História de um rio sobrevivente
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História de um rio sobrevivente
Para ba do Sul História de um rio sobrevivente Luís Patriani e Valdemir Cunha Luís Patriani e Valdemir Cunha Realização Patrocínio Apoio 1 Editor Executivo Roberto Amado Diretora de Arte Walkyria Garotti 10 38 Olho d’água Rio grande 70 96 Vidas secas Braços abertos sumário expediente Coordenação Editorial Peter Milko Texto Luís Patriani Fotografia Valdemir Cunha Arte Diogo Franco do Nascimento Fernanda Areias Dalhuisen Produção Editorial Maíra Kaupatez Pesquisa e Produção Marcia Bertoncello Mapa Sírio Cançado Revisão Luiz Francisco A. Senne Cip-brasil. Catalogação na fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ P34p Patriani, Luís Paraíba do Sul : história de um rio sobrevivente / Luís Patriani e Valdemir Cunha - São Paulo : Horizonte, 2010. 132p. ISBN 978-85-88031-28-9 Produção Gráfica Mauro de Melo Jucá 1. Paraíba do Sul, Rio, Vale - História. 2. Paraíba do Sul, Rio, Vale - Obras ilustradas. I. Cunha, Valdemir. II. Título. Tratamento de Imagem Retrato Falado 10-1535.CDD: 981.5 CDU: 94(815) Impressão Prol Gráfica 17.04.10 27.04.10 018632 Av. Arruda Botelho, 684 - 5˚ andar - CEP 05466-000 - São Paulo - SP - Tel.: 55 11 3022-5599 Fax: 55 11 3022-3751- E-mail: [email protected] - www.edhorizonte.com.br Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer meio sem a permissão por escrito da Editora Horizonte. © Copyright 2010 Editora Horizonte - Audichromo Editora Ltda. 2 3 O Rio Paraíba do Sul se aproxima da foz e da cidade de Campos de Goytacazes, depois de atravessar uma das regiões mais desenvolvidas do País 5 ESPÍRITO SANTO O vale do Rio Paraíba do Sul BR 158 Miracema BR 101 Cardoso Moreira Santo Antônio de Pádua Rio Paraí São Francisco de Itabapoana b oS ad Itaocara R io MINAS GERAIS Rio das Flores Itatiaia Lavrinhas Cruzeiro Cambuí Campos do Jordão Camanducaia Morungaba Monteiro Lobato Atibaia Nazaré Paulista Mairiporã São José dos Campos Represa Jaguarí Santa Isabel Jacareí Barragem Santa Branca Arujá Guararema SÃO PAULO Suzano Mogi das Cruzes Biritiba Mirim Santo André SP 088 Redenção da Serra Represa e Barragem Paraitinga Santa Branca Salesópolis Represa e Barragem Paraibuna Reservatório Ponte Nova do M a r Estadual da Serra e u q r Pa SP 055 SP 171 Lagoinha Bertioga Santos S. José do Barreiro Silveiras SP 125 Natividade da Serra Paraíba do Sul Volta Redonda Barra Mansa Usina Santa Cecília Piraí Bananal Rio Claro Res. de Ponte Coberta Represa Ribeirão das Lajes Itaguaí a iting Para Pq. Nacional da Serra da Bocaina Área de Proteção Ambiental de Mangaratiba Angra dos Reis BR 101 BR 116 Quissamã Teresópolis Petrópolis Cachoeiras de Macacu Guapimirim Miguel Pereira BR 101 Nova Friburgo RIO DE JANEIRO RJ 106 Casimiro de Abreu Macaé Rio das Pedras Magé Dq. de Caxias Itaboraí Baía de Guanabara RJ 124 São Gonçalo Ri RIO DE JANEIRO Niterói Rio Bonito Armação de Búzios Araruama Cabo Frio Maricá Arraial do Cabo Mangaratiba Ilha Grande Paraty n bu rai Pa Núcleo Santa Virgínia OCEANO AT L  N T I C O BR 101 Ubatuba Represa Paraibuna Lagoa Feia Carapebus RJ 130 Japeri Reservatório de Vigário Arapeí jes La Pq. Nacional do Desengano Conceição de Macabu BR 040 Vassouras Campos de Goytacazes Cunha São Luís do Paraitinga Área urbana SP 055 Unidades de Conservação Divisa interestadual Caraguatatuba São Sebastião Ilhabela Cubatão Represa Billings Taubaté Caçapava BR 116 Paraibuna Guarulhos Represa Guarapiranga o Jambeiro SÃO PAULO SP 348 ad aíb SP 050 l Su R io Aparecida do Norte Pa r SP 065 Roseira Pindamonhangaba R io Itatiba Cachoeira Paulista Lorena Guaratinguetá Potim Extrema Areias a Amparo R io Socorro Serra Negra Represa do Funil Barragem do Funil Rio BR 116 Rib .d as Queluz Resende Gu andu Pq. Nacional Itatiaia Santa Maria Madalena BR 116 o Passa Quatro Itajubá Cantagalo Sapucaí Três Rios BR 393 Barra do Piraí BR 492 Barragem Ilha dos Pombos ul Paraíba do Sul Valença Pico das Agulhas Negras - 2.791m oS São João da Barra São Sebastião do Paraíba Além Paraíba ad aíb Par Atafona ul São Fidélis BR 