O Céu, O Inferno e o Purgatório
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O Céu, O Inferno e o Purgatório
| GRATUITA | Ano VII - Edição 37 - maio/junho 2015 O Céu, O Inferno e o Purgatório Leia nesta edição: Espíritos Medianos Espíritos Sofredores EXPEDIENTE Edição Bimestral. Tiragem de 600 exemplares distribuídos gratuitamente. Presidente: Dalmir Ferreira dos Santos Rua Nelson Monteiro, 131 IBES, Vila Velha - ES. Telefax: 27 3339 - 3596 Vinculado ao Departamento de Divulgação da CEC. 2 Dirigente do Departamento de Divulgação: Humberto Borges da Costa Editor: Igor Mendonça Franzotti Conselho editorial e doutrinário: Carlos C. Ferreira, Egeu Antônio Bisi, Ismael F. dos Santos, Marco Antônio Chacur, Nivaldo Dalvi Fé em Cristo . janeiro/fevereiro 2013 Pesquisa, redação e edição de textos: Giselda Rodrigues, Marcela de Faro Revisão gramatical: Islene Servare dos Santos Jornalista responsável: Gisele Servare - MTB 657/96 Produção, distribuição e logística: Hugo dos Santos Mansur Diagramação: LifeBrand Contato: [email protected] Os artigos aqui publicados são de responsabilidade, única e exclusivamente, de seus autores. EDITORIAL O destino do homem Todas as doutrinas cristãs são espiritualistas, mas quando se trata de entender o destino do Espírito, após a morte do corpo físico, as orientações são divergentes. Desde a antiguidade ensinava-se sobre a existência de três céus, sendo o último deles a morada de Deus e habitação dos bem-aventurados que vivem em eterna contemplação. Àqueles que não eram bem-aventurados o destino era outro local nominado “Inferno”, destinado ao sofrimento das almas culpadas, e os teólogos medievais interpretaram que se tratava de uma região situada no interior da Terra onde as almas condenadas ardiam em chamas eternas, sem jamais se consumir, em imperdoável sofrimento. Posteriormente, para justificar a situação das almas arrependidas e “na graça de Deus”, por se submeterem aos sacramentos religiosos, e que não eram suficientemente puras para se elevarem ao terceiro Céu, inventou-se o “purgatório”. Porém, com o advento da Doutrina Espírita, os habitantes do mundo espiritual esclareceram que o “Céu” é uma conquista interior. Por sua vez, o “inferno” na concepção Espírita é compreendido como um sofrimento moral e da mesma forma que o Céu, o inferno é um estado de consciência e não um local geográfico. O “purgatório”, para o Espírita, assemelha-se ao período de expiação de nossas faltas como encarnados na Terra, com a presença das dores físicas e morais, que já se caracterizaria como um verdadeiro purgatório ou purificação. Assim, se já conhecemos a orientação Espírita, atentemos para a máxima: “A cada um segundo as suas obras”. Por Ismael F. Santos SUMÁRIO Espíritos Medianos Egeu Bisi Espíritos Sofredores Antenor Costa Filho O Céu, O Inferno e o Purgatório Nivaldo José Dalvi Céu e Inferno Emmanuel Fatos Espíritas Homem de Pouca Fé Vozes do Espírito Santo Nero Abranches Por Egeu Bisi Espíritos Medianos Trata-se de uma classe de espíritos existentes na erraticidade (estado dos espíritos errantes ou erráticos, isto é, não encarnados, que vivem durante o intervalo de suas existências corpóreas - cf. O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo 6 – Da Vida Espírita – Espíritos Errantes), catalogados por Kardec, cujo rol se encontra na segunda parte do livro O Céu e o Inferno. Os Espíritos em condições medianas ou Espíritos Medianos são Espíritos que não alcançaram, ainda, a plenitude da felicidade, mas que, nem por isso, estão em situação de inquietude absoluta. Deus ao criar os seres, os fez simples e ignorantes, dando condição de igualdade para todos dentro do processo evolutivo, mas, essa marcha constante em direção ao amadurecimento espiritual é recheada de percalços de difícil superação, impondo a cada um o seu ritmo próprio. Uns alcançam esse progresso, digamos assim, em sentido verticalizado, outros, porém, mais na horizontalidade, daí porque uns chegam mais cedo e outros depois. Mas, todos chegarão! Apesar de impressas na consciência de todos os indivíduos as Leis Divinas como forma de orientação e superação em busca da ascensão espiritual de cada um, ainda assim, dadas suas fraquezas, viciações e mesmo transgressão de tais Leis, por ignorá-las, não conseguem favorecer o seu afloramento em si e propiciar condição de melhor caminhar, com mais liberdade, a fim