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Temática IELB 2016 Lema permanente Cristo para Todos Tema Geral 2015-2018 Vou viver e anunciar o que o Senhor tem feito! Texto Bíblico “Não morrerei; antes, viverei e contarei as obras do Senhor!” (Sl 118.17 Enfoque 2016 Na vida de culto e serviço Por que um lema? Como Igreja, nós queremos caminhar juntos. O lema propõe um caminho, uma ênfase. O lema é como um “fio vermelho” que perpassa um assunto. O lema de 2016 sugere darmos ênfase ao tema culto e servir. É um tema amplo. A Igreja Cristã é a única religião “de cima para baixo”, isto é, não uma religião do homem a Deus, mas de Deus ao homem. Não foi Adão e Eva que procuraram Deus após a queda, foi Deus procurou os homens mostrando-lhes o erro e as funestas consequências do mesmo. Foram expulsos do paraíso e “maldito é a terra por tua causa” (Gn 3.17). Mesmo assim, Deus em seu profundo amor, prometeu-lhes maravilhosa salvação. (Gn 3.15) Os frutos da fé se revelam no dar ouvidos a Deus e de coração servi-lo, conforme o 1º Mandamentos: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento (culto)” e: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo (servir)” (Mt 22.37). No culto, Deus vem a seus filhos para fortalecê-los na fé (arrependimento e confiança na graça de Cristo), na certeza do perdão, instruí-los, mostrando-lhes o caminho a seguir. Sim, os anima no servir, cada um com seus dons e forças, nas responsabilidades que Deus lhe confia: Se és pai ou mãe, filho ou filha, patrão ou empregado, etc. (Tábua dos Deveres); atuando para a glória de Deus e o bem-estar do próximo, no lar, na sociedade e na igreja. Na análise do Lema vamos ver o texto bíblico; em segundo lugar, o culto e a responsabilidade do pastor e do leigo no mesmo; em terceiro lugar, queremos analisar o “ouvir a Palavra de Deus” no culto e leitura particular; em quarto lugar, a responsabilidade de todos no servir. Anexo, literatura à disposição. I - O lema: “Não morrerei; antes, viverei”. (Salmo 118.17) Durante a Assembleia Nacional da Alemanha realizada em Augsburgo no mês de junho de 1530, convocada pelo imperados Carlos V, Lutero ficou de meados de abril até o dia 11 de outubro (seis meses) no castelo de Coburg. Dali – “do deserto”, como ele o chamou – pois estava sozinho, só com o seu secretário Viet Dietrich. Lutero escreveu uma carta ao abado Friedrich de St. Ilgenstadt, Nürnberg, com a exposição do Salmo 118. Na introdução Lutero diz: “Este é o meu Salmo preferido. Mesmo que amo toda a Escritura, encontrei neste Salmo consolo especial. Por isso o considero o meu Salmo”. (Martinho Lutero, Obras Selecionadas, vol V, pág. 19ss). Este Salmo me ajudou muito na minha angústia na qual nem Imperador, nem reis, nem sábios, nem inteligentes e santos me poderiam ajudar. Este Salmo é mais precioso do que honra, bens e o poder do Papa... Não o troco por todos os bens do mundo”. Ali ele comentou as palavras do Lema: “Não morrerei, antes viverei e contarei as obras do Senhor”. Todas as nações (gentios) me cercam, mas em nome do Senhor as destruirei (v.10) Todos os que não carregam o nome de Cristo, mesmo aqueles que o carregam, mas não são cristãos – cercam a igreja de Jesus e querem destruí-la (Ap 20.7-9; 13). Mas, armado com a palavra de Deus, a espada do Espírito (Ef 6.17), vencerei. Deus ampara sua igreja em todos os tempos. Podem matar os cristãos, mas não a igreja, que permanecerá até a volta de Cristo em glória de Cristo. Também hoje a luta é árdua. O noticiário mostra que em mais de 100 países, cristãos são perseguidos, encarcerados e mortos. Talvez em nenhuma época anterior tantos cristãos são mortos como em nossos dias. Mesmo desfrutando nós aqui no Brasil certa tranquilidade, a