Análise histórica e prospectiva do interesse
Transcrição
Análise histórica e prospectiva do interesse
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO TC Inf ALEXANDRE RABELO DA FONSECA Análise histórica e prospectiva do interesse internacional sobre a região amazônica e seus reflexos para a reestruturação das organizações militares do Comando Militar da Amazônia e do Norte, à luz da Estratégia Braço Forte Rio de Janeiro 2014 TC Inf ALEXANDRE RABELO DA FONSECA Análise histórica e prospectiva do interesse internacional sobre a região amazônica e seus reflexos para a reestruturação das organizações militares do Comando Militar da Amazônia e do Norte, à luz da Estratégia Braço Forte Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares. Orientador: TC Cav RÉGIS RODRIGUES NUNES Rio de Janeiro 2014 F 676 a FONSECA, Alexandre Rabelo da. Análise histórica e prospectiva do interesse internacional sobre a região amazônica e seus reflexos para a reestruturação das organizações militares do Comando Militar da Amazônia e do Norte, à luz da Estratégia Braço Forte / Alexandre Rabelo da Fonseca. 2014. 86 pág.; P.; il.; 30 cm. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Comando e EstadoMaior) - Escola de Comando e Estado-Maior, Rio de Janeiro, 2014. 1. Interesse Internacional sobre a Amazônia. 2. Reestruturação das Organizações Militares. 3. Estratégia Braço Forte. 4. Programa Amazônia Protegida. CDD 355 ALEXANDRE RABELO DA FONSECA Análise histórica e prospectiva do interesse internacional sobre a região amazônica e seus reflexos para a reestruturação das organizações militares do Comando Militar da Amazônia e do Norte, à luz da Estratégia Braço Forte Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares. Aprovado em 11 de julho de 2014. COMISSÃO AVALIADORA _________________________________________________ RÉGIS RODRIGUES NUNES - TC Cav - Presidente Escola de Comando e Estado-Maior do Exército _________________________________________________ TEMÍSTOCLES DA ROCHA TORRES - TC Inf - Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército _________________________________________________ CLAYTON VAZ - Maj Inf - Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército À minha esposa Siumara. Uma homenagem pelo apoio em todos os momentos. AGRADECIMENTOS Primeiramente à Deus, que sempre me iluminou em toda as fases de minha vida. Ao TC Régis, meu dedicado orientador, meus sinceros agradecimentos pela paciência, lealdade e consideração, imprescindíveis para a realização do presente trabalho. Agradeço aos meus prezados amigos, Temístocles e Vaz, pelo apoio durante a realização do presente trabalho. Aos companheiros da Escola de Comando e Estado-Maior, pela motivação e pela camaradagem, aspectos importantes para a conclusão desse trabalho acadêmico. Aos meus queridos pais, Gentil Rabelo da Fonseca e Sônia Roseli Ferrari da Fonseca, pelos inúmeros exemplos que me nortearam nos momentos mais difíceis, bem como pela dedicação e pelo amor externado até hoje e sempre, o meu agradecimento e reconhecimento. Por fim, a minha esposa Siumara e meus filhos Matheus e Pedro, presenças constantes, que souberam me compreender e apoiar durante a realização das atividades atinentes a este trabalho. “Árdua é a missão de desenvolver e defender a Amazônia. Muito mais difícil, porém, foi a de nossos antepassados em conquistá-la e mantê-la.” (Gen Ex Rodrigo Otávio Jordão Ramos) RESUMO Desde o início do processo de expansão e ocupação da Amazônia, o Exército Brasileiro esteve presente nas ações de manutenção da soberania brasileira sobre a região. No passado, ocorreram várias iniciativas externas para tentar se estabelecer na Amazônia brasileira. No presente, a cobiça internacional pela Amazônia continua existindo, mudando apenas a forma de atingir seu objetivo. Considerando os cenários prospectivos para a região amazônica para o ano de 2030, o interesse estrangeiro sobre a Amazônia não sofrerá alteração no futuro. Para cumprir sua missão constitucional e, alinhada com as diretrizes da Política Nacional de Defesa e com a Estratégia Nacional de Defesa, a Força Terrestre tem tomado medidas para se capacitar e, assim, neutralizar iniciativas estrangeiras em ameaçar a soberania brasileira sobre a Amazônia. A estratégia adotada pelo Exército Brasileiro consiste em fortalecer a presença militar nos Comandos Militares da Amazônia e do Norte para dissuadir os interesses internacionais sobre a Amazônia Brasileira. Para tal, vem implementado o Plano de Articulação da Estratégia Braço Forte denominado Programa Amazônia Protegida. O Programa busca posicionar, estrategicamente, tropas articuladas na fronteira e em profundidade, potencializando as estratégias da Presença e da Dissuasão. Dessa forma, o Exército Brasileiro manterá seu compromisso de defender a soberania brasileira sobre a Amazônia. Palavras-chave: Interesse Internacional sobre a Amazônia, Exército Brasileiro, Reestruturação das Organizações Militares, Estratégia Braço Forte, Programa Amazônia Protegida. RESEÑA Desde el comienzo del proceso de expansión y ocupación de la Amazonia, el Ejército Brasileño estuvo presente en las acciones de mantenimiento de la soberanía de Brasil en la región. En el pasado, muchas iniciativas externas eran para tratar de establecer en la Amazonia brasileña. En la actualidad, lo interés internacional por Amazon sigue existiendo, sólo cambiando la manera de lograr su objetivo. Teniendo en cuenta los escenarios futuros para la región del Amazonas para el año 2030, el interés extranjero en Amazon no va a cambiar en el futuro. Para cumplir con su misión constitucional y en consonancia con las orientaciones de la Defensa Nacional y la Estrategia Nacional de Defensa, la Fuerza Terrestre ha tomado medidas para entrenar y neutralizar las iniciativas extranjeras en amenazar la soberanía sobre la Amazonia brasileña. La estrategia adoptada por el Ejército de Brasil es fortalecer su presencia militar en el Comando Militar del Amazonas y del Norte con el fin de disuadir a las preocupaciones internacionales sobre la Amazonia brasileña. Con este fin, se ha implementado el Plan de Articulación de la Estrategia Brazo Fuerte llamado Programa Amazonia Protegida. El programa busca posicionar las tropas estratégicamente articulados en la frontera y en las estrategias de profundidad aprovechando la presencia y disuasión. Por lo tanto, el Ejército Brasileño mantendrá su compromiso de defender la soberanía de la Amazonia brasileña. Palabras clave: Interés Internacional sobre la Amazonia, Ejército de Brasil, Reestructuración de las Organizaciones Militares, Estrategia Brazo Fuerte, Programa Amazonia Protegida. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 Estabelecimentos ingleses e holandeses na margem guianesa do Amazonas até 1631................................................................... 23 Figura 2 Fortalezas construídas pelos portugueses na Amazônia entre 1612-1802...................................................................................... 26 Figura 3 Ação missionária na Amazônia...................................................... 29 Figura 4 Principais núcleos coloniais da Amazônia na época do Diretório Pombalino (1757-1798).................................................................. 30 Figura 5 Ampliação territorial com o Tratado de Madri................................ Figura 6 A construção do território e a formação do 31 povo brasileiro......................................................................................... 36 Figura 7 Recursos minerais da Amazônia.................................................... 44 Figura 8 Unidades de conservação e terras indígenas................................ Figura 9 Organizações Militares na Amazônia............................................. 57 Figura 10 Distribuição dos PEF...................................................................... 62 44 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Organizações Militares na Amazônia.................................................. 54 Tabela 2 Tiros de Guerra na Amazônia............................................................. 57 Tabela 3 Efetivos militares na Amazônia a partir de 1950................................. 58 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APIR Associação dos Povos Indígenas de Roraima ARIKOM Associação Regional Indígena dos Rios Kinô, Cotongo e Monte Roraima BIS Batalhão de Infantaria de Selva BR Rodovia Federal CComSEx Centro de Comunicação Social do Exército CDS-UNASUL Conselho de Defesa Sul-Americano da União das Nações Sul-Americanas CENSIPAM Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia CIR Conselho Indigenista de Roraima CMA Comando Militar da Amazônia CMN Comando Militar do Norte EB Exército Brasileiro EBF Estratégia Braço Forte ECO-92 Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento EME Estado-Maior do Exército END Estratégia Nacional de Defesa EWGA European Working Group on Amazon FARC Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia F Ter Força Terrestre GU Grande Unidade IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis ICOMI Indústria e Comércio de Minérios S.A. INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária LBDN Livro Branco de Defesa Nacional MD Ministério da Defesa OM Organização Militar OMC Organização Mundial do Comércio ONG Organização Não-Governamental OTCA Organização do Tratado de Cooperação Amazônica PDA Plano de Desenvolvimento da Amazônia PIN Plano de Integração Nacional Política Nacional de Defesa PND Plano Nacional de Desenvolvimento POLAMAZÔNIA Programa dos Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia PROFORÇA Processo de Transformação do Exército RADAM Projeto Radar da Amazônia RFN Rainforest Foudation of Norway SAE Secretaria de Assuntos Estratégicos SIPAM Sistema de Proteção da Amazônia SISFRON Sistema Integrado de monitoramento de Fronteiras SIVAM Sistema de Vigilância da Amazônia SODIURR Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte do Estado de Roraima SUDAM Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia SUFRAMA Superintendência da Zona Franca de Manaus PAP Programa Amazônia Protegida PEF Pelotão Especial de Fronteira PIN Planos de Integração Nacional TCA Tratado de Cooperação Amazônica TG Tiro de Guerra UHE Usina Hidrelétrica UNESCO Organização das nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15 1.1 O TEMA............................................................................................................... 16 1.2 O PROBLEMA..................................................................................................... 16 1.2.1 Justificativa e Contribuições ......................................................................... 17 1.3 OS OBJETIVOS .................................................................................................. 18 1.3.1 Objetivo principal ........................................................................................... 18 1.3.2 Objetivos Específicos .................................................................................... 18 1.4 A METODOLOGIA ............................................................................................. 19 2 HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO E DO INTERESSE INTERNACIONAL NA AMAZÔNIA ............................................................................................................... 21 2.1 NO PERÍODO COLONIAL .................................................................................. 21 2.2 NO PERÍODO IMPERIAL .................................................................................... 32 2.3 NO PERÍODO REPUBLICANO ........................................................................... 35 3 CENÁRIOS PROSPECTIVOS DE SEGURANÇA E DEFESA COM REFLEXOS PARA A AMAZÔNIA ................................................................................................ 48 4 PLANO DE REESTRUTURAÇÃO DA FORÇA TERRESTRE NA AMAZÔNIA .... 51 4.1 SITUAÇÃO DA FORÇA TERRESTRE NA AMAZÔNIA ...................................... 51 4.1.1 Síntese Histórica da Presença da Força Terrestre ...................................... 51 4.1.2 Situação Atual da Presença da Força Terrestre .......................................... 52 4.2 REFLEXOS DA PND, END E PROFORÇA......................................................... 59 4.3 ESTRATÉGIA BRAÇO FORTE ........................................................................... 61 5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 63 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 66 ANEXO A .................................................................................................................. 73 ANEXO B .................................................................................................................. 74 ANEXO C .................................................................................................................. 75 ANEXO D .................................................................................................................. 76 ANEXO E .................................................................................................................. 78 15 1 INTRODUÇÃO Ao longo da história, nas diversas teorias geopolíticas, são confirmadas a existência de interesses, tanto ocultos quanto explícitos, sobre as áreas estratégicas com imenso potencial econômico, principalmente por parte das nações mais desenvolvidas do planeta. No Brasil, esse fato vem ocorrendo desde o seu período colonial, estendendo-se até os dias atuais. Em todos os períodos de sua história, o Brasil sofreu, sobre o seu território, intervenções diretas e indiretas por parte de nações estrangeiras. Em contrapartida, a metrópole portuguesa, durante o período colonial, e o Governo Brasileiro, nos períodos do Império e da República, adotaram medidas para expulsar, coibir e dissuadir os interesses externos sobre os diversos recursos existentes no País, em particular aos existentes na Amazônia. Inicialmente, somente uma pequena porção da Amazônia pertencia ao Brasil. O Tratado de Tordesilhas (1494) dava posse à Espanha da maior parcela dos territórios dessa região. Mas a partir do século XVII, o território da colônia foi ampliado pelos portugueses, consolidando a sua presença na calha dos rios amazônicos. A ocupação da Amazônia em direção ao oeste ocorreu por diversos fatores. Destacaram-se a União Ibérica (1580-1640), que anulou temporariamente Tordesilhas; o início das ameaças estrangeiras, a partir de 1612, no Maranhão; a exploração das ―Drogas do Sertão‖ e madeiras pelos jesuítas e carmelitas na segunda metade do século XVII; e a construção de fortes ao longo dos rios amazônicos no período colonial. O término das disputas entre Portugal e Espanha pela posse da maior parte da atual Amazônia brasileira ocorreu em 1750, com a assinatura do Tratado de Madri, que ampliou os limites do Brasil na região amazônica. Os limites atuais só foram consolidados em 1903, com a anexação do Acre pelo Tratado de Petrópolis, após o início do ciclo da borracha. Resultado de um peculiar processo de formação e evolução, o Brasil é um País de dimensões continentais, no qual se inserem espaços contemplados com riquezas já dimensionadas. Com o avanço tecnológico, o Brasil possui grande potencial no sentido de realizar novas descobertas de interesse estratégico. 16 Dentre esses importantes espaços, destaca-se a Amazônia. Atualmente, essa região estratégica tem atraído a atenção de muitas nações desenvolvidas e em desenvolvimento, que necessitam de matérias primas para suprirem as necessidades do seu crescimento econômico. Sucintamente, a Amazônia possui muitos atrativos, dos quais se destacam a biodiversidade, a disponibilidade de água potável e as riquezas minerais e energéticas. A defesa da região amazônica é desfavorável em face de sua posição geográfica, pequena densidade demográfica, extensos limites de fronteiras, limitada infraestrutura de transportes e fraca presença do Estado. Para cumprir a sua destinação constitucional face aos desafios apresentados, o Exército Brasileiro (EB) sempre buscou implementar mudanças estruturais no desdobramento de suas Organizações Militares (OM) no território nacional. Com a elaboração da Política de Defesa Nacional 2005 (PDN 2005), substituída pela atual Política Nacional de Defesa 2012 (PND 2012), e da Estratégia Nacional de Defesa 2008 (END 2008), substituída pela atual Estratégia Nacional de Defesa (END 2012), foram expedidas pelo Comandante do Exército novas diretrizes voltadas diretamente para a Força Terrestre (F Ter). Em conseqüência, o Exército Brasileiro elaborou planos colimados para reestruturação de suas unidades na região amazônica. Ressalta-se que, apesar das atualizações realizadas nos documentos políticos e estratégicos em 2012, os objetivos e diretrizes emanados pelo EB voltados para a região amazônica não sofreram alteração. 