116 Rodovias Federais SP 270 Rodovias Estaduais MG SP RJ CIDADES de 20 mil a 50 mil hab. acima de 75 mil hab. Praia Grande Guarujá rios nascente do Rio Paraíba do Sul ESCALA 0 20 40 60 km transposição de água para o Rio Guandu 8 9 1 10 11 Olho d`água 12 13 14 15 No alto da Serra da Bocaina, a 1.833 metros de altitude, a nascente do Rio Paraíba do Sul brota tímida do solo enchar cado da Várzea da Lagoa, um vistoso cam- “Tecnicamente, a nascente de um rio situa-se no ponto mais distante em relação à sua foz. No caso do Rio Paraíba do Sul, é a mesma nascente do Rio Paraitinga, no município de Areias. A confusão acontece po de altitude localizado no município de porque o Paraíba só leva o nome após o en- Areias, região leste do Estado de São Paulo. contro dos dois rios que o formam”, afirma Ainda acanhada, a água clara do ribei- o geógrafo Aziz Nacib Ab’Saber, professor rão, formado pelas abundantes chuvas que emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e caem nesta área durante o verão, ganha Ciências Humanas da Universidade de São volume e força ao longo do seu trajeto em Paulo e professor honorário do Instituto de direção ao Vale do Paraíba. A partir dali, Estudos Avançados da USP. já cheio de confiança, o rio protagonizará uma longa, árdua e emocionante trajetória de 1.150 quilômetros de extensão até a sua foz, em São João da Barra, no litoral norte fluminense. Nascentes limpas mas vulneráveis Os mananciais do Paraibuna e Paraitinga, cujos leitos percorrem um curso quase Mas para entender a formação deste paralelo desde o alto da serra, e 200 quilô- emblemático rio brasileiro e seu entorno, metros depois, próximos à rodovia Dutra, que foi testemunha de importantes ca- se unem para dar identidade ao Rio Paraí- pítulos da história de nosso país, é preci- ba do Sul, são fontes d`água desprotegidas, so dar um pulinho no município paulista localizadas em propriedades particulares. de Cunha, na Serra do Mar, e conhecer o Perto delas, no entanto, encontra-se o Par- nascedouro de um destacado coadjuvante que Nacional da Serra da Bocaina, com 104 desta trama: o Rio Paraibuna. mil hectares de florestas, e, logo ao lado, o Será da junção dele com o Rio Parai- Parque Estadual da Serra do Mar, com 315 tinga, na cidade de Paraibuna, que o Rio mil hectares, numa extensão que vai desde Paraíba do Sul assumirá o nome oficial. a divisa com o Rio de Janeiro até o litoral Aparentemente, são duas nascentes para o sul do Estado de São Paulo. Para se ter ideia mesmo rio, mas o fato tem explicação: de sua relevância, a área de preservação do parque da Serra do Mar, criado em 1977, forma o maior corredor de biodiversidade Em meio à densa floresta da Serra do Mar, dezenas de mananciais abastecem a Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. Cerca de doze milhões de pessoas se beneficiam destas águas 16 de Mata Atlântica de todo o Brasil, conec- ººº Na primeira página, a água das chuvas que se acumula na bromélia é a mesma que encharca o solo no alto da Serra da Bocaina para dar vida ao Rio Paraitinga, um dos formadores do Rio Paraíba do Sul ºº Poucos quilômetros após brotar timidamente do chão, o Rio Paraitinga ganha força na descida da serra criando rápidas corredeiras. O trecho é ideal para a prática do rafting º Do alto da Serra da Bocaina, a vista do Vale do Paraíba com a Serra da Mantiqueira ao fundo revela a imensidão deste corredor natural localizado no industrializado eixo Rio-São Paulo tando as florestas do sul do Estado do Rio de Janeiro ao Vale do Ribeira, na divisa de São Paulo com o Paraná. Há muitos projetos para transformar as nascentes em áreas de proteção. Segundo 17 “O Zé Paraíba é o neto do Jeca Tatu que voltou para resgatar a história, a cultura e o ambiente do vale”, diz ele, referindo-se ao personagem criado por Monteiro Lobato no livro Urupês, publicado em 1918, e que consolidou a imagem do trabalhador rural do Vale do Paraíba. Em uma dessas saídas a campo, em 2006, Zé Paraíba conseguiu provar o que há muito tempo já sabia. Com a ajuda de diversos equipamentos, inclusive GPS (sistema de posicionamento