How I met your mother e The Newsroom
Transcrição
How I met your mother e The Newsroom
FACULDADES INTEGRADAS DO BRASIL – UniBrasil MARIELI CASTIONI HOW I MET YOUR MOTHER E THE NEWSROOM: REPRESENTAÇÕES JORNALÍSTICAS NA FICÇÃO SERIADA CURITIBA 2014 1 MARIELI CASTIONI HOW I MET YOUR MOTHER E THE NEWSROOM: REPRESENTAÇÕES JORNALÍSTICAS NA FICÇÃO SERIADA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para a obtenção do grau de bacharel em Jornalismo, Escola de Comunicação das Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil. Orientadora: Profª. Maura Oliveira Martins CURITIBA 2014 2 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho de conclusão de curso ao meu falecido irmão Maurício Castioni, que mesmo nos deixando cedo, seu coração ficou conosco para conseguir enfrentar essa difícil porém incrível jornada que Deus nos proporcionou. Sei e sinto que sempre está ao meu lado, me dando forças para continuar. Tudo neste trabalho é para você meu grande irmão. 3 AGRADECIMENTOS A Deus por ter me dado saúde e força para superar as dificuldades. Ao meu noivo Bruno Sena, pessoa com quem аmо partilhar а vida. Com ele tenho mе sentido mais viva de verdade. Obrigado pelo carinho, paciência е por sua capacidade de me trazer paz na correria de cada semestre. À minha irmã pelo incentivo e apoio incondicional e à minha mãe e pai que sempre me incentivaram a fazer novas conquistas. À minha orientadora Maura Martins, pelo suporte no pouco tempo que lhe coube, pelas suas correções e incentivos. A esta universidade, seu corpo docente, direção e administração que oportunizaram a janela que hoje vislumbro um horizonte superior, e pela confiança no mérito e ética aqui presentes. E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, o meu muito obrigado. 4 “O desejo de vencer é a mais poderosa arma e fórmula para o sucesso” - Mauricío Castioni. 5 Resumo O trabalho analisa como se insere a representação social do jornalista em duas séries ficcionais televisivas The Newsroom e How I Met Your Mother. O objetivo da análise é investigar como se consolidam as representações sociais do jornalista em discursos provenientes de diferentes gêneros, drama e humor. Tem-se como hipótese inicial que ambos os discursos concretizam representações estereotipadas do profissional de jornalismo, ainda que o texto de uma das séries pretenda-se realista, enquanto o da outra se pretenda cômica. Para a investigação de tal hipótese, o trabalho utiliza como referencial teórico as pesquisas sobre representações sociais e emprega como aparato metodológico a análise de discurso. A análise adota como corpus dois episódios das referidas séries, que têm como temática comum às tensões entre a vida pessoal e profissional dos jornalistas. Palavras-chave: representações sociais; seriado; How I Met Your Mother; The Newsroom; personagem jornalista. 6 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 7 2. DELIMITAÇÃO DO TEMA .............................................................................................. 10 2.1 Cultura da mídia ............................................................................................................... 10 2.2 A ficção seriada como produto sintomático da cultura da mídia .............................. 11 2.3 A cultura da mídia exporta legitimidade para a ficção seriada de jornalistas ......... 13 2.4 Dois gêneros e uma definição: humor versus drama – correlatos da ficção.......... 16 3. REPRESENTAÇÃO SOCIAL – UM CONTEXTO BÁSICO .......................................... 20 3.1 O que é um estereótipo? ................................................................................................. 22 3.2 Estereótipos da profissão do jornalista enquanto apresentados na ficção ............. 24 4. OBJETO ............................................................................................................................... 29 4.1 How I Met Your Mother .................................................................................................... 29 4.1.1 Robin Charles Scherbatsky Jr .................................................................................... 30 4.2 The Newsroom.................................................................................................................. 32 4.2.1 William McAvoy ............................................................................................................. 33 4.3 Recorte Feito .................................................................................................................... 35 5. ANÁLISE DE DISCURSO – O QUE É? PARA QUE SERVE? .......................................... 35 5.1 A pertinência de uma pesquisa em representações sociais com elementos da análise de discurso francesa ................................................................................................ 37 5.2 Quem são os objetos de uma análise do discurso ...................................................... 39 5.3 Objetos jornalistas ........................................................................................................... 40 6. RECORTE DOS OBJETOS ANALISADOS ....................................................................... 42 6.1. The Newsroom – episódio 6 da primeira temporada – bullies .................................. 44 6.2 How I Met Your Mother – episódio 4 da sétima temporada – The Stinson Missile Crisis ........................................................................................................................................ 50 6.3 Critérios de análise discursiva para as séries.............................................................. 54 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 57 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 60 9. ANEXOS ......................................................................................................................................... 64 7 1. INTRODUÇÃO O trabalho propõe a análise comparativa da representação do jornalista nas séries How I Met Your Mother (Como Eu Conheci Sua Mãe) e The Newsroom (A Redação). As distinções das séries no formato de gêneros diferentes, é essencial na imagem representada e apresentada do jornalista nas séries. Porém não é levado tanto em consideração, pois o que mais dá credito a essa tal representação é o significado que se traz no decorrer das falas e imagens em que o jornalista aparece realmente trabalhando. Estudar as representações requer atribuições comportamentais a outras pessoas e ao ambiente, porque toda explicação primeiramente parte da ideia do que nós temos de realidade, como quando, nos perguntamos por que, já se começa neste momento uma representação social, a fim de buscar uma resposta. (MOSCOVICI, 2012, p.85) Os objetos de pesquisas foram escolhidos por mostrar de forma distinta a profissão de jornalista. Ambos concretizam representações sociais da profissão, e mais que isso, a especificidade de cada um difere na forma de como quem assiste vê a profissão em dois contextos distintos, drama e humor. Foram analisados comparativamente ambos os estereótipos, de modo a contribuir ao estudo das representações sociais. O aparato teórico será baseado nas representações sociais, pois fornece características para absorção de momentos significativos na sociedade. Já que uma característica principal das representações é classificar algo para poder inseri-lo num contexto conforme experiências, que pode ser desde o normal ao aberrante (MOSCOVICI, 2012, p.65). O aparato metodológico será baseado na análise de discurso, pois é produtivo para mapeamento de vozes e identificação de sentidos. A análise introduz uma linguagem de imagens como forma de apresentar e diferenciar algo a todos. É preciso considerar que o jornalista principal de The Newsroom, William McAvoy1, busca ser aquele em que todos querem se basear como profissionais (ou seja, corresponde a uma representação idealizada do jornalista); enquanto a personagem jornalista de How I Met Your Mother, Robin Scherbatsky, é tão ligada à 1 A série é toda construída com jornalistas, alguns apresentadores, produtores e correspondentes, como: Jim, Charlie, Maggie, Don, Mackenzie e Neal e Sloan. Mas Will McAvoy é citado porque seu papel é central e se funde com aos outros, não por ser o âncora, mas no contexto dele ser completo como um jornalista-produtor-editor. É o protagonista da série. 8 profissão quanto a sua vida pessoal (o que tantos querem conciliar tão bem como ela). A teoria das representações sociais se torna o aparato ideal à pesquisa porque busca nas imagens, sons e falas apresentar e identificar a origem e/ou o modo de como é e foi relacionado a algo. "Sempre necessitamos saber o que temos a ver com o mundo que nos cerca. É necessário ajustar-se, conduzir-se, localizar-se física ou intelectualmente, identificar e resolver problemas que o mundo põe. Eis porque construímos representações" (JODELET, 2014, p.01). Eis porque se estuda essa área, para enfim compreender porque uma ou mais pessoas constroem as mesmas ou diferentes representações, no caso aqui, do jornalista. E mesmo com uma definição, estamos cercados de estereótipos, novos sentidos e representações sociais, o mundo precisa dessa definição para buscar respostas, mesmo que não haja uma representação ideal ou correta. As representações sociais, para Jodelet (id), são tratadas como sistemas de interpretação, que organizam e orientam as formas de comunicação para fazer relação com o mundo e intervêm em processos tão diferentes nas expressões e definições de grupos sociais (ibid, p.05). Esses grupos formam para a sociedade referências básicas para compreender, estudar e acima de tudo pesquisar sobre o tema. O presente trabalho nos direciona a uma pequena parcela para explicar o porquê à representação está direta e indiretamente ligada às mídias sociais, ao jornalista e ao formato de produtos. A falta de credibilidade da jornalista Robin Scherbatsky vista na série How I Met Your Mother pode apontar para uma representação excessivamente cômica da profissão, o que já não acontece na série dramática The Newsroom. Um exemplo é o segundo episódio da primeira temporada de How I Met Your Mother, no qual a jornalista aparece de forma séria, numa representação mais próxima da realidade. No episódio número quatro, no entanto, a personagem apresenta uma faceta mais estereotipada. Em uma das cenas, ela aposta com um amigo que pode falar “mamilos” ao vivo o jornal que apresenta; no seriado The Newsroom, não vemos esse jogo “ao vivo” e nem fora do expediente, ao trabalho deles é ético acima de tudo. 9 Diante disso, as perguntas são: até que ponto é possível identificar a representação da profissão de jornalista na personagem fictícia da Robin Scherbatsky? O personagem de William McAvoy de The Newsroom se parece mais com o modelo comum de profissional? Quais são as representações nas duas séries? Qual a forma que se alimenta essa representação? São as roupas? As falas? Os gestos? Moscovici (2012), Travancas (1992), Vizeu (2014), Hall (2003), Senra (1997) entre outros autores das representações sociais e profissão jornalista, são essenciais para a trajetória de pesquisa sobre a área. O trabalho de conclusão de curso contribui para uma pesquisa futura de como fundamentar as questões de gêneros e jornalismo. O tema tem como base comparar a realidade e a ficção do papel do jornalista na sociedade. A monografia é essencial para o relatório analítico deste trabalho de conclusão de curso, a importância social acresce na visão do profissional fora e dentro da televisão. O tema é importante ser retratado, pois diferente do filme de uma hora, duas ou até três, o telespectador acompanha por meses o papel e julga daquela forma como é mostrada a representação de uma profissão tanto no quesito dramático quando no humorístico2. O seriado How I Met Your Mother foi escolhido para ser analisado neste projeto por causa de uma forte representação associada ao jornalismo feito pela personagem Robin. E a série The Newsroom foi escolhida por compor em sua base fixa, uma redação de jornalistas. A personagem Robin Scherbatsky, foi escolhida porque ela é a única jornalista principal da série e pelo seu modo de ligar com fontes, fama, família e público e o personagem Will McAvoy, é o ancora (assim como a Robin) e é o principal. A importância deste estudo para o jornalismo, ou para a discussão das representações sociais no âmbito da comunicação. A busca por séries americanas (já que o Brasil não produz massivamente séries) contextualiza a frequente atualização por parte dos telespectadores enquanto moderadores de estereótipo. O que causa uma frequente avalanche de equívocos, trazendo más interpretações não só para profissionais da comunicação, mas de todas as áreas. 2 Sempre de acordo com o repertório. 10 2. DELIMITAÇÃO DO TEMA 2.1 Cultura da mídia Compreender os meios pelos quais o homem experimenta a cultura – e, por consequência, as maneiras nas quais entra em contato com as representações sobre os grupos sociais que o cercam – deve passar, gradativamente, pela análise dos produtos midiáticos os quais consome em seu cotidiano. Assim, o estudo aqui proposto (a investigação da representação do jornalista materializado em dois produtos ficcionais de gêneros distintos) tem como pressuposto que “as narrativas e as imagens veiculadas pela mídia fornecem os símbolos, os mitos e os recursos que ajudam a construir uma cultura comum para a maioria dos indivíduos em muitas regiões do mundo de hoje” (KELLNER, 2001, p. 9). A cultura veiculada pelos meios de comunicação oferece um incremento pessoal aos indivíduos, com base em material de identidades. Com isso corroboram com a globalização da cultura, que se faz por meios dos veículos disponíveis – rádios, tevês, revistas e afins – informando por meios de imagens e sons (Id, p. 9). No meio televisivo, Tesche argumenta que o espaço destinado ao que é informação e o que é ficção é uma construção de linguagem. “Ali, tudo acontece muito além da linha vermelha que separa o real do fictício; o recorte da realidade obedece a critérios de uma produção estética construída pela seleção de ângulo, altura, movimento, distância e enquadramento de câmara, iluminação, sonorização, montagem, vozes e muitos outros elementos”. Ou seja, a mensagem audiovisual, transporta identidades e linguagens que, querendo ou não, ajudam no consumo de “novas ideias de mundo” (TESCHE, 2002, p. 08). Vizeu (2014) relata bem essa dinâmica, pois hoje as mídias mediam as formas de fazer ver, sentir e acreditar de uma sociedade, oferecendo um material cotidiano para dialogar e entender temas amplamente discutidos por outros telespectadores e também por divulgá-las de modo boca-a-boca. Para o autor, "no campo midiático, o jornalismo e com isso a cultura da mídia assume hoje um imprescindível papel de mediação, garantindo deste modo a constituição de um sentido comum e a indispensável coesão social" (id, p.02). 11 A mídia e sua cultura, para Vizeu (ibid.), são de extrema importância para todos, porque sem elas (a cultura vinculada à mídia), o indivíduo fica reduzido apenas ao que o cerca – os parentes e a comunidade local onde este sujeito está inserido – ampliada e sem sair de onde apenas os olhos enxergam, ou seja, sem perspectiva. Para Kellner (2001), a importância da cultura da mídia se deve à sua proximidade com o mundo real, no sentido de ofertar ao espectador diferentes discursos provindos do mundo externo e, consequentemente, aproximando pensamento e o comportamento. Mesmo assim, o consumidor pode resistir e acabar criando a própria leitura e seu modo de inventar “significados, identidades e forma de vida própria” (id, p. 9). 2.2 A ficção seriada como produto sintomático da cultura da mídia As ficções seriadas, exploradas especialmente pelos veículos midiáticos televisivos, costumam abordar temas relacionados à realidade (assim, traz às pessoas valor informativo, ao se referir ao que acontece no mundo) que é essencial para a cultura (KELLNER, 2001, p. 9). Balogh concorda e acrescenta que “a ficção não tem, em princípio, nenhum compromisso maior com a verdade e nem com a realidade, tem apenas um compromisso de verossimilhança no relato” (BALOGH, 2002, p. 02). 