Apostila de Software Livre e assuntos correlatos
Transcrição
Apostila de Software Livre e assuntos correlatos
Apostila de Software Livre e assuntos correlatos DCE-Livre da USP “Alexandre Vannucchi Leme” Sumário 1 Introdução 1.1 Hardware . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2 Software . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 O que é o software livre 2.1 Vantagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2 História do movimento pelo Software Livre . . . . . 2.3 Instrumentos legais que os regulamentam . . . . . . 2.4 Distribuições GNU/Linux . . . . . . . . . . . . . . . 2.5 Ambientes gráficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.6 Mitos e equı́vocos que cercam o Software Livre . . . 2.7 Equivalentes aos softwares proprietários conhecidos . 4 5 6 . . . . . . . 9 11 14 18 21 24 26 30 3 Formatos livres de arquivos eletrônicos 3.1 ODF-Open Document Format . . . . . . . . . . . . . . . 43 45 4 TV Digital 48 5 Inclusão Digital 50 6 Licenças Creative Commons 50 7 Construção colaborativa de conteúdo 7.1 Wikipédia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 50 8 Certificação Eletrônica 50 9 Casos de sucesso em uso de Software Livre 9.1 Poder público e grupos polı́ticos . . . . 9.2 Movimentos Sociais . . . . . . . . . . . 9.2.1 Entidades Estudantis . . . . . . 9.3 Empreendimentos solidários . . . . . . 9.4 Empresas do capitalismo tradicional . . 10 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 51 51 52 52 52 52 DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme” Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz) 4 1 Introdução 1 [email protected] C \ Tradicionalmente, o Movimento Estudantil (ME) discute e mobiliza-se em torno de assuntos ligados às lutas pela qualidade do ensino, às diversas formas de opressão praticadas contra alguns grupos de pessoas, à defesa de patrimônios públicos constantemente ameaçados por interesses privados e discussões polı́tico-filosóficas de toda sorte. A maioria das pessoas interessadas nessas questões e que sonha com uma sociedade mais justa é estudante de cursos universitários da área de Humanidades. Dessa forma, quando é necessário discutir nesse meio um assunto de cunho tecnológico, encontra-se resistência e apatia; mesmo tratando-se de uma luta que também pode ser vista como um movimento social que quer dar mais liberdade para as pessoas, algo que “pode tornar o mundo um pouquinho melhor”, numa abordagem mais piegas. Nesse contexto está incluı́da a questão do Software Livre. Quando seus(suas) defensores(as) procuram mostrar para integrantes de diversas lutas e movimentos a sua importância na construção de uma sociedade mais democrática geralmente não encontram retorno adequado. Muita gente já ouviu falar em alguns dos softwares livres mais famosos, mas não sabe o que isso significa direito; seja fora das universidades, nos cursos de Humanidades e Biológicas ou mesmo em menor escala dentro dos cursos de Exatas. Esta apostila foi elaborada por alguns alunos da USP que têm interesse em ver essa questão esclarecida e aceita dentro dos movimentos estudantis e sociais, sob encomenda do DCE-Livre, gestões 2006/7 (Camarão) e 2007/8. Autor: Francisco José Alves1 “Zeppelin” “laranjatomate” (EESC). Colaboradores: Pode-se copiar e distribuir o presente material de acordo com as licenças = $ , conforme será explicado em Creative Commons nc-nd-sa detalhes na seção 6. Esta apostila foi elaborada usando-se exclusivamente softwares livres, e não tem o objetivo de ser um curso que os ensine a usar, mas apenas mostrar questões filosóficas, sociais, polı́ticas, econômicas e estratégicas por trás desse assunto técnico. Apostila de Software Livre e assuntos correlatos. 1 - Introdução 5 1.1 Hardware Sem entrar em demasiado em detalhes técnicos, vamos começar explicando um pouco do funcionamento dos computadores. Apesar de enfadonho para quem não é aficcionado(a) pela área, tais conhecimentos serão úteis para compreender o que será discutido adiante. Basicamente, um computador é uma máquina que faz cálculos. Ela pega os números em determinado lugar, faz os cálculos necessários e coloca os resultados em outro lugar. Por isso que em francês tal máquina é denominada ordenateur. Quem já viu nos escritórios de Contabilidade antigas calculadoras mecânicas acionadas por manivela, que em seus mecanismos levavam dos números teclados aos resultados das somas/subtrações/multiplicações/divisões pode imaginar com um pouco mais de facilidade o que acontece dentro de um computador; pois a diferença é que ao invés de componentes mecânicos o que se movimenta são pequenas cargas elétricas, em um ritmo muito mais acelerado. Como qualquer equipamento eletrônico, computador é “tapado”, “pau-mandado”. Ele faz exatamente o que o(a) programador(a) manda, sem questionar, sem perceber falhas humanas de programação. Tarefas como escolher os melhores tamanhos de letras e margens para a editoração de um jornal, ou exibir um objeto girando e pulando no monitor, são resultado de operações que geralmente demandam milhares de cálculos por segundo e são orientados por pedidos do(a) usuário(a) e pelo que já foi programado. Os programas, os dados de entrada e de saı́da são armazenados em meio eletrônicos de forma binária, ou seja, na forma de zeros e uns. A combinação deles representa letras, números e outros sı́mbolos. Cada 0 ou 1 pode ser representado pela orientação de uma partı́cula magnética num disquete, pela presença ou ausência de luz por determinada fração de segundo em uma fibra ótica ou de pulso elétrico em um fio, pela existência ou não de uma marquinha microscópica na superfı́cie de um CD que permite ou não a reflexão do LASER incidente. Poder-se-ia ainda convencionar que um grão de feijão significa 0 enquanto o grão de milho representa 1 e convencionar que 01100001=a 01100010=b e por aı́ vai para que um texto pudesse ser representado por uma sequência de grãos dispostos sobre uma superfı́cie qualquer. No sistema binário (com base 2 ao invés do 10 ao qual estamos acostumados/as), 01100001=97 pois 97 = 9 × 10 + 7 que na base binária fica 1 × 26 + 1 × 25 + 0 × 24 + 0 × 23 + 0 × 22 + 0 × 21 + 1 × 20 . Nos computadores, a letra “a” minúscula é tratada pelo código 97. Os 8 bits 6 DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme” Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz) utilizados para armazenar um byte permitem 256 combinações, que têm outros usos além das letras, números e sinais de pontuação. Podem por exemplo representar 256 tonalidades de vermelho, verde ou azul, permitindo 2563 = 224 = 16777216 cores diferentes. Cada pixel (pequeno quadrado com uma única cor, pode-se perceber dando um zoom numa figura digitalizada que trata-se de um mosaico) precisa portanto de 3 bytes para seu armazenamento. Da mesma forma, músicas são armazenadas nos CDs convencionais como uma tabela com a posição da pelı́cula da caixa de som armazenada com 16 bits (216 = 65536 combinações) atualizada a 44100 vezes por segundo (cálculos complicadı́ssimos provam que assim o ouvido humano praticamente não percebe diferença entre o CD e a música de verdade). Os formatos JPEG para figuras e MP3 para músicas permitem que se ocupe um espaço muito menor nos dispositivos de armazenamento de dados, graças a transformações matemáticas que permitem descrever mudanças de cor e vibrações sonoras através de equações. As fórmulas que ocupam menos espaço exigem mais do computador na hora de exibir o que queremos. 1.2 Software Há várias formas de se programar um computador. Há a programação em alto e baixo nı́vel (que não tem nada a ver com caráter, moral ou vulgaridade). A programação de alto nı́vel pode ter programas compilados e interpretados. O mais comum é ver softwares compilados programados em alto nı́vel, e nessa categoria reside a diferença entre software livre e proprietário. A programação em alto nı́vel é feita através da elaboração de um código-fonte com instruções que o computador deve obedecer quando o programa estiver executando. Quando o porgrama é compilado, o códigofonte é transformado em outra forma de arquivo binário que só é compreendida pelo próprio equipamento e por quem entende de compiladores. Nos programas interpretados tais instruções, compreensı́veis para os(as) programadores(as), são lidas diretamente pelo processador, levando a programas um pouco mais lentos na sua execução. Costuma-se dizer que o código-fonte é uma espécie de receita de bolo, con uma série de instruções para se reazlizar uma determinada tarefa. Em Computação, essa séria de instruções dadas a uma máquina ou pessoa para resolver determinado problema de forma sistematizada é chamada de algoritmo. Apostila de Software Livre e assuntos correlatos. 1 - Introdução 7 Há ainda a programação em baixo nı́vel, que consiste em criar um programa diretamente com ordenando os bits de forma compreensı́vel para o hardware existente. É uma tarefa semelhante à da engenharia genética, pois há 4 bases nitrogenadas (A, T, C, G) que podem corresponder a 2 bits cada, que são alteradas e transportadas entre espécies para dar origem a novas formas de seres vivos transgênicos. As instruções do DNA coordenam a construção e o funcionamento de determinado organismo, como nenhum “Criador” deu para os humanos o fonte da “compilação” de nenhum deles, faz-se programação em baixo nı́vel na programação dos seres vivos, levando a criaturas com novas estruturas anatômicas e funcionamentos fisiológicos. Da mesma forma que o DNA se replica praticamente sem prejuı́zo à estrutura original (aı́ reside uma das causas do envelhecimento e deterioração das células), os arquivos eletrônicos podem ser copiados indefinidamente sem perder sua qualidade, desde que o meio fı́sico (disquete, CD, pendrive) não seja danificado. A informação e o conhecimento, bens intangı́veis, quando copiados não privam do seu uso a pessoa que o forneceu para cópia. Ambos continuam com informações e arquivos perfeitos em mão. Nos primórdios da Computação, haviam poucos computadores em operação no mundo todo. Houve gente importante do setor que chegou a dizer na década de 1970 que é ridı́cula a idéia de ter um computador em casa, ou ainda que o mundo teria mercado para apenas 5 ou 6 máquinas, nos anos 1960. Tais máquinas foram concebidas inicialmente para ajudar em tarefas de Engenharia que exigem milhões de cálculos em curto espaço de tempo, ou ainda para o trato com grandes bancos de dados, sendo útil para governos e grandes corporações em geral, especialmente bancos. Sua transformação em máquina de escrever de luxo ou eletrodoméstico de entertenimento foi um acidente. Naqueles tempos, o software era livre, ou seja, seu código-fonte não era escondido a sete chaves como autalmente. Havia interesse em vender o equipamento e era interessante para os fabricantes que houvessem mais programas para elas e gente trabalhando no desenvolvimento deles. Não havia venda de software como atualmente. Em 1978, Bill Gates publicou um artigo em uma revista cientı́fica fazendo apologia ao modelo de software proprietário, incentivando as empresas desenvolvedoras de software a vender direitos de uso sobre eles e restringir o acesso aos fontes aos limites da empresa. Sua sugestão foi aceita pela indústria e, aliada à popularização dos computadores pessoais nos anos 1980 fez com que a 8 DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme” Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz) população considerasse natural a possibilidade de adquirir apenas o direito de uso do programa pronto, mesmo que em condições mais desfavoráveis que aquelas verificadas quando não havia restrição de acesso aos fontes. Esse modelo ajudou algumas empresas a se fixar e crescer no mercado. Para não caracterizar aquela cena em que o Seu Madruga explica ao Chaves o jogo de boliche enquanto o menino fica imaginando uma mesa de restaurante com mudas de árvores Pinus e as bolas de boliche sendo usadas como luvas de boxe, vamos apresentar um exemplo simlpes de códigofonte. Trata-se de um programa que calcula os dı́gitos verificadores do CPF quando insere-se os seus 9 dı́gitos principais. Na linguagem de programação usada, o que vem após as duas barras são comentários ignorados pelo compilador, que servem apenas para orientar os/as programadores(as) que lêem o código. Nota-se uma série de instruções em inglês e uma certa sintaxe para determinar o que e quando o programa deve exibir e calcular. //Fonte: Prof. Maurı́cio Nacib Pontuschka (PUC-SP) //www.pucsp.br/˜tuska/2002/arquivos/extras/CPF.C #include <stdio.h> void main() { char c[15]; int soma, resto, digito1, digito2, i; printf("Entre com o n£mero do CPF:"); scanf("%s",&c); //Cálculo do 1º dı́gito i=0; while (i<9) {c[i++]-=48;} i=10; soma=0; while (i>1) {soma+=c[10-i]*i--;} resto = soma % 11; if (resto < 2) digito1 = 0; else digito1 = 11 - resto; //Cálculo do 2º dı́gito i=11; soma=0; while (i>2) {soma+=c[11-i]*i--;} Apostila de Software Livre e assuntos correlatos. 