Língua Portuguesa

Transcrição

Língua Portuguesa
Ana Lúcia dos Santos de Lima
Letramento em
Língua Portuguesa
Livro do professor
Volume I
IESDE Brasil S.A.
Curitiba
2011
©©
201201 –– II
ESDE
ESDE Brasil
Brasil S.
S.A
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proibida
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em autorizaç
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por escrito
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dos autores
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do detentor
detentor dos
dos direitos
direitos autorais.
autorais.
L7321
Lima, Ana Lúc ia dos Santos de. / Letramento em Lí ngua Portuguesa. / Ana
Lúc ia dos Santos de Lima — C uritiba : IESDE Brasil S.A . , 201
1.
302 p. [
Volume I – L ivro do Professor]
XXX
Montanher, Heloir; Diego, Jefferson; Fernandes, Sueli. / Letramento em Libras. / Heloir Montanher, J efferson Diego,
Sueli
: IESDE Brasil S.A . , 201.
ISBN:Fernandes.
97885- 387- — C 158- uritiba
8
130 p.
1. L í ngua de Sinais. 2. S urdez. 3. L í ngua Portuguesa- educaç ã o. I . Tí tulo.
ISBN: XXX- XX- XXX- XXXX- X
1.
CDD 371.92
Palavra- chave. 2. Palavra- chave. 3.
lavra- chave. I. Tí tulo.
Palavra- chave. 4.
Palavra- chave. 5.
Pa-
CDD XXX.X XXX
Capa: IESDE Brasil S.A .
Imagem da capa: IESDE Brasil S.A .
Todos os direitos reservados.
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80730-200 • Curitiba • PR
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Ana Lúcia dos Santos de Lima
Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUCPR). Especialista em Educação Especial pelo Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão (IBPEX). Graduada em Pedagogia pela PUCPR.
Atualmente é professora de educação especial no Centro de Atendimento Integrado ao Deficiente (CRAID), na Academia Brasileira de Ciências
da Educação (Abrasce) e no curso de formação de docentes do Instituto de
Educação do Paraná.
Tem experiência na área de educação, com ênfase em educação
especial.
UM SÍMBOLO DIZ TUDO............................................................................................................8
TODO NOME TEM HISTÓRIA................................................................................................. 26
DESCOBRINDO OS SEGREDOS DAS LETRAS................................................................... 44
ORGANIZANDO IDEIAS........................................................................................................... 64
O MUNDO DAS LETRAS.......................................................................................................... 80
MUITAS FORMAS DE COMUNICAR...................................................................................104
CADA UM NO SEU LUGAR...................................................................................................118
BAÚ DE IDEIAS.........................................................................................................................132
LER POR QUÊ? LER PARA QUÊ?..........................................................................................148
ESCREVENDO E APRENDENDO..........................................................................................168
MATERIAL DE APOIO.............................................................................................................181
Com o objetivo de garantir a aprendizagem da leitura e da escrita, este
material contempla o trabalho de Letramento em Língua Portuguesa, com
base na diversidade de textos que circulam socialmente.
Nesse sentido, entendemos que a finalidade do ensino da língua é o
letramento, entendido como o domínio das práticas sociais de leitura e
escrita (SOARES, 1998), ou seja, não basta apenas propiciar aos alunos a
aquisição do código gráfico, da mecânica da leitura e da escrita: essa é uma
condição necessária, porém não o suficiente para responder às demandas
da sociedade letrada em que vivemos.
É preciso ensinar os alunos a ler e a interpretar um rótulo, uma notícia
de jornal, uma tabela de preços, as regras de um jogo, uma conta de luz ou
água, as informações de um documento, placas de automóveis, interpretar
o significado dos códigos de barras.
É necessário saber escrever desde uma lista de compras ou um bilhete,
até uma carta, um telegrama, um formulário de emprego, um anúncio ou
um classificado.
Para a criança surda, o aprendizado da leitura e da escrita implica o uso
de duas línguas no contexto escolar, ou seja, a língua de sinais, utilizada
pela comunidade surda, e a língua portuguesa, usada pela maioria ouvinte.
Essa metodologia é chamada de bilinguismo e é o que está sendo amplamente divulgado e valorizado nos meios acadêmicos e legais na educação
de surdos.
Deve ficar claro também, já na fase inicial do processo, que o professor,
seja ele surdo ou bilíngue, deve ministrar as aulas de Língua Portuguesa em
língua de sinais, visto que essa é a língua de instrução que deve ser adotada
para a transmissão dos conteúdos escolares, garantindo o total acesso dos
surdos aos conhecimentos sistematizados. Portanto, nosso objetivo aqui é
ensinar o Português com a mediação da Libras, e não ensinar Libras.
Sendo assim, houve a necessidade de elaboração deste material, que
abordará 10 diferentes conteúdos que devem ser contemplados no processo
de alfabetização dentro da proposta “alfabetizar letrando”, como forma de
orientar a prática pedagógica de profissionais envolvidos na educação de
surdos.
Bom trabalho!
ALFABETIZAR LETRANDO
O período da infância é reconhecido por todas as sociedades como uma ocasião especial.
Desde o nascimento, os pais preocupam-se com o crescimento de seus filhos. É um assunto que
normalmente provoca grande interesse na família.
A criança é um ser que está em contínuo aperfeiçoamento e é impressionante a capacidade
que ela tem de adaptação. A começar pela adaptação física de um corpo em pleno desenvolvimento, seguindo-se para a capacidade de adaptação social, em que no início a criança é um ser
inteiramente dependente e passivo e que se torna, no meio de um mundo social, alguém ativo e
livre na sociedade, vivendo e produzindo.