luta também é árdua. Satanás, mesmo vencido, usa sua pequena liberdade para tentar especialmente jovens e a família cristã, pelos meios de comunicação, para desviá-los da fé e destruí-los. Apegados à palavra de Deus, os fiéis cantam: “O Senhor é a minha força e o meu cântico, porque ele me salvou“ (v.14) e o hino: “Castelo forte é nosso Deus...” (HL 165) A igreja canta este Salmo a Jesus. Ele é o Salvador e Senhor, justiça, defesa e força da Igreja. A Palavra será anunciada até que ele venha em glória julgar vivos e mortos. Até lá a igreja, mesmo sob a cruz, continua cantando. Martinho Lutero foi recolhido ao lar celestial. Seu testemunho continua a gerar bênçãos, até que Satanás e o anticristo sejam julgados e condenados. Até lá a mensagem de Lutero também será proclamada, pois ela não é outra do que a palavra de Deus clara e corretamente exposta. “O Senhor me castigou severamente, mas não me entregou à morte” (v.18). O Senhor disciplina aos que ama. Isto dói e levanta perguntas como: Onde está Deus? A cruz que os fiéis precisam carregar aqui, também são caminhos de Deus para firmar seus filhos na fé, para que não perecerem com o mundo. O mundo não se cansa de atribulá-los de muitas formas: açoites, prisão, escárnio, mesma matando-os – mas a morte já não tem domínio sobre os que estão em Cristo. Para eles, a morte é porta para o lar celestial (Jo 8.51; Mt 12.32). (Fonte: ZORN, Carl M. Die Psalmen. Verlag des Schriftenvereins, Zwickau (Sachsen), 1921. II - Destaque: Culto e servir A luta pelas almas Ao abordarmos a segunda parte do Lema: Culto e servir, precisamos lembrar a grande responsabilidade de todos os cristãos, pastores e leigos, na luta pelas almas. Palavras e atitudes dos cristãos, pastores e leigos, podem levar bênçãos para firmar na fé ou escandalizar e afastar de Cristo. Podem tirar pessoas do caminho largo e chamá-las para o caminho estreito, a fé em Cristo, podem também afastá-las do caminho estreito e firmá-las no caminho largo. (Mt 7.13,14) Para sermos uma bênção aos outros, tanto o pastor como o leigo, precisa estar apegado em diária oração à palavra de Deus. Pedir a Deus entendimento, sabedoria do alto e força no falar e agir como o Bom Samaritano (Lc 10.30-37). Este ano queremos dar atenção à fonte da vida: o culto, onde somos fortalecidos na fé para servir. 2.1 - O Culto O culto mudou muito do tempo de meus estudos (1950-60) para cá. Mudou em todos os sentidos. Na forma de ir e portar-se na igreja, seus hinos, a forma dos sermões e o conhecimento bíblico em geral dos congregados. Vou traçar um pequeno quadro comparativo, a começar pela roupa. Tínhamos a roupa de domingo. O preparo para o culto começava no sábado à noite com leitura bíblica e oração (particular ou em família). Inscrição para a Santa Ceia com devocional, não em todas as congregações, mas na sede. Na igreja entrava-se em silêncio. Sentava-se no banco para oração. O sermão era no mínimo de 40 minutos. Nos meus primeiros anos de ministério, havia três sermões no Natal: Vésperas, Natal e segundo dia de Natal. Na Semana Santa: quinta feira, sexta feira, domingo de Páscoa e 2º dia de Páscoa. Todos os cultos estavam cheios. Os membros, especialmente a diretoria, tinham um bom conhecimento da Bíblia e das Confissões: Confissão de Augsburgo e Fórmula de Concórdia, Epítome (resumo). Na minha instrução de Confirmandos decorávamos o evangelho para o domingo e o hino da semana. Eram exigidos o conhecimento de todas as Histórias Bíblicas (Pequena História Bíblica) e quase todos os versículos do Catecismo Menor (Exposição de Schwan). Mesmo assim, não faltavam problemas nas Congregações. Hoje quando falo disso, ouço: Isso era o tempo do pietismo missouriano. Sem dúvida que