2 - O que é o software livre 9 soma += digito1 * 2; resto = soma % 11; if (resto < 2) digito2 = 0; else digito2 = 11 - resto; //Impressão do resultado printf("Digitos verificadores : %d%d",digito1,digito2); } Antes de começar a falar do tão esperado Software Livre é necessário explicar o que é Sistema Operacional (SO). Trata-se de um conjunto de programas que fazem a intermediação entre os programas comuns, o hardware e as ações do(a) usuário(a). Exemplos de SOs são: MS-DOS, Windows (marcas registrads da Microsoft), OS/2 (da IBM), MacOS (da Apple) e Linux (registrada por seu criador Linus Torvalds). Geralmente confundese Software Livre com Linux, que é apenas o núcleo de um sistema opercaional livre. Há programas proprietários que funcionam sob SOs livres e vice-versa, apesar ser mais comum a existência de softwares livres com versão para SOs igualmente livres como o Linux. Os cursos de Ciência da Computação têm disciplinas especı́ficas sobre o funcionamento e a confecção de Sistemas Operacionais. 2 O que é o software livre Muita gente confunde Software Livre com software gratuito. A liberdade de que se trata é a de ter acesso ao código-fonte que gerou o programa. É perfeitamente possı́vel haver software proprietário gratuito (como os conhecidos sharewares de download gratuito) e softwares livres pagos. Um bom exemplo é o programa fornecido gratuitamene pela Receita Federal para elaboração de delcarações de Imposto de Renda, que não permite o acesso ao seus fontes para toda a população. Pode-se pagar pelo desenvolvimento de um Software Livre, manutenção ou treinamento de pessoal. Richard Stallman, presidente da Free Software 10 DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme” Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz) Foundation2 , idealizador do movimento pelo Software Livre e notável programador, diz: Free as in free speech, not as in free beer. Ou seja, livre de “liberdade de expressão” e não como é entendido em “cerveja grátis”. Para um software ser considerado livre, deve atender a quatro requisitos: • A liberdade de executar o programa, para qualquer propósito (educacional, comercial, lazer); • A liberdade de estudar como o programa funciona, e adaptá-lo para as suas necessidades. Acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade; • A liberdade de redistribuir cópias de modo que você possa beneficiar o próximo; • A liberdade de aperfeiçoar o programa, e liberar os seus aperfeiçoamen tos, de modo que toda a comunidade se beneficie. Acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade. Quando o software é livre, pode-se pegar seu código-fonte através de download ou outro meio qualquer e compilá-lo em casa, alterando sua programação ou não. O(a) usuário(a) tem liberdade para definir outro rumo para o programa, não apenas aquele predeterminado pela empresa fornecedora. Tendo a “receita do bolo” na mão hão há como cobrar royalties pelo seu mero direito de uso. Ao contrário do software proprietário, não há problemas com pirataria, pois com uma cópia de um pacote e instalação de Software Livre pode-se instalá-lo com quantos computadores se queira sem precisar dar satisfação ao seu time de desenvolvimento. Há, porém, a exigência de que caso esse software seja passado adiante, as mesmas liberdades sejam mantidas. Uma empresa pode alterar um Software Livre sem contar nada a ninguém, mas não pode distribuir tal alteração apenas em formato programa-pronto (binário). “Uma vez Flamengo, sempre Flamengo”, a mesma regra aplica-se aos Softwares Livres. Pode-se dizer que a GPL é uma “Licença-Flamengo” O pai do autor principal, técnico em Contabilidade, sempre aconselhava seus filhos a não corrigir/revisar os próprios textos; pois já o tendo em 2 <http://www.fsf.org> Apostila de Software Livre e assuntos correlatos. 2 - O que é o software livre 11 mente, junto de determinados vı́cios fica mais difı́cil encontrar erros. Quem é contabilista sabe disso e passa seus lançamentos contábeis para outra pessoa conferir. Da mesma forma, os Softwares Livres estão à disposição de um número muito maior de programadores e programadoras ao redor de todo o planeta, que vêem a vida de formas diferentes, que passaram por diversas experiências. Erros que “passam batido” por quem criou um programa em uma localidade podem ser facilmente detectados e corrigidos por pessoas de outro lugar. As vantagens de usar Software Livre serão mais detalhadas adiante. Còdigo-fonte é como receita de bolo. Sendo livre, quem é alérgico a glúten pode livrar-se a tempo de um bolo com farinha de trigo e tentar fazer um semelhante com fécula de mandioca ou batata. Quem é vegano (não consome nada de origem animal) pode criar uma “versão” sem ovos do mesmo prato se tiver acesso à receita. Alternativas que não existem quando há um “monopólio” por parte da padaria ou restaurante. Há também no Software Livre a ausência de restrição no acesso ao conhecimento, o que é especialmente grave quando as empresas vendedoras de software proprietário aproveitam-se do conhecimento acumulado pos séculos para produzir algo fechado. Com o Software Livre pode-se começar onde outra pessoa parou, sem e necessidade de desenvolver alguma aplicação especial a partir do nada. 2.1 Vantagens Apesar da pouca preocupação com o respeito a direitos autorais e com a pirataria no Brasil, a primeira vantagem enxergada no Software Livre é a redução de custos para seus/suas usuários(as). Mesmo tendo elevados custos na migração de seu parque de máquinas e no treinamento de seu pessoal, na pior das hipóteses ganha-se a longo prazo quando deixa-se de realizar pagamentos vultosos para grandes corporações que vivem de vender licenças de software proprietário, pois tais atualizações para versões mais recentes são periódicas. Nada impede também que alguém cobre pelo custo do mı́dia (CD virgem por exemplo), do tempo de cópia, do transporte, etc.; e venda CDs com Softwares Livres. A única exigência é manter a liberdade que se teve e incluir o código-fonte no pacote ou ao menos da uma indicação de onde pode-se fazer o download deles. Admitamos que órgãos fiscalizadores não têm interesse em punir “peixes pequenos” como pessoas fı́sicas que têm softwares proprietários piratas em 12 DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme” Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz) casa, inclusive porque precisariam dar-se ao trabalho de obter uma ordem judicial para violar uma residência. Não faz sentido adotar um discurso moralista que exalte a honestidade, o “dar a César o que é de César” ou mesmo que insinue que pirataria de software é roubo. Deve-se incentivar o uso do Software Livre nos pequenos estabelecimentos e residências exltando-se suas outras qualidades. Já que foi falado em pirataria, roubo e moralismo; pode-se dizer que com o Software Livre há uma honestidade em mão dupla. Não apenas o/a usuário(a) deixa de ser desonesto(a) com o fabricante mas a empresa ou coletivo desenvolvedor é honesta ao fornecer um software transparente, que pode ser auditado. Se uma falha de segurança for descoberta, ela pode ser consertada em pouco tempo e uma versão à prova daquela vulnerabilidade pode ser lançada em pouco tempo. No software proprietário, não se sabe quais procedimentos estão imbuı́dos em sua programação, que foi feita para atender a maioria dos(as) usuários(as). Nada garante que não haja uma “treta” que faça algo que o/a usuário(a) não aprovaria, ou ainda que alguma caracterı́stica inovadora está sendo guardada para a próxima versão (para que tenham mais produtos para vender) quando poderia ser implementada já. Com Software Livre não há tanta dependência em relação às empresas fornecedoras. Alguém que, por exemplo, planta abobrinha e não sabe programar, pode encomendar um software livre para gerenciar sua produção. Se o programna for proprietário e houver um desentendimento entre as partes, ou o(a) responsável pelo desenvolvimento do programa morre ou fecha sua empresa; o(a) cliente fica desamparado(a). Sendo livre, pode-se trocar de fornecedor de serviços de programação/desenvolvimento quando necessário. Pode-se ainda levar os códigos-fonte para outra pessoa que tenha uma plantação de chuchu e deseja informatizar suas atividades. O programa feito para gerenciar plantação de abobrinha pode ser alterado para as particularidades da cultura de chuchu sem que seja necessário reinventar a roda, ou seja, escrever outro software a partir do nada. Já que o presidente Lula tenta explicar muita coisa fazendo metáforas futebolı́sticas e o autor principal é engenheiro mecânico, vamos a algumas comparações com o automobilismo: Software proprietário é uma caixapreta. Usá-lo corresponde a tomar um táxi de olhos vendados; pois chegase ao destino pretendido sem saber se haveria uma forma mais prática, rápida, segura e barata de fazê-lo. Falhas descobertas em Softwares Livres importantes costumam ser reparadas em dias ou memso horas! Não se varre a poeira para debaixo do tapete, costuma-se alertar toda a comu- Apostila de Software Livre e assuntos correlatos. 2 - O que é o software livre 13 nidade da descoberta da falha e do trabalho em torno do desenvolvimento de uma solução. Por não ser possı́vel modificar e adaptar o software proprietário e o(a) usuário(a) ficar à mercê da boa vontade da empresa desenvolvedora; pode-se compará-lo a um automóvel com capô soldado. Um(a) engenheiro(a) que não seja dessa empresa não pode abrir o capô para ver como é o motor nem abaixar a suspensão ou o cabeçote, converter para álcool ou gás natural, colocar vidro escuro, ou algo que o valha. É interessante que a população reclamaria muito se essas coisas acontecessem no mundo automobilı́stico, mas não reclama quando acontece no mundo do software! Os Softwares Livres também são passı́veis de permitir que se chegue a usos inusitados em relação à idéia original, para ter flexiblidade e receber novas funcionalidades especı́ficas que são necessárias a uma pequena fatia do mercado. Nesse caso pode-se pagar para uma empresa ou programador(a) adaptar o software à necessidade de cada cliente, afinal não são todos(as) que sabem programar. A diferença é que nesse modelo o(a) cliente não é dependente de um único fornecedor, de um monopólio, que tem poder para estabelecer regras escorchantes. Uma luta importante que deveria ser construı́da principalmente por movimentos polı́tico-partidários é pelo uso de Software Livre nas urnas eletrônicas. Atualmente não temos conhecimento de seus métodos internos de funcionamento, tal equipamento não pode ser auditado. O ideal seria disponibilizar o código-fonte dos seus softwares para todo o público. Fiscais representando os partidos polı́ticos analisariam os fontes para atestar sua lisura. Tais softwares seriam compilados em uma sessão pública. O programa compilado seria instalado nas urnas, que seriam lacradas também na presença desses(as) fiscais e de quem se interessar. Chaves de autenticação3 seriam geradas para reforçar a prova de que o programa instalado naquela sessão pública não foi alterado em baixo nı́vel nem foi substituı́do. Alguns milhões de Reais de eventuais gastos adicionais não fariam muita diferença, dada a importância de ter-se eleições honestas. O Governo deve exigir isso nos editais para fornecimento das urnas eletrônicas. Não precisamos voltar às cédulas de papel (como pedia Leonel Brizola em seus últimos meses de vida) só por causa dessas desconfianças atuais em relação ao nosso processo eleitoral. 3 Métodos matemáticos baseados na multiplicaç ão de múmeros primos muito grandes podem provar a autenticidade e autoria de arquivos eletrônicos. Os Governos Federal e alguns estaduais estão investindo em certificação eletrônica (seção 8) DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme” Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz) 14 Por incrı́vel que pareça, o uso de Softwares Livres também pode ser favorável ao meio ambiente. O modelo de software proprietário incentiva a obsolescência programada, que é a necessidade de atualizar o hardware para acompanhar os “avanços” do software. O descarte de computadores antes do real fim da sua vida útil faz com que a energia e os recursos naturais (alguns deles tóxicos) usados em sua fabricação sejam subaproveitados, além de acelerar o seu ciclo de consumo e contribuir com a poluição da água e do solo por baterias e géis de capacitores. Seguindo o lema do projeto USP Recicla, que diz que deve-se “reduzir, reutilizar e em último caso enviar para reciclagem”; usar softwares mais “enxutos” e que não sejam tão exigentes (a flexibilidade do Software Livre permite isso) permite um substancial aumento na vida útil desses equipamentos, bem como o “retorno à vida” de muitos deles que estavam esquecidos. A ONG Meta Reciclagem4 , com sua princpal sede em Santo André-SP e “filiais” em diversas cidades, usa do conhecimento técnico de pessoas engajadas na luta pela popularização do Software Livre para revitalizar (termo muito comum na boca dos/as polı́ticos/as atualmente) computadores descartados e direcioná-los para projetos sociais e de inclusão digital. O lançamento periódico de novas versões de determinado software proprietário pode trazer (e geralmente traz) outra armadilha: aos poucos criamse versões de programas e arquivos incompatı́veis entre si, de forma a impedir que arquivos elaborados em softwares antigos sejam lidos nas versões mais atuais do mesmo, o que força parte da população a ter (quer seja comprando ou pirateando) a última palavra em determinado software para poder comunicar-se adequadamente. Não parece, mas o desenvolvimento de Softwares Livres sempre é feito buscando-se a compatibilidade, inclusive retroativa. 