A criança ouvinte, antes de conseguir pronunciar qualquer som ou palavra reconhecível ou
com algum significado, passa por uma fase que vai dos 2 aos 10 meses, que é o balbuciar. À medida que o tempo vai passando, os bebês começam a perceber que os sons que emitem têm um
sentido e, por isso, são pronunciados pelas pessoas que os rodeiam.
Esse é o primeiro passo para a criança começar a distinguir os sons que significam alguma
coisa e que o seu cérebro guarda, juntamente com o respectivo conceito, que depois passa a fazer
parte do seu vocabulário.
E a criança surda? Como compreender e dar significado à fala dos familiares? Como adquirir
conceitos transmitidos de forma oral? Como as famílias podem oferecer um ambiente linguístico
ideal, se não utilizam a língua de sinais naturalmente?
Portanto, cabe à escola suprir essa falta de referência para identificação linguístico-cultural
por meio do convívio com outros surdos e com os profissionais surdos e/ou bilíngues, garantindo
o acesso à primeira língua – Libras – e à segunda língua – Língua Portuguesa.
Dessa forma, a comunidade escolar, principalmente os professores, precisa priorizar e elevar
cada vez mais sua competência linguística, capacitando-se na língua de sinais para adequar-se à
realidade assumida e assim garantir o desenvolvimento cognitivo e social da criança, permitindo
a aquisição de conhecimentos sobre o mundo circundante.
É necessário que decorra do adulto e principalmente do professor o dever de confiança e
respeito. Respeito por essa pessoa que está se formando para, mais tarde, servir à sociedade. Para
existir um progresso da parte da criança é preciso que haja um progresso da parte dos professores
também. A criança precisa ser levada a sério. Seus esforços, êxitos, fracassos, dificuldades e alegrias, divertimentos e estudos.
Convém ter sempre em mente que cada criança é diferente e tem o seu próprio programa de
crescimento e desenvolvimento. Cada criança poderá experimentar um desenvolvimento bem
mais rápido em algumas áreas, e bem mais lento em outras, sendo isso normal e não deve haver
motivo para preocupação. É necessário que haja um respeito pelo ritmo de aprendizado e de
crescimento da criança.
Jersild (1971) comenta que um pai que sabe aceitar seu filho procura respeitar o seu ritmo
de desenvolvimento. Isso significa que deve-se resistir à tentação de apressar a criança, que está
fazendo o máximo que pode. E significa também ter uma atitude de paciência.
A criança pode demorar a ter seu primeiro dente, a caminhar ou a aprender a falar ou a ler,
mais do que uma criança da casa ao lado, mas continua sendo uma criança aceitável. Ter respeito
pelo grau e pelo ritmo individual de desenvolvimento da criança não é fácil numa sociedade altamente competitiva.
Esse respeito pela individualidade da criança é de suma importância para seu desenvolvimento psicológico, pois trabalha a sua autoestima e mostra o seu valor dentro da família.
Desse modo, o processo de desenvolvimento da leitura e da escrita sempre permeou muitas
discussões sobre a maneira mais coerente e eficaz dessa aprendizagem pelo aluno.
Durante muito tempo valorizou-se no aluno a capacidade de aprender a decodificar as letras,
tendo ênfase no ensino tradicional da língua baseando-se somente nas cartilhas. O que conseguimos com esse processo foi simplesmente menosprezar a capacidade de interpretação e leitura de
mundo das crianças, pois essas capacidades são anteriores à iniciação escolar.
Pensando sobre essa prática pedagógica de alguns professores, percebeu-se que em seu
conceito alfabetizar era apenas ensinar o alfabeto. Tendo com isso consequentemente os analfabetos funcionais, apresentando uma facilidade em decodificar minimamente as letras, porém,
não desenvolvendo a habilidade de interpretação de textos.
Com os estudos de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky, iniciou-se a discussão de como a criança se
alfabetiza e os processos pelos quais ela passa para conseguir se apropriar da leitura e da escrita.
A compreensão que se tem dessa criança é a de um ser histórico e culturalmente contextualizado, cuja diversidade, seja biológica, cultural ou cognitiva, precisa ser considerada e respeitada.
Um sujeito com identidade própria, em processo de desenvolvimento em todas as dimensões
humanas: afetiva, social, cognitiva, psicológica, motora, lúdica ou expressiva. Segundo Emilia Ferreiro (1985, p. 59-61),
A criança se vê continuamente envolvida, como agente e observador, no mundo letrado. [...] Se pensarmos que
a escrita remete de maneira óbvia e natural à linguagem, estaremos supervalorizando as capacidades da criança,
que pode estar longe de ter descoberto a sua fonética. [...] A criança que cresce em meio letrado está exposta à
influência de uma série de ações. E quando dizemos ações, nesse contexto, queremos dizer interações. Através
das interações adulto/adulto, adulto/criança e crianças entre si, criam-se as condições para a inteligibilidade dos
símbolos.
A partir desses estudos a alfabetização começa a ganhar novos caminhos; os estágios de
desenvolvimento que Emilia Ferreiro propõe mostram a capacidade de desenvolvimento que a
criança tem e o caminho que ela percorre até chegar à sua alfabetização, merecendo serem interpretadas e aceitas como escritas verdadeiras, embora se apresentem fora dos padrões do sistema
alfabético.
