transformação e comercialização da agricultura urbana
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transformação e comercialização da agricultura urbana
Primeira edição fevereiro 2003 No. 9 ORIENTAÇÕES PARA A FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS MUNICIPAIS PARA A AGRICULTURA URBANA s il Bra , – Quatro bons motivos que destacam a importância da Agricultura Urbana A fome aumenta Na América Latina, em menos de 30 anos, o número de pessoas que vão dormir com fome teve um aumento de 20% , perfazendo um total de 60 milhões de pessoas. Alimentar toda a população é uma meta que todas as cidades tem o dever de alcançar. Medicina natural ao alcance de todos Os resíduos e águas tratadas em prol da saúde alimentar Apenas 2% dos resíduos produzidos nas cidades da região são tratados adequadamente. Milhares de metros cúbicos de águas residuais são desperdiçados ou tratados a um custo muito elevado. Todavia podem transformar-se em excelentes fontes de adubo, água para irrigação e também complemento alimentício animal. Emprego de baixo custo e geração de renda A Agricultura Urbana (AU) gera empregos cujo custo de investimento é muito baixo em relação a custos estimados para outros setores produtivos. Criar emprego em AU custa menos de 500 dólares, e seu investimento pode ser recuperado com microcréditos. Estes beneficios nas áreas de alimentação, saúde, ambiente e criação de empresas explicam porque cada vez mais municipios querem desenvolver e modernizar seu agricultura urbana. Uma das formas mais inovadoras para gerar renda e criar novos empregos é agregar valor à produção da Agricultura Urbana (AU), a partir do processamento e comercialização. De cada US$ 100 que um consumidor paga por um na r ug produto agro-pecuário –B ura s o ção industrializado: US$ 23 vão para urad de um a a g r oi n d ú s tri a , D o quem vende os insumos, US$ 27 para quem comercializa, US$ 35 para quem processa, ficando só US$ 15 para o pequeno produtor. Associando os processos de produção, procesamento e comercialização num mesmo núcleo familiar ou associativo, os produtores obtêm maiores preços por seus produtos, melhorando a inclusão social. I O povo gasta de 40% a 60% de seus baixos ganhos com alimentação e quase 15% com saúde e remédios. A produção de plantas medicinais e derivados como infusões, extratos e essências facilitam o acesso a saúde dos mais pobres e excluídos. Desafios il pro duto s P R O V E li a Os programas municipais que buscam impulsionar o processamento e comercialização da AU, devem motivar a participação das instituções e dos produtores urbanos. Junto a isso, é necessário modificar as legislações e as formas de acesso ao capital e comercialização por parte dos mais pobres. Finalmente, debe-se avançar nas instâncias organizadoras de produtores, independentes dos governos, que assegurem a permanência no tempo dos programas implementados. O presente documento aporta orientações para desenvolver programas municipais de agro-industrias para a transformação e comercialização da AU. “A pobreza não pode ser definida como a renda familiar. O que torna uma pessoa pobre ou não, é o nível de exclusão dos bens e serviços essenciais. O conceito de pobreza necessita ser desmonetarizado, com um enfoque menos econômico e mais ético”. rc a s qu e c o m e r c i a liz RO aaP VE A série atual dá orientações é o fruto dos últimos avanços científico-tecnológicos e das práticas inovadoras experimentadas pelas cidades da Região, quais constituem a inspiração a qual os convidamos a compartilhar e enriquecer. ma Boas colheitas urbanas! Y.C. as o dos sí Bra n it á ri il b li c ras in pu oB Pa el TRANSFORMAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DA AGRICULTURA URBANA u Alg ma s Cristovão Buarque, Governador de Brasilia, (1995-1998) SEIS ORIENTAÇÕES PARA A FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS Br as ília –B r a s il A partir do enfoque de transformação e comercialização da AU Agroindústria famili ar d oc ed e s, 1. Desenvolver a motivação 3. Modificar a legislação fiscal e sanitária vigente Antes de iniciar um programa municipal de agroindústrias, é necessário desenvolver a motivação dos atores que participarão no mesmo. As normativas que regulam a inspeção sanitária e as leis fiscais para os programas municipais de agroindústrias são, iguais aos do sistema financeiro formal, excludente. Conseguir a aprovação de uma normativa facilitadora supõe envolver o Conselho ou a Câmara Municipal estabelecendo por ex. novas normas para a elaboração, embalagem e empacotamento de produtos processados em pequena escala, facilitando o acesso a serviços de controle sanitário e reestruturando o sistema dos impostos tributários. A implementação de programas de processamento e comercialização, com inclusão