Henrique Santos Henrique Santos
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Henrique Santos Henrique Santos
MARES de SESIMBRA 3 de Agosto de 2014, Ano 1, nº 9 A Informação que conta Henrique Santos Muitas famílias sesimbrenses contam com antepassados vindos de outras terras, atraídos pelas oportunidades de trabalho que Se- simbra sempre ofereceu, ao longo dos séculos, àqueles que procuravam melhorar a sua vida. Mas a genealogia de Henrique Santos é um João Augusto Aldeia Mestres de pesca de Sesimbra Director: João Augusto Aldeia pouco mais dramática: ambos os avós paternos faleceram de febre-amarela e o seu pai, então com apenas dois anos, foi acolhido em Sesim- Pág. 3 bra, por uma tia. O pai fez-se também pescador, e Henrique seguiu-lhe os passos: com 1 0 anos, começou a andar ao mar com o pai. Grupo Coral de ROTARACT: transmissão de tarefas Sesimbra Concerto de Verão Constança Quinteiro Pág. 6 Pág. 3 O Grupo Coral de Sesim organizou no passado dia 1 9 de Julho um excelente Concerto de Verão, na capela da Misericórdia de Sesimbra, no qual participaram, para além dos organizadores, o Coral de Queluz, o bra denominado Quinteto de Cla rinetes da Botabigband orquestra (numa formação de quarteto), e o grupo Ensem ble Voct. A iniciativa terminou com um lanche de convívio Constança Quinteiro realizou ontem, no Clube Sesimbrense, entre os participantes Pág. 2 um concerto com o seu Quarteto. 2 MARES DE SESIMBRA 3 de Agosto de 201 4 Grupo Coral de Sesimbra O Grupo Coral de Sesim organizou no passado dia 1 9 de Julho um excelente Concerto de Verão, na capela da Misericórdia de Sesimbra, no qual participaram, para além dos organizadores, o bra sentou um reportório variado e excelentemente executado. Após o concerto teve lugar um convívio com Perante um público que lanche, nas instalações do enchia a Capela, qualquer Clube Sesimbrense, encerdestes agrupamentos apre- rando-se desta forma a maGrupo Coral de Queluz, o Quinteto de Clarinetes da Bo tabigband orquestra, e o grupo Ensemble Voct. gnífica época 201 3/201 4 do Grupo Coral de Sesimbra, que incluiu o concerto comemorativo do seu 25º aniversário, em Outubro do ano passado. O Quinteto de Clarinetes da Orquestra Botabigband, é um agrupamento sesimbrense que se apresentou, nesta actuação, com quatro instrumentistas: um clarinete baixo (Reinaldo Santos) e três clarinetes soprano (Mariana Fernandes, Luz Alves, Ana Luisa Rodrigues). Tocaram peças de Grudman, Paul Harvey, Schubert, Lennie Niehaus, Johann Strauss Jr. e Joly Branga Santos. O Grupo Coral de Queluz, cuja existência remonta ao ano de 1 967, actuou sob a direcção do Maestro Pedro Miguel, e executou em Sesimbra composições de Eurico Carrapatoso, Sérgio Peixoto e Javier Busto. O Ensemble Voct apresentou-se em Sesimbra com quatro vozes femininas e quatro masculinas – estre estas, a de Pedro Casanova, também Maestro do Grupo Coral de Sesimbra. Os outros vocalistas foram: Helena Neves, Sofia Vitória, Marta Garrett, Joana Castro, Gerson Coelho, Mário Ribeiro e Gonçalo Gouveia. 3 de Agosto de 201 4 3 MARES DE SESIMBRA Henrique Santos Muitas famílias sesimbrenses contam com antepassados vindos de outras terras, atraídos pelas oportunidades de trabalho que Sesimbra sempre ofereceu, ao longo dos séculos, àqueles que procuravam melhorar a sua vida. Mas a genealogia de Henrique Santos é um pouco mais dramática: ambos os avós paternos faleceram de febreamarela e o seu pai, então com apenas dois anos, foi acolhido em Sesimbra, por uma tia: Angelina, casada com o pescador Manuel da Graça. O pai fez-se também pescador, e Henrique seguiu-lhe os passos: com 1 0 anos, logo que fez a 4ª classe, começou a andar ao mar com o pai. Uma vida na pesca em que