consultar o acervo de projetos da Secretaria de Cultura, sendo atendido prontamente
pela equipe do Núcleo de Acompanhamento
de Projetos Fomentados, na época foi possível
constatar a necessidade de criar um acervo que
sirva como espaço de estudos para que grupos
e artistas realizem suas pesquisas e conheçam
projetos e relatórios dos núcleos artísticos que
já participaram do Programa.
Revelando Artemanhas
45
A experiência de tomar contato com as pesquisas dos grupos, que serão citados em seguida,
só fortaleceram os trabalhos da Trupe Artemanha, criando pensamentos insólitos acerca das
vivências que surgem no teatro de grupo em São
Paulo. Projetos e relatórios dos grupos: Teatro
Popular União Olho Vivo – “Um sonho de liberdade 2” / Cemitério de Automóveis - “São Paulo em
cena, quadro a quadro” / Ivo 60 - “Multiplicando
o público potencializando o teatro” / Sobrevento
– “Aquilo que somos e de que esquecemos” / Teatro de Narradores – “A odisseia paulistana” / II
Trupe de Choque – “Anjos do desespero” / Grupo
XIX – “Casa Aberta” / Núcleo Bartolomeu de Depoimentos - “Lendas Urbanas” / Cia. São Jorge de
Variedades – “Casa de São Jorge” / Cênica Farândula – “Cambuci 100 anos de cultura e cidadania”
/ Grupo dos Sete – “Cidade dentro, cidade fora”
/ Pombas Urbanas – “Da Comunidade ao Teatro,
do Teatro à Comunidade” / Teatro Estúdio 184
– “Projeto Heleni 65-35” / Dolores Boca Aberto –
“Teatro mutirão polis, pólen, política” / Fraternal
Cia. de Arte e Malas-Artes - “Borandá” / Cia. do
Latão – “Ensaio para Danton” / Folias D’Arte – “Babilônia” / Bendita Trupe – “Na linha de fogo” / Teatro da Vertigem – “BR3” / Cia. do Feijão – “Mire e
Veja” / Engenho Teatro – “Engenho Teatral” / Cia.
Estável – “Ocupação do Teatro Flávio Império” /
Cia. Paidéia “Paidéia”.
... causou importantes
“transformações” na
relação do grupo com a
comunidade, permitindo
um contato maior,
utilizando o teatro como
ferramenta de reflexão
social, política e cultural.
Revelando Artemanhas
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Revelando Artemanhas
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Encontros
A Trupe Artemanha teve a oportunidade de compartilhar e conhecer grupos que realizam mergulhos temáticos relacionados às mais variadas situações, conflitos, relatos e espaços que dialogam com o cotidiano
urbano pela aproximação com a comunidade, que
contribuem para a difusão do teatro pelos “cantões”
da cidade de São Paulo. Esses encontros auxiliaram de
alguma forma na composição estética e na importância de compreender os traços mais significativos dos
diversos processos de pesquisas continuadas.
Grupos que contribuíram para esses encontros:
Cia. Paidéia, Fraternal de Arte e Malas-artes, Cia.
Estável, Pombas Urbanas e Engenho Teatral.
Pesquisa de campo (Vivências)
Como falar do urbano sem conhecê-lo de fato?
Essa questão incentivou a busca por uma relação
direta com temas, situações, ambientes e diversas
possibilidades que dialogam com esse universo.
Foi elencada uma série de locais, e divididos entre
os integrantes em duplas ou trios para realização
das pesquisas de campo, objetivando a coleta de
relatos e imagens que foram desdobradas através
de vivências abertas ao público, com o intuito de
revelar impressões e sensações transformadas em
cenas, performances, descrições de imagens, contos, poemas, crônicas ou como seminários.
Nessas pesquisas, o grupo teve contato com taxistas, motoboys, instituições religiosas, jogos de
azar (bingos clandestinos), pessoas que chegavam
ao terminal rodoviário Tietê, moradores de rua, camelôs e profissionais do sexo.
O primeiro encontro do Compartilhamento de Vivências do Processo de Pesquisa: Investigação Urbana
aconteceu no dia 29 de janeiro de 2009, no Espaço
Artemanha de Teatro, envolvendo artistas, pessoas
da comunidade e interessados em geral. Após os
exercícios, houve conversa com o público presente e
o professor e pesquisador Alexandre Mate.
O segundo encontro ocorreu no dia 26 de março
com apresentações itinerantes, começando na
rua e em sequência por todo Espaço Artemanha
de Teatro. Logo após as vivências, desenvolveu-se
uma conversa com a Professora Silvana Garcia, que
fez considerações e sugestões a respeito dos trabalhos, além de escrever uma crônica sobre esse
processo no Informativo Revelando Artemanhas–
Edição n° zero.
Informativo Semestral Revelando Artemanhas
No mês de junho de 2008, foi lançado pela Trupe
Artemanha a edição de número zero de um informativo que é distribuído semestralmente como
forma de registro dos trabalhos que o grupo
Revelando Artemanhas
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realiza. Esse tablóide serve como instrumento de
compartilhamento entre grupos teatrais locais, regionais e nacionais e, ainda, com artistas que trabalham com outras linguagens.
O Informativo Revelando Artemanhas foi criado
para discutir, provocar e promover reflexões em
suas páginas, além de redigir matérias sobre pesquisas e estéticas teatrais de outros coletivos e
ensaios ou teses de pesquisadores. Esse tablóide
também propõe discutir quaisquer assuntos que
interessem à sociedade civil em geral, criando
mais um canal, ampliando o diálogo, principalmente com a população que está constantemente fora
dos programas culturais da cidade.
Espaço Artemanha de Teatro
Com esse projeto o grupo conseguiu locar um espaço e o inaugurou no dia 5 de julho de 2008, com
apresentações artísticas de convidados e moradores do entorno. Nesse local, de aproximadamente,
300 m² , divididos em dois grandes salões, funcionava um bingo (casa de jogos clandestinos).
O Espaço Artemanha de Teatro abrigou o projeto
da Trupe Artemanha por 3 anos e recebeu grupos da região ou mesmo de outros lugares, como
aconteceu na terceira edição do FESTCAL (Festival
Nacional de Teatro do Campo Limpo), quando foi
Revelando Artemanhas
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apresentado o espetáculo Seu Bonfim do Território Sirius Teatro (Salvador – BA); e Ensaio sobre
Carolina, do grupo Os Crespos Encenam; além
de palestras e workshops que fizeram parte da
programação.
Em março de 2009, abrigou o projeto da Cia. Sansacroma de Dança. A Companhia apresentou o espetáculo Solano em Rascunhos e, em paralelo, realizou estudos para o projeto Trilogia Militantes do
Ideal, que, além de encenar o poeta Solano Trindade, estenderia sua pesquisa para a escritora Pagu e
o educador Paulo Freire.
O Espaço Artemanha de Teatro estava localizado
na Estrada do Campo Limpo, 2.706.
Ações artísticas paralelas que o grupo já desenvolvia e que foram fortalecidas pelo projeto
contemplado na 12ª Edição do Programa de Fomento ao Teatro:
Oficina Popular de Teatro
A quarta turma da oficina popular de teatro da
Trupe Artemanha teve início no mês de março de
2009 e contou com aprendizes a partir de 16 anos
de idade, que já tiveram ou não algum contato com
a linguagem teatral. As oficinas aconteciam aos finais de semana, das 10h às 13h, no Espaço Artemanha de Teatro.
Revelando Artemanhas
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Um dos principais objetivos era o de utilizar o teatro como ferramenta de reflexão crítica sobre a
sociedade, como meio de transformação pessoal
e social. Os aprendizes recebiam os mesmos treinamentos que os integrantes do Grupo e a orientação para realizarem pesquisas, experimentações
cênicas, por meio de exercícios, jogos e experiências sensoriais, estimulando o autoconhecimento e
a consciência corporal.
Revelando Artemanhas
Projeto contemplado na 15ª Edição do Programa
de Fomento ao Teatro
Dados sobre o projeto:
Tempo de duração: 15 meses.
Período que foi executado: Outubro de 2009 a Janeiro de 2011.
Local que foi realizado: Campo Limpo, São Paulo
– SP.
Ficha técnica do projeto contemplado: Alexandre
Mattos, Éder Lopes, Eduardo Paiva, Elise Guedes, Lilyan Teles e Luciano Santiago.
Convidados: Tiche Vianna (Orientadora Teórico
conceitual – Interpretação em Máscara Neutra
e Expressivas), Tânia Farias (Orientadora Teórico-conceitual – Interpretação dos Atuadores),
Revelando Artemanhas
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Renato Ferracini (Orientador Teórico - conceitual – Interpretação Mimese Corórea), Carlos Eduardo Siqueira (Orientador de Pesquisa
Literária), Cristiano Meireles (Preparador de
Danças Dramáticas), Danielle Salibian (Atriz-pesquisadora), Dorberto Carvalho (Orientador
Dramatúrgico), Eliete Santos (Atriz-pesquisadora), Eraldo Moura (Assistente de Produção
e Técnico), Gil Caetano (Preparador Circense),
Marcelo Bones (Orientador de Teatro de Rua),
Pax Bittar (Preparador de Pesquisa Musical) e
Shirley Badaró (Produtora / Atriz).
O projeto Revelando Artemanhas apresentou
como proposta as seguintes ações:
Movimento Teatral no Campo Limpo
Dar continuidade aos trabalhos de pesquisa e
ações artísticas da Trupe Artemanha, que são realizadas desde 2005 no bairro do Campo Limpo.
A) Artemanha nas praças
Espetáculo: “Brasil, quem foi que te pariu?”
O Grupo circulou com o espetáculo de rua por espaços públicos da cidade de São Paulo (Zona Sul,
Centro, Norte, Oeste e Leste).
B) Pesquisa
“Vi Macunaíma na Rua! – herói sem nenhum caráter”
Foi construída dramaturgia para a rua, inspirada
na obra Macunaíma, de Mário de Andrade. Esse
processo contou com os seguintes orientadores:
Dorberto Carvalho, Carlos Eduardo Siqueira e
Marcelo Bones.
O projeto de construção de dramaturgia teve
como proposta, discutir o contexto histórico brasileiro, ampliando a relação artística do grupo com
a população, utilizando como ferramenta direta o
teatro de rua.
C) Pesquisa investigação urbana
Vivências do Processo Investigação Urbana
Vivências Cênicas que foram abertas ao público no Espaço Artemanha de Teatro, a partir de
março de 2010, com objetivo de retomar todo
processo que vinha sendo experimentado desde
2007, aproveitando os materiais colhidos em pesquisas de campo.
D) Espaço artemanha de teatro
Continuidade da locação e a manutenção do espaço, tornando-o referência artística no bairro do
Campo Limpo; O Grupo construiu um espaço cênico com arquibancadas para receber grupos e público para apresentações de espetáculos, palestras e
intervenções artísticas.
E) Aprimoramento artístico
Treinamentos Artísticos que foram realizados com
o projeto “Revelando Artemanhas”:
- Circo aéreo e solo;
-
Pesquisa musical com instrumentos não-convencionais;
- Danças Brasileiras.
Atividade: “Conversando com...”
-Intercâmbio entre a Tribo de Atuadores Ói Nóis
Aqui Traveiz e a Trupe Artemanha, com viagem a
Porto Alegre em dezembro de 2009;
-HEINER MÜLLER e BERTOLD BRECHT – Programação de debates.
F) Apresentações no campo limpo de grupos
convidados
A Trupe Artemanha convidou oito coletivos que
trabalhavam com pesquisas conexas ao projeto do
grupo, com o objetivo de realizar troca de experiências artísticas para contribuir também com o
movimento teatral na região do Campo Limpo.
Grupos: Engenho Teatral, Os Crespos Encenam,
Cia. Estável, Brava Companhia, Buraco D’Oráculo,
Núcleo Pavanelli de Teatro e Circo, Trupe Olho da
Rua (Santos) e Pombas Urbanas.
Revelando Artemanhas
52
Revelando Artemanhas
53
Como aconteceu o projeto
O intercâmbio aconteceu em dezembro de 2009,
por 11 dias, quando a Trupe Artemanha realizou
apresentação do espetáculo de rua Brasil, quem
foi que te pariu?, integrou oficinas e debates com
a participação de Ingrid Koudella, Antonio Januzelli, Lindolfo Amaral (Grupo Imbuaça-SE) dentro
da Mostra de Aprendizagem do Ói Nóis e teve contato com outros grupos da cidade de Porto Alegre:
Oigalê, Manjericão, Povo da Rua, Cambada de Teatro Levanta Favela e Stravaganza.
Troca de vivências com a tribo de atuadores Ói
Nóis Aqui Traveiz
Na terceira edição do FESTCAL (Festival Nacional de Teatro do Campo Limpo), ocorreu o primeiro contato com a Tribo de Atuadores Ói Nóis
Aqui Traveiz, que apresentou o espetáculo de
rua O Amargo Santo da Purificação, uma visão
alegórica e barroca da vida, paixão e morte do
revolucionário Carlos Marighella. Espetáculo
que emocionou o público presente pela grande
paixão impressa pelos Atuadores da Tribo, contribuindo para o movimento artístico no bairro
do Campo Limpo, que foi o primeiro local a receber o espetáculo fora do estado do Rio Grande
do Sul em 2008.
O encontro em Porto Alegre foi um dos momentos mais marcantes que o grupo vivenciou dentro
do projeto Revelando Artemanhas, por vários aspectos que vão desde o processo político que os
grupos vivem na cidade até a particularidade de
criação e pesquisa teatral de cada coletivo gaúcho.
Com esse primeiro intercâmbio feito no III FESTCAL (2008), a Trupe Artemanha recebeu convite
para conhecer a Terreira da Tribo e realizar vivências com o Ói Nóis. Com isso, foi proposto dentro
do projeto Revelando Artemanhas, uma viagem a
Porto Alegre para fortalecer a pesquisa Vi Macunaíma na rua!, ter a experiência de participar de
debates sobre o dramaturgo Heiner Müller e tomar contato com o projeto de formação da Escola
de Teatro Popular da Tribo de Atuadores Ói Nóis
Aqui Traveiz.
Pesquisa investigação urbana
Desdobramentos...
A pesquisa Investigação Urbana surgiu em 2005 e
vem se desdobrando em vários materiais que servem ao grupo como combustível para o desenvolvimento de seus trabalhos. O nome Investigação
Urbana apenas ilustra um desejo de criação, por
isso não se resume a um espetáculo, com prazo de
validade. A Trupe Artemanha entende que pesquisar o urbano (não somente estudar o homem urbano, mas, sim, sua história, sua política, seu convívio
Revelando Artemanhas
54
social ou seu modo de vida) proporciona diversos
caminhos que se multiplicam em vários assuntos,
que podem retornar a um novo ponto de partida,
onde surgirão novos pensamentos e idéias.
Sul, Centro, Norte, Oeste e Leste), além de ter possibilitado à Trupe o desenvolvimento de estudos
teóricos e práticos, para a elaboração de uma nova
pesquisa para o teatro de rua.
No dia 25 de março de 2010, a Trupe Artemanha realizou no Espaço Artemanha de Teatro o quarto encontro para demonstração de exercícios da Pesquisa Investigação Urbana, abordando os seguintes assuntos:
Movimentos do cotidiano de moradores em situação
de rua, quando foram colhidos relatos e concomitantemente ligados às poesias dos chamados poetas maloqueristas da região (Binho, Sérgio Vaz, Pilar, Marcos
Pezão, Serginho Poeta, Família Trindade, Du Gueto,
Allan da Rosa e Luan Luando), que se inspiraram nas
situações cotidianas da periferia de São Paulo. No final
da apresentação, foi realizado debate com os convidados Dorberto Carvalho (Pesquisador e Dramaturgo),
Oswaldo Pinheiro e Ney Gomes (Atores da Cia. Estável
de Teatro) e público presente.
