EDITORIAL - CESSS - Universidade Católica Portuguesa

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EDITORIAL - CESSS - Universidade Católica Portuguesa
EDITORIAL
A publicação da Revista Locus Soci@l, do Centro de Estudos de Serviço Social e Sociologia
(CESSS) da Faculdade de Ciências Humanas - Universidade Católica Portuguesa, inscreve-se
no desenvolvimento dos projectos científicos da área de Serviço Social da FCH e do CESSS e
visa igualmente contribuir para o alargamento do espaço de divulgação e debate nas áreas do
Serviço Social, da Política Social e das Ciências Sociais em geral. No que se refere ao campo
específico do Serviço Social, a publicação da Locus Soci@l assume um particular significado
em face da restrita difusão da produção científica nesta área em Portugal e da escassez e
irregularidade das publicações periódicas a ele dedicadas, apresentando-se deste modo como
um instrumento de desenvolvimento académico e profissional do Serviço Social no nosso país.
A Locus Soci@l visa promover a divulgação científica no âmbito do Serviço Social, da Política
Social e das Ciências Sociais em geral, constituindo-se como um veículo privilegiado para
a publicação dos trabalhos dos investigadores do CESSS, bem como de investigadores
nacionais e internacionais destes domínios. A principal finalidade da LS será a divulgação da
produção teórica e analítica em Serviço Social e Política Social realizada em Portugal, bem
como de pesquisas e estudos empíricos nestas áreas e o aprofundamento das relações entre
investigação, ensino e prática nestes domínios. A Locus Soci@l promoverá ainda a divulgação
da produção e investigação em Serviço Social e Política Social a nível europeu e internacional.
A Locus Soci@l terá o formato de uma revista de edição em linha (eJournal), com periodicidade
semestral e sistema de arbitragem científica (peer review). Pretende-se no entanto que
a revista venha a ser publicada em versão impressa, quer sob a forma de números
convencionais, quer antológicos ou temáticos, em princípio com uma periodicidade anual.
No que se refere à sua estrutura, a revista integrará dossiers temáticos, na qual se incluem a
eventual publicação de actas de seminários e outros eventos promovidos pelo CESSS, havendo
lugar igualmente para uma secção de artigos não temáticos. Prevê-se ainda a possibilidade
de um espaço para a divulgação de estudos e pesquisas e bem assim de um capítulo
dedicado a recensões críticas de obras de particular interesse nas áreas editoriais da revista.
Este primeiro número integra, no dossier temático, as actas do seminário internacional promovido
pelo CESSS Social Work Research: Current Experience & Tendencies, com as comunicações de Ann
Nichols-Casebolt e Marjaana Spananen relativas à investigação em Serviço Social nos Estados
Unidos e na Finlândia e Países Nórdicos, bem como a comunicação de Angela Everitt sobre
investigação e avaliação em Serviço Social, na qual a autora dedica particular atenção ao modelo
do resaerch-minded practitioner. As actas integram ainda as comunicações de Alcina Martins e
Francisco Branco relativas ao percurso e perspectivas da investigação em Serviço Social em Portugal.
Na secção de artigos são publicados dois ensaios. O artigo de Inês Amaro toma como
objecto a questão da teoria em Serviço Social. Num plano discutem-se quer as dificuldades,
quer as simplificações, contidas no debate teórico em Serviço Social identificando-se
a autora com a proposta de situar o campo específico da teoria em Serviço Social como
aquele que se situa para além das teorias gerais das Ciências Sociais e das teorias sobre os
sistemas de bem-estar. Num outro plano, revisitando a proposta de campos paradigmáticos
de Howe (1987) a autora explora especificadamente as propostas do Serviço Social
estruturalista, do Serviço Social critico e a teoria da correlação de forças, ao considerar
que é nos campos paradigmáticos dão estruturalismo e do humanismo que se tem
verificado uma maior actualização e renovação das perspectivas teóricas em Serviço Social.
O artigo de Isabel Santos situa-se no trabalho de investigação que a autora vem desenvolvendo
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sobre a história do Serviço Social em Portugal. Neste ensaio Isabel Santos analisa o discurso
histórico sobre o Serviço Social no nosso país no período de 1987 a 2007, periodização
que privilegia o tempo por excelência do desenvolvimento académico do Serviço Social em
Portugal. O trabalho agora publicado constitui uma visão global da análise da autora sobre o
discurso histórico na produção científica em Serviço Social no nosso país no referido período.
É pois com imensa satisfação que se inicia a publicação de uma nova revista periódica na área
do Serviço Social, Política Social & Sociedade em Portugal, que se espera venha a contribuir de
forma significativa para o alargamento do campo da difusão e para o debate neste relevante Locus.
Lisboa, Dezembro de 2008
Francisco Branco, director da Locus Soci@l
Locus SOCI@L 1/2008: 5
Locus SOCI@L 1/2008: 7-13
Social Work Research Development in
the United States
Ann Nichols-Casebolt, Ph.D.
Virginia Commonwealth University
Professor and Interim Dean, School of Social Work, Associate Vice President for Research Development
[email protected]
Resumo
Este artigo sumariza e analisa os resultados das recomendações emanadas pelo Plan for Research Development,
realizado em 1991 por uma Task Force para a Investigação em Serviço Social criada pelo Instituto Nacional de
Saúde Mental. O Plano veio responder à reivindicação do corpo profissional de que existia uma crise na investigação
em Serviço Social, consubstanciada na constatação de que muito pouco tempo dos profissionais era utilizado na
realização de pesquisa para melhorar os serviços e de que menos de metade de 1% dos membros da Associação
Nacional de Assistentes Sociais – a maior organização profissional do Serviço Social – se via como investigador.
Quase 20 anos depois, considera-se hoje que a crise cedeu, mas que não foi eliminada. Continua a existir uma
necessidade de actividades de investigação ligadas ao reforço de capacidades e à disseminação de resultados.
Abstract
This article summarizes and analyzes the outcomes of the recommendations extracted from the Plan for Research
Development, produced in 1991 by a Task Force on Social Work Research created by the National Institute of
Mental Health. The Plan responded to the claim of the profession identifying a crisis in social work research, due
to the fact that very little time was spent on research to improve social work services and that less than ½ of 1%
of members of the National Association of Social Workers – the largest professional social work organization -identified themselves as researchers.
Almost 20 years later, it is today considered that the crisis has abated, but has not been eliminated. There is a
continuing need for capacity building as well as dissemination research activities.
In the late 1980s in the United States there was a call from the profession identifying a crisis in
social work research. In particular, concern was raised that over 70 percent of all mental health
services were provided by social workers, but very little time was spent on research to improve
social work services. In addition, less than ½ of 1% of members of the National Association
of Social Workers – the largest professional social work organization -identified themselves as
researchers. Prompted by this crisis, the National Institute of Mental Health convened a Task
Force on Social Work Research in 1988. This task force, composed of leaders in the social work
field produced a final report in 1991 entitled “Building Social Work Knowledge for Effective
Services and Policies: A Plan for Research Development” (Task Force, 1991). The report detailed
recommendations directed to social work organizations, federal funding agencies, and social
work educational programs. Below is a summary of the Plan’s recommendations and some of
the resulting initiatives and outcomes.
Palavras Chave
Investigação em
Serviço Social,
Estados Unidos
...
Key Words
Social Work
Research
Development,
United States
Recommendations from the 1991 Social Work Plan for Research
Development
Recommendations to the major social work organizations
While there are numerous organizations representing various social work constituencies in the
United States, there are six major professional organizations in the educational, practice and
research areas. These are:
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• National Association of Social Workers (NASW): this is the largest membership organization
of professional social workers in the country – and, indeed, in the world – with 150,000
members.
• Council on Social Work Education (CSWE): this is our national accrediting organization,
representing more than 3,000 individual members as well as all accredited undergraduate (N
= 462) and graduate (N = 191) social work programs in the country.
• National Association of Deans and Directors (NADD): This organization represents the
deans and directors of master level graduate social work programs in the country.
• Bachelor Program Directors (BPD): This organization represents the directors and faculty
of undergraduate programs.
• Group for the Advancement of Doctoral Education (GADE): This organization is
comprisedof the directors of Ph.D and DSW programs in the U.S. and some international
schools of social work.
• Society for Social Work and Research (SSWR): This is a membership organization of
social work researchers whose objective is to promote and support social work research and
researchers.Its main activity is an annual national conference.
The primary recommendation to these social work organizations was that they should create a
separate entity whose major focus would be on helping the profession respond to the crisis in
social work research. The report argued that social work needed an organization that could:
• connect researchers in the profession with federal agencies funding research, especially the
National Institutes of Health;
• create opportunities for – and provide technical assistance to build research infrastructure
for the profession, especially in social work education programs; and,
• represent the profession in the national, interdisciplinary scientific community.
In 1993, this recommendation led to NASW, CSWE, NADD, BPD, and GADE coming together
to found the Institute for the Advancement of Social Work Research (IASWR). In 2000 SSWR
joined IASWR as a core supporter. IASWR is currently funded by its core organizations, as well
as contributions from individuals and social work programs, and extramural contracts. The
mission of the organization is
“to advance the profession’s knowledge base by building research capacity, by increasing support and
opportunities for research, by promoting linkages among social work practice, research, and education
communities, and through representing the profession within the national scientific community”
The activities undertaken by IASWR include:
• technical assistance, workshops and training sessions at social work meetings/
conferences;
• IASWR Listserv Announcements, a weekly e-alert service distributing funding
announcements, and other research-related information to over 2800 subscribers;
• summer research methods workshops that have included such topics as qualitative
research; systematic reviews and meta-analysis; and mixed-methods;
• convening symposia addressing targeted interests, such as long-term care;
• producing evidence-based practice briefs through NASW;
• development of a website with numerous resources for researchers at www.iaswresearch.
org
IASWR has just celebrated it 15th anniversary and there is considerable agreement that its
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efforts over the last 15 years have had a major impact on the social work research enterprise
(Zlotnik, Bieger & Solt, 2002; Zlotnik & Solt, 2006).
Recommendations to federal funding agencies
There are several potential sources of funding support for social work-related research at the
federal level. These include the Centers for Disease Control (CDC); National Institutes of
Justice (NIJ); Administration for Children & Families; Children’s Bureau; Agency for Health
Research and Quality, and the National Science Foundation, but all these pale in comparison
to funding available through the National Institutes of Health (NIH). The NIH has a budget
of over $28 billion and is comprised of 27 institutes and centers focused on various health
related problem/disease areas. Of these, the National Institute of Mental Health (NIMH) and
National Institute of Drug Abuse (NIDA) are the largest funding sources for social work
As noted previously, the NIMH funded the Task Force on Social Work Research, therefore it is
not surprising that the final report included recommendations to the NIH to place a greater
focus on social work research and researchers within its relevant institutes and centers. As a
result of these recommendations, NIMH and NIDA created a specific funding mechanism for
establishing social work research development centers. These centers were to be designed to
enhance social work program institutional research infrastructure and to support and develop
social work researchers. Between 1993 and 2000, the NIMH funded 8 social work research
development centers, ranging in focus from aging, to health services research to mental health
and poverty. NIDA then funded an additional 7 centers looking at such issues as HIV and
substance abuse, comorbidity with mental illness, and work with underserved populations.
In addition to this funding mechanism, several institutes at the NIH sent (and continue to send)
staff to national social work conferences to make presentations on research funding at the
NIH. They also meet with deans of schools of social work, offer summer research development
workshops, and provide technical assistance to programs and individuals. Although funding
for social work research development centers was ended, the NIH continued to examine ways
it could support social work research. It established a social work working group within the
NIH and prepared a social work research plan (National Institutes of Health, 2003). As part of
that plan, in 2005 the NIH released a new funding mechanism called “Research on Social Work
Practice and Concepts in Health.” The goal of this program announcement “is to encourage
the development of empirical research on social work practice, concepts and theory as these
relate to the NIH public health goal of improving health outcomes for persons with medical
and behavioral disorders and conditions.” [the solicitation can be accessed at: http://grants.
nih.gov/grants/guide/pa-files/PA-07-292.html]
As a result of these and other efforts, funding of social work researchers by the NIH has increased
dramatically in the last 16 years. Specifically, in 1993, 38 social workers were funded by NIH,
between 1993 and 2000 that had grown to a total of 97. In the latest count of social workers
funded by the NIH since 1993, there were over 600 funded in over 50 schools of social work.
Of those, 50% were funded by the NIMH and 25% by NIDA (IASWR, February 2008).
Social Work education recommendations
A major recommendation of the research report was that social work programs needed to
include more content and emphasis on research within its curriculum. This resulted in the
development of BSW, MSW and Ph.D. curriculum modules focused on research methods.
In addition, in 1992 GADE produced a publication entitled “Guidelines for Quality in Social
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Work Doctoral Programs” (revised in 2003) with research preparation as a centerpiece of a
quality program (Group for the Advancement of Doctoral Education, 2003). It is evident in
2008 that there is significantly more emphasis on research in the educational preparation of
social workers than we saw in the late 1980s.
Current Challenges in Social Work Research Development in the
U.S.
While it is evident that the profession has made considerable progress in moving the social
work research enterprise forward in the U.S., we still have many challenges. In particular, there
is a need for continuing development of the social work knowledge base requiring additional
capacity building and funding for research. We are also challenged to more effectively bridge
research and practice.
Capacity Building Challenges
A major issue in our capacity building is increasing the number of well-educated social work
researchers, particularly at the Ph.D. level. In the U.S. the number of Ph.D. programs has
grown, but the number of graduates has remained about the same over the last 10 years
(≈250 graduates/year). In addition, the scientific training of social work doctoral graduates
is less than the training at this level of most other disciplines. This is generally attributed to
the fact that BSW and MSW educational preparation is primarily practice-focused, therefore
students enter their doctoral programs with less research training than in other disciplines and
are not able to make up that deficit. We also do not have a tradition of expecting post-doctoral
research training as in many other disciplines, and we have far fewer research mentors available
to guide the next generation of social work researchers.
There are also institutional challenges to increasing research capacity. For example, there is
generally less university financial support to social work programs for research infrastructure.
This is often because social work’s limited amount of funded research suggests to the institution
that such an investment in infrastructure might not produce a good return on the investment
(National Association of Deans and Directors, 1997).
Extramural Funding Challenges
To make major inroads in building the research knowledge base, researchers need to depend
upon extramural funding, and these dollars are increasingly difficult to obtain. This is due
to both increased numbers of individuals seeking research funding as well as fiscal issues at
the state and national levels. NIH funding has been constrained in the last few years and the
current economic picture makes any growth in the near future highly unlikely. This will make
the competition for research dollars even more severe.
Challenges in bridging research and practice
The translation of research into effective practice and policy, and effectively translating practice
issues into relevant questions for study is not a new issue in social work research. It is however,
taking on even greater importance as effectiveness is being discussed in the context of “evidencebased treatments/interventions.” This means that researchers are challenged to determine the
best treatment for whom under what circumstances, often a difficult outcome to achieve. For
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example, what is sufficient evidence? How do we develop evidence in complex environments?
And, what are the barriers to implementing evidence-based interventions into practice?
We are also challenged to undertake research that answers questions of importance to our
communities. The implementation of community-based participatory research technologies is
an exciting development in this area. Some of the issues we face, however, include facilitating
“real” participation by our community, as well as addressing such regulatory constraints
as human subjects protection regulations. We also need to continue to identify and apply
appropriate research methodologies for studying complex problems and settings. This is likely
to require new approaches to research design and measurement, as well as development of
researchers with strong quantitative and qualitative skills.
Other challenges facing social work research
Changes within the environment are also requiring attention by social work researchers. For
example:
•
Aging of the population requires us to examine effective delivery systems for care that
respect the needs, desires and rights of the elderly, as well as attend to health care cost issues.
• Increasing racial/ethnic diversity of the U.S. population challenges us to examine issues
of health disparities, and understanding interventions across groups.
• Family structure changes with marriage and civil unions for lesbian, gay, bisexual and
transgender individuals open the opportunities for looking at different types of families across
the lifespan
• Family and community violence continue to demand our attention. Recent incidents of
school violence, domestic violence and terrorism threats all have significant mental health
dimensions of concern to social workers.
• Veterans returning from the Iraq war and other areas of conflict are growing in numbers,
as are issues of family and community re-adjustment, as well as meeting the needs of those
who return with significant physical and mental disabilities.
The complexity of these issues puts increasing pressure on researchers to partner with their
colleagues who are also examining aspects of these issues. Interdisciplinary research is going
to be a necessity for us to address the complexity of patient/client/community problems.
For example, there is increasing recognition of gene-environment interaction in such areas as
maternal-child interaction and brain development. Therefore, another challenge in developing
research capacity is learning to work effectively in interdisciplinary teams.
Meeting the Challenges
While the challenges are many, it is my belief that social work is poised to make significant
contributions in addressing these challenges. Social workers have familiarity with realities of
service delivery, a long-standing involvement in communities, an understanding of complexities
of issues, and an emphasis in social work education on social justice and valuing diversity.
In the U.S. we have also been focusing on some of these areas for the last several years. For
example, there has been an investment in aging research initiatives by the Hartford Foundation.
The Foundation created the Hartford Social Work Faculty Scholars Program which focuses
on training academic leaders to do cutting-edge research, and the Hartford Doctoral Fellows
Program in Geriatric Social Work that supports the next generation of faculty researchers.
In the area of evidence-based practice initiatives, social work scholars have been involved in
the International Campbell Collaboration. The social welfare coordinating group conducts
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systematic reviews on effects of interventions related to social work and social welfare. NIMH
has also hosted an invitational symposium on integrating evidence-based mental health
practices into Social Work education and research (IASWR, 2007). And, schools of social
work continue to emphasize research development among their faculty and are focused on
developing research infrastructure.
One of the most exciting developments in the last year has been the Social Work Reinvestment
Initiative (National Association of Social Workers, 2008). This was launched in 2007 by NASW
in collaboration with other social work organizations. The impetus was a recognition of current
social work personnel shortages, as well as insufficient data on the efficacy of social service
strategies. The goal of this initiative is to secure federal and state investments in social work.
In the area of research, the initiative notes that NIH still devotes less than 1% of its funding to
social work research.
A major component of the initiative is the Social Work Reinvestment Act. This is a piece of
legislation introduced to the U.S. Congress on February 14, 2008. Major components of the
Act include:
Creation of a Social work reinvestment commission that will provide a comprehensive analysis
of current trends and issues and deliver specific recommendations to Congress;
Designation of March as Social Work awareness month to raise awareness of the importance
of the profession;
Funding for reinvestment demonstration program grants in areas of workplace improvement
to address issues of high caseload, compensation, worker safety, working conditions;
Additional funding for education and training in BSW, MSW and Ph.D. programs, including
dollars for recruitment and retention of students and development of faculty;
Grants for community based programs of excellence that would test and replicate programs
across practice areas (aging, child welfare, mental health, etc.);
Research demonstration grants to test effective social work interventions and promote usable
strategies to translate research to practice; and,
Creation of a national Coordinating Center to work with universities, research entities, practice
settings, identify key research areas, and organize mentorship & professional development
efforts.
The Act has numerous sponsors and has had a hearing, but has not yet passed. Advocacy on
behalf of this legislation will continue.
Conclusion
Social work research in the U.S. has made considerable progress in last 20 years. It appears
that the crisis has abated, but has not been eliminated. There is a continuing need for capacity
building at both the social work program level as well as the social work researcher level.
There is also potential for significant social work contributions with the current emphasis on
translation of research findings to improve health and well-being of communities, and there is
considerable enthusiasm in the profession for our government to reinvest in social work.
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References
Group for the Advancement of Doctoral Education (2003). Guidelines for Quality in Doctoral Programs. Retrieved March
2008 from http://www.gadephd.org/gadeguidelines.pdf.
IASWR. (February 2008). Directory of Social Work Research Grants Awarded by the National Institutes of Health, 1993-2007.
Retrieved March 2008 from http://www.charityadvantage.com/iaswr/NIHSWRDatabasemarch3008.pdf
IASWR (2007). Partnerships to Integrate Evidence-Based Mental Health Practices into Socail Work Education and Research.
Retrieved March 2008 from http://wwww.charityadvantage.com/iaswr/EvidenceBasedPracticeFinal.pdf.
National Association of Deans and Directors of Schools of Social Work Task Force on Administrative Research
Infrastructures Within Social Work Education Programs. (1997). Challenges and opportunities for promoting federally
funded research in social work programs. Retrieved March 2008, from http://www.charityadvantage.com/iaswr/
CandOforPFFRSWPPReport.pdf.
National Association of Social Workers. (2008). Dorothy I. Height and Whitney M. Young, Jr. Social Work Reinvestment Act.
Retrieved March 2008 from http://www.socialworkreinvestment.org/
National Institutes of Health. (2003). NIH Plan for Social Work Research, retrieved March 2008 from http://obssr.
od.nih.gov/Documents/Publications/SWR_Report.pdf.
Task Force on Social Work Research. (1991). Building Social Work Knowledge for Effective Services and Policies: A Plan for
Research Development. Retrieved March 2008 from www.iaswresearch.org.
Zlotnik, J.L. Biegel, D.E., & Solt, B.E. (2002). The Institute for Advancement of Social Work Research: Strengthening
social work research in practice and policy. Research in Social Work Practice, (12)2, 318-337.
Zlotnik, J.L. & Solt, B.E. (2006). The Institute for Advancement of Social Work Research: Working to increase our
practice and policy evidence-base. Research in Social Work Practice, (16)5, 534-539.
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Locus SOCI@L 1/2008: 14-23
Social work education and research:
present experiences and tendencies in
Finland and other Nordic countries
Marjaana Seppänen
Vice-Presidente Finnish Society for Social Research
[email protected]
Resumo
O propósito deste artigo e de fazer uma descrição genérica das tendências de investigação em Serviço Social na
Finlândia e noutros países nórdicos, partindo da hipótese de que o sistema de educação dos países nórdicos no
campo do Serviço Social é uma chave para compreender essas tendências da investigação. Esta descrição enfatiza
a situação na Finlândia e na Suécia, uma vez que são estes dois países que detêm as tradições de investigação em
Serviço Social mais consistentes.
Uma das discussões centrais no que respeita à investigação em Serviço Social é o que remete para a relação da
teoria com a prática. Argumenta-se que esta dualidade pode ser ultrapassada através de uma nova abordagem à
investigação que configura uma das tendências mais fortes da investigação na Finlândia: a investigação prática.
Em conjunto com este modelo, a investigação avaliativa e a investigação direccionada para uma lógica de “what
works” (o que é que funciona) podem ser apontadas como as principais tendências actuais da investigação em
Serviço Social na Finlândia.
Abstract
The aim of this paper is to give an overall description of the Social Work research trends in Finland and other
Nordic countries, departing from the hypothesis that the education system in the field of Social Work in the Nordic
countries is a key to understand those research tendencies. This description puts an emphasis on the situation in
Finland and Sweden, given that these two countries have the longest research traditions in social work.
One of the most critical debates concerning Social Work research is the one of the relationship between theory and
practice. It is argued that this duality can be overcome through a new research approach which embodies one of the
strongest research trends in Finland: the practice research.
Along with that model, evaluation research and “what works” focused research can be pointed out as the main
current research tendencies on Social Work in Finland.
Introduction
Social work exists as an academic discipline in the Nordic countries after several decades
of development. However, the process has differed in each country. The common feature is
that the development of the academic research of social work has been closely tied to the
development of the education of social workers. Even at present, the main actors in the field of
social work research are university teachers (professors and lecturers) and researchers located
in the universities.
Palavras Chave
Investigação em
Serviço Social,
formação em
Serviço Social,
Finlândia, Países
Nórdicos
...
Key Words
Social work
education, social
work research,
Finland, Nordic
countries
The aim of this paper1 is to give an overall description of the research trends in Finland and
other Nordic countries. Also, the education system in the Nordic countries is described in order
to clarify present tendencies in the research of social work. In the description of the research,
emphasis is put on the situation in Finland. The trends in Sweden are described as well, because
these two countries have the longest research traditions in social work.
Social work education in Finland and in other Nordic countries
In Finland, social work has been developed as an independent field of study with its own
problem-setting, epistemological and ontological assumptions, research targets and ways of
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knowledge formation. Historically, social work is closely linked to social policy, which was the
mother science of social work until the beginning of the 1990s. Gaining an independent position
was a long process. Even after the first chairs were established, it took quite a long time before
the first doctors in social work finished their studies and were able to apply for the professor
posts. Before that, social work professors had their educational background mainly in social
policy. It has been argued that, because of their acting as gatekeepers, it took a fairly long time
until social work researchers were fully accepted as members of the research community (see
Meltti 2004; Karvinen, Satka & Pösö 1999). That influenced the further development of social
work as a discipline. Today, most of the professors in social work have accomplished their
doctoral studies in the field of social work.
At present, there are three different types of education for social welfare professionals (Picture
1) in Finland (Act on qualification requirements for social welfare professionals 272/2005).
Practical nurses are educated in vocational schools at the level of secondary education. The
polytechnics in Finland educate social instructors. They obtain a Bachelor’s degree and are
able to perform many different tasks within the social welfare services. Still, only university
education with a Master’s degree entitles to the position of a social worker.
Picture 1. The Finnish Education System in the field of Social Welfare
U N IV E R S IT IE S
P O L Y T E C H N IC S
Doctor of
Social Sciences
Licentiate of
Social Sciences
education
S pec ialic ed
s oc ial workers
Licentiate of
Social Sciences
W ork
experience
Tertiary
S o c ia l w o r k e r s
Master of Social Sciences
(2 years)
Bachelor of Social Sciences
(3 years)
Upper Secondary Schools
education
Secondary
Master of Social Services
(1-1,5 years)
W ork
experience
S oc ial ins truc tors
Bachelor of Social Services
(3,5 years)
P rac tic al nurs es
Vocational Schools
Social work education is provided in six universities (Helsinki, Jyväskylä, Kuopio, Lapland,
Tampere and Turku). Social work qualification includes both the Bachelor’s and the Master’s
degrees. The students complete basic, intermediate and advanced studies in social work
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including the writing of a Master’s thesis. The thesis is the first “real” research work which the
students conduct, and it is often a small empirical study. (Academic social work education in
Finland.)
After the Master’s degree, two different degrees can be obtained in universities. At the end of
the 1990s, a professional postgraduate degree for social workers was developed. The degree is
a Finnish speciality within the European degree system. It is a pre-doctoral degree (Licentiate
degree) and its aim is to strengthen the scientific foundation of professional practice. The
starting point is to develop the knowledge basis of social work. That includes practically
oriented research, in order to explicate tacit and practical knowledge. The programme also
aims to promote professional skills that draw on a research-oriented approach to social work.
While the Master’s degree prepares students with general skills in social work, the professional
postgraduate degree gives an opportunity to specialize in a particular field of social work. In
the ongoing programmes, there are five fields of study:
•
•
•
•
•
Social work with children and young people
Empowering social work
Social work in the field of marginalisation
Community social work
Welfare services
There are 20-25 post-graduate students in each programme. The degree programme can be
completed in four years and it can be carried out while working. It is intended for practitioners
who have completed their Master’s degree in social work and who have at least two years of
work experience in social work. During the studies, every student carries out a Licentiate thesis
connected to the theme of the programme and to everyday practise in social work. Consequently,
more than 50 theses have been written in these programmes, which is a substantial increase in
the amount of social work research in Finland. (Vornanen, Törrönen & Pohjola 2007.)
A significant share of research in social work is carried out by doctoral students in Finland.
There is also a national programme for doctoral studies. It presently supports twenty-five
doctoral candidates by funding and/or supervision. The programme has existed since 1995,
and more than thirty dissertations have been completed altogether. The programme is divided
into three thematic groups:
• Children and youth social work
• Marginalisation as a target problem in social work and social services
• Psychosocial rehabilitation in social work and social services
These themes reflect the current themes and interests in social work research in general as well
as produce research and strengthen research traditions in these fields. A lot of research aiming
at dissertations is also carried out outside the national doctoral programme. The students
outside the national programme receive supervision in the local universities, getting funding
from sources other than the national programme. Many of the doctoral students work with
their dissertations without any funding for their research.
The Finnish universities co-operate closely with each other; they have constructed a national
network of social work (Sosnet). The network promotes training in the field of social work,
university-specific profiling and a reasonable division of work. Its purpose is to anticipate and
develop key qualitative, quantitative, and content-related aspects of training. Sosnet is an
important actor in the field of social work education and research. It concentrates mainly on
Locus SOCI@L 1/2008: 16
the issues of education but – especially through guiding and supporting the doctoral education
– it also has a great influence on academic research.
Differences and similarities in social work education between the
Nordic countries
Sigrun Juliusdottir and Jan Petterson (2003) have analysed (the) trends in education in different
Nordic countries. They identified two different trends, the Specialized Field Model and the
Integrated Research Model.
The concept of Specialized Field Model describes the education system in Denmark and Norway.
In these countries, education of social workers has been oriented towards vocational training
and it lasts less than four years. The education has been positioned outside the university
system or with loose ties to it. The professionals with field knowledge play an important role
in the model. In the education, connection to research has less importance than the field
relevance.
The education in Finland, Iceland and Sweden is described as Integrated Research Model. In
that model, the academic emphasis is very strong and the education is part of the university
system. The education model is striving to attain or has already attained an identity of its
own as an academic subject. Teachers are recruited on the basis of their academic merits in
social work, and they are primarily researchers or experts in some core areas of social work and
secondarily teachers.
According to Juliusdottir and Petterson, both models have specific advantages, and a new
combination model could be created based on them. In the new model, both high relevance to
field and research orientation is of great importance. Norway and Denmark have already moved
towards the Integrated Research Model, striving towards a closer connection to research and
position inside the university system. The model in Sweden and Finland has been gradually
changing, as greater importance has been placed on the relevance to fieldwork. The combination
model is called Integrated Field Model and it is achieved through two kinds of processes:
reflexive academisation (Denmark and Norway) and responsive corporation (Finland, Iceland
and Sweden). The development is supported by NASSW (The Nordic Association of Schools of
Social Work), which promotes co-operation and works towards a more integrated structure of
education in the Nordic countries.
For the research of social work, this development provides potential to a wider production
of knowledge across the Nordic countries. While the education is gaining stronger academic
status in Norway and Denmark, the research structures are strengthened and more academic
research is produced.
Research trends in Finland and Sweden
Based on the stronger position of social work as an independent academic discipline, Finland
and Sweden have long research traditions in social work. In both countries, social work as an
academic discipline is today relatively well established, although quite young compared to
many other disciplines. The discipline is still growing in the number of teachers and students.
(see Salonen 2007; Dellgran & Höjer 2006).
Locus SOCI@L 1/2008: 17
In Finland and Sweden, there are a lot of similarities. When it comes to the fundamental
preconditions of social work, the common context is an important aspect. The social system is
based on the Nordic welfare state model. In the model, the role of the public sector in service
production has traditionally been strong. Social work is done mostly as part of social services
in the public sector. However, today the basic ideas of the Nordic welfare state model are being
challenged. The Nordic Welfare State still exists, but its responsibilities are being redefined to
a certain extent. There are already visible signs of change. For example, a development towards
service production by multiple services producers instead of the pure public sector service
provision has been proceeding already for a couple of years.
The current research trends in Finland have been described by Mikko Mäntysaari and Raili
Haaki (2007), who analysed 79 dissertations in the discipline of social work written during
the period 1982–2006. As they looked at the gender of the writers, they found out that the
dissertations were written mostly by female researchers. In Finland, 81 % of the doctors in
social work are female. However, the share of women doctors is smaller than the share or
women among social workers.
Most of the analysed dissertations were monographies. One fourth of dissertations consisted of
articles. Still, the share of article-dissertations is increasing. Most of the dissertations were written
in the Finnish language, only some were written in English. Regarding methodology, qualitative
methods were dominant; they were used in 53 of 79 dissertations. The trend is opposite, for
example, in the USA; there social work research is mainly quantitative. In qualitative research,
the methods used were most commonly ethnographical or ethnomethodological. Discourse
analysis was also used in many dissertations. A combination of methods was uncommon;
qualitative and quantitative methods were rarely used in a same study. As for research without
empirical data, it was also a rarity. Only a couple of dissertations were based on theoretical or
historical analysis.
There was quite a big variation in the topics. According to Mäntysaari and Haaki (2007), the
following themes were present:
•
•
•
•
•
clients’ experiences of everyday life
social problems
social work practises, methods and expertise
organisations in social services
children, families and young people
The authors point out that some themes were lacking. These were research about poverty,
unemployment and alcohol abuse. Considering the significance of these problems their absence
was astonishing. Also, research on ethics and moral in social work was less visible than what
could have been expected. Furthermore, one very actual theme could be added in the list of
missing topics: due to the ongoing demographic changes, there is a growing interestin ageing
and social work with older people. That did not appear in the analysed studies. The interest will
most likely result in dissertations in social gerontology and social work in the near future.
