Vida Monástica: Espaço de Jubilo e Adoração.

Transcrição

Vida Monástica: Espaço de Jubilo e Adoração.
(De: Boletim da A.I.M. 2000 No.70)
TRADIÇÃO MONÁSTICA HOJE
O TRONO DE DEUS
Padre Timothy Radcliffe, o.p.
O padre Tomothy Radcliffe nasceu na Inglaterra em 1945; ingressou na Ordem
Dominicana em 1965 e fez profissão religiosa em 1971. Foi nomeado Provincial da
Inglaterra em 1988 e eleito Mestre Geral da Ordem dos Pregadores em 1992.
"É para mim um privilégio ter sido convidado a dirigir essas palavras ao Congresso
dos Abades. Quisera propor algumas idéias acerca do papel dos mosteiros no novo
milênio. Tampouco sinto-me preparado para tratar desse tema e me pergunto se
deveria ter aceitado ou não. Na realidade, eu o fiz como um ato de agradecimento
a São Bento e a quantos seguem sua Regra. Fui educado pelos beneditinos durante
uns dez anos nas abadias de Worth e Downside e guardo excelentes recordações
daquele tempo. Sobretudo, não posso esquecer a grande bondade dos monges,
que me ajudaram a crer num Deus bom e misericordioso, se bem que muito
britânico. Provavelmente, devo minha vocação religiosa ao meu tio-avô Dom John
Lane Fox, que era beneditino. Finalmente, quisera dar graças a Deus por um bom
amigo beneditino que foi para mim o Cardeal Basil Hume.
Ao longo da peregrinação de minha vida, as abadias beneditinas tem sido
verdadeiros oásis para mim. Nelas tenho conseguido descansar e renovar-me antes
de continuar a viagem. Fiz o retiro para minha ordenação diaconal na abadia de
Buckfast e o retiro para minha ordenação presbiterial na abadia de Bec-Helloin, na
Normandia. Passei algumas vezes as férias em Pierre-qui-Vire e em Einsideln.
Celebrei a Páscoa na abadia de Pannonhalma, na Hungria. Visitei Subiaco, Monte
Cassino, Monte Oliveto e mais de uma centena de abadias.
Em qualquer um desses lugares, pude encontrar muitas pessoas que também
visitavam os mosteiros. Por que o fazem? Não resta dúvida de que alguns são
apenas turistas que vieram passar uma tarde esperando, talvez, avistar algum
monge, do mesmo modo como se pode avistar um macaco no zoológico. Pode ser
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até que alguém espere encontrar alguns cartazes advertindo: "Não dê comida aos
monges". Outros sentem-se atraídos pela beleza das edificações ou da liturgia.
Muitos, por outro lado, vêm esperando algum tipo de encontro com Deus,
esperando poder vislumbrar o mistério. Amiúde se fala hoje em dia da
"secularização". Contudo, vivemos num tempo marcado por uma profunda busca
religiosa. Há fome de transcendência. E as pessoas a buscam nas religiões orientais,
nas seitas, na Nova Era, no exótico e esotérico. E também, com freqüência se
suspeita da Igreja e de toda religião institucionalizada, com exceção, talvez dos
mosteiros. Todavia, existe uma certa confiança de que, nos mosteiros se pode
vislumbrar o mistério de Deus e descobrir algum vestígio da transcendência.
Na realidade, o papel dos mosteiros não é outro senão o de dar acolhida aos
hóspedes. A Santa Regra nos diz que os hóspedes devem ser recebidos como o
próprio Cristo. Devem ser saudados com reverência, seus pés lavados e a eles dado
o que comer. Esta tem sido sempre minha experiência. Lembro-me quando fui a
Santa Otília, durante a benção abacial do Padre Viktor Damertz. Eu era um pobre
estudante dominicano inglês, esfarrapado e sujo, que fazia uma parada. Fui acolhido
por esses esmeradíssimos beneditinos alemães, que me lavaram os pés, me
limparam bem e me cortaram o cabelo. De fato, eu parecia uma pessoa quase
digna quando deixei o mosteiro para continuar minha viagem.
Por que as pessoas se sentem tão atraídas pelos mosteiros? Hoje gostaria de
compartilhar algumas idéias que respondam a esta pergunta. É provável que
considerem meus pensamentos um tanto descabidos, sendo esta a prova de que
um dominicano não faz idéia exata do que seja a vida beneditina. Se for assim,
rogo-lhes que me perdoem. O que tenho a intenção de expor hoje é que os
mosteiros revelam a presença de Deus, não pelo que vocês podem fazer ou dizer,
mas sim porque a vida monástica tem como centro um espaço, um vácuo, no qual
Deus pode se manifestar. É meu propósito sugerir que a Regra de São Bento
propõe que vocês tenham em suas vidas uma espécie de "centro" vazio, onde Deus
possa viver e ser vislumbrado.