9). Os seriados, como um produto central na cultura da mídia, adquirem um enquadramento com estruturas distintas do nosso produto nacional (id, 2012, p. 05), pois passaram a servir de plano para chamar atenção e perder um pouco a criatividade humana (KELLNER, 2001, p. 11). Para Kellner, “a cultura, em seu sentido mais amplo, é uma forma de atividade que implica em alto grau de participação, na qual as pessoas criam sociedades e identidades. A cultura modela o indivíduo, evidenciando e cultivando suas potencialidades” (id, p. 11). Essa potencialidade vem do poder da televisão já que com “exceção feita ao rádio (…), nenhum outro veículo tem presença e permanência tão fortes quanto à TV” (BALOGH apud ELALI, 2012), que fica conectada e com uma programação disponível ao espectador durante o dia todo, e ano após ano. Santos (2003) demostra que os seriados entraram de forma discreta na TV brasileira e foram ofuscadas, a princípio, pelos novos formatos literários para a 12 televisão e pela forte relevância das novelas. “Em linhas gerais, os primeiros seriados brasileiros tinham estrutura semelhante aos seriados norte-americanos, mas somente no final dos anos setenta é que os seriados vão se tornar e se basear na realidade brasileira” (id, p. 04). Se as telenovelas brasileiras assumiram o lugar do seriado na mobilização de símbolos nacionais, de espaço público para se efetuarem comentários da conjuntura política, econômica e social, ou seja, tratar dos temas da realidade brasileira como avaliam alguns autores, o seriado em 3 compensação com menos compromisso com a política de audiência , tornou-se seguramente o lugar da livre experimentação estética e de representação imagética (id. p. 08). Por ficção seriada definem-se as “sequências de histórias independentes, vividas pelos mesmos protagonistas, articuladas numa ação que se desenvolve dentro de um contexto cultural determinado” (PALLOTTINI, 1996, p. 02). E a diferença de algumas ficções são tomadas pelos subtítulos: minisséries, telenovelas e séries. “A minissérie exige menos conteúdo ficcional, basta-se com histórias mais simples e mais curtas, com menor número de personagens, de sets4 e de complicações” (id). A minissérie não é tão longa; “em comparação ao grande romance da telenovela, a minissérie é um romance curto, uma similaridade da novela literária” (ibid). Diferente das minisséries e mais perto das telenovelas, as séries vão ao ar ainda em construção, sem esse imediatismo do final, há dramas, romances e um contexto por trás, que de acordo com as recepções do público, “Passa a durar mais ou menos, a telenovela segue esse rumo, porém o autor já a tem toda escrita, mas se precisar mudar algo, muda. Já as minisséries, só vão ao ar quando são inteiramente terminadas” (PALLOTTINI, 1996, p. 03-04). E essas definições, que parecem simples, viram complexas na prática. Visando que elas são interligadas com determinados personagens fixos, que possuem representação confundida em uma mesma visão explicativa das novelas (SANTOS, 2003, p. 07). As novelas e os programas televisivos podem gerar opiniões e comportamentos, construindo ideias sobre como o mundo deveria ser e veiculando mensagens enganosas que podem alcançar grande credibilidade da realidade, isto 3 Assim entra como exemplo o seriado “A diarista”, “A grande família” e “Agora sim” (2003, 2001 e 2014 respectivamente). 4 Local das gravações ou filmagens. 13 é, “não são simples reflexos do mundo, mas construções específicas e, consequentemente, representam formas de conhecimento sobre o mundo” (BAKER apud ELALI, 2012, p. 06). Valim (2014), em um estudo sobre o pensamento de Kellner (2001), defende que tudo que é veiculado na mídia pode gerar dados para uma significância na vida de quem consome, “até porque a hegemonia é negociada, renegociada e vulnerável a ataques e à subversão, em uma relação em que a própria mídia oferece recursos que os indivíduos podem acatar ou rejeitar” (VALIM, 2014 p.02). Ou seja, há uma grande questão em pauta aqui, em que sugere: Constante preocupação em contribuir para que as pessoas entendam melhor e sejam capazes de discernir as mensagens, os valores e as ideologias, presentes na cultura veiculada pela mídia, nos parece bastante louvável, pois promove um questionamento mais geral da organização da sociedade, favorecendo a participação política e contribuindo para transformações sociais (id, p.03). As transformações se dão de acordo, em casos como de séries e filmes, em que a cultura da mídia se fortalece para criar tais apresentações mediante o público e assim expandir temas ligados ao sexo, raça e classe, tanto no cinema como em cultura popular (ibid, 2014, p.04- 05). Aliando assim a cultura da mídia, a ficção e a representação de uma profissão, como sustentado a seguir. 2.3 A cultura da mídia exporta legitimidade para a ficção seriada de jornalistas Há formas de apresentar e representar algumas profissões, que são consideradas distante do verossímil. Pois não há uma forma de representar algo sem símbolos, formatos e afins. Visando que não tem como fazer esse recorte de uma vida inteira em uma série ou filmes em que há pouco tempo e espaço para apresentar todas as características de certa profissão. Nisso são feitos pequenos recortes considerados grandes símbolos e assim se apresenta o objeto na série. Um bom exemplo são os filmes com jornalistas, em que os símbolos básicos são: leem jornal, fumam ou bebem, são curiosos e são quase sempre mostrados como heróis, como explica Tesche (2002, p.11), Balogh acredita que “no mundo da ficção há regras e recortes próprios que o distanciam da realidade” (2002, p.02). 14 Um desses recortes é o temporal, por meio de elipses, nas quais é reduzida uma boa parte da vida de um personagem em alguns episódios da série, ou em duas horas de filmes, gerando um distanciamento com o que de fato ocorreu e como ocorreu; se foi daquela maneira apresentada. O que é mostrado é mais do que contar a vida inteira do personagem. Um recorte é mais que explicativo e diferenciado para explicar uma personalidade e ou uma ação tomada pelo personagem (id). “Embora a ficção televisiva não esteja inteiramente livre da imitação do real, ela não se reduz a isso” (TESCHE, 2002, pg. 05). Como um bom exemplo para essa imitação não generalizada, foi o primeiro filme com um personagem jornalista, O Poder da Imprensa5 (The Power Of The Press) que foi feito nos Estados Unidos em 1909, e que conta a história de um político que tenta corromper um jornalista. Vendo que não iria conseguir, ele se volta contra o profissional e a sua reputação, fazendo-o ser mal visto na sociedade. A imitação de uma possível realidade neste filme já se consta como um profissional ético, herói e que está a serviço do povo, desde esse filme, podem-se ver vários outros filmes lançados com um formato não generalizado, como: Cidadão Kane (Citizen Kane, (EUA, 1940) e Todos os homens do presidente (All the president’s men, EUA, 1976). No Brasil, algumas produções investiram na profissão de jornalista para alavancar o poder e a credibilidade dessa profissão. Exemplos como: Jenipapo (Brasil, 1995) e Doces Poderes (Brasil, 1997)6. Nessas séries, filmes e afins veiculados na mídia, busca-se culturalmente trazer bens “simbólicos que se constituem nesse acoplamento de campos, e que têm a função de constituir um determinado senso de realidade” (TESCHE, 2005, p.03). Quando falta esse senso, a narrativa não tem valor. São eles que vão embasar suas regras e estruturas. É a partir desse senso de realidade compartilhado que o processo de socialização torna-se uma linha de experiências contínua a partir da qual os espectadores definem o modo como veem o mundo representado na tela” (id), um representar compartilhados (TESCHE, 2005, p.03). Todo esse modo de representar algo é para refletir “uma realidade que se vincula a um regime de educar7, radicalmente comprometido com a verossimilhança 5 6 Dirigido por Van Dyke Brooke Original de Jornalismo &Cinema - http://bit.ly/1Cqjv5h acesso em 23 de agosto de 2014. 15 cultural” (TESCHE, 2005, p. 10). Isso faz com que se apresente um lugar de conflito entre as forças de produção e os modos de recepção. E, cada um deles possuem interesses próprios que os levam a originar uma disputa pelo significado. Com isso só deve ser real o que contém valores culturais, tanto pela mídia e a sua cultura, quanto pelo modo geral (id). O telespectador diverte-se porque essas representações em telenovelas, filmes e séries o ajudam a entender o mundo em que ele próprio está inserido. Ele reconhece o seu mundo nos mundos da imaginação. Mas também aprecia a capacidade que ela tem de criar conjuntos de situações alternativas que colocam o mundo real em outras perspectivas. A ficção desafia a realidade (TESCHE, 2002, p.11). Após vários filmes com jornalistas, começaram a aparecer algumas séries em que o papel central é de um personagem jornalista, tais como 30 Rock (EUA, 2006), News Radio (EUA, 1995), How I Met Your Mother (EUA, 2005) e The Newsroom (EUA, 2012). Nos dados a seguir, podemos ver que as casas norte-americanas e sulamericanas possuem televisores e que esse meio é usado frequentemente. De acordo com o Instituto Nielsen (2008) 99% das moradias possuem televisão. Há 2,24 televisores/habitação e um americano típico passa 7 horas/dia com a televisão ligada. Pensando na audiência e criando novos formatos para o público a consumir mais a cultura da mídia e a ficção seriada, os canais de televisão aberta e fechada criam séries de acordo com a temporada. Como a fall season8 é a principal delas, é nesse período que as maiores apostas de cada canal têm início. A série HIMYM 9 estreou na fall season, no dia 19 7 Originalmente chamado de Regime Escópico. Nada mais é do que a forma de como se usa uma imagem tanto para gerar novas representações, quanto para educar no sentido real da palavra, trazer algo novo e apresentar como um dado certo. Disponível em: http://bit.ly/1lQTrhk. Acesso em 02 de setembro de 2014. 8 O fall season é o período mais importante na TV americana para as séries. As novas temporadas das séries de sucesso, e as novas apostas dos canais entram no ar durante esse período, que geralmente começa em setembro e vai até maio. Disponível em <http://bit.ly/1g6VxjL> acesso em 13 de março de 2014. 9 Daqui em diante How I Met Your Mother será abreviado por HIMYM 16 de setembro de 2005 e acabou em 31 de março de 2014. A série TN 10 estreou em 24 de junho de 2012 na mid season11 e está no ar até data presente deste trabalho. HYMYM é uma comédia de situação (sitcom12), um dos mais conservadores e consagrados gêneros de ficção seriada nos Estados Unidos. TN é um drama de tema especifico voltado para situações da profissão de jornalista. Esse produto sintomático da mídia reforça que em comparação com os seriados produzidos no Brasil, os Estados Unidos possuem uma relação com público sobre o produto que se mostra bastante diversificado. Devido ao desenvolvimento tecnológico e à estabilidade da televisão como meio de comunicação de massa (ELALI, 2012, p. 05). Os programas televisivos inseridos na lógica da produção por gêneros compartilham uma série de elementos comuns, como um estoque de sentido, um modelo de mundo com seus objetos e eventos, de ações e de atores (TESCHE, 2002, p. 11). E é essa parte dos gêneros que vem a seguir. 2.4 Dois gêneros e uma definição: humor versus drama – correlatos da ficção Para entender melhor os gêneros ficcionais, temos que entender qual é a definição de gênero em si. De acordo com Medina, a palavra vem do verbo latino gigno, que traz a ideia de sexo, ou seja, uma linhagem, que de princípio engloba a ciência e no qual possui diferenças de generalizações (MEDINA, 2001, p.01). Mas Medina classifica melhor o gênero. “Que designa uma classe de discursos, reconhecível graças a critérios de natureza socioletal”, ou seja, dois pares de alguma coisa, no caso aqui, dois gêneros distintos (id, p. 02). Agora, no sentido mais racional, a palavra “gênero é um conjunto de seres ou objetos que possuem a mesma origem (...), ou categoria das línguas que distingue classes de palavras (...), e na literatura, cada uma das divisões que englobam obras literárias de características similares – são primordialmente três: lírico, épico e dramático – e que formam as bases” (HOUAISS, 2009, p.963). 10 Daqui em diante The Newsroom será abreviado por TN. Entre um fall season e outro, acontece o mid season, que seria a “temporada do meio”. É nesse período que entram séries muitas vezes descompromissadas, para durar uma ou duas temporadas mesmo, com poucos episódios. Disponível em <http://bit.ly/1g6VxjL> acesso em 13 de março de 2014. 12 Comédia de situação é usada para designar uma série com personagem e que exista toda uma história, um contexto como família, trabalho e amigos. 11 17 As três bases são entendidas por um grupo que faz com que a imagem, a imaginação, o personagem e o narrador se distanciem (GARCIA, 2007 p.18). E que baseiam em formas “ou manifestações como o poema, o romance, o conto, a novela, a tragédia, a comédia etc; admitindo-se variantes, formas mistas e o aparecimento de novas realizações artísticas” (PROENÇA FILHO, 2007, p. 70). Voltando um pouco agora para uma definição ampla de gênero, em que Medina cita os primeiros estudos do gênero, que era uma atividade já feito na Grécia antiga, “Platão propôs uma classificação binária, entre gênero sério, que incluía a epopéia e a tragédia, e gênero burlesco, do qual faziam parte a comédia e a sátira” (MEDINA, 2001, p.01). Mais além em sua pesquisa, Platão classificou de outra maneira, sendo uma variação de “entre literatura e realidade, à luz do conceito da imitação: gênero mimético ou dramático (tragédia e comédia); gênero expositivo ou narrativo (ditirambo, poesia lírica); e gênero misto, constituído pela associação das duas classificações anteriores (epopéia)” (id). Sabendo que o gênero tem as suas variantes, Bonini acredita que o conceito ainda está em fase de construção, “mas o que se tem é que de modo consensual, a língua do ponto de vista de sua prática, reflete, de acordo com o gênero principalmente, os padrões culturais e interacionais da comunidade em que está inserida” (BONINI, 2014, p.02). Assim, um gênero literário, ainda que possa ser delimitado e definido conceitualmente com a concepção de categorias que ele insere, ainda que aceitando a conclusão do conjunto de narrativas, serve como estratégia para que possa afirmar a existência de outros tipos de gêneros literários e de delimitá-los em função da manifestação dos tipos de narrativas (GARCIA, 2007, p.20). Nesses outros tipos de gêneros se inserem o drama, que na literatura, por exemplo, “participa dos caracteres da tragédia e da comédia. Esse hibridismo não só se revela no drama romântico mas também em outras formas literárias, como no romance” (MEDINA, 2001, p.02). E o gênero de comédia, que “o desafio do humor é construir um texto evocando outro, texto que apresentará uma oposição em suas proposições, deflagradas pelo jogo de significados por via de elementos semânticos” (GRAMISCELLI, 2008, p.05). Logo esses dois gêneros têm suas distinções e amplitudes, como no caso do humor, em que “há duas importantes premissas para trazer esse efeito: o texto 18 ser compatível com duas proposições que se opõem e que sejam percebidas como opostas em determinado contexto”, e nisso se forma o humor com três diferenciais “dicotomias real/irreal, oposição de discursos e categorias da existência humana, atual/não atual e absurdo/possível”. Portanto, o humor se utiliza de vários contextos que usa pequenos espaços para realizar uma mediação da comédia. (GRAMISCELLI, 2008, p.04 e 05) A comédia promete ainda o riso, já o drama, “busca aflorar emoções e sentimentos relacionados ao angustiante, que, diante disso, podem-se destinguir sentimentos opostos e que reflete em características diferentes, que também se dá de acordo com cada pessoa” (ARAUJO, 2014, p.02). Araújo ainda cita mais sobre o drama, que busca ser “um desfecho catártico, em que toda a violência potencial é absorvida nos limites da encenação realizada na arena pública” (id). Tanto no humor, como no drama, o conflito existe, mas não tão explícito, já que o texto permite “rir” de tudo e de todos, sem tanto criar conflitos