2.2 História do movimento pelo Software Livre Em 1983, o fı́sico Richard Matthew Stallman, ativista em lutas por liberdades civis e individuais nos EUA; deparou-se com um problema técnico na impressora Xerox do seu local de trabalho: as retas impressas por ela estavam em formato levemente ondulado. Tendo conhecimento em e gosto por programação de computadores, requisitou ao 4 <www.metareciclagem.org> Richard Stallman Apostila de Software Livre e assuntos correlatos. 2 - O que é o software livre 15 fabricante o código-fonte do driver5 dessa impressora, dizendo que tinha conhecimento técnico para resolver o problema e de quebra disponibilizá-lo para todos(as) os(as) seus/suas clientes ao redor do mundo. Seria bom para ele, para os/as demais clientes e para o fabricante, que infelizmente negou-lhe o acesso às instruções que geram tal driver e também não o consertou por conta própria. Diante desse fato Richard percebeu a importância de lutar para que o software voltasse a ser livre e começou um projeto ambicioso: desenvolver todo um SO com diversas ferramentas úteis para tarefas informatizadas que fosse livre. Tal desenvolvimento deveria ser feito from scratch, ou seja, a partir do zero, sem “chupinhar” código-fonte de nenhum outro prorgama proprietário. Em 1985 foi fundada a Free Software Foundation, com sede em Boston, Massachussets, EUA. Stallman começou sua empreitada sozinho, depois com ajuda de colegas de trabalho do MIT, onde desenvolvia sua pós-graduação. O primeiro projeto foi de um editor de texto chamado Emacs, que quando ficou razoavemlente usável foi prontamente disponibilizado para download no servidor FTP (File Transfer Protocol, muito usado para uploads e downloads) da instituição. Havia também a opção de comprar uma fita magnética com o programa e seu código-fonte, útil para quem não tinha conexão com a Internet na época. O preço pode parecer salgado (US$ 150) para um programa que poderia ser baixado gratuitamente, mas trazia a vantagem de dar liberdade de estudo e desenvolvimento de novas funcionalidades ao editor. Com o tempo, mais colaboradores(as) juntaram-se a esse e a outros projetos de Softwares Livres que foram surgindo, tendo na expansão da Internet uma grande aliada. A existência de um repositório de código-fonte que está à disposição de qualquer um(a) em qualquer lugar do mundo agiliza muito a troca de informações e o desenvolvimento em si. Os sistemas operacionais usados por Richard Stallman e pelas pessoas inicialmente envolvidas no seu projeto eram diversos tipos de Unix. Esse SO é mais robusto, seguro, complexo, difı́cil de operar e dotado de alguna recursos que o MacOS, Windows ou o MS-DOS por exemplo; não têm. Os Unices são usados com mais freqüência em servidores de bancos de dados ou de acesso à Internet, ou ainda em áreas tecnológicas de universidades. 5 Em Computação, trata-se de programas especı́ficos que definem as regras de comunicação de um determinado hardware com o sistema operacional e os demais programas 16 DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme” Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz) Os outros SOs mais fáceis de operar sempre foram os preferidos dos(as) “mortais”. Stallman escolheu o gnu, um antı́lope africano, para ser o mascote do movimento. O sistema operacional livre idealizado por ele é chamado de GNU, que significa (Gnu is Not Unix). É um acrônimo, uma brincadeira como o nome do animal, que serve par lembrar que seu projeto é uma coisa, e os Unices em geral são outra. O sistema operacional GNU tem sua estrutura, comandos e modos de funcionamento semelhantes ao dos Unices existentes. Aı́ reside uma das principais causas de resistência na migração para Software Livre: Deve-se aprender a usar algum Unix. O próprio Linux é uma espécie de Unix. Quem idealizou o Software Livre não quis fazer algo externamente semelhante ao MS-DOS ou ao Windows 3.1. À exceção da pouca familiaridade de muita gente com os Unices e ao pequeno alcance da Internet no fim dos anos 1980, tudo ia muito bem. Faltava um pequeno detalhe para que fosse possı́vel usar um computador exclusivamente com software livre: uma peça chamada kernel! Faltava a cereja no bolo, a parte principal do SO. Em 1991, um formando de Ciência da Computação finlandês chamado Linus Benedict Torvalds estava com problemas que viriam de encontro às necessidades do projeto GNU: ele queria estudar profundamente a arquitetura dos microprocessadores 80386, usar um Unix no seu PC (só havia MS-DOS e Windows 3.x para IBM-PC 386 na época) e não ser obrigado a atravessar ruas cheias de neve para chegar ao equivalente da Sala Pró-aluno6 da Universidade de Helsinki para acessar a Internet; uma vez que poderia acessar o servidor via linha telefônica se pudesse curtir tudo o que um Unix pode oferecer em casa. 6 Chamada de LIG (Laboratório de Informática para Graduação) na UFSCar e de Pólo na Unesp Apostila de Software Livre e assuntos correlatos. 2 - O que é o software livre 17 Ele começou a desenvolver um kernel, que quando tinha um mı́nimo de usabilidade (agosto) foi divulgado num newsgroup7sobre SOs. Ele anunciou que esse kernel seria disponibilizado de acordo com a Licença Geral Pública da Free Software Foundation não pelo mesmo altruı́smo e idealismo que movem Richar Stallman, mas por enxergar nesse modelo de desenvolvimento vantagens técnicas. Teria na mão seu Unix para 80386 em menos tempo, também poderia contar com um Tux, o pingüim- produto de melhor qualidade graças à colaboração -mascote do Linux de mais gente. Em outubro daquele ano era lançada a primeira versão estável do Linux, cujo nome significa Linus’ Unix. O Unix do Linus. Seu desenvolvimento e o de outros programas continuou, porém sem muita preocupação com os usuários “mortais” até o fim dos anos 1990. Nesta década que o desenvolvimento de Software Livre começou a preocupar-se com os/as usuários(as) finais, surgindo projetos de desenvolvimento de Softwares Livres para tarefas cotidianas de grande parte da população; para SOs livres ou não. A seção 2.7 mostra uma tabela com Softwares Livres equivalentes aos principais softwares proprietários conhecidos para as mais diversas aplicações. Pode-se dizer também que atualmente o Software Livre como um todo está maduro o suficiente para atender à grande maioria das demandas de população em geral e das empresas, havendo espaço para desenvolver o que falta. Em alguns nichos especı́ficos, porém, o Software Livre dificilmente entrará. Aos poucos pessoas que não estudam Computação nem Engenharia Elétrica somam-se ao movimento, seja simplesmente usando Softwares Livres, colaborando com seu desenvolvimento sem necessariamente saber programar (por exemplo, elaborando músicas, artes visuais ou assesorando desenvovledores com outros conhecimentos), contribuindo com documentação e tradução, testando versões Beta e reportando problemas aos coletivos de desenvolvimento. Ou simplesmente militando para divlugar o assunto, levar a discussão a seu respeito para fora da “torre de silı́cio” e exigir que pelo menos os órgãos públicos e entidades sem fins lucrativos gastem seu dinheiro com responsabilidade e não exijam de seus/suas as7 Neles, pode-se discutir sobre diversos assuntos, porém sem a interface gráfica bonitinha e amigável do Orkut 18 DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme” Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz) sociados(as) e cidadã(o)s que usem determinados softwares e formatos de arquivos proprietários. 2.3 Instrumentos legais que os regulamentam O/A programador(a) tem à sua disposição diversas ferramentas legais para proteger o direito autoral de seus códigos sem precisar escondê-los, podendo escolher a mais adequada para cada caso. No ambiente do Software Livre também há acordos entre usuário(a) e time de desenvolvimento, que são implicitamente aceitos quando clicase no botão “Next” na instalação de alguns softwares em ambientes gráficos. Clicar nessas opções com a inscrição “Next” ou “aceito os termos da licença” tem o valor legal de aceitar as condições de quem desenvolveu o software, seja livre ou priprietário. A vantagem dos Softwares Livres é que suas condições não são tãoTorvalds desfavroáveis. Linus A principal licença de Software Livre é a GPL (General Public License), redigida pela Free Software Foundation. Trata-se de um texto extenso e de difı́cil leutura (está disponı́vel em inglês no site da FSF), que diz basicamente que quem usa um software sob suas condições tem as 4 liberdades citadas e que caso o redistribua deve manter o acesso a elas. A GPL também tem um caráter “viral” que “contamina” outros programas que recebam trechos de código sob essa licença, nesse caso o novo programa também deve ser distribuı́do pela mesma licença. Já foi dito que nada impede que um software proprietário funcione sob SO livre ou vice-versa. Porém o funcionamento combinado de um programa sob GPL com um proprietário ou simplesmente com outro tipo de licenciamento incompatı́vel não é permitido. Mesmo tendo na FSF pessoas que sonham com um mundo onde todos os softwares fossem livres, foi elaborada uma licença ligeriamente diferente para “quebrar um galho”: a Lesser General Public License (LGPL). Uma de suas utilidades é permitir que bibliotecas8 livres possam ser utilizads por softwares proprietários. . Seu 8 Biblioteca é uma coleção de subrotinas que podem ser usadas por softwares distintos. Servem para facilitar o desenvolvimento deles, poupando trabalho de desenvolver instruções semelhantes para problemas semelhantes e espaço em disco. Por exemplo, uma biblioteca Apostila de Software Livre e assuntos correlatos. 2 - O que é o software livre 19 objetivo é justamente permitir que softwares livres possam ser combinados com módulos não-livres e vice-versa. Entretanto a FSF não estimula seu uso, e sim o da GPL convencional, para que softwares não livres trabalhem em conjunto com essas bibliotecas. Tal atitude pode incentivar o uso de Softwares Livres ou distanciar as pessoas dele, dependendo da simpatia que determinada pessoa, grupo ou empresa nutre por ele. Outro fator quepesa nessa decisão pode ser a existência de bibliotecas altamente avançadas. A terceira e última versão da GPL tem atualizações para evitar que o Software Livre não seja vı́tima da tivoização indiscriminada. Há hardware que só funciona se o software tiver uma determinada assinatura eletrônica, o que impediria o uso de versões alteradas nesse tipo de equipamento. A tivoização, porém, é desejada nas urnas eletrônicas, onde deve-se ter certeza de que o programa uma vez instalado não foi alterado. As Licenças BSD (Berkeley Software Distribuition) foram criadas a partir da discordância de algumas pessoas com as regras da GPL, que as consideram complicadas e restritivas demais. As licenças BSD permitem que pedaços de código de software livre possa ser adicionado em software proprietário. Tais licenças também exigem a citação do nome de todas as pessoas envolvidas no desenvolvimento, mesmo quando alguma parte é incorporada a um software proprietário. O defensores desse modelo de licenciamento dizem nele pode-se fazer com o código mais coisas que a GPL permite, enquanto quem defende a licença da FSF diz que a permissão de incorporar sódigo livre em programa proprietário dificulta o avanço do Software Livre. Os sistemas operacionais Free BSD, Net BSD e Open BSD têm suas licenças ligeriamente diferentes. São considerados mais seguros que o Linux e preferidos em algumas aplicações onde exige-se alta confiabilidae, por razões técnicas. Também são tipos de Unix, mas devido a suas particularidades não são tão apropriados para uso para pessoas leigas em tarefas informatizadas corriqueiras. Interessados(as) em conhecer os BSD mais profundamente podem consultar: http://en.wikipedia.org/wiki/BSD license http://www.freebsd.org http://www.netbsd.org http://www.openbsd.org com informações sobre valroes e desenhos de cartas de baralho poderia ser usada por vários jogos de cartas. DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme” Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz) 