Para essa educadora as crianças não deveriam mais ler textos como os que havia nas cartilhas,
e sim placas de trânsito, folhetos de propaganda, rótulos, jornais, revistas e histórias em quadrinhos, entre outros materiais que fizessem sentido para elas, os chamados textos reais.
Estudos recentes demonstraram como as crianças se apropriam da linguagem escrita em
contato com diferentes gêneros textuais. Por meio da interação com adultos alfabetizados, elas
exploram a leitura e a produção de textos mesmo antes de estarem alfabetizadas de forma convencional.
No que se refere a essa prática, faz-se necessário conscientizar o professor em relação à importância do texto como prática social, a pensar também como a criança aprende, qual o processo
de aquisição da leitura e escrita pela criança.
O texto como uma prática social possibilita ao aluno um contato maior com a realidade. A
partir do momento em que o aluno vivencia o que está aprendendo, ele vai percebendo que para
tudo existe um porquê e para quê. Falarmos de planejamento também é fundamental, pois ao
professor planejar existe uma meta a ser alcançada, um objetivo a ser cumprido, como a escolha
dos conteúdos a serem desenvolvidos em sala, os procedimentos e formas de avaliação, portanto,
sua aula acaba tendo uma finalidade. Somente dar atividades não significa que o professor estará
formando alunos aptos à leitura e à escrita. A prática social é essencial para esse fim, sem ela a
aprendizagem não será concreta.
Nessa vertente surge o termo letramento, que vem da palavra inglesa literacy, e segundo a
professora Magda Soares (1998) deriva do latim littera (letra) mais o sufixo -cy que denota qualidade, condição, ou seja: literacy é o “Estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e
escrever.”
Em relação à construção do conhecimento, a linguagem verbal, entendida como processo
de interação, desempenha papel fundamental na aprendizagem. Vale ressaltar aqui que para os
surdos a oralidade dos ouvintes é representada pela sua comunicação gestual, ou num estágio
mais avançado, pela Libras.
O letramento para surdos não se dá pela relação letra-som, mas sim pela relação palavra-conceito, ou seja, significante e significado. E isso ocorre por meio da representação gráfica, isto
é, por meio da escrita em situações sociais significativas. Assim, a criança surda pode ter acesso à
modalidade escrita da língua, sem passar por qualquer processo fonológico. O letramento é, portanto, condição e ponto de partida na aquisição da língua portuguesa pelo surdo, articulando e
integrando a aquisição do sistema de escrita.
Para Sánchez (2002), a condição diferenciada dos surdos que aprendem a ler e escrever o português, sem passar pelo conhecimento fonológico da língua, é denominada como a de “leitores
não alfabetizados”. O autor afirma, ainda, que isso significa que são leitores competentes numa
língua não alfabética (língua de sinais) e dominam a forma escrita de outra língua alfabética (língua portuguesa) sem obrigatoriamente conhecer o som de suas grafias.
É importante que o professor planeje e desenvolva um trabalho sistematizado no qual, partindo de contextos significativos, proponha aos alunos atividades que possibilitem a análise do
sistema de escrita, partindo do todo para as partes.
Nesse sentido, reafirma-se a necessidade do professor em ser fluente nas duas línguas envolvidas no processo, para que possa fazer a transposição necessária entre elas, a fim de atingir com
seus alunos os objetivos propostos.
Qualquer área do conhecimento constitui um discurso e se traduz por meio de textos. Assim,
essa aprendizagem se dá quando os alunos podem interagir, por meio dela, com seus pares, com
o professor, com o conteúdo e com a realidade.
Por outro lado, o aprendizado de signos e símbolos, juntamente com a leitura e a escrita, expõe o aluno a diversas visões de mundo, percebendo que ele já faz parte de uma cultura letrada.
Na perspectiva do conceito freireano de educação, o aprendizado constitui força libertadora,
pois desenvolve maior consciência do funcionamento da própria linguagem, promove o despertar para os costumes e valores de nossa própria cultura, possibilita a transformação no sentido da
promoção humana.
Nossa sociedade ainda vive o desafio de propiciar total acesso à teoria e prática do letramento, pois a língua não é um código criado racionalmente. Portanto, não pode ser ensinada por um
método, seja qual for, que considere a leitura e a escrita um simples mecanismo de decodificação
e codificação de sinais gráficos. Atualmente, exige-se muito mais do que apenas compreender
textos simples, é preciso saber selecionar informações em fontes diversas, dar respostas oportunas e ter habilidade de apreciar a beleza da literatura que nos cerca.
Num mundo onde há convivência diária com livros, revistas, internet, entre outros, torna-se
mais fácil garantir que nossos alunos estejam letrados. Entretanto, achar que os métodos, por si
sós, garantirão o sucesso na alfabetização é ignorar ou desconhecer as pesquisas educacionais no
Brasil. Precisamos considerar as condições de trabalho que se dá aos professores e a discussão que
deve estar centrada em metodologias em lugar de métodos de alfabetização.
Nesse sentido, o objetivo desse material é justamente trabalhar os conteúdos da língua portuguesa na perspectiva do letramento, sem estar centrado em métodos de alfabetização, buscando interação entre aluno e professor.
A proposta é de integração para promoção da aprendizagem, capaz de provocar atividades
produtivas que contribuam para a construção do conhecimento.
