Henrique Santos Henrique Santos

Transcrição

Henrique Santos Henrique Santos
MARES
de
SESIMBRA
3 de Agosto de 2014, Ano 1, nº 9
A Informação que conta
Henrique
Santos
Muitas famílias sesimbrenses contam com antepassados vindos de outras
terras, atraídos pelas oportunidades de trabalho que Se-
simbra sempre ofereceu, ao
longo dos séculos, àqueles
que procuravam melhorar a
sua vida. Mas a genealogia
de Henrique Santos é um
João Augusto Aldeia
Mestres de pesca de Sesimbra
Director: João Augusto Aldeia
pouco mais dramática: ambos os avós paternos faleceram de febre-amarela e o seu
pai, então com apenas dois
anos, foi acolhido em Sesim-
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bra, por uma tia. O pai fez-se
também pescador, e Henrique seguiu-lhe os passos:
com 1 0 anos, começou a andar ao mar com o pai.
Grupo Coral de
ROTARACT:
transmissão de tarefas
Sesimbra
Concerto de Verão Constança Quinteiro
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Pág. 3
O Grupo Coral de Sesim­
organizou no passado dia
1 9 de Julho um excelente
Concerto de Verão, na capela da Misericórdia de Sesimbra, no qual participaram,
para além dos organizadores, o Coral de Queluz, o
bra
denominado Quinteto de Cla­
rinetes da Botabigband orquestra (numa formação de
quarteto), e o grupo Ensem­
ble Voct. A iniciativa terminou
com um lanche de convívio
Constança Quinteiro realizou ontem, no Clube Sesimbrense,
entre os participantes
Pág. 2 um concerto com o seu Quarteto.
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MARES DE SESIMBRA
3 de Agosto de 201 4
Grupo Coral de Sesimbra
O Grupo Coral de Sesim­
organizou no passado dia
1 9 de Julho um excelente
Concerto de Verão, na capela
da Misericórdia de Sesimbra,
no qual participaram, para
além dos organizadores, o
bra
sentou um reportório variado
e excelentemente executado.
Após o concerto teve
lugar um convívio com
Perante um público que lanche, nas instalações do
enchia a Capela, qualquer Clube Sesimbrense, encerdestes agrupamentos apre- rando-se desta forma a maGrupo Coral de Queluz, o
Quinteto de Clarinetes da Bo­
tabigband orquestra, e o grupo Ensemble Voct.
gnífica época 201 3/201 4 do
Grupo Coral de Sesimbra,
que incluiu o concerto comemorativo do seu 25º aniversário, em Outubro do ano
passado.
O Quinteto de Clarinetes
da Orquestra Botabigband, é
um agrupamento sesimbrense que se apresentou, nesta
actuação, com quatro instrumentistas: um clarinete baixo
(Reinaldo Santos) e três clarinetes soprano (Mariana
Fernandes, Luz Alves, Ana
Luisa Rodrigues). Tocaram
peças de Grudman, Paul
Harvey, Schubert, Lennie Niehaus, Johann Strauss Jr. e
Joly Branga Santos.
O Grupo Coral de Queluz,
cuja existência remonta ao
ano de 1 967, actuou sob a
direcção do Maestro Pedro
Miguel, e executou em
Sesimbra composições de
Eurico Carrapatoso, Sérgio
Peixoto e Javier Busto.
O Ensemble Voct apresentou-se em Sesimbra com
quatro vozes femininas e
quatro masculinas – estre estas, a de Pedro Casanova,
também Maestro do Grupo
Coral de Sesimbra. Os outros
vocalistas foram: Helena Neves, Sofia Vitória, Marta Garrett, Joana Castro, Gerson
Coelho, Mário Ribeiro e Gonçalo Gouveia.
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MARES DE SESIMBRA
Henrique Santos
Muitas famílias sesimbrenses contam com antepassados vindos de outras terras, atraídos pelas oportunidades
de trabalho que Sesimbra sempre ofereceu, ao longo dos
séculos, àqueles que procuravam melhorar a sua vida. Mas
a genealogia de Henrique Santos é um pouco mais
dramática: ambos os avós paternos faleceram de febreamarela e o seu pai, então com apenas dois anos, foi
acolhido em Sesimbra, por uma tia: Angelina, casada com o
pescador Manuel da Graça. O pai fez-se também pescador,
e Henrique seguiu-lhe os passos: com 1 0 anos, logo que
fez a 4ª classe, começou a andar ao mar com o pai.