acabou por chegar a Mestre, actualmente no barco VARAMAR, da pesca do peixe espada-preto. Mas, pelo meio, desempenhou durante muitos anos a profissão de maquinista de bordo. Passar para maquinista, foi uma opção tua? Foi. Eu gostava de mecânica e depois é assim: é a necessidade, porque eu, com a 4ª classe não podia ir muito além, para ganhar mais algumU Naquele tempo, os Mestres, ou eram genros de Mestres, ou filhos de Mestres. Eu nem era genro nem era filho de Mestre, tive que optar por outra coisa. Qual era a outra coisa? Era a que dava mais trabalho, onde nos sujamos mais, que é ser maquinista. mais tarde voltei a andar com o meu pai, e depois, com 1 6 anos, fui para moço de mar dum barco que era o MESTRE DE AVIS, com o meu compadre, que é o actual mestre do PARMA [João Manuel Conceição], fomos os dois moços. Ele foi para camarada, e eu para ajudante de motorista. A partir daí comecei a trabalhar com motores e tirei a carta Depois, passados dois anos, salvo erro em 1 978, fui andar para o barco do Emiliano, para motorista principal, até ir para a tropa. Quando vim da tropa ele tinha um barco grande a fazer, um barco com trinta metros, e eu continuei nesse barco. Depois saí, andei com um primo meu aos polvos, mas a vida era totalmente diferente. Entretanto eu casei, o meu pai faleceu. A minha mãe, a minha irmã, a minha mulher, o meu filho, eramos cinco pessoas, voltei novamente lá para fora com o Manuel José Pólvora (Salta à Vara), num barco que ele comprou. Henrique Santos na ponte de leme do VARAMAR. se num barco – mas ele não tinha nada a ver com barcos, era dono de uma empresa, Pedro & Mantovani – era como um irmão. Era o Serginho? nho um primo que é comandante da Marinha, agora já reformado, e o meu avô, os irmãos do meu avô, todos eles eram chefes de máquinas. Eu, embora não fosse chefe, tinha a 4ª classe, mas tinha a carta de primeiro [motorista], e embarquei. Fiz uma vagem, estive no Brasil, no Japão, na Coreia, na Austrália. O Serginho! Era como um irmão. E o pai pediu-me para ir governar um barco, fui para os Açores com um barco deles. Depois houve lá uma chatice com o outro sócio, compraram outro barco, que Isso em que altura foi? Não foste moço de terra? levámos para lá. Em 1 989. Em 1 989 passei Trabalhei pouco tempo a passagem de ano, de 89 como moço de terra, só a Qual era o nome desses para 90, na Austrália. Tive um ajudar, nas férias da escola. barcos? acidente, fui operado no JaE assim que fiz a 4ª classe, a O primeiro foi o pão. Tinha um filho, na altura minha vontade era andar ao NORMANDIA. E o segundo com cinco anos, e eu comemar. Fui com o meu pai, nufoi o SIRIUS. Era da Figueira cei a ver: quando se vem de ma aiola que ele tinha. Deda Foz, fui eu lá fazer o ne- uma viagem daquelas, seis pois um tio meu, em conjunto gócio, depois foi lá o Sérgio meses, depois o miúdo já não com o meu pai, compraram comigo fechar a compra. liga ao pai. Eu telefonava uma barquinha, e andei nesconstantemente, e a minha sa barquinha, aos 11 anos. Portanto, a tua primeira mulher dizia [ao filho] “olha o Andavam aos polvos, aos rofunção como mestre foi no teu pai telefonou” – “Ah! Não balos, e também ao aparelho, NORMANDIA? quero saber!” E aquilo custouconsoante: de Inverno andaSim, no NORMANDIA. A me um bocado, e já não emvam mais ao aparelho, de partir daí, voltei a andar lá fo- barquei mais [na Marinha Verão andavam aos robalos. De que ele era mestre? andei no PORTO MAR, Mercante]. Era mestre e armador, e ra, Passados dois anos deso João Manuel ConceiDepois andei com o João mancharam a pareceria e eu fui para motorista dele. De- com ção. Manuel Conceição na Coopefui andar com um tio meu, pois houve um amigo meu Depois fui trabalhar com