LETRAMENTO E LITERATURA INFANTIL
Para que o trabalho com a linguagem se mostre ao mesmo tempo significativo e capaz de
levar as crianças a compreenderem como a língua funciona, é preciso ter um olhar diferenciado
no desenvolvimento das práticas pedagógicas. Na fase da aquisição da leitura e da escrita é necessário fazer com que o aluno use e explore a língua cada vez mais e melhor, com disposição e
curiosidade.
A temática do letramento relacionada às práticas sociais vêm contribuindo com novas reflexões para os estudos sobre a aquisição da leitura e da escrita. Nesse contexto, as atividades podem
ser mais bem compreendidas no sentido da formação do cidadão-leitor-crítico. Letramento vai
muito além do conceito clássico de alfabetização, que se limita ao ato mecânico da leitura e da escrita. Assim, letramento é entendido como prazer, lazer, ler em diferentes lugares e sob diferentes
condições; é descobrir a si mesmo pela leitura e pela escrita; é descobrir alternativas e possibilidades; é descobrir o que você pode ser.
A escola é o espaço que contribui para a compreensão da realidade, ou seja, nela o aluno
aprende a conhecer e a dar valor às pequenas coisas da vida. Os conhecimentos construídos nas
diversas áreas de estudo podem caracterizar uma sociedade letrada. Uma pessoa somente é considerada letrada ao compreender os mais variados modos de ler o mundo e ao conhecer a forma
como a linguagem escrita se organiza, apresentando os diferentes conhecimentos de modos diferentes.
O conhecimento que é produzido com a arte da palavra pode ser chamado de literatura, pois
através dela compreendemos textos de um modo geral. O leitor pode perceber-se como sujeito
capaz de transformar a realidade, participando dela de forma mais íntegra, mais crítica.
A LITERATURA INFANTIL
Ler não é hábito. Ler é paixão.
Ruth Rocha
A literatura não é, como tantos supõem, um
passatempo. É uma nutrição.
Cecília Meireles
Se quiser falar ao coração dos homens, há que se
contar uma história. Dessas onde não faltem
animais, ou deuses, e muita fantasia. Porque é assim
– suave e docemente – que se despertam consciências.
Jean de La Fontaine
A criança, por possuir uma carência da lógica racional, torna-se um ser dependente para a
nossa cultura. Principalmente os educadores vivenciam de perto a evolução do maravilhoso ser
que é a criança. O contato com textos recheados de encantamento faz-nos perceber quão importante e cheia de responsabilidade é toda forma de literatura. A literatura infantil acaba sendo
aquela que corresponde, de alguma forma, aos anseios do leitor e que se identifica com ele.
Os primeiros livros para crianças surgem somente no final do século XVII, escritos por professores e pedagogos. Estavam diretamente relacionados a uma função utilitário-pedagógica e, por
isso, foram sempre considerados uma forma literária menor. A produção para a infância surgiu
com o objetivo de ensinar valores (caráter didático), ajudar a enfrentar a realidade social e propiciar a adoção de hábitos. Infelizmente, ainda podemos encontrar esses objetivos na produção
infantil contemporânea.
No Brasil, a literatura infantil só chegou no final do século XIX. A literatura prevaleceu até esse
período com o misticismo e o folclore das culturas indígenas, africanas e europeias.
Segundo Cunha (1998), “literatura infantil são os livros que têm a capacidade de provocar a
emoção, o prazer, o entretenimento, a fantasia, a identificação e o interesse da criançada”.
“A literatura, e em especial a infantil, tem uma tarefa fundamental a cumprir nesta sociedade
em transformação: a de servir como agente de formação, seja no espontâneo convívio leitor/livro,
seja no diálogo leitor/texto estimulado pela escola” (COELHO, 200, p. 16).
Observa-se, portanto, através dessas citações, os pensamentos e opiniões de alguns autores
a respeito do papel da literatura infantil e os efeitos que ela oferece.
A compreensão segura do que significa a própria vida é o que constitui a maturidade psicológica. Cada um possui a sua própria maneira de compreender a vida. Cada idade tem a sua própria
maturidade. Apenas na idade adulta será obtida uma compreensão inteligente do significado da
própria existência nesse mundo. Esse processo todo começa na infância, desde a mais tenra idade.
Como as crianças possuem níveis crescentes de maturidade e compreensão dos vários acontecimentos de suas vidas, a literatura infantil tem um papel de grande importância.
Uma história ou conto que desperte a curiosidade da criança prenderá a sua atenção e enriquecerá a sua vida, estimulando-lhe a imaginação. Histórias bem contadas e harmonizadas com
as ansiedades e com as aspirações das crianças irão ajudá-las a perceber que suas dificuldades
têm soluções.
A criança perceberá que se o personagem da história venceu o medo, a ansiedade, a preocupação, a dificuldade na escola, a falta de amiguinhos, a ausência de um dos pais ou mesmo uma
doença grave, ela (a criança) também poderá fazê-lo, pois a capacidade imaginativa da criança a
transporta para dentro da história, e ver o sucesso do personagem lhe dá consolo ao perceber que
ela também poderá vencer.
Sob esse aspecto e vários outros no conjunto da literatura infantil – com raras exceções –
nada é tão enriquecedor e satisfatório para a criança do que os contos de fadas. O poeta alemão
Schiller escreveu: “Há maior significado profundo nos contos de fadas que me contaram na infância do que na verdade que a vida me ensina” (The Piccolomini, III, 4).
