Coisas que eu aprendi sendo treinador

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Coisas que eu aprendi sendo treinador
HEAD COACH BRASIL – FUTEBOL AMERICANO INTELIGENTE
21 de março de 2016
APRESENTAÇÃO DO AUTOR
Coach Joe Paterno escreveu esse texto em 1987,
enquanto era head coach do time de Penn State, único time
que ele treinou em toda sua carreira. Ele é um dos maiores
treinadores da história do futebol americano, embora jamais
tenha treinado nenhum time da NFL.
Coach Paterno começou sua carreira como assistente
em 1950 e permanecer nessa posição até 1965. No ano
seguinte, assumiu o cargo de head coach de Penn State e
permanecer lá de 1966 a 2011, tendo dividido, entre 1980 e
1982, também o cargo de Diretor Atlético da universidade.
Ele tem dois títulos nacionais (82 e 86) e três titulos de
conferência (94, 05 e 09). Já ganhou em cinco oportunidades o
prêmio de treinador do ano dado pela AFCA (American
Football Coaches Association) e, obviamente, está presente no
Hall da Fama do College Football desde 2007.
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HEAD COACH BRASIL – FUTEBOL AMERICANO INTELIGENTE
21 de março de 2016
“Coisas que eu aprendi sendo
treinador”
Joe Paterno
Eu nunca vou esquecer a primeira vez que eu falei na clínica de treinador de Atlantic City, muito tempo atrás,
quando o Dr. Harry Scott a estava organizando. Ele me preparou numa noite. Nós tivemos um pequeno jantar e
Harry disse “Joe, eu tenho lido tudo o que você já escreveu sobre futebol americano. Tenho assistido a você, o jeito
que você treina, e pedi a um amigo meu, que é escritor, para juntar tudo num livro e eu gostaria de te entregar esse
livro. O título é ‘O que eu sei sobre futebol americano’ por Joe Paterno”. Eu mal podia esperar para pegar o livro e
ler. Eu o abri e havia 200 páginas em branco. Eu ainda tenho esse livro.
A primeira clinica que eu fui foi em 1950, quando eu estava no meu primeiro ano treinando Penn State.
Quatro de nós entraram num carro e dirigimos de State College até Dallas e nós estávamos indo passar a noite no
Baker Hotel. A universidade nos deu 50 dólares para as despesas do carro. Nós entramos no hotel por volta da
meia-noite e havia muita gente no lobby. Estava lá um cara sendo o centro das atenções nas conversas e entrevistas.
Esse cara era Woody Hayes.
Woody acabara de ter uma temporada sem derrotas treinando a Universidade de Miami de Ohio e estava no
processo de ser contratado para assumir Ohio State. Lá estava ele falando sobre como ele bloqueava numa corrida
off-tackle. Nós ficamos por lá até as 4 da manhã e eu estava fascinado. Essa foi minha introdução no mundo das
clínicas da AFCA (American Football Coaches Clinic).
SOBRE ENSINAR
Eu sei que a maioria de vocês já ouviram isso antes, mas primeiro de tudo, o que eu aprendi é que um
treinador precisa ser um professor. Eu aprendi isso de uma pessoa que eu considero um dos maiores treinadores e
professores de todos os tempos: Rip Engle.
Rip nunca deixou que nós colocássemos mais do que as crianças pudessem suportar. Ele estava
constantemente avaliando seus assistentes para determinar quanto material novo ele iriam ensinar e o quão rápido
os garotos iam aprender.
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21 de março de 2016
Eu não consigo dizem o quão importante isso é. No momento em que você precisar colocar um garoto pra
jogar que não consegue aprender rapidamente, não consegue lidar com as coisas que você quer executar, de
repente todo seu esquema desabará. Nós não poderíamos fazer algumas coisas que nós fazemos em nossa
secundária se nós não tivéssemos quatro garotos brilhantes lá, que consegue lidar com alguns ajustes, checks e
mudanças na cobertura. Nós só podemos ensinar tão rápido quanto o mais lendo aluno consegue aprender.
SOBRE JOGADORES
Sobre avaliar o elenco, eu sempre acreditei que a primeira coisa era consistência, a segunda era RBI (o cara
que pode fazer uma big play e ganhar o jogo para você) e a terceira coisa, o cara que comete os grandes erros. Você
não pode colocá-lo pra jogar. Eu tento lembrar o que os jogadores podem fazer bem. Se você tem um jogador que
consiga fazer algo particularmente bem, não se esqueça disso. Nos momentos importantes dos jogos, isso é o que
você deve usar.
SOBRE TREINADORES
Sobre avaliar treinadores, há certas coisas que eu tentei buscar enquanto estava contratando ou mantendo
na comissão técnica. Primeiro, ele consegue viver sem isso? Eu só estou repetindo o que Coach Bryant e algumas
outras pessoas disseram: “Se você consegue viver sem treinar football, eu não sei o que treinar football significa para
você”.
