Educação a Distância e Participação Social: uma Experiência no

Transcrição

Educação a Distância e Participação Social: uma Experiência no
Educação a Distância e Participação Social: uma
Experiência no Campo da Educação Popular no Brasil
Elomar Christina Vieira Castilho Barilli, Carla Moura Lima, Stenio de Freitas Barretto
Alex Bicca Corrêa, Marco Antonio Carneiro Menezes
Coordenação de Educação a Distância, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio
Arouca, Fundação Oswaldo Cruz
[email protected]
Resumo
O presente trabalho se propõe a apresentar a experiência do Programa de
Qualificação em Educação Popular em Saúde - EdPopSUS no que tange ao seu
componente a distância, fruto da parceria entre a Secretaria de Gestão Participativa do
Ministério da Saúde do Brasil, a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca
(Ensp) e a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, estas últimas Unidades da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituição centenária de pesquisa, educação e
prestação de serviços de saúde pública, como caminho para a discussão sobre a
inserção da Educação a Distância (EAD) como modalidade educativa viável para a
Educação Popular em Saúde (EPS). Embora a EPS historicamente se apoie na
presencialidade, o EdPopSUS inaugura o uso de ambientes virtuais como recurso
para a mediação didático-pedagógica e gestão de ensino, frente ao desafio de formar
quase 20 mil agentes de saúde em curto tempo, aliando qualidade e custo. Até o
momento se constitui como a principal ação da Política Nacional de Educação Popular
em Saúde (PNEPS-SUS). Foi desenvolvido por meio de três chamadas de um curso
livre para qualificar as práticas dos Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de
Vigilância em Saúde, profissionais que nasceram e vivem nas comunidades dos mais
de 5 mil municípios brasileiros, com intuito de, problematizando as situações de saúde
de cada território, contribuir para que eles se reconhecessem como educadores
populares que, referenciados nas diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS),
desenvolvem ações de cunho educativo junto as populações. A tecnologia utilizada foi
o Moodle (Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment), por se o sistema
aberto e livre adotado pelas políticas públicas de formação no Brasil. Através dele
foram disponibilizadas a Comunidade Virtual de Aprendizagem (CVA), destinada às
trocas entre alunos e corpo docente e; a Comunidade Virtual de Trabalho (CVT), como
instrumento para a otimização da gestão descentralizada. Os relatórios de avaliação
sobre o seu uso totalizaram 1.030.988 participações distribuídas em visualizações,
envio de atividades, postagens e outras atividades realizadas por docentes, nas três
chamadas do Programa. Na CVA os maiores índices de visualizações foram dos
alunos e, quanto às postagens, os maiores índices foram dos tutores, aqui chamados
de mediadores. Isso ratifica o seu papel do tutor como motivador das discussões, ao
mesmo tempo em que revelam uma certa timidez dos alunos em expressarem-se em
fóruns de discussão. Por outro lado, o número de visualizações e compartilhamento
de produtos de arte e cultura pode representar o seu desejo de participar desta
experiência inovadora no campo da Educação Popular em Saúde, o que revela o
potencial da Educação a Distância como modalidade educativa viável e para o acesso
democrático ao saber organizado que contribua para a formação de cidadãos
emancipados e livres capazes de intervir criticamente na sociedade.
Palavras-chave: Educação a Distância, Participação Social, Agentes Comunitários de
Saúde, Educação Popular em Saúde, Saúde Coletiva.
1
Introdução
A ação social na perspectiva democrática, em consonância com as abordagens
educativas que objetivam o protagonismo das coletividades diretamente envolvidas,
preconizam a participação social a partir da consciência cidadã para a intervenção na
sociedade.
Historicamente as nações mundiais têm buscado convergir investimentos para
os setores de saúde e educação, ora sob bases capitalistas, ora sob marcos
emancipatórios. O Brasil, país continental e multicultural, tem construído sua história
educativa a partir dos pressupostos teóricos de grandes nomes como Anísio Teixeira,
Lourenço Filho, Paulo Freire e tantos outros que desenharam o processo de ensino
brasileiro, levando-o a alcançar, no século XXI, o patamar de política estruturada de
governo e de Estado, com orientação integradora e voltada ao acesso universal da
população. Cita-se como exemplos, para acesso ao ensino superior, o Programa
Universidade para Todos (PROUNI/2005) e o Sistema Universidade Aberta do Brasil
(UAB/2005).
Em conformidade com a educação, a saúde se coloca como direito de
cidadania também assumido por uma política de Estado, que reorganizou todo o
sistema nacional de saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS), que traz como
princípios finalísticos, a Universalidade, Equidade (equilíbrio das oportunidades de
sobrevivência) e Integralidade da atenção à saúde.
Para a consecução destes princípios, o SUS buscou suporte em princípios
estratégicos que são a Descentralização (transferência de poder de decisão sobre a
política de saúde do nível federal para o nível local), a Regionalização (delimitação de
uma base territorial para a organização de ações de saúde), a Hierarquização
(possibilidade de organização das unidades segundo grau de complexidade
tecnológica dos serviços) e a Participação Social, os quais orientam as diretrizes
políticas organizativas e operacionais do sistema de saúde (artigo 196 da Constituição
Federal de 1988). Ao Estado cabe a responsabilidade por promover a saúde, proteger
o cidadão contra os riscos a que ele se expõe e assegurar a assistência em caso de
doença ou outro agravo à saúde (Teixeira, 2011).
A estruturação de políticas públicas voltadas às demandas de saúde das
comunidades, passa por estratégias de educação popular que envolvam os
profissionais da Atenção Básica à Saúde, no sentido de que se entendam como
agentes ativos do cuidado, responsáveis pelas mediações no âmbito da saúde dentro
de uma concepção de Estado.
Este cenário ratifica a interdependência da educação e saúde como caminho
para o aumento da qualidade de vida do povo brasileiro, expresso em práticas
intersetoriais que falem a língua dos sujeitos sociais, convidando-os a
problematizarem sua própria realidade, comprometendo-se com ela.