The dissertations had connections to different theoretical traditions. Most of the studies
were based on theories in social work and/or sociology. The writers used both Finnish and
international theories in social work (Adams, Richmond, Heinonen, Toikko etc) and sociology
(Bauman, Lash, Beck, Giddens, Eräsaari etc.). The authors argued that social constructionist
approach is quite strongly rooted in Finnish social work research. In 19 dissertations, social
Locus SOCI@L 1/2008: 18
constructionism in its different variations was the most important theoretical framework. Still,
it was quite common for the researchers to widely combine discussions from different academic
fields and different theoretical traditions. What Mäntysaari and Haaki found very interesting
was the strong presence of highly practise-relevant themes in the research. They pointed out
that there is a need to discuss and explain why the social workers in the field still experience a
wide gap between research and practice and feel that existing research is not useful for them.
The description above is about dissertations but the same trends are found in the Finnish
research in general. In their overview of current social work research in Finland, Raitakari,
Roivainen and Kröger (2004) described the nature of social work research as having wide
variation in topics and being close to everyday life. They discovered four different angles in the
Finnish research. These were research in
• experiences of clients and people living in the margins of society
• interaction
• social networks
• social service system and the role of social work in it
Researching the experiences of marginalised people is ethically challenging. The researcher
must be able to self-reflect as well as consider if he or she has a right to step into the lives of
the people concerned. If possible, the researcher must find a way to interpret and write about
the interviewees’ experiences without offending them. This approach requires ethical sensitivity
and respect but, done in a right way, it is a political action. In order to be credible, social work
research has to be in touch with the experiences of those who otherwise do not get their voices
heard.
Interaction is one of the basic elements in social work. Interaction between a professional
and a client has interested researchers over many generations. Today, there are many different
approaches aiming at understanding the nature of social work by researching the interaction in
professional contexts. Discourse analysis and narrative research are commonly used approaches
in Finland.
The significance of social networks is crucial in people’s lives. Social relations are usually the
primary source of support for people needing any kind of help. In social sciences, especially in
the discussion about social capital and resources, the question of social relations is central. In
social work research, the interest is directed especially to social support and social care.
Social work research in Finland has not traditionally paid much attention to social service
system as a context for social work. Still, there is an increasing interest towards the different
research orientations in the research of social services; these include theoretical, administrative
and developmental orientations. All of them produce information which is highly relevant to
social work.
In Sweden, the trends are much the same regarding methodological traditions. Like in Finland,
the dissertations in Sweden are mainly based on qualitative empirical methods and they are
written as monographies, mostly in the Swedish language (Salonen 2007). (In Sweden) there
is a wider variation in topics, partly based on the larger amount of research. In Finland, social
work research has, for historical reasons, had a close connection with social policy, whereas in
Sweden psychology has also traditionally had a strong influence on social work.
Sweden has also a longer tradition of social work research than Finland. In Sweden, social work
Locus SOCI@L 1/2008: 19
as an independent academic discipline has since 1977 been part of the state university system,
and the research tradition has grown since then. According to Tapio Salonen (2007), there
is a wide variety in research themes in Sweden. The Swedish research includes the following
themes:
• Development and results of the general social welfare systems (social policy)
• Social exclusion and social disadvantage
• Organisation of social work
• Elderly people and care for the elderly
• Social psychological processes, social treatment and social care
• Disability, illness and rehabilitation
• Children, family and child welfare
• Addiction and treatment of addicts
In Sweden, the approach of evidence-based practice is also well established. There is an Institute
for Evidence-Based Social Work Practice (IMS) which provides the social sector with systematic
research reviews regarding the interventions and methods that function in social work.
Generally, it seems that the education and research in social work is still growing in Sweden.
As a result of the wide researcher education, there are practising professionals with substantial
research knowledge inside the social sector, which in its turn opens possibilities to develop the
practice in a new way. There is also a growing amount of experiment and systematic studies in
social work. (Salonen 2007.)
Future trends in research of social work
The social work research in Finland has developed during the past decades, and today it
is quite well established and covers a wide variation of topics. As in all social sciences, the
transformations in society affect the research in many ways. In Finland, some trends are currently
visible, closely connected to ongoing processes, mainly changes in the structures and functions
of the welfare state model and demographic changes. Also, the constant development of social
work as an academic discipline will shape future research.
In recent years, the ideas of so-called practice research have been actively developed in Finland.
The concept of practice research refers to certain characteristics of research. One of the main
characteristics is that the research problem is connected to social work practice and is, by
nature, applied research serving many different users of knowledge. The close connection to
practice enables to build a reflexive relation to the concepts and theories in social sciences.
Practice research is also methodologically innovative; it uses and creates many different tools.
An important feature is that of joint knowledge production, in which researchers and social
workers participate equally in the process. The practice research is also often personally
touching; it makes the voices of people living in very difficult circumstances heard. Therefore
the reporting can be challenging and sometimes requires unusual solutions. (Satka, KarvinenNiinikoski & Nylund 2005.)
In the early stage of social work research, critical voices from the field claimed that the research
could not be utilized to develop the everyday practice. In the years of the intensive academisation
process of social work, the questions of scientific relevance of the research were those in priority
and the needs of the field were put in the second place. The two are not necessarily contrary to
each other; it has been more a question of emphasising one over the other.
Locus SOCI@L 1/2008: 20
The relation between social work research and practice has always been discussed. Three
different types of relations can be defined: the traditional relation, interactive relation and
constitutive relation. In the traditional relation, research and practice are separate fields with
different functional logics and understandings of knowledge. In the second type of relation,
interactive relation, the role of social work research can be defined as solving social problems in
co-operation with the field professionals. Practice and research are still separate fields. In the
third type of relations, constitutive relation, research and practice are in a symbiotic relation,
which affects the functional logic of both. The traditional division between the producer of
knowledge (research) and the user of knowledge (field) is not there anymore, the roles are
mixed and knowledge is produced jointly (see Meltti 2004). While the traditional relation has
been dominant in the Finnish research, there is a shift towards the second and even the third
type of relation.
Evaluation of research is a growing activity, and the need to evaluate social work interventions
comes from many different directions and motivations. It is not only the claim of effectiveness
based on financial thinking so pervasive these days. Social workers themselves, who are
educated with basic skills of producing and using research-based knowledge, find it important
to have access to research findings that help them to plan interventions. Still, the research of
“what works” in social work is, at the moment, quite sparse but growing. In the era of declining
resources and shortage of workforce in coming years, it has become increasingly important
to carry out interventions that are effective. However, there has been much criticism about
measuring social work outcomes and defining social work as a product to be sold in a buyerproducer system, a trend which is emerging in social services in Finland as well as in AngloAmerican societies (Karvinen-Niinikoski & Meltti 2003).
The development of social work methods is more active today than it has been during the
1990s. Development and research is carried out especially in many projects, mainly financed
by state-funded development programmes. For example, in social work with children and
gerontological social work, new methods and tools for social workers have been developed.
Family Group Conference, different assessment tools and methods for early intervention among
others can be mentioned in this connection.
There has always been a question of whether social work should be based on a general model
or whether more specialisation in different fields defined by client needs or life phases is
needed. As mentioned earlier, the education in Finland is based on the general model and
specialisation can be obtained after the Master’s degree. Even if the emphasis is on the general
social work, new fields of specialisation have been developed and will most likely be developed
in coming years. One of them is gerontological social work, originating from the demographic
changes in the society. Another field that could be mentioned is community social work, which
is something new at the moment, even though it is one of the oldest approaches in social work.
In Finland, community social work was popular in the 1980s but was subsequently almost
forgotten.
While universities are the most important actors in social work research, there is a growing
variety of other institutions concerned with social work research. One of these is Stakes, which
is a national research and development institution in the social welfare and health. Although
the main focus in Stakes is not in social work, there is a group of researchers working with
questions related to social work. These are mainly connected to child welfare and social work
with adults.
The Finnish Polytechnics, also called professional universities, are increasingly putting
Locus SOCI@L 1/2008: 21
resources in research activities. In general, Polytechnics are multi-field or regional institutions
with a focus on practical connections with working life. Research is defined as one of their
tasks. It specialises in questions connected to practical aspects of the field and development
activities.
In 2002, a network of Centres of Excellence on Social Welfare was established in Finland. There
are 9 regional centres in Finland, working in close connection to local municipalities. Even
though the emphasis in their practice is put on the development of social services, research is
often combined with the development work as well.
In Finland, an important actor in the field of social work research has during the last ten years
been The Finnish Society of Social Work Research. It is an academic association founded in
1998 which collects together both academics and practitioners in the field of social work. The
aims of the Society are to 1) promote exchange of research results, expertise and experience
between practitioners and academics, 2) improve the position/status of social work research,
and to 3) develop international co-operation in the field of social work research. The Society
also has close contacts with the Union of Professional Social Workers (Talentia).
Since 1999, the Society has organised the annual national Conference of Social Work Research.
Since 2002, the Society has published a thematic Yearbook of Social Work Research, which
has been widely used and which reflects the contemporary themes in social work. Jointly with
the Finnish Social Policy Association, the Society publishes Janus, the Finnish journal of social
policy and social work research. The Finnish Society of Social Work Research also co-operates
closely with other Nordic societies of social work research. There are plans to establish a
common Nordic journal of social work research. It will be published in English in order to give
researchers outside the Nordic countries a chance to learn more about Nordic social work
research.
References:
Academic social work education in Finland. Finnish National University Network for social work (SOSNET). http://www.
sosnet.fi.
Dellgran, Peter & Staffan Höjer (2006). Theory and Swedish social work. Paper presented in National Graduate School
for Social Work and Social Services, 29-30 May, 2006 in University of Lapland.
Juliusdottir, Sigrun & Jan Petersson (2003). Common Social Work Education Standards in the Nordic Countries –
Opening an Issue. Social Work and Society, 1(1) (01.12.2003)
Karvinen, Synnöve & Tarja Pösö & Mirja Satka (1999). Reconstructing social work research. Jyväskylä: SoPhi.
Karvinen-Niinikoski, Synnöve & Tero Meltti (2003). Muutosprosesseissa ristiriitaistuva sosiaalityö. In Satka, Mirja &
Anneli Pohjola & Marketta Rajavaara (eds.) Sosiaalityö ja vaikuttaminen. Jyväskylä: SoPhi.
Meltti, Tero (2004). Sosiaalityökeskustelu Januksessa vuosina 1992–2001. Janus, 12 (4), 393–411.
Mäntysaari, Mikko & Raili Haaki (2007). Suomalainen sosiaalityön väitöskirjatutkimus vuosina 1982–2006. Janus
15 (4), 357–366.
Raitakari, Suvi & Irene Roivainen & Teppo Kröger (2004). Sosiaalityön tutkimuksen moniäänisyys. Janus, 12 (2),
129–133.
Salonen, Tapio (2007). Present Issues and trends of social work research in Sweden. Unpublished presentation.
Locus SOCI@L 1/2008: 22
Satka, Mirja & Karvinen-Niinikoski, Synnöve & Nylund, Marianne (2005). Johdanto. In Satka, Mirja & KarvinenNiinikoski, Synnöve & Nylund, Marianne & Hoikkala, Susanna (eds.). Sosiaalityön käytäntötutkimus. Helsinki:
Palmenia-kustannus.
Social work education in Finland (2006). Unpublished presentation 13.12.2006, prepeared by Sanna Lähteinen and
SOSNET.
Socialt arbete. En nationell genomlysning av ämnet. Högskoleverkets rapportserie 2003:16 (National Agency for
Higher Education, Sweden).
Vornanen, Riitta & Maritta Törrönen & Sanna Lähteinen & Anneli Pohjola (2007). Professional Postgraduate Studies
in Social Work: The Finnish Example and European Challenges. In Elisabeth Frost & Maria José Freitas & guest editor
Annamaria Campanini (eds.) Social Work Education in Europe. Roma: Carocci editore.
Notes
1
This paper is based on a presentation held in the first CESS and Social Work PhD Program Research Meeting
“Social Work Research: Current Experience and Tendencies” in Lisbon 23-24.5.2008
Locus SOCI@L 1/2008: 23
Locus SOCI@L 1/2008: 24-31
SOCIAL WORK RESEARCH AND EVALUATION:
THE RESEARCH-MINDED PRACTITIONER
Angela Everitt
Open University, United Kingdom
[email protected]
Resumo
O artigo centra-se em três questões da investigação em Serviço Social que estão inter-relacionadas: o modelo
do research-minded practitioner; a avaliação para uma melhor prática; e a investigação do ponto de vista do
interventor. Na tentativa de moldar o desenvolvimento da investigação em Serviço Social, analisaram-se as relações
entre teoria e prática, tomando a experiência dos profissionais da educação como exemplo para o Serviço Social.
Argumenta-se que estes processos de investigação são complexos e não passíveis de obterem respostas fáceis ou
manuais de procedimentos. O questionamento crítico reflexivo, a tentativa e a incerteza são aspectos fundamentais
para um investigador em Serviço Social.
Abstract
The paper is centred in three intertwined issues concerning Social Work research: the research-minded practitioner;
evaluating for good practice; researching as a practitioner. In the attempt to shape the development of social work
research, relations between theory and practice were analyzed, taking the experience of practitioners in education
as influential for Social Work.
The processes advocated here are complex and not likely to have easy answers or procedural manuals. Reflective
critical questioning, tentativeness and uncertainty are critical features for a Social Work researcher.
Introduction
The paper1 is in three parts. Parts one and two set out arguments pursued in my writings in the
1990s2 intended then to shape the development of social work research. At that time, I was
very much influenced by the notion of the teacher-researcher in schools3 and the idea of the
reflective practitioner4. Some ten years later, I write still as a socialist feminist but now from the
context of development management5 and as both a resident and a practitioner involved in a
rural development project in South West Scotland6. In the same way as social work had much
to learn from practitioners in education so I think there are research experiences and concerns
in development work that usefully can be applied to social work. This is the focus of Part three
of the paper. The three parts are entitled: the research-minded practitioner; evaluating for
good practice; researching as a practitioner.
Palavras Chave
Investigação
em Serviço
Social, modelo
research-minded
practitioner,
avaliação
...
Key Words
Social work
research,
evaluation,
research-minded
practitioner
The research-minded practitioner
Applied Research for Better Practice (Everitt et al 1992, op. cit.) proposes a model for social work
imbued with research-mindedness.
Concerned about increasing bureaucracy and managerialism in the organisational contexts of
social work, we urged social workers to reclaim professionalism and take responsibility for the
practice of their craft in order to:
• extend their knowledge, improve their skills;
• engage in ‘intellectual work and research … to reveal the structures and mechanisms that
generate and maintain inequality’ (p.3);
• enable users of social services to become ‘knowers’, ‘their experiences of social inequality
Locus SOCI@L 1/2008: 24
.. to be acknowledged as legitimate’ (p. 3); and
• act as ‘social investigators’ ‘to report back on the faults of our society and in the distribution
of its goods and services’ (p. 3, referring to Sinfield 1969).
We developed a model for research-minded practitioners aware of their own expertise and
knowledge and concerned with:
• analysing social needs and resources,
• bringing to the fore theories that help make sense of social need and resources,
• developing, implementing and evaluating strategies to meet those needs,
• defining and making explicit their objectives and hypotheses,
• treating explanations of the social world as tentative and open to be tested against
evidence,
• being thoughtful, reflecting on data and theory and contributing to their development
and refinement,
• scrutinising and being analytical of available data and information,
• being mindful of the pervasiveness of ideology and values in the ways we see and understand
the world. (pp 4-5)
We were critical of research traditions within positivist social science that tended to alienate
social work practitioners from research. Where positivism emphasises objectivity, control,
categorisation and quantification, social workers valued subjectivity, change, uniqueness of
individuals, and qualitative accounts of their lives. Thus, we argued that social workers required,
not only an understanding of methods, but also an appreciation of epistemology (theories of
knowledge) and methodology (theories of methods) in order to make appropriate theoretical
choices about how to come to know: to be able to address questions such as:
• what is knowledge?
• what can we know about the social world?
• who can become knowledgeable?
• what do we choose to know?
• how do we get to know?
We explored contrasting schools of science to find a theoretical world compatible with social
work. We found a better philosophical fit between social work theories and methods and
interpretive and critical epistemologies and methodologies. We looked at
‘interpretive epistemologies (which) reject the possibility of objective social facts. Rather, social phenomena
are given meanings by those who define and make them explicit. Thus different people will have different
subjective understandings of social phenomena.’ (pp. 6-7)
Even though interpretive methodologists believe that it is possible to research subjectivities,
we did find these epistemologies wanting in that, in their extreme, they hardly allow for the
possibility of research beyond the individual. ‘All we can hope for is knowledge of our own
subjectivity through contemplation.’ (p.7)
Critical theory seeks to explain subjectivities. Such theorists do not believe in the existence of
social facts (as within positivism), but neither does they adopt the other extreme of subjectivity
(as within interpretivism).
‘Critical theorists argue that there are social patterns, structures which shape our subjective
understandings of the world. We can understand the meanings of different people’s subjectivities by relating
them to social structures such as class, race and gender. Thus, critical theorists theorise subjectivities.’ (p. 7)
Locus SOCI@L 1/2008: 25
Applied Research for Better Practice is located within critical theory. We explored psychoanalytic,
feminist and Marxist schools of thought seeing these as not mutually exclusive, all having much
to offer social work practitioners who, with their clients, experience the personal and the social
as intermeshed. Following Althusser7 we advised the distinction between scientific knowledge
and ideology:
… the former is concerned with the analysis of theoretically constituted concepts whereas the latter takes for
granted everyday concepts. (p.33)
Thus, social workers would seek to deconstruct common sense terms, everyday and
organisational routine meanings, sustained produced through prevailing ideologies. This
would be as much a part of the repertoire of the research-minded practitioner as collecting
data and engaging in practice.
Evaluating for good practice
The importance we attached to the epistemological theory and methodology for researchminded practitioners informed our approach to evaluation. (Everitt & Hardiker 1996). At the
time of our writing evaluation was rapidly becoming a key strategy for enhancing managerial
efficiency and control. Measurement of outputs, and the effects of these (outcomes) were
tied in with funding requirements, evaluation for accountability to funders taking priority. Our
concern was that such an approach to evaluation deters critical questioning and contextualises
practice. It assumes, implicitly, that practice is not shaped by context and policy. It removes
policy and organisation from evaluative scrutiny. Furthermore, while public accountability is
clearly important, the collapsing of short-term funding processes with evaluation processes
encouraged projects and practitioners to be ‘strategic’ in their measurements. I would go so far
as to suggest that ‘a culture of lying’ developed which contradicted any possibility of evaluating
for ‘good’ practice’, or, in other words, evaluating for learning.
The evaluative practitioner asks questions such as:
• does it work?
• does it achieve what was intended?
• is it worthwhile?
• is it worth the resources, money and time?
• is it ‘good’?
• is it ‘bad’?
• is it ‘good enough’? (op.cit: 2)
In developing a critical approach to evaluation, we found it helpful first to distinguish between
research, monitoring and evaluation (Everitt & Hardiker 1996: 20-23). Research, necessary
for evaluation, is about generating evidence about the policy, programme, project, practice.
Monitoring produces data through processes of keeping track of what is happening. Evaluation
is about making judgements about effectiveness informed by, but not proscribed by monitoring
data and research evidence.
We sought to put values back into evaluation. Evaluation is imbued with values. Having a
notion of the ‘good’ is significant throughout the evaluation process: at its inception,
through implementation, and in processes of feeding back and dissemination. Evaluation is
about making judgements about worth. Such judgements depend on moral and debate with
everyone, irrespective of power, status and position, having the right to legitimate opinions.
Locus SOCI@L 1/2008: 26
Evaluative forums would be sceptical about rational-technical ways of knowing, recognising
these as powerful mechanisms that shape how people think and talk. They would address
powerlessness and empowerment and engage in dialogue between users, practitioners and
policy-makers, and within organisations. (Everitt & Hardiker 1996: 25-36)
So, a critical evaluation methodology:
• attends to purpose, not only to product;
• encourages openness, honesty, thoughtfulness, clear thinking and critical reflection;
• is open and questioning, receptive to complaints and criticism from outside and within
organisations;
• ‘otherness’ is removed from outsiders, from those lower in hierarchies, from users and
those relatively powerless;
• participatory methods generate data and produce evidence, and make judgements
about ‘the good’ informed, but not proscribed, by evidence;
• its value base acknowledges change, complexity, conflict and contradiction;
• its ethics demand openness of purpose and respect boundaries of permitted and
required endeavour and involvement;
• communication is dialogical, exploring and understanding inter-subjectivities;
• practitioners engaged in such evaluation are partners, enablers, facilitators, educators.
Researching as a practitioner
This is not the place to rehearse research methods that practitioners may use. There are a
multitude of research methods texts, and many written specifically for practitioners. I have
drawn from material written for development managers8 which considers particular aspects of
the research process that practitioners in particular may well confront: namely,
• the qualitative and quantitative debate
• participatory research
• positionality of researcher and researched
• researcher/researched relations
• ethics for the researcher-practitioner
• researching vulnerable people
• researching illegal activity
Qualitative/quantitative: I urge practitioners to resist the temptation to dichotomise qualitative
and quantitative data. For me, it is not data themselves that are quantitative or qualitative
but the ways in which they are treated in the analysis stage of research. Data may be analysed
quantitatively to reveal numbers and statistics and qualitatively to generate stories and
narrative – sums and stories. Some have interpreted our arguments in Applied Research for Better
Practice and in Evaluating for Good Practice such that we prioritise qualitative approaches. We do
so, not on epistemological or methodological grounds, but practically because practitioners
are unlikely to be in positions to undertake research studies large enough for data to be
analysed statistically. However, they may commission and contribute to such research. After
all, quantitative research, such as large-scale studies of poverty, of health inequalities, can
be important to influence policy (for example, Townsend and Davidson 1982; Townsend,
Phillimore and Beattie 1988).
Participatory research: While we argued that participatory methods be employed in critical
approaches to evaluation, both in that part of evaluation to do with generating evidence, and
that part to do with making judgements, we warn practitioners about automatically, without
Locus SOCI@L 1/2008: 27
thinking, regarding such methods as a ‘good thing! Not to be ideological about participation!
Participatory approaches are difficult to operationalise, requiring time, expertise and resources9.
They have the potential to be manipulated by those who are powerful. They also have the
potential to create false confidence and hopes. And we have to ask ourselves, who wants to
participate? And why?
Ethics for the researcher-practitioner: Everyone planning to undertake research must meet ethical
requirements and standards, perhaps laid down by relevant professional associations, perhaps
by participating organisations. Just as we reject rational-technical ways of knowing, so also
I would be sceptical of neatly formulated ethical statements and sets of rules. Attention to
ethics must imbue all stages of research to ensure that others are not exploited: in processes
of knowledge generation, in the ownership of research processes. Practitioners must try to be
alert to ways in which power relations shape their decisions about research and indeed shape
ethical decisions that they make. They must try to make ethical decisions for the ‘good’ and this
may require being critical and taking a stand.
One ethical issue that practitioners needs to address is whether to be covert or overt. Despite
numerous research studies that are undertaken in covert ways, without people knowing that
they are being researched, it is not ethical to do this. Researchers should be clear with people
that they are being researched and people should have the chance to opt in or opt out of the
research. In deciding on the opt in/opt out issue, again an analysis of power is needed. In some
research, respondents may feel unable to opt out, may feel that this will lead to discrimination
of some sort. In these cases, they should not be expected to opt out but be invited to opt in.
Practitioners as researchers may feel that they are in advantageous positions to do research.
For example, because of their professional positions they may already be ‘in’ the organisation
or ‘in’ the community and thus not need to negotiate access. Here care should be taken to
ensure that those researched are clear that this is happening and that the practitioner, in this
case, is acting as a researcher. Otherwise, it may not be understand that the practitioner is
acting as a researcher and thus the practitioner, unknowingly to her or himself, may be acting
covertly as a researcher.
Researcher-researched relations: The necessity to be analytical of power relations relates to relations
between practitioners, as researchers, and any sponsors of their research. It also relates to
relations between practitioners, as researchers, and those expected to participate in the
research as respondents. Power is also exercised within the community of researchers, be this
a professional community or an academic community, and, of course, within the community
of the researched.
Positionality of researchers and researched: Not only must practitioners be analytical of power
relations, they must also be reflective about their own powerful positions as researchers. In
the discussion about being covert or overt, we touched upon the practitioner as researcher
being an outsider or insider. Both positions may be used to exercise power. Sometimes
it is possible to generate richer data as an insider, sometimes as an outsider. Apropos the
discussion above, care needs to be taken as to whether these data are generated through
being a practitioner or being a researcher. Age and gender too can be used to exercise power,
with sponsors, in processes concerned with negotiating access, in discussions with potential
respondents to inform their decisions to opt in or opt out. Practitioners need to recognise that
their professional status provides access to resources and privilege, and indeed to populations,
organisations and communities. Furthermore, they may, unwittingly, shape decisions made by
others in the research process, respondents, sponsors and audiences. Clients of social workers
may not feel free to refuse to participate in research. Here, it may often be necessary to provide
opportunity for research respondents to decide to opt in rather than having to decide to opt
Locus SOCI@L 1/2008: 28
out of research. All this points to the need for reflexivity throughout the research process on the
part of the practitioner as a researcher.
Researching vulnerable people: It is as important, perhaps even more important, to know about
the lives of the rich as well as the poor. Nevertheless, social work practitioners may be in the
position of researching vulnerable people and this gives rise to particular ethical considerations.
It is particularly important that methods are developed to ensure that vulnerable people may
be involved in all stages of the research. I have already suggested that respondents be invited
to opt in to research rather than being given the choice to opt out. Another principle must
be not to cause harm and to take responsibility for, and be prepared to deal with, distress.
Practitioners in social work need to think through how to respond to finding abuse. Should
abuse revealed through the process of research be reported, to whom and how? Here,
boundaries between researcher and practitioner, with their respective accountabilities to ethics,
need to be clearly thought through at the start of any research process. Similarly, practitioners
may be researching illegal activity which may increase the vulnerability of both researched and
researchers. There is need for discernment and professional judgement here. To know when to
probe and when not to; to recognise information as confidential and that disclosure may be
dangerous. Practitioners as researchers may have to weigh up the moral duty to tell versus the
injudicious use of information.
Some people, children for example, are often largely ignored in research agendas. Here, a
reflective practitioner would think critically of what it means to be a ‘child’ and would understand
the pervasiveness of the Western ‘ideal’ of the ‘child’ and ways in which childhood constructed
socially, politically, culturally and economically. Research often is carried out with adults about
children so that children’s voices seldom heard. Researcher-practitioners, imbued with values
and theories from critical schools of social science, would strive to undertake research with,
not on children or about children. They would aim to make the research process accessible but
not patronising. They would adopt approaches that, for example, train children as researchers,
use children’s words, employ innovative methods such as diaries, posters, drawing, mapping,
taking photographs, games, drama, role play.
Findings: Decisions have to be made with respect to dissemination of findings. If practitioners
are researching for change, then strategic decisions need to be made to ensure that the research
reaches those able and likely to act on findings. In such research, how do practitioners handle
unexpected results? Do they publish and be damned. Do they fudge findings with further
funding in mind? And practitioners need to bear in mind that, once research is published, then
they have no control over use of findings.
In conclusion, the processes advocated here for the research-minded practitioner, the
practitioner who is evaluative, and the practitioner who engages in research, are complex.
There are often no easy answers, no procedural manuals, only reflective critical questioning,
tentativeness and uncertainty, and always having an eye to purpose.
References
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Everitt, A. et al (1992). Applied Research for Better Practice. Basingstoke: Macmillan Education.
Everitt, A. & Hardiker, P. (1996). Evaluating for Good Practice. Basingstoke: Macmillan Education.
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Everitt, A. (2002). Research and Development in Social Work. in Adams, R. et al (eds) (1998) (2002) Social Work:
Themes, Issues and Critical Debates (pp.104-115). Basingstoke: Palgrave with the Open University.
Gitlin, A. & Smyth, J. (1989). Teacher Evaluation: Educative Alternatives. London: Falmer.
Kemmis, S. et al (eds) (1984). The Action Research Reader. Victoria: Deakin University Press.
Kumar, S. (2006). Methods for Community Participation: a complete guide for practitioners, Rugby: ITDG Publishing.
Schon, D.A. (1983). The Reflective Practitioner: how professionals think in action, London:Temple Smith.
Scheyvens, R. and Storey, D. (eds) (2003). Development Fieldwork: a practical guide, London: Sage Publications.
Sinfield, A. (1969). Which Way for Social Work? Fabian Tract 393, London: Fabian Society.
Townsend, P. and Davidson, N. (eds) (1982). The Black Report, London: Penguin.
Townsend, P.; Phillimore, P. and Beattie, A. (1988). Health and Deprivation: Inequality and the North, London: Croom
Helm
Notes
1
Delivered at the First Meeting of the Centro de Estudos de Seviço Social e Sociologia and Social Work PhD
Program, Universidade Católica Portuguesa Lisbon.
2
For example, Everitt, A. et al (1992) Applied Research for Better Practice, Macmillan: Basingstoke.
Everitt, A. (1996) Developing Critical Evaluation, Evaluation, Volume 2, Number 2, 173-188. Everitt, A. Research
and Development in Social Work, in Adams, R. et al (eds) (1998) (2002) Social Work: Themes, Issues and Critical
Debates, Palgrave with the Open University: Basingstoke.
3
For example, Kemmis, S. et al (eds) (1984) The Action Research Reader, Deakin University Press: Victoria. Carr,
W. & Kemmis, S. (1986) Becoming Critical: Education, Knowledge and Action Research, Falmer: Lewis.
Gitlin, A. & Smyth, J. (1989) Teacher Evaluation: Educative Alternatives, Falmer: London.
4
For example, Schon, D.A. (1983) The Reflective Practitioner: how professionals think in action, Temple Smith:
London.
5
In 1998, I took up a position with the Open University Global Masters Programme in Development
Management.
6
I now combine academic work with running a women’s studies and social sciences second hand bookshop and
contributing to the development and management of Wigtown, Scotland’s National Book Town, Book Town, a
rural regeneration project.
7
See Bocock, R. (1988). Psychoanalysis and Social Theory. In G. Perason, J. Treseder and M. Yelloly (eds.) Social
Work and gthe Legacy of Freud. Basingstoke: Macmillan Education.
Locus SOCI@L 1/2008: 30
8
See, for example:
Scheyvens, R. and Storey, D. (eds) (2003). Development Fieldwork: a practical guide. London: Sage Publications.
Desai, V. and Potter, R.B. (eds) (2006). Doing Development Research. London: Sage Publications.
9
For excellent guide to such processes, see Kumar, S. (2006). Methods for Community Participation: a complete guide for
practitioners, Rubgy: ITDG Publishing.
Locus SOCI@L 1/2008: 31
Locus SOCI@L 1/2008: 32-47
Investigação em Serviço Social no
Portugal Contemporâneo. Paradoxos
e Desafios.
Alcina Martins
Fundadora, investigadora e coordenadora científica do CPIHTS
Professora Associada e Coordenadora do Mestrado em Serviço Social do Instituto Superior Miguel Torga.
[email protected]
Resumo
Aborda-se a investigação em Serviço Social no Portugal contemporâneo, após o processo de qualificação e
atribuição do grau de licenciatura (1989). Resgatam-se as implicações deste processo, analisando a investigação
como componente integrante da formação em Serviço Social, das competências profissionais, cujos resultados
se traduzem na produção do conhecimento e na criação de novas organizações da categoria, nomeadamente a
primeira unidade de I & D desta área – o CPIHTS.
Situa-se a expansão da formação a partir dos anos 90, no ensino privado e público; sinaliza-se a componente da
investigação nos actuais planos curriculares de 1º e 2º ciclos em Serviço Social; aponta-se nesta conjuntura um
processo de desregulamentação da formação e uma tendência para a desqualificação com o processo de Bolonha.
Por último, analisam-se paradoxos e desafios à investigação em Serviço Social fazendo-se um balanço da última
década.
Abstract
The article approaches Social Work research in contemporary Portugal, after the process of qualification and of
acknowledgement of the degree (1989). The implications of this process are analyzed, looking at research as an
inner part of Social Work education, of professional skills, which outcomes are knowledge production and creation
of new organizations of the professional category, namely its first R&D unit – CPIHTS.
The expansion movement on Social Work education is located from the nineties onwards, in private and public
sector, the research component of the first and master degree is signaled, and in this picture a process of deregulation
of the courses and a trend for the disqualification brought by the Bologna Process is pointed out. Finally, the article
analyzes the challenges and paradoxes of Social Work research departing from the balance of the last decade.
Palavras Chave
Investigação
em Serviço
Social, formação
académica em
Serviço Social,
desregulamentação
e desqualificação
da formação,
produção de
conhecimento
...
Key Words
Social Work
research, academic
education in
Social Work,
deregulation and
desqualification in
Social Work
education,
knowledge
production
Em nome do Centro Português de Investigação em História e Trabalho Social (CPIHTS) e do
seu Presidente, Mestre Alfredo Henríquez, quero agradecer ao Professor Francisco Branco o
convite para participar neste Seminário e felicitá-lo na qualidade de Coordenador do Centro
de Estudos de Serviço Social e Sociologia da Universidade Católica Portuguesa – Faculdade de
Ciências Humanas (UCP-FCH) pela organização deste evento tão significativo da afirmação
da Investigação em Serviço Social.
