Estágio no Brasil e Peru. Experiências brasileiras em capacitação
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Estágio no Brasil e Peru. Experiências brasileiras em capacitação
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM INTEGRAÇÃO DA AMÉRICA LATINA ECOTURISMO: ESTÁGIO NO BRASIL E PERU. EXPERIÊNCIAS BRASILEIRAS EM CAPACITAÇÃO Dissertação apresentada para obtenção do título de Mestre em Integração da América Latina, Aluno: Luiz Fernando Ferreira Orientador: Professor Doutor Paulo Cesar Milone Fevereiro de 2003 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO MESTRADO EM INTEGRAÇÃO DA AMÉRICA LATINA ECOTURISMO: ESTÁGIO NO BRASIL E PERU. EXPERIÊNCIAS BRASILEIRAS EM CAPACITAÇÃO Luiz Fernando Ferreira Com a Carmo, com quem já plantei muitas árvores, quero compartilhar este fruto e todos os demais frutos que formos capazes de fazer germinar. AGRADECIMENTOS Ao orientador Professor Doutor Paulo César Milone pela oportunidade, confiança e incentivo. À Professora Doutora Beatriz Helena Gelas Lage, pelo permanente interesse e incentivo aos meus propósitos e especialmente pela confiança depositada. À minha amada Carmo, maior incentivadora deste trabalho, pelas longas madrugadas de trabalho compartilhadas, pela inteligente interlocução e pelas incansáveis revisões e contribuições. À minha filha Bruna, que me fez saber que vale a pena lutar pelo que se ama. À minha mãe Elyete, porto seguro, cujo incentivo e apoio incondicional me fazem mais forte para superar todas as dificuldades da vida. Ao meu pai José Flávio (in memorian), companheiro inseparável, cuja herança maior deixada, se concretiza um pouco mais com a conclusão deste trabalho. Às minhas irmãs Liza e Flávia, que sempre levaram a sério a aventura de estudar e foram modelos nesta jornada. Aos amigos, quase irmãos, Alexandre e Anderson pelo apoio incondicional nos momentos mais importantes da minha vida. Aos cunhados Paulo, Loli, Ernesto e Nelson e a minha sogra Maria, pelo permanente incentivo e apoio. A todos os companheiros do PROECOTUR, especialmente aqueles que contribuíram diretamente com este trabalho, oferecendo mapas, bibliografias e outros materiais, além da inteligente interlocução, ou ainda a compreensão, quando das minhas ausências no empenho final para conclusão deste trabalho. Aos Professores da Universidade de São Paulo que, através do Programa de Pósgraduação em Integração da América Latina – PROLAM, ofereceram mais do que seus valiosos conhecimentos: Profa. Dra. Beatriz H. G. Lage, Profa. Dra. Doris Van de Meene Ruschmann, Profa. Dra. Maria Cristina Cacciamali, Profa. Dra. Miriam Rejowiski e Profa. Dra. Romilda Ribeiro. Agradeço em especial a Profa. Dra. Maria Tereza D. P. Luchiari, Profa. Dra. Beatriz H. G. Lage e Prof. Dr. Paulo César Milone, pelas importantes contribuições concedidas na qualificação, que muito me auxiliaram para concretização desta dissertação. Aos colegas do PROLAM e da ECA, que compartilharam comigo as disciplinas e os seus valiosos conhecimentos. À Kátia secretária do PROLAM, que com carinho e educação, ofereceu todas as orientações necessárias, além do seu incentivo. Ao PROLAM, que me possibilitou conviver e compartilhar conhecimentos com companheiros de outros países da América Latina, despertando assim, a consciência de nossa latinidade. Aos colegas e alunos das Faculdades SENAC, que se constituíram, respectivamente, em modelos e razões para a realização deste trabalho e o meu reconhecimento pela grande importância que teve esta instituição para minha formação e consolidação profissional. Aos colegas e alunos da FATEA, especialmente à irmã Therezinha, exemplo de ser humano e profissional. Aos alunos e colegas das demais instituições de ensino onde já lecionei e que de alguma maneira contribuíram com minha formação e amadurecimento profissional. Aos amigos Oliver Hillel e Neusa Amorim (in memorian), com quem compartilhei a primeira consultoria em ecoturismo e que tiveram significado muito especial na minha formação profissional. A todos os colaboradores, amigos e parceiros da Bioma, que compartilharam comigo as melhores e mais especiais experiências profissionais. À Magda Montenegro, pela substancial contribuição na atenciosa e trabalhosa revisão das referências bibliográficas. Ao Leandro, que com seus conhecimentos em informática, ajudou a recuperar o texto, num daqueles momentos nos quais a tecnologia conspira contra o mestrando. Aos consultores da Ecoplan:net Institute, James MacGregor e Leslie Jarvie (in memorian), que ofereceram seus valiosos conhecimentos para que pudéssemos planejar melhor o desenvolvimento do ecoturismo em nosso país. Aos companheiros do Comitê de Organização das Oficinas de Capacitação em Ecoturismo: Oliver Hillel, Reinaldo Lourival, Karem Ziffer, Vitória Da Riva Carvalho, Maria do Carmo Barêa Coutinho, Antônio Pedro Alem Sobrinho e Cristiane Leonel e aos facilitadores, que compartilharam comigo momentos fundamentais deste processo de formação e realização profissional na área do ecoturismo. Aos parceiros e participantes das ações de capacitação para o ecoturismo, especialmente das comunidades mais carentes do interior do país, nas quais encontro forte motivação para a realização do meu trabalho. Aos amigos, Daniela Nascimento, Maria Antonieta Pivatto (Tieta) e Daniel De Granville, meus agradecimenos pela atenciosa leitura sobre as referências à Brotas e Bonito. Aos companheiros peruanos, Renzo, Javier e Marc Dourojeanni pelas valiosas informações sobre o Peru. SUMÁRIO INTRODUÇÃO 01 CAPÍTULO - 1 - MARCOS CONCEITUAIS DO ECOTURISMO 1.1 – DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 1.2 – TURISMO SUSTENTÁVEL E ECOTURISMO 04 05 17 CAPÍTULO - 2 - BASES E PERSPECTIVAS DO ECOTURISMO 2.1 - PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DO ECOTURISMO 2.2 – POTENCIAL E TENDÊNCIAS DO ECOTURISMO 2.2.1 – A BIODIVERSIDADE COMO POTENCIAL PARA O ECOTURISMO NO BRASIL 2.2.2 – INSTRUMENTOS QUE FORTALECEM O DESENVOLVIMENTO DO ECOTURISMO 2.2.3 – O PERFIL DO ECOTURISTA 23 23 27 27 31 35 CAPÍTULO - 3 - ECOTURISMO NO BRASIL 3.1 – PRINCIPAIS DESTINOS ECOTURÍSTICOS 3.2 – PRINCIPAIS REFERÊNCIAS 3.2.1 – BONITO - MATO GROSSO DO SUL 3.2.2 – BROTAS - SÃO PAULO 3.2.3 – ANÁLISE DOS CASOS DE BONITO E BROTAS 3.3 – PRINCIPAIS PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS 3.3.1 – PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DO ECOTURISMO NA AMAZÔNIA LEGAL 3.3.2 – PROGRAMA PÓLOS DE DESENVOLVIMENTO DO ECOTURISMO 3.3.3 – OUTROS PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS 3.4 – PANORAMA GERAL DO ENSINO FORMAL EM TURISMO 3.4.1 – FORMAÇÃO EM ECOTURISMO 37 42 43 44 46 49 51 51 56 58 60 66 CAPÍTULO - 4 - ECOTURISMO NO PERU 4.1 – LOCALIZAÇÃO E CARACETRÍSTICAS GERAIS 4.1.1 – RECURSOS NATURAIS 4.1.2 – RECURSOS ARQUEOLÓGICOS, HITÓRICOS E CULTURAIS 4.2 – EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS TURÍSTICOS E ECOTURÍSTICOS 4.2.1 – HOSPEDAGEM 4.2.2 – ACESSO E SERVIÇOS DE APOIO 4.2.3 – AGÊNCIAS E OPERADORAS 4.2.4 – RECURSOS HUMANOS 4.3 – CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL 4.4 – SETORES CHAVES PARA O DESENVOLVIMENTO DO ECOTURISMO NO PERU 4.5 – ESTUDO DE CASO 4.6 – AVALIAÇÃO DA SITUAÇÃO ATUAL DO ECOTURISMO NO PERU 71 72 76 78 79 79 80 81 82 82 87 89 93 CAPÍTULO - 5 - EXPERIÊNCIAS BRASILEIRAS EM CAPACITAÇÃO 5.1 – OFICINAS DE CAPACITAÇÃO EM ECOTURISMO: UMA METOLOGIA DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO PARA O DESENVOLVIMENTO DO ECOTURISMO NO BRASIL 5.1.1 – FORMAÇÃO DO COMITÊ DE ORGANIZAÇÃO DAS OFICINAS 5.1.2 – PATROCÍNIOS E APOIOS 5.1.3 – METODOLOGIA APLICADA NA OFICINA 5.1.4 – AVALIAÇÃO GERAL DAS OFICINAS 5.1.5 – ANÁLISE DA PESQUISA SOBRE AS OFICINAS 5.1.6 – ESTRATÉGIA PROPOSTA PARA O PROGRAMA 101 106 108 110 111 113 115 119 5.2 – AÇÕES DE CAPACITAÇÃO DO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DO ECOTURISMO NA AMAZÔNIA LEGAL 121 5.2.1 – METODOLOGIA E ESTARTÉGIA PARA CAPACITAÇÃO 122 5.2.2 – OFICINAS DE SENSIBILIZAÇÃO 125 5.2.3 – ANÁLISE DOS RESULTADOS 127 5.3 – OUTRAS AÇÕES EM CAPACITAÇÃO 129 5.3.1 - WORKSHOP DE ESTRUTURAÇÃO SOCIAL 130 5.3.2 – MELHORES PRÁTICAS PARA O ECOTURISMO - MPE 131 CAPÍTULO - 6 - ECOTURISMO NO BRASIL E PERU: ANÁLISE COMPARATIVA 6.2 – UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO BRASIL 6.3 – O SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO BRASIL 6.3.1 – AS CATEGORIAS DE PROTEÇÃO INTEGRAL 6.3.2 – AS CATEGORIAS DE USO SUSTENTÁVEL 6.3.3 – AS CATEGORIAS E OS TIPOS DE VISITAÇÃO 6.4 – O SISTEMA NACIONAL DE ÀREAS NATURAIS PROTEGIDAS NO PERU 133 137 141 150 150 152 154 155 CONCLUSÕES 162 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ELETRÔNICAS 169 169 176 ANEXOS 180 6.1 - HISTÓRICO DA CRIAÇÃO DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO RESUMO Esta dissertação apresenta o ecoturismo como ferramenta para a conservação ambiental e cultural, e como uma das alternativas econômicas para contribuir na direção de um modelo de desenvolvimento sustentável para o Brasil e Peru. Analisa-se a evolução contemporânea do ecoturismo, como segmento de mercado do turismo, respectivamente no Brasil e Peru. São discutidas as experiências brasileiras em capacitação não formal para o ecoturismo, e desenvolvida uma análise sobre o volume e abrangência do ensino formal em turismo e ecoturismo nestes países. Destaca-se a importância da formação e capacitação de comunidades anfitriãs, nas localidades de destino do ecoturismo, como forma de possibilitar sua inclusão e participação efetiva neste processo de desenvolvimento. Por fim, procede-se uma análise comparativa do estágio atual de desenvolvimento do ecoturismo nos dois países. PALAVRAS-CHAVE: ecoturismo, desenvolvimentos sustentável, capacitação, Brasil, Peru. RESUMEN Esta disertación presenta el ecoturismo como una herramienta para la conservación ambiental y cultural, así como alternativa económica para contribuir al establecimiento de un modelo de desarrollo sostenible para el Brasil y Perú. Se analiza la evolución contemporánea del ecoturismo, como importante componente del mercado del turismo, en estos países. Se discuten las experiencias brasileñas de capacitación informal para el ecoturismo, y se analiza la magnitud y alcance de la enseñanza formal en turismo y ecoturismo en los dos países. Se destaca la importancia de la capacitación de la comunidad anfitriona, en las localidades receptoras del ecoturismo, como forma de posibilitar su inclusión y participación efectiva en este proceso de desarrollo. Finalmente se realiza una análisis comparativa del estado actual del desarrollo del ecoturismo en los dos países. PALABRAS LLAVE: ecoturismo, desarrollo sostenible, Brasil, Perú. ABSTRACT This document presents ecotourism as a tool for the conservation of environmental and cultural heritage and as one of the economical alternatives to contribute as a model of sustainable development for Brazil and Peru. It analyses the contemporary evolution of ecotourism as a segment of the tourism in both countries. Brazilian experiences in non-formal training are discussed, as well as the amount and types of courses embraced by the formal education in tourism and ecotourism in these countries is also analyzed. The importance of training and education of host communities as a way to enable their effective participation in this process of development is emphasized. Complementarily is presented a comparative analysis of the stage of development of ecotourism in both countries at this moment. KEY-WORDS: ecotourism, sustainable development, Brazil, Peru. LISTA DE TABELAS, GRÁFICOS E MAPAS TABELA 1 – Interpretação da tabela 2.1 de Fennell. TABELA 2 – Destinos de ecoturismo no Brasil relacionadas às UCs federais. TABELA 3 – Integrantes do Comitê do Programa Pólos de Ecoturismo no Brasil. TABELA 4 - Instituições que oferecem formação em turismo no Peru. TABELA 5 - ONGs que oferecem capacitação em turismo no Peru. TABELA 6 – Relação de comunidades que participam do turismo no Peru. TABELA 7 - Estudo de Caso da Pousada Amazonas – Peru. TABELA 8 – Síntese da situação do ecoturismo no Peru. TABELA 9 - Zonas prioritárias para o ecoturismo no Peru. TABELA 10 – Oficinas de Capacitação em Ecoturismo – OCEs, realizadas no período de 1994 a 1997. TABELA 11 – Síntese das Oficinas de Sensibilização do PROECOTUR/ SCA/ MMA. TABELA 12 – Chegada de Turistas Internacionais por País de Destino. TABELA 13 – Comparação de variedade de espécies entre países megadiversos. TABELA 14 – Análise da extensão territorial das UCs de proteção integral e uso sustentável por bioma por período de criação das UCs no Brasil. TABELA 15 – Extensão Territorial de UCs no Brasil. TABELA 16 – Tipo de Uso das UCs no Brasil. TABELA 17 – Comparação entre categorias de Ucs no Brasil e Peru. GRÁFICO 1 - Distribuição dos cursos superiores em turismo no Brasil por região, em 2002. GRÁFICO 2 - Distribuição da população brasileira por região do país, em 2002. GRÁFICO 3 - Distribuição dos cursos superiores em turismo no Brasil por estado. GRÁFICO 4 - Concentração populacional no Brasil por estado. GRÁFICO 5 - Dissertações e teses relacionadas ao assunto até 2001, por tipo de trabalho e por ano. GRÁFICO 6 - Produção científica no Brasil - dissertações e teses com a expressão “ecoturismo” ou “turismo ecológico” no título, até 2001, por tipo de trabalho e por ano. GRÁFICO 7 – Distribuição das Unidades de Conservação Brasileiras. MAPA 1- Áreas naturais no mundo prioritárias para conservação ambiental, denominadas Hostspots. MAPA 2 - Áreas naturais brasileiras identificadas como prioritárias para conservação ambiental. MAPA 3 - Pólos de ecoturismo da Amazônia do PROECOTUR/ SAC/ MMA. MAPA 4 - Distribuição dos pólos de ecoturismo no Brasil. MAPA 5 – Localização do Peru no Mundo. MAPA 6 - Localização do Peru na América do Sul. MAPA 7 – Ações de Capacitação em Ecoturismo realizadas no Brasil pelas OCEs – Planejamento Estratégico e Oficinas de Sensibilização do PROECOTUR/ SCA/ MMA, de 1994 a 2002. MAPA 8 - Unidades de Conservação Federais no Brasil. MAPA 9 - Unidades de Conservação Federais no Peru. Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 1 INTRODUÇÃO Nos últimos dez anos o ecoturismo tem sido foco de uma verdadeira “explosão”, despontam destinos em vários países do mundo, surgem empreendimentos especializados neste segmento, agências, operadoras, estabelecimentos de hospedagem, enfim toda sorte de equipamentos e serviços voltam-se a este mercado. Demonstra-se neste trabalho por meio de diversos parâmetros o crescimento explosivo que este segmento do turismo vem sofrendo, especialmente na última década. Sensível a estas tendências e à singular oportunidade de termos nas mãos um setor econômico capaz de compatibilizar desenvolvimento e conservação, as Nações Unidas declararam o ano de 2002 como Ano Internacional do Ecoturismo e promoveram 18 conferências preparatórias em todos os continentes e uma Conferência Mundial de Ecoturismo ocorrida em maio de 2002, com a participação de mais de 3000 pessoas provenientes de mais de 132 países. Neste contexto, propõe-se através deste trabalho refletir sobre os principais marcos conceituais que serviram de referência para evolução do conceito de ecoturismo, verificandose a interface existente entre este segmento e o movimento ambientalista ao longo das últimas três décadas. São apresentadas diversas definições, elaboradas por vários autores, com o objetivo de se analisar as similaridades e diferenças existentes entre elas, para caracterização do segmento, por meio da identificação da origem e perfil deste tipo de turista. São apontados acontecimentos históricos que marcaram a evolução do movimento ambientalista e sua aproximação com o ecoturismo. Analisa-se a identidade existente entre ambos, em função da possibilidade do ecoturismo ser utilizado como eficiente ferramenta, capaz de contribuir com a conservação do meio ambiente. São analisados os princípios filosóficos que norteiam esta atividade e as diretrizes que procuram apontar caminhos para o seu desenvolvimento dentro de uma perspectiva de sustentabilidade. A possibilidade de aliar desenvolvimento e conservação coloca o ecoturismo como alternativa apropriada, especialmente para o desenvolvimento de países que possuem grandes extensões territoriais com recursos naturais conservados, como é o caso do Brasil e do Peru, que compartilham as maiores porções da mais extensa floresta tropical do planeta, a Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 2 Amazônia. São apontadas características que demonstram o elevado potencial destes países para despontarem como destinos preferenciais dos ecoturistas nos próximos anos. O trabalho procura destacar a importância da formação e capacitação profissional para consolidação destes países como destinos confiáveis de ecoturismo. Enfatiza a necessidade de que sejam levadas ações de formação e capacitação, no âmbito formal e informal, para atender as comunidades anfitriãs, sobretudo nas localidades mais distantes e com potencial para o desenvolvimento do ecoturismo. Reforça-se a necessidade de garantir que estas comunidades, especialmente as comunidades autóctones, participem do processo de desenvolvimento do ecoturismo desde o seu planejamento e sejam capacitadas para exercerem papéis neste contexto, não somente como coadjuvantes, mas também como protagonistas dos seus próprios destinos. Demonstra-se a evolução e o estágio atual do setor no Brasil, e desenvolve-se por meio de uma análise comparativa um apanhado da história recente de destinos que despontaram na última década, e que já são identificados pelos ecoturistas em geral e pelo trade, como referências na área do ecoturismo. Foram apontados ainda, programas governamentais brasileiros que tem colocado o ecoturismo como prioridade em algumas regiões do país. Desenvolve-se uma análise sobre a elevação da oferta de ensino para o turismo e ecoturismo no Brasil e a sua concentração nos grandes centros urbanos. Por outro lado, aponta-se a carência de formação e capacitação na área rural, onde se concentram as potencialidades para consolidação de destinos ecoturísticos. O estágio atual do ecoturismo no Peru também é objeto de análise. É apontado o grande potencial deste país para o desenvolvimento do ecoturismo, especialmente em função de sua riqueza e diversidade ambiental e cultural e pela extensão de suas áreas naturais conservadas. Apresenta-se neste trabalho, as experiências em capacitação profissional para o ecoturismo desenvolvidas no Brasil, que em função de sua abrangência e inovação, colocamse como referência para outros países que pretendam desenvolver o ecoturismo tendo como base a capacitação profissional. Além das análises específicas elaboradas sobre o estágio de desenvolvimento do ecoturismo no Brasil e no Peru, optou-se por elaborar uma análise comparativa entre os dois países com ênfase nos sistemas nacionais de unidades de conservação. Considera-se que estas áreas caracterizam-se como as principais motivações para uma viagem de ecoturismo e que Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 3 um sistema de unidades de conservação eficiente, poderá motivar significativas correntes ecoturísticas, como já ocorre, por exemplo, em alguns países da América Latina, como Costa Rica e Belize. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 4 CAPÍTULO – 1 – MARCOS CONCEITUAIS DO ECOTURISMO As reflexões realizadas sobre os principais marcos conceituais do ecoturismo, ao longo das últimas quatro décadas, passam pelos questionamentos sobre a necessidade de mudanças no modelo de desenvolvimento econômico vigente, questionado atualmente em âmbito mundial, e de forma mais enfática após a segunda Guerra Mundial. Em função das muitas degradações ambientais que afetam diretamente a qualidade de vida das populações humanas, principalmente às alocadas em grandes centros urbanos, bem como o significativo aumento da desigualdade existente na distribuição de renda mundial entre as nações. Desta forma, observa-se que a temática do ecoturismo a partir da década de oitenta traz pensamentos mais amadurecidos dos movimentos ambientalistas e sociais em prol da conservação ambiental associando, muitas vezes, a melhoria da qualidade de vida, pela melhor distribuição de renda para as populações pobres e inserção destas no mercado de trabalho. Este amadurecimento se justifica em parte pela possibilidade da ampla discussão ocorrida sobre meio ambiente e populações, nas últimas três décadas, nos muitos eventos realizados em termos mundiais. Estes eventos foram difundindo temas que alcançaram o turismo, este como atividade econômica originalmente pautada no modelo desenvolvimentista, acaba gerando também impactos negativos ambientais e nas populações das localidades e regiões em que esta atividade se desenvolve. Entretanto, integrantes de movimentos ambientalista e sociais, entre eles profissionais da área de turismo, e muitas outras diretamente relacionadas aos aspectos ambientais, sociais e econômicos acabaram contribuindo para que fossem sendo estabelecidos princípios e critérios para uma atividade econômica relacionada ao turismo que pudesse contribuir não só com a conservação ambiental, mas buscasse ao mesmo tempo melhorar a qualidade de vida das populações locais tradicionais envolvidas. Acredita-se que alcançar um novo modelo de desenvolvimento econômico, denominado sustentável, passa pela necessidade de capacitação. Entendida como uma ferramenta fundamental que permite a transposição da utopia para a realidade. Quando melhor instrumentaliza populações anfitriãs em referencias conceituais e práticas sobre meio ambiente e populações locais tradicionais. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 5 1.1 – DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL A segunda Guerra Mundial, concluída em 1945, trouxe a humanidade duras lições, dentre elas, a consciência da grande capacidade devastadora do homem sobre o meio ambiente, a consciência das limitações dos recursos naturais renováveis e não renováveis e da sua incapacidade de controlar as conseqüências nefastas das suas agressões sobre a natureza. O final da 2ª Guerra Mundial foi acelerado com as explosões atômicas em Hiroshima e Nagasaki. A natureza controlada em seu nível atômico tornou-se disponível também para a destruição em massa. A radiatividade resultante dessas explosões e suas conseqüências marcaram o início de um novo período histórico, em que as preocupações com a degradação do meio ambiente teriam papel de destaque. (COUTINHO,1998, p. 05) Surge uma nova ordem econômica que busca o crescimento econômico a fim de promover a reconstituição dos países arrasados pela guerra. De maneira geral, o desenvolvimento ainda não era acompanhado na mesma proporção pela preocupação com a qualidade do meio ambiente. A teoria do desenvolvimento no pós-guerra esteve orientada pela racionalidade econômica e pela mobilização do capital para elevação de estoque e da produção, ignorando a preocupação com os esgotamentos dos recursos naturais não renováveis. (VIEIRA, 1998 apud GOTTARDO, 2002, p. 193) Após o término da segunda guerra mundial vive-se o período de grande prosperidade econômica que marca particularmente os países centrais do capitalismo, caracterizando-se por um grande desenvolvimento industrial em estímulo e resposta ao desenvolvimento brutal do consumo, tanto para a satisfação das necessidades básicas, quanto para alimentar o consumo supérfluo. Paralelamente, difunde-se a consciência das agressões ao ambiente, aos direitos civis, aumentando, então, o grau de cobrança de determinados grupos sociais junto ao Estado, aos partidos políticos, à Igreja, às próprias lideranças da sociedade civil organizada. (RODRIGUES, 2002, p. 15) Um fato que marcou a história contemporânea da humanidade e permitiu ao homem adquirir a consciência de que o planeta é único e sem fronteiras, e da sua própria pequenez em relação ao planeta, foi o vôo espacial de Iuri Gagárin cosmonauta soviético, que pela primeira vez pode observar o planeta Terra do espaço. A bordo da pequena Vostok 1, em 12 de abril de Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 6 1961, realiza uma volta em torno da Terra em 1h29min. Gagarin descreve o planeta visto do espaço com uma frase que fica famosa: "A Terra é azul!". (GAGÁRIN, 1999) Neste novo cenário crescem as manifestações sociais e os movimentos contra-culturais e ideológicos, que mobilizam uma geração de jovens que se opunham à nova ordem estabelecida. Criticavam a massificação da produção, o consumo excessivo, os impactos sócio-ambientais e se manifestavam por meio de severas críticas à ordem e aos costumes estabelecidos. (PIRES, 1998) No início dos anos 70 são vendidos milhões de exemplares de uma publicação que representaria um dos principais marcos teóricos para a questão do desenvolvimento sustentável: Limites do Crescimento, resultado de uma proposição do Clube de Roma para enfrentar os “dilemas da humanidade”. (COUTINHO, 1998, p. 07-10) O Clube de Roma foi formado em 1968 e, liderado pelo empresário italiano Aurelio Peccei, reuniu inicialmente um grupo de trinta pessoas de dez países e das mais variadas formações. Limites do Crescimento é o resultado dos esforços do “Projeto sobre o Dilema da Humanidade” em sua primeira fase e examina fatores limitantes do crescimento: população, produção agrícola, recursos naturais, produção industrial e poluição. (COUTINHO, 1998, p. 10) Limites do Crescimento é um documento de características alarmistas, mas que teve papel fundamental em suscitar a discussão em torno da impossibilidade da humanidade continuar crescendo exponencialmente e abastecendo suas “necessidades” sem planejamento e desrespeitando os limites impostos pela natureza. É neste ambiente que ocorre à primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, em 1972, em Estocolmo, indicando a necessidade de implementar estratégias ambientais adequadas para promover um desenvolvimento socioeconômico eqüitativo. Neste momento o termo é nomeado de ecodesenvolvimento que mais tarde vem a ser denominado “desenvolvimento sustentável”. (MARTINS, 1995 apud FARIA, 2002, p. 75) Paralelamente ao processo desenvolvimentista, surge um amplo espectro de segmentos da sociedade que ficam a margem deste processo, entre contrários ao processo e entre muitos excluídos das possibilidades de inserção social, estes segmentos que passam a se organizar, formar lideranças representativas e reivindicar melhor qualidade de vida. O ambientalismo surge dentro de um caldo cultural que envolve amplo espectro de movimentações de grupos ditos minoritários e alternativos, dentre eles o movimento hippie,o Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 7 rock-and-roll, a liberação sexual e das drogas, o feminismo, os movimentos dos negros e homossexuais. Na convergência desses pontos é que surge a luta “por um planeta mais azul”, anti-nuclear e pacifista. (CASCINO, 1999, p. 34) A consciência ambiental que começa a emergir não é fruto de um processo pedagógico escolarizado, mas conseqüência de um crescimento econômico desequilibrado, que agrava as desigualdades sociais e problemas de desemprego, fome, epidemias e outros. Na área ambiental, passamos a vivenciar catástrofes, os meios de comunicação alertam para as conseqüências do efeito estufa, aquecimento global, diminuição da camada de ozônio, acentuada poluição dos cursos hídricos, especialmente nos grandes centros urbanos e gradativamente se acentua a perda de qualidade de vida nas grandes cidades. Foi em Nosso Futuro Comum - 1987, que foi lançado oficialmente, o reconhecimento mundial sobre a possibilidade de promover o desenvolvimento sustentável. Esta publicação é um relatório que foi apresentado à Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas ONU, e passa a ser também, um marco referencial importante para as discussões das questões ambientais. Neste momento é identificada a necessidade de maior diálogo entre os países e a proposição de políticas internacionais, quanto aos aspectos sociais, econômicos, políticos e ambientais, com objetivo de buscar o crescimento econômico compatível com a conservação do meio ambiente. O desenvolvimento sustentável é mais que crescimento. Exige uma mudança no teor do crescimento, a fim de torná-lo menos intensivo no consumo de matérias-primas e energia, e mais eqüitativo em seu impacto. As mudanças propostas precisam ocorrer em todos os países, para manter a reserva de recursos ambientais, melhorar a distribuição de renda e reduzir o grau de vulnerabilidade às crises econômicas. (CMMAD, 1991, p. 56) Esta publicação afirma que a humanidade tem a possibilidade de promover este tipo de desenvolvimento para “garantir o atendimento das necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das futuras gerações em atender suas próprias necessidades.” (CMMAD, 1991, p. 46) Foram ainda identificados dois conceitos chaves, como: • Conceito de ‘necessidades’, sobretudo as necessidades essenciais dos pobres do mundo, que devem receber máxima prioridade. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 8 • A noção das limitações que o estágio da tecnologia e da organização social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidade presentes e futuras. (CMMAD, 1991, p. 46) Esta definição estabelece uma noção de limite ao processo de desenvolvimento econômico no qual o mundo das relações econômicas está inserido em um planeta com recursos finitos, ultrapassar estes limites poderá colocar em cheque a própria sustentabilidade da economia. A variável ambiental passa a integrar novas concepções correntes de desenvolvimento econômico. O modelo sustentável é colocado como contraponto ao desenvolvimentista que gerou, ao longo da história, tantos impactos negativos, não só ambientais como sócio-culturais e, assim o modelo de desenvolvimento sustentável passa a representar um novo paradigma. A União Internacional para a Conservação da Natureza – UICN no documento, Cuidando do planeta terra: uma estratégia para o futuro da vida, em 1992, afirma que no mundo de hoje, nenhuma nação é auto-suficiente. Para alcançarmos a sustentabilidade do nosso Planeta, é necessária a formação de uma sólida aliança entre os países. Os níveis de desenvolvimento e renda são desiguais entre as nações, e os países de mais baixa renda devem receber ajuda para que possam se desenvolver de forma sustentável protegendo seus recursos ambientais. Especialmente a atmosfera, os oceanos e os ecossistemas, só poderão ser conservados por determinação conjunta dos povos. A ética do cuidado com a Terra deve ser aplicada em todos os níveis, internacional, nacional e individual. As nações só têm a ganhar com a sustentabilidade mundial, pois estarão ameaçadas caso não sejam encontrados mecanismos para viabilizarmos a proposta de desenvolvimento sustentável. (CUIDANDO, 1992, p. 12) Muito antes do conceito de desenvolvimento sustável ganhar corpo, as comunidades indígenas tinham a clara percepção da relação de interdependência existente entre o homem e o ambiente natural. Como pode ser verificado em algumas frases extraídas de uma carta enviada, em 1854, pelo chefe da comunidade indígena Seattle ao presidente americano Franklin Pierce, em resposta a proposta de compra de grande parte do território indígena: Somos parte da terra e ela faz parte de nós[...] essa água brilhante que escorre nos riachos não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados[...] se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar que ela é sagrada e devem ensinar isso as suas crianças que ela é sagrada[...] os rios são nossos irmãos e saciam nossa sede[...] vocês devem dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão[...] o ar é precioso para o homem vermelho pois todas as coisas compartilham o Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 9 mesmo sopro[...] vocês devem ensinar as suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem as suas crianças o que ensinamos as nossas, que a terra é nossa mãe. Tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra.[...] isto sabemos: a terra não pertence ao homem, o homem pertence à terra[...] há uma ligação em tudo. O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida, ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo. (MATSUSHIMA, 1987, p. 118-119) Atualmente o respeito aos conhecimentos tradicionais e a valorização dessas comunidades é necessária para que as sociedades contemporâneas aprendam mecanismos que permitam o estabelecimento de relações mais harmônicas como aquelas que foram estabelecidas historicamente entre estas comunidades e o meio ambiente. Para estas o ambiente natural não é intangível, ao contrário, viveram por centenas ou milhares de anos conservando áreas representativas dos diversos biomas1 do Planeta e extraindo destes a sua sobrevivência. Não se trata de entendê-las de uma maneira romântica e idealizada, mas de procurar observar as relações estabelecidas entre estas comunidades tradicionais e o seu meio como, por exemplo, algumas comunidades tradicionais2 da Amazônia: caboclos ribeirinhos, seringueiros3, castanheiros4, e babaçueiros5 que vivem basicamente do extrativismo, como a pesca artesanal, coleta do açai6, sementes de castanha-do-Brasil, látex entre muitos outros recursos naturais, além da agricultura de subsistência. Acredita-se que estas comunidades souberam identificar e respeitar, ao longo de várias gerações, os limites de exploração estabelecidos com o ambiente natural em que estão inseridos. Talvez esta prática possa nos 1 Segundo Ross entende-se este ambiente natural denominado por bioma como: “[...] associação relativamente homogênea de animais e vegetais em equilíbrio entre si e com o meio físico. Os biomas são vinculados às faixas de latitude, como, por exemplo, a floresta tropical (latitude baixa) ou a tundra ( latitude alta). É o conjunto de ecossistemas terrestres. É caracterizado pelos tipos fisionômicos semelhantes de vegetação.” (ROSS, 1996, p. 536) 2 No momento, a expressão ‘populações tradicionais’ ainda está na fase inicial de sua vida. Trata-se de uma categoria pouco habitada, mas já conta com alguns membros e com candidatos a entrada. Para começar, tem existência administrativa: o Centro Nacional de Populações Tradicionais – CNPT, um órgão do Ibama. No início, a categoria congregava seringueiros e castanheiros da Amazônia. Desde então se expandiu, abrangendo outros grupos que vão de coletores de berbigão de Santa Catarina a babaçueiras do sul do Maranhão e quilombolas do Tocantins”. O que todos esses grupos possuem em comum é o fato de que tiveram pelo menos em parte uma história de baixo impacto ambiental e de que tem, no presente, interesse em manter ou recuperar o controle sobre o território que exploram. E acima de tudo, estão dispostos a uma negociação: em troca do controle sobre o território comprometem-se a prestar serviços ambientais. (CUNHA E ALMEIDA, 2001, p. 184) Nesta dissertação utiliza-se o termo comunidades tradicionais, por ser mais abrangente e contemplar o conjunto de populações tradicionais de uma maneira mais genérica. 3 Trabalhador que se dedica à extração do látex da seringueira, Hevea brasilienses, e com ele prepara a borracha e a comercializa. 4 Trabalhador que se dedica à coleta, preparo e comercialização da castanha-do-pará ou “castanha-da-amazônia”, Bertolletia excelsa. A semente é extremamente nutritiva e serve como alimento. 5 Trabalhador que se dedica à coleta, preparo e comercialização do coco da palmeira do babaçu, Orbyginia martiana. Desta palmeira tudo se aproveita: do coco se extraem sementes oleaginosas que servem principalmente para a alimentação “azeite de babaçu”. Das folhas se faz cobertura para casas, cestarias e outros artesanatos. A casca do coco é utilizada como combustível. Pode-se ainda comer o palmito, contudo está prática requer o manejo adequado e no Brasil, autorizado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA. 6 Palmeira, Euterpe oleracea de cujos frutos se faz suco muito nutritivo, rico em ferro e de grande importância na alimentação do caboclo ribeirinho amazônico. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 10 ensinar a estabelecer novos limites para as mudanças produzidas pelo ser humano no processo de interação com seu meio. Este aprendizado poderá levar o ser humano a estabelecer com o ambiente natural um equilíbrio dinâmico onde a interação entre ambos não gere prejuízos irreversíveis à natureza. Um estudo desenvolvido pelo Banco Mundial sobre os valores dos indígenas e seus conhecimentos sobre a Terra e o meio ambiente analisou atitudes de três povos indígenas dos seguintes países: Equador, Quênia e Filipinas. Concluiu-se que estes povos não consideram a Terra como uma mercadoria para ser comprada e vendida em transações impessoais, mas como algo dotado de significações sagradas, inserido nas relações sociais, fundamental para a compreensão de sua própria existência e identidade. (BANCO MUNDIAL, 1992, p. 100) Este relatório reconhece a importância do conhecimento tradicional acerca do meio ambiente, e que o desenvolvimento de projetos que não levam em conta as práticas tradicionais geralmente costumam fracassar. (BANCO MUNDIAL, 1992, p. 100) “Se as sociedades tradicionais viveram até o presente no interior de uma natureza que nós ocidentais julgamos hostil, é essencialmente devido ao saber e ao saber-fazer acumulado durante milênios dos quais nós reconhecemos hoje seu valor intrínseco.” (BONNEMAISON, 1993 apud LEVEQUE, 1997, p. 55-56) “Respeitando a sensibilidade para com a diversidade natural e seus processos inerentes aos sistemas socioeconômicos de produção, menos sofisticado, as populações das áreas urbanas poderão desenvolver um novo conhecimento para com estas fontes de sua própria sobrevivência.” (BROWN, 1991 apud DIEGUES, 2001, p. 22) A síntese do conhecimento tradicional e científico poderá apontar o caminho para este novo modelo de desenvolvimento. Um modelo que reconheça as comunidades tradicionais como guardiãs das nossas riquezas ambientais e culturais e que permita a interação entre o tradicional e o contemporâneo. Ao contrário do que se pensava dentro da lógica desenvolvimentista do pós-guerra, “preço do progresso”, nem sempre é preciso que alguém perca para que outros sejam beneficiados, a lógica do desenvolvimento sustentável nos permite afirmar que é possível que todos ganhem, no que diz respeito às questões ambientais, desde que se perceba que os recursos do planeta são finitos e que devem ser compartilhados por todos os seres vivos que Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 11 habitam a Terra, buscando diminuir as desigualdades sociais existentes entre os seres humanos. Este conceito de desenvolvimento sustentável focaliza a integração de fatores ambientais e econômicos nas tomadas de decisão e na necessidade de se considerar o bem estar de todas as pessoas. Baseia-se na idéia de que “nós não herdamos a Terra dos nossos pais, mas a tomamos emprestada dos nossos filhos.” (MURPHY, 1994 apud SWARBROOKE, 2000, p. 06) O modelo proposto para o desenvolvimento sustentável foi amplamente discutido no Brasil, na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento que ocorreu em 1992, na cidade do Rio de Janeiro e ficou conhecida como - Rio/92. Foi a maior reunião de líderes mundiais já realizada na história contemporânea, reunindo 179 países. Já não cabia mais desvendar os limites do crescimento, mas, sim, pensar conjuntamente homens, mulheres e a natureza, porque fazem parte dos mesmos sistemas, existem pelas mesmas razões, porque há uma interdependência inquestionável. Agora já se sabia, sem dúvida alguma, que há um futuro comum. Foi, portanto, nesse espaço privilegiado, que se expandiu à noção de desenvolvimento sustentável. (CASCINO, 1999, p. 42) Norteados pela ciência de que todos os seres vivos fazem parte de um mesmo sistema planetário e pela necessidade de construir um futuro comum, ao final desta conferencia foi aprovado um documento que apresenta um programa estratégico universal, com o objetivo de alcançar o desenvolvimento sustentável no século XXI. Este documento ficou conhecido como Agenda 21, é o resultado de amplo debate mundial e propõe um compromisso político no que diz respeito ao desenvolvimento e cooperação ambiental. A partir desse documento os países participantes passaram a desenvolver suas respectivas Agendas 21. A relação humana com o meio ambiente chegou a um ponto de estrangulamento, que exige repensar valores, práticas e políticas e a conformação de um novo paradigma, o qual, por sua vez, não comporta os níveis de desigualdade atuais. (REDUÇÃO, 2000) Na Agenda 21, foram explicitados conceitos que representam os fundamentos do desenvolvimento sustentável, tais como: Cooperação e parceria - A cooperação entre países, os diferentes níveis de governo federal, estadual e municipal, e entre os vários segmentos da sociedade é enfatizada em todo o documento. (AGENDA 21, 2002) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 12 Educação e desenvolvimento individual - Destaca a importância da capacitação individual, além de ressaltar a necessidade de ampliar o horizonte cultural e as oportunidades para todos. Que sejam promovidos programas educacionais cujo objetivo seja refletir sobre os problemas comuns a toda a humanidade. (AGENDA 21, 2002) Eqüidade e fortalecimento dos grupos socialmente vulneráveis - Reforça valores e práticas participativas, dando consistência à experiência democrática dos países. Todos os grupos, vulneráveis sob os aspectos sociais e políticos, ou em desvantagem relativa, como crianças, jovens, idosos, deficientes, mulheres, “populações tradicionais” e indígenas, devem ser incluídos e fortalecidos nos diferentes processos de implementação da Agenda 21 nacional, estadual e local. Esses processos requerem não apenas a igualdade de direitos e participação, mas também as contribuições dos diversos grupos, com seus valores, conhecimentos e sensibilidade. (AGENDA 21, 2002) Planejamento - O desenvolvimento sustentável só será alcançado mediante estratégia de planejamento integrado, que estabeleça prioridades e metas realistas. (AGENDA 21, 2002) Desenvolvimento da capacidade institucional - Ressalta a importância de fortalecer os mecanismos institucionais por meio do treinamento de recursos humanos. Trata-se, em outras palavras, de desenvolver competências e todo o potencial disponível em instituições governamentais e não-governamentais, nos planos internacional, nacional, estadual e local, para gerenciar as mudanças. (AGENDA 21, 2002) Informação - Evidencia a necessidade de tornar disponíveis bases de dados e informações que possam subsidiar a tomada de decisão, o cálculo e o monitoramento dos impactos das atividades humanas no meio ambiente. A reunião de dados dispersos e setorialmente produzidos é fundamental para possibilitar a avaliação das informações geradas, sobretudo nos países em desenvolvimento. (AGENDA 21, 2002) A que se considerar, que embora seja um esforço louvável, há uma enorme diferença entre elaborar um documento e implementar os conceitos anteriormente discutidos para que sejam viabilizados em prazos diferenciados de acordo com cada caso. Todos os atores devem estar envolvidos e comprometidos, dos setores governamentais, da iniciativa privada e das Organizações Não Governamentais. O Brasil, assim como os demais países signatários dos acordos oriundos da Rio/92, assumiu o compromisso de elaborar e implementar a sua própria Agenda 21. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 13 A Agenda 21 brasileira foi concluída após 10 anos da Rio/92, há que disseminá-la por todos os setores da sociedade brasileira, promovendo os debates necessários para garantir a sua incorporação e implementação. Verificou-se que sua conclusão foi realizada às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, ocorrida entre agosto e setembro de 2002, em Johannesburg, África do Sul, denominada Rio+10. A Conferência de Johannesburg proporcionou aos líderes mundiais, uma nova oportunidade para avançar na direção do desenvolvimento sustentável, porém infelizmente não registrou grandes avanços. Programada para ser uma conferência de implementação dos planos para a sustentabilidade definidos, em 1992, na Rio+10 acabou se transformando numa tentativa de resgate dos avanços obtidos no Rio de Janeiro há dez anos atrás. "Os impasses sinalizam não só a falta de vontade política de dar um passo adiante, como também à vontade de dar um passo atrás.", pontuou Rubens Born, do Fórum Brasileiro de Organizações Não Governamentais – ONGs. O texto de Johannesburg tem poucos compromissos concretos. Entre as prioridades estabelecidas sobre água e saneamento, energia, saúde, agricultura e biodiversidade, as ações e datas só foram garantidas para as áreas de saneamento, com meta de reduzir pela metade o número de pessoas sem acesso ao saneamento básico até 2015. Para a área de biodiversidade, as metas foram reduzir taxas de extinções das espécies da flora e fauna, e ainda recuperar estoques mundiais de peixe. (ANGELO, 2002) Ainda que a Rio+10 não tenha obtido os avanços desejados, o movimento ambientalista continua avançando e promovendo grandes discussões em torno dos desafios relacionados ao desenvolvimento sustentável. O movimento conquista cada vez mais espaço, muitas vezes representado pelos mesmos personagens atuantes nos movimentos sociais, uma vez que suas bandeiras, convergem para o aspecto social e ambiental ao mesmo tempo. Atualmente, registra-se uma mudança de postura, em que os movimentos passam a não mais exercer exclusivamente papel de denúncia, mas procuram oferecer soluções aos problemas a serem enfrentados. No Brasil, o movimento ambientalista tem encontrado no ecoturismo uma das possíveis ferramentas capazes de reforçar a tese do desenvolvimento sustentável. Algumas ONGs vêm desenvolvendo trabalhos relacionados ao ecoturismo, como: Sociedade de Proteção à Vida Silvestre – SPVS, em Guaraqueçaba, no estado do Paraná; Fundação Boticário na Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN, a Reserva de Salto Morato, no mesmo estado; SOS Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 14 Mata Atlântica na Região do Lagamar, no estado de São Paulo; O Conservation International - CI do Brasil na RPPN - Ecoparque de Una, no estado da Bahia; e na Fazenda Rio Negro na Região do Pantanal Sul, no estado do Mato Grosso do Sul; e ainda a Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza - FBCN na RPPN de Rio das Pedras, no estado do Rio de Janeiro. Esse segmento7 do turismo praticado principalmente em ambientes naturais, desperta um grande interesse nas ONGs - ambientalistas, estas percebem uma possibilidade de compatibilizar desenvolvimento e conservação. Contudo estas organizações apontam que um turismo mal planejado e sem monitoramento oferece muitos prejuízos aos ambientes naturais e as comunidades tradicionais inseridas nas localidades e regiões que esta atividade se desenvolve. Assim, as organizações passaram a exercer um papel muito importante fazendo com que o trade8 turístico incorpore princípios conservacionistas9 e, desta forma, o ecoturismo comece a se consolidar de fato como ferramenta para o desenvolvimento sustentável. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, elegeu o ano de 2002 como ano internacional do ecoturismo, e em parceria com a Organização Mundial do Turismo - OMT, realizou a Conferência Mundial de Ecoturismo. Para esta conferência foram realizadas 18 reuniões preparatórias em diversos países, envolvendo mais de 3000 participantes dos setores públicos, privados e de ONGs. Assim, realizou-se esta Conferência em Quebec, no Canadá, em maio de 2002, com representantes dos três setores, provenientes de 132 países, que identificam no ecoturismo um setor promissor em seus respectivos países. Os principais resultados deste evento foram compilados em um documento intitulado: “Declaração de Ecoturismo de Quebec”. Este documento foi revisto e aprovado pelo PNUMA e OMT, em 10 de junho de 2002, e levado posteriormente para ser contemplado na Conferência em Johannesburg, África do Sul. (DECLARAÇÃO, 2002) Na oportunidade enfatizou-se que o turismo deve ser mundialmente visto como prioridade por ser potencial para contribuição da erradicação da pobreza e conservação dos ecossistemas10 ameaçados. 7 O termo segmento adotado neste trabalho é identificado como: classificação de um grupo de turistas com comportamentos similares. 8 Trade: rede de comerciantes e prestadores de serviços relacionados a um determinado setor. 9 O termo está baseado no pensamento do norte-americano Gifford Pinchot, se preocupava em aumentar a eficiência da utilização dos recursos evitando desperdícios, com a máxima produção sustentável. Enquanto que o termo preservacionismo se orientava por uma reverência à natureza, com uma apreciação estética e espiritual da vida selvagem. (DIEGUES, 1994, p. 24-25) 10 Segundo Matsushima (1987, p. 139;141) pode-se definir “ecossistemas: ambientes específicos, com elementos da natureza, próprios à vida. A maior parte dos ecossistemas formou-se através de um longo processo de adpatação entre as espécies e o meio ambiente. Estão dotados de mecanismos auto-reguladores e são capazes de Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 15 Os participantes reconheceram que o ecoturismo compreende os princípios do turismo sustentável considerando seus impactos econômico, social e ambiental e ainda exerce um papel primordial na introdução de práticas sustentáveis ao setor do turismo. (DECLARAÇÃO, 2002) Em relação à capacitação, o documento reforça sua importância em diversos itens. Destacam-se abaixo os principais aspectos relacionados neste documento: A) Aos Governos Nacionais, Regionais e Locais [...] os sistemas de certificação da atividade devem sempre seguir critérios regionais, promover capacitações e fornecer apoio financeiro de forma a se tornar acessíveis também aos pequenos e médios operadores.[...] deve-se garantir ainda que as estratégias de desenvolvimento do ecoturismo sejam conduzidas sob uma forma que preveja investimentos em infraestrutura sustentável e em capacitação das comunidades para que elas monitorem estes aspectos. [...] promover e desenvolver programas educacionais para crianças e adolescentes para aumentar a conscientização a respeito da importância da conservação da natureza e do uso sustentável, das culturas locais e indígenas e da sua relação com o ecoturismo. B) Ao Setor Privado [...] promover entre seus clientes, os turistas, uma forma consciente de comportamento dando-lhes a oportunidade de participar de experiências de educação ambiental e de conviver com pessoas de outras culturas. [...] gerar um nível de consciência entre funcionários por meio de aulas de educação ambiental e dar suporte ao trabalho que eles e suas famílias realizam em nome da conservação, de desenvolvimento econômico da comunidade e na redução da pobreza. C) As Organizações Não-Governamentais, Associações de base Comunitária e Instituições de Ensino e Pesquisa: [...] fornecer apoio técnico, financeiro, educacional, capacitação e demais suportes aos destinos de ecoturismo, às suas organizações comunitárias, pequenos negócios e autoridades locais de forma a garantir a aplicação de políticas apropriadas, o desenvolvimento de planos de gestão e os mecanismos de monitoramento compatíveis com a sustentabilidade. resistir, ao menos dentro de certos limites, às variações do meio ambiente e às variáveis bruscas na densidade de suas populações. [..] Cada elemento de um ecossitema tem um papel importante no funcionamento equilibrado de manutenção e desenvolvimento da vida e do meio.” Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 16 D) Às Instituições Internacionais de Financiamento e Agências de Assistência ao Desenvolvimento: [...] promover capacitações em organizações locais, regionais e nacionais para a formulação e aplicação de políticas e planos de ecoturismo baseados em padrões internacionais consagrados. [...] desenvolver a capacidade dos recursos humanos internos para lidar com o turismo sustentável e com o ecoturismo como uma atividade de desenvolvimento em si só e garantir que o conhecimento interno, a pesquisa e a documentação permitam que o ecoturismo seja visto como uma ferramenta de desenvolvimento sustentável. [...] desenvolver mecanismos financeiros para o treinamento e capacitação das comunidades indígenas e locais, permitindo que elas participem do desenvolvimento do ecoturismo. E) Às Comunidades Locais e Indígenas: [...] como parte de uma visão de desenvolvimento para a comunidade, definir e implementar estratégias para um aumento de benefícios para a localidade, incluindo o acesso à informação, os desenvolvimentos humanos, físicos, financeiros e sociais, que venham com o crescimento da prática do ecoturismo. [...] fortalecer, estimular e encorajar a habilidade da comunidade em manter e utilizar conhecimentos tradicionais que sejam relevantes para a atividade do ecoturismo, como o artesanato, a agricultura, o folclore, a culinária e demais atividades que utilizam os recursos locais de forma sustentável. (DECLARAÇÃO, 2002) Neste documento os aspectos relacionados à capacitação abrangem todos os níveis de responsabilidade de todos os setores: governos, iniciativa privada, ONGs, instituições de fomento e comunidades. Abordam a importância da diversidade de mecanismos de educação, capacitação e disseminação de informações entre todos os atores envolvidos, desde os que elaboram e executam as políticas públicas, passando pelos que operam e comercializam os produtos de ecoturismo na origem e no destino do ecoturista até as próprias comunidades anfitriãs. Enfim, todos os envolvidos com o ecoturismo direta e indiretamente, devem participar do processo de ensino/aprendizagem, o que nos remete a ações específicas e abrangentes em capacitação profissional, para que, o desenvolvimento desta atividade, que relaciona conhecimentos complexos sobre meio ambiente, cultura, conservação e turismo, resulte nos benefícios desejados. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 17 1.2 – TURISMO SUSTENTÁVEL E ECOTURISMO Foi possível verificar, pela pesquisa bibliográfica realizada, muitas denominações atribuídas ao tipo de turismo abordado neste trabalho, como turismo sustentável, ecoturismo, turismo brando, turismo responsável, turismo de mínimo impacto, turismo de aventura, turismo alternativo, turismo verde, turismo ecológico, turismo ambiental, turismo de natureza. Todas estas denominações acabam tendo similaridades em suas definições e usos temáticos, muitas vezes geram confusão na sua aplicação. Mas, este trabalho não tem a pretensão de esgotar o assunto, pela ampla possibilidade de reflexões que podem ser desenvolvidas sobre similaridades e diferenças entre estas denominações. Neste trabalho apenas tenta-se definir alguns critérios que estabeleçam melhor entendimento dos conceitos adotados. Assim como o desenvolvimento sustentável estabelece um novo modelo, o turismo sustentável, dentro do setor do turismo, também oferece um modelo ideal para que todo o trade turístico, de qualquer segmento, procure trabalhar estabelecendo parâmetros que respeitem as limitações impostas pelos ambientes naturais ou sócio-econômico-culturais dos locais de visitação. Portanto, turismo sustentável, não se trata apenas de um segmento turístico, mas de um modelo a ser seguido por todos os segmentos turísticos. Adaptando-se o conceito de desenvolvimento sustentável para turismo sustentável, temos neste trabalho a seguinte definição: Turismo sustentável é aquele que atende as necessidades do trade e dos turistas atuais, utilizando os recursos naturais e culturais, sem comprometer a possibilidade do uso fruto destes mesmos recursos pelas gerações futuras. Desde o início dos anos 90 a expressão “turismo sustentável” passou a ser usada com freqüência. Ela indica uma abordagem do turismo que reconhece a importância da comunidade anfitriã e o propósito de maximizar os benefícios do turismo para essa comunidade. Esse conceito foi reconhecido no Greem Paper on Tourism publicado, em 1995, pela União Européia. (SWARBROOKE, 2000, p. 13) As designações para turismo ecológico, turismo verde, turismo brando, turismo responsável, turismo de mínimo impacto, turismo alternativo, estão relacionadas com o como, Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 18 ou seja, a forma de operação turística, sendo utilizadas como sinônimo de turismo sustentável, surgiram como um contraponto em relação ao turismo de massa. Já em relação às designações para turismo ambiental e turismo de natureza, embora sejam muitas vezes utilizadas como sinônimos de ecoturismo, de fato, estão mais relacionadas ao turismo praticado em ambientes naturais, ou seja, onde são praticadas as atividades, sem que necessariamente haja uma preocupação maior com a sustentabilidade da localidade receptora. Nos últimos anos verifica-se uma tendência na utilização do termo ecoturismo para referir-se a um tipo de turismo mais claramente relacionado aos princípios de sustentabilidade. “O ecoturismo seria parte de um turismo mais amplo baseado na natureza.”, como é descrito por Goodwin in Fennell. (2002, p. 46) Contudo, pode-se em muitos casos, identificar em locais com atrativos naturais singulares, onde há a prática do “turismo de natureza” representativa ocorrência de impactos negativos gerados pela própria atividade. Portanto, sabe-se que muitas pessoas visitam ambientes naturais, porém sem ter maior consciência da importância de sua conservação, ou tão pouco demonstrar preocupações com o impacto negativo gerado sobre o ambiente natural ou cultural visitado, precisando ser preparada para tal, por meio da participação em programas de educação ambiental. De acordo com Beni, a segmentação do turismo corresponde à identificação do perfil do turista, quanto aos seus gostos e preferências, expressas por meio de comportamentos homogêneos. Possibilitando verificar preferências em relação aos principais tipos de destinos turísticos, meios de transporte e análise do perfil demográfico. “O motivo da viagem, entretanto, é o principal meio disponível para se segmentar o mercado.” (Beni, 1998, p. 149) Quando o turista tem como principal fator de motivação a prática de atividades de aventura, ele pertence ao segmento do turismo de aventura, mas se o principal fator de motivação é participar de competições esportivas no ambiente natural, pertence ao segmento do turismo esportivo. Portanto, se o principal fator de motivação for o contato com ambientes naturais conservados que contribua com a conservação e gere benefícios à população local, o viajante deve ser classificado dentro do ecoturismo. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 19 Caso pretenda-se classificar um segmento do turismo, exclusivamente a partir das atividades11 praticadas durante a visita, pode-se confundir os segmentos. Existem atividades ao ar livre que podem servir a diversos segmentos diferentes. Por exemplo: a atividade de rafting que pode servir ao ecoturismo, turismo de aventura ou ao turismo esportivo. Para classificar uma atividade como compatível com o segmento ecoturístico é preciso verificar se esta é uma atividade passível de ser praticada dentro dos princípios de mínimo impacto. Contudo ainda assim, é fundamental que sejam estabelecidos limites e definidos critérios para a prática em cada um dos ambientes em que deve ocorrer à atividade. Por ser o turismo praticado na natureza, responsável por despertar nos ambientalistas toda uma preocupação com os impactos ambientais negativos e ao mesmo tempo, responsável por fazê-los despertar para a possibilidade de se constituir em ferramenta para a conservação, esta vertente do turismo acabou despertando uma preocupação maior do trade com relação a sustentabilidade dos atrativos, principalmente dos atrativos naturais. A partir do final da década de 80, o turismo praticado em ambientes naturais, passa a ser foco de preocupação de representantes do movimento ambientalistas e diversos setores do trade, que trabalham com produtos que tem maior ênfase nos atrativos naturais conservados. Estes começam a discutir conceitos, princípios e critérios e definir diretrizes para este segmento do turismo. Para Boo, (1992, p. IV) “el ecoturismo es una idea que surgió cuando dos corrientes independientes se interceptaron. Una de estas corrientes es la del campo de la conservación y la otra es la de la industria turística.” Na concepção da autora ecoturismo é: “turismo de naturaleza que promueve la conservación e los esfuerzos para un desarrollo sostenible”. Dentre as definições mais citadas está a de Ceballos-Lascuráin (1998, p. 07), adotada pela UICN, descrita abaixo. [...] aquella modalidad turística ambientalmente responsable, consiste en viajar o visitar áreas naturales relativamente sin disturbar con el fin de disfrutar, apreciar y estudiar los atractivos naturales (paisaje, flora y fauna silvestre) de dichas áreas, así como cualquier manifestación cultural (del presente e del pasado) que se puedan encontrarse ahí, a través de un proceso que promueve la conservación, tiene bajo impacto ambiental y cultural y propicia un involucramiento activo y cosioeconómicante benéfico de las poblaciones locales. 11 Entende-se que as atividades são a soma do atrativo com as facilidades oferecidas para que o turista desfrute do contato com os atrativos. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 20 Verificou-se uma outra definição de Ceballos-Lascuráin que indica uma relação mais ampla sobre a interação do turista oriundo de núcleos urbanos, com o meio diferenciado do ambiente de origem deste turista. Assim temos em Ceballos-Lascuráin: [...] En estos términos, el turismo orientado hacia la naturaleza implica un enfoque científico, estético o filosófico en lo, que se refiere a la actividad de viajar, aunque el turista interesado en la naturaleza no necesita ser un científico profesional, un artista o un filósofo. El ponto principal consiste en que la persona que practica el turismo ecológico tiene la oportunidad de sumergirse en la naturaleza de una forma que no se encuentra disponible en el ambiente urbano. (1987 apud BOO, 1990, p. 02-03) Outra definição bem conhecida é a utilizada pela The International Ecotourism Society TIES: “viagem responsável a áreas naturais, visando preservar o meio ambiente e promover o bem-estar da população local.”. (WESTERN, 1995, p. 17) No Brasil o ecoturismo é conceituado como: “segmento da atividade turística que utiliza de forma sustentável o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem estar das populações envolvidas.” (BRASIL, 1994, p. 19) Em pesquisa realizada por Fennell (2002, p. 51), foram analisadas quinze definições de ecoturismo. De acordo com a tabela 1, verifica-se o que há de comum entre elas. PRINCÍPIOS DE DEFINIÇÃO Interesse em Natureza Contribuição à Conservação Apoiado em Parques e Áreas Protegidas Benefícios da População Local Educação e Estudo Baixo Impacto/não Predatório Ética/Responsabilidade Gestão Sustentabilidade Usofruto/apreciação Cultura Pequena Escala Aventura % DAS OCORRÊNCIAS 67% 67% 60% 53% 47% 33% 27% 27% 27% 20% 20% 20% 7% Tabela 1 – Interpretação da tabela 2.1 de Fennell (2002, p. 51) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 21 Destacando-se na tabela acima os princípios que tiveram maior ocorrência nas definições existentes, pode-se concluir que o ecoturismo pode ser entendido como: um segmento que apresenta interesse pelos atrativos naturais, visa contribuir com a conservação dos locais visitados, está relacionado com áreas protegidas e gera benefícios à população local. A relação com a educação e o estudo também é citada com média freqüência nas definições analisadas, pois o ecoturista, de modo geral é um indivíduo interessado em aprender mais sobre os ambientes visitados. Tal fato reforça a importância de anfitriões capacitados e bem preparados para oferecer estas informações. Um terço das definições analisadas reforçam a importância de se trabalhar com baixo impacto, pois o ecoturista não deseja sentir-se como um agente de degradação dos ambientes naturais e culturais visitados, mas sim como alguém que contribui para a conservação. Assim, o trade deve ser capacitado e estar consciente do seu papel como agente de conservação dos ambientes naturais e culturais que compõe a base de recursos do seu produto ecoturístico. Outros itens ainda são destacados nas definições analisadas como: ética, responsabilidade, gestão e utilização sustentável, cultura e aventura. O aspecto relativo à pequena escala reforça a preocupação com o impacto negativo, que de modo geral, é causado nos ambientes com elevada freqüência de visitação. Todas as definições reforçam a preocupação com a sustentabilidade do turismo. A TIES, principal organização mundial para o ecoturismo, adotou o termo ecoturismo para designar o segmento. No Brasil o Instituto Brasileiro de Turismo - EMBRATUR e o Ministério do Meio Ambiente - MMA, adotaram oficialmente o termo ecoturismo. No entanto, o ecoturismo é muitas vezes colocado como sinônimo de turismo de natureza e, outras vezes, de turismo sustentável, porém o fato é que a discussão em torno do conceito, tem cada vez mais, despertado para a necessidade de que todos os segmentos turísticos trabalhem dentro de princípios de sustentabilidade. Talvez o ecoturismo como concebido pela TIES, Assim como o desenvolvimento sustentável como concebido em Nosso Futuro Comum, sejam vistos pela maioria das pessoas como sonhos irrealizáveis ou de realização imprevisível num futuro idealizado, ou seja, uma utopia. Mas, entende-se que o importante mesmo é que em função de suas características o ecoturismo tem sido apontado como uma alternativa viável, capaz de compatibilizar Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 22 desenvolvimento e conservação, especialmente para regiões com significativas extensões de áreas naturais conservadas, elevada diversidade de atrativos naturais e em muitos casos, em áreas com rica diversidade cultural, onde suas comunidades tradicionais, com seus costumes e conhecimentos etnobotânicos12 agregam muito valor ao produto ecoturístico. Desta forma, a conceituação central do ecoturismo contribuiu diretamente para o estabelecimento de princípios e diretrizes que influenciam para os avanços desta atividade, que apresenta nas últimas duas décadas um crescimento muito representativo no mercado mundial do turismo. 12 O termo refere-se ao conhecimento das populações tradicionais inseridas nas áreas naturais, neste trabalho entende-se que: “No plano internacional, a Convenção da Diversidade Biológica (*) reconhece, já em seu preâmbulo, a ‘estreita e tradicional dependência de recursos biológicos de muitas comunidades e populações indígenas com estilos de vida tradicionais’. O artigo 8 (j) estabelece que os países signatários devem ‘respeitar, preservar e manter o conhecimento, inovações e práticas das comunidades locais e populações indígenas com estilos de vida tradicionais relevantes à conservação e utilização sustentável da diversidade biológica’, bem como ‘incentivar sua mais ampla aplicação com a aprovação e participação dos detentores desse conhecimento, inovações e práticas’, e ‘encorajar a repartição justa e eqüitativa dos benefícios oriundos da utilização desse conhecimento, inovações e prática”. (CUNHA E ALMEIDA, 2001, p. 238) (*) O decreto n°2.519, de 1998, promulga a Convenção sobre Diversidade Biológica - Cdb, assinada durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada na cidade do Rio de Janeiro, no período de 5 a 14 de junho de 1992. O Decreto Legislativo n°2, de 1994, aprova o texto da Cdb. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 23 CAPÍTULO – 2 – BASES E PERSPECTIVAS DO ECOTURISMO Observou-se na pesquisa bibliográfica realizada, que para o ecoturismo se consolidar como atividade sustentável, deverá estar baseado em princípios que ofereçam bases claras para a elaboração de diretrizes. Estas devem nortear o processo de implementação da atividade. Principalmente porque o significativo aumento desta atividade, nas últimas duas décadas, aponta para necessidades urgentes de planejamento, implantação de infra-estrutura, e de ações em capacitação de recursos humanos que devem ser desenvolvidas buscando contemplar os interesses dos principais envolvidos, como as organizações governamentais, não governamentais, iniciativa privada e comunidades tradicionais, para que as localidades estejam melhores preparadas para o desenvolvimento desta atividade, e seja possível contribuir para o almejado modelo de desenvolvimento sustentável através do ecoturismo. 2.1 – PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DO ECOTURISMO Identifica-se que os princípios do ecoturismo são diretrizes filosóficas fundamentais a serem seguidas, dentre os quais destacam-se: “o uso sustentável dos recursos naturais e culturais; envolvimento da comunidade; informação e interpretação ambiental; geração de lucro; reversão dos benefícios para a comunidade local e à conservação dos recursos naturais e culturais.” (OFICINAS, 1994, p. 04-06) A Tourism Concern, representativa organização turística que congrega 40 dos 81 operadores do Reino Unido, tem como propósito estimular seus operadores associados a desenvolverem produtos para destinos que possam levar ecoturistas a conhecer ambientes naturais e culturais, respeitar esses ambientes e suas características. Em 1992, esta organização publicou a lista, abaixo relacionada, que contem dez princípios éticos que norteiam os trabalhos de seus associados. 1. Usar os recursos de forma sustentável 2. Reduzir o consumo exagerado e o desperdício 3. Manter a diversidade Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 24 4. Integrar o turismo ao planejamento 5. Apoiar as economias locais 6. Envolver as comunidades locais 7. Consultar os investidores e o público 8. Treinar equipes 9. Fazer o marketing responsável 10. Realizar pesquisas O conceito de sustentabilidade é evidenciado logo no primeiro princípio, pois a utilização sustentável dos recursos turísticos implica em minimizar impactos ambientais e sócio-culturais, possibilitando às futuras gerações desfrutarem destes recursos. O consumo exagerado é antagônico em relação a sustentabilidade dos recursos. Operador e anfitrião devem demonstrar aos ecoturistas a possibilidade de utilização racional dos recursos e garantir a manutenção da diversidade ambiental e sócio-cultural. Destaca-se ainda, nesses princípios, o importante papel do planejamento para o desenvolvimento do ecoturismo. Este permite antecipar cenários e identificar problemas, diminuindo riscos e prevendo futuras ações, ampliando assim as possibilidades de sucesso dos empreendimentos ecoturísticos. O operador associado precisa estimular o desenvolvimento da economia local, adquirindo bens duráveis, consumo de produtos locais, ampliar a incorporação de serviços na própria localidade para promover a sustentabilidade das comunidades receptoras. É preciso garantir que essas comunidades participem do processo de desenvolvimento do ecoturismo desde o planejamento e tenham acesso ao conhecimento necessário para desenvolver estratégias de geração de emprego e renda, e possibilitar investimentos em empreendimentos individuais ou comunitários relacionados ao ecoturismo. Assim, poderão obter benefícios reais e melhoria de qualidade de vida efetiva. A comunidade deve ser informada sobre os impactos negativos que poderão decorrer do desenvolvimento desordenado do ecoturismo e, por outro lado, deve estar ciente dos aspectos positivos buscando maximizá-los. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 25 Um plano para o desenvolvimento do ecoturismo deve delinear claramente os requisitos para treinamento em todos os níveis, desde planejadores, gestores, operadores, investidores, educadores e representantes das comunidades que leve a capacitação às principais destinações ecoturísticas. O marketing possui um papel relevante para o desenvolvimento do ecoturismo, pois deve estar baseado na responsabilidade de transmitir informações, que possam atrair visitantes preocupados com a conservação do ambiente visitado. Para tanto, faz-se necessário à realização de pesquisas que associem a base de recursos de uma região ou comunidade aos segmentos de mercado adequados. No entanto o respeito ao ambiente natural e cultural deve ser uma questão de princípio por parte dos operadores, em primeiro lugar por coerência e além disto, por ser este mesmo ambiente, a principal base de recursos do seu negócio. (FERREIRA, 2000, p. 177) As atividades dos operadores de viagem desenvolvidas, com princípios éticos e de sustentabilidade do ambiente visitado, possibilitam que o ecoturista possa sentir-se como agente do processo de conservação e não como quem contribuí para degradação do ambiente visitado. (FERREIRA, 2000, p. 177) A The International Ecotourism Society, em 1995, estabeleceu diretrizes para que operadores de ecoturismo evidenciem a proposta de turismo sustentável com ênfase no ecoturista. (DIRETRICES, 1995). Dentre estas se destacam as seguintes diretrizes: • Preparar os ecoturistas, antes de sua partida, para que sua visita aos ambientes naturais e culturais frágeis produza um mínimo impacto negativo. • Disponibilizar ao ecoturista, mediante material informativo, explicações claras sobre as culturas locais e orientá-lo através de exemplos e ações corretivas. • Conduzir adequadamente os grupos mantendo-os suficientemente pequenos para assegurar o menor impacto sobre os locais visitados. Evitar áreas super exploradas ou sem administração. • Assegurar que gestores e demais funcionários, conheçam e participem das políticas propostas pela instituição para que possam prevenir o impacto sobre o ambiente natural e cultural locais. E tenham ainda, acesso a programas que reforcem sua capacidade de comunicação e gestão em áreas de fragilidade ambiental ou cultural. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 26 • Contribuir com programas de conservação nas regiões a serem visitadas. • Fomentar a contratação de pessoas locais, oferecendo oportunidades competitivas em todos os aspectos das operações de negócios. • Identificar meios de hospedagem que utilizem recursos e materiais locais de forma sustentável, que valorizem o conhecimento tradicional e permitam o aprendizado sobre o ambiente visitado. Nestas diretrizes há um caráter norteador para a adoção de uma postura ética pelos operadores de viagem frente ao ambiente natural e cultural visitado. Além de contribuir para identificação de destinos e clientes que compartilhem destas diretrizes. As operadoras, muitas vezes, confrontam-se com complexas dificuldades características das inter-relações existentes no turismo. Assim, para alcançar a sustentabilidade de um destino é necessário desenvolver ações integradas entre os gestores do setor público, da iniciativa privada, de organizações não governamentais e os segmentos representativos das comunidades anfitriãs. No ecoturismo, o ambiente não deve ser transformado para atender as expectativas dos visitantes, estes é que deverão ser preparados para a experiência da visitação. O ecoturista deve respeitar a cultura e a organização social local, bem como a capacidade de suporte imposta pelo ambiente natural do local de visitação. A educação ambiental é uma das principais ferramentas para a preparação do visitante. No decorrer das últimas três décadas, com o agravamento da crise ambiental, a discussão sobre desenvolvimento sustentável vem ganhando espaço no cenário político mundial. Assim, a possibilidade de ser o ecoturismo uma das ferramentas capazes de promover este novo modelo de desenvolvimento, levou representativas organizações internacionais relacionadas ao setor, a desenvolverem seus próprios princípios e diretrizes, como ocorreu no Brasil onde o poder público promoveu a elaboração das Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo, em 1994. De modo geral, muitas diretrizes são documentos que reafirmam a preocupação com a sustentabilidade do ecoturismo, enfatizando principalmente que a atividade deve gerar benefícios para as comunidades locais envolvidas, para conservação dos recursos ambientais e culturais das destinações, e utilizar estes mesmos recursos de forma sustentável. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 27 Além do caráter norteador contemplado nestes documentos, verificou-se ainda que as instituições procuram indicar mecanismos que possam viabilizar o alcance do ecoturismo como ferramenta para o desenvolvimento sustentável, através de programas de educação ambiental para visitantes, capacitação do trade e das comunidades envolvidas. O agravamento dos problemas ambientais nos grandes centros urbanos e o aumento da preocupação mundial com a conservação do meio ambiente constitui um cenário extremamente favorável ao desenvolvimento do ecoturismo no mundo. 