não. Realmente os tempos mudaram. Quando me aposentei em 2005, estávamos já bem longe dessa realidade. A televisão trouxe grandes mudanças. Ela introduziu a comunicação pela imagem. Isso despertou discussões na IELB. Como desenvolver o culto? O sermão não deve ser mais do que 15 minutos. Entrou o Data Show (preferencialmente usado pela IELB – outras igrejas só para projetar hinos). Sem dúvida um grande auxílio, se usado com prudência. Imagens podem ajudar, podem também distrair. Sobrecarregar um culto com imagens é destruí-lo. Na última feira de livros em Porto Alegre, um palestrante afirmou: Os jovens não leem mais como antigamente, só clicam aqui e ali. Pescam algumas palavras para um conhecimento superficial e variado, sem fazerem as ligações. Voltemos ao tema. A preocupação com as almas. Formas podem mudar para melhor ou para pior. Uma coisa nós pastores não podemos esquecer: Somo curas d´almas, quer no púlpito, nas visitas, ou nas simples conversas, isto é, estamos em luta permanente pelas almas. Satanás e suas hostes foram vencidos por Jesus. Mas eles aproveitam sua pequena liberdade para desgraçar almas. Rugem como leões (1 Pe 5.8), tentando amedrontar e seduzir. O pastor, como ministro da palavra luta em oração e pelo proclamar a palavra de Deus. Nisto todos nós somos exortados a fazê-lo em amor e com perseverança. (1 Jo 3.18). Nesta luta o culto é tarefa primordial. Quando pensamos em culto, a preocupação dos pastores e dos membros não são em primeiro lugar as perguntas teológicas que envolvem liturgia, mas é a pergunta que aflora automaticamente por si: O que podemos fazer para tornar o culto mais atraente, mais vivo para os membros bem como para as pessoas de fora para atuar como força missionária? Esta pergunta levanta muitas outras perguntas que em cada lugar podem ser diferentes. Em primeiro lugar nós pastores precisamos nos perguntar: O que depende de mim, o que posso fazer? Como despertar nos membros a responsabilidade para com a participação dos cultos? Esta pergunta já ecoa forte em nosso meio? Que sugestões esta pergunta despertou nos membros? Por exemplo: O culto não é um velório, mas uma festa alegre. Para alcançar esse objetivo são usados Bandas, o Data Show para ilustrar Hinos e sermões. Algum resultado se mostra. Muitos gostam. Tenho ouvido respostas entusiasmadas, como: A frequência nos cultos tem aumentado. Fiquei maravilhado. Quero ver o que o pastor vai inventar no próximo culto! A isso está ligado muito louvor e alegria. – Na verdade isto condiz ao espírito de nossa época no Ocidente: Positivismo, alegria e novidades. Mas será que o verdadeiro objetivo do culto está sendo alcançado? Vivemos numa época conturbada. Decadência moral. Divórcios nas famílias cristãs. Assassinatos, medo e pavor. Num mundo desses a gente se pergunta: Onde estão as congregações e seus cultos “onde, se todos profetizarem, e entrar um incrédulo ou inculto é ele por todos convencido, e por todos julgado; tornam-se-lhe manifestos os segredos do coração, e, assim, prostrando-se com a face em terra, adorará a Deus, testemunhando que Deus está de fato no meio de vós!” (1 Co 14.24,25). O apóstolo Paulo mostra que se todos falarem desordenadamente em outras línguas, um estranho dirá: Estão loucos. Mas se todos ali em culto falarem cheios do espírito – isto é, testemunhando a palavra de Deus “corretamente: liturgia, leituras, hinos e orações – o Espírito Santo terá oportunidade para atuar, levando o estranho ao arrependimento e à fé, à convicção: Deus está ali no meio deles. Tal culto é preparado com muita oração pelo pastor, pela diretoria e pelos membros durante a semana. Isto só o Espírito Santo pode fazer e ele quer ser invocado. É preciso que os de