internos e externos com os personagens. Como cita Carvalho, ao falar do efeito risível, “humor é obtido por meio das estratégias discursivas utilizadas nas piadas de um modo geral, como a possibilidade de dupla interpretação, sendo selecionada pelo autor a menos provável” (2014, p. 04). Ainda nisso é possível perceber que o humor é baseado no desenvolvimento de uma situação com a temática do momento para elevar algumas características de personagens tanto quanto a profissão como das qualidades pessoais (id, p.04). A discussão acima buscou trazer uma reflexão sobre os gêneros em questão, como elemento para a análise da personagem Robin Scherbatsky, que gera de forma indireta e diretamente o drama e o humor como forma de interação. Os gêneros fundantes determinam a construção desses dois personagens, pois: há duas importantes premissas para o efeito de humor, portanto o humor seria uma relação de proposições diversas, em que o sentido é produzido nas fendas, nas interfaces dessas oposições (GRAMISCELLI, 2008, p.0405). Já que o desafio do humor é construir um texto evocando outro, “texto que apresentará uma oposição em suas proposições, deflagradas pelo jogo de significados por via de elementos semânticos” (id, p.05). Para Raskin, do ponto de vista psicológico, humor e riso são apenas estratégias de dissimular/mascarar outros 19 estados mentais. Isso explicaria por que as pessoas costumam rir para disfarçar a timidez ou o nervosismo. O riso, além de ser expressão de sentimentos de alegria, felicidade, prazer e diversão, seria mecanismo de defesa (RASKIN apud GRAMISCELLI, 2008, p.07). Ainda inferir que o humor enquanto estratégia para determinado fim é de cunho intencional, pois aponta uma direcionalidade no plano discursivo: atingir o interlocutor, embora o humor não mire especificamente o indivíduo, ou a instituição, mas a própria condição humana (id). O riso ocupa importante espaço em nosso cotidiano e a televisão tem explorado a capacidade mutável do riso para entreter e informar, entre outros (NOLL, 2013, p.01). Já para os gêneros fundantes, no sentido dramático, que serve aqui para determinar a construção do personagem Will McAvoy, “se é certo e tudo é drama, que drama é ação e que ação é atividade de intensidade, significações e objetivos” (PALLOTTINI, 1998, p.45). A natureza do humor e, consequentemente, da piada vem, de acordo com Ramos, do verbo piar e que contextualiza o contexto de riso, cômico, risível, mas que depende do momento, porque há vários lados, como: humor irônico, jocoso, farsa, paródia, sarcasmo, sorriso, sátira entre outros (RAMOS, 2011, p. 33). Ainda de acordo com ele, “o riso surgiria a partir da mistura do prazer (o riso em si) com uma das dores da alma, a inveja (manifestada na pessoa que é risível)” (id, p.37). O risível, ou seja, o cômico é o oposto de trágico eventualmente. Pois é associado com o verossímil e possui algumas relações de diferença com o trágico, que “não pune os homens maus em seu desfecho (bem ao contrário da tragédia), e representa os chamados homens baixos (não nobres)” (RAMOS, 2011, p.37). Nisso o humor não se relaciona com dor e nem é visto de maneira negativa, e pode se considerado inofensivo. Ainda para ele, o homem “é o único animal que ri” (id) e esse riso é provocado por um “calor na região do diafragma, motivo extremamente físico” (ibid). Fora que ainda há uma terceira alternativa para explicar o humor, que pode ser associado a uma oratória, que como exemplo pode ser distrair de algum ponto que se queira esconder, exemplo o medo. Pode-se dizer que serve também para fazer frases de duplo sentido (RAMOS, 2011,p.37). 20 Gêneros são determinados pelos estereótipos, porque ele não é dado, ele é construído de acordo com a interação entre pessoas e em certos dados ele é maleável e variável, tal como a linguagem (RAMOS, 2011, p.19), a forma padrão de manifestação dos gêneros viabilizaria o contrato verbal entre as pessoas. Se não existissem os gêneros do discurso e se não os dominássemos, se tivéssemos de cria-los pela primeira vez no processo da fala, se tivéssemos de construir cada um de nossos enunciados, a comunicação verbal seria quase impossível (id, p.18). Classificamos os gêneros, de acordo com a tipificação do texto e nisso passamos a ver outras características que serão dadas a seguir (ibid). 3. REPRESENTAÇÃO SOCIAL – UM CONTEXTO BÁSICO A origem da expressão representação social é europeia, e ela designa ao conceito do coletivo de Émile Durkheim, que foi deixado de lado até Moscovici retomar “para desenvolver uma teoria das representações sociais no campo da Psicologia Social” (ALEXANDRE, 2001 p. 01). As representações sociais têm como preocupação responder, de acordo com Vizeu (2014), o que as pessoas fazem, por que fazem ou compram, o que compram, como votam, sobre o que conversam, por que fazem isso e não aquilo. “Segundo a teoria por de trás dessas ações, e fundamentando as razões pelas quais as pessoas tomam tais atitudes, está uma representação do mundo que não é apenas racional, cognitiva, mas, muito mais do que isso é um conjunto amplo de sentidos criados e partilhados socialmente” (id, p. 10). As representações sociais, para Moscovici (2012), “são entidades quase tangíveis, que circulam, se entrecruzam e se cristalizam continuamente, através de uma palavra, de um gesto, ou duma reunião, em nosso mundo cotidiano” (p.45). Vizeu (2004) diz que com o mundo oferece oportunidades para que seja comentado e explorado, dando espaço a estudos como os da análise de discurso, os quais verificam onde há representações (Vizeu, 2004, p. 10). A cultura abre espaços para se fazer ligações para responder e entender o mundo, “as representações sociais estão associadas às práticas culturais” (ALEXANDRE, 2001 p. 13). Portanto, “não é uma cópia nem um reflexo e nem uma imagem fotográfica da realidade, ela é uma tradução, uma versão desta”. Ela se evolui, modifica-se continuamente, se move, e ao mesmo tempo de acordo com 21 essas características, se formam na sociedade “sábios amadores13” (MOSCOVICI, 2012), para os quais o importante é falar do que todo o mundo fala. Já que “a comunicação é berço e desaguadouro das representações, isto indica que o sujeito do conhecimento é um sujeito ativo e criativo”, que não fica parado ao que o mundo oferece, “como se a divisória entre ele e a realidade fosse um corte bem traçado”. (ARRUDA, 2002, p.08). Sêga (2000) acredita que as representações sociais são práticas e que nomeiam os sentidos que já são reais, pois: As representações sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana, uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indivíduos e pelos grupos para fixar suas posições em relação a situações, eventos, objetos e comunicações que lhe concernem. O social intervém de várias formas: pelo contexto concreto no qual se situam grupos e pessoas, pela comunicação que se estabelece entre eles, pelo quadro de apreensão que fornece sua bagagem cultural, pelos códigos, símbolos, valores e ideologias ligados às posições e vinculações sociais específicas (SÊGA, 2000, p.01). “O problema da representação está no fato de esta reproduzir mecanismos de regulação e de controle do olhar em um jogo de visibilidade/invisibilidade que define quem são e como são os outros” (SCORALICK, 2009, p.06), pois reproduzem as representações com as quais a sociedade está familiarizada e evitam propor alterações às ordens das coisas (id). E nisso, se põe a prova, através de ações, “o valor – vantagens e desvantagens – do posicionamento dos que se comunicam com ele, objetivando e selecionando seus comportamentos e coordenando-os em função de uma procura de personalização” (MALRIEU apud MAURER; SILVA 2004, p.35). Assim, então a representação se constrói tanto da ação do sujeito quanto pelas formas que se opõe ou concordam com ele (id). Uma análise concreta das representações e tudo que as rodeia “só é possível se as considerarmos inseridas num discurso bastante amplo, onde as lacunas, as contradições e, consequentemente, as ideologias possam ser detectadas” (MAURER; SILVA 2004, p.36). Esse discurso amplo envolve também numa pequena, mas importante parte, o entendimento dos estereótipos para ajudar 13 No sentido de que todos podem e são capazes de opinar algo. 22 a entender essas representações e assim detectar o que se precisa para formar uma opinião sobre determinado tema. 3.1 O que é um estereótipo? Segundo Vizeu (2004), ao citar Ferrés (1998) e que explica como se classificam os estereótipos. Estes “são representações sociais, institucionalizadas, reiteradas e reducionistas” (p.10). Os estereótipos divulgam uma visão compartilhada sobre o que um coletivo possui sobre o outro, e que se baseiam na repetição de imagens e que se parecem mais naturais, e que sua finalidade na verdade é “que não pareçam formas de discurso e sim formas de realidade” (VIZEU, 2004, p.10). Para Bhabha (1998), “o estereótipo é um modo de representação complexo, ambivalente e contraditório, ansioso na mesma proporção em que é afirmativo, exigindo não apenas que ampliemos nossos objetivos críticos e políticos mas que mudemos o próprio objeto da analise” (p. 108). Mas quando se fala em estereótipo, é preciso saber que se possui muitos lados, ou “multiplicidade de faces” (BACCEGA, 2007 p.02). As pessoas buscam, através de estereótipos e normas, se inteirar ao grupo que pertence, “buscando garantir o êxito de suas ações e a aceitação social. Até porque, sem essas normas e estereótipos, estaríamos sempre redescobrindo a América e constatando de novo que o fogo queima e pode matar” (id). A partir desses procedimentos, o indivíduo vê o que deixaram pronto para ele através da segmentação dos estereótipos e assim deixando de ser “dono da voz e passando a ser apenas a voz do dono” (ibid). Como introduziu Vizeu, os estereótipos são representações sociais reiteradas porque são consolidadas com base numa repetição, e essa base se subdivide em reiteração e rigidez, que fazem com que pareça mais natural essa introdução. A grande finalidade dos estereótipos é com que se pareça mais com a realidade e não com discurso, fazendo que algo complexo seja representado de forma simples (VIZEU, 2014 p. 09). O estereótipo dá acesso a uma "identidade baseada tanto na dominação e no prazer quanto na ansiedade e na defesa, pois é uma forma de crença múltipla e contraditória em seu reconhecimento da diferença e recusa da mesma” (BHABHA, 23 1998 p.114). Este conflito entre prazer e desprazer, dominação e defesa, conhecimento e recusa, ausência ou presença, tem uma significação fundamental para o discurso colonial14 (id). Para entender como se examina a consolidação de um estereótipo de uma profissão, como a do jornalista, que será visto a seguir, primeiramente é preciso passar ao entendimento do que é o estereótipo em si, que costuma ser associado “a conceitos negativos manifestados quando é emitido julgamento acerca de algum tema, de uma determinada pessoa, de um grupo, ou mesmo relacionado a ações” (TELES, 2014, p. 27). Como esclarece Teles (id), não é somente de modo negativo que esse estereótipo passa a revelar algo: “os estereótipos não devem ser associados apenas a conceitos negativos, como nas origens dos estudos sobre eles, mas por aquilo que é entendido e expresso pelo senso comum” (ibid, p.29). Os estereótipos fazem parte do dia a dia da sociedade e formam opiniões e, consequentemente, as atitudes que influenciam tanto no interior, quanto no exterior dos grupos (Ibid, p.08). Sem indivíduos não haveria sociedade, mas a menos que indivíduos também se percebam como pertencentes a grupos, isto é, dividindo características, circunstâncias, valores e crenças com outras pessoas, então a sociedade seria sem estrutura ou ordem. Estas percepções de grupos são chamadas de estereótipos (McGARTHY; YZERBYT; SPEARS apud TELES, 2014, p.28). Para Teles, “todo relato vem impregnado dos valores e estereótipo da cultura de quem relata” (p.09). Baccega já ressalta que muitos estereótipos chegam até a uma pessoa editada pela mídia, “que nos conta a realidade através de relatos impregnados de estereótipos que no mais das vezes nos são desfavoráveis”. Para a autora, são esses os relatos que nos enchem e preenchem de “visões” sobre o mundo e a todos que neles vivem (BACCEGA, 2014, p.10). Os estereótipos, uma vez formados, comporão o conjunto de visões que um determinado grupo tem de sua realidade, assim como possivelmente influenciarão comportamentos e atitudes, o que pode interferir positiva ou negativamente na visão interna e na externa, ou seja, daqueles que não integram aquela comunidade (TELES, 2014, p.28). 14 Discurso cheio de “representações” e que conforme o discurso colonial inserido, ele pode descaracterizar tudo o que já foi construído e criar um novo. 24 Quando em determinado momento algo recai, diretamente ou não, acaba fazendo parte e gradativamente dando opiniões de acordo com os repertórios possuídos, na forma de palavras, “que é formado predominantemente pela linguagem” (BACCEGA, 2014, p.09). O discurso carrega os conceitos e os estereótipos. Desse modo, “acabamos por dividir os fatos em dois grandes blocos: aqueles considerados normais em nossa cultura, ou aqueles considerados estranhos” (id). Segundo Lippmann, quando nos aproximamos da realidade, "não vemos primeiro para depois definir, mas primeiro definimos e depois vemos". (LIPPMANN apud BACCEGA, 2014, p.08). Neste caso, para a autora (id), é a partir desse fato de ver para depois definir, que o estereótipo se torna um padrão é pode ou não interferir numa realidade construída ou pré-construída pela cultura e linguagem. Nisso há a linguagem de um profissional, que no caso aqui é o jornalista, que muitas vezes é “vítimas de estereótipos” e transmite vários outros à sociedade de acordo com o representado na ficção. 3.2 Estereótipos da profissão do jornalista enquanto apresentados na ficção Hoje em dia, muitas coisas chegam até o telespectador e/ou leitor editado pelos meios de comunicação, que fomentam a realidade através de relatos cheios de estereótipos e que na maioria das vezes são desfavoráveis. “São esses os relatos que recebemos cotidianamente e que vão preencher nossa visão de mundo não apenas sobre os fatos de que não participamos, mas, muitas vezes, também sobre os fatos do universo em que vivemos” (BACCEGA, 2007 p.04). Teles reforça esse pensamento e cita que, a televisão, os filmes e todos os veículos comunicacionais contribuem de alguma forma com a interação do público e “dependendo da intenção de aumentar ou diminuir defeitos e valores, de uma forma que atrai a atenção das pessoas para o que se deseja ressaltar, ela pode mudar o comportamento quanto à identidade” (TELES, 2014, p.28). Fora essa introdução acima, sobre a forma em que a mídia chega até as pessoas e o que se parte depois disso (o que as pessoas acabam achando de tais estereótipos), se sabe que o mais representado neste quesito de ser estereotipado, é o jornalista, e que, “nunca se conseguirá uma representação pura dessa profissão, 25 que sempre estará reproduzindo visões de outrem – sem contar a presença de todos os outros que formaram a sua própria visão de mundo” (COSTA, 2009, p. 09). Assim como vários personagens que são apresentados e representados no cinema, “o jornalista tem sua origem no mundo real, no ambiente do jornal com seus espaços próprios e seus objetos de eleição, suas figuras características e seus conflitos específicos” (SHARTZ apud SENRA, 1997, p. 45). Mas o Filme de jornalista não constitui por sua vez um mero reflexo da realidade cotidiana dos jornais. A evocar o processo através do qual se definem de modo geral os diferentes gêneros cinematográficos, o crítico Thomas Shatz descreveu o modo como opera a dinâmica entre a chamada “realidade” e a forma ficcional. “Uma vez que uma história se repete no cinema e se refina até chegar a uma fórmula, sua base de experiência de vivida dá lugar a uma lógica interna que não diz mais respeito ao seu mundo de origem, mas é definida pelas normas especificas de cada narrativa cinematográfica” (id). Há muitos filmes que possuem em seu roteiro personagens jornalistas, principalmente os que buscam remeter o estereótipo constituído à profissão em filmes e séries, há de se passar por uma breve explicação de como começaram essas representações. Nota-se que há vários filmes com personagens jornalistas e Gomes (apud SENRA, 1997p.03) cita que muitos pesquisadores fizeram uma busca para identificar o número de filmes com jornalistas e as suas representações. Pesquisadores percorreram aproximadamente 25 mil sinopses de filmes, e encontraram em 785 delas indicações das presenças de personagens jornalistas, protagonistas ou secundários, em tramas que variavam entre ter o jornalismo como atividade central na narrativa ou como acessória – destes filmes, 536 são norte-americanos (id). “Quando o cinema começou a se basear em jornalistas para construir personagens, já havia uma breve sintonia do mundo dos jornalistas para com os seus leitores e fontes, as trocas operadas por ambos davam margem a novos conceitos da profissão” (SENRA, 1997, p. 46). Isto acontece em filmes como Confidencial (EUA, 2006), e em vários outros. Esses filmes abaixo foram selecionados por possuir um jornalista como personagem e por suas características pessoais se fundirem com a do profissional relativamente apresentado no livro de Isabel Travancas (1992), no qual é dado a caracterização de dados pessoais mais amenos, como: criatividade, altruístas, generosos, são hábeis, buscam se fortalecer em suas profissões e são receptivos com os novatos no ramo, entre outras características. 