A Educação Popular em Saúde (EPS) possibilita a aproximação e diálogo entre
o saber popular, o saber médico científico, os profissionais e as instituições de saúde.
A preocupação é priorizar a vocalização das necessidades e dos desejos da
população, assim como a escuta dos profissionais para o acolhimento e o cuidado, na
busca por caminhos possíveis que tenham significado para ambos.
Para Teixeira (2011),
[...] do ponto de vista sócio cultural também existem barreiras,
sendo a principal delas, sem dúvida, a barreira da linguagem, da
comunicação entre os prestadores de serviços e os usuários. Ainda
quando chega aos serviços, grande parte da população não dispõe de
condições educacionais e culturais que facilitem o diálogo com os
profissionais e trabalhadores de saúde, o que se reflete, muitas vezes,
na dificuldade de entendimento e de aprendizado acerca do
2
comportamento que deve adotar para se tornar coadjuvante do processo
de prevenção de riscos e de recuperação da sua saúde. Uma simples
receita médica pode ser um texto ininteligível para grande parte da
população que não sabe ler (p. 4).
Segundo Stotz, David e Un (2005), ao contrário do tecnicismo comumente
encontrado na educação formal, a EPS busca outros caminhos para enfrentar as
dificuldades vividas ao mesmo tempo em que fala a mesma linguagem das
populações desfavorecidas.
Os principais agentes que militam na articulação entre comunidade e o SUS
nos mais de 5 mil municípios brasileiros, são os Agente Comunitários de Saúde (ACS)
e os Agentes de Vigilância em Saúde (AVS). Estes agentes nasceram e vivem na
diferentes comunidades e, por isso, têm acesso mais protegido contra riscos ligados à
violência que hoje assola um número significativo de comunidades brasileiras, como
resultado da má distribuição de renda no pais.
Em outubro do ano de 2011, a Política Nacional de Atenção Básica
(PNAB/2011), destaca que a Atenção Básica à Saúde se dá através de práticas de
cuidado e gestão democráticas e participativas, ratificando, ainda, as atividades
educativas como atribuições destes agentes com vistas a promoção da saúde e
prevenção à doenças.
Em seguida a portaria 2.761/2013 (BRASIL, 2013) institui a Política de
Educação Popular em Saúde (PNEPS-SUS), entre outros pontos propõe uma prática
político-pedagógica para orientar as ações voltadas para a [...] promoção, proteção e
recuperação da saúde, a partir do diálogo entre a diversidade de saberes, valorizando
os saberes populares, a ancestralidade, o incentivo à produção individual e coletiva de
conhecimentos...”.
Diante deste quadro político favorável à aproximação da população e controle
social às questões comunitárias, o desafio recaiu na operacionalização de um
processo educativo calcado nos marcos da Educação Popular em Saúde, capaz de
formar, em curto período de tempo, um grande número de ACS e AVS com qualidade
e a custos aceitáveis.
Neste ponto a Educação a Distância (EAD) se coloca como modalidade
educativa capaz de minimizar as distâncias, contribuindo para solidificar os vínculos
criados presencialmente.
Tanscendendo fatores puramente voltados para cobertura e/ou escala, a
Educação Profissional busca muito mais do que ampliar oportunidades de acesso,
diversificar as formas de apresentação e representação do conhecimento e flexibilizar
os meios e formas de apropriação cognitiva. Busca, sobretudo, viabilizar a reflexão do
aprendiz acerca de suas próprias necessidades e potencialidades, ao
desenvolvimento da consciência crítica sobre os conteúdos necessários ao seu
processo formativo e a orientação no sentido dele ser capaz de decidir sobre quando e
como utilizar os conhecimentos apreendidos, com vistas a intervir eficazmente em seu
contexto de trabalho. A integração de todos esses fatores faz dos processos
educativos a distância uma das alternativas mais promissoras (BARILLI, 2007).
No contexto das políticas nacionais de educação em saúde, a EAD se coloca
como modalidade estratégica face às necessidades de formação, heterogeneidade
dos grupos sociais e dimensões geográficas, haja vista os mais de 80 mil profissionais
inscritos nos cursos a distância da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação
Oswaldo Cruz (www.ead.fiocruz.br) e os mais de 40 mil egressos.
O desafio de inserir técnicas e tecnologias da modalidade a distância em
processos de Educação Popular em Saúde, portanto, é o foco do presente trabalho,
na busca por compartilhar a visão de sua viabilidade como recurso democrático para o
acesso ao saber que contribua para a qualificação da participação social.
3
A Política de Educação Popular em Saúde
A educação tem, em seu processo de construção e amadurecimento histórico,
assumido diferentes contornos resultantes das próprias conformações sociais.
Responsável pela de transmissão da cultura para as diferentes gerações (GADOTTI,
1984), a educação vem desempenhando seu papel mediada pelos projetos sociais em
sua maioria de base capitalista, mas resistindo, aqui e ali, em expressar princípios
mais nobres.
Streck (2006) destaca que a educação não pode se isentar de colaborar para a
geração das realidades sociais [...]. a educação sozinha não transforma o mundo, mas
sem a educação também não haverá transformação (p.273).
No que se refere à da Educação Popular (EP), Groppo e Coutinho (2013, p.20)
referenciam suas origens nos tempos do populismo, destacando sua vinculação aos
movimentos sociais e lutas em prol de direitos.
No Brasil, como pratica sócio-educativa, a EP encontrou nos postulados de
Paulo Freire, um caminho de teorização, ganhando espaço na literatura científica. A
partir da alfabetização de adultos das classes subalternas, Freire desenvolveu um
modelo educacional entendido, sobretudo, como uma forma de compreender e refletir
sobre o mundo, a partir da qual pode-se transformar a realidade dentro de uma ação
consciente (FREIRE, 1987).
Nesta lógica, seu marco pedagógico se empenha pelo respeito à cultura e
especificidades regionais apoiadas pelo vocabulário, costumes e saberes das
populações, tendo como meta sua autonomia e emancipação para o exercício da
cidadania.