Foram vários sorrisos em vielas, ruas de terra, tribos indígenas, pelas calçadas do vai-e-vem constante dos pedestres, trabalhadores, moradores
das ruas do Centro. Brasil, quem foi que te pariu?
cumpriu uma grande circulação pelos cantões da
cidade de São Paulo e estimulou a Trupe Artemanha a continuar estudando e fazendo esse teatro
livre de padrões formais impostos pelo sistema,
teatro que se aproxima dos olhos atentos do povão, dando continuidade com o novo espetáculo
de rua Vi Makunaíma na Rua!.
Artemanha nas praças: circulação do espetáculo
de rua Brasil, Quem Foi Que Te Pariu?
Em 2009, a Trupe Artemanha foi selecionada para
a 15ª Edição do Programa de Fomento ao Teatro
para a cidade de São Paulo, com o projeto Revelando Artemanhas. Este projeto incluía 40 apresentações do espetáculo Brasil, quem foi que te pariu?
em espaços públicos da cidade de São Paulo (Zona
Revelando Artemanhas
55
Debates
Conversando com Bertolt Brecht - Teatro Político
e Militância Cultural - Com Iná Camargo Costa, professora aposentada da Faculdade de Filosofia, Letras
e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
(FFLCH - USP), Tânia Farias (Tribo de Atuadores Ói
Nóis Aqui Traveiz, Porto Alegre, RS), Cambada de Teatro Levanta Favela (Porto Alegre, RS), pesquisador e
dramaturgo Dorberto Carvalho, Rafael e Tiago (UPM
União Popular de Mulheres Jardim Maria Sampaio),
Gil Marçal (produtor cultural) e convidados.
O encontro em Porto
Alegre foi um dos
momentos mais
marcantes que o grupo
vivenciou dentro do
projeto Revelando
Artemanhas, por vários
aspectos que vão desde
o processo político
que os grupos vivem
na cidade até a
particularidade de
criação e pesquisa
teatral de cada coletivo
gaúcho.
Foram vários sorrisos
em vielas, ruas de
terra, tribos indígenas,
pelas calçadas do vaie-vem constante dos
pedestres, trabalhadores,
moradores das ruas do
Centro.
A professora Iná Camargo Costa foi convidada
pela Trupe Artemanha e atendeu prontamente ao
convite para falar sobre um tema que muito lhe
toca: Bertolt Brecht e seu engajamento político.
A palestrante iniciou a conversa esclarecendo alguns enganos históricos extremamente relevantes. Segunda ela, Brecht nunca se filiou ao Partido Comunista e tampouco se identificava com o
stalinismo. Os rumos das lutas políticas sempre
foram muito claros para o dramaturgo alemão.
Apesar de não ser filiado, Brecht tinha inúmeros
amigos dentro do Partido Comunista. Aliás, foi
um desses amigos que aconselhou o dramaturgo
a não se filiar, posto que sua vida um tanto quanto desregrada não era compatível com a disciplina
dos militantes comunistas. Assim, disse-lhe o amigo, se Brecht se filiasse correria sérios riscos de
ser expulso e, com isso, teria problemas políticos
graves. Um deles poderia ser com relação ao nazismo, pois uma vez expulso do Partido Comunista, a imagem de Brecht poderia ser atrelada aos
seguidores de Hitler.
Para mostrar os dilemas do Partido, diz Iná, Brecht escreveu uma de suas mais importantes peças, A Decisão. Nela, o dramaturgo mostra como
no interior do Partido forças contra-revolucionárias ascendiam ao poder; sobretudo, a partir da intervenção de agentes da Internacional
Comunista sobre a Revolução Chinesa. Depois
de levantar esses importantes aspectos acerca
da historiografia a respeito de Brecht, a palestrante trouxe à tona, de forma magistral, temas
atuais do teatro e da política.
A partir desse ponto, o debate foi aberto e um
diálogo instigante surgiu com as intervenções
dos presentes. O papel social e político dos artistas foi discutido, analisado e valorizado na conversa. Um dos interlocutores chamou a atenção
para a importância de o artista, tal como Brecht,
aproximar-se e interagir de forma direta com as
forças populares, as únicas verdadeiramente
revolucionárias.
A conversa foi tão produtiva e profunda, que
acabou durando cerca de quatro horas. Muitos
assuntos importantes foram levantados e discutidos, trazendo uma contribuição inestimável
para a Trupe Artemanha e os convidados. Aqui,
levantaram-se apenas alguns pontos entre tantos outros relevantes presentes nesse momento especial.
Relato da Atriz Vanessa Carvalho,
participante dos encontros.
ACONTECEU: 27 de outubro de 2010 - 19h
Revelando Artemanhas
56
Espaço Artemanha de Teatro Estrada do Campo
Limpo, 2706 (subsolo) Campo Limpo, Zona Sul de
São de Paulo
Conversando com Heiner Müller - Com Ingrid
Dormien Koudella, docente do Programa de Pós-Graduação em Artes da Escola de Comunicação e
Arte da Universidade de São Paulo - ECA-USP, Tânia Farias (Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz,
Porto Alegre, RS), Cambada de Teatro Levanta Favela (Porto Alegre, RS) e convidados.
A professora Ingrid Koudella começa sua palestra destacando aspectos biográficos da vida de
Heiner Müller. O autor, que nasceu em 1929, deu
início a sua carreira quando o socialismo estava
em ascensão na antiga RDA. Inevitavelmente,
lembra a palestrante, a obra de Müller trava um
diálogo permanente e profundo com o teatro de
Bertolt Brecht. Segundo Ingrid, um dos confrontos mais fecundos de Heiner Müller ocorre com
seus estudos sobre a Peça Didática, de Brecht,
mais precisamente com o fragmento Decadência
do Egoísta Johann Fatzer.
Outro aspecto importante destacado pela professora é a relação dialética que Müller estabelece com Brecht. Segundo ela, para Müller cada
experimento de Brecht tem um valor em si e a
Revelando Artemanhas
57
cada um deles existe uma contrapeça. A superação disso, continua Ingrid sobre Müller, deve ser
realizada pela construção de uma terceira peça.
A marca da relação de Müller com Brecht é seu
objetivo dialético de superação, ou seja, como o
próprio Heiner Müller diz: “usar Brecht sem criticá-lo é traição”.
A conversa com a palestrante evoluiu e os debates foram abertos. Tânia Farias, da Tribo de Atuadores Ói Nóis aqui Traveiz, falou sobre a fundamental influência de Heiner Müller sobre os
trabalhos do grupo. Segundo a atriz, A Tribo Ói
Nóis, pesquisando Artaud e Brecht, encontra em
Müller uma linha fecunda de trabalho. A partir
dessa intervenção, muitas outras surgem, enriquecendo ainda mais as discussões. Ao final, a
avaliação de todos foi muito positiva, demonstrando a importância de se criar espaços de debates como esses.
Relato da Atriz Vanessa Carvalho,
participante dos encontros.
ACONTECEU: 29 de outubro de 2010 - 19h
Espaço Artemanha de Teatro Estrada do Campo
Limpo, 2706 (subsolo) Campo Limpo, Zona Sul de
São de Paulo.
Artemanha recebe
O Artemanha Recebe, criado em 2009 foi uma das
ações que o Grupo sempre teve desejo em realizar,
tendo a oportunidade com o Projeto Revelando
Artemanhas para colocar em prática.
Todo último sábado de cada mês, a Trupe Artemanha recebeu um coletivo teatral em sua região ou
na sede do grupo, para compartilhamento de pesquisas e apresentações de trabalhos.
Grupos que contribuíram para esses encontros:
- Buraco D’Oráculo (São Paulo-SP)
- Trupe Olho da Rua (Santos-SP)
- Pombas Urbanas (São Paulo-SP)
- Núcleo Pavanelli de Teatro e Circo (São Paulo-SP)
-TUOV – Teatro Popular União e Olho Vivo (São
Paulo-SP)
-Cambada de Teatro Levanta Favela (Porto Alegre-SP) – 2 espetáculos
- Cia. Levante (Santo André-SP)
Revelando Artemanhas
58
Revelando Artemanhas
59
Revelando Artemanhas
60
15 Anos revelando Artemanhas
Projeto contemplado na 18ª Edição do Programa
de Fomento ao Teatro
Dados sobre o projeto:
Tempo de duração: 15 meses.
Período que foi executado: Junho de 2011 a Setembro de 2012.
Local que foi realizado: Campo Limpo, São Paulo – SP.
Ficha técnica do projeto contemplado: Alexandre
Mattos, Clayton Novais, Luciano Santiago, Mery
Alentejo e Natalia Siufi.
Convidados: Carlos Andrade (Ator-pesquisador), Léo Santiago (Ator-pesquisador), Alício
Amaral e Juliana Pardo (Orientadores em Danças Dramáticas Brasileiras – CITA), Aline Reis
(Orientadora Musical de Instrumento Acordeon
– CITA), Antônio Rogério Toscano (Orientador
de Criação Dramatúrgica e Orientador de Pesquisa Teórica – CITA), Camila Bolaffi (Orientadora de Pesquisa em Interpretação – CITA) , Fábio Pinheiro (Orientador de Voz/Canto – CITA) ,
Izaur Marcos (Ator-pesquisador) e Tiche Vianna (Orientadora de Pesquisa em Interpretação
e Encenação).
O projeto 15 Anos Revelando Artemanhas apresentou como proposta as seguintes ações:
Revelando Artemanhas
61
A) Residência Artística
Era para ser realizada a ocupação do Espaço Público: Centro de Convivência Nathália Pedroso Rosemburg, situado na mesma Rua Aroldo de Azedo,
número 100, mas resolvemos, até por uma questão de autonomia, já que o Nathália P. Rosemburg
era administrado pela Subprefeitura do Campo
Limpo, gerando conflitos com agenda do espaço,
além do teatro ser visto como algo que “atrapalhava” o “bom” funcionamento do local. Resolvemos
concentrar nossas energias em um local maior e
mais interessante que foi o imóvel público (abandonado há mais de 16 meses pela Gestão Pública
-2008/2012) da mesma Rua Aroldo de Azevedo,
só que agora de número 20. Nascia assim, o Espaço Cultural CITA, como sede da Trupe Artemanha
para realizar as atividades artísticas do grupo: Pesquisas, Ensaios, Oficinas, Programação com apresentações do grupo e de convidados, Realização
do Festcal, Debates, Palestras e demais ações.
Além de receber as aulas do projeto de formação
da Escola Popular de Teatro CITA.
B) Criação da Escola Popular de Teatro CITA
O projeto abriu vagas para 16 pessoas a partir de
18 anos de idade.
A Escola Popular de Teatro CITA foi criado com referência nas escolas com formação livre em teatro,
havendo a possibilidade de inserção desses aprendizes nos futuros trabalhos da Trupe Artemanha.
Todos os integrantes da Trupe Artemanha fizeram
parte desse importante momento de formação, recebendo as mesmas aulas que foram direcionadas
para o projeto de pesquisa proposto pelo grupo.
C) Construção de um texto dramatúrgico livre
inspirado na literatura Faústica.
O Grupo propôs a construção de uma dramaturgia
inspirada no mito popular do Doutor Fausto, literatura universal, com várias fontes de pesquisa,
que iniciaram com estudos a partir das obras do
escritor alemão Goethe e de Cristopher Marlowe,
baseando-se também em literaturas de mestres
cordelistas, como Sá de João Pessoa e Manoel
Monteiro. Além de autores que utilizam diferentes
versões como Fernando Pessoa, Machado de Assis
e Álvares de Azevedo.
Esse processo contou com a Orientação Dramatúrgica do professor, pesquisador e dramaturgo Antônio Rogério Toscano e Orientação de Interpretação e Encenação de Tiche Vianna.
D) Artemanha nas Praças
A Trupe Artemanha montou o espetáculo de rua Vi
Makunaíma na Rua!, livremente inspirado na obra
Revelando Artemanhas
62
Macunaíma, de Mário de Andrade, sob direção de
Dorberto Carvalho.
A pesquisa e construção da dramaturgia teve duração de 15 meses e aconteceu totalmente dentro
do Projeto Revelando Artemanhas (XV Edição do
Programa de Fomento ao Teatro).
A Trupe Artemanha circulou com o espetáculo por
espaços públicos da cidade de São Paulo (Zona Sul,
Leste, Oeste, Norte e Centro).
E) 6º FESTCAL – Festival Nacional de Teatro de
Campo Limpo – 2011
O Artemanha organizou e realizou a sexta edição do
Festival de teatro de Campo Limpo, que acontece
desde 2006 totalmente no bairro do Campo Limpo,
que já recebeu cerca de 100 coletivos de várias cidades do Brasil, entre eles: Tribo de Atuadores Ói Nóis
Aqui Traveiz (RS), Circo Teatro Udigrudi (DF), Grupo
Teatro Andante (MG), Cia. de Teatro Nu Escuro (GO),
Voar Teatro de Bonecos (DF), Traço Companhia de
Teatro (SC), Território Sirius Teatro (BA), Lume Teatro (SP), Barracão Teatro (SP), Cia. do Latão (SP),
Fraternal de Artes e Malas-Artes (SP), Trupe Olho da
Rua (SP), entre outros coletivos.
O 6º FESTCAL aconteceu no período de 15 a 20 de
novembro de 2011, quando realizou homenagem
Revelando Artemanhas
63
ao Diretor César Vieira e os 45 anos de seu grupo,
TUOV – Teatro Popular União e Olho Vivo da cidade de São Paulo.
F) Memória e Registro do Projeto de Pesquisa
da Trupe Artemanha
-Jornal Revelando Artemanhas (Edições 4, 5 e 6);
-Registro Audiovisual e Fotográfico do Projeto;
-Exposição de Fotos e Projeção de uma Documentário no encerramento do Projeto.
Como Aconteceu o Projeto
Ocupação e Construção do Espaço Cita
O espaço da Rua Aroldo de Azevedo 20, foi prédio
da subprefeitura durante muito tempo e serviu de
sede para o Instituto Cultural Oca. Com a contemplação do Projeto 15 Anos Revelando Artemanhas
pela 18ª Edição do Programa de Fomento ao Teatro
para a cidade de São Paulo (janeiro/2011), houve
uma reunião dos integrantes da Trupe Artemanha
com o subprefeito do Campo Limpo e o supervisor
de Cultura, para que o grupo desenvolvesse o projeto neste complexo de madeira citado acima, pois
este se encontrava ocioso. Foi permitida a utilização desde que o grupo realizasse manutenções no
prédio, além do pedido de Concessão de Uso.
Foi dada a entrada no processo administrativo solicitando a utilização formal como concessão de uso
do espaço por 24 meses, com possível renovação
de mais 36, no total 60 meses. Com a demora nos
trâmites burocráticos, mesmo sem a concessão de
uso oficial, pois as aulas da Escola-CITA teriam que
se iniciar, o grupo assumiu ocupar o espaço para
começar as atividades, trocou os miolos das fechaduras e entrou.
Deu-se início aos reparos no espaço. A situação do
prédio estava completamente precária, pois estava há mais de 16 meses abandonado e todos os
gastos que a Trupe Artemanha teve foram conseguidos com apresentações em mostras de teatro
com espetáculos da Trupe.