Como Piaget (1989) mostrou, o pensamento da criança é animista (coloca alma nas coisas e
tudo o que se mexe, para ela, é porque está vivo) e assim permanece até perto da puberdade. Para
a mente animista de uma criança uma pedra está “viva” porque rola, um rio é “vivo” porque corre
e um animal entende e sente como ela, pois está vivo. Como para a criança tudo o que se mexe
está vivo, ela acredita que essas coisas falam com ela. Aí reside a força da literatura infantil para a
formação do caráter, da maturidade e dos princípios numa criança. As crianças não têm a compreensão abstrata, falta-lhes esse sentido ainda. As histórias ajudam-nas a vivenciar as coisas que lhes
angustiam e tiram delas o consolo para as suas tribulações: se os personagens conseguiram vencer o medo, enfrentar as dificuldades, achar as soluções, elas também conseguirão, pois durante
a contação da história a sua imaginação lhe transportou para dentro da mesma. Elas vivenciaram,
na imaginação, toda a problemática e viram as soluções encontradas. E a conclusão é óbvia: “se o
personagem conseguiu, eu também conseguirei”.
A literatura infantil contribui significativamente para o letramento. Os textos normalmente
usados nas cartilhas são textos pobres, não só de sentido, mas também das relações complexas
que envolvem a linguagem como um todo. A literatura infantil, suprindo essa lacuna, é a ponte
que liga as palavras ao sentido, à análise, à interpretação, à realidade, ao sonho.
UM SÍMBOLO DIZ TUDO
Abordaremos em nossa primeira aula a importância do trabalho com símbolos no início da
fase de aquisição da leitura e da escrita, tendo como objetivo principal estratégias diversas para
a compreensão da função variada da escrita, pois a criança entra em contato com a língua escrita
informalmente, seja pelo uso dos familiares no dia a dia, seja pela observação dos símbolos presentes nos rótulos, jornais, revistas, letreiros das fachadas de lojas, mercearia onde a família compra o seu pão, farmácias, supermercados, o brasão do time de futebol predileto entre outros que
fazem parte do seu cotidiano.
A linguagem é a capacidade de comunicar-se por meio de um sistema de signos que supõe a
existência de uma função simbólica. Esse processo se faz, fundamentalmente, pelos signos.
Para compreender como funcionam os sistemas de linguagem, é preciso entender como se
constituem os signos. São elementos constituídos de uma dupla articulação: de um lado, o significante – parte material do signo; de outro lado, o significado – parte não material, o conceito.
As diferentes linguagens estão ligadas a diferentes intenções e finalidades do ato de comunicar e expressar. Elas variam em função da diversidade de interlocutores, das situações e contextos
em diferenciados níveis.
Isso determina a existência de diferentes tipos de linguagem que operam por meio de signos
próprios. Tem-se assim as linguagens da música, da dança, das imagens, das formas, dos gestos e,
naturalmente, da fala e da escrita. Essas linguagens se agrupam em dois tipos: as verbais e as não
verbais.
Mais uma vez, lembramos que a linguagem oral/verbal, representada pela fala para os ouvintes, deve ser entendida para os surdos como a linguagem gestual e Libras, dependendo da faixa
etária e nível de desenvolvimento com essa língua.
O signo tem como finalidade representar a nossa fala, e não o mundo material. Por exemplo:
quando escrevemos a palavra bandeira, estamos representando o que falamos; quando a bandeira está desenhada, imediatamente nos vem à mente a imagem real dela.
Quando a escrita começa a ter um significado simbólico, este se transforma em um significado funcional. Assim a criança passa a refletir sobre o que ela está vendo e o seu significado real,
passando a compreender que pode usar signos para representar qualquer coisa. Entra, assim, em
um período de compreensão da leitura de mundo. Essa fase de transição de desenvolvimento e
conhecimento é anterior ao da alfabetização, mas muito importante para a interação entre esses
dois processos.
Investigar o conhecimento que os alunos trazem consigo para a escola deve ser o ponto de
partida para o planejamento da prática escolar, especialmente com crianças de classes iniciais.
Através do trabalho com símbolos do cotidiano da criança, o professor conseguirá perceber qual
o melhor caminho para desenvolver a leitura e a escrita.
Para que o desenvolvimento da linguagem escrita torne-se coerente e de qualidade, deve-se desenvolver esse trabalho de leitura e identificação de signos já no início do processo, pois a
memória ganhará um poderoso instrumento, que tornará a escrita e a leitura objetivas e com um
nível de interpretação coerente.
A criança passará por um momento de transição em que os símbolos que fazem parte da sua
vida ganharão novos e importantes significados, ou seja, alterará a função psicológica do símbolo.
Quando isso acontece, a criança começa a compreender conceitos culturais da cultura na qual ela
está inserida.
A primeira diferenciação na escrita da criança que passa pela leitura de mundo ocorre quando ela percebe que cada signo tem um significado e que ele também pode ser representado pela
escrita. Mesmo que ela ainda não consiga representar graficamente, ela fará a escrita espontânea
e é nesse momento que o signo começa a ter significado.
PARA SABER MAIS
Para aprofundar os conhecimentos sobre signos, sugiro a leitura das obras de Vygotsky, pois
para o autor os signos são construções da mente humana, que estabelecem uma relação de mediação entre o homem e a realidade, denominando, assim, os signos de instrumentos simbólicos.
VYGOTSKY, L. S. Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
VYGOTSKY, L. S.; LÚRIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem.
9. ed. São Paulo: Ícone, 2001.
REGO, T. C. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis: Vozes, 1997.
