15 vezes 15 A instauração da República no Brasil

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15 vezes 15 A instauração da República no Brasil
15 vezes 15
A instauração da República no Brasil segundo seus personagens
Serrote, v. 03, p. 12-32, 2009.
Angela Alonso1
“Não nos é possível neste momento ser historiador, apreciando os fatos em suas
causas próximas ou remotas e emitindo juízo sobre casos que, para justo e imparcial
julgamento, exigem a calma da reflexão. Vamos expor simplesmente os acontecimentos
de ontem, segunda as versões que nos pareceram mais aceitáveis.” (Jornal do
Comércio, Rio de Janeiro, 16/11/1889)
1. Palavra de major
De calça e paletó havana com pontos brancos, chapéu preto de feltro e óculos
azuis, o impetuoso major Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro, futuro sogro de Euclides
da Cunha, está pronto para um golpe de estado.
Passa das 3 da tarde quando toma o bonde até o Largo de São Francisco de
Paula. Na rua do Ouvidor, que cospe gente para a calçada, pergunta se alguém viu
Quintino Bocaiúva, Aristides Lobo e Lopes Trovão. Vem alertá-los: o governo os vai
prender, assim como ao general Deodoro e ao Dr. Benjamin. Segue para a rua do
Imperador e, perto da sede da 2ª. brigada, sopra a dois alferes que a polícia e a Guarda
Negra atacarão os quartéis.
O boato é fogo em pólvora. Satisfeito, torna à casa para envergar a farda, que
nessa noite de 14 terá muito uso para ela.
2. Diligências de um delegado
Não é de hoje que o conselheiro José Basson de Miranda Osório suspeita do
desgoverno das coisas. Hesitações em prevenir levam ao que não se pode remediar. Em
julho, aquele caixeiro português desempregado deu tiro e viva à Republica, ao passar o
carro do Imperador. Basson o fez prender – embora digam que o açulou, para poder
baixar sanções a desordeiros. Proibiu, por exemplo, os vivas à República e espalhou
secretas para aclamarem a monarquia, devidamente munidos de paus e navalhas. É que
Basson, a despeito dos 53 anos, baixa estatura e olhos azuis, joga capoeira e, segundo
seu colega de turma Almeida Nogueira, é “valente cacetista.”
Em desacordo, estudantes da faculdade de medicina vaiaram um ministro,
enquanto compravam laranjas. Basson houve por bem endossar seu subdelegado na
proibição à quitandeira. Os moços protestaram com passeata, levando a quitandeira, de
baiana, e legumes e frutas na bengala e no chapéu. Em vivas ... às laranjas.
De lá pra cá, tudo mal parado. Somente ontem o Visconde de Ouro Preto pediulhe providências. Hoje abundam rumores. O 1º. Regimento está em armas no respectivo
quartel. O homem que mandou para averiguar ficou lá preso. Basson então reúne 40
praças e 2 oficiais. São 11 da noite, num século que dorme cedo. Manda ainda assim
acordar ministros e o presidente da província. Ao chefe de gabinete escreve: “Afonso
(...) Julgo necessária a tua presença aqui por todos os motivos”.
3. O homem de x + b
Segundo o Imperador, Benjamin Constant é “excelente criatura, incapaz de
violências, é homem de X mais B”. Distraído e desalinhado, cara aquadradada, em
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Professora de Sociologia da Universidade de São Paulo e pesquisadora do Cebrap, é atualmente
Visiting Fellow na Universidade de Yale e Guggenheim Fellow 2009/2010.
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moldura de cabelos pretos, é um meigo. Para um taciturno, suicida malogrado, de mãe
louca, até que se acertou. É professor da Escola Militar, onde difunde o positivismo.
Mas vive ultrapassado por bem-nascidos. Só agora, aos 52 anos, chegou a tenentecoronel. Está desgostoso com a transferência, a mando de Ouro Preto, do 22º. Batalhão
e com a prisão do tenente Carolino - no banheiro bem quando o chefe de gabinete o foi
procurar. Em outubro, em homenagem a oficiais chilenos na Escola Militar da Praia
Vermelha, extravasou. O ministro da guerra saiu chispando, já jovens militares
improvisavam baile para Benjamin e a República ... do Chile.
Desde aí, uma azáfama. Conciliábulos no Clube Militar, com Mena Barreto,
Deodoro, Solón, e com civis, Quintino e Lobo. Nessa segunda-feira, Solón lhe traz
pactos de sangue entre oficiais do exército e alunos da Escola Superior de Guerra,
pedindo a “destituição daqueles que só de males têm enchido o nosso País”. Então vai a
Deodoro, presentes Quintino, Lobo, Francisco Glicério e Rui Barbosa: “General, (...)
não é mais possível recuar: o exército fará a revolução (...).”O conclamado está
acamado, mas assegura o apoio do ajudante-general Floriano Peixoto.
A 14, às 18 horas, de manta no pescoço e chapéu civil, volta a Deodoro.
Encontra só D. Marianinha: o doente pernoita no irmão João, no Andaraí. “É preciso
que a senhora o mande chamar”. Mas Deodoro talvez não amanheça, conta a Lobo e
Glicério, no largo de São Francisco e envia recado a Quintino: o ”movimento” está
adiado.
Contudo, o boato de Solón já surte efeito. Às 8 da noite, Mena Barreto subleva o
9º. Regimento: “Deem-me uma blusa e uma espada, para mostrar como se morre por um
general!”. Distribui-se munição, de depósitos do governo devidamente arrombados. Às
10 horas, o tenente-coronel Silva Teles encontra seus comandados do 1º regimento em
armas. Não podendo demovê-los, junta-se a eles.
Pelas quatro da manhã, Benjamin é acordado por oficiais da 2ª. brigada. Enverga
sobretudo e chapéu alto, para esconder a farda. Quepe na mão, embrulhado em jornal.
Manda chamar Deodoro e Floriano e pedir apoio ao Clube Naval. Diz à esposa que
queime os pactos de sangue, em caso de insucesso. Ela recomenda: finja-se de médico
indo ver doente.
São quase 5 e meia, quando avista Solón, Mena Barreto e Pedro Paulino, outro
irmão de Deodoro, vindo pelo Mangue, com o 1º. Regimento de Cavalaria, a guarda de
honra da Escola Superior de Guerra, o 2º. Regimento de Artilharia e suas 16 bocas-defogo, e o 9º regimento, a pé, de espada e revólver. Na retaguarda, a carroça de
munições. Sem música, bandeira ou muito entusiasmo.