fora reconheçam também (no culto diários dos membros) o que Zacarias disse em seu cântico: “Para nos libertar de todos nossos inimigos e da mão de todos os que nos odeiam; ... de conceder que livres da mão de inimigos, o adorássemos sem temor em santidade e justiça perante ele, todos os nossos dias, para dar ao seu povo conhecimento da salvação, no redimi-lo dos seus pecados; graças à entranhável misericórdia de nosso Deus... para alumiar os que jazem nas trevas e nas sombra da morte, e dirigir os nossos pés pelo caminho da paz. (Lc 1.71,74,-75, 77-78, 79). O que Zacarias anuncia em relação a seu filho João Batista é nossa incumbência ainda hoje em meio a este mundo nos tempos finais, como indicados por Jesus (Mt 24.6-14). Cabe nos anunciar o “caminho da paz” que conduz aos jazem nas trevas e na sombra da morte à luz da graça de Cristo e à vida eterna. Jesus afirma: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estarei no meio deles” (Mt 18.20). Ali o Espírito Santo atua nos corações. Ao mesmo tempo, o culto no qual somos firmados na fé desperta em nós a intranquilidade com respeito aos que faltaram ao culto da família da fé, e “aos que ainda estão longe” (At 2.39). Neste sentido o culto transcende a esfera particular para abraçar o mundo, como o fazemos na oração do “Pai Nosso”. A palavra “Pai” nos enche de consolo, a palavra “Nosso”, de nossa responsabilidade missionária e social. Somos acostumados a ser expectadores diante da televisão, mas no culto não queremos ser espectadores, mas operosos participantes. Em relação ao pastor isto significa que ele não é um artista no culto, um show man, mas alguém que está na presença de Deus e transmite a seus irmãos e irmãs na fé o que Deus lhe deu a conhecer por sua Palavra. Isto nos leva à pregação. Ela, da mesma forma pode ser uma bênção ou um estorvo, se não for bem preparada por estudo e oração. Não me refiro ao fato de alguns se revoltarem contra a palavra de Deus e abandonarem a congregação, como aconteceu a Jesus, após proferir o mais doce evangelho (Jo 6.60,66), mas quando a causa do abandono são nossos erros e falhas. A pregação precisa ser um testemunho. Liturgia, orações e leituras da palavra de Deus devem ser feitos de coração, em oração e não simplesmente recitados de forma monótona, sem ênfase, como que por obrigação. A comunidade deve notar que o pastor está diante de Deus e fala em nome de Deus. Mesmo após 50 anos de ministério, cada vez que preciso oficia diante do altar e subir ao púlpito sinto certo tremer diante da responsabilidade confiada a mim pecador, pois estou ali diante do Kyrios para falar em seu nome. Pregação não é simples exposição do texto, mas expor seu significa para hoje. Expor o que Espírito Santo me disse durante o meu preparo. Em que sentido o texto me levou ao arrependimento, me consolou com o perdão e me edificou na fé e vida santificada. Isto quero derramar diante da congregação reunida em culto. No preparo da pregação, eu preciso olhar sempre para mim, minha vida e luta. Olhar ao meu derredor para ver que pecados grassam e afligem meus membros e a sociedade em meu derredor. Então derramar meu coração em linguagem simples diante da Comunidade. A palavra de Jesus: “Quem vos ouve a vós a mim me ouve” (Lc 10.16). Está Palavra está sempre em meus ouvidos e eu preciso estar consciente disso. Crisóstomo disse: “Por isso, ó Pregador, coloca-te de joelhos e ora, para que o Espírito Santo te dê a chave para o texto.” Aqui cabe uma observação. Não quero generalizar, mas despertar preocupação com o fato. Falamos muito em evangelismo, estimulando os congregados a convidarem pessoas para os cultos. Isto é bom. Noto, porém, que em vista disso, os sermões passam a ser sermões