entreatos - segmento farma editores

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ENTREATOS
Crônicas típicas do
mundo psiquiátrico
ENTREATOS
Crônicas típicas do
mundo psiquiátrico
Entreatos: crônicas típicas do mundo psiquiátrico
Copyright© 2007, Stella Galvão.
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra.
Todos os direitos desta edição estão reservados à Segmento Farma Editores Ltda.
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
G182
GALVÃO, Stella
Entreatos: crônicas típicas do mundo psiquiátrico / Stella Galvão. –
São Paulo : Segmento Farma, 2007.
24 p. 14 x 21 cm
ISBN 978-85-98353-72-2
1. Psiquiatria – contos e crônicas. I. Título.
CDD 616.89
Índices para catálogo sistemático
1.
2.
Psiquiatria
Contos e crônicas
616.89
808.88
IMPRESSO NO BRASIL
2007
Avenida Vereador José Diniz, 3.300, 15o andar, Campo Belo – 04604-006 – São Paulo, SP. Fone: 11 3093-3300
www.segmentofarma.com.br • [email protected]
Diretor geral: Idelcio D. Patricio Diretor executivo: Jorge Rangel Controller: Antonio Carlos Alves Dias
Gerente de negócios: Rosana Moreira Assistente comercial: Karina Cardoso Coordenador Geral: Alexandre Costa
Coordenadora editorial: Caline Devèze Editor de arte: Maurício Domingues Jornalista responsável: Daniela Barros
(Mtb 39.311) Direção de arte: Renata Variso Ilustrações: Eduardo Magno Diagramação: Carlos Eduardo Müller
Revisão: Renata Del Nero Produção gráfica: Fabio Rangel Cód. da publicação: 5610.09.07
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
um projeto INSPIRADOR
Stella Galvão
TÍPICO 1
o dia em que MITIKO ESBRAVEJOU
Colaborou: Dr. Geraldo Massaro
TÍPICO 2
a arte de FAZER RIR
Colaborou: Dr. Arthur Kaufman
TÍPICO 3
em nome DE DEUS
Colaborou: Dra. Jane Aparecida Lima
TÍPICO 4
meu nome É FELICIDADE
Colaborou: Dr. Wimer Bottura
TÍPICO 5
o morcego INVASOR
Colaborou: Dra. Ana Hounie
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APRESENTAÇÃO
um projeto INSPIRADOR
Uma relação muito delicada, tecida pelas tramas diárias que se sucedem e determinam novos rumos e novas possibilidades. É quando a porta do consultório
se fecha que o médico recebe uma espécie de salvo-conduto que lhe permitirá
adentrar no território que é do outro e que passa a lhe ser confiado, em um acordo
tácito. O vínculo que se estabelece entre o médico psiquiatra e seu paciente é
único, forte, intenso, mas também sujeito a trovoadas, porque é no campo mental
que ambos estão ingressando. Nesse processo, não há ação unilateral.
Impossível pedir ao psiquiatra que apenas veja um paciente, em uma anamnese
trivial e rápida. Inviável imaginar que aquele paciente será despachado com uma
pilha de solicitações de exames. O sofrimento psíquico é parte da vida humana
desde que caminhamos por um solo que se altera todo o tempo, mimetizando
nossas emoções. É a elas que estamos sujeitos em razão de nossa humanidade,
especialmente quanto mais esta se manifesta, aflora, desponta.
Foi com essa inspiração original que se concebeu este pequeno e delicado
volume. Nele, o doutor de algum modo se enxergará porque foi na prática clínica
que fomos prospectar histórias ricas em lirismo, cenas inusitadas, engraçadas,
atos falhos. Todos eles tendo médico e paciente como protagonistas. Em respeito
à ética e ao sigilo profissional, esclarecemos que as identidades dos pacientes
foram integralmente preservadas. Em algum ponto dos relatos, há o ocorrido em
meio a construções ficcionais que estão presentes no dia-a-dia de um consultório
psiquiátrico. Os nomes que os identificam também são produtos de ficção.
O projeto deste volume de crônicas do mundo psiquiátrico, concebido pela
Segmento Farma Editores e acolhido pelo Laboratório Farmacêutico Valeant é uma
forma de homenagear o médico que se desdobra, estuda, investiga, trata, orienta
e acolhe seus pacientes. É um meio de reconhecer o papel absolutamente imprescindível dos profissionais que optaram pela psiquiatria como razão de vida, além
de opção profissional.
Queremos deixar nosso especial agradecimento aos profissionais que gentilmente cederam parte de seu precioso tempo para nos contar algum aspecto das
histórias disponíveis neste volume.
Nosso reconhecimento e parabéns a todos os psiquiatras que fortalecem, a cada
dia um pouco mais, os pilares de sustentação da história mental de seus pacientes.
