aproveitamento de resíduos orgânicos na agricultura urbana
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aproveitamento de resíduos orgânicos na agricultura urbana
Primeira edição fevereiro 2003 No. 5 ORIENTAÇÕES PARA A FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS MUNICIPAIS PARA A AGRICULTURA URBANA iti duo s sã o um p r o bl e m a , C a p ien H ait -H a Quatro bons motivos que destacam a importância da Agricultura Urbana Desafios A fome aumenta Na América Latina, em menos de 30 anos, o número de pessoas que vão dormir com fome teve um aumento de 20% , perfazendo um total de 60 milhões de pessoas. Alimentar toda a população é uma meta que todas as cidades tem o dever de alcançar. Medicina natural ao alcance de todos O povo gasta de 40% a 60% de seus baixos ganhos com alimentação e quase 15% com saúde e remédios. A produção de plantas medicinais e derivados como infusões, extratos e essências facilitam o acesso a saúde dos mais pobres e excluídos. Os resíduos e águas tratadas em prol da saúde alimentar Apenas 2% dos resíduos produzidos nas cidades da região são tratados adequadamente. Milhares de metros cúbicos de águas residuais são desperdiçados ou tratados a um custo muito elevado. Todavia podem transformar-se em excelentes fontes de adubo, água para irrigação e também complemento alimentício animal. Emprego de baixo custo e geração de renda A Agricultura Urbana (AU) gera empregos cujo custo de investimento é muito baixo em relação a custos estimados para outros setores produtivos. Criar emprego em AU custa menos de 500 dólares, e seu investimento pode ser recuperado com microcréditos. Estes beneficios nas áreas de alimentação, saúde, ambiente e criação de empresas explicam porque cada vez mais municipios querem desenvolver e modernizar seu agricultura urbana. As cidades da região da América Latina e Caribe geram quantidades de resíduos cada vez maiores. Freqüentemente sua disposição final é realizada em esgoto a céu aberto ou fontes de água constituindo um grave pro-blema para a Mi ru saúde pública e ambiental. O cro Pe , a e m pr volume elevado de resíduos supõe , Li m esa d e c ole ta d e r e síd u o s importantes custos de coleta e disposição final. É necessário definir um marco legal para a gestão ambiental e planificação urbana que incorpore a gestão integral de resíduos sólidos, buscando formas sustentáveis de investimentos e recuperação de custos. A produção de Resíduos Sólidos Orgânicos (RSO) na América Latina e no Caribe variam entre 30% e 60%, podendo ser utilizados na Agricultura Urbana (AU). Ainda há muita desinformação e falta de participação entre os moradores e autoridades municipais para a implementação de sistemas de reciclagem e aproveitamento dos RSO. Por isso é imprescindível fomentar a educação ambiental e a participação cidadã, e desenvolver tecnologias apropriadas para incentivar o tratamento e aproveitamento. O presente documento aborda orientações para fomentar o tratamento e aproveitamento dos RSO na AU. “Deve-se aprofundar e validar as técnicas de aproveitamento dos resíduos sólidos na AU; capacitando os/as agricultores/as urbanos nas técnicas do uso e reciclagem; educando a comunidade na seleção direta na fonte (educação formal e nãoformal); e propiciando a elaboração de normas em nível dos governos locais e nacionais para promover e regular esta atividade”. r org â nic os para a A U, o, Q uit Equ A série atual dá orientações é o fruto dos últimos avanços científico-tecnológicos e das práticas inovadoras experimentadas pelas cidades da Região, quais constituem a inspiração a qual os convidamos a compartilhar e enriquecer. a esí do O sr APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS ORGÂNICOS NA AGRICULTURA URBANA os Boas colheitas urbanas! Y.C. A p r o v e it a n d re o os síd u Declaração de Quito, assinada por 40 cidades. Quito, Equador. Abril 2000. CINCO ORIENTAÇÕES PARA FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS id é u, Uru g u ai A partir do enfoque da gestão de resíduos orgânicos na AU 1. Incorporação da gestão integral de RSO na organização territorial org ân ic o s, M ontev A separação a partir da fonte, o tratamento e aproveitamento de RSO deve fazer parte de um marco legal e normativo coerente e facilitador, que busque sua integração no planejamento físico. C ri a ç ã o d e p o r c o s c om íd res uo s Dentro dos planos e zoneamento municipal, se devem vincular os espaços para a reciclagem de RSO para as áreas de geração, disposição ou uso final (como parques ou zonas agrícolas). (Ver (Ver série de orientações 3) Formas de integração espacial Para conseguir isso é necessário: • Vincular o tratamento e uso a separação e uso na fonte (sistemas domiciliares de compostagem para as hortas familiares). • Estabelecer usinas de tratamento ambiental seguras próxima de estações de transferência ou áreas de disposição final de resíduos. • Em Montevidéu (Uruguai), a Intendência Municipal se encontra analisando a possibilidade