Cyrano de Bergerac, o enamorado altruísta e valente

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Cyrano de Bergerac, o enamorado altruísta e valente
Cyrano de Bergerac, o enamorado altruísta e valente - Simplicíssimo
Escrito por Mariana Barbosa Ferraz Gominho
Ter, 04 de Agosto de 2009 20:03 - Última atualização Sex, 07 de Agosto de 2009 11:30
RESUMO: Cyrano de Bergerac, obra-prima de Edmond Rostand, foi um sucesso monumental
do final do século 19, encantando a França e o mundo com seus versos românticos e
decididos. Seu legado transformou o espadachim Cyrano em um herói romântico, elevando-o
ao nível de amor mais belo e altruísta possível. Livre de críticas e lugares-comuns, busca
revelar a mais surpreendente história de amor jamais vista na dramaturgia.
PALAVRAS-CHAVE: Cyrano, amor, estética, versos.
Cyrano de Bergerac, uma comédia heróica composta por cinco atos, foi encomendada pelo
grande ator francês Constant Coquelin (1841-1909) ao dramaturgo Edmond Rostand
(1868-1918). Rostand empenhou seus esforços durante nove meses, de abril de 1896 a janeiro
de 1897, para escrever a peça que revolucionou o teatro francês, mergulhado em uma fase
tediosa e repetitiva. Até a estréia do espetáculo, em 27 de dezembro de 1897, o autor estava
angustiado, temeroso de um fracasso; somente descansou ao final do primeiro ato, aplaudido
com veemência pelo público.
O primeiro ato, uma bela introdução ao enredo da história, passa-se no teatro, repleto de
pessoas ansiosas para assistir à peça de Montfleury. Enquanto Cristiano esperava sua amada
Roxana para indicá-la aos seus amigos, muitos comentavam as destrezas de Cyrano, artista e
espadachim valente, mas grosso e feio. Quando a peça há de começar, Cyrano briga com
Montfleury, a quem lhe havia imposto silêncio. Ao ser caçoado por Valvert, propõe-lhe um
duelo e vence-o com singular astúcia, tempo em que profere uma ousada balada. Torna-se,
então, famoso e respeitado. Em uma conversa com Le Bret, Cyrano confia seu segredo: é
perdidamente apaixonada por sua prima Roxana, mas não tem coragem de declarar-se,
temendo represálias à sua aparência.
De fato, estava certo em manter-se às sombras: no ato seguinte, Roxana pergunta-lhe por
Cristiano, o belo rapaz que a admirava e mexia com seus sentimentos. Cyrano promete
protegê-lo e tornar-se seu amigo, e assim o faz: mesmo sendo alvo de piadas do jovem, admira
sua coragem e propõe lhe ajudar a conquistar sua prima, escrevendo por ele cartas de amor
em versos admiráveis.
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Escrito por Mariana Barbosa Ferraz Gominho
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O terceiro ato é o mais movimentado, pois condensa em catorze cenas desde o encantamento
inicial de Roxana com as cartas de Cristiano ao casamento dos dois. Entre esses dois fatos,
porém, há uma surpresa: Cristiano declara-se sozinho a Roxana e, apesar de seu sentimento
ser sincero, as palavras simples e as frases curtas provocam o desinteresse da moça. Cyrano,
mais uma vez, intervém com seu dom para arrebatar o coração da prima. Ao terminar a
cerimônia, Cyrano vê-se triste, mas envaidecido: seus dotes artísticos foram suficientes para
fazer sua amada feliz, ainda que por meio de outro alguém. De Guiche, então, chega com a
notícia de que ambos cadetes serão enviados para as trincheiras da guerra, deixando Roxana
aos prantos.
O quarto ato trata do desenrolar da guerra: a fome dos soldados, a expectativa dos ataques e a
saudade de casa. Saudade essa tão profunda que Cyrano passa a escrever a Roxana sem
avisar a Cristiano, avisando-lhe apenas quando ela já se encontra com eles, enlouquecida de
paixão. Ao ver que ela estava se arriscando pelo homem que escrevera aquelas cartas e não
por sua beleza, Cristiano tenta convencer Cyrano a contar a verdade a Roxana, mas Cyrano se
nega. Em um ataque surpresa, os dois são feridos e Cristiano morre.
O último ato, o epílogo, passa-se quinze anos depois, com Cyrano bastante debilitado pelos
ferimentos e aparentemente fora de si, segundo as religiosas que cuidam dele. Roxana o visita
e, ao mostrar-lhe uma das cartas que recebera, nota que Cyrano sabia decorado o conteúdo;
não poderia ler, devido às trevas que o envolviam. Percebe, pois, que fora Cyrano quem
escrevera, recebendo um beijo na fronte como recompensa embora ele morra em seus braços
negando tudo.
Embora seja em Paris onde toda a ação ocorra, não há correlação entre os lugares descritos
na obra e um local exato na cidade real. As descrições do cenário são bastante ricas,
detalhadas, e levam ao leitor a imaginar perfeitamente as cenas, assim como ajuda ao diretor a
organizar a encenação. Os versos da peça são limpos e melódicos, com destaque aos
românticos. Rimas ricas e vocabulário rebuscado não dificultam a leitura, mas embelezam o
texto e deixam-no fluente; não é a toa que seduziu os ouvidos e as mentes da sociedade
parisiense de 1897.
Cyrano mostra-se um homem bastante altruísta, disposto a tudo para fazer sua amada feliz,
ainda que tenha que vê-la com outro homem, conquistada a suas custas. Sente-se lisonjeado
quando, no início do segundo ato, Roxana dedica ao autor das cartas tamanho apreço e
reconhecimento. Tão belo e raro é o seu amor que não ousa revelar a verdade mesmo no leito
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Escrito por Mariana Barbosa Ferraz Gominho
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de morte, sendo Roxana já viúva. È uma obra livre de críticas ou intenções mais profundas que
a beleza do amor em si; nem por isso torna-se menos valiosa.
Cristiano, apesar do desespero para conquistar a jovem e tê-la consigo, revela-se
convincentemente apaixonado ao tentar recusar a ajuda de Cyrano e ao incentivá-lo a contar a
verdade, mesmo sabendo que perderia Roxana. Esta, ao descobrir a verdade, não toma rancor
de nenhum dos dois, pois sabe que ambos foram fiéis a ela, ainda que não tenham sido
totalmente leais.
Uma parte da história serviu como inspiração para a teledramaturgia brasileira: Walcir Carrasco
colocou na novela “O Cravo e a Rosa”, passada no horário das 18h de 26 de junho de 2000 a
10 de março de 2001, os personagens Bianca, Heitor e o professor Edmundo, respectivamente
interpretados por Leandra Leal, Rodrigo Faro e Ângelo Antônio. Na trama global, o professor
apaixona-se pela aluna, mas por não achar-se digno de conquistá-la, escreve cartas em nome
do namorado da moça (Heitor) para agradá-la. Tão logo a jovem descobre, no entanto, briga
com os dois, decepcionada pela por terem mentido tão gravemente.
A questão estética abordada no texto é válida ainda nos tempos de hoje; afinal, o amor é
desencadeado pela beleza ou pela inteligência? Não há quem nunca tenha se atormentado
com essas perguntas, e passado horas a fio na frente do espelho ensaiando um modo de se
aproximar do amado. Em Cyrano de Bergerac, o autor propõe enfrentar esse desafio,
mostrando que, para o coração puro, o conteúdo e o sentimento verdadeiro valem muito mais
que beleza.
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