1.1 O TEMA Análise histórica e prospectiva do interesse internacional sobre a região amazônica e seus reflexos para a reestruturação das organizações militares do Comando Militar da Amazônia e do Norte, à luz da Estratégia Braço Forte. 1.2 O PROBLEMA Desde o período colonial do Brasil, a Amazônia sofreu a cobiça de diversos países estrangeiros. Com a expansão luso-brasileira para oeste, ocorreu paralelamente a ocupação militar dessa região, a fim de possibilitar a manutenção 17 do território. A consolidação dos limites do Brasil com os países vizinhos materializou-se somente no início do século XX. Apesar dessa situação, os interesses internacionais pelas riquezas existentes na Amazônia permanecem até os dias atuais. A Amazônia apresenta vulnerabilidades socioeconômicas diversificadas que, somados ao interesse internacional pelos recursos naturais existentes, acarretam em um grande desafio para o Estado brasileiro manter a sua soberania sobre esse espaço regional. Para atender as diretrizes da END 2008, a F Ter elaborou a Estratégia Braço Forte 2009 (EBF 2009), para estruturar e articular as suas forças, sendo considerados os cenários futuros que terão impacto direto sobre a distribuição espacial das OM na Amazônia. Em face do exposto, surge o seguinte problema: - Como está sendo concebido o planejamento e a execução da reestruturação do Exército Brasileiro no âmbito do Comando Militar da Amazônia e do Comando Militar do Norte, com o intuito de dissuadir o interesse internacional nessa importante região estratégica para o País, à luz da Estratégia Braço Forte? 1.2.1 Justificativa e Contribuições Atualmente, a Amazônia é a prioridade principal para a F Ter. Em período anterior à criação do Ministério da Defesa (MD) e à aprovação da END 2012, o Exército já havia implementado a EBF 2009, para atender aos desafios de defesa da região amazônica por meio do Programa Amazônia Protegida. Tais aspectos foram ressaltados no Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN), divulgado pelo Executivo Federal em 2012. [...] ―Na elaboração da EBF, foram consideradas as seguintes premissas estabelecidas na END 2012: ... a Amazônia representa um dos focos de maior interesse para a defesa e deverá ser mantida em elevada prioridade para a articulação e o equipamento das tropas‖ [...], justificando a realização desse trabalho de pesquisa. Historicamente, como já ressaltado anteriormente, a Amazônia sempre foi alvo de interesses externos. Para atender a evolução dos conflitos armados no 18 século XXI, considerando os cenários e suas ameaças, o Exército planejou a reestruturação de sua articulação no Comando Militar da Amazônia (CMA) e no Comando Militar do Norte (CMN), a fim de aumentar a dissuasão dos interesses estrangeiros nessa importante área estratégica para o País e bem cumprir a sua missão constitucional. ―Em sintonia com as lições aprendidas das guerras contemporâneas e as tendências dos conflitos do futuro, o Exército desenvolve o seu preparo com base em capacidades, pois estas fornecem à Instituição ferramentas para responder, com efetividade, aos desafios difusos que o porvir apresentará. As novas capacidades consideradas prioritárias para consolidação do Exército são: • dissuasão terrestre compatível com o status do País; • projeção internacional do Exército em apoio à política exterior do Brasil‖. (BRASIL, LBDN, 2012) A análise do histórico de ocupação da Amazônia, bem como da dinâmica da reestruturação das OM na região amazônica, é de fundamental relevância para a Defesa Nacional, pois a compreensão do processo de articulação das OM da F Ter na área estratégica de maior prioridade, fundamentada nas Políticas e Estratégias de Defesa em vigor, possibilitará a dissuasão do interesse internacional sobre a Amazônia brasileira. 1.3 OBJETIVOS 1.3.1 Objetivo principal O objetivo principal desse trabalho é descrever o plano de reestruturação da F Ter no âmbito do CMA e do CMN, baseada na EBF 2009, no intuito de dissuadir o interesse internacional naquela área estratégica brasileira. 1.3.2 Objetivos específicos Os objetivos específicos desse trabalho são: – Descrever o histórico da ocupação e do interesse internacional sobre a Amazônia. – Apontar os possíveis cenários prospectivos que poderão fomentar o interesse internacional na Amazônia. – Descrever o conteúdo dos documentos do Governo Federal (PND 2012), do Ministério da Defesa (MD) (END 2012) e do Comando do Exército (EBF 2009 e o 19 Programa Amazônia Protegida) que podem ter reflexos na reestruturação das OM do CMA e do CMN, em suas respectivas áreas de responsabilidade. – Identificar a atual articulação das OM da F Ter presentes no CMA e no CMN, principais Grandes Comandos presentes na Amazônia brasileira. 1.4 METODOLOGIA O trabalho foi desenvolvido por meio de uma abordagem qualitativa. O método baseou-se em pesquisa bibliográfica e documental. Bibliográfica porque teve sua fundamentação metodológica na investigação sobre assuntos históricos e prospectivos que abordaram o interesse internacional sobre a Amazônia. Documental porque fez uso de documentos governamentais que serviram de base para entendimento da estruturação da F Ter nos CMA e CMN. O trabalho iniciou-se com uma pesquisa bibliográfica na literatura (livros, manuais, base de dados científicos, revistas especializadas, jornais, artigos, buscadores da internet, teses e dissertações), com enfoques pertinentes ao assunto em estudo. Nessa oportunidade, foram levantados os fundamentos e características do desenvolvimento histórico e prospectivo dos interesses internacionais sobre Amazônia, contribuindo com a criação do conhecimento. Finalmente, utilizou a pesquisa documental nos arquivos eletrônicos de instituições do Governo Federal, principalmente do MD, da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) e do EB. O objetivo principal foi verificar as informações relevantes que impactaram a articulação da F Ter na Amazônia. Dentre os documentos, destacam-se a PND 2012, a END 2012, o LBDN 2012, o Processo de Transformação do Exército 2010 (PROFORÇA 2010) e seus desdobramentos (estratégias, programas etc.), todos voltados para a articulação da F Ter na região amazônica. As conclusões decorrentes das pesquisas bibliográficas e documental permitiram o entendimento da articulação do EB com o objetivo de dissuadir os interesses estrangeiros sobre a Amazônia. A articulação, ou seja, o posicionamento de OM da F Ter é consequência dos acontecimentos históricos, bem como da necessidade de defender e ocupar o território ao longo do tempo. Considerando-se os cenários futuros para a região 20 amazônica, que podem sofrer influência de inúmeras variáveis, os pressupostos para articulação da F Ter podem ser alterados para atender novas demandas que possam surgir. Com isso, as conclusões apresentadas no trabalho, caso os cenários prospectivos não se confirmem, deverão ser atualizadas, havendo a necessidade da realização de adaptações, cabendo a continuidade de estudos ou de novas pesquisas atinentes aos assuntos abordados no decorrer do presente trabalho. 21 2 HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO E DO INTERESSE INTERNACIONAL NA AMAZÔNIA 2.1 NO PERÍODO COLONIAL Após a sua descoberta pelo navegador Cristovão Colombo, as terras americanas foram divididas, entre Portugal e Espanha, pelo Tratado de Tordesilhas (1494). Na época, a maior porção territorial da atual Amazônia brasileira pertencia aos espanhóis. A exploração inicial da região junto à foz do rio Amazonas foi realizada por várias expedições espanholas, lideradas por Alonso de Ojeda (1499), Vicente Yanez Pizon e Diogo de Leppe (1500) e Gonçalo Pizarro (1539-42). A colonização não foi efetivada na área, em face dos ataques dos indígenas locais (BENTO, 2003). A Espanha realizou a sua primeira expedição na calha do rio Amazonas entre 1540 e 1542, sendo liderada por Francisco de Orellana. Em 1545, uma nova expedição de Orellana, com o intuito de conquistar a Amazônia, fracassou. Em 1560, Pedro de Ursua foi morto ao liderar a última expedição espanhola para encontrar o Eldorado mítico. Lopo de Aguirre passou a liderar a empreitada, atingindo a foz do rio Amazonas em 1561. Entretanto, com a descoberta e exploração das minas de ouro e prata nas áreas habitadas pelos incas, maias e astecas, os espanhóis não tiveram interesse em ocupar a região amazônica voltada para o Atlântico (BEZERRA NETO, 1999 e BENTO, 2003). Os primeiros interesses estrangeiros sobre a Amazônia ocorreram por parte dos holandeses, franceses e ingleses. O principal objetivo, a partir do fim do século XVI, foi o controle da foz do rio Amazonas. Os portugueses passaram a reagir, expulsando os invasores para o norte, fazendo com que os mesmos ocupassem os atuais territórios das Guianas. Os indígenas que apoiavam os invasores também eram combatidos (REIS, 1940). A primeira das tentativas francesas de invasão e colonização na região amazônica ocorreu no Maranhão, em 1612, pelo conquistador Daniel de La Touche. Ao fundar a França Equinocial, com apoio dos Tupinambás, os franceses construíram o forte de São Luís. Somente em 1615, os franceses foram expulsos do local pelos portugueses. Rumando para o norte, no mesmo ano, estabeleceram-se 22 nas proximidades da ilha de Bragança, onde fundaram o forte Caité (BEZERRA NETO, 1999 e BENTO, 2003). Os franceses, a partir de Caiena, fizeram nova investida com o intuito de ocupar a margem norte do Amazonas em 1697, quando tentaram colonizar a Capitania do Cabo Norte, atual Amapá. Na oportunidade, construíram fortalezas que deram origem à Macapá, mas foram expulsos por forças portuguesas comandadas pelos Capitães Francisco de Souza Fundão e João Moniz de Mendonça (DONATO, 1996). As primeiras ações dos ingleses e holandeses na região amazônica foram de iniciativa particular. Posteriormente, os governos da Inglaterra e Holanda assumiram os empreendimentos, fundando Companhias de Navegação e Colonização, que eram também vocacionadas para exploração econômica da região amazônica. Entre 1544 e 1595, as principais iniciativas inglesas na Amazônia foram capitaneadas por Sir Robert Dudley e Sir Walter Raleigh. No século seguinte, os ingleses investiram novamente sobre o delta do rio Amazonas (BENTO, 2003): - 1604 - Charles Leigh chegou ao rio Oiapoque, tomando posse da região em nome do rei da Inglaterra, James I, resistindo até 1611 com Robert Harcourt. - 1611 - Roger North fundou feitorias em Cumaú, na foz do Amazonas, para colonizar a região e explorar comercialmente as ―Drogas do Sertão‖. - 1613 - Robert Harcourt realizou expedição entre os rios Amazonas e Essequibo. - 1628 - James Purcell iniciou a construção do Forte Torrego, na foz do rio Maracapu. - 1632 - Thomas Howard construiu o Forte Cumaú, no local atual do Forte de Macapá. Os holandeses, por iniciativa de Orange e Nassau, estabeleceram-se na região, ao fundar feitorias defendidas por fortins no rio Xingu em 1599 (Figura 1). Em 1610, os holandeses construíram o Forte Mariocay, na atual Gurupá. Seis anos depois, fundaram uma colônia e um forte entre Gorupatuba e Jenipapo, no baixo Amazonas. Posteriormente, a Companhia das Índias Ocidentais holandesas construíram um forte na ilha de Gurupá em 1626 (EME, 1972 e BENTO, 2003). 23 Figura 1: Estabelecimentos ingleses e holandeses na margem guianesa do Amazonas até 1631. Fonte: EME, 1972. Segundo Bezerra Neto (1999) e Bento (2003), Portugal enviou várias expedições militares na região amazônica, com a finalidade de expulsar os estrangeiros que invadiram região. As principais ações portuguesas na Amazônia foram: - 1617 - embarcação holandesa foi afundada por Pedro Teixeira e Gaspar de Freitas de Macedo nas proximidades de Belém. - 1623 - fortificações inglesas e francesas na calha do Amazonas foram destruídas por Luís Aranha de Vasconcelos e Bento Maciel Parente. - 1625 - forte holandês de Mariocay foi destruído por Bento Maciel Parente. - 1627 - fortes ingleses e holandeses de Mandiutuba, Tilletille, Uarimuaca e Capary foram destruídos por Pedro Teixeira. - 1629 - forte inglês de Torrego na Ilha de Tocuju foi conquistado por Pedro Teixeira e Pedro Costa Favela. - 1631 - forte inglês Phillippe, entre os rios Matapy e Ananirapucu, foi conquistado por Jacome Raimundo de Noronha e Pedro da Costa Favela. 24 - 1631 - forte inglês de Cumaú foi conquistado por Pedro Baião de Abreu. - 1632 - a frota comandada pelo Capitão Robert North, ao atacar o Forte de Gurupá, foi derrotada por Pedro Teixeira. - 1639 - navio holandês que desembarcava colonos e soldados foi afundado por tropas luso-brasileiras. - 1648 - fortes holandeses situados nas proximidades de Macapá foram destruídos por tropas portuguesas comandadas por Sebastião Lucena. - 1691 a 1697 – espanhóis foram vencidos na região da atual cidade de Tefé pelos Capitães Antônio Miranda e José Antônio da Fonseca. A decisiva reação militar lusitana expulsou todos os invasores estrangeiros que tentaram se estabelecer na Amazônia. Dessa forma, os portugueses mantiveram a sua soberania sobre a região amazônica. (BENTO, 2003) Para consolidar a manutenção do território e facilitar a defesa contra os invasores estrangeiros, Portugal construiu, em locais estratégicos, cerca de 40 (quarenta) fortificações com fins militares. O estabelecimento dessas fortificações ao longo dos principais rios possibilitou o fechamento do livre acesso à bacia amazônica por parte dos estrangeiros (BRITO, 1990). Na foz do Amazonas, Francisco Caldeira Castelo Branco, Capitão-Mor do Grão-Pará, fundou, em 25 de dezembro de 1615, o Forte do Presépio, ponto de partida para a exploração, a conquista e a colonização da região amazônica. O forte possibilitou a fundação da cidade de Nossa Senhora de Belém, atual Belém do Pará, em 12 de janeiro de 1616. Sua localização estratégica também favorecia o controle da navegação da bacia amazônica (EME, 1972). Na sequência, serão destacadas as fortificações (Figura 2) que foram estabelecidas pelos portugueses na bacia amazônica durante o período colonial (REIS, 1940 e BENTO, 2003): - 1623 – Forte Santo Antônio de Gurupá, que foi construído nas proximidades da foz dos rios Xingu e Tapajós, sobre as ruínas de um forte holandês, por Francisco Caldeira Castelo Branco. Também serviu de ponto de apoio para interiorizar a colonização. - 1638 – Forte de Desterro. - 1660 – Forte de Araguari. - 1665 – Forte de São Pedro Nolasco ou Forte das Mercês. 25 - 1669 – Forte de São José do Rio Negro, que deu origem a atual cidade de Manaus. - 1685 – Forte de Nossa Senhora das Mercês da Barra. - 1686 – Forte Santo Antônio e São José de Macapá. - 1688 – Forte do Rio Baboute. - 1694 – Forte de Cumaú, que posteriormente foi tomado pelos franceses. Situava-se na atual cidade de Macapá. - 1695 – Forte do Paru Almeirim. - 1697 – Forte de Santarém dos Tapajós. - 1698 – Forte de Pauxis de Óbidos. - 1738 – Baterias da Ilha de Periquitos. - 1750 – Forte do Guamá. - 1755 – Bateria de Barcelos. - 1759 – Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição. - 1761 – Forte de Curiaú. - 1762 – Forte de São Gabriel e de Marabitanas. - 1765 – Forte de Macapá. - 1769 – Forte de Bragança e Forte Príncipe da Beira (concluído em 1785), ambos no rio Guaporé. - 1770 – Forte São Francisco Xavier de Tabatinga. - 1771 – Reduto de São José. - 1773 – Bateria de Santo Antônio. - 1776 – Forte de São Joaquim do Rio Branco. - 1780 – Forte de Nossa Senhora de Nazareth e bateria de Val de Cans. - 1797 – Forte da Cachoeira de Itaboca. - 1802 – Baterias da Ilha de Bragança. Em locais menos importantes foram criados destacamentos, como em Coari, Tefé, São José do Javari, Borba e Alcobaça (Figura 2) (REIS, 1940). As fortalezas também tinham como objetivo impedir a aliança das inúmeras tribos com outras nações européias, contribuindo, dessa forma, para a conquista da região, ao neutralizar possíveis alianças entre estrangeiros e silvícolas contrários a presença dos portugueses (BRITO, 1990). 