2.2 – POTENCIAL E TENDÊNCIAS DO ECOTURISMO O turismo é considerado uma das atividades econômicas mais importantes na economia mundial, nos últimos anos superou a indústria bélica em volume de capital transacional e acredita-se que nos próximos anos possa movimentar valores superiores aos da indústria petrolífera, apontada como a primeira no mundo. (CRUZ, 2000 apud PÓLOS, 2001, p. 10) A Organização Mundial do Turismo – OMT, em 1999, estimou que ocorreram mais de 663 milhões de viagens internacionais. Os gastos desses turistas ultrapassaram a cifra de US$ 453 bilhões. Foi previsto para as próximas duas décadas um crescimento para o turismo, da ordem de 4,1% ao ano, ultrapassando a casa de um bilhão de turistas internacionais em 2010 e chegando a 1,6 bilhões em 2020. (WTO, 2000) A importância do turismo extrapola os aspectos econômicos, se considerarmos que o setor envolve todo um sistema de relações comerciais com produção de bens e serviços que caracterizam a importância do turismo também em relação ao aspecto social, uma vez que estes setores são capazes de gerar emprego e renda. Lage e Milone apontam que o turismo, por se tratar de um setor de economia aberta, relaciona-se com um movimento de exportações e importações gerando entrada de divisas. “Com uma maior inserção de recursos financeiros e humanos no fluxo econômico de um país, haverá contribuição positiva para o crescimento de seu produto nacional refletido no desenvolvimento de sua população.” (LAGE E MILONE, 2000, p. 35) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 28 O turismo emprega no mundo cerca de 200 milhões de pessoas, o que corresponde a 10% da força de trabalho global. (TIES, 2002) O turismo tem seu crescimento relacionado aos avanços tecnológicos que envolvem o setor de transporte, fazendo com que as distâncias geográficas sejam superadas com maior facilidade, o setor de comunicação fazendo com que informações relacionadas às questões culturais e ambientais sejam capazes de gerar demandas, ou seja, motivar correntes de viajantes interessados em conhecer ambientes culturais e naturais conservados. Até meados dos anos 30, mais de 80% da população mundial locomovia-se à tração animal ou a pé. Por influência da segunda guerra mundial o automóvel tornava-se acessível a vastas camadas da população e os aviões começavam a serem produzidos para fins de transporte civil de grande escala. “Com isso a própria Terra, relativamente, diminuía, permitindo uma profunda mudança na percepção das geografias.” (CASCINO, 1999, p. 27). Este mesmo autor registra (1999, p. 29), uma frase dita em 1970 por Marshall McLuhan, que ficou mundialmente conhecida e que é capaz de resumir o que se procura expressar: Vivemos em uma “aldeia global”. Enquanto o turismo em geral apresenta um crescimento anual em torno de 4%, o turismo voltado à natureza vem crescendo a uma taxa de 10% ao ano. Estudos recentes mostram que entre 40 e 60% do total de turistas que cruzam as fronteiras nacionais por ano, o fazem atraídos pela natureza dos países receptores. (WTO, 2000) En 1989 se estimó que un total de 25,000 millones de dólares fueron transferidos por la actividad turística en general de los países del norte hacia los del sur. De esta cifra es evidente que la mayor parte correspondía a viajes de negocios y de turismo “convencional”, pero lo que es indudable es que el porcentaje correspondiente al ecoturismo está creciendo de manera notable cada año. (KUTAY, 1989 apud CEBALLOS-LASCURIÁN, 1998, p. 08) Segundo a The International Ecotourism Society - TIES, nos últimos anos o ecoturismo tem atraído algo em torno de 3% e 7% gerando uma renda em torno de US$ 200 bilhões anuais. (2002) Brasil e Peru são apontados como países com elevado potencial para o ecoturismo, especialmente se levarmos em consideração a singularidade de suas biodiversidades. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 2.2.1 – A BIODIVERSIDADE COMO POTENCIAL 29 PARA O ECOTURISMO NO BRASIL Estudos realizados pela Conservation International – CI, apontaram o Brasil como o segundo país do mundo em megadiversidade. A análise dos 25 Hostspots13 identificou dois biomas brasileiros extremamente importantes, a Floresta da Mata Atlântica e o Cerrado, pois apresentam elevadas taxas de endemismo14, e fora13m profundamente impactados pelo processo de urbanização, industrialização e expansão agrícola nos últimos cinqüenta anos. Destes dois biomas restam atualmente no Brasil, da cobertura de Floresta Atlântica, apenas 7,5 %, em território representam 91.930 Km2 dos 1.227.600 Km2 originais. Em áreas remanescentes do Cerrado, restam 20%, que originalmente cobriam 1.783.169 Km2, atualmente temos apenas cerca de 356.634 Km2, (MITTERMEIER, 1999, p. 137-149) Mapa 1- Áreas naturais no mundo prioritárias para conservação ambiental, denominadas Hostspots. Fonte: CONSERVATION, 2002. 13 Hotspots são os lugares mais ameaçados do planeta, são as áreas eleitas pelo CI como prioritárias para a conservação da biodiversidade. 14 Endemismo – ocorrência de espécies exclusivas de determinado bioma. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 30 Mapa 2 - Áreas naturais brasileiras identificadas como prioritárias para conservação ambiental. Fonte: CONSERVATION, 2002. A Organização das Nações Unidas para Educação a Ciência e a Cultura – UNESCO, declara Reservas da Biosfera, áreas com interesse estratégico para a conservação. Estas áreas são instrumentos de gestão e manejo sustentável integrados que permanecem sob a jurisdição dos países em que estão localizadas. O Brasil possui cinco das 411 Reservas da Biosfera do mundo, são elas: Mata Atlântica, Amazônia, Caatinga, Cerrado e Pantanal. (RESERVAS, 2002) Os recursos florestais das regiões tropicais úmidas, que abrigam a maior diversidade de espécies animais e vegetais do mundo, continuam sendo degradados. Essa degradação se dá principalmente pela expansão da agricultura, seguidos pela transformação em fazendas de gado, para extração de madeira e da exploração de minérios (BANCO MUNDIAL, 1992, p. 144) Los impactos indirectos de las carreteras, en especial en condiciones amazónicas, son gravísimos y han adquirido fama mundial precisamente con la BR-364, en los años 1980, cuando esta carretera se anticipó al planeamiento del desarrollo, en el Norte de Mato Grosso, Rondonia e Acre, atrayendo cientos de miles de inmigrantes. El escándalo, medido especialmente en términos de deforestación, contaminación de las aguas por mercurio15 e invasión de tierras indígenas, fue de una magnitud tan grande que le atribuye, junto con la colonización de Kalimantan, en Indonesia, la reforma que llevó al Banco Mundial (BIRD y al Banco Interamericano de Desarrollo (BID) a crear requisitos ambientales severos en sus operaciones y a fortalecerse internamente para evitar ser responsabilizados por nuevos desastres. (RICH, 1985; SIERRA CLUB, 1986; FEARNSIDE, 1989 apud DOUROJEANNI E PÁDUA, 2001, p. 02) 15 Nota do autor: “A consecuencia del uso de mercurio para procesar oro extraído de forma legal e ilegal, por obra de los ‘garimpeiros’”. (Dourojeanni, 2001, p. 02) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 31 Tal fato desencadeou uma importante mudança na política implementada pelos bancos multilaterais, especialmente BIRD e BID, que passam a exigir dos governos parceiros, avaliações preliminares dos impactos ambientais gerados pelas obras financiadas. Os casos acima relatados constituem-se marcos importantes para a conservação ambiental, especialmente na América Latina, onde os governos passam a mudar de postura em relação aos impactos gerados pelas grandes obras a serem financiadas, pois sabem que de outra forma os recursos de financiamento não serão obtidos. Sabe-se que o episódio da BR-364 obteve grande repercussão negativa, especialmente pela preocupação mundial com a Amazônia, por sua representatividade em termos planetários, principalmente pelo fato da Região Amazônica conter um terço das florestas tropicais do globo, com uma extraordinária biodiversidade. O Brasil possui ainda outros biomas singulares com forte potencial para o ecoturismo, como os Campos Sulinos, o Pantanal, com enorme abundância de fauna, a Caatinga, com características ambientais extremamente peculiares, e ainda, mais de 8.000 Km de Costa Litorânea. Toda essa diversidade de biomas reforça o potencial de expansão para o ecoturismo no Brasil. No entanto, apesar da significativa representatividade de populações tradicionais residentes nestes biomas, sua inserção social é, de modo geral, negligenciada, compondo um quadro com moldura social de acentuada concentração de pobreza que aponta para a urgente necessidade de ações em capacitação. 2.2.2 – INSTRUMENTOS QUE FORTALECEM O DESENVOLVIMENTO DO ECOTURISMO Caso o ecoturismo seja desenvolvido tendo como base a capacitação profissional de comunidades receptoras, poderá promover a inserção social destas comunidades através da geração de empregos, promovendo a criação de empreendimentos privados ou comunitários e, havendo planejamento local, poderá contribuir para viabilizar um modelo de desenvolvimento sustentável que atenda simultaneamente às urgentes demandas sociais e de conservação. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 32 Não se pode afirmar que o ecoturismo é viável em qualquer área, mas exclusivamente naquelas em que existam ambientes naturais e culturais conservados e que apresentam elevado potencial de atratividade, relacionada com a singularidade dos recursos. De acordo com a metodologia de planejamento estratégico para o desenvolvimento do ecoturismo da Ecoplan:net Institute de autoria de Macgregor e Jarvie, dentro do processo de planejamento é primordial que seja executado e analisado o inventário dos recursos ecoturísticos disponíveis na área para que se defina sua potencialidade em relação ao desenvolvimento do ecoturismo, após esta análise deve-se proceder à análise do mercado seguida de uma análise sobre a capacidade de suporte dos locais de visitação. (OFICINAS, 1994) O planejamento é um instrumento fundamental para que os produtos ecoturísticos possam se constituir em ferramentas para conter o processo de degradação e contribuir para modificar o quadro social atual nestas localidades. Porém, dentro deste planejamento deve-se prever a implantação da infra-estrutura básica e turística, além de equipamentos e serviços, necessários para oferecer um mínimo de segurança, saúde e conforto aos visitantes. As necessidades de capacitação são componentes prioritários a serem identificados, para que sejam supridas a curto, médio e longo prazo as necessidades para a prestação de serviços relacionada ao ecoturismo. Desta forma, espera-se gerar emprego e renda e contribuir com a inserção das comunidades anfitriãs neste mercado de trabalho. Assim, as comunidades estarão fortalecidas e serão aliadas na fiscalização e controle da integridade destes ambientes naturais tão importantes para a manutenção da vida humana e das demais formas de vida no planeta, e aptas a transformar o ecoturismo na propalada ferramenta de desenvolvimento sustentável. “Os passeios ‘ecológicos’ aumentaram, só que num ritmo muito maior do que as estruturas locais podem atender. O resultado é o surgimento de uma grande quantidade de serviços turísticos de má qualidade, marcados pela falta de planejamento e treinamento”. (OFICINAS, 2000, p. 12) Na maioria dos destinos ecoturísticos a demanda por roteiros cresce mais que a oferta local. Isso leva ao grande número de pacotes turísticos de baixa qualidade no mercado e à atuação profissional irresponsável, o que não atende às expectativas dos clientes que buscam atividades com qualidade educacional, ou mesmo informativas. De fato, o setor de ecoturismo tem crescido tanto que não houve ainda oportunidade suficiente para o planejamento, Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 33 treinamento, desenvolvimento de produtos, marketing e gestão turística. (OFICINAS, 1994, p. 01) Somente alguns operadores experientes foram capazes de acompanhar a transição do turismo tradicional para aquele que responde aos interesses específicos dos ecoturistas, das comunidades locais e dos ambientes. A maioria, no entanto, apenas rotulou seu antigo produto de “ecoturismo”. (OFICINAS, 1994, p. 01) Alguns poucos empreendimentos ecoturísticos isolados caracterizam-se por oferecer produtos de alta qualidade e, por isso, podem servir de parâmetro. A maioria, no entanto, surge por uma oportunidade mercadológica imediata, sem dar atenção à necessidade de pesquisa e análise de mercado que permitam o planejamento que o setor exige. Estes, ao invés de serem instrumentos de conservação ambiental e geração de benefícios sócio-econômicos às comunidades, acabam por aumentar o processo de degradação ambiental, gerando desequilíbrios e desvalorização cultural. Um estudo da Associação Equatoriana de Ecoturismo indicou que para cada US$ 460,00 gastos por um turista para uma visita de quatro dias à Reserva Amazônica de Cuyabeno, no Equador, apenas U$ 40,00 ficaram na localidade. Em Cancún, litoral Mexicano e em Punta Cana, na República Dominicana, apenas 10% do que o turista gasta fica efetivamente no país. Na Costa Rica, por outro lado, permanecem no país 48% dos gastos dos turistas. (ACOSTA, 2002) De acordo com Pires (2002, p. 165-166), é questionável a propalada sustentabilidade de mega-empreendimentos a exemplo daqueles concentrados em Cancun, no México, nos quais as comunidades locais foram levadas a abdicar dos seus territórios tradicionais para se subjugar às oportunidades discriminatórias de trabalhos assalariados, eventualmente disponibilizados. Ceballos-Lascurián (1998, p. 09) aponta que a proximidade geográfica do México com os Estados Unidos poderá contribuir para elevar a demanda neste país para produtos de ecoturismo. Mas, salienta que ainda há uma representativa necessidade de investimentos para consolidar e promover esta atividade no mercado internacional, associado a um cuidadoso trabalho de orientação profissional frente às expectativas de crescimento deste mercado. Assim, espera-se que ao difundir o ecoturismo no México existam produtos turísticos que Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 34 insiram mais adequadamente as comunidades locais, do que os produtos relacionados ao turismo de “praia e sol” que ocorrem atualmente em Cancun. A Costa Rica, possui diferenciais importantes na competição pelo mercado turístico mundial, especialmente o norte-americano, em relação aos produtos oferecidos por países da costa caribenha, baseados no turismo de “praia e sol”, oferece um elevado número de áreas protegidas com recursos naturais diversificados. Pode-se verificar que o ecoturismo pode gerar um retorno sócio-econômico muito maior do que o turismo de massa. A Costa Rica é um país que tem colocado o ecoturismo como prioridade estratégica e em função disso tem obtido resultados extremamente positivos para a conservação e para a melhoria de qualidade de vida de sua população. (COUTINHO, 2000, p. 89) Dentro de um mecanismo onde se veja o ecoturismo como ferramenta para o desenvolvimento sustentável para regiões com potencial, certamente a capacitação deve ser prioridade. De acordo com o que se pode verificar nas pesquisas bibliográficas, existe, na prática, um consenso sobre a importância do envolvimento das comunidades receptoras para que possam ser beneficiadas. O envolvimento de comunidades receptoras, nos casos de comunidades tradicionais, que eventualmente, não estabeleciam relações com uma economia de mercado, especialmente dentro de um setor tão complexo como é o ecoturismo que envolve conhecimentos muito específicos, não é automático. Caso não seja deflagrado um processo de capacitação para o ecoturismo, estas comunidades anfitriãs estarão sujeitas aos mais diversos mecanismos de manipulação e serão, no máximo, absorvidas como recursos humanos mal remunerados por alguns grandes empresários do setor. Se hace imprescindible entrenar personal de nivel o mandos medios, para que sirvan de puentes entre la actividad en sí y las comunidades rurales. En otras palabras, hacerle ver a estas poblaciones que si protegen sus selvas tropicales o áreas boscosas, eventualmente podrían comenzar a derivar beneficios por la construcción de un albergue, la preparación de comidas autóctonas, el guiar a los visitantes, alquilar caballos, o vender artesanías propias de la zona [...]