20 Algumas corporações torcem o nariz para o termo Free Software e preferem Open Source. Um software Open Source têm os códigos-fonte à disposição dos(as) usuários(as) para estudo e atestado de segurança e lisura, mas não lhes dá necessariamente o direito de modificar e distribuir. Tal termo foi cunhado porque “Free Software” assuta alguns atores do capitalismo tradicional, soa libertário demais para o gosto deles. A Open Source Initiative <http://www.opensource.org> defende a existência de ambos os conceitos e pode fornecer maiores informaçãoes para quem se interessar em uma visão mais detalhada. Softwares Livres precisam de documentação livre. Quem desenvovle softwares geralmente não tem muita inspiração ou paciência para escrever os manuais dos programas, quando eles são complexos demais para precisar disso. Pessoas que tenham talento ou não em programação são incentivadas a desenvolver manuais e tutoriais para Softwares Livres. A FDL-Free Documentation License nada mais é que um meio de permitir a livre distriubição e aperfeiçoamento de documentação em geral, não apenas para Software Livre. Ter “livros” livres, mesmo que não no formato fı́sico convencional, ajuda no aprendizado em qualquer área, dispensando as pessoas da compra de livros caros a respeito (e existem muitos voltados para softwares livres). Um engano muito comum para quem não conhece as questões do Software Livre é confundi-lo com domı́nio público. Uma obra inventiva/criativa/artı́stica sob domı́nio público não está sujeita a nenhuma regra de direito autoral e pode ser pega por qualquer pessoa ou empresa para qualquer finalidade. Geralmente trata-se de obras antigas que caı́ram em domı́nio público devido à expiração de patentes e fazem parte do patrimônio histórico, artı́stico ou cultural de um povo. Cantigas de roda e algumas músicas que animam as festas juninas enquadram-se nessa categoria. Falta falar do Copyleft. Trata-se de um trocadilho com o Copyright, onde a expressão “direito de cópia” é trocada pelo “cópia permitida”, em inglês. Ao invés de proibir a cópia de qualquer obra criativa sem a expressa permissão do(a) autor(a) ou detentor(a) dos direitos autorais, há liberdade para cópias e adpatações. Há diferenças entre Copyleft e domı́nio público, pois o Copyleft não é tão permissivo e exige que as mesmas liberdades sejam repassadas e a citação do nome do(a) autor(a). A GPL e as licenças Creative Commons são Copyleft. O sı́mbolo do Copyleft é o sı́mbolo de Copyright invertido horizontalmente. « Apostila de Software Livre e assuntos correlatos. 2 - O que é o software livre 21 2.4 Distribuições GNU/Linux Como o Linux, o sistema operacional GNU e os demais Softwares Livres podem ser distribuı́dos por qualquer pessoa ou empresa; algumas delas preparam discos de instalação para permitir a instalação de um sistema operacional completo com relativa facilidade. São como engarrafadoras. Algumas distribuições são preparadas por empresas e outras por coletivos formados por voluntários(as). As centenas de distribuições existentes (nada impede que uma pessoa crie a sua própria) têm focos e objetivos distintos. Algumas oferecem ferramentas que facilitam a instalação, configuração e uso do computador. Outras, permitem um maior controle sobre a máquina e configurações mais avançadas. Há ainda as que preocupam-se em atender a necessidades especı́ficas de algumas regiões. Outra opção que as principais distribuidoras fazem consiste em “engarrafar” os programas na sua versão mais atual ou escolher versões exaustivamente testadas. Alguns Softwares Livres são atualizados uma ou mais vezes por mês, estão em constante evolução, e essa opção pode ser muito importante dependendo da aplicação. Nada impede, pois, que após a instalação do sistema operacional e dos aplicativos a partir do disco de instalação de alguma ditribuidora sejam instalados outros softwares, livres ou não que funcionem sob o SO. Algumas empresas não mantêm necessariamente uma determiada distribuição, mas contribuem com seu desenvolvimento de outras formas. Algumas doam equipamentos, dinheiro, ou chegam ao ponto de ter empregados(as) pagos(as) exclusivamente para ajudar a manter determinado software ou distribuição. Em alguns casos há interesses comerciais, como por exemplo assegurar que determinado produto será compatı́vel com ao menos uma distribuição. Existem ainda as distribuições Live-CD, que praticamente não interferem no disco rı́gido. Com um Live-CD e um computador que permita realizar o procedimento de boot9 a partir do drive de CD, pode-se executar o SO a partir dessa mı́dia. Apesar do funcionamento mais lento e de algumas limitações, há a vantagem de muitas tarefas de configuração de hardware ser automatizadas, o que é necessário nesse caso porque não se guarda nenhum arquivo de configuração no disco. Após desligar o computador e realizar o boot novamente sem o CD no drive, ele volta a executar o SO que está instalado em seu disco rı́gido como se nada tivesse acontecido. É um transe hipnótico. 9 O pontapé inicial, uma série de processos de inicializç ão do computador 22 DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme” Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz) Os Live CDs são muito úteis para conhecer o GNU/Linux sem compromisso, sem exigir muito espaço no disco rı́gido para sua instalação. Não se força uma mudança drástica de paradigmas, uma pessoa pode até mesmo usar um computador que não lhe pertença. Vamos falar um pouco sobre as principais distribuições existentes: Debian http://www.debian.org O nome surgiu da fusão do nome do seu criador (Ian Murdock), com o de sua esposa, Debra (que romântico!). Nota-se que que seu site é .org e não .com, pois não se trata de uma empresa, mas de um grupo de pessoas distribuı́da ao redor do mundo que mantêm a distribuição com o seu trabalho de desenvolvimento e “engarrafamento”. A principal marca do Debian é a preocupação com o alinhamento à filosofia do Software Livre, nenhum programa entra é empacotado em seus discos de instalação se não for totalmente livre (algumas distribuidoras empacotam programas proprietários). Mesmo assim, conta atualmente com mais de 18000 programas, atualmente a distribuição completa contém 21CDs ou 3 DVDs. Mesmo assim eles são rigorosos e só admitem versões dos softwares que foram exaustivamente testadas e tiveram sua estabilidade comprovada, em detrimento das últimas versões dos mesmos. É uma das distribuições mais antigas, fundada em 1993, e algumas outras derivam dela. Slackware http://www.slackware.com Um sistema GNU/Linux instalado a partir dessa distribuição é o equivalente de uma máquina fotográfica que usa filme e tem regulagem de abertura e exposição. Não há “moleza”, muitas das configurações devem ser feitas editando-se arquivos de configuração ao invés de escolher-se menus e botões em ambiente mais amigável. Para pessoas mais experientes esse caminho é mais apropriado, bem como para quem quer aprofundar-se no conhecimento do sistema. A intenção dos seus desenvolvedores é criar um sistema operacional mais parecido possı́vel com Unices já existentes. Também lançado em 1993, visa a “simplicidade”, não no sentido de ser fácil de usar por iniciantes, mas em não ter muita “firula”. RedHat/Fedora http://www.redhat.com Foi umas das primeiras distribuidoras com foco para o mercado corporativo, propondo-se a oferecer serviços para grandes empresas. Muitos softwares para GNU/Linux, inclusive alguns proprietários, são feitos para funcionar melhor ou somente com Red Hat. Após a decisão de atender apenas os clientes corporativos, foi lançada a distribuição Fedora para o ambiente doméstico. Curiosidade: o governo chinês criou a distribuição Red Flag para uso interno. Apostila de Software Livre e assuntos correlatos. 2 - O que é o software livre 23 Mandriva http://www.mandriva.com.br Fusão da francesa Mandrake com a brasileira Conectiva. Segue uma linha semelhante à da Red Hat, com o oferecimento de aplicativos e drivers voltados para os equipamentos de hardware mais vendidos na América Latina, na divisão Conectiva. SUsE http://www.novell.com/linux Empresa alemã que atende boa parte do mercado europeu, adquirida recentemente pela Novell. Gentoo http://www.gentoo.org Também indicada para pessoas muito expeirentes, tem uma caracterı́stica marcante: tudo é compilado, os programas não são instalados no seu modo compilado a partir de uma mı́dia de instalação. É feito o download dos códigos-fonte dos programas esoclhidos, com algumas opções de compilação. Os programas ficam otimizados para o equipamento que se tem, o que pode ser vantajoso quando prcisa-de desempenho. As principais distribuições são baseadas na RedHat, Slackware ou Debian, usando inclusive seus sistemas de pacotes de instalação. Há alguns anos atrás a discussão sobre qual distrubição é a melhor era mais acalorada e apaixonante, especialmente entre usuários(as) de Debian e Slackware. “Só o (Debian/Slack) presta!” já foi dito por muita gente. Atualmente a discussão sobre as caracterı́sticas de cada distribuição e sua adequação para cada tarefa ainda existe e é saudável, permanecendo num nı́vel menos agressivo que o passado. Existem também as distribuições que usam o formato chamadao LiveCD. Nelas, não é necessário instalar nada (ou quase) no disco rı́gido. Os programas são carregados a partir do CD desde o inı́cio do processo de boot e permitem uma certa funcionalidade sem maiores interferências do computador. Apesar das limitações no desempenho dos programas, essas distribuições são muito úteis para quem quer sonhecer o GNU/Linux sem compromisso, não tem condições de migrar de SO atualmente ou mesmo não dispõe de um computador próprio, podendo usar o Live-CD em máquinas de terceiros(as). Quando desliga-se o equipamento e retirase o CD, ele volta a executar o SO instalado no disco rı́gido nas outras vezes em que for ligado em o Live-CD, como se nada tivesse acontecido. É como se fosse um transe hionótico. A úinca interferência que pode ser necessária é a instalação de um único arquivo (geralmente bem grande) para ser usado pelo GNU/Linux como memória virtual ou uma série de arquivos menores para salvar algumas configurações para o caso de utilizar-se o Live-CD com uma certa freqüência no mesmo computador. 24 DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme” Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz) Entre as distribuições Live-CD, destacam-se: Knoppix (baseada no Debian, uma das primeiras a adotar o modelo Live-CD), Kurumin (voltada para o público brasileiro). Ubuntu e suas variantes (Xubuntu, Edubuntu). Ubuntu é mantida por um milionário sul-africano que chega ao ponto de enviar gratuitamente pelo correio seus CDs para quem requisitá-los. Aliada às facilidades dos Live CDs, essa facilidade de obtenção dos seus discos fez do Ubuntu uma distribuição muito popular. A palavra Ubuntu tem diversos significados em lı́nguas tribais africanas, que vão desde “piada” a “humanidade em direção a outros(as)”, que na explicação de Nelson Mandela passa a noção de referir-se e pessoa solidária, acessı́vel e hospitaleira. Em <http://www.distrowatch.com> encontra-se uma extensa lista de distribuições. 2.5 Ambientes gráficos No sistema operacional Microsoft Windows, o mais conhecido e usado, a interface gráfica é uma funcionalidade embutida que não pode ser trocada. Nos Unices isso é diferente: há um servidor de janelas vários ambientes gráficos distintos (estima-se que atualmente estejam na casa dos 50), que sendo livres podem ser compilados em diversos SOs que seguem os padrões do Unix. Tais ambientes gráficos têm propostas diferentes, podem exigir mais ou menos recursos fı́sicos do computador, ter mais ou menos funcionalidades (das mais essenciais àquelas considerads “firula”), ser mais fácil de aprender a usar ou não. Há ainda a opção pessoal de cada usuário(a), e a possibilidade de ter vários ambientes gráficos distintos num mesmo computador para cada pessoa usar o que melhor lhe convier (basta o hardware comportar todos eles). Pode-se mesmo usar a cada dia uma interface diferente sem problemas com compatibilidade. Não é apropriado colocar aqui, em preto-e-branco e no tamanho reduzido do papel, as capturas de tela (também chamadas de screenshots) dos principais ambientes gráficos usados no ambiente Unix. Para conhecê-los melhor, deve-se visitar os seus sites para saber detalhes de suas caracterı́sticas e ver alguns screenshots. O site “Sao’s place. Window Managers for X11” http://homepage.mac.com/sao1/fink/wmanagers.html tem uma página Web com informações resumidas sobre vários ambientes gráficos para uso em SOs livres compatı́veis com Unix. Há links para os seus sites onde maiores informações podem ser obtidas. Comentários sobre alguns deles: Apostila de Software Livre e assuntos correlatos. 