Nesta comunicação pretende-se abordar três questões:
1. A investigação em Serviço Social na formação e nas novas organizações da profissão
após atribuição do grau da licenciatura;
2. Da desregulamentação da formação à tendência para a desqualificação com o processo
de adequação a Bolonha;
3. Paradoxos e desafios à investigação em Serviço Social em Portugal.
I – A investigação em Serviço Social na formação e nas novas
organizações da profissão
Investigação como componente integrante da formação e das competências
profissionais
Com a integração de Portugal na Comunidade Económica Europeia, perspectiva-se uma maior
Locus SOCI@L 1/2008: 32
intervenção do Estado no investimento e desenvolvimento das Políticas Sociais, apesar das
orientações neoliberais já se fazerem sentir na Europa. Ao nível do ensino superior regista-se
uma expansão do direito ao ensino, com o crescimento do número de Instituições de Ensino
Superior (IES), públicas e privadas.
Neste contexto os anos 80 e 90 são marcantes para o Serviço Social Português pelo movimento
de qualificação académica e luta pela licenciatura que congregou escolas, estudantes,
Assistentes Sociais e as suas organizações. Este processo culmina em 1989 com a atribuição
do grau académico à formação no Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa (ISSSL) e
Instituto Superior de Serviço Social do Porto e em 1990 ao Instituto Superior de Serviço Social
de Coimbra, actualmente designado Instituto Superior Miguel Torga (ISMT); na criação da
carreira de Técnico Superior de Serviço Social na Administração Pública (1991) e na atribuição
do grau de mestre (1995).
Nesta conjuntura sócio-histórica, o projecto profissional incorpora as exigências de qualificação
de quem trabalha com as expressões da Questão Social, os Direitos Humanos e Direitos
Sociais, as Políticas Sociais, promovendo o desenvolvimento académico e a construção da
área disciplinar de Serviço Social, inserindo-se então a investigação no elenco dos avanços
significativos do Serviço Social em Portugal.
Por um lado, os Institutos inserem-se no ensino universitário, com planos de estudo de cinco
anos, alicerçados numa formação teórica, metodológica e técnica, sendo a investigação em
Serviço Social contemplada na vertente de disciplina, seminário de orientação e de prática de
investigação1.
Por outro lado, a carreira de Técnico Superior de Serviço Social compreende entre outras
competências as de investigação, a par das de concepção, execução, avaliação das medidas
de política social, coordenação, chefia e direcção.
Para que os Assistentes Sociais desenvolvam uma postura investigativa no exercício profissional,
torna-se necessário que a investigação corresponda efectivamente a uma componente da sua
formação de base, ao ser ensinada tanto no plano disciplinar como de aplicação e treino, de
inciação à prática de investigação. Os Assistentes Sociais vêm as suas competências reforçadas
com a capacitação para o desenvolvimento da investigação, que virá a repercutir-se no
alargamento dos espaços sócio-ocupacionais e na sua empregabilidade.
Inseridos no mercado de trabalho, a sua formação ao nível da investigação deve continuar a
merecer um permanente desenvolvimento e qualificação, de modo a acompanhar e qualificar
a acção profissional, os processos de avaliação e a produção de conhecimento, contribuindo
para tal a formação pós-graduada em Serviço Social.
Com a criação do primeiro curso de mestrado em Serviço Social, ao abrigo da cooperação
científica ISSSL/ Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) (1987), dos três
cursos de mestrado reconhecidos pelo Ministério da tutela, entre 1995 a 2000, nas escolas
históricas (ISSSL, ISSSP, ISMT), a investigação académica sobe de patamar. Dos dois anos
de formação um é dedicado ao desenvolvimento de um projecto de investigação, incidindo na
história e trajectória do Serviço Social, nos problemas sociais, nas políticas sociais, bem como
nas intervenções profissionais dos Assistentes Sociais em diferentes campos de trabalho. Deste
processo de qualificação resultaram já algumas dezenas de dissertações de mestrado.
Entre 1990 e 2003 os eixos temáticos da investigação de pós-graduação em Serviço Social em
Portugal foram, segundo Fernanda Rodrigues e Francisco Branco (2008) as “Políticas Sociais e
Sociedade” e “Serviço Social, História, Campos de Prática e Debates”2. De referir que em 2000,
de forma precursora, Alfredo Henríquez faz um primeiro mapeamento da produção académica
então existente (Henríquez, 2000), cuja análise vai no sentido da que agora é desenvolvida.
Alguns destes mestres mantêm-se ligados à formação em Serviço Social, através da docência,
outros ao exercício da profissão, qualificando-a e contribuindo para a identidade do Serviço
Social Português.
Locus SOCI@L 1/2008: 33
A investigação em Serviço Social ascende a um nível ainda mais elevado, quando em 1997
a parceria ISSSL/PUC-SP dá início aos cursos de doutoramento em Serviço Social. No
entanto, só no início do Século XXI, em 2003 se criam os primeiros cursos em universidades
portuguesas: o “Doutoramento em Ciências do Serviço Social” (ao abrigo do Protocolo de
Cooperação Universidade do Porto/ Instituto Ciências Biomédicas Abel Salazar e o ISSSP (UPISSSP) e o “Doutoramento em Serviço Social” na UCP– FCH. Em 2004 o Instituto Superior de
Ciências do Trabalho e da Empresa em cooperação com o ISSSL dá início a um novo curso de
“Doutoramento em Serviço Social”.
Até 2003 as IES que desenvolvem cursos de licenciatura, mestrado e doutoramento em Serviço
Social, não estavam dotadas de estruturas próprias de investigação. Nesse ano são criados 3
centros de Investigação: o “Centro de Investigação em Ciências do Serviço Social” (ISSSP), o
“Centro de Estudos de Serviço Social e Sociologia” da UCP-FCH e o “Centro de Investigação
em Serviço Social e Estudos Interdisciplinares” (CISSEI) que não sendo do ISSSL foi dinamizado
por alguns dos seus docentes, como a Professora Augusta Negreiros.
CPIHTS - primeira unidade de I&D em Serviço Social em Portugal
Dez anos antes da criação destes centros, institucionaliza-se o CPIHTS, pioneiro no domínio
da investigação em Serviço Social, independente das escolas, integrando Assistentes Sociais
que, na qualidade de estudantes do primeiro curso de mestrado em Serviço Social em 1987,
criaram o “Núcleo de Investigação em História do Serviço Social Português”. Neste âmbito
criaram e desenvolveram o projecto colectivo, na perspectiva do estruturalismo genético3, “A
construção do conhecimento do Serviço Social Português” (da sua génese aos anos 70) que
tinha subjacente os projectos individuais de investigação tendentes à dissertação. A investigação
histórica coloca-se como área de investimento estratégico no Núcleo e posteriormente no
CPIHTS.
Constitui-se em 1993 como associação científica de Serviço Social (Diário da República, III
Série de 29/9/1993) integrando a primeira doutorada em Serviço Social e Assistentes Sociais
em processo de qualificação (mestrado e doutoramento), investigadores de Serviço Social e
de outras áreas como Filosofia, Sociologia e Economia. Professores e colaboradores de países
europeus, dos Estados Unidos e do Brasil e outros países da América Latina.
É presidente do CPIHTS o investigador e Mestre Alfredo Henríquez que desde a sua criação
constitui a sua principal referência, dinamizando permanentemente este movimento que
associa investigação, produção e divulgação do conhecimento, cooperação e intercâmbio e o
debate e a interpelação do Serviço Social na sociedade contemporânea.
O CPIHTS apresenta como principais objectivos o estudo e a investigação do Serviço Social e
da sua história, dos problemas sociais, das políticas sociais e da intervenção social na realidade
portuguesa; a publicação dos resultados da sua actividade; a promoção e a realização de
debates e eventos de natureza científica sobre temáticas sociais relevantes para a intervenção
social e profissional; o estabelecimento de relações de intercâmbio com organizações similares
de carácter nacional e internacional.
Ao nível internacional destaca-se a cooperação no Brasil, com o Programa de Pós-Graduação
Académica em Serviço Social, o “Núcleo da Criança e do Adolescente” e o “Núcleo de Ética e
Direitos Humanos” da PUC-SP; o Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade
Federal do Rio de Janeiro; o CIPEC – Centro Interdisciplinar de Pesquisa e Consultadoria em
Políticas Públicas de Curitiba; em Espanha e Argentina através do Instituto de Ciências Sociais
Aplicadas e nos Estados Unidos, com a Division  of Social Work da Califórnia State University,
Sacramento e ao nível nacional com as organizações da categoria e as escolas de Serviço
Social.
Locus SOCI@L 1/2008: 34
Credenciado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) (1999) como Unidade de
Investigação & Desenvolvimento, a primeira na área do Serviço Social, foi sujeita à avaliação
por dois painéis internacionais de “História” e de “Sociologia, Antropologia, Demografia e
Geografia”, que reconhecem a cooperação desenvolvida ao nível nacional e internacional, os
projectos e as publicações (Henríquez, 2000: 14,15).
Desenvolvemos investigação da história do Serviço Social Português, a legitimação e resistência
da profissão na e à Ditadura; a problemática da infância e da delinquência em Portugal, a
formação do Serviço Social na sociedade contemporânea.
Editamos teses de doutoramento4, dissertações de mestrado5, trabalhos finais de curso de
licenciatura, a edição de Actas de Jornadas e Seminários Internacionais organizados pelo
CPIHTS, livros de autores de referência internacional, publicamos de forma regular ensaios
dos investigadores, criámos em 1995 a revista internacional Estudos & Documentos, Série I e II
que passou a publicação eletrónica com a criação da página do CPIHTS: http://www.cpihts.
com/.
Neste campo para além de artigos, comunicações, textos inclue-se um repositório de trabalhos
académicos como teses de doutoramento, dissertações de mestrado e trabalhos finais de curso
de licenciatura, de autores nacionais e internacionais.
Pioneiros nesta forma de divulgar a produção do conhecimento em Serviço Social no nosso
país, a página integra entre outras rubricas: Observatório Permanente em Serviço Social com
informação relativa à formação, investigação e profissão de Serviço Social, destacando-se a
subjacente ao debate sobre o processo de adequação de Bolonha à formação em Serviço
Social no nosso país; Publicações com a apresentação de algumas edições do CPIHTS.
Constituimos um Centro de Documentação que reune um acerbo de natureza bibliográfica,
documental, fotográfico, audio-visual e informático.
Organizamos seminários nacionais e internacionais (incidindo sobre questões como o Serviço
Social no Feminino; metodologias do Serviço Social; planificação estratégica; avaliação de
projectos e programas sociais; investigação em Serviço Social; ética, deontologia profissional
e os projectos profissionais), e debates sobre problemas contemporâneos como o processo
de globalização; a Questão Social e o Serviço Social; questões de género; o livro branco da
segurança social; o processo de regionalização e acção social local; Direitos Humanos; a
violência intra familiar e nas redes de prostituição-infantil.
Apoiamos a investigação de estudantes e profissionais de Serviço Social, somos centro
de acolhimento de investigadores de pós-graduação académica, de várias universidades
estrangeiras, tendo já oito doutorandos em Serviço Social da PUC-SP e da UFRJ realizado
estágio de investigação.
A investigação Survey of Portuguese Social Workers Professional Functioning, Job Related
Well-Being, and Alcohol/Drug Use promovida pelos investigadores Maria Cesaltina Dinis da
Universidade do Estado da Califórnia – Sacramento e Joseph R. Mereghi da Universidade de
Boston contou com o investigador do CPIHTS, Alfredo Henríquez, que dirigiu o trabalho
em Portugal continental e nas ilhas da Madeira e Açores, no âmbito de um protocolo entre a
Universidade de Sacramento e o CPIHTS. Foi criada uma equipa de Assistentes Sociais para
proceder à construção e adaptação do questionário à realidade social portuguesa, assim como
à sua distribuição pelos Assistentes Sociais portugueses, sócios da Associação de Profissionais
de Serviço Social (APSS). Os resultados desta pesquisa internacional foram já divulgados6.
A publicação da obra History of Social Work in Europe (1900-1960).Female Pioneers and their
Influence on the Development of International Social,  Organisations, organizada por Sabine
Hering e Berteke Waaldijk (2003), tradução da versão alemã (2002)7, ao incluir um capítulo
sobre as “Mulheres na História do Serviço Social em Portugal”, que tinha originalmente
sido editado em Serviço Social no Feminino (1997)8, constitui um indicador de divulgação
internacional do conhecimento produzido pelo CPIHTS.
Locus SOCI@L 1/2008: 35
Produção do conhecimento, divulgação e publicação pelas escolas e organizações da
profissão
O processo desencadeado pelo ISSSL de qualificação académica em Serviço Social levou à
criação em 1985 da revista (quadrimestral) Intervenção Social, específica da área de Serviço
Social, sendo editados em 20 anos 31 números. Em 1995 e 1998 publica as primeiras
dissertações de mestrado em Serviço Social9, e em 1999, juntamente com o CPIHTS a tese de
doutoramento, já referida.
No rescaldo do movimento pela obtenção do grau de licenciatura, recém licenciados
e estudantes do ISSSP em 1991 organizam o Grupo de Investigação e Debate em Serviço
Social, constituindo-se no ano seguinte na associação sem fins lucrativos, Associação de
Investigação e Debate em Serviço Social (AIDSS) cujos principais objectivos se centram no
apoio à investigação, na promoção do debate em Serviço Social, na organização de acções de
formação e na edição anual da revista Intervenção e Debate em Serviço Social, que desde 1995
conta já com 16 números10.
A Associação de Profissionais de Serviço Social (APSS) edita a partir de 1992 vários números
da revista quadrimestral Do Serviço Social e em 1995 um número especial sobre “Direitos
Humanos e Serviço Social”, tendo, no entanto, deixado de publicar. Em 2003 edita as Actas
do I Congresso Nacional de Serviço Social11. O CPIHTS apoia esta publicação e edita, com a
APSS dois livros12.
O CPIHTS no âmbito do Projecto Atlântida, em cooperação com ICSA, Veras Editora13, ISSSL
e APSS, editou 12 livros em 15 anos de existência.
Registe-se a publicação em 1999 de uma produção colectiva e independente14, de artigos e
resenhas por docentes, Assistentes Sociais em revistas de instituições de ensino superior com
formação em Serviço Social, como Interacções do ISMT, e ainda a organização de números
específicos da Revista Campus Social da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.
As Editoras “Quarteto” de Coimbra e “Estratégias Criativas” do Porto publicaram já livros,
dissertações e tese de doutoramento em Serviço Social15. Note-se também a publicação de
artigos de Assistentes Sociais portugueses em revistas da especialidade, impressas e eletrónicas,
ao nível nacional e internacional. Nos últimos anos, Assistentes Sociais portugueses têm
criado blogues, que também contribuiem para a divulgação, o debate do conhecimento que
se produz nesta área, conferindo maior visibilidade do Serviço Social Português no contexto
internacional.
Apesar de não se ter constituído ainda a carreira de investigador, a investigação permeia o
campo do Serviço Social: a formação, a acção profissional, os centros e unidades de I & D,
as organizações da categoria, constituindo-se numa dimensão identitária do Serviço Social
Português nas últimas décadas.
II - Da desregulamentação da formação à tendência para a
desqualificação com o processo de adequação a Bolonha
1. Da expansão da formação em Serviço Social no ensino privado e público à adequação
ao processo de Bolonha
Se a conquista do grau de licenciatura em Serviço Social despoletou interesses por esta área
no ensino superior privado e posteriormente, no ensino público, veja-se como se configura,
Locus SOCI@L 1/2008: 36
presentemente, a formação e a investigação nesta área.
Nos anos 90 criaram-se cinco cursos de licenciatura em Serviço Social no ensino universitário
privado (um crescimento de 166%) inserindo-se no processo mais amplo de expansão do
ensino superior em Portugal nas últimas três décadas.
O ensino privado concentrou-se num número restrito de áreas científicas e disciplinares, como
a Gestão, o Direito e as Ciências Sociais - onde o Serviço Social se insere - as que em geral
requerem um menor investimento em estruturas educativas e de investigação (Magalhães,
2004)16. Neste contexto, perguntar-se que investimentos têm existido por parte das IES em
Serviço Social nas novas ofertas formativas?
A produção em massa de Assistentes Sociais fez-se sem ter existido um processo de regulação e
controlo de qualidade da formação (por parte do Ministério e ou da organização profissional).
Apesar de Cursos de Serviço Social terem sido alvo de avaliação pela Comissão de Avaliação
Externa dos Cursos de Acção Social (CNAVES, 2005), não se registaram consequências deste
processo ao nível da regulação.
Se até 1992 se diplomaram em Portugal 4540 Assistentes Sociais (Martins e Coutinho, 1995:
42-59), em média 84 por ano, entre 1993 e 2003 passam a formar-se 433 por ano lectivo
(Martins e Tomé, 2008)17.
Na primeira década do século XXI a escalada de transformações na formação do Serviço Social
Português vai prosseguir com dois novos processos: a integração do curso de Serviço Social em
instituições do ensino público, universitário e politécnico e o desenvolvimento da reforma do
ensino superior com a Declaração de Bolonha18.
Durante o século XX foi negado o direito ao ensino público em Serviço Social. Só no presente
século é que esta área foi integrada neste tipo de ensino, numa conjuntura sócio-política de
crise do Estado Social com tendências para a privatização e mercantilização crescente do
ensino superior.
No início do século XXI, e segundo Boaventura de Sousa Santos “a universidade de criadora
de condições para a concorrência e para o sucesso no mercado, tranforma-se ela própria,
gradualmente, num objecto de concorrência, ou seja, num mercado” (Santos, 2004: 16).
É neste contexto que a licenciatura em Serviço Social é capturada pelo ensino público,
universitário e politécnico19, potenciando recursos humanos disponíveis nestas instituições.
O crescimento da formação em Serviço Social no ensino público, ocorre sem qualquer
processo de regulamentação. Assim, no ano lectivo 2007/2008 o ensino público, universitário
e politécnico ofereceu 40,8% do total das vagas (1208) e no ano lectivo 2006/07 a diferença
entre inscritos no ensino privado e no público foi apenas de 150 alunos com primazia para o
privado20 (Martins e Tomé, 2008).
Todos os cursos de licenciatura e mestrado em Serviço Social procederam já à adequação a
Bolonha21.
Durante este processo foi produzido o documento “Posição da APSS sobre o processo de
Bolonha e a formação em Serviço Social, subscrito pelas organizações da categoria (APSS,
2006), que recomendava, entre outros aspectos: duração dos cursos, ser preferentemente de
8 semestres; garantir um nível consistente de formação específica dando particular atenção
à componente do estágio supervisionado e à capacitação para a investigação e produção de
conhecimento nos contextos de acção profissional e o estabelecimento de uma norma base de
regulamentação da formação.
No geral, estas orientações foram atendidas, com excepção da proposta da criação de uma
norma base para a regulamentação da formação. Deste modo, as IES tiveram uma ampla
autonomia na reformulação dos planos curriculares.
Presentemente, temos 20 cursos de 1º ciclo em Serviço Social22. Metade dos cursos são do
ensino privado e a outra do ensino público; 13 cursos inserem-se no ensino universitário e 7
no ensino politécnico.
Locus SOCI@L 1/2008: 37
O número crescente de cursos de licenciatura em Serviço Social no ensino público, não teve
desenvolvimento similar no 2º e 3º ciclos. A formação de mestrado e doutoramento em Serviço
Social, encontra-se unicamente no ensino privado universitário. Quadruplicou-se o número
de instituições que oferecem o 2º ciclo em Serviço Social – de duas nos anos 90 passaram a
oito em 2007/2008. Dos três cursos de doutoramento só o da UCP foi adequado a Bolonha,
tendo sido registado em 2007 um novo curso de doutoramento em Serviço Social no ISSSL na
Universidade Lusíada.
2. A componente da investigação na formação de 1º e 2º ciclo em Serviço Social
Não é objecto desta comunicação a análise dos fundamentos da investigação na formação,
apenas se procura sinalizar a presença de Unidades Curriculares (UC) de Ciências Sociais e do
Serviço Social, cuja designação mencione a palavra “investigação”. A recolha de informação
foi a disponibilizada nos sites das IES face aos plano de estudos e respectivos ECTS.
QUADRO Nº 1 – Número de UC com referência à Investigação, nos cursos de 1º Ciclo em Serviço
Social, por tipo de ensino
CURSOS 1º CICLO
SERVIÇO SOCIAL /
TIPO DE ENSINO
0
U.C.
1
U.C.
UNIVERSITÁRIO/ PRIVADO
UNIVERSITÁRIO/ PÚBLICO
1
POLITÉCNICO/ PÚBLICO
4
POLITÉCINICO/ PRIVADO
1
1
TOTAL
1
6
2
U.C.
3
U.C.
4
U.C.
5
U.C.
TOTAL
2
1
4
1
8
2
2
5
1
5
2
4
3
5
1
20
Dos 20 cursos, com excepção de um todos apresentam 1 a 5 disciplinas semestrais, cuja
denominação inclui a palavra “investigação” ou “métodos/ metodologia das Ciências Sociais”.
A diferença no número de UC prende-se com a duração dos cursos e tipo de ensino.
Tendencialmente, o ensino politécnico com 6 semestres de duração apresenta 1 UC e o ensino
universitário com 7 semestres tem pelo menos 2 UC, para a abordagem dos métodos e técnicas
de investigação social, de metodologias de natureza quantitativa e qualitativa das Ciências
Sociais.
No ensino universitário existem outras UC com a designação de “Seminários de investigação”
(Universidade da Madeira e UCP – Lisboa e Braga). Em 4 cursos apresentam-se UC de
“Investigação em Serviço Social” (ISMT, ISSSL – U.Lusíada, ISSSP) ou “Seminários de
Investigação e intervenção em Serviço Social” (Universidade LHT). Com a UC “Núcleos de
Estudo” de iniciação à prática de investigação o curso do ISMT perfaz 5 UC.
As excepções encontram-se no ensino politécnico público, caso do Instituto Politécnico de Beja
com 4 UC e no politécnico privado o curso do ISCET que não apresenta nenhuma. No ensino
universitário público a Universidade de Coimbra fica-se por 1 UC. Dos 20 cursos, metade
têm entre 1 a 2 UC e só em 4 cursos do privado universitário se articula especificamente a
Locus SOCI@L 1/2008: 38
investigação ao Serviço Social.
Analisaram-se também os ECTS (European Credit Transfer and Accumulation System)
atribuídos aos cursos e às UC, ou seja, o número de créditos que indicam o montante de
trabalho que deve ser realizado em horas lectivas, projectos, trabalhos no terreno, estudo,
avaliação, estágios, investigação, etc.
Os cursos de 1º ciclo em Serviço Social no ensino politécnico público e privado apresentam
180 ECTS, registando-se 210 ECTS nos cursos de ensino universitário público e privado. As
excepções no universitário privado são os cursos da UFP e da U Lusófona com 180 ECTS.
Estabelecendo a relação entre o total de ECTS das UC com referência à investigação e o total
de ECTS do curso de 1º ciclo, verifica-se que a percentagem mais baixa encontra-se no ensino
politécnico (2,8%) e a mais elevada no ensino privado universitário com cerca de 13%.
A desvalorização da componente de investigação na graduação dos Assistentes Sociais é patente
na maior parte dos cursos, acentuando-se nos que apresentam uma menor duração23, o que
não deixará de se repercutir na acção profissional. Não tendo as competências profissionais
sido alvo de redução, só as exigências da formação o foram.
QUADRO Nº 2 – Número total de ECTS das UC com referência à Investigação, nos cursos de 1º Ciclo
em Serviço Social, por tipo de ensino
Nº TOTAL DE
ECTS das UC
com referência à
INVESTIGAÇÃO
ENSINO
UNIVERSITARIO
ENSINO
UNIVERSITARIO
ENSINO
POLITÉCNICO
7 Sem 210 ECTS
6 Sem 180 ECTS
6 Sem 180 ECTS
5 ECTS
IPLeiria,
IPCastelo Branco
IP Portalegre
6 - 8 ECTS
U. Coimbra
UCP – Viseu
12 - 16 ECTS
U Açores
UTAD
ISCSP – UTL
UCP – Braga
U. Lusíada
19,5 – 22,5 ECTS
U. Madeira
UCP – Lisboa
25 - 28 ECTS
ISMT
ISSSP
UFP
ISPGaya
IP Viseu
TOTAL
DE CURSOS
3
5
5
IP Beja
U. Lusófona
3
3
A formação em Serviço Social com a aplicação das políticas vigentes, parece ter cedido às
exigências do mercado. Tornou-se permeável a concepções de um perfil profissional mais
tecnicista em detrimento dum mais crítico, com maior solidez e qualidade, fragilizando ou
mesmo fazendo regredir os avanços já conquistados.
À desqualificação do grau académico de licenciatura segue-se a obtenção de outro grau
académico, o mestrado.
Analisando as 8 IES com 2º ciclo em Serviço Social, seis apresentam cursos com uma duração
Locus SOCI@L 1/2008: 39
de 3 semestres e dois com 4 semestres. Todos os cursos contemplam a elaboração de uma
dissertação, oscilando entre 27,5 e 40 ECTS.
O ISSSP apresenta dois cursos de 2º ciclo: “Ciências Sociais e Saúde” e “Gerontologia Social”
sendo o único que coloca em alternativa a dissertação de natureza científica o trabalho de
projecto ou um estágio profissional com relatório final, atribuindo igual número de ECTS 27,5.
Em todos os planos de estudo verifica-se a existência de UC com referência à “investigação”,
“projecto” ou “dissertação”. Dos cursos de mestrado 5 apresentam três destas UC, 2 têm
quatro UC e 1 fica-se por duas. Os cursos com maior duração apresentam 3 UC.
QUADRO Nº 3 – Unidades Curriculares com referência à Investigação/ Dissertação, Projecto/ Estágio
nos Planos de Estudo de 2º Ciclo em Serviço Social de 3 e 4 Semestres
UNIDADES CURRICULARES/
DISSERTAÇÃO/
TRABALHO DE PROJECTO/
ESTÁGIO PROF COM RELAT.
CURSOS DE
2º CICLO EM SERVIÇO SOCIAL
3 Sem
2 UC
UCP – Viseu
3 UC
UCP – Lisboa
UCP – Braga
ISSSL – U.LUSÍADA
4 UC
ISMT
ISSSP
DISSERTAÇÃO
5 CURSOS
DISSERTAÇÃO/
TRABALHO DE PROJECTO/
ESTÁGIO PROF COM REL.
2 CURSOS DO ISSSP
CURSOS DE
2º CICLO EM SERVIÇO SOCIAL
4 Sem
UFP
U. LUSÓFONA
2 CURSOS
As disciplinas por um lado, centram-se nas metodologias de investigação social, nalguns
cursos é especificada com a menção em “Intervenção social” (ISSSP, UFP) em “Serviço Social”
(ISSSL-UL); ou à “reflexão sobre intervenção e práticas profissionais em Serviço Social” (nos
cursos da UCP – Lisboa e Braga). Por outro lado, há UC que se associam à dissertação,
designando-se Seminário “de dissertação”, “de investigação”, “de projecto” ou “projecto de
dissertação”, algumas com referência à “dissertação e tutoria”. No ISMT a UC “Núcleos de
Estudo e Investigação” dá continuidade à estrutura existente no 1º ciclo.
Os cursos de 2º ciclo em Serviço Social com duração de 3 semestres apresentam 90 ECTS e
com 4 semestres 120 ECTS.
Se analisarmos o total de ECTS das UC associadas à investigação e dissertação a maioria dos
cursos situa-se entre 52,5 e 57,5 ECTS. Os cursos da UFP e do ISSSP são os que apresentam
um valor inferir a 50% do total de ECTS. Os restantes cursos conferem a estas componentes
mais de metade dos créditos do 2º ciclo, o valor mais elevado 72 % regista-se no ISMT.
Através destas observações fica patente que a formação em investigação se aprofunda no
Locus SOCI@L 1/2008: 40
2º ciclo em Serviço Social como é expectável. As directrizes, as exigências na docência e nas
práticas de investigação e a efectiva produção do conhecimento nos mestrados, após processo
de Bolonha, ficam a merecer investigação.
QUADRO Nº 4 – Número total de ECTS das UC com referência à Investigação/ Dissertação, Projecto/
Estágio nos cursos de 2º Ciclo em Serviço Social de 90 e 120 ECTS
Nº TOTAL ECTS DAS
UC COM REFERÊNCIA
À INVESTIGAÇÃO/
DISSERTAÇÃO,
PROJECTO/ ESTÁGIO
CURSOS DE 2º CICLO
3 Sem 90 ECTS
42,5 ECTS
ISSSP
52,5 – 57,5 ECTS
ISSSL – U LUSÍADA
UCP – LISB
UCP - BRAGA
UCP-VISEU
UFP
ISMT
U. LUSÓFONA
65 ECTS
CURSOS DE 2º CICLO
4 Sem 120 ECTS
TOTAL
1
5
2
III – Paradoxos e Desafios da Investigação em Serviço Social em
Portugal
O desenvolvimento da investigação pressupõe a existência de condições. Na comunicação
de 1996, “Serviço Social e Investigação”, (Martins,1999) identificava algumas. Passados 12
anos e fazendo um balanço, sinalizam-se três dessas questões que ainda hoje se colocam,
simultaneamente, como um paradoxo e que por isso são ainda desafios a enfrentar.
1. A qualificação académica dos docentes e investigadores e a criação e desenvolvimento
de centros de investigação (Martins,1999: 63).
A qualidade da formação não é dissociável da qualificação académica dos docentes.
Se atendermos aos docentes de Serviço Social, com mestrado e doutoramento na área, a
qualificação processou-se e continua a fazer-se unicamente no ensino universitário privado,
tendo reflexos na distribuição destes docentes pelos cursos existentes.
Em 1993 formou-se a primeira doutorada em Serviço Social, passados 15 anos, são 14 doutores
desta área que desenvolvem a formação de 1º, 2º e 3º ciclos em Serviço Social. A maioria (10)
formou-se no Brasil, na PUC-SP, dois na Suíça, pela Universidade de Fribourg (Faculdade
de Letras, vertente Trabalho Social) e 2 em Portugal, nos cursos da UCP- FCH e UP/ISSSP.
Distribuem-se por 7 escolas, 11 encontram-se em cursos do ensino privado universitário, onde
se desenvolve o 1º, 2º e 3º ciclos. Os restantes, no ensino público, dois numa Universidade e
um num Instituto Politécnico.
Neste contexto, os mestres em Serviço Social que são em maior número e que se encontram
Locus SOCI@L 1/2008: 41
em processo de qualificação académica, dão um contributo muito importante à formação em
Serviço Social, presentemente e em futuro próximo.
A relação de docentes qualificados com o número de alunos inscritos e dipomados em
Serviço Social, por ano, está seguramente muito aquém do necessário e desejável. Em
2006/07 inscreveram-se 1166 alunos no primeiro ano no 1º ciclo (Martins e Tomé, 2008). A
qualificação académica dos docentes tem-se processado mas não acompanha este crescimento
vertiginoso.
A maioria das IES não fez e não faz investimentos no recrutamento e na qualificação dos
docentes de Serviço Social, recorrendo à disputa dos doutores existentes e à sua mobilidade.
O facto dos estabelecimentos continuarem a atribuir a direcção científica de cursos de 1º ciclo
a docentes que não são da área específica da formação é indicador desta situação, tendo sido
objecto da análise de Alfredo Henríquez em “1999: Trabalhadores Sociais comprometidos
com o seu futuro” (Henríquez, 2000).
Se atendermos a que se formaram entre 2004 e 2006, 833 Assistentes Sociais por ano (Martins;
Tomé, 2008), pergunta-se que condições apresentam as IES para sustentar a qualidade nos
diferentes ciclos da formação, nomeadamente ao nível da investigação, como componente
da formação e na criação de estruturas de investigação como Unidades de Investigação &
Desenvolvimento24?
Em que medida a formação de 1º e 2º ciclo em Serviço Social integra e aprofunda o processo
de produção de conhecimento ou se limita a difundir e a reproduzir o conhecimento orientado
para o mercado? As diferenças existentes no ensino superior, entre ensino público e privado, estão entre outros
aspectos associadas a que no ensino público a relação entre ensino e investigação seja mais
estreita, estando as IES dotadas de docentes qualificados e de recursos afectos à investigação
e suas estruturas.
No que respeita à formação em Serviço Social, as IES públicas - que já correspondem a
metade da oferta para o 1º ciclo - parecem não estarem a adoptar estas estratégias. Face à
desresponsabilização do Estado, quem assegura o direito à educação pública nesta área do
conhecimento?
2. O Serviço Social legitimar-se como um dos domínios de investigação em Portugal
e fazer-se representar nas estruturas de apoio à investigação”. (Martins, 1999: 62 e
63).