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A glória de Deus sempre se manifesta num espaço vazio. Quando os israelitas
saíram do deserto, Deus os acompanhava e se manifestava sentado no espaço
mediado entre as fileiras dos querubins, por sobre o trono da misericórdia. Por isso,
o próprio trono da glória estava vazio. Era somente um pequeno espaço, do
tamanho de um palmo. Deus não necessita de muito espaço para mostrar a sua
glória. Um pouco mais abaixo no Aventino, a uns duzentos metros daqui, encontrase a Basílica de Santa Sabina. Lá, sobre sua porta, acha-se talhado um baixo-relevo
representando a primeira crucifixão de que se tem notícia. Nela podemos
contemplar um trono da glória. Este trono está também vazio: é um vazio, é a
ausência que se percebe quando um homem morre clamando a Deus que parece
ter-lhe abandonado. No Evangelho, o último trono da glória é uma tumba vazia na
qual não há nenhum corpo.
Tenho a esperança de que os mosteiros continuem sendo lugares onde a glória de
Deus possa se manifestar; que sejam tronos do mistério. E que o sejam
precisamente pelo que vocês não são e não fazem. Nos últimos anos, os
astrônomos tem percorrido os céus em busca de novos planetas. Até há bem pouco
tempo ainda não se havia conseguido ver diretamente nenhum planeta. Porém, eles
podiam ser detectados graças à variação que ocorria na órbita de uma estrela.
Oxalá que o mesmo aconteça com os que seguem a Regra de São Bento. A órbita
visível de suas vidas revela a presença da estrela escondida que não podemos ver
diretamente. "Verdadeiramente tu és um Deus escondido, o Deus de Israel" (Is.
45,13).
Gostaria de poder pensar que o centro invisível de suas vidas se revela na maneira
como vocês vivem. A glória de Deus mostra-se através de um vácuo, de um espaço
oco em suas vidas. Parece-me que há três aspectos diferentes da vida monástica
que abrem este vácuo e fazem eco para Deus: em primeiro lugar, em suas vidas
vocês não desempenham nenhuma função concreta. Também se pode dizer, em
segundo lugar, que são vidas que não conduzem a nenhuma meta específica.
Finalmente, são vidas marcadas pela humildade. Cada um destes três aspectos da
vida monástica abre um espaço para Deus. Gostaria de acrescentar que, em cada
um destes três casos, o que dá sentido a este vazio é a celebração da liturgia. A
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recitação do Ofício Divino várias vezes por dia é o que mostra que este espaço está
ocupado pela glória de Deus.
ESTAR AÍ
O que é mais óbvio na vida monástica é precisamente que vocês não
desempenham nenhuma função concreta. Trabalham a terra, porém não são
agricultores. Ensinam, porém não são professores. Possivelmente também tenham a
seu encargo hospitais ou missões, porém seu papel não consiste em atuar como
médicos ou missionários. Vocês são unicamente monges que seguem a Regra de
São Bento. Não têm como missão fazer algo em particular. Habitualmente, os
monges são pessoas muito ocupadas. Raramente estão ociosos, porém a atividade
não é o propósito de suas vidas. O Cardeal Hume escreveu uma vez acerca dos
monges "quando olhamos para nós mesmos, não vemos que temos uma missão ou
função particular na Igreja. Não nos pomos a caminho para mudar o curso da
história. Do ponto de vista humano, nela estamos quase que por um acidente. E
felizmente, seguimos adiante, simplesmente ESTAMOS AÍ". É essa ausência
específica de um objetivo explícito que revela Deus como a razão de ser, escondida
e secreta, de suas vidas. Deus se manifesta como o centro invisível de nossas vidas
quando não tentamos buscar a razão de nossa existência em outra coisa. A
característica fundamental da vida cristã é somente estar com Deus. Jesus disse a
seus discípulos "Permanece em meu amor" (João 15,10). Os monges são chamados a
permanecer em seu amor.
Nosso mundo mais se parece com um mercado. Todo mundo se rivaliza por captar
a atenção dos demais e tentar convencê-los de que o que vendem é necessário
para que sua vida corra bem. A todo momento dizem-nos o que necessitamos para
sermos felizes: um microondas, um computador, férias no Caribe ou, inclusive, uma
nova marca de sabonete. É tentador para qualquer religião entrar nesse mercado e
tentar gritar como mais um concorrente. Assim, a religião seria necessária para
sermos felizes, termos êxito e inclusive para sermos ricos. Uma das razões do rápido
crescimento das seitas na Hispano-América é, precisamente, que prometem saúde e
dinheiro. Assim, o cristianismo chega à praça de mercado e se apresenta como uma
opção válida. Nesta semana fala-se em ioga, na semana seguinte, o assunto é
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aromaterapia. Quando poderemos persuadir as pessoas a experimentarem o
cristianismo? Lembro-me que uma vez vi num bar em Oxford um cartazinho escrito
em letras minúsculas no canto do teto, onde se lia: "Se conseguiste ler nesse lugar
tão escondido, então é porque estás procurando algo. Por que não experimenta a
Igreja Católica Romana?".