2 - O que é o software livre 25 Enlightenment: altamente configurável, leve, relativamente complexo e de difı́cil aprendizado. GNOME <http://www.gnome.org>: GNU Network Object Model Environment. Criado para ser uma alternativa ao KDE numa época em que ele era mal-visto. KDE <http://www.kde.org>: é o mais pesado, seguido de perto pelo GNOME. Há alguns anos precisava de uma biblioteca proprietária para funcionar e era mal visto por pessoas muito preocupadas com a filosofia do Software Livre. Essa biblioteca, chamada Qt, foi liberada, o que permitiu sua popularização. Tem muitas ferramentas de configuração que poupam o/a usuário(a) de fuçar em arquivos-texto menos amigáveis, além de contar com muitos recursos gráficos. Tais regalias são configuráveis para que setenha mais ou menos “firulas”. Junto com GNOME, têm muitas funcionalidades associadas, beirando um SO completo. IceWM/FVWM/QVWM: Concebidos para ter aparência semelhante à do MS Windows 95, para facilitar a aclimatação de pessoas acostumadas a esse SO. XFCE - X Free Cholesterol Environment. Feito para ser semelhante ao GNOME na aparência, sendo porém um pouco mais leve para permitir seu uso em computadores mais antigos. Window Maker10 : boa relação custo-benefı́cio para quem não faz questão de muitos efeitos especiais. Leve e ágil. Não tem a barra inferior com acesso intuitivo aos menus, que são acessados com a tecla F12 ou com clique do botão direito do mouse na área de trabalho. Suas configurações podem ser editadas com aplicativo próprio ou através da manupulação de arquivos texto para quem preferir. Compatı́vel com aplicações feitas especialmente para KDE e GNOME. Nota-se que em muitos projetos de ambientes gráficos (há vários outros citados no Sao’s place) há preocupação com a leveza e agilidade. Alguns chegam ao ponto de permitir o máximo possı́vel de funcionalidade com o uso mı́nimo do mouse, pois algumas pessoas preferem manter suas mãos sobre o teclado. Poucos preocupam-se na facilidade de uso para leigos(as) recém-chegados(as) dos SOs proprietários. Basicamente, KDE e GNOME são os mais recomendados para iniciantes e pessoas que não querem aprofundar muito seus conhecimentos técnicos nos Softwares Livres. Para executá-los dignamente, porém, é necessário ter recursis de hardware paropriados, pois eles são exigentes nesse quesito. 10 O autor usa Slackware e Window Maker, mas não faz questão que os/as outros(as) façam o mesmo, desde que estejam no Software Livre 26 DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme” Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz) Em projetos que visam o reaproveitamento de computadores antigos para projetos sócio-ambientais, pode valer a pena esforçar os/as envolvidos(as) no aprendizado de um ambiente mais espartano, pois muito poder de processamento está envolvido na elaboração de alguns gráficos e ter um ambiente assim pode ser fundamental para o sucesso do Software Livre em equipamento mais modesto. De qualquer forma, a escolha do ambiente gráfico é tão ou mais importante que a da distribuição, pois quem usa o computador tem contato com a interface diretamente, ao passo em que a instalação, as configurações e rotinas de manutenção podem ser feitas por outras pessoas, que instalariam a distrubuição à qual estão acostumados(as). 2.6 Mitos e equı́vocos que cercam o Software Livre Muitas idéias errôneas sobre o Software Livre permeiam a imaginário popular. Algumas são espalhadas por pura má-fé por parte de quem quer manter-se graças ao software proprietário. Outras são repetidas por quem tem preguiça de pensar e avaliar as vantagens so Software Livre porque teria mais trabalho caso seu local de estudo ou trabalho o implementasse. Se é de graça não deve ser bom. É geralmente a primeira idéia lançada por quem quer denegrir o Software Livre, com a idéia de que quem não é remunerado por um serviço não o faz corretamente. Sem ser piegas, sem dizer que esses(as) programadores(as) são altruı́stas e querem justiça social; deve-se chamar a atenção para as motivações técnicas que levam muita gente a buscar o modelo livre para disponibilizar ou buscar um software. Pode não pegar bem dizer que as melhores coisas da vida não têm preço, dependendo do contexto. Por que você não aprende Esperanto também? Afinal, são modelos diferentes, criados por pessoas que dizem que são melhores para o mundo caso fossem adotados em larga escala. A proposta de uma lı́ngua “tirada da cartola” com regras gramaticais simples, sem exceções, verbos irregulares ou a predominância cultural de determinado povo parece interessante. Há, porém, algumas diferenças entre o uso da linguagem e dos softwares: os idiomas evoluem, influem uns nos outros e dividem-se de forma espontânea e descentralizada. Tampouco é necessário pagar por royalties ou direitos autorais para usar um determinado idioma, seja na forma escrita ou falada. O Esperanto pode ter vantagens técnicas sobre o inglês que é naturamlente aceito na comunicação globalizada, as trata-se de uma questão menos grave e urgente, sobre a qual também não temos tanto co- Apostila de Software Livre e assuntos correlatos. 2 - O que é o software livre 27 nhecimento de causa. Em contrapartida há uma semelhança entre as propostas do Esperanto e do Software Livre, de acordo com depoimentos de gente que estuda esse idioma: Por não estar atrelado a neuma cultura e nenhum povo especı́fico, não haveria a necessidade de se mudar o idioma “padrão”, “universal” da civilização cada vez que uma nação diferente assume a liderança, mesmo que esse fenômeno seja bem mais lento que as atualizações e mudanças de padrão na indústria de informática. Há alguns séculos, espanhóis e portugueses tinham notável influência no Velho Mundo devido aos seus desenvolvimentos na área naval. Gregos e Romanos (que falavam latim) já foram os mais poderosos também. Hoje temo o inglês como a lı́ngua “universal” dos negócios e usada pelos povos dominantes. Daqui a algumas décadas, os idiomas chinês e espanhol promete tomar boa parte desse espaço. Um idioma com padrões mais simples (com a outra face da moeda de não ser tão enfeitado e belo) poderia sobreviver melhor a essas mudanças periódicas de paradigma. . Deve-se deixar claro que em TI (Tecnoligia da Informação) não existe Vodu! Para instalar um programa menos seguro, compilado por alguém de má-fé com intenção de causar algum dano; deve-se passar primeiro pelos programas seguros que estão atualmente instalados e compilados. Alterar o código emumamáquina não altera o programa pronto na outra instantaemanete e sem necessidae de passar por barreiras. Não existe vodu em Tecnologia da Informação. Mas eu não tenho o que fazer com o fonte. Os Softwares Livres não são feitos apenas para estudantes e profissionais de Ciência da Computação e Engenharia Elétrica. Alguns deles são voltados para o público geral, inclusive leigo. Mesmo quem não participa do coletivo de desenvolvimento toma parte das vantagens da liberdade que tal software dá. Os/As dsenvolvedores(as) fazem-no pensando em toda a população (obviamente se for por exemplo um programa para área médica, pensa-se em todos/as oas/as profissionais da Medicina). Quem sentir a obrigação moral de colaborar pode participar de outras atividdes que não necessariamente a programação, conforme já foi descrito. Mas eu mal sei mexer no “Ord”. Cada um(a) tem suas habilidades e aptidões. Alguams pessoas têm dificuldade para entender como um computador funciona e não têm o “desconfiômetro” que outras têm para lidar com essa máquina. Como o SO livre mais famoso (GNU/Linux) é realmente mais complexo (a verdade deve ser dita) e o simples fato de migrar para o que não se está acostumado exige novo aprendizado; a mudança de 28 DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme” Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz) paradigma para Software Livre realmente assusta. Quando a pessoa tem disposição para aprender, nota-se que aquelas que lidam com computadores há muito tempo (digamos, quem já mexeu com MS-DOS, XT, 286) ou aquelas que nunca pegaram num e já começam a aprende a usá-lo em plataformas livres e não têm o legado proprietário; aprendem a lidar com o GNU/Linux mais facilmente do que aquelas que começaram com o Microsoft Windows 2000 ou XP. Se a pessoa mal sabe usar o “Ord”, é uma ótima oportunidade para que ela aprenda usar o BrOffice de uma vez. Mas na empresa XYZ migraram para Software Livre e estão gastando mais. Isso pode ser verdade. Há os custos com migração, treinamento e não há tantos(as) profissionais aptos(as) a oferecer suporte adequado em todas as regiões do Paı́s. Há demanda reprimida, empresas e órgãos públicos querendo migrar mas não encontram quem possa fazê-lo. Alunos(as) de Computação ou Engenharia Elétrica que estudam o assunto por conta própria têm mais chance de conseguir uma bos colocação no mercado de trabalho. Em alguns casos pode tratar-se de um investimento, com maiores custos na fase inicial e retorno na forma de menores custos dali a alguns anos; não apenas na economia com licenças e royalties como com perdas e “dores de cabeça” evitadas. Há quem disponha-se a pagar ais por estabilidade, segurança e disponibilidade. É o caso dos bancos, que ganham demais com tarifas, os altı́ssimos spreads e juros da dı́vida interna, mas estão aceitando Softwares Livres ao menos em seus servidores. Como dizem por aı́, gasta-se menos indo atrás de prostitutas, mas não é tão legal quanto levar a namorada para um restaurante. Se é de graça porque eu tenho que pagar pelo treinamento? Deveriam dar treinamento gratuito também. Não é tão livre assim esse software. Uma polı́tica pública de incentivar a adoção do Software Livre em diersas camadas da sociedade seria bem vinda e acontece de forma tı́mida em alguns projetos públicos. Porém, deve-se entender que caso não se consiga isso ou algum(a) voluntário(a) para ministrar algumas aulas gratuitamente a única saı́da é pagar pelo curso. Já foi dito que o custo de treinamento não é a mesma coisa que pagar pela licença de uso do programa. Um curso pago, mesmo que com preço módico e/ou voltado meramente para cobrir custos, força o(a) professor(a) a ter mais carinho e responsabilidade; além de incentivar o(a) aluno(a) a comparecer às aulas e valorizá-las. Abrindose inscrições gratuitas para um curso de GNU/Linux, se há 200 pessoas inscritas umas 20 vão efetivamente às aulas. Quem garante que um dia não vão apossar-se deles e torná-los ilegais ou piratas? O caráter “flamenguista” das licenças. Apostila de Software Livre e assuntos correlatos. 2 - O que é o software livre 29 Os estadunidenses roubaram a patente do brasileiro que inventou o Bina. Vamos roubar algo deles também. Para quem crê na Bı́blia basta dizer que vingança não é legal e o Apóstolo Paulo ensina a pagar o mal com o bem. Esse desejo vingativo é prejudicial para quem o sente, pois deixa-se de usufruir as vantagens do Software Livre. Deve-se ressaltar também a “vista grossa” que os principais desenvolvedores de software proprietário fazem em relação à pirataria, para manter-se populares através da disseminação de seus produtos ilegais onde a fiacalização é mais complicada (em casa, com pessoas fı́sicas). A pirataria favorece seu alvos, por manter a sociedade longe das alternativas livres e da discussão a respeito delas. Alguém pode alegar que sendo o preço das licenças escorchantes (e o são realmente) uma desobediência civil nosmoldes ghandianos seria útil para rebelar-se contra essas grandes corporações; mas elas não têm prejuı́zo com essa prática, pelo contrário. Isso ainda não está pronto para “nı́vel usuário”. Daqui a uns 5 anos, quando estiver melhor, eu vejo se migro ou não. Há quantas décadas dizem que o Brasil é o Paı́s do futuro, e o futuro nunca chega? Há distribuições e ambientes gráficos adequados para quem está disposto(a) a dispender um mı́nimo de tempo aprendendo a lidar com seus ambientes. Faz muito tempo que os ambientes de Software Livre estão prontos para o “nı́vel usuário”. Mas não é tão parecido com o equivalente proprietário que conheço. Tem gente que reclama que se o software livre que se propõe a realizar a mesma tarefa de outro software proprietário tiver a aparência e funcionalidade muito semelhante, reclama; se for muito diferente, reclama também. Devese ver se o software livre usado atende as necessidades de cada um. Às veze spode não atender, e a saı́da pode ser pagar pelo seu desenvolvimento na direção pretendida ou continuar usando a soluçao proprietária. Querer que um software seja semelhante a outro para ser cdhamado de bom equivale e chamar uma pessoa negra de bom caráter de preto de alma branca. Sugiro uma experiência, que foi realizada no 50o Congresso da UNE no final dos debates sobre Software Livre e assuntos afins: tome um refrigerante local, de preferência um guaraná, quando for viajar a um lugar novo. O interior paulista tem várias fábricas de alcance regional com bons guaranás11. Alguns talvez não sejam tão bons. No Paraná também há refrigerantes exóticos, com