rativa, no MIL DIAS, onde que era o Manuel da Carne, que me pediu, o pai meteu- uma empresa espanhola, no cheguei a governar. Era pricomo moço de mar. Depois VINHO MADEIRA: era uma meiro maquinista, e quando empresa que ia construir seis ele estava doente, ou ia para barcos, e eu era primeiro o outro barco, cheguei a fazer motorista e fui experimentar algumas viagens como meso barco. Cada barco daque- tre do MIL DIAS. No ZIMBRA les era um congelador. Levei PESCA também ainda fiz, fez o barco para a Guiné, estive- ele metade da viagem, depois mos no Senegal – na pesca veio à terra a uma festa da do espadarte. Mas realmente minha afilhada (a filha dele) e aquilo não deu, e o armador eu fiz o resto da viagem. acabou por não querer os Depois daí vim trabalhar barcos. Ainda acabaram três, para o Manuel José Pólvora, depois venderam aquilo ao num barco, em que nos deu desbarato. sociedade, a mim e ao João Eu, entretanto já estava Manuel, o MAR E PESCA, saturado, não quis vir aqui esse que passados uns anos para a pesca e fui para a Ma- foi ao fundo. Aquilo ao princírinha Mercante, as minhas pio não estava a correr muito Henrique Santos, à esquerda, a preparar o aparelho de pesca, raízes estão lá. Da minha fa- bem. com outros camaradas, a bordo do MIL DIAS. mília da parte do meu pai: te- 4 MARES DE SESIMBRA 3 de Agosto de 201 4 Pescavam o quê? Peixe-espada branco. Depois as coisas não estavam a correr muito bem, mudámos para o espadarte, tínhamos outro barco que andava ao peixe-espada preto, ia eu ao peixe-espada preto, ficou o João Manuel ao espadarte. Mas havia dificuldade de companhas: no peixe-espada preto estava bom, na altura, mas com dificuldade em arranjar companhas: o espadarte não estava a dar muita coisa, estava fraco. Optámos por abater um barco, e eu passei para o outro, para dar uma ajuda ao João Manuel. Continuámos com o barco do espadarte, só que aquilo correu mal, são coisas da vida, por vezes as coisas correm mal. O João Manuel depois aborreceu-se, e saiu, depois peguei eu no barco, só que não foi ao espadarte: peguei aos tubarões, profundidade. Andei uns doze anos ali, a coisa felizmente foi correndo bem, umas vezes melhor, outras menos bem, mas pronto. Correu razoavelmente, até que houve uma altura em que começaram a dar cortes nas quotas, tivemos que parar. Que espécies pescavam? Carocho, e lixas. As quotas proibiram essa pesca, ou tornaram-na comercialmente inviável? Agora proibiram. Está proibida já há dois anos. E depois mudámos a vida, para o peixe-espada preto, foi nessa altura que aconteceu o acidente, já andávamos já há uns meses ao peixe-espada preto. Depois passei para o outro barco do Manuel José – que ele ainda tinha a intenção de comprar outro barco e eu já não estava para isso – que é o VARAMAR, que anda agora ao peixe-espada preto. gir uma companha: como é que se aprende isso? Isso é o mais importante. E nos cursos ensina-se isso? Eu penso que não. Não há muito tempo, disse a um rapaz que trabalha comigo: fica sabendo uma coisa: é mais difícil comandar homens do que governar um barco, e cada vez está mais difícil. Antigamente, aqui há uns anos – não quer dizer que fossem todos, mas alguns – falavam de qualquer maneira: “Vai-te embora, para o teu lugar há dez”. Hoje não é assim, hoje dificilmente aparece um, e as pessoas têm que ser humanas e saber conversar, e as pessoas gostam destas coisas, não é estar a rebaixarnos, mas é lidar com as pessoas como elas são. Ainda agora, estava na Doca, veio um tripulante meu, Senegalês, veio de Setúbal, veio cá buscar o dinheiro da parte, e ele coitado ia apanhar a camioneta, eu levo-te à vila” – “Ah, está bem!” – Fui pô-lo a Setúbal! São estas pequenas coisas que marcam um