No I Congresso Nacional de Serviço Social em 2002 referia-se que a Fundação para a Ciência
e a Tecnologia (FCT) e organizações similares ainda não consideravam o Serviço Social como
disciplina autónoma das Ciências Sociais, a integrar o elenco das áreas disciplinares (Martins,
2003: 58). Passados estes anos, a situação não se alterou neste domínio e presentemente
outros organismos dentro do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior integram o
Serviço Social em áreas distintas.
A Direcção Geral do Ensino Superior (DGES) no que respeita ao acesso ao ensino superior
integra o curso de Serviço Social na “Área de Direito, Ciências Sociais e Serviços”, já o Gabinete
de Planeamento Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais (GPEARI) nas estatísticas do
ensino superior insere-o na área de formação e educação designada de “Trabalho Social e
Orientação” 25, mas na abordagem do emprego coloca os diplomados em Serviço Social na
área denominada de “Serviços Sociais”.
Em 2006 a Direcção Geral de Ensino Superior criou uma Comissão de Especialistas em Serviço
Social, constituída pela primeira vez por Assistentes Sociais, para dar parecer sobre os pedidos
de autorização de novos cursos, apresentados pelo ensino particular e cooperativo. Mas
Locus SOCI@L 1/2008: 42
nas estruturas de apoio ao financiamento à investigação o Serviço Social continua a não ter
representantes. Situação que a FCT tem vindo a associar à inexistência de I&D em número
considerado significativo, veja-se a resposta à interpelação em 2001 do CPIHTS no seu site
(CPIHTS, 2001).
O Serviço Social continua a estar em grande parte excluído da política de investigação científica
e dos financiamentos atribuídos a esta actividade. (Martins, 1999; 2003). Pergunta-se em que
contexto e em que condições se está hoje a assegurar o desenvolvimento da investigação em
Serviço Social, quer nas IES, quer em instituições não académicas?
3. A divulgação e a publicação dos trabalhos de investigação já realizados e a realizar
no âmbito de cursos de mestrado e doutoramento em Serviço Social, imprescindível
para uma maior visibilidade da profissão e da sua produção de conhecimentos que
permita um debate mais alargado a outras áreas profissionais e a outros sectores da
sociedade portuguesa (Martins, 1999: 63).
A produção de conhecimento em Serviço Social em Portugal está fundamentalmente associada
às dissertações e teses realizadas no âmbito dos cursos de pós-graduação académica. Se
atendermos a que das 15 teses existentes de doutoramento em Serviço Social26, só um terço
foi publicada (duas pelo CPIHTS e destas uma em parceria com o ISSSL, uma pela Fundação
Calouste Gulbenkian, Fundação para a Ciência e a Tecnologia e o Ministério da Ciência e
da Tecnologia27, uma pela Fundação Bissaya Barreto/ Instituto Superior Bissaya Barreto28 e
uma por uma editora comercial29). Isto significa que a produção do conhecimento em Serviço
Social, ao nível da pós-graduação académica, continua em parte invisível, desconhecida tanto
para Assistentes Sociais, como para o meio académico, instituições empregadoras e outras
organizações e movimentos da sociedade portuguesa.
Relativamente aos mestrados em Serviço Social vale dizer que se regista um aumento crescente
da procura, após Bolonha, sobretudo por parte dos recém diplomados, mas também de
Assistentes Sociais em exercício. Estes apresentam preocupações em qualificar a sua própria
prática profissional e melhor compreender e reflectir as vicissitudes com que se confrontam no
quotidiano. Assim, os avanços da formação pós-graduada já não se circunscrevem ao meio
académico.
Há questões relativas à investigação em Serviço Social que estão para além das IES,
consideramos:
Inadiável que as organizações da categoria em articulação com os IES em Serviço Social
definam uma norma base de regulação da formação do 1º ciclo em Serviço Social, que reforce
a importância da investigação;
Que o ensino (público e privado) invista na investigação em Serviço Social, na formação dos
seus investigadores e na criação de Unidades de Investigação & Desenvolvimento nesta área,
que garanta o direito à qualificação e à educação pública pós graduada em Serviço Social.
Quando estão por consolidar estruturas de investigação, aumenta o risco de se transformar a
educação num “negócio”;
Que se afirme uma formação profissional que não se limite às exigências do mercado de
trabalho e a uma concepção técnico-instrumental do Serviço Social, subjacente às perspectivas
mercantilistas da educação, resistindo ao processo em curso de desqualificação da formação.
Para onde vai o Serviço Social se se continuar a privilegiar na formação a separação da dimensão
da investigação da do ensino, não assegurando plenamente o desenvolvimento de competências
dos futuros Assistentes Sociais, sujeitos actuantes na sociedade contemporânea?
Que se organize um Encontro de investigadores em Serviço Social, preparatório do 2º
Congresso Nacional de Serviço Social (já apontado por organizações da categoria para o
Locus SOCI@L 1/2008: 43
próximo ano) para o equacionar da situação presente, questões e estratégias que levem a
ultrapassar a incipiente socialização e publicação do conhecimento produzido em Serviço
Social, a construção e definição de uma agenda política das prioridades de investigação e bem
assim dos pressupostos éticos e políticos subjacentes ao projecto que a profissão configure
para as próximas décadas.
Referências
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wordpress.com/sobre/
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Global.
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com/investiga.htm
Franco, Ana Cristina de Almeida M. (2003). A Investigação em Serviço Social e a formação ao nível
da licenciatura. Análise dos Planos de Estudo nos anos 90, em Portugal (Dissertação de Mestrado em
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Henríquez, B. Alfredo (2000). 1999: Trabalhadores Sociais Comprometidos com o seu Futuro, Estudos
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Portugal - uma proposta de reforço da organização profissional. Comunicação apresentada ao Seminário
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Martins, Alcina e Coutinho, Manuela (1995). Le Travail Social au Portugal. Vie Sociale, 4, 42–
Locus SOCI@L 1/2008: 44
59.
Rodrigues, Fernanda e Baranco, Francisco (2008). A Investigação em Serviço Social em Portugal:
uma aproximação a partir da formação pós-graduada, comunicação apresentada à 19ª Conferência
Mundial Serviço Social, IFSW e CFESS, Bahia, 16-19 Agosto.
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à profissão, comunicação apresentada ao 3º Seminário Nacional – Estado e Políticas Sociais no
Brasil, Cascavel, 23 -25 de Agosto, recuperado de http://www.cpihts.com/PDF02/Rosa%20
Tomé.pdf
Santos, Boaventura de Sousa (2004). A Universidade no Século XXI: para uma Reforma Democrática
e Emancipatória da Universidade. São Paulo: Cortez Editora.
Notas
1
Para desenvolvimento desta componente da formação nos Institutos de Serviço Social de Lisboa, Porto e Coimbra
veja-se a Dissertação de Mestrado em Serviço Social apresentada ao Instituto Superior Miguel Torga de Ana Cristina
de Almeida M. Franco, A investigação em Serviço Social e a formação ao nível da licenciatura. Análise dos Planos
de Estudo nos anos 90, em Portugal, 2003, págs 145 a 172.
2
Para a análise desta produção veja-se: Fernanda Rodrigues e Francisco Branco, “A Investigação em Serviço Social
em Portugal: uma aproximação a partir da formação pós-graduada”, 19ª Conferência Mundial Serviço Social,
IFSW e CFESS, Brasil, Bahia, 2008.
3
O estruturalismo genético de Lucien Goldman foi aplicado à investigação em Serviço Social em Portugal, tendo
sido inicialmente proposto e desenvolvido no âmbito do 1º curso de mestrado em Serviço Social (1987) pela Profª
Doutora Myrian Veras Baptista responsável pela disciplina “História e Tendências Teóricas do Serviço Social”.
Realizaram-se trabalhos para esta disciplina que tomaram como objecto a história e trajectória do Serviço Social
Português, tendo merecido posteriores aprofundamentos em projectos de investigação, de dissertação e de
doutoramento em Serviço Social e influenciado a criação do Núcleo de Investigação.
4
Em co-edição as teses de doutoramento em Serviço Social: Fernanda Rodrigues, Assistência Social e Políticas
Sociais em Portugal, Lisboa, CPIHTS, ISSSL, 1999 e de Marlene Braz Rodrigues, Corpo, Sexualidade e Violência
Sexual, Lisboa, CPIHTS, Veras, 2007. A tese em Economia de Manuela Coutinho, A Economia Social em Portugal.
A emergência do Terceiro Sector na Política Social, Lisboa, CPIHTS, APSS, 2003.
5
A dissertação de mestrado em Serviço Social de Maria Rosa Tomé, A Criança e a Delinquência Juvenil na Primeira
República, Lisboa, CPIHTS, NCA, CIPEC, ICSA, 2003.
6
Vejam-se os artigos de Joseph R. Merighi e Maria Cesaltina Dinis “Surface Acting as a Predictor of Emotional
Exhaustion in Portuguese Social Workers”, The International Journal Of Interdisciplinary Social Sciences,Volume
3, Number 1, 2008, p. 304 a 310; “The influence of Alcohol Consumption and Sedative Use on life satistaction in
Portuguese Social Workers”, The International Journal Of Interdisciplinary Social Sciences,Volume 3, Number 2,
2008, p. 15 a 22.
7
Alcina Martins, “Frauen in der Geschichte der Wollfahrtspflege in Portugal”, Die geschichte der sozialen arbeit in
europa: Wichtige Pionierinnen und ihr Einfluss auf die Entwicklung internationaler Organisationen, Sabine Hering,
Berteke Waaldijk (ed), Hamburg, Opladen, 2002, pág 173 a 182. Alcina Martins, “Women in the History of Social
Work in Portugal”, History of Social Work in Europe (1900-1960).Female Pioneers and their Influence on the
Development of International Social, Organisations,  Sabine Hering, Berteke Waaldijk (ed), Hamburg, Opladen,
2003, pág 177 a 185.
8
Alfredo Henriquez e Alcina Martins (org.), Serviço Social no Feminino, Lisboa, CPIHTS, 1997 integra o capítulo
de Alcina Martins, “As Mulheres e as suas organizações na emergência e institucionalização do Serviço Social
Locus SOCI@L 1/2008: 45
Português”, pág. 15 a 26.
9
Maria Augusta G. Negreiros, As representações sociais da profissão de Serviço Social. Uma análise empírica em
contexto autárquico,Lisboa, ISSSL, 1995 e Francisco José do Nascimento Branco, Municípios e políticas sociais em
Portugal: 1977-1989, Lisboa, ISSSL, 1998.
10
Veja-se “História” da AIDSS, na página http://aidss.wordpress.com/sobre/
11
Alfredo Henríquez e Maria André Farinha (org.), Serviço Social: Unidade na Diversidade. Encontro com a
Identidade Profissional. Actas do I Congresso de Serviço Social, Lisboa, APSS, 2003.
12
Maria José Aguilar Idáñez e Ezequiel Ander-Egg, Avaliação de Serviços e Programas Sociais, Lisboa, Buenos Aires,
Albacete, CPIHTS, APSS, ICSA, 2002 e no ano seguinte a tese de doutoramento em Economia já referida.
13
Destacam-se os livros: Myrian Veras Baptista, A Investigação em Serviço Social, Lisboa, São Paulo, CPIHTS,
Veras, 2001 e Alfredo Henríquez (org.) Serviço Social, Ética, Deontologia & Projectos Profissionais, Lisboa, Madrid,
São Paulo, CPIHTS, ICSA, Veras, 2001.
14
Maria Augusta Negreiros, Alcina Martins, B. Alfredo Henríquez, Josefina Figueira Mc Donough, Serviço Social,
Profissão & Identidade, que trajectória?, Lisboa, São Paulo, edição dos autores, 1999.
15
Sem se pretender fazer um levantamento das obras de Serviço Social editadas, referencia-se o livro de Helena
Mouro e Dulce Simões (coords), 100 anos de Serviço Social, Coimbra, Quarteto Editora, 2001. A publicação da
dissertação de Mestrado em Serviço Social, em dois volumes, de Manuel Menezes, As práticas de cidadania no
poder local comprometido com a comunidade, Coimbra, Quarteto, 2001 e Serviço Social Autárquico e Cidadania:
a experiência da Região Centro, Coimbra, Quarteto, 2002. A tese de doutoramento em Serviço Social de Maria
Helena Nunes, Serviço Social e Regulação Social. Agência do Assistente Social, Porto, Estratégias Criativas, 2004.
16
Segundo António Magalhães 60% dos estudantes do sector privado estão concentrados nas áreas das Ciências
Sociais e do Comportamento, Gestão e Direito, contra 25% no sector público (Magalhães, 2004: 310).
17
Resultados da investigação desenvolvida por Alcina Martins e Maria Rosa Tomé sobre “O Estado Actual da
Formação em Serviço Social em Portugal - uma proposta de reforço da organização profissional”, apresentados
no Seminário Euro-Brasileiro de Serviço Social - Formação, Investigação, Qualidade e Desenvolvimento, V curso de
Mestrado em Serviço Social do ISMT, Coimbra, 20 de Fevereiro de 2008.
18
O processo de Bolonha tem por base um compromisso, assumido em 1999 por governantes de países europeus,
que pretende harmonizar até 2010, os graus e diplomas atribuídos, para facilitar as equivalências de cursos
nas universidades dos 45 estados subscritores, a mobilidade e a empregabilidade dos estudantes no espaço
comunitário.
19
António Magalhães afirma sobre o ensino superior que Portugal é o “único país da Europa ocidental que
conheceu um tão grande desenvolvimento do sector privado e onde, desde cedo, a tendência para as instituições
politécnicas “imitarem” o “sucesso” do sector universitário” (Magalhães, 2004: 220, 221). A formação em Serviço
Social não foge a esta tendência.
20
Cf. Site oficial da Direcção Geral do Ensino Superior - Acesso ao Ensino Superior http://www.acessoensinosuperior.
pt
21
Para a análise do processo de adequação dos cursos de licenciatura e mestrado em Serviço Social veja-se:
Martins, 2007 e Tomé, 2007.
22
Este número não contempla os cursos de Serviço Social no Instituto Superior Bissaya Barreto por não abrir
inscrições para o 1º ano desde 2006 e por o Instituto Superior de Serviço Social de Beja já ter sido extinto.
23
Encontram-se excepções nos cursos com 180 ECTS, no ensino universitário privado, a Universidade Lusófona e
no ensino politécnico público o Instituto Politécnico de Beja.
24
Registe-se que após adequação da formação ao processo de Bolonha foram criados, em 2007: o Centro Lusíada
Locus SOCI@L 1/2008: 46
de Investigação em Serviço Social e Intervenção Social (CLISSIS) e o Centro de Investigação em Serviço Social
no Espaço Lusófono (CISSEL). No ensino público de Serviço Social ainda não foram criadas estruturas desta
natureza.
25
Actualmente, o curso de Serviço Social é inserido na área “Trabalho Social e Orientação”, quando uma das
consequências da adequação dos cursos ao processo de Bolonha (2006) foi a uniformização da designação
“Serviço Social”, pondo termo a outras, nomeadamente, “Trabalho Social”.
26
Neste número inclui-se a tese de Maria Augusta Geraldes Negreiros, Serviço Social uma profissão em movimento.
A dinâmica académico-profissional no Portugal pós 74, apresentada ao programa de Estudos Pós.graduados em
Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil, 1999.
27
Alcina Martins, Génese, Emergência e Institucionalização do Serviço Social Português, Lisboa, Fundação Calouste
Gulbenkian, Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
28
Helena Neves Almeida, Conceptions et pratiques de la médiation sociale. Les módeles de médiations dans le
quotidien professionnel des assistants sociaux, Coimbra, Fundação Bissaya-Barreto, Instituto Bissaya-Barreto,
2001.
29
A tese de Helena Nunes já mencionada.
Locus SOCI@L 1/2008: 47
Locus SOCI@L 1/2008: 48-63
A INVESTIGAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL EM
PORTUGAL: trajectórias e perspectivas
Francisco Branco
Centro de Estudos de Serviço Social e Sociologia
Faculdade de Ciências Humanas – Universidade Católica Portuguesa
[email protected]
Resumo
Esta comunicação apresenta uma visão geral da investigação em serviço social em Portugal nas duas últimas
décadas, nas suas características mais salientes, desafios e perspectivas de desenvolvimento, considerando quer
a questão da investigação no plano da formação inicial em serviço social, quer no domínio da pós-graduação
académica, quer ainda da pesquisa organizada em centros de investigação.
Abstract
This paper presents an overview of the social work research in Portugal in the last two decades, focusing on the main
features, challenges and perspectives in this domain. The analysis considers the perspectives of the research in social
work education, the features and issues concerning the scientific production in the social work post-graduation
courses in the period 1990-2003 and institutionalisation process and challenges of the social work research within
the scientific policy framework.
I. Introdução
Analisar as trajectórias percorridas pela investigação em Serviço Social em Portugal, bem como
as perspectivas e desafios que se lhe colocam na actualidade, comporta diversos campos e
ópticas de análise.
A investigação em Serviço Social pode ser observada do ponto de vista da formação inicial.
Trata-se de responder, ente outras, à questão de qual tem sido, ao longo do tempo e na
actualidade, o lugar da investigação no ensino e no perfil profissional que presidem à formação
dos Assistentes Sociais.
Palavras Chave
Serviço Social,
investigação em
Serviço Social,
formação inicial,
formação pósgraduada em
Serviço Social,
unidades de
investigação em
Serviço Social,
Portugal
Figura 1: A investigação em Serviço Social como campo de estudo
...
Key Words
Social Work,
Social Work
research, Social
Work education,
Master and PhD
Social Work
research,research
units in Social
Work, Portugal
Locus SOCI@L 1/2008: 48
Outro possível ângulo de análise é o das práticas profissionais dos Assistentes Sociais.
Emergem, entre outras, como questões centrais, quer o grau e modalidades de incorporação
das orientações e dispositivos de pesquisa na intervenção profissional, quer os modelos de
investigação e a sua articulação com as estruturas académicas de pesquisa.
Noutro plano, a investigação em Serviço Social reconduz-nos à pesquisa académica e
institucionalizada em unidades de pesquisa, cuidando de analisar as grandes orientações
e tendências da investigação do ponto de vista da produção de conhecimento e sabres
disciplinares, as dinâmicas de institucionalização e inserção académica da investigação em
Serviço Social, as questões e perspectivas que se suscitam em torno da definição de uma política
de investigação neste campo disciplinar, bem como das políticas de apoio à investigação
científica.
Esta formulação não colhe necessariamente unanimidade uma vez que são diversas as
concepções sobre o lugar e natureza da investigação em Serviço Social. Na verdade, na
concepção da profissão de assistente social como formação de curta duração e de perfil
tecnológico, a investigação não assume relevância na formação inicial em Serviço Social.
Do mesmo modo, uma concepção da investigação em Serviço Social como eminentemente
académica, retira pertinência ao equacionar da actividade investigativa nos contextos da
acção profissional uma vez que o seu locus, por excelência, está sedeado na universidade e
nas unidades de investigação e desenvolvimento cabendo aos profissionais o território de uma
intervenção informada pela pesquisa académica.
Neste artigo procuraremos traçar um mapa da investigação em Serviço Social em Portugal
que integre todas as coordenadas identificadas e procure estabelecer os seus contornos e
traços mais salientes. No entanto, sem prejuízo da relevância das questões da investigação na
formação inicial e na prática profissional, dado designadamente o projecto de formação que
inspirou, no nosso país, a licenciatura em Serviço Social 1 privilegia-se aqui uma abordagem
quer da pesquisa académica em Serviço Social quer do nexo de questões que se jogam em
torno da política de pesquisa de e para o Serviço Social. A análise ensaiada contextualiza-se,
por um lado na trajectória da pós-graduação académica em Portugal, e por outro lado nos
desafios colocados ao desenvolvimento da investigação em Serviço Social no actual contexto
de política científica em Portugal e de reestruturação do campo do ensino-formação em Serviço
Social no nosso país na última década.
Não cuidamos de analisar aqui os impactos que se terão produzido, ou estarão a produzir,
neste projecto de formação em Serviço Social em que se baseou todo o processo tendente ao
reconhecimento da licenciatura em Serviço Social em Portugal em 1989. Na verdade, quer pela
desregulação 2 do campo do ensino em Serviço Social, quer pela reforma de Bolonha 3, pendem
sobre este modelo importantes riscos de desqualificação e/ou de importantes mutações.
II. Formação Inicial e Investigação em Serviço Social em
Portugal
Da investigação como uma dimensão estruturante da formação em Serviço Social à
baixa incorporação da investigação nas práticas profissionais
Desde os anos 60 que, no quadro da formação em Serviço Social, a investigação social se
constitui como uma das áreas de ensino. Na verdade, desde então, o espaço concedido ao
ensino-aprendizagem das metodologias de investigação cresceu claramente de importância
inscrevendo-se ao mesmo tempo num processo de reformulação da formação em Serviço
Social em que o ensino das Ciências Sociais se apresenta como matriz fundamental.
Nos anos 80, a reforma curricular encetada com vista a sustentar o reconhecimento académico
Locus SOCI@L 1/2008: 49
da formação em Serviço Social levou a consagrar um espaço curricular dedicado à investigação
em Serviço Social no quadro da Licenciatura em Serviço Social (reconhecida pelo Ministério
da Educação em 1989). Ainda que com variantes na sua formatação curricular, a formação
para a investigação, concretizada quer na formação teórica quer no desenho e realização de
projectos de investigação em Serviço Social, desenvolve-se a par do reforço do ensino dos
métodos e técnicas de investigação social.
Este percurso da investigação na formação em Serviço Social saldou-se pelo enriquecimento
do perfil profissional do Assistente Social ao qualificar os novos diplomados para a actividade
de investigação, com resultados encorajadores nas aquisições e integração de conhecimentos e
competências para a investigação, observáveis nos estudantes que concluíram a sua formação
segundo este novo figurino curricular.
Os resultados assinalados ainda que inquestionáveis, mormente quando a análise se processa
de um ponto de vista formativo, não obstam no entanto à necessidade de uma avaliação
e debate sobre os modelos de investigação na formação em Serviço Social. Há pelo menos
dois factores que fundamentam uma interrogação sobre o modo como o ensino e prática da
investigação vem sendo realizado em Portugal.
Um primeiro aspecto prende-se com o reduzido debate académico sobre esta matéria, o
que assume particular relevância numa matéria que consubstancia uma nova dimensão da
formação em Serviço Social.
Um segundo aspecto reporta-se à constatação, que aqui se sustenta mesmo na ausência, de
uma pesquisa sistemática sobre a matéria 4, de que se regista uma fraca incorporação dos
procedimentos e dispositivos de investigação na intervenção em Serviço Social, o que não
pode deixar de ser ponto de questionamento e exigência de reflexão sobre as potencialidades
e limites do(s) modelo(s) de formação para a investigação em Serviço Social que têm sido
praticado(s) na formação inicial em Portugal.
A hipótese defendida, de que se regista uma fraca incorporação dos procedimentos e
dispositivos de investigação na intervenção em Serviço Social, é instigante. Como se explica
então a dissonância assinalada entre maior qualificação académica para a investigação (o
Serviço Social como actividade “research-oriented”) e a persistência de práticas profissionais
pouco sustentadas no estudo e investigação dos fenómenos e problemas sociais em que o
Assistente Social é chamado a intervir?
Uma revisão de literatura do Serviço Social, de expressão portuguesa, permiti-nos identificar
três principais teses explicativas do fraco desenvolvimento da investigação.
A primeira tese centra-se no peso das atribuições sócio-institucionais do Serviço Social, de acordo com a
qual a profissão de assistente social emerge historicamente como uma profissão da intervenção
e não da produção do conhecimento. Este código genético e marca sócio-histórica persiste na
actualidade, ainda que variando em função dos sectores de actividade e das políticas sociais
(Martins, 1999) conduzindo a que as organizações empregadoras de assistentes sociais não
perspectivem a dimensão da investigação como uma componente intrínseca da sua missão e
atribuições profissionais.
Uma segunda tese releva primordialmente a cultura e habitus profissional, pautados pelo predomínio
da acção em detrimento do conhecimento, em boa parte resultado da socialização profissional
gerada pelo processo sócio-histórico de desenvolvimento e exercício profissional, consolidarse-ia em traços identitários como o pragmatismo e a acomodação (Faleiros, 1997)5.
Uma terceira tese enfatiza a insuficiente formação de pesquisadores (Faleiros, 1997, Martins,
1999) resultante das concepções presentes no passado na formação em Serviço Social mas
não supridas no presente, mesmo apesar do claro desenvolvimento curricular registado neste
domínio. Esta deficiência é associada por Martins (1999) à matriz positivista-funcionalista,
Locus SOCI@L 1/2008: 50
que predominou no passado na formação em Serviço Social e segundo a qual o assistente
social não era formado de modo a dominar o processo de construção do conhecimento nas
Ciências Sociais. Já Faleiros (1997) atribui esta circunstância às limitações e orientação do
ensino neste domínio considerando o autor que ocorre uma transmissão de saberes técnicos
desvinculados da prática dos assistentes sociais.
Estas três ordens de argumentos concorrem sem dúvida para a construção de um quadro
explicativo do fraco desenvolvimento da investigação nas práticas profissionais, articulando
as condições sócio-institucionais (eixo dos factores sistémicos – exógenos) e as competências,
disposições e identidades profissionais (eixo dos factores endógenos – dos actores).
Figura 2: Factores produtores do baixo desenvolvimento da investigação em Serviço Social
Nas argumentações referenciadas, o desenvolvimento da investigação em Serviço Social
dependerá então da reunião, articulada, de um conjunto de condições, principalmente
de natureza sócio-institucional. Assim, sublinha-se a importância do desenvolvimento
académico do Serviço Social, traduzido no reconhecimento universitário da formação, na
criação e desenvolvimento da formação pós-graduada a nível de mestrado e doutoramento e,
associadamente, a melhoria do ensino e formação para a investigação no quadro da formação
base e pós-graduada. Num outro plano preconiza-se a criação de estruturas permanentes de
investigação nos contextos académico e profissional, dimensão a que Faleiros (1997) atribui
uma grande importância ao considerar que a produção de pesquisa está dominantemente
associada aos mestrados, nos quais os investigadores se encontram numa posição isolada,
solitária e não institucional.
Num outro plano ainda, sustenta-se a imprescindibilidade do reconhecimento do Serviço
Social como área de produção de conhecimento pelas agências de apoio e financiamento
da investigação social e a adopção de políticas e dispositivos de difusão e intercâmbio da
pesquisa em Serviço Social (cf. Martins 1999: 61; Faleiros, 1997).
Locus SOCI@L 1/2008: 51
Conjunto de condições que, a ocorrerem cumulativamente e de forma continuada, operarão a
alteração qualitativa esperada na institucionalização da investigação em (e no) Serviço Social.
No caso português tal equivalerá a dizer que o período de afirmação académica do Serviço
Social é ainda suficientemente recente para produzir resultados significativos. A tese implícita
é portanto a de que estamos em face de uma crise de crescimento.
Esta tese será porventura procedente se a análise se focalizar na formação pós-graduada em
Serviço Social e na produção científica institucionalizada em unidades de investigação (assunto
a que se retornará), mas parece ter um potencial explicativo limitado no plano de análise de
que agora nos ocupamos, o da investigação do Serviço Social vista a partir da formação inicial
e das práticas profissionais. Na verdade, completam-se 20 anos de licenciatura em Serviço
Social em Portugal e, na hipótese de trabalho que se tem sustentado, o novo modelo de
formação – do assistente social como profissional e orientado pela/para a investigação – não
se traduz numa incorporação mais efectiva dos dispositivos de pesquisa e investigação.
Tem-se sustentado6 que se torna necessário convocar outras hipóteses explicativas, com
potencial heurístico, para uma mais profunda compreensão da dissonância entre formação para a
investigação e práticas não suportadas em pesquisa. Nesta hipótese, um vector explicativo relevante
parece residir nos modelos de investigação, a partir dos quais, na formação inicial, se processa
a socialização dos formandos em Serviço Social, a qual, na generalidade dos formatos
curriculares, assenta numa fraca articulação dos processos de investigação com as experiências
de intervenção proporcionadas pelos estágios curriculares, não favorecendo deste modo um
modelo de socialização formativa em que os estudantes experienciem as virtualidades, limites
e tensões da articulação entre conhecimento e acção.
A relação entre conhecimento e acção como questão central da formação para a
investigação em Serviço Social
Na literatura de Serviço Social em língua portuguesa sobre os problemas da investigação
em Serviço Social são pouco (ou menos) exploradas as dimensões epistemológicas próprias
à produção de conhecimento nesta área disciplinar das Ciências Sociais sendo-lhe por
consequência atribuídas um baixo valor heurístico. Faleiros (1997) procede a uma crítica de
alguns modelos de pesquisa, designadamente à pesquisa avaliativa, e à discussão das alternativas
metodológicas destacando sobretudo o papel da construção teórica, do pensamento crítico
e da necessidade de procura de métodos de pesquisa mais adequados à investigação em
Serviço Social ressaltando as possibilidades da investigação qualitativa e particularmente do
método biográfico. Miryan Baptista (2001) desenvolve uma reflexão sobre a investigação na
prática profissional abordando as questões da relação entre característica interventiva da
acção profissional e cientificidade, bem como das particularidades da investigação na prática
profissional do Assistente Social. O ensaio da autora convoca-nos assim para um debate
necessário, central mesmo, sobre as relações entre conhecimento e acção na pesquisa em
Serviço Social.
A este respeito é útil recuperar igualmente a contribuição de Lionel-Groulx (1994) sobre as
teses em presença a este respeito. Segundo o autor podem identificar-se três visões principais
sobre a relação entre conhecimento e acção em Serviço Social: 1) a tese de homologia ou de
identidade, 2) a tese de irredutibilidade ou de oposição e 3) a tese de aliança. E como Groulx
sublinha
A ausência de unanimidade sobre esta matéria não se reduz a uma simples questão técnica, mas
reenvia para a resolução de questões mais amplas relativas ao estatuto e validade dos conhecimentos
engendrados pela investigação e pela prática. Cada uma dessas teses dá uma resposta diferente e
Locus SOCI@L 1/2008: 52
divergente sobre o sentido e os usos da investigação e da sua relação com a prática (Lionel- Groulx,
1994: 35)
A tese da homologia equipara os processos de intervenção e investigação, fazendo coincidir
os momentos e operações da prática e da investigação e foi sustentada designadamente por
Eaton em 1959 e retomada por Ouellet-Dubé em 1979 (cf. Lionel-Groulx, 1994: 36-38).
A tese da oposição é suscitada a partir do final dos anos 70 pelos trabalhos de Simpson e
também de Tripodi e Epstein em 1978, apoiados em pesquisas junto dos interventores sobre
a utilização dos conhecimentos produzidos pela investigação, sustentando a existência de
visões, culturas e racionalidades irreconciliáveis entre os interventores (centrados na acção) e
os investigadores (centrados no conhecimento) (cf. Lionel-Groulx, 1994: 38-42)
Esta prioridade dada à acção conduz, no interventor, a uma atitude pragmática que se constrói
pela acumulação da sua experiência pessoal e directa [...]. Nestas circunstâncias, este é conduzido a
acentuar a experiência vivida e o carácter indeterminado da acção, a fim de regular os casos concretos
e as práticas que se lhe apresentam (Friedson, 1984, citado por Lionel- Groulx, 1994: 39)
A tese da aliança afirmou-se nos anos 80, procurando superar a óptica bipolar e apelando
antes a uma aliança entre conhecimento e acção, dando lugar, designadamente, a duas novas
orientações: a investição-acção e o modelo do interventor-investigador. Trata-se no entanto de
dois modelos significativamente distintos. Enquanto o modelo da investigação-acção aspira
operar uma ruptura com a concepção tradicional da pesquisa, visando construir modelos da
prática a partir da acção e do processo de intervenção, assentando no estatuto epistémico
da experiência, o modelo do interventor-investigador postula que a prática de intervenção
deve submenter-se à racionalidade científica convencional visando, a partir da prática como
base empírica, uma validação dos conhecimentos e modelos de intervenção, na linha da
actualmente designada “evidence-based practice”.
É na linha desta tese da aliança que temos vindo a sustentar que, na formação inicial em
Serviço Social, importa estimular e apoiar o trabalho de estudo e investigação de problemas
e questões suscitadas no contexto da intervenção em Serviço Social nos diferentes campos de
exercício profissional. Sem prejuízo de outras orientações metodológicas, entendemos dever
ser privilegiadas as estratégias de estudo e investigação que procuram uma articulação fecunda
entre conhecimento e acção, dando por isso primazia a projectos filiados nos modelos de
investigação-acção e modelos designados de “interventor-investigador” (cf. Groulx, 1994),
nos modelos “research-minded practitioner” (cf. Everitt et al, 1992) e às estratégias indutivas
e abdutivas de pesquisa (cf. Blaikie, 2000).