Freire salienta que a educação é um ato de enfrentamento amoroso, onde o
diálogo se erige como instância transformadora e crítica. Dentro desta visão, a
educação se constitui como atos de amor e coragem, uma vez que confere ao
indivíduo condições para poder criar criticamente às palavras de seu mundo,
possibilitando a sua existência, mais do que o viver, fazer o indivíduo reexistir como
um ser eminentemente relacional (FREIRE, 2001).
A EP se concretiza na roda, onde os participantes são dispostos em formato de
circulo de modo que todos possam se ver mutuamente, além de favorecer uma ideia
de troca contínua e horizontalização de papéis.
Esta conformação ilumina a
importância da participação individual para a legitimação do coletivo.
A Educação Popular em Saúde (EPS) traz como pontos de partida o conceito
ampliado de saúde [...] considerado como um estado positivo e dinâmico de busca de
bem-estar, que integra os aspectos físico e mental (ausência de doença), ambiental,
pessoal/emocional e sócio-ecológico (comprometimento com a igualdade social e com
a preservação da natureza)(SCHALL e STRUCHINNER, 1999); e a participação
social, compreendida como requisito fundamental para a implantação e consolidação
do sistema brasileiro de saúde (o Sistema Único de Saúde - SUS), na Constituição
Brasileira de 1988 e, posteriormente institucionalizada e regulamentada nas leis
8080/90 e 8142/ 90 (Brasil, 1990 In: BISPO JUNIOR et al, 2008).
Neste contexto, para Albuquerque e Stotz (2004), [...] a promoção da saúde
passa a ser vista como uma tarefa dos governos, das instituições e grupos
comunitários, dos serviços e profissionais de saúde (p. 260).
Ainda para estes
autores, a concepção teórica da EPS [..] valoriza o saber do outro, entendendo que o
conhecimento é um processo de construção coletiva, visando a um novo entendimento
das ações de saúde como ações educativas (idem).
A EPS como proposta orientada para a promoção da autonomia das pessoas,
formação de consciência crítica e superação de desigualdades sociais, teve dentre os
seus desdobramentos, práticas profissionais e/ou populares institucionalizadas junto a
4
serviços de Atenção Básica em Saúde ou não institucionalizadas vinculadas a grupos
e movimentos sociais.
Os principais profissionais que estabelecem a mediação da realidade e
interesses das comunidades com as políticas do SUS, são o Agente Comunitário de
Saúde e o Agente de Vigilância à Saúde (Lei 11.350/2006; Emenda Constitucional
51/2006, Brasil, 2004). Estes profissionais são pessoas que nasceram, vivem e atuam
nas comunidades, entendendo-lhes a realidade e necessidades de saúde (BARILLI et
al, 2014). Este percurso lhes garante o livre trânsito nos espaços da comunidade,
realizando ações domiciliares, individuais e/ou coletivas.
Em 12 de julho de 2012, foi instituída, pela Secretaria de Gestão Participativa
do Ministério da Saúde do Brasil, a Política Nacional de Educação Popular em Saúde
(PNEPS-SUS), a qual considera as reflexões e práticas da Educação Popular para
contribuir com a construção de novos sentidos e práticas do SUS, fortalecendo a
educação em saúde e a constituição de princípios éticos que orientem o cuidado,
gestão, formação, participação social e controle social em saúde (Brasil 2013).
A PNEPS-SUS se apropria de princípios da EPS como o Diálogo entre
Saberes, Problematização e a Construção Compartilhada do Conhecimento, de modo
a fortalecer a gestão participativa nos espaços de cuidado do SUS, buscando
intensificar a mobilização e o protagonismo popular na defesa do direito à saúde e
valorizar a diversidade de saberes e culturas integrando os saberes populares ao
cotidiano dos serviços de saúde (BRASIL, 2012).
Como principal estratégia para a materialização da PNEPS-SUS foi lançado, em
2014, o Programa de Qualificação em Educação Popular em Saúde (EdPopSUS), por
meio de um Curso livre voltado para a sensibilização dos Agentes de Saúde no que
concerne às suas práticas educativas em saúde junto às comunidades brasileiras,
conforme apresentado a seguir.
O Programa de Qualificação em Educação Popular em Saúde – EdPopSUS
O EdPopSUS busca promover reflexões e re-orientações das práticas de
educação em saúde vigentes no SUS, uma vez que estas ainda persistem na
perspectiva transmissiva de conhecimentos, desconsiderando os saberes, linguagens
e valores sociais.
O marco político-pedagógico, de base sócio-construtivista, considera que a
aprendizagem é um processo complexo que se dá no contexto social por meio da
interação entre agentes culturais que vivenciam experiências novas as quais são
confrontadas com outras já vividas favorecendo, assim, o desenvolvimento de novos
esquemas mentais expressos em conhecimentos individuais e coletivos (BARILLI e
PESSÔA, 2013). Soma-se a este, o marco da pedagogia crítica (FREIRE, 1997,
2003) a qual, sobretudo, entende a educação como prática de liberdade que, através
da compreensão crítica da realidade, torna o sujeito apto a politicamente libertar-se
das formas de opressão (SANTIAGO, 2012); reconhece o saber como pertencente a
um ato maior, o de conhecer, destacando, assim, o elemento epistemológico da ação
de aprender.
O Programa foi desenvolvido para qualificar as práticas educativas do campo
da atenção básica por meio a formação dos ACS e AVEs que, referenciados nos
princípios do SUS, desenvolvem práticas voltadas para a mobilização social,
promoção da saúde e equidade, tendo como base político-pedagógico a Educação
Popular em Saúde (edital de convocação, 2014).
Para além desta meta, o Programa teve como objetivos específicos:
desenvolver habilidades para ativar e conduzir coletivamente processos de
mobilização comunitária e práticas educativas em saúde que reconheçam os saberes
tradicionais, os elementos socioculturais e a diversidade que compõe os territórios de
5
atuação da atenção básica; fomentar a implementação da política nacional de
Educação Popular em Saúde no SUS; aproximar os ACS e AVS das políticas e ações
de enfrentamento das iniquidades em saúde e; fortalecer estes agentes enquanto
profissionais de atenção básica, resgatando o valor de seu trabalho e sua importância
na comunidade, além de ampliar sua articulação junto a equipe de saúde, a rede de
serviços e aos movimentos sociais/populares no território;
Foi estruturado em um curso livre, cuja oferta foi composta por três chamadas de
53 horas, distribuídas 04 (quatro) encontros presenciais de 08 (oito) horas (um
encontro por semana), perfazendo um total de 32 (trinta e duas) horas presenciais, 11
(onze) horas de acesso a Comunidade Virtual de Aprendizagem (CVA) e 10 (dez)
horas de atividades de campo orientadas e de elaboração do trabalho final.