de se projetar para a verdadeira felicidade. Quando se faz referência às Leis Divinas, deve ser entendido que essas jamais serão burladas ou ocultadas pelos homens, por fazerem parte do Código Divino, portando imutáveis. No entanto, o que parece ser em muitos casos a não infringência de leis humanas, em grande maioria essa permissividade se constitui 4 Fé em Cristo . maio/junho 2015 em transgressão das Leis Divinas ou Naturais, com consequências danosas e de difícil reparação. No caso em apreço, Espíritos Medianos, esses, apesar de não abrigarem em si a prática ostensiva do mal propriamente dito, mesmo assim trazem, ainda, a necessidade de maior aprimoramento, aperfeiçoamento através de experiências e aprendizados no processo reencarnatório. É como nos diz J. Herculano Pires no livro Educação Para a Morte: "o espírito avança de reencarnação em reencarnação em busca da sabedoria". Para tanto, vemos, também, em O Livro dos Espíritos, na questão nº642, em contribuição a isso: “Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não pratique o mal?”. Respondem os Espíritos: “Não; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, porquanto responderá por todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem.” Para ilustrar esses ensinos, faz-se destaque de alguns relatos de Espíritos Medianos evocados por Kardec, quando das reuniões de experimentação e codificação da doutrina, encontrados no livro O Céu e O Inferno, segunda parte, dos quais extraímos fragmentos de suas mensagens para efeito de reflexão e estudo do leitor, recomendando-se sempre o exame mais apurado da matéria “sub examine”. Joseph Bré “[...] Aí entre vós, é reputado honesto aquele que respeita as leis do seu país, respeito arbitrário para muitos. Honesto é aquele que não prejudica o próximo ostensivamente, embora lhe arranque muitas vezes a felicidade e a honra, visto o código penal e a opinião pública não atingirem o culpado hipócrita. [...] Não basta, para ser honesto perante Deus, ter respeitado as leis dos homens; é preciso antes de tudo não haver transgredido as leis divinas. Honesto aos olhos de Deus será aquele que, possuído de abnegação e amor, consagre a existência ao bem, ao progresso dos semelhantes; aquele que, animado de um zelo sem limites, for ativo no cumprimento dos deveres materiais, ensinando e exemplificando aos outros o amor ao trabalho; ativo nas boas ações sem esquecer a condição do servo ao qual o Senhor pedirá contas um dia do emprego do seu tempo; ativo finalmente na prática do amor de Deus e do próximo. Assim, o homem honesto, perante Deus, deve evitar cuidadosamente as palavras mordazes, veneno escondido nas flores, que destrói reputações e acabrunha o homem, muitas vezes cobrindo-o de ridículo. O homem honesto, segundo Deus, deve ter sempre cerrado o coração a quaisquer germes de orgulho, de inveja, de ambição; deve ser paciente e benévolo para com aqueles que o agredirem; deve perdoar do fundo d'alma, sem esforços e, sobretudo, sem ostentação, a quem quer que o ofenda; deve, enfim, praticar o preceito conciso e grandioso que se resume ‘no amor de Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo’. Eis aí mais ou menos, querida filha, o que deve ser o homem honesto perante Deus [...]”. (grifos nossos) Senhora Helena Michel "Obrigada por haverdes orado por mim. Reconheço a bondade de Deus, que me subtraiu aos sofrimentos e apreensões consequentes ao desligamento do meu Espírito. A minha pobre mãe será dificílimo resignar-se; entretanto será confortada e o que a seus olhos constitui sensível desgraça, era fatal e indispensável para que as coisas do Céu se lhe tornassem no que de- vem ser: tudo. [...]. Não sou infeliz, porém muito tenho ainda que fazer para aproximar-me da situação dos bem-aventurados. Pedirei a Deus me conceda voltar a essa Terra para reparação do tempo que aí perdi nesta última existência." "A fé vos ampare, meus amigos; confiai na eficácia da prece, mormente quando partida do coração. Deus é bom [...]”