Benjamin os saúda e leva vivas. Serzedelo Correia pergunta quem comanda. “Se
Deodoro não vier, comandará esta força o Floriano.”
4. Um visconde a perigo
Acabado o dia de mil afazeres, Afonso Celso de Assis Figueiredo, Visconde de
Ouro Preto, está em casa, perto da estação de trem São Francisco Xavier, com o
inseparável Gentil de Castro.
O Visconde é alto, sem ser magro. Tem suíças longuíssimas, 53 anos e um
bengalão. Olha o mundo de cima, com seu pince-nez. Na chefia de gabinete, que
alcançou nesse junho, enfrenta o rescaldo da Abolição, insubordinações do exército,
brados federalistas e a cisão de seu Partido Liberal. Sua posse na Câmara, segundo
Campos Sales, teve feições de “meeting, em plena praça pública, com todos os
arrebatamentos das paixões populares”, terminado num viva à República.
O Visconde julga que suplantará tudo. Entre intenção e execução, porém, vai um
hiato. Tenta reorganizar a guarda nacional, fortalecer a polícia, domar o exército e
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garantir maioria nas eleições parlamentares. Mas não logra punir Benjamin, que D.
Pedro diz “acabará voltando ao bom caminho”, nem pôr um militar no ministério da
guerra, em lugar do lento Visconde de Maracaju.
A 12, o ministro da agricultura relata boatos de sublevação militar. Outros
ministros recebem cartas anônimas. O da guerra sabe bulhufas. A 13, o da justiça,
Candido de Oliveira, escreve-lhe: “Aí vai esta carta do ajudante-general [Floriano
Peixoto], em que ele declara que se trama alguma coisa. Estou vigilante e é bom
recomendar cuidado ao Maracaju.”
O editorial de O País, no 14, põe outra pulga atrás da sua orelha. Alerta Basson,
manda vir da ilha de Bom Jesus um batalhão de infantaria e, da fortaleza de Santa Cruz,
a artilharia. Chama o ministro da justiça, o da guerra e o presidente da província.
Maracaju chega tranquilizador. Ouro Preto vai, então, presidir sessão preparatória da
nova legislatura na Câmara dos Deputados.
Noite alta, bate à porta o Conselheiro Sousa Ferreira, do respeitadíssimo Jornal
do Comércio. É certa a prisão do general de Deodoro? Ouro Preto nega. O jornalista
sugere desmentido no Diário Oficial. Ora, “(...) isso me obrigaria a desmentir todas as
balelas que a oposição se lembrasse de inventar.”
Quase meia-noite, chega o recado de Basson. Promete-lhe condução, que o
Visconde já não espera. Gentil de Castro a tiracolo, vai ao quartel de cavalaria, à
secretaria de polícia e ao Arsenal da Guerra. Chama patrulhas, comandantes, o ajudantegeneral do exército e o corpo de bombeiros. Separa-se, por fim, do amigo, a quem
confia o embarque de força policial de Niterói para a Corte.
Instala-se no Arsenal da Marinha, onde já estão Candido de Oliveira e o Barão
de Ladário, ministro da marinha. Maracaju custa a chegar. Foi antes ao quartel-general,
para onde mandou homens e armas. Também de lá vem Floriano, às 3 horas. Teve
notícia da revolta por um capitão. E por que não o prendeu? Para ganhar tempo, que o
governo precisa de tropas, sobretudo da marinha.
Às 3:30, Ouro preto telegrafa ao imperador, em Petrópolis, dando parte da
sublevação do 1º. e do 9º. regimentos de cavalaria e do 2º. batalhão de artilharia. Lá
pelas 5, segundo o Jornal do Comércio, desembarca um batalhão naval, com 160
homens, e o corpo de 196 imperiais marinheiros, com uma metralhadora. Depois
chegam o Barão de Loreto, da pasta do Império, Lourenço de Albuquerque, da
Agricultura, e o conselheiro Diana, dos Negócios Estrangeiros. Está completo o
ministério.
Seguindo alvitre de Maracaju, deslocam-se para o quartel-general, no Campo da
Aclamação. Um erro, Ouro Preto percebe ao descer do coupé, às 7 horas. Trocara a
estratégica saída para o mar, no Arsenal da Marinha, por um prédio sem barricadas. No
pátio interior, estão o corpo militar da polícia da Corte, o de bombeiros, o 1º. , o 7º. e o
10º. batalhões de infantaria. Há mais guardas na frente do edifício, que dá para o Campo
da Aclamação. Cerca de 2000 homens. Ladário retorna ao Arsenal da Marinha, para
mais providências.
Sabe-se que os rebeldes deixaram São Cristavão e marcham sobre o QuartelGeneral. Às 8 horas, Ouro Preto avista da janela “um piquete de cavalaria, armado de
lanças e carabinas, tendo à frente um oficial”. Prendam-nos, ordena ao general Almeida
Barreto, que lança um ambíguo: “hei de cumprir o meu dever.”
Ouro Preto agora vê mais. Diante do prédio estão o 2º batalhão de artilharia, o
1º. e o 9º. Regimentos de cavalaria, “em pé de guerra”. Ordena aos legalistas que os
ataquem. Mas, então, Silva Telles, em nome dos sublevados, quer falar a Floriano. Ouro
Preto rechaça: “não há conferência possível”, que se “empregue a força”. O ajudante-
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general monta a cavalo, seguido de seu estado-maior: “julguei ia começar o desagravo
da lei, ferindo-se o combate.”, lembra Ouro Preto.
Mas não. Dá ao menos mais seis ordens de ataque, até a baionetas, sem efeito.
Furioso, chama Floriano: “No Paraguai, os nossos soldados apoderaram-se de artilharia
em piores condições.” Sim, ouve em resposta, “mas lá tínhamos em frente inimigos e
aqui somos todos brasileiros.”
Sem comando, a tropa de nada serve ao gabinete. Albuquerque aconselha a
demissão. Ouro Preto resiste, mas todos os ministros assentem. Então telegrafa segunda
vez a D. Pedro: “o ministério sitiado” se demite.