Criação da escola popular de teatro cita
A Trupe Artemanha já realizava oficinas livres desde sua fundação, isto sempre impulsionou o ciclo
de pessoas que passaram pelo grupo e compartilharam do seu fazer artístico, provocando reflexões que contribuíram de alguma forma para a
construção dos trabalhos.
O grupo sempre buscou ampliar essa experiência
pedagógica, inclusive visitando e buscando aspectos similares em importantes escolas de formação
teatral como a Escola Livre de Teatro de Santo
André e no intercâmbio realizado em 2009 com
a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz (RS).
O projeto da Escola Popular de Teatro CITA teve 55
inscritos, selecionando 17 entre os 26 que compareceram na terceira fase de seleção.
Considerações sobre a Escola-Cita
Como toda escola ou como todo espaço de formação,
onde a educação acontece e, neste caso, educação e
arte, há muita dificuldade, há muitos problemas, há
muitos aprendizados pelos erros, e isso é comum
e renovador ao mesmo tempo. O processo do erro
diário nos mostrou inúmeras coisas que poderiam
ser diferentes e nos fez descobrir questões diárias
para serem resolvidas. Logo na primeira semana, um
dos aprendizes saiu, justificando que não teria como
fazer a formação porque ele e sua família estariam
partindo de viagem para outro estado. Depois disso,
houve ainda mais três desistências por falta de recursos para fazer a escola, pois o projeto não disponibilizava ajuda de custo para os aprendizes.
Estas evasões foram importantes para que o coletivo fosse se reestruturando e se reorganizando.
As faltas e atrasos que eram mais constantes no
primeiro mês começaram a diminuir bastante depois de inúmeras conversas e combinados. (Por Natália Siufi – atriz-pesquisadora convidada)
Revelando Artemanhas
64
É importante salientar que a Escola-CITA não iniciou com o objetivo de gerar formações artísticas,
não estava interessada em quantidade de pessoas
que queriam somente fazer teatro, pois o que foi
colocado como prioridade era a qualidade dos estudos, a concentração em processos de trabalhos
que costumam acontecer em pesquisas de teatro de grupos; ou seja, algumas desistências que
aconteceram dentro do projeto da escola também
fizeram parte desse processo. Pois surgiram diversas questões entre os vários envolvidos, uma
delas: que é preciso muita dedicação ao coletivo,
superando as subjetividades ou os pensamentos
individuais impostos pelo mercado, tendo a necessidade de se criarem “crises” para que o aprendizado seja verdadeiro, intenso e prazeroso. A crise
de se criar, construir, desconstruir e iniciar uma
nova criação. O ciclo constante, do nascer, desenvolver, morrer e renascer.
Todos esses fatores foram importantíssimos para
a escola, que antes só aconteceria como um centro de pesquisa teatral. O termo “escola”, que se
fazia necessário, com o objetivo de aproximar a
população dessa nova realidade, fez com que conseguíssemos gerar uma espécie de resiliência criativa num bairro de periferia de São Paulo. Assim
foi construída a primeira turma da Escola Popular
de Teatro CITA.
Revelando Artemanhas
65
Núcleo de investigação em teatro popular
Artemanha nas praças com a circulação do espetáculo de rua “Vi Makunaíma na Rua!”
O nosso Makunaíma passou por diversas transformações no decorrer do processo de pesquisa que
foram provocados pelos intensos treinamentos
dos atores, na montagem do espetáculo, nas duas
aberturas do processo ao público e com a estréia
que aconteceu no dia 03 de dezembro de 2011,
na Praça do Campo Limpo. Foram várias contribuições que começaram em outubro de 2009 com
o Professor Carlos Eduardo Siqueira (PUC/SP),
orientador de pesquisa literária, que alinhavou os
pensamentos literários com o objeto da pesquisa
teatral; e do Professor Alexandre Mate (Unesp/
SP) que realizou a primeira adaptação da obra para
uma dramaturgia de teatro de rua. Depois vieram
os treinamentos práticos: Circo com Gil Caetano,
Instrumentos Musicais não-convencionais com Pax
Bittar, Treinamento com perna-de-pau com Ligia
Veiga (Cia Mystério e Novidades), Interpretação
com Tania Farias (Ói Nóis) e Renato Ferracini (Lume
Teatro). O processo começou a ser desenhado a
partir dos encontros com o Dramaturgo e Pesquisador Dorberto Carvalho que organizou um roteiro tendo com fonte inspiradora o material teórico
e prático coletado durante o processo de pesquisa
na 15ª Edição do Programa de Fomento ao Teatro
que o grupo realizou. Com a impossibilidade de ter
como Diretor do espetáculo o Teatrólogo Marcelo
Bones, o Grupo optou por continuar o processo de
montagem com Dorberto Carvalho, que passou a
dirigir o trabalho.
A Trupe Artemanha
optou por fazer
estudos a partir do
mito Medeia, umas das
figuras femininas mais
impressionantes da
dramaturgia universal,
tendo como base textos,
filmes e livros que fazem
uma alusão à Tragédia
Grega, realizando uma
releitura e o cruzamento
com relatos de
moradores de rua.
E para o Artemanha, apresentar Macunaíma na rua
foi uma forma de lançar provocações e questionamentos sobre a “nossa identidade”, de nossas características enquanto povo brasileiro e do nosso
lugar enquanto indivíduos inseridos em um contexto de tantas fragmentações.
Vi Makunaíma na Rua! nasceu em várias ruas e
praças das regiões Leste, Oeste, Centro, Norte e
Sul, conhecendo novas tribos, tendo contato com
diferentes gigantes comedores de gente e principalmente heróis e anti-heróis assim como ele pelas
ruas da cidade.
Núcleo de investigação urbana
“Maria de Rua, Maria Guerreira, Maria Medeia”
A pesquisa Investigação Urbana vem sendo realizada desde a chegada do Artemanha no bairro do
Campo Limpo (2005), desdobrando-se em vários
materiais que proporcionaram ao grupo combustível para o desenvolvimento de seus trabalhos.
A Trupe Artemanha optou por fazer estudos a partir do mito Medeia, umas das figuras
femininas mais impressionantes da dramaturgia
universal, tendo como base textos, filmes e livros
que fazem uma alusão à Tragédia Grega, realizando uma releitura e o cruzamento com relatos de
moradores de rua.
O Núcleo de estudos composto por integrantes do
Grupo e de convidados fez um apanhado sobre os
primeiros filósofos, estudando o nascimento da
filosofia, passando por vários períodos históricos.
No início do processo o núcleo estabeleceu construir protocolos que registrassem os encontros, debates e as intervenções feitas no Espaço Cultural
CITA. A intenção era de utilizá-los futuramente em
exercícios propostos pelo grupo, tendo como fonte
registros que foram feitos em formatos diversos:
poemas, crônicas, cenas ou textos relatando o encontro do dia.
O Núcleo também tomou contato com os seguintes
textos e livros: Processo Colaborativo: Relato e reflexões sobre uma experiência de criação, de Luis
Alberto de Abreu; O Teatro e a Cidade – Lições de
História do Teatro, organizado por Sérgio de Carvalho; Medeamaterial, de Heiner Müller; e Gota
D’agua, de Chico Buarque e Paulo Pontes. Realizou
sessões de filmes para organização de debates:
Medeia e Dogville, de Lars Von Trier, e A Classe
Operária Vai ao Paraíso, de Elio Petri.
Revelando Artemanhas
66
Núcleo de estudos hip hop
Por que pesquisar o movimento hip hop? O que
isso tem a ver com teatro e com o mito Fausto?
Ora, somos artistas, atores, atuantes de um canto
ao sul da cidade, dito periferia. Mais precisamente,
região do Capão Redondo, berço do rap nacional,
considerado um dos bairros mais violentos do Brasil até o ano de 1997, o mesmo ano que aconteceu
o lançamento do Álbum “Sobrevivendo no Inferno”, do grupo Racionais MC’s, talvez a primeira vez
que um grupo de rap questionou a dura realidade
da periferia. Inclusive, o grupo negou a mídia, mesmo assim transformando-se em um fenômeno de
venda de discos entre os seus (guerreiros da periferia), e isso sem aparecer de fato nessa grande
mídia burguesa. Naquele momento, tantas outras
periferias do Brasil eram representadas.
Personagem muito importante e que vivenciou
muitos acontecimentos no movimento hip hop
paulistano é o MC Gaspar, que, junto ao DJ Tano,
nos orientou durante este início de estudos, de
algo até então distante dos nossos saberes, já que
musicalmente, por exemplo, hip hop seria o mesmo que rap, quando, na verdade, o rap (abreviação
do termo da língua inglesa ritm and poetry - ritmo
e poesia) é apenas um entre dezenas de ritmos
que podem compor o hip hop – que, enquanto
movimento artístico, é composto basicamente por
Revelando Artemanhas
67
quatro elementos: MC - Mestre de Cerimônias e rimador. DJ - Disc Jockey (operador de toca-discos
e exímio conhecedor de música), Graffiti (artes
plásticas realizadas onde for possível pelas ruas da
cidade), inicialmente em muros, através de tintas-spray, hoje já utilizam-se de pincéis, canetas. E o
quarto elemento, o B-Boy, ou os dançarinos de rua.
Há também uma discussão para a composição de
um quinto elemento: o conhecimento, segundo o
poeta e Mc Gaspar.
Um ponto muito interessante na escolha destes
orientadores foi o fato de trabalharem muito
com os ritmos populares como o coco, a embolada e o maracatu, sem falar na métrica das letras que basicamente são as mesmas regras do
cordel - técnica que o Mc Gaspar fez questão
de aprofundar em suas vivências com o grupo.
Estes ritmos e manifestações populares estão
extremamente presentes na pesquisa do grupo
Z’Africa Brazil, do qual nossos orientadores fazem parte, dividindo-se entre shows e um projeto que visa através de oficinas ampliar o conhecimento sobre o movimento hip hop, tendo como
público pessoas de todas as idades e de diversos
locais de São Paulo.
Além de estar diretamente ligado a tudo que vimos na Escola-CITA, desde o Cavalo Marinho, aos
estudos com instrumentos percussivos e a busca
de um relacionamento entre o Mito Fausto com
figuras e personagens da nossa época, ainda tem
uma relação muito interessante da história do hip
hop com a vida na periferia.
Uma das características fáusticas muito presente nesse movimento é a eterna busca por novidades no desenvolver de cada um dos elementos.
Ousamos dizer que musicalmente falando, essa
manifestação é tão rica, que é capaz de fazer
tantas melodias e harmonias de diversos estilos
em uma única música. O DJ passa a vida pesquisando formas de ligar trechos de músicas, sem
falar na facilidade com que estes artistas tanto
da música quanto da dança ou graffiti se adaptam às tantas realidades que viveram e continuam vivendo com os inúmeros problemas sociais,
de ordem política ou tecnológica. Por isso o hip
hop está sempre se renovando a partir das dificuldades encontradas no sistema que ele combate, utilizando o microfone afiado para denunciar
situações adversas. (por Dêssa Souza – atriz-pesquisadora e produtora)
6º FESTCAL – Festival Nacional de Teatro de
Campo Limpo – 2011 - Homenagem a César Vieira e os 45 Anos do Grupo TUOV
No dia 12 de novembro de 2011 demos início ao 6º
FESTCAL, que teve como homenageado o dramaturgo e diretor César Vieira e os 45 anos do seu grupo
TUOV – Teatro Popular União e Olho Vivo. Foram 8
dias de apresentações de grupos com estéticas e
realidades diferentes, desde grupos com estrutura
de trabalho e potência no fazer teatral a grupos que
trabalham em outras profissões, como metalúrgicos, professores, estudantes, que ensaiam e produzem seus espetáculos aos finais de semana, como é
o caso do Grupo Athos de Batatais, interior de São
Paulo, parecido com a história do merecido homenageado dessa edição, o grupo TUOV.
Grupos Participantes: TUOV (S. Paulo – SP), Barracão Teatro (Campinas – SP), Trupe Olho da Rua
(Santos – SP), Grupo Athos (Batatais – SP), Grupo
Contadores de Mentira (Suzano – SP), Cia. Soltando
o Verbo (Taboão da Serra- SP), GTI – Grupo Teatro
do Imprevisto (S. José dos Campos – SP), Grupo XIX
(S. Paulo – SP), Cia. Estável (S. Paulo – SP) e a Banda
Preto Soul (Taboão da Serra e S. Paulo – SP).
Revelando Artemanhas
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Revelando Artemanhas
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Cita – 3 Eixos: Ocupar, Revelar
e Difundir
Projeto contemplado na 21ª Edição do Programa
de Fomento ao Teatro
Dados sobre o projeto:
Tempo de duração: 15 meses.
Período que foi executado: Outubro de 2012 a Janeiro de 2014.
Local que foi realizado: Campo Limpo, São Paulo – SP.
Ficha técnica do projeto contemplado: Adonai Bezerra, Alexandre Mattos, Carlos Andrade, Cléia
Varges, Dêssa Souza, Ingrynd Sena, Léo Santiago,
Luciano Santiago, Rodrigo Dias e Welton Pereira.
Convidados: Tiche Vianna (Orientadora de Encenação), Ésio Magalhães (Orientador de Interpretação de Ator-palhaço), João Araújo (Orientador
de Interpretação), Pax Bittar (Preparador Musical com instrumentos não-convencionais), Fábio
Pinheiro (Preparador Vocal/Canto), Luiz Checcia (Orientador do Núcleo de Formação Política),
Marta Aguiar Bergamin (Orientadora do Núcleo
de Formação Política) e Robison de O. Padial, o
“Binho” (responsável pelos saraus na Praça do
Campo Limpo).
O projeto CITA – 3 Eixos: Ocupar, Revelar e Difunfir... apresentou como proposta as seguintes ações:
A) Ocupar, Revelar e Difundir...
Espaço Cultural CITA – Centro de Investigação
Teatral Artemanha: Manutenção do Espaço Público ocupado desde maio de 2011 pela Trupe Artemanha, dando continuidade às ações do grupo
neste local, mantendo os núcleos de estudos da
Escola-CITA, palestras, ensaios, debates, mostras,
oficinas, apresentações de espetáculos da Trupe
Artemanha e de grupos convidados.
B) Núcleo de Investigação em Teatro Popular: Continuidade da Pesquisa Dr. Fausto Capão no reino do
Hip Hop, agora com a construção do Espetáculo Mephisto Injustiçado, dramaturgia de Dorberto Carvalho
e Direção de Tiche Vianna. Circulação do espetáculo:
O Homem que virou Suco pelas 5 regiões da cidade.
C) Núcleos de Estudos do CITA: Orientação de
Encenação, com Tiche Vianna (Barracão Teatro);
Treinamento de Ator-palhaço, com Ésio Magalhães
(Barracão Teatro); Treinamento de Ator com bonecos e formas animadas, com João Araújo (Morpheus
Teatro); Musicalização com Instrumentos não-convencionais, com Pax Bittar; Voz e Canto, com Fábio
Pinheiro; e orientadores convidados para o Núcleo
de Formação Política. Todos os treinamentos e estudos foram utilizados no processo de pesquisa da
construção de encenação do espetáculo: Mephisto
Injustiçado e dos Núcleos de Estudos.
Revelando Artemanhas
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D) Dramaturgias das Quebradas: Realizou encontro-residência de pelo menos uma semana com
coletivos das periferias, seja pelo local geográfico,
seja pela ação política organizada pelos coletivos
em seus respectivos locais de atuação. Com objetivo de criar uma escrita-coletiva em forma de
dramaturgia, a partir desse encontro, recebendo
orientações dos próprios grupos visitados ou até
misturando-se a eles, realizando um exercício no
último dia da residência.