Não resta dúvida de que necessitamos de cristãos por ai afora, gritando junto aos
demais, unindo-se ao bulício do mercado, tentando captar a atenção das pessoas.
Esse é o lugar que pertence, por exemplo, aos franciscanos e dominicanos. Porém
os mosteiros encarnam outra verdade fundamental. Em última instância, adoramos a
Deus, não porque seja importante para nossas vidas, mas unicamente porque Ele é.
A voz que se ouvia na sarça ardente, proclamava "Sou o que sou". O que importa
não é que Deus seja válido para nós, mas sim que em Deus encontramos a
revelação de tudo aquilo que é verdadeiramente valioso, o norte de nossa
existência. Parece-me que aqui radicava precisamente o segredo da autoridade
única do Cardeal Hume. Não tentou colocar a religião à venda, fazer "marketing"
mostrando que o catolicismo era o ingrediente secreto que podia proporcionar
êxito a uma vida. Ele era tão somente um monge que orava. No fundo, sabemos
que quando um deus precisa demonstrar sua utilidade, não merece ser adorado.
Um deus que tem de ser importante não é Deus. A vida dos monges dá testemunho
de que a Deus não se pode atribuir nenhum valor, posto que as coisas só
encontram seu valor se relacionadas com Deus. As vidas dos monges testemunham
isso ao não fazerem nada de concreto, exceto permanecer em Deus. Suas vidas têm
um vazio no centro, similar ao espaço que existia entre as fileiras de querubins. É ai
onde podemos vislumbrar a glória de Deus.
Quiçá o papel do abade seja precisamente o de ser a pessoa que, de maneira
evidente, não faz nada de concreto. Outros monges podem desempenhar um ofício
em particular, seja como mordomo ou enfermeiro, ter a seu cargo a granja ou a
gráfica. Porém, eu não me atreveria a ser tão ousado a ponto de propor que o
abade fosse a pessoa a custodiar a identidade mais profunda dos monges como
pessoas que nada tem de concreto para fazer, exceto ser monges. Houve um
dominicano inglês, Bede Jarret, que foi provincial durante muitos anos, famoso
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pregador e prolífico escritor de livros. Não obstante, parecia que nunca fazia nada.
As pessoas que o visitavam, diziam estar ele habitualmente sempre ocioso. Se lhe
perguntavam o que fazia, normalmente respondia "estou esperando que alguém
venha". Conduziu à perfeição a arte de fazer muito, embora parecesse que fazia
muito pouco. A maioria de nós, e ai incluo a mim também, fazemos o contrário:
sempre dizemos que estamos muito ocupados.
As pessoas abarrotam os mosteiros, vêem os monges, ficam para a oração das
Vésperas: como podem descobrir que este "nada" que os monges fazem é a própria
revelação de Deus? Por que não pensam, pelo contrário, que os monges são
apenas uns desocupados, pessoas sem ambição, ou ainda, uns fracassados que não
são competitivos na luta diária da vida para ganhar o pão? Como podem vislumbrar
que é Deus o centro de suas vidas? Suspeito que o façam quando escutam seu
canto. A autoridade que está por detrás dessa interpelação que as pessoas sentem
encontra-se na beleza do louvor que vocês elevam a Deus. Vidas que não têm
nenhum propósito especial são para os demais um quebra-cabeças e uma
interrogação: "Por que estão ai esses monges e que finalidade têm as suas vidas?".
Qual é seu propósito? O que torna clara a razão porque vocês estão ai é a beleza
do louvor de Deus. Tenho que confessar que eu não era muito religioso quando
jovem estudante na abadia de Downside. Fumava atrás da classe e escapulia à noite
para os bares. Quase fui expulso da escola por ler durante a benção um conhecido
livro de má reputação, O Amante de Lady Chatterley. Se algo me manteve ancorado
em minha fé não foi outra coisa senão a beleza que descobri ali: a beleza do ofício
cantado, a luminosidade do amanhecer na abadia, o resplendor do silêncio. Era a
beleza que já não me deixaria escapar.
Provavelmente, não é pura casualidade que o grande teólogo da beleza, Hans Urs
von Balthasar, tenha recebido sua primeira educação em Engelberg, um colégio
beneditino famoso por sua tradição musical. Balthasar fala da "auto-manifestação"
da beleza, de sua "intrínseca autoridade". Não se pode por em dúvida as
interpelações que a beleza nos faz, nem tampouco descartá-las. E aqui radica
provavelmente a forma mais importante de autoridade que Deus pode ter em nossa
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época, em que a arte se transformou num tipo de religião. Pouca gente vai à missa
aos domingos, porém milhões vão a concertos, galerias de arte ou museus. Na
beleza podemos vislumbrar a glória da beleza da sabedoria de Deus que dançou no
momento em que criou o mundo, que foi criado "mais belo que o sol" (Sab 7).