. Eric Stanísias "[...] Ouvi, eu estava longe de ser feliz; abismado na imensidade, no infinito, os meus padecimentos eram tanto mais intensos, quanto difícil me era os compreendê-los. Bendito seja Deus, que me permitiu vir a um santuário, que não pode ser franqueado impunemente pelos maus. Amigos, quanto vos agradeço, quanto de forças entre vós recobrei! Oh! Homens de bem, reuni-vos constantemente; estudai, uma vez que não podeis duvidar dos frutos das reuniões sérias; os Espíritos que têm muito ainda a aprender, os que ficam voluntariamente inativos, preguiçosos e esquecidos dos seus deveres, podem encontrar-se, em virtude de circunstâncias fortuitas ou não, aí entre vós; e então, fortemente tocados, quantas vezes lhes é dado, reconhecendo-se, entreverem o fim, o objetivo cobiçado, ao mesmo tempo que procurarem, fortes pelo exemplo que lhes dais, os meios de fugir ao penoso estado que os avassala. [...]” Destarte, em arremate ao que vem de ser dito, ficamos, também, com O Evangelho Segundo Espiritismo quando fala no Homem de Bem “O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e de caridade em sua maior pureza. [...]”. Fé em Cristo . maio/junho 2015 5 Por Antenor Costa Filho Espíritos Sofredores Para iniciar o Capítulo IV da Segunda Parte do livro O Céu e o Inferno, cujo subtítulo é A Justiça Divina Segundo o Espiritismo, Kardec escolheu uma mensagem obtida pela Sociedade Espírita de Paris, em outubro de 1860, ditada por um espírito sofredor que se identificou como Jorge. Essa manifestação mereceu do Codificador o seguinte, e oportuno, comentário: Nunca se traçou quadro mais horrível e verdadeiro à sorte do mau: será ainda necessária a fantasmagoria das chamas e das torturas físicas?. É que o espírito Jorge, escreveu: Depois da morte, os Espíritos endurecidos, egoístas e maus são logo tomados de uma dúvida cruel a respeito do seu destino, no presente e no futuro. Olham em torno de si e nada veem que possam aproveitar ao exercício da sua maldade – o que o desespera, visto que o insulamento e a inércia são intoleráveis aos maus Espíritos. Digna de nota, a quantidade de informações úteis e importantes contidas neste primeiro parágrafo, ditado pelo I. Jorge. Em primeiro lugar nos lembra do estado de entorpecimento e de confusão que nos assalta - e com mais intensidade, àqueles que não se acham preparados - quando voltamos ao Plano Espiritual. Logo em seguida, Jorge atrela os maus aos egoístas. Maldade e egoísmo são dois espinhos muito comuns na Terra, que ferem e dilaceram o espírito encarnado. São redundantes e se confundem. Todo mau é egoísta e todo egoísta é mau. Esses atributos são do homem. Não são, e nem podem ser, inatos. São, antes, criados e desenvolvidos diretamente pelo próprio homem, em decorrência do seu livre-arbítrio. Outra observação importante contida neste parágrafo inicial da mensagem, é que, o espírito que procedeu mal durante a sua vida na carne, já nos primeiros mo- 6 Fé em Cristo . maio/junho 2015 mentos do seu novo estado, se surpreende vivo, cego e isolado, como se estivesse dentro de um vácuo que o inibe de qualquer iniciativa, inclusive de cometer maldades como era do seu hábito e procedimento. Outra coisa que o apavora, é a sua incapacidade de se orientar, de saber onde está e para onde vai. De fato, a observação kardequiana acima transcrita, é procedente. Jorge não poderia traçar um quadro mais terrível e honesto sobre o desespero que sufoca o homem mau ao se encontrar, de repente, dentro de uma bolha, isolado de tudo e de todos. Imagine-se um homem que, durante décadas, só conseguiu enxergar seus próprios interesses; que ao longo de sua última encarnação, se acostumou a gritar, xingar e esbravejar com tudo e com todos para conseguir impor sua vontade e alcançar objetivos pouco recomendáveis; de repente, sem que consiga atinar a causa, se vê cego, surdo, mudo e desorientado num ambiente desconhecido e sem ninguém a quem atribuir culpa pelo seu estado de perplexidade. Como ele ainda não está preparado para reconhecer a sua própria culpa, é esse o sofrimento mais cruel que o acomete. Um sofrimento muito maior que o sofrimento da carne. Na Questão 255 do LE, Kardec pergunta: - Quando um espírito diz que sofre, de que natureza é seu sofrimento? Resposta: – Angústias morais, que o torturam mais dolorosamente que os sofrimentos físicos. O Espírito São Luiz definiu a expressão treva, muito mencionada pelos Profetas, e por Jesus, quando ensinou: "Determinados Espíritos estão imersos em trevas, mas deve-se depreender daí uma verdadeira noite da alma, comparável à obscuridade intelectual do idiota. (...) É, principalmente, a punição dos que duvidaram do seu destino. (...) Esta momentânea redução da alma a um nada fictício e consciente de sua existência, é