sabor de morango e abacaxi. Ao tomar esse guaraná novo ao seu paladar, avalie se ele é bom por si só e se atende às suas ne11 O autor principal é assisense e recomenda os guaranás Conquista, Cristalina e Funada, populares no vale do Paranapanema, oeste paulista 30 DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme” Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz) essidades; mas em hipótese alguma compare seu sabor ao dos principais guaranás do mercado. Um guaraná bom não precisa necessariamente ter o mesmo sabor do Kuat ou do Antarctica. Mas... e os anti-vı́rus? Quase não há anti-vı́rus para ambiente GNU/Linux. E isso não se deve à sua popularidade incipiente. Sua estrutura não permite determinadas formas de ataque, ou somente parmite que se prejudique o diretório do usuário que está logado (ou seja, que fez o login). Se o programa operado por essa pessoa manipular arquivos em outro lugar não há esse risco. De qualquer forma, é tecnicamente possı́vel confeccionar vı́rus para plataformas livres que possam infectar usuários(as) domésticos e afetar seus arquivos. Atualmente os vı́rus cederam espaço para outros tipos de pragas virtuais, que exploram vulnerabilidades dos softwares, especialmente os proprietários. Nesse caso, uma rede bem configurada (com aquela peça que fica entre o teclado e a cadeira bem ajustada, treinada e atualizada) mantém uma rede corporativa segura. Sofrer tais ataques em casa é umapossibilidade remota, porém ainda tecnicamente possı́vel. Mas tem que ter um padrão, você está indo contra a corrente. Sim, deve haver padrões, mas padrões livres, que não restrinjam as pessoas. Realmente mudar umpadrão amplamente usado pela Humanidade é traumático e oneroso, e não será feito enquanto não se tiver ampla certeza de que esse outro padrão é melhor e que não será necessário mais mudanças. Já foi dito que a Internet e sua face mais conhecida (a World Wide Web) só alcançaram a popularidade que têm porque foram baseadas em padrões abertos. Qualquer um(a) faz um navegador, um roteador, um SO ou uma placa que comunica-se via TCP/IP, o protocolo da Internet. Se os padrões para parafusos e pneus fossem de popriedade de uma única empresa ao invés de permitir seu livre uso por diversos fabricantes automobilı́sticos; haveria uma pressão por um padrão novo e livre? 2.7 Equivalentes aos softwares proprietários conhecidos Fontes: Tabela do Projeto Software Livre-Bahia 12 e <www.linuxrsp.ru/win-lin-soft/table-eng.html> Programa Proprietário/Microsoft Windows Equivalente livre 12 <http://twiki.dcc.ufba.br/bin/view/PSL/CartilhaSL> Apostila de Software Livre e assuntos correlatos. 2 - O que é o software livre Internet Navegador ou browser Internet Explorer Cliente de e-mail Outlook Express Catálogo endereços Gerenciamento downloads de de Mozilla Firefox Galeon Konqueror Nautilus Evolution Sylpheed Mozilla Thunderbird KMail Gnumail Rubrica Outlook Express Getright Download de sites inteiros Teleport Pro Clientes FTP Bullet Proof, teFTP, WSFTP Clientes IRC (Internet Relay Chat) mIRC, VIRC, Xircon Cu- Downloader for X Caitoo (Kget) Prozilla Wget13 Aria. Axel GetLeft. Lftp Httrack WWW Offline Expolrer Wget, Xget, QtGet Pavuk Gftp Dpsftp KBear IglooFTP Nftp Wxftp axyFTP Xchat KVirc Irssi BitchX Ksirc Epic Sirc 13 Front-ends gráficos para Wget: Kmago, Gnome Transfer Manager, QTget, Xget 31 32 Mensagens em rede local DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme” Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz) Win PopUp, netsend Clientes para mensagem instantânea ICQ, MSN, AIM, TrillianICQ (freeeware, não é livre) Clientes Jabber MyJabber, Skybber Rhymbox, Rival MS NetMeeting Vı́deoconferências Firewall BlackICE, ATGuard, ZoneAlarm, Agnitum Outpost Firewall, WinRoute Pro Detecção de intrusos(as) BlackICE, Agnitum Outpost Firewall Filtro de conteúdo Proxomitron, ATGuard, Agnitum Outpost Firewall, MS ISA server LinPopUp Kpopup Licq (ICQ) Centericq (ICQ, console) Alicq (ICQ) Micq (ICQ) GnomeICU (ICQ) Gaim (Suporta vários protocolos) Kopete Everybuddy Imici Messenger Ickle (ICQ) aMSN (MSN) Kmerlin (MSN) Kicq (ICQ) YSM (ICQ, console) kxicq Tkabber Gabber Psi GNOME Meeting ipchains Kmyfirewall Shorewall Guarddog Firestarter IPCop Firewall Builder Snort Portsentry Hostsentry Logsentry Squid DansGuardian Squidguard Privoxy JunkBuster Fork Mozilla(tem essa opção) Apostila de Software Livre e assuntos correlatos. 2 - O que é o software livre Restrição de tráfego ? Contabilidade tráfego de Tmeter, dial-up do MS Windows Compartilhamento de arquivos Morpheus, WinMX, Napster, KaZaA (Fasttrack), eDonkey Fax WinFax Dial-up (conexão discada) Vdialer, Winsock Compartilhamento e visualização de arquivos em redes MS Windows Pastas lhadas, rede Trumpet compartiLocais de 33 IP Relay Tcp4me Getstatd Ipacct Ipac-ng Ipaudit Lanbilling SARG Talinux NetUP UserTrafManager LimeWire (Gnutella) Lopster. (OpenNAP) Gnapster (OpenNAP) Mldonkey (eDonkey) eDonkey for Linux cDonkey Gift ed2k gui Gtk-Gnutella Qtella Mutella (Gnutella, console) TheCircle Freenet GNUnet Lmule Bittorrent HylaFax Fax2Send Efax Kppp X-isp wvdial Gppp Kinternet Rp3 Samba LinNeighboorhood XSMBbrowser Gerenciamento de arquivos 34 Administração de arquivos DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme” Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz) Windows Explorer Konqueror Gnome-Commander Nautilus Endeavour XWC Pacotes para escritório Editor de texto Bloco de notas, WordPad, TextPad Compressão de arquivos WinZip, WinRAR Visualização de PDF Adobe Acrobat Reader Criação de PDF Adobe Acrobat Distiller, plug-ins para Microsoft Office Criptografia PGP Kedit (KDE) Gedit (Gnome) Gnotepad Kate (KDE) KWrite (KDE) Nedit Vim Xemacs Xcoral Nvi Tar/Gzip FileRoller Gnozip LinZip Ark KArchiveur Gnochive RAR for Linux CAB Extract Xpdf Kpdf GhostView comando “imprimir PDF” em vários programas PDFLatex latex+dvipdfm Ghostscript Tex2Pdf Reportlab K GnuPG GPA Kgpg Apostila de Software Livre e assuntos correlatos. 2 - O que é o software livre OCRReconhecimento óptico de caracteres escaneados Recognita, der FireRea- Scanner Programas que vêm junto com ele, gerlamente para MS-Windows Anti-vı́rus NAV, AVG Backup ntbackup, Networker Gestão de tarefas TaskInfo, Process Explorer Legato Reconhecimento texto por voz de MS text to speech Reconhecimento voz de ViaVoice, Dragon Naturally Speaking Busca por arquivos Recuperação de dados System (integrado Windows) monitor ao MS- R-Studio ClaraOcr Gocr Xsane Kooka OpenAntivirus+AMaViS VirusHammer Sophie/Trophie dd Gparted PartitionImage top Gtop/Ktop kSysGuard KDE Voice Plugins Festival Emacspeak Sphinx ViaVoice Find Gsearchtool Kfind e2undel myrescue TestDisk unrm Multimı́dia-áudio Música em formato MP3 ou Ogg Vorbis Winamp XMMS Noatun Xamp GQmpeg 35 36 DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme” Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz) Gravação de CD Nero, Roxio Reprodução de CD CD player MIDI/Karaoke VanBasco, Cakewalk, Finale, Sibelius, SmartScore Edição de áudio SoundForge, Cooledit Mixagem sndvol32 Multimı́dia-Gráficos K3b (KDE) XCDRoast KOnCd Eclipt Roaster Gnome Toaster CD Bake Oven KreateCD SimpleCDR-X GCombust KsCD Orpheus Sadp WorkMan Xmcd Grip XPlayCD ccd/cccd Noatun Kmidi LilyPond Sweep WaveForge Sox Audacity GNUSound Ecasound Opmixer aumix mix2000 Mixer app Apostila de Software Livre e assuntos correlatos. 2 - O que é o software livre Visualizador de figuras e fotos digitais ACDSee, InfranView Editor de figuras simples Paint Editores de fotografias digitais com filtros Adobe Photoshop Desenhos vetoriais (adesivos, logotipos) Corel Draw, Adobe Illustrator, Freehand, AutoSketch Criação de Flash Macromedia Flash Gráficos 3D 3D Studio Editor de ı́cones Microangelo Xnview GQview Qiv CompuPic Kuickshow GTKSee pornview imgv Gwenview Gliv Showimg Fbi Gthumb Kpaint Gpaint Tuxpaint Killustrator GIMP Sodipodi Inkscape Xfig OpenOffice Draw dia DrawSWF Ming Blender Maya KPovModeler K3Studio Moonlight GIG3DGO POVray K3D Wings 3D Kiconedit Gonme-iconedit 37 DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme” Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz) 38 Captura de tela tecla PrintScreen GIMP Ksnapshot Xwpick Xwd xgrabsc Multimı́dia-Vı́deo e etc. Reprodutores MPEG4 de BSplayer, Zoomplayer, Windows Media Player Repordutores DVD de PowerDVD, WinDVD, MicroDVD, Windows Media Player Decodificador de DVD Edição de vı́deos simples Gordian Knot Edição profissional de vı́deo Adobe Premiere, Media Studio Pro Sintonizadores de TV Windows Movie Maker Mplayer Xine Sinek VideoLAN Aviplay Ogle Mplayer Xine Aviplay VideoLAN Drip Mencoder iMira Editing Cinelera iMira Editing Kwintv AVerTV, PowerVCR GNOME TV Mplayer 3.0, CinePlayer DVR Escritório/negócios/administração Pacote de escritório MS Office (Word, Excel, Power Point), 602 Edição de textos 602 text, MS Word Planilhas eletrõnicas MS Excel, 602Tab Open Office Koffice GNOME Office SIAG Open Office Writer Abiword LATEX OpenOffice Calc Kspread Gnumeric Apostila de Software Livre e assuntos correlatos. 2 - O que é o software livre Apresentações/aplestras MS Power Point Bases de dados locais Ms Access Finanças pessoais Quicken, MS Money Gerenciamento de projetos Comércio eletrônico e web business MS Project, Project Expert Websphere Sistemas matemáticos Mathcad Sistemas matemáticos MATLAB Sistemas matemáticos Mathematica, Maple Editor de equações Mathtype MS Equation CAD ArchiCAD, CAD CAD AutoCAD Editoração de jornais e revistas Adobe PageMaker, MS Publisher Open Office Impress LATEX Kpresenter Magic Point KNoda GNOME DB Manager OpenOffice + MySQL BDB GNUcash GnoFin Kmymoney Grisbi Mr. Project JBoss Cientı́ficos Auto- Gap Octave Scilab rlab yacas euler Maxima Mupad OpenOffice Math MathMLed Kformula LyX TEX/LATEX QCAD ThanCAD LignunCAD FreeEngineer Scribus 39 DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme” Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz) 40 Simulação de circuitos eletrônicos Electronics bench Desenho de estruturas quı́micas Emulador de osciloscópio Chemwin, Chamdraw Geda Xcircuit Gnome Assisted electronics SPICE Xdrawchem Winoscillo Xoscope Monitoramento disco rı́gido de Active Smart, utilitários que vêm com a placa-mãe Monitoramento temperaturas de SisSoft SANDRA, SisSoft SAMANTHA Work- Atualização Windows Update Palm Palm Office Protetor de tela embutido no MS Windows Checagem de HD Scandisk IDEload HDDtemp Smartmontools Lm sensors Ksensors Ximian Red Carpet Apt-get Slaptget Yum Mandrake Online Jpilot Kpilot Xlock xcreensaver Kscreensaver fsck reiserfsck Observações sobre a tabela: Na tabela on line há links para o site da maioria dos programas. Pidgin e gaim acessam vários protocolos de conversa on-line (MSN, Jabber, IRC, ICQ, Google Talk, Yahoo! Messenger). Alguns termos que soam com muita naturalidade para entendidos(as) em informática devem ser esclarecidos: Servidor e cliente: servidor provê um serviço qualquer, enquanto o cliente aproveita-se dele. Se há por exemplo uma rede de bate-papo online, são necessários computadores com programas apropriados para armazenar tudo e coordenar as conversas, da mesma forma que os computadores de cada usuário(a) devem ter programas que façam a comunicação com o servidor e com as outras pessoas da con- Apostila de Software Livre e assuntos correlatos. 