As atividades didáticas contemplam 4 encontros presenciais (um por semana),
quatro trabalhos de campo (realizados pelo aluno-equipe) entre os encontros
presenciais, sendo o último para apresentação do trabalho de conclusão de curso e;
momentos de conexão virtual por meio de um Ambiente Virtual de Aprendizagem –
chamado de Comunidade Virtual de Aprendizagem (CVA), apoiado na tecnologia
Moodle, o qual está sediado em provedor institucional na EAD – Ensp/Fiocruz.
MOODLE é a sigla de Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment,
um programa informático considerado como software livre por serem a distribuição e
instalação sem custo, como também por possuir código fonte aberto, o que possibilita
que equipes de programadores de cada instituição realizem mudanças segundo suas
necessidades. Estas características lhe valeram a adoção como plataforma de ensino
(também chamado LMS – Learning Managment System) das políticas públicas
brasileiras de formação
Foi realizado no Distrito Federal e mais 8 estados brasileiros (Piauí, Ceará,
Pernambuco, Sergipe, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul).
Pensado inicialmente para atingir 16 mil agentes, mas ao final de sua 3ª chamada,
tinha formado aproximadamente 20 mil profissionais, como mostra a tabela 1.
Tabela 1. Distribuição de agentes matriculados por chamada e por unidade da
federação
ESTADOS
Rio de Janeiro
Ceará
Distrito Federal
São Paulo
Sergipe
Rio Grande do Sul
Piauí
Pernambuco
Bahia
Total
de
Matriculados
chamada
TOTAL GERAL
MATRICULA
1ª CHAMDA
830
891
128
972
388
185
482
1302
1545
MATRICULA
2ª CHAMDA
1051
459
67
408
472
387
344
833
1434
MATRICULA
CHAMDA
1424
808
128
401
497
576
406
1092
1555
3ª
por
6723
5455
6887
19065
FONTE: Relatório Reunião Internúcleos – Dados Extraídos do Sistema Integrado de Gestão
Acadêmica da Fiocruz
O material didático do curso livre foi composto por um Caderno do Aluno,
contendo a estrutura temática. Devido a inexperiência dos educandos na interação
com este tipo de processo educativo, o Caderno do Aluno destinou a servir como um
guia para leitura teórica e realização de atividades. Porém, os tutores (denominados
6
aqui “mediadores”) estiveram livres para propor desdobramentos didáticos a partir
dele. O conteúdo, foi materializado em quatro Unidades de Aprendizagem (UAs)1: 1)
Educação Popular em Saúde e o Protagonismo dos Sujeitos Sociais, 2) Saúde e a
Nossa Sociedade, 3) Cultura, Arte e Saúde e, 4) Saúde, Equidade e Participação
Social. O material didático foi especificamente construído para o Curso.
O corpo docente foi distribuído em mediadores (tutores), profissionais atuantes
no campo da educação popular em saúde, responsáveis pelo acompanhamento dos
alunos; educadores populares, militantes da EPS com larga experiência em
participação em movimentos sociais e o orientador de aprendizagem, atuando no
apoio às atividades pedagógicas locais, analisando e refletindo as práticas
desenvolvidas, o que se apresentou como uma atuação potente para o
desenvolvimento do curso (Relatório Ensp-EdPopSUS, 2015, MIMEO).
A gestão do Programa foi conduzida por um Comitê Gestor (formado por
profissionais das instituições parceiras), uma Coordenação Nacional ligada à Ensp,
Apoiadores Nacionais (distribuídos pelos estados integrantes), Núcleos Estaduais
(compostos por um coordenador e um ou dois profissionais de suporte) e quatro
Núcleos Técnicos (Pedagógico, Avaliação e Pesquisa, Operacional e Conexões
Virtuais).
Docentes aliados aos profissionais ligados à gestão do Programa somaram
mais de 400 atores pedagógicos.
A Educação a Distância no EdPopSUS
Para Santos (2012) apud Faria, a produção cultural nascida através da
articulação entre seres humanos e dispositivos em conexão, como o que ocorre no
ensino à distância, é denominada cibercultura.
De acordo com Faria (2014, p.75), educação a distância, hoje (grifo nosso), está
relacionada essencialmente à internet.
Segundo a mesma autora (p. 76), estima-se que apenas um terço da população
mundial tenha acesso ao conteúdo da internet e, o Brasil segue esta tendência. Os
motivos, segundo a autora, pelos quais a outra parcela da população não acessa a
rede mundial de computadores variam desde impedimentos políticos e econômicos até
mesmo inadequação técnica-estrutural para a oferta do serviço. Assim, evidencia-se
que apesar da internet ser um espaço aberto e democrático, nem todos os indivíduos
estão inseridos nestes espaços produtores de cibercultura.
O curso potencializou articulações interinstitucionais as quais apoiaram o
planejamento e a realização do curso nos estados. O apoio interinstitucional e junto a
movimentos sociais, em alguns estados, viabilizou a infraestrutura necessária a
realização dos encontros presenciais, possibilitando a inclusão digital dos alunos dos
núcleos estaduais mais interiorizados.
Independente de ser a modalidade educativa presencial e/ou a distância, buscase democratizar a educação de qualidade e materializá-la pela interação humana, a
qual mais do que a comunicação, prioriza o compartilhamento de culturas e a
construção individual e coletiva por meio da cooperação entre os sujeitos da
aprendizagem. Isso torna-se possível através de Ambientes Virtuais de Aprendizagem
(AVAs) desenvolvidos especialmente para suportarem iniciativas educativas, ou seja,
tecnologias educacionais que oferecem recursos voltados para o acesso a conteúdos,
busca intuitiva e interação humana, por meio da expressão e participação ativa.