sentimento mais cruel do que se pode imaginar, em razão da aparência de repouso que a acomete: — é esse repouso forçado, essa nulidade de ser, essa incerteza que lhe fazem o suplício. O aborrecimento que a invade é o mais terrível dos castigos, visto que coisa alguma percebe em torno – tudo isso é, para ela, a verdadeira treva." Portanto, o verdadeiro inferno não se mostra como uma fornalha ardente, como somos de ordinário levados a acreditar, que queima, martiriza e castiga sem consumir, por toda a eternidade. O sofrimento do espírito despojado da carne, não é material. Sem corpo físico, não há como sofrer na carne. O verdadeiro inferno, mesmo não sendo eterno, embora o pareça enquanto dura, se mostra nessas trevas que podem ser sentidas e vistas, mesmo diante da luz material, mas que atormentam mil vezes mais o espírito sofredor. Mas, tem fim! Outro espírito, que denominou o seu depoimento de Exprobrações de um Boêmio - este já a caminho da redenção - ao descrever o seu sofrimento registrou: As paixões humanas vos despem antes mesmo de vos deixarem, de modo a chegardes nus, completamente nus, ante o Senhor. Ah! Cobri-vos de boas obras que vos ajudem a franquear o Espaço entre vós e a eternidade. Manto brilhante, elas escondem as vossas torpezas humanas. Envolvei-vos na caridade e no amor — vestes divinas que duram eternamente. Outro, ainda, que se inscreveu sob o nome de Lisbeth, perguntado se o arrependimento lhe propiciaria alívio, respondeu: "Não. O arrependimento é inútil quando apenas produzido pelo sofrimento. O arrependimento profícuo tem por base a mágoa de haver ofendido a Deus e importa no desejo ardente de uma reparação. Ainda não posso tanto, infelizmente." Portanto, não podemos nos apresentar completamente nus diante do Senhor. As nossas boas obras, ou seja, a caridade, o amor e a fraternidade é que te- cem o manto capaz de ocultar as nossas vergonhas. Mas, nem por isso, possuem o condão de apagar as ações ou omissões com as quais, intencionalmente ou não, ofendemos a Deus, transgredindo as suas Leis. Essas faltas, precisaremos reconhecer e delas nos arrepender sem hipocrisia, que é a máscara do egoísmo, que é o pior dos vícios que atormentam os homens. Questão 913 do LE: "- Entre os vícios, qual o que podemos considerar radical? – Já dissemos muitas vezes: o egoísmo. Dele se deriva todo o mal. Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos existe o egoísmo. (...) Quem nesta vida quiser se aproximar da perfeição moral deve extirpar do seu coração todo o sentimento de egoísmo, porque o egoísmo é incompatível com a justiça, o amor e a caridade: ele neutraliza todas as outras qualidades." Resposta à última pergunta inserida no LE: "- O Bem reinará na Terra quando entre os Espíritos que a vêm habitar, os bons superarem os maus. Mas, os maus só a deixarão quando o homem tiver banido daqui o orgulho e o egoísmo. CONSELHOS DE EMMANUEL A entidade desencarnada muito sofre com o juízo ingrato ou precipitado que, a seu respeito, se formula no mundo. Imaginai-vos recebendo o julgamento de um irmão de humanidade e avaliai como desejaríeis a lembrança daquilo que possuís de bom, a fim de que o mal não prevaleça em vossa estrada, sufocando-vos as melhores esperanças de regeneração. Em lembrando aquele que vos precedeu no túmulo, tende compaixão dos que erraram e sede fraternos. Rememorar o bem é dar vida à felicidade. Esquecer o erro é exterminar o mal. Além de tudo, não devemos esquecer de que seremos julgados pela mesma medida com que julgarmos. Médium F. C. Xavier Fé em Cristo . maio/junho 2015 7 CAPA por Nivaldo José Dalvi O Céu, O Inferno e o Purgatório A conceituação religiosa tradicional do Ocidente situa o céu acima de nossas cabeças. Ele é subdividido em vários círculos concêntricos. Cada um deles mais próximo de Deus, à medida em que se distancia da Terra. Naturalmente, esse entendimento derivava da noção de que o nosso planeta era o centro do Universo. Ainda nessa linha de raciocínio, Deus estaria muitíssimo distante dos seus filhos terrestres, sendo nós a única criação inteligente em todo o Universo. Atualmente, com as conquistas cada vez mais instigantes das pesquisas científicas no campo da Astronomia, adquirimos um entendimento bem mais amplo e melhor elaborado do que as ideias acima preconizavam. O nosso pequeno planeta Terra não é o centro do Universo. Estamos atrelados a um sol