Quando Deus criou o mundo viu que era belo. A bondade nos congrega sob a
forma do belo. Quando a gente escuta o beleza do canto, então pode
verdadeiramente decifrar a razão porque os monges estão ai e qual é o centro
secreto de suas vidas, o louvor da glória. Era costume de Dom Basílio que, quando
falava dos desejos mais profundos de seu coração, o fazia em termos de beleza :
"Que experiência tão maravilhosa seria se pudesse conhecer aquele que, entre as coisas
mais belas, fosse o mais formoso. Esta seria a experiência mais elevada de todas as
experiências de alegria e de plenitude total. Eu chamo Deus a mais bela de todas as
coisas".
E se acontece, como Santo Tomás de Aquino pensava, que a beleza é
verdadeiramente a revelação do bem e a verdade, então faz parte da vocação da
Igreja ser um lugar de revelação da verdadeira beleza. Uma grande parte da música
moderna, inclusive a que se escuta na Igreja, é tão trivial a ponto de ser uma
paródia de beleza. Esse mal gosto tem sido descrito como a "pornografia do
insignificante". Talvez o seja, pois caímos na armadilha de ver a beleza em termos
utilitários, em que ela é julgada útil para entreter as pessoas, ao invés de ver que o
verdadeiramente belo revela o bem.
Espero que não pensem ser demasiado extravagante de minha parte considerar a
vida monástica como bela em si mesma. Quando li a Regra fiquei fascinado ao ver
que diz no princípio que "se chama Regra porque regula as vidas dos que a
obedecem". A "régula" regula. Inicialmente, para um dominicano tal coisa pode dar
a impressão de um excessivo controle. Da minha experiência posso dizer que é
muito difícil regular os frades. Porém, pode ser que a palavra "régula" não sugira
controle, mas sim medida, ritmo, vidas que tem um aspecto e forma determinados.
Provavelmente sugira a disciplina da música. Santo Agostinho considerava que viver
na virtude era viver musicalmente, estar em harmonia. Amar o próximo era,
segundo dizia: "guardar a ordem musical". A graça é gratuidade e a vida que se vive
na graça é bela.
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Por isso, uma vez mais se pode afirmar que o canto da liturgia é o que revela o
significado de nossas vidas. São Tomás dizia que a beleza na música estava
essencialmente unida à "temperantia". Nunca nada deveria ser excessivo. A música
deve manter igualmente o compasso adequado, nem demasiadamente rápido e
nem demasiadamente lento. Deve-se sempre manter a medida adequada. E São
Tomás pensava que a vida temperada nos mantinha jovens e belos. O que parece
que a Regra oferece é uma vida moderada, que não tem nada de excessivo. O que
não consigo saber é se, por causa desse gênero de vida, os monges permanecem
mais belos e mais jovens que os demais. A Santa Regra comenta como no passado
os monges não bebiam em absoluto, porém "como em nossos tempos disso não se
podem persuadir os monges, ao menos convenhamos em que não bebamos até a
saciedade, mas parcamente". Que nada seja excessivo.
Lembro-me que meu tio-avô beneditino sentia um grande amor pelo vinho e
considerava que era necessário para sua saúde. Dado que chegou quase aos cem
anos de idade, é de se supor que provavelmente tinha razão. Convenceu meu pai e
meus tios a que tivessem sempre cheias as garrafas de clarete. Suponho que esse
tipo de vinho possa ser considerado "moderado" de acordo com a Regra, que
estabelece que se beba uma hêmina (RB 40). Quando escondia as garrafas no
mosteiro, os monges sempre se perguntavam o que causava aquele tilintar em seu
bolso. Mesmo antes de esconder as garrafas, com ajuda dos sobrinhos, já havia
preparado complicadas explicações.
NÃO IR A PARTE ALGUMA
A vida dos monges dão o que pensar aos que se encontram fora do mosteiro, não
somente porque vocês não desempenham nenhuma função específica, mas
também porque suas vidas não levam à parte alguma. Como os membros de todas
as ordens religiosas, suas vidas não adquirem forma ou significado galgando os
degraus de uma hierarquia ou sendo promovidos. Somos somente irmãos e irmãs,
frades, monges e monjas. Não podemos nunca aspirar a ser mais. Um soldado ou
um universitário que tenha êxito pode ascender profissionalmente através de
diversos graus. Suas vidas demonstram seu valor porque são promovidos até se
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tornarem catedráticos ou generais. Porém, isso não acontece no nosso caso. A única
escada existente na Regra de São Bento é a escada da humildade. Estou seguro de
que os monges, como os frades, algumas vezes alimentam desejos secretos de fazer
carreira e sonham com a glória de ser mordomos ou, até, abades. Creio que muitos
monges olham-se no espelho imaginando-se como ficariam de peitoral, ou inclusive
usando uma mitra, e alguns podem até fazer o gesto de quem dá uma benção
crendo que ninguém os vê. Pois bem, todos nós sabemos que nossas vidas
adquirem forma, não por sermos promovidos, mas quando nos encontramos no
caminho para o Reino. Na Regra, São Bento nos incita a apressarmos nossa chegada
ao lar celestial.