Uma vida na pesca em que acabou por chegar a
Mestre, actualmente no barco VARAMAR, da pesca do
peixe espada-preto. Mas, pelo meio, desempenhou durante
muitos anos a profissão de maquinista de bordo.
Passar para maquinista, foi
uma opção tua?
Foi. Eu gostava de mecânica e depois é assim: é a
necessidade, porque eu, com
a 4ª classe não podia ir muito
além, para ganhar mais algumU Naquele tempo, os
Mestres, ou eram genros de
Mestres, ou filhos de Mestres. Eu nem era genro nem
era filho de Mestre, tive que
optar por outra coisa. Qual
era a outra coisa? Era a que
dava mais trabalho, onde nos
sujamos mais, que é ser maquinista.
mais tarde voltei a andar com
o meu pai, e depois, com 1 6
anos, fui para moço de mar
dum barco que era o
MESTRE DE AVIS, com o
meu compadre, que é o
actual mestre do PARMA
[João Manuel Conceição], fomos os dois moços. Ele foi
para camarada, e eu para
ajudante de motorista. A partir daí comecei a trabalhar
com motores e tirei a carta
Depois, passados dois
anos, salvo erro em 1 978, fui
andar para o barco do Emiliano, para motorista principal,
até ir para a tropa. Quando
vim da tropa ele tinha um
barco grande a fazer, um barco com trinta metros, e eu
continuei nesse barco.
Depois saí, andei com um
primo meu aos polvos, mas a
vida era totalmente diferente.
Entretanto eu casei, o meu
pai faleceu. A minha mãe, a
minha irmã, a minha mulher,
o meu filho, eramos cinco
pessoas, voltei novamente lá
para fora com o Manuel José
Pólvora (Salta à Vara), num
barco que ele comprou.
Henrique Santos na ponte de leme do VARAMAR.
se num barco – mas ele não
tinha nada a ver com barcos,
era dono de uma empresa,
Pedro & Mantovani – era como um irmão.
Era o Serginho?
nho um primo que é comandante da Marinha, agora já
reformado, e o meu avô, os
irmãos do meu avô, todos
eles eram chefes de máquinas. Eu, embora não fosse
chefe, tinha a 4ª classe, mas
tinha a carta de primeiro [motorista], e embarquei. Fiz uma
vagem, estive no Brasil, no
Japão, na Coreia, na Austrália.
O Serginho! Era como um
irmão. E o pai pediu-me para
ir governar um barco, fui para
os Açores com um barco deles. Depois houve lá uma
chatice com o outro sócio,
compraram outro barco, que Isso em que altura foi?
Não foste moço de terra?
levámos para lá.
Em 1 989. Em 1 989 passei
Trabalhei pouco tempo
a passagem de ano, de 89
como moço de terra, só a
Qual era o nome desses
para 90, na Austrália. Tive um
ajudar, nas férias da escola.
barcos?
acidente, fui operado no JaE assim que fiz a 4ª classe, a
O primeiro foi o pão. Tinha um filho, na altura
minha vontade era andar ao
NORMANDIA. E o segundo com cinco anos, e eu comemar. Fui com o meu pai, nufoi o SIRIUS. Era da Figueira cei a ver: quando se vem de
ma aiola que ele tinha. Deda Foz, fui eu lá fazer o ne- uma viagem daquelas, seis
pois um tio meu, em conjunto
gócio, depois foi lá o Sérgio meses, depois o miúdo já não
com o meu pai, compraram
comigo fechar a compra.
liga ao pai. Eu telefonava
uma barquinha, e andei nesconstantemente, e a minha
sa barquinha, aos 11 anos.
Portanto,
a
tua
primeira
mulher dizia [ao filho] “olha o
Andavam aos polvos, aos rofunção como mestre foi no teu pai telefonou” – “Ah! Não
balos, e também ao aparelho,
NORMANDIA?
quero saber!” E aquilo custouconsoante: de Inverno andaSim,
no
NORMANDIA. A me um bocado, e já não emvam mais ao aparelho, de
partir daí, voltei a andar lá fo- barquei mais [na Marinha
Verão andavam aos robalos. De que ele era mestre?
andei no PORTO MAR, Mercante].