global via satélite), e a participação de técnicos do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e do IGC (Instituto Geográfico e Cartográfico do Estado de São Paulo), além de representantes de outras sete instituições, o astuto caipira mostrou para todos que a nascente do Rio Paraíba do Sul não era na cidade de Silveiras, mas sim na vizinha Areias — encerrando uma polêmica que parecia se estender indefinidamente. Mas, agora, sua preocupação é outra: “A criação de um espaço de proteção nas áreas onde ficam as nascentes é fundamental e O tucano, assim como um quinto de todas as espécies de aves que existem no Brasil, encontra refúgio no Parque Estadual da Serra do Mar. A reserva vai desde a divisa com o Rio de Janeiro até o litoral sul de o coordenador e secretário executivo do bre o assunto. Cinco anos depois, percebeu urgente. Não só pelo aspecto ambiental e CBH (Comitê de Bacias Hidrográficas do Pa- que poderia ajudar muito se assumisse o da qualidade das águas. Um rio só pode ser raíba do Sul no Estado de São Paulo), Edil- papel de articulador entre as diferentes saudável e respeitável se a sua origem for son Andrade, um dos maiores especialistas partes relacionadas, uma vez que o Paraíba preservada”, diz Lázaro. em recursos hídricos no estado, “os rios na do Sul é um rio federal (passa pelos estados Não é exatamente a situação dos rios região de suas cabeceiras estão limpos, o de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, formadores do Paraíba do Sul. O Rio Parai- problema são os assoreamentos. O caso do sem falar nos 180 municípios que se bene- tinga é vulnerável, já que não há unidades Paraitinga é pior, pois sofre muito com o ficiam das suas águas) e envolve muitos, e, de conservação em seu caminho. Já o Rio impacto causado pelo desmatamento das às vezes, antagônicos pontos de interesse. Paraibuna precisa atravessar 20 quilôme- matas ciliares, e, principalmente, com as Sua missão era formar a primeira câ- tros depois de nascer para finalmente en- estradas de terra que foram construídas mara técnica, dentro do Comitê de Bacias trar no Núcleo Cunha do Parque Estadual sem critérios técnicos às margens do seu Hidrográficas do Paraíba do Sul, para ela- da Serra do Mar. Algumas curvas e quedas leito, trazendo para dentro dele uma quan- borar um plano de educação e gestão am- d`água depois, já beneficiado com a exube- tidade enorme de terra”. biental integrado e abrangente. “A relação rância das matas ciliares que o margeiam, Não só os especialistas se dedicam à entre os representantes públicos das cida- entra no Núcleo Santa Virginia, localizado nobre causa do Paraíba do Sul, cuja bacia des por onde passa o rio estava encruada. dentro do mesmo parque. hidrográfica abrange 55.500 km², equiva- Era preciso alguém de fora para fazer com lente a 6% da região Sudeste do Brasil. Um que eles se mexessem e as decisões saís- dos maiores ativistas e defensores destas sem do escritório.” águas é um professor de artes apaixonado pelo rio e tudo que o cerca. 18 Além do trabalho político, ele criou um personagem para sua campanha em favor Lázaro Ferreira da Silva se envolveu do Paraíba e seus afluentes, realizada por com a causa ambientalista em 1992, quan- meio de palestras e expedições pedagógi- do começou a participar de congressos so- cas às nascentes da bacia hidrográfica. Filhote de sagui no Núcleo Santa Virgínia, no Parque Estadual da Serra do Mar. Das 111 espécies de mamíferos que vivem na Mata Atlântica, 22% estão ameaçadas de extinção, principalmente os macacos, como o mono-carvoeiro 19 Ao longo do vale economicamente mais importante do País, o Rio Paraíba do Sul protagoniza histórias do passado e do presente, irrigando terras que foram usadas para o cultivo do café e da cana, viabilizando a intensa industrialização da região e sobrevivendo ao uso indiscriminado de suas águas. Um fotógrafo e um jornalista refizeram seu caminho, da nascente à foz, resgatando personagens, locais e histórias que só puderam existir graças à generosidade de suas águas. Patrocínio Realização Apoio ISBN 978-85-88031-28-9 6