Ouve-se já o tropel de Deodoro adentrando o prédio. Alguém sugere saída pelos
fundos. Mas o último chefe de gabinete da monarquia brasileira, brioso, vai esperar.
5. O barão valente
José da Costa Azevedo, o Barão de Ladário, é vice-almirante corajoso até a
temeridade, conforme se viu cerca de 8 da manhã.
O titular da Marinha vinha se juntar ao ministério no Quartel-General, depois de
diligências no Arsenal da Guerra. No Campo da Aclamação, seu carro dá com os
sublevados. Ouve Deodoro gritando: “É o José da Costa. Prendam-no!” É o que os
ajudantes de ordem Adolpho Peña e Lauro Muller vão fazer, quando o barão salta do
carro, saca pistola de dois canos e atira em Peña. Peña atira no barão. Dois malogros. O
barão faz fogo com segunda pistola. Uma das balas tosta a orelha de Deodoro. Os
soldados miram no barão. O general ordena: “Não matem esse homem”. O barão,
porém, cai coberto de sangue, na porta de uma venda.
Carregado até o palácio Itamarati, na rua Larga de São Joaquim, é acudido
sucessivamente por três médicos. Mas só consente em ir para casa, em bonde fechado
da linha das Laranjeiras, quando Ouro Preto, informado de sua teimosia em defender o
governo, manda-lhe ordem expressa. Um quarto médico, barão de Pedro Afonso,
declarou ao Jornal do Comércio, do dia 16, que “O Sr. Barão tem: um ferimento na
testa, duas feridas na coxa esquerda, algumas contusões na perna esquerda, ferimento
por bala na região sacro-ilíaca direita”,- para seu constrangimento.
Decerto não irá amanhã ao teatro Phenix, onde se encena “Jack, o estripador”.
6. Gente de partido
Quintino é a cara do D. Quixote; não obstante, é self-made-man. Inventou-se até
no nome - o indianismo “Bocaiúva” substituindo seu simples “Sousa”. Não acabou
faculdade, mas se firmou no jornalismo e fez dinheiro nos pampas, de onde trouxe o
chapelão mole. Encasquetou com a República, ao modelo norte-americano, como via
franca para homens de idéias e de negócios. E a propagandeia sem açodamento, com um
partido, na praça desde 1870, e seus sucessivos jornais, A República e O País.
Açodados, contudo, agora sobram. Os republicanos se multiplicam e
jovenzinhos audazes, como Silva Jardim, ameaçam sua liderança. Hora de apertar o
passo.
No começo de novembro, com Aristides Lobo, tem papo firme com militares
melindrados com o governo: Benjamin, Solón, Mena Barreto e Deodoro. Aristides lhes
prometeu 400 homens armados de São Paulo. No 6, fala-se em “revolução”, no 7, em
ministério: “recebi eu carta branca”, conta Quintino, porque Deodoro e Benjamin
“desconheciam quase completamente o pessoal político republicano”. Logo promete
uma pasta ao liberal dissidente Rui Barbosa. E incumbe Francisco Glicério de excluir
Jardim da parada.
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Quintino chefia reunião secreta do Partido Republicano e discute com Solón e
Benjamin “o dia do pronunciamento”, no 13. No dia seguinte, estampa, em O País,
ataque ao gabinete e homenagem a Deodoro. No Clube Naval, com Solón, fala a um
Benjamin reticente, dada a saúde de Deodoro. Quando Benjamin parte, deliberam.
Sólon vai lançar seu boato.
Quintino chega ao Campo de Santana, pelas 5 da manhã de 15, em vivas à
República. Pede um cavalo e se enfileira com Deodoro e Benjamin. Aristides conta os
objetivos do movimento “para umas 200 almas”, segundo Sampaio Ferraz, que brada: o
sol que alumia “espadas ainda limpas do sangue”, não há de se por sem mudança de
regime. Deodoro corta: “Não convém, por ora, as aclamações.”
Sai o desfile. Aristides, a pé, pára no Diário Popular, para descrever o “advento
da grande era”: “O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o
que significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada. Era um
fenômeno digno de ver-se. O entusiasmo veio depois, veio mesmo lentamente,
quebrando o enleio dos espíritos.”
7. A honra de um general
Arfante e prostrado, o general namora a morte, mas gosta muito da vida. É
expansivo e amante de acessórios: anel no dedo mínimo, bengala com cabeça de frade,
botinas com salteiras. Julga-se exímio em dança e latim. Perfuma a barba e costuma
cruzar quatro dedos enquanto roda os polegares. Fuma havanas e verseja em leques,
para desespero de D. Marianinha, que sabe bem aonde os versos levam.
Mas Manuel Deodoro da Fonseca é antes da caserna que dos salões. Vem das
Alagoas, uma gente das armas - onde estão seus irmãos e infinitos sobrinhos. Na guerra
do Paraguai, ganhou cicatrizes e medalhas. Gastou-se. Aos 62 anos, é marechal, mas a
arterioesclerose gera crises de dispnéia que o confinam ao leito.
Explosivo, vem às turras com o governo, desde 1886, quando começou essa
“questão militar”. Em 1887, com outros militares, conseguiu derrubar o ministro da
guerra e criou o Clube Militar, do qual é presidente. Mas cortaram-lhe as asas. Foi para
o ostracismo, a presidência do Mato Grosso, do qual voltou só em setembro, bravo com
Ouro Preto, que obsta promoções e distribui humilhações aos fardados.
No 30 de outubro, em seu sobradinho colonial, aporta Mena Barreto com outros
militares: “Ordene V.exa. a manobra, que será executada.”. No dia seguinte, Benjamin seu vice no Clube Militar -, e Sólon, falam coisas idênticas. A 10 perde a têmpora, ao
saber do embarque do 22º. Batalhão para o Amazonas. Mas tem devoção pelo
imperador. No 11, Quintino, Glicério, Lobo, Rui e Benjamin o persuadem que o
governo já é de Isabel: “Se o velho já não regula, (...), leve a breca a monarquia!”
Confabula ainda com Silva Telles, Almeida Barreto e Floriano Peixoto. Mas no
14, amanhece péssimo. Troca de ares. Está para dormir no mano João, quando vem
recado de Benjamin, que volte. Às 10 da noite, em casa, sabe do rumor de ordem de
prisão contra si e outros: “não permitirei!”. Quem não permite é a dispnéia.