Era mestre e armador, e ra,
Passados dois anos deso João Manuel ConceiDepois andei com o João
mancharam a pareceria e eu fui para motorista dele. De- com
ção.
Manuel
Conceição na Coopefui andar com um tio meu, pois houve um amigo meu
Depois
fui
trabalhar
com
rativa,
no
MIL DIAS, onde
que era o Manuel da Carne, que me pediu, o pai meteu- uma empresa espanhola, no cheguei a governar.
Era pricomo moço de mar. Depois
VINHO MADEIRA: era uma meiro maquinista, e quando
empresa que ia construir seis ele estava doente, ou ia para
barcos, e eu era primeiro o outro barco, cheguei a fazer
motorista e fui experimentar algumas viagens como meso barco. Cada barco daque- tre do MIL DIAS. No ZIMBRA
les era um congelador. Levei PESCA também ainda fiz, fez
o barco para a Guiné, estive- ele metade da viagem, depois
mos no Senegal – na pesca veio à terra a uma festa da
do espadarte. Mas realmente minha afilhada (a filha dele) e
aquilo não deu, e o armador eu fiz o resto da viagem.
acabou por não querer os
Depois daí vim trabalhar
barcos. Ainda acabaram três, para o Manuel José Pólvora,
depois venderam aquilo ao num barco, em que nos deu
desbarato.
sociedade, a mim e ao João
Eu, entretanto já estava Manuel, o MAR E PESCA,
saturado, não quis vir aqui esse que passados uns anos
para a pesca e fui para a Ma- foi ao fundo. Aquilo ao princírinha Mercante, as minhas pio não estava a correr muito
Henrique Santos, à esquerda, a preparar o aparelho de pesca, raízes estão lá. Da minha fa- bem.
com outros camaradas, a bordo do MIL DIAS.
mília da parte do meu pai: te-
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MARES DE SESIMBRA
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Pescavam o quê?
Peixe-espada branco. Depois as coisas não estavam a
correr muito bem, mudámos
para o espadarte, tínhamos
outro barco que andava ao
peixe-espada preto, ia eu ao
peixe-espada preto, ficou o
João Manuel ao espadarte.
Mas havia dificuldade de
companhas: no peixe-espada
preto estava bom, na altura,
mas com dificuldade em
arranjar companhas: o espadarte não estava a dar muita
coisa, estava fraco.
Optámos por abater um
barco, e eu passei para o outro, para dar uma ajuda ao
João Manuel. Continuámos
com o barco do espadarte,
só que aquilo correu mal, são
coisas da vida, por vezes as
coisas correm mal. O João
Manuel depois aborreceu-se,
e saiu, depois peguei eu no
barco, só que não foi ao espadarte: peguei aos tubarões, profundidade.
Andei uns doze anos ali,
a coisa felizmente foi correndo bem, umas vezes melhor,
outras menos bem, mas
pronto. Correu razoavelmente, até que houve uma altura
em que começaram a dar
cortes nas quotas, tivemos
que parar.
Que espécies pescavam?
Carocho, e lixas.
As quotas proibiram essa
pesca, ou tornaram-na comercialmente inviável?
Agora proibiram. Está
proibida já há dois anos.
E depois mudámos a vida, para o peixe-espada preto, foi nessa altura que
aconteceu o acidente, já andávamos já há uns meses ao
peixe-espada preto.
Depois passei para o outro barco do Manuel José –
que ele ainda tinha a intenção de comprar outro barco e
eu já não estava para isso –
que é o VARAMAR, que anda agora ao peixe-espada
preto.
gir uma companha: como é
que se aprende isso?
Isso é o mais importante.
E nos cursos ensina-se isso?
Eu penso que não. Não
há muito tempo, disse a um
rapaz que trabalha comigo:
fica sabendo uma coisa: é
mais difícil comandar homens do que governar um
barco, e cada vez está mais
difícil.
Antigamente, aqui há uns
anos – não quer dizer que
fossem todos, mas alguns –
falavam de qualquer maneira: “Vai-te embora, para o teu
lugar há dez”.
Hoje não é assim, hoje dificilmente aparece um, e as
pessoas têm que ser humanas e saber conversar, e as
pessoas gostam destas coisas, não é estar a rebaixarnos, mas é lidar com as pessoas como elas são.