26 O filme Confidencial (EUA, 2006) conta a história de Truman Capote, que descobre um assassinato numa pequena cidade e vai até lá investigar. Com isso, fica frente a frente com os assassinos e passa a entrevistá-los dentro da prisão para saber o que se passou na sua vida para cometerem um crime como aquele (uma família inteira foi assassinada, numa tentativa de roubo). A história pessoal do jornalista e a história do crime passam a se fundir, sendo que Capote se apaixona pelo presidiário. Até então as suas características se fundem com a do jornalista que é curioso, que investiga, que se aprofunda e que se entrega ao trabalho, fora as bebidas e o jeito criativo (se aproxima tanto dos presos quanto das outras pessoas, contanto coisas interessantes sobre a sua vida), paciente (fica a espera que algum morador da cidade o ajude, contando como era a família e o que acha das mortes) e arrogante que o personagem mostra ser, dando ênfase às celebridades que conhece. A história, mais tarde, virou um livro chamado “A Sangue Frio”. O filme Intrigas de Estado (EUA, 2009) mostra um deputado que passa a ser investigado logo que sua amante morre. Ao falar sobre ela na televisão, ele se emociona e a partir disso todos passam a desconfiar que eles tinham um caso e que talvez ele tenha algo a ver com a morte. Um jornalista, ex-chefe de campanha desse mesmo deputado, começa a trabalhar num jornal no qual o deputado está sendo investigado. Em suas características básicas, o jornalista é representado como altruísta (ele acaba meio que ajudando o deputado a limpar a sua ficha, coisa que jornalista buscam fazer ao contrário), audacioso, curioso e competente (se propôs a investigar e vai até o fim). Há ainda alguns filmes de gênero comédia e que conta a história de jornalistas, âncoras. Como no caso do filme O âncora - A lenda de Ron Burgundy (Anchorman: The Legend of Ron Burgundy, 2004), uma comédia sobre um âncora de TV dos anos 70, que acaba sendo confrontado por uma colega de trabalho bem ambiciosa. O filme mostra claramente o ego do jornalista e que quando confrontado, ou melhor, quando se sente ameaçado no trabalho, ele fica viciado no trabalho e quer mostrar produtividade, o que se insere no fator tempo, no qual é importante na representação de um jornalista, que vive para o trabalho. O filme Quase famosos (Almost Famous, 2000) conta a história de um adolescente que passa a trabalhar para a revista Rolling Stone, e acaba tendo que cobrir uma turnê inteira de uma banda de rock, e consequentemente, passa a seguir 27 os passos de todos em todos os momentos e ver de perto como é a vida de um rock star. O jovem jornalista entrevista pessoas desde a banda até as groupies ao seu redor. Suas características são a de um foca, ou seja, um profissional em início de carreira, procurando construir seu próprio estilo autoral, além de mostrar sua produtividade e de que não tem medo das coisas, que encara tudo com naturalidade, em vista que ele ficava em casa e depois teve que sair em turnê com essa banda. Sua representação mostra com clareza o profissional que se entrega ao trabalho e se deslumbra com a proximidade com celebridades e autoridades. Há tantos outros filmes com personagens jornalistas, tanto que passamos a ver que existem muitos journalism films15, que caracterizam os filmes que possuem algum personagem jornalista, que está lá para definir um profissional e a sua relevância. As expressões inglesas acima reforçam que os Estados Unidos são os maiores produtores de filmes nesse quesito, já que “não somente pelo volume, mas também por características inerentes à sua própria indústria, foram os Estados Unidos os responsáveis por melhor traduzir (ou ajudar a construir) o imaginário em torno dessa profissão” (Gomes apud SENRA, 1997, p. 03). Assim, A construção da identidade do jornalista se realiza dentro de um contexto em que diversas áreas da vida social se misturam e se confundem. Suas experiências e vivências apresentam ambiguidades e contradições. Não se pode pensar em identidade levando em conta apenas trajetórias e projetos conscientes e lineares, sem curvas e oscilações. A própria vivência profissional é uma fonte de convivência e contato com essas complexidades (TRAVANCAS, 1992, p. 104). O jornalista no cinema, como descreve Senra (1997) é um personagem “desprovido de uma história pessoal” (id, p. 53), já que em suma são abordados majoritariamente como profissionais, sendo que raramente são vinculados à família e amigos. É quase como se o jornalista fosse um fantasma que está lá para fazer seu trabalho e ir embora (ibid). Há também outro aspecto para os jornalistas na ficção seriada, em vista que eles são representados como “portadores de uma ideologia individualista, apresentando uma postura blasé diante dos fatos e da vida, e usando a profissão como instrumento, ocupar um lugar destacado na sociedade” (TRAVANCAS,1992, p. 104). 15 Filme jornalístico, tradução livre. São filmes que possuem um jornalista no elenco e mesmo ele não sendo o principal, o filme passa a cobrir a maior parte com ele, o que ele faz e como faz. 28 Essas características já apresentadas aqui, mostram que a construção da identidade do jornalista se limita a razões das áreas sociais, no quais se misturam e se confundem, visando que “suas experiências e vivências apresentam ambiguidades e contradições” (TRAVANCAS, 1992, p.104). “O jornalista é antes de tudo o suporte de uma função e será visto, principalmente enquanto trabalha de preferência na redação ou no local dos acontecimentos” (SENRA, 1997, p. 53). Essa vivência tem sentidos e esses sentidos possuem traços, que como explica Senra, vem do “gênero da comédia, que já comporta tanto a busca de traços pitorescos das personagens quanto o reforço do estereótipo” (SENRA, 1997, p. 61). Esse traço traz uma característica importante, retratados na maioria dos filmes: “o alcoolismo atribuído ao jornalista é evidentemente uma herança do contexto boêmio em que viviam os profissionais da imprensa” (SENRA, 1997, p. 48-49). O jornalismo e seus conhecimentos podem ser recriados, produzidos, gerados e transmitidos (LAGO, 2008, p.110). De forma extensa, o jornalismo é uma produção que influi na construção de acontecimentos, mas que depende de outras formas de interferência, que no caso são “a realidade, os constrangimentos impostos pelos jornalistas no sistema organizacional, as narrativas que os orienta a escreverem, as rotinas de trabalho, os valores-notícias, a identidade das fontes e seus interesses” (TRAQUINA apud LAGO, 2008, p.111). Outra característica do personagem neste período, o “alcoolismo”, que acompanha os jornalistas há muito tempo e que referência a “uma herança do contexto boêmio em que viviam os profissionais da imprensa” (SENRA, 1997, P. 48 e 49). Tudo isso faz parte de recortes utilizados pela ficção, para designar os personagens jornalistas, e com isso Eco diz que “é fácil entender porque a ficção nos fascina tanto. Ela nos proporciona a oportunidade de utilizar infinitamente nossas faculdades para perceber o mundo e reconstruir o passado” (ECO, 2004, p. 132), e que de acordo com isso que se exercita o que é visto em ficções, que serve para “estruturar nossa experiência passada e presente” (id). Ao transformar um acontecimento em história, a narrativa opera uma diferenciação, localizando ocorrências naturais e ações humanas na compreensão de mundo de indivíduos e sociedades, papel desempenhado tanto pela ficção quanto pelas narrativas não ficcionais (LEMOS, 2014, p.01). 29 Essas narrativas não ficcionais possuem formatos para a construção de estereótipos na ficção, o telespectador/leitor/ouvinte que tanto se quer informar (de acordo com todos os autores citados acima), na verdade muita das vezes ajuda o próprio jornalista a fazer notícia (MARQUES, 2008 p. 04). Ou seja, os jornalistas quando não sabem sobre o assunto, buscam a ajuda da população como fontes, mas não fontes oficiais. Sabendo disso, a ficção algumas vezes usa e abusa de efeitos para criar uma realidade paralela e se distanciar da imagem real (Id, p. 05), na qual o jornalista apresentado na ficção tem que criar laços de familiaridade entre o que se cria e o que já existe. Uma boa parte disso vem das séries ficcionais de diversos gêneros, assim como apresentado nas duas séries, a How I Met Your Mother e The Newsroom. 4. OBJETO 4.1 How I Met Your Mother A série How I Met Your Mother é uma comédia americana que passa no canal de televisão a cabo, CBS. A série retrata a vida de Ted Mosby, um arquiteto que narra sua vida em 2030 para os seus filhos adolescentes. Tudo começa em 2005, quando Marshall Eriksen resolve se casar com sua namorada da faculdade, Lily Aldrin, Ted então com 27 anos, ao ver o seu amigo dar um passo tão grande na vida, começa a pensar em se casar também. Em How I Met Your Mother16, o arquiteto conta aos seus filhos (25 anos mais tarde) como conheceu a mãe deles, e como começou essa procura. O cenário principal da série é a casa onde Ted, Marshall e Lily vivem e o bar localizado logo abaixo da casa dos três, o Maclaren’s Pub. A comédia é construída pela forma de flashbacks, nos quais são voltados ao futuro para Ted receber um retorno de seus filhos, que estão na sala, sentados e ouvindo a história de todos os seus namoros e experiências. As narrativas são em primeira pessoa, mas em alguns casos em terceira, e é feita sob a forma de relatos 16 “How I Met Your Mother” já recebeu importantes prêmios durante as seis primeiras temporadas. Na lista inclui 5 Emmy Awards como "Melhores séries de comédia" em 2009. 30 de casos que aconteceram na vida de Ted no passado antes de 2005 (como exemplo, a época deles na faculdade). Na vida de Ted passa a jornalista Robin Scherbatsky, que desde o começo da série passa a ser o centro das atenções para ele, porque se apaixona por ela assim que a vê no bar Maclaren’s Pub com algumas amigas. A jornalista passa então a fazer parte da vida deles, todos se envolvem emocionalmente e Ted até a oitava temporada, mantém segredo de quem seria a Mother17. 4.1.1 Robin Charles Scherbatsky Junior Robin Charles Scherbatsky Jr18 é uma dos cinco personagens na série HIMYM. Robin foi tratada na adolescência como menino pelo pai, que a mandava praticar esportes e fazer coisas de meninos. Ela mostrou a ele que era mulher quando beijou um colega do time e o seu pai viu. Com a decepção dele após esse fato, ela passou a morar com a mãe e assim se tornou uma popstar canadense, a Robin Sparkles. Totalmente diferente do que ela tinha costumado a ser, a cantora era feminina, loira e com roupas divertidas. Ainda não satisfeita com sua vida de adolescente e famosa, ela foi para Nova York, onde passou a trabalhar como repórter de televisão de segunda linha (em nenhum momento da série, se mostra essa transição de estudante de jornalismo ou a personagem na faculdade, somente mostra que ela que ela é uma jornalista - formada), pois cobria matérias consideradas fúteis e sem relevância social. Posteriormente, foi promovida a ser apresentadora de um programa matinal (na série ao todo, são 60 episódios em que a personagem aparece fazendo o jornalismo, junto dela em casa há uma inquietação quanto ao seu trabalho, ela se sente inútil a maior parte da série). Logo após, Robin se muda para o Japão para apresentar um programa de formato diferente do que costumava ser nos Estados Unidos, um programa um tanto bizarro, mas esse trabalho foi transitório e ela logo volta aos EUA. Ao retornar ela passa a ser a âncora do noticiário da madrugada. 17 Nome no qual os fãs passaram a chamar a Tracy, futura mulher do Ted. Robin é vivida pela atriz Colbie Smulders, a 32º atriz mais bem paga por cada episódio exibido (cerca de 225 mil dólares). 18 31 Em suas características pessoais, Robin não é nada romântica, não pensa em ter filhos e nem em se casar. A personagem é forte e um tanto masculinizada. A personagem também é bastante comentada por ser canadense, isso é um fator que é usado muitas vezes na série, na hora em que ela perde o emprego ele fica correndo o risco de ser deportada para o Canadá. Ela chama uma prima sua do país para vir ao seu casamento e o noivo descobre que essa prima também é prima dele, ou seja, ele descobre ser metade canadense também (o que o apavora), a personagem tinha fama no Canadá e nos EUA ela tenta a mesma coisa, só que em uma profissão diferente, apesar dela ser considerada rude, a fama dos canadenses de serem adoráveis a irrita e atrapalha muitas vezes, e outras coisas a mais que representa essa sintetização de sua nacionalidade versus sua profissão. No decorrer da série, ela namora Ted, Barney, seu terapeuta, um espanhol, um empresário rico e o seu colega de trabalho, um jornalista famoso, Don. Mas nenhum de seus relacionamentos dá certo. Muito independente, ela chega a ficar noiva do Kevin, mas ao saber que nunca poderá ter um filho, ela rompe o noivado e tem uma recaída com Barney. No último episódio da oitava temporada, Robin se casa com Stinson. Ela fica reconhecida no meio jornalístico por controlar um avião em pleno ar. O casamento não dura e eles se separam, Robin fica pensando em Ted e por que não se casou com ele. No último episódio da nona temporada, Ted tenta conquistar a jornalista fazendo as mesmas coisas que tinha feito no primeiro episódio da série, roubando uma trompa francesa azul para ela. Ao final, mostra que a série toda não foi para mostrar como ele conheceu a mãe das crianças, foi para mostrar como foi a transição da vida dele com a da jornalista, a história deles. Em seu papel de jornalista, ela se mostra ambiciosa e independente. A sua profissão (como repórter e âncora) não é reconhecida por ela ter um programa matinal. A série retrata que quem assiste ao programa de madrugada são alunos que estão bêbados num bar em que apostam quantas vezes a jornalista usará a expressão but e hmm (mas e hmm). A personagem é curiosa, viciada no trabalho e muitas vezes deixa o lado pessoal para dar mais ênfase ao profissional (caso em que ela deixa de ter um encontro com Ted, para poder cobrir um colega que estava doente). Robin mostra ser independente, namora colegas de profissão (Os relacionamentos não dão certo por causa do ego dos parceiros), ela é paciente e dinâmica, suas características principais são ser básica, ter o pé no chão e saber o 32 que quer. Ela ainda reflete a representação de um jornalista que bebe que passa muito tempo em um bar e que busca ser bem sucedida na profissão, mais que no pessoal. 