De madrugada chamam. A 2ª. brigada está em armas. “É mentira! Isto é uma
cilada do governo”. Mas o mensageiro é cunhado de Benjamin. Apesar das dores, se
farda. Põe os arreios de montaria num saco. Não cinge a espada, para não pressionar o
ventre, mas leva o revólver no bolso. Com o tenente Cincinato, que lhe fazia quarto,
toma uma Vitória.
No gasômetro do mangue, a tropa marcha. Vivas. Silva Telles comanda mais ou
menos um milhar de homens. Deodoro os acompanha de carro. No Campo da
Aclamação, Pedro Paulino o ajuda a montar. Dá as ordens. Formação em paralelo ao
quartel-general, fazendo “martelo no flanco direito” - é quando aparece Ladário.
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Cerca o quartel-general e manda intimar a rendição do ministério. São 8 horas.
Ordena a abertura do portão do prédio. O general Almeida Barreto, à frente da guarda
governista, hesita. Deodoro grita: “’Sentido! Em continência! Apresentar armas!’ Foi o
segundo mais emocionante da nossa jornada! Imediatamente as forças se perfilaram
(...).”, conta Sampaio Ferraz. Congraçam-se soldados dos dois lados.
Deodoro avança para o quadrado interior do edifício, agita seu chapéu e,
segundo o Correio Paulistano, do dia 29, dá “vivas a s.m. o Imperador, à família
imperial e ao exército”. Apeia com dificuldade. Anda até a secretaria da guerra, seguido
por enxurrada de revoltosos, lotando a sala. Cumprimenta Maracaju: “Adeus, primo
Rufino!”. Ouro Preto se levanta. Cara a cara, Deodoro enumera perseguições ao
exército – e “também à Armada”, Benjamin emenda - que o levaram até ali, apesar de
doente, por não ser homem que recue, temendo só a Deus. Fala das agruras de soldado,
três dias e três noites em lodaçal, na Guerra do Paraguai, que o chefe de gabinete não
pode avaliar. Ouro Preto: “Estar ouvindo o general, nesse momento, não é somenos”.
“V.Exa. e seus colegas estão demitidos“, Deodoro conclui. No bolso, tem novo
ministério, que levará a D. Pedro. Depois de breve ataque de sufocação, manda os
ministros para casa, “exceto eu – homem teimosíssimo, mas não tanto como ele – (assim
se exprimiu) e o Sr. Ministro da justiça.”, remói Ouro Preto. Mas assevera dedicação ao
Imperador, “devo-lhe favores”.
Floriano pede o relaxamento da prisão. Os ministros deixam o prédio incólumes.
Ouro Preto sai às 2 da tarde. Albuquerque pega calmamente o bonde.
No Campo de Santana, jovens militares, Quintino, Aristides, Sampaio Ferraz,
estudantes aguardam. Passageiros dos bondes e curiosos observam a aglutinação. Solón
diz que não embainhará a espada enquanto a República não for aclamada. Aí, contam
uns, Deodoro deu vivas à República, ou então, contam outros, os reprimiu. Mena
Barreto seguramente os deu. E tantos, que desmaiou, tendo de ser socorrido na Escola
Normal.
Depois de salva de 21 tiros, Deodoro monta e ruma para o arsenal da marinha.
Na porta está o barão de Santa Marta: “Marechal! O que pretende com essa força?”
Deodoro: “Venho trazer os seus marinheiros que acabam de coadjuvar-me na salvação
da Pátria.” Entra e manda Wandenkolk pôr para fora Lopes Trovão e seus seguidores,
“para que não se ferissem se se travasse batalha”.
Na volta, pela rua 1º. de março, pela do Ouvidor, há discursos e saudações. Mas
o doente não veio para festas. Veio por sua honra. No Campo de Santana, ordena que as
forças se recolham aos quartéis. Vai para casa. De tão fatigado, tem de ser desmontado
do cavalo.
8. Decifra-me ou devoro-te
“Dei com ele de cócoras na cozinha, a comer numa frigideira!”, lembra-se
Serzedelo Correa. Esse é Floriano Peixoto, que não desmente a fama de caboclo e honra
a de valente.
Atravessou novembro sob dois fogos. Sendo homem de armas, incomoda-se
com o tratamento dos casacas aos fardados. Quando o Capitão Hermes da Fonseca, seu
vizinho, o chama, da parte do tio, Deodoro, vai com panos quentes: “seu Manoel, (...)
ainda pode haver um meio de entender-se com o ministério. (...). Não precipitemos as
coisas”. Mas, “Enfim, se a coisa é contra os casacas, lá tenho ainda a minha espingarda
velha.”
Contudo, deve lealdade ao governo: é o ajudante-general, segundo na hierarquia
depois do ministro da guerra. No dia 13, manda o bilhete que desassossega Candido de
Oliveira: “A esta hora deve V.Exa. ter conhecimento de que tramam algo por aí além;
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não dê importância tanta quanto precisa, confie na lealdade dos chefes, que já estão
alerta.“ No 14, sopra a Maracaju: “estamos sobre um vulcão”.
Governo e rebeldes contam consigo. Mas Floriano é homem de pouca prosa. A
ninguém assente nem desmente. Nas primeiras horas do 15, emenda série de atos
ambíguos. Às 4 da manhã, recebe recado de Benjamin, “que assumisse o comando
geral, visto ser talvez impossível encarregar-se dessa missão o general Deodoro, que
passara malíssimamente a noite.” Não prende o mensageiro e nomeia para comandar a
polícia e os bombeiros o general Almeida Barreto, que está de conluio com Deodoro.
Mas ao mesmo tempo acata as ordens de Ouro Preto, de reunir forças legalistas e as pôr
em pé de guerra.
Fica indo e vindo, entre tropa e ministério, em cochichos, sem ações.
Em torno das 5, toma definitivamente partido, ao recusar-se a abrir fogo contra
os rebeldes. E quando Rio Apa, que dá a ordem, sem efeito, vem queixar-se, tergiversa:
“Vamos com paciência. Isto tudo está minado.”
Ao ver Deodoro no prédio, recebe-o familiarmente. Mas intercede pelos
ministros, garantindo-lhes a liberdade - e até o almoço.