Não posso esquecer um abade muito querido para mim que vinha habitualmente
passar o Natal com nossa família. Era admirável em tudo, exceto por uma pequena
tendência que tinha de levar demasiadamente a sério isso de ser abade, diferente,
estou certo, de quantos hoje estão aqui presentes. Esperava sempre que toda a
família fosse esperá-lo na estação ferroviária e que os seis filhos lhe fizessem
genuflexão e beijassem seu anel abacial. Este culto à reverência era tão inerente à
minha família que uma prima minha acreditava que também tinha de fazer
genuflexão quando a colocavam na poltrona do cinema. Sempre que nosso abade
chegava para visitar-nos, dava-se o combate anual por causa da celebração da
missa. Ele defendia com vigor que, na qualidade de abade, tinha direito a quatro
candelabros de prata, porém meu pai insistia que, em sua casa, todos os sacerdotes
tinham direito ao mesmo número de candelabros.
Para a maioria das pessoas de nossa sociedade, uma vida assim não tem nenhum
sentido, já que elas têm bem claro que a vida é uma luta em busca de êxito: é
avançar ou morrer. Por isso nossas vidas são para elas um quebra-cabeças, um
ponto de interrogação. Aparentemente, não vão a parte alguma. Alguém se torna
monge ou frade e não necessita nunca ser nada mais. Lembro-me que quando fui
eleito Mestre da Ordem, um jornalista muito conhecido escreveu um artigo no New
Catholic Reporter, que concluiu assinalando que no final do meu período como
Mestre teria somente 55 anos. "Que Radcliffe fará então?" ele se perguntava.
Quando li esse artigo fiquei preocupado. Senti como se o significado de minha vida
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me estivesse sendo roubado e fora forçado a se adaptar a categorias novas. "Que
Radcliffe faria então?". Esta pergunta implicava que minha vida só teria sentido
através de uma nova "promoção". Porém, por que deveria fazer qualquer outra
coisa que não fosse continuar sendo um irmão? Nossas vidas têm sentido porque há
nelas uma ausência de promoção, que é onde a glória de Deus pode se revelar.
Uma vez mais, desejo afirmar que é precisamente no canto do Ofício Divino,
quando recordamos a vasta história da redenção, que adquirem sentido as
observações que estou fazendo. No início do ano fui visitar a catedral de Monreale
na Sicília, que se encontra junto a uma antiga abadia beneditina. Tinha muito pouco
tempo livre, porém me haviam dito que quem visita Palermo e não visita Monreale,
chega como pessoa, porém termina sua estada na Sicília como asno. E
verdadeiramente foi uma experiência assombrosa. Todo o interior da igreja é um
deslumbrante enigma de mosaicos que relatam a história da criação e da redenção.
Entrar nessa igreja significa encontrar o lugar próprio dentro da história, dentro da
nossa história. Esta é a verdadeira história da humanidade, e não a que relata a luta
para encarapitar-se no alto da árvore. Estas cenas mostram a revelação da estrutura
do tempo real. A verdadeira história não é a do êxito individual, a da promoção e da
ascensão, mas sim a história da viagem da humanidade até o Reino, que se celebra
a cada ano durante o ciclo litúrgico, do Advento a Pentecostes, e que atinge seu
vértice na cor verde do tempo comum, que é o nosso tempo real.
Este é o tempo verdadeiro, o tempo que abrange todos os pequenos
acontecimentos e dramas de nossas vidas. Este é o tempo que reúne esses
pequenos dramas que se sucedem no curso de nossa existência, as pequenas
derrotas e vitórias, conferindo-lhes um sentido. A celebração monástica do ano
litúrgico deveria ser uma revelação deste tempo verdadeiro, que é a única história
que tem importância. Cada um dos diferentes tempos que se sucede ao longo do
ano (tempo comum, Advento, Natal, Quaresma e Páscoa) deveriam ser sentidos de
maneira distinta, com melodias diferentes, cores diversas, tão distintos como distinta
é a primavera do verão e o verão do outono. Teriam que ser tão peculiares a ponto
de se deixarem diluir pelos outros ritmos que são dados a nossas vidas, como o ano
financeiro, ano acadêmico, os anos que vivemos enquanto envelhecemos. Um de
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nossos irmãos, Kim en Joong, pintor dominicano coreano, desenhou umas casulas
magníficas que são uma verdadeira explosão de cores em função das estações.
Com freqüência a liturgia atual não comunica em absoluto esse tipo de sentimentos.