G) Memória Trupe Artemanha: Foi proposto para
a 21ª Edição do Programa de Fomento ao Teatro, a
criação, publicação e lançamento do livro Revelando Artemanhas – A quebrada Reage e Age!; a continuidade das edições do Jornal Revelando Artemanhas; e o registro e produção de um documentário
e Exposição com fotos do Projeto CITA – 3 Eixos:
Ocupar, Revelar e Difundir.
Como aconteceu o projeto
E) Encontros com Mestres e Sarau do Binho na
Praça do Campo Limpo: A Trupe Artemanha realizou encontros para compartilhamento de vivências
com mestres do teatro político, da cultura popular,
filósofos e sociólogos, que fizeram palestras, oficinas e demais ações, como forma de extensão dos
núcleos de estudos do CITA. No mesmo dia em que
aconteceram os encontros com mestres no Espaço
Cultural CITA, também foi realizado sarau com o
poeta e militante Binho na Praça do Campo Limpo.
Os encontros e os saraus aconteceram por 12 meses, sempre no último domingo do mês.
F) FESTCAL – Festival Nacional de Teatro de
Campo Limpo: O Grupo realizou e organizou em
maio de 2013, a 8ª edição do FESTCAL, em homenagem ao Movimento Escambo Popular Livre de
Rua do nordeste brasileiro.
Revelando Artemanhas
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3 EIXOS – OCUPAR, REVELAR E DIFUNDIR...
Pesquisa-montagem do espetáculo Fausto - A
pesquisa de Fausto já atravessava mais de 1 ano de
processo, ligada diretamente à ocupação do Espaço, à criação e desenvolvimento da Escola-CITA, aos
trabalhos realizados com o orientador de dramaturgia Antônio Rogério Toscano e a orientadora de
interpretação Tiche Vianna. E, através do projeto
CITA - 3 EIXOS – Ocupar, Revelar e Difundir..., o grupo deu continuidade a esse processo, preparando
a montagem de um espetáculo baseado na história
de Fausto, sob a direção de Tiche Vianna. A Trupe
Artemanha propôs uma nova leitura dessa figura,
contextualizando suas inquietações, em busca do
conhecimento, com as do homem da atualidade e
suas incessantes buscas pela felicidade, anunciada
a prestações através de cartões de créditos, etc.
E, através do projeto
CITA - 3 EIXOS – Ocupar,
Revelar e Difundir..., o
grupo deu continuidade
a esse processo,
preparando a montagem
de um espetáculo baseado
na história de Fausto, sob
a direção de Tiche Vianna.
Colocando uma questão contundente, de que os
indivíduos não só consomem, mas que já estão sendo consumidos há muito tempo. Fausto iniciou esse
processo de representação em meio a uma sociedade do consumo desenfreado e inconsequente, firmando seu pacto com o capitalismo personificado.
Em suas duas últimas pesquisas e montagens, a
Trupe Artemanha abordou temas relacionados à
história do Brasil e ao processo de formação da
sociedade brasileira. Em Fausto, foi possível falar
do indivíduo contemporâneo de forma crítica e irreverente. Por meio da adaptação de um clássico
da literatura mundial, o grupo deu continuidade à
concepção de trabalhos artísticos que promovem
o pensamento crítico e provoquem o espectador a
sair de um lugar comum, criando reflexões sobre a
sociedade em que ele está inserido.
O projeto de pesquisa para montagem de um espetáculo baseado no mito Fausto, teve início em junho de
2011 com leituras a partir das obras A História Trágica
do Doutor Fausto, de Christopher Marlowe, e Fausto
Zero, de Goethe. Nesse tempo de pesquisa, descobrimos alguns recortes que foram experimentados durante esse processo de construção dramatúrgico.
A montagem do espetáculo inspirado em Fausto
aparece pelo modo como esta fábula estabelece
relações entre o humano e o divino, e retrata a
busca do homem por uma emancipação existencial
que pretende negar Deus e a Morte, através do
pacto com o Demônio. São várias histórias faústicas que surgem na atualidade e que foram exploradas por Marlowe e Goethe, mas que transcendem
a relação tempo e espaço. A primeira questão latente que surge é justamente esta: Quem ou quais
são os Faustos de hoje?
O dramaturgo Christopher Marlowe lança outra
provocação em sua obra sobre Fausto: qvod me
nvtrit me destrvit² . O Fausto de Marlowe fala sobre o sujeito “pós-medieval”, o sujeito Renascentista. Começando com Cristopher Malowe, depois
com Ghoete, depois com elementos que Bertolt
Brecht utilizou para construir o personagem Baal.
O objetivo desse processo de montagem era de
encontrar nesta grande figura de destaque da cultura popular, elementos que estão presentes nas
relações e manifestações sociais urbanas.
A Trupe Artemanha considera que é de extrema
importância a montagem do espetáculo Mephisto
² “O que me alimenta, me destrói.” – Introdução de Dirceu Villa do livro
A História Trágica do Doutor Fausto, de Christopher Marlowe, Tradução
de A. Oliveira Cabral.
Revelando Artemanhas
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Injustiçado que foi fruto de uma pesquisa intensa
e bem sucedida entre integrantes, orientadores e
aprendizes que aconteceu dentro de uma edição
do Programa de Fomento ao Teatro, com isso, o
grupo não se inscreveu em outros editais públicos
na época, como Funarte Myriam Muniz (Federal) e
Proac Inédito (Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo) para montagem
inédita, não querendo concorrer com outros coletivos, já que pleiteávamos pelo Edital do Fomento,
correndo um risco imenso de não ser contemplado,
mas com a confiança que a montagem teria que
acontecer com recursos da própria lei de fomento, além de não concorrer aos editais mencionados
com o coletivo de orientadores que fizeram parte
do nosso projeto cita-3 eixos.
O objetivo foi alcançado e a Trupe Artemanha conseguiu a contemplação na edição de número 21 do
Programa de Fomento ao Teatro. Com uma verba
reduzida, mas suficiente para realizar a montagem
de Mephisto Injustiçado.
Processo de construção do espetáculo Mephisto
Injustiçado
A orientadora Tiche Vianna, em trabalho inicial
com o grupo, fez algumas provocações, iniciou um
trabalho de construção de máscaras em sucata em
que cada máscara seria um tipo de guia do ator.
Revelando Artemanhas
73
Também trabalhou letras de samba e o que essas
letras traziam para cada um deles. Cada encontro
que aconteceu entre outubro e dezembro trouxe
tantos questionamentos, que a tática de Tiche foi
deixar o grupo trabalhar por conta própria todos
estes elementos, mastigar, mastigar, deglutir, mastigar novamente: provocações, máscaras-guias,
sambas, estudos em canto e composição musical,
construção de bonecos, estudo do ator palhaço.
A partir do mês de junho, todos esses elementos
passaram a ser solicitados em cenas e exercícios
propostos, e então foram meses de trabalho para
a montagem do espetáculo em torno das inquietações de Fausto a estréia aconteceu em 21 de setembro de 2013.
Dêssa Souza
Produtora
O estudo do mito de “Fausto” não nos conduz à
montagem de nenhum dos espetáculos criados na
esplêndida dramaturgia de diversos autores. Mais
do que as possíveis histórias, nosso interesse é,
acima de tudo, a figura Fausto e as questões sobre a existência. Somando isso à Trupe Artemanha
de Investigação Urbana, que é um grupo voltado
para a questão popular, em um bairro da periferia
de São Paulo, nos servimos dos elementos poéticos e grotescos oferecidos por estas dramaturgias
As pessoas em situação
de rua sempre foram
um público que muito
intrigou e interessou a
Trupe Artemanha
para alcançarmos o que arquetipicamente define
o Fausto e assim, construir um espetáculo alegórico, centrado no jogo entre máscaras ou figuras
cênicas, como um desfile de escola de samba, com
diversas alas ou episódios, capazes de compor uma
história centrada basicamente na questão: para
qual Mephisto vendemos nossa alma?
Tiche Vianna
Orientadora de Encenação e Diretora
do espetáculo Mephisto Injustiçado
Relatos dos Atores sobre o processo de
montagem:
Por Rodrigo Dias
Antes do início da montagem propriamente dita,
tivemos treinamento com vários profissionais cada
um provendo-nos com técnicas distintas (treinamento de palhaço, de manipulação e criação de
bonecos, de canto e de instrumentos musicais não
convencionais). Além disso, as pesquisas sobre o
mito de Fausto e suas várias versões cinematográficas e literárias continuaram.
Frases como “O caminho ilógico – A falta de sentido”, “Morte!”, “Afetar-se foram escritas na sala
de convivência do CITA, que se tornou nossa lousa. Diariamente essas frases eram vistas por nós
na esperança de que, em algum momento, todas
essas peças, os treinamentos, os filmes, as discussões, enfim, tudo do que vínhamos bebendo desde
o início do projeto fosse amalgamado num trabalho que teria, além de tudo isso, o tom do bairro do
Campo Limpo e de seu cotidiano. Durante muito
tempo, não sabíamos muito claramente por onde
começar. Tínhamos muita coisa para falar. A realidade do bairro com toda a sua efervescência artística, porém com todas as dificuldades da periferia
da megalópole que é São Paulo.
As pessoas em situação de rua sempre foram um
público que muito intrigou e interessou a Trupe Artemanha, desde o Núcleo de Investigação Urbana,
processo pelo qual tive o primeiro contato com a
Trupe. E saímos para pesquisar, recolhendo depoimentos, entrevistas, imagens e sons. E mesmo sem
sairmos para pesquisar o próprio fato de estar aqui
diariamente já nos supria de muito material sobre o
bairro e sua realidade, nem sempre muito agradável.
Chegou, então, o momento do encontro com a Tiche Vianna, orientadora e diretora deste trabalho
que até então era uma incógnita para nós. Foi realizada então uma reunião com a trupe e com todos os orientadores: Pax Bittar de instrumentos
não convencionais, Ésio Magalhães de palhaço,
Fábio Pinheiro de técnica vocal e João Araújo de
manipulação de bonecos e objetos. Todos falaram
Revelando Artemanhas
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dos trabalhos que foram desenvolvidos conosco,
dando pistas e apresentando as ferramentas que
tínhamos para iniciar o trabalho.
Contudo, nesta primeira semana, quando iniciaríamos o processo de montagem, todos ansiosos para
o início de um caminho que até pouco antes da estréia não sabíamos aonde nos levaria, recebemos
um telefonema da subprefeitura do Campo Limpo.
Já sabíamos que boa notícia não viria. Não veio. A
funcionária veio trazer um recado do subprefeito do
Campo Limpo informando-nos que nosso tempo de
utilização do espaço tinha se esgotado havia alguns
meses e que tínhamos três dias para tirar nossas
coisas daqui, pois na próxima semana um caminhão
viria derrubar tudo para a construção de um CAPS.
Esse foi um choque para toda a trupe, justamente
quando iniciaríamos o processo de junção de tudo
o que vivenciamos até então, tivemos que dividir
nossa energia para algo mais prioritário que era lutar com mais afinco ainda pela nossa permanência
aqui no CITA. Um processo que não seria nada fácil
seria postergado, ou pelo menos dividido com essa
grave questão.
Após reuniões em com os representantes da saúde, da cultura, com o subprefeito, vimos o quanto
a cultura não é considerada como algo importante
Revelando Artemanhas
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pela maioria das pessoas. Em algumas visitas do
subprefeito do Campo Limpo ao espaço, vimos
o quanto somos desconsiderados pelas pessoas
que deveriam nos representar. Pois em nenhum
momento a palavra foi dirigida a nós como se não
estivéssemos e não fizéssemos parte do espaço.
O subprefeito discutia com representante da Secretaria de Cultura, ou com o representante da Secretaria da Saúde. Éramos invisíveis. Recado dado.
Enfim, conseguimos ficar com metade do espaço
num acordo no qual saúde e cultura conciliariam e
construiriam a história desse espaço a partir dali.
Com algumas mudanças, iniciamos o processo.
Tínhamos a tarefa de fazer algumas bases com alguns temas retirados das pesquisas realizadas sobre Fausto. Eram estas bases: fome, amor, conhecimento, Mephisto o caminho ilógico, morte, luta,
loucura/paixão. E, apesar de toda a densidade que
permeia o mito Fausto, as bases teriam que ser divertidas. Fizemos alguns exercícios, e esboçamos
algumas bases, nelas tentamos incluir o máximo de
elementos dos treinamentos que fizemos. Porém,
ainda faltavam conexão, coesão, enfim, faltava...
Com um frio na barriga, apresentamos as bases
construídas para a Tiche. Logo que viu, a orientadora observou que a linguagem mais adequada
seria o universo da bufonaria. E pensando hoje no
Revelando Artemanhas
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Revelando Artemanhas
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que são os bufões, os filhos bastardos dos nobres
excluídos da corte, os rejeitados, os defeituosos,
os invisíveis, bem faz todo o sentido com como nos
percebemos aqui no espaço perante aos órgãos
públicos do bairro do Campo Limpo.
Portanto, mesmo os percalços serviriam de elementos para que pouco a pouco, pudéssemos iniciar
essa jornada ao desconhecido. Uma coisa foi-se tornando clara, queríamos que as pessoas simbolicamente ocupassem o espaço conosco. E entrassem
aqui como fizemos há três anos. Queríamos abrir as
portas que outrora abrimos e acender a luz!
Chegamos a algumas figuras que comporiam o roteiro, Loco, Flor, Gero, Pirata e Mudinho. Começamos a trabalhar as cenas, a montar artesanalmente
as figuras, os bufões. Tudo começou a fazer mais
sentido, mas mais coisas aconteceriam, ou os demônios não estavam gostando de estarmos lidando com um tema tão pessoal, ou os anjos não achavam que estávamos maduros para continuar, pois
as surpresas não pararam.
Roteiro elaborado, texto pronto; porém, mais uma
questão. Um dos intérpretes criadores comunica
sua saída do grupo por conta de ter entrado para
uma igreja evangélica. Parecia que algo sempre
impedia o andamento do processo. Tivemos que
remontar tudo, retirando um dos personagens.
Mais um roteiro, mais um texto, mais mudanças.
Finalmente, tínhamos um roteiro, que não cessou
de ser alterado até a semana da estréia.
A falta de sentido, uma das características principais
do personagem Fausto, esvaiu-se pouco a pouco da
montagem, e ficava somente o que nos tocava no
íntimo, aquilo que não podia deixar de ser mostrado. E assim, lapidando ou sendo lapidados pelo processo, ficamos com essa dúvida: criamos um universo ou simplesmente o descobrimos? Talvez nunca
saibamos, mas de nossas pesquisas, treinamentos,
trabalhos em sala, nasceu Mephisto Injustiçado.
Em Mephisto Injustiçado, os bufões convidam o
público a adentrar um universo onde o real e o
fictício não se separam tão facilmente. Enquanto
intérprete da experimentação, reflito sobre o que
é real ou não na minha vida.
E num tom cômico, os bufões vão vivendo uma
aventura no Espaço Cultural CITA, onde e lógica
divina aprendida, assumida, ou por vezes empurrada, engolida como tantos sapos cotidianos indigestos, é contestada. Nosso mundo é lógico, é justo, é
tragável? Não só a questão da ilógica do trabalho,
mas outras ilógicas parecem despontar ao vivenciar esse experimento.