bocado. Isto não se aprende. Já nasce connosco. Ou vai-se aprendendo com a experiência, com os anos. Não é na escola que se aprende isso. Acho eu. Eu penso que quem é Mestre, e vai para a escola de pesca, não aprende estas coisas. Aprende o básico: trabalhar com a sonda, com radar, com rádio, isso tudo. Agora, lidar com as pessoas, nem toda a gente sabe, e cada vez pior. Há estrangeiros nos barcos, porque há poucos portugueses a querer ir para a pesca? Exactamente. Temos muita dificuldade, nos barcos todos. Dificuldades na contratação de estrangeiros. E eles fazem descontos, mas não lhes dão o visto para poderem trabalhar a bordo. E são pessoas idóneas, pessoas do melhor que há. Não cri- E como está a correr? O primeiro ano correu lindamente, depois os outros dois anos já correu pior, as coisas caíram mesmo no geral, nós ainda sentimos bastante. Este ano também está a correr mal, agora, nestes últimos três meses está a correr um bocadinho melhor, mas anda por quase metade das capturas, em relação aos anos bons. Há uma crise acentuada. Um Mestre, além das coisas da navegação, decidir onde pescar, tem que diri- Hora da refeição (na foto de cima) e de alar o aparelho, a bordo do MIL DIAS. am conflitos, e já andam comigo há uns anos, não bebem, não criam conflitos com ninguém, cumprem os horários à risca, não têm uma má palavra, como trabalhadores é do melhor que há, mas não lhes dão o papelinho para eles poderem trabalhar. Se a pesca não atrai os jovens, será pelas questões financeiras, ou pelo facto do trabalho ser duro? A questão financeira também é um caso. Antigamente as coisas estavam melhores, e já houve várias fases de pessoal com estudos irem para o mar. Havia falta de trabalho noutros lados. A pesca sempre deu trabalho, e naquela altura ganhava-se dinheiro, agora já não se ganha como se ganhava há 20 anos atrás. Esta malta nova, pode ser que um dia eles voltem, mas por enquanto, com aquilo que se ganha, e com o que se trabalha, vai ser difícil. O trabalho é um bocadinho duro, mas, prontoU Não têm férias. Mas acho que as coisas até poderão vir a melhorar. Oxalá que sim, porque da maneira como isto está, com tanta restrição, com tanta coisa, eles só estão a complicar a vida às pessoas, não só pescadores, como armadores. E as pessoas chegam a um ponto, aborrecem-se. Por tudo e por nada são multas, por tudo e por nada querem que as pessoas modifiquem os barcos: “Aqui está mal! Aqui tem que levar uma casa de banho! Aqui tem que levar uma banheira! Aqui tem que levar um banco! Aqui tem que levarU” E as pessoas não ganham dinheiro sufi- 3 de Agosto de 201 4 ciente para fazerem essas al- "Olha, aguentas aí!" (isto às três, quatro da manhã). terações que eles exigem. Quando era de manhã vinha lá ter. E eu quase nem podia Não há férias, mas ao loncom os remos, estava ali a go do ano há paragens? Há, há paragens. Agora, noite toda. Era a vida! Hoje já não acontecem recentemente, parámos uma semana. É paragem, nin- destas coisas, era um bocaguém ganha nada. Eu tam- dinho duro, naquela altura. bém não entendo: os barcos de Peniche: quando param Quer dizer: nem catres havão para o Fundo do Desem- via? Não. Era em cima das táprego, ganham. Aqui não se pode. E as pessoas param. buas do porão, onde levava o Ou têm que ir trabalhar para peixe, porque o peixe ia ao outro lado. Agora, quando porão, naquela altura. Ia à ré, parei, veio logo um armador onde levava as selhas, mas pedir se dava lugar a dois ho- aquilo tinha sempre cheiro, mens dele. Por acaso o nos- embora lavássemos todos os so barco também ia parar, dias, mas o trabalho, que era não pôde ser. Aqui há 1 5 dias o meu trabalho e do outro atrás, tive um tripulante du- moço, era: quando o barco rante três semanas, o barco chegava, ia-mos ali para a lodele também estava parado, ta, em frente da Fortaleza, tie fazem assim. Eles coitados rava o peixe depois lavávatambém não podem estar pa- mos as tábuas, isto à tarde. Lavava, arrumava tudo, às rados, não ganham. onze da noite já estava pronpara ir para o mar outra As condições de trabalho a to que era pôr as selhas e bordo evoluíram muito: os vez, para o mar. Fazíamos cinco sítios para dormir, ou mes- irlances por semana. mo a segurança do traba- lho melhorou muito. Sim, está diferente. 