2 - O que é o software livre 41 versa. O provedor tem o servidor (tanto em hardware quanto em software) enquanto os/as usuários(as) têm os clientes instalados em casa. Protocolo é o conjunto de regras par que computadores, iguais ou não em SO ou hardware, comuniquem-se entre si. Para transportar informação pela Internet há o protocolo TCP/IP, para conversar pela rede MSN há o protocolo MSN e por aı́ vai. Deve-se ressaltar que a Internet só é tão disseminada e popularizada hoje porque os idealizadores do TCP/IP e do HTML/WWW tornaram-nos livres e abertos, de forma que qualquer desenvolvedor(a) pudesse construir computadores, dispositivos e softwares que pudessem acessá-la. Firewall é um programa ou um conjunto deles que filtra as informações que podem ou não passar pela máquina onde está funcionando. Serve para dar segurança, privacidade e disponibilidade para usuários(as) de uma rede de computadroes. Plug-in são acessórios em geral, que incrementam as funcionalidades de um programa. O navegador/browser pode ter por exemplo plug-ins para exibir determinados formatos de arquivos e conteúdo, como desenhos vetorais SVG e animações em Flash. Front-end gráfico é uma versão de determinado programa em interface gráfica, mais amigável, com as mesmas funcionalidades de outro programa conhecido, porém que funciona em “modo texto”, ou seja, aquela janelinha preta onde deve-se digitar os comandos, que assusta muita gente. Criptografia Técnica de cifrar conteúdo para que caso seja interceptado não possa ser comprrendido por quem não deve ter acesso ao seu teor. Pode ser feita e desfeita através de métodos matemáticos com segurança comprovada. Codec é um decodificador que permite que um programa (geralmente da área de Multimı́dia) possa abrir arquivos em formatos para os quais não fora designado. Muitos formatos criados pela Microsoft para ser abertos exclusivamente em seus programas, como por exemplo os vı́deos WMV e as músicas WMA. Programas multimı́dis para GNU/Linux costumar ter os tais codecs para permitir a manipulação desses formatos. Desenho vetorial vs. bitmap: Um bitmap é um mosaico digital, onde cada ponto quadrado (chamado de pixel) tem uma determinada cor. Fotografias digitais são armazenadas em formatos diversos de bitmap, que podem ocupar mais ou menos espaço conforme já foi explicado (armazenar as cores de todos os pontos ou convertê-los para equações que os descrevam e ocupam menos espaço). Os desenhoe vetoriais são formados por equações que descrevem figuras geométricas como linhas, quadrados, cı́rculos e afins. Também descrevem as cores dos objetos. Desenhos vetorias podem ser ampliados e reduzidos livremente sem perda de qualidade gráfica, enquanto os bitmaps têm seus quadradinhos ampli- 42 DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme” Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz) ados para quadrados grandes que não condizem com a amplicação desejada. Desenhos vetoriais são muito úteis para a elaboração de gráficos e logotipos, podendo ser convertidos para bitmaps se necessário. Boot é o processo de inicialização da máquina, uma série de procedimentos iniciais que levam alguns segundos desde o ato de ligar o computador até ele estar pronto para uso. Memória virtual é formada por um arquivo ou partição no disco rı́gido para ser usada pelo SO quando a memória RAM (onde os dados estão prontos para uso pelo procesador após ser carregados a partir dos discos) não é suficiente. Sem memória virtualqualquer SO fica muito lento, a não ser que se compre uma quantidade exagerada de RAM para equipar o computador. HTML é a sigla para Hypertext Markup Language, que é um protocolo que define regras para a confecção das páginas da WWW, World Wide Web, a parte multimı́dia da Internet que chega a ser confundida com ela própria. Ao falar de protocolos, especialmente o HTML, é importante destacar que grandes empresas de software proprietário como a Microsoft criam ferramentas que facilitam muito o desenvolvimento de páginas para a WWW, porém às custas da violação de alguams regras do HTML ou da criação de novas regras incompatı́veis com esse protocolo. Fugindo do padrão HTML convencionado por anteriormente entre vários atores do mercado de Tecnologia da Informação através de instruções fechadas nessas páginas, chegase ao grande número de Web sites que só pdem ser visualizados com o navegador proprietário Internet Explorer! Mais uma forma de obrigar as pessoas a usar produtos proprietários de uma única empresa. Isso é especialmente grave quando visto em serviços públicos, em sites do Governo Federal, Estadual ou Municipal. O objetivo desta seção é mostrar algumas questões tecnológicas para quem não é da área. É necessário explicar o significado de um mı́nimo de termos técnicos para o entendimento dos assuntos tratados aqui. Não queremos importunar os/as leitores(as) com termos técnicos desnecessários. O site Freshmeat <http://freshmeat.net> e o repositório Source Forge <http://sourceforge.net> contém informações sobre vários projetos de Software Livre, com busca e hospedagem de seus projetos. Apostila de Software Livre e assuntos correlatos. 3 - Formatos livres de arquivos eletrônicos 43 3 Formatos livres de arquivos eletrônicos Uma discussão tão importante quanto a do Software Livre é aquela referente aos formatos livres de arquivos eletrônicos. Diversos tipos de arquivos (textos, planilhas, figuras, músicas) podem ser armazenados também em formatos livres ou proprietários. Os arquivos manipulados por pacotes de automação de escritório (também chamados de pacotes ou suı́tes Office) são o exemplo mais flagrante de como os formatos proprietários podem ser prejudiciais à sociedade sem que ela dê-se conta. Ao longo de aproximadamente 20 anos desde a popularização dos PCs (Personal Computers) e do seu uso em escritórios, alguns editores de texto, planilhas e apresentações distintos passaram pelos computadores e escritórios mundo afora, e mesmo diversas versões de um mesmo editor mantido por uma mesma empresa. Geralmente os desenvolvedores de suı́tes proprietárias criam formatos proprietários para que os arquivos criados por essa suı́te não possam ser lidos em softwares feitos pela concorrência. Dessa forma fica mais difı́cil perder mercado, já que a mudança de ferramenta é desestimulada pela impossibilidade de converter os documentos acumulados por anos a fio. Empresas parceiras; como fornecedores, consultores ou clientes; também precisam ter o mesmo programa para lidar com o formato de arquivos no qual foi gravado. Quem detém a maioria do mercado (que logo corre para um único modelo buscando padronização) não prde mais esse posto. Os formatos proprietários também podem levar à obsolescência programada de uma forma bem sutil. A cada nova versão pequenos “avanços” são incluı́dos, que tornam o arquivo criado na versão anterior incompatı́vel com a versão atual do software. Um arquivo gerado num mesmo editor,porém numa versão usada há cinco anos atrás corre o sério risco de ser incompatı́vel com o que o mercado usa atualmente. Como funciona essa história de formato de arquivo: Pode-se armazenar um texto em formato ASCII, que é texto puro e pode ser lido por um editor como o Bloco de Notas, no MS Windows. Um texto de um editor WYSIWYG tem, além do conteúdo do texto, muitas informações dobre formatação da página, margens, cabeçalho, rodapé, figuras incluı́das, divresas fontes e formatação de parágrafos, tabelas, itens; que não são possı́veis de se fazer com o texto puro. Nos formatos proprietários essas instruções todas costumam estar “embaralhadas” ao longo do arquivo, misturadas com o conteúdo do texto para dificultar que alguém leia com um 44 DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme” Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz) editor de ASCII puro ou um editor hexadecimal14. Além dessa confusão proporsital de informações, há ainda a possibilidade de se colocar muita “encheção de lingüiça” nos arquivos para que fique mais difı́cil a tarefa de quem atrever-se a criar algum editor para manipular um arquivo sob esse formato. Ambos os hábits levam a arquivos maiores e que dão mais trabalho ao microprocessador para ser abertos e salvos. Antes da chegada dos computadores ao nosso cotidiano, bastava ser alfabetizado(a) para ter acesso ao conteúdo de um documento e ter acesso fı́sico a ele. Cópias poderiam ser feitas à mão por copistas, em fotocopiadoras ou em gráficas. Com os formatos proprietários manipulados por algins softwares, uma permissão a mais é necsssária da parte do fornecedor desse software. No caso, é necessário comprar a sua licença ou pirateá-lo. As mesmas comparações valem para as planilhas e as apresentações multimı́dia. Aparentemente isso não faz diferença. A maioria esmagadora da população que tem acesso aos computadores continua a enviar textos, planilhas e apresentações em um formato proprietário que teoricamente restringe algumas liberdades dos/as seus/suas usuários(as) e obriga o seu uso, mas que devido ao amplo uso da pirataria passa desapercebido. Estamos falando do Microsoft Office. Troca-se a armazena-se textos do Word, planilhas do Excel e apresentações do Power Point “porque é o padrão de mercado, é o que todo mundo usa”. Pouca gente se toca de que é obrigada a adquirir o Microsoft Office para ler um arquivo num desses formatos e de que isso não é bom, já que a pirataria é amplamente aceita e praticada no Brasil. Exigir a manipulação de formatos proprietários de arquivos é especialmente grave quando trata-se de órgãos públicos. Apesar do esforço do Governo Federal e de alguns governos estaduais/municipais em usar software e formatos livres na márquina pública, ainda vemos documentos eletrônicos disponibilizados a cidadãos(ãs) em formatos que exigem a compra ou pirataria. Concursos públicos exigem o conhecimento dessas ferramentas proprietárias. Universidades públicas estimulam seu uso, com tı́midas iniciativas, geralmente individuais da parte de alguns(mas) professores(as) que estimulam o uso de formatos livres em atividades acadêmicas. Em meados de 2006 foi anunciado pela Coordenadoria de Tecnologia da Informação (CTI-USP) um Programa de Inclusão Digital e Aperfeiçoamento Acadêmico que prevê a venda de licenças do Microsoft 14 Editores que permitem ver como o arquivo é realmente armazenado, como é cada byte que compõe o arquivo na forma como é lido e gravado pelo computador Apostila de Software Livre e assuntos correlatos. 3 - Formatos livres de arquivos eletrônicos 45 Office por cerca de R$ 150 para a comunidade acadêmica; além da venda de PCs e laptops com duas opções de SO: MS Windows XP ou Vista. O que levou a essa atitude de favorecimento da Microsoft, por que não se tomou a decisão de usar SO’s livres e outros pacotes Office que manipulam arquivos em formatos também livres? Talvez nem tenha sido de má-fé, mas por entender que não há demanda por Software Livre por parte dos(as) alunos(as). 3.1 ODF-Open Document Format Dados os problemas de usar arquivos, especialmente em aplicações tı́picas de escritório, em formatos proprietários, surge a necessidade de elaborar um padrão livre para a mesma categoria de arquivos. De acordo com a União Européia, um padrão aberto para documentos deve ter seu formato totalmente descrito em docuemntos acessı́veis a qualquer pessoa, com livre distribuição e implementação em qualquer software sem empecilhos técnicos ou legais. É bom recordar que pode-se cobrar por custos nominais de distribuição (por exemplo cópia e distribuição), mas não por royalties. O padrão deve ser disponı́vel para que todos(as) possam lê-lo e implementá-lo em algum programa para que ele manipule os arquivos de acordo com suas regras. Nâo deve prender o(a) usuário(a) a um único fornecedor. Não pode haver qualquer forma de discriminação. Tais padrões devem ser passı́veis de evolução, desde que mantemnham a compatibilidade retroativa e não levem a um formato fechado. O modelo legal de licenciamento desse padrão deve ser protgido contra práticas comerciais predatórias que estrangulem seu desenvolvimento e levem ao seu apoderamento por um pequeno grupo. Deve haver suporte ao padrão enquanto houver interesse social nele. Não pode haver restrições quanto à plataforma (dobradinha hardware/software); um arquivo editado numa determinada arquitetura de computador com dterminado SO deve ser passı́vel de leitura e manipulação em qualquer computador diferente. Também é recomendável que o armazenamento dos dados não seja feito na forma binária, ou seja, de forma que suas informações não possam ser extraı́das com uma simples lida num editor ASCII ou hexadecimal. A última caracterı́stica agiliza sobremaneira a leitura e gravação desse tipo de arquivo. Nesse contexto surge o ODF, que encaixa-se perfeitamente nas exigências estabelecidas. O consórcio OASIS, responsável por mantê-lo, disponibiliza suas especificações para que qualquer pessoa ou empresa. Tal consórcio é formadopor empresas e pessoas com os mais diversos inte- 46 DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme” Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz) resses, num modelo que impede que o interesse de poucos se sobressaia. Seu licenciamento foi feito por esse órgão independente e sem custo, de maneira irrevogável. Isso significa que não é possı́vel do ponto de vista legal passar a cobrar pelo uso do ODF no futuro, da mesma forma que não se pode fazê-lo com os Softwares Livres sob GPL (Licença-Flamengo). O fato de ter um grupo heterogêneo construindo o OASIS elimina a possibilidade de sua extinção quando algum setor não mais vir interesse nele. Não há aénas empresas e profissionais da área de TI participando dele, mas há também por exemplo, empresas como a Boeing, que viu a necessidade de diminuir o espaço ocupado por seus documentos internos em seus servidores, bem como reduzir o tempo de transferência desses documentos entre locais distintos quando necessário. O ODF foi adotado pela ISO, fazendo parte agora da norma ISO/IEC 26300. Uma boa variedade de softwares, tanto livres como proprietários, está adotando-o como formato padrão ou como alternativa ao seu formato original. Até mesmo um plug-in para que o Microsoft Office pudesse lê-los foi feito pela comunidade Software Livre, sendo que a Microsoft é a empresa à qual menos interessa a popularização do ODF em detrimento dos seus padrões DOC, XLS e PPT. A aceitação ao ODF cresce continuamente, ao menos nos meios mais ligados à Tecnologia da Informação e em alguns órgãos públicos mundo afora. Alguns governos municipais/estaduais no Brasil, nos EUA, na Europa e a própria União Européia são simpáticos ao ODF e estão migrando para ele, visando disponibilizar alguns de seus documentos para suas populações de forma mais justa. Da mesma forma que acontece com o Software Livre; há resistência, apatia e a difução de mitos e equı́vocos em relação ao padrão ODF. Há gente que não entende a Licença-Flamengo e pensa que a qualquer momento alguémpode agir de má-fé e apoderar-se do padrão ou de algum dos seus principais pacotes Office que o manipulam, sem atentar para o fato de que se isso acontecesse ainda seria possı́vel usar outro programa que manipula ODF. O que pode acontecer mais facilmente é algum software proprietário que lide com ODF ser descontinuado ou algum software livre ter seu desenvolvimento abandonado; o que não deixaria seua/suas usuários(as) desamparados(as), pois poderiam migrar facilmente para outra suı́te de aplicativos, livres ou não, que opere com ODF. Outra idéia encalacrada na mente de quem usa computador e não conhece essa realidade é que com ODF a pessoa precisa migrar para GNU/Linux ou ficar presa à suı́te Open Office, que é a mais famosa dentre aquelas que lidam com ODF. Quem recebe um texto (ODT-Open Document Text), Apostila de Software Livre e assuntos correlatos. 