Revelando Artemanhas
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Encerra-se o processo, porém inicia-se outra etapa, que é o amadurecimento do compartilhar com
o público essa nossa aventura. Uma despedida
emocionante com a direção à qual somos muito
gratos pela orientação nesse processo nada fácil.
A temporada que está sendo realizada é um dos trabalhos que mais fez sentido fazer, portanto, mais
prazeroso, mais divertido. Continuemos, portanto. Muita gente ainda atravessará os corredores do
CITA, seguindo um bando de bufões que, pelo menos
por mim, nunca deixarão de existir mesmo quando
tudo isso for uma memória distante e nebulosa, será
também a lembrança de um saudoso tempo.
Por Cléia Varges
Dentro deste processo de montagem tivemos treinamentos que nos impulsionaram para a construção do espetáculo e para a formação artística do
grupo enquanto fazedores de teatro e cultura, são
eles: treinamento de palhaço, treinamento de instrumentos não convencionais, preparação vocal e
construção e manipulação de bonecos.
Com a chegada da orientadora de encenação Tiche Vianna e suas provocações, o trabalho ficou
cada vez mais intenso, exigindo de todos entrega
e dedicação total a este processo. A construção e
o treinamento para as figuras foram fundamentais
Revelando Artemanhas
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para que começássemos a estabelecer as relações,
que posteriormente, serviriam para a construção
da dramaturgia, na qual, tivemos a importante participação do dramaturgo e diretor Dorberto Carvalho, que também acompanhou alguns ensaios das
propostas de cenas apresentadas para a direção.
Tivemos como estímulo para a criação das cenas
algumas bases construídas coletivamente: amor,
fome conhecimento, morte, luta, loucura/paixão,
festa das bruxas. Estas bases nos trouxeram diversos questionamentos e reflexões, que são:
Mephisto – o caminho ilógico, Fausto – conhecimento pra quê? Margarida – amor - dependência
de quê? Morte – o que eu mato dentro de mim o
tempo todo? E assim, saindo do nosso imaginário, começamos a descobrir o universo fantástico
e divertido para lidar com essas questões de forma séria e irreverente.
Para aprimorar as figuras, o treinamento de palhaço entrou em cena. Este foi um processo de muitas
descobertas, possibilidades de adquirir algo novo,
um som, um movimento que cause o riso, mesmo
que tímido. O palhaço como um ser livre não busca aprovações, ele não estabelece a moral, o olhar
é outro, a estrutura do corpo se modifica ele não
está em momento algum querendo passar pela
autocrítica. É preciso correr o risco, se não, jamais
saberemos do que somos capazes, uma respiração,
um movimento, um gesto e a figura está presente.
Este processo foi fundamental na construção
das figuras, nas vozes, gestos e relações. Através deste trabalho, chegamos aos bufões, seres
grotescos, inteligentes, atrevidos e sagazes, que,
com ironia, mostram as duas faces da realidade
de uma sociedade que os coloca à margem dela.
Os bufões surgem no caminho a partir de nossas
proposições.
O processo de construção deste espetáculo e a
temporada que a Trupe está realizando fizeram
com que o Espaço Cultural Cita se reafirmasse
cada vez mais neste processo de ocupação artística, pois abrimos as portas literalmente para todos.
Por Carlos Andrade
Neste período, demos continuidade inicialmente
em tudo que conseguimos descobrir durante todo
esse tempo de pesquisa, das literaturas Fáusticas,
filmes, reflexões do que seria fáustico nos dias
atuais, procurando transformar tudo que nos chamava atenção neste processo, em cenas! Onde não
devíamos ter a menor preocupação em explicar, o
que estávamos apresentando em diálogos. E sim
com ações corporais e sensoriais que dissessem o
que todo processo instigava dizer.
Nisso, cada ator primeiramente elaboraria uma
cena individual onde ele não mostraria aos colegas
do processo e isso gerou um incentivo de mostrarmos algo que cada um acreditava ter uma ligação
com a história de Fausto e nesta parte do processo
não ficou individual somente entre os integrantes
do elenco, mas também cada orientador (Pax Bittar, Fábio Pinheiro, João Araujo e Ésio Magalhães)
eram os únicos que podíamos comentar sobre nossas idéias, para que dentro da atividade de cada
um, pudesse nos ajudar em nossas criações.
Essa parte durou semanas, até o dia de mostrarmos uma a uma das cenas para que todos pudessem ver e compartilhar impressões sobre as ideias
que tinham visto. Foi um momento muito rico em
aprender e de percebermos caminhos para começarmos finalmente o processo de montagem, o início da dramaturgia!
Para voltarmos a trabalhar juntos, Tiche sugeriu
que, a partir dos apontamentos feitos, agora procurássemos fazer as dialogarem cenas umas com
as outras a fim de aproveitarmos o que foi potencial nestas historinhas que surgiram e a história
surgiria daí com o trabalho em conjunto.
Foi outro desafio instigante ver aquelas figuras vindas de processos do primeiro período do projeto
Revelando Artemanhas
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umas com aspectos diferentes devido ao tempo de
processo e outra que chegaram recentemente gerando discussões que só poderia mudar a ideia de
cena proposta por cada um para poder surgir uma
nova, onde todas as cenas poderiam se dialogar.
E em semanas foram ocorrendo experimentos e
experimentos, mudanças e mudanças, onde, devido a um debate de tudo que já havíamos feito, a diretora (Tiche) propôs que o que já tínhamos de dramaturgia fosse explorado por figuras bufonescas.
Com isso, Ésio Magalhães e Tiche Viana iniciaram
um prévio processo para buscarmos descobrir figuras bufonescas, para dialogarem com as propostas do caminho que estávamos trilhando nesta
parte da montagem, já que por unanimidade queríamos fugir da atmosfera densa que carrega as
dramaturgias Fausticas e construir algo que não
deixasse de ser crítico mas que acarretasse uma
carga divertida e cômica não importando qual fosse o assunto faustico a ser mostrado.
No início, foi difícil entender como estas figuras
seriam, pois sabíamos que elas deveriam ser diferentes das já propostas nos trabalhos anteriores.
Então, fizemos pesquisas de eixos corporais, personalidades, voz e principalmente ânimos diferentes entre elas.
Revelando Artemanhas
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Então, foi daí que surgiram: Gero, Tacy, Flor e Mudinho, que fariam parte desta nova fase do processo
de montagem, e eles chegaram revolucionando tudo
que já estava estruturado: novos locais de cenas, novas cenas, outras opções de dramaturgias, e nessas
mudanças chegou para finalizar a escrita do texto o
dramaturgo e diretor Doberto Carvalho, que, observando as cenas, diálogos e a interação de cada figura,
foi escrevendo o texto de acordo com o que já estava
criado; enfim, tudo foi dando uma nova atmosfera
para o espetáculo, que, desde o início de sua montagem, passou por vários desafios externos (ameaça
da subprefeitura, mudanças de locais das cenas e cenários por conta da entrega de um dos barracões à
Secretaria da Saúde; e, em meio a tudo isso, também
ocorreu a desistência de um dos atores). Isso tudo,
sinceramente, me fez pensar nas forças e energias
com que estávamos lidando, mas isso não me fez em
momento algum pensar em desistir.
Muito trabalho (cenários, adereços, preparação
corporal, ensaios e ensaios, dúvidas e dúvidas), por
fim, dia 21 de setembro de 2013, nasceu Mephisto
Injustiçad. E mesmo que tenham ocorrido muitas
participações do público acompanhando os ensaios,
seguindo-nos na praça e passando cena por cena,
agora sim, nas apresentações, teríamos como foco
o elemento mais importante do teatro: o contato
com o público e o olhar dele sobre o espetáculo.
E me sinto muito feliz por ter terminado esta parte
do processo, embora me doa às vezes a falta dos
profissionais que contribuíram muitíssimo para
a qualidade desta obra, eu nem posso deixar de
mencionar o quanto tudo isso só veio a alimentar a
minha carreira como ator.
Por Welton Silva
Frases
“Nenhum de nós é mais importante do que todos
nós juntos”
Grupo Garajau (CE)
“Morte!!!”
“Quem eu mato dentro de mim o tempo todo?”
“Vamos nos divertir!!!”
“O que é o Amor?
-Daqui a 5 anos eu te falo!
- Família!
- É importante, entre duas pessoas...”
“Se o outro depende de mim, ele não vale nada.
Se eu dependo do outro, eu não valho nada.”
(Tiche Vianna)
“O que te mata por dentro?
- A velhice!!!
- É tanta coisa que não sei dizer!”
“Afetar-se”
“Mephisto o caminho ilógico!”
Revelando Artemanhas
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“Liberdade é pouco... o que desejo ainda não tem
nome.”
“Fausto: Conhecimento pra quê?”
“Margarida: Amor >dependência de quê?!”
“O que te mata por dentro a todo momento?
- A velhice!
- A raiva!
- A paixão!”
Bases:
1)Fome
2)Amor
3)Conhecimento
4)Mephisto – Caminho ilógico
5)Morte
6)Luta
7)Loucura/Paixão/Festa das Bruxas/
Noite de Valpurdia
Saímos em dezembro e voltamos em janeiro com
os seguintes questionamentos:
1)Por que Fausto?
2)Por que Fausto no Campo Limpo?
3)E o que o CITA quer contar com esse mito?
Passamos meses refetindo sobre essas indagações. Se chegamos a uma resposta? Não... não chegamos, na verdade só mais questões...
Revelando Artemanhas
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Saímos pelo bairro pesquisando história, relatos
de moradores e frequentadores da praça e redondezas... Ouvimos histórias diversas, histórias que
nos mostrou um pouco sobre o bairro e de como
surgiu e uma das origens do nome do bairro reside no fato de, antigamente, ter funcionado nas
imediações uma antiga chácara do Jockey Club de
São Paulo. Pouco se sabe sobre sua criação, mas
mora dores mais antigos especulam que o distrito de Campo Limpo originou-se da Fazenda Pombinhos, da família Reis Soares. Várias colônias de
japoneses, italianos e portugueses se estabeleceram na região, devido ao preço baixo dos terrenos
naquela época, chegando ao que é hoje o ESPAÇO
CULTURAL CITA.
Um espaço que até então era uma residência de
uma mulher chamada Natália Rosenberg, com
histórias do senso comum de pessoas que foram
mortas ou uma grande história de amor que surgiu
nesse lugar. Com todas essas pesquisas e conteúdos, passamos por um processo de criação de cenas, cenas que nós, atores, construímos, conforme
a pesquisa e as sensações que afetaram cada um.
Surgiram vários personagens, como: uma velha
que prevê o futuro e depois se transforma em
um demônio; um pirat; um louco; um diplomata universitário; um mudo; uma linda flor; e um
velho carrancudo... todos bufões... sim, bufões,
esses seres engraçados que se consideram nobres. Entramos em um ritmo acelerado de trabalho, de corpo, figuras, criação e intenções....
Monta cenas - muda cenas, cria cenas, recria cenas e se desfaz delas...
Treinamento de canto com Fabio Pinheiro criando várias letras e músicas, encontro com Pax tirando sons de instrumentos não convencionais
resultando numa linda cena: “Cena dos Aquários”... Chegamos a criar cenas onde Mephisto e
Fausto são a mesma pessoa, palhaços ou bufões,
até chegar a Mephisto Injustiçado, um experimento cênico de bufões que propõem dentro do
universo fáustico um questionamento da forma
ilógica do trabalho. Mephisto, com sua gana de
justiça, confronta DEUS todo o tempo com essa
sua Lógica/Ilógica: “Por que manter a lógica do
trabalho em um mundo sem trabalho? Ou “Por
que manter essa lógica dentro de um mundo sem
sentido? – são falas de Mephisto...
Sedução e paixão é o que Mephisto usa para convocar esses seres (bufões) para entrar nesse espaço e transformá-los em grandes celebridades,
passando por um mundo de fantasia, um mundo
ilusório que é revelado quando os bufões assinam
um contrato entregando a sua própria ALMA...
Revelando Artemanhas
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Mas esse desfecho de sedução e paixão se revela
uma grande brincadeira de crianças dentro de um
universo lúdico.
visão sobre moradores e transeuntes do entorno)
voltou pro espaço CITA, prazer! “Mefhisto Injustiçado” diante da pesquisa da linguagem dos bufões!
Por Deco Morais
O trabalho com o orientador Esio Magalhães no
Processo de Montagem do Espetáculo
“ Pedimos licença meus amigos,
Também um pouco de inspiração...
Nesse momento a chuva cai lá fora...
E águas do céu lavam o chão
Pois agora nos preparamos
Pra fazer alguns relatos
Sobre o processo de pesquisa
dos clowns e os bufões”
O palhaço
Com seu jogo no espaço, o palhaço exige do ator
um treinamento corporal específico, precisão nos
gestos, no olhar, toda ação é reação corporal e a
palavra é apenas um pretexto. No universo do nariz vermelho, deixamos para traz nossas máscaras
diárias; medos, bloqueios, travas não fazem parte
do estado desses corpos inocentes, ingênuos, infantis que sem medo do ridículo transformam o
erro em grandes acertos e os acertos maravilhosos em erro!
Foram meses...
Alguns meses...
Meses de treinamentos, pesquisas, conflitos...
O bufão
Já o bufão é o excluso, o bastardo, o deformado,
aquele que ninguém quer ser, malicia apurada, excluído da sociedade por natureza.
Mephisto, de tão “injustiçado” que foi, teve que
nascer! Mas não pense que foi fácil esse parto,
pois, durante esse tempo, “Mephisto”, pra ser
“Mephisto Injustiçado”, passou pelas mais diversas e diárias “provações divinas:; primeiro, foi lá
beber na fonte dos mitos fáusticos, passou pelas
máscaras teatrais, depois resolveu dar uma parada no universo do palhaço, foi pra rua (ampliar sua
E foi aqui que descobrimos onde nos identificávamos mais, e por qual universo iríamos realmente
beber para a construção das figuras do espetáculo. Os bufões são mais a nossa cara, fala mais
sobre a realidade que vivemos aqui no Campo
Limpo, diante de uma praça que nos cerca e nos
ensina muito todos os dias com suas figuras e personagens da vida real.
Revelando Artemanhas
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Revelando Artemanhas
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Alguns relatos dos atores sobre processo com o
orientador Esio Magalhães
“Nos treinamentos, nosso orientador nos deixava
muito à vontade e nos mostrava de uma forma simples como chegar ao caminho.”
“Sou meio defensivo, me senti como se estivesse nu.”
“O começo foi incrível, nós víamos os atores com
suas mascaras diárias sendo retiradas. Então, eu
pensava: não sei lidar comigo mesmo.”
“A máscara do bufão onde você pode estar atrás
dela, uma distinção entre figura e ator.”
“Não me considero engraçado; por isso, foi muito
difícil me expor, mesmo sabendo que estava ali
com amigos”.
“Foi muito válido, precisava acordar, precisava errar, nem sempre temos que acertar, e é assim com
o nariz vermelho ou bufão tudo pode, nada se perde, tudo se transforma e vira cena.”
“O que mais me marcou foi saber que eu também
posso fazer palhaço, ser palhaço, pois ele está dentro de mim; eu achava que pra chegar a isso, teria
que ser atriz há muito tempo ou ser uma pessoa
muito engraçada”.