evangelísticos que só falam do amor de Deus. Dois congregados de uma comunidade chamaram minha atenção a isso. Disseram: Nosso pastor em seus sermões – nada contra eles em si – fala do amor de Deus. Não temos mais sermões de edificação, de instrução na doutrina. Parece que o pastor só se dirige aos estranhos e quer evangelizá-los. Ora, nossa primeira função no culto regular é sermos cura d`almas e edificar os membros. Podemos ter cultos evangelísticos, mas não podemos esquecer que o culto regular serve para edificação. (Fonte: Dietzfelbinger, Bleibende Auftrag. Buchdruckerei Wlter Bartos, Berlin, 1970) 2.2 – Sobre o ouvir a Palavra Para esta análise tomo a palavra de Tiago: “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos... (Tg 1.22-27) Tiago, irmão de Jesus (Mt 13.55; Gl 1.19), escreve sobre o ouvir bem e o ouvir mal a palavra de Deus; ouvir para bênção ou ouvir em vão, e acrescenta: O ouvir correto leva à prática. Vejamos primeiro o que é o ouvir em vão, depois o que é ouvir correto, e qual a prática. Ouvir em vão Muitos membros se perguntam por vezes: Como chegar a um cristianismo atuante? Ou, o que o apóstolo Tiago quer-nos dizer com estas palavras? “Não vos enganeis a vós mesmos!” De fato também na igreja há um “enganar-se a si mesmo.” Algo terrível, ouvir a palavra de Deus em vão. Jesus falou desse engano: “Para que vendo, vejam, e não percebam; e ouvindo, ouçam, e não entendam, para que não venham a converter-se e haja perdão para eles” (Mc 4.12). Eu me arrepio diante dessas palavras. O apóstolo Tiago dá um exemplo: “Se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla num espelho o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla e se retira, e para logo se esquece de como era sua aparência” (v.23,24). Sua impressão foi superficial. Viu uma manchinha aqui e ali e as removeu, mas ele não chega a um conhecimento mais profundo, muito menos a um reconhecimento de seus pecados e um reconhecimento mais sério de seu ser. Por isso não chega a um conhecimento real da grandeza da graça de Deus e também não a uma verdadeira alegria e júbilo na fé. E não adiante simplesmente por uma banda levar as pessoas ao júbilo, quando seus corações permanecem perturbados. Nem chegam a um conhecimento da verdadeira fonte de vida. Ele se diz cristão, mas nada sério. Assim também seu compromisso com a Comunidade é superficial. Ele também não sabe que “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é prudência” (Pv 9.10,11). Quando há problemas de angústia correm aos psicólogos, cujos consultórios estão cheios, enquanto as igrejas estão ficando vazias. Muitas vezes estes membros criticam seus pastores e a liderança da Comunidade. Criticamos pregadores – eo ipso – porque não gostamos de suas pregações, seu jeito, sua forma. Deveríamos em primeiro lugar perguntar se a razão real não está em nós mesmos. Quando um ouvinte não gostou do culto, nem sempre a culpa é do pregador. Ouvir uma pregação é um trabalho duro, uma arte que requer atenção, contração e engloba uma educação para tal. Além do preparo em oração para que o Espírito Santo abra o coração à palavra de Deus. Recordo-me de uma senhora semianalfabeta que nas conversas me lembrava frases de meus sermões de meses ou anos atrás e argumentavam com elas. Já em tempos passados me surpreendia com membros que lembravam sermões de seus pastores de anos passados. E hoje? Tais ouvintes são sempre mais raros. Aqui está um dos maiores problemas de nossa igreja: O ouvir em vão. Isto nos remete à pergunta: Nossos cultos favorecem a concentração e meditação. Nossos sermões são claros, expostos de tal maneira que facilitam a compreensão e assimilação do mesmo? Ou estão sobrecarregados de pensamentos de tal