O virtual é o potencial que algum fenômeno possui para ocorrer. A
análise etimológica da palavra virtual aponta para uma derivação do
1
Composição de cada UA: conteúdo, interação e atividades avaliativas.
7
latim “virtus”, que por natureza expressa força, potência e capacidade.
Para Levy (2011), a virtualidade não se opõe ao realismo. O real é
apresentado pelo autor como algo que está acontecendo no momento e
possui relação dialética com o possível. Pode-se afirmar que o possível é
o real que ainda não aconteceu, entretanto, o fenômeno a ele associado
irá ocorrer sem que haja qualquer modificação na sua natureza. Em
momento algum é necessária a criação de um novo sentido para que o
possível ocorra, ele simplesmente ocorrerá dada a hora de sua
transmutação em realidade (SILVA, 2008).
O EdPopSUS (curso) foi desenvolvido presencialmente com momentos de
conexão virtual através de uma Comunidade Virtual de Aprendizagem (CVA) na
tecnologia Moodle. Para possibilitar a comunicação e compartilhamento de vivências
relacionadas aos processos de desenvolvimento e execução do curso, foi
desenvolvida uma Comunidade Virtual de Trabalho (CVT). Aliado ao corpo docente,
os participantes do CVT compõem as equipes de trabalho, distribuídos da seguinte
forma: comitê gestor, composto por representantes das instituições parceiras, centros
estaduais, as equipes ligadas ao Distrito Federal e outros estados participantes
(coordenadores estaduais, articulação e oficiais de apoio e operacional apoio), além
de quatro centros de desenvolvimento de processo: educação, investigação e
avaliação, operação e conexão online.
Assim, a CVA destina-se a INTERação entre os sujeitos da aprendizagem
distribuídos em educando e corpo docente (mediadores, educadores populares e
orientadores de aprendizagem). Já a CVT foi desenvolvida para promover a
integração entre as equipes de trabalho ligadas ao EdPopSUS para facilitar a gestão
descentralizada do ensino, compartilhando processos operacionais.
No que se refere ao curso, apesar de a maior carga horária ser presencial, a
CVA foi adotada para o alcance dos seguintes objetivos: 1) contribuir para a
humanização do processo de aprendizagem por meio da consolidação dos vínculos
criados no encontro presencial; 2) motivar a participação e compartilhamento de
saberes e práticas, através das temáticas propostas nos fóruns de discussão; 3)
prover material didático complementar no formato de vídeos e outros produtos ligados
à arte e cultura populares; 4) registrar a riqueza das produções individuais e coletivas.
As atividades realizadas nas CVA e CVT foram distribuídas em visualizações,
postagens, envio de atividades (somente pelos alunos) e outras atividades (realizadas
somente pelos docentes), totalizando 1.030.988 atividades/participações nas 3
chamadas do curso, conforme mostram as tabelas 2 e 3.
Os resultado apresentados a seguir advêm dos relatórios expedidos pela
plataforma Moodle.
8
Tabela 2. Distribuição das atividades realizadas na Comunidade Virtual de
Aprendizagem – CVA: 1ª , 2ª e 3ª chamadas do EdPopSUS
ATIVIDADES NA COMUNIDADE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM
QUANTIDADE
VISUALIZAÇÕES
Visualizações CVA 1ª Chamada
53.811
Visualizações CVA 2ª Chamada
167.343
Visualizações CVA 3ª Chamada
82.311
POSTAGENS
Posts CVA 1ª Chamada
21.666
Posts CVA 2ª Chamada
26.090
Posts CVA 3ª Chamada
22.920
ENVIO DE ATIVIDADES
Envios de Atividades 1ª Chamada
6.141
Envios de Atividades 2ª Chamada
5.354
Envios de Atividades 3ª Chamada
6.355
OUTRAS INTERAÇÕES - SÓ DOCENTES
Excluir, Acrescentar, Atualizar
CVA - 1ª Chamada
177.112
CVA - 2ª Chamada
220.113
CVA - 3ª Chamada
133.129
TOTAL CONSOLIDADO
922.345
Tabela 3. Distribuição das atividades realizadas na Comunidade Virtual de
Trabalho
ATIVIDADES NA COMUNIDADE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM
QUANTIDADE
VISUALIZAÇÕES
Visualizações CVT 1ª Chamada
34.448
Visualizações CVT 2ª e 3ª Chamada
7.124
POSTAGENS
Posts CVT 1ª Chamada
200
Posts CVT 2ª e 3ª Chamadas
278
OUTRAS INTERAÇÕES - SÓ DOCENTES
Excluir, Acrescentar, Atualizar
CVT 1ª Chamada
59.847
CVT 2ª e 3ª Chamadas
6.746
TOTAL
108.643
O Gráfico 1 apresenta os percentuais de visualizações distribuídos por agente
pedagógico
9
GRÁFICO 1. Percentuais de Visualizações Distribuídos por Agente Pedagógico e
por chamadas do EdPopSUS (CVA e CVT) – A, B e C
A-
BC-
Perfis das senhas usadas na comunidade virtual: Mediador = tutor; Coordenador & OA =
orientador de aprendizagem; Coordenador Geral = apoiador nacional; Educador Popular
Conforme mostra o gráfico 1, o número de visualizações de alunos, nas três
chamadas do curso, foi bem maior do que as do restante dos atores pedagógicos
(mediador = tutor, coordenador geral e educador popular). Isso pode sugerir um
período de “ambientação” ao uso de AVAs pelo fato de, segundo levantamento
realizado pelo Núcleo de Pesquisa e Avaliação ligado ao Programa, os alunos nunca
terem participado de cursos a distância antes do EdPopSUS.
Faria (2015) cita Wagner (1934) que afirma que o processo interativo somente
pode ser concluído a partir da existência de um mecanismo de retorno do estímulo
comunicacional. A inexistência deste feedback de qualquer indício de construção do
saber do compartilhado.