que nos mantém a vida biológica, sendo esta estrela aproximadamente um milhão de vezes maior que nossa residência planetária. Considerando esta proporção, a Terra surge como um pequeno ponto em relação ao nosso Astro-rei. E somos informados também de que há sistemas de estrelas cuja grandeza espiritual e material são tão singulares, que nossa aparente importância fica constrangedoramente reduzida perante elas. Arcturus, 17 vezes maior que o nosso Sol; Antares, na constelação do escorpião, 700 vezes maior que o Sol, com brilho dez mil vezes mais intenso. Nesse comparativo, o nosso Sol não é mais do que um pontinho insignificante! E a Terra fica literalmente invisível! Passando a palavra para Allan Kardec, no livro O Céu e o Inferno: E, assim sendo, é lícito perguntar por que 8 Fé em Cristo . maio/junho 2015 Deus faria da Terra a única sede da vida e nela degredaria as suas criaturas prediletas? Mas, ao contrário, tudo anuncia a vida por toda parte e a Humanidade é infinita como o Universo. Portanto, aquela definição tradicional sobre o céu tornou-se obsoleta e inaplicável, e a ilimitada região estelar não pode mais lhe servir, ficando a pergunta que emudece as religiões: onde está o céu? Para nos aclarar o entendimento e prover explicações sensatas, a Doutrina Espírita revela a existência do mundo espiritual – uma das forças vivas da Natureza -, que preexiste ao mundo material, e que sobrevive a este último. Os encarnados - na Terra ou em outros mundos -, são submetidos às leis físicas que os constrangem a permanecerem nesses locais. Os desencarnados, pela natureza fluídica do seu envoltório, podem se deslocar livremente pelo mundo espiritual, pela rapidez do pensamento, de acordo com a sua condição de adiantamento intelecto-moral já conquistada. Pelo progresso alcançado, os Espíritos adquirem novos conhecimentos, novas faculdades, novas percepções e, conseguintemente, novos gozos desconhecidos dos Espíritos inferiores. Assim, a felicidade fica condicionada a este processo evolutivo, e dois Espíritos podem estar num mesmo lugar, e um deles ser feliz e o outro não. Novamente o Codificador nos esclarece, afirmando: “Sendo a felicidade dos Espíritos inerente às suas qualidades, haurem-na eles em toda parte em que se encontram, seja à superfície da Terra, no meio dos encarnados, ou no Espaço.” Então, verifica-se que o Céu está em toda a parte, assim como Deus. Não há limitação para esta condi- CAPA ção espiritual, e todos os Espíritos estamos a caminho destas conquistas. Os que já as alcançaram o fizeram pelo esforço individual e pelo trabalho direcionado ao Bem, pois a Justiça Divina, conforme a afirmativa do Cristo, “dá a cada um segundo as suas obras.” Utilizando o mesmo tipo de raciocínio, entenderemos também que as noções de inferno, que as religiões apregoam, merecem, da mesma forma, novas considerações. Após as conquistas alcançadas pela evolução da Ciência, sabemos atualmente que o interior da Terra não abriga o Inferno, como se imagina popularmente. Há uma intuição geral que nos informa que seremos felizes ou infelizes de acordo com o bem ou o mal praticado neste mundo. Basta que observemos as nossas reações quando deparados com crimes cometidos. Ficamos indignados, e as noções de Justiça afloram com muita ênfase. Entretanto, nesse processo de aprendizado espiritual e moral em que nos situamos, muitas vezes nos questionamos como afeiçoar a nossa conduta ao bem, repelindo o mal de nossos caminhos, se muitas vezes não sabemos exatamente o que é um e o que é o outro. Numa das obras de André Luiz, intitulada “Ação e Reação”, nós encontramos uma afirmativa que elimina essa dúvida em nossas mentes. “O bem será, desse modo, nossa decidida cooperação com a Lei, a favor de todos, ainda mesmo que isso nos custe a renunciação mais completa, visto não ignorarmos que, auxiliando a Lei do Senhor e agindo de conformidade com ela, seremos por ela ajudados e sustentados no campo dos valores imperecíveis. E o mal será sempre representado por aquela triste vocação do bem unicamente para nós mesmos, a expressar-se no egoísmo e na vaidade, na insensatez e no orgulho que nos assi- nalam a permanência nas linhas inferiores do espírito.” (Ministro Sânzio, cap.7) Desta maneira, verificamos que, de ordinário, estamos atuando em desacordo com as diretrizes divinas, guiados pelo egoísmo e pela vaidade, insensatez e