26 Figura 2: Fortalezas construídas pelos portugueses na Amazônia entre 1612-1802. Fonte: Brito, 1990. O principal conflito entre indígenas e portugueses ocorreu em 1793. Os índios Manaos, liderados por Ajuricaba, revoltaram-se contra a ocupação de suas terras e pela escravização. Outras nações do rio Negro aliaram-se aos Manaos. Dotadas de armas holandesas, essas tribos lutaram contra as forças lusitanas comandadas pelo Capitão Belchior Mendes de Morais, que reprimiu a revolta indígena após intensos combates (BRITO, 1990). Algumas expedições portuguesas, que partiam do Forte do Presépio, tinham como principal objetivo realizar o apresamento de índios para emprego no trabalho escravo. Essas ações possibilitaram o conhecimento de diversos recursos naturais, conhecidos como ―Drogas do Sertão‖, que podiam ser comercializados com a Europa, obtendo, inclusive, bons preços. Havia também a exploração das madeiras, abundantes na região. ―As chamadas drogas do sertão abarcavam uma série de produtos como o guaraná, o anil, a salsa, o urucum, a noz de pixurim, pau-cravo, gergelim, cacau, baunilha e castanha-do-pará. Todas essas especiarias tinham alto valor de revenda no Velho Continente e, com isso, logo o contrabando apareceu nessas áreas. Para controlar a exploração das drogas do sertão, Portugal optou por deixar a exploração desses 27 gêneros a cargo das missões jesuíticas que empregava mão-de-obra indígena.‖ (GADELHA, 2002) A descoberta das ―Drogas do Sertão‖ coincidiu com a decadência do comércio de especiarias no oriente pelos portugueses, favorecendo o desenvolvimento da exploração dos recursos oriundos da floresta. Essa lucrativa atividade econômica foi de fundamental importância para a ocupação da região norte do Brasil (EME, 1972). A Espanha, interessada nas minas de Potosí, não conseguiu ocupar e colonizar suas terras amazônicas, delegando essa tarefa aos portugueses durante a União Ibérica (1580-1640), por meio do Aviso de 4 de novembro de 1621. Posteriormente, essa medida favoreceu o direito de posse das terras espanholas ocupadas pelos lusitanos (REIS, 1940). Outro fato importante para a expansão dos limites coloniais de Portugal na região Norte foi a expedição militar liderada pelo Capitão Pedro Teixeira (16371639). Partindo de Belém com cerca de duas mil pessoas, navegou o rio Amazonas até atingir Quito. Na confluência do rio Napo com o rio Aguarico, lavrou em ata o Termo de Posse da Amazônia para o rei de Portugal, em nome do rei de Portugal e Espanha, com as seguintes palavras: ―Tomo posse desta terra pela Coroa de Portugal em nome do Rei Felipe IV, Nosso Senhor Rei de Portugal e Espanha. Se houver entre os presentes alguém que o contradiga ou o embargue, que o escrivão da expedição o registre, pois presentes por ordem da Real Audiência de Quito, encontram-se religiosos da Companhia de Jesus…‖. Esse ato, perante uma representação espanhola e portuguesa, contribuiu para a incorporação dessas terras ao domínio lusitano em 1750 (REIS, 1940). As entradas e bandeiras1 tiveram um importante papel para a conquista e ocupação da região amazônica, principalmente durante a União Ibérica (1580-1640), quando o Tratado de Tordesilhas tornava-se praticamente sem efeito pelo fato de Espanha e Portugal estarem unidos sob o reinado de Felipe II. É importante ressaltar que, nesse período, a administração mercantilista de Portugal sobre a suas colônias foram mantidas (EME, 1972). As principais bandeiras na Amazônia realizadas no período colonial, que contribuíram para conquista do território, foram (EME, 1972): 1 As bandeiras eram expedições com característica militares, que empregavam as armas contra oponentes estrangeiros e indígenas hostis. Na época constituíam importantes forças terrestres da colônia lusitana. 28 - 1613 - Pero Domingues percorreu as bacias do Araguaia e do Tocantins a fim de apresar índios que eram aliados dos franceses. - 1616 - Francisco Caldeira Castelo Branco e suas ações de fundação de Belém e de combate aos holandeses e ingleses que estavam presentes nas proximidades da foz do Amazonas. - 1637 - Pedro Teixeira liderou a expedição até Quito, já abordada anteriormente. - 1648 - Antônio Raposo Tavares partiu de São Paulo e, percorrendo rios da bacia platina e amazônica, chegou ao Peru e finalizou seu trajeto em Belém, depois de quase três anos. - 1670-1673 - Bartolomeu Bueno da Silva, o ―Anhanguera”, realizou bandeiras ao norte do território. - segunda metade do século XVII - várias bandeiras de São Paulo vasculharam os sertões de Goiás à procura de metais e pedras preciosas. Após a realização das expedições bandeirantes, militares e missionários iniciavam importantes trabalhos para impedir o avanço dos estrangeiros sobre as áreas próximas à bacia amazônica que, com vasta quantidade de rios, impediam ações militares de vulto. No entanto, favorecia a catequese dos silvícolas, o que possibilitou maior controle português sobre o delta do rio Amazonas (BEZERRA NETO, 1999). Em 1652, os missionários já realizavam atividades para catequizar os índios no Pará. Os religiosos conquistavam a confiança dos indígenas e acabavam por conhecer diferentes regiões, o que favoreceu a confecção dos primeiros mapas. Até o Padre Antônio Vieira, acompanhado pelo bandeirante Gaspar Cardoso, percorreu o rio Tocantins para buscar a aproximação com os índios: ―... a colonização portuguesa no vale amazônico estava baseada em três pontos: comércio, aldeamento e fortalezas, sendo que os últimos garantiam as condições para o sistema colonial funcionar na região, com práticas mercantilistas na venda de drogas do sertão, ação realizada pelo índio destribalizado e aldeado sob comando das ordens religiosas. Através da catequização e expansão do catolicismo, os missionários desestruturavam as sociedades indígenas, transformando os índios em cristãos a serviço da colonização portuguesa, atuando como carregadores, canoeiros, remeiros, guerreiros, guias, intérpretes, domésticos, artistas, operários e coletores de ervas‖ (BEZERRA NETO, 1999). As ordens mais atuantes na Amazônia portuguesa foram os jesuítas, que desenvolviam suas atividades ao sul do rio Amazonas; e, ao norte, os Mercedários, 29 os Franciscanos e os Carmelitas (Figura 3). Nessa época, ocorreram inúmeros conflitos entre os jesuítas e os colonos na disputa da mão de obra indígena. Reformas implementadas pelo Marquês de Pombal provocaram a expulsão dos jesuítas em 1759. Figura 3: Ação missionária na Amazônia. Fonte: Prezia & Hoornaert, 2000. No século XVII, cerca de 62 (sessenta e duas) freguesias foram fundadas na região Norte, em locais antes ocupados pelos missionários. Com a expulsão dos religiosos na administração do Marques de Pombal, as missões transformaram-se em vilas, tais como: Abaetetuba (1750); Aveiros (1751); Macapá e Ourém (1752); Colares; Maracanã; Muaná; Salvaterra; Soure e Souzel (1757); Acará; Alenquer; Almerim; Chaves; Curuçá; Faro; Melgaço; Monte Alegre; Óbidos; Oeiras; Portel; Porto de Moz e Santarém (1758); e Mazagão (1770). Outras foram elevadas a povoados, pelo fato de possuírem menor população, como: Benfica, Monforte, Monsarás e Vila do Conde (1757); e Arrayolos, Alter do Chão, Boim, Esposende, Fragoso, Pinhel, Pombal, Veyros e Vila Franca (1758) (Figura 4). ―A partir desse momento, configura-se um novo sistema de controle territorial que, ―se apoiava em pelo menos quatro elementos: as fortificações; o povoamento nuclear; a criação de unidades administrativas; e o conhecimento geográfico do território‖ (TAVARES, 2011). 30 Figura 4: Principais núcleos coloniais da Amazônia na época do Diretório Pombalino (1757-1798). Fonte: Tavares, 2013. As questões de limites fronteiriços das terras portuguesas com as possessões francesas e espanholas, no século XVIII, tiveram solução por meio da diplomacia. Alguns tratados deram posse aos portugueses de áreas que foram ocupadas ao 31 longo dos séculos XVI, XVII e XVIII. O primeiro Tratado de Ultrecht, de 11 de abril de 1713, definiu o rio Oiapoque como limite entre as colônias portuguesas e francesas. Com esse tratado, Portugal dominava as duas margens do rio Amazonas (REIS, 1940). Os limites entre Portugal e Espanha foram definidos pelo Tratado de Madrid (Figura 5), assinado em 1750 pelas duas nações ibéricas. Os espanhóis estavam muito mais interessados em obter favorecimentos nas fronteiras mais ao sul, próximas à foz do Prata. Como foi visto anteriormente, a Espanha praticamente concedeu a ocupação da maior parte de suas terras amazônicas por Portugal. Pelo princípio do Uti Possidetis, Alexandre de Gusmão garantiu a posse dessas terras ocupadas e conquistadas, na ocasião, por missionários, colonos e militares. Os limites da região Norte foram confirmados em 1º de outubro de 1777, quando Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Santo Ildefonso (REIS, 1940). Figura 5: Ampliação territorial com o Tratado de Madri. Fonte: Resende, 1987. Após o Tratado de Madri, o Marquês de Pombal definiu uma política de consolidação da conquista da Amazônia. Além de enfraquecer o poder dos jesuítas na região, aumentou a presença militar e transferiu a capital setentrional de São Luiz para Belém (BENTO, 2003). 32 No período colonial, ainda estiveram presentes na região amazônica um considerável número de cientistas e naturalistas estrangeiros: La Condamine (1735 a 1744), Humboldt (1799 a 1804), Von Martius (1817 a 1820) e Von Spix (1817 a 1820). O Conde de Linhares, ministro das colônias de Portugal, suspeitando que o naturalista Alexander Von Humboldt, que havia explorado partes da Amazônia venezuelana, colombiana, peruana e equatoriana, estivesse viajando como espião da Espanha, expediu ordens no sentido de não permitir a entrada de sua expedição na Amazônia brasileira (MEIRA MATTOS, 2007). Desta forma, durante o período colonial brasileiro, pode-se verificar o constante interesse estrangeiro em se estabelecer na Amazônia. As ações adequadas por parte dos portugueses em manter a sua soberania na região possibilitaram a expansão e a consolidação de novos territórios a partir de Belém, por meio da estratégia de ocupação militar dos rios pertencentes à bacia amazônica. 2.2 NO PERÍODO IMPERIAL Com o apogeu da exploração das ―Drogas do Sertão‖ e o início da ocupação sistemática da Amazônia, a fronteira do território permaneceu móvel até o início do século XX, quando os contornos políticos do Brasil seriam definidos com a anexação dos territórios do Amapá e de Roraima ao Norte, e do Acre no extremo Oeste (TAVARES, 2011). As Colônias Militares implementadas na Amazônia tinham como principal objetivo promover ocupação militar do território e bloquear a livre navegação do rio Amazonas nos dois sentidos. Essas ações foram de grande importância estratégica contra as pressões inglesas, francesas e norte-americanas sobre as áreas de Roraima, do Amapá e de Óbidos, respectivamente. As principais Colônias Militares criadas pelo Império foram (BENTO, 2003): - 1840 - Colônia Militar D. Pedro II na margem do rio Araguari. Foi criada para evitar pressões francesas sobre territórios situados entre os rios Oiapoque e Araguari. Em 1907, foi transferida para o Oiapoque, recebendo a denominação de Colônia Militar do Oiapoque. - 1849 - Colônia Militar Santa Tereza do Tocantins. - 1850 - Colônia Militar de São João do Araguaia. 33 - 1853 - Colônia Militar de São Pedro de Alcântara do Gurupi. - 1854 - Colônia Militar de Rio Branco, nas proximidades do Forte São Joaquim, e Colônia Militar de Óbidos. - 1967 - Colônia Militar de Tabatinga, já no período republicano, sendo a última Colônia Militar estabelecida. Mesmo tendo apoiado o movimento de independência do Brasil em 1822, grande parte da elite paraense foi afastada das decisões políticas e econômicas do País, continuando a exploração vivida nos períodos coloniais. Em face dessa situação, em 1835, inicia-se o movimento da Cabanagem, com a proclamação da independência do Pará em relação ao Brasil. Participaram da Cabanagem vários segmentos da sociedade local: comerciantes locais, militares, políticos, escravos, índios e mestiços. As lutas para reprimir o movimento duraram até 1840, o que contribuiu para o agravamento dos aspectos econômicos e sociais do Pará. A situação modificou-se em 1850, quando foi criada a Província do Amazonas, desmembrada do Grão-Pará, e por ocasião do início da exploração comercial da borracha (TAVARES, 2011). Entre 1835 e 1842, os ingleses iniciaram uma nova tentativa de ocupar a Amazônia brasileira. Uma força britânica ocupou a região do Pirara, mas logo foram expulsos por contingentes militares brasileiros. Ainda no ano de 1850, o Chefe do Observatório Naval de Washington, o Comandante Matthew Fontaine Maury, acreditava que a América do Sul deveria ser transformada em uma dependência dos Estados Unidos, em virtude da disponibilidade de matérias-primas, principalmente minerais. Com isso, o governo dos Estados Unidos explorou o rio Amazonas, entre o delta no Atlântico até Iquitos entre 1851 e 1852 (MEIRA MATTOS, 2007). Em 1853, iniciou-se a pressão para a livre navegação internacional do rio Amazonas, sendo oficializada pelo diplomata americano William Trousdale. De imediato, o Brasil envidou esforços diplomáticos junto a Washington, a fim de neutralizar a propaganda internacionalista deflagrada pelo Comandante Maury, bem como obter satisfações acerca da violação do território por parte dos norteamericanos (MEIRA MATTOS, 2007). O Império continuou a enfrentar as ambições de acesso ao delta do Amazonas por parte dos franceses e britânicos. Os Estados Unidos continuaram as pressões 34 sobre o Brasil até que, em 1866, conseguiram aprovar a livre navegação internacional dos rios da bacia amazônica, após alegarem a necessidade de comercializar com o Equador, o Peru, a Bolívia, Nova Granada e a Venezuela (MAGNOLI, 1997). A Revolução Industrial inglesa estimulou a procura da borracha extraída das seringueiras, a partir do processo de vulcanização descoberto pelo norte-americano Charles Goodyear em 1839. A Amazônia passou a ser um pólo de atração de migrantes externos, como europeus e sírio-libaneses, bem como de migrantes nordestinos assolados pelas secas de 1877 e 1878, que foram empregados na extração do látex. Ocorreram grandes transformações nas principais cidades. Manaus tornou-se a capital mundial de venda de diamantes. O comércio da borracha possibilitou a construção de grandes obras, como o Teatro da Paz em Belém (1878) e o Teatro Amazonas em Manaus (1898) (TAVARES, 2011). A borracha passou a ser, depois do café, o segundo produto da pauta de exportações, com cerca de 40% das exportações brasileiras. O declínio do ciclo da borracha (1879-1912) ocorreu após o contrabando de sementes de seringueiras pelo inglês Henry Wickman, em 1876. Após isso, foi realizada a adaptação do seu cultivo na Malásia, que passou a produzir borracha com um custo mais barato que na Amazônia, derrubando os preços internacionais do produto (TAVARES, 2011). Durante o Império, cientistas e naturalistas continuaram a realizar expedições na região amazônica. Os relatórios dos estudos e os levantamentos realizados por D’Orbigny (1834 a 1837), Agassiz (1865), Alfred Wallace (1848 a 1852), Henry Bates (1848 a 1852) e Goeldi (1884 a 1890) contribuíram para que a atenção internacional se voltasse para a Amazônia (MEIRA MATTOS, 2007). Em 1893 ocorreu, no Amapá, uma corrida pelo ouro na região do rio Calçoene. Para atender interesses franceses, a Guiana Francesa passou a fiscalizar a enviar o ouro produzido para Caiena. Os brasileiros liderados por Veiga Cabral se revoltaram contra a invasão militar e derrotaram tropas francesas comandadas pelo Capitão Lunier em 1895 (BENTO, 2003). Da mesma forma, a Amazônia brasileira também foi alvo do interesse externo durante o período imperial, particularmente da Inglaterra e dos Estados Unidos. O Império estabeleceu inúmeras Colônias Militares para aumentar o povoamento e a sua presença militar na Amazônia. 