forma que é impossível reter algo? Temos um plano temático para o ano? Nossos membros conhecem o plano? Podemos dizer com o apóstolo Paulo: “Jamais deixei de vos anunciar todo o designo de Deus” (At 20.27). Ou será que nossos cultos são barulhentos e dispersivos, com saturação de imagens. Para gravar bem uma mensagem, o sermão precisa ser bem elaborado, com ênfase nos assuntos. Outro detalhe, precisamos voltar ao assunto durante a semana nos departamentos e ver se entenderam, se têm perguntas, etc. Já participei de cultos nos quais eu não consegui me concentrar. E no domingo à noite não lembrei quase nada do culto, exceto algumas palavras e imagens. Ouvir em vão é pior do que não ouvir. Vejam, não há campos de missão mais difíceis do que lugares onde a palavra de Deus foi anunciada em abundância, mas rejeitada. Vejam as antigas terras cristãs, onde hoje impera o islamismo e vejam a terra da Reforma Luterana. Mesmo assim queremos lembrar que a palavra nunca volta vazia. Ela é ouvida para bênção ou para maldição, endurecimento. Quando ouvimos essa afirmação estremecemos e nos perguntamos: Será que nós ainda sabemos ouvir ou já é tarde demais? Não há suplica mais necessária do que esta: Senhor guarda-me do ouvir em vão, ensina-me a dar atenção a tua Palavra. Ouvir abençoado Tendo analisado o ouvir em vão, vamos analisar o que significa o ouvir abençoado da palavra de Deus. O apóstolo Tiago continua: “Mas aquele que considera atentamente na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar” (v.25). Aqui temos um encontro com a palavra de Deus que é mais do que um rápido ouvir sem pensar; mais do que um olhar superficial. Aqui a pessoa se aproxima da palavra de Deus com temor, confiança e oração, com a súplica: Senhor afasta de mim tudo o que possa me estorvar e desviar no meditar em tua santa Palavra. Ilumina e guia-me por teu Espírito para compreender e aceitar tua Palavra para arrependimento e fé na graça de Cristo. Fortaleceme na luta por vida santificada. Concede sabedoria e força para testemunhar e servir em amor, enquanto peregrino ao lar celestial. Por Jesus Cristo que vive e reina contigo ó Pai e o Espírito Santo. Amém. Um pouco antes o apóstolo escreveu: “Mas aquele que considera atentamente.” É um ler ou ouvir sedento e desejo da Palavra. Isto requer: Despojar-se de toda a impureza e acúmulo de maldade (v.21). Desligar os meios de comunicação, para concentrar-se na palavra. E como é difícil largar tudo. Abandonar toda a impureza e acúmulo de maldade. Como é difícil silenciar a turbulência das ideias em nossa cabeça, impedir que cenas dos últimos programas de televisão dancem em nossa mente e nos tumultuem, bem como todo tipo desejos pecaminosos. Sabemos ainda nos concentrar para meditar? Quando voltamos após um dia de trabalho para casa nos lavamos ou tomamos um banho, mas como é difícil limpar nossa mente de tudo o que ouvimos e vimos. Para isso nada melhor do que começar a meditação pelo canto de um ou mais hinos. O apóstolo escreve: “Mas aquele que considera atentamente na lei perfeita, lei da liberdade.” (v.25) O que vem a ser esta “lei perfeita, a lei da liberdade”? O cristão fiel olha para a palavra de Deus com fé. E vê na palavra de Deus “a lei perfeita”, aquela lei da qual o profeta Jeremias falou: “Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor. Na mente lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei, eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo” (Jr 31.33). Portanto, não é uma lei de fora que consiste de regras. Não é letra morta, mas um vivo poder de Deus. A palavra de Deus engloba lei e evangelho. Na carta de Hebreus lemos: “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4.12) Na luz de sua