de re-posicionar os produtores de porcos atualmente localizados em assentamentos irregulares densamente povoados, em zonas periurbanas e rurais, situadas próxima das estações de resíduos. Os estudos incluem propostas de mecanismos efetivos e seguros para a provisão de alimentos e a comercialização. mb ric u lt u ra, To m é , C h il e • Reciclar os RSO nos espaços próximos ou dentro de zonas verdes ou de produção agropecuária. P r a ti ca l de o 2. Separação a partir da fonte A separação na fonte dos RSO poupa gastos de transporte, aumenta a vida útil dos sistemas de tratamento sanitários e facilita o aproveitamento dos resíduos orgânicos. A educação ambiental e a sensibilização cidadã permitem incorporar à população nestes processos. Faz-se necessário dar ênfase especial em: Implementar estratégias de comunicação e educação As mesmas devem motivar a participação cidadã e serem implementadas de forma permanente, dentro de um marco claro de políticas e estratégias municipais. Em Camilo Aldao (Argentina), o Ecoclub e as escolas participaram do processo de educação e sensibilização da população, que permitiu reciclar 80% dos RSO gerados no município para compostagem. Desenvolver programas e campanhas municipais de coleta e reciclagem Estas campanhas têm que promover a separação na fonte incorporando os lares urbanos, centros educativos, hospitais, industrias, hotéis, comércios, mercados, etc. Em Porto Alegre (Brasil), a prefeitura iniciou um programa piloto de criação de porcos com RSO separados na fonte que, através da educação ambiental, envolveu escolas, hotéis, feiras e restaurantes. 3. Desenvolvimento de tecnologias apropriadas Para facilitar o aproveitamento dos RSO, os municípios deverão promover tecnologias apropriadas, de baixo custo e compatível com o ambiente e as diferentes atividades produtivas: Aproveitamento produtivo de RSO para compostagem Através de processos de compostagem, os RSO podem ser usados para a produção agrícola e a manutenção de áreas verdes. Em Tomé (Chile), foi implementada uma Usina de Utilização Produtiva de Resíduos Orgânicos Domiciliares. O composto gerado é usado como fertilizante na AU e jardinagem. A Prefeitura entrega parte do composto a famílias de recursos escassos para produção de hortaliças. Aproveitamento produtivo de RSO para alimentação de animais Uma vez tratados adequadamente, os RSO podem transformar-se numa excelente fonte de alimentação animal (criação de porcos, piscicultura). Para tornar viável o uso das distintas tecnologias é necessário determinar o custo/benefício de execução dos projetos prioritários que permitam um melhor aproveitamento dos RSO para a AU. Contabilizar aportes monetários Em primeiro lugar, é importante estabelecer e tornar visíveis os aportes da gestão dos RSO em termos monetários (custo/benefício), por exemplo: • Contabilizando os empregos criados; • Reciclando o orgânico, baixam-se custos de coleta e disposição final; • Diminuindo os custos de produção ao utilizar adubos orgânicos em lugar de agro-químicos; tag 4. A geração de recursos Em Quito (Equador), a micro-empresa de compostagem firmou um convenio com o Departamento Municipal de Saúde e Jardins para garantir a venda de sua produção, a ser utilizadas nas áreas verdes municipais. Contar com um ganho seguro os facilitou o acesso a um microcrédito e a geração de emprego para 7 famílias. pos Em Cuba, o Ministério da Agricultura é o órgão encarregado de fixar as políticas para a AU. Implementam-se 2 subprogramas denominados “Matéria Orgânica” e “Alimento Natural” que buscam entre outras coisas “aproveitar todas as fontes locais de alimentos para a alimentação animal, como resíduos de colheitas de hortaliças e frutas, sementes de plantas leguminosas, subprodutos de aqüicultura, residuais das oleaginosas (e.g. amendoim, soja) e outros cultivos”. Promover o desenvolvimento das microempresas Deverá ser promovido o desenvolvimento de microempresas de limpeza ou reciclagem, como uma forma de gerar a auto sustentabilidade financeira. co m U sin a d e Nos assentamentos irregulares de Montevidéu (Uruguai), se pratica a criação de porcos com RSO domiciliares. A Faculdade Veterinária da Universidade da República está desenvolvendo uma tecnologia de baixo custo para seu tratamento com o fim de eliminar agentes patógenos. Em Porto Alegre (Brasil), 16 criadores de porcos agrupados na Associação de Porcicultores se beneficiaram de um programa financiado com o Orçamento Participativo. A Prefeitura realizou a coleta dos RSO, seu tratamento e transporte para um centro de distribuição e entregou a cada criador 6kg de alimentos tratados para animais. em ,C ami 5. A gestão supra-municipal Considerando-se a anterior, muitos municípios pequenos e médios necessitam das condições financeiras, técnicas e de infraestrutura, que lhes permita dar uma resposta adequada à coleta e disposição final dos RSO. A criação de consórcios ou instâncias supra-municipais permitem unir forças desenhando em conjunto