Estudos relativos à participação humana em fóruns de discussão de processos
educativos apontam sua utilização como elemento importante para o desenvolvimento
de capacidade colaboração, indo para além do repositório de atividades, mas um
instrumento de acompanhamento do crescimento dos alunos (Segenreich, 2005), além
de recurso para a construção coletiva de conhecimento e aprendizado (Batista e
Gobara, 2007). Aliado a estes, Souza (2007) afirma que os fóruns de discussão
também colaboram para a solidificação dos vínculos do grupo social, uma vez que
para o autor quanto mais saudável for a relação interpessoal, mais significativos são
os resultados em relação ao aprendizado nos ambientes virtuais.
Para Silva (2008), a interação virtual que substitui os processos tradicionais de
comunicação é embasada em três princípios: a) participação ativa, contextualizada e
com possibilidade de interferência na informação; b) bidirecionalidade, o processo de
10
comunicação dinâmico, os dois atores são emissores e receptores de mensagem; c)
permutabilidade potencial, onde a comunicação permite a inclusão de novos atores,
novas mensagens e novos significados.
Apesar dos fóruns de discussão serem espaços de opiniões por vezes
divergentes (ÁVILA el al, 2009), também se prestam à construção colaborativa quando
permeados por um clima de cordialidade.
Mattar (2009) cita que a interação entre alunos é motivadora, já que provê a
sensação de pertencimento que combate o isolamento e passa a integrar a “sala de
aula virtual”. Conclui dizendo que a falta de interações entre os participantes pode
contribuir para a evasão e abandono do curso.
No EdPopSUS, a INTERação foi observada na CVA entre os educandos e o
corpo docente (mediadores, educadores populares e orientadores de aprendizagem),
aqui considerados como sujeitos da aprendizagem, prerenizando-se os vínculos
construídos face-a-face, além do acompanhamento pedagógico dos trabalhos de
campo e, sobretudo, onde acontecem as trocas de ideias sobre os temas semanais
por meio dos fóruns de discussão. Pelo fato das interações se darem por meio de
intervenções sobre postagens precedentes, a figura 1 mostra 4 postagens e 3
interações.
Figura 1.
Mecanismo de interação em fóruns virtuais (2ª chamada do
EdPopSUS)
Fonte: CVA EdPopSUS, 2ª chamada
O levantamento da quantidade de interações não é aqui apresentada, uma vez
que não é contemplada pelos cruzamentos e relatórios realizados pelo Moodle. Correa
(2014), entretanto, realizou um estudo quantitativo e qualitativo acerca das interações
realizadas nos fóruns de discussão sobre Educação popular em saúde e o
protagonismo dos sujeitos sociais (1ª Unidade de Aprendizagem), na 2ª chamada do
Curso, no Distrito Federal e nos estados do Piaui e São Paulo, constatando um total
de 396 interações, conforme mostra a tabela 4.
11
Tabela 4. Distribuição quantitativa das postagens e interações por local de
realização do curso
Local
Número postagens
Número interações
Piauí
369
334
Distrito Federal
13
1
São Paulo
118
64
TOTAL
477
396
FONTE: CORRÊA (2014)
O Estado do Piauí apresentou o maior número de postagens e interações,
mesmo sendo um dos estados da região nordeste brasileira que apresenta apenas
17, 39% de microcomputadores por domicílio, sendo que, destes, 12,87% com acesso
à internet, ocupando a 26ª posição no cenário nacional (Mapa da Inclusão Digital
FGV/CPS, 2012).
O Gráfico 2 apresenta os percentuais de postagens distribuídos por agente
pedagógico e por chamada do curso na CVA nos fóruns temáticos de discussão
GRÁFICO 2. Percentuais de Postagens nos fóruns de discussão na CVA,
distribuídas por Agente Pedagógico e por chamadas do EdPopSUS –
A, B e C
B-
A-
CNa 2ª chamada do Curso, os alunos elevaram sua participação com postagens na
CVA (32%), reduzindo a participação dos mediadores (tutores). Entretanto, a
participação dos mediadores nos fóruns temáticos de discussão na CVA ratifica o seu
papel de propositores e estimuladores da reflexão e discussão coletiva ao mesmo
12
tempo em que sugere uma certa falta de vivência, por parte dos alunos, em fóruns de
discussão de cunho educativo formal.
O gráfico 3, apresenta uma comparação entre CVA e CVT no que concerne as
visualizações e postagens.
Gráfico 3. Comparativo CVA – CVT: visualizações e postagens por chamada do
curso
Comparando as visualizações nas CVA e CVT, nas 3 chamadas do EdPopSUS,
observa-se que foi na 2ª chamada que o houve o maior índice (48%), destacando a
CVA como espaço próprio da mediação pedagógica professor-aluno.
O grande número de participantes da CVA (em torno de 5 mil alunos por
chamada do curso e 194 docentes) em relação ao número de participantes da CVT
(em torno de 200 profissionais que compuseram as equipes de trabalho) explica o
baixo índice de visualizações e postagens na CVT na comparação das duas
Comunidades Virtuais.
Barilli et al (2014), desenvolveram um protocolo de avaliação da CVT abordando
os fóruns de discussão: Sala Virtual de Mediadores (fórum para interação entre o
corpo docente, onde os orientadores de aprendizagem e educadores populares
trocaram experiências oriundas do exercício da docência), Fórum de Coordenadores e
equipes (compartilhamento de experiências, documentos e orientações), Troca-Troca
(destinado à interação sobre os processos de trabalho), Dá uma força (fórum
destinado à elucidação de dúvidas relacionadas ao uso dos recursos educacionais).
A análise qualitativa das postagens nos fóruns de discussão demonstrou que,
das categorias de análise, Experiências Vividas, Problemas Enfrentados e Expressões
Culturais, a primeira apresentou maior índice conforme mostra o gráfico 4.
GRÁFICO 4. Quantidade de postagens nos fóruns de discussão da CVT,
distribuídas por categorias de significação
13
Experiências vividas
Problemas enfrentados
Expressões culturais
Para além desses resultados, a tabela 5 mostra a riqueza das produções de arte
e cultura compartilhadas no CVT somente na 1ª chamada do Curso.