Stella Galvão
Jornalista e cronista, mestre em História da Ciência pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
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TÍPICO 1
o dia em que
MITIKO ESBRAVEJOU
Mitiko sofria de esquizofrenia e podia ser qualificada de uma psicótica típica. Não interagia com outras pessoas, mesmo medicada, e permanecia em um mutismo do qual
raramente saía. Vez ou outra, no ambiente doméstico, ela soltava uma frase quando via
algo surpreendente na TV ou assistia a alguém da família em estado de descontrole
momentâneo. O diagnóstico veio aos 15 anos. Até então, uma adolescente comum e
meio quieta, Mitiko começou a manifestar delírios persecutórios. Imaginava que um
professor a perseguia, queria prejudicá-la a todo custo, só tinha olhos para seus erros
e confusões durante a aula de matemática e de desenho geométrico. Relatava à mãe
estar sob forte influência de forças incontroláveis que a faziam sentir-se poderosa.
Em seguida vieram as alucinações. Mitiko ouvia vozes claras e conversava com elas,
em resposta. Passou a fazer isso em todos os lugares, constrangendo quem estivesse
a seu lado. Vozes que a mandavam fazer coisas às quais ela resistia. O conflito era
inevitável e ampliado pelas alucinações visuais. Freqüentemente se corporificavam
e a perseguiam. A adolescente, que já era reservada e apresentava problemas de relacionamento, foi ficando cada vez mais isolada e envolvida em suas fantasias. Ficou
inviável freqüentar a escola sem ser alvo de toda sorte de piadinhas.
A progressão da doença fez surgir os sintomas mais característicos da psicose. Havia também a nítida percepção de estímulos elétricos atravessando a pele,
como se uma fila de insetos rastejasse sobre a pele. Tal sensação de estranheza
traduzia-se em esvaziamento na relação com o mundo. A diminuição da resposta
emocional era um sinal evidente e expressivo da doença em Mitiko, traduzindo-se
em indiferença e apatia, e ausência de gestual expressiva. Vazia, sem emoção, era
assim que ela se descrevia, mas viva, e objeto da preocupação dos familiares que
sofriam pela impossibilidade de resposta.
“Cala a boca porque você é
um bobalhão e se encher meu
saco eu vou te bater muito”
Os pais resolveram procurar um psiquiatra. Diagnosticada a doença e iniciado
o tratamento, o quadro de Mitiko sofreu melhora, com diminuição dos sintomas
persecutórios e alucinatórios, mas preservação do embotamento emocional. Ainda incurável, o tratamento do esquizofrênico permite hábitos de vida relativamente
normais para a maioria, que podem voltar a trabalhar, estudar, namorar, ter novamente vida social. Ela, então, foi matriculada em uma escola com um programa
de acolhimento para psicóticos, com professores treinados para melhor lidar no
dia-a-dia com as manifestações da doença. Passou também a freqüentar a terapia
de grupo do hospital universitário. Lá, manteve o mutismo por mais de seis sessões, cada uma delas com uma hora e meia de duração. O grupo podia tagarelar
à vontade, o psiquiatra que coordenava podia provocar, em vão. Mitiko só ouvia e
olhava sobre as cabeças, distante.
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o dia em que MITIKO ESBRAVEJOU
Pequenina e graciosa, Mitiko virou uma espécie de talismã da psiquiatria, sempre presente e à vista de todos os médicos, residentes, pessoal da enfermagem.
Encerrada a consulta ou a sessão grupal, ela ficava por ali, nos corredores do
hospital, na lanchonete da frente, ao largo do quarteirão. Ela se sentia, por assim
dizer, em casa. Só ia embora por insistência dos parentes que a resgatavam após
muita recusa, expressa sob a forma de imobilidade. Nessas horas, Mitiko, já uma
adulta, parecia brincar de estátua. Vivenciava um tipo do chamado estupor catatônico, uma situação de imobilidade por longo período.
Um dia, sem anúncio prévio, chegou ao grupo terapêutico um psicótico, Gregório, de comportamento bastante agressivo e um gosto excepcional por brigas,
negligente com os cuidados pessoais, era a imagem do desleixo, ao que somava a
maneira rude de se expressar. Na terceira sessão, subitamente, o rapaz sacou um
canivete. Ameaçava furar, bater e outras intervenções do gênero. O coordenador
do grupo a tudo assistia, quieto, esperando as reações. Interviria se o paciente
passasse das palavras à ação, claro. Não foi preciso.
Mitiko, cuja presença até então era mais inexpressiva que a da pomba que arrulhava no telhado do hospital, levantou-se de um salto. Foi até Gregório sem titubear. E falou alto, sem pausas, dedo na cara do encrenqueiro: “Cala a boca porque
você é um bobalhão e se encher meu saco eu vou te bater muito”. O homem do
canivete voltou cabisbaixo para seu canto, sentou e não abriu mais a boca nem
chamou ninguém para briga. Mitiko igualmente emudeceu e não voltou a abrir a
boca pelos três meses seguintes.