sistemas integrados. No Haiti, as Prefeituras de Cap Haïtien, Acul du Nord, Limonade, Milot y Plaine du Nord se uniram criando três instancias supra-municipais: • Tomada de decisões: composta pelos cinco prefeitos e um assessor técnico de uma ONG local (GTIH) onde se desenham as estratégias de intervenção conjunta e se decide o orçamento. mp sa re • Sensibilização, motivação e conscientização: composta por diversas comissões em cada município que garantem a sinergia comunitária, a sensibilização e educação cidadã. roe Co-financiar o custo dos projetos O setor público e privado tem um papel importante no financiamento da gestão integral de RSO, devendo definir mecanismos de acesso à microcréditos que assegurem a inclusão social e outorgando subsídios e incentivos à empresa privada e/ou aos/as produtores/as, como forma de apoio às suas iniciativas. M ic • Reduzindo o risco (e os custos relativos) para a saúde pública, diminuindo a contaminação ambiental através de redução do volume de resíduos. • Execução: composta por 16 membros representantes da sociedade civil, o governo local e assessores técnicos que reforçam o acordo de atores para a coleta. de rec icla gem , Li m a. Peru lo A ld a o , A r g e n ti n a “Facilitemos a produção de alimentos dentro do perímetro urbano, aplicando métodos intensivos, levando em conta à relação homem-cultivo-animalmeio ambiente e as facilidades da infraestrutura urbanística que propiciam a estabilidade da força de trabalho e a produção diversificada de cultivos e animais durante todo o ano, baseando-se em praticas sustentáveis que permitem a reciclagem dos refugos”. APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS ORGÂNICOS NA AGRICULTURA URBANA No. 5 O presente documento foi elaborado por Dante Flores (IPES) Revisão de texto: Nancy Sánchez y Mónica Rhon D. Assessoria em comunicação e desenho: Roberto Valencia (Zonacuario Grupo Nacional de Agricultura Urbana, Cuba. Bibliografia seletiva: Flores, Dante. “Guia para realização de estudos de geração e caracterização de resíduos sólidos”. Guia Prático Nº1. Serie Guias para a gestão de resíduos sólidos na América Latina e Caribe. Lima, 2002. () Flores, Dante. “Guia para aproveitamento de resíduos sólidos orgânicos”. Guia Nº 2 Em: Guia para a gestão de resíduos sólidos na América Latina e Caribe. Lima, 2002. () Flores, Dante. “Promovendo Microempresas de gestão ambiental”. Guia Prático Nº 3. Em: “Guias para a gestão de recursos sólidos na América Latina e Caribe”. Lima, 2002. (www. Ipes. org). Santandreu, Alain; Castro, Gustavo y Ronca, Fernando. “A criação de porcos em assentamentos irregulares” Em: Revista Agricultura Urbana Nº 2. Quito, 2001. () Este Documento Político faz parte de uma serie de 9 orientações que resumen diferentes temas relacionados com a Agricultura Urbana (AU): 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. AU: motor para o desenvolvimento municipal sustentável AU e participação cidadã AU: gestão territorial e planejamento físico Microcrédito e investimento para a AU Aproveitamento de resíduos orgânicos em AU Tratamento e uso de águas residuais em AU AU: uma oportunidade para a equidade entre mulheres e homens 8. AU e soberania alimentar 9. Transformação e comercialização da AU Toda a série se encontra disponível na página Web do Programa de Gestão Urbana: www.pgualc.org O trabalho foi coordenado e financiado pelo Centro Internacional de Pesquisas para o Desenvolvimento (CIIDCanadá), o Programa de Gestão Urbana para América Latina e Caribe (PGU-ALC/UN-HABITAT, Equador) e IPES, Promoção do Desenvolvimento Sustentável (Perú) Contatos dos casos mencionados: Eugeneo Fuster. Encarregado do Ministério da Agricultura para a Cidade de Havana, Cuba. Tel.: (53 7) 451 646. e-mail: [email protected] Centro Internacional de Pesquisas para o Desenvolvimento 250 Albert St, PO Box 8500 Ottawa, ON, Canada K1G 3H9 Tel.: (613) 236-6163, ext. 2310 Email: [email protected] www.idrc.ca/cfp César Jaramillo.Coordenador do Programa AGRUPAR. Direção Metropolitana de Desenvolvimento Humano Sustentável. Município do Distrito Metropolitano de Quito, Equador. Tel. : (593 2) 2583 285 / 2289 214. e-mail: [email protected] Promoção do Desenvolvimento Sustentável Calle Audiencia Nº 194, San Isidro Apartado Postal 41-0200 Tel.: (51 1) 440-6099/ 421-6684. Email: [email protected] o nte , Po rt o Fernando Ronca. Unidade de Montevidéu Rural. Intendência Municipal de Montevidéu, Uruguai. Tel: (598 2) 901 3451. e-mail: [email protected] pa fS Departamento Municipal de Limpeza Urbana. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Brasil, Brasil. Tel: (55 51) 328 9-6999. e-mail: [email protected] S el e ç ã o n a f Jean Renold. Coordenador do escritório GTIH-CAP, Cap-Haïtien, Haití. e-mail: [email protected] in, Trin i dad Y Tobago Programa de Gestão Urbana Escritório Regional para América Latina e Caribe García Moreno 751 entre Sucre y Bolívar Fax: 593-258 39 61 / 228 23 61 Email: [email protected] www.pgualc.org