lei nós nos conhecemos. Sem este espelho, temos uma falsa noção de nós mesmos. Ali reconhecemos que somos pecadores, perdidos e condenados. Que o maior de todos os pecados é a rejeição da palavra de Deus, a incredulidade. Pois no mundo ouvimos do mais pobre ao mais rico, do analfabeto ao maior filósofo exatamente o contrário, de que o ser humano é bom, e nossa natureza carnal diz o amém a isso. Onde a pessoa silencia diante da palavra de Deus, deixando julgar-se por ela, não só para reconhecer a vontade de Deus e seus pecados, mas também para ouvir e conhecer o grande mistério do amor de Deus: “Eis o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo” (Is 53.45; 1 Jo 4.19). Ali a absolvição, e a Santa Ceia sempre lhe serão a fonte de água viva, que refrigera o seu coração. Ali há diário renascimento. Ali o “novo homem” se levanta para subjugar a carne, não por obrigação da lei, mas porque ama seu Pai celestial. Ali serve a Deus não por obrigação ou coerção da lei, mas a vontade de Deus é seu prazer. A “lei perfeita” é toda a Palavra de Deus, a lei da liberdade é o evangelho que liberta e concede verdadeira liberdade e leva a dizer: A tua “lei é o meu prazer” (Sl 119.93). Poderia alguém, a quem o Espírito Santo abriu o coração para ver o imenso amor de Deus, permanecer frio e morto? Sem dúvida que não. Antes veremos quão acertada é a confissão de Lutero sobre a fé cristã. “A fé é obra divina em nós, que nos transforma e novamente nos gera de Deus, e mata o velho homem, torna nos homens completamente diferentes no coração, ânimo, mente e todas as forças e traz consigo o Espírito Santo. Oh! A fé e coisa viva, diligente, ativa, poderosa.” (Fórmula de Concórdia, art. IV.10. LC pág. 592). Assim expressamos nossa gratidão a Deus. “Nós o amamos, porque ele nos amou primeiro” (1 Jo 4.19). Praticante O apóstolo Tiago continua: “Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a sua língua, antes enganando o próprio coração, seu culto (sua religião) é vã” (v.2). Este é o segundo exemplo. Quem canta com a Comunidade os hinos, os aleluias, confessa sua fé, participa da Santa Ceia com “anjos e arcanjo” e mesmo assim usa sua língua para difamar, dizer palavras raivosas, seu culto é vã. O apóstolo diz um pouco mais adiante: “Com ela bendizemos ao Senhor e Pai, também com ela amaldiçoamos a homens feitos à semelhança de Deus” (G 3.9). Onde, no entanto, a língua é dominada e colocada a serviço do amor no temor de Deus, isto é o fruto do ouvir. – Fui com minha Liga de Leigos a um congresso distrital de leigos. Consegui entusiasmar um leigo muito fiel, que nunca tinha ido, a vir junto. No segundo dia do congresso, durante o café, este leigo me disse: Pastor, eu vou pegar o ônibus ao meio dia e voltar. – Ué, por quê? Algo de grave em casa. Não, não, mas eu vou voltar. À tarde perguntei ao amigo dele: O que houve? – Ele respondeu: Não sei, mas presumo que ele se chocou com as piadas da noite. Que tristeza. Outro exemplo. “O culto (religião) puro e sem mancha (mácula) diante de Deus o Pai é esta: visitar os órfãos e viúvas nas suas tribulações” (v.27). Para os primeiros cristãos o culto não terminava após terem ouvido a palavra de Deus, participado da Santa Ceia e recebido a bênção. Os diáconos e diaconisas iam para as casas dos que não puderam vir ao culto para transmitir a eles a mensagem, cantar alguns hinos que foram cantados no culto e orar com eles. Levavam também algum alimento abençoado, conforme a necessidade. Tal diaconia brotou dos cultos. Na época os governos ainda não tinham uma ação social organizada, como em nossos dias. Em nossos dias, diante do colapso do governo em quase todas as áreas sociais, precisamos como cristãos colocar novamente mãos à