Tabela 5. Levantamento de produções postadas na CVT, distribuídos por local
participante do EdPopSUS (1ª chamada do curso)
Poesias
Imagens
Vídeos
Textos
Avaliações
TOTAL
CE
2
33
6
3
1
45
PE
1
7
0
1
2
11
BA
6
22
1
0
4
33
DF
3
5
1
4
1
14
SE
0
4
0
1
1
6
RJ
0
6
0
1
1
8
SP
2
21
6
0
43
72
PI
3
0
0
1
0
4
TOTAL
17
98
14
11
53
193
Conclusões
Os resultados revelaram o interesse dos atores pedagógicos ligados ao
EdPopSUS em vivenciar as propostas didáticas virtuais, mesmo sendo esta a primeira
experiência para a maioria e apesar das dificuldades de acesso à internet. Isso coloca
em evidência o debate sobre a utilização de técnicas e meios da Educação a Distância
na Educação Popular em Saúde.
Os produtos ligados à arte e cultura compartilhados na CVA, preservaram a
identidade cultural destes atores e propiciaram a troca e registro dos diferentes
cenários da saúde no ambiente virtual.
Acredita-se que a inserção das Comunidades Virtuais no Curso, agregou
outros valores à ação política da PNEPS-SUS, uma vez que, colaborando para incluir
digitalmente os agentes que historicamente convivem com cenários de exclusão,
propiciou a sua inserção social pelo compartilhamento de vivências inter-regionais
entre agentes de saúde (alunos) de problemas de saúde vivenciados no território com
vistas à sua problematização dentro de um contexto educativo.
Por outro lado, a gestão de ensino de aproximadamente 20 mil sujeitos
cognoscentes (escala) aliada aos múltiplos processos que envolvem as equipes
multiprofissionais (também considerados sujeitos em formação), certamente deve
contar com o apoio de instrumentos informatizados que suportem o desenvolvimento,
implementação e avaliação por meio de cruzamento de dados e relatórios de
acompanhamento, quase impossíveis de serem realizados manualmente a tempo e
custo aceitáveis.
Neste sentido pode-se considerar que o uso das comunidades
virtuais contribuiu para a tomada de decisão e transparência dos processos ligados à
gestão, através da circularidade de informações e compartilhamento de processos de
trabalho.
A descentralização dos processos pedagógicos proporcionou autonomia dos
estados participantes na construção de estratégias de viabilização e operacionalização
do curso, as quais foram compartilhadas na CVT. Houve ainda a formação de redes
de apoio, de movimentos e de conhecimentos.
O uso da tecnologia impõe “o fazer” e isso, por si só, já é educativo. No caso
do EdPopSUS, tanto alunos como professores e equipes de gestão tiveram a
oportunidade de vivenciar um processo de formação profissional mediado pela
tecnologia, usada como recurso para aproximação e debate. Para alunos e
professores por meio da problematização de contextos concretos à luz do aporte
teórico atual e consistente perenizados nas postagens e interações registradas nos
fóruns de discussão na CVA. Para as equipes de gestão, expressas nas orientações,
soluções e produções compartilhadas na CVT.
14
A Educação Popular tem na presencialidade o seu elemento mais marcante
(BARILLI et al, 2014) - e isso não é diferente na Educação Popular em Saúde (EPS) que tem na roda e nas expressões de arte e cultura sua maior fonte de inspiração
pelas trocas entre sujeitos.
O esforço que se fez aqui, foi evidenciar o potencial da Educação a Distância
para, assim como ocorre presencialmente, favorecer a consolidação dos vínculos e
trocas humanas para além do tempo e do espaço. Isso requer a orientação
pedagógica do mediador (professor / tutor), desde que sejam capacitados para mediar
esta nova forma de ensinar, aprender e INTERagir, transformando os fóruns virtuais
de discussão em rodas de conversa virtuais que favoreçam os encontros,
compartilhamentos e construção de saberes no campo da Educação popular em
Saúde.
Hoje as redes sociais já são uma realidade apropriada pelas diferentes
gerações, minimizando as distâncias temporais e geográficas de forma livre. Mesmo
face às desigualdades sócio econômicas, as populações laçam mãos de recursos que
lhes garantam o acesso à comunicação digital como dispositivos móveis (que no Brasil
possui um custo menor via operadoras de telefonia móvel), lan houses com acesso
livre em shoppings, associações e instituições formadoras. Cabe aos educadores e
pesquisadores do campo da educação, utilizar esta apropriação tecnológica em
contextos pedagógicos problematizadores e construtores de cidadania, apoiados em
didáticas participativas e motivadoras.
O Curso traz como principal resultado a qualificação da ações sociais dos
agentes de saúde através de auto reconhecimento como educadores populares que
elaboram, em diálogo com o povo, ações educativas que têm, na participação, o
caminho para o compromisso coletivo pela qualidade de vida.
Por outro lado, o Projeto Democrático e Popular promotor de vida e saúde
caracteriza-se por princípios como a valorização do ser humano em sua integralidade,
a soberania e autodeterminação dos povos, o respeito à diversidade étnico-cultural, de
gênero, sexual, religiosa e geracional; a preservação da biodiversidade no contexto do
desenvolvimento sustentável; o protagonismo, a organização e o poder popular; a
democracia participativa; organização solidária da economia e da sociedade; acesso e
garantia universal aos direitos, reafirmando o SUS como parte constitutiva deste
Projeto. Meios de operar tais princípios certamente passam pela formação humana
para a cidadania, tendo na Educação a Distância, uma modalidade educativa
estratégica e viável para o acesso democrático ao saber organizado que contribua
para a formação de seres politizados, emancipados e livres.
.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBUQUERQUE, P. C.; STOTZ, E. N. Popular education in primary care: in search of
comprehensive health care, Interface - Comunic., Saúde, Educ., v.8, n.15, mar/ago
p.259-74, 2004.
ÁVILA B. G.; PASSERINO L. M.; TAROUCO L. M. R. Positividade em fóruns de EAD:
uma contribuição para a construção do conhecimento. In: XX Simpósio Brasileiro de
Informática na Educação, 2009.