ORIENTAÇÕES PARA O PROFESSOR
Tanto para crianças ouvintes como para crianças surdas, é importante que elas percebam o
mundo à sua volta, e principalmente nessa idade, a necessidade do objeto concreto é primordial.
Dessa forma, planeje aulas-passeios, para observação das diversas formas de comunicação
como: placas, nomes dos mercados e comércios da região, nome das ruas e a sinalização. Durante
a caminhada faça paradas para questionar as crianças sobre o significado dos símbolos que encontram.
Para enriquecer suas aulas, utilize o recurso das placas para sinalizar os ambientes da sua escola, com placas confeccionadas pelas crianças. Sinalize as regras de comportamento de sua sala
com imagens em placas.
Podemos ressaltar que para as crianças surdas a Libras é uma forma de comunicação, então
podemos utilizar seus ícones para sinalizar os ambientes da escola, complementando com a escrita do português.
Lembre que para a criança surda a utilização de materiais visuais é de suma importância.
O livro O Menino que Aprendeu a Ver, de Ruth Rocha, também é uma dica para enriquecer a
aula e deixar o assunto mais interessante e visual, pois, por possuir muitas possibilidades, inclusive
a de dramatização, a criança surda pode trabalhar a linguagem corporal, que é muito importante
para seu desenvolvimento.
UM SÍMBOLO DIZ TUDO
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*Ilustração: IESDE Brasil S.A.
OLÁ, ALUNO! PARA NOS ACOMPANHAR NESTA AVENTURA PELO MUNDO DA LEITURA
E DA ESCRITA VAMOS TER TRÊS AMIGOS QUE IRÃO NOS AJUDAR A DESVENDAR TODOS
OS MISTÉRIOS.
A LÚCIA E O PEDRO, QUE SÃO SURDOS, E A MARIA, QUE É NOSSA AMIGA OUVINTE.
OBSERVE CADA UM DELES.
LÚCIA
10
*Ilustrações: IESDE Brasil S.A.
PEDRO
MARIA
Divulgação.
NESTA AULA NOSSOS AMIGOS VÃO NOS ACOMPANHAR NUM PASSEIO. VAMOS VER
AONDE ELES FORAM?
11
*Ilustração: IESDE Brasil S.A.
12
*Ilustrações: IESDE Brasil S.A.
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VOCÊ CONHECE OS SÍMBOLOS QUE APARECEM NA IMAGEM?
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ESSES SÍMBOLOS ESTÃO PRESENTES EM NOSSO DIA A DIA. NÓS OS VEMOS TODOS
OS DIAS NAS RUAS, NOS ÔNIBUS, NOS RÓTULOS DOS PRODUTOS QUE USAMOS EM
CASA, NO SHOPPING, NA TELEVISÃO.
AGORA, PARA QUE VOCÊ POSSA FAZER AS ATIVIDADES, PRESTE MUITA ATENÇÃO NA
IMAGEM DA CIDADE!
13
*Ilustrações: IESDE Brasil S.A.
Divulgação.
14
*Ilustração: IESDE Brasil S.A.
Divulgação.
1. PROCURE NA IMAGEM OS NOSSOS TRÊS AMIGOS (LÚCIA, PEDRO E MARIA) E FAÇA
UM “X” EM CADA UM DELES.
15
*Ilustração: IESDE Brasil S.A.
Divulgação.
2. CIRCULE NA IMAGEM DA CIDADE CADA UM DOS SÍMBOLOS DESTACADOS NAS
PÁGINAS 12 E 13. VAMOS VER SE VOCÊ OS ENCONTRA?
16
*Ilustração: IESDE Brasil S.A.
3. ASSINALE A OPÇÃO CORRETA.
A) O PEDRO ESTAVA VESTIDO COM QUAL DESTES UNIFORMES?
B) O QUE A MARIA ESTAVA TOMANDO?
17
*Ilustrações: IESDE Brasil S.A.
C) A LÚCIA QUERIA ATRAVESSAR A RUA. EM QUAL COR DO SEMÁFORO ELA
PODERÁ ATRAVESSAR?
Domínio público.
4. OBSERVE ESTE OUTRO SÍMBOLO.
18
*Ilustração: IESDE Brasil S.A.
A BANDEIRA TEM QUATRO CORES: VERDE, AMARELO, AZUL E BRANCO.
A) ASSINALE AS FIGURAS QUE TÊM A COR VERDE.
B) E AGORA VAMOS IDENTIFICAR A COR AMARELA.
19
*Ilustrações: IESDE Brasil S.A.
C) E O AZUL? IDENTIFIQUE A COR NAS FIGURAS.
D) E A ÚLTIMA COR, A BRANCA. MARQUE ONDE ELA APARECE.
20
*Ilustrações: IESDE Brasil S.A.
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5. LIGUE O NOME DA MARCA AO PRODUTO.
21
*Ilustrações: IESDE Brasil S.A.
6. IDENTIFIQUE QUAL DOS TRÊS DESENHOS COMBINA COM CADA LOGOMARCA A
SEGUIR.
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A) ESTA LOJA VENDE O QUÊ? SERÁ QUE VOCÊ SABE?
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*Ilustrações: IESDE Brasil S.A.
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B) ESTA LOGOMARCA COMBINA COM QUAL TIPO DE BEBIDA?
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*Ilustrações: IESDE Brasil S.A.
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C) E ESTA? QUAL ALIMENTO VENDE?
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*Ilustrações: IESDE Brasil S.A.