obra. Muitos se queixam hoje ainda como o paralítico: “Não tenho ninguém que me ajude.” (Jo 5.7). Quem, no entanto, pertence à Comunidade cristã, não é abandonado. Como um membro do corpo de Cristo pudesse ser abandonado? Deus disse ao povo de Israel: “Para que entre ti não haja mendigo” (Dt 15.4). Se isto faltar em nosso meio e os pobres, viúvas, órfãos, doentes não são mais visitados, nem amparados e incluídos em nossas orações, então estamos ouvindo mal a palavra de Deus. Nossos cultos não são mais “sem manchas,” as pessoas estão se enganando a si mesmas. A assistência social é a roupagem da igreja cristã. (Löhe) Guardar-se incontaminado do mundo Mais um detalhe: “Guardar-se incontaminado do mundo” (v.27). Isto não significa sair do mundo, como muitas vezes pessoas o fizeram no passado. A pessoa pode ir ao deserto, internar-se em mosteiros, mesmo assim o mundo não sairá de seus corações. Lutero sentiu o mundo pecaminoso em si mesmo jejuando, orando, açoitando-se internado no mosteiro. Também não significa que conseguirá viver sem pecado. Também isso é impossível. Guardar-se incontaminado significa ser no mundo um cidadão do céu. Em meio ao mundo do pecado e da morte, viver diariamente do perdão, da graça de Cristo pela fé naquele que diz: “No mundo passais por aflições, mas tende bom ânimo eu venci o mundo” (Jo 16.33). Isto é o verdadeiro culto e o fruto do abençoado ouvir da palavra de Deus. Jesus ainda diz: “Se pedirdes alguma coisa ao Pai, ele vo-lo concederá em meu nome” (Jo 16.23). Há uma oração à qual o atendimento é prometido. Há um dom pelo qual nunca suplicamos em vão. O texto diz: “Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus dará boas coisas aos que lhe pedirem” (Mt 7.11). Em seu nome queremos pedir por nossa Comunidade, por nossa Igreja, por toda a Igreja de Deus no mundo para que Deus abençoe sua Palavra em meio às necessidades e lutas neste mundo. Pedir para que Deus abra nossos ouvidos para guardarmos a mensagem redentora em nossos corações para sermos praticantes da mesma em amor. Vem Espírito divino, nobre Ensinador. Vem, revela em teu ensino nosso Redentor. Grande Mestre, bom Consolador, teu poder em nós se mostra regenerador. (HL 140.1) (Fonte: SASSE, Hermann. Zeugnisse. Erlangen, Martin Luther Verlag. 1979, pág. 75ss.; NEUMANN, Horst. Der Brief Jakobus. Lutherischen Laien-Liga. Storum, 2011). Literatura auxiliar referente ao lema, que poderá ser utilizada durante o ano. 1) O Povo de Deus. Porto Alegre: Editora Concórdia; São Leopoldo: Seminário Concórdia, 2014. (vários artigos) 2) Pelo Evangelho de Cristo. Martinho Lutero. Porto Alegre: Editora Concórdia; São Leopoldo: Editora Sinodal. Artigos: - Carta aos cristãos de Estrasburgo contra o Espírito Entusiasta, p.163 - Prefácio do Hinário de Wittenberg, p. 203ss - Missa e ordem do Culto Alemão, p. 217 - Confissão sobre a Santa Ceia de Cristo, p. 287 - Um sermão sobre o sofrimento e cruz, p. 297 - Como se deve orar, p. 317 3) Obras Selecionadas, Martinho Lutero. São Leopoldo, Editora Sinodal; Porto Alegre, Editora Concórdia. 4) Idem, vol 1 - Breve instrução sobre: Como devemos confessar-nos, p. 233 - Um sermão sobre o preparo para a morte, p. 385 5) Idem, vol. II - Catorze consolações, p. 11 - Tratado sobre a Liberdade Cristã, p. 435 6) Idem, vol. V - O sublime louvor. P. 19 7) Idem, vol. 7 - Ordem de Culto na Comunidade, p. 65s. ; 173 - Sacramentos. -. 222 - Prefácio aos Hinários. 8) Mensageiro Luterano, 2013 e 2014 há vários artigos sobre o Culto Cristão. 9) BEAUMONT, Mike. Enciclopédia Bíblica Ilustrada. Barueri (SP): Sociedade Bíblica do Brasil, 2013. 10. Bíblia de Estudos. Barueri (SP): Sociedade Bíblica do Brasil, 2013. São Leopoldo, 23/06/2015 Horst R. Kuchenbecker