5 MARES DE SESIMBRA Agora, quanto tempo é que estão fora? Nos Açores, recolhendo um cherne. IPIMAR e aqui estava pouco peixe e houve lá uns representantes duns armadores franceses que disseram que estavam a apanhar bastante peixe-espada, naquele ano, e nós aqui não tínhamos. Então pensei, pela lógica, por aquilo que eles disseram, que se o peixe vem de lá, passa por aqui, depois vai à Madeira, tinha esperança que ele ainda aparecesse. Passado um mês e tal começou a aparecer peixe-esEm todo o caso, o pesquei- pada e a ArtesanalPesca na altura, teve que mandar parar, ro não é propriedade de o peixe era muito. Foi um sininguém? Não, não. Só que há o nal, eles estavam a apanhar respeito. Respeita-se quem bastante e apareceu cá. está. E aliás, nós tiramos um aparelho e metemos logo o O peixe-espada preto é uma outro. Acabamos de alar e espécie que migra? É migratório, é. Ele desolargamos outro. Às vezes não há isca, pa- va na Madeira, lá apanhas o ra não estar à espera muitos peixe maior e com a ova maidias, porque depois o peixe or, só que depois o pequenino acaba por se estragar, tira- aparece próximo da Irlanda. mos aparelho, vamos para a Depois, na Irlanda, aparece já terra, e quando há isca va- aquele médio, depois vem mos lá pôr novamente. Mas pela costa, vem crescendo e geralmente, tira um, põe ou- aqui já aparece maiorzinho. tro: está sempre um aparelho Quando chega à Madeira já aparece com ova ceia. Dea pescar. pois aí é que eles não sabem E quais são as tuas espec- onde é que ele desova, aí tativas para o peixe-espada perdem o rasto. Soube nessa altura, vieram vários biólogos preto? É difícil dizer. Aqui há três e eles estiveram lá a explicar. anos tivemos uma reunião no que tínhamos, viemos cá para baixo, à procura dum pesqueiro aqui mais perto, para gastarmos menos, para ser um bocadinho mais rentável. E agora, já de há uns três meses para cá, estamos aqui em Peniche, andamos duas horas e meia, saímos por volta das onze da noite, meianoite, e quando é dez, onze da noite, no outro dia, voltamos a Peniche, depois vimos para casa. Nós, agora, é um dia. O barco está em Peniche. Já estivemos na Figueira da Foz Era uma criança. A princí- uns anos, depois fomos para pio, dormia na casa do leme, Aveiro. o meu tio era o Mestre, dormia na casa do leme aos pés Isso quer dizer que já não dele, tinha uma caixa das ba- há peixe-espada preto terias, lembro-me muito bem, aqui? Há. Esses barcos mais De vez em quando ele punha-me os pés em cima, mas pequenos, têm. Quem tem os eu como era pequeno, queria mares onde já pesca há uns era dormir, não me chateava anos, esses trabalham aqui. Nós, como tínhamos um pesmuito. Depois, ia para o porão, queiro entre a Figueira e os barcos eram pequenos, Aveiro, trabalhámos lá sete dormiam seis homens assim anos nesse pesqueiro. Só de cabeça para a proa, de- que aquilo deixou de dar, tipois atrás eram as selhas vemos que procurar outro. com a caçada. Aos pés de- Andámos a pescar pelo Norles, entre as selhas e os pés te do Porto, mas tornava-se deles, é que tinha ali um es- um bocado dispendioso – as paçozinho, e eu deitava-me pescas também não ajudaali, com um blusão por