Ainda agora, estava na
Doca, veio um tripulante
meu, Senegalês, veio de Setúbal, veio cá buscar o dinheiro da parte, e ele coitado
ia apanhar a camioneta, eu
levo-te à vila” – “Ah, está
bem!” – Fui pô-lo a Setúbal!
São estas pequenas coisas
que marcam um bocado. Isto
não se aprende. Já nasce
connosco. Ou vai-se aprendendo com a experiência,
com os anos. Não é na escola que se aprende isso. Acho
eu. Eu penso que quem é
Mestre, e vai para a escola
de pesca, não aprende estas
coisas. Aprende o básico: trabalhar com a sonda, com radar, com rádio, isso tudo.
Agora, lidar com as pessoas,
nem toda a gente sabe, e cada vez pior.
Há estrangeiros nos barcos, porque há poucos portugueses a querer ir para a
pesca?
Exactamente. Temos muita dificuldade, nos barcos todos.
Dificuldades
na
contratação de estrangeiros.
E eles fazem descontos, mas
não lhes dão o visto para poderem trabalhar a bordo. E
são pessoas idóneas, pessoas do melhor que há. Não cri-
E como está a correr?
O primeiro ano correu lindamente, depois os outros
dois anos já correu pior, as
coisas caíram mesmo no geral, nós ainda sentimos bastante. Este ano também está
a correr mal, agora, nestes
últimos três meses está a
correr um bocadinho melhor,
mas anda por quase metade
das capturas, em relação aos
anos bons. Há uma crise
acentuada.
Um Mestre, além das coisas da navegação, decidir
onde pescar, tem que diri-
Hora da refeição (na foto de cima) e de alar o aparelho, a
bordo do MIL DIAS.
am conflitos, e já andam comigo há uns anos, não bebem, não criam conflitos com
ninguém, cumprem os horários à risca, não têm uma má
palavra, como trabalhadores
é do melhor que há, mas não
lhes dão o papelinho para
eles poderem trabalhar.
Se a pesca não atrai os jovens, será pelas questões
financeiras, ou pelo facto
do trabalho ser duro?
A questão financeira também é um caso. Antigamente
as coisas estavam melhores,
e já houve várias fases de
pessoal com estudos irem
para o mar. Havia falta de trabalho noutros lados.
A pesca sempre deu trabalho, e naquela altura ganhava-se dinheiro, agora já
não se ganha como se ganhava há 20 anos atrás.
Esta malta nova, pode ser
que um dia eles voltem, mas
por enquanto, com aquilo que
se ganha, e com o que se trabalha, vai ser difícil.
O trabalho é um bocadinho duro, mas, prontoU Não
têm férias. Mas acho que as
coisas até poderão vir a melhorar. Oxalá que sim, porque
da maneira como isto está,
com tanta restrição, com tanta coisa, eles só estão a complicar a vida às pessoas, não
só pescadores, como armadores. E as pessoas chegam
a um ponto, aborrecem-se.
Por tudo e por nada são
multas, por tudo e por nada
querem que as pessoas modifiquem os barcos: “Aqui está mal! Aqui tem que levar
uma casa de banho! Aqui tem
que levar uma banheira! Aqui
tem que levar um banco! Aqui
tem que levarU” E as pessoas não ganham dinheiro sufi-
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ciente para fazerem essas al- "Olha, aguentas aí!" (isto às
três, quatro da manhã).
terações que eles exigem.
Quando era de manhã vinha
lá ter. E eu quase nem podia
Não há férias, mas ao loncom os remos, estava ali a
go do ano há paragens?
Há, há paragens. Agora, noite toda. Era a vida!
Hoje já não acontecem
recentemente, parámos uma
semana. É paragem, nin- destas coisas, era um bocaguém ganha nada. Eu tam- dinho duro, naquela altura.
bém não entendo: os barcos
de Peniche: quando param Quer dizer: nem catres havão para o Fundo do Desem- via?
Não. Era em cima das táprego, ganham. Aqui não se
pode. E as pessoas param. buas do porão, onde levava o
Ou têm que ir trabalhar para peixe, porque o peixe ia ao
outro lado. Agora, quando porão, naquela altura. Ia à ré,
parei, veio logo um armador onde levava as selhas, mas
pedir se dava lugar a dois ho- aquilo tinha sempre cheiro,
mens dele. Por acaso o nos- embora lavássemos todos os
so barco também ia parar, dias, mas o trabalho, que era
não pôde ser. Aqui há 1 5 dias o meu trabalho e do outro
atrás, tive um tripulante du- moço, era: quando o barco
rante três semanas, o barco chegava, ia-mos ali para a lodele também estava parado, ta, em frente da Fortaleza, tie fazem assim. Eles coitados rava o peixe depois lavávatambém não podem estar pa- mos as tábuas, isto à tarde.