4.2 The Newsroom A série, da emissora HBO, tem como base uma redação de um veículo televisivo ficcional ACN, em que se desenrolam os dramas, relacionados ao processo de produção de notícias, aos conflitos internos (entre os jornalistas) e externos (com instâncias que determinam seu trabalho, como a relação com a empresa), além de retratar os engendramentos entre o trabalho e vida particular das personagens. Quase todos os personagens são jornalistas, dentre eles: o protagonista, o âncora/produtor/mediador Will McAvoy19; sua produtora, Mackenzie McHale; além dos demais jornalistas: Jim Harper, Maggie Jordan, Don Keefer, Neal Sampat e Sloan Sabbith (é uma jornalista com doutorado em economia e que na redação tem o papel de comentarista, mas ao longo da história, passa a apresentar os telejornais); Charlie Skinner (que desempenha o papel de um diretor de redação, e faz a mediação entre a equipe jornalística e os donos do canal). Depois de uma reformulação no jornal News Night (no qual, passa a ser um formato mais fechado, ou seja, não é qualquer notícia que entra, somente os relevantes e fatos de interesse público e do público), os personagens têm que construir a notícia de acordo com o novo formato de show que foi proposto pela nova produtora, o News Night 2.0. Entre os dramas pessoais, há diversos casos, um deles é o do novo jornalista que quer "roubar a atenção" da namorada do outro, a vinda de uma exnamorada para a redação, a briga entre fornecedores e jornalista, o comando do programa, atentados, mortes, ameaças dentre outros fatores. Os conflitos jornalísticos são a base do programa, já que tudo passa a ser informado e explicado, desde uma pauta na reunião a por que veicular tal notícia. Em tudo há bases para mostrar que eles estão ali para serem relevantes para a sociedade. Um exemplo clássico é quando Will tenta criar uma nova forma de 19 É vivido pelo ator Jeff Daniels. 33 debate entre os presidenciáveis, ele usa toda a colaboração da equipe para criar esse novo formato, mas tem que lidar com a problemática de mudar todo um formato seguido há anos, as críticas em relação a agredir verbalmente os candidatos e que o novo debate segue um padrão de atacar e não informar, isso de acordo com os fornecedores que a dona do canal Leona, contratou. A redação ganha vida e os jornalistas parecem acreditar mais na hora de construir notícias e informar diante da tevê. A chamada reunião de pauta busca novos assuntos sem trazer vítimas ao programa, o que se busca é total imparcialidade dos dois lados. 4.2.1 William McAvoy William Duncan McAvoy é o âncora principal do telejornal em News Night. Ele se tornou um jornalista daqueles que não incomodam ninguém, com sua cobertura de notícias e tem sido chamado de Jay Leno20 dos âncoras por um moderador de um debate no primeiro episódio da primeira temporada. Na série, sabe-se que McAvoy, antes de ser âncora, era um promotor de justiça. Mais tarde, foi contratado como o correspondente do “News Night”. Em 11 de setembro de 2001, depois do atentado, Charlie passa a querer uma pessoa que entenda de leis e de como tudo funciona dando a notícia, nisso Will passa a fazer parte do meio jornalístico. Em 2010, durante um painel político da Universidade Northwestern, Will faz uma declaração polêmica dizendo que os EUA não é o melhor país do mundo, em resposta a uma pergunta de um estudante do segundo ano da faculdade de jornalismo, como muitos estavam gravando, o vídeo dele dando essa declaração viraliza na internet, e o cenário eletrônico no qual Will buscou sempre estar junto, passa a fazer parte do seu maior pesadelo, que é a partir disso que ele passa a dar importância pelo que é veiculado sobre ele. 20 Jay Leno iniciou sua carreira em clubes noturnos, e seu grande momento foi em 1992, com o seu próprio talk show de fim de noite, o The Tonight Show com Jay Leno (1992). Essa referência veio de acordo com o comportamento de Jay perante as mídias, sempre discreto e imparcial. Will McAvoy recebeu esse apelido por ser extremamente igual a Leno. Fonte: http://imdb.to/1dAmoKz 34 O fato de a série começar com essa representação sincera e de uma pessoa culta e entendedora de vários assuntos, faz com que o personagem se iguale a muitos profissionais e que seja inspiração a muitos outros. McAvoy fez uma pausa de duas semanas para evitar a polêmica causada por sua declaração e volta a trabalhar, mas ao chegar na redação da ACN, percebe que sua equipe agora trabalhava com Don Keefer e Elliot Hirsch, porque os jornalistas queriam um chefe mais amigável e fazer um novo programa. Logo após, Charlie conta a McAvoy que contratou um novo produtor executivo sem a aprovação do âncora. A nova escolhida foi MacKenzie McHale, sua ex-namorada21, cuja relação terminou depois que ela revelou que o tinha traído com um ex-namorado também jornalista. A partir desse fato, todos se empenham as noites para fazer um novo telejornal. Will McAvoy é maduro, porém um pouco instável, chegando a ser infantil algumas vezes (como quando ele toma muitos remédios por que fizeram uma matéria sobre ele e que ele não gostou). Não segue, porém gosta de dar ordens. Para elevar a sua representação de um jornalista, Will fuma e toma bebidas alcoólicas diariamente. Após o término com MacKenzie, McAvoy permanece solteiro, e há elementos na narrativa em que o jornalista demonstra ainda amar a sua produtora. Ele é representado como temperamental, muito inteligente, sagaz e antipático. Nos episódios, há elementos discursivos que nos mostram que a vida de McAvoy se funde com a sua carreira no jornalismo, de modo que há pouco espaço para a sua vida pessoal. Como chefe, valoriza e gosta de quem demonstra o mesmo. Não somente Will, mas todos os jornalistas possuem traços pitorescos que os diferenciam no pessoal versus profissional, tais como: Sloan Sabbith, é madura e segura de si, mas lhe falta a sutileza e a gentileza esperada às mulheres; e de acordo com as narrativa construídas, ela vem de relacionamentos fracassados. Há ainda o caso mal resolvido do trio formado por Maggie, Don e Jim, os conflitos quando Jim Harper começa um relacionamento por acidente com a amiga da mulher por quem é secretamente apaixonado. Aí mostra-se nitidamente que todos sabem lidar bem com o seu lado profissional, diferentemente do lado pessoal, exemplo: Jim 21 Sobre The Newsroom, fonte: http://bit.ly/1dztjDB. 35 sabe resolver todos os conflitos que aparecem na redação, mas quando a pauta é a sua vida amorosa, ele se perde todo, fica sem rumo e recorre ao jornalismo para esquecer. Outro bom exemplo é a Sloan de novo, que é decidida, competente, que sabe o que quer, mas quando o lado pessoal entra em jogo, é quase como se ela perdesse o jogo de cintura que possuem para lidar com os casos jornalísticos, ela fica mais rude e mais grossa que o comum. William e MacKenzie possuem os mesmos traços que Sloan quando o assunto é a vida pessoal. 4.3 Recorte Feito As duas séries foram escolhidas por conterem um profissional da mídia em sua base fixa. Isso abre margem para representações individuais sobre um âncora de um telejornal. A série TN contém vários jornalistas, mas o personagem escolhido Will McAvoy é o apresentador/pauteiro/produtor: nada passa sem o consentimento do personagem e isso mostra claramente a sua influência na redação. A personagem Robin foi escolhida por ser a personagem que apresenta o jornalismo aos seus companheiros e que aparece mais que outros (âncoras e apresentadores), com isso todas as referências ao seu trabalho são construídas na maioria sobre seus relatos. O gênero das duas séries, drama e comédia, foi a base para analisar a representação ligada ao profissional de dois pontos de vistas diferentes. 5. ANÁLISE DE DISCURSO – O QUE É? PARA QUE SERVE? A análise de discurso procura compreender, estudar e interpretar sentidos. A 22 AD é dividida em duas principais vertentes, compreendidas como anglo-americana e francesa. A anglo-americana busca traços na psicossociológica23, e que é mais utilizada para se entender o funcionamento interno dos textos (como foi parar lá, quem o colocou lá e afins), além de limitar a contextualização. Os indivíduos tendem a ter uma interação cooperativa e das regras do discurso. (PINTO, 2002, p. 21). 22 23 Abreviação de análise de discurso. Que além de analisar ela intervém na forma de construção dos textos. 36 Já a linha francesa, mais pertinente a este trabalho, possui três bases principais em sua forma, que é o estudo dos sentidos, das vozes e da interpretação (PINTO, 2002, p. 20). A análise francesa pode ser entendida por práticas que determinam um contexto social e histórico do que se procura saber, além de ser utilizada para: Análises principalmente de textos impressos ou transcrições de textos orais, quase sempre tratados isoladamente, de modo independente de outros sistemas semióticos presentes, e cujas implicações político-ideológicas procuravam desvelar, de um ponto de vista crítico (id, p. 21). A análise de discurso francesa, que é “produtiva para dois tipos de estudo no jornalismo, o mapeamento de vozes e identificação de sentido” (LAGO; BENETTI, 2008, p.107), é pertinente para este trabalho, por apresentar e mostrar como se partem essas representações, visando que os textos da análise do presente trabalho não são textos jornalísticos, mas sim textos com personagens jornalistas e que são referenciados de tal forma (id, p.108). No primeiro tipo “é necessário situar a estrutura do texto como um todo de fora para dentro, que pode vir da sociedade, cultura, ideologia e imaginário. A lógica desse discurso é que ele representa aquilo que pode ou poderia ser dito para certas pessoas ou certa pessoa só” (LAGO E BENETTI, 2008, p.111-121). No segundo, o mapeamento de vozes, parte de várias formas e formatos, tais como “fontes, jornalista, instituições, leitores e afins, se refere tanto na forma de dizer como no de interpretar” (id). Mas que não se resolve somente com esses formatos, porque o estudo de vozes requer um “locutor e o enunciador como forma de características para o estudo” (ibid). Já no terceiro, a identificação de sentidos, compreende o “pesquisador como mostra a sua interpretação e repertório diante de analisar os dados fornecidos para uma resposta da representação” (ibid, p.111-121). . A AD nasceu tendo como base a interdisciplinaridade, pois ela era preocupação não só de linguistas como de historiadores e de alguns psicólogos; é a uma explicação de texto (BRANDÃO, 2004, p.16). Todo texto é híbrido ou heterogêneo quanto à sua enunciação, no sentido de que ele é sempre um tecido de vozes ou citações, cuja autoria fica marcada ou não, vindas de outros textos preexistentes, contemporâneos ou do passado. Assim, todo texto se constrói por um debate com outros (PINTO, 2002, p.31). 37 Brandão (2004) cita Foucault, ao explicar o conceito da AD com base nas regras de formação, Cabe à análise do discurso descrever essa dispersão, buscando o estabelecimento de regras capazes de reger a formação dos discursos. Tais regras, chamadas por Foucault de "regras de formação", possibilitariam a determinação dos elementos que compõem o discurso, a saber: os objetos que aparecem coexistem e se transformam num "espaço comum" discursivo; os diferentes tipos de enunciado que podem permear o discurso; os conceitos em suas formas de aparecimento e transformação em campo discursivo, relacionado em um sistema comum; os temas e teorias, isto e, o sistema de relações entre diversas estratégias capazes de dar conta de uma formação discursiva, permitindo ou excluindo certos temas ou teorias (BRANDÃO, 2004, p.32). A análise de discurso francesa traz várias vertentes a ser analisadas, uma delas inclui a abordagem da imagem e do som. No tópico a seguir será mostrado a forma que se utilizará em base da análise para verificar a representação dos jornalistas nestas duas séries ficcionais de gênero comédia e drama. 5.1 A pertinência de uma pesquisa em representações sociais com elementos da análise de discurso francesa O presente trabalho se baseará no mapeamento do tempo e do espaço diegético em que se inserem os personagens Robin Scherbatsky e Will McAvoy. Isso quer dizer que certos elementos da narrativa, como a música de background não serão analisados e nem interpretados. Outro exemplo é o personagem Ted em 2030 narrando os acontecimentos. Essa narrativa não fará parte, somente eles no passado, mostrando o que de fato aconteceu, como exemplo o episódio analisado aqui, pois Robin conta em primeira pessoa o que houve, não tendo a interferência do elemento externo, que é a narração. Como diz Lago e Benetti, o nome para esse estudo diegético é outro, porém estuda e averigua as mesmas coisas (LAGO E BENETTI, 2008, p.111). O trabalho se baseia na mensagem, visando verificar a representação apresentada dos dois jornalistas das séries TN e HIMYM. Nessa pertinência, entra a análise do estudo das vozes, que, como citam as autoras, o “jornalismo é idealmente polifônico, que por ele circulam diversas vozes” (LAGO; BENETTI, 2008, p.116). No texto das séries, há diversas vozes, que são dadas como exemplo as personagens, o narrador (no caso de HIMYM, que não será analisado), as fontes, a fala da instituição na qual o jornalista trabalha e a do próprio jornalista. Nesse caso, esse 38 estudo prioriza a voz e a representação do jornalista em relação às demais vozes em consonância com as representações mostradas em estudos de Moscovici (2012) e de Travancas (1992). A AD defende que a imagem deve ser considerada no estudo para classificar dados, sem ser vista como marcas ou exceções, tais como imagens de igrejas, cruz e afins, “mas essas semelhanças existentes em certos signos linguísticos (onomatopeias, por exemplo, que são: atchim, tique-taque), é um efeito de sentido construído por técnicas de representações como a perspectiva ou a fotografia” (PINTO, 2002, p.37). Para Pinto (id), logo mais esses signos são nomeados de Iconografias, que no caso são as imagens que já possuem um significado em si, sem ter que haver estudo para isso, como a cruz. A AD define também os discursos como práticas que já estão no nosso cotidiano, o qual está sempre mudando. Como relata Pinto (id), “toda fala é uma forma de ação, o que tem muito a ver com a ideia de discurso como prática social que adota a análise como imune de qualquer coação social” (ibid, p.21-22). Mas uma análise concreta das representações que um indivíduo tem ou que um texto promulga, só é possível se as considerarmos inseridas num discurso bastante amplo, no qual as lacunas, as contradições e, consequentemente, as ideologias possam ser detectadas (MAURER; SILVA 2004, p.36), e no presente trabalho, elas deverão ser achadas e analisadas. Há várias formas de se estudar um personagem usando a AD, que no caso no estudo deixa algumas marcas para que o pesquisador desvende essas produções. “A análise de discurso não se interessa tanto pelo que o texto diz ou mostra, pois não é uma interpretação semântica de conteúdo, mas sim em como e por que o diz e mostra” (PINTO, 2002, p.27). Ao contrário do que estabelece o senso comum e algumas análises de discurso que tomam os textos ao pé da letra, não só não somos inteiramente responsáveis pelas representações que acreditamos fazer nos textos que produzimos, como também nem sequer somos os únicos responsáveis pelas representações que ali aparecem (id, p.30). Os sujeitos nas séries, que trazem algum tipo de enunciação - que é o produto utilizado culturalmente, possuem lugares “enunciativos ou lugares de fala, que mostram as diferentes formas de apresentar e representar uma determinada área do conhecimento”, que foi proposta e pode ou não aparecer em cena (PINTO, 2002, p.32). “Desde que acordamos para a comunicação e a linguagem, estamos 39 entrando no amplo mundo das representações, das relações e identidades sociais, e aceitamos alguma forma de controle social” (PINTO, 2002, p.44). Para criar na consciência dos homens essa visão ilusória da realidade como se fosse realidade, a ideologia organiza-se como um sistema lógico e coerente de representações (ideias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar/ o que devem valorizar, o que devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer (CHAUI apud BRANDÃO, 2004, p. 22). Esses conjuntos de elementos, ou sistematizações com a imagem são criados sob a perspectiva, sendo que se não são explícitas (não seguindo regras ou lógica de fácil entendimento), elas podem trazer o risco de perder as diferenças entre si. Com isso podem ser trazidas novas contradições (BRANDÃO, 2004, p. 22). Para a imagem ou a pesquisa em si, trazer e moldar as diferenças não necessárias é necessário, mas sim apresentar elementos que comprovem a representação de uma profissão de acordo com os objetos de análise. 