Quando se assiste às Vésperas, pode ser qualquer tempo do ano. Não obstante, em
nossa comunidade de Oxford, na qual vivi durante vinte anos, compusemos
antífonas para cada tempo do ano. Todavia hoje, quando estou em viagem, posso
escutá-las em meu interior. Para mim, o Advento sugere um determinado hino, com
antífonas próprias para o Benedictus e o Magnificat. Sabe-se que a chegada do
Natal é iminente graças ao canto das excepcionais "antífonas do Ó". A Semana
Santa associa-se às Lamentações de Jeremias. O ritmo do ano litúrgico deverá ser
vivido como o ritmo mais profundo de nossas vidas. A liturgia monástica nos lembra
que o lugar ao qual nos dirigimos não é outro senão o Reino.
Quisera acrescentar uma observação final. É fácil dizer que os religiosos vivem para
a chegada do Reino, porém, de fato, freqüentemente não estamos nesta tônica. O
ano litúrgico traça o caminho real para a liberdade, porém amiúde não transitamos
por ele. De acordo com São Tomás, podemos dizer que a formação, especialmente
a formação moral, sempre é uma formação para a liberdade. Porém, a entrada na
liberdade é lenta e custosa, não está isenta de erros, de equívocos e de pecado.
Deus nos liberta da escravidão do Egito e nos conduz à liberdade do deserto,
porém nos assustamos e escravizamos a nós mesmos, adorando o bezerro de ouro,
ou tentando voltar ao Egito. Eis aqui o verdadeiro drama da vida cotidiana do
monge: não é saber se vai subir na hierarquia de funções, mas sim a aprendizagem
da liberdade, sofrendo por isso de freqüentes quedas no infantilismo e na
escravidão. Como daremos sentido à nossa lenta ascensão para a liberdade de Deus
e às nossas freqüentes quedas na escravidão? Uma vez mais, talvez possamos
encontrar a chave na música.
Santo Agostinho escreveu uma história da humanidade, na qual ela aparece como
uma partitura musical onde são possíveis todas as dissonâncias e desafinações, mas
que se resolvem no final, quando tudo encontra seu lugar adequado. Em sua
magnífica obra, De Música, escreveu que "a dissonância pode ser redimida sem ser
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destruída". A história da redenção é como uma grande sinfonia, que abraça todos os
nossos erros e equívocos, na qual no final a beleza triunfa. A vitória não consiste no
fato de Deus apagar nossas notas desafinadas ou negar sua existência, mas sim que
Ele encontra para elas um lugar adequado na sinfonia musical que as redime. Esta
melodia culmina na Eucaristia, Nas palavras de Catherine Pickstock "A música mais
elevada que existe no mundo caído, a música redentora... não é outra senão o reiterado
sacrifício do mesmo Cristo que é a música da Eucaristia eternamente repetida".
A Eucaristia é a repetição do momento culminante da história dramática de nossa
libertação. Jesus Cristo nos dá livremente seu Corpo, porém os discípulos o recusam,
o renegam, fogem para longe d´Ele, fingem não conhecê-Lo. Na música de nossa
relação com Deus encontramos enormes dissonâncias. Porém, na Eucaristia ficam
unidas, abraçadas e transfiguradas pela beleza, num gesto de amor e de doação.
Nessa música da Eucaristia somos refeitos, recriados e tornamos a encontrar a
harmonia. É uma resolução harmônica que não apaga nossas negações do amor e
de liberdade, nem pretende fazer crer que nunca tenham existido, mas as
transforma em etapas de nosso itinerário. Em nossas celebrações nos atrevemos a
lembrar da debilidade dos apóstolos.
Assim, o monge significa com sua vida que o termo é o Reino. Nossa história é a
história da humanidade em seu caminhar até o Reino. Nós o encenamos no ciclo
anual do ano litúrgico, desde a Criação até o Reino. Porém, o drama cotidiano da
vida do monge é mais completo, com suas lutas e desfalecimentos no caminho da
liberdade. A sinfonia anual da peregrinação até o Reino precisa ser acompanhada
pela música cotidiana da Eucaristia, reconhecendo que continuamente nos negamos
a tomar o caminho de Jerusalém, que conduz à morte e à Ressurreição e que
preferimos a escravidão. Precisamos nos reencontrar a cada dia na música da
Eucaristia, na qual nenhuma dissonância, por mais forte que seja, fica fora do
alcance da resolução criadora de Deus".
O ESPAÇO INTERIOR
Finalmente, chegamos ao que constitui o elemento fundamental da vida monástica,
o que é mais belo e difícil de descrever, isto é, a humildade. É o que resulta menos
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imediatamente visível às pessoas que vem visitar os mosteiros e, apesar disso, é a
base de tudo mais. Nas palavras do Cardeal Hume "É muito bonito ver a humildade
no outro; porém, na verdade, o processo de fazer-se humilde é penoso". É a humildade
que cria em nós para Deus um espaço vazio onde Ele possa habitar e contemplar
sua glória. Em última instância, é a humildade que faz de nossas comunidades o
trono de Deus.