Colaborou:
Dr. Geraldo Massaro
Psiquiatra e psicodramatista, autor de “Doença Mental e Sociedade: uma Discussão
Interdisciplinar”, “Loucura, uma proposta de ação”, entre outros livros
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TÍPICO 2
a arte de FAZER RIR
Era uma atriz dedicada ao gênero da comédia, mas o caso é que ela dispensava esforços para fazer rir, construir personagens, decorar piadas rasas ou ganhar uma platéia
com meia dúzia de frases de efeito. Ela fazia psicoterapia para “segurar a torrente dos
dias, às vezes a enxurrada”. Era uma alegria só para o psiquiatra que a atendia, para
a recepcionista, um ou outro paciente que estivesse na companhia dela na sala de
espera. Todos riam por obra daquele talento nato para a palhaçada, clown em tempo
integral. Existindo, ela fazia graça. Era uma coisa espontânea, mas que flertava às
vezes com a cena teatral.
A vida da atriz era feita de incorporar no dia-a-dia papéis que desafiavam o lado
comum e regrado. O psiquiatra, uma alma pouco dada a freios, deliciava-se com
a audição daquele templo do risível. Ela tinha um hábito inesquecível durante as
consultas. Cada vez que lançava no ar uma frase mais absurda, ouvia-se um uóóóól
longo e estridente, imitação da sirene de uma ambulância.
Suzy passara a infância ao lado de um pronto-socorro. Da janela do prédio, assistia o vai-e-vem dos carros nervosamente transportando gente com pressa de viver e
se livrar da dor. Ela desejou ser atriz no dia em que viu um ferido sair cambaleante
da ambulância e declamar um verso do poeta francês Baudelaire. Muito engraçado,
pensou, e assim foi.
Na escola ganhou popularidade graças às tiradas e aos apelidos que dava às professoras. Uma vez por semana era chamada à coordenadoria pedagógica para explicar aquela
vocação irresistível para rótulos jocosos. Os pais, também apelidados, Dona Monstra e
Seu Pato, resignavam-se, pediam mil desculpas à ofendida e diziam que aquilo era assim
em casa também, que “Suzy de lua” não dava sossego a parente algum. Quem mais
sofria era a vovozinha trôpega e surda. No final todos riam muito, apesar da maldadezinha
que habitava a alma do primeiro palhaço, sempre a ridicularizar o outro.
Então Suzy foi ter aulas para atuar. Roubava a cena, transformando Desdêmona,
a sofrida consorte do mercador Otelo, de Shakespeare, em uma quase versão de
a arte de FAZER RIR
Quasímodo, O corcunda de Notre Dame, sempre esgueirando-se e fazendo caras e
bocas. Dizia que fazer comédia não a tornava menos atriz porque nessa condição
se embutia o grande drama humano. Aliás, ria muito das meninas novas candidatas
a heroínas moderninhas, quando estavam mais para Jane Austen e suas mocinhas
sofridas. Mas era atriz ou comediante? Sabia representar, mas só encarnava personagens com os dois pés enfiados na jaca, fazendo gargalhar a platéia. Era inevitável
que os primeiros papéis fossem de pasteladas na cara dos outros. No teatro infantil
aprendeu com o público mais severo, os pequenos, que não se deixam enganar. Ou
os atores eram engraçados ou viravam motivo de riso, mas não daquele riso frouxo,
aberto e solto, mas o da chacota mesmo. Esse trauma ela não tinha.
De tanto fazer rir, Suzy enfrentava uma enorme dificuldade para encarar as más
notícias cotidianas. Claro, a vida não era purpurina e o cenário podia ser dantesco,
às vezes. Ela saía do teatro onde era a estrela de um espetáculo de humor encenado
sempre com a casa cheia, e corria para acudir a mãe, às voltas com um câncer
terminal e que havia optado por permanecer em casa após esgotadas as possibilidades terapêuticas. Lia para aquela monstrinha querida histórias da Mafalda, menina
esperta do mundo dos quadrinhos que a mãe adorava, e do Calvin e seu fiel escudeiro Haroldo, o tigre confidente. Era esse tipo de humor, às vezes ácido, que tinha
povoado a infância e a adolescência da atriz.
Naquele dia, o psiquiatra finalizava um atendimento quando ouviu Suzy na sala de
espera, aos berros: ”Minha mãe morreu, meu pai também!”. Ele a fez entrar rapidamente, e ela se pôs pela primeira vez aos prantos diante do psiquiatra. A mãe não
resistira mais ao câncer na manhã daquele dia. O pai não agüentou a partida da mulher e sofreu um infarto fulminante à tarde. Era início da noite daquele mesmo dia e
Suzy estava só. Ela e sua dor. Nem mesmo um esgar se viu desenhar em seus lábios
contritos. Os pais foram cremados na mesma semana e a vida seguiu seu curso.