cima. vam muito para as despesas Quando passávamos o Cabo Espichel, íamos lá para o Norte, para o pé do Cabo da Roca, vinha aquele mar por cima do porão, caia toda em cima de mim. Eu ia-me encolhendo, iame encolhendo, até não ter mais para encolher. Outras vezes já nem dava por ela: quando acordava, estava todo encharcado, mas isso acontecia muitas vezes. Chegava ao mar e emprestavamme umas calças e o meu tio emprestava uma samarra, pronto. Depois ia o bote para dentro de água, com um fogacho, e com dois remos – na altura não era a motor – Henrique Santos a bordo do MAR E PESCA. punha-me dentro do bote: Como era, quando começaste a andar a bordo? Eras uma criança, quase0 Os franceses pescam da mesma maneira? Não. É ao arrasto. Eles diziam: quando iam para o mar, era tantas toneladas disto, tantas toneladas daquilo, e cem toneladas de peixe-espada. Quando era nos últimos dias iam ao peixe-espada. E naquele ano, eles mesmo às outras espécies apanhavam peixe-espada, e diziam: está bastante peixe-espada. Aqui não estava, mas depois apareceu. Agora, já de há dois anos para cá que não aparece aquela quantidade que era normal. Cada vez tem aparecido menos. João Augusto Aldeia (Continua na próxima edição) 6 MARES DE SESIMBRA 3 de Agosto de 201 4 Rotaract Clube de Sesimbra: transmissão de tarefas No passado dia 1 2 de Julho o Rotaract Clube de Sesimbra realizou a cerimónia de transmissão de tarefas, perante a presença de membros do Distrito Rotário 1 960, familiares e amigos que quiseram marcar presença neste que é um dos actos mais importantes do calendário dos Rotários. A cerimónia teve lugar na quinta de Irene Gomes, em Sampaio, cedida gentilmente para o efeito. Entre os presentes encontravam-se: Teresa Mayer, vice-presidente da Fundação Rotária Portuguesa, e que tem tido um destacado trabalho humanitário no concelho de Sesimbra, bem como o Past-Representante e o Representante do Distrito Rotário para o Rotaract, respectivamente Ricardo Madeira e Luis Rodrigues. Durante o período das intervenções, foram vários os membros que enalteceram o trabalho desenvolvido pelo Clube durante este ano, bem como os objectivos atingidos, tendo sido realçado o projecto conjunto levado a cabo pelos Clubes Rotarac e Interact, do Distrito 1 960, no combate à fome e à pobreza, e que se saldou por uma doação de 8,6 toneladas de arroz à Ca- ritas Portuguesa. Antes da passagem do colar e do pin de presidente, o Clube foi agraciado com a Menção Presidencial, prémio outorgado pelo Rotary Internacional aos Clubes que mais se distinguiram durante o ano Rotário ao serviço às suas comunidades. A entrega foi feita pela companheira Argentina Marques, presidente do Rotary Clube de Sesimbra. O Rotaract realizou também uma série de distinções e reconhecimento daqueles que, durante este ano, apoiaram e ajudaram o Clube a atingir os seus objectivos. Das distinções efectuadas realçamos a nomeação de Irene Gomes e Filipa Pinto como sócias honorárias do Rotarac Clube de Sesimbra. A cerimónia terminou com a passagem de testemunho entre João Casaca e Flávio Lopes, que agradeceu a presença e apio de todos, terminando a sessão com o tradicional toque do sino. Alguns aspectos do convívio do Rotaract, da transmissão de tarefas e da entrega de distinções. MARES DE SESIMBRA - publicação electrónica Director: João Augusto Aldeia - [email protected] Correspondência: [email protected] Publicação: Projectos Aiola - www.aiola.pt Administração: José Gabriel - [email protected] Edição em software livre: paginação: SCRIBUS edição de imagem: GIMP A presente edição segue as normas anteriores ao Acordo Ortográfico actualmente ainda em fase de aprovação .pelos diversos países de lingua oficial portuguesa