35 2.3 NO PERÍODO REPUBLICANO O Brasil, grande vitorioso da Guerra da Tríplice Aliança, consolidava-se como a maior potência militar do continente sul-americano à época. Essa condição favoreceu a diplomacia brasileira em definir seus limites com os países vizinhos. Ainda no início do século XX, o Brasil possuía inúmeras pendências em seus limites fronteiriços com alguns países da América do Sul. Para consolidar seus territórios, o Governo Republicano decidiu dar continuidade na solução de tais contenciosos com seus vizinhos. As terras do Acre pertenciam à Bolívia. No entanto, em 1877, a região recebeu grande fluxo de migrantes nordestinos em face do ciclo da borracha. Com essa ocupação por parte dos brasileiros, as autoridades bolivianas resolveram fundamentar um protesto diplomático à chancelaria do Rio de Janeiro (TAVARES, 2011). Em 1899, os bolivianos tentaram reassumir o controle do território. Em 1901, a Bolívia arrendou o Acre ao grupo Bolivian Syndicate, com sede em Nova York. Contrariados, os brasileiros deram início a Revolução Acreana em 1902. Tropas lideradas por Plácido de Castro derrotaram forças bolivianas no conflito (TAVARES, 2011). Desde fins do Império, o Barão do Rio Branco desempenhou papel decisivo na defesa internacional de nossas fronteiras (ARAUJO, 2012): - 1900 - Questão do Amapá: disputa entre a França e Brasil. A arbitragem do presidente suíço Walter Hauser deu ganho de causa ao Brasil. - 1903 - Questão do Acre: região disputada militarmente por brasileiros e bolivianos. Ambos os países assinaram o Tratado de Petrópolis. Brasil tomou posse do Acre em troca de uma indenização de 2 milhões de libras esterlinas e pela construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. - 1904 - Questão com o Peru (1904): após conflitos envolvendo o Peru e o Brasil, foi negociada uma solução, fixando-se a fronteira no rio Javari. - 1904 - Questão do Pirara (1904): região disputada por Brasil e Inglaterra. A arbitragem italiana do rei Vitor Emanuel III favoreceu a Inglaterra. Dessa forma, o Brasil perdeu o acesso, por meio do rio Essequibo, ao mar das Antilhas. 36 - 1906 - Questão com a Holanda (1906): Brasil e Guiana Holandesa (Suriname) assinaram um tratado fixando as fronteiras na serra de Tumucumaque. Após a definição das fronteiras pelas ações diplomáticas do Barão do Rio Branco (Figura 6), o País aprofundou a defesa da Amazônia. As antigas Colônias Militares foram substituídas por pelotões de fronteira, de forma lenta e intermitente (TAVARES, 2011). Figura 6: A construção do território e a formação do povo brasileiro. Fonte: Dantas, 2012. Juntamente com o então Coronel Cândido Mariano Rondon, o presidente norteamericano Theodore Roosevelt realizou uma expedição na Amazônia em 1914. Na oportunidade, o rio da Dúvida passou a ser denominado rio Roosevelt. As amostras de vegetais e animais coletadas foram para o Museu de História Natural dos Estados Unidos. A partir da década de 1910, Rondon realizou trabalhos importantes na integração do território e das populações indígenas situadas em pontos da fronteira oeste e amazônica. Nas suas explorações pelos sertões, Rondon descobriu 15 (quinze) novos rios, inventariou cerca de 20.000 (vinte mil) exemplares da fauna e flora e mapeou cerca de 500.000 (quinhentos mil) quilômetros quadrados. Destacou- 37 se também por ter instalado mais de 2.000 (dois mil) quilômetros de fios telegráficos, possibilitando as ligações com regiões junto à fronteira. Em todas suas expedições, Rondon pacificou tribos, estudou os seus costumes e defendeu a proteção aos silvícolas. (EB, 2013). A estratégia de ocupação da Amazônia pelos portugueses por meio de fortificações influenciou a articulação dos Pelotões Especiais de Fronteira (PEF)2 para a ocupação e defesa das fronteiras de forma seletiva, priorizando posições estratégicas. O primeiro Pelotão Especial de Fronteira implantado na fronteira amazônica ocorreu no ano de 1921, em Cucuí. Até 2008 foram criados mais 20 (vinte) PEF ao longo da fronteira da Amazônia brasileira (CComSEx, 2008) Em 1928, com a intenção de suprir as necessidades internacionais de borracha, o norte-americano Henry Ford resolveu plantar seringueiras na Amazônia, chegando a fundar a cidade de Fordlândia. Entretanto, a iniciativa fracassou quando uma praga atacou as folhas das seringueiras cultivadas. Outro fator que prejudicou o investidor foi o desenvolvimento da tecnologia de fabricação sintética da borracha (TAVARES, 2011). Durante a Segunda Guerra Mundial, no final de 1941, os países aliados necessitavam da borracha para a indústria bélica. Com a interrupção do fluxo de borracha asiática pelos japoneses, a Amazônia passou a ter, novamente, importância como fornecedora de matéria prima para manter o esforço de guerra aliado (TAVARES, 2011). O presidente Getúlio Vargas (1930-1945) assinou, em 1943, um acordo com os Estados Unidos. Os norte-americanos fariam investimentos para a produção e o Governo do Brasil ficaria encarregado de disponibilizar milhares de trabalhadores para os seringais da Amazônia. Eram conhecidos como ―Soldados da Borracha‖, em sua maioria nordestinos vítimas da seca de 1941 e 1942 (TAVARES, 2011). No entanto, o crescimento da produção de borracha foi aquém do planejado. Os norte-americanos deixaram de investir na produção de borracha ao final da Segunda Guerra Mundial (TAVARES, 2011). Em 1947, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) aprovou a criação do Instituto Internacional da Hiléia Amazônica (IIHA), que definia uma autoridade internacional para administrar a realização de 2 Pelotões Especiais de Fronteira são pequenas unidades militares responsáveis pela vigilância da fronteira, cooperando ainda com a presença do Estado nessas áreas. 38 pesquisas científicas e o desenvolvimento da região amazônica. Entretanto, essa intenção, considerada uma ameaça à soberania, foi evitada pelo Parlamento Brasileiro, após protestos do senador Arthur Bernardes e análise de um parecer emitido, à época, pelo seu Estado-Maior Geral. Esse incidente favoreceu, posteriormente, a criação do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) em 1952 (MEIRA MATTOS, 2007). Com o aumento da demanda de minérios durante a Segunda Guerra Mundial, a Indústria e Comércio de Minérios S.A. (ICOMI) se instalou, na década de 1950, na região da Serra do Navio. A descoberta de jazidas de manganês possibilitou a primeira experiência de mineração industrial na Amazônia (MONTEIRO, 2003). O Governo Brasileiro, a partir da década de 1950, passou a identificar o interesse de outros países pela Amazônia, em face do conhecimento de suas riquezas naturais. Para se fazer mais presente, o Governo decidiu desenvolver a região de forma planejada. Com a Lei nº 1806, que regulou o Art. 199 da Constituição de 1946, definiu-se os limites da ―Amazônia Legal‖, bem como foi criada a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVA) (MEIRA MATTOS, 1980). A primeira abordagem de uma possível internacionalização da Amazônia ocorreu na década de 1960. O físico-matemático e pensador militar Herman Kahn, do Instituto Hudson de Nova York, sugeriu que fossem construídas sete barragens para criar cinco grandes lagos na bacia amazônica. O objetivo seria estimular o intercâmbio econômico, bem como promover os investimentos estrangeiros na exploração da pesca, minérios e petróleo (MEIRA MATTOS, 2007). Em 1967, houve a tentativa de apropriação de terras na Amazônia por estrangeiros. O norte-americano Daniel Ludwig comprou uma fazenda de 16.000 (dezesseis mil) km² na divisa do Pará com o Amapá, para implantar o Projeto Jari. O empreendimento, voltado para a produção de celulose sem o acesso de nacionais, sofreu oposição da sociedade brasileira, que denunciavam uma possível intenção de internacionalização da Amazônia. Ludwig acabou por vender o projeto a um grupo de empresários brasileiros (MEIRA MATTOS, 2007). Nos Governos Militares, após análises realizadas, foram verificados interesses adversos voltados para a cobiça e internacionalização da Amazônia. Para dissuasão desses interesses, iniciou-se a articulação da Amazônia com áreas avançadas da 39 economia brasileira, por meio da implementação de grandes projetos para o desenvolvimento econômico do Norte do País e pela criação de pólos de desenvolvimento na região (TAVARES, 2011). Em 1965, o presidente Castelo Branco anunciou a Operação Amazônia, com o lema ―integrar para não entregar‖. Estimulou-se a ocupação da Amazônia a partir do financiamento de grandes projetos mineradores, energéticos, madeireiros e agropecuários. Os programas nacionais de desenvolvimento foram estabelecidos no Primeiro Plano Quinquenal (1967 a 1971), que era voltado para ―segurança e colonização‖. Também foi criada a Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) em 1968, para fomentar investimentos em diversos setores. Dentre os projetos implementados, destacam-se: - mineração: Projeto Trombetas – PA (1969). - agropecuários e madeireiros: Cristalino (Volkswagen), Barreira Branca (Bamerindus) e Miriti. - implantação da Superintendência da Zona Franca de Manaus – SUFRAMA (1967). Apesar de terem sido implantadas no período imperial, em 1967 o Governo resolveu estabelecer a última Colônia Militar na cidade de Tabatinga – AM. Posteriormente, as Colônias Militares foram extintas ou transformadas em OM. Criado em 1970 pelo Governo Federal, o Projeto Radar da Amazônia (RADAM) teve como principal objetivo realizar, com o emprego de aviões dotados de tecnologia adequada, o levantamento dos recursos do solo e do subsolo da Amazônia. Em 1975, possibilitou o mapeamento cartográfico e geológico da região amazônica, dando maior conhecimento de parte dos seus recursos minerais (BENTO, 2003). No Governo Médici foi instituído o I Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND), no período de 1972 a 1974, que buscava a colonização oficial da Amazônia. Com a aprovação do ―Plano de Viação Nacional‖ em 1973, foram ampliados os investimentos em infraestrutura, principalmente em estradas, com o objetivo de integrar a Amazônia ao restante do País. As atividades de construção da rodovia Manaus-Boa Vista (BR – 174) foram iniciadas em 1970. Em 1972, inaugurou-se a construção da rodovia Transamazônica (BR - 230), com o objetivo de aumentar o controle brasileiro sobre a região e expandir projetos de colonização pioneiros na 40 fronteira da Amazônia. Em 1974, foram concluídas as obras da rodovia BelémBrasília (BR-010). Dois anos depois, a rodovia Cuiabá-Santarém (BR-163) foi finalizada. As descobertas de reservas minerais de cassiterita e ouro em Rondônia e a distribuição de terras para pequenos agricultores foram favorecidas pela construção, em 1968, da rodovia Cuiabá-Porto Velho (BR-364) (MEIRA MATTOS, 1980). O II PND e o II Plano de Desenvolvimento da Amazônia (II PDA), estabelecidos entre 1974 e 1979, financiaram a conclusão e a implementação de projetos que buscavam estabelecer novos pólos de desenvolvimento agropecuários, energéticos e minerais: - mineração: Projeto ALBRAS-ALUNORTE – PA (1975), Programa Grande Carajás - PA (1979) e Serra Pelada – PA (1979). - energia: UHE de Balbina - AM (1972), UHE de Tucuruí – PA (1975), UHE de Coaracy Nunes – AM (1975) e UHE de Samuel – RO (1981). - agropecuários e madeireiros: Programa dos Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia - POLAMAZÔNIA (1975). Para o assentamento prioritário de nordestinos, foram ofertadas terras por meio do Plano de Integração Nacional (PIN). O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) ampliou a distribuição de terras para os fazendeiros. Em 1976, por meio de uma Medida Provisória, o Governo permitiu a regularização de propriedades de até 60 mil hectares, possibilitando a primeira regularização de terras na Amazônia. O Governo Brasileiro, juntamente com os demais países amazônicos (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela), assinou o Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) em 1978. Posteriormente, o TCA seria fortalecido em 1995, ao se transformar na Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA). Os principais objetivos do TCA seriam a integração física, a cooperação multilateral e o desenvolvimento da Amazônia, com o intuito de evitar tentativas de internacionalização por parte de países extracontinentais (LORENÇÃO, 2007). Em 1985, o Governo Brasileiro implementou o Projeto Calha Norte. O principal objetivo era aumentar a presença do Estado Brasileiro em cerca de 14% do território nacional, povoar e desenvolver economicamente a faixa de fronteira do Brasil com Guiana Francesa, Suriname, Guiana, Venezuela e Colômbia. Recursos foram 41 empregados na criação de novas OM, incluindo Pelotões Especiais de Fronteira (PEF), e na ampliação de outras já existentes. Essa iniciativa permitiu ampliar a capacidade de vigilância e do controle das fronteiras. (MEIRA MATTOS, 2007). A Petrobras, após pesquisas na bacia do Solimões, descobriu jazidas de petróleo e gás na região do vale do Juruá-Solimões (AM), em 1986, após anos de pesquisas. A sua exploração foi autorizada pelo IBAMA em 2012. A partir da década de 1980, houve uma crescente presença de Organizações Não-Governamentais (ONG) europeias e norte-americanas, que passaram a atuar na Amazônia. Agindo de forma pouco transparente, com financiamentos e gastos desconhecidos, algumas ONG passaram a defender o discurso de que a Amazônia é um patrimônio da humanidade, acusando os estados nacionais amazônicos, particularmente o Brasil, de serem incapazes de proteger a floresta, de evitar a poluição ambiental e de proteger os indígenas. Também defenderam a criação de uma entidade supranacional para preservar a floresta, com soberania partilhada sobre a região amazônica (MEIRA MATTOS, 2007). ―A partir dos anos 60, Organizações internacionais do primeiro mundo e entidades cristãs sediadas na Europa e Estados Unidos, mantenedoras de inúmeras Missões Religiosas na Amazônia, abriram a luta a favor da internacionalização da Hiléia e confinamento das tribos de gentios visando a preservar os hábitos e costumes primitivos‖ (MEIRA MATTOS, 2007). Em face das atividades de inúmeras ONG transnacionais, os Estados Unidos e a Europa difundiram idéias de internacionalização, passando a exercer forte pressão sobre o Brasil. Essas pressões fizeram com que a Assembléia Constituinte (1988) incluísse conceitos de interpretação dúbia acerca das terras tradicionais dos índios, que posteriormente tiveram um impacto significativo na demarcação das reservas indígenas na região amazônica (MEIRA MATTOS, 2007). Destacam-se entre as entidades de apoio as ONG atuantes na Amazônia: a inglesa ―Survival International‖ também conhecida como ―Casa de Windsor‖ (dado à sua estreita ligação com a coroa inglesa), cuja infiltração na região data dos anos 60; a ― European Working Group on Amazon (EWGA)‖- o Conselho Mundial das Igrejas Cristãs, sediado na Suíça, a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). As acima citadas organizações internacionais, e outras, irradiam no Brasil e em particular na Amazônia, uma rede de dezenas de ONG e agências que buscam criar na população local e nos indígenas uma conscientização da necessidade de internacionalizar a região. Entre as ONG nacionais mais presentes na Amazônia destacam-se o Conselho Indigenista de Roraima (CIR) controlado pela Comissão Pastoral da Terra; Associação dos Povos Indígenas de Roraima (APIR); Associação Regional Indígena dos Rios Kinô, Cotongo e Monte Roraima (ARIKOM). A Sociedade 42 de Defesa dos Índios Unidos do Norte do Estado de Roraima (SODIURR) defende a convivência pacifica e comunitária entre índios e não índios (MEIRA MATTOS, 2007). Para se contrapor às críticas internacionais atinentes a incapacidade do Brasil em conter o desmatamento da floresta amazônica, o Governo Sarney, por meio do Decreto nº 96.944, de 12 de outubro de 1988, criou ―Programa Nossa Natureza‖ (MEIRA MATTOS, 2007). Temas relacionados aos direitos humanos e ao meio ambiente passaram a integrar a agenda internacional a partir da década de 1980. As grandes potências posicionaram-se a favor do "direito" ou "dever" de ingerência sobre países detentores de grandes reservas de matérias-primas, a fim de atender seus próprios interesses. Assim, com base no discurso de defesa da floresta ou dos indígenas, a soberania dos países amazônicos seria um conceito relativo, contrariando princípios da igualdade e da não-intervenção consagrados na Carta das Nações Unidas (BETTATI, 1996). Segundo Meira Mattos (2007), a partir da década de 1980, funcionários de cargos importantes, bem como alguns líderes de países desenvolvidos se posicionaram favoráveis a internacionalização da Amazônia, dentre os quais se destacaram: - Em 1983, a premiê britânica Margareth Thatcher declarou que os países subdesenvolvidos, para pagar suas dívidas externas, deviam vender suas riquezas, seus territórios e suas fábricas. - Em 1989, o presidente francês François Mitterrand defendeu que o Brasil precisaria aceitar uma soberania relativa sobre a Amazônia, e o senador norteamericano Al Gore defendeu a internacionalização da Amazônia. No mesmo ano, Giuliano Amato, Ministro do Tesouro da Itália, declarou em entrevista coletiva que o governo italiano estaria disposto a colaborar para a preservação da Amazônia, por se tratar de um bem supranacional, desconsiderando a soberania brasileira sobre a região. - Em 1990, Madeleine Albright, secretária de governo de Bill Clinton, declarou que não existiam fronteiras em assuntos relacionados ao meio ambiente. - Em 1992, o ex-presidente da antiga União