Vivendo em São Paulo, ela também estava à mercê da violência urbana. E foi
assim que, algum tempo depois da perda dos pais, ela caminhava da padaria para
casa, em um bairro de classe média com muitas lâmpadas de rua queimadas, quando
um adolescente a abordou. No lugar do canivete ou do revólver de brinquedo, ele
ameaçava com um caco de vidro: “Vou te cortar, vou te matar, dona!” Suzy, atriz e
comediante, não deixou por menos. Começou a chorar instantaneamente e a pedir
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Chorando agarrada à pá de lixo,
Suzy só conseguia pensar, e
aos poucos rir até rolar no chão,
na famosa frase bíblica: “Do pó
viestes, ao pó voltarás!”
que ele a matasse de uma vez porque a vida dela não valia mesmo a pena ser vivida.
Terminou consolada pelo garoto, que a enlaçou e largou o vidro no meio-fio. Foi duro
se desvencilhar daquele súbito e imprevisto apoio.
O consultório psiquiátrico também era palco de intervenções inusitadas. Havia
dias em que Suzy descia as escadas em formato de caracol naquela posição de
quem procura algo perdido, de quatro, mãos e joelhos apoiados no chão. Dizia que
era um santo remédio para poupar a coluna. Também era vista no jardim em frente
observando atentamente as evoluções de uma joaninha ou o movimento interminável das formigas e sua rainha, com a qual, aliás, tinha imensa identidade por seu
papel de condutora, de fiel da balança. Longe dos indícios de psicopatia, a atriz
encarnava um perfil criativo, aquele tipo de pessoa que desafia o senso comum e se
permite tresloucar vez ou outra. Algo de uma sanidade exemplar.
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a arte de FAZER RIR
Um dia, a comediante apresentou-se ao psiquiatra com uma dúvida que a consumia: “O que faço com o meu pai e a minha mãe?” Os dois habitavam um canto
do armário da sala, cada qual na sua caixinha. Ela já havia cogitado várias possibilidades. Viajar para Ilhabela e entregá-los às ondas, mantê-los em algum recanto
discreto de um móvel ou jogá-los no microjardim que mantinha no terraço do
apartamento? Quem sabe não nasceriam agora sob a forma vegetal? Impossível
não rir da história, gargalhou o médico. Era assim que a dor se interpunha entre
Suzy e seu talento para alegrar o mundo. Como algo meio deslocado do contexto,
como uma louça fora do armário por um momento apenas, até que alguém a reconduzisse de volta ao lugar original.
Os pais terminaram misturados ao pó da casa por obra de uma faxineira nova que
desconhecia o tesouro contido naqueles microbaús que repousavam na cristaleira.
Quando a filha chegou, o desfecho já era irreversível. Impossível saber quem eram
os pais em meio aquele amontoado de poeira no canto da sala. Chorando agarrada à
pá de lixo, Suzy só conseguia pensar, e aos poucos rir até rolar no chão, na famosa
frase bíblica: “Do pó viestes, ao pó voltarás!”.
Colaborou:
Dr. Arthur Kaufman
Psiquiatra e coordenador do Projeto de Atendimento ao Obeso (Prato) do Instituto de Psiquiatria do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)
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em nome DE DEUS
TÍPICO 3
Mal amanheceu, a psiquiatra abriu as janelas do consultório e esperou a paciente.
Com viagem marcada para a Europa no final daquela manhã, por determinação da
congregação religiosa a qual pertencia, a freira chegou pontualmente às 7h para o
atendimento. Aos 35 anos, era uma mulher bonita e vistosa, graduada em teologia,
que havia abraçado a vocação cristã por imposição íntima, por sentir que naquela
opção residia o sentido para a vida que desejava ter.
Mas dúvidas, quem não as tem? Era uma alma atribulada por questionamentos
de natureza muito pessoal. Ela desejava ter filhos e não havia conseguido calar as
ondas de desejo que se espraiavam vez ou outra por todo o corpo. Era uma aflição,
um desmazelo. E havia ainda a culpa introjetada por ousar sentir algo que lhe havia
sido interditado. Na intimidade de sua cama, porém, ela conhecia as reações, estava íntima daquela fisiologia própria das mulheres que sentem, ou deveriam sentir,
prazer em amar. Como lidar com isso? Havia uma voz que acatava as determinações
religiosas pelo celibato mais absoluto e o sepultamento, em vida, de sua porção
viva, pulsante, e outra, quase audível, que desejava trazer essas pulsões à tona.