3 - Formatos livres de arquivos eletrônicos 47 planilha (ODS-Open Document Spreadsheet) ou palestra (ODP-Open Document Presentation) em ODF tem à sua disposição mais de 20 aplicativos, livres ou não, para as mais diversas arquiteturas de computadores e SOs. O principal e mais famoso pacote é o Open Office, chamado de BrOffice em sua versão em português brasileiro. A comunidade BrOffice é bem ativa no seu desenvolvimento, lutando para torná-lo fácil de usar e dotado de funcionalidades necessárias para as tarefas cotidianas. Sua aparência é muito semelhante à dos aplicativos equivalentes do Microsoft Office, apesar de ter seu funcionamento interno bem diferente. A verdade deve ser dita: o autor principal não tem detalhes de todas as funcionalidades do BrOffice por não usá-lo tão intensamente. Sabe-se que o Banrisul, primeiro banco nacional a migrar para Softwar Livre, incentivado pela decisão do então governador gaúcho Olı́vio Dutra; manteve o Microsoft Office em alguns computadores onde foi verificado que alguns recursos avançadı́ssimos do Excel sobre matemática financeira eram necessários por alguns(mas) profissionais dos seus quadros. Os recursos mais simples que a maioria esmagadora da população usa são cobertos, e o banco tomou a decisão racional de adquirir as licenças do MS Windows+MS Office apenas onde era realmente necessário, migrando para GNU/Linux e BrOffice no restante do seu parque de máquinas. O poder público (e isso inclui as universidades públicas) precisa gastar adequadamente seus recursos. Enquanto estudantes e Sintusp lutam por uma maior parte do orçamento estadual, desperdiça-se o dinheiro atualmente recebido dessa e de outras formas. A luta por um uso mais disseminado de formatos livres na Universidade levaria à sociedade, em médio prazo, pessoas conscientes e que não conhecem apenas uma ferramenta, que não veja computador como sinônimo de computador com a dobradinha MS Windows+MS Office. O esforço para acostumar-se a um dos pacotes que lidam com ODF épequeno se houver força de vontade e disposição para participar nesse processo, especialmente se for escolhido o Open Office que é esternamente muito semelhante. Não se deve esperar apenas que o governo faça tudo e ficar esperando que as melhorias venham de bandeja. Nós alunos(as) e funcionários(as) podemos coalborar. DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme” Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz) 48 4 TV Digital Como já foi explicado, a transmissão ou armazenagem de dados na forma digital é feita a partir de dois tipos de sinal, cuja combinação define as informações que se quer descrever. No caso de transmissão por ondas de rádio (nesse caso também enquadram-se as transmissões de TV, que usam ondas eletromagnéticas como o rádio, porém em frequências diferentes), uma transmissão digital poderia ser feita convencionando-se os zeros e uns do código binário como a presença ou ausência de onda por uma determinad quantidade de tempo, ou mesmo usando-se duas ondas diferentes. A figura 1 ilustra a transmissão digital de dados. Muitas transmissões de dados já são feitas de uma forma semelhante. De 2006 para cá o Governo Federal mostrou interesse em mudar o sistema de transmissão de televisão no Paı́s para a tecnologia digital. A vantagem técnica mais flagrante nessa mudança seria a ausência de chiados e fantasmas na imagem. Ou ela chega perfeita ao aparelho receptor ou não chega, afinal uma ligeira distorção nas ondas ainda pode ser enxergada como determinado tipo de onda (ou seja, como 1 ou 0) e levar à representação da imagem real na tela. No modo analógico, usado atualmente, há analogia entre intensidades de onda e a definição dos sona e das imagens, numa comparação grosseira. Uma distorção nas ondas eletromagnéticas (que podem ser causdas por tempestades, montanhas e grandes porções metálicas presas ao solo, por exemplo) leva a distorções da imagem. A TV digital, porém, traz mais discussões além da simples melhoria na qualidade da imagem. Em 2006 o Governo Federal optou por usar o padrão Figura 1: Exemplo de transmissão de alguns caracteres na forma digital, por ondas eletromagnéticas Apostila de Software Livre e assuntos correlatos. 4 - TV Digital 49 japonês de TV Digital, após uma disputa acirrada entre eles com grupos interessados na adoção dos padrões europeu ou estadunidense. O padrão japonês foi adotado em troca da transferência de algumas tecnologias, atravs da instalação de algumas fábricas de componentes eletrônicos em território brasileiro. Cada um dos três principais padrões usados atualmente no mundo tem suas particularidades. O padrão usado nos EUA tem como uma de suas aualidades uma imagem em alta definição, enquanto o japonês é voltado para disponibilizar conteúdos multimı́dia para dispositivos móveis como palmtops ou telefones celulares. Havia também a possibilidade de unir universidade e centros de pesquisas brasileiros para desenvovler um padrão nacional, voltado às nossas necessidades. A transmissão de TV na forma digital permite aumentar absurdamente aqualidade da imagem para poucas pessoas que disponham-se a comprar um aaprelho mais caro. Ou pode-se manter a definição atual de imagem (porém sem chiados e distorções) e alojar até quatro canais. Com o espectro eletromagnético disponı́vel para a transmissão de uma variedade maior de canais, a sociedade poderia beneficiar-se com a participação de mais grupos (sejam empresas privadas ou organizações com interesses sociais) na produção e distribuição de conteúdo que entra diariamente em milhões de lares brasileiros e influencia. Trata-se de uma discussão sobre a função social da propriedade ou sobre a destinação que o Estado dará a uma conecssão sua. A tecnologia atual permite que no mesmo conjunto de freqüências eletromagnéticas sejam transmitidas o quádruplo de conteúdos diferentes. Qual o interesse em manter uma conecessão na mão de um único grupo que já a detém para a transmissão de um único canal? Interesses de gente poderosa estariam ameaçados. Outra promessa da TV Digital é a interatividade, que pode ser usada para diversos fins. A comunicação com a produção de determinado programa em tempo real seria facilitada, bem como o uso dessa novidade para fins capitalistas como permitir a encomenda de um figurino usado numa novela com alguns cliques no controle remoto. Pensa-se também em levar o acesso à Internet junto com a transmissão digital para mais lares, através do aparelho de TV pronto para a tecnologia digital ou do conversor D/A (digital-analógico) que será usado por quem não quiser adquirir um novo aparelho tão cedo, o chamado set-up-box. Nesse contexto, um padrão de TV digital desenvolvido no Brasil, adequado às nossas necessidades e particularidades (por exemplo geográficas, que são muito diferentes das demandas japonesas) poderia ser desenvolvido DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme” Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz) 50 de forma livre, trazendo algumas vantagens; como o desenvolvimento de tecnologia nacional, a liberdade para que outros paı́ses modificassem o nosso padrão para suas necessidades particulares e a liberdade para que qualquer um(a) desenvolvesse softwares usáveis nos módulos da TV Digital ou mesmo programas televisivos, sem ter que pagar royalties ou sofrer qualquer tipo de restrição por parte dos grandes grupos do setor de comunicação. O Ministério da Cultura, aliado à secretaria de TI do Minsistério do Planejamento, estão buscando desenvolver o projeto Ginga Brasil, para criar ferramentas livres que permitam a produção de aplicativos e conteúdo para veiculação em TV Ddigital de forma livre e mais democrática. Nesse modelo, a comunidade Software Livre brasileira foi chamada para colaborar a ajudar a melhorar essa tecnologia. Enquanto isso, o Ministério das Comunicações defende os interesses dos grandes conglomerados de comunicaçao na “cara-dura”. O Coletivo Intervozes de Comunicação Social promove o debate sobre a TV Digital e assuntos relacionados, que lidem com a produção e distribuição de conteúdos voltados para comunicação de massa. 5 Inclusão Digital Textos e conversas de Sérgio Amadeu da Silveira 6 Licenças Creative Commons 7 Construção colaborativa de conteúdo 7.1 Wikipédia 8 Certificação Eletrônica Governo eletrônico Apostila de Software Livre e assuntos correlatos. 9 - Casos de sucesso em uso de Software Livre 51 Figura 2: Nosso Ministro da Cultura apóia ambas as iniciativas. 9 Casos de sucesso em uso de Software Livre 9.1 Poder público e grupos polı́ticos Governo gaúcho. Governo Federal. Algumas prefeituras. Falar do FISL PT discute razoavelmente. A discussão sobre Software Livre está bem avançada nos coletivos anarquistas, com muito(a) aluno(a) de Humanidades “metendo os peitos” e aventurando-se nele, aprendendo a usar seus programas. Nos partidos de esquerda ainda é incipiente. 9.2 Movimentos Sociais MST já participou do FISL. Zilda Arns é simpática. Economia Solidária está buscando, caminha-se para uma sólida intersecção entre ambos os movimentos. 52 DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme” Gestões 2006/7(Camarão) e 2007/8(Vez e Voz) 9.2.1 Entidades Estudantis DCE-UFPR. Nossos amigos bafo de pinha, de pé-vermelho e coxa-branca podem ajudar na redação dessa sub-seção UNE. Deixar claro para a turma do PSTU que o software livre não é ruim só porque o governo e a UNE os apóiam. 9.3 Empreendimentos solidários 9.4 Empresas do capitalismo tradicional O soft. livre pode ajudar ambos. Pode ser usado para o bem e para o mal. 10 Conclusão E aı́, pronto(a) para a migração para Software Livre? Que tal ajudar o DCE-Livre e os CAs a estabelecer um cronograma de migração e ajudar a tornar o software e os formatos livres uma “polı́tica de Estado” e não “polı́tica de governo”? Uma diretriz que permaneça independentemente da orientação ideológica das próximas gestões. Como o assunto ainda não é tão bem conhecido fora da torre de silı́cio dos cursos tecnológicos, elaboramos esta cartilha para dar uma visão geral do assunto. Passe-a adiante, incentive a discussão sobre esses assuntos na sua entidade, seu movimento social ou seu coletivo. Incentive o DCELivre e/ou seu grupo a organizar um debate sério a respeito. Estimule a participação de amigos(as) nesses debates e apresentações. Procure pessoas que entendam do assunto (é mais provável encontrá-las na Poli, no IME e no IF, para quem é da USP) para tirar eventuais dúvidas não esclarecidas aqui. Não fique “bitolado(a)” apenas na sua luta ou no seu movimento. É possı́vel (até mesmo recomendável em alguns casos) lutar por e ser a favor da legalização do aborto, das reformas agrária e urbana, do passe livre, da erradicação de qualquer forma de opressão de pessoas contra pessoas, da educação pública gratuita laica de qualidade para todos e todas, do meio ambiente, da autodeterminação dos povos, dos direitos humanos (e até mesmo dos outros animais), entre tantas outras lutas; usando softwares e formatos livres de arquivos, as ferramentas e instrumentos legais de construção colaborativa de conhecimento. Apostila de Software Livre e assuntos correlatos. 10 - Conclusão 53 A militância em determinada causa toma tempo, sabemos disso. Não estamos pedindo para militar pelo Software Livre da forma tradicional, participando de muitas atividades que demandariam muito tempo. O mı́nimo que queremos é a compreensão da sua importância a seu uso mais disseminado. Da mesma forma, nós militantes pró-Software Livre podemos ter contato com outras discussões e incluir algumas de suas reivindicações no dia-a-dia, uma espécie de intercâmbio.