Soviética, Mikhail Gorbachev, defendeu que o Brasil delegasse seus direitos sobre a Amazônia aos organismos 43 internacionais. No mesmo período, o primeiro-ministro britânico John Major apoiou a possibilidade de intervenções militares na região amazônica. - Em 1998, o General Patrick Hugles, Chefe do Órgão Central de Informações das Forças Armadas dos Estados Unidos, declarou a possibilidade de intervenção militar na região, caso o Brasil resolvesse fazer uso da Amazônia de forma que pudesse por em risco o meio ambiente. - Em 2000, Al Gore, candidato a presidência dos Estados Unidos, defendeu novamente a internacionalização da Amazônia. Tal declaração foi reforçada pelo senador Robert Kasten. - Em 2005, o francês Pascoal Lamy, ex-comissário da União Europeia e candidato à direção da Organização Mundial do Comércio (OMC), declarou a necessidade da soberania partilhada para a Amazônia, dentro do conceito de Governança Global, que seria administrada por uma autoridade internacional a ser criada. - Em 2006, o Ministro do Meio Ambiente do Reino Unido, David Miliband, defendeu a privatização da Amazônia durante a conferência do G-8 sobre mudanças climáticas. O movimento ambientalista internacional, com o assassinato do líder sindical Chico Mendes em 22 de dezembro de 1988, passou a pressionar o Governo Brasileiro, que adotou mudanças na política para Amazônia, priorizando o desenvolvimento sustentável, a criação de reservas extrativistas e a demarcação de terras indígenas (CASTRO, 1992). Segundo Paiva (2011), as reservas indígenas demarcadas já ocupam cerca de 15% do território nacional e são, na maioria dos casos, coincidentes com reservas minerais já levantadas (Figuras 7 e 8). Muitas comunidades nesses locais encontram-se sob influencia de ONG apoiadas pela comunidade internacional, que não consideram os indígenas cidadãos brasileiros. Na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (ECO-92), inúmeras criticas foram direcionadas ao desmatamento causado pelo cultivo da soja e pela pecuária bovina próximo às bordas da cobertura florestal. Nesse evento, o presidente dos Estados Unidos George W. Bush criticou as proposta da Convenção sobre Biodiversidade, alegando acreditar que esse 44 assunto seria importante para proteger os direitos e os interesses norte-americanos (LOURENÇÃO, 2007). Figura 7: Recursos minerais da Amazônia. Fonte: Santos, 2002. Figura 8: Unidades de Conservação e Terras Indígenas. Fonte: EMBRAPA, 2013. A presença militar dos Estados Unidos na região voltou a ocorrer novamente em 1993. Nesse ano, a Guiana autorizou a realização de um exercício nas proximidades da divisa com Brasil, Venezuela e Suriname, no qual participaram 45 militares norte-americanos. Outro aspecto que indica os interesses estrangeiros na região amazônica é o Plano Colômbia, acordado entre o governo colombiano e os Estados Unidos em 2002, a fim de combate ao narcotráfico e, indiretamente, os insurgentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) (LOURENÇÃO, 2007). Para aumentar o controle sobre a Amazônia, em 1995, o Governo implantou o Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM). O SIVAM caracteriza-se pela sua infraestrutura tecnológica avançada, com objetivo de coletar, processar, produzir e difundir dados que poderão orientar as ações dos órgãos do Governo presentes na região. O conjunto dos equipamentos do SIVAM passou a integrar o Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM), que foi instituído em 2002, pelo Decreto nº 4.200. O SIPAM é gerenciado pelo Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM), sendo uma organização sistêmica, formadas por vários órgãos federais, estaduais e municipais. O SIPAM tem o objetivo de integrar, avaliar e difundir conhecimentos que permitam ações de proteção e de desenvolvimento sustentável na Amazônia Legal (FREIRE, 2004). Em 2001, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados aprovou o texto do Projeto de Lei 4440/01, que atualmente encontra-se em análise no Senado. O projeto pretende alterar a Lei 5709/71, restringindo ainda mais a posse de terras na Amazônia Legal por parte dos estrangeiros. A proposta prevê a redução, de 50 para 15 módulos rurais3, da área máxima que o estrangeiro pode adquirir no Brasil, além de proibir a aquisição de terras aquém de 150 Km da faixa de fronteira (BRASIL, 2009). Para aumentar seu poder dissuasório face aos interesses externos, o Brasil propôs, em 2004, a criação do Conselho de Defesa Sul-Americano da União das Nações Sul-Americanas (CDS-UNASUL) para implementar uma política de cooperação militar e de defesa regional, incluindo a proteção dos recursos naturais da região e busca do diálogo na resolução de problemas existentes na região amazônica, como o tráfico de armas, o tráfico de drogas e a biopirataria. Com o mesmo objetivo, no âmbito interno, têm sido realizadas Operações Conjuntas das Forças Armadas Brasileiras sob a orientação do Ministério da Defesa, 3 De acordo com a Lei 4.504/64, o módulo rural corresponde à quantidade de terra necessária para um trabalhador e sua família (de quatro pessoas) poder se sustentar. A área do módulo rural corresponde a 1140 hectares. 46 em coordenação com outros órgãos federais e estaduais, que englobaram a faixa de fronteira amazônica para combater delitos transfronteiriços e ambientais, conhecidas como Operação Ágata. Tais operações ocorreram nos anos 2011 (Operações Ágata 1 e 3), 2012 (Operações Ágata 4 e 6), 2013 (Operação Ágata 7) e 2014 (Operação Ágata 8). A Amazônia também passa a ser alvo de estudos por parte de militares dos países desenvolvidos na última década, destacando-se a preocupação da utilização global dos recursos da Amazônia, bem como da forma de conduzir as relações internacionais desses países com o Brasil. Como exemplo, apresentam-se trechos de um trabalho realizado na Escola de Pós-Graduação da Marinha por uma oficial subalterna: Conservationists expect international organizations, developed nations, and domestic grassroots organizations to pressure the Brazilian government in conserving the Amazon. ... The Amazon must be conserved as a global resource but will continue to be developed until the military’s role and views are changed. (HAMILTON, 2009) Complementando: The U.S. cannot afford to make uninformed policies towards Brazil, especially environmental policies towards the Amazon. ... Instead of being seen as a threatening outsider that covets the Amazon, it is crucial—for continued U.S.-Brazil relations—for America to engage with Brazil’s pragmatic presidents and understand the multiple fronts of conservation, sustainable development and security in the Amazon. (HAMILTON, 2009) A mídia internacional, em diversas oportunidades, vem publicando matérias apontando propostas para a internacionalização. Em maio 2008, o jornal americano The New York Times, por meio de seu correspondente baseado no Rio de Janeiro, publicou a matéria intitulada ―De quem é a Amazônia, afinal?‖, questionando as políticas do Brasil em relação à Amazônia. Da mesma forma, o jornal inglês The Independent, ao noticiar o pedido de demissão da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, criticou o desmatamento da floresta denunciado por diversas ONG que estavam presentes na região (BARRIONUEVO, 2008 e HOWDEN, 2008). O rei norueguês Harald V visitou uma reserva yanomami em Roraima, em abril de 2013. A vinda dessa autoridade era de total desconhecimento por parte do Governo Brasileiro e do Ministério das Relações Exteriores. Ressalta-se que governo norueguês tem financiado os movimentos indigenistas nos últimos 30 anos, 47 por meios das ONG Rainforest Foundation of Norway (RFN) e Ajuda da Igreja da Noruega (AIN) (EFE, 2013). Por tudo que foi apresentado, a internacionalização da Amazônia pode ocorrer no momento em que receber o status de patrimônio mundial, dando o direito aos países ricos, com base no ―dever de ingerência‖, cumprir tal tarefa estando sob a égide, ou não, da Organização das Nações Unidas. Para defender a soberania na Amazônia, o Brasil deve continuar a adotar medidas para dissuadir essas intenções internacionais. 48 3 CENÁRIOS PROSPECTIVOS DE SEGURANÇA E DEFESA COM REFLEXOS PARA A AMAZÕNIA De acordo com o objeto de estudo, podem existir variados cenários prospectivos para a Amazônia, tais como: demográfico, econômico, energético, desmatamento, desenvolvimento sustentável, entre outros. No entanto, será dado maior enfoque aos cenários prospectivos para a região amazônica com reflexos para a área de segurança e de defesa. Segundo Paiva (2011), o Brasil possui muitas vulnerabilidades na região amazônica, que ocupa 49% da área territorial do País, destacando-se: vazio de poder e demográfico em uma região rica em recursos estratégicos (20% da água doce do planeta, 30% biodiversidade mundial, recursos energéticos, minerais ferrosos, preciosos e raros), falta de integração efetiva da Amazônia ao restante do País, securitização de temas da agenda internacional que podem servir de pretexto para impor a soberania compartilhada na região após uma possível intervenção internacional (questão ambiental, questão indígena, conflitos sociais, problemas fundiários, terrorismo, biopirataria, ilícitos transnacionais e crime organizado) e ação de algumas ONG ligadas a interesses internacionais. Para atingir objetivos estratégicos de defesa, o Brasil definiu algumas metas constantes do Plano Brasil 2022, após elaborar cenários prospectivos por parte da Secretaria de Assuntos Estratégicos do Governo Federal, com impactos em parte dos Ministérios. Uma dessas metas, voltadas para o Ministério da Defesa, enfatiza a adequada articulação da F Ter a fim de possibilitar a vigilância e a proteção da Amazônia (BRASIL, LBDN, 2012). Recentemente, o Ministério da Defesa adotou o planejamento por capacidades, conforme ameaças que se apresentem à segurança do País, estando alinhado com a END 2012. Para atender a essas demandas, a F Ter tem realizado seus planejamentos estratégicos após levantamentos, no âmbito do Estado-Maior do Exército (EME), de cenários prospectivos, que terão reflexos importantes a curto, médio e longo prazo para a F Ter. Sob a coordenação do EME, foram elaborados cenários prospectivos para o ano de 2030, todos voltados para a área de segurança e defesa. Esses cenários 49 foram classificados de acordo com a probabilidade de ocorrência de eventos, bem como se são favoráveis ou não ao Brasil (OKADO, 2011). Para um melhor entendimento dos cenários prospectados, é necessária a compreensão dos seguintes conceitos (PEJMU, 2013): - Cenários Prospectivos - são utilizados para a visualização de futuros alternativos (possíveis de ocorrer), de médio e longo prazo, após a realização de combinações de variáveis do presente. - Cenário Ideal - é aquele que, ao final do horizonte temporal definido, melhor convém à missão do Exército. Nele ocorrem os eventos favoráveis, desconsiderando-se os desfavoráveis. - Cenário mais Provável - é aquele que, ao final do horizonte temporal definido, possui maior probabilidade de ocorrência, considerando-se de acordo com as condições atuais. Ações adotadas ou alterações na conjuntura podem alterar esse cenário, beneficiando ou não a Instituição. - Cenário Alvo - é aquele que, ao final do horizonte temporal definido, vislumbre um futuro melhor para o Exército, pautado na escolha de um Cenário possível e exequível, que se não for o ideal, será melhor do que o vislumbrado hoje como o mais Provável. O Exército, proativamente, define Diretrizes Estratégicas para atingir o Cenário Alvo. - Eventos Futuros – são fenômenos que podem ou não ocorrer no futuro e tendem a exercer um impacto significativo sobre a capacidade de o EB atingir seus objetivos. No âmbito da F Ter, os resultados finais obtidos foram os Cenários Ideal 2030 (ANEXO A), Mais Provável 2030 (ANEXO B) e Alvo 2030 (ANEXO C). Também foi elaborada a Lista de Eventos com sua respectiva análise 2030, destacando aqueles diretamente ligados à Amazônia (ANEXO D). Após a análise do Cenário Alvo vislumbrado pela F Ter para o ano de 2030, pode-se inferir as principais descrições a seguir (EME, 2011): - O Brasil, em 2030, teria ampliado seu poder no contexto internacional, causando reações por parte dos países que fazem parte do eixo de poder mundial, propiciando o aparecimento de situações conflituosas. - O Brasil fortaleceu a integração regional, bem como adquiriu capacidades militares, apesar de não ter conseguido um assento permanente no Conselho de 50 Segurança das Nações Unidas. No entanto, essa conjuntura deu suporte ao posicionamento do País no campo externo. - Ainda permanecerá o interesse internacional sobre os recursos naturais da Amazônia, com a intensificação das pressões para uma gestão compartilhada, que prejudicou o Brasil em alcançar seus objetivos nacionais, além de ameaçar a soberania e a integridade do território nacional. A alegação, para uma possível intervenção no Brasil, estaria fundamentada em uma suposta intenção de defender assuntos presentes na agenda internacional, que seriam de interesse da humanidade (questão ambiental, questão indígena, crimes transnacionais, etc), despistando as pretensões de países e ONG na região. - As Forças Armadas deverão estar mais presentes na região amazônica, a fim de realizar ações voltadas para combate aos crimes ambientais e ilícitos na faixa de fronteira (EME, 2011). Com os cenários levantados, o EB pode definir as suas capacidades para se contrapor as potenciais ameaças. Os cenários estão alinhados com as observações e diretrizes contidas na PND 2012 e END 2012. Todos os aspectos contidos nos cenários apresentados foram considerados na elaboração do PROFORÇA 2010 e da EBF 2009, a fim de desenvolver capacidades para se contrapor a qualquer tipo de ameaças à Amazônia. 51 4 PLANO DE REESTRUTURAÇÃO DA FORÇA TERRESTRE NA AMAZÔNIA Como pode ser verificado anteriormente, a Força Terrestre esteve presente na Amazônia desde o século XVI. A sua presença sempre se adequou às necessidades de segurança e defesa da região. Para se contrapor aos desafios que se apresentarão nos possíveis cenários prospectivos do EME para a região amazônica, a Força Terrestre, alinhada com a legislação vigente e com as diretrizes do Governo e do Ministério da Defesa, elaborou um Plano de Articulação para reestruturar o posicionamento de suas OM, do qual faz parte o Programa Amazônia Protegida. 4.1 SITUAÇÃO DA FORÇA TERRESTRE NA AMAZÔNIA 4.1.1 Síntese Histórica da Presença da Força Terrestre Desde o século XVI, forças militares sempre estiveram na Amazônia para tentar garantir a sua soberania sobre a região. Com o passar do tempo, foram sendo ampliadas, devendo ser intensificadas com a implementação dos objetivos do PAP. Segundo Bento (2003), até 1938, as principais OM na Amazônia eram as seguintes: - Pará: 26º Batalhão de Caçadores e Grupo Independente de Artilharia de Dorso (Belém). - Amazonas: 27º Batalhão de Caçadores (Manaus) e 4º Batalhão de Artilharia (Óbidos). Em meados da década de 1980, as antigas rivalidades estratégicas entre o Brasil e a Argentina se findaram. Em contrapartida, foi-se aumentando as preocupações militares com os territórios amazônicos. Deu-se incremento de transferência de OM das regiões sul-sudeste do País em direção à fronteira norte, ao mesmo tempo em que se desencadeou uma série de projetos do Governo, voltados para o desenvolvimento, a proteção e a defesa militar da Amazônia, tais como o Programa Calha Norte e o SIVAM/SIPAM (MARQUES, 2011). Para um melhor entendimento da atual articulação da F Ter na Amazônia, são cabíveis algumas observações sobre o Comando Militar da Amazônia, cuja origem 52 se deu no ano de 1948, com a criação do Comando de Elementos de Fronteira (Belém – PA), subordinado a antiga Zona Militar do Norte (Recife – PE). Em 1956, o CMA/8ª Região Militar foi criado em Belém (PA), sem subordinação à Recife, para enquadrar e apoiar todas as OM na Amazônia (CComSEX, 2009, VO nº 200). Em 1969, a sede do CMA foi transferida para Manaus (AM), separando-se da 8ª Região Militar. Na oportunidade foi criada a 12ª Região Militar (Manaus – AM), para atender administrativamente às OM situadas na Amazônia Ocidental. Em 1982, a 12ª Região Militar separou-se do CMA (CComSEX, 2009, VO nº 200). Em 1992, a 8ª Região Militar, recebeu a denominação de Comando Militar do Norte e 8ª Região Militar, perdurando até 03 de abril de 1995, quando retomou a sua denominação anterior. O Comando Militar do Norte foi criado novamente por meio da Portaria nº 142, de 13 de março de 2013, do Comandante do Exército, e abrange os estados do Amapá, do Maranhão e do Pará (8ª RM/8ª DE, 2014). 