orgulho, mantendo nossa condição espiritual nas linhas inferiores da evolução espiritual. Inúmeras vezes nos observamos agindo em proveito próprio, acreditando mesmo que não fazemos nada de mal. Afinal, pensamos, “todos agiriam da mesma forma que eu, nessa circunstância”. Será isso mesmo? Ao imaginar a sequência de nossa vida, após a desencarnação, uma questão fundamental e instigante se apresenta enquanto estamos encarnados: Para onde eu irei? Assim nos inquietamos, porque não atingimos ainda o discernimento espiritual necessário para encontrar as respostas específicas aplicáveis ao nosso caso particular. Certamente, conforme nos esclarece o Espiritismo, reafirmando as diretrizes do Evangelho de Nosso Senhor Jesus-Cristo, colheremos no Além os resultados intransferíveis de tudo o que fizermos no plano físico. Acontece que não sabemos aquilatar acuradamente o teor espiritual de nossos atos, pensamentos e sentimentos cotidianos. Não tendo o hábito do autoestudo; não permanecendo atentos aos nossos modos pessoais de ser; não nos questionando continuamente sobre os motivos pelos quais agimos de certa maneira e não de outra, não temos uma noção mais exata daquilo que realmente somos em nosso íntimo. Ficamos, dessa forma, prisioneiros de nossa imaginação, contrangidos pelo orgulho, mascarando as nossas atitudes infelizes com um verniz de boas intenções. E então vamos levando a vida sem maiores sobressaltos, aguardando com certa tranquilidade a Fé em Cristo . maio/junho 2015 9 CAPA transição da morte, a cessação da vida orgânica do nosso corpo físico. Afinal, somos espíritas! Temos convivido com os nossos Amigos Espirituais por longo tempo. Conjecturamos que, de uma forma ou de outra, estamos próximos deles. E é certo e lógico, assim pensamos, que depois da desencarnação, continuaremos junto deles! Ai, ai... Nas oportunidades que temos tido, nas atividades de intercâmbio com o Além, “nessa longa estrada da vida”, notamos a frustração de muitos espíritas, em suas comunicações mediúnicas após a morte. Onde os amigos espirituais? Onde as regiões de Paz e de Luz, que acalentávamos enquanto encarnados? Fazendo uma comparação com as outras crenças, poderíamos repetir aquela questão clássica: “Cadê o Céu?”. Ou, se estivermos em locais espirituais menos dignos, exclamaríamos: “Isso é o Inferno ou é o Purgatório?” Vindo em nosso socorro, colaborando para a manutenção do nosso equilíbrio emocional, comparecem mais uma vez os Espíritos Superiores. Que repetem, sempre que seja necessário, as lições do Evangelho do Cristo, clareadas pela luz da Verdade que a Doutrina Espírita prodigaliza ao mundo. Eles nos dizem: “Cada um de nós, os Espíritos endividados, em renascendo na carne, transporta consigo para o ambiente dos homens uma réstia do céu que sonha conquistar e um vasto manto do inferno que plasmou para si mesmo. Quando não temos força suficiente para seguir ao encontro do céu que nos confere oportunidades de ascenção até ele, retornamos ao inferno que nos fascina à retaguarda...” (Ação e Reação – André Luiz, cap. 2) 10 Fé em Cristo . maio/junho 2015 Atingimos a miserabilidade em que nos encontramos, porque temos acumulados muitos débitos escabrosos em nosso caminho multimilenar. Onde haja o espinheiro do sofrimento, normalmente há as razões da culpa. Em se tratando de inferno, assim nos situam o entendimento: “Aqui, é fácil reconhecer que cada coração edifica o inferno em que se aprisiona, de acordo com as próprias obras. Assim, temos conosco os diabos que desejamos, segundo o figurino escolhido ou modelado por nós mesmos. (idem, cap.4) Informam-nos ainda que, as “nossas criações mentais preponderam fatalmente em nossa vida. Libertam-nos quando se enraízam no bem que sintetiza as Leis Divinas, e encarceram-nos quando se firmam no mal, que nos expressa a delinquência responsável, enleando-nos por essa razão ao visco sutil da culpa.." (idem, cap.5) Mesmo assim, ainda que a criatura tenha criado esse aprisionamento de culpabilidade pelas escolhas conscientes na direção do mal, ainda aí há oportunidades preciosas de trabalho e de regeneração. Tanto pelo esforço em vencer as aflições purgatórias que estabelecemos em nós mesmos, como também preparando novos caminhos para o céu interior que devemos edificar. Percebemos, então, que com o Espiritismo os conceitos de Céu, Inferno e Purgatório adquirem essa abrangência ampla, por