Tal não significa no entanto que sejam necessária ou exclusivamente considerados os
modelos de investigação genericamente designados de investigação-acção. Considera-se antes
que, na actual fase de quase-ausência de debate científico, no qual as questões de ordem
epistemológica sobre a produção de conhecimento em Serviço Social têm estado pouco
presentes, deve privilegiar-se o princípio da abertura e pluralidade metodológica, enfatizando
sobretudo que a selecção das questões de investigação deve ter por base os problemas e
interrogações suscitadas pela intervenção, pelos contextos da acção, e que a escolha das
orientações e estratégias metodológicas deve ser feita na base de uma escolha informada sobre
os pressupostos ontológicos e epistemológicos que lhes estão subjacentes e ponderados os
aspectos de exequibilidade dos respectivos projectos.
Nestes termos pode estabelecer-se um conjunto não unívoco de articulações entre instâncias
curriculares dedicadas à Investigação e à Intervenção – estágio, dando origem a projectos com
diferentes tipos de orientação através de diferentes combinatórias entre a orientação geral da
investigação e os contextos da sua realização, sem prejuízo naturalmente da consideração de
diferentes estratégias metodológicas de investigação.
Locus SOCI@L 1/2008: 53
III. Formação Pós-Graduada e Investigação em Serviço Social em
Portugal
7
A formação pós-graduada inscreve-se na estratégia de desenvolvimento profissional e académico
do Serviço Social em Portugal, orientada, desde a restauração do regime democrático em
Portugal (Abril de 1974), por dois desígnios centrais: a integração da formação em Serviço
Social no ensino superior público e o reconhecimento do nível universitário desta formação
consubstanciado na atribuição do grau académico de licenciatura aos diplomados em Serviço
Social. Assim, desde designadamente o início dos anos 80 do sec. XX, o Instituto Superior de
Serviço Social de Lisboa desenvolveu um conjunto de esforços tendentes ao início da formação
pós-graduada, ao nível de mestrado e doutoramento, como programas de qualificação de
docentes e formação de investigadores, requisitos essenciais à afirmação académica e
desenvolvimento científico do Serviço Social.
Na sequência dos esforços empreendidos inicia-se, em Fevereiro de 1987, o I Programa de
Mestrado em Serviço Social ao abrigo de um Protocolo de Cooperação Científica com a
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o qual conheceria várias edições.
Em Junho de 1996, vem a ser criado, em termos semelhantes, o Programa Especial de
Doutoramento em Serviço Social.
Dando seguimento ao processo de reconhecimento da Licenciatura em Serviço Social
(1989), em 1995 são criados os primeiros programas de Mestrado em Serviço Social, da
responsabilidade de instituições de ensino portuguesas: Institutos Superiores de Serviço Social
de Lisboa e do Porto.
Actualmente, existem em Portugal 7 programas de Mestrado e 2 programas de Doutoramento
em Serviço Social8.
Figura 3: Programas de Pós-graduação Académica em Serviço Social em Portugal (2007/2008) 9
Programas de Mestrado em Serviço Social
Programas de Doutoramento em Serviço Social
- Universidade Lusíada (iniciado no ISSSL em 1995)a
- Universidade Católica Portuguesa – Lisboa (2003)
- Instituto Superior de Serviço Social do Porto (1995)
- ISCTE (2004) (em cooperação com o ISSSL)
- Instituto Superior Miguel Torga (2000)
- Universidade Católica Portuguesa - Lisboa (2003)
- Universidade Católica Portuguesa - Braga (2006)
- Universidade Lusófona T. Humanidades (2007)
- Universidade Fernando Pessoa (2007)b
a
Em 2006 registou-se a transmissão dos cursos ministrados no Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa para a
Universidade Lusíada
b
Por adequação ao Processo de Bolonha do Mestrado em Trabalho Social (2003)
A criação destes programas de pós-graduação, a nível de Mestrado e de Doutoramento abre
novas perspectivas para a questão dos dispositivos de investigação e difusão do conhecimento
na agenda do Serviço Social em Portugal. Em tese a sua consolidação poderá vir a traduzir-se
num vector relevante do desenvolvimento académico do Serviço Social no nosso país, mas
os resultados não são imanentes. Dito de outro modo, não pode ser ignorado que a oferta
Locus SOCI@L 1/2008: 54
destes cursos e programas se enquadra na dinâmica do mercado da educação superior em
Portugal, num quadro de significativa desregulação, pelo que a sua existência não se traduz
necessária e automaticamente em inputs de qualidade e crescimento científico da área e pode
criar problemas sérios de sustentação designadamente ao nível do Doutoramento 10.
Apesar do carácter relativamente recente dos programas de 2º e 3º ciclo em Serviço Social em
Portugal, é particularmente pertinente a análise da investigação neste contexto uma vez que a
pesquisa nesta área se tem feito sobretudo neste âmbito, dado o reduzido número e o carácter
recente e embrionário da maioria das unidades de pesquisa dedicadas a esta área de saber.
O material analisado11 permitiu extrair dados significativos, quer quanto ao perfil dos autores
dos trabalhos, quer quanto às temáticas e objectos de investigação, quer ainda quanto ao
grau de socialização do conhecimento produzido.
Do predomínio dos docentes à baixa capilaridade da relação com o mundo
profissional
Os trabalhos produzidos no âmbito dos cursos de mestrado e doutoramento em Serviço
Social, no período em análise, são em 83% (48) da autoria de docentes das unidades de
ensino da área e apenas 26% (17) foram realizados por profissionais sem relação com a
actividade docente. Observa-se no entanto que, designadamente nos cursos de mestrado mais
recentes, se regista uma tendência de inversão predominando mais recentemente os autores
exteriores à docência e investigação académica. Estes resultados, relativamente expectáveis
dada a natureza diversa das carreiras académica e profissional dos Assistentes Sociais, revelam
a dificuldade dos cursos de pós-graduação académica em Portugal atraírem e estabeleceram
uma maior capilaridade com o mundo profissional. Naturalmente que se torna relevante
observar o impacte neste padrão dos cursos que se iniciaram depois de 2003 e particularmente
os cursos realizados após a reforma introduzida pelo Processo de Bolonha, que produziu,
pelo menos numa primeira fase, uma procura acrescida dos cursos de mestrado em Serviço
Social. Note-se no entanto que, à luz da reforma de Bolonha, os cursos de mestrado mudam
significativamente o seu perfil, relativizando-se o peso da investigação científica entendida na
sua formatação mais clássica.
Da preponderância da investigação em Políticas Sociais à baixa densidade da produção
de um saber disciplinar em Serviço Social
A análise dos trabalhos de investigação realizados no âmbito dos programas de pós-graduação
em Serviço Social no universo temporal que medeia desde a sua criação até ao ano de 2003,
revela que os eixos temáticos dos projectos de investigação se podem agrupar em torno de
duas grandes linhas de concentração, a área das Políticas Sociais e a área do Serviço Social
propriamente dita. No universo abrangido, 42 (63,6 %) projectos privilegiam temáticas no
âmbito das políticas sociais, enquanto que 24 (36,4 %) adoptaram como campo de investigação
temáticas relativas ao Serviço Social enquanto disciplina e profissão.
A tabela 1, permite observar que na linha de concentração de Política Social a maioria dos
projectos (21: 31,8 %) se reportam a campos específicos como a políticas de velhice, de
protecção de crianças e jovens e da saúde, designadamente. As problemáticas mais gerais da
política social na actualidade e campos emergentes neste domínio representam 9 projectos
(13,6 %) e 7 (10,6 %) respectivamente. No domínio do Serviço Social a preponderância dos
projectos relativos à história do Serviço Social é claramente expressa através de 11 dos estudos
(16,7 %), representando a pesquisa sobre o Serviço Social em campos específicos de actividade
12,1 % (8) e outros projectos 7,6 % (5).
Locus SOCI@L 1/2008: 55
Tabela 1: Eixos Temáticos da Pesquisa de Pós-Graduação em Serviço Social em Portugal, 1990-2003
Temas
Sub -Tema
Política de Assistência Social e de
Mínimos Sociais
Política de Assistência Social em Portugal
2
Regimes de Assistência, Acção Social e RMG
2
Políticas Luta contra Pobreza
1
Solidariedades e Políticas Sociais
5
4
Descentralização e Políticas Sociais
1
Parcerias e Políticas Sociais
2
Associativismo, Análise Organizacional e
Participação
2
POLÍTICAS SOCIAIS E SOCIEDADE
Política Social: Solidariedade,
Descentralização e Parcerias
Campos Específicos
Campos Emergentes
Nº
Velhice e Protecção Social / Serviços Sociais
9
5
Protecção & Maus Tratos de Crianças e Jovens
5
Desemprego e Políticas de Emprego e Formação
Profissional
Políticas de Habitação
2
Saúde, Doença e Sociedade
5
Sinistralidade e Protecção Social
1
Apoio social ao retorno de emigrantes
1
Violência sexual
SERVIÇO SOCIAL: HISTÓRIA, CAMPOS DE PRÁTICA E DEBATES
7,6
13,6
2
21
1
Estudos femininos e questões de género
2
Grupos Étnicos, Etnicidade e Género
2
Novas tecnologias informação
1
Suicídio e Adolescência
1
7
42
História e Serviço Social em Portugal
%
Génese, Institucionalização e Formação
Académica
Serviço Social e Contemporaneidade
4
Serviço Social, Profissionalização e
4
31,8
10,6
63,6
2
Representações Sociais
Associativismo Profissional
Serviços Sociais em Campos Específicos Serviço Social Hospitalar
Serviço Social: Outros Campos e
Debates
1
11
2
16,7
Serviço Social na Habitação
1
Serviço Social e Educação
2
Serviço Social Autárquico
1
Serviço Social nas Organizações
1
Trabalho Comunitário
1
Mediação em Serviço Social
8 12,1
2
Poder na Prática Profissional AS
1
Democracia Local e Movimentos Sociais
2
5
24
Fonte: Rodrigues, F e Branco, F (2003). A Formação Pós - Graduada e a Construção do Conhecimento em Serviço Social.
Congresso RNESS
Locus SOCI@L 1/2008: 56
7,6
36,4
Os resultados observados suscitam diferentes linhas de análise e reflexão sobre a investigação
em Serviço Social no âmbito da pós-graduação em Portugal.
Num primeiro plano, observa-se a preponderância da investigação em Políticas Sociais e
uma baixa densidade da produção de um saber disciplinar em Serviço Social. Sem prejuízo
de outras dimensões de análise a considerar, deve-se sublinhar que esta linha de força é
particularmente crítica para o desenvolvimento científico e afirmação académica do Serviço
Social como disciplina, uma vez que o potencial de pesquisa tem sido disperso e focalizado em
áreas de indiscutível relevância social, mas que não subsidiam, mais directamente, a produção
de conhecimento pertinente para a construção e aprofundamento dos saberes disciplinares.
Naturalmente que os projectos de pesquisa realizados em diferentes domínios das políticas
sociais podem contribuir para afirmar os assistentes sociais como cientistas sociais, num
campo mais amplo que o do próprio Serviço Social, aspecto sem dúvida relevante mas que nas
circunstâncias observadas tem como contraponto um mais frágil investimento em objectos
mais centrados no próprio campo disciplinar. Ora, o processo de desenvolvimento académico
e profissional do Serviço Social, inicial e não suficientemente consolidado, pareceria requerer
uma outra dinâmica de produção de conhecimento e investigação. Trata-se no nosso ponto
de vista, do Serviço Social participar daquilo que Groulx designou um “processo mais largo
de academização disciplinar do serviço social [...] e que pode ser interpretado como uma
estratégia de legitimação intelectual no campo propriamente universitário” (Groulx, 1993,
citado por Kérisit, 2007).
Num segundo plano de análise, regista-se de alguma forma, no que respeita mais especificamente
ao domínio do Serviço Social, uma reduzida presença de projectos mais centrados nos debates
teóricos e metodológicos, ainda que se deva sublinhar que o trabalho até agora realizado de
análise do corpus empírico considerado não permite extrair conclusões muito aprofundadas
sobre esta matéria. De qualquer forma, observa-se um maior número de projectos no âmbito
da investigação da história e/ou formação e também da profissionalização, a par de uma
relativa dispersão dos campos de investigação.
Num terceiro plano, estes resultados suscitam igualmente a importante questão da política
científica do Serviço Social em Portugal e mais especificamente a da definição pelos diferentes
programas de pós-graduação de áreas de concentração da investigação, nas quais o campo
disciplinar específico não pode deixar de ser nuclear, sem prejuízo, como se observou no
período estudado, de o processo de produção de conhecimento ser mais decorrente de
lógicas particularistas e de investigadores isolados do que de uma política de desenvolvimento
científico da área. Naturalmente que uma política de investigação científica em Serviço Social
não se decreta e envolve aspectos complexos e sensíveis, designadamente quanto à conciliação
entre os interesses de investigação dos formandos individualmente considerados e as linhas
de concentração estabelecidas ou a estabelecer pelos diferentes programas, mas não pode no
entanto deixar de estar no centro da agenda do desenvolvimento académico e científico do
Serviço Social em Portugal.
Da presumível relevância social à baixa difusão e socialização do conhecimento
A análise dos eixos temáticos privilegiados pelos projectos de pesquisa no âmbito da pósgraduação em Serviço Social em Portugal evidencia o interesse do campo das políticas sociais,
dos seus campos e problemáticas, bem como da sua dinâmica no contexto actual marcado
por uma vincada reorientação e transformação. Para além do seu interesse específico para
o Serviço Social, a que mais adiante se retornará, importa sublinhar a relevância social dos
campos e problemáticas que concitam o labor investigativo dos pesquisadores e profissionais
Locus SOCI@L 1/2008: 57
Locus SOCI@L 1/2008: 58
- Unidade orgânica
Universidade Lusíada
- Unidade orgânica
Universidade Lusófona
Centro Lusíada de Investigação
em Serviço Social e Intervenção
Social – CLISSIS (2007)
Centro de Investigação em
Serviço Social no Espaço
Lusófono - CISSEL (2007)
- Serviço Social: Teorias e
Práticas
- Sociedade do conhecimento,
mutações do social e serviço
social
- Desenvolvimento, avaliação,
metodologias e estratégias de
intervenção e serviço social
- Políticas públicas, bem-estar
social e organizações sociais
- Serviço Social, Políticas Sociais
e Ciências
(9 linhas de investigação)
- Serviço Social e Sociedade
- Políticas Sociais e Sociedade
- N.D.
Research Groups / Linhas de
pesquisa
- N.D.
Fonte: informação institucional das unidades de investigação
Legenda: N.D. — informação institucional não disponível
Notas: (1) Não foram consideradas as edições que poderão ter sido já publicadas pelas diferentes unidades
- Unidade orgânica Instituto
Superior de Serviço Social do
Porto
Centro de Investigação em
Ciências do Serviço Social
(2003)
- Associação não lucrativa não
integrada em unidade de ensino
Centro de Investigação em
Serviço Social e Estudos
Interdisciplinares - CISSEI (N.D.)
- Unidade orgânica
Universidade Católica
- Candidata a Unidade I&D
junto FCT (2007-2010)
- Associação não lucrativa não
integrada em unidade de ensino
- Unidade I&D junto FCT (20032006)
Centro Português de História
e Trabalho Social - CPIHTS
(1993)
Centro de Estudos de Serviço
Social e Sociologia – CESSS
(2003)
Natureza e Inserção
Unidades de Investigação
- Sem estatuto I&D
- Candidatura a Unidade I&D
(2007-2010)
- Sem estatuto de I&D
- Candidatura a Unidade I&D
(2007-2010)
- Sem estatuto de I&D
- Estatuto Unidade I&D (20032006)
Integração com Agências
Investigação Científica
Figura 4: Unidades de Investigação em Serviço Social formalmente constituídas em Portugal, 2008
- Sem sítio na internet
- Sítio na internet
- Revista Intervenção Social, do
ISSS-UL
- Sítio na internet
- Sítio na internet
- Revista online (2008)
- Sem sítio na internet
Veículos de divulgação e
difusão científica (1)
- Sítio da internet
de Serviço Social. Como a tabela 1 ilustra, trata-se de um vasto leque de domínios para cujo
estudo os assistentes sociais e docentes pós-graduandos se encontram particularmente bem
situados, pela sua reconhecida proximidade e imersão no campo e que atestam igualmente
o nível de interlocução do Serviço Social com a sociedade, carreando para a sociedade em
geral, e para a comunidade científica em particular, conhecimento sobre um significativo
conjunto de questões sociais com implicações para o que Sposati designou de agenda da
justiça social (Sposati, 2007). Refira-se aliás, que esta mesma preocupação com as questões e
políticas sociais é igualmente observável na trajectória da pesquisa em Serviço Social noutros
países. Como assinala Kérisit , reportando-se Quebeque, “se existe um ponto comum entre
as pesquisas passadas e actuais em serviço social, é a sua vontade de alcançar resultados
susceptíveis de conduzir à acção, de melhorar a situação em que se encontra um indivíduo ou
um grupo vulnerável (Kérisit, 2007: 270).
No entanto, mesmo com prejuízo da análise da qualidade e rigor dos trabalhos produzidos,
admitindo-se uma boa qualidade média, um fortíssimo constrangimento limita profundamente
o impacte social do conhecimento produzido, uma vez que se regista uma reduzida difusão
e socialização deste acumulo de conhecimento sobre a realidade social portuguesa e sobre
as políticas sociais em Portugal. Na verdade a pesquisa empírica realizada revela que apenas
3 teses de doutoramento e 10 dissertações de mestrado foram publicadas até 2003, o que
representa aproximadamente 20% do universo. Acresce ainda que, de um modo geral, as
edições, com apenas uma excepção, foram publicadas por editoras sem peso no mercado
editorial português, o que limitou consideravelmente a sua difusão fora do universo profissional
mais estrito.
IV. A pesquisa em Serviço Social organizada em centros de
investigação: situação e desafios
Na análise da investigação em Serviço Social em Portugal importa igualmente ter em consideração
a situação da pesquisa organizada em centros de investigação, os desafios enfrentados e as
perspectivas que se abrem a esta componente nuclear do seu desenvolvimento.
A informação sistematizada na figura 4, compilada a partir da informação institucional
disponível, permite traçar um retrato geral do universo destas unidades.
Como se pode observar, a constituição destas unidades ocorre, se exceptuarmos o CPIHTS
(fundado em 1993), nos anos mais recentes (2 em 2003 e 2 em 2007).
No que se refere à actividade científica esta é ainda embrionária ou inicial, com excepção
do CPIHTS que apresenta um relevante conjunto de trabalhos na área e designadamente no
domínio da pesquisa histórica em Serviço Social12. No panorama actual merece igualmente
menção a actividade do CESSS, que apesar da sua juventude, apresenta, comparativamente,
um currículo muito positivo sobretudo no âmbito da avaliação de projectos e políticas sociais,
mas também no domínio específico do Serviço Social13.
No plano institucional da política científica não existem actualmente centros de investigação
em Serviço Social reconhecidos como unidades de investigação e desenvolvimento junto
da FCT, ainda que o CPIHTS tenha sido o primeiro centro de Serviço Social em Portugal a
gozar desse estatuto (período 2000/2006) e o CESSS tenha apresentado recentemente a sua
candidatura a unidade de I&D para o período de 2007/2010.
Assim, emergem como traços essenciais da situação actual o carácter tardio da organização
da investigação em Serviço Social em centros de estudos, o carácter embrionário da actividade
Locus SOCI@L 1/2008: 59
da maioria das unidades de pesquisa dedicadas a esta área de saber e a baixa integração
institucional com as agências de suporte à política científica e o “mundo da ciência”.
Num outro plano de análise, a informação institucional disponível e o conhecimento directo
do campo permitem sustentar que a política científica das unidades se encontra ainda numa
fase inicial de definição, ainda que os dados recolhidos possibilitem observar que os centros
de investigação mais recentes, por coincidência os que apresentam uma inserção académica
universitária, definiram já as suas grandes linhas de investigação as quais anunciam um
desígnio, positivo, de concentração da produção de saberes com relevância disciplinar.
O quadro de desenvolvimento das unidades de investigação em Serviço Social em Portugal é
particularmente complexo, se se atentar na dinâmica do mercado de ensino superior de Serviço
Social, nas orientações da política científica no nosso país e nas idiossincrasias da área.
No primeiro plano, como se tem assinalado, observou-se um processo de crescimento quase
exponencial da oferta de formação no primeiro ciclo, dinâmica que se tende agora a transmitir
ao 2º ciclo (mestrado) e 3º ciclo (doutoramento). Daqui decorreu, como era normal, numa
lógica de estruturação das respectivas fileiras, a criação de diferentes unidades de investigação,
correspondendo aliás, num plano ideal, a um importante enriquecimento académico do Serviço
Social e a uma necessidade há muito manifestada. No entanto, no reverso desta dinâmica
revelam-se como pontos críticos, ao menos no horizonte mediato, quer a dispersão da massa
crítica em Serviço Social, quer as dificuldades de sustentabilidade, no seu figurino presente,
dos diversos programas de doutoramento existentes e anunciados.
Ao mesmo tempo, outro forte constrangimento decorre do facto da comunidade científica do
Serviço Social, que hoje se estrutura em torno dos programas de pós-graduação (cf. figura 3 e
respectivas notas), e centros de investigação referenciados, não estar articulada em rede, não
ocorrendo a cooperação e partilha de projectos entre pesquisadores.
Na actual fase, a lógica instalada é de reforço e desenvolvimento endógeno das várias unidades
e programas. Orientação expectável, inteiramente legítima e natural face ao processo de
desenvolvimento académico ocorrido, mas em contra-ciclo com a política de I&D das agências
portuguesas, que postula cada vez mais uma lógica de concentração e fusão dos centros
e unidades de investigação e privilegia as unidades de grande dimensão na sua política de
financiamento plurianual. Acresce ainda como altamente relevante o facto de, em Portugal, o
Serviço Social não constituir um domínio científico reconhecido pelas agências científicas.
Neste contexto, a investigação em Serviço Social, no que se refere aos seus centros de investigação,
encontra-se confrontada com complexos desafios, nomeadamente o da conciliação do
crescimento e afirmação das suas unidades emergentes com a agenda da política científica
pautada pela concentração.
Vários são os cenários que podem ser traçados. Uma hipótese poderá passar pela inscrição
dos centros actualmente existentes em unidades de vocação disciplinar mais ampla no domínio
das Ciências Sociais no quadro das respectivas universidades de pertença, o que permitiria
provavelmente o acesso dos centros de Serviço Social ao financiamento plurianual que se
apresenta crucial para o seu crescimento e consolidação. Como reverso existirá o risco de
diluição da investigação de orientação mais vincadamente disciplinar e maior auto-fechamento
das diferentes unidades. Um outro cenário poderá consistir na cooperação institucional e
programática entre vários centros de investigação, em modalidades mais fortes ou mais fluidas,
que favoreçam a convergência de esforços e a criação de comunidade(s) científica(s) e que
possam eventualmente servir de base para a constituição de formas federativas. Este modelo
teria como principal vantagem o fortalecimento da produção científica disciplinar na área
do Serviço Social e o poder negocial da(s) sua(s) comunidade(s) científica(s). Naturalmente
Locus SOCI@L 1/2008: 60
que o futuro imediato poderá ser determinado pelo prolongamento da dinâmica actual, pela
inércia gerada pela fase nascente e de institucionalização que se regista, ainda que, como se
observou, vários e significativos sejam os riscos e ameaças.
IV. Conclusão: contributos para uma agenda da Investigação em
Serviço Social em Portugal
A análise ensaiada permitiu traçar uma visão geral da investigação em Serviço Social, nas suas
características mais salientes, desafios e perspectivas de desenvolvimento, considerando quer
a questão da investigação no plano da formação inicial em Serviço Social, quer no domínio da
pós-graduação académica, quer ainda da pesquisa organizada em centros de investigação.
Da abordagem realizada podem extrair-se vários pontos relevantes para uma agenda da
investigação em Serviço Social em Portugal.
Assim, parece de particular relevância proceder a um estudo mais aprofundado do lugar,
concepções e práticas da investigação na formação inicial em Serviço Social, tendo em conta
quer o projecto de formação que pautou o processo tendente à obtenção do reconhecimento da
licenciatura em Serviço Social em Portugal, quer os efeitos da desregulação da oferta nesta área,
quer ainda da reforma de Bolonha. Neste domínio parece essencial um debate aprofundado
sobre a inscrição da investigação em Serviço Social nos diferentes paradigmas da investigação
(Denzin e Lincoln, 2003) em especial articulação com os modelos de conceptualização das
relações entre conhecimento e acção (Groulx, 1994).
Noutro plano, é igualmente nuclear o debate teórico sobre as grandes áreas de concentração
da pesquisa e das suas relações conceptuais. Um debate contextualizado na fase actual de
desenvolvimento académico do Serviço Social em Portugal, nos traços identitários da profissão
e do lugar que neles ocupam a pesquisa e, também, na pluralidade possível dos projectos
profissionais do Serviço Social no nosso país (cf. Rodrigues e Branco, 2008).
Outro ponto central da agenda, no contexto actual de institucionalização da investigação
académica em Serviço Social, caracterizada pela instalação e afirmação de diferentes
unidades de pesquisa, respeita à necessidade da adopção de iniciativas que contrabalancem o
isolamento e fragmentação existente entre as diferentes estruturas organizadas de investigação
e favoreçam o debate sobre as estratégias de desenvolvimento da investigação social no quadro
da actual política científica em Portugal, marcada pelo paradigma das grandes unidades de
I&D e uma lógica de concentração e fusão entre centros e unidades. A discussão e adopção
de modalidades de cooperação e articulação entre investigadores e unidades, quer através de
parcerias institucionalizadas, quer de participação em redes e /ou projectos conjuntos, surgem
assim com uma particular acuidade.
Num plano autónomo, mas com estreita implicação para o desenvolvimento da investigação
científica em Portugal, importa debater as perspectivas de sustentabilidade de programas
de doutoramento em Serviço Social, sem o que será altamente crítico o crescimento e
fortalecimento da sua massa crítica.
Numa dimensão mais específica, surge como particularmente relevante a questão da difusão
e socialização da investigação em Serviço Social, para o que se torna necessário a adopção de
estratégias e plataformas ajustadas às tendências observadas neste domínio particular.
Referências
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Locus SOCI@L 1/2008: 61
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Sposati, Aldaíza (2007). Pesquisa e produção de conhecimento no campo do serviço social. Revista Kátalisys, 10
(especial):15-25.
Notas
O projecto de formação que enformou o processo tendente à Licenciatura em Serviço Social concebeu a investigação
como componente constitutiva da formação inicial do Assistente Social, a par da formação teórica, da formação
técnica e da formação experiencial em contexto de trabalho. Trata-se de elementos estruturantes de um perfil que
requer um saber profissional complexo (cf. Branco, 2008: 27).
1
2
Sobre esta matéria veja-se (Branco, 2005: 165-186).
3
Sobre esta matéria veja-se (Martins, 2008)
4
Faleiros (1997), reportando-se ao Brasil, sustenta, o facto de que os Assistentes Sociais brasileiros embora
declarando uma elevada consideração pela investigação, não fazem pesquisa, não lêem e estudam pesquisa e
rejeitam as pesquisas que comportam críticas ou resultados negativos para a sua prática.
5
Caracterizado como a “atitude voltada para a solução de problemas imediatos, sem pensar e reflectir as
consequências teóricas e históricas desta acção imediata” (Faleiros,1997:164).
Locus SOCI@L 1/2008: 62
6
Cf. designadamente, Branco (2004), “Unidade Curricular de Investigação em Serviço Social”, ISSSL (não
publicado).
7
Este ponto do artigo retoma parte do trabalho (Rodrigues e Branco, 2008) dedicado exactamente à análise da
investigação em Serviço Social em Portugal na perspectiva pós-graduação no período 1990-2003.
8
O Instituto Superior de Serviço Social do Porto, em cooperação com Universidade do Porto, tem em
funcionamento desde 2003, um Programa de Doutoramento e Mestrado em Ciências do Serviço Social, orientação
que não se enquadra na tradição e parâmetros correntes dos programas de pós-graduação em Serviço Social a
nível internacional
9
Foram anunciados para 2008/09 o Mestrado em Serviço Social no ISCTE e na Universidade Católica Portuguesa
– Viseu e o Doutoramento em Serviço Social na Universidade Lusíada.
10
A título comparativo note-se que no Brasil existiam em 2004, 16 programas de Mestrado (10 PT) e 8 de
Doutoramento (3 PT), para uma proporção de 1para 10 no número de profissionais. (cf. Iamamoto, 2004).
11
O corpus da investigação realizada abarca o universo temporal de 1990 a 2003 11 (13 anos) e é constituído por
66 trabalhos, sendo 55 dissertações de mestrado e 10 de doutoramento. São abrangidos cursos de Mestrado e/ou
Doutoramento na PUC/SP, ISSSL, ISSSP, ISMT, para além de outras Universidades Europeias (Holanda e Suíça).
12
Para uma visão detalhada da actividade do CPHITS veja-se a comunicação de Alcina Martins neste seminário
(Martins, 2008).
13
Cf. súmula da actividade do CESSS, no sítio da internet do centro http://homepage.mac.com/fbranco/CESSS.
Locus SOCI@L 1/2008: 63
Locus SOCI@L 1/2008: 65-80
Os campos paradigmáticos do
Serviço Social: proposta para uma
categorização das teorias em
presença
1
Maria Inês Amaro
Centro de Estudos de Serviço Social e Sociologia
Faculdade de Ciências Humanas – Universidade Católica Portuguesa
[email protected]
Resumo
O presente artigo prossegue um objectivo de compreensão e sistematização da informação sobre o que pode ser
entendido como “as teorias do Serviço Social”. Com esse propósito faz-se uma proposta de categorização de
quatro campos paradigmáticos em Serviço Social: funcionalismo, interpretativismo, estruturalismo e humanismo.
A partir desta grelha inscrevem-se e analisam-se as teorias do Serviço Social, com destaque para o Serviço Social
estrutural e crítico.
Apresenta-se por fim a teoria da correlação de forças como uma abordagem ao Serviço Social que tenta superar as
dicotomias da acção/estrutura e da ordem/conflito.
Abstract
This article aims at understanding and gathering information of what is meant by “theories of Social Work”. To
this purpose four paradigmatic fields are proposed: functionalism, interpretativism, structuralism and humanism.
Under this framework the theories of Social Work are analyzed and categorized with emphasis on structural and
critical Social Work.
The theory of strengths correlation is put forward as an approach to Social Work which aims to surpass the action/
structure and order/conflict dichotomies.
Introdução
Palavras Chave
Teorias do Serviço
Social, Serviço
Social estrutural,
Serviço Social
crítico, Teoria da
correlação de forças
...
Key Words
Social Work
Theories,
Structural
Social Work,
Critical Social
Work,Theory
of strengths
correlation
O presente artigo prossegue um objectivo de compreensão e sistematização da informação
sobre o que pode ser entendido como “as teorias do Serviço Social”. Em concordância com
Payne (2001), considera-se que a identificação de uma área específica de saberes é um
contributo fundamental para a ocupação de um espaço de jurisdição/expertise e a definição
de uma identidade própria da profissão.2
Efectivamente, se o papel das teorias no Serviço Social é o de orientar, procurar e construir
conhecimentos conduzidos crítica e reflexivamente, não se esgota neste domínio e constitui-se
como pedra de toque da construção da identidade profissional, entendida como a busca de
uma racionalidade crítica e reflexiva que permita a construção epistemológica do que lhe é
próprio e específico (Restrepo, 2003: 21-45).
A dificuldade do desafio colocado advém, desde logo, da própria “estrutura sincrética do
Serviço Social” (Netto, 2001 [1992]). Este sincretismo resulta, por sua vez, do próprio duplo
estatuto do Serviço Social, enquanto campo teórico e prático-profissional. Estamos, então,
perante uma disciplina cruzada de diferentes problemáticas, diferentes horizontes para a prática
e diferentes abordagens teóricas, ao mesmo tempo que combina conhecimentos teóricos com
empíricos e técnicos e se posiciona politicamente frente à chamada “questão social”.
Neste propósito não se obedeceu a um critério de exaustividade, mas antes de significância e
compreensividade da produção teórica deste campo disciplinar. Assim, muitas aproximações
teóricas ficaram, certamente, fora desta análise, o que não significa que não caibam dentro dos
campos paradigmáticos propostos. Com efeito, considera-se que a categorização proposta
é suficientemente abrangente para albergar as diferentes perspectivas teóricas existentes no
Locus SOCI@L 1/2008: 65
Serviço Social.
Vale a pena, no entanto, ressalvar que a base de conhecimentos de todas as profissões está,
por um lado, em permanente mudança e construção e, por outro, numa interacção constante
com outros campos profissionais (Payne, 2001: 45). Neste ponto o Serviço Social não constitui
excepção e, por isso, não se revela profícua qualquer tentativa de delimitação rígida e inflexível
do seu campo de saberes. Pelo contrário, o Serviço Social ganhará se souber incorporar no seu
campo de saberes contributos que vêm de outras áreas de produção científica.
O carácter imprescindível da multidisciplinaridade não invalida, porém, que se identifique
uma área específica de saber em Serviço Social e que, nesse âmbito, se situem as chamadas
“teorias do Serviço Social”.