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D) E ESTA LOJA, VENDE O QUÊ?
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*Ilustrações: IESDE Brasil S.A.
TODO NOME TEM HISTÓRIA
Vivemos numa sociedade em que os valores estão sendo deixados de lado e, consequentemente, a nossa identidade também. O meio em que estamos inseridos está repleto de preconceitos, egoísmo, arrogância, inveja e desigualdade, fazendo-nos esquecer quem somos realmente.
De acordo com Vera Neusa Lopes (2006, p. 21-25),
O Brasil é, sabidamente, um país multirracial e pluriétnico, o que, por consequência, implica a existência
de diversidade ou pluralidade cultural, muito embora exista enorme dificuldade de reconhecimento dessa
diversificação por parte de muitos brasileiros.
É difícil pararmos por alguns minutos para refletirmos sobre nós mesmos, os nossos desejos,
anseios, medos, metas e sonhos, afinal, quem sou eu?
Essa análise de autoconhecimento é muito importante de ser trabalhada desde cedo com as
crianças, dando uma ênfase maior nas séries iniciais do Ensino Fundamental, pois o aluno aprende
a se conhecer melhor. É bom para a autoestima dos alunos, pois mesmo não parecendo, existem
crianças que não se gostam, se menosprezam, e assim há esse resgate. Esse processo de construção
da própria identidade inicia-se na infância e acompanha o sujeito em todas as fases da sua vida.
Para o surdo a construção da identidade está diretamente ligada à exposição da criança com
seus pares, ou seja, conviver com outras crianças surdas e também com adultos surdos, usuários
da Libras, para que estes sirvam de referência ao seu desenvolvimento. Esse fator é de suma importância, visto que a maioria dos surdos provém de famílias ouvintes, e por isso ficam muitas vezes limitados com a falta de identificação linguístico-cultural. Dessa forma, fica claro que os surdos
compartilham aspectos culturais de seu país, porém com uma forma de apreensão do mundo e
uma comunicação próprias da cultura surda.
Porém, quando uma criança surda tem sua identidade bem definida, percebendo-se como
parte integrante de um povo com uma língua própria, e que tem suas interações cotidianas baseadas em experiências visuais, potencializam-se as suas possibilidades de comunicação e fortalecem-se as questões de identidades, fundamentais ao seu desenvolvimento pleno e saudável.
Um dos aspectos diferenciais entre a identidade de crianças ouvintes e surdas está no fato
de que para o ouvinte a identidade está vinculada à percepção de si, com o autoconhecimento,
de uma forma mais individual e baseada em aspectos mais subjetivos e internos. Para o surdo, a
identidade está estreitamente ligada ao outro, à percepção de sua diferença linguística em relação
à maioria, à necessidade de pertencer a um grupo e ao respeito a essa diferença. Portanto, o meio
social no qual está inserido é importante para que ele se constitua como ser surdo.
Isso é facilmente verificado num aspecto de sua cultura, representado pelo sinal individual de
cada pessoa. Uma característica física marcante, ou de personalidade, torna-se a “marca registrada” daquele ser, o que equivaleria ao nome de cada pessoa. Assim, o surdo identifica não somente
a si, mas a todos à sua volta e que fazem parte de sua vida.
Concebendo o homem como um ser social, Vygotsky (2001) colabora para que pensemos
na formação de uma identidade constituída social e historicamente. Segundo esse autor, o desenvolvimento do psiquismo humano ocorre com base numa crescente “apropriação dos modos
de ação culturalmente elaborados”. Essa apropriação ocorre no contato social, através de um processo de internalização, pelo qual a criança vai tornando seus os modos que anteriormente eram
partilhados com os outros.
Trabalhar as diferenças em sala de aula faz parte da construção dessa identidade, pois se
sabe que cada criança é diferente uma da outra; apresenta características singulares, tanto no
desenvolvimento físico quanto no desenvolvimento cognitivo, que precisam ser respeitadas. Se
essas diferenças não forem discutidas desde cedo formaremos cidadãos incapazes de respeitar o
próximo. Nas salas de aula podemos nos deparar com alunos limitados, com algumas restrições. E
como trabalhar essas diferenças? A prática pedagógica deve ser organizada a partir das diferentes
linguagens (gesto, fala, desenho, escrita), porque são formas de representação e expressão. Esse
conflito entre o que é familiar e diferente se traduz no processo de diferenciação entre o eu e o
outro, resultando, consequentemente, na individualização do sujeito. Nesse processo de socialização, tornam-se fundamentais as relações sociais entre o indivíduo e o meio social, para que seja
possibilitada a compreensão de si próprio.
Percebemos, nesse sentido, que os meios e os grupos com os quais a criança tem contato
possuem papel fundamental no processo de formação do “eu”. E esse “eu” é desenvolvido numa
perspectiva eminentemente social, em que o conceito de “eu” é compreendido em sua relação
com o “outro”. Assim, faz-se necessário que o professor proporcione às crianças experiências diversificadas e enriquecedoras, a fim de fortalecer sua identidade e desenvolver suas capacidades.
LEITURA E ESCRITA DOS NOMES PRÓPRIOS
Quando o assunto é identidade da criança, a primeira coisa a trabalhar é a leitura e escrita do
seu nome. A partir daí uma porta se abre para trabalharmos outras coisas que envolvem esse assunto, como, por exemplo, a sua família, a sociedade onde vive, seus direitos e deveres como cidadã.