estabelecer e comprovar que esses estados de espírito estão no íntimo de cada criatura. Nenhum de nós está condenado sem remissão ao Inferno; como também não temos a passagem direta ao Paraíso; e não há o local de purgação, intermediário entre esses dois pontos definitivos. Tudo CAPA é movimento moral, tudo é transição entre estados espirituais mais doloridos e outros mais calmos. Não são lugares físicos, são condições espirituais que podem ser alteradas pelo esforço consciente e persistente, conduzindo à libertação da dor da culpa e alcançando a felicidade do trabalho em favor do próximo. E mesmo que não tenhamos forças próprias suficientes para superar por nós mesmos esses desafios de crescimento espiritual, temos aí a oportunidade do exercício da humildade em reconhecer nossas fraquezas, e solicitar o auxílio divino para que a superação seja realizada em nosso íntimo. MORADAS Pelo Espírito Marta “Contemplai, pois, à noite, à hora do repouso e da prece, a abóboda azulada e, das inúmeras esferas que brilham sobre as vossas cabeças, indagai de vós mesmos quais as que conduzem a Deus e pedi-lhe que um mundo regenerador vos abra seu seio, após a expiação na Terra.” (E.S.E – Cap. III, item 18) Em verdade, as palavras do Mestre: “-Na Casa de Meu Pai há muitas moradas”, conduz-nos a raciocínios lógicos dentro da conceituação de vivência cristã. Nem sempre moramos onde residimos. Quantos habitam mansões luxuosas tendo por companheiras a incompreensão dos familiares e a ingratidão dos serviçais. Entretanto, muitos se abrigam em palhoças humildes, mas vivem tranquilos em meio à escassez de recursos materiais, porque os laços afetivos que os irmanam se sobrepõem às contingências que os cercam. Analisando a questão, consideremos que, de nós mesmos, no presente, dependerá nossa morada futura. Isto dar-se-á através do esforço constante no BEM, paciência acendrada ante às situações do dia a dia, da perseverança no labor cristão. Já nos afirmava emérito educador: “Um pedaço de pão seco com alegria vale mais que um palácio cheio de riqueza com dissensões”. Empenhemo-nos, sim, na aquisição da morada terrena; entretanto, preocupemo-nos, seriamente, com a morada espiritual, onde, de fato, residiremos um dia. (Livro Jornada de Amor – Edições CORDIS – 1982 – Lição 16 – Psicografia de Maria de Lourdes Cordeiro Silva-Lulu, em reunião pública da Casa Espírita Cristã). Fé em Cristo . maio/junho 2015 11 COM A PALAVRA Pelo espírito Emmanuel Céu e Inferno Em matéria de prêmio e castigo, a se definirem por céu e inferno, suponhamo-nos à frente de um pai amoroso, mas justo, dividindo a sua propriedade entre os filhos, aos quais se associa, abnegado, para que todos eles prestigiem e cresçam, de maneira a lhe desfrutarem os bens totais. O genitor compassivo e reto concede aos filhos, em regime de gratuidade, todos os recursos da fazenda Divina: a vestimenta do corpo; a energia vital; a terra fecunda; o ar nutriente; a defesa do monte; o refúgio do vale; as águas circulantes; as fontes suspensas; a submissão dos vários reinos da natureza; a organização da família; os fundamentos do lar; a proteção das leis; os tesouros da escola; a luz do raciocínio; as riquezas do sentimento; os prodígios da afeição; os valores da experiência; a possibilidade de servir... Os filhos recebem tudo isso, mecanicamente, sem que se lhes reclame esforço algum, e o pai apenas lhes pede para que se aprimorem, pelo dever nobremente cumprido, e se consagrem ao bem de todos, através do trabalho que lhes valorizará o tempo e a vida. Nessa imagem, simples embora, encontramos alguma notícia da magnanimidade do Criador para nós outros, as criaturas. Fácil, assim, perceber que, com tantos favores, concessões e doações, facilidades e vantagens, entremeados de bênçãos, suprimentos, auxílios, empréstimos e moratórias, o céu começará sempre em nós mesmos e o inferno tem o tamanho da rebeldia de cada um. Do livro "Fonte Viva", lição 61, pelo Espírito Emmanuel, Francisco Cândido Xavier 12 Fé em Cristo . maio/junho 2015 FATOS ESPÍRITAS Homem de Pouca Fé Ao acordar hoje cedo, percebi que não deveria mais preocupar-me com um grande problema financeiro que há três semanas não me deixa dormir direito. Por motivos alheios à minha vontade, tive que contrair uma dívida muito grande para manter minha casa própria e o Governo Federal tem sido implacável na cobrança dos juros muito altos