social supõe um importante nível de inovação tanto para os técnicos e produtores como para os tomadores de decisões. Motivação institucional Esta se promove dando a maior quantidade de informação sobre o programa; vislumbrando, por exemplo, o respaldo do governo; difundindo-o em programas de radio, televisão e imprensa; e organizando eventos sociais para cada fase do programa. ús tria do P ROVE n o B r a s il Motivação dos produtores urbanos excluídos É alcançado mostrando-se as vantagens e resultados esperados do programa, incentivando produtores a associarem-se, organizando intercâmbios entre produtores e suas agroindústrias. U gr ma a oin d 2. Assegurar mecanismos de obtenção de crédito Este aspecto é crucial se trabalha com produtores urbanos excluídos dos sistemas de crédito formal, com rendas inferiores ao salário mínimo e localizado abaixo da linha de pobreza e/ou indigência. Distintas experiências demonstram que o microcrédito é uma boa estratégia de financiamento para o processamento e comercialização da AU. (Ver série de orientações 4). 4. Implementação de agroindustrias Com a legislação aprovada e os recursos disponíveis, é possível implementar projetos de pequenas agroindústrias de hortaliças préprocessadas, embutidos, produtos lácteos, etc. Foram identificadas formas diferentes para esta implementação: Construção das agroindustrias É necessário contar com o apoio municipal para a construção da infra-estrutura das agroindústrias. Isto pode outorgar-se através de microcréditos ou subsídios. Em Brasília (Brasil), o Programa de Verticalização da Pequena Produção (PROVE) desenhou uma planta tipo de aprox. 37 m2 a qual inclui uma área aberta para recepção, um banheiro para o pessoal, uma sala de processamento adaptada aos diferentes produtos a serem processados e um depósito (custos entre $ 2.000-4.500). A agroindústria satisfaz todas as exigências de higiene e funcionamento. Capacitação e treinamento É necessário desenvolver processos de capacitação e treinamento fazendo com que o produtor: a) melhore seu nível de produção e processos de transformação, b) oriente sua comercialização e mercado (por ex. realizando visitas a supermercados), c) identifique as vantagens de estar associado a um grupo, d) melhore a higiene e manipulação dos alimentos e, e) melhore a gestão da pequena agroindústria. Em Camilo Aldao (Argentina), a Prefeitura desenvolveu com a associação de produtores de AU, uma marca própria chamada HOCA (Hortaliças Orgânicas de Camilo Aldao). Bra s íli a – Bra s il 6. Acompanhamento permanente e promoção da organização Um dos maiores riscos identificados nos programas municipais de AU é sua excessiva dependência de certa administração municipal (apoio financeiro, técnico, etc). Além disso, sua implementação gera novas necessidades para os pequenos produtores que podem ser cobertas de forma conjunta. O desenvolvimento de instancias organizadoras comuns (cooperativas) permite a promoção do trabalho associativo contribuindo a sua sustentabilidade. O PROVE (Brasília, Brasil) conformou a Associação de Produtores do PROVE (ASPROVE), uma associação civil sem fins lucrativos, que incorpora os pequenos produtores vinculados ao programa, para facilitar entre outras coisas, a compra de insumos e a comercialização de forma associada. Ao mesmo tempo, fundaram a ONG APROVE para apoiar as ações do ASPROVE, sem ter que depender de um apoio político específico. ç Com erc ial iz a 5. Melhorar a comercialização As pequenas agroindústrias produzem doces, conservas, frangos, ovos, pães e muitos outros s, do Em Quito (Equador), o Programa Municipal de Agricultura Urbana (AGRUPAR), elaborou uma metodologia que permite desenhar, de forma participativa, a logo-marca de cada agroindústria incorporando al processo o ponto de vista do produtor. Em Brasília (Brasil), o Governo Federal estabeleceu convênios com grandes cadeias de supermercados, assegurando assim espaços privilegiados de comercialização para as pequenas agroindústrias, através dos Quiosques do Produtor. rca Estrategia de promoção Não é fácil para o pequeno produtor promover seus próprios produtos. As estratégias de promoção incorporam: chegar a feiras de bairros e comerciais, propaganda através imprensa, uso de folhetos, etc. Mesmo assim, é importante criar marcas próprias e comuns, fáceis de serem reconhecidas pelo público. A participação dos produtores na criação do desenho aporta identidade e sentido de pertinência ao programa. rme Em Havana (Cuba), foram instaladas Lojas do Agricultor em bairros diferentes da cidade. Nestas lojas, os agricultores urbanos podem conseguir equipamento, sementes, fertilizantes naturais e bio-preparados em pequenas quantidades e a preços baixos. Além disso, as lojas oferecem assistência técnica. Venda em supe Assegurar