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Por Cléia Varges
O Trabalho com o orientador Pax Bittar no Processo de Montagem do Espetáculo
Pesquisando o som de outras maneiras: Movimento,
som, vida, movimento. No universo tudo vibra – tudo
é vibração. Foi assim que mergulhamos no universo
dos instrumentos não-convencionais. Estamos acostumados a ver a música sendo sempre extraída de
certos materiais e recursos que, quase sempre, fazem parte das nossas referências sobre a instrumentação musical convencional. Porém, a música, para
existir, depende fundamentalmente de uma organização específica dos sons, e estes sons podem ser extraídos das mais diversas fontes. Aquários, galões de
água, garrafas de vidro, canos de PVC, entre outros.
Os estudos com os aquários foram mais aprofundados, visto que, mais adiante, o grupo apresentaria o
material como proposições cênicas para o espetáculo
Mephisto Injustiçado baseado no mito Fausto, de Goethe. Além dos aquários, também pesquisamos alguns
instrumentos percussivos não-convencionais que nos
subsidiaram na construção sonora para as propostas
cênicas individuais e coletivas construídas pelo grupo
para o espetáculo, e sem sombra de dúvidas, enriquecendo o repertório artístico dos integrantes.
O orientador Pax Bittar, com seu profissionalismo, sua qualidade e paixão pelo trabalho que
realizou, nos mostrou praticamente que todo som
tem potencial para ser organizado em formato musical e, por isso, dentro do universo dos recursos
não convencionais, conseguimos identificar uma
série de possíveis categorias e, assim, buscar um
olhar mais apurado para esse mundo tão mágico e
lúdico da música.
Ao longo do processo de elaboração do espetáculo, fomos descobrindo formas de como inserir esses instrumentos no cotidiano do fazer teatral da
Trupe Artemanha, sem deixar que ficasse apenas
mais um instrumento na cena, mas que realmente
fizesse sentido o diálogo com as figuras que foram
sendo descobertas e com o texto proposto por
Dorberto Carvalho. Regência e execução se misturaram, nos trazendo diversas ideias e combinações
sonoras diferentes, a fim de estabelecermos qual
seria mais interessante dentro de nossas propostas de cenas. E, é claro, a orientação de Pax foi importantíssima e fundamental para o resultado final
deste processo, culminando em uma cena inteira
do espetáculo tendo como base este trabalho.
O primeiro local conhecido pelos bufões
é um tipo de jardim-teatro, claro e iluminado, com figurinos dispostos à espera
de seus atores
Por Rodrigo Dias
O trabalho com o orientador Fábio Pinheiro no
Processo de Montagem do Espetáculo
Ouvir samba! Essa tinha sido a sugestão enfática de Tiche. Sugestão acatada, não só ouvimos,
como cantamos, compomos e tocamos. Uma semente havia sido plantada, foi regada, cultivada,
porém uma coisa que foi bem aprendida foi que
o processo toma rumos próprios. Utilizando o
universo metafísico do mito de Fausto, é como
se o resultado já estivesse em algum plano,
como sempre brincava o Fábio Pinheiro: na quinta dimensão.
Acompanhados e muito bem auxiliados pelo Fábio, tivemos várias vivências que nos levavam
tanto a um aprimoramento técnico vocal quanto
a cada vez mais adentrarmos nos sons deste universo que agora, temos dúvidas se foi criado ou
descoberto por nós.
Do samba, passamos pelo coco, fizemos improvisações, porém sempre tínhamos uma sensação
de que algo não encaixava, que não satisfazia... E
não mesmo!
Fomos para a rua onde fizemos um tipo de pesquisa-performance perguntando para às pessoas
sobre alguns questionamentos levantado. As respostas eram anotados e, depois, compartilhados
em forma de canto. Mesmo assim, ainda não tínhamos nada de concreto, de definitivo. Mas, na
dúvida, continuamos cantando, tocando, tecendo
essa teia, descobrindo os sons que paulatinamente
Revelando Artemanhas
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foram se mostrando, se apresentando conforme
íamos nos aprofundando no processo.
A vinda de um trabalho mais intenso com a Tiche
Vianna e a chegada de Dorberto Carvalho como
dramaturgo deram um rumo, amarração ao que
já tinha sido criado, às experimentações cênicas.
Nestas experimentações, foi que percebemos que
a semente do samba não havia vingado. E um som
surgiu com a proposta de uma das cenas que tinha
como trilha sonora Sympathy For The Devil, dos
Rolling Stones. Esse foi um prenúncio de que outras sonoridades emergiriam.
Antes mesmo do samba, um dos primeiros sons
que ouvimos foi Kurt Weil, na construção das máscaras que foram as guias das figuras. E assim, com
esta estética chegamos às músicas Transformar
Metal em Ouro e Não Há Paz na Injustiça. Porém
como todos os processos, até o último instante antes da estréia houve modificações.
Foi um trabalho extremamente importante,
pois norteou-nos em um momento muito difícil, que foi encontrar as vozes das figuras que
comporiam também a sonoridade do espetáculo como um todo. Acredito que outros sons
surgirão, já que dinamismo foi algo presente em
todo o processo.
Revelando Artemanhas
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Por Dêssa Souza – Atriz-pesquisadora / produtora e responsável pela ambientação dos espaços cênicos de Mephisto Injustiçado
O verbo OCUPAR colocou-se em ação, no sentido
literal da palavra, durante a montagem do espetáculo Mephisto Injustiçado. Proposital ou não, resultado de uma série de acontecimentos no cotidiano
do Espaço Cultural CITA, cada cantinho foi sendo experimentado e utilizado pelos atores em exercícios
e proposições de cenas. Assim, ao aceitar o convite
de Mephisto e adentrar o espaço CITA, os bufões
Flor, Gero, Tacy e Mudo, acompanhados pelo público, vão descobrindo um inusitado universo, em que
cada cena acontece em um local diferente, e mesmo
com tantas itinerâncias, ainda se acaba o espetáculo
com um leve gostinho de quero mais, dada a diversidade de imagens e conflitos pelos quais se passa.
Mephisto Injustiçado - É um experimento cênico
baseado nas investigações desenvolvidas ao longo de um ano e meio pela Trupe Artemanha, com
orientação de vários artistas pesquisadores de
Teatro. O trabalho partiu do estudo dramatúrgico
de distintas versões escritas sobre o mito “fáustico”, com o dramaturgo Antônio Rogério Toscan,
e agregou profissionais como a pesquisadora e
diretora Tiche Vianna, que orientou os atores na
criação da encenação; o ator e palhaço Esio Magalhães, que orientou o treinamento de atores, e dos
A caixa d’água do CITA para a cena O
protesto de Mephisto
Com um pequeno palco, uma mesa de
autógrafos entre claros tecidos e uma
imensa mesa com a Santa Ceia, a Sala do
Banquete representa a riqueza e fartura que “com certeza os artistas vivem”
(...) A pintura é de Léo Santiago – Ator-pesquisador da Trupe Artemanha
A “Sala dos Aquários” ou “A sala da Dança de Mephisto” surgiu a partir do especial trabalho realizado com Pax Bittar
em instrumentos não convencionais
orientadores João Araújo, na construção e manipulação de bonecos, Pax Bittar e Fábio Pinheiro no
treinamento da música, da voz e do canto. Dorberto Carvalho se reuniu com o grupo neste ano para
a finalização do roteiro criado a partir das cenas
propostas no diálogo entre todos os criadores.
Sua verdadeira intenção
é selecionar entre os
espectadores anônimos
um elenco formado
por alguns miseráveis,
que, segundo ele, são o
resultado da lógica de
Deus.
Sinopse:
Ao anunciar um grande espetáculo, Mephisto seduz os espectadores a entrar em um antigo espaço
teatral abandonado, com a promessa de que verão
um inesperado espetáculo. Sua verdadeira intenção é selecionar entre os espectadores anônimos
um elenco formado por alguns miseráveis, que, segundo ele, são o resultado da lógica de Deus. Entre
todos, quatro figuras “bufonescas” são selecionadas como suas protagonistas. Aos poucos, atores e
espectadores vão sendo conduzidos por ele a encenar e viver momentos criados por sua obsessão
em exigir que Deus se apresente pessoalmente e
escute a acusação que inocentaria o de sua injusta
condenação. Como Deus o ignora, Mephisto procura encontrar um modo inevitável para chamar a
sua atenção. No caminho ilógico de um Mephisto
que questiona a lógica de Deus, nos perguntamos
diversas vezes o que é real, o que é teatro, o que é
demoníaco e o que é divino em todos nós.
Ficha técnica:
MEPHISTO INJUSTIÇADO - Baseado em estudos
realizados sobre diferentes versões e leituras do
mito de “Fausto”
Orientadora de Criação e Diretora: Tiche Vianna
Dramaturgia: Criação Coletiva
Texto Final: Dorberto Carvalho
Preparação Vocal / Musical: Fábio Pinheiro
Preparação em Instrumentos não convencionais:
Pax Bittar
Trilha Sonora: Música da Sanfoninha: Deco Morais
/ Pianos de Marcelo Onofri / Música Final: Fábio
Pinheiro
Elenco: Carlos Andrade, Cléia Varges, Deco Morais,
Rodrigo Dias e Welton Silva
Cenografia: Dêssa Souza / Léo Santiago
Adereços: Grupo
Marcenaria: Raimundo Souza
Projeto Iluminação: Carlos Andrade
Técnica / Sonoplastia: Dêssa Souza
Figurinos: Mariana Farcetta / Grupo
Produção: Dêssa Souza
Orientação de Pesquisa: Antônio Rogério Toscano
Colaboradores do Processo de Montagem: Esio
Magalhães / João Araújo
Produção Geral: TRUPE ARTEMANHA DE INVESTIGAÇÃO TEATRAL
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TRUPE ARTEMANHA DE
INVESTIGAÇÃO TEATRAL
A Trupe Artemanha foi fundada em 1996, em Taboão da Serra-SP, onde trabalhou por oito anos e
realizou um importante processo de formação de
público. A partir de 2005, o grupo expandiu seus
trabalhos para a Zona Sul do município de São Paulo, sediando-se em Campo Limpo, e atuando também nos bairros de Capão Redondo, Vila Andrade
e Paraisópolis, que, juntos, compreendem aproximadamente 600 mil habitantes.
Desde 2005, a Trupe Artemanha realiza apresentações de espetáculos, oficinas, palestras e mostras de teatro nesta região, promovendo apresentações de grupos de teatro de diferentes cantos
da cidade de São Paulo, do interior do estado e
de outras cidades do País, com uma programação
totalmente gratuita e diversificada, recebendo públicos de todas as faixas etárias e classes sociais,
sobretudo, pessoas que dificilmente têm acesso
ao teatro e à arte de modo geral. Este é um diferencial do projeto artístico-político do grupo, pois
o Artemanha está distante dos centros de cultura e lazer e suas ações fortalecem o movimento
teatral em sua região de atuação, expandindo-se
para outros bairros de São Paulo e cidades do País,
possibilitando um maior contato com os moradores e artistas locais.
A Trupe Artemanha sempre procurou trazer para
cena temas que dialogassem com fatos históricos
do País. Em seus trabalhos, a Trupe mescla elementos circenses, danças dramáticas, ritmos populares
e o trabalho com máscaras, com o principal objetivo de apresentar espetáculos que provoquem
exercícios de reflexão, deformando a realidade
apresentada.
MONTAGENS DA TRUPE ARTEMANHA
Mephisto Injustiçado (2013)
O Homem que Virou Suco (2012)
Vi Makunaíma na Rua! (2011)
Brasil, Quem Foi que Te Pariu? (2011 e 2009)
As 3 Porquinhas e o Lobo de Cordel (2008 e 2006)
Processo Algoz Humano (2007)
Boombástico (2005 e 2000)
Soltando o Verbo (2001)
Palhaços (1999)
Amor por Anexins (1997)
A Incrível Viagem (1997)
Zé Pobreza – O Ferreiro que Enganou o Diabo
(1997)
Overdose de Juventude (1996)
2013: Estréia do espetáculo Mephisto Injustiçado,
dramaturgia de Dorberto Carvalo e Direção de Tiche Vianna (setembro); Realização do 8º FESTCAL
– Festival Nacional de Teatro de Campo Limpo
e 3ª Revirada Cultural da Resistência (maio), nos
bairros Campo Limpo, Capão Redondo e Paraisópolis da Cidade de São Paulo; Participação do espetáculo de rua O Homem que virou Suco no VII Festival das Artes Cênicas do Centro Cultural Banco
do Nordeste (Março), pelas cidades de Sousa (PB),
Crato (CE) e Fortaleza (CE).
2012: Realização do 7º FESTCAL – Festival Nacional de Teatro de Campo Limpo (outubro);
Montagem do espetáculo de rua O Homem que
virou Suco / Pesquisa para montagem de Fausto,
Direção de Tiche Viana; Participação do espetáculo
de rua Vi Makunaíma na Rua! em festivais no nordeste: VI Festival dos Inhamuns – (Janeiro/2012);
Crato e Juazeiro do Norte – Semana Sesc de Artes
Cênicas (Março/2012). E na cidade de Sousa, Paraíba pelo VI Festival das Artes Cênicas do Centro
Cultural Banco do Nordeste; Contemplação no
PROAC FESTIVAIS DO ESTADO DE SÃO PAULO,
com o Projeto 8º FESTCAL – Festival Nacional de
Teatro de Campo Limpo – 2013 (Julho); Circulação
do espetáculo de rua Vi Makunaíma na Rua! pelas
5 regiões da cidade de São Paulo, pelo Programa
de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo;
Pesquisa em algumas cidades do nordeste brasileiro para a realização do projeto Expedição: Dos Sertões às Quebradas – Escambiando por esses Brasis;
Mostra de Processo de Exercícios da Escola Popular de Teatro CITA (Primeira Turma); Realização
da Revirada Cultural da Resistência.
2011: Estréia do novo espetáculo de rua: Vi Makunaíma na Rua! (Dezembro) / Criação da Escola de
Teatro CITA (Centro de Investigação Teatral Artemanha) (Junho) / Contemplado Prêmio Funarte
Artes na Rua 2011, com o Projeto Expedição: dos
Sertões às Quebradas – Escambiando por esses
Brasis / Contemplação na 18ª Edição do Programa
de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo,
com o projeto 15 Anos Revelando Artemanhas
(Maio) / Contemplação no PROAC FESTIVAIS DO
ESTADO DE SÃO PAULO, com o Projeto 7º FESTCAL – Festival Nacional de Teatro de Campo Limpo – 2012 (Julho) / 21 de abril - Criação do Núcleo
Revelando Artemanhas
102
de Pesquisa em Teatro Popular com a Reestréia
do Espetáculo de Rua Brasil, quem foi que te pariu? / 08 de janeiro – Comemoração dos 15 Anos
do grupo e Encerramento com uma Exposição do
Projeto Revelando Artemanhas. Realização do 6º
FESTCAL – Festival Nacional de Teatro de Campo Limpo; Início do processo de pesquisa para
criação de uma dramaturgia livre inspirada no mito
FAUSTO, com orientação de dramaturgia de Antônio Rogério Toscano e orientação de interpretação
de Tiche Vianna; Início do processo de pesquisa
para criação de exercício teatral inspirado no mito
MEDÉIA, com orientação de Luciano Santiago; 08
de janeiro – Comemoração dos 15 Anos do grupo e
Encerramento com uma Exposição do Projeto Revelando Artemanhas.