e da correção monetária. Na segunda-feira da semana passada, eu estava agoniado, sem saber onde conseguir a vultosa quantia necessária para o acerto com o BNH. Os dias passavam e, volta e meia, o assunto assolava-me a mente, mas naquela segunda-feira eu estava por demais perturbado: - Como resolver a questão? Não tinha mais a quem recorrer... Fui para a reunião doutrinária da Casa Espírita; sentei-me no auditório e não conseguia prestar atenção em nada. Falou o primeiro orador, o segundo, veio a hora da distribuição de passes e água fluidificada, e lá estava eu absorto, sem reparar em nada. Quando saí do transe das preocupações, num repente, percebi que um dos médiuns estava terminando de ler a mensagem espiritual psicografada, e ouvi apenas a sentença final: “...e, portanto, para quem está com Deus não existem obstáculos materiais intransponíveis”. Foi como uma ducha de água fria em minhas preocupações. Acalmei-me. Terminada a reunião, voltei para casa tranquilo, convicto de que tudo haveria de dar certo. Ontem, compreendi a grande lição, pois o agente financeiro requisitou-me a presença para que houvesse um acordo, após muitas cartas ameaçadoras de perda do imóvel. Fui lá, e, por incrível que pareça, o acerto me foi favorável e compensador. Do dinheiro que havia depositado em juízo, ainda houve sobra com a qual poderei reformar a casa. Lembrei-me do Evangelho de Mateus 17.20: “se tiverdes fé como um grão de mostarda...”. Lamartine Palhano Júnior - Junho/1987 Texto extraído do livro “Diário de um espírita” – Publicações Lachâtre Editora Ltda. - Autor: Lamartine Palhano Júnior – Página 134 - NOTA: Lamartine Palhano Jr. é um dos fundadores da Casa Espírita Cristã, no IBES - Vila Velha/ES. Fé em Cristo . Fé maio/junho em Cristo2015 . maio/junho 2015 13 VOZES DO ESPÍRITO SANTO Nero Abranches Sempre citado no meio espírita capixaba, Nero Abranches nasceu em 12/05/1892, no município de Ubá, Minas Gerais. Filho de Galdino Abranches e Augusta Andrade Abranches. Era o caçula dos cinco filhos do casal: Corina, Zulmira, Nestor, Eurípedes e Nero. Ficou órfão de pai aos 12 anos, época que iniciou no ofício de alfaiate. Possuía grande interesse pela música, sendo detentor do chamado “ouvido absoluto”, visto ser capaz de reproduzir as melodias após ouvi-las uma única vez. Pela destreza na área musical passou a participar da Banda 22 de Maio, tornando-se mais tarde seu regente. Em Ubá foi professor de música no Ginásio São José. Em 1916 casou-se com Therezina Maria Pia Malinverno, com quem teve dez filhos – Clorinda (Lina), Augusta, Galdino, Renato, Roberto, Venita, Nero Filho, Ernane, Maria Thereza e Ricardo. Em 1919 mudou-se para a cidade de Muqui, no E. Santo, após breve passagem pelo Estado do Rio de Janeiro. No início de 1927 mudou-se para Cachoeiro de Itapemirim, tornando-se filho da cidade, vez que segundo dizia foi em Cachoeiro que “nasceu pela segunda vez ao conhecer o Espiritismo: Sua aproximação com a Doutrina ocorreu em 1933, quando se defrontou com grave caso de doença em um de seus e foi socorrido pelo senhor 14 Fé em Cristo . maio/junho 2015 Miguel Velasco, espírita convicto, que solicitou permissão para prestar assistência ao enfermo. Mesmo informando desconhecer completamente o Espiritismo, aquiesceu. Com o restabelecimento do menino, Seu Nero demonstrou interesse em conhecer e Miguel Velasco presenteou-o com O Livro dos Espíritos. Em 1934, já participante de grupos que se reuniam em casas, junto com outros companheiros/ companheiras fundou o Centro Espírita Jerônymo Ribeiro, onde realizava quase todas as tarefas: desde a arrumação do salão até direção de reuniões, leitura preparatória, exposições doutrinárias, passes, etc. Fundou, em 1951, a primeira mocidade espírita do E. Santo denominada de Mocidade Espírita Jerônymo Ribeiro. Dinâmico, em seu trabalho cooperou com diversas instituições, afirmando que servia à CAUSA ESPÍRITA. Sua atuação no campo de assistência social extrapolou o meio espírita e, por isso, recebeu em 1972 o título de Cidadão Cachoeirense pelos serviços prestados à comunidade. Desencarnou em 31/05/1987, na cidade de Anchieta. Muitos de seus descendentes contribuíram e continuam contribuindo com movimento espírita capixaba. Dizia não temer a morte porque “o Espiritismo matou a morte”. casaespiritacrista.com.br www.facebook.com/casaespiritacrista 16 Fé em Cristo . maio/junho 2015