a disponibilidade de insumos Tanto a escala de produção como o capital de giro que dispõem os pequenos produtores urbanos os impede de adquirir insumos em pequenas quantidades, de boa qualidade e a preços razoáveis. Os programas municipais devem estabelecer mecanismos de compras coletivas, fracionamento e venda por unidade em lojas especializadas para que os produtores possam adquirir utensílios, embalagens, etiquetas, pequenas máquinas, etc. produtos de excelente qualidade. Ainda a comercialização se converte num “gargalo de garrafa”, já que em muitos casos se exigem embalagens atrativas, etiquetas profissionais, código de barras e garantias de qualidade ou inspeção. É necessário identificar distintos níveis para a comercialização: a) pontos próximos: casa a casa, mercados nos bairros, feiras, cantinas escolares, etc., b) pontos intermediários como: cadeias de armazéns, auto-serviços e pequenos supermercados, e c) pontos distantes como: as grandes cadeias de supermercados. Os programas devem desenvolver estratégias aptas para cada espaço de mercado. ão de pro duto s em pacotados, Quito – Equa d or “Deixam de ser, em sua maioria, donas de casa ou empregados, e passam a ser empreendedores e sentir-se como tal, ou seja, indivíduos que conseguiram vislumbrar com maior clareza, na mesma lógica do contexto que até esta data os havia excluído”. TRANSFORMAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DA AGRICULTURA URBANA No. 9 O presente documento foi elaborado a partir de um Texto Base redigido por João Luiz Homem de Carvalho (Diretor APROVE) João Luiz Homem de Carvalho. Diretor APROVE. Brasília, Brasil. Editado por: Marielle Dubbeling e Alain Santandreu (IPES/PGU-ALC) Bibliografia seletiva: Revisão de texto: Nancy Sánchez y Mónica Rhon D. González, Mario. Institucionalização da agricultura urbana na Cidade de Havana. Ministério de Agricultura. Havana, 2000. (www.pgu-alc.org) Assessoria de comunicação e desenho: Roberto Valencia (Zonacuario) Este Documento Político faz parte de uma serie de 9 orientações que resumen diferentes temas relacionados com a Agricultura Urbana (AU): Homem de Carvalho, João Luiz. PROVE: “Programa de verticalização da pequena produção familiar”. APROVE, CIID, IPES, PGU-ALC/UN-HABITAT. Em: Cadernos de Trabalho 83. Quito, 2000. (www.pgu-alc.org) 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. AU: motor para o desenvolvimento municipal sustentável AU e participação cidadã AU: gestão territorial e planejamento físico Microcrédito e investimento para a AU Aproveitamento de resíduos orgânicos em AU Tratamento e uso de águas residuais em AU AU: uma oportunidade para a equidade entre mulheres e homens 8. AU e soberania alimentar 9. Transformação e comercialização da AU Terrile, Raúl e Mariani, Silvana. Análise de políticas públicas de agricultura urbana em Camilo Aldao (Argentina) no marco de um desenvolvimento local sustentável. Intendência de Camilo Aldao. Camilo Aldao, 2000. (www.pgu-alc.org) Governo do Distrito Federal. Legislação do Distrito Federal para inspeção de produtos de origem animal e vegetal. Brasília, 1998. ([email protected]) Toda a série se encontra disponível na página Web do Programa de Gestão Urbana: www.pgualc.org Contatos dos casos mencionados: O trabalho foi coordenado e financiado pelo Centro Internacional de Pesquisas para o Desenvolvimento (CIIDCanadá), o Programa de Gestão Urbana para América Latina e Caribe (PGU-ALC/UN-HABITAT, Equador) e IPES, Promoção do Desenvolvimento Sustentável (Perú) Evelio González Sánchez. Director. Diretor Consultor de Lojas Agropecuárias. Município Cerro, Havana, Cuba. Tel: (53-7) 785835. E-mail: [email protected] João Luiz Homem de Carvalho. Diretor APROVE. E-mai: [email protected] / [email protected] César Jaramillo. Coordenador do Programa AGRUPAR. Direção Metropolitana de Desenvolvimento Humano Sustentável. Município do Distrito Metropolitano de Quito, Equador. Tel: (593 2) 2 583 285 / 2 289 214. E-mail: [email protected] Esp a ços d e v e n d a f a c ilit a d o Teresa Sunde. Coordenadora do Programa de Agricultura Urbana. Intendência Municipal de Camilo Aldao, Córdoba, Argentina. Tel: (54 3468) 461 260 / 461 649. E-mail: [email protected] ; [email protected] Centro Internacional de Pesquisas para o Desenvolvimento 250 Albert St, PO Box 8500 Ottawa, ON, Canada K1G 3H9 Tel.: (613) 236-6163, ext. 2310 Email: [email protected] www.idrc.ca/cfp Promoção do Desenvolvimento Sustentável s pe Calle Audiencia Nº 194, San Isidro Apartado Postal 41-0200 Tel.: (51 1) 440-6099/ 421-6684. Email: [email protected] lo m un i cíp io, Cue nca – Equad Programa de Gestão Urbana or Escritório Regional para América Latina e Caribe García Moreno 751 entre Sucre y Bolívar Fax: 593-258 39 61 / 228 23 61 Email: [email protected] www.pgualc.org