Lavava, arrumava tudo, às
rados, não ganham.
onze da noite já estava pronpara ir para o mar outra
As condições de trabalho a to
que era pôr as selhas e
bordo evoluíram muito: os vez,
para o mar. Fazíamos cinco
sítios para dormir, ou mes- irlances
por semana.
mo a segurança do traba-
lho melhorou muito.
Sim, está diferente.
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MARES DE SESIMBRA
Agora, quanto tempo é que
estão fora?
Nos Açores, recolhendo um cherne.
IPIMAR e aqui estava pouco
peixe e houve lá uns representantes duns armadores
franceses que disseram que
estavam a apanhar bastante
peixe-espada, naquele ano, e
nós aqui não tínhamos.
Então pensei, pela lógica,
por aquilo que eles disseram,
que se o peixe vem de lá,
passa por aqui, depois vai à
Madeira, tinha esperança que
ele ainda aparecesse.
Passado um mês e tal começou a aparecer peixe-esEm todo o caso, o pesquei- pada e a ArtesanalPesca na
altura, teve que mandar parar,
ro não é propriedade de
o peixe era muito. Foi um sininguém?
Não, não. Só que há o nal, eles estavam a apanhar
respeito. Respeita-se quem bastante e apareceu cá.
está. E aliás, nós tiramos um
aparelho e metemos logo o O peixe-espada preto é uma
outro. Acabamos de alar e espécie que migra?
É migratório, é. Ele desolargamos outro.
Às vezes não há isca, pa- va na Madeira, lá apanhas o
ra não estar à espera muitos peixe maior e com a ova maidias, porque depois o peixe or, só que depois o pequenino
acaba por se estragar, tira- aparece próximo da Irlanda.
mos aparelho, vamos para a Depois, na Irlanda, aparece já
terra, e quando há isca va- aquele médio, depois vem
mos lá pôr novamente. Mas pela costa, vem crescendo e
geralmente, tira um, põe ou- aqui já aparece maiorzinho.
tro: está sempre um aparelho Quando chega à Madeira já
aparece com ova ceia. Dea pescar.
pois aí é que eles não sabem
E quais são as tuas espec- onde é que ele desova, aí
tativas para o peixe-espada perdem o rasto. Soube nessa
altura, vieram vários biólogos
preto?
É difícil dizer. Aqui há três e eles estiveram lá a explicar.
anos tivemos uma reunião no
que tínhamos, viemos cá para baixo, à procura dum pesqueiro aqui mais perto, para
gastarmos menos, para ser
um bocadinho mais rentável.
E agora, já de há uns três
meses para cá, estamos aqui
em Peniche, andamos duas
horas e meia, saímos por volta das onze da noite, meianoite, e quando é dez, onze
da noite, no outro dia, voltamos a Peniche, depois vimos
para casa.
Nós, agora, é um dia. O
barco está em Peniche. Já
estivemos na Figueira da Foz
Era uma criança. A princí- uns anos, depois fomos para
pio, dormia na casa do leme, Aveiro.
o meu tio era o Mestre, dormia na casa do leme aos pés Isso quer dizer que já não
dele, tinha uma caixa das ba- há peixe-espada preto
terias, lembro-me muito bem, aqui?
Há. Esses barcos mais
De vez em quando ele punha-me os pés em cima, mas pequenos, têm. Quem tem os
eu como era pequeno, queria mares onde já pesca há uns
era dormir, não me chateava anos, esses trabalham aqui.
Nós, como tínhamos um pesmuito.
Depois, ia para o porão, queiro entre a Figueira e
os barcos eram pequenos, Aveiro, trabalhámos lá sete
dormiam seis homens assim anos nesse pesqueiro. Só
de cabeça para a proa, de- que aquilo deixou de dar, tipois atrás eram as selhas vemos que procurar outro.
com a caçada. Aos pés de- Andámos a pescar pelo Norles, entre as selhas e os pés te do Porto, mas tornava-se
deles, é que tinha ali um es- um bocado dispendioso – as
paçozinho, e eu deitava-me pescas também não ajudaali, com um blusão por cima. vam muito para as despesas
Quando passávamos o
Cabo Espichel, íamos lá para
o Norte, para o pé do Cabo
da Roca, vinha aquele mar
por cima do porão, caia toda
em cima de mim.
