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Comportamento de ovinos da raça Santa Ines em pastejo criados em regiões de clima semiárido1 Cicero Pereira Barros Junior*2, Gleidson França Fernandes3, Diego Helcias Cavalcante4, Genilson Sousa do Nascimento5, Teobaldo Florêncio de Almeida Junior6, Paulo Henrique Amaral Araújo de Souza7, Severino Cavalcante de Sousa Júnior8, Carlos Syllas Monteiro Luz9 1 Comportamento de ovinos da raça Santa Ines em pastejo criados em regiões de clima semi-árido Pós Graduando em Ciência Animal – PPGCA/CCA/UFPI [email protected] 3 Graduando CPCE/UFPI 4 Professor Adjunto DZO/CCA/UFPI, Teresina, PI 5,6 Pós Graduando, Doutorado em Ciência Animal PPGCA/UFPI 6 Pós Graduando, Mestrado em Nutrição – PPGZ /CPCE/UFPI 7 Mestrado em Ciência Animal– CPCE /UFPI 8 Pós Graduando, Doutorado em Ciência Animal PPGCA/UFPI 9 Professor Titular DZO/CCA/UFPI, Parnaíba, PI *Autor apresentador. 2 Resumo: Objetivou-se avaliar o comportamento de ovinos criados a pasto no semiárido piauiense. Foram utilizados 10 animais da raça Santa Inês e coletadas as seguintes variáveis referentes ao seu comportamento: ruminando em pé (RUMI); pastando (PAST); urinando (URIN); defecando (DEFE); bebendo (BEBEN) e em ócio (OCIO). As variáveis foram coletadas por três dias consecutivos e contabilizadas em movimento por dia (mov/dia) subdivididas em dois turnos: manhã (6 às 12h) e tarde (12 às 18h). Observou-se que apenas a variável BEBEN expressou diferenças significativas (p<0,05) entre os turnos, apresentando maior valor no turno da tarde (1363,91 mov/dia). Analisando o comportamento dos animais por turno, urinando e ruminando foram as atividades mais frequentes pela manhã (1330,04 e 1329,56 mov/dia, respectivamente), enquanto que no turno da tarde, as atividade mais frequentes foram: Bebendo e Ócio (1363,91 e 1335,50 mov/dia, respectivamente). Quando analisado comportamento dos animais nos 3 dias consecutivos, os principais comportamentos se diferiram em todos os dias, sendo: Ócio seguido de Urinar para o primeiro dia; no segundo dia, tiveram maior frequência: Pastejando e Bebendo água, enquanto que, no último dia, os comportamentos mais frequentes foram: ruminar e defecar. Conclui-se que o comportamento instável por dias consecutivos com maior ingestão de água e em ócio no turno da tarde pode indicar estresse pelo calor. Faz-se necessário adotar práticas e acomodações de infraestrutura que visem proporcionar conforto térmico para a produção de ovinos Santa Inês no semiárido. Palavras-chave: Semiárido, Etologia, estresse térmico Behavior of Santa Ines sheep grazing in the semiarid climate Abstract: The aim was to evaluate the behavior of sheep grazing in Piauí semiarid. 10 animals Santa Ines were used and collected the variables related to their behavior: ruminating standing (Rumi); grazing (PAST); urinating (URIN); defecating (DEFE); Drinking (bęben) and leisure (OCIO).The variables were collected for three consecutive days and accounted for in motion daily (mov/day) divided in two shifts: morning (6 to 12 hours) and afternoon (12 to 18 hours). It was observed that only the variable "BEBEN" expressed significant differences (p <0.05) between shifts and showing greater value in the afternoon (1363.91 mov / day). Analyzing the behavior of the animals by shift urinate and ruminating were the most frequent activities in the morning (1330.04 and 1329.56 mov / day, respectively), while in the afternoon, the most frequent activities were: Drinking and Leisure (1363.91 and 1335.50 mov / day, respectively). It was analyzed the behavior of animals for 3 consecutive days, the mains behaviors are different from each other, as follows: Leisure followed by urinating for the first day; on the second day, they had a higher frequency: grazing and drinking water, while in the last day, the most frequent behaviors were: ruminate and defecate. Keywords: Semiarid, Ethology, heat stress. Introdução No Brasil, com destaque para região Nordeste, a ovinocultura é uma atividade de grande importância econômica e social, por ser uma região amplamente afetada pelas condições climáticas há uma maior demanda por animais de produção mais rústicos e resistentes. Por meio do entendimento comportamental dos animais em pastejo pode-se aperfeiçoar ações corretivas para o melhor aproveitamento das pastagens nas condições ambientais em que os animais estão inseridos, bem como determinar intervenções estratégicas no manejo e ações de infraestrutura. A observação do comportamento animal como: pastejo, ingestão de água, ruminação e o ócio, são fundamentais para se estabelecer indicadores de bem-estar do animal, segundo Silanikove (2000), a redução na ingestão de alimentos, aumento na ingestão de água, diminuição na atividade de pastejo e a procura pela sombra são respostas imediatas ao estresse pelo calor. Os ovinos da raça Santa Inês, devido a sua adaptabilidade às condições ambientais adversas, expressam bom desempenho em pastejo, mas pouco se tem estudado a respeito do comportamento destes animais. O objetivo desta pesquisa foi avaliar o comportamento de ovinos Santa Inês em pastejo criados na região do semiárido piauiense. Material e Métodos O trabalho foi desenvolvido no setor de ovinocultura na fazenda experimental do Colégio Agrícola pertencente ao Campus Universitário Professora Cinobelina Elvas da Universidade Federal do Piauí no município de Bom Jesus, região sul do estado. Foram utilizadas 10 borregas da raça santa Inês