4.1.2 Situação Atual da Presença da Força Terrestre Na Amazônia existem, atualmente, dois Comandos Militares de Área, o da Amazônia e o do Norte, que foi recriado novamente em 2013, em cumprimento da diretriz de adensar a presença da F Ter na região amazônica e nas áreas de fronteira, conforme a END (Figura 9) (EB, 2013). O Comando Militar da Amazônia (CMA) tem jurisdição sobre os territórios da 12ª Região Militar, Grandes Comandos com sede em Manaus, e sua área de responsabilidade abrange particularmente a porção da Amazônia Ocidental. Com sede em Belém, o Comando Militar do Norte (CMN) possui jurisdição sobre os territórios da 8ª Região Militar/8ª Divisão de Exército, tendo sua área de responsabilidade abrangendo a Amazônia Oriental (MARQUES, 2011). As Regiões Militares supracitadas são Grandes Comandos administrativos com o objetivo de prover o apoio logístico às Brigadas e às diversas OM da área amazônica sob sua responsabilidade, por meio dos Depósitos, Batalhões e Bases de Suprimentos/Logísticos, dos Parques Regionais de Manutenção, dos Hospitais e do Centro de Embarcações do CMA (MARQUES, 2011). 53 O CMA ainda conta com outro Grande Comando - o 2º Grupamento de Engenharia de Construção (Manaus – AM) – que enquadra cinco unidades (MARQUES, 2011): - 5º Batalhão de Engenharia de Construção (Porto Velho – RO) - criado em 1966. - 6º Batalhão de Engenharia de Construção (Boa Vista – RR) - criado em 1969. - 7º Batalhão de Engenharia de Construção (Rio Branco – AC) - criado em 1969. - 8º Batalhão de Engenharia de Construção (Santarém – PA) - transferido de Lages (SC) em 1970. - 21ª Companhia de Engenharia de Construção (São Gabriel da Cachoeira – AM) – transferido de Caicó (RN) em 1973. No CMA encontram-se cinco Grandes Unidades (GU)4 (MARQUES, 2011): - 1ª Brigada de Infantaria de Selva (Boa Vista - RR): oriunda da 1ª Brigada de Infantaria Motorizada (Petrópolis - RJ), transferida em 1992. - 2ª Brigada de Infantaria de Selva (São Gabriel da Cachoeira - AM): oriunda da 2ª Brigada de Infantaria Motorizada (Niterói - RJ), transferida em 2004. - 16ª Brigada de Infantaria de Selva (Tefé - AM): oriunda da 16ª Brigada de Infantaria Motorizada (Santo Ângelo - RS), transferida em 1993. - 17ª Brigada de Infantaria de Selva (Porto Velho - RO): foi originalmente criada em 1980, substituindo o Comando de Fronteira Acre-Rondônia e o 3º Grupamento de Fronteira, que foram criados em 1969 e 1976, respectivamente. - 2º Grupamento de Engenharia de Construção (Manaus – AM): foi criado em 28 de julho de 1970. Também está vinculado à Diretoria de Obras de Cooperação. Já, no CMN encontra-se a 23ª Brigada de Infantaria de Selva em Marabá (PA), que foi criada em 1976. As Brigadas são constituídas por diversas OM, principalmente pelos Batalhões de Infantaria de Selva (BIS)5, que são vocacionados para operar na região amazônica. Quando localizados nas fronteiras, possuem ainda a capacidade de realizar a vigilância e a ocupação humana das fronteiras, constituindo, em muitos 4 As GU (Brigadas de Infantaria de Selva) também possuem unidades, subunidades e pelotões com funções diferentes (artilharia, engenharia, comunicação, logística etc). 5 Os Batalhões de Infantaria de Selva são unidades de ações táticas das Brigadas de Infantaria de Selva, com um efetivo entre 450 a 800 homens, comandados por um Coronel ou Tenente-Coronel. Os BIS são formados normalmente por um comando, um Estado-Maior, uma Companhia de Comando e Serviços e 3 (três) Companhias de Fuzileiro de Selva. 54 casos, a única presença do Estado Brasileiro, atendendo a estratégia da presença e dissuasão. No CMA e no CMN são as seguintes OM: OM LOCALIDADE SUBORDINAÇÂO 7º Batalhão de Engenharia de Construção Rio Branco – AC 2º Gpt E Comando de Fronteira Acre e 4º Batalhão de Infantaria de Selva Rio Branco - AC 17ª Bda Inf Sl Cruzeiro do Sul - AC 17ª Bda Inf Sl 3ª Companhia do 54º Batalhão de Infantaria de Selva Porto Velho – RO 17ª Bda Inf Sl 5º Batalhão de Engenharia de Construção Porto Velho – RO 2º Gpt E 17º Pelotão de Comunicações de Selva Porto Velho – RO 17ª Bda Inf Sl 17ª Base Logística Porto Velho – RO 17ª Bda Inf Sl 17º Pelotão de Polícia do Exército Porto Velho – RO 17ª Bda Inf Sl 31ª Circunscrição de Serviço Militar Porto Velho – RO 12ª RM Companhia de Comando da 17ª Brigada de Infantaria de Selva Porto Velho – RO 17ª Bda Inf Sl Comando de Fronteira Rondônia e 6º Batalhão de Infantaria de Selva Guajará-Mirim - RO 17ª Bda Inf Sl Porto Velho – RO 12ª RM 1º Batalhão de Infantaria de Selva Manaus - AM 1ª Bda Inf Sl 1º Batalhão de Comunicações de Selva Manaus - AM 1ª Bda Inf Sl 2º Pelotão de Comunicações de Selva São Gabriel da Cachoeira - AM 2ª Bda Inf Sl 3º Batalhão de Infantaria de Selva Barcelos - AM 2ª Bda Inf Sl 3ª Companhia de Forças Especiais Manaus - AM Cmdo Op Esp 4º Batalhão de Aviação do Exército Manaus - AM Cmdo Av Ex 4ª Divisão de Levantamento Manaus - AM 12ª RM 4ª Companhia de Inteligência Manaus - AM CMA 4º Centro de Telemática de Área Manaus - AM 12ª RM 7º Batalhão de Polícia do Exército Manaus - AM CMA 12º Batalhão de Suprimento Manaus - AM 12ª RM 12ª Companhia de Guardas Manaus - AM CMA 12ª Inspetoria de Contabilidade e Finanças do Exército Manaus - AM 12ª RM 16ª Base Logística Tefé - AM 16ª Bda Inf Sl 16º Pelotão de Comunicações de Selva Tefé - AM 16ª Bda Inf Sl 17º Batalhão de Infantaria de Selva Tefé - AM 16ª Bda Inf Sl 61º Batalhão de Infantaria de Selva Hospital de Guarnição de Porto Velho 55 21ª Companhia Construção de Engenharia de São Gabriel da Cachoeira – AM 2º Gpt E São Gabriel da Cachoeira - AM 2ª Bda Inf Sl Manaus - AM 12ª RM Tefé - AM 16ª Bda Inf Sl 54º Batalhão de Infantaria de Selva Humaitá - AM 17ª Bda Inf Sl Centro de Instrução de Guerra na Selva Manaus - AM CMA/DETMil6 Centro de Embarcações do Comando Militar da Amazônia Manaus - AM 12ª RM Colégio Militar de Manaus Manaus - AM DEPA Comando de Fronteira Rio Negro e 5º Batalhão de Infantaria de Selva São Gabriel da Cachoeira - AM 2ª Bda Inf Sl Comando de Fronteira - Solimões e 8º Batalhão de Infantaria de Selva Tabatinga - AM 16ª Bda Inf Sl Comissão Regional de Obras da 12ª Região Militar Manaus - AM 12ª RM Companhia de Comando do Comando Militar da Amazônia Manaus - AM CMA Companhia de Comando do 2º Grupamento de Engenharia Manaus - AM 2º Gpt E Companhia de Comando da 2ª Brigada de Infantaria de Selva São Gabriel da Cachoeira - AM 2ª Bda Inf Sl Companhia de Comando da 12ª Região Militar Manaus - AM 12ª RM Companhia de Comando da 16ª Brigada de Infantaria de Selva Cia Cmdo Tefé - AM 16ª Bda Inf Sl Hospital Militar de Área de Manaus Manaus - AM 12ª RM Hospital de Guarnição de Tabatinga Tabatinga - AM 12ª RM Hospital de Guarnição de São Gabriel da Cachoeira São Gabriel da Cachoeira - AM 12ª RM Parque Regional de Manutenção da 12ª Região Militar Manaus - AM 12ª RM 1ª Base Logística Boa Vista - RR 1ª Bda Inf Sl 1º Pelotão de Comunicações de Selva Boa Vista - RR 1ª Bda Inf Sl 6º Batalhão de Engenharia de Construção Boa Vista - RR 2º Gpt E 10º Grupo de Artilharia de Campanha de Selva Boa Vista - RR 1ª Bda Inf Sl 12º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado Boa Vista - RR 1ª Bda Inf Sl 22º Pelotão de Polícia do Exército 29ª Circunscrição de Serviço Militar 34º Pelotão de Polícia do Exército 6 Diretoria de Educação Técnica Militar (DETMil). 56 32º Pelotão de Polícia do Exército Boa Vista - RR 1ª Bda Inf Sl Comando de Fronteira Roraima e 7º Batalhão de Infantaria de Selva Boa Vista - RR 1ª Bda Inf Sl Companhia de Comando da 1ª Brigada de Infantaria de Selva Boa Vista - RR 1ª Bda Inf Sl 1º Grupo de Artilharia de Campanha de Selva Marabá - PA 23ª Bda Inf Sl 2º Batalhão de Infantaria de Selva Belém - PA 8ª RM/8ª DE 5ª Companhia de Guardas Belém - PA 8ª RM/8ª DE Santarém - PA 2º Gpt E 8º Depósito de Suprimento Belém - PA 8ª RM/8ª DE 8ª Inspetoria de Contabilidade e Finanças do Exército Belém - PA 8ª RM/8ª DE 23º Batalhão Logístico de Selva Marabá - PA 23ª Bda Inf Sl 23ª Companhia de Comunicações de Selva Marabá - PA 23ª Bda Inf Sl 23º Esquadrão de Cavalaria de Selva Tucuruí - PA 23ª Bda Inf Sl 28ª Circunscrição de Serviço Militar Belém - PA 8ª RM/8ª DE 33º Pelotão de Polícia do Exército Marabá - PA 23ª Bda Inf Sl 41º Centro de Telemática Belém - PA 8ª RM/8ª DE 51º Batalhão de Infantaria de Selva Altamira - PA 23ª Bda Inf Sl 52º Batalhão de Infantaria de Selva Marabá - PA 23ª Bda Inf Sl 53º Batalhão de Infantaria de Selva Itaituba - PA 23ª Bda Inf Sl Companhia de Comando da 8ª Região Militar e 8ª Divisão de Exército Belém - PA 8ª RM/8ª DE Companhia de Comando da 23ª Brigada de Infantaria de Selva Marabá - PA 23ª Bda Inf Sl Comissão Regional de Obras da 8ª Região Militar Belém - PA 8ª RM/8ª DE Hospital Geral de Belém Belém - PA 8ª RM/8ª DE Hospital de Guarnição de Marabá Marabá - PA 8ª RM/8ª DE Parque Regional de Manutenção da 8ª Região Militar Belém - PA 8ª RM/8ª DE Macapá - AM 8ª RM/8ª DE Imperatriz - MA 23ª Bda Inf Sl 8º Batalhão de Engenharia de Construção Comando de Fronteira Amapá Batalhão de Infantaria de Selva 50º Batalhão de Infantaria de Selva e 34º Tabela 1: Organizações Militares na Amazônia. Fonte: EB, 2013. 57 Figura 9: Organizações Militares na Amazônia. Fonte: MARQUES, 2007. Segundo Bento (2003), os Tiros de Guerra (TG) em funcionamento nos diversos estados da Amazônia, possibilitam a mobilização de recursos humanos em áreas estratégicas na região. TIRO DE GUERRA LOCALIDADE TG/08/001 Cametá - PA TG/08/002 Bragança - PA TG/08/003 Abaetetuba - PA TG/08/004 Breves - PA TG/08/005 Castanhal - PA TG/12/001 Colorado Oeste - RO TG/12/002 Manicoré - AM TG/12/003 Maués - AM TG/12/004 Eirunepé - AM TG/12/005 Boca do Acre - AM TG/12/006 Lábrea - AM TG/12/008 Vilhena - RO 58 TG/12/009 Pimenta Bueno - RO TG/12/010 Urucurituba - AM TG/12/011 Xapuri - AC TG/12/012 Tarauacá - AC TG/12/013 Mucajaí - RR TG/12/014 Carauari - AM TG/12/015 Novo Aripuanã - AM TG/12/016 São João da Baliza - RR Tabela 2: Tiros de Guerra na Amazônia. Fonte: EB, 2013. Cabe destacar que existem quatro Forças de Ação Rápida para serem empregadas na Amazônia (OM em condições de emprego imediato, possibilitando uma pronta resposta com oportunidade em caso de necessidade): 1º Batalhão de Infantaria de Selva (Manaus – AM); 52º Batalhão de Infantaria de Selva (Marabá PA); 4º Esquadrão de Aviação do Exército (Manaus – AM) e 3ª Companhia de Forças Especiais (Manaus – AM). O efetivo do Exército na Amazônia cresceu paulatinamente no século passado, sendo que, a partir da década de 1980, houve um aumento significativo, em face da transferência de inúmeras OM. ANO EFETIVO 1950 1.000 militares 1986 6.000 militares 2004 22.000 militares 2008 25.000 militares 2009 26.500 militares 2030 (previsão) 48.000 militares Tabela 3: Efetivos Militares na Amazônia a partir de 1950. Fonte: Nelson, 2008 e CComSEx, 2008. Conclui-se parcialmente que o EB tem buscado atender as demandas voltadas para a defesa da soberania na Amazônia, por meio de projetos que incluem o aumento de efetivo e a articulação adequada de suas OM para melhor dissuadir os interesses externos sobre a região amazônica. 59 4.2 REFLEXOS DA PND, END E PROFORÇA Com a criação do Ministério da Defesa em 1999, foi estabelecida a Política de Defesa Nacional, tratando sobre segurança e defesa do País, além da implementação da Estratégia Nacional de Defesa, que tiveram grande reflexo para a articulação do EB na região amazônica. Elaborado em 2010, o PROFORÇA 2010 foi resultado direto da Política de Defesa Nacional (2005) e da Estratégia Nacional de Defesa (2008). Mesmo com a atualização e aprovação da recente Política Nacional de Defesa (2012) e Estratégia Nacional de Defesa (2012), o PROFORÇA 2010 continua em vigor, pois atende as atualizações realizadas no ano de 2012. A atual PND 2012 é o documento de mais alto nível de planejamento de segurança e defesa do País. Define orientações e objetivos para o preparo e emprego das Forças Armadas para as possíveis ameaças externas, bem como para a contribuição para o desenvolvimento do Brasil. Em alguns pontos, a PND 2012 estabelece algumas observações voltadas para Amazônia. A Amazônia brasileira, com seu grande potencial de riquezas minerais e de biodiversidade, é foco da atenção internacional. A garantia da presença do Estado e a vivificação da faixa de fronteira são dificultadas, entre outros fatores, pela baixa densidade demográfica e pelas longas distâncias. A vivificação das fronteiras, a proteção do meio ambiente e o uso sustentável dos recursos naturais são aspectos essenciais para o desenvolvimento e a integração da região. O adensamento da presença do Estado, e em particular das Forças Armadas, ao longo das nossas fronteiras é condição relevante para o desenvolvimento sustentável da Amazônia (BRASIL, PND, 2012). Para atender a demanda de segurança e defesa, a PND ainda orienta: Para contrapor-se às ameaças à Amazônia, é imprescindível executar uma série de ações estratégicas voltadas para o fortalecimento da presença militar, a efetiva ação do Estado no desenvolvimento sustentável (social, econômico e ambiental) e a ampliação da cooperação com os países vizinhos, visando à defesa das riquezas naturais (BRASIL, PND, 2012). Alinhado com a PND 2012, a END 2012 pretende reorganizar e reorientar o emprego e a composição de efetivos das Forças Armadas, contribuindo para a implementação da PND e a defesa contra possíveis ameaças ou agressões que se apresentem. Estabelece diversas diretrizes voltadas para a região amazônica, dentre as quais se destacam (BRASIL, END, 2012): 60 - Dissuadir a presença de forças hostis nas proximidades da faixa de fronteira, incluindo o adensamento da presença militar e o emprego de ferramentas para monitoramento/controle e mobilidade para atuar nessa região. - Reposicionar os efetivos do EB na região do delta amazônico e nas bacias fluviais do rio Amazonas, agrupando suas reservas regionais nessas respectivas áreas, para atuar de imediato face à situações de crise ou conflito armado, garantindo a soberania do País. - Desenvolver a capacidade logística na Amazônia, por meio de estruturas de transporte. - Estabelecer o potencial estratégico do EB em torno de capacidades, conforme abordado no capítulo anterior. Segundo a END 2012, as Hipóteses de Emprego, em áreas de interesse estratégico, devem ser elaboradas considerando-se a ameaça de penetração nas fronteiras e da ameaça de forças externas com um poder militar superior na Amazônia. Dentre as suas Diretrizes, prevê a prioridade sobre a Amazônia: A Amazônia representa um dos focos de maior interesse para a defesa. A defesa da Amazônia exige avanço de projeto de desenvolvimento sustentável e passa pelo trinômio monitoramento/controle, mobilidade e presença. O Brasil será vigilante na reafirmação incondicional de sua soberania sobre a Amazônia brasileira. Repudiará, pela prática de atos de desenvolvimento e de defesa, qualquer tentativa de tutela sobre as suas decisões a respeito de preservação, de desenvolvimento e de defesa da Amazônia. Não permitirá que organizações ou indivíduos sirvam de instrumentos para interesses estrangeiros – políticos ou econômicos – que queiram enfraquecer a soberania brasileira. Quem cuida da Amazônia brasileira, a serviço da humanidade e de si mesmo, é o Brasil (BRASIL, END, 2012). O PROFORÇA 2010 foi concebido para possibilitar o processo de transformação do EB, permitindo que a F Ter tenha uma configuração estratégica compatível com a estatura do País no Sistema Internacional. Para atingir o seu objetivo, o PROFORÇA 2010 estabeleceu metas para o desenvolvimento de determinadas capacidades militares de interesse da Força, após a elaboração e análise de cenários prospectivos, detalhados no capítulo anterior. O PROFORÇA encontra-se alinhado com a Estratégia Braço Forte (EBF 2009), que tem como objetivos implementar novas articulação e estruturação da F Ter, bem como priorizar projetos voltados para a defesa da Amazônia, como o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON), que se encontra em fase 61 inicial de implantação no Comando Militar do Oeste. O SISFRON possibilitará à F Ter aumentar sua capacidade de monitoramento nas fronteiras da Amazônia e do Centro-Oeste, empregando meios eletrônicos e radares interligados a sistemas militares e civis, a exemplo do SIPAM (BRASIL, EBF, 2009). 