Eu ia-me encolhendo, iame encolhendo, até não ter
mais para encolher. Outras
vezes já nem dava por ela:
quando acordava, estava todo encharcado, mas isso
acontecia muitas vezes. Chegava ao mar e emprestavamme umas calças e o meu tio
emprestava uma samarra,
pronto.
Depois ia o bote para
dentro de água, com um fogacho, e com dois remos –
na altura não era a motor –
Henrique Santos a bordo do MAR E PESCA.
punha-me dentro do bote:
Como era, quando começaste a andar a bordo?
Eras uma criança, quase0
Os franceses pescam da
mesma maneira?
Não. É ao arrasto. Eles diziam: quando iam para o mar,
era tantas toneladas disto,
tantas toneladas daquilo, e
cem toneladas de peixe-espada. Quando era nos últimos
dias iam ao peixe-espada. E
naquele ano, eles mesmo às
outras espécies apanhavam
peixe-espada, e diziam: está
bastante peixe-espada. Aqui
não estava, mas depois apareceu. Agora, já de há dois
anos para cá que não aparece aquela quantidade que era
normal. Cada vez tem aparecido menos.
João Augusto Aldeia
(Continua na próxima edição)
6
MARES DE SESIMBRA
3 de Agosto de 201 4
Rotaract Clube de Sesimbra:
transmissão de tarefas
No passado dia 1 2 de Julho o Rotaract Clube de Sesimbra realizou a cerimónia
de transmissão de tarefas,
perante a presença de membros do Distrito Rotário 1 960,
familiares e amigos que quiseram marcar presença neste
que é um dos actos mais importantes do calendário dos
Rotários.
A cerimónia teve lugar na
quinta de Irene Gomes, em
Sampaio, cedida gentilmente
para o efeito. Entre os presentes encontravam-se: Teresa Mayer, vice-presidente da
Fundação Rotária Portuguesa, e que tem tido um destacado trabalho humanitário no
concelho de Sesimbra, bem
como o Past-Representante e
o Representante do Distrito
Rotário para o Rotaract, respectivamente Ricardo Madeira e Luis Rodrigues.
Durante o período das intervenções, foram vários os
membros que enalteceram o
trabalho desenvolvido pelo
Clube durante este ano, bem
como os objectivos atingidos,
tendo sido realçado o projecto conjunto levado a cabo pelos Clubes Rotarac e Interact,
do Distrito 1 960, no combate
à fome e à pobreza, e que se
saldou por uma doação de
8,6 toneladas de arroz à Ca-
ritas Portuguesa.
Antes da passagem do
colar e do pin de presidente,
o Clube foi agraciado com a
Menção Presidencial, prémio
outorgado pelo Rotary Internacional aos Clubes que
mais se distinguiram durante
o ano Rotário ao serviço às
suas comunidades. A entrega
foi feita pela companheira Argentina Marques, presidente
do Rotary Clube de Sesimbra.
O Rotaract realizou também uma série de distinções
e reconhecimento daqueles
que, durante este ano, apoiaram e ajudaram o Clube a
atingir os seus objectivos.
Das distinções efectuadas realçamos a nomeação de Irene Gomes e Filipa Pinto
como sócias honorárias do
Rotarac Clube de Sesimbra.
A cerimónia terminou com
a passagem de testemunho
entre João Casaca e Flávio
Lopes, que agradeceu a presença e apio de todos, terminando a sessão com o
tradicional toque do sino.
Alguns aspectos do convívio do Rotaract, da transmissão de
tarefas e da entrega de distinções.
MARES DE SESIMBRA - publicação electrónica
Director: João Augusto Aldeia - [email protected]
Correspondência: [email protected]
Publicação: Projectos Aiola - www.aiola.pt
Administração: José Gabriel - [email protected]
Edição em software livre:
paginação: SCRIBUS
edição de imagem: GIMP
A presente edição segue as normas anteriores ao Acordo
Ortográfico actualmente ainda em fase de aprovação
.pelos diversos países de lingua oficial portuguesa

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