Naquela manhã, o tema era exatamente a visão de homens e as sensações que músculos, barba, dorso e pernas reunidos lhe despertavam. Ela segredou à terapeuta que
tudo isso se dava no plano social, quer dizer, com eles vestidos, circulando em ambientes diversos. Sim, ela jamais havia visto um homem nu ao vivo e fantasiava com isso,
claro. Como reagiria? Conseguiria conter os desejos que teimavam em lhe assomar à
mente, que movimentavam estruturas forçosamente em desuso? Uma incógnita alimentada pela restrição que a roupa, o hábito quente e pudico de freira, lhe impunha.
Enquanto essas elucubrações eram participadas à psiquiatra, na sala ao lado processava-se um movimento inusitado. A clínica era dividida com um urologista, que
naquele dia acordou decidido a mudar a cor das paredes da sala em que atendia os
pacientes. E quis ele mesmo fazer isso, apesar de reunir experiência zero em rolos,
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em nome DE DEUS
pincéis e tintas. No lugar de comprar tinta lilás pronta, queria ele mesmo processar
a alquimia, misturando manualmente as cores do arco-íris. Ocorreu-lhe, então, algo
razoável. Que seria impossível lidar com aquilo todo vestido de branco, uniforme do
atendimento que passaria a fazer à tarde. Despiu-se, mas manteve a cueca cor da
pele, minúscula e bem justa. O doutor gostava de propalar certo caráter sedutor em
suas aventuras íntimas e não economizava nas roupas de baixo.
No lugar de comprar tinta
lilás pronta, queria ele mesmo
processar a alquimia, misturando
manualmente as cores do
arco-íris (...) Despiu-se, mas
manteve a cueca cor da pele,
minúscula e bem justa. O doutor
gostava de propalar certo caráter
sedutor em suas aventuras
íntimas e não economizava
nas roupas de baixo
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A primeira tentativa de misturas foi um fracasso, prevalecendo o rosa. Impaciente,
imaginou que mais espaço seria determinante para o sucesso da empreitada. Reuniu
os livros dispostos na prateleira já retirada da parede e se dirigiu à porta de comunicação com o consultório de psiquiatria. E foi assim que ele surgiu, um homem
quase nu, parcialmente coberto, todo respingado de tinta, do cabelo à unha do dedo
mindinho. Numa das mãos, uma penca de livros, noutra, o rolo de tinta ainda fresca
e pingando, espalhando o rosa no trajeto.
A freira pulou da poltrona e pôs-se a gritar alto, em evidente crise histérica, hipnotizada pela visão do masculino ali, a poucos metros dela, e quase sem roupa. A cor
da cueca causava mesmo uma ilusão de ótica. Estaria ele nu? A psiquiatra, enquanto
isso, teve uma crise incontrolável de riso. E o urologista ali pasmo, sem entender
nada. Depois de um minuto, mais ou menos, ele finalmente conseguiu se explicar,
contar do projeto, das tintas, estranhando a presença precoce de paciente e terapeuta. Dito isso, e após as desculpas de praxe, correu de volta para sua sala.
A perplexidade não foi produto unicamente da vestimenta minúscula, mas também
da inversão de papéis. Não entrava na cabeça da freira a figura do médico pintor. Teria sido produto de sua imaginação fértil, justamente curiosa pela visão do corpo de
homem? Ela só repetia: “Meu Deus, que susto, que susto, meu Deus!” A terapeuta
não perdeu a deixa, nem o humor: “Pena que ele não estava nu, porque finalmente
você veria um homem assim, totalmente exposto”. A religiosa achou graça, afinal,
descontraiu e deu boas gargalhadas.
A entrada em cena do urologista de cueca foi um achado terapêutico. O tema
da sexualidade reprimida da freira voltou ao lugar central do processo. Depois
de contemplar um homem, ela repensaria a necessidade de vida sexual? Ou melhor, repensaria sua opção religiosa? Com questões assim no ar, ela embarcou
para o Velho Continente, onde permaneceu por vários meses. De volta, retornou
à psicoterapia para retomar o tema, dessa vez com uma abertura surpreendente.
Falava agora, às claras, do que lhe provocava a visão de homens que a atraíam.
Chegou mesmo a cogitar assumir sua sexualidade, dissimulando essa opção
para as superioras e colegas de claustro. Mas não, sabia-se incapaz de pecar
dessa maneira. E por uma razão vinculada à crença no Deus onipresente, que
tudo vê, do qual nada escapa. Nada feito.
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em nome DE DEUS
Ela ainda seria diretamente testada, e assim foi. A tentação apresentou-se de
modo quase inescapável durante uma singela ida ao dentista. Tipo alto, másculo,
dentes fortes e alvos, era um solteiro desses convictos. Mas a visão do hábito, do
olhar que evitava o seu, do corpo que parecia convidar ao encontro... Ele capitulou e
passou a cortejar abertamente a paciente, indiferente ao terço, ao crucifixo. Herege,
ela pensava, enquanto ele a despia com os olhos. Em uma ocasião em que as mãos
se tocaram e ele roçou o braço em seu seio esquerdo, aparentemente de forma
acidental, ela perdeu o sono por três noites.