5.2 Quem são os objetos de uma análise do discurso Os objetos da AD são os enunciados, que surgem com a relação entre sujeitos. Foucault situa-se na vertente oposta a uma concepção de ideia de lista do sujeito que, interpretado como fundador do pensamento e do objeto pensado, vê a história como um processo sem ruptura em que os elementos são introduzidos continuamente no tempo concebido como totalização. Crítica, dessa forma, uma concepção do sujeito enquanto instância fundadora da linguagem: poder-se-ia dizer que o tema do sujeito fundador permite elidir a realidade do discurso (BRANDÃO, 2004 p. 33-34). O sujeito fica responsável por trazer vida própria para as línguas, “e ele que, atravessando a espessura ou a invertia das coisas vazias, retoma, intuitivamente, o sentido que ai se encontra depositado” (id), e que ele é quem irá fundar novos significados, que antes não teria, para “excitar e onde as proposições, as ciências, os conjuntos dedutivos encontrarão enfim seu fundamento” (id). Logo, o “discurso não existe por si só, mas em um espaço entre os sujeitos” (ibid). Aqui os sujeitos são dois jornalistas, que se apresentam formalmente – indiferente do gênero e formato (sitcom e drama), que buscam se alinhar a certos moldes de apresentação já representados anteriormente, em que o sujeito traz a 40 vida própria para criar sentidos. “O discurso é fruto do trabalho de interação entre sujeitos” (LAGO; BENETTI, 2008, p.116). A unidade de análise compreende a “conversação como sendo uma unidade de analise uma linha, uma sentença ou um parágrafo” (ROSE, 2002 p. 348). A unidade está, consequentemente, Baseada na fala, e ciente da importância dos aspectos não-verbais dos textos audiovisuais. Há um espaço para o pragmatismo em analises complexas É impossível descrever tudo o que está na tela e eu diria que as decisões sobre transcrição devem ser orientadas pela teoria (ROSE, 2002 p. 348). Escolheu-se a unidade de análise com base no visual, sonoro e representativo. Mas também, por motivos práticos, pois elas analisam de forma direta e prática e na grande maioria dos casos, essas tomadas são simples de serem trabalhadas. 5.3 Objetos jornalistas O jornalista, pelo estilo de vida que sua profissão implica, de intensa atividade e mudança, “com tensão constante e excesso de estímulos, será candidato natural à atitude blasé. Atitude resultante de estímulos contrastantes em rápidas mudanças e impostas aos nervos de uma busca incessante de prazer” (TRAVANCAS,1992, p. 40). Travancas (id) reflete sobre a rotina produtiva de um jornalista de jornal que, segundo a autora, costuma se centralizar em um personagem que chega no trabalho, corre para ver a pauta do dia, e quando não a tem pronta, vai procurar no computador ou conversar com os colegas. Além disso, ao receber a pauta, o jornalista sai da redação com um fotógrafo e um carro da reportagem, no intervalo de tempo de locomoção, o jornalista lê jornal, assim chega onde produz sua matéria do dia, o que deveria ser a única, mas muitas vezes faz mais que uma matéria só. A jornalista ressalta que em seus poucos dias livres, sai para a praia ou cinema, e enfatiza que é difícil achar um namorado não-jornalista, que compreenda esse trabalho com horário à disposição da redação. Um repórter de televisão, diferentemente de um de jornal impresso ou rádio, se diferencia necessariamente pela aparência, pois tem uma prioridade imagética. “Por isso uma repórter, por exemplo, deve estar sempre maquiada, penteada e bem 41 vestida, principalmente da cintura para cima, que é o que aparece no vídeo” (id, p. 39). Traquina vê o jornalista e o jornalismo como uma profissão cheia de cultura e que “fornece um modo de ser/estar, um modo de agir, um modo de falar, e um modo de ver o mundo” (TRAQUINA, 2005, p. 36) e completa que algo que define o jornalista e o jornalismo é “o fator tempo” (id, 37). Travancas dá uma clara definição do que muita gente acha que “o jornalismo é uma profissão que se prende nas redações, na prática [...], profissão essa que só passou a atingir a massa através do rádio e da televisão (TRAVANCAS,1992, p.32). Outro aspecto fundamental da competência jornalística é o conhecimento das regras acerca das fontes de notícias e a execução das três generalizações básicas seguintes acerca delas: a) a maioria dos indivíduos, como fontes de notícia, têm algo a defender. Para ser credível, um indivíduo deve provar ser seguro como fonte de informação, através de um processo de tentativa e erro; b) alguns indivíduos, tais como os presidentes de comissões, estão numa posição em que sabem mais que qualquer outra pessoa na organização. Apesar de terem algo a defender, a sua informação é provavelmente mais “exata” porque têm mais “fatos” à sua disposição; c) instituições e organizações: os procedimentos concebidos para proteger, que a instituição, quer as pessoas que entram em contato com ela, têm significados (TRAQUINA, 2005, p. 42). Ao criar uma nova forma de se comunicar, como cita Traquina (id), o jornalês, o jornalista designa para si mesma uma característica importante: que ele precisa se esvaziar de tudo o que aprendeu e sabe, porque ser jornalista é saber se “comunicar através de fronteiras de classe, étnicas, políticas e sociais existentes numa sociedade” (ibid, p. 46). Fora que “o próprio ethos jornalístico é determinante na elaboração de mitos” (ibid, p.50). O jornalismo é uma profissão importante na sociedade, pois visa trazer à tona a transparência, serve para informar e formar opiniões. Nisso está centrado o papel do jornalista na sociedade, porque como cita Travancas (1992) “sempre que alguém pensa em jornalista, logo lhe ocorre à ideia de um jovem correndo atrás da notícia que anseia ser um furo de reportagem”. A sociedade pode ter uma visão ampla e geral da profissão, mas o fator tempo e o teor das notícias veiculadas. São o que atraí as pessoas. “Hoje, ser jornalista significa trabalhar em jornal, televisão, rádio ou assessoria de imprensa” (TRAVANCAS, 1992, p. 17). O jornalista se designa pelo que faz e quando faz, pois ele é visto com um suporte para a sociedade, pode ser enquanto trabalha ou nas redações. Travancas 42 menciona sobre o ego do jornalista, que principalmente os de televisão, os famosos “repórteres que aparecem na televisão não se perdem no anonimato da classe, o que acontece normalmente com os jornalistas de rádio e jornal; ao contrário, são reconhecidos na rua e identificados pelos telespectadores (id, p. 39). Outro fator importante que Traquina cita é a temporalidade da profissão, pois “o jornalismo não é uma simples ocupação, um passatempo; é mais que um trabalho porque é uma vida” (TRAQUINA, 2005, p. 53). O jornalista tem que ser inteiro da profissão e até mesmo casar-se com ela, pois não há hora para ser chamado, tem que estar disponível 24 horas por dia. “O jornalista não tem tempo, não pode jantar em paz, não tem tempo para luas-de-mel, tem sempre que deixar o número de contato (id). Travancas também relata esta representação do amor pela profissão, “um repórter não tem hora definida para sair de uma redação ou terminar uma matéria. Não existe jornalismo com cartão de ponto ou horário rígido de saída” (TRAVANCAS,1992, p. 34). Isso parece ser um traço importante da profissão, e mesmo inerente a ela. O jornalista de certo modo não é “dono” do seu próprio tempo: este não lhe pertence, e sim à carreira. 6. RECORTE DOS OBJETOS ANALISADOS O episódio escolhido de TN para compor o corpus da presente análise é o sexto da primeira temporada, denominado Bullies24, que mostra o personagem jornalista Will McAvoy buscando uma ajuda profissional (um terapeuta) para aprender a lidar com sua vida pessoal sem que ela atrapalhe a vida profissional. No episódio, Will aparece preocupado com a ajuda que deu a sua colega sobre uma matéria. Sloan acaba cometendo um erro ao vivo no telejornal, pois acatou aos conselhos dele. Além disso, Will precisa aprender a lidar com o seu amor por MacKenzie, que está muito presente em sua vida, mas o sentimento de abandono que ela causou é forte demais para perdoá-la ela por tê-lo traído com outro jornalista alguns anos antes. O jornalista está também com um segurança, pois sua vida corre perigo frente a uma ameaça de morte (cuja razão será desvendada ao fim do episódio) e 24 Tradução livre: valentões, ou as ameaças. 43 isso é mais um fator para atrapalhar a sua vida pessoal. Will não consegue e não quer (somente no final, sente que está aprendendo a lidar com a sua vida pessoal de uma forma mais completa e sem elementos externos atrapalhando) ter controle de sua vida, pois acha uma grande responsabilidade ser uma figura pública amada e odiada. Já no que refere ao corpus de análise de HIMYM, o episódio escolhido é o quarto da sétima temporada, e leva o nome de The Stinson Missile Crisis,25 pois assim como em TN, mostra a personagem Robin procurando ajuda profissional (terapeuta) após atacar uma mulher na rua. Ela enrola um pouco, mas acaba contanto para Kevin (o terapeuta) o que houve e por que atacou a menina, mas antes faz todo uma cerimónia (típico do jornalista que quer fazer de tudo uma boa história). A personagem fica com ciúmes de sua colega de trabalho (ou seja, há desde o início da narrativa a representação do jornalista como um profissional que não consegue separar bem a vida no trabalho da vida pessoal), que está saindo com Barney. Robin se descobre apaixonada por ele, e relata como lidou com isso ao seu terapeuta; fala que o seu jeito de resolver os problemas é bebendo, e não bebendo em um bar, mas sim bebendo na redação, debaixo de sua mesa de trabalho. A personagem conta como no final ela atacou a menina (no intuito de estragar o jantar de Nora e Barney), pois ela percebeu que seu amor era forte, mas que não precisava fazer nada para estragar esse relacionamento, pois poderia sim ser feliz sozinha. Os critérios de análise para os dois episódios foram, a forma de construção dos personagens protagonistas, que são Robin e William. Para tanto, se analisa tanto a forma com que lidam com o pessoal, profissional como também o que se baseia o jornalismo deles, se fazem reunião de pauta, se bebem e se transmitem os valores notícias. Analisa-se também a construção das relações humanas, que são cenas interagindo com colegas, amigos, parentes ou famílias. Os laços de amor entre os profissionais, se lidam bem com este lado. A construção das relações profissionais e por último, o discurso imagético que também averigua como estão à disposição das mesas, as vestimentas correspondem ás usadas diariamente por jornalistas. 25 A Crise dos Mísseis Stinson, tradução livre. 44 6.1. The Newsroom – episódio 6 da primeira temporada – bullies Os momentos apontados/analisados aqui são os que, discursivamente, ajudam a construir a representação do jornalista no corpus apresentado. Na primeira temporada, o episódio 6 já começa com William McAvoy apresentando o News Night 2.0. Ao relatar a última notícia do telejornal, Will confunde as informações do teleprompters ao vivo, deixando-o descontente por sua atuação. O jornalista, logo após sair da bancada, confessa à sua produtora MacKenzie McHale que está com dificuldades de dormir há semanas. Após isso, ele vê que uma possível solução é visitar seu terapeuta, o Dr. Habib. A representação aqui é do jornalista que possui dificuldade de relatar os problemas da vida pessoal. No caso do personagem William McAvoy, ele retém determinadas histórias as quais não compartilha com ninguém. Will, por sua relação com a profissão durar as 24 horas do dia e ele perder o foco da vida pessoal, e não saber lidar com ela. O fato dele não conseguir dormir há semanas reforça que o emocional do jornalista está abalado, e o corpo responde de alguma forma. Representado como arrogante, William sente que ninguém pode ajudá-lo. Esta representação é lembrada por Marcondes Filho que, ao analisar a evolução do jornalismo desde seu surgimento, aponta que “não raro (os jornalistas) assumem ares que lembram a arrogância por desprezar outras fontes que não si mesmos, por pouco se importarem dos rumos que as coisas tomam” (2002, p.57). O terapeuta começa a abordar pontos fracos do Will, coisas da infância e questões sobre como ele lida com a emoção. Como citado anteriormente, o jornalista não se abre facilmente. A terapia é uma forma de ele contar para alguém seu problema, porque a vida profissional toma muito tempo e ele começa a guardar tudo para si. E só percebe que está cheio de coisas quando algo começa a desandar na vida pessoal. Neste caso, a insônia aponta o caráter workaholic do jornalista personificado em William McAvoy. Traquina diz que ser profissional na medida certa é “possuir uma capacidade performativa avaliada pela aptidão de dominar o tempo em vez de ser vítima dele” (TRAQUINA, 2005, p. 40). Por que como demostra Will no cotidiano, o jornalista começa a ser vítima do próprio tempo ao invés de senti-lo, pois para o autor os jornalistas em geral possuem uma forma frenética e obsessiva de usar o tempo a favor, mas quando se perde, o tempo passa a ser o inimigo. No caso dele 45 também afeta as noites de sono. O autor (id) ainda complementa sobre a performance do profissional “o jornalismo não é uma simples ocupação, um passatempo; é mais que um trabalho porque é uma vida” (id, p. 53). O autor ainda acredita que ser jornalista é se casar com a profissão e estar disponível sempre, ainda mais porque, “o jornalismo exerce-se sempre em clima de urgência; o jornalista não tem tempo; não pode jantar em paz; não tem tempo para luas-de-mel; tem sempre que deixar o número de contato” (TRAQUINA, 2005, p. 53). Esse imediatismo que faz parte da profissão, aparece bem em outro episódio quando Bin Laden é morto e eles estão numa festa. Todos correm para as redações afim de averiguar se a pauta era quente, ou seja, a urgência em noticiar este fato antes de outros veículos se faz parte do imediatismo presente na profissão. Neste episódio analisado, esse exemplo é bem claro quando Sloan tem que deixar o que estava programando para apresentar um noticiário ao vivo. No terapeuta, a dificuldade com que Will se abre é quase paralela à forma com que ele lida com seus problemas. Na série, ao perceber a relutância do jornalista em falar, Dr. Habib interpreta que o jornalista precisa mudar alimentação, malhar, fazer coisas normais de pessoas que prestam atenção na vida particular. O personagem mostra que segue uma rotina desde que saiu da faculdade, no qual ele mantém hábitos ruins de uma vida corrida. No caso aqui Traquina cita que “o fator tempo define o jornalismo” (TRAQUINA, 2005, p. 37). Travancas diz que pela forma como o jornalista conduz a vida pessoal, “implica, de intensa atividade e mudança, com tensão constante e excesso de estímulos, será candidato “natural” à atitude blasé” (TRAVANCAS,1992, p. 40), e essa atitude é contra novos estímulos ou rápidas mudanças. A ideia de Will de seguir a mesma dieta desde que se formou, faz com que os novos estímulos, não façam parte do cotidiano dele. A intensa atividade profissional do jornalista não o deixa livre para conduzir a vida pessoal. A personagem sofre com estresse incomum no trabalho, como uma ameaça de morte, a mudança das regras no formato de um programa, alterações de humor e atitudes relacionadas à vida profissional -- como reunião de pautas, pesquisas, fontes e afins. Ele e os jornalistas da redação aparecem buscando e respondendo possíveis respostas redundância: respondendo respostas da entrevistada de Will sobre a mesquita, dizendo que os EUA não foram atacados por muçulmanos, mas sim por sociopatas. 