criadas em piquetes com pasto andropogon (Andropogon gayanus) com disponibilidade de água, nos quais permaneciam das 6:00 às 18:00 horas, até serem recolhidas para o aprisco onde passariam a noite e seriam liberadas no dia seguinte. O local dos piquetes não era arborizado e os animais ficavam todo o tempo expostos à radiação solar. As coletas foram realizada nos dias 21, 22 e 23 de junho de 2012, as temperaturas médias do ar foram 34,3; 34,2 e 33,2, respectivamente (INMET, 2015). Os animais eram avaliados a pasto, tendo suas características comportamentais anotadas de 10 em 10 minutos no período de 6 às 18 horas do dia. As características observadas foram: Animais em pé ruminando (RUMI); pastando (PAST); urinando (URIN); defecando (DEFE); bebendo (BEBEN) e animais em ócio (OCIO). Para a análise dos dados foi utilizado um delineamento inteiramente casualisado (DIC) e divididos em dois tratamentos: manhã (6 às 12 horas) e tarde (12 às 18 horas). Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância utilizando-se o pacote estatístico SAS (2003), considerando-se o nível de significância de 5%. Resultados e Discussão Na tabela 1, observa-se que das características avaliadas a única que apresentou diferenças significativas (p<0,05) em relação aos turnos foi Bebendo, sendo os maiores valores observados para o turno da tarde (1363,91 mov/dia). Isto pode ser explicado pelo aumento da temperatura e menor umidade do ar durante o período. Analisando o comportamento dos animais por turno, as atividades realizadas com maior frequência pela manhã foram: Urinar e Ruminar (1330,04 e 1329,56 mov/dia, respectivamente), enquanto que no turno da tarde, os animais passaram mais tempo Bebendo e em Ócio (1363,91 e 1335,50 mov/dia, respectivamente). Sobre o comportamento desses animais nos 3 dias consecutivos houve diferenças significativas para as características de comportamento como: Ruminar, Pastar, Urinar e Ócio. Apenas a variável Defecar não houve diferença significativa (P>0,05). Quando analisadas as principais atividades desenvolvidas durante o primeiro dia, podemos destacar o Ócio seguido de Urinar. No segundo dia os animais tiveram maior frequência de Pastejo e Bebendo água, enquanto que, no último dia, o comportamento mais frequente dos animais foi Ruminar e Defecar. Portanto, pode-se perceber uma instabilidade no comportamento dos animais, visto que os comportamentos mais frequentes dos animais diferiram nesses três dias de observação. Tabela 1. Média das variáveis etológicas em ovinos da raça Santa Inês nos turnos (manhã e tarde) em três Dias de coleta. RUMI VARIAVEIS PAST URIN DEF BEBEN OCIO MANHA 1329,56A 1323,2A 1330,04A 1328,07A 1278,89A 1306,77A TARDE 1º 1317,75A 1329,69A 1318,67A 1202,95A 1311,77A 1350,33A 1313,78A 1343,79A 1363,91B 1345,64A 1335,50A 1403,11A 2º 1308,32B 1506,09B 1310,72B 1314,69A 1374,92B 1321,08B 3º 1325,17C 1251,19C 1302,09C 1304,60A 1241,63C 1238,80C TURNOS DIAS Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem pelo Teste Tukey ao nível de 5 % (0,05) de significância. RUMI=Ruminando em pé; PAST =Pastando; URIN = Urinando; DEF = Defecando; BEBEN = Bebendo; OCIO = Ócio Segundo Zanine et al.(2006), os ovinos e caprinos apresentam picos de pastejo concentrados no início da manhã e no final do dia, enquanto que nos horários mais quentes os animais permanecem em ócio como estratégia de melhor aproveitamento energético do alimento. Portanto, a instabilidade comportamental observada nos animais, juntamente pelo fato beberem e ficar em ócio no turno da tarde, apontam para a possibilidade de um estresse causado pelo calor, uma alternativa seria a melhorias das instalações, assim como a adoção de melhorias no manejo. Cunha et al.(1997) reforçaram em seu estudo a necessidade de implementação no manejo e no fornecimento de áreas sombreadas aos animais, uma vez que a temperatura e a umidade estão associadas ao comportamento dos animais em pastejo e na procura de sombra. Outras pesquisas devem ser realizadas sobre o comportamento avaliando o estado fisiológico de ovinos Santa Inês quando submetidas a condições de alta exposição solar, como em explorações a pasto no clima semiárido. Conclusões O comportamento instável por dias consecutivos com maior ingestão de água e em ócio no turno da tarde pode indicar estresse pelo calor. Práticas e acomodações de infraestrutura que visem proporcionar conforto térmico aos animais em pastejo devem ser adotadas para garantir o bem-estar na produção de ovinos Santa Inês no seminário. Faz-se necessário mais pesquisa sobre o comportamento animal avaliando sua resposta fisiológica, para que haja um melhor conhecimento para aproveitamento das potencialidades da raça. Referências CUNHA, E. A. et al. Efeito do sistema de manejo sobre o comportamento em pastejo, desempenho ponderal e infestação parasitária em ovinos Suffolk. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 17, n. 3-4, p. 105-111, 1997. INMET. Instituto Nacional de Meteorologia: Base de dados meteorológicos <http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=bdmep/bdmep> Acesso em setembro de 2015. Disponível em SILANIKOVE, N. Effects of heat stress on the welfare of extensively managed domestic ruminants. Livestock Production Science, v. 67, n. 1-2, p. 1-18, 2000. ZANINE, A. M. et al. Comportamento ingestivo de ovinos e caprinos em pastagens de diferentes estruturas morfológicas (Intake behaviour of sheep and goat. Revista Electrónica de Veterinárias REDVET, v. 7, n. 3, 2006.