4.3 ESTRATÉGIA BRAÇO FORTE A EBF 2009 foi concebida após a END 2008 ter entrado em vigor. O documento prevê ações fundamentadas em três eixos: reorganização das Forças Armadas; reestruturação da Indústria Nacional de Material de Defesa e ampliação e valorização do Serviço Militar Obrigatório (BRASIL, EBF, 2009). A EBF 2009 possui dois Planos (Articulação e Equipamento). O Plano Articulação, atinente à distribuição estratégica das OM no território entre 2011 e 2035, possui dois Programas (Amazônia Protegida e Sentinela da Pátria). Voltado unicamente para a região amazônica, o Programa Amazônia Protegida (PAP) tem como principal objetivo intensificar a presença do Exército em um importante espaço estratégico, além de aumentar o poder de dissuasão ao posicionar estrategicamente tropas articuladas na fronteira e em profundidade, com o intuito de preservar a soberania brasileira sobre o seu território amazônico, tendo a segurança, o desenvolvimento e a preservação ambiental como eixos estruturantes (BRASIL, EBF, 2009). O PAP possui três projetos que se destacam: Pelotões Especiais de Fronteira, o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteira (SISFRON) e Reestruturação das Brigadas de Selva. O primeiro tem como objetivo a implantação de novos PEF no período 20102021, em conformidade com o Decreto nº 6.513, de 22 de julho de 2008, bem como a modernização operacional dos 21 (vinte e um) PEF existentes atualmente. O segundo projeto prevê o aumento da capacidade de reação às ameaças detectadas pelos PEF, por meio do Sistema Integrado de Monitoramento, complementados com meios aéreos e aquáticos (mobilidade). O terceiro projeto prevê a criação de três novas Brigadas de Infantaria de Selva, localizadas em Manaus, Belém e Rio Branco, bem como a criação de Batalhões de Infantaria de Selva em locais estratégicos (CComSEx, 2008). 62 Segundo Nelson (2008), o PAP irá intensificar a vigilância e o monitoramento da faixa de fronteira após a adequação da infraestrutura e modernização dos PEF já existentes nos estados de Roraima (Auaris, Surucucu, Pacaraima, Normandia, Uiramutã e Bonfim), Amazonas (Maturacá, Querari, Yauaretê, Cucuí, PariCachoeira, São Joaquim, Vila Bittencourt, Palmeiras do Javari, Estirão do Equador, Ipiranga), Acre (Santa Rosa do Purus, Assis Brasil, Epitaciolândia, Plácido de Castro) e Rondônia (Forte Príncipe da Beira), bem como após a construção de 28 (vinte e oito) PEF situados em terras indígenas e unidades de conservação da faixa de fronteira nos Estados do Amapá (Vila Brasil, Queriniutu, Jari e Amapari), Pará (Tiriós, Curiaú, Cafuni e Trombetas), Roraima (Entre Rios, Jacamim, Vila Contão, Serra do Sol, Ericó e Uaiacás), Amazonas (Demini, Jurupari, Marauiá, Tunuí, Traíra, Puruê e Bom Jesus), Acre (São Salvador, Marechal Thaumaturgo, Jordão e Iaco) e Rondônia (Surpresa, Rolim de Moura e Pimenteiras do Oeste) (Figura 10). Figura 10: Distribuição dos PEF. Fonte: CComSEx, 2009. 63 5 CONCLUSÃO Desde à época da colonização do Brasil, a expansão e ocupação desse imenso patrimônio nacional pelos portugueses e brasileiros sempre foi pautada pelo uso da expressão militar do seu poder nacional. A Força Terrestre, presente na Amazônia desde os primórdios da formação da nação tem mantido o seu compromisso secular de protegê-la e defendê-la. Entretanto, as potencialidades atuais e futuras da Amazônia continuam despertando a cobiça internacional. Em síntese, as medidas adotadas pelo Brasil para a manutenção da porção do seu território amazônico foram consequências de sucessivas respostas face às iniciativas de diversos Estados estrangeiros (ANEXO E) com interesse em explorar as riquezas existentes na Amazônia. No período colonial destacaram-se as iniciativas por parte dos holandeses, franceses e ingleses que, interessados nos produtos tropicais da região e no controle da foz do rio Amazonas, invadiram e fundaram diversos fortes na calha dos rios da bacia amazônica. No entanto, em todas as oportunidades, os invasores foram expulsos. Tais ações, somadas às expedições de bandeirantes, à presença das missões religiosas e às ações da política do Marquês de Pombal, contribuíram para ampliar as posses e consolidar a soberania sobre a região amazônica. No Brasil Império, para se contrapor aos interesses da Inglaterra, França e Estados Unidos e aumentar a presença militar na região amazônica, foram estabelecidas, em posições estratégicas, inúmeras colônias militares. Em seguida, o ciclo da borracha fez com que aumentasse a importância da Amazônia para as nações industrializadas. No período republicano, o Barão do Rio Branco defendeu o Brasil em questões de interesse do País no campo diplomático, obtendo diversos acordos favoráveis à causa brasileira. Dessa forma, a sua atuação teve importância relevante na consolidação das fronteiras atuais do território nacional. As expedições do Marechal Rondon e a criação dos PEF permitiram a integração, a ocupação e a presença do Estado junto à faixa de fronteira de forma efetiva. Da mesma forma, a partir de 1950, o Governo Federal passou a intervir diretamente na região ao adotar uma política de desenvolvimento e integração, com destaque na construção de infraestrutura (transporte, energia e telecomunicações) e 64 de projetos de desenvolvimento (PND, PDA, SUFRAMA, mineração, extrativismo, agropecuária, entre outros). Essas iniciativas ampliaram a ocupação do território por meio de um intenso movimento de migração interregional. A partir de meados do século XX, verificou-se que inúmeras organizações internacionais, ONG transnacionais e alguns líderes políticos passaram a defender a internacionalização da Amazônia. Seus discursos são baseados, principalmente, no problema ambiental e na causa indígena. O Projeto Calha Norte, implementado a partir de 1985, possibilitou o aumento da presença do Estado brasileiro, por meio dos PEF, junto à fronteira do Brasil com inúmeros países vizinhos, e ampliou capacidade de vigilância e do controle das fronteiras. Na década de 1990, com a intenção de dissuadir os interesses externos, o Governo Federal criou o SIPAM, para proteger e promover o desenvolvimento sustentável, e propôs a implementação do CDS-UNASUL. Também tem realizados Operações Conjuntas nas faixas de fronteira da região amazônica. Dentre as Operações Conjuntas realizadas sob a orientação do Ministério da Defesa, junto à faixa de fronteira amazônica, com o objetivo de combater delitos transfronteiriços e ambientais, bem como dissuadir interesses estrangeiros nessa região, destacam-se as operações realizadas em 2011 (Operações Ágata 1 e 3), 2012 (Operações Ágata 4 e 6), 2013 (Operação Ágata 7) e 2014 (Operação Ágata 8). Atualmente, para levantar as ameaças futuras sobre a Amazônia e desenvolver as capacidades para neutralizar tais ameaças, o Exército Brasileiro tem elaborado cenários prospectivos. No Cenário Alvo para 2030, vislumbra-se que irá permanecer o interesse internacional sobre a Amazônia brasileira. Com a criação do Ministério da Defesa, foram publicados a PND 2012 e a END 2012, que possuem as diretrizes voltadas para a defesa da Amazônia, bem como para o uso seguro de suas riquezas pelo Brasil, sem ser ameaçado por outras nações. A PND 2012 ressalta que, para contrapor-se às ameaças à Amazônia, é imprescindível executar uma série de ações estratégicas voltadas para o fortalecimento da presença militar na região. Dessa forma, o Brasil poderá, por meio 65 da dissuasão de suas Forças Armadas, inibir os interesses internacionais sobre a Amazônia brasileira. A END 2012 destaca a estratégia da presença, em especial na região amazônica, em face dos obstáculos à mobilidade e à concentração de forças. Destaca também que as unidades militares situadas nas fronteiras funcionarão como destacamentos avançados de vigilância e de dissuasão. A Amazônia atualmente é a prioridade principal para o EB. Estando alinhado com a PND 2012 e com a END 2012, o Exército vem implementando os planos da EBF 2009, assentadas em um realístico planejamento de defesa, coerente com a estatura política, econômica e geoestratégica projetada para o País até o ano de 2030, para se capacitar faces às ameaças para a região. O Plano de Articulação do Exército Brasileiro, um dos planos que integram a EBF 2009, prevê ações que visam fortalecer a presença militar nos CMA e CMN por meio de um estratégico posicionamento de tropas articuladas na fronteira e em profundidade, constantes do PAP. O PAP visa estabelecer uma estrutura de defesa para a Amazônia, compatível com o projeto político brasileiro, por meio da modernização das instalações militares existentes e do monitoramento da fronteira. O PAP auxiliará o esforço de potencializar as estratégias da Presença e da Dissuasão. A dinâmica da reestruturação das OM na região amazônica é de fundamental relevância para a Defesa Nacional, a fim de coibir o interesse internacional nessa importante área estratégica brasileira. Por fim, cabe ressaltar que a ocupação militar da região amazônica vem ocorrendo desde o século XVI. O principal objetivo sempre foi realizar a manutenção do território e impedir as ofensivas estrangeiras que estavam interessadas em explorar economicamente a região. O Exército Brasileiro, presente na Amazônia quando da formação da Nação, tem mantido o seu compromisso secular de proteger e defender a soberania brasileira sobre essa importante região estratégica para o Brasil. ______________________________________ ALEXANDRE RABELO DA FONSECA - TC Inf 66 REFERÊNCIAS ARAUJO, Jorge, A. G. de. Introdução às obras do Barão do Rio Branco. Fundação Alexandre de Gusmão. Brasília, 2012. Disponível em: <http://www.funag.gov.br/biblio teca/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=42&Itemid=41&limitstart=3 0>. Acesso em 03 jul 2013. BARRIONUEVO, Alexei. Whose Rain Forest Is This, Anyway?. The New York Times. Rio de Janeiro, 18 maio 2008. Disponível em: <http://www.nytimes.com/2008/ 05/18/weekinreview/18barrionuevo.html?_r=0>. Acesso em 21 jul 2013. BENTO, Cláudio Moreira. Amazônia brasileira - conquista, consolidação e manutenção (História Militar Terrestre da Amazônia de 1616 a 2003). Academia de História Militar Terrestre do Brasil. Porto Alegre, 2003. Disponível em: <http://www.ahimtb.org.br/LIVRO_AMAZONIA.htm#1parte>. Acesso em 06 jul 2013. BETTATI, Mario. O direito de ingerência: mutação da ordem internacional. Lisboa: Instituto Piaget, 1996. BEZERRA NETO, José Maia. A conquista portuguesa da Amazônia. In: ALVES FILHO, Armando et al. Pontos de história da Amazônia. 2ª ed. Belém: Produção Independente, 1999. Disponível em: <http://www.ufpa.br/bc/Portal/TP/IFCH/Historia. Htm>. Acesso em 19 jul 2013. BRASIL. Câmara restringe posse de terra na Amazônia por estrangeiros. Câmara Notícias, DF, 13 out 2009. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/cama ranoticias/noticias/NAO-INFORMADO/141373-CAMARA-RESTRINGE-POSSE-DETERRA-NA-AMAZONIA-POR-ESTRANGEIROS-.html>. Acesso em 14 jun 2013. BRASIL. Estratégia Nacional de Defesa. 2012 Disponível <http://www.sae.gov.br/site/wp-content/uploads/Estrat%C3%A9gia-Nacional-deDefesa.pdf>. Acesso em 04 mar 2013. em: 67 BRASIL. Livro Branco de Defesa Nacional. 2012 Disponível em: <https://www.defesa.gov .br/arquivos/2012/mes07/lbdn.pdf>. Acesso em 04 mar 2013. BRASIL. Política Nacional de Defesa. 2012 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/>. Acesso em: 04 mar 2013. BRITO, Sérgio de Salvo. Desafio Amazônico: O Futuro da Civilização dos Trópicos. Editora Universidade de Brasília: CNPq. Brasília, 1990. CASTRO, Flávio Mendes de Oliveira. O Brasil e sua soberania sobre a Amazônia. UnB, Brasília,1992. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/militaresamazonia/txt_FlavioMendes.pdf>. Acesso em 26 jun 2013. Centro de Comunicação Social do Exército (CComSEx). Comando Militar de Área – Comando Militar da Amazônia. Revista Verde Oliva, nº 200. Brasília, 2009. Centro de Comunicação Social do Exército (CComSEx). Estratégia Braço Forte. Revista Verde Oliva, nº 203. Brasília, 2009. Centro de Comunicação Social do Exército (CComSEx). Plano Amazônia Protegida. Revista Verde Oliva, nº 199. Brasília, 2008. Comando da 8ª Região Militar/8ª Divisão de Exército (8ª RM/8ª DE). Histórico. Disponível em: http://www.8rm8de.eb.mil.br/conteudo.php?tipo=cmdo&id=10 Acesso em 14 jan 2014. DANTAS, Márcio. A Construção do território e a formação do povo brasileiro, 2012. Disponível em: < http://professormarcianodantas.blogspot.com.br/2012/09/aconstrucao-do-territorio-e-formacao.html> Acesso em 05 jul 2013. DONATO, Hernani. Dicionário das batalhas Brasileiras. 2ª Ed, São Paulo, 1996. Disponível em: <http://books.google.com.br/books?id=xeyuqtq3ImUC&pg=PA351& 68 lpg=PA351&dq=Jo%C3%A3o+Moniz+de+Mendon%C3%A7a+Macap%C3%A1&sour ce=bl&ots=HcXXflT5eR&sig=QY7gzi1HEH2yWElZDEov9nFvHSI&hl=pt-PT&sa=X&ei =Z2IPUvH0IMaayQGh0ICIAQ&ved=0CDAQ6AEwAQ#v=onepage&q=Jo%C3%A3o %20Moniz%20de%20Mendon%C3%A7a%20Macap%C3%A1&f=false>. Acesso em 02 jul 2013. EFE, Agência. Rei da Noruega passa quatro dias em aldeia yanomami na Amazônia. G1 Mundo, 2013. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/ 2013/05/rei-da-noruega-passa-4-dias-em-aldeia-yanomami-na-amazonia.html>. cesso em: 10 ago 2013. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). Unidades de Conservação 2013. e Terras Indígenas, Disponível em: <http://www.cnpm.embrapa.br/>. Acesso em 03 ago 2013. Estado-Maior do Exército (EME). Cenário Alvo. Cenários Prospectivos EB 2030. Brasília, 2010. Disponível em: <http://www.eme.eb.mil.br/ceeex/cenarios- prospectivos-do-eb>. Acesso em 21 ago 2013. Estado-Maior do Exército (EME). Cenário Ideal. Cenários Prospectivos EB 2030. Brasília, 2010. Disponível em: <http://www.eme.eb.mil.br/ceeex/cenarios- prospectivos-do-eb>. Acesso em 21 ago 2013. Estado-Maior do Exército (EME). Cenário mais Provável. Cenários Prospectivos EB 2030. Brasília, 2010. Disponível em:< http://www.eme.eb.mil.br/ceeex/cenariosprospectivos-do-eb>. Acesso em 21 ago 2013. Estado-Maior do Exército (EME). Descrição do Cenário Alvo. Cenários Prospectivos EB 2030. Brasília, 2011. Disponível em: <http://www.eme.eb.mil.br/ceeex/cenarios-prospectivos-do-eb>. Acesso em 21 ago 2013. 69 Estado-Maior do Exército (EME). História do Exército Brasileiro. vol 1. Brasília, 1972. Estado-Maior do Exército (EME). Lista de Eventos. Cenários Prospectivos EB 2030. Brasília, 2013. Disponível em: <http://www.eme.eb.mil.br/ceeex/cenarios- prospectivos-do-eb>. Acesso em 21 ago 2013. Estado-Maior do Exército (EME). O Processo de Transformação do Exército. 3ª Ed. Brasília, 2010. Exército Brasileiro (EB). Quartéis por Estado. Brasília, 2013. Disponível em: http://www.eb.mil.br/quarteis. Acesso em 22 ago 2013. Exército Brasileiro (EB). Patronos. Brasília, 2013. Disponível em: http://www.eb.mil.br/web/guest/rondon-comunicacoes. Acesso em 22 ago 2013. FREIRE, Laura Maria Corrêa de Sá. Região Amazônica: Novas Ameaças e Possíveis Respostas. Revista da Escola Superior de Guerra – Edição Monográfica. Rio de Janeiro, 2004. Disponível em: <http://www.esg.br/uploads/2010/06/revista_44 _2004.pdf>. Acesso em 04 ago 2013. GADELHA, Regina Maria A. Fonseca. Conquista e ocupação da Amazônia: a fronteira Norte do Brasil. Estudos Avançados, vol.16, n° 45, São Paulo, 2002. HAMILTON, Alisha E. Defending the Amazon: conservation, development and security in Brazil. Naval Postgraduate School. California, USA, 2009. Disponível em: <http://www.dtic.mil/cgi-bin/GetTRDoc?AD=ADA496935>. Acesso em 02 ago 2013. HOWDEN, Daniel. I give up, says Brazilian minister who fought to save the rainforest. The Independent. England, 15 maio 2008. Disponível em: <http://www.independent.co.uk/environment/climate-change/i-give-up-says-brazilianminister-who-fought-to-save-the-rainforest-828310.html>. Acesso em 22 jul 2013. 70 LOURENÇÃO, Humberto José. Forças Armadas e a Amazônia. Campinas: Unicamp, 2007. MAGNOLI, Demétrio. O corpo da Pátria: imaginação geográfica e política externa do Brasil. Editora da Unesp – Editora Moderna, São Paulo,1997. MARQUES, Adriana Aparecida. Amazônia: pensamento e presença militar. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. MARQUES, Adriana Aparecida. Perspectivas dos Países Amazônicos sobre a Amazônia. In Prospectiva, Estratégias e Cenários Globais - Visões de Atlântico sul, África lusófona, América do Sul e Amazônia. Ciclo de Debates. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Brasília, 2011. MEIRA MATTOS, Carlos de. A Tese da Internacionalização da Amazônia. In O General Meira Mattos e a Escola Superior de Guerra. Escola Superior de Guerra. Rio de Janeiro, 2007. MEIRA MATTOS, Carlos de. Uma Geopolítica Pan-Amazônica. Biblioteca do Exército. Rio de Janeiro, 1980. MONTEIRO, Maurílio de Abreu. A ICOMI no Amapá: meio século de exploração mineral. Novos Cadernos NAEA. v. 6, n. 2, p. 113 -168, dez. 2003. Disponível em: <http://www.periodicos.ufpa.br/index.php/ncn/article/viewFile/90/141>. Acesso em 22 jul 2013. NELSON, Jobim. Apresentação do Ministro de Estado da Defesa à Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional - Subcomissão Permanente da Amazônia. Brasília, 2008. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/comissoes/cre /ap/AP20081118_CrepaAudPub96a.pdf>. Acesso em 29 out 2013. NITSCH, Manfred. O futuro da Amazônia: questões críticas, cenários críticos. São Paulo, 2002. 71 OKADO, Giovanni Hideki Chinaglia. A Divina Comédia internacional e o lugar estratégico do Brasil no século XXI. In 6º seminário do Livro Branco de Defesa Nacional do Ministério da Defesa. Brasília, 2011. Disponível em: <http://www.defesa.gov.br/projetosweb/livrobranco/arquivos/apresentacao-trabalhos /artigo-giovanni-okado.pdf>. Acesso em 20 ago 2013. PAIVA, Luiz Eduardo Rocha. Principais Áreas de Fricção no Mundo Atual: Reflexos para a Defesa Nacional. In Prospectiva, Estratégias e Cenários Globais Visões de Atlântico sul, África lusófona, América do Sul e Amazônia. Ciclo de Debates. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Brasília, 2011. Planejamento Estratégico da Justiça Militar da União (PEJMU). Glossário de Planejamento Estratégico. Brasília, 2013. Disponível em: <http://www.planejamentoestrategico.stm.jus.br/planejamento-estrategico/glossario>. Acesso em 20 ago 2013. PREZIA, Benedito & HOORNAERT, Eduardo. Brasil Indígena, 500 Anos de Resistência. São Paulo: FTD, 2000. REIS, Arthur Cézar Ferreira. A Política de Portugal no Vale Amazônico. Belém, 1940. Disponível em: <http://historiadoamazonas.files.wordpress.com/2011/02/apolc3adtica-de-portugal-no-vale-amazc3b4nico.pdf>. Acesso em 17 maio 2013. RESENDE, Maria Efigênia Lage & MORAES, Ana Maria. Atlas Histórico do Brasil. Belo Horizonte: Vigília, 1987 SANTOS, Breno Augusto dos. Recursos minerais da Amazônia. Estudos Avançados, vol 16, nº 45. São Paulo, 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/ scielo.php?pid=S0103-40142002000200009&script=sci_arttext>. Acesso em 15 ago 2013. SOARES, Clemente Baena. Programas e Projetos do Ministério das Relações Exteriores para a Amazônia: possibilidades, limitações e perspectivas. Reflexos para o Desenvolvimento Nacional. Seminário ―Rumo a 2022: desafios 72 estratégicos para a Segurança da Amazônia‖, Manaus, 11 a 15 de agosto de 2010. Disponível em: <http://www.sae.gov.br/seminarioamazonia/wp-content/uploads/2010 /08/artigo_Ministro_Clemente_MRE.pdf>. Acesso em 02 ago 2013. TAVARES, Maria Goretti da Costa. A Amazônia brasileira: formação históricoterritorial e perspectivas para o século XXI. GEOUSP - Espaço e Tempo, Nº 29 Especial, pp. 107 – 121. São Paulo, 2011. Disponível em: <http://citrus.uspnet.usp.br /geousp/ojs-2.2.4/index.php/geousp/article/viewArticle/388>. Acesso em 23 jun 2013. 73 ANEXO A CENÁRIO IDEAL 2030 Nr EVENTO DENOMINAÇÃO IDEAL 1 Reações internacionais ao protagonismo brasileiro. N 2 Fortalecimento da integração da América do Sul. O 3 Incremento das pressões internacionais sobre a Amazônia. N 4 Agravamento da questão ambiental. N 5 Ocorrência de atividades terroristas em território brasileiro. N 6 Agravamento da problemática da segurança pública brasileira. N 7 Desenvolvimento de uma mentalidade de defesa no Brasil. O 8 Fortalecimento da indústria de defesa do Brasil. O 9 Crescimento e segurança de fluxo do orçamento do Exército Brasileiro. O 10 Adequação da infraestrutura crítica às necessidades de defesa. O 11 Aumento do interesse estratégicas do Brasil. N 12 Aumento da influência de atores não governamentais. N 13 Agravamento das tensões sociais. N 14 Ocorrência de ataques cibernéticos em território brasileiro. 15 Aumento dos investimentos em ciência e tecnologia. internacional Legenda: O = Ocorre; N = Não ocorre. Fonte: EME, 2010. sobre áreas N O 74 ANEXO B CENÁRIO MAIS PROVÁVEL 2030 Nr EVENTO MAIS PROV DENOMINAÇÃO 1 Reações internacionais ao protagonismo brasileiro. O 2 Fortalecimento da integração da América do Sul. O 3 Incremento das pressões internacionais sobre a Amazônia. O 4 Agravamento da questão ambiental. O 5 Ocorrência de atividades terroristas em território brasileiro. N 6 Agravamento da problemática da segurança pública brasileira. O 7 Desenvolvimento de uma mentalidade de defesa no Brasil. O 8 Fortalecimento da indústria de defesa do Brasil. O 9 Crescimento e segurança de fluxo do orçamento do Exército Brasileiro. N 10 Adequação da infraestrutura crítica às necessidades de defesa. N 11 Aumento do interesse estratégicas do Brasil. O 12 Aumento da influência de atores não governamentais. O 13 Agravamento das tensões sociais. O 14 Ocorrência de ataques cibernéticos em território brasileiro. O 15 Aumento dos investimentos em ciência e tecnologia. O internacional Legenda: PROV = Provável; O = Ocorre; N = Não ocorre. Fonte: EME, 2010. sobre áreas 75 ANEXO C CENÁRIO ALVO 2030 Nr EVENTO DENOMINAÇÃO ALVO 1 Reações internacionais ao protagonismo brasileiro. O 2 Fortalecimento da integração da América do Sul. O 3 Incremento das pressões internacionais sobre a Amazônia. O 4 Agravamento da questão ambiental. O 5 Ocorrência de atividades terroristas em território brasileiro. N 6 Agravamento da problemática da segurança pública brasileira. N 7 Desenvolvimento de uma mentalidade de defesa no Brasil. O 8 Fortalecimento da indústria de defesa do Brasil. O 9 Crescimento e segurança de fluxo do orçamento do Exército Brasileiro. N 10 Adequação da infraestrutura crítica às necessidades de defesa. N 11 Aumento do interesse estratégicas do Brasil. O 12 Aumento da influência de atores não governamentais. O 13 Agravamento das tensões sociais. N 14 Ocorrência de ataques cibernéticos em território brasileiro. O 15 Aumento dos investimentos em ciência e tecnologia. O internacional Legenda: O = Ocorre; N = Não ocorre. Fonte: EME, 2010. sobre áreas 76 ANEXO D QUADRO DE EVENTOS FUTUROS 2030 DIRETAMENTE LIGADOS À AMAZÔNIA EVENTO FUTURO CONSIDERAÇÃO SOBRE O EVENTO A necessidade de controle de recursos naturais estratégicos (hidrocarbonetos, água, minérios, biodiversidade, etc), todos existentes Reações no Brasil e, em particular, na Amazônia, aliado ao protagonismo do Brasil internacionais no cenário internacional, poderá favorecer ao surgimento de situações ao protagonismo conflituosas, em face do interesse internacional pelo acesso aos recursos brasileiro supracitados, dificultando a consecução dos objetivos nacionais por parte do país. DIRETRIZ ESTRATÉGICA Aumento do poder de dissuasão e do poder militar Fortalecimento da integração da América do Sul Preservadas as atuais políticas de integração e cooperação por meio da Incrementar a integração regional OTCA e do Conselho de Defesa da UNASUL, para dirimir as tensões para evitar conflitos no entorno latentes entre alguns países limítrofes. estratégico brasileiro Incremento das pressões internacionais sobre a Amazônia Potencias mundiais e ONG atuantes na Amazônia, simulando preocupações com temas importantes da agenda internacional (questões ambientais e indígenas), defendem o dever de ingerência para atender seus interesses sobre os recursos estratégicos, propondo uma gestão compartilhada da Amazônia. Necessidade de alinhamento de ações governamentais nos campos político, psicossocial, econômico e militar. Agravamento da questão ambiental Tema que apresenta aumento de importância no contexto internacional, sendo relacionado às mudanças climáticas de impacto mundial. A exploração incorreta do bioma Amazônia poderá gerar reações internacionais. Necessidade do EB realizar operações contra crimes ambientais, inclusive interagências, na região amazônica Aumento da influência de atores não governamentais Com o discurso na defesa de causas nobres, ONG, empresas Atores não governamentais transnacionais, organizações internacionais passam a ter grande aumentam sua influencia sobre influencia nas decisões do Estado, que na maioria das vezes não reflete o decisões políticas voltadas para a interesse da sociedade brasileira. segurança e defesa do Brasil 77 Aumento do interesse internacional sobre áreas estratégicas do Brasil Agravamento das tensões sociais Os países integrantes do eixo de poder global, a fim de manter o status quo vigente, têm a intenção de garantir regiões importantes para se obter o acesso a recursos estratégicos. O quadro é reflexo da baixa prioridade que o Brasil confere ao setor de defesa. Necessidade da sociedade se envolver nos assuntos de defesa O Estado brasileiro tem dificuldade em se fazer presente na Amazônia. O agravamento das tensões pode Esse aspecto pode agravar a tensões sociais atinentes à questão acarretar a intensificação do indígena na região. emprego do EB Fonte: EME, 2013. 78 ANEXO E LINHA DO TEMPO DOS INTERESSES ESTRANGEIROS (EVENTOS EXTERNOS) E DAS AÇÕES DE DEFESA DA SOBERANIA SOBRE A AMAZÔNIA (EVENTOS INTERNOS) EVENTOS EXTERNOS Tratado de Tordesilhas (Amazônia Espanhola) DATA EVENTOS INTERNOS 1494 - 1540 Expedições espanholas na calha do rio Amazonas - - 1561 Invasões inglesas nos rios 1544 Amazonas, Oiapoque, Essequibo e - Maracapu; e na cidade de Macapá 1632 Invasão holandesa no rio Xingu 1599 - 1605 Holandeses constroem o Forte de Mariocay em Gurupá Invasões francesas no Maranhão e construção do Forte de São Luís Expulsão dos ingleses após invasões inglesas do território Expulsão dos holandeses do rio Xingu 1610 - 1612 Expulsão dos franceses do - 1615 Maranhão Construção do Forte do Presépio Embarcação holandesa afundada - 1617 nas proximidades de Belém por Pedro Teixeira 79 Destruição de fortificações inglesas - 1623 e francesas na calha do rio Amazonas Construção do Forte de Gurupá pelos holandeses - 1625 1626 1627 Destruição do Forte de Mariocay holandês Destruição de Fortes ingleses e holandeses por Pedro Teixeira Conquista do Forte inglês de - 1629 Torrego por Pedro Teixeira e Pedro Favela - 1631 - 1632 - 1636 - 1639 Portugueses conquistam os Fortes ingleses Phillippe e de Cumaú Derrota da frota comandada por Robert North por Pedro Teixeira Construção do Forte de Desterro Navio holandês afundando enquanto desembarcava tropas Fortes holandeses próximos à - 1648 Macapá destruídos pelos portugueses comandados por Sebastião Lucena - 1660 - 1665 - 1669 Construção do Forte de Araguari Construção do Forte de São Pedro Nolasco Construção do Forte de São José do Rio Negro 80 - 1685 - 1686 - 1688 Construção do Forte de Nossa Senhora das Mercês Construção do Forte Santo Antônio e São José de Macapá Construção do Forte do rio Baboute 1691 - - Portugueses derrotam espanhóis nas proximidades da atual Tefé 1697 - 1694 - 1695 Construção do Forte de Cumaú Construção do Forte do Paru Almeirim Expulsão dos franceses de Macapá Invasão francesa na margem norte do rio Amazonas, na atual Macapá 1697 Construção do Forte de Santarém dos Tapajós - 1698 Construção do Forte de Pauxis de Óbidos 1735 - - Presença de cientista e naturalistas estrangeiros na Amazônia 1890 - 1738 Construção da bateria da ilha de Periquitos Construção do Forte do Guamã Assinatura do Tratado de Madri - 1750 entre Portugal e Espanha Medidas de consolidação da conquista da Amazônia pelo Marquês de Pombal 81 - 1755 - 1759 - 1761 - 1762 - 1765 - 1769 - 1770 - 1771 - 1773 - 1776 - 1780 - 1797 - 1802 Ingleses ocupam a região do Pirara 1835 - 1840 - 1842 Construção da bateria de Barcelos Construção da Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição Construção do Forte de Curiaú Construção do Forte de São José das Marabitanas Construção do Forte de Macapá Construção dos Fortes de Bragança e Príncipe da Beira Construção do Forte São Francisco Xavier de Tabatinga Construção do reduto de São José Construção da bateria de Santo Antonio Construção do Forte de São Joaquim do Rio Branco Construção do Forte Nossa Senhora de Nazareth e bateria Val de Cans Construção do Forte da Cachoeira de Itaboca Construção das baterias da ilha de Bragança Implantação da colônia militar D. Pedro II no rio Araguari Contingentes brasileiros expulsam os Ingleses da região do Pirara 82 - 1849 - 1850 Estados Unidos exploram o rio 1851 Amazonas (entre o delta e a - localidade de Iquitos) Implantação da colônia militar Santa Tereza do Tocantins Implantação da colônia militar de São José do Araguaia - 1852 - 1853 - 1854 Implantação da colônia militar de São Pedro de Alcântara do Gurupi Implantação das colônias militares de rio Branco e Óbidos Por pressão norte-americana foi aprovada, em 1866, a livre 1866 - navegação do rio Amazonas Bolívia arrenda o Acre ao grupo norte-americano Bolivian Syndicate 1867 1901 Implantação da colônia militar de Tabatinga Inicio da Revolução Acreana, no - 1902 qual brasileiros derrotam tropas bolivianas - O norte-americano Henry Ford funda Fordlândia na Amazônia 1900 O Barão do Rio Branco define os - limites de fronteira com França, 1906 Bolívia, Peru, Inglaterra, Holanda 1921 1928 Início da implantação dos PEF, sendo o primeiro em Cucuí - 83 UNESCO aprovou a criação do Instituto Internacional da Hiléia 1947 - Amazônica - 1948 - 1952 - 1956 Criação do Comando de Elementos de Fronteira (Belém – PA) Criação do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) Criação do Comando Militar da Amazônia / 8ª RM (Belém – PA) Pensador militar norte-americano Helman Kanh sugeriu a promoção de investimentos na Amazônia 1960 - para incremento da exploração de atividades econômicas na região Organizações Internacionais e entidades cristãs de países desenvolvidos se posicionam a favor da internacionalização da Anos 1960 - Amazônia O presidente Castelo Branco - 1965 anuncia a Operação Amazônia para integrar a Amazônia ao País Tentativa de implantar o Projeto Jari por parte do norte-americano 1967 Implantação da SUFRAMA 1968 Criação a SUDAM Daniel Ludwig - Transferência do Comando Militar da Amazônia para Manaus – AM - 1969 Criação da 12ª Região Militar (Manaus – AM) 84 Criação do 2º Grupamento de - 1970 Engenharia de Construção em Manaus - AM - 1972 Os Governos Militares instituem os - PND para desenvolvimento e 1979 integração da região amazônica - 1976 - 1978 Criação da 23ª Brigada de Infantaria de Selva em Marabá - PA O Brasil assina com os demais países amazônicos o TCA Transferência da 17ª Brigada de - 1980 Infantaria de Selva para Porto Velho – RO Aumento da presença de ONG na região Amazônia Anos Aumento das críticas ao Governo 1980 - brasileiro acerca de temas indígenas e ambientais Anos Lideres de países desenvolvidos posicionam-se a favor da internacionalização da Amazônia 1980 - - 2006 Implementação do Programa Calha - 1985 Norte que permite o aumento da presença do Estado na fronteira amazônica - 1986 Aumento do efetivo na Amazônia, totalizando 6.000 militares 85 Pressões do movimento ambientalista internacional em relação à política adotada para a 1988 Amazônia após o assassinato de O Governo brasileiro modifica sua política para a Amazônia Chico Mendes A 8ª Região Militar recebe a denominação de Comando Militar do Norte e 8ª Região Militar, Na ECO-92 o Brasil sofre críticas direcionadas ao desmatamento da 1992 floresta amazônica perdurando até 03 de abril de 1995, Transferência da 1ª Brigada de Infantaria de Selva para Boa Vista RR EUA realiza exercício militar na Guiana, próximo a fronteira com o 1993 Brasil - 1995 Transferência da 16ª Brigada de Infantaria de Selva para Tefé - AM Governo brasileiro implementa o SIVAM/SIPAM Os EUA acordaram com a Colômbia a implementação do 2002 - Plano Colômbia Criação do CDS-UNASUL Transferência da 2ª Brigada de - 2004 Infantaria de Selva para São Gabriel da Cachoeira – AM Aumento do efetivo na Amazônia, totalizando 22.000 militares Mídia internacional publicou matérias criticando a política brasileira em relação à Amazônia 2008 Aumento do efetivo na Amazônia, totalizando 25.000 militares 86 O EB inicia a implementação da EBF 2009, que inclui o PAP e o - 2009 SISFRON, prevendo a rearticulação na fronteira e em profundidade das OM na Amazônia - 2009 - 2010 Aumento do efetivo na Amazônia, totalizando 26.500 militares O EB lança o PROFORÇA Inicio das Operações coordenadas - 2011 pelo MD (Operações Ágata 1 e 3) englobando a fronteira amazônica Divulgação da PND e END 2012, com diretrizes específicas para a defesa da soberania sobre a Amazônia - 2012 Realização de operações junto à fronteira amazônica sob coordenação do MD (Operações Ágata 4 e 6) Realização de operação junto à fronteira amazônica sob coordenação do MD (Operação 7) Rei da Noruega visita a reserva ianomâmi sem conhecimento do 2013 Governo brasileiro O Comando Militar do Norte foi criado novamente por meio da Portaria nº 142, de 13 de março de 2013 Realização de operação junto à - 2014 fronteira amazônica sob coordenação do MD (Operação Ágata 8) Fonte: Autor, 2014