O NCAA News teve uma vez um artigo sobre um grande músico que Bobby Knight convidou para dar uma
palestra para seu time. Esse mundialmente reconhecido violoncelista, chamado Janos Starker, conversou com o
grupo de Bobby e explicou o quanto ele não queria tocar violoncelo, mas sua mãe “enfiou” o instrumento em suas
mãos. Ele então foi forçado a aprender como tocar aquilo. De repente, ele percebeu que não queria mais passar um
dia sem tocar, ouvir ou pensar em música. Ele disse: “Qualquer um que consiga passar um dia sem tocar, pensar,
ouvir música, não deveria ser um músico”. Starker se tornou um verdadeiro profissional – não um amador, mas uma
pessoa que comprometeu sua vida com a música.
Eu não acredito que qualquer um de nós, que já treina há muito tempo, consiga acordar um só dia sem
pensar em algo sobre futebol americano. Eu não sei se houve um dia em minha vida que não pensei sobre futebol
americano ou sobre meu time, e sobre tentar avaliar meus treinadores da mesma maneira.
Eu acho que treinadores precisam estar dispostos a fazer qualquer sacrifício pela vitória, excetuando suas
famílias. Você precisa disposto a qualquer sacrifício e você precisa ser autodisciplina. Você precisa estar no lugar
onde você deveria estar e fazer as coisas que você deveria fazer, porque você não pode enganar seu time. Você não
pode falar com os jogadores sobre disciplina e não ser disciplinado você mesmo.
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SOBRE DESENVOLVER JOVENS JOGADORES
Um dos maiores erros que eu já cometi enquanto treinador foi cometido quando nós tivemos um grande
calouro de Nova Iorque, que tinha 1,95m, 97kg, era fullback e corria um tiro de 100 jardas em 10.0 segundos
(naquela época, isso era um bom tempo). Ele chegou a nosso treino e nós mal poderíamos esperar para ver o que ele
podia fazer. Ele era um corredor muito bom, mas não um fora de série.
Então, durante a primavera que se seguiu, nós colocamos o calouro frente a frente com Dave Robinson, que
mais tarde viria a se tornar um dos maiores linebackers da história da NFL. Nós mal podíamos esperar para ver o
quão duro o garoto era, então nós o colocamos contra Robinson para o dive drill. O ponto é que nós não tínhamos
ninguém no time – ninguém mesmo – que enfrentando Robinson não fosse jogado para trás e caísse de costas no
chão. Robinson era realmente um monstro. A primeira vez do calouro não foi diferente. E a segunda vez também:
jogado pra trás, caindo de costas no chão.
O calouro estava muito frustrado. E você sabe o que aconteceu? Ele nunca mais apareceu no treino. Tudo
que nós fizemos foi pegar um grande prospecto que não estava pronto para esse tipo de desafio e destruí-lo. Se nós
tivéssemos liderado ele, dado a ele chances de ter algum sucesso, nós talvez tivéssemos evoluído ele num bom
jogador de futebol americano.
Desse modo, eu não fico mais apressado para dar jogo aos jovens jogadores. Minha comissão técnica sabe
como eu penso. Muitas vezes, os garotos acham que estão prontos para o jogo. Eu prefiro me atrasar em duas
semanas para dar jogo a um garoto do que antecipar em um dia. Porque, até que um garoto esteja confortável, até
que ele tenha oportunidade se sentir bem consigo mesmo, até que ele realmente saiba que está pronto para jogar,
até que todo o elenco diga “Quando você pretende colocar esse garoto pra jogar?”, eu não tenho certeza se eu
gostaria de colocá-lo para jogar. Depois de eles terem algum sucesso, uma vez que eles passam a acreditar em si
mesmos, então eles podem se tornar vencedores.
SOBRE VENCER
Pessoas geralmente conversam comigo sobre desenvolver indivíduos em vencedores. Eu sempre quis estar
perto do coach Paul Bryant porque eu penso que ele fez um bom trabalho, como ninguém jamais fez, no sentido de
criar uma mentalidade vencedora no elenco. Já jogamos entre nós algumas vezes, em 1959, no Liberty Bowl, quando
nós tínhamos um grande time e ele estava em seu primeiro ano em Alabama. Nós sofremos feito cão pra vencê-los e
fomos sortudos de marcar em um screen pass. O jogo terminou 7-0. Nós conseguimos lidar com eles, porém eu sei
que eles foram os vencedores.
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A única diferença entre vencedores e perdedores é que os vencedores acreditam em si próprios. Eles têm
sucesso. Eles não são derrubados a toa. As coisas viraram a favor deles em algum ponto e eles se mantêm pensando
que vão continuar a virar a favor deles. Eles esperam que as coisas aconteçam porque eles cultivam esse sucesso.
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