BARILLI EC. APLICAÇÃO DE MÉTODOS E TÉCNICAS DE REALIDADE VIRTUAL
PARA APOIAR PROCESSOS EDUCATIVOS A DISTÂNCIA QUE EXIJAM O
DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS. Tese: Programa de Engenharia
Civil/Computação de Alto Desempenho. Coordenação de Programas de Pós15
Graduação em Engenharia, Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ),
2007, 248 p. (http://www.coc.ufrj.br/index.php/component/docman/cat_view/28doutorado/63-2007?Itemid=)
BARILLI E.C.; BARRETTO S.F.; LIMA C.M.; MENEZES M.A. Assessment of the use of
online communities to integrate educational processes development teams: An
experience in popular health education. Interactive Technology and Smart Education,
Vol. 11 Iss: 4, pp.270 – 286, 2014.
BARILLI EC; BARRETTO SF; LIMA CM; MENEZES MAC. Educação Permanente em
Saúde como Pedagogia Voltada à Participação Social: uma experiência em formação
de educadores populares no Brasil. REVISTA da UIIPS, Instituto Politécnico de
Santarém. Unidade de Investigação, Nº 6, Vol. 2, p. 46-67, Portugal, 2014. (ISSN
2182-9608)
BATISTA, E. M.; GOBARA, S. T. (2007) O fórum on-line e a interação em um curso a
distância. In: Revista Renote, v.5, n.1, 2007.
BISPO JUNIOR José Patrício; SAMPAIO, José Jackson Coelho. Participação social
em saúde em áreas rurais do Nordeste do Brasil. Rev Panam Salud
Publica, Washington, v. 23, n. 6, June 2008.
BRASIL. Política Nacional de Educação Popular em Saúde. COMITÊ NACIONAL DE
EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE – CNEPS. Brasília, 2012.
BRASIL. Plano Operativo da Política Nacional de Educação Popular em Saúde 20132015, Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, 2013.
( http://recid.redelivre.org.br/files/2013/05/PLANO_OPERATIVO_PNEPS.pdf)
BRASIL. Lei Federal No 11.350. Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para
Assuntos
Jurídicos,
out.,
2006.
Disponível
em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11350.htm
CORRÊA A.B. As interações em fórum de discussão: uma abordagem quantiqualitativa no campo da Educação Popular. Monografia. Programa de Pós-Graduação
Lato Sensu em Saúde Pública. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca,
Fundação Oswaldo Cruz, 2014, 65 p..
FARIA M. G. A. Contribuições para Processos de Construção Compartilhada do
Conhecimento Entre Enfermeiros da ESF: A utilização de fóruns temáticos no
ensino a distância. Tese. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Centro Biomédico.
Faculdade de Enfermagem, 2014,168 p.
FREIRE P. Professora sim, tia não. São Paulo: Editora Olho d´água, 1997.
GADOTTI M.. Educação contra Educação: o esquecimento da educação e a
educação permanente. 5 ed. Paz e Terra, 1884.
GROPPO LA. COUTINHO SC. A práxis da educação popular: considerações sobre
sua história e seus desafios diante da consolidação do campo das práticas
socioeducativas. Rev. Ed. Popular, Uberlândia, v. 12, n. 2, p. 20-33, jul./dez. 2013
(http://www.seer.ufu.br/index.php/reveducpop/article/viewFile/24401/13517)
16
MAPA DA INCLUSÃO DIGITAL. Coordenção Marcelo Neri. Fundação Getúlio Vargas,
CPS, 2012, 190 p.( http://www.cps.fgv.br/cps/bd/mid2012/MID_sumario.pdf)
MATTAR J. Interatividade e aprendizagem. In: LITTO, F. M.; FORMIGA, M. (Org).
Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson, 2009. p. 112-120.
SANTIAGO A.R.F. Pedagogia Crítica e Educação Emancipatória na Escola Pública:
um diálogo entre Paulo Freire e Boaventura Santos. IX ANPED SUL. Seminário de
Pesquisa em Educação, 2012. Disponível em:
<http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFile/225/
217>. Acesso em 23 de fevereiro de 2015.
SCHALL V.T.; STRUCHINER M. Educação em saúde: novas perspectivas.Cad.
Saúde Pública, Rio de Janeiro , v. 15, supl. 2, Jan. 1999.
SILVA, M. Cibercultura e educação: a comunicação na sala de aula presencial e
on line. Revista FAMECOS. Porto Alegre. N.37, 2008, p69-74.
SOUZA, Renato Rocha . Aprendizagem colaborativa em comunidades virtuais: o caso
das listas de discussão. In: Carla Viana Coscarelli (Org.). Novas tecnologias, novos
textos, novas formas de pensar.1ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, v. 1, p. 1-144, 2002.
STOTZ E.N., DAVID H.M.S., UM J.A.W. Educação Popular e Saúde – trajetória,
expressões e desafios de um movimento social. Revista APS, v.8, n.1, p. 49-60,
jan./jun. 2005.
STRECK, Danilo R.. A educação popular e a (re)construção do público: há fogo sob as
brasas?. Rev.
Bras.
Educ.,
Rio
de
Janeiro,
v.
11, n.
32, Aug.
2006 (http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v11n32/a06v11n32.pdf )
SEGENREICH, S. C. D. Avaliando a aprendizagem colaborativa on-line na educação
superior: novas contribuições do fórum de discussões e da auto-avaliação do aluno. In:
Virtual Educa 2005.
(http://www.unc.br/biblioteca/materiais/ixcongresso/resumos/AS_INTERACOES_EM_F
ORUM_EAD_UM_ESTUDO_DE_CASO.pdf). Acesso em 06/04/2015
TEIXEIRA C. Os Princípios do Sistema Único de Saúde. Debate para as Conferências
Municipal e Estadual de Saúde, Salvador, Bahia. Junho de 2011. Disponível em
http://www.saude.ba.gov.br/pdf/OS_PRINCIPIOS_DO_SUS.pdf
17

Documentos relacionados