46 Os jornalistas averiguam os valores notícias do dia. Um fato é sempre repleto de valores-notícia; frente a isso, o filtro do sistema jornalístico irá determinar o que entra e o que sai. Isso é assunto da disciplina de Teorias da Notícia. “Um conjunto de valores-notícia que determinam se um acontecimento, ou assunto, é susceptível de se tornar notícia, isto é, de ser julgado merecedor de ser transformado em matéria noticiável e, por isso, possuindo “valor-notícia” (TRAQUINA, 2005, p. 63). Sloan demonstra querer aprender boas e novas técnicas, “seu universo é autorreferente, e a curiosidade maior que eles, ela está em acompanhar o trabalho de outros jornalistas” (MARCONDES FILHO, 2002, p. 56). A personagem vê em William McAvoy um profissional qualificado para se pedir ajuda. Que traz a representação de um jornalista curioso e que se utiliza de uma “espécie de espelho narcísico e de auto avaliação” (id). Um fator importante aqui no significado de narcisista para a profissão de jornalista, é que um repórter de televisão é somente diferenciado basicamente pela aparência. “A televisão é um meio onde a imagem é fundamental, e por isso uma repórter, por exemplo, deve estar sempre maquiada, penteada e bem vestida, principalmente da cintura para cima, que é o que aparece no vídeo” (TRAVANCAS,1992, p. 39) Como no caso de Sloan, no episódio após ser intimada para apresentar o noticiário, o produtor Jim a convence somente quanto ele cita que a roupa que ela vai usar é terninho da marca Gucci. A jornalista se rende a um maquiador e a um armário profissional com muitas opções básicas e formais. A jornalista se rende a um maquiador e a um armário profissional com muitas opções básicas e formais. Sloan demostra ser sexista e durante toda a série, é representada como extremamente profissional (com uma imensa capacidade intelectual e baixa capacidade de lidar com a vida emocional), e mesmo que prezando sua carreira, é no final seduzida pela expectativa de vestir Gucci. Sloan entra na sala e pede conselhos ao âncora Will McAvoy (Figura 01). Altruísta, o jornalista ajuda Sloan com as questões que a atormentam - coisas de ética no trabalho e não mentir para o público. Sua dica para ela é que não deve parar o programa até o entrevistado falar a verdade no ar, por causa de um valor notícia que é o interesse público. O resultado disso é que os jornalistas antes 47 possuíam um faro para as notícias, não eram controlados por empresas e interesses pessoais das instituições. Se buscava informar a qualquer custo, tanto que Sloan busca até o final tirar a verdade de seu entrevistado, sem temer represálias. Porém hoje, os profissionais estão perdidos, não se sabe nem ao certo se a profissão continuará aos viés que começou (MARCONDES FILHO, 2002, p. 56-80). Não somente Sloan, mas todos os profissionais de TN demonstram que buscam algo de novo na profissão. Aliando importância da notícia com a relação dos jornalistas no trabalho, Travancas cita que as características diferentes dos jornalistas (como no caso de Sloan e Will), se percebe que não importa a idade, pois “a relação está restrita ao mundo dos jornalistas, sendo a grande maioria dos amigos são da mesma profissão” (TRAVANCAS,1992, p. 99). Fig. 1 – William é questionado sobre como fazer uma fonte dizer a verdade ao vivo Após narrar o fato, Will mostra o altruísmo frequente do personagem jornalista, dizendo que na ocasião em que Sloan pediu ajuda ele diz: “eu estava de mau humor e honestamente, estava apenas tentando motivá-la. Mas ela é a última pessoa que precisa de motivação, então acabei apenas” e o terapeuta completa “assustando-a”. Will tenta dizer que Sloan é profissional, que ao tentar ajudá-la, ele acaba fazendo com que ela cometa um erro, no caso aqui, ele passa a se sentir culpado. William ainda se refere que as dicas que deu à jornalista. Não precisavam 48 ser dadas, pois ela é auto didada, ou seja, vai atrás do que interessa e faz da melhor forma possível, ela queria demonstrar isso ao entrevistar um japonês. Ao produzir o noticiário, Sloan vê que a tradutora não estava repassando exatamente o que o convidado japonês estava dizendo, então, depois de muito insistir, ela perde a paciência e começa a falar em japonês ao vivo com o entrevistado. Sloan se mostra uma jornalista intimorata26, ou seja, uma profissional sem medo de represálias e que preza mostrar como as coisas são. Sloan se mostra também pouco submissa, como cita Senra “Naturalmente a submissão do jornalista é uma visibilidade cada vez mais ampliada e a afirmação da sua imagem são mais notáveis na televisão (SENRA, 1997, p. 17). E que para isso, o jornalista não deve perder a ética (id, p 18). Ao ir para a redação, que segue o formato de mesas juntas e com divisórias, sempre em cores claras, neste caso em tom de cinza claro, com cada jornalista em sua mesa e muitos papéis ao redor, que demonstra o trabalho frequente. Sloan tem que lidar com a ira do produtor Don e de Charlie, que a suspende remuneradamente, pois para ele uma jornalista dar a sua opinião ao vivo sobre algo sem ter a confirmação de uma fonte oficial. Ele diz “nós não reportamos o que você acha Sloan, se o cara disse que os reatores estão estáveis, eles estão estáveis” diz Charlie. A forma de lidar com a fonte é um clássico problema do jornalista. Sloan é suspensa. Traquina (2005) cita que a competência jornalística vem de conhecer as regras e as fontes, pois com elas se tem uma base para seguir, tais como: “a maioria dos indivíduos, como fontes de notícia, têm algo a defender. Para ser credível, um indivíduo deve provar ser seguro como fonte de informação, através de um processo de tentativa e erro” (TRAQUINA, p. 42). Traquina também cita que as fontes oficiais são as que mais são utilizadas por seus conhecimentos acerca da notícia (id). A produtora e também jornalista MacKenzie McHale, é outra personagem que revela confusão na vida profissional para resolver conflitos pessoais. No episódio, ela descobre que Will, seu ex-namorado, recebeu uma proposta para ir para uma nova TV, a FOX, e ter um programa em Las Vegas, em 2006. Ela vai consultá-lo sobre isso, referenciando que o jornalista não tinha a intenção de ter um futuro com ela e nem casar. Ele mostra então um anel de noivado da Tiffany. Ela fica 26 Pessoa que não tem medo de nada. 49 sem palavras e fala para ele “bom, vamos voltar ao trabalho”, típico de um jornalista não saber lidar com as emoções pessoal. Will acaba tendo que lidar com um novo fato em sua vida pessoal: ele é ameaçado de morte pela internet. Após noticiar uma matéria sobre o senador Rick Santorum. Will força tanto a sua fonte ao vivo para ele dar uma opinião, que o entrevistado se revolta com ele e dá uma lição de moral nele. Ao ser chamado de ignorante, o jornalista fica sem graça e desnorteado. Will depois aparece sentado no sofá do terapeuta e ele diz que ele era a ameaça ao entrevistado, não o senador. MacKenzie fala para o segurança de Will, que deve garantir que ele vá ao terapeuta. Charlie acha uma saída para Sloan não precisar ser suspensa e Will concorda com o método. Charlie sugere que Sloan diga que se confundiu com as informações e que assim ele salvará o emprego do entrevistado e salvará Sloan da punição. Sloan pede ajuda de Will de novo e diz (Figura 02) “Will, você quer que eu minta? Na televisão? Na bancada do noticiário com o logo da ACN no canto?” Fig. 2 – Sloan pedindo um conselho do jornalista âncora Willian McAvoy sobre mentir na TV E ele responde: “Quero. E diz que se houver consequências ele estará ao lado dela”. Para o terapeuta, Will revela que mentir ao vivo e para o público era um retrocesso no trabalho dele, que ele sempre lutou e chamou a atenção das pessoas por nunca mentir na bancada. Outro fator, como apresenta Marcondes Filho (2002), é que antigamente, os profissionais de comunicação eram vistos como cães 50 indomáveis, e que hoje eles desapareceram, são mais como cães perdidos. No comportamento jornalístico há “um certo mal-estar, uma revolta diante de um mundo que eles frequentemente conhecem por dentro” (MARCONDES FILHO, 2002, p.56). No episódio, é evidenciado a relação pessoal versus profissional do personagem. William confessa que a falta de sono é por ter forçado o seu entrevistado ao vivo. Nisso, o terapeuta diz que Will não consegue dormir porque come bacon com ovo antes de dormir, e isso afeta o sono. Will fica nervoso e diz que ele confessou isso há uma hora atrás, que não precisava contar tudo o que tinha contado. Ele ainda completa que o Will está passando por muita coisa na vida dele no momento, que está sendo caçado pelos jornalistas, pelas pessoas da internet e obviamente pelo sentimento que ainda nutre por MacKenzie e a forma de como não consegue perdoa-la por ter traído. Ele passa muito tempo fingindo não sentir nada, quando na verdade ele sente e muito por tudo o que ocorre ao redor dele. As representações aqui são de jornalistas que procuram ser um espelho, tanto William quanto Sloan, para Traquina (2005) buscam ser um “jornalista que reflete a realidade” (TRAQUINA, 2005, p. 62). E o que o jornalista é mediador, e que para eles reconhecer a importância de seu trabalho é difícil (id). 6.2 How I Met Your Mother – episódio 4 da sétima temporada – The Stinson Missile Crisis27 Assim como TN, o episódio quatro da sétima temporada de HIMM começa com a Robin Scherbatsky falando com o terapeuta Kevin. A jornalista frisa que ela não é o tipo de pessoa que fala de suas emoções. A personagem se gaba de sua atitude e é cortada por Kevin, que diz a ela que atacar uma pessoa na rua e ser recomendada para terapia para saber se é um perigo a sociedade não é crescer. Da mesma forma que Will McAvoy, Robin revela dificuldades em abordar seus problemas e angústias (Fig.03). Mas logo passa a falar. Ela narra, dizendo que namorava Barney e que quando terminaram, ela o apresentou a uma colega do trabalho, a Nora. A relação com colegas de trabalho aqui se define conforme cita Senra (1997), que diz que o trabalho do jornalista seja cada vez mais distribuído 27 A Crise dos Mísseis Stinson, tradução livre. 51 entre vários profissionais e que “percorra uma hierarquia cada vez mais acentuada de funções, subtraindo ao profissional o seu antigo domínio sobre o produto final” (id, P. 25). Fig. 3 – Robin no terapeuta relatando sobre a sua dificuldade em se abrir Isto é mostrado claramente quando o chefe de ambas, o Sandy Rivers, famoso jornalista da redação, ia precisar de uma companhia para cobrir a cúpula do G8 na França, Robin indicou a Nora para esse trabalho a fim dela ficar longe por alguns dias. Nora agradece ao suporte dado pela Robin. A jornalista então fica sabendo pelo próprio chefe que ia chamar a Nora de qualquer forma. Robin argumenta que ela tem mais experiência, mostrando que “o investimento intelectual do jornalista é o melhor lucro que os donos de jornais podem ter a longo prazo. E o que tornaria o trabalho desses jornalistas mais respeitados” (MARCONDES FILHO, 2002, p.66). Que é caso de Robin, depois de mostrar seu valor como profissional ela acaba recebendo esse crédito como boa jornalista. Sandy diz que ele quer ir com Nora porque quer dar cima dela. A personagem acopla então outro fator à representação, que é o do jornalista, que se relaciona com colegas de trabalho, pois “a paixão é frequente e pode ser percebido nos jornalistas que demonstram, portanto, um grande envolvimento afetivo, mesmo que suas vidas estejam invadidas pela profissão” (TRAVANCAS, 1992, p.60). 52 E há um diferencial nesta parte que representa que o jornalista somente se relaciona com outro jornalista, que é o sobre o bom profissional que não mistura trabalho com pessoal. No caso, Sandy Rivers, é todo antiético, não profissional e não possui noções de como um jornalista deve se portar, como cita Marcondes Filho (2002) ao mostrar o lado profissional de um jornalista “nenhum bom jornalista irá se firmar profissionalmente se não tiver uma boa cabeça, uma capacidade de discernimento, critérios de julgamento, valores consolidados e uma base intelectual que suporte as turbulências da profissão” (id, p. 65). Há um corte para uma cena no ambiente de trabalho, mostrando que Robin mantém uma pose de indiferença ao ver seu ex-namorado mandando flores para outra, mas na primeira oportunidade que pode, cutuca a menina dizendo que Barney deve ter arrumado outra pessoa, ou seja, ela estava mentindo para algo dar errado no relacionamento. Observa-se que, em consonância à narrativa de The Newsroom, os momentos da fala na terapia de Robin assemelham-se aos de Will McAvoy durante sua sessão. Que os profissionais de imprensa aderem muito a discursos cheio de detalhes significativos nas histórias que contam. Um fator importante é que desde a narrativa inicial, as cenas seguintes são da jornalista na redação, aonde ela aparece sempre bem caracterizada, roupas formais, pouca maquiagem e uma mesa cheia de papeis e bagunçada. Todos ao redor seguem esse mesmo padrão, boas vestimentas e muito trabalho. Computadores sempre ligados e matérias ou textos a serem escritos são o que demonstram que o trabalho é frequente. A redação segue o padrão de mesas coladas mas com divisórias. O que diferencia aqui é que a redação não é aberta para todos; no episódio Barney entra cantando e ninguém o atrapalha. A cena volta ao escritório onde ela, Robin e Nora trabalham, Barney está em cima da mesa cantando para ela, rodeado de pessoas do escritório. Na terapia, Robin relata que se descontrolou neste momento e que para afogar as mágoas ela ficou bebendo vinho e comendo chocolate que eram da colega embaixo da mesa do trabalho e com as roupas que geralmente usa para trabalhar. Em outra cena, ela faz a mesma coisa: desconta na bebida a sua ira. Senra cita o alcoolismo atribuído ao profissional de comunicação, e diz que é uma herança de outros profissionais que viviam em contextos boêmios. “Este vício aparece como 53 traço característico do universo socialmente mais valorizado” (SENRA, 1997, Pg. 4849). Um amigo diz que precisa de ajuda para se livrar dos sistemas que ele usava para pegar meninas. Robin aceita ajudar. Na terapia, ela diz a Kevin para ele anotar que ela é altruísta, que ajudou um amigo que precisava. Ela enrola um pouco, porém acaba confessando seus reais sentimentos. Kevin acha bom ela começar a se abrir e diz que é um bom sinal ela estar falando dela e não de seus amigos. Aqui se percebe a reiteração do jornalista como uma profissão que está, sobre quem deve ser, o que fazer e como fazer, como cita Marcondes Filho (2002), “é uma profissão que exige cada vez mais competência e em cada vez mais domínios, porque o real é cada vez mais complexo” (id, p;63). No bar do McLaren’s, Barney agradece a Robin por tê-lo ajudado, e o chama de irmão. A jornalista, por ser dada como forte e saber lidar com as suas emoções na frente dos amigos, é generalizada como masculina. O mundo do jornalista sempre foi considerado como eminentemente masculino, porque a crueza dos fatos, a disparidade dos meios sociais por ele frequentados, sua jornada principalmente noturna de trabalhos e o risco de certas situações a serem enfrentadas não se adequavam à presença feminina (SENRA, 1997, Pg. 48 e 49). Robin então conta como foi que atacou a menina. Ela correu atrás da menina que ia estragar o jantar do Barney e da Nora, e ela derrubou e bateu na moça, para ela não atrapalhar o jantar deles. Ela diz que Barney não sabe de nada do que houve e por isso a justiça ordenou que fizesse terapia, ao que ela completa: “você deve me achar louca”. O terapeuta diz que acha ela uma boa amiga e ela diz que acha isso bom, que eles lidaram com isso em uma sessão apenas. Ted então aparece depois com Robin dizendo que “amar, às vezes é dar um passo atrás”. Ela tenta minimizar seus atos dizendo que “as vezes é melhor interferir e sabotar”. Ted então diz que se você gosta de alguém você deve querer vê-los feliz. Mesmo que você acabe se lascando. A jornalista percebe que errou, e que isso reflete emocionalmente e fisicamente no seu bem-estar, mesmo que por poucos minutos, “o jornalista que reconhece ter se enganado se coloca em perigo. Não em relação ao público mas à sua própria hierarquia. 54 Os responsáveis de um telejornal, são sempre persuadidos que há um erro a pagar” (MARCONDES FILHO, 2002, p.70). Robin demostra isso no final do episódio (Fig.04), mas que ela sabe que fez o que deveria ter feito, assim como Sloan, que ao ter que ir ao ar e dizer que errou, que seu japonês não era fluente, ela sente que essa responsabilidade tem que ser dividida, pois ela não estava errada. William então reforça que ele após ela declarar o erro, estará ao lado dela e na frente da mesma para poder eles juntos enfrentar esse problema. Fig. 4 – Robin fica feliz ao conseguir falar sobre a sua vida pessoal somente em uma sessão, o mesmo fato ocorre com William McAvoy. Neste momento se instalam relações fora do ambiente de trabalho, pois “os amigos não jornalistas são considerados como uma segunda família, e em certos casos tornam-se mais importantes que parentes” (TRAVANCAS,1992, p. 92). “O jornalismo tem uma das culturas profissionais mais ricas, se não a mais rica, identificando os valores mais nobres na história da humanidade, como é, por exemplo, o valor da liberdade” (TRAQUINA, 2005, p. 35). Tanto para Robin quanto para Sloan, Will e McKenzie, essa relação de amizade no ambiente de trabalho se instaura após conflitos internos. 