2010: 1ª Leitura Encenada do texto: Vi Makunaíma na Rua!; Participação no 8º Encontro da RBTR
- Rede Brasileira de Teatro de Rua (Campo Grande/MS) (Novembro); Realização do 5º FESTCAL
- Festival Nacional de Teatro de Campo Limpo;
Circulação do espetáculo de rua Brasil, quem foi
que te pariu? pelos seguintes Programas/Festivais/Mostras: Programa de Fomento ao Teatro
para a Cidade de São Paulo - 40 apresentações pelas 5 (cinco) Regiões da Cidade; PROAC - Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo
com circulação pelas cidades do Litoral e interior
Revelando Artemanhas
103
Revelando Artemanhas
104
do Estado (Ilha Cumprida, Botucatu, Santa Isabel,
Jaú, Francisco Morato, Taboão da Serra, Embu e
Santos); PROART - Programa de Artes da Secretaria de Educação de São Paulo com Circulação
pelos CEU’S - Centros Educacionais Unificados;
17º Festival de Artes de Itu; Projeto Nas Ruas de
Pinheiros (SESC Pinheiros); Participação no 7º Encontro da RBTR - Rede Brasileira de Teatro de Rua
(Canoas/RS) em Maio.
2009: Realização do 4º FESTCAL - Festival Nacional de Teatro de Campo Limpo; Contemplado na
15ª edição (junho) do Programa de Fomento ao
Teatro para a Cidade de São Paulo, com o projeto
de pesquisa: Revelando Artemanhas; ESTRÉIA do
espetáculo de rua Brasil, quem foi que te pariu? 9 de maio Praça do Campo Limpo, Zona Sul de São
Paulo Texto e Direção: Luciano Santiago; Contemplado PROAC – Circulação do espetáculo de rua
Brasil, quem foi que te pariu?; Circulação do espetáculo de rua Brasil, quem foi que te pariu?, pelos
seguintes Programas/Festivais/Mostras: Programa
de Fomento ao Teatro da Cidade de São Paulo - 40
apresentações pelas 5 (cinco) Regiões da Cidade.
/ PROAC - Programa de Ação Cultural do Estado
de São Paulo com Circulação pelas as Cidades do
Litoral e Interior do Estado (Ribeirão Preto e Taquaritinga) / 17ª Mostra Monte Azul (Zona Sul de
São Paulo) / 1ª Mostra de Teatro de Rua da Zona
Revelando Artemanhas
105
Norte (São Paulo) / 51º FESTA - Festival Santista
de Teatro (Santos/SP) / 5ª Mostra de Referências
de Suzano (Suzano/SP) / 4ª Mostra Lino Rojas (São
Paulo) / Mostra Jogos de Aprendizagem da Tribo
de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz (Porto Alegra/
RS); Realização do 4º FESTCAL - Festival Nacional
de Teatro de Campo Limpo.
2008: Contemplado no PROAC n° 8 Festivais de
Artes para realização do 4º FESTCAL Festival Nacional de Teatro do Campo Limpo-2009; Contemplado na 12ª edição (janeiro) no Programa de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, com
o projeto de Pesquisa: Investigação Urbana; Contemplado no PROART da Secretaria de Educação
do Município de São Paulo, para circulação em
CEU’S (Centros Educacionais Unificados) com os
seguintes espetáculos: Soltando o Verbo eAs três
porquinhas e o lobo de cordel; Participação 4º Encontro da RBTR - Rede Brasileira de Teatro de Rua
(São Paulo) Novembro; Realização do 3º FESTCAL
- Festival Nacional de Teatro de Campo Limpo;
2007: Contemplado no PAC n° 15 Festivais de Artes
para Realização do 3º FESTCAL Festival Nacional
de Teatro do Campo Limpo para 2008; Realização
do 2º FESTCAL - Festival Nacional de Teatro de
Campo Limpo; Contemplado no PROGRAMA VAI
para organização do II FESTCAL Festival de Teatro
de Campo Limpo e a 1ª Mostra Paralela de Teatro
de Rua 2007; Pesquisa Investigação Urbana, experimentações no Galpão da Subprefeitura do Campo Limpo; Apresentação do Espetáculo Soltando o
Verbo, projeto para o Programa de Ocupação nos
CEU’s - Centro Educacional Unificado (PROART).
2006: Organização e Realização do 1º FESTCAL
- Em comemoração aos 10 Anos da Trupe Artemanha; Criação do Espetáculo Infantil As Três Porquinhas e o Lobo de Cordel - Adaptação / Direção:
Luciano Santiago.
2005: Remontagem do espetáculo Boombástico Texto e Direção: Luciano Santiago.
2004 e 2003: Circulação do espetáculo Soltando o
Verbo pelas escolas e comunidades do município
de Taboão da Serra, Embu das Artes e Itapecerica
da Serra.
2001 até 2008: Soltando o Verbo - Texto: Zecarlos de Andrade / Direção: Luciano Santiago: Peça
premiada no Mapa Cultural Paulista 2001 fase municipal: Melhor Espetáculo, Direção, Ator (Joselito
Gaza) e Cenografia (Sérgio Carozzi); V Festival do
Trabalhador: 3º Melhor Espetáculo, Melhor Direção, Ator (Joselito Gaza) e Cenografia (Sérgio
Carozzi); FEPAMA 2001: 2º Melhor Espetáculo;
Prêmio de Melhor Ator para os 3 atores do Espetáculo (Harmonia de Interpretação Coletiva).
2000: Boombástico - Texto e Direção: Luciano
Santiago; Peça premiada em dois festivais: 2° Melhor Espetáculo - Mapa Cultural de São Paulo 2000
(fase municipal);
1999: Palhaços - Texto: Timochenco Wehbi / Direção: Luiz Domingues; A Boneca que queria ser gente - Texto e Direção: Luciano Santiago.
1997: Amor por Anexins - Texto: Artur de Azevedo / Direção: Luciano Santiago; A Incrível Viagem
- Texto: Doc Comparato / Direção: Luciano Santiago; Zé Pobreza – O Ferreiro que enganou o Diabo
- Adaptação e Direção: Luciano Santiago.
1996: Overdose de Juventude - Texto: Eliane Correa / Direção: Ney Rodrigues
EDITAIS CONTEMPLADOS E PARTICIPAÇÃO EM PROGRAMAS CULTURAIS:
• Prêmio PROAC Festivais de Artes da Secretaria
de Cultura do Estado de São Paulo (2013), para
a realização do 9º FESTCAL – Festival Nacional
de Teatro de Campo Limpo - 2014;
Revelando Artemanhas
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• Prêmio PROAC Festivais de Artes da Secretaria
de Cultura do Estado de São Paulo (2012), para
a realização do 8º FESTCAL – Festival Nacional
de Teatro de Campo Limpo - 2013;
• 21ª do Programa de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo com o projeto CITA – 3 Eixos:
Ocupar, Revelar e Difundir... (Junho/2012-2013);
• Prêmio Funarte de Artes na Rua com o projeto
Expedição: dos Sertões as quebradas escambiando por esses Brasis (2011);
• Prêmio PROAC Festivais de Artes da Secretaria
de Cultura do Estado de São Paulo (2011), para
a realização do 7º FESTCAL – Festival Nacional
de Teatro de Campo Limpo - 2012;
• 18º Fomento ao Teatro com o projeto 15 Anos
Revelando Artemanhas (Janeiro/2011-2012);
• 15º Fomento ao Teatro com o projeto Revelando
Artemanhas (Junho/2009-2010);
• Prêmio PROAC Circulação de espetáculos teatrais da
Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo (2008),
para a realização da circulação do espetáculo de rua
Revelando Artemanhas
107
Brasil, quem foi que te pariu? da Trupe Artemanha,
pelas cidades do interior e litoral do estado;
•
12º Fomento ao Teatro com o projeto Trupe
Artemanha de investigação urbana (Janeiro/
2008-2009);
• Prêmio PROAC Festivais de Artes da Secretaria
de Cultura do Estado de São Paulo (2008), para
a realização do 4º FESTCAL – Festival Nacional
de Teatro de Campo Limpo-2009;
• Prêmio PROART da Secretaria Municipal de Educação da Cidade de São Paulo, para circulação
dos espetáculos Soltando o Verbo e As 3 porquinhas e o lobo de cordel, pelos CEU’S – Centro
Educacionais Unificados (2007/2008);
• Prêmio PROAC Festivais de Artes da Secretaria
de Cultura do Estado de São Paulo (2007), para
a realização do 3º FESTCAL – Festival Nacional
de Teatro de Campo Limpo-2008;
• Programa VAI – Valorização a Atividades e Iniciativas Culturais da cidade de São Paulo, para a realização do 2º FESTCAL – Festival Nacional de
Teatro de Campo Limpo-2007 (2007).
Revelando Artemanhas
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RELATOS SOBRE A OCUPAÇÃO DO
ESPAÇO CULTURAL CITA
Espaço Cultural CITA – Cantinho
mágico
Imagine: um local escuro, porque não tinha energia elétrica mesmo, estava abandonado há meses.
À frente, uma praça também escura, imensa, noite fria e úmida, a garoa desfocava a visão. Entre
aquele lugar e a praça, na rua, uma semimultidão
repleta de jovens com o olho a brilhar, outros a observar, nas mãos de 17 deles, tochas!!! O berrante
toca, toca novamente, o portão de ferro se abre e
um longo corredor é aos poucos iluminado, e eles
entram, sob a luz das tochas. À esquerda, um barracão imenso de madeira; à direita, um jardim, e
logo mais à direita, outro barracão. Cortam todo o
corredor e, ao fundo, avistam um bosque de árvores diversas e uma clareira, ali aconteceria uma cerimônia. Esse relato é verdadeiro: O berrante era
de Tião Carvalho, e as 17 tochas estavam cada uma
na mão de um dos aprendizes da Escola Popular de
Teatro CITA, riquíssimo projeto de formação para
atores, realizado pela Trupe Artemanha através do
Programa de Fomento ao Teatro para a Cidade de
São Paulo, que acabou dando nome ao agora chamado Espaço Cultural CITA, que, desde 2011, além
de abrigar as atividades de pesquisa e criação do
grupo que deu início à residência artística, tornou-se também um importante local de encontro para
outros coletivos da região do Campo Limpo, bairro localizado na zona Sul da cidade de São Paulo.
Hoje, cerca de 15 coletivos utilizam o espaço para
ensaios, reuniões, apresentações e ministram oficinas. E ainda estão chegando mais!!!
Uma das pesquisas realizadas no Espaço Cultural
CITA foi em torno do mito Fausto e resultou no espetáculo Mephisto Injustiçado, montagem da Trupe Artemanha. Através desta pesquisa, os artistas
envolvidos tiveram diversos questionamentos, tais
como: O que é fazer teatro na periferia? O que é
ocupar artisticamente um espaço público? Quem
seria, hoje, no Campo Limpo, Fausto? Estas perguntas direcionaram o trabalho em busca de relatos de moradores e pessoas atuantes no bairro do
Campo Limpo, tornando-se um importante foco e
também o principal caminho para se aproximar da
comunidade ao redor. Ora, o Espaço Cultural CITA
está inserido na Praça do Campo Limpo, local que
andou sendo “mal visto” nos últimos tempos porque abriga moradores em situação de rua e usuários de drogas. E então, se você fosse com seu filho
para balançar e brincar na gangorra da praça, ou
tomar um sorvete, ou senta-se para bater um papo
ou ler um livro, precisa ser humano o suficiente
para entender que ali é um espaço de todos. TODOS!!! E o que faz um grupo de teatro que utiliza e
gere um espaço que está dentro desta praça? Faz
teatro, ué. É teatro que a gente faz, a partir de todas essas vivências, deste espaço, desta geografia.
E então o Campo Limpo, aos poucos, se revela um
bairro periférico com jeito de centro, porque tem
praça imensa, arborizada, com transeuntes, vendedores e habitantes. Um bairro que tem poetas,
médicos, pedreiros, atores e moradores da praça
que dirigem peça de teatro.
E quem olha de fora nem sempre vê, mas ali, diariamente, tem: bonecos sendo construídos, tem cenas sendo pensadas, tem atores descobrindo seus
palhaços ou palhaços descobrindo seus atores?
Tem encontros de formação e discussão política,
tem canto e composição musical, tem som saindo
de aquários, tem Sarau do Binho na Praça e Encontro com Mestres todo último domingo do mês, tem
Festival Nacional de Teatro e Revirada Cultural da
Resistência com 36 horas de arte sem parar!!! Tem
Escola de Notícias, tem Cia. Diversidança, Trupe
Trapos, Tropeiros da Arte, Cia. Catraca do Riso,
Cia. Cantiga Criança, Cia. Pélagos, Cia Máscara, Cia
Reprises, Sapato Branco Instrumental, Maracatu
Ouro do Congo e Ateliepopularte. Tem dança pra
crianças, teatro para iniciantes. Aqui, tem ouvidos
pra ouvir. Aqui, tem troca! Aqui, tem construção, e
você também pode fazer parte.
Bem vindo ao Espaço Cultural CITA.
E, se quiser, pode pegar sua tocha, seu livro, seu
instrumento, e gritar com a gente, porque a gente
tá aprendendo junto. E agora, a idéia é compartilhar. Foram tantas as vivências, tantos os aprendizados. Criar a segunda turma da Escola Popular de
Teatro CITA é compartilhar o que temos de melhor:
nossa música, nosso teatro, nossa cultura popular.
Compartilhar e continuar descobrindo o bairro do
Campo Limpo, que se revela diariamente um bairro artista, divergente, empreendedor.
Por Dêssa Souza – Cantora e produtora cultural.
Foi aprendiz da primeira Turma da Escola Popular
de Teatro CITA, tornando-se integrante da Trupe
Artemanha de Investigação Teatral e agora uma
das artistas que realiza seus trabalhos, gerindo e
ocupando o Espaço Cultural CITA.
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OCUPANDO OS ESPAÇOS PÚBLICOS
Praça do Campo Limpo. Ponto de referência do
bairro com o mesmo nome. Os shows e eventos
ocupavam aquele espaço todos os domingos, juntando pessoas daqui e de outros lugares da cidade.
Na tentativa de impedir as manifestações populares em espaços públicos, local de abrigo para muitas bandas locais, o palco morada da música e das
expressões artísticas cedeu lugar ao abandono, ao
vazio e ao silêncio, motivado pela ausência de compromisso político com as necessidades do bairro.
Em consequência, o palco se tornou o lar de cidadãos sem abrigo, passou a ser ocupado por eles.
Pela opressão das grandes cidades, usavam o espaço para se refugiarem do frio e da chuva que castiga. Na tentativa de solucionar o caso, combatendo
o efeito e não a causa, o palco deixou de existir.
O Teatro, a Música e a Dança também foram vítimas, perderam um dos únicos espaços abertos disponíveis para as suas apresentações. Os domingos
passaram a ser dias de silêncio entrecortado pelo
som das crianças que resistiram, utilizando as quadras e os poucos brinquedos que restaram.
Mas ali, em frente à praça, um movimento teatral
começou a tomar corpo e ocupou o galpão da
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antiga subprefeitura do Campo Limpo, trazendo
para a comunidade oficinas artísticas e uma nova
esperança de retorno ao que deixara saudades.
A Trupe Artemanha chegou para ocupar, e, em
pouco tempo, começou a transformar aos poucos
aquela realidade.
Entre as árvores da praça, diversos espetáculos
teatrais começaram a acontecer. Crianças, jovens,
idosos, moradores de rua, todos que por lá passavam e se deixavam ficar, encantados pela possibilidade de conhecer e se reconhecer no trabalho, de
relembrar tempos de outrora, voltaram aos poucos a ocupar a praça.