Retornou à psicoterapia, onde relatou sua angústia agora multiplicada pela presença do dentista, pela disponibilidade, pelas intenções que ele declarava. Que
queria tê-la como mulher, gerar filhos, ir junto à missa. Desejava amá-la até quase
o desfalecimento. Ele tremia de desejo incontido por aquela mulher, ela não menos. Apaixonada, não viu outra alternativa senão entregar seus dentes, canais e
gengivas a outro, um senhor com ar grave e circunspecto, uma enorme aliança na
mão esquerda e a foto da esposa querida junto aos anestésicos bucais.
Assim castrada, como ela própria passou a se definir, a freira confirmou seus
votos, mas não conseguiu sufocar suas intenções mais viscerais. Aos 39 anos, hoje
à frente de um colégio religioso, ela ainda retorna à terapia para contar sua via-crúcis. Esteve à beira do sepulcro, peregrina periodicamente a lugares sagrados para
fortalecer sua fé e chega até a se autoflagelar quando o corpo pede algo que ela não
pode dar. Mas ainda não tem certeza de que fez a coisa certa.
Colaborou:
Dra. Jane Aparecida Lima
Neuropsiquiatra, médica do Setor de Pesquisas do Instituto Central do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)
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TÍPICO 4
meu nome É FELICIDADE
Não que a vida fosse fácil. Na verdade, quando aquela menina nasceu, a terceira
numa prole de cinco, os pais passaram dias pensando no nome com que a batizariam. Então lembraram da vida atribulada, dos percalços diários, da dificuldade em
fechar as contas do mês, da falta de saneamento básico no bairro onde moravam.
A mãe sugeriu e o pai acatou. No cartório, houve estranhamento, um risinho do
escrivão, mas ficou mesmo Felicidade das Dores Santos. Das dores porque era
comum no sertão onde nasceram os avós paternos, mas bem que causava estranhamento. Felicidade rima com dores? Isso ela ainda teria de descobrir.
Órfã dos pais aos dois anos, Felicidade foi cuidada pela avó materna durante a
infância. Muito curiosa e atenta, abria portas de armários e vasculhava tudo que houvesse à mão. Se não estivesse, ela subia, se arrastava, se empenhava. Naturalmente
colecionava tombos homéricos, queimaduras e até mesmo a ingestão acidental de
água sanitária. Levada às pressas ao pronto-socorro, por uma dessas felicidades
inexplicáveis, a menina expeliu quase tudo à primeira passagem da sonda gástrica.
Logo se recobrou, pronta para nova arte no muro do vizinho que lhe deixou de molho
por dias, com o braço engessado.
Assim a menina foi crescendo espalhando alegria. Sim, porque sempre que alguém
anunciava seu nome, ainda que alguns achassem ridículo, muitos sorriam, porque era
bom ouvir e conviver com a idéia ou a personificação da felicidade. A menina cresceu
achando que algo lhe era destinado, só não atinava o quê. Quando eram apresentadas,
as pessoas reagiam com um sorriso simpático ou com uma expressão de perda, de
quem deixou qualquer percepção feliz pelo caminho. “Felicidade, é você?”, gostava de
perguntar a avó. Só para que ela respondesse, candidamente: “Sou eu, sim, a felicidade”. A força convincente da palavra, a poética de um nome operando alegrias íntimas
em pessoas geralmente desassistidas em todos os planos. E assim ela foi crescendo,
entre gente que a estranhava e outros que a acolhiam por obra e mérito da intuição dos
pais naquele dia do batismo. Ela encarnava, afinal, o que todos almejavam.
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meu nome É FELICIDADE
No bairro pobre onde vivia, houve uma época em que a menina chegou a ser alvo de
fanáticos religiosos que viam nela alguma espécie de liderança de rebanho por obra de
desígnio divino. Mas Felicidade não mostrava sinais de uma graça excepcional, nem
operava milagres além de causar sorrisos simpáticos a seu redor, à menção de seu
nome. A menina cultivava, sim, sua forma muito particular de infelicidade. Ansiosa e
atônita com a expectativa que depositaram nela, já adolescente passava horas enrolando o cabelo com a ponta dos dedos de um modo que beirava a obsessão.