. Los niveles de inversión para construir un albergue u hotel rústico de montaña son, muchísimas veces menores que los requeridos para edificar un típico resorte a la orilla del mar, de ahí que esta actividad se esté convirtiendo en una alternativa económica real para muchas comunidades rurales. (PAREDES, 1992, p. 245) O que se deseja, é que estas comunidades tenham oportunidades de se desenvolver se desejarem empreender na área. Caso contrário, que possam participar com maior Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 35 conhecimento das decisões dos seus próprios destinos. Já que o desenvolvimento do ecoturismo em suas áreas irá trazer um perfil de visitante com hábitos, muitas vezes, diferenciado dos que existem em comunidades tradicionais pequenas inseridas em ambientes naturais mais conservados. 2.2.3 – O PERFIL DO ECOTURISTA O setor de ecoturismo tem características diferenciadas, sabe-se, por exemplo, que o ecoturista possui elevada consciência ambiental, busca experiências únicas que mantenham os recursos ambientais e sócio-culturais, procura integração com as comunidades e tem a expectativa de que a atividade realizada venha contribuir para o bem estar e melhoria de qualidade de vida das comunidades anfitriãs. A partir de pesquisas analisadas pela TIES, o perfil do ecoturista é: idade em torno de 35 a 54 anos, embora a faixa etária varie de acordo com a atividade e o custo do pacote; homens e mulheres estão igualmente divididos, embora também haja uma variação significativa de acordo com a atividade; possuem elevada escolaridade, 82% possuem ensino superior; 60% preferem viajar em casal; 50% preferem viagens que durem de 8 a 14 dias; de modo geral estavam dispostos a gastar mais do que os turistas convencionais sendo que 26% deles declararam estarem preparados para gastar em torno de US$1.001,00 e US$1.500,00 por viagem. (HLA e ARA, 1994 apud TIES, 2002) Esta elevada consciência ambiental, vem da experiência de pessoas que vivem em ambientes que já sofreram avançados processos de degradação nos grandes centros urbanos. Estas pessoas procuram reencontrar ambientes naturais e culturais conservados e desta forma, “compensar” o estresse vivido no dia-a-dia das grandes cidades. As condições de vida têm se deteriorado nos grandes conglomerados urbanos e conduzem ao fato de que uma parcela crescente da população busca, durante as férias, os fins de semana e os feriados, as regiões com belezas naturais - longe das cidades. Além disso, outros fatores contribuíram para o crescimento dos fluxos turísticos. (SAUER, 1975 apud RUSCHMANN, 1997, p. 14-15) • O aumento do tempo livre como conseqüência da racionalização e do aumento da produtividade nas empresas. A jornada de trabalho Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 36 diária, semanal e anual - diminuiu, aumentando o tempo livre para atividades de lazer e turismo; • A evolução técnica, que conduziu a um aumento na produtividade e a redução dos custos da produção. A produção em massa de veículos aumentou o grau de movimentação das pessoas, que se utilizam cada vez mais dos automóveis para viajar em férias; • O aumento na renda de amplas camadas da população contribuiu para que parcelas crescentes dos rendimentos fossem direcionadas para os gastos com viagens de turismo; • O desenvolvimento de empresas prestadoras de serviços que organizam e comercializam viagens de férias; • A liberação das formalidades aduaneiras, a eliminação de vistos, a unificação de documentos de viagem etc. estimularam as viagens internacionais; • O aumento da urbanização como conseqüência da industrialização; e • A falta do "verde" e os impactos psicológicos da vida urbana, que incentivam as viagens de férias e de fim de semana. O crescimento da violência verificado nos grandes centros urbanos, especialmente as guerras e o terrorismo internacional, deverão favorecer a procura por locais mais afastados. Ainda que, o atentado terrorista de “11 de setembro”16, esteja causando uma significativa retração na demanda por viagens internacionais, acredita-se numa recuperação gradual do mercado turístico e ecoturístico, capaz de não alterar as tendências de longo prazo, isto se não ocorrerem novos incidentes desta magnitude. Diversos fatores concorrem para acreditarmos em uma tendência favorável ao crescimento do ecoturismo, especialmente em países tropicais como o Brasil, que por meio de ações de capacitação e programas governamentais vem fortalecendo os mecanismos de atuação neste setor. 16 Em 11 de setembro de 2001, ocorreu um atentado terrorista na cidade de Nova Yorque, nos Estados Unidos da América – EUA, quando dois aviões de passageiros foram lançados contra as torres do World Trade Center, grande centro empresarial americano, matando milhares de pessoas. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 37 CAPÍTULO – 3 – ECOTURISMO NO BRASIL O ecoturismo no Brasil surge dentro de um “caldo de cultura” muito próprio na década de 80. Não surgiu de repente, e como em outros países tem suas raízes no movimento ambientalista e em operadoras de viagem que buscavam um conteúdo mais ambiental e educativo para seus produtos turísticos e ainda sob a influência de grupos de excursionistas autônomos, em geral estudantes que viajavam a fim de desenvolverem pesquisas acadêmicas ou atividades específicas, tais como: alpinismo, espeleologia e outras. Contudo, algumas iniciativas marcaram época, como o surgimento de operadoras de estudos do meio17. Algumas já eram operadoras de turismo e passaram a criar produtos específicos para atender a demanda de escolas que vêem neste tipo de atividade, uma possibilidade de viabilizarem a propalada interdisciplinaridade da educação ambiental, bem como para complementação prática do conteúdo de diversas disciplinas. Vamos também encontrar fortes referências às viagens como um instrumento privilegiado para educação ambiental quando se trata dos chamados estudos do meio realizados como estratégia pedagógica voltada à interdisciplinaridade, à vivência de experiências que estimulem a sensibilidade e a reflexão e à consolidação do aprendizado formal. Está alias, talvez seja a forma mais explicitamente explorada e evidente de articulação do ecoturismo à Educação Ambiental. (SERRANO, 2000, p. 11) Um dos fatores que alavancaram o ecoturismo no Brasil na década de 80, foi o surgimento de empresas operadoras nos grandes centros urbanos para atender à institucionalização dos “estudos do meio” pelas escolas particulares. (OFICINAS, 2000, p. 14) Embora Pires (2002, p. 187), relate uma iniciativa surpreendente que remonta à década de 60, experiências precursoras de estudos do meio viabilizadas por Domingos Toledo Piza, a pedido do Colégio Sion da cidade de São Paulo, para as cidades históricas de Minas Gerais. Outra experiência relatada por Pires (2002, p. 188) foi da Professora Nicea Wendel de Magalhães que operacionalizou viagens de estudos do meio com alunos de escolas particulares da cidade de São Paulo para o litoral sul do estado de São Paulo. Contudo estas iniciativas ainda caracterizavam-se como pontuais e de certa forma isoladas, ficando a década de 80 como referencial para um volume maior de iniciativas que formam a primeira geração de operadoras de ecoturismo do país. 17 Estudos do meio são entendidos como: “viagens escolares organizadas para um aprendizado interdisciplinar in sito, integrando várias linhas de conhecimento através do turismo.” (OFICINAS, 2000, p. 14) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 38 Depois das experiências precursoras de Piza e Nicea, entre os anos 80 e início dos 90, consolidam-se as suas próprias operadoras a Piza Trekking e Ecoassociação respectivamente, além de outras operadoras emissivas que passam a atuar em nível nacional ou estadual, como a Freeway, Trilha Brasil, Naturismo, Ambiental, Brasil Adentro*, Bioma*, Agência da Gente*, Biotripe*, e Venturas e Aventuras*, todas estas estabelecidas na cidade de São Paulo, algumas atuando exclusivamente com estudos do meio e outras com grupos não escolares. No conjunto pode-se afirmar que compõe uma geração pioneira no ecoturismo do país. Paralelamente, em outros estados surgem algumas iniciativas, como: Maracajá, estado do Rio Grande do Sul, Gekko Ecoturismo*, estado do Paraná, Companhia Trekking*, estado de Minas Gerais, Bromélia Expeditions, estado do Rio de Janeiro. Como operadora de receptivo internacional identificou-se a Expeditours, também no Rio de Janeiro. Começam surgir ainda, algumas receptivas locais como a Eco-Turismo Cultural*, na Chapada dos Guimarães, estado do Mato Grosso; Abrolhos Turismo*, em Caravelas, estado da Bahia, especializada no Parque Nacional Marinho e região; Mata Adentro*, em Brotas, estado de São Paulo, entre outras. (PIRES, 2002, p. 187-224) Alguns empreendimentos na área de hospedagem começam a surgir a partir de 1979. Como pioneiro temos o Amazon Lodge, no estado do Amazonas, porém no conjunto, pode-se considerar a década de 80 como marco para o início da implantação de empreendimentos hoteleiros voltados a este mercado. Dentre outros, merecem destaque pelo pioneirismo, a Pousada dos Guanavenas e o Ariau Jungle Tower, ambos no Amazonas17, Pousada Olho D’água em Bonito e Refúgio Ecológico Caiman, ambos no estado do Mato Grosso do Sul. Atualmente, ao longo da Rodovia Transpantaneira existem cerca de doze “pousadas ecológicas” e na região do entorno de Manaus, no Amazonas, encontram-se instalados 26 “hotéis de selva”. (PIRES, 2002, p. 187-224) A precedência cronológica em relação ao período histórico recente (década de 80) em que surgiu a chamada geração pioneira de operadoras de ecoturismo faz dos estudos do meio e de seu envoltório turístico um referencial a ser considerado não apenas na generalidade dos antecedentes históricos do turismo não-convencional como também na especificidade dos primeiros roteiros com enfoque ecológico e ambiental veiculados no âmbito do mercado turístico no Brasil, tratando-se então, de iniciativa verdadeiramente pioneira no segmento do turismo hoje consagrado como ecoturismo. (PIRES, 2002, p. 190) 17 Empreendimento identificado em pesquisas da Bioma Educação e Assessoria Ambiental em 1996. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 39 Pode-se confirmar nas pesquisas bibliográficas as experiências vivenciadas através de atividades de prestação de serviços exercidas através da empresa Bioma Educação e Assessoria Ambiental, uma relação direta entre o surgimento do ecoturismo no Brasil e o desenvolvimento das atividades de estudos do meio, não como fato isolado, mas como parte de um contexto histórico. Não é por acaso que a cidade de São Paulo é protagonista desse movimento, pois a demanda por viagens que possibilitem aos estudantes e outros grupos um contato com ambientes naturais e culturais conservados é maior nos grandes centros urbanos, como foi abordado no segundo capítulo deste trabalho. Paralelamente, a mídia passa a exercer um papel de destaque neste processo, especialmente a partir da década de 90 como pode ser constatado a partir do depoimento da Jornalista Lia de Souza, Editora do Programa Repórter ECO - TV Cultura de São Paulo, em evento realizado em 1997 em São Paulo: [...] o “Repórter Eco” começou em fevereiro de 1992, pouco antes da Rio 92, e desde que estreou, temos tentado tratar essa questão do ecoturismo e do turismo sustentável. Acho que talvez uma das primeiras matérias que se referiu a essa denominação na TV foi feita pouco antes do repórter ECO existir. Uma das primeiras matérias que eu produzi foi no Pantanal Sul, na região de Bonito, e foi quando surgiu, na verdade, o nome do repórter ECO. O nome do Repórter ECO surgiu em uma viagem de uma matéria de ecoturismo, onde a gente foi mostrar aquela região que estava começando a ser falada e não tinha nada da infra-estrutura ou dos problemas que tem hoje.18 Em relação às entidades representativas do setor, surgem também na década de 90 duas entidades: Associação Brasileira de Ecoturismo - ECOBRASIL e o Instituto de Ecoturismo do Brasil - IEB. A Ecobrasil surge em 1993, como uma associação constituída de Agências de Turismo legalmente registradas, Operadores Turísticos, Meios de Hospedagem, Transportadores, Organizações Não Governamentais, Organizações Governamentais de Turismo ou Meio Ambiente, Cooperativas e Representações de Comunidades, Entidades de Classe e Instituições de Ensino e Pesquisa. (ECOBRASIL, 2003) No entanto, identifica-se a dificuldade desta associação funcionar de acordo com seus estatutos, pois não se tem notícia da realização de assembléias ou eleições entre seus “associados”, que deveriam eleger sua diretoria para mandatos de dois anos. No entanto o 18 Lia de Souza, em apresentação na mesa redonda sobre o tema: Ecoturismo - Setores de apoio - Jornalismo Especializado, em 4 de setembro de 1997, no Seminário Ecoturismo e Turismo Sustentável do 3º Fórum de Turismo e Hotelaria em São Paulo, promovido pelo SENAC/Centro de Estudos de Administração em Turismo e Hotelaria – CEATEL. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 40 presidente permanece desde sua fundação até os dias de hoje, ou seja, ao longo de uma década, ou ainda cinco gestões consecutivas, em desacordo com o próprio estatuto da entidade que diz no seu artigo 14 - § 14.3: “O Diretor-Presidente poderá ser reeleito somente uma vez consecutiva”. (ECOBRASIL, 2003) Uma das principais ações às quais está vinculada atualmente é o programa denominado Melhores Práticas para o Ecoturismo – MPE, desenvolvido em parceria com o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade - FUNBIO. O IEB surge em 1997, em evento denominado 1ª Bienal de Ecoturismo de Canela, no Rio Grande do Sul, como uma alternativa a Ecobrasil, tenta se colocar também como representante do trade, chega a realizar quatro congressos nacionais de ecoturismo, de 1996 a 2000, com um intervalo em 1999, realizados respectivamente nos municípios de Bertioga, São Paulo, Itabuna, Bahia, em Florianópolis, Santa Catarina, e em Belo Horizonte, Minas Gerais. Realizando nestas oportunidades assembléias entre seus associados. Registra-se mudança na presidência a partir de 2002. No entanto há dois anos não realiza seus congressos. O IEB, a despeito de funcionar em alguns aspectos como uma associação, possui ainda pouca interlocução com o trade. No entanto, tem se envolvido em diversos projetos, dentre eles, o Projeto Pólos de Ecoturismo do EMBRATUR, de abrangência nacional. Pode-se verificar que, as duas ONGs ainda não alcançaram a representação necessária, demonstrando serem ambas, mais voltadas à prestação de serviços de consultoria para o desenvolvimento de projetos ao invés de se constituírem em autênticas representantes do setor. Destacam-se alguns eventos que constituem parte dos primeiros passos do desenvolvimento do ecoturismo no nosso país. De acordo com Pires (2002, p. 229-232), o primeiro evento relacionado ao ecoturismo foi o I Seminário Nacional de Turismo Ecológico, realizado em 1991, em Ilhéus, na Bahia com uma segunda edição em 1993. Neste ano de 1993, realizou-se ainda em Manaus, no Amazonas o Congresso Mundial de Viagens de Aventura e Ecoturismo, organizado pela Adventure Travel Society19, promovido pela extinta Empresa Amazonense de Turismo – EMANTUR. Em 1995, a já citada 1ª Bienal de Ecoturismo de Canela no Rio Grande do Sul e no ano seguinte realizou-se em Manaus, promovido também pela EMANTUR, o Workshop Intensivo - The Ecoturism Society, foi o primeiro evento 19 Adventure Travel Society – Sociedade de Viagens de Aventura. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 41 que reuniu personalidades de renome internacional. No mesmo ano ocorreu em São Paulo o Seminário de Ecoturismo e Turismo Sustentável, organizado pela Bioma Educação e Assessoria Ambiental, inserido no III Fórum Nacional de Turismo e Hotelaria promovido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC, pelo então Centro de Educação em Turismo e Hotelaria – CEATEL20, da cidade de São Paulo. Este evento teve grande importância, pois reuniu diversas experiências práticas de empreendimentos de ecoturismo, trouxe de Washington, nos Estados Unidos, quando era Coordenador de Ecoturismo da CI, o Sr. Oliver Hillel, além de discutir ainda, o papel da imprensa na promoção do ecoturismo. Nos anos de 1994 e 1996 ocorreram respectivamente o 1º e 2º Prêmio SENAC-SP de Turismo Ambiental, também realizado pelo SENAC – CEATEL. O prêmio objetivava estimular o desenvolvimento do “Turismo Ambiental”, em todo o território nacional, por meio do incentivo aos profissionais que realizavam trabalhos nesta área, e àqueles que promoviam e divulgavam estes trabalhos, ou seja, profissionais da área de turismo, hotelaria e jornalismo. Ambos coordenados pela empresa Bioma – Educação e Assessoria Ambiental, que constituiu comissões julgadoras formadas por representantes de entidades ligadas às áreas de jornalismo, turismo, hotelaria e meio ambiente. As matérias jornalísticas e os relatos de experiências em turismo ambiental apresentadas para concorrer aos prêmios passaram a integrar o acervo da biblioteca da unidade da Faculdade de Turismo e Hotelaria do SENAC, da cidade de São Paulo, e os trabalhos classificados foram publicados em livros21 pela Editora SENAC, também de São Paulo. A mudança na gerência desta unidade do SENAC, em 1997, interrompeu a realização deste prêmio bienalmente. Procurou-se fazer uma descrição sucinta das principais ações que protagonizaram o desenvolvimento do ecoturismo no país, especialmente aquelas que ocorreram nos últimos vinte anos. Paralelamente a estes eventos o ecoturismo foi sendo implementado em diversas localidades transformando-as em destinos que vem se consolidando ao longo desta última década. 20 Atualmente é a unidade do Senac designada Faculdade de Turismo e Hotelaria do SENAC São Paulo. 21 Prêmio SENAC-S.P. de Turismo Ambiental.Vários autores. São Paulo: Editora SENAC, 1994 e Prêmio SENAC-S.P. de Turismo Ambiental.Vários autores. São Paulo: Editora SENAC, 1996. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 42 3.1– PRINCIPAIS DESTINOS ECOTURÍSTICOS Nestes últimos vinte anos alguns destinos foram sendo consolidados, segundo o EMBRATUR, entre os principais destinos temos atualmente Bonito e Pantanal, Mato Grosso do Sul; Pantanal Norte e Chapada dos Guimarães, Mato Grosso; Chapada Diamantina e Litoral Sul da Bahia; Chapada dos Veadeiros, Goiás; região do entorno de Manaus, Amazonas; Fernando de Noronha, Pernambuco e Serra Gaúcha, Rio Grande do Sul. (EMBRATUR, 2003) Pode-se verificar que todos possuem alguma relação com unidades de conservação brasileiras. Para citar apenas um exemplo de unidade relacionada a cada um dos respectivos destinos apontados pelo EMBRATUR, segue a tabela 2: UNIDADE DE CONSERVAÇÃO22 BRASILEIRAS DESTINO BRASIL Bonito – MS Monumento Natural Estadual Gruta do Lago Azul Chapada Diamantina - BA Parque Nacional da Chapada Diamantina* Chapada dos Guimarães - MT Parque Nacional da Chapada dos Guimarães Chapada dos Veadeiros - GO Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros Região de Manaus - AM Estação Ecológica de Anavilhanas Fernando de Noronha - PE Parque Nacional de Fernando de Noronha Litoral Sul da Bahia Parque Nacional de Monte Pascoal Pantanal - MS/MT Parque Nacional do Pantanal Matogrossense* Serra Gaúcha - RS Parque Aparados da Serra Vale do Ribeira - SP Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira Litoral Nordestino. Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses* Região do Lagamar - SP Parque Estadual da Ilha do Cardoso Serra do Mar - SP Parque Estadual da Serra do Mar Tabela 2 – Destinos de ecoturismo no Brasil relacionadas às UCs federais. Fonte: IBAMA, 2003. * Unidades de Conservação que não estão oficialmente abertas à visitação, porém recebem visitação “furtiva”. Nenhuma destas UCs possui plano de manejo23, porém nos Parques 22 De acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC: “Unidade de Conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.” (BRASIL/ SNUC, 2002, p. 09) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 43 Nacionais do Pantanal Matogrossense e dos Lençóis Maranhenses os Planos de manejo estão em fase de elaboração.24 Certamente já despontam outros destinos aqui não apontados, porém não é objetivo deste trabalho indicar todos os destinos ecoturísticos existentes no Brasil, mas fazer reflexões sobre seu estágio atual de desenvolvimento. Neste sentido, serão abordadas duas cidades que merecem destaque especial dentro do cenário atual do ecoturismo no Brasil, são elas: Bonito no Mato Grosso do Sul e Brotas em São Paulo, embora o EMBRATUR não faça referência à Brotas na pesquisa realizada, ambas se consolidaram como os dois principais destinos ecoturísticos do país, especialmente na última década. Estas cidades foram consagradas pelas agências de São Paulo, maior mercado emissor de ecoturistas e tem recebido uma atenção especial da mídia nos últimos anos. Além disto em ambos os casos ocorreu uma verdadeira “explosão” no fluxo de visitantes e no número de empreendimentos criados nestas cidades. Apesar de ser um dos maiores propósitos do ecoturismo, minimizar os impactos e maximizar os benefícios da visitação, o ecoturismo cresceu tanto nestes municípios que ambos tem enfrentado problemas decorrentes do excesso de visitantes. No entanto, são justamente as experiências vivenciadas no enfrentamento dos problemas advindos do excesso de visitantes que fazem destes municípios referências para outros que desejem consolidar-se como destinos ecoturísticos. 3.2– PRINCIPAIS REFERÊNCIAS A seleção dos municípios de Brotas e Bonito, como referência em ecoturismo para análise neste trabalho, surge em função do significativo aumento da demanda de ecoturistas nestas localidades e da proliferação de empreendimentos ecoturísticos implantados nestes municípios nos últimos 10 anos. 23 O SNUC define como plano de manejo: “documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma unidade de conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade”. (BRASIL / SNUC, 2002, p. 10-11) 24 Comunicação pessoal de Lourdes M. Ferreira – Proecotur/Ibama; Janeiro de 2003. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 44 3.2.1 – BONITO – MATO GROSSO DO SUL O município de Bonito está situado na Serra da Bodoquena, que constitui destacada unidade de relevo, localizada na porção centro-sul do Estado de Mato Grosso do Sul. Não se trata de uma serra propriamente dita, e sim de um planalto com escarpa voltada para o Pantanal. Bonito vem se especializando ao longo dos últimos doze anos como destino de ecoturismo. Em meados da década de 1980 a região da Bodoquena era apontada como uma das mais promissoras do estado do Mato Grosso do Sul para a exploração mineral de mármore e calcário. No mesmo período, um grupo de espeleólogos, coordenado por Clayton Lino, desenvolve um trabalho intitulado, “Grutas de Bonito – Diretrizes para um Manejo Turístico”. Entretanto, nesta época a cidade ainda não apresentava a mínima estrutura para o desenvolvimento da atividade turística. Ao final desta década, iniciava-se a construção da Fábrica de Cimento Eldorado, em Bodoquena, situada a 70 Km de Bonito, pela Camargo Corrêa Industrial. Assim a preocupação com a proteção das cavernas existentes na região, tornou-se mais representativa e passou a confrontar-se com o desenvolvimento das atividades de mineração. (BOGGIANI, 2001, p. 152) A expedição espeleológica denominada Expedição Franco-Brasileira Bonito/92 foi realizada alguns meses após a Rio-92. Nesta oportunidade foram encontradas ossadas fósseis de mamíferos, extintos a mais de 12 mil anos, nas profundezas da Gruta do Lago Azul. Os espeleólogos fizeram repercutir nacional e internacionalmente a problemática ambiental e fizeram voltar a atenção da sociedade para a proteção das cavernas, alimentando a luta contra a exploração indiscriminada das riquezas minerais da região e favorecendo a opção do município pelo turismo. (BOGGIANI, 2001, p. 157) Inicia-se neste mesmo ano, o primeiro curso de formação de guias de turismo em Bonito, este é considerado como um fator decisivo para o inicio da organização do setor de turismo no município. Diversos egressos deste curso passaram a atuar nesta função e alguns desenvolveram seus próprios empreendimentos relacionados ao ecoturismo. Posteriormente, outros três cursos ocorreram ao longo deste período formando mais de uma centena de profissionais. Estes cursos envolveram instituições como SENAC, Serviço de Apoio a Pequena e Média Empresa – SEBRAE, prefeitura e Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 45 Em 1994, foi criada a Associação de Guias de Turismo de Bonito – AGTB, no ano seguinte, o Conselho Municipal de Turismo – COMTUR e o Fundo Municipal de Turismo. Juntas, estas entidades foram decisivas para a estruturação da atividade em Bonito. Neste ano, ainda por lei municipal, torna-se obrigatório o acompanhamento de guias nas visitas aos atrativos de Bonito, fator fundamental para garantir a conservação dos mesmos. (VARGAS, 2001, p. 145) Em 1995, foi realizada uma importante ação de capacitação para o ecoturismo, as “Oficinas de Capacitação em Ecoturismo – OCE”, objeto de estudo do capítulo cinco deste trabalho. Esta oficina teve grande importância por levar ao município, em um momento muito apropriado, uma metodologia de planejamento estratégico para desenvolvimento do ecoturismo. Esta metodologia foi utilizada por empreendedores como o Sr. Eduardo Coelho na implementação do “Rio da Prata” e “Estância Mimosa” atualmente, sítios ecoturísticos oferecidos nos roteiros de todas as agências de receptivo de Bonito. Esta ação de capacitação estimulou ainda a criação da Associação Bonitense Ecoturística de Agências de Turismo – ABAETUR, que permanece em funcionamento e integrando o COMTUR. Conforme pode ser observado no depoimento de Maria Leopoldina Almeida Campos - Guia Turística - Big Tur, em Bonito, no Mato Grosso do Sul, quando da pesquisa realizada para análise da OCE, em 1996. Assim, “A Oficina permitiu a formação da Associação Bonitense Ecoturística de Agências de Turismo – ABAETUR, em fase de organização.” (HISTÓRICO, 1996, p. 29) A Resolução Normativa nº 09/95 do COMTUR regulamentou a instituição do “voucher único”, principal instrumento para viabilizar o ordenamento da atividade turística em Bonito. Emitido e controlado pela Secretaria de Turismo, Indústria e Comércio de Bonito, o voucher é adquirido em uma das agências de turismo do município. No valor pago estão inclusos: remuneração da agência; ingresso ao atrativo turístico e o pagamento do guia de turismo. Desta forma, além de ter o controle, através de sistema informatizado, sobre o número máximo de visitantes permitido em cada atrativo, de acordo com a capacidade de suporte estabelecida, todos obrigatoriamente recolhem o Imposto Sobre Serviços - ISS para a prefeitura, garantindo assim arrecadação proveniente do turismo para ser revertida em benefícios à comunidade como um todo. (PIVATTO, 2001) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 46 A fragilidade ambiental da região motivou o controle do número de visitantes diários por atrativo. O acompanhamento de guia de turismo é obrigatório para todos os sítios ecoturísticos, combinado com um número máximo de turistas que ele pode levar no grupo. Em Bonito, o desenvolvimento do turismo de 1992 até hoje foi “explosivo”, em 1996, já eram ofertados 24 atrativos e atualmente são oferecidos 34 atrativos, em roteiros comercializados por 27 agências de receptivo, que contam com 46 estabelecimentos de hospedagem e 22 restaurantes. Ainda neste ano, a prefeitura contabilizou 30 mil visitantes na Gruta do Lago Azul, seguida por 14 mil no Aquário Natural e 10 mil no rio Sucurí. Os números são surpreendentes, especialmente para um município que possuí menos de 20 mil habitantes. (COMTUR/ BONITO, 2003) (BOGGIANI, 2001) Recentemente foram decretadas duas unidades de conservação - UCs, são os Monumento Natural Estadual da Gruta do Lago Azul e de Nossa Senhora Aparecida, além destas UCs, que recebem importante volume de visitação ecoturística em Bonito, muitos proprietários particulares, sensibilizados quanto a importância da conservação para o desenvolvimento do ecoturismo, tem procurado transformar parte das suas áreas em unidades de conservação denominadas Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPNs. Segundo informações do COMTUR, cerca de nove áreas no município estão em processo de transformação nesta categoria. (PIVATTO, 2001) Outra importante unidade de conservação na região, criada em 2000, é o Parque Nacional da Serra da Bodoquena, porém ainda não recebe visitação e nem possui plano de manejo, mas futuramente poderá contribuir para o desenvolvimento do ecoturismo na região. (PIVATTO, 2001) 3.2.2 - BROTAS – SÃO PAULO Situada a 242 Km da cidade de São Paulo, na unidade de conservação denominada Área de Proteção Ambiental – APA de Corumbataí, no centro do Estado de São Paulo. É cortada pelo rio Jacaré-pepira, um dos últimos rios não poluídos da bacia do rio Tietê, responsável por despertar o interesse dos paulistas na sua conservação e motivar a criação, em 1984, do primeiro Conselho de Defesa do Meio Ambiente do Estado de São Paulo – CONDEMA, e em Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 47 1986, do primeiro Consórcio Brasileiro Intermunicipal de Bacias – CODERJ, composto por 13 municípios25. No início dos anos 90, sob a influência da Rio-92, é criada uma ONG denominada Movimento Rio Vivo que impediu em Brotas a instalação de um curtume, potencial poluidor do rio Jacaré-pepira. Esta mesma ONG, após a realização desta conferência propõe o ecoturismo como uma nova alternativa de desenvolvimento para o município e desenvolve a partir de então, um inventário dos recursos atrativos de Brotas. (MATA’DENTRO, 2003) Este mesmo grupo de jovens que compõe a ONG resolve criar, em 1993, a Mata'dentro, primeira agência de receptivo do município, primeira Agência de Ecoturismo do país a possuir a certificação ISO – 14001 e que atualmente, oferece trabalho à cerca de 80 monitores locais. (MATA’DENTRO, 2003) Em 1993, também é criada a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, no mesmo ano é apresentado o primeiro projeto ecoturístico e no ano seguinte cria-se o Conselho Municipal de Turismo – COMTUR, que em parceria com a Universidade de São Paulo – USP