6.3 Critérios de análise discursiva para as séries 55 Construção dos personagens protagonistas Os personagens são construídos a base representações marcantes dos profissionais de imprensa, tais como: alcoolismo (todos vão a bar e bebem); eles são altruístas, arrogantes às vezes e não sabem lidar com as emoção interior. Não lidam também com a vida pessoal da mesma forma com que trata a profissional, deixando um estereótipo de jornalista no qual traz ao público um discurso de espelho. Nos momentos de relatos sobre o que houve para eles estarem procurando um terapeuta, são os momentos em que enfatizam a falta de coordenância para com a vida pessoal. Os profissionais no geral se portam como jornalistas de grandes redações, que visam informar e avaliar os valoresnotícias. Discurso imagético A amostra de cenas, com bancadas jornalísticas e grandes redações, é o que caracteriza um ambiente de trabalho de um profissional da comunicação. Todo o conjunto é de representação realista de uma redação de verdade, claro que mudando fortemente o formato e até mesmo o estilo de mesas, mas priorizando a colmeia (todos acoplados com mesas lado a lado, podendo ser reta ou em círculos) que se situa numa redação tanto de jornal quanto de telejornal. Vestem-se todos com cores escuras e vestimentas sociais, visando não somente apresentar o lado externo, mas que além do terno Gucci, há um bom profissional da imprensa em busca de furos. Vestem-se impecavelmente. Construção das relações humanas O estilo blasé dos protagonistas é o que mais apresentam sobre as relações pessoais dos mesmos. Tanto no que diz respeito a conflitos internos quanto externos, os jornalistas não costumam saber lidar com as emoções, principalmente pelo fator tempo e veracidade. Há muito com que se preocupar, tanto que quando as emoções são deixadas de lado, o corpo começa a sofrer as consequências, respondendo de forma automática com dores ou eventuais faltas de sono, como ocorre com o jornalista William McAvoy. Construção relações profissionais das As ajudas constantes, as amizades com outros jornalistas, são dadas como forma de uma construção profissional que é levada ao pessoal pois, os jornalistas em sua maioria adquirem amigos próximos que também são jornalistas. A vivencia faz com que a falta de tempo ou até mesmo interesse reflita nas amizades dentro do ambiente de trabalho. Nas séries, as relações profissionais são exemplares, tanto de TN que 56 possuem um quadro de 8 a 10 profissionais que se conversam todos os dias, quanto de HIMYM que apesar de evidenciar mais o lado pessoal da profissional, demonstra que mesmo assim no ambiente de trabalho se acha um bom colega e amigo. A pesquisa documentada foi usada neste trabalho pois não há monografia recente sobre este assunto de representações de jornalistas em séries na faculdade. Entre a pesquisa documentada estão os vídeos de ambas as séries, de sites e DVD’s. 57 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho, depois da análise de dois episódios das séries HIMYM e TN, constata que os jornalistas de ambas as séries possuem características constantes à profissão, como a dificuldade de lidar com a vida profissional em detrimento à pessoal e a independência dos veículos de comunicação e seus interesses comerciais. O lado mais enfatizado na representação é que as personagens jornalistas não lidam muito bem com os sentimentos: quanto mais competente o profissional for, menos facilidade possui para lidar com relações pessoais. A ideia de jornalista em ambas as séries aponta a um perfil masculinizado, ou seja, mesmo Robin sendo mulher, é considerada masculina pelos amigos e colegas por ser autossuficiente, comprometida profissionalmente e crítica quanto ao funcionamento do jornalismo televisivo. Para que os profissionais não se percam profissionalmente (precisam um do outro), somente TN possui reuniões de pauta, HIMYM somente aparece a jornalista produzindo matérias e sendo âncora. Constata-se uma diferença nos discursos pelo fato de se tratar de séries de gêneros diferentes. HIMYM, apesar de ser um seriado cômico, na representação da profissão somente é enfatizado o humor quando ela comete deslizes em transmissões (quando aceita dinheiro para falar coisas ao vivo, quando ela se muda para o Japão achando que vai apresentar um programa sério), mas no contexto geral da série, a personagem tenta, assim como os jornalistas de TN, crescer na profissão e passar a ser reconhecida. TN mostra que os profissionais buscam se moldar a um novo formato de programa, criando novas regras (desde regras políticas até a forma como mandam e-mail) e querem fazer o jornalismo de fato, centrado em notícias de interesse público e do público. Os jornalistas da série são tão exemplares que qualquer profissional desejaria ser assim, mostrando assim que são estereotipados. Os personagens de TN se confrontam diante da construção de temas e assuntos da pauta, o que apresenta o jornalista ético, e estável em relação à busca de fontes. Em ambos os jornalistas, o fato de a bebida fazer parte do cotidiano fora do expediente enaltece a representação do jornalista que ingere bebidas alcoólicas e ou até mesmo muito café. Em toda a série de TN e HIMYM, os personagens não ingerem café nenhuma vez. Os dois personagens trazem elementos reais da 58 profissão para a ficção e demonstram como um jornalista possui amor pela profissão e gosta do que faz. A personagem Robin Scherbatsky é representada como uma jornalista que quer reconhecimento, que trabalha para evoluir na empresa, tanto que chega a viajar para o Japão a fim de voltar com mais experiência; durante toda a série Robin jamais diz não para a profissão; passou por momentos humilhantes; quase foi deportada por estar sem trabalho e ser canadense nos EUA e largou vários namorados para poder seguir a profissão. Robin Scherbatsky aparece fazendo jornalismo efetivamente em sessenta episódios de duzentos de quatorze total da série. Em TN, todos os episódios efetivamente são jornalísticos. Esses dados mostram que a representação do jornalista é constantemente reiterada, sendo uma média de 8 episódios mostrando a profissão dentre 22 da temporada toda. As representações aqui são de personagens jornalistas altruístas companheiros profissionalmente; hábeis, buscam se fortalecer em suas profissões e são receptivos com os novatos no ramo. Não há diferenciação efetivamente sobre as séries de acordo com cada gênero, pois mesmo HIMYM sendo comédia e TN drama, ambas são segmentadas para mostrar uma representação estereotipada da profissão. Mesmo numa série como TN, que busca mostrar o cotidiano de uma profissão e o dilema que envolve o jornalismo em relação às fontes, instituição e outros jornalistas, requer uma visão compartilhada do que se crê que o jornalismo e os jornalistas são. Elas são criadas com base nas repetições anexadas a filmes, séries e programas jornalísticos. HIMYM, por ser do gênero cômico, reproduz a profissão, mas se embasando no estado atual da profissão e recriando como efetivamente mais risível. Porém em hipóteses iniciais do presente trabalho, via-se a jornalista como representativa da baixa credibilidade perante a profissão, o que não se confirmou. Robin é caracterizada como uma profissional que busca reconhecimento e crescimento profissional, ou seja, a transição dela como recém-formada a uma profissional é o elemento principal para efetivar que a jornalista não interfere na representação do jornalista em si. A representação social da jornalista Robin Scherbatsky e do jornalista Will McAvoy são sim obviamente diferentes, cada um com a sua ênfase, TN buscando um novo formato de programa, criando uma nova forma de ver e fazer jornalismo. 59 HIMYM mostra a transição de um foca28 para uma profissional qualificada e reconhecida e demonstra que o trabalho pode ser transitório, renovando-se sempre. Além disso, a série retrata também o lado pessoal da jornalista, o que a coloca em primeiro plano. O estereótipo da profissão independente de gêneros são formas de seguir e buscar êxito profissional. Por fim, constata-se que a personagem Robin é mais realista do que os do seriado The Newsroom, por saber diferenciar a vida pessoal da do trabalho, sua forma de reproduzir o jornalismo é na frente das câmeras somente, a forma de trabalho do personagem Will McAvoy é diante da televisão e fora dela. The Newsroom traz uma representação que está ligada à maneira de como os profissionais se veem ou gostariam de ser dentro do próprio grupo de jornais. A mídia influencia a recepção da forma como se vê a profissão de jornalista e, portanto, The Newsroom está mais próxima da forma como o jornalista quer ser. Will McAvoy Irônico X Altruísta X X Egocêntrico X X Experiente X Maduro Audacioso 28 Robin Scherbatsky Jornalista recém-formado. X X X 60 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALEXANDRE, Marcos. O papel da mídia na difusão das representações sociais. Disponível em SINAPRO RJ,2001. Espaço do professor. http://bit.ly/1nmjU4f Acesso em 13 de março de 2014. ARAUJO, Cicero. Representação, retrato e drama. Disponível em SCIELO. http://bit.ly/1l56NRu Acesso em 12 de maio de 2014. ARRUDA, Angela. Teoria das representações sociais e teorias de gênero. Rio de Janeiro – RJ, 2002. Disponível em http://bit.ly/1DwWT3w Acesso em 14 de agosto de 2014. BACCEGA, Maria aparecida. O estereótipo e as diversidades, Disponível em http://bit.ly/UGbdYi acesso em 12 de junho de 2014. BHABHA, Homi. O local da Cultura. Editora UFMG, Belo Horizonte – BH, 1998. Disponível em http://bit.ly/1tiSte7 Acesso em 23 de outubro de 2014. BALOGH, Anna Maria. Sobre o conceito de ficção na TV. Salvador – BA, 2002. INTERCOM 2002. Disponível em http://bit.ly/1rAsOJH Acesso em 05 de agosto de 2014. BRANDÃO, Helena H. Nagamine. Introdução a análise do discurso - 2* ed. rev. – Campinas – SP, Editora da UNICAMP, 2004. BONINI, Adair. Ensino de gêneros textuais: a questão das escolhas teóricas e metodológicas. Disponível em Revista IEL UNICAMP. http://bit.ly/1oxzVnw Acesso em 17 de março de 2014. CARVALHO, José. O gênero tira de humor e os recursos enunciativos que geram o efeito risível. Disponível em http://bit.ly/1l95JRp. Acesso em 12 de fevereiro de 2014. COSTA, Caio Túlio. Jornalismo como representação da representação: implicações éticas no campo da produção da informação. São Paulo – SP, 2009. Disponível em http://bit.ly/1tNOXuZ Acesso em 14 de agosto de 2014. ECO, Umberto. Seis passeios pelos bosques da ficção. Trad. Hildegard Feist. São Paulo – SP, Companhia das Letras, 2004. FERREIRA, Mateus Rodrigues. História em mil suportes: análise da narrativa transmídia em Fringe e How I Met Your Mother. Disponível em UNB artigos http://bit.ly/1mprD0h. Acesso em 12 de fevereiro de 2014. GARCIA, Flávio. A banalização do insólito: questões de gêneros literários. Rio de Janeiro - RJ, Editora Dialogarts, 2007. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo - SP, Editora Atlas, 2006. 61 GRAMISCELLI, Helena M. Magalhães. Aprendendo com humor: o gênero humor e o subgênero humor negro. Minas Gerais – MG – anais do CELSUL, 2008. Disponível em http://bit.ly/1tDp6Vb Acesso em 06 de agosto de 2014. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. São Paulo - SP, Editora DP&A Editora, 2003. HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro RJ, Editora Objetiva, 2009. JODELET, Denise. Representações sociais: um domínio em expansão. Disponível em PORTAL DA ESTÁCIO http://bit.ly/1iinaIx Acesso em 21 de abril de 2014. KELLNER, Douglas. A cultura da mídia – estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-moderno. Bauru - SP, Editora EDUSC, 2001. LAGO, Cláudia. BENETTI, Marcia. Metodologia de pesquisa em jornalismo. Petrópolis - RJ, Editora Vozes, 2008. LEMOS, Claudia. Jornalismo e ficção. Disponível em PERÍODICOS UFMG http://bit.ly/1jSTaZd Acesso em 28 de março de 2014. LOBATO, Euvira. Instinto de repórter. São Paulo - SP, Editora Publifolha, 2005. MARQUES, Cheila Sofia Tomás. O cidadão jornalista: realidade ou ficção? Lisboa - Portugal, 2008. Disponível em http://bit.ly/1zKl9m3 Acesso em 17 de agosto de 2014. MARCONDES FILHO, Ciro. A saga dos cães perdidos. 2ª edição, São Paulo – SP, Hacker Editores, 2002. MEDINA, Jorge Lellis Bomfim. Gêneros jornalísticos: repensando a questão. Espirito Santo – ES, 2001. Disponível em http://bit.ly/1tNzn2n Acesso em 06 de agosto de 2001. MAURER E SILVA. Lane, Tatiana. Psicologia social. São Paulo – SP, Edotira Brasiliense, 2004. MOSCOVICI, Serge. Representações sociais – investigação em psicologia social. Petrópolis - RJ: Editora Vozes, 2012. NOLL, Gisele. Séries, séries cômicas e sitcoms: debatendo gêneros e formatos na televisão brasileira. Porto Alegre – RS, 2013. Portal INTERCOM. Disponível em http://bit.ly/1wLOL0p Acesso em 06 de agosto de 2014. PALLOTTINI, Renata. Minissérie ou telenovela. São Paulo – SP, 1996. Disponível em http://bit.ly/10FKyxV Acesso em 05 de agosto de 2014. 62 PALLOTTINI, Renata. Dramaturgia de televisão. São Paulo-SP, Cia das Letras, 1998. PINTO, Milton José. Comunicação e discurso: introdução à análise de discursos. 2. ed. São Paulo – SP, Editora Hacker, 2002. PROENÇA FILHO, Domício. A linguagem literária. 8ª edição,São Paulo – SP, Editora Ática, 2007. RAMOS, Paulo. Faces do Humor – uma aproximação entre piadas e tiras. Editora Zarabatana Books, Campinas – SP, 2011. ROSE, Diana. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som – Um manual prático. Parte 2, capítulo 14. Petrópolis – RJ, Editora vozes – 2ª edição, 2002. SANTOS, Luciene. Os seriados brasileiros: Tentativas de apontar o lugar do gênero na produção televisual. Belo Horizonte - MG, 2003. INTERCOM 2003. Disponível em http://bit.ly/102PnQM Acesso em 05 de agosto de 2014. SCORALICK, Kelly. A representação das minorias marginalizadas no telejornalismo. Juiz de Fora – MG, 2009. Disponível em http://bit.ly/1u8172v Acesso em 06 de agosto de 2014. SÊGA, Rafael Augustus. O conceito de representação social nas obras de Denise Jodelet e Serge Moscovici. Porto Alegre – RS, 2000. Disponível em http://bit.ly/13dmseW Acesso em 06 de agosto de 2014. SENRA; Stella. O último jornalista – imagens de cinema, São Paulo – SP, Editora Estação Liberdade, 1997. TELES, Maria Tereza M. A força dos estereótipos na construção da imagem profissional dos bibliotecários. Disponível em http://bit.ly/TcbLDI Acesso em 15 de junho de 2014. TESCHE, Adayr M. Conhecimento e incompletude na ficção seriada. Salvador – BA, 2002. INTERCOM 2002. Disponível em http://bit.ly/1p25vya Acesso em 05 de agosto de 2014. _______, Adayr M. Gênero e Regime Escópico na Ficção Seriada Televisual. Rio Grande do Sul - RS, 2005. INTERCOM 2005. Disponível em http://bit.ly/1xEqc21 Acesso em 05 de agosto de 2014. TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo- volume II – A tribo jornalística – uma comunidade interpretativa transnacional. Florianópolis – SC, Editora Insular, 2005. TRAVANCAS, Isabel S. O mundo dos jornalistas. São Paulo - SP, Editora Summos, 1992. 63 ____________, Isabel S. Jornalista como personagem de cinema. Disponível em INTERCOM http://bit.ly/1ppNq8P Acesso em 13 de março de 2014. VALIM, Alexandre. Cultura e mídia em um estudo multidimensional. Disponível em http://bit.ly/1jOxr3h Acesso em 21 de maio de 2014. ______, Alexandre Busko. Cultura e mídia em um estudo multidimensional. Niterói, RJ, 2002. Disponível em http://bit.ly/1wdc8hP Acesso em 12 de setembro de 2014. VIZEU, Alfredo. Jornalismo e representações sociais: perspectivas teóricas e metodológicas. Revista INTEXTO. Disponível em http://bit.ly/1k7CpDG Acesso em 06 de março de 2014. 64 9. ANEXOS Cd com os episódios analisados.