Da mania de enrolar os fios para puxar e arrancá-los foi um intervalo menor que
um ano. Quando o cabelo começou a escassear na fronte e uma franja foi improvisada pela cabeleireira do bairro para tentar esconder o estrago, a avó entendeu que
a menina sofria com aquilo e a levou ao posto de saúde mais próximo. O clínico
que a atendeu ligou para um psiquiatra amigo e veio o diagnóstico, a partir do relato
do outro. Felicidade das Dores sofria de tricotilomania, um distúrbio caracterizado
quando o paciente se livra dos fios de cabelo por razões não-estéticas Era um sofrimento aquilo. Em certos dias, a cama, o sofá, a cadeira da mesa de refeições eram
pontos de deposição dos fios, prova visível da aflição da moça. Soube também que
tricotilomaníacos costumavam descrever a cabeça como um grande ímã que, a todo
o tempo, atrai a mão em direção a ela. Um ato que era sinônimo de sofrimento e
prazer, esse contraste feito de dor e felicidade, ainda que instantânea.
Por força do descontrole capilar, adiava interminavelmente o início da vida afetiva
e buscava trabalhos leves e precariamente remunerados. Ela desejava estar com seus
botões, e sentia-se, à sua maneira, feliz. Não era a completa anti-social, mas entendia
vagamente que os limites entre o normal e o insano eram muito tênues. Pensava mais
em termos do “não normal” como alguém não adaptado às regras, ao comportamento
que se esperava de todos e de qualquer um. Ouviu certa vez de um personagem de
novela que ser normal consistia em estar livre de doenças e ser capaz de viver um
estado de felicidade inexplicável. Ainda que a vida doesse, que os dias por vezes se arrastassem como numa câmera lenta. Ela preferia a definição que achou em um livrinho
de auto-ajuda e que dizia mais ou menos o seguinte: normalidade é viver sem medo ou
culpas demais, e poder assumir a responsabilidade pelo que se faz, por suas ações.
Então ela achou o psiquiatra. Era um homem magro e de sorriso franco que atendia
em um posto de saúde do INSS. Isso porque a tricotilomania da paciente terminou
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Então escancarou para
o médico a mania de
levar a mão à cabeça
para extrair cabelos,
sua angústia por ver-se
atrelada a algo que ainda
não havia descoberto
por inteiro (se era
feliz?), o cotidiano
sem horizontes, mas
suficiente para que ela
se sentisse viva
enquadrada em distúrbio ocupacional. Ocupada com o couro cabeludo, ela deixava
papéis acumularem-se, não retornava para os clientes interessados na locação de casinhas de vila que era a especialidade da imobiliária em que trabalhava. Foi ele articular
as primeiras palavras, e ela, em súbita empatia, enquadrou-se na descrição de normalidade na qual importante era também assumir-se, quem era e do que precisava.
Então escancarou para o médico a mania de levar a mão à cabeça para extrair
cabelos, sua angústia por ver-se atrelada a algo que ainda não havia descoberto por
inteiro (se era feliz?), o cotidiano sem horizontes, mas suficiente para que ela se
sentisse viva. O médico achava graça das histórias contadas pela mocinha magra
que alternava períodos de grande vivacidade e outros tantos de alheamento, às voltas
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meu nome É FELICIDADE
com os caracóis dos próprios cabelos. Em vez de apenas prescrever ansiolíticos,
ele reagendava a paciente para, dentro do possível, em um ambulatório daqueles,
realizar um acompanhamento dos afetos da moça, como em uma psicoterapia.
Percebia nela certa alegria desmesurada por estar viva, nem sempre exposta às
claras. Isso fazia um bem enorme a ele. Era atendê-la e imaginar que a vida sempre
se refazia. Ele atravessava uma fase pessoal conturbada e repetia o nome dela, durante o atendimento, como um mantra. Quem sabe não operaria mudanças drásticas.
Um dia, ela sumiu do ambulatório. Foi uma tristeza só. Para ele, as atendentes, o
segurança, a moça da cantina. Era tão tocante a presença daquela criatura, tocada
nominalmente por algo ansiosamente desejado por todos, que chegavam a suspirar:
“Enfim, se um dia a Felicidade voltar”. E ela reapareceu, sem marcar, em dia de chuviscos finos, de garoa persistente. Avisado, o médico esperou a paciente que atendia
sair para chamar, em alto e bom som: Felicidade!! A mulher que saía olhou para ele,
olhos marejados, e agradeceu. Uma palavra tão simples, mas dita assim, a plenos
pulmões, que vigor continha, ele pensou, abrindo a porta para deixá-la entrar.
Colaborou:
Dr. Wimer Bottura
Psiquiatra, psicoterapeuta, autor de “Agressões Silenciosas”,
“A Paternidade faz a diferença”, entre outros livros
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o morcego INVASOR
TÍPICO 5
Alfredo sofria de meia dúzia de fobias. Era tratado em sessões semanais pela psiquiatra
especialista na abordagem desse tipo de distúrbio. No histórico clínico, havia registros
pormenorizados do medo excessivo e persistente relacionado a diversas situações. As
fobias específicas relatadas pelo paciente incluíam ataque de batráquios (sapos, rãs
e aparentados), aglomeração de pessoas, escuridão, vários insetos, altura e ruídos
intensos. Uma particularidade dele era a fobia de fogo. Antítese de Nero, o imperador
que assistiu com alegria ao incêndio que devastou a capital do Império Romano, ele
tinha verdadeiro horror a fogueiras, fogões e mesmo a isqueiros.
A terapêutica cognitivo-comportamental adotada pela psiquiatra buscava a modificação daquele gênero de pensamento fixo alimentado pelo medo persistente, que leva
a atitudes de isolamento social e causava sérios transtornos e sofrimento psíquico ao
paciente. Imerso nos pensamentos fóbicos, Alfredo enfrentava sérias dificuldades para
conduzir-se na vida. Julgava estar sempre exposto à avaliação dos outros e imaginavase alvo de toda sorte de humilhações. A ansiedade era expressa por fuga de situações
sociais nas quais houvesse pessoas que não lhe eram familiares. Os sintomas físicos
incluíam palpitações, tremores, falta de ar, sudorese e náusea.
Na escola, havia sido classificado de louco e esquisito. Os colegas o evitavam,
riam dele e dos medos que o cercavam. A hora do lanche era uma autêntica tortura,
porque ele temia passar mal quando levasse qualquer coisa à boca. Refugiava-se
no banheiro, e mesmo lá era alvo de toda sorte de maus tratos e chacotas. Desistiu
da escola no dia em que o professor de biologia pediu um trabalho de campo que
consistia em coletar espécimes de insetos, os mais variados possíveis. Além de não
trazer o trabalho, Alfredo sofreu uma crise de pânico durante a apresentação dos
colegas, correndo da sala aos gritos e sob o coro das gargalhadas alheias.
Tentou trabalhar em empresas que ofereciam vagas intermediadas pelo setor de psiquiatria de um grande hospital. Em vão. Encarregado do xerox, tinha receio exacerbado
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o morcego INVASOR
de prender os dedos na hora de liberar papéis enroscados no interior da máquina. Também se sentia vigiado pelos colegas e alvo de todos os olhares. A família, resignada,
decidiu que era hora do enfrentamento daquele sofrimento todo. Alfredo não faltava a
uma única sessão. Tinha desenvolvido um vínculo tão forte com a psiquiatra que tinha
dificuldade de entender que seu tempo acabara. Ficava por ali até que um parente
viesse buscá-lo. Sentia-se como um refugiado que finalmente fora abrigado em um
porto seguro. O tratamento comportamental, baseado na exposição gradual à situação
temida, fazia ele se sentir capaz de lidar com aquela síndrome que o paralisava.
Alfredo pegou uma
cadeira, subiu e, com
ajuda de um pano velho,
capturou o morcego na
segunda tentativa
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Foi numa quinta-feira que o inesperado aconteceu. Alfredo estava sentado diante da
psiquiatra no consultório amplo e ensolarado, com uma grande janela que permanecia
aberta nos dias mais quentes. De repente, irrompeu na sala um morcego de não mais que
20 cm de tamanho – ele fez uma longa circunvolução pelo ambiente, reconhecendo o
terreno, e encarapitou-se no lustre. À primeira visão do animal de memória assombrosa
apesar do tamanho minúsculo, a psiquiatra deu um pulo, um grito agudo e ficou colada à
parede, olhando de longe o morcego que a espreitava. Alfredo, surpreso com o pânico de
sua médica, reagiu prontamente: “Mas, doutora, é só um morcego!”.
Naquele momento os temores do paciente foram para baixo do tapete que decorava a sala. Ele estava no controle! A visão do descontrole daquela que cuidava dele
e a possibilidade (graças ao morcego!) de retomar o comando da própria vida havia
operado algo dentro dele. Sentiu quase que um esmigalhar, como se uma estrutura
dura e calcificada dentro dele estivesse agora estilhaçada. A médica oscilava entre a
ojeriza que a presença do microanimal lhe causava e a perplexidade de perceber que
havia se mostrado frágil e de algum modo também fóbica diante do paciente.
Alfredo pegou uma cadeira, subiu e, com ajuda de um pano velho, capturou o
morcego na segunda tentativa. Na primeira, tudo que conseguiu foi espantar o animal, que ensaiou novo sobrevôo pela sala, para horror da médica, a essa altura
acuada no sofá. Instalou-se novamente no lustre, de onde Alfredo o capturou com
a perícia de um quase bombeiro, lançando-o para fora da sala e fechando a janela.
Restabelecida a paz, médica e paciente retomaram seus lugares e riram muito. Ela da
própria fragilidade e do inusitado da situação, e ele por descobrir que a normalidade
é mesmo muito relativa.
Colaborou:
Dra. Ana Hounie
Psiquiatra, vice-coordenadora do Projeto Transtornos do Espectro Obsessivo Compulsivo (Protoc) do Instituto
de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)
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5000003095 - Livro Entreatos

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