É difícil hoje em dia encontrar palavras para falar da humildade. A sociedade nos
convida a cultivar as atitudes opostas, como a auto-afirmação e uma grande
confiança em si mesmo. As pessoas que têm êxito esforçam-se com agressividade
para continuar subindo. Hoje nos acovardamos quando lemos no sétimo grau de
humildade que devemos aprender a dizer como o profeta "sou um verme, não um
homem". É por que somos demasiadamente orgulhosos? Ou será por que estamos
inseguros a respeito de nós mesmos, e não temos confiança em nosso valor? Talvez
não nos atrevemos a dizer que somos vermes porque nos assusta o temor de que
seja verdade.
Como podemos construir comunidades que sejam sinais vivos da beleza da
humildade? Como podemos mostrar o poder de atração da humildade num mundo
marcado pela agressividade? Somente vocês podem responder essas perguntas.
São Bento foi um grande mestre da humildade e eu não estou muito certo de que
esta tenha sido a virtude mais eminente de muitos dominicanos. Contudo, gostaria
de fazer uma pequena proposta. Quando pensamos na humildade, pode ser que a
consideremos como coisa extremamente pessoal e privada: contemplo a mim
mesmo e vejo minha indignidade. Ao penetrar fundo em meu interior, descubro em
mim muitas qualidades próprias de um verme. Ou, quando muito, uma perspectiva
deprimente.
Talvez o que São Bento pretende é convidar-nos a fazer algo
infinitamente mais libertador: construir uma comunidade na qual possamos nos
libertar de toda rivalidade, competição e luta pelo poder. Um novo tipo de
comunidade que seja estruturada pela deferência mútua e a recíproca obediência.
Uma comunidade na qual ninguém ocupe o centro, mas que no centro haja um
espaço vazio, um vácuo que possa ser preenchido com a glória de Deus. Isso
demanda um grande desafio à imagem que hoje temos do eu, que é um eu
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solitário, absorto em si mesmo, centro do mundo, eixo em torno do qual tudo
gravita. No coração desta identidade está a consciência de si mesmo: "Penso, logo
existo".
A vida monástica nos convida a deslocar o centro e entrar no campo da gravidade
da graça. Convida-nos a nos descentralizarmos. Uma vez mais, encontramos a Deus
revelado num vácuo, num espaço oco; desta vez é o espaço vazio que se encontra
no centro da comunidade e que está reservado para Deus. Temos que preparar um
lugar para a Palavra, para que venha e habite entre nós, um espaço para que Deus
exista. Sempre que estivermos competindo para estar no centro, não haverá espaço
para Deus. Por isso, a humildade não pode ser desprezo de si mesmo, e nem se
pensar : Que horrível sou!, mas antes, consiste em configurar, esvaziar o coração da
comunidade para abrir espaço no qual a Palavra possa armar sua tenda.
Uma vez mais, penso que é na liturgia que essa beleza se manifesta. Deus fica
entronizado nos louvores que o Povo de Israel eleva até Ele. É quando as pessoas
vêem os monges cantando louvores a Deus que se pode vislumbrar a liberdade e a
beleza da humildade.
Na Idade Média, acreditava-se que uma música boa e
harmoniosa aparelhava-se com a construção de uma comunidade igualmente
harmoniosa. A música cura a alma e a comunidade. Não podemos cantar juntos se
cada um de nós está lutando por cantar mais alto, competindo para que lhe
iluminem o cenário. De maneira parecida, estou certo de que quando se canta
juntos em harmonia, quando se aprende a cantar a nota que corresponde a cada
um, quando se aprende a encontrar o lugar próprio na melodia, ela nos torna
irmãos, mostrando aos demais como se pode viver juntos sem competitividade e
nem rivalidade.
Qual é o papel do abade em tudo isto? Entre os dominicanos só tivemos um abade,
um tal de Matthew, que foi um desastre, e por isso não tivemos mais nenhum. Mas,
certamente que todos os superiores religiosos têm a função de assegurar que haja
um espaço no qual Deus ocupe o centro. Por isso o abade, por assim dizer, deverá
ser a pessoa que não aceite o impor-se e dominar no canto, abafando a voz dos
outros monges, apropriando-se do centro, sendo o Pavarotti da abadia. Deve
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permitir que a harmonia governe. Pode-se verificar se uma comunidade vive em
harmonia quando escutamos seu canto. E também pode-se ver quão diferentes são
os beneditinos dos dominicanos na sua maneira de cantar!.
O ponto culminante da humildade é quando se descobre que não somente não se
é o centro do mundo, mas que sequer se é o centro de si mesmo. Não somente
existe um vazio no centro da comunidade, para que Deus nele fixe sua morada, mas
também um espaço oco no centro de nosso ser onde Deus possa armar sua tenda.