Ao saber o significado do seu nome, o porquê do seu nome, quem o escolheu, o aluno sente-se importante e amado. A família tem uma participação especial, pois ao conhecer os seus antepassados a criança percebe que faz parte de uma história, que ela foi desejada, e que é a partir da
família que fazemos parte de uma sociedade.
O nome próprio é a parte da identidade social, cultural e psicológica de todos os indivíduos; ele carrega um grande valor afetivo e social. Posto que identifica seus pertences, marca seu
lugar no mundo, dá-lhes a satisfação de pertencer a um grupo, e está relacionado ao exercício da
cidadania. É por intermédio do nome próprio que eles são identificados e reconhecidos como sujeitos cidadãos. Portanto, nada é mais pessoal que o nome próprio; ele define o lugar de cada um
no mundo.
O nome próprio pode considerar-se como uma palavra a mais, no nível de tantas outras; mas também pode
considerar-se como uma palavra singular, muito diferente de outras em muitos aspectos. Por outro lado, a carga
emocional vinculada com essa escrita não pode ser comparada com a carga emocional de tantas outras palavras
neutras. O nome próprio escrito, ou a assinatura, é parte da pessoa, de sua própria identidade. Provavelmente,
através do uso da escrita do seu nome a criança descobre algumas funções da escrita em geral, como a de identificar
objetos, lugares. (FERREIRO, 1993, p. 32)
O trabalho pedagógico sistemático e frequente com o nome próprio representa importante
estratégia didática voltada para a alfabetização inicial dos alunos.
O nome próprio tem uma característica: é fixo, sempre igual. Uma vez aprendido, o aluno não
escreve seu próprio nome segundo suas suposições, mas sim respeitando as restrições do modelo apresentado. Ao escrevê-lo, os alunos se identificam com ele, reconhecem-no graficamente e
usam-no como fonte de informação para escrever outros nomes ou palavras, além de perceberem
que mesmo sendo crianças são cidadãos e merecem respeito.
Todos os indivíduos têm direitos e deveres. Devemos lutar para que os direitos sejam respeitados e, ao mesmo tempo, ter consciência de cumprir os deveres.
Às vezes cidadãos se veem privados de usufruírem de seus direitos por viverem cercados de
preconceito e racismo; é incrível, mas ainda nos dias de hoje encontramos pessoas que se sentem
no direito de impedir os outros de viver uma vida normal só porque não pertencem à mesma
classe social, raça ou religião que a sua. Como cidadãos, não temos apenas direitos, mas também
deveres com a nação, além de lutar pelos direitos iguais para todos, de defender a pátria, de preservar a natureza, de fazer cumprir as leis e muito mais.
Esse entendimento deve ser passado às crianças na escola e complementado em casa, pois
direitos e deveres temos desde o ventre materno e se estendem até a vida adulta. Em casa, na
escola, no bairro, na cidade e no país onde vivemos existem regras a serem seguidas e devemos
cumpri-las para existir ordem.
PARA SABER MAIS
Os livros Com Todas as Letras, de Emilia Ferreiro, e Psicopedagogia da Linguagem Escrita, de
Ana Teberosky, nos ajudam a compreender melhor a questão da identidade, de que forma ajudar
as crianças a se descobrir e valorizar quem são.
FERREIRO, Emilia. Com Todas as Letras. São Paulo: Cortez, 1993.
LOPES, Vera Neusa. Educação Escolar e Inclusão Étnico-racial. Publicado em: 2006. Disponível
em: <www.vereadorarmando.com.br/discriminacao.pdf>. Acesso em: 23 nov. 2010.
TEBEROSKY, Ana. Psicopedagogia da Linguagem Escrita. Petrópolis: Vozes, 2008.
VYGOTSKY, Lev. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
O livro Ed Emberley’s Complete Funprint Drawing Book – draw thumb people, draw thumb animals
traz sugestões para trabalhar e explorar de uma forma divertida as impressões digitais, fazendo com
que a criança descubra e crie animais, objetos diversos, enfim, explore sua criatividade.
Sua versão em português está disponível no endereço:
<http://picasaweb.google.com/lindaperola2/DesenhandoComOsDedos#>.
ORIENTAÇÕES PARA O PROFESSOR
Para aprofundar os conteúdos de sua aula, é interessante trabalhar com os alunos alguns dos
itens abaixo.
Para enriquecer sua aula, confeccione crachás utilizando um símbolo para cada aluno. Importante ressaltar que cada símbolo deverá ser escolhido por ele junto com os seus colegas.
Elabore o bingo dos nomes. Será apresentada a letra em Libras e o aluno deverá marcar
em caixa alta na sua cartela. Essa atividade auxiliará no processo de identificação das
letras do seu nome.
Faça um dominó com os nomes dos alunos pela letra final ou inicial.
Num momento de lazer, elabore o jogo da mímica; o professor faz o gesto de uma letra
do alfabeto e em seguida o aluno faz a mímica de algo que inicie com a letra indicada
pelo professor.
Para auxiliar no processo de identificação do nome, é interessante confeccionar um
dicionário com os nomes dos alunos, sendo que cada letra do dicionário poderá ser
relacionada com figuras também da mesma letra.
Outra dica é trabalhar com a história: “Meu nome”, do personagem Papa-Capim
(Revista Almanaque do Chico Bento, São Paulo, Globo, fev./88 n. 43, p. 26) para explorar
o significado do nome das crianças, a origem, o porquê da escolha dos pais por aquele
nome (realizar pesquisa em casa, fazendo com que os pais também participem).

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