Outro caso de destituição de espaço semelhante
foi o fechamento do Sarau do Binho. Um dos saraus mais importantes da cidade de São Paulo e
que abrigou tantos artistas e manifestações culturais, também foi alvo do poder público, com um
único objetivo. De calar a voz do povo. O sarau é
um lugar de troca, de construção de laços afetivos
e de preservação da nossa identidade cultural, de
formação cidadã, necessidade de extrema importância nas periferias da cidade.
O primeiro espaço a receber o Sarau do Binho
após o fechamento do bar foi exatamente o Espaço Cultural CITA. Nele, começou a resistência pela
sobrevivência deste sarau, e a partir daí a apropriação da praça foi consolidada, na prática e na necessidade de tomar parte dos espaços públicos.
Em um curto espaço de tempo, tive conhecimento
de que aconteceria o Primeiro Encontro com Mestres realizado pela Trupe Artemanha, ali mesmo, na
praça. A proposta inicial foi de reverenciar os mestres griôs, nossa cultura oral, seguido do tão querido e estimado Sarau, comandado por um de nossos
mestres, o próprio Binho.
Os trabalhos foram abertos com a presença de Raquel Trindade, mestre das artes plásticas e da cultura afrobrasileira, filha de Solano Trindade e que
perpetua as ações de seu pai no comando do Teatro Popular Solano Trindade, em Embu das Artes.
A oportunidade de conhecer um pouco mais a vida
desses mestres e ver esse encontro acontecendo
neste espaço traz movimento aos domingos da
Praça do Campo Limpo, agregando pessoas com
intuito de conhecer um pouco da cultura oral, surpreendendo aqueles que já estavam acostumados
ao silêncio da praça e muitos outros que vêm de
longe para poder participar de uma verdadeira e
autêntica aula aberta de cultura popular.
Mara Esteves
Articuladora cultural e produtora do 8º FESTCAL
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MEMÓRIAS TRUPE ARTEMANHA
Fotos de espetáculos
MEPHISTO INJUSTIÇADO
O HOMEM QUE VIROU SUCO
VI MAKUNAÍMA NA RUA
BRASIL, QUEM FOI QUE TE PARIU ?
Sites e blogs
Jornal
Programação Festcal
Clipping
Críticas
MEPHISTO INJUSTIÇADO
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Críticas
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AGRADECIMENTOS
Cléber Ribeiro (Clebinho) - Sílvio Ribeiro - Salvador Ribeiro - Ney Rodrigues - Flávia D’á Lima - Solange Alves
- Daniela Alves - Wilames Alves de Sousa - Thânia Rocha - José Maria de Lucena - Valter Costa – Cida Ribeiro
(Cidinha) – Dejair Martins – Rose Santana - Daniel Diez
- Vera Diez - Sônia Nogueira Santiago - Paulo Tucan
- Eliane Corrêa - Ricardo Corrêa - Alan Leão - Joel Macedo - Paulo Brito - Bia Couto - Eudes Viana – Ronaldo
Alves – Luiz Domingues - Nadir Cherubini - Eddie Ferraz - Joselito Gaza - Sérgio Carozzi - Joel Carozzi - Maithê Alves - Janaína Mendes - Márcio Monjolô - Gil Caetano - Marcelo Collavitto - Dorberto Carvalho - Éder
Lopes - Eduardo Paiva - Elise Guedes - Lilyan Teles Carlos Eduardo Siqueira - Cristiano Meireles - Poeta
Marcos Pezão – Escritor Marcelino Freire - Danielle
Salibian - Eliete Santos - Eraldo Moura - Shirley Badaró
– Sávio Gonçalves - Kenny Rogers - Renato Macedo Viviane Faustino – Juliana Osmondes - Clayton Novais
- Mery Alentejo - Natalia Siufi - Izaur Marcos. Orientadores da Primeira Turma da Escola Popular de Teatro
CITA: Alexandre Mattos - Alício Amaral - Juliana Pardo
- Aline Reis - Antônio Rogério Toscano - Camila Bolaffi – Fábio Pinheiro – Joel Albuquerque – Claudinho
Oliveira - Erick Santana. Orientadores dos Trabalhos
do Projeto CITA – 3 EIXOS: Tiche Vianna - Ésio Magalhães - João Araújo - Pax Bittar - Luiz Checcia - Marta
Aguiar Bergamin. Parceiros: Binho e Sarau do Binho
– Mara Esteves – Rose Marinho - João Luiz do Couto
– Guilherme Leal - João Claudio de Sena – Will Cavagnolli – Rogério Gonzaga - Sheila Signário – Escola de
Notícias – Maracatu Ouro do Congo. Integrantes do
Projeto: Léo Santiago - Adonai Bezerra - João Carlos
de Andrade - Cléia Varges - Dêssa Souza - Ingryd Sena
- Rodrigo Dias - Welton Silva - Deco Morais - Luciano
Santiago.
Aos amigos e parceiros que passaram em nossas vidas, aos que com certeza surgirão e sempre estarão
presentes em nossas mentes e que não foram aqui
citados, mas que nunca os esqueceremos. Grupos,
Artistas que ajudaram a construir essa história, participando juntos do FESTCAL - Festival Nacional de
Teatro do Campo Limpo, Artemanha Recebe, Revirada Cultural da Resistência e tantas outras ações que
o grupo realizou na cidade de Taboão da Serra e no
bairro Campo Limpo da cidade de São Paulo.
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Consultas bibliográficas
Revista nº 01 da ELT – Escola Livre de Teatro de Santo André: Processo Colaborativo:
Relato e reflexões sobre uma experiência de criação de Luis Alberto de Abreu.
Projetos da Trupe Artemanha contemplados nas edições do Programa de Fomento
ao Teatro para a cidade de São Paulo: 12ª, 15ª 18ª e 21ª.
Arquivos da Trupe Artemanha de investigação teatral.
Organização: Luciano Santiago
Editor Responsável: Trupe Artemanha de investigação teatral
Coordenador Editorial: Welton Silva
Fotos: João Cláudio de Sena / Rogério Gonzaga / Sheila Signário / Suyane do Crato / Will Cavagnolli / Arquivo Trupe Artemanha
Revisão: Francisco Pinto (Tico)
Projeto Gráfico, Diagramação e Capa: Fernanda Buccelli
Tratamento de Imagens: Leonídio Gomes
CTP, Impressão e Acabamento: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
Formato: 250x180 mm
Tipologia: Ubuntu
Papel capa: Cartão Triplex 250g/m2
Papel miolo: Couchê Fosco 120g/m2
Número de Páginas: 136
Tiragem: 2.000 exemplares
Autor
Luciano Santiago Lima
Teatrólogo, ator, encenador, dramaturgo e orientador
artístico. Nasceu em março de 1978 na cidade de São
João de Meriti, RJ, passando sua bela infância, segundo o autor, no bairro de Santa Maria, Belford Roxo, RJ,
onde viveu até os 10 anos de idade.
A Trupe Artemanha foi fundada em 1996 em Taboão da Serra-SP, onde
trabalhou por oito anos e realizou um importante processo de formação
de público. A partir de 2005 o grupo expandiu seus trabalhos para a Zona
Sul do município de São Paulo, sediando-se em Campo Limpo, e atuando
também nos bairros de Capão Redondo, Vila Andrade e Paraisópolis, que
juntos, compreendem aproximadamente 700 mil habitantes.
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Desde 2005 a Trupe Artemanha realiza apresentações de espetáculos,
oficinas, palestras e mostras de teatro nesta região, promovendo
apresentações de grupos de teatro de diferentes cantos da cidade de
São Paulo, do interior do estado e de outras cidades do país, com uma
programação totalmente gratuita e diversificada, recebendo públicos
de todas as faixas etárias e classes sociais, sobretudo, pessoas que
dificilmente têm acesso ao teatro e à arte de modo geral. Este é um
diferencial do projeto artístico-político do grupo, pois o Artemanha
está distante dos centros de cultura e lazer e suas ações fortalecem o
movimento teatral em sua região de atuação, expandindo-se para outros
bairros de São Paulo e cidades do país, possibilitando um maior contato
com os moradores e artistas locais.
ANHAS
A Trupe Artemanha sempre procurou trazer para cena temas que
dialogassem com fatos históricos do país. Em seus trabalhos, a Trupe
mescla elementos circenses, danças dramáticas, ritmos populares
e o trabalho com máscaras, com o principal objetivo de apresentar
espetáculos que provoquem exercícios de reflexão, deformando a
realidade apresentada.
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Organizad ago
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Luciano S
O livro Revelando Artemanhas – A quebrada Reage e
Age! revela um pouco da história do grupo Trupe Artemanha de investigação teatral, coletivo radicado
desde 1996 na cidade de São Paulo. O livro foi organizado pelo fundador-integrante Luciano Santiago, que
vivenciou todas as fases do grupo e pôde relatar e sintetizar com uma linguagem coloquial o que se passou
durante os 18 anos de trajetória do Artemanha. Dando
foco principalmente aos anos que foram vivenciados
no bairro do Campo Limpo, zona sul de São Paulo.
O Artemanha está no bairro do Campo Limpo desde
2005, contribuindo consideravelmente com o cotidiano cultural da região. Nesses últimos 9 anos, o grupo
criou os seguintes projetos e ações: FESTCAL – Festival Nacional de Teatro de Campo Limpo (2006); Artemanha Recebe (2008); Artemanha nas Praças (2009);
Ocupação de um espaço público, hoje conhecido como
Espaço Cultural CITA (desde 7 de maio de 2011); Escola
Popular de Teatro CITA (2011); Revirada Cultural da
Resistência, criada em 2011 para defender a Ocupação
do Espaço Cultural CITA, entre outras ações apoiadas
pelo Programa de Fomento ao Teatro para a cidade de
São Paulo.
ARTEMANHAS
AS
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A quebrada Reage e Age!
Estudou e se formou no Teatro Escola Macunaíma
(1997-2000), além de ter participado de oficinas livres
e treinamentos com Tiche Vianna, Renato Ferracini, Tânia Farias, Antônio Rogério Toscano, Alexandre
Mate, Iná Camargo Costa, Ingrid Koudella, Marcelo Bones, Ligia Veiga, Pax Bittar, Lu Grimaldi, Grupo Espanhol Ponkã, Jair Assumpção, Roberto Vignati, Ednaldo
Freire, Amauri Alvarez, Wolney de Assis, entre outros
mestres que contribuíram para sua formação artística.
ARTEMANH
REVELANDO ARTEMANHAS
Chegando a São Paulo, morou no bairro Jardim Scândia, em Taboão da Serra, município da Grande São
Paulo. Teve o primeiro contato com a arte teatral em
março de 1994, quando ingressou no grupo amador
SCART, encenando no mesmo ano seu primeiro trabalho como ator: Santuário de Vampiros, de Salvador
Ribeiro. Foi um dos fundadores da Trupe Artemanha,
em 1996, participou de outros grupos em Taboão da
Serra: Quem Diria e Deixa-Comigo, em 1996; e foi ainda um dos fundadores da U.T.T - União Teatral Taboão,
em 1997.
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TRUPE ARTEMANHA
DE INVESTIGAÇÃO TEATRAL
APOIO INSTITUCIONAL:
CO-PATROCÍNIO:
CULTURA
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Autor
Luciano Santiago Lima
Teatrólogo, ator, encenador, dramaturgo e orientador
artístico. Nasceu em março de 1978 na cidade de São
João de Meriti, RJ, passando sua bela infância, segundo o autor, no bairro de Santa Maria, Belford Roxo, RJ,
onde viveu até os 10 anos de idade.
A Trupe Artemanha foi fundada em 1996 em Taboão da Serra-SP, onde
trabalhou por oito anos e realizou um importante processo de formação
de público. A partir de 2005 o grupo expandiu seus trabalhos para a Zona
Sul do município de São Paulo, sediando-se em Campo Limpo, e atuando
também nos bairros de Capão Redondo, Vila Andrade e Paraisópolis, que
juntos, compreendem aproximadamente 700 mil habitantes.
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Desde 2005 a Trupe Artemanha realiza apresentações de espetáculos,
oficinas, palestras e mostras de teatro nesta região, promovendo
apresentações de grupos de teatro de diferentes cantos da cidade de
São Paulo, do interior do estado e de outras cidades do país, com uma
programação totalmente gratuita e diversificada, recebendo públicos
de todas as faixas etárias e classes sociais, sobretudo, pessoas que
dificilmente têm acesso ao teatro e à arte de modo geral. Este é um
diferencial do projeto artístico-político do grupo, pois o Artemanha
está distante dos centros de cultura e lazer e suas ações fortalecem o
movimento teatral em sua região de atuação, expandindo-se para outros
bairros de São Paulo e cidades do país, possibilitando um maior contato
com os moradores e artistas locais.
ANHAS
A Trupe Artemanha sempre procurou trazer para cena temas que
dialogassem com fatos históricos do país. Em seus trabalhos, a Trupe
mescla elementos circenses, danças dramáticas, ritmos populares
e o trabalho com máscaras, com o principal objetivo de apresentar
espetáculos que provoquem exercícios de reflexão, deformando a
realidade apresentada.
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A quebrada
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Luciano S
O livro Revelando Artemanhas – A quebrada Reage e
Age! revela um pouco da história do grupo Trupe Artemanha de investigação teatral, coletivo radicado
desde 1996 na cidade de São Paulo. O livro foi organizado pelo fundador-integrante Luciano Santiago, que
vivenciou todas as fases do grupo e pôde relatar e sintetizar com uma linguagem coloquial o que se passou
durante os 18 anos de trajetória do Artemanha. Dando
foco principalmente aos anos que foram vivenciados
no bairro do Campo Limpo, zona sul de São Paulo.
O Artemanha está no bairro do Campo Limpo desde
2005, contribuindo consideravelmente com o cotidiano cultural da região. Nesses últimos 9 anos, o grupo
criou os seguintes projetos e ações: FESTCAL – Festival Nacional de Teatro de Campo Limpo (2006); Artemanha Recebe (2008); Artemanha nas Praças (2009);
Ocupação de um espaço público, hoje conhecido como
Espaço Cultural CITA (desde 7 de maio de 2011); Escola
Popular de Teatro CITA (2011); Revirada Cultural da
Resistência, criada em 2011 para defender a Ocupação
do Espaço Cultural CITA, entre outras ações apoiadas
pelo Programa de Fomento ao Teatro para a cidade de
São Paulo.
ARTEMANHAS
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A quebrada Reage e Age!
Estudou e se formou no Teatro Escola Macunaíma
(1997-2000), além de ter participado de oficinas livres
e treinamentos com Tiche Vianna, Renato Ferracini, Tânia Farias, Antônio Rogério Toscano, Alexandre
Mate, Iná Camargo Costa, Ingrid Koudella, Marcelo Bones, Ligia Veiga, Pax Bittar, Lu Grimaldi, Grupo Espanhol Ponkã, Jair Assumpção, Roberto Vignati, Ednaldo
Freire, Amauri Alvarez, Wolney de Assis, entre outros
mestres que contribuíram para sua formação artística.
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REVELANDO ARTEMANHAS
Chegando a São Paulo, morou no bairro Jardim Scândia, em Taboão da Serra, município da Grande São
Paulo. Teve o primeiro contato com a arte teatral em
março de 1994, quando ingressou no grupo amador
SCART, encenando no mesmo ano seu primeiro trabalho como ator: Santuário de Vampiros, de Salvador
Ribeiro. Foi um dos fundadores da Trupe Artemanha,
em 1996, participou de outros grupos em Taboão da
Serra: Quem Diria e Deixa-Comigo, em 1996; e foi ainda um dos fundadores da U.T.T - União Teatral Taboão,
em 1997.
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