Sou uma criatura a quem Deus outorga sua existência a cada momento. Nos
mosaicos de Monreale pode-se ver como Deus modela Adão. Deus lhe dá a
respiração e o sustenta no seu ser. No coração de minha existência não estou
sozinho. Deus está ali, dando-me o alento a cada momento, dando-me a existência.
Em meu centro não existe um eu solitário, não existe um ego cartesiano, mas sim
um espaço que se preenche com Deus.
Talvez seja esta a vocação última do monge: mostrar a beleza desse espaço oco; ser
individual e comunitariamente templos para que a glória de Deus neles habite. A
estas alturas, já não se surpreenderão se eu afirmar que isso se revela no canto dos
louvores do Senhor. Tendo chegado a este ponto, queria ir mais além dos limites de
minha capacidade. Não obstante, farei apenas uma pequena incursão neste campo
que é verdadeiramente fascinante. Se vocês acharem que o que digo não faz
sentido, provavelmente terão razão.
Toda criação artística reflete em si a primeira criação. Na arte vislumbramos o que
significou para Deus criar o mundo do nada. A originalidade na arte faz com que
remontemos à origem de tudo o que existe. Todo poema, pintura, escultura ou
música nos dá uma pista do que o ato de criar pode significar para Deus. George
Steiner escreveu: "No fundo de todo ato de criação jaz um sonho de se dar um salto
absoluto para sair do nada, o sonho de poder formular na mente daquele que o concebe
um enunciado tão novo, tão singular que, literalmente, deixaria para trás todo o mundo
pré-existente".
Dentro da tradição cristã isto se verificou particularmente na música. Santo
Agostinho disse que é precisamente na música, na qual o som sai do silêncio, na
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qual podemos ver o que significa estar o universo fundamentado no nada, que seja
contingente e que nós sejamos, portanto, criaturas. "A alternância de sons e silêncios
na música é vista por Agostinho como uma manifestação da alternância entre vir à
existência e o passar ao não ser que caracteriza o universo criado do nada". Na música
escutamos, citando novamente Steiner, "o sempre renovado vestígio do original, o
nunca totalmente acessível momento da criação... o inacessível primeiro fiat". É o
eco do "Big bang" ou, como disse Tavener, o pré-eco do divino silêncio.
No coração da vida monástica encontra-se a humildade. Não a humildade opressiva
e deprimente dos que se odeiam a si mesmos. Mas a humildade dos que se sabem
criaturas e que sua existência é um dom. E assim é absolutamente verdade que no
centro de suas vidas deve estar o canto. Posto que no canto podemos mostrar
como Deus faz que tudo exista. E vocês cantam a Palavra de Deus, através da qual
tudo foi criado. É ai que podemos ver uma beleza que é muito mais do que
simplesmente prazerosa. É a beleza que celebra que fomos criados e recriados. No
centro de nosso ser, Deus estabeleceu sua morada e seu trono.
Para concluir, gostaria de recordar que nesta conferência o que tentei expor é que a
glória de Deus sempre necessita de um espaço, um vazio para manifestar-se. É o
vazio que existia entre as fileiras dos querubins no Templo; o sepulcro vazio, o Jesus
que desaparece em Emaús. Minha proposta é que se vocês deixarem que esses
espaços vazios se produzam em suas vidas, sendo pessoas que não desempenham
suas funções por nenhuma razão concreta, cujas vidas não levam a lugar nenhum e
que encaram sua condição de criaturas sem temor, então suas comunidades serão
tronos da glória de Deus.
O que esperamos ver nos mosteiros é mais do que podemos dizer. A glória de Deus
é maior do que nossas palavras podem expressar. O mistério rompe nossos
pequenos conceitos ideológicos. Como São Tomás de Aquino, vemos que tudo o
que podemos expressar é sempre inútil. Significa isso que tão somente podemos
guardar silêncio? Não, porque os mosteiros não são somente lugares de silêncio,
mas também de canto. Temos que encontrar modos de cantar que toquem os
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limites da linguagem, que estejam no fio do sentido. É o que Santo Agostinho
chama a canção de júbilo e é o que podemos aprender a cantar no Ano Jubilar.
"Perguntas o que é cantar com júbilo. Significa dar-se conta de que as palavras não são
suficientes para expressar o que cantam os nossos corações. Durante a colheita da uva
no vinhedo, sempre que os operários precisam trabalhar duro, começam a entoar
cantos que expressem alegria. Porém quando sua alegria transborda e as palavras não
bastam, abandonam inclusive esta coerência e dão por concluído o canto. Que é este
júbilo, esta canção exultante? É a melodia que expressa que nossos corações ardem
com sentimentos que as palavras não conseguem expressar. E a quem se atribui de um
modo mais adequado este júbilo? Seguramente a Deus que é inexpremível". (Ps 32,
Sermão 1.8).
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