Daí se retira. Se isso vai dar em República, não sabe. Mas nunca mais pendurará
sua espingarda velha.
9. Transações bancárias
Manuel de Campos Sales pacificará essa República, mas, por hora, ficaria
contente em fazê-la. Seu Partido Republicano, de empresários prósperos como suas
plantações de café, propagandeia, no jornal A Província de São Paulo e em meetings,
desde os anos 1870, em sintonia com a patota gaúcha de Julio de Castilhos e seu A
Federação.
Campos Sales começou legalista, morejando para ser deputado. Mas na Câmara
nada pôde. Agora, presidente da Comissão Permanente do Partido Republicano de São
Paulo, está para ações drásticas. Delas e de tratativas com o exército, fala a carta de
Lobo, de 6 de novembro: “me prevenia para que dispusesse os elementos paulistas de
modo a poderem intervir”.
Conversa com Rangel Pestana, Bernardino de Campos, Prudente de Moraes e
oficiais do 10º. de cavalaria. A Francisco Glicério, em Campinas, escreve: “venha já!”.
No 9, Glicério chega ao Rio e entra em conluios com Lobo, Quintino, Rui, Deodoro e
Benjamin. A 12, manda telegrama no código combinado: “Banco aceita transação.
Mande notícia penhor agrícola”. Banco, Campos Sales sabe, é o Exército; penhor
agrícola, o 10º. de cavalaria. Transação é revolução.
Vem carta de Lobo confirmando. O mensageiro, Medeiros de Albuquerque, que
é a cara de Tiradentes, conta que Campos Sales, que “nunca foi um prodígio de
coragem”, “(...) não pode ter dormido naquela noite, aterrado com visões de forcas, de
esquartejamentos e de outras punições terríveis de revolucionários.”
No 15, meio-dia, Campos Sales recebe telegrama de Santos: há
“acontecimentos” no Rio. “Compreendi que do que se tratava era positivamente da
revolução (...).” Mais tarde, novo telegrama, de Silva Teles: “Consta tudo feito na Corte
de modo completo e definitivo.”
10. Seu reino não é deste mundo
Isabel não é princesa de contos de fada. Não é bonita, elegante, charmosa ou
inteligente. Mas princesa de verdade prescinde desses atributos. Basta um reino. Isabel
tinha um até ontem. Sem filhos homens, morta a primogênita, o pai a preparou para o
cargo, dando-lhe a regência no Ventre Livre e na Abolição. Desleixou foi na escolha do
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genro. É príncipe mais para sapo. Francês, Conde D´Eu, avesso a banhos. Sovina, com
cômodos para alugar. Enxerido no Exército. Meio surdo, não ouve a ninguém. Mas o
casamento é de contos de fadas. Demoraram os filhos, mas com rezas vieram três.
Isabel é grata a Deus e fez pendurar crucifixos nas salas de aula. Por essas e outras, o
senador Saraiva já disse que seu reinado não será deste mundo.
Hoje se ocupa de recepção a oficiais chilenos. Mais modesta que o baile da Ilha
Fiscal, o maior rega-bofes do Segundo Reinado, com 3 mil sopas, 14 mil sorvetes, 2 mil
pessoas, valsando alumiadas por 14 mil velas, e que se acabou numa vastidão de restos
de espartilhos. De política está alheada desde que o pai chegou da Europa e foi aos
ministros sem ouvi-la. Idoso e adoentado, D. Pedro, porém não reinará muito. Está no
Cidade do Rio de hoje: “O imperador vai abdicar no dia 2 de dezembro, dizem todos”.
Às 10 da manhã, a princesa que crê em milagres precisa de um. Gaston saiu com
os meninos a cavalo. O Visconde da Penha e o Barão de Ivinheima chegam
“esbaforidos” com “novidade grossa”: rebelião de Deodoro e Quintino. A Amandinha,
baronesa de Loreto, já lhe falara de boatos que agora são fatos. Isabel acha “exagerado”.
Afluem cortesãos, senhoras, políticos, o Barão do Catete. Miguel Lisboa vem do Campo
da Aclamação, “dizendo que o Ministério estava sitiado no Quartel e o Ladário dado
como morto.”
Telefona-se aos arsenais da marinha e da guerra, mas não há informação. O
Conde D´Eu cogita fardar-se, é afinal capitão de cavalaria. Acaba persuadido a
embarcar os filhos, convocar o conselho de estado e falar a D. Pedro, em Petrópolis. Em
vão: “Papai incomunicável”.
Isabel aconselha-se com Manuel de Souza Dantas, líder liberal. “Vossa Alteza
não receie nada, (...), eu não admito República!”
Surge o dr. Rebouças. Armou plano com o Visconde de Taunay. o imperador
fica em Petrópolis, transfere-se o governo. Contudo, há telegrama do Conde de Mota
Maia: D. Pedro torna à Corte, pelo caminho de ferro do Norte. Isabel, Gaston e
palacianos vão esperá-los na estação, por volta do meio dia. A princesa está mais
tranquila com “notícias de que tudo estava apaziguado”. O príncipe não crê: “a
Monarquia está acabada no Brasil.”
No caminho, avistam o carro de D. Pedro. Confirmado o desencontro, seguem
para o Paço da Cidade, onde o Imperador se inteira dos acontecimentos. O Barão de
Jaceguai desanima Isabel: há “pessoas amigas de V.A. e da família imperial (...); mas
monarquistas propriamente não.”
Às 9 da noite, Gaston tenta entrevista com o líder do motim. Nada. Altas horas,
o Senador Saraiva envia emissário. “Deodoro declarou-lhe considerar-se
irrevogavelmente presidente da República.”, lembra-se Isabel.
É o fim improvável de seu conto de fadas.
11. O sequestro do futuro
André Rebouças passeia com o Imperador em Petrópolis, aonde mora. Professor
da Politécnica, filho de conselheiro de estado, foi articulador do movimento
abolicionista, com José do Patrocínio e Joaquim Nabuco. Então não poupava a família
imperial. Mas desde o 13 de maio, é grato a ela.
Tem planos para o reinado de Isabel I, a Redentora: completar a Abolição com
imigração e reforma agrária. Mas teme os “escravocratas ressentidos” convertidos em
“republiquistas”.
