(1º lugar conto)

Transcrição

(1º lugar conto)
1º LUGAR GÊNERO CONTO
AUTOR: Alixandre Ibraim de Lima – acadêmico do 2º semestre do Curso de
Licenciatura em Computação
O milico da resposta pronta!
Quando os recrutas do quartel da cidade da Cruz bem Alta serviam a Pátria
Amada como verdadeiros filhos e fiéis soldados: adorando, idolatrando e com devoção
cumprindo de maneira heróica a função que lhes cabia, defendendo, muitas vezes com a
própria vida, se preciso fosse, a grande nação brasileira. O termo Milico é uma forma de
identificação popular para os jovens que prestam o serviço militar pela primeira vez,
cumprindo um ano ou engajando na carreira militar como era de costume na década de
1980. O milico através do senso comum do cotidiano militar era elevado ao posto de
soldado antigo, e os que passavam na prova da Academia Militar eram chamados para
integrar o curso de formação de oficiais. Para muitos jovens daquela época era um
caminho espinhoso para seguir, porém retilíneo e certeiro na busca de vitória da
construção de uma carreira profissional sólida e bem remunerada.
Carpinidio era um milico descendente de italianos, seu nome de guerra assim foi
determinado pelo sargento, pois no mesmo batalhão existiam dois soldados antigos com
o mesmo primeiro nome de Joseph. O moço vindo de uma comunidade típica do interior
de Grostoli, cidade vizinha, trazia na sua bagagem cultural um palavreado e modo de
agir único e corriqueiro pertencente a herança colonial. Desde menino, sempre astuto e
prestativo, procurava achar resposta em tudo o que via, o que fazia muito bem por sinal,
era obstinado nessa tarefa de visionário.
Seus colegas de quartel adoravam seu jeito tosco de ser e seus discursos em bom
dialeto Porto-Italico:
- Diu cramento, o gurrizada medonha onde voices escodera as minhas
chinelões.
- Tedovo vou ter quer ir lavar meus pernas de galocha, tem fundamento!
Era só o gringo falar e a risada começava. Não tinha hora pra acaba. Muito
religioso, Carpinidio rezava um terço antes de deitar, outro quando acordava. E sempre
na hora do rango, era ele quem orava em agradecimento. Momento esse que o mesmo
policiava-se na linguagem e, concentrando-se bem, conseguia fazer uma pequena frase
de agradecimento ao Criador, com razoável fluência no português.
Desta forma, Carpinidio era respeitado por todos no quartel, inclusive pelo
Corpo de Oficiais. Carpinidio destacava-se também por estar sempre à frente dos seus
colegas em se tratando de dar resposta, quando cobrado, respondia imediatamente e sem
deixar margem para erro. Certa feita, como todo o bom soldado designando para ficar
em uma guarita de vigia, fechando o segundo quarto de ronda das 3h30min às 5h30min
da manhã de uma noite gelada de agosto, com um fuzil entupido de munição pesando
uns 6 kg, acabou adormecendo escorado no fuzil e este último equilibrando o seu peso
na parede como é de praxe a todos os soldados que enfrentam este desafio.
Mas o destino quis que nesta hora de descanso solitário, o oficial responsável
pela guarda realizasse uma ronda de averiguação, e nessa hora se depara com a cena do
soldado que dorme no posto, e branda com um grito atômico quebrando os cristais de
gelo que a grande geada tinha formado emoldurando esse momento pitoresco:
- Milico sem pedigree, dormindo no posto!
- Acorda seu mequetrefe!
Então o Crapenidio sem esboçar nenhuma reação exclamou:
- Amém!
Abriu os olhos itálicos azulados. E o oficial indignado com o que vira perguntou
então:
- O que você fazia de olhos fechados Milico preguiçoso?!
O soldado então bateu continência e pediu:
- Senhore, permissão para falar.
O tenente aparentando mais indignação consentiu:
- Permissão concedida.
- Senhore estava rezando!
Por isso saliento, contra fatos não há argumentos. Antes de perguntar devemos
laborar a resposta.