Assim, não deixando de fazer jus aos contributos dos autores referenciados, a análise e
sistematização da informação em seguida apresentada constitui uma proposta da autora para
a reflexão destas questões.
1 – Dificuldade de pensar as teorias do Serviço Social
O Serviço Social, como disciplina que encontra a sua legitimação, reconhecimento e justificação
na prática profissional, continua a procurar a sua identidade científica, o seu espaço no âmbito
das Ciências Sociais e a sua especificidade na produção de conhecimentos teóricos.
Se tomarmos como acto fundacional da profissão a publicação do Diagnóstico Social, de
Mary Richmond, em 1917, concluímos que 90 anos não foram suficientes para estabilizar essa
identidade científica e segurança intelectual na produção de saberes e na conceptualização da
realidade social e da intervenção sobre essa realidade.3
Parece que a preocupação central dos fundadores deste campo profissional foi a de definir um
campo de acção e estabelecer um conjunto de procedimentos organizados e racionais para a
intervenção social. Com efeito, ao contrário de tantas outras disciplinas teóricas do campo das
Ciências Sociais, o Serviço Social é permanentemente confrontado com a pressão da resolução
de problemas reais, que afectam indivíduos/populações e que influenciam o funcionamento da
sociedade – é essa a sua natureza profissional e na sua finalidade são evidentes os propósitos
de mudança, ou pelo menos de intervenção, societal.
Esta centralidade do fazer tem remetido para um segundo plano a importância do saber e
do pensamento nesta disciplina. Para tal situação contribuiu, certamente, a dominância de
que as ideias de neutralidade, distanciamento, objectividade e ruptura amplamente gozaram,
e em alguns cânones ainda gozam, em todo o período de afirmação e desenvolvimento das
ciências sociais. São estas ideias que estão na base da irreconciliabilidade do pensar com o
agir e da teoria com a prática. Deste ponto de vista, a produção científica deve sempre evitar
a “contaminação” trazida pelo contacto profundo com a realidade, tal como ela é sentida e
afecta os indivíduos.
É com base neste tipo de racionalidade que surgem visões do Serviço Social como um campo
de aplicação e execução de procedimentos ou conhecimentos emanados de outras sedes. O
Serviço Social encaixaria na secção das disciplinas da prática sem qualquer expectativa de
poder contribuir ou de almejar a ser uma disciplina do conhecimento.
Efectivamente, a afirmação científica do Serviço Social continua a estar na agenda deste campo
profissional e prova da necessidade de continuar a trabalhar e a aprofundar este tópico é a
escassez de material com que nos deparamos quando queremos aprofundar o que são, afinal,
as teorias do Serviço Social.
A consulta rápida de uma obra tão paradigmática como The Blackwell Companion for Social
Work (Davies, 2002 [1997]) permite verificar, logo no índice, que quando se trata de apresentar
as “razões para o Serviço Social”4 elas se esgotam nos campos de intervenção disponíveis.5 É,
Locus SOCI@L 1/2008: 66
de facto, por via dos campos da prática profissional que frequentemente o Serviço Social
se entende e se dá a conhecer, construindo nesse processo uma identidade profissional. As
publicações nesta área escusam-se, quase sempre, a entrar no campo da teoria e do que pode
ser produção teórica específica do Serviço Social.
Neste sentido, não se pode falar de teoria do Serviço Social mas de teorias que ajudam a
enquadrar as diferentes áreas problemáticas nas quais a profissão intervém. Não são, assim,
teorias desta área disciplinar, mas teorias do envelhecimento, da delinquência juvenil, da
doença mental, da exclusão social, entre outras.
Por outro lado, quando as obras, artigos, teses e publicações em geral se referem à(s) teoria(s)
do Serviço Social fazem-no muitas vezes de uma forma indistinta do que são os modelos de
intervenção. Opera-se, desta forma, uma confusão entre teorias e os modelos de caso, grupo
e comunidade que enformam a acção do Serviço Social.6 Parece haver uma sobreposição entre
o pensamento sobre o fazer e as diferentes formas de fazer.
Encontram-se, ainda, autores que na análise desta questão propõem uma distinção, porventura
demasiado simplista, entre o chamado “paradigma vigente” e o “paradigma alternativo”.7
Deste ponto de vista, o paradigma vigente, que também pode ser designado como o da
acomodação ou o do pragmatismo, é aquele em que o profissional se transforma num mero
gestor de recursos com a principal função de adequar os recursos existentes às necessidades
dos utentes e vice-versa. O trabalho do Assistente Social no âmbito deste paradigma passa
essencialmente por prestar os serviços previstos no sistema de bem-estar, de forma casuística
e sectorial.
Pelo contrário, o paradigma alternativo propugna uma postura profissional pautada por valores
como o da participação das populações, do empowerment, da mobilização, da criatividade,
da “agentividade” e da não estandardização de respostas. Neste enquadramento a prática
profissional é assumidamente não-neutra e comprometida com as populações utentes no
desígnio do desenvolvimento das suas potencialidades.
Esta análise do Serviço Social, embora reflicta o que a prática profissional muitas vezes é
(paradigma vigente) e aquilo que deveria ser (paradigma alternativo), está longe de trazer
um contributo substantivo para clarificar o que são e quais são as teorias do Serviço Social.
Esta forma de colocar as questões vem reforçar a ideia da inexistência de teoria específica
do Serviço Social ou de que esta se estabelece como algo difuso e demasiado ancorado em
variáveis de carácter contextual.
É certo, como tem vindo a ser apontado por vários autores (Faleiros, 1997; Baptista, 2001), que
a produção de saberes – e, portanto, as teorias – do Serviço Social não pode estar desligada do
sentido histórico, político e contextual que esses mesmos saberes encerram. Todavia, torna-se
evidente a necessidade de contrariar a presença de um certo “pressuposto empiricista” de que
o Serviço Social parece estar profundamente impregnado.8
A cientificidade da acção interventiva, como propõe Myrian Veras Baptista (2001), não deve
ser entendida como uma menorização da capacidade teórico-conceptual do Assistente Social,
mas como uma visão alternativa do que também é ciência e do caminho para chegar ao
conhecimento científico.
2 – Proposta para uma categorização
Pensar as teorias do Serviço Social implica um exercício de análise sobre quais os pontos de
contacto e de afastamento com as teorias sociológicas ou, de forma mais abrangente, com a
teoria social.
Situando-se na grande família das Ciência Sociais, o Serviço Social não é nem pode ser alheio
às grandes correntes de pensamento que as atravessam nem aos dilemas matriciais que
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ac ç ão/
opõem diferentes abordagens teóricas, porque propõem diferentes ontologias e diferentes
epistemologias.
Uma das discussões teóricas mais interessantes nesse domínio para o Serviço Social é a que
opõe estrutura e acção. De outra forma, é o debate sobre até que ponto os indivíduos são
determinados pela estrutura e pela própria dinâmica da vida social ou se o indivíduo tem
capacidade de auto-determinação e, ele próprio, constrói e modifica as estruturas em que se
insere.
Na primeira posição, considera-se que o todo sobrevém e determina a parte, que a sociedade
funciona em torno de padrões estáveis e duradouros que são exteriores ao indivíduo e que
esses padrões condicionam fortemente, quando não determinam, a acção e vida individuais.
Na segunda posição, encara-se o indivíduo como a própria fonte de produção de sentido
para a vida e para o mundo e como agente transformador desses elementos – a acção não é
um ímpeto determinado pela estrutura, mas um movimento pleno de intencionalidade e de
sentidos por parte do indivíduo.
Outra discussão que interessa ao Serviço Social é a do conflito versus ordem. A perspectiva do
conflito encara a sociedade como uma permanente fonte de contradições e confronto, sendo
que esse devir e o esforço de superação das contradições são condição para a evolução social.
Deste ponto de vista, uma sociedade saudável seria aquela em que o conflito e confronto de
interesses estariam presentes. Por seu turno, na abordagem da ordem e da coesão a sociedade
é olhada como uma estrutura/sistema com um equilíbrio próprio tendente para a estabilidade.
Assim, a desordem, o conflito e, em última instância, a mudança, são assumidas como sinais
de disfuncionalidade ou, se quisermos utilizar o conceito de Durkheim, de anomia social.
Estes debates abriram fissuras na teoria social e opuseram autores fundadores como Herbet
Spencer, Émile Durkheim, Karl Marx a Max Weber, Georg Simmel e Wright Mills. No que
respeita ao Serviço Social, o posicionamento num ou noutro pólo tem uma profunda
ac ç ã o/ s ubjectivo
influência na forma como se pensa o agir e como se estabelecem as finalidades da profissão.9
Efectivamente, o Serviço Social não está nem pode estar arredado dos grandes debates e
correntes de pensamento que atravessam as Ciências Sociais.10 No entanto, não pode ficar
refém, ou diluir-se perdendo especificidade, deste nível de discussão.
Correntes como o funcionalismo, o estruturalismo, o subjectivismo, o construtivismo ou o
interpretativismo têm uma forte influência no Serviço Social, mas não podem ser consideradas,
em si mesmas, teorias do Serviço Social. Se a teoria social nos ajuda a pensar o que é a
sociedade, a teoria do Serviço Social terá que nos fornecer pistas sobre o que é a mudança
social e como é que pode ser feita. Embora um passo não esteja completamente dissociado do
outro, cada um deles deve ter o seu espaço próprio no âmbito deste campo disciplinar
Traduzindo um pouco esta ideia, o Collins Dictionary of Social Work (1999[1995]) distingue
subjectivo
três níveis de teoria no Serviço Social: as teorias tomadas de “empréstimo” das Ciências Sociais;
as teorias sobre os sistemas de bem-estar, e as teorias desenvolvidas pelos que trabalham
em Serviço Social e campos afins (1999[1995]). Argumentamos que os dois primeiros níveis
constituem um referencial teórico do qual esta área se serve e que é no último nível que reside
a especificidade do conhecimento sobre e do Serviço Social.11
Numa obra sobre a introdução à teoria do Serviço Social, de David Howe (1987), defende-se
que a teoria do Serviço Social deriva tanto da sociologia como da psicologia. Apesar de ser
inegável que estas duas ciências constituem pilares fundamentais da constituição deste campo
disciplinar, não fica completamente esclarecido porque é que o autor exclui deste patamar a
filosofia, a economia ou a antropologia. Mais interessante é o facto do mesmo autor sublinhar
que não é possível estabelecer um propósito comum com um sentido de unificação das teorias
nesta área. Há, fundamentalmente, que esclarecer quais são os diferentes posicionamentos
em jogo e a que tipos de abordagens metodológicas conduzem na prática profissional.
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Tendo em conta os dois eixos fracturantes herdados da teoria social é possível definir quatro
pólos cruzados: o que vai da acção à estrutura e o que vai do conflito à ordem. Este cruzamento
faz emergir quatro campos teóricos paradigmáticos onde se podem inscrever as diferentes
teorias do Serviço Social. O esquema seguinte ilustra esta divisão.
Esquema 1 – Campos paradigmáticos das teorias do Serviço Social
conflito /mudança
H UMANIS
MO
E STRUTURALISMO
Acção /Subjectivo
Estrutura /OBJECTIVO
I NTER PRE T ATIVISMO
FUNC IONALIS M O
ordem /regulação
Fonte: com base em Howe, 1987: 46
Cada um dos campos identificados, não só propõe formas distintas de análise e compreensão
dos fenómenos sociais, como também encerra formas particulares de pensar o Serviço Social
nas suas finalidades e nas suas formas de agir. Assim, o problema formulado, as explicações
oferecidas, os objectivos estabelecidos e os métodos utilizados variam substantivamente em
cada um dos campos e suas teorias associadas.
No que respeita às orientações para a prática profissional, o funcionalismo aponta para
uma prática voltada para estabilidade,12 o interpretativismo para a procura dos sentidos, o
humanismo para a consciencialização e o estruturalismo para a revolução. As perspectivas
teóricas convocadas na primeira abordagem passam pelo tradição psicanalista e pelo
behaviorismo, na segunda pelas abordagens centradas no cliente, na terceira pelo Serviço
Social critico e na quarta pelo Serviço Social estrutural (1987).
É de referir que os dois primeiros campos, ou seja, aqueles que se situam no quadrante da ordem/
regulação se inscrevem dentro do que genericamente Ander-Egg indicou como “paradigma
vigente”, ou seja, dentro do pensamento mais clássico do Serviço Social. Em consequência,
o “paradigma alternativo” acolhe as propostas teóricas mais identificadas com o imperativo
do conflito e da mudança. No fundo, trata-se de discutir as tendências de “renovação e
conservadorismo no Serviço Social” como, já em 1995, Iamamoto as colocava, enfantizando
o poder do sujeito e/ou da estrutura como variáveis determinantes para a acção.
É no âmbito do estruturalismo e do humanismo que se tem verificado uma maior actualização
e renovação das perspectivas teóricas, pelo que é essencialmente sobre essas análises que o
texto em seguida se irá debruçar.13 Com este propósito deter-nos-emos em detalhe sobre o
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Serviço Social Estrutural, o Serviço Social Crítico e sobre a Teoria da Correlação de Forças,
que, por se aproximarem do pólo da mudança/conflito, são por vezes também referenciados
como Serviço Social activista.
3 – As perspectivas da ordem e da regulação
As abordagens ao Serviço Social que se situam nos campos paradigmáticos do funcionalismo
e do interpretativismo são identificadas com as visões mais clássicas e conservadoras desta
disciplina. Não pode, no entanto, afirmar-se que correspondam a formas de intervenção já em
desuso na profissão. Mullaly (1993) refere, aliás, que no Serviço Social a maioria das práticas
profissionais persegue a ordem e a conformação.
De uma forma geral, neste contexto o Assistente Social é visto como um agente neutro dotado
de competência técnica para a realização de uma actividade profissional que conduza, por um
lado, à preservação da sociedade existente e, por outro, a uma cooperação entre os sujeitos e
o sistema. Neste âmbito, o Serviço Social deverá também desempenhar funções de controlo
do desvio social.
De um ponto de vista funcionalista, o principal objectivo da intervenção é a manutenção do
equilíbrio do sistema, sendo que tudo o que o ameace é visto como patológico e passível
de ser corrigido. A reforma é, então, a estratégia preferencial desta corrente. Dentro deste
paradigma, podem ser distinguidas duas teorias distintas: a teoria dos sistemas sociais14 e o
behaviorismo (Howe, 1987: 52-53).
A primeira tem sido fértil em analogias entre o sistema social e os organismos biológicos ou
as máquinas complexas, ou seja, as partes são vistas como constitutivas do todo, estando
interrelacionadas e sendo interdependentes; a parte afecta o todo e depende do todo para a
sua sobrevivência. Nesta lógica, o Serviço Social tem por missão manter a sociedade e os seus
membros num estado relativamente estável (Howe, 1987: 53-54).
As teorias behavioristas vêem o mundo social da mesma forma que o natural. Neste sentido,
os indivíduos são perspectivados exclusivamente na sua dimensão objectiva (o subjectivo é
tido como irrelevante), como receptores de estímulos e produtores de outputs/respostas.
Cabe ao Serviço Social perceber qual é o problema e determinar uma forma de o combater
(Howe, 1987: 54-55).
Com o objectivo fundamental de corrigir e manter a ordem existente, o Serviço Social
funcionalista tem como ferramentas fundamentais o diagnóstico e o tratamento, seguindo
muito de perto os procedimentos do modelo clínico (Howe, 1987: 57-59).
No que se refere ao interpretativismo, a subjectividade e a produção de sentidos pelo indivíduo
aparece como algo de relevante para a prática e o pensamento do Serviço Social. Neste
domínio, as abordagens centradas no cliente assumem especial importância na ênfase que
colocam na forma como o indivíduo sente as situações em que se encontra, nas necessidades
que apresenta e no estabelecimento de formas mais ajustadas de o “reconduzir” à inserção
social.
Ao nível da prática profissional, esta perspectiva desemboca num paradigma contratualista
consensual, que busca o estabelecimento de pactos entre o Assistente Social e o indivíduo
encarado isoladamente, com vista ao reforço da ordem dominante. Trata-se, desta forma, de
uma abordagem marcadamente psicologizante dos problemas sociais.15
4 – O Serviço Social Estrutural
O Serviço Social Estrutural procura, logo como ponto de partida, enfatizar o contexto de
trabalho em que o Assistente Social se move – as instituições. Este é um primeiro nível de
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justificação da designação desta corrente como estrutural ao apelar para o facto do profissional
se inserir em estruturas institucionais que o conformam e o limitam na sua capacidade de
agir.
Nesta perspectiva, a análise feita do Serviço Social, de acordo, aliás com a tradição marxista
e estruturalista que a sustentam, é de nível macro. A sociedade é vista como um composto
de estruturas que, apesar de serem construídas pelos indivíduos, lhe são exteriores e exercem
funções de dominação e opressão. Neste pano de fundo, emergem conflitos de interesses,
protagonizados por diferentes grupos sociais e que se manifestam como sendo entre opressores
e oprimidos, dominadores e dominados ou, de forma clássica, exploradores e explorados.
Embora esta abordagem ao Serviço Social tenha muitas vezes sido desqualificada “como
expressão de paradigmas esgotados” e substituída “pelos artefactos da cultura pós-moderna”
(Netto, 2001: 11, itálicos no autor), continua a apresentar-se como um campo vivo da
produção de conhecimento e reflexão sobre o Serviço Social. Trata-se de pensar o Serviço
Social como estando vinculado às classes trabalhadoras/oprimidas e com um projecto político
para a sociedade.
É por via da conscientização e da identificação de classe que o Serviço Social pretende alcançar
a emancipação dos sectores oprimidos da sociedade. Esta emancipação dá-se pelo combate
à “falsa consciência” dos indivíduos e seu direccionamento para o reconhecimento dos
mecanismos estruturais opressores responsáveis pela sua condição. Assim, o Serviço Social
visa promover uma mudança que o distancie do satus quo (Hearn, 1982: 21).
Secundando a análise de Hearn, o Serviço Social Estrutural pode ser caracterizado por duas
tendências fundamentais: uma positiva, que consiste no projecto colectivista de mudança, e até
revolução, social; e uma negativa, que rejeita o estabelecimento de relações ritualizadas com
os clientes, vendo-as como formas de controlo da sua auto-determinação (1982: 23). O foco
do pensamento e da acção profissional é, assim, a totalidade social, vista como sendo dotada
de uma ordem e de um sentido (neste caso, a racionalidade capitalista que urge alterar).
O Assistente Social é confrontado com a necessidade de fazer uma de duas opções possíveis:
ser instrumento de repressão ou de emancipação das massas oprimidas, sendo que o projecto
da corrente estrutural é que se situe no primeiro posicionamento. Ao longo do tempo, este
desígnio de emancipação das massas oprimidas tem evoluído desde a clássica ideia da luta de
classes, até à emancipação da mulher e às visões anti-racistas, culminando com a prática antiopressiva direccionada para a condição feminina, a negritude/etnicidade, a homossexualidade,
a deficiência, o envelhecimento, etc. (Dominelli in Adams et al, 1998: 4-5).16
Trata-se, portanto, de Assistentes Sociais “vinculados a uma prática progressista que toma
partido por aqueles que foram subjugados por desigualdades estruturais como a pobreza,
o sexismo e o racismo e que almeja assisti-los no seu desejo de reverter as posições em que
se encontram, ou seja, caminhar em direcções emancipatórias” (Dominelli in Adams et al,
1998: 5). Esta reversão de situações alcança-se, fundamentalmente, através da mudança das
estruturas sociais – objectivo último desta corrente do Serviço Social.
Assim, o Serviço Social deve também conter um carácter prescritivo no sentido de propor
novas formas de estar em sociedade, que respondam aos novos problemas colocados à
questão social contemporânea e que não passam, necessariamente, por uma integração no
mercado laboral. Em suma, para além de aliviar as pessoas das situações de opressão em que
se encontram, o Serviço Social deve ainda encontrar condições para modificar a realidade
(Mullaly, 1993).
O Serviço Social tem, então, como missão última a reestruturação da sociedade. Na relação
com o sistema de bem-estar vigente há que enfatizar o potencial emancipatório do sistema
e minimizar o seu potencial opressivo.17 Esta visão teórica do Serviço Social considera que
a mudança das condições de opressão se opera sempre ao nível da estrutura, mas que o
Assistente Social tem que estar atento a todas as novas formas de que esta opressão se reveste,
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que não passam apenas pelo capitalismo, mas também pelo sistema patriarcal, pelo racismo,
etc. (Mullaly, 1993).
5 – O Serviço Social Crítico
A corrente do Serviço Social crítico ganhou vigor, sobretudo, no Canadá e na Austrália a partir
da segunda metade dos anos noventa (século XX).18 Esta abordagem ao Serviço Social recupera
postulados do marxismo e do feminismo e articula-os com os contributos mais recentes da
teoria social crítica e das perspectivas da pós-modernidade.19 Neste âmbito, o Serviço Social
está permanentemente preocupado com uma análise estrutural dos problemas pessoais dos
seus públicos; com um olhar vigilante e crítico sobre as funções de controlo social da profissão
e do sistema de bem-estar; com a existente tendência para uma função opressiva, e com os
seus objectivos centrais de libertação pessoal e mudança social.
O Serviço Social Crítico pretende, sobretudo, ser uma alternativa ao excesso de determinismo
em que, por vezes, a abordagem estruturalista cai. De facto, esta perspectiva pretende devolver
ao sujeito poder de acção sobre as suas próprias circunstâncias. Neste sentido, concebe-se
como um Serviço Social activista pós-marxista e pós-estruturalista.
A reconstrução das práticas críticas de que fala Healy, uma das autoras mais reconhecidas nesta
corrente, passa por questionar e repensar algumas das categorias clássicas do estruturalismo
como o material e o simbólico, a dominação e a opressão, o sujeito e a estrutura (2001: 155182).
Com efeito, a teoria crítica centra as suas propostas analíticas no desafio à dominação e
opressão sob todas as suas formas (estrutural, interpessoal e pessoal); na ideia de que as
estruturas sociais são construídas e, nesse sentido, mutáveis; na crítica profunda à abordagem
positivista, que apela ao determinismo e à passividade individual, e na necessidade de encontrar
novas fontes de conhecimento (Fook, 2003: 124). Num recente artigo sobre os debates actuais
do Serviço Social Crítico, Jan Fook aponta que, ao acreditar na capacidade transformadora
do indivíduo, esta corrente do Serviço Social é voluntarista, pois encontra na acção social
capacidades ilimitadas de transformação e emancipação (2003: 124).
Claramente com uma influência foucaultiana, nesta abordagem a questão do poder é tratada,
não apenas no nível da coerção exercida pela estrutura sobre o indivíduo, mas também como
uma categoria presente nas relações interpessoais quotidianas e no interior de cada indivíduo.
É importante reconhecer esta “microfísica do poder” para trabalhar sobre as relações de
dominação existentes na sociedade. Nesta linha, Healy chama a atenção para o facto de nas
sociedades contemporâneas o poder e o saber estarem profundamente associados. Assim, o
próprio Assistente Social tem que se libertar da relação de poder que exerce sobre o seu cliente:
“na posição de perito, os Assistentes Sociais categorizam e objectivam os utentes do serviço,
estendendo assim sobre eles a disciplina e a vigilância” (Howe in Healy, 2001: 164).
Desta forma, o processo de conscientização deve começar no próprio profissional como
estratégia para que o seu saber seja efectivamente colocado ao serviço da justiça social e
económica. Por isso, o trabalho social deve ser desenvolvido numa perspectiva dialógica que
permita às pessoas desenvolverem uma relação de sujeitos e não de objectos. O utente não
deve ser olhado como um objecto passivo, mas como um sujeito activo, com capacidades e
potencialidades e, também, detentor de um poder que deve colocar ao serviço da resolução
dos seus problemas (Healy, 2001:155-172)
Por seu turno, a ideia de mutabilidade das estruturas sociais assenta no pressuposto de que
o mundo social é construído e que, por isso, pode ser manipulado, moldado ou modificado.
Segundo este eixo, torna-se fundamental contrariar a tendência para a reificação dos
constructos sociais e não perder de vista que o tecido social é maleável construído e em
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permanente reconstrução pelos diversos actores sociais. Neste ponto, o Serviço Social Crítico
bebe das correntes construtivistas da teoria social, podendo mesmo centrar as suas concepções
neste predicado. É, naturalmente, neste âmbito que se inscreve o Serviço Social Construtivista
proposto por Parton (2004).
Desenvolve-se, neste âmbito, a prática reflexiva que, mais do que visar a constituição de um
conhecimento estabilizado, pretende o desenvolvimento das capacidades de reflexividade e de
acção, tendo em vista o engajamento entre “as nossas ‘verdades’, ‘histórias’ e ‘construções’ e
as dos outros” (Parton et al, 1998: 248).
Em estreita relação com o construtivismo, a influência do relativismo também é visível nesta
corrente do Serviço Social. Ao mesmo tempo que tenta esbater as clivagens de poder entre
si e o cliente e que trabalha no sentido de dar ao último consciência das suas capacidades e
das suas possibilidades de mudança, o Assistente Social deve estar ciente de que o resultado
do seu trabalho e reflexão, mesmo quando parte de uma relação de paridade com o utente,
não é a verdade, mas uma verdade entre outras possíveis para trabalhar no sentido da
transformação social (Healy, 2001: 167). Seguindo a mesma lógica, na crítica que faz à forma
de conhecimento positivista, o Serviço Social Crítico abre-se à integração de outras formas
de conhecimento (com especial enfoque para as que provêm da análise discursiva), às quais
atribui o mesmo valor heurístico.
Assume-se, nesta perspectiva que as realidades são instáveis, complexas e desordenadas e
propõe-se, como corolário, uma prática que seja anti-utópica e anti-dogmática (Healy, 2001:
175). O projecto colectivista do estruturalismo20 dá lugar a uma abordagem mais casuísta,
balizada pelos desígnios do empowerment e da conscientização. Perante a impossibilidade de
propor projectos colectivos que não sejam utópicos e violentadores da individualidade de
cada sujeito, o Serviço Social Crítico apresenta-se, também, como uma proposta pragmática
para a intervenção do Assistente Social.
6 – A teoria da Correlação de Forças
Com uma “crítica à política do sujeito” (2002), Vicente de Paula Faleiros propõe uma visão
teórica para o Serviço Social que supere as limitações das abordagens estrutural e crítica.
Encara o Serviço Social como uma mediação entre actores e estruturas, num jogo de forças e
poderes em que o Assistente Social deve tomar partido pelo lado mais fraco, mais vulnerável,
mais oprimido. O autor propõe, nesta linha, a teoria da Correlação de Forças.
Com efeito, o Assistente Social, como profissional que deverá voltar a assumir o sentido
político da sua intervenção, situa-se perante um novo paradigma de intervenção. A teoria
da Correlação de Forças emerge como uma alternativa para o desempenho profissional no
mundo contemporâneo. Parte do pressuposto de que existem na sociedade forças em conflito,
que o profissional deve assumir-se como mediador dessa conflitualidade, mas, ao contrário
do que era decalcado da racionalidade instrumental moderna, nessa mediação o Assistente
Social não se posiciona como um agente neutro, mas como alguém que está ao lado da
defesa dos interesses dos mais vulneráveis e despojados e que prossegue um ideal de equidade
e de justiça social. O Assistente Social sublinha, assim, o seu papel de protagonista político
na acção/reflexão sobre a sociedade. Tal é a proposta contida nas mais recentes análises de
Vicente de Paula Faleiros (1996), que remetem também para a rejeição de um pensamento
único sobre as sociedades e para o estímulo ao desenvolvimento de uma perspectiva crítica no
seio do Serviço Social (2001: 326-327).
O Serviço Social, nessa aliança com os dominados e oprimidos, visa um processo de
fortalecimento e empowerment em torno da identidade, autonomia e cidadania das suas
populações utentes. Mantendo presente o carácter estrutural dos problemas sociais, esta
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teoria não encerra um projecto de emancipação colectiva das massas, mas sugere um enfoque
na capacitação individual dos sujeitos na sua relação com as estruturas sociais opressoras:
“Nossa análise considera as relações interpessoais implicadas nas relações sociais globais como
um processo complexo de mediações sujeito-estrutura, numa visão relacional da estrutura da
produção da sociedade e dos indivíduos” (Faleiros, 1996: 21).
Neste sentido, a análise de Faleiros inspira-se no construtivismo estruturalista de Bourdieu
que combina uma noção de exterioridade da estrutura com o reconhecimento da existência
de uma génese social nos esquemas de percepção, pensamento e acção individuais.21 Assim,
as relações instituídas pela estrutura são conflituosas, pois opõem interesses económicos,
poderes, raças, etnias, géneros, disciplinas e ideologias, abrindo por via do conflito espaço
para relações de mudança instituintes de novos modos de produzir a vida, os bens e os seres
humanos (Faleiros, 1996: 21).
O papel do Serviço Social joga-se, assim, nas relações de força do capitalismo e na mediação
do processo de fragilização ou fortalecimento do cliente. Nas suas trajectórias, os indivíduos
devem ser ajudados a fortalecer os seus patrimónios e a desenvolverem percursos de mudança
nas suas vidas que possam instituir transformações na estrutura social. O trabalho deve ser
desenvolvido em espiral no sentido do indivíduo para o colectivo/a sociedade, uma vez que
se considera ser fundamental que, por meio de práticas de colectivização, se faça com que os
indivíduos rompam com a compreensão individualizada dos problemas (Faleiros, 1996: 24).
É importante ressaltar que o olhar da teoria da Correlação de Forças dirige-se para os indivíduos
e não para os problemas, entendendo que as particularidades de cada caso encerram aspectos
da generalidade. Nesta relação complexa da estrutura com o indivíduo, uma máxima importante
é a da radicalidade da crítica e do realismo da acção.
Faleiros aponta vinte e sete desafios colocados a esta teoria, entre os quais se destaca a resistência
ao estado “de inclusão” precária e repressão; a articulação das TIC com a intervenção social
emancipatória; a valorização da dimensão local, de redes e de proximidade articulada com
o questionamento mundial; o aprofundamento da democracia participativa e da cidadania
colectiva; a articulação do Serviço Social com os movimentos sociais existentes; a realização
de confrontos de poder; a articulação das bio-vias com a desconstrução e construção de
poderes; a defesa do público e a sobrevivência no emprego; a reinterpretação das demandas
e a produção de conhecimento crítico; a combinação de benefícios e prestações sociais
com o processo de autonomia e independência do sujeito, num imaginário do contrato e
da solidariedade; a politização da acção numa era de descartabilidade da política, e, entre
outros, a articulação de redes, território, cultura, informação e protagonismo do público na
dinâmica da democracia e da cidadania.22
É este, em suma, o quadro para a acção que a teoria da Correlação de Forças contém nas suas
propostas.
Conclusão
Como se referiu, a reflexão sobre as teorias do Serviço Social constitui um debate em aberto
e em permanente construção. O objectivo do presente texto não foi o de fechar este debate,
mas o de propor uma visão analítica do que se tem produzido em torno do pensamento
sobre o Serviço Social. Este é, obviamente, um contributo passível de ser debatido, criticado,
desconstruído e reconstruído.
Também se salientou que a demanda do Serviço Social é, fundamentalmente, uma demanda
para a acção e para resolução dos problemas. A afirmação e o reconhecimento de que esta
acção sobre o social deve estar baseada num pensamento sistematizado sobre a realidade é,
por si só, uma conquista deste campo profissional e está ainda longe de estar profundamente
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interiorizada por todos os Assistentes Sociais, pelas escolas, pelas instituições e pela comunidade
científica.
Neste sentido, não parece ter vindo a ser evidente a relação do Serviço Social com os campos
de produção de saber e a sua capacidade de afirmação intelectual no seio das ciências sociais.
Assim, não tem sido profusa nesta disciplina a reflexão sobre as suas próprias teorias e
posicionamentos perante as grandes correntes de pensamento da teoria social.
A modernidade foi vivida como um período de certezas e de respostas claras às grandes
questões da humanidade. Progressivamente, o conhecimento científico foi exercendo domínio
sobre outras formas de conhecimento e os seus ditames identificaram-se como a verdade e
como o bem. Neste caminho, no seio da própria ciência tendeu-se a considerar como válida
e consensual apenas uma forma de abordagem: neutra, distanciada, objectiva, quantitativa e
causal. Traça-se, assim, um panorama no qual o Serviço Social é irremediavelmente colocado
fora dos limites da produção científica.
O tempo, contudo, tratou de demonstrar que o conhecimento científico não substitui outras
áreas de saber e que não conduz inexoravelmente à verdade, ao bem e à felicidade. Pelo
contrário, tem vindo a tornar-se cada vez mais claro que a cientifização excessiva da vida
e da sociedade, sobretudo se desligada de um pensamento político e ético, poderá mesmo
caminhar para o fim da humanidade. Coloca-se, por esta via, a crise da modernidade e dos
seus pressupostos sobre o mundo e sobre a humanidade.
A era pós-moderna, em que nos encontramos, encerra em si a chamada crise dos valores, mas
também dos grandes paradigmas do pensamento. É hoje reconhecido, embora nem sempre
pacificamente aceite, que mesmo no campo da ciência existem várias formas de aproximação
ao real, que correspondem a diferentes perspectivas do que é a realidade e de como é que a
realidade pode ser conhecida. Neste âmbito, o contributo que o Serviço Social pode dar para a
constituição de conhecimento científico ganha um novo vigor. A proximidade com as situações
e o envolvimento com as percepções subjectivas que delas os indivíduos fazem têm vindo a ser
olhadas como vantagens quando se trata de pensar nas formas de obter conhecimento sobre
o real.
Desta forma, abre-se um espaço de conquista pelo Serviço Social de um lugar na produção
científica das ciências sociais, tornando mais clara a sua relação com as grandes correntes de
pensamento e as implicações que pode ter na forma de pensar a acção profissional
Os quatro campos paradigmáticos propostos dão, de alguma forma, conta do que têm sido
os grandes debates das ciências sociais e da necessidade de ultrapassar alguns “becos sem
saída”.
Os quadrantes da regulação, onde se encontram o funcionalismo e o interpretativismo, são
identificados com as abordagens mais clássicas ao Serviço Social e sofrem, mesmo, de um
sentido pejorativo por parte da classe profissional, mas nem por isso são menos frequentes nas
práticas efectivas dos Assistentes Sociais. Estas perspectivas estavam presentes nos primórdios
da profissão, foram sobrevivendo e hoje parece que tomam formas revigoradas de se afirmarem
como teorias vivas do Serviço Social.
Neste âmbito, a profissão procura a coesão social e desenvolve estratégias de adaptação
dos indivíduos à sociedade a que pertencem, criando, com esse propósito, vias possíveis de
integração na sociedade.
O Serviço Social Estrutural apresenta-se em confronto directo com as teorias da regulação
e defende um Assistente Social com uma visão ampla sobre os mecanismos societários de
opressão e com um sentido político consciente na sua acção. O conflito é promovido como
forma de debelar a desigualdade e promover os direitos dos sectores da sociedade mais
vulnerabilizados.
Esta teoria transforma o Assistente Social num militante das causas das classes oprimidas
e peca por ter uma visão demasiado formatada do funcionamento da sociedade, sem criar
Locus SOCI@L 1/2008: 75
espaço para que outras variáveis possam ser consideradas no pensamento e na acção sobre
a sociedade. É, neste sentido, uma teoria determinista que considera que a estrutura social
oprime e impõe-se ao indivíduo, por sua vez, impotente para a enfrentar.
O Assistente Social surge como alguém que está acima das populações utentes e que sabe melhor
do que elas como agir de forma proporcionar-lhes melhores condições de vida. Sabe, também,
à partida o que é melhor para as populações e que a sua identidade é fundamentalmente uma
identidade de classe. Esta é uma perspectiva que continua em grande debate e renovação no
seio do Serviço Social.
O Serviço Social Crítico, por seu turno, retoma este desígnio de mudança e alia-o a uma
visão voluntarista do indivíduo e da própria profissão. Segundo esta perspectiva, com o apoio
profissional do Assistente Social, todos os indivíduos serão capazes de se auto-determinar,
construir uma trajectória que os realize e contribuir para a mudança social num sentido
positivo.
À semelhança de outras abordagens da pós-modernidade, esta teoria responde à crise da
modernidade com o pragmatismo: se a ciência afinal não é capaz de apresentar a verdade, pois
então considera-se que existem várias verdades com equivalente validade; se não há valores
consensuais, então a prática deve reger-se pela relatividade dos valores; se a história provou
que as utopias são no fim de contas distopias, então não vale a pena ter um projecto político
para a sociedade e o que conta é o trabalho pela emancipação individual dos indivíduos.
A tendência para o relativismo e o construtivismo extremos estão na base do que mais pode
ser criticado nesta abordagem. No entanto, vale a pena também salientar que o apontado
carácter voluntarista desta teoria implica talvez uma excessiva confiança na capacidade de cada
indivíduo se integrar na sociedade – uma vez empoderado, o sujeito será capaz de desenvolver
uma trajectória de inclusão, dependendo apenas de si e da sua vontade tal consecução.23
O esforço desta abordagem de superação dos dilemas da actualidade parece não ser suficiente
para responder às questões colocadas pela profissão.
Por último, a teoria da Correlação de Forças tenta estabelecer pontes que articulem aspectos
das visões estruturalista e subjectivista do mundo social; ou seja, situando-se num registo
que pende mais para o conflito do que para a regulação defende que cada indivíduo se
inscreve num dado ponto da estrutura social, mas que esta estrutura só existe e funciona
porque composta pelos comportamentos individuais. Assim, cada indivíduo tem inscritos no
seu interior elementos da estrutura que lhe sobrevém e existem na exterioridade estrutural
elementos da sua individualidade.
Isto significa que a sociedade se explica como um jogo de forças entre os interesses dos diferentes
indivíduos e, também, entre os indivíduos e as estruturas que os enquadram. Na análise
das situações, os problemas devem ser percepcionados nas suas implicações estruturais; na
intervenção sobre as situações, os indivíduos devem ser reconhecidos na sua individualidade e
especificidade. Assim, a acção do Serviço Social deve ser realizada individualmente, mas com
um sentido global.
O Assistente Social, neste contexto, é um profissional vinculado com os sujeitos mais
desprotegidos, vulneráveis e fragilizados e deverá trabalhar no sentido de os capacitar e
conscientizar das suas potencialidade, dos constrangimentos pessoais e estruturais de que são
alvo e de lhes fornecer ferramentas de auxílio à construção de biovias mais integradoras. Estas
biovias, por sua vez, são também condicionadoras das estruturas existentes, transformando-as
para um melhor equilíbrios das forças em presença.24
Resta acrescentar que a teoria da correlação de forças não se apresenta como o fim da discussão
sobre as teorias do Serviço Social, fornecendo a resposta certa a todas as questões colocadas.
Permanecem, ainda, múltiplos questionamentos a que a teoria ainda não se mostrou capaz
de cabalmente responder: deve o Serviço Social ter um projecto societário? Deve tomar
partido? Que valores deve enfatizar? Como deve olhar a sociedade? E os indivíduos, como
Locus SOCI@L 1/2008: 76
devem ser perspectivados? Serão todos iguais ou os indivíduos utentes do Serviço Social são
intrinsecamente diferentes dos indivíduos não-utentes?
Estas e outras questões deverão manter vivo o debate sobre a teoria do Serviço Social num
movimento que contrarie uma forte tendência para a tecnificação do mundo e da vida que
se vive actualmente, que, ao nível das ciências em geral, tende a reduzir o exercício científico
às suas aplicações práticas e à demonstração de resultados e que, ao nível do Serviço Social
em particular, pode estar na origem de processos como a identificação da profissão com a
metodologia de projecto, da investigação com os processos de avaliação e da produção de
conhecimento com a realização do diagnóstico.
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Notas
1
Este texto constituirá parte integrante da tese de doutoramento em preparação pela autora. Apresenta-se, também,
como um contributo para o debate entre os professores de Serviço Social da FCH/UCP, no âmbito das sessões de
trabalho sobre a matriz do Serviço Social.
2
Segundo o autor, a existência de uma base de conhecimentos é condição determinante para a atribuição do
estatuto de profissão a um campo de acção (Payne, 2001: 134-136).
3
Apesar de, como bem indicou Francisco Branco numa conferência sobre a investigação em serviço social (Encontro
de Orientadores de Estágio, UCP, 8/2/2007), já nessa altura Mary Richmond defender que “todos os interventores
devem agir como investigadores e todos os investigadores como interventores”.
4
Embora correndo algum risco de imprecisão de conceitos, optou-se neste texto por traduzir livremente o termo
Social Work por Serviço Social.
5
Os capítulos propostos na obra são: Poverty and Social Exclusion; Family Breakdown; Child Abuse; Domestic
Violence; Ill-Health; Physical Disability; the Frailty of old Age; Mental Illness, e Learning Difficulties.
6
A este propósito vale a pena encetar uma discussão aprofundada sobre o que se consideram ser as teorias, os
modelos e as metodologias do Serviço Social e em que categoria se enquadram abordagens para a intervenção
Locus SOCI@L 1/2008: 78
como o trabalho em rede, o trabalho centrado no cliente, a intervenção centrada na tarefa, a intervenção sistémica,
o psicossocial, etc.
7
Sobre esta distinção consulte-se Ander-Egg (1996 [1992]: 181-189)
8
Eillen Munro (1998) numa interessante obra que faz uma análise das filosofias das Ciências Sociais aplicada
ao Serviço Social refere, logo na introdução, como este campo disciplinar tem vivido um processo de rejeição da
ciência (tomando-a como um inimigo e não como um aliado) e de como, quase sempre, não encontra formas
possíveis de articulação entre o conhecimento formal e a compreensão intuitiva dos fenómenos sociais.
9
A título de exemplo, poderá pensar-se sobre que possibilidades existem de conciliação entre a Teoria Geral
dos Sistemas e um princípio da intervenção como o empowerment. Sob os pressupostos de uma visão sistémica
estabelece-se uma analogia entre o tecido social e um organismo homeostático, que trabalha tendo como horizonte
o equilíbrio e a estabilidade. Neste sentido, a intervenção deve pensar-se com vista à integração dos indivíduos no
sistema e respectiva conformação com a sua ordem natural. À partida, este predicado parece não ser compatível
com uma perspectiva do empowerment que leva o indivíduo a ter consciência de si, das suas necessidades, das
injustiças sociais com o objectivo de, em correspondência, se auto-determinar, as satisfazer e as corrigir.
10
A este propósito, veja-se como também Howe refere que a teoria do Serviço Social é atravessado por dois eixos
analíticos fundamentais: sujeito/objecto e conflito/ordem; ou seja, este campo disciplinar não foge das discussões
clássicas da teoria social (1987).
11
Embora na obra citada o autor referencie este terceiro nível como aquele que se tem vindo a mostrar bastante
mais limitado e que se reporta aos métodos centrados na terapia, à teoria dos sistemas, ao aconselhamento e à
intervenção em crise (1999[1995]). Esta especificação, ao estabelecer uma relação directa com os modelos de
intervenção, reforça a ideia de que não há um espaço de produção de conhecimento pelo Serviço Social sobre o
Serviço Social.
12
Para designar esta posição o autor utiliza a expressão “the fixers” (1987: 48).
13
É preciso não esquecer que o estruturalismo e o conflito têm uma forte relação com o pensamento marxista e,
desse ponto de vista, não podem ser qualificados como novos. Parece, no entanto, ser neste quadrante que se
encontram as principais novidades do pensamento contemporâneo sobre o Serviço Social.
14
É de salientar que, no discurso comum do Serviço Social, a crítica ao funcionalismo é tão frequente como a defesa
de uma visão sistémica da realidade.
15
Com base numa lição do Prof. Vicente de Paula Faleiros no âmbito do Programa Doutoral em Serviço Social
do ISSSL/ISCTE, Abril de 2005. Na análise da intervenção social e sua evolução, o autor propõe a distinção entre
a) paradigmas pré-contratuais; b) paradigmas contratualistas consensuais; c) paradigmas de reprodução, e d)
paradigmas conflituosos centrados na mediação.
16
O desenvolvimento de alguns destes domínios da prática acabou por ter uma maior identificação com o Serviço
Social Crítico. Refira-se, ainda, que a autora utiliza a expressão “prática anti-opressiva” como um paradigma o
Serviço Social e não com uma inscrição noutra corrente (1998: 3-22).
17
Nas versões mais radicais, considera-se que o Serviço Social Estrutural só cumpre os seus propósitos de mudança
estando fora do sistema; a intervenção a partir do interior das instituições irá sempre, em última instância, favorecer
a reprodução da ordem existente.
18
A literatura nem sempre tem sido clara quanto a esta distinção entre Serviço Social Estrutural e Serviço Social
Crítico, entrecruzado, por vezes, estas duas abordagens: destaca-se, no âmbito do primeiro, uma corrente mais
voltada para o indivíduo e para a acção e, no âmbito do segundo, uma faceta mais centrada na estrutura e nas
determinações sociais (Hearn, 1982; Mullaly, 1993; Healy, 2001; Fook, 2006). Com efeito, em ambas as teorias, as
questões do poder e das relações de opressão/dominação são centrais, sendo que a acção do Serviço Social aponta
para o conflito e para a mudança. Considera-se, no entanto, que se situam em campos paradigmáticos distintos
na forma de olhar o tecido social e a própria natureza do Serviço Social. De uma forma, decerto, demasiado
simplista, poder-se-ia dizer que o Serviço Social Estrutural tem uma influência marcadamente marxista, ao passo
que o Serviço Social Crítico é, sobretudo, foucaultiano.
Locus SOCI@L 1/2008: 79
19
Para os propósitos em causa, vai entender-se como pós-modernidade o período compreendido entre o início do
colapso das certezas modernistas (situado entre as décadas de oitenta e noventa, do século XX) e a actualidade.
É o período de questionamento dos valores e da moral vigente, de decadência dos sistemas de bem-estar, da
relativização dos saberes científicos, do risco e da incerteza. Este conceito, que rapidamente entrou no glossário
das Ciências Sociais, não está, porém, isento de problemas – é de difícil definição e delimitação, acabando por se
tornar confuso e pouco claro no que respeita ao seu objecto de referência. Num texto dedicado à compreensão
do que é o pós-modernismo, Christopher Norris considera que este é o presente estádio de desenvolvimento da
acção humana, em termos políticos, estéticos e científicos, em que, ao contrário do que acontecia na modernidade
iluminista, a busca da verdade deixa de ser a prioridade máxima. Não só se julga que a verdade deixou de ser a
fonte de felicidade e de bem-estar da humanidade, como também as fronteiras entre o real e o ficcional são cada
vez mais indefinidas. Sem uma referência directa à verdade, a história, a política e a ética tendem a estetizar-se e a
progredir em busca do belo (Norris in Browning et al., 2000: 25-45). Segundo este autor, a alternativa colocada
pela pós-modernidade é a da viragem para a estética.
20
O próprio processo de criação de identidades colectivas é entendido como a imposição de mais uma estrutura
de dominação sobre o outro que, não obstante ser mulher ou negro ou operário, poderá querer encontrar outros
parâmetros identitários.
21
Para Bourdieu, as concepções estruturalistas erram porque reificam os objectos construídos pelas ciências
sociais, passando a tratá-los como realidades autónomas, e as teorias da acção de inspiração weberiana falham
ao considerarem que o sentido objectivo das práticas traduz-se meramente na soma dos sentidos subjectivos dos
seus actores. Bourdieu centra a análise no indivíduo e no seu comportamento, mas tendo em conta que esse
comportamento se relaciona profundamente com o contexto social em que está inserido. Existem, então, relações
dialécticas entre as estruturas objectivas e as disposições estruturadas da acção, num movimento incessante de
interiorização da exterioridade e de exteriorização da interioridade. Isto significa que cada indivíduo encerra em si
mesmo uma inscrição da sua posição na estrutura e, ao agir, produz efeitos sobre essa mesma estrutura que lhe é
preexistente (Bourdieu, 2001 [1989]). Sobre a influência de Bourdieu no pensamento de Faleiros veja-se ainda a
correspondência entre o conceito de capitais proposto pelo primeiro e o de patrimónios apresentado pelo segundo
(1996: 22).
22
Estas questões foram debatidas em contexto de aula do Programa Doutoral em Serviço Social do ISSSL/ISCTE,
Abril de 2005.
23
Vale a pena citar longamente o que noutro registo já se salientou no que respeita à perspectiva do empowerment:
“No entanto, são várias as limitações que têm sido apontadas a este modelo. Por um lado, sobrevaloriza as
capacidades e potencialidades do indivíduo, pois acredita-se que a mudança na sociedade se opera através da
mudança em cada sujeito, por outro, corre o risco de se tornar um pouco redutor, uma vez que a intervenção com
vista ao empowerment tem como fim último a autonomização e a capacidade de agir, podendo ser interpretada
como um mero aprofundamento da cidadania (cf. Adams, 1998: 32). Amartya Sen não hesita em considerar que
este tipo de orientação pode transformar-se num acto cruel quando se esquece que não se pode dirigir a sujeitos
para quem é praticamente impossível conseguir trabalho (cf. Le Monde, Setembro de 1999).” (Garcia et al, 2000:
201-202).
24
Daqui decorre que, também nesta perspectiva, se avança para um horizonte de regulação; o que autoriza a que se
considere que a teoria da Correlação de Forças propõe uma superação do dilema indivíduo/estrutura, mas também
do dilema conflito/regulação.
Locus SOCI@L 1/2008: 80
Locus SOCI@L 1/2008: 81-89
O Discurso Histórico sobre o Serviço
Social: Uma Perspectiva Analítica
sobre o Quadro de Produção
Científica em Portugal (1987-2007)1
Maria Isabel Santos
Centro de Estudos de Serviço Social e Sociologia
Faculdade de Ciências Humanas – Universidade Católica Portuguesa
[email protected]
Resumo
O trabalho desenvolvido constitui um estudo exploratório acerca do discurso histórico sobre o Serviço Social em
Portugal, a partir do quadro de produção científica nacional, entre 1987 e 2007. O discurso em causa (modo de
escrita e reflexão sobre a história) não resulta do trabalho produzido pelos historiadores em geral, mas de estudos
desenvolvidos por assistentes sociais que indagaram historicamente a sua profissão.
O estudo realizado permitiu evidenciar a necessidade de estabilizar um quadro teórico de referência sobre a natureza
do Serviço Social, levando-nos a questionar se a própria história do Serviço Social não poderá carrilar elementos
para o aprofundamento desta reflexão.
Abstract
The work developed constitutes an exploratory study concerning the historical speech about Social Work in Portugal,
departing from the national scientific production between 1987 and 2007. The referred speech (ways of writing and
reflect about history) is not the result of the work produced by historians in general, but of studies developed by
social workers who had historically inquired its profession.
The study findings allows to point out the need to stabilize a theoretical framework for the nature of Social Work,
questioning if the history of Social Work itself wouldn’t be able to add elements for deepening this reflection.
O trabalho que realizámos constituiu um estudo exploratório do «modo de escrita e reflexão
sobre a história» (discurso histórico) do Serviço Social em Portugal, recorrendo ao quadro
de produção científica nacional, desenvolvido entre 1987 e 2007. Para enquadrar teórica e
conceptualmente o nosso objecto de investigação, efectuámos uma discussão em torno
de três problemáticas: os discursos historiográficos, o campo histórico na actualidade, e a
estrutura matricial do Serviço Social. A partir desta tríade teórico-conceptual extraímos chaves
interpretativas – questões e hipóteses de investigação, bem como temas e categorias de análise
–, que orientaram a recolha e análise empírica dos dados.
Palavras Chave
Serviço Social,
Discurso histórico
sobre Serviço
Social, Discursos
historiográficos,
Campo histórico
na actualidade
...
Key Words
Social Work
Historical speech
on Social Work,
Historiographical
speechs, current
historical field
O tema dos discursos historiográficos foi orientado, sobretudo, a partir da história enquanto
disciplina científica. Uma história sistémica e problematizadora, construída em torno de
hipóteses previamente enunciadas e de análises em profundidade, contrariamente à mera
ordenação factual e perspectiva descritiva. Direccionámos o nosso enfoque para as tendências
da Nova História (história-problema), no pressuposto que este seria o discurso predominante
nas pesquisas sobre a história do Serviço Social em Portugal, dado o período em que os estudos
que nos servem de base foram realizados.
A reflexão sobre o campo histórico na actualidade coloca o problema da relação entre
fragmentação e totalidade da história, enquanto campo de conhecimento. Os recortes
são operações simplificadoras do campo histórico, que permitem ao investigador focalizar
determinadas dimensões da realidade social. Este procedimento é admissível, desde que a
noção de história global, total ou sistémica esteja sempre presente. Adoptámos a tipologia do
campo histórico proposta por Barros (2004, 2005), e colocámos como hipótese que a História
Locus SOCI@L 1/2008: 81
Social – no que respeita aos «modelos e mecanismos de organização social» e, sobretudo, às
«diferenças e desigualdades sociais» – teria sido privilegiada nos estudos sobre a história do
Serviço Social em Portugal.
Quanto à estrutura matricial do Serviço Social, concluímos tratar-se de uma problemática
pouco desbravada sob o ponto de vista teórico. De acordo com a literatura a que acedemos,
poucos foram os autores que se debruçaram sobre este objecto de estudo, ainda em
construção. Perante as (escassas) perspectivas possíveis, posicionámo-nos no quadro de
leitura de Andrade (2001), que concebe o agir do assistente social a partir de um «(...) espaço
relacional, na medida em que se estrutura e corporifica através da comunicação e participação
dos elementos que compõem o [seu] campo (...)» (Andrade, 2001: 164): o próprio assistente
social, os destinatários da intervenção, e a organização/instituição. Na proposta desta
autora, o contexto sociopolítico e económico não aparece como elemento imprescindível à
estruturação do campo do Serviço Social. Em contrapartida, os estudos analisados acentuamno em particular, como discutiremos adiante.
De salientar que os quadros teóricos seleccionados mostraram-se fecundos, mas nem todos
os dados recolhidos respondem às questões de investigação, ou se enquadram nos temas
e categorias de análise que formulámos inicialmente. Todavia, fornecem elementos fulcrais
para suscitar novas interrogações, e até mesmo para responder a outras questões que foram
emergindo da análise do material empírico.
A institucionalização do Serviço Social em Portugal, enquanto profissão, acorreu em 1935, com
a abertura do Instituto de Serviço Social de Lisboa. Viemos encontrar o primeiro documento
de reflexão historiográfica sobre esta profissão cinco décadas mais tarde, com data de 1987.
No mesmo ano, deu-se início ao primeiro programa de estudos pós-graduados em Serviço
Social no país, através de um convénio estabelecido entre o ISSSL e a PUC-SP. Tornava-se
inevitável questionar e problematizar (o passado) (d)o Serviço Social em Portugal.
O conhecimento histórico apresenta-se como uma forma de interpretarmos o nosso o próprio
presente, através do processo a que o historiador L. Febvre designou por «função social do
passado». Enquanto tal, os acontecimentos do passado do Serviço Social são seleccionados
e valorizados, de acordo com os interesses e as necessidades contemporâneas. De entre as
motivações para tornar o Serviço Social num objecto de estudo histórico, sobressai nos
estudos analisados a «legitimação do presente pelo resgate do passado». Este intuito reflecte
a ambiguidade que caracteriza, desde sempre, o espaço profissional ocupado pelo Serviço
Social, característica que lhe confere uma posição pouco consensual e ainda contestada, no
seio das outras profissões sociais.
O resgate do passado é justificado pela necessidade de avaliar, no presente, o espaço que
o Serviço Social pode ocupar na sociedade portuguesa, ou ainda pela premência em dar
visibilidade à história do Serviço Social, porquanto a profissão procura uma nova legitimação
das suas práticas, a par de outros interventores sociais. Podíamos alegar que as incertezas
perante o espaço profissional do Serviço Social, em termos do seu lugar na sociedade, foram
sendo gradualmente colmatadas, através dos estudos pós-graduados de Serviço Social em
Portugal. Porém, os dados recolhidos deixam antever que a necessidade de legitimar a profissão
no presente, através do resgate do seu passado, encontra-se espelhada tanto no estudo
mais antigo do nosso universo de análise, como no mais recente. Por outras palavras, existe
um conjunto de incertezas face ao Serviço Social que insiste em permanecer sem respostas
concludentes.
Locus SOCI@L 1/2008: 82
Em termos de acontecimentos destacados sobre o passado da profissão, predomina o
processo de «construção do conhecimento do Serviço Social». Ou seja, a análise histórica
de um domínio da profissão que, actualmente, alimenta muitas discussões e outros tantos
desacordos, nomeadamente sobre a existência (ou não) de um corpus teórico-conceptual
próprio. É significativo que os investigadores partilhem da nossa preocupação em marcar a
cientificidade do Serviço Social. A literatura a que acedemos mostra que, ainda hoje, o Serviço
Social anseia demarcar com maior precisão a sua estrutura matricial, sendo este um assunto
escassamente desbravado sob o ponto de vista teórico.
Segundo entendemos, não é possível estudar – historicamente ou com quaisquer outros
propósitos – a construção do conhecimento do Serviço Social, sem antes delimitar e
fundamentar com consistência científica a estrutura matricial desta profissão. Como tal,
ainda que um número significativo de fontes documentais manifeste a aspiração (legítima)
de se debruçar sobre a construção do conhecimento do Serviço Social, quando se depara
com o «vazio teórico-conceptual» sobre a matriz da profissão, acaba enredando por domínios
contíguos ao previsto inicialmente.
Talvez reflexo deste «vazio teórico-conceptual» sejam as (in)definições de Serviço Social, na sua
maioria implicitamente adoptadas, para conduzir as pesquisas sobre a história desta profissão
em Portugal. Porém, a construção do discurso histórico sobre esta profissão não tem que
assentar, necessariamente, numa definição prévia de Serviço Social.
Contrariamente ao esperado, os investigadores não iniciaram as suas pesquisas pela definição
e delimitação, com precisão, sobre o que tomariam como objecto de estudo. Os dados
recolhidos revelam a presença de definições de Serviço Social fragmentadas, na sua maioria
implícitas, e até mesmo de indefinições/incertezas explicitamente assumidas. A haver uma
constante, ela diz respeito ao Serviço Social como “prática profissional”.
Mas esta «não explicitação» poderá transcender uma provável insignificância conferida
pelos investigadores à necessidade de definir e delimitar o Serviço Social, antes de tomá-lo
como objecto de estudo histórico. Lembremos o «vazio teórico-conceptual» existente sobre
a matriz desta profissão. Recapitulemos as permanentes discussões, nomeadamente ao nível
internacional, para apurar uma definição de Serviço Social capaz de congregar todos os seus
elementos constitutivos essenciais. Que poderíamos esperar, se não que tais ausências e
indefinições se reflectissem no quadro nacional da produção científica sobre (a história) (d)o
Serviço Social?
A bibliografia consultada mostra-se em desacordo quanto a existência de um campo profissional
específico do Serviço Social. Alguns autores conferem ao Serviço Social um campo profissional
distintivo, enquanto outros negam a sua especificidade, posicionando-o no universo genérico
das profissões sociais. O nosso universo de análise espelha uma discussão ainda sem desfecho,
onde o relacionamento entre ciências sociais e Serviço Social permanece confuso, sem que
na sociedade se tenha demarcado completamente o Serviço Social de outras modalidades de
intervenção que acompanharam de perto a sua génese, emergência e institucionalização.
As definições de Serviço Social (ausentes) nas fontes documentais, e a (inexistente) demarcação
do Serviço Social face a outras modalidades de intervenção social, são silêncios que merecem
ser interrogados. Não foi o resgate do passado do Serviço Social uma das estratégias adoptadas
para legitimar e demarcar com precisão o espaço que a profissão ocupa actualmente na
sociedade? É certo que o desenvolvimento da profissão, em termos científicos, não se encontra
Locus SOCI@L 1/2008: 83
consolidado. De qualquer forma, será que duas décadas (1987-2007) não foram suficientes
para começar a disseminar uma representação mais científico-profissional do Serviço Social?
Ou será que uma representação desta natureza não faz sentido, face ao quotidiano real e
efectivo do assistente social?
A análise dos dados revelou que algumas décadas mais remotas apresentam-se escassamente
exploradas, quando comparadas a outras. Falamos, em termos concretos, do período de
génese e emergência do Serviço Social em Portugal – anterior a 1930 –, e das décadas de
1940 e 1950. É certo que as décadas mais recentes (1980 e 1990) são, efectivamente, as
menos estudadas em termos da história do Serviço Social em Portugal. Porém, consideramos
esta situação aceitável, visto serem as duas décadas que mais se identificam com a «história
imediata», ou com a «história do tempo presente», mostrando-se menos susceptíveis de integrar
o recorte temporal de uma pesquisa histórica. O mesmo não acontece quanto às décadas
mais longínquas, se pensarmos no número (em declínio) de interlocutores privilegiados que
nos podem contar a história da profissão, «conjugando os verbos na primeira pessoa».
Já a década de 1970 surge nitidamente em destaque, sendo a mais explorada em termos da
história do Serviço Social em Portugal, sobretudo em pesquisas mais recentes. A situação
política e ideologicamente conturbada que caracteriza esta década, marcada por grandes
transformações sociais ligadas à modernização económica, à emigração em larga escala
para a Europa, à guerra colonial e ao seu impacto na sociedade portuguesa, e à Revolução
Democrática de Abril de 1974, constitui cenário de eleição para os investigadores.
Quando na exploração bibliográfica nos deparámos com o quadro de leitura de Andrade
(2001) – que se debruça sobre o núcleo/corpus peculiar do Serviço Social – este pareceunos interessante e adequado, face aos nossos propósitos. Porém, os dados encontrados nas
fontes empíricas não convergem para esse mesmo quadro de leitura. Ou seja, os estudos que
compõem o nosso universo de análise não pretendem indagar historicamente o processo
relacional que caracteriza o agir do assistente social, a partir da «(...) rede de comunicações
que se estabelece entre os diferentes protagonistas que integram o campo de intervenção [do
Serviço Social] (Andrade, 2001: 164) : o assistente social, os destinatários da intervenção, e a
organização/instituição.
Efectivamente, acreditamos ser possível realizar um estudo histórico do Serviço Social a partir
da proposta desta autora, mas não podemos exigir que este, ou outro, sejam o quadro de
leitura adoptado pelos investigadores para conduzir as suas pesquisas. Por outro lado, se nele
insistíssemos, correríamos o risco de cair naquilo que L. Febvre considerou o «pecado máximo
do historiador: o anacronismo». Interpretar o quadro de produção científica sobre a história
do Serviço Social em Portugal, a partir de um modelo teórico-explicativo com data posterior
à maioria dos estudos considerados no universo de análise, seria ignorar a historicidade desse
mesmo quadro teórico.
A formação profissional, os sectores de intervenção e as práticas profissionais são, nitidamente,
os domínios mais estudados em termos da história do Serviço Social em Portugal. Como
domínios menos explorados, encontramos o associativismo e a identidade profissional. Os
domínios identificados mostram que, em termos do estudo histórico dos protagonistas do
campo do Serviço Social, há uma nítida ênfase no «assistente social», em detrimento dos
destinatários da intervenção e das organizações/instituições de suporte.
Do modo como perspectivamos o agir profissional, os destinatários da intervenção são o actor
mais significativo do campo do Serviço Social. Estes são «(...) socialmente determinantes na
Locus SOCI@L 1/2008: 84
existência do assistente social, enquanto profissional, e na existência de algumas instituições
sociais ou de alguns serviços (...) (Andrade, 2001: 172). «A situação-problema vivenciada
pelos destinatários da intervenção(...), bem como a rede de relações particulares, processuais
e estruturais envolvidas [no campo], constituem o objecto de trabalho próprio do Serviço
Social (ibidem).
O ser utente não deve ser entendido como um estado, mas antes como um processo. As
pessoas tornam-se, agem como, e afastam-se de ser utentes do Serviço Social (cf. Payne,
2002). Esta poderá constituir uma hipótese de investigação futura, em termos da história do
Serviço Social em Portugal. Falamos, em termos concretos, do processo de construção social
de utentes, ao longo dessa história – a forma como os utentes trouxeram consigo o “mundo”
para o campo do Serviço Social, mudando o assistente social, a natureza da intervenção social
e, por sua vez, a própria instituição.
Em termos de recorte temporal, a década de setenta apresenta-se como a mais estudada face
ao conjunto de domínios do Serviço Social identificados, sobretudo ao nível da formação
profissional, dos sectores de intervenção e das práticas profissionais. Em contrapartida,
assistimos à escassez de estudos sobre as práticas profissionais na década de 1930, sobre
este domínio e o dos sectores de intervenção na década de 1940, e sobre ambos os domínios
anteriores e a formação profissional na década de 1950. A este cenário acresce a inexistência
de estudos sobre associativismo e identidade profissional, entre as décadas de 1930 e 1950.
De destacar que a esfera dos domínios com que o historiador observa a realidade é a parte
mais flutuante, diversificada e mutável do caleidoscópio historiográfico (cf. Barros, 2004).
Para além dos que foram identificados nas fontes documentais haverá, com certeza, outros
domínios do Serviço Social por explorar historicamente. Este pressuposto é válido para o
período que medeia as décadas de 1930 e 1990. Porém, o resgate do passado do Serviço
Social, qualquer que seja o domínio específico, é prioritário nas décadas mais remotas, onde
testemunhos orais e fontes textuais correm maior risco de se perderem no tempo.
Para delimitar o seu objecto de estudo, a maioria dos investigadores realizou um «recorte
institucional» – focalizando instituições de formação em Serviço Social –, ou então um
«recorte sectorial» – centrando-se em sectores profissionais do Serviço Social. A distribuição
de pesquisas históricas por instituições de formação não se revela uniforme, sobressaindo o
Instituto de Serviço Social de Lisboa. Existe grande disparidade entre o nível de exploração
histórica das várias instituições de formação, sendo o caso mais flagrante a Escola Normal
Social de Coimbra – com apenas um estudo –, precisamente por se tratar da segunda escola
de Serviço Social mais antiga do país, datando de 1937.
No que concerne aos sectores profissionais do Serviço Social, identificámos apenas três recortes
distintos: o sector da habitação social, na Câmara Municipal de Lisboa; o sector da saúde, no
Instituto Português de Oncologia (Lisboa), e o sector da educação, no Serviço Social Escolar da
zona centro do país. Os recortes sectoriais também se focalizam na área geográfica de Lisboa,
o que vem evidenciar novamente a necessidade de “descentralizar” o estudo da história do
Serviço Social em Portugal, sob pena de enviesar o conhecimento desta realidade. A destacar
que os sectores profissionais onde as primeiras assistentes sociais portuguesas exerceram a sua
profissão ainda não foram estudados, tornando-se urgente proceder ao seu resgate histórico.
Refira-se, a título exemplificativo, o Bairro da Quinta da Calçada, o Hospital Júlio de Matos,
e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, instituições que empregaram pela primeira vez uma
assistente social em 1940, 1942 e 1944, respectivamente 2.
Locus SOCI@L 1/2008: 85
Constatámos ainda uma grande riqueza e diversidade nas fontes documentais utilizadas
pelos investigadores. Apenas para exemplificar, temos monografias e relatórios de estágio
de alunos de Serviço Social; planos de estudo, programas e sumários das aulas de Serviço
Social; correspondência oficial das escolas de Serviço Social; periódicos de Serviço Social;
e documentos internos de instituições e/ou serviços que empregaram assistentes sociais. A
maioria dos estudos recorre a fontes documentais, mas realiza entrevistas complementares,
a fim de enriquecer a informação recolhida. Os entrevistados têm sido assistentes sociais,
profissionais considerados interlocutores privilegiados do passado da profissão, e ainda
utentes do Serviço Social.
A década de setenta é aquela que tem sido indagada a partir de fontes históricas mais
diversificadas. Já a realização de entrevistas tem sido negligenciada, nos estudos que têm
por recorte temporal as três primeiras décadas do Serviço Social português – 1930, 1940 e
1950. É incontestável que o conhecimento sobre o passado mais longínquo do Serviço Social
em Portugal tem sido construído, sobretudo, a partir de fontes documentais. Ou seja, a
história textual tem predominado sobre a história oral, justamente nas décadas em que é
progressivamente mais difícil encontrar actores da história do Serviço Social vivos e actuantes.
Negligenciar os depoimentos desses protagonistas seria uma perda irreparável, já que os seus
testemunhos orais surgem como fonte privilegiada. Enquanto estratégia de investigação futura,
a história oral é uma hipótese não apenas possível, como também urgente e necessária.
No que concerne aos critérios que têm norteado as periodizações na história do Serviço Social
em Portugal, prevalecem os que transcendem a dinâmica intrínseca da profissão. Falamos,
essencialmente, de critérios que se prendem com o contexto político e ideológico da sociedade
portuguesa.
É certo que «no campo da intervenção, o assistente social é um profissional que ocupa
espaços organizacionais, (...) circunscritos pela divisão social e técnica do trabalho numa dada
sociedade, a partir dos quais desenvolve a sua acção» (Andrade, 2001: 166). Também é facto
que os vários percursos históricos do Serviço Social, e as suas «relações com outros grupos
ocupacionais e instituições sociais, definem a sua natureza como ocupação» (Payne, 2002:
34). Essa natureza muda em resposta às mudanças societárias. Como tal, o conhecimento e
as ideias que os assistentes sociais utilizam também respondem, entre outras, às mudanças
políticas, ideológicas e sociais. Em suma, o contexto específico de uma sociedade constitui
condição necessária e determinante, na estruturação do campo do Serviço Social.
Porém, na delimitação das fases históricas do Serviço Social português, as alterações na
estrutura interna do Serviço Social têm sido subvalorizadas, face às transformações na estrutura
socioeconómica e política envolvente. Trata-se de um conhecimento histórico construído,
sobretudo, a partir de uma «perspectiva exterior» a esta profissão. Concluindo a partir do
quadro teórico de Andrade (2001), no discurso histórico analisado os conteúdos de produção
interna do campo do Serviço Social têm sido subvalorizados, face aos conteúdos do contexto
social envolvente, conferindo à profissão uma autonomia muito limitada, enquanto campo
de acção.
Colocámos como hipótese que a história social teria sido privilegiada nas investigações sobre
a história do Serviço Social em Portugal. Todavia, concluímos que nos estudos realizados este
papel de destaque não pertence à história social, mas antes à história política. Em termos de
enfoque historiográfico, os estudos realizados sobre a história do Serviço Social português
raramente incidem na história social, a não ser para contextualizar historicamente a profissão
Locus SOCI@L 1/2008: 86
nos processos socioeconómicos mais abrangentes, de transformação da sociedade portuguesa
– industrialização, modernização, colonização, e emigração.
O Serviço Social é uma profissão que lida, desde sempre, com as camadas mais pobres,
excluídas, e marginalizadas da população. Enquanto proposta de investigação futura, seria
pertinente atribuir maior ênfase à história social – “diferenças e desigualdades sociais” –,
e à «história vista de baixo» (history upside down) – preocupada com as grandes massas
anónimas e com o «indivíduo comum» –, para interpretar e problematizar o percurso histórico
do Serviço Social português, na interacção com a evolução da própria sociedade em que este
se inscreve.
De salientar que a tipologia do campo histórico adoptada (cf. Barros, 2004, 2005), prioriza
alguns enfoques da apreensão da vida e da organização em sociedade. Estamos perante um
«esquema aberto», que não esgota todas as dimensões possíveis do viver do homem em
sociedade. A «história religiosa» – desconsiderada pelo autor na sua tipologia – mostrou-se um
enfoque historiográfico muito presente no discurso histórico sobre o Serviço Social português,
enquanto dimensão autónoma, ou em interface com a história social e política.
A história política revela-se o enfoque predominante nos estudos sobre a história do Serviço
Social em Portugal. As «relações políticas entre grupos sociais», os «processos políticos» e os
«mecanismos de controlo» têm sido indiscutivelmente focados para enquadrar e contextualizar
historicamente a profissão. A prevalência deste enfoque historiográfico mostra-se em
consonância com o facto da maioria das pesquisas periodizar a história do Serviço Social
com base nas transformações políticas e ideológicas, ocorridas na sociedade portuguesa.
Esta orientação decorre das «instâncias da realidade social» que foram enfatizadas, durante a
interpelação do objecto de estudo histórico.
No século XIX, o desenvolvimento do fenómeno de pauperização em massa, durável e
permanente, associado aos processos de industrialização, urbanização e a novas formas de
socialização, conduziu a uma crescente necessidade de intervenção do Estado. Tornou-se
necessário submeter os indivíduos a uma nova ordem social estável, sendo este o contexto
em que foi definido o Serviço Social (cf. Howe, 1996). Afirmações como esta levam a crer
que o Serviço Social só adquiriu relevância nas sociedades industrializadas ou em vias de
industrialização, onde foram institucionalizados serviços, nomeadamente a partir do Estado.
Sob esta perspectiva, é compreensível que os estudos analisados coloquem em evidência a
instância política e ideológica, na interpretação do percurso histórico do Serviço Social em
Portugal.
Mais compreensível se torna, se tivermos em consideração que a institucionalização e o
desenvolvimento da profissão em Portugal ocorreram, inicialmente, num contexto histórico
fortemente marcado pelo quadro de orientação política autoritária do Estado Novo. Porém,
não podemos deixar de questionar se a ênfase atribuída a determinadas «instâncias da realidade
social» – política e ideológica – será suficiente, para traduzir a complexidade da história e da
identidade do Serviço Social português.
Identificámos algumas funções atribuídas ao Serviço Social, em determinados momentos
do seu percurso histórico em Portugal. Estas revelam uma orientação/perspectiva de Serviço
Social igualmente marcada pelos enfoques sociopolítico e ideológico. Entre os anos trinta e o
início da década de 1950, o Serviço Social é nitidamente associado, pelos investigadores, a um
mecanismo de regulação social do Estado, cujas funções passam pela integração do indivíduo
Locus SOCI@L 1/2008: 87
na sociedade e pela reprodução da ordem social vigente. Esta definição de funções por relação
ao Estado acaba por diluir a identidade profissional do Serviço Social nos propósitos de um
poder instituído.
Num quadro contextual onde o Estado detém um papel peculiar – corporativista e autoritário –,
não é de estranhar que a dinâmica intrínseca/própria do campo do Serviço Social (e de outras
profissões) fosse mais restrita, comparativamente à existente em sociedades democráticas. Mas
será esta condição suficiente para reduzir drasticamente a autonomia do campo do Serviço
Social, ficando este confinado aos desígnios do Estado Novo? Por outro lado, ao fornecer
uma determinada orientação/perspectiva de Serviço Social – em que sobressaem funções de
«integração», «manutenção» e «reprodução» –, não será que os investigadores o fazem à luz de
padrões e concepções actuais do Serviço Social? Não será anacronismo interpretar um período
histórico com mais de meio século, a partir de modelos teórico-explicativos contemporâneos?
Tudo tem uma historicidade.
De salientar que nenhuma pesquisa se socorreu de um quadro teórico específico do Serviço
Social, para problematizar e interpretar o percurso histórico desta profissão. Os (poucos) estudos
que adoptaram um referencial teórico debruçaram-se sobre a «sociologia das profissõesΩ, os
«processos de profissionalização» ou a «divisão social do trabalho». Concluímos, novamente,
que o Serviço Social tem sido interpelado «de fora para dentro», ou seja, a partir de uma
realidade que é exterior ao padrão/suporte que o distingue e caracteriza enquanto campo
de intervenção… a sua estrutura matricial. Compreensível, se tivermos em conta que a matriz
do Serviço Social é um objecto de conhecimento ainda em construção. (Mais uma) Razão
pela qual os critérios de periodização da história do Serviço Social em Portugal transcendem
a dinâmica intrínseca da profissão e incidem, sobretudo, nas transformações da estrutura
socioeconómica e política da sociedade portuguesa.
As pesquisas que adoptam uma problemática orientadora da investigação são também aquelas
que formulam explicitamente questões e/ou hipóteses de investigação. O discurso histórico
sobre o Serviço Social, construído com base nestas pesquisas, é o que mais se aproxima da
“história-problema”. Já o discurso histórico erigido a partir das pesquisas que excluem um
quadro teórico de referência, e cujas questões e/ou hipóteses de investigação se encontram
ausentes/explícitas – situação presente em cerca de metade do nosso universo de análise –, é o
que mais se distancia de uma história problematizadora, na acepção da Nova História.
A escassez de quadros teóricos adoptados também revela uma «não saturação» no estudo da
história do Serviço Social em Portugal. As fontes históricas podem presentear-nos com novas
respostas, se alargarmos e renovarmos as questões que lhes colocarmos. Indagar o passado da
profissão a partir de quadros de leitura inovadores, ou seja, a partir de novas visões explicativas
da realidade, conduzirá à formulação de novas questões e/ou hipóteses de investigação e,
inevitavelmente, a «maneiras diferentes de contar uma mesma história».
Referências
Andrade, Marília de Carvalho Seixas (2001). Serviço Social e Mutações do Agir na Modernidade (Tese de Doutoramento
em Serviço Social, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
Locus SOCI@L 1/2008: 88
Barros, José D´Assunção (2004). O Campo da História – Especialidades e Abordagens. Petrópolis: Editora Vozes.
Barros, José D´Assunção (2005). O Projecto de Pesquisa em História – Da Escolha do Tema ao Quadro Teórico. Petrópolis:
Editora Vozes.
HOWE, David (1996). Surface and Depth in Social Work Practice, in N. Parton (eds.), Social Theory, Social Change and
Social Work – The State of Welfare (pp. 77-97). London / New York: Routledge,.
Payne, Malcolm (2002).Teoria do Trabalho Social Moderno. Coimbra: Quarteto Editor
Notas
1
Artigo republicado em 7 de Abril de 2009, com correcção de erros detectados na versão original publicada em
Dezembro de 2008.
2
Dados recolhidos no âmbito da fase exploratória do projecto de investigação “Ao Encontro da Memória – História
do Serviço Social em Portugal”, integrado no Centro de Estudos de Serviço Social e Sociologia, da Universidade
Católica Portuguesa.
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Novas polítcas sociais novas: entre
«belas» e «Senãos» 1
FERNANDA RODRIGUES
Universidade Católica Portuguesa
Centro de Investigação e Intervenção Educativas (CIIE)
Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação - Universidade do Porto
Coordenadora Nacional do Plano Nacional de Acção para a Inclusão (PNAI)
[email protected]
Resumo
Neste artigo identificam-se alguns dos traços mais comummente reconhecidos às politicas sociais após o período
dos sistemas públicos de bem estar. Identificam-se as dimensões que corrigem e criam alternativas às insuficiências
ou necessidades de aperfeiçoamento desse período. A par deixam-se elencadas algumas das potenciais restrições,
quer nas lógicas de base quer, ainda, na timidez e carácter mínimo das medidas implementadas.
Abstract
This paper aims at to identify some of the central aspects underlying the ongoing social policies after the period
of the welfare public systems. Some dimensions are singled out as to correct and to create alternative answers vis
a vis the insufficiency and the need for improving now-a-days social policies. Along the analysis some potential
restrictions are also pointed out mainly due to the basic very modest logics and also due to the shyness and
restricted nature of the implemented measures.
Do título desta breve reflexão, podem descortinar-se, desde logo, dois dilemas sobre o tema,.
Primeiro: foi difícil escolher onde colocar o designativo de «novo» por relação às políticas
sociais na actualidade, isto é, se (só) começaram por se afirmar novas ou se conseguem
ser (mesmo) novas nos resultados finais. Segundo: suspeitou-se que às suas belas virtudes
(públicas) se associam senãos que podem ser vícios (mais ou menos privados…).
Palavras Chave
Novas políticas
sociais,
territorialização,
activação,
partenariado,
focalização
...
Key Words
New social policies,
territorialization,
activation,
partnership,
focalization
É difícil definir um quadro consensual de traços definidores das políticas sociais tal como se
têm vindo a reconfigurar neste ciclo posterior ao modelo de orientação universalista e sob
responsabilidade pública. Várias são as razões que justificam a dificuldade para delinear esse
eventual corpo identitário. Essas razões irão desde a história diversa de cada um dos sistemas
de bem-estar até à panóplia de caminhos (mais do que soluções) encontrados para reagir à
designada crise dos sistemas anteriores. Apesar desta constatada dificuldade, é desafiante
elencar alguns dos eixos de denominador comum onde se abrigam estas «novas políticas
sociais novas».
Refira-se em primeiro lugar o seu estatuto reivindicado de políticas amigas da equidade. Este
«novo» estatuto perfila-se como o garante de uma «nova» orientação que escolhe nov@s»
destinatári@s: de entre tod@s escolhem-se @s que não podem dispensar os apoios (também
chamados de benefícios) administrados. A prioridade dos que se escolhem (e que podem
ser cidadãos/ãs, problemas, instituições, territórios) apoia-se na sustentabilidade que está
agendada como questão central e quase parecendo ter vida em si e não ao serviço de....
Olhando para o lado dos senão, é inevitável perguntar por onde passa a linha de suficiência,
isto é, aquele compósito de critérios que separa @s que são arredad@s dos apoios, daqueles/
as que se consideram com o estatuto de suficiência? Como se avalia/mede a (in)suficiência?
Que clareza acompanha estes critérios? Como são apropriados nas diversas áreas das políticas
sociais, instituições e profissionais de que depende o complexo composto do bem-estar?
Locus SOCI@L 1/2008: 90
No caso português e na actualidade o interesse afirmado pela Assembleia da República em
definir um limiar de pobreza poderá ser um processo a acompanhar, dado o debate que tal
recomendação irá suscitar (assim se espera, pese embora a circunstância de a política social
não ser dos temas mais visados nos debates, a menos que se trate de a associar a temas vindos
prioritariamente da agenda económica).
Uma outra «nova» característica reside na «nova» territorialização destas novas políticas,
isto é, as políticas (a sua concepção, as orientações de implementação e a sua avaliação e
monitorização, quando existe) mudaram de lugar tendo ficado tensionadas entre «novos»
locais: do subnacional ao supranacional. A inscrição dos países em ou sob a égide de espaços
supranacionais não é mais uma escolha, mas é uma «nova» regra de orientação mundial.
Neste «novo» enquadramento e influência, têm notórias repercussões na provisão social
quer os antecedentes, a vinculação e garantia de cada país por relação ao bem estar, assim
como o seu compromisso construído ou adiado com a administração da justiça social. O
modelo social europeu é um exemplo e teste sobre as belas e os senãos desta «nova» fonte de
influência sobre as questões sociais — influência esta que vai desde a forma como são vistas
essas questões até às guidelines que se exemplificam através de «novas» (e/ou boas) práticas.
E vale interrogar, qual a fonte destas «novas» aprendizagens? Que papel tem sido/pode ser
desempenhado pelos países de modesto historial no campo do bem-estar? Como se desenvolve
hoje em todos os países (mas mais particularmente nos de mais fraco desenvolvimento) face
ao hiper-criticismo à escala mundial quanto ao papel do bem estar organizado e garantido no
caminho da civilização humana?
Pensando, por outro lado, no espaço local, constata-se que muitas são as virtudes que lhe são
atribuídas, desde logo pela «nova» proximidade face aos problemas e aos/às cidadãos/cidadãs
e, daí até se esperar que ocorram «novas» dinâmicas, vai só um passo. Mas como contraagir face ao eventualmente mais subtil controle social, cultural e de modos de vida e de viver
proporcionado por esta proximidade face aos/às cidadãos/cidadãs? Qual a consensualidade
de critérios na implementação da técnica designada por condição de recursos (means-tested)?
Como se conjugam os verbos participar e reconhecer (designadamente das diferenças) a nível
local?
O experimentalismo social das «novas políticas sociais novas» é dentro das suas faces uma
das mais enfatizadas, designadamente por permitir contrariar os efeitos de medidas não
agilizaram mudanças, mesmo quando as circunstâncias estavam a evidenciar a oportunidade
de alterações. De há muito que se conhece que podem existir grande desfasamento de ritmos
entre a(s) realidade(s) sociais e adequação dos sistemas de resposta. O carácter fracamente
adaptativo dos sistemas de bem-estar é, hoje, desafiado por um ambiente de experiência,
de que o trabalho por projectos é um dos campos de expressão. Vários senãos se perfilam
em forma de pergunta, a saber: Como combinar experimentalismo e garantia de acesso aos
bens básicos? Como se forma/prepara para o experimentalismo social, isto é, quais são as
condições de desenvolvimento e sustentação de um ambiente que, em permanência, acolhe a
vantagem de fazer e pensar «novo», não só para o inscrever no lote das boas práticas, mas para
o estender/generalizar aos campos e situações similares?
Um outro eixo das «novas políticas sociais novas» refere-se ao interesse expresso (e feito acto)
nos procedimentos de avaliação e monitorização. Buscar a garantia de que se está a desenvolver
o adequado, com os recursos adequados e chegando aos/ás cidadãos/cidadãs adequad@s
Locus SOCI@L 1/2008: 91
são apenas algumas das questões que deverão manter-se sob observação. Importa lembrar,
todavia, que foi sob o governo Thatcher que o uso recorrente de avaliações no campo das
políticas sociais veio a conhecer um desenvolvimento ímpar, tendo, na ocasião, como interesse
central o muito defendido e desejado corte de despesas e dos direitos sociais então em vigor.
Para combater alguns dos senãos, que o imperativo das avaliações hoje sugere, importará,
entre outros, saber: como avaliar a avaliação? Como fazer a avaliação amigável da palavra
dos/das cidadãos/ãs? Como retirar a avaliação do lugar longínquo e tecnicista – fazendo-a
equivaler ao rigoroso uso dos instrumentos cada vez mais «democratizados» – lugar no qual se
tem colocado algumas vezes e nalguns lugares?
De entre outras vertentes, as designadas «novas» políticas sociais vêm invocando o interesse
pela «activação». Esta tem servido, quer de base para a apreciação das políticas sociais
anteriores, quer como base de orientação para este outro ciclo das políticas. Respectivamente
vem-se dizendo que o modelo anterior era de políticas passivas, ou seja, que dispensavam o
empenho activo d@s cidadãos/cidadãs na resolução dos seus problemas que, por esse facto,
eram acometidos à exclusiva responsabilidade das instituições estatais. Por relação às «novas»
políticas, a activação anima a ideia (e esperadamente as práticas) de responsabilização
d@s destinatári@s, sublinhando a condição da sua iniciativa (e não só colaboração) para a
administração de certas prestações e para gerir o seu próprio processo de mudança. Várias
interpelações cabem no campo da activação. Antes de mais, as razões pelas quais têm tido
como destinatári@s privilegiad@s os que dependem do sector de Assistência Social. Depois,
ainda, porque será que nos remete para a discussão do que é ser activo em sociedades de
crescente desemprego e de exigências maiores por relação às qualificações e perfil para o
emprego? Estão as sociedades preparadas para reconhecer como «actividades» de facto, as
ocupações socialmente úteis, mas pouco cotadas na «bolsa» do mercado de trabalho? Como
se evita remeter um grupo significativo de cidadãos/cidadãs para um mercado de trabalho
secundário (que o é por variadas das suas características, desde o reconhecimento social que
proporciona, pelas condições de inserção laboral a que permite aceder, até ao montante salarial
que tão fracamente remunera as necessidades humanas)? Uma última interrogação quanto
à activação, leva-nos a ponderar sobre a natureza individualizada da activação e isto porque,
em matéria de contrariar a passividade, importará também pensar como ganhar muitas das
agências e actores dos sistemas de bem estar social para formas mais intervenientes de fazer
acontecer o bem estar societal. Assim sendo, como se define a activação institucional e a dos
profissionais dos vários escalões (e não deixemos de fora quem decide)? Quem a avalia e
como?
Já muito se tem escrito e agido em nome das parcerias,que passaram a ser um tópico inevitável
na reflexão sobre os novos modelos de intervenção social. Generalizou-se a evidência das
vantagens da cooperação aos vários níveis, com propósitos múltiplos, mas onde é iniludível a
invocada necessidade de uma melhor administração (sobre os recursos financeiros, o pessoal,
os bens e serviços). Aqui reside, na nossa visão, uma questão central na concepção e uso
das parcerias – fazê-las instrumento do designado novo (também) gerencialismo, ou seja,
esperando mais do seu contributo para melhor fazer, do que da sua capacidade para fundar e
abrir diferentes perspectivas e prioridades. Com base nas parcerias, as novas políticas abrem
o caminho não só para melhoradas articulações, mas para uma outra alquimia, isto é, algo
que supera a soma das componentes de partida. Esperar das parcerias este efeito de alquimia
implica, além do mais, a capacidade de superação de modelos de pensamento e acção que
rodopiam em esquemas de pseudo-modernização e fogem das virtualidades da invenção
social. Pensar as parcerias pelo seu efeito de alquimia contem de saída vários desafios, i) que
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há corpos (individuais e colectivos) que passarão pelo caminho da mutação e, ii) o desafio
de aceitar que estamos numa fase de consolidação de bem estar de que as parcerias são uma
parte (mas não a totalidade).
Inscrito no perfil das «novas» políticas sociais está ainda a focalização que se inspira nas
vantagens de singularizar destinatários, quer sejam indivíduos/famílias, colectivos com
determinadas particularidades, quer sejam territórios. A focalização surge associada com a
aplicação da chamada discriminação positiva e, invocadamente, propõe-se chamar à primeira
linha das prioridades, intervenções mais ou menos extensivas à totalidade dos públicos que
visa distinguir. Quando l´air du temp vai no sentido de profundas contenções de recursos,
logo também de capacidade e de abrangência de focalização, caberá perguntar, como é que
a focalização se generaliza aos campos múltiplos campos da discriminação? Se é verdade
que há que escolher, então caberá ainda perguntar como se focaliza dentro do critério da
focalização? Quais as regras da explicitação pública das condições limitadas para focalizar
todas as discriminações, desvantagens, vulnerabilidades e outros nomes que têm as margens?
Vários são os alertas vindos de práticas de focalização há três décadas iniciadas nalguns países,
a saber: i) o abaixamento de patamares de exigência e qualidade dos bens e serviços de bem
estar (até porque para exercer poder de apreciação e reclamação exige ter condições…), ii)
a progressiva delimitação do que se considera dever ser focalizado, com consequências no
perfil crescentemente mais desmunido dos que são abrangidos e, iii) pelo desinvestimento
no património comum do ambiente de vida que (mesmo na era dos condomínios fechados)
precisa de condições gerais de bem estar e civilidade. Em suma, como se consegue focalizar sob
o signo da abrangência nas necessidades humanas básicas que a nossa tradição de civilidade
não nos permite escamotear?
Sem ter conseguido dar o assunto por encerrado, ocorre-me agora uma «nova» pergunta: qual
será o prazo de validade (qual bula de medicamento) destas «novas» políticas sociais? É que
já há quem diga que a tremenda mudança de cenário a que assistimos (hoje literalmente de
hora a hora) no seio do capitalismo mundial, vai/está a exigir «novas» intervenções que, quem
sabe, vão precisar do que se tem vindo a aprender das restrições defendidas e implementadas
em tempos de restrição (a qual foi não só, mas principalmente de natureza social).
Referências
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Centre.
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Tobar, F. (2008). Una nueva universalidad a partir del respeto a la diferencia, Actas Actas do XIII Congreso International
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Locus SOCI@L 1/2008: 93
Alberto Torres (Orgs.), Educação Crítica e Utopia: Perspectivas para o Século XXI, Porto: Edições Afrontamento.
Notas
1
Este texto é uma reedição revista e acrescentada de duas breves contribuições publicadas no Jornal A Página em
Janeiro e Outubro de 2008, na rubrica «Reconfigurações».
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normas de publicação
Princípios gerais
1. A revista Locus Soci@l aceita propostas de artigos para publicação que se enquadrem nas
áreas do Serviço Social, Política Social e Ciências Sociais em geral.
2. Os artigos enviados devem ser originais e não podem estar, à data da sua proposta à revista
Locus Soci@l, em apreciação noutra publicação. Qualquer excepção deverá ser explicitamente
indicada aquando da submissão do artigo. Os artigos publicados na revista podem ser
posteriormente editados sob qualquer outra forma (livro, revista, e-book, etc.) desde que
referenciada a primeira edição do texto.
3. Os artigos serão apreciados num primeiro momento pelo Conselho de Redacção que aferirá
da pertinência das propostas no âmbito editorial da revista. Caso se verifique que cumprem os
requisitos de candidatura, os artigos serão submetidos, em regime de anonimato, ao parecer
de dois membros do Conselho Editorial ou, em casos excepcionais, de outros especialistas
das áreas respectivas. Em caso de divergência entre pareceres, o artigo será objecto de um
terceiro parecer.
O artigo será devolvido ao(s) autor(es), caso os pareceres sugiram mudanças e/ou
correcções.
A decisão final de publicação é da responsabilidade da Direcção.
4. Compete aos autores a obtenção do copyright sobre todos os materiais que não lhes
pertençam: ilustrações, quadros, fotografias, etc.
5. Os materiais enviados para publicação não serão devolvidos, ficando propriedade da
revista.
6. A Locus Soci@l compromete-se a contactar por e-mail o autor:
— acusando a recepção do artigo;
— informando, num prazo máximo de 3 meses após a recepção, sobre a aceitação ou recusa
de publicação do mesmo.
Apresentação de artigos
7. Proposta via e-mail [recomendada] enviada para [email protected], com informação do
nome e contactos na mensagem de e-mail, e os seguintes anexos:
— Texto integral em formato Word ou RTF
— Folha de rosto com os dados solicitados no ponto 10
8. Proposta em papel: enviar 1 exemplar da folha de rosto, 3 exemplares do texto integral e
uma versão em suporte digital (disquete ou CD-Rom) para Locus Social, Centro de Estudos
de Serviço Social e Sociologia, Faculdade de Ciências Humanas, Universidade Católica, Palma
de Cima, 1649-023 Lisboa.
Normas de apresentação dos artigos
9. Em nenhuma parte do artigo deverá ser referido o(s) nome(s) do(s) autor(es).
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10. Todos os artigos deverão incluir uma folha de rosto autónoma de que constem os seguintes
elementos: título do artigo, nome do autor, instituição a que pertence, morada completa,
endereço de e-mail, telefone(s).
11. Os textos devem ser formatados a corpo 12, espaço 1,5. Não devem ser utilizados estilos nem
formatações automáticas tais como numeração (numbering) e bolas/asteriscos (bullets).
12. Os artigos não poderão exceder os 40.000 caracteres (cerca de 20 páginas A4), incluindo
espaços, notas e bibliografia. As recensões não poderão ultrapassar os 8.000 caracteres.
13. Para além do texto, os autores devem enviar - em português e inglês - um resumo do artigo
(800 caracteres, cerca de 10 linhas) e até seis palavras-chave.
14. As notas deverão ser coligidas no fim do artigo (endnotes) (e não em rodapé footnotes).
15. Relativamente às citações:
— qualquer interrupção de citação deve vir assinalada com reticências dentro de parêntesis
rectos [...]
— as citações curtas devem ser integradas no texto entre aspas angulares (« »).
— as citações longas (mais de 3 linhas), não devem ter aspas e serão destacadas do texto
principal, alinhadas à esquerda pelo parágrafo, fechadas pela pontuação do próprio
trecho citado.
16. As palavras estrangeiras devem estar grafadas em itálico.
Normas de citação e referenciação bibliográfica
17. A bibliografia referenciada no texto segue o estilo autor data (autor, data: página). Por
exemplo (Faleiros, 2004: 63) ou (Dominelli e Payne, 2001: 39). No caso de mais de dois
autores, utiliza-se et al. (Adms et al., 1995).
Citações de diferentes obras do mesmo autor, se publicadas no mesmo ano, devem ser
distinguidas com letras (Brown 1990a, 1990b)
18. As referências bibliográficas devem seguir a norma APA 5th :
— Livros: apelido, nome próprio (data). Título. Local: editora.
Baptista, Myrian Veras (2001). A Investigação em Serviço Social. Lisboa: CPIHTS
— Capítulo de livro: apelido, nome próprio (data). Título do Capítulo. In apelido, nome próprio
(ed[s]), Nome do Livro (páginas). (Edição se aplicável). Local: editora,.
Kérisit, Michéle (2007). Recherche et Service Social. In Jean-Pierre Deslauriers and Yves
Hutubise (eds.), Introduction au Travail Social (pp. 267-294). 2ª edição. Laval: Les
Presses de l’Université du Laval.
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— Artigo em Revista: apelido, nome próprio (data). Título do artigo. Revista, número (volume
– se aplicável), páginas
Fook, Jan (2003). Critical Social Wok: the current issues. Qualitative Social Work,
2(2), 123-130.
— Dissertação ou Tese: apelido, nome próprio (data). Título da Dissertação / Tese (Área da
Dissertação / Tese, Instituição conferente do grau)
Franco, Ana Cristina de Almeida M. (2003). A Investigação em Serviço Social e a formação ao nível da licenciatura. Análise dos Planos de Estudo nos anos 90, em Portugal
(Dissertação de Mestrado em Serviço Social, Instituto Superior Miguel Torga).
— Artigo em Revista Electrónica: apelido, nome próprio (data). Título do artigo. Revista,
número (volume – se aplicável) (data do número e/ou data da recuperação do artigo, conforme
aplicável), de endereço da internet.
Juliusdottir, Sigrun e Jan Petersson (2003). Common Social Work Education Standards in the Nordic Countries – Opening an Issue. Social Work and Society, 1(1)
(01.12.2003), de http://www.socwork.net.
— Documento electrónico: apelido, nome próprio do autor ou organismo (data). Título do
documento, data da recuperação do artigo, de endereço da internet.
National Institutes of Health. (2003). NIH Plan for Social Work Research, retrieved March
2008 from http://obssr.od.nih.gov/Documents/Publications/SWR_Report.pdf.
— Comunicação: apelido, nome próprio (data). Título da comunicação. Comunicação
apresentada – Nome do seminário/congresso. Local. Promotor do evento. Data precisa.
Martins, Alcina e Tomé, Maria Rosa (2008). O Estado Actual da Formação em Serviço
Social em Portugal - uma proposta de reforço da organização profissional. Comunicação apresentada ao Seminário Euro-Brasileiro de Serviço Social - Formação, Investigação, Qualidade e Desenvolvimento. Coimbra, Instituto Superior Miguel Torga, 20
de Fevereiro.
19. Sempre que possível as referencias bibliográficas deverão ser apresentadas em ficheiro
próprio no formato usado pelo programa EndNote ou formato compatível.
20. Os quadros, gráficos devem ter uma cópia em formato Excel (quadros e gráficos) e as
imagens uma cópia em formato jpeg ou tiff (imagens). A sua localização no texto deve estar
claramente indicada.
Lisboa, Novembro de 2008
(revisto em Março de 2009)
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