Deles se fala, na Estação Mauá, aonde aporta, às 8:30 da manhã. Há motim
militar. Segue para a Politécnica, onde tenta “manter a ordem no edifício invadido por
Silva Jardim”. Dali ao Cidade do Rio, jornal do compadre Patrocínio, também negro e
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idealizador da Guarda Negra, que “protege” Isabel. Da sacada, vê as tropas marchando
pela rua do Ouvidor, Deodoro à frente. Mas o susto mesmo é ouvir Patrocínio
celebrando a República.
Como Nabuco mora longe, em Paquetá, corre a Taunay. Às 13 horas, vão
telegrafar a D. Pedro. O telégrafo, porém, já é republicano. Seguem para o Senado,
“tentando organizar a Contra Revolução”. Lá, Paulino de Souza não permite quebrar o
protocolo para discutir questão fora da pauta.
Como dessa moita não sairá coelho, às 14:30, se juntam a Rodolfo Dantas, filho
de Souza Dantas, para armar resistência em Petrópolis. Rebouças assume missão dupla:
salvar os pequenos príncipes e informar D. Pedro. Com os meninos e o preceptor deles,
o dr. Ramiz Galvão, vai à enseada de Botafogo, em lancha que o Barão de Catete
arranjou. Dali para navio de guerra, o Riachuelo, onde esperam a barca e o trem para
Petrópolis. Um dos filhos de Isabel, Luis, lembra que, no trajeto, “nossa presença
passou quase despercebida (...) os nossos companheiros de viagem discutiam com
pachorra as novidades do dia, sem lhes ligar, ao que parecia, grande importância.”
Estão em Petrópolis às 19 horas. Mas D. Pedro já partiu. Rebouças pernoitará no
Hotel Bragança com seus guardados. Não imagina, mas está é sua última noite no
Brasil.
12. República municipal
O monarquismo do intrépido José do Patrocínio, adquirido a 13 de maio,
claudicou ontem, na Confeitaria Pascoal. Saboreava seu porto, quando o almirante
Wandenkolk avisou de conspiração sem data. Esta manhã, chegando de Petrópolis, deu
com o reboliço. Correu para seu Cidade do Rio, incumbir Olavo Bilac do momentoso
jornal do dia. Encomendou panfletos celebrativos e agora se inflama na janela. “As
salas da redação foram invadidas pelo Povo, que festejava (...). Muitos correligionários
vieram abraçar-nos e confraternizar conosco, reatando assim as nossas relações
interrompidas.”
Dentre eles, Antonio da Silva Jardim, homenzinho que cresce de paixão e lidera
partido republicano alternativo, mas barulhento, que vinha prometendo rimar 1889 com
1789. Hoje o profeta encontrou sua profecia em andamento. Foi à Politécnica, insuflar
estudantes, depois veio para a Rua do Ouvidor, onde dá com Aníbal Falcão e
positivistas como eles, e com Lopes Trovão, atiçador de outras revoltas. Todos
acotovelados nas sacadas dos sobrados dos jornais, de onde desabam discursos, quando
Deodoro, tropa e trupe, passam.
O desfile acaba no Arsenal da Marinha. Trovão está na porta. O grandão e bem
humorado Wandenkolk o saúda: “sempre na frente”. Trovão: “é o meu destino”. Seu
séquito pede brinde à República, que custa os 11 mil réis de seu bolso. O resto da conta
ia pagá-lo o seu relógio. Mas, o dono da taverna, em fraternidade republicana, resolve
arcar com o prejuízo.
A República, festejada, ainda não foi oficialmente proclamada. Falcão propõe
“movimento popular”, Emilio Rouéde, “assaltar” a Câmara e o Senado. Patrocínio,
vereador mais jovem, pode, conforme a legislação, convocar sessão extraordinária na
Câmara. Às 3:30, os três, mais Jardim, Bilac, Pardal Mallet, um magote de umas 100
pessoas e uma flâmula tricolor de seda, do Clube Tiradentes, “invadimos a Câmara
Municipal, onde proclamei a República e fiz hastear a bandeira”, conta Patrocínio.
Falcão, com Mallet, redige moção: o povo “reunido em massa na câmara
municipal”, “após a gloriosa revolução que ipso facto aboliu a monarquia” – e rasgada a
bandeira imperial do recinto -, proclama o Governo Republicano.
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Dali passeata, entoando a Marselhesa, até a casa de Deodoro. Benjamin, à janela,
anuncia governo provisório: Deodoro, sempre dispnéico, é o chefe, Aristides, ministro
do Interior, Quintino, das Relações Exteriores e interinamente da Agricultura, Comércio
e Obras Públicas, Wandenkolk, da Marinha; ele próprio assumirá a Guerra. Haverá
constituinte e plebiscito sobre a forma de governo. Então, Patrocínio, com Clapp, entra
no sobrado para entregar a moção, dando três vivas à República Federal Brasileira.
13. O Império das Circunstâncias
D. Pedro II é rei cansado, com doenças e aborrecimentos de governante. Em
caricaturas, aparece dorminhoco, biruta, banana. Republicanos agouram e até
monarquistas especulam sua morte, desde 1887, quando recebeu extrema-unção. Mas
parece bem disposto ao seu ofício. Ontem foi de Petrópolis, onde passa o verão, assistir,
na Corte, um concurso e visitar as oficinas do diário oficial.
A 15, está na serra, em vida pachorrenta, com D.Tereza Cristina, a esposa feia
que o reinado lhe impôs, o dr. Mota Maia, síndico de sua saúde, e um punhado de
cortesãos. É imperador de programas singelos, como essa missa para D. Maria II, às 10
da manhã, que os telegramas de Ouro Preto não atrapalharam. Não se sabe bem se Mota
Maia não os transmitiu, se D. Pedro os leu e seguiu para a missa, ou se só chegaram
depois do amém. O fato é que só então se arranjou composição especial para retorno à
Corte.
No trem, lê revistas. Desembarca na Estação São Francisco Xavier, perto de
duas da tarde. A imperatriz se aflige, o marido não: “Isto não é nada; amanhã estará
tudo acabado”. Vão em três carros, sem insígnias, contornando o desfile de Deodoro.
O Paço da Cidade coalha de gente. D. Pedro se preocupa com Ladário, mas
sempre calmo. Chama Ouro Preto, que narra seus percalços. Segue-se o ritual: o chefe
de gabinete se demite, o imperador pede que permaneça, antes de perguntar pelo
sucessor. O Visconde indica Silveira Martins, estourado liberal rio-grandense. A idéia
pasma. O indicado está a léguas da Corte. É inimigo de Deodoro: uma rixa por mulher e
a política riograndense de permeio. E parece que aclamaram a república. “Se assim for,
será a minha aposentadoria.”
De noite, é Dantas quem tumultua o Paço: “Senhor, a revolução está triunfante.
Os revolucionários estão de posse de tudo: dos arsenais, das fortalezas, dos navios e
telégrafos. A república está feita; o general Deodoro vai proclamá-la”. Quem disse?, D.
Pedro inquire. É fonte segura. O imperador afunda na poltrona. Reflete. Levanta-se:
“Isto passará; no começo do meu reinado tive também destas dificuldades”.
E chama Saraiva, o descascador de abacaxis do Segundo Reinado. Às 21 horas,
conversam. O senador se retira. Às 23:20, reúne-se o conselho de estado. São unânimes:
organize-se novo gabinete já. Sob Saraiva. Lá vai o Marquês de Paranaguá, a pé – por
não achar condução-, chamá-lo no morro de Santa Tereza. Saraiva aceita o cargo e o
alvitre de Andrade Figueira, de enviar o capitão Trompowsky, conta Isabel,“entender-se
com Deodoro para ver se o traz a bom caminho.”
Trompowski encontra casa aberta e iluminada, com sentinelas. D. Marianinha o
conduz a um Deodoro acamado. O bilhete de Saraiva, segundo o Jornal do Comércio
do dia 18: “Encarregado pelo Imperador de organizar novo ministério, não quero e não
devo fazer coisa alguma sem entender-me com V.Exa.” Às duas da manhã de 16, o
capitão traz a resposta: “É tarde”. Isabel e o marido se agoniam. Saraiva partira. D.
Pedro dormia.
O Paço amanhece cercado. Quem chega, como Nabuco, encontra uma linha de
baionetas, entradas bloqueadas. Às 14 horas, comitiva do Governo Provisório aporta,
com carta de Deodoro ao imperador, acusando a “violação, corrupção, de subversão de
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todas as leis” e a “política sistemática de atentados” do governo contra o Exército e a
Armada. O “governo provisório espera de vosso patriotismo o sacrifício de deixardes o
território brasileiro (...).“ Em 24 horas.
Chefia a comissão um nosso conhecido: “O Major Sólon mostrava-se tão
perturbado que ao entregar o papel a Papai deu-lhe o tratamento de Vossa Excelência,
Vossa Alteza e finalmente Vossa Majestade.” Mas é a princesa quem chora. D. Pedro,
atônito, copia resposta redigida por Loreto, e que saiu na Gazeta da Tarde do dia 18,
“cedendo ao império das circunstâncias”. Isabel e o Conde D´eu também lançam
mensagens, no Jornal do Comércio, a 17. Ele, exonerando-se do exército, embora
“pronto a continuar a servir, debaixo de qualquer forma de governo”. Ela, de “coração
partido”.
O comandante Bannen, dos chilenos homenageados no baile da Ilha Fiscal,
oferece asilo ao imperador em seu navio. Os barões de Muritiba e Loreto se animam e
até escrevem manifesto, mas D. Pedro recusa, como depois recusará dotação do governo
provisório - para desgosto do genro.
Prepara-se a partida. O trânsito no entorno do Paço é fechado. À noite, as
sentinelas se estendem do palácio ao cais. Deposta, a família imperial vai dormir.
14. Sob o signo de Mercúrio
Robert Adams Junior não está surpreso. Virou ministro dos Estados Unidos no
Brasil, em julho, mas já em setembro recebeu pedido de apoio “moral e material” norteamericano, em caso de “an attempt by revolution to overthrow the Imperial
Government.”.
Com sua simpatia, podem contar. Acha a revolução de ontem, sem
derramamento de sangue e continuidade dos negócios, “the most remarkable event
recorded in History”.
O governo “de facto”, aconselha ao Secretário de Estado, seu país deve ser o
primeiro a reconhecer como de direito. A amizade dos adventícios é evidente nas
felicitações que lhe chegam, na emulação da bandeira – colorida de verde e amarelo – e
na designação do novo regime: Estados Unidos do Brasil.
Vai durar essa República, julga, ainda que governo provisório, nesse 16,
insolitamente tome posse na Câmara Municipal, onde Rui Barbosa, Lobo, Quintino e
Wandenkolk prometem “manter a paz e a liberdade pública, os direitos dos cidadãos,
respeitar e fazer respeitar as obrigações da Nação”. Deodoro, o dispnéico, não foi. De
modo que não jurou nadinha e na noite de 15 fez prender Silveira Martins, em Santa
Catarina, e Ouro Preto, que, na madrugada, ouviu de Mena Barreto: “Acorde e preparese, que mais tarde tem de ser fuzilado.” - Quintino comutou a execução em exílio.
Hoje funciona o Senado, com 22 presentes. Esqueceram de fechá-lo, embora
tenham dissolvido a Câmara. Inquirido sobre senadores presos e “acontecimentos
gravíssimos”, Paulino, presidente da casa, encrespou: “não posso consentir debate que
não seja restrito à constituição desta Câmara.” E, por falta de assunto, encerrou a sessão.
Eis as novidades de hoje. De amanhã não se sabe, pois “in this mercurial country
one can never predict the future.”
15. A nau dos insensatos
Pedro Augusto, duque de Saxe, não tem sorte. Aos 6 anos, perdeu a mãe e foi,
com o irmão, viver com o avô. Em compensação, virou o neto querido do Imperador e
pode ser que ganhe um trono de presente. Sua mãe era a primeira na linha de sucessão.
E há quem, como o Barão de Estrela, veja no sobrinho uma alternativa ao reinado da
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Condessa D´Eu. O problema é que lhe falta um parafuso. Por isso, ontem, quando
reportou rumores de golpe, tributaram tudo à sua imaginação.
Hoje, depois de cavalgar no entorno do Palácio Leopoldina, no Engenho Velho,
dá com a cara de finados do mordomo. Sedição militar. Manda sondar a casa da tia. Não
há alarde. Vai então visitar amigo, nas Laranjeiras.
Na volta, pelas cinco da tarde, ouve dizer da prisão da família real. Escurecendo,
adentra o Paço da Cidade. A família está pendulando entre convulsionada e plácida.
Propõe fuga pela porta da rua do Carmo, para indignação do avô. Já os tios o acusam de
se mancomunar com subversivos. Melindrado, se recolhe a um quarto e gasta a noite
mordendo os dedos.
No 16, dado ultimato para deixar o país, pede a um amigo que zele por seus
negócios: “Estamos presos e incomunicáveis.”
Na segunda noite em casa do avô, cerca de 1 da manhã, o Coronel Medeiros
Mallet bate à porta do Paço. O conde D´Eu atende. Chama a mulher e o sobrinho. Isabel
acorda os pais. Terão de partir antes de raiar o dia, para evitar tumultos, estando “os
rapazes das Escolas já com metralhadoras para atirarem sobre quem quisesse resistir.”
As mulheres da família em lágrimas. A princesa implora pelos filhos em Petrópolis.
Mallet manda buscá-los.
O avô está alterado: Não sou nenhum fugido; retirar-me-ei do Brasil, porém de
dia.” Jaceguai fala do sangue que pode correr em manifestações pró-monarquia. O
imperador ainda renitente, como conta a Gazeta de Notícias, a 18: “Mas que é isso Sr.
Mallet? (...). O Sr. está doido! Os outros estão doidos!”. Então desce a escada, revistas
sob o braço que dá à filha. O Conde D´Eu conduz a sogra. Pedro Augusto os segue.
Jaceguai à imperatriz: “resignação, minha senhora”. “Tenho-a muita”. Isabel se
desespera: “Ah! Sr. Mallet, os senhores hão de arrepender-se!”
À porta, soldados apresentam armas. D. Pedro levanta a cartola. Na caleça,
Pedro Augusto e Isabel, unidos na desgraça, se acomodam lado a lado. Vão lentamente
ao cais, seguidos, a pé, pelo Conde D´Eu, o almirante Tamandaré, Jaceguai e um
punhado de constritos. Solitários, em meio à tropa de infantaria e o piquete de cavalaria.
O cais Pharoux está sob luar fraco. São quase 3 horas do dia 17. Vem a lancha
para o embarque. D. Pedro incrédulo: “Os senhores são uns doidos!”. Um apito, depois
o arranque.
Passam da lancha ao navio. É o Parnaíba, não o Alagoas, como tia Isabel
esperava. Às 6 horas, chegam os primos, com Rebouças. Embarcam também Dr. Tosta,
Muritiba, Loreto, Mota Maia e Franklin Dória, com as famílias. Pedro Augusto está
aflito: “muito agitado, voltando-se para mim - conta Joaquim Inácio Batista Cardoso -,
disse: ‘Meu criado fica em terra, garantam-lhe a vida’, ao que repliquei; ‘os
revolucionários de 15 de novembro não são assassinos.”
Às 10 horas, o Parnaíba sai para a Ilha Grande. Às 8 da noite encontra o
Alagoas, preparado com víveres para a travessia atlântica. No breu, com chuva e mar
bravio, a troca de navios é complicada. D. Pedro é alto, corpulento, entala na escada.
Isabel grita: “Sr. Mallet, Sr. Mallet, não deixe meu pai cair no mar!”. O coronel reporta
que, para não dizerem que os republicanos o afogaram, decidiu jogar-se no oceano se o
imperador tombasse.
Zarpam para Lisboa à meia-noite, escoltados pelo Riachuelo. A família imperial
enlutada, mas contida. D. Pedro escreve versos. Apenas o príncipe de Saxe rompe a
etiqueta. Segundo a tia. “(...) mostrava-se receoso de tudo e de todos os que não eram da
comitiva, vendo ciladas, assassinatos e veneno por toda a parte.” Julga que o capitão do
navio está encarregado de executar a família imperial. Tenta esganá-lo. Muritiba o
detém. Dão-lhe valenciana. Mais tarde amarra bote salva-vidas ao corpo: acha que o
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Riachuelo afundará o Alagoas. Joga garrafas ao mar, com pedidos de socorro: a família
imperial, “segundo penso, está condenada toda e todos a uma morte violenta.”
Pedro Augusto está enclausurado em seu camarote, quando, a 18, os depostos
avistam solo brasileiro pela última vez, na altura de Fernando de Noronha. Lançam
mensagem de adeus, amarrada à pata de uma pomba. Não notam as asas cortadas do
pássaro que, diante dos monarquistas consternados, se afoga no mar.
Nota explicativa:
Para a reconstrução de cada uma das histórias acima me vali precipuamente de fontes
primárias: notícias de jornal, depoimentos, diários e memórias de contemporâneos, bem como
de narrativas dos acontecimentos produzidas pelos próprios atores logo após os eventos.
Subsidiariamente, recorri a histórias, biografias e reconstruções de especialistas. Desse material
vieram as citações de falas e documentos que estão entre aspas. Na impossibilidade de indicar
em notas a origem de cada uma das informações utilizadas, indico abaixo, em numerais, diante
de cada referência, as histórias em que cada uma das publicações foi mais aproveitada. Para as
notícias de jornal não usei desse procedimento porque elas foram utilizadas na composição de
praticamente todas as histórias.
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A Federação, 16 de novembro de 1889
A Tribuna 13,14,15,16 e 17 de novembro de 1890
Cidade do Rio, 15 de novembro de 1889
Correio do Povo, 16 de novembro de 1889
Correio Paulistano, 29 de novembro de 1889
Diário do Comércio, 16 de novembro de 1889
Diário de Notícias, 15 de novembro de 1889.
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Diário Popular, 15 de novembro de 1889.
Gazeta de Notícias, 26 de julho de 1889; 14,15, 16, 18, 19, 20,21 de novembro de 1889; 10 de
janeiro de 1890; 15,16,17,18,19,20/11/1890
Gazeta da Tarde, 13, 15, 16, 18, 19, 20 de novembro de 1889; 15 e 17 de novembro de 1890
Jornal do Commércio, 14,15,16,17,18 e 19 de novembro de 1889; 14,15 e 16 de novembro de
1890
Novidades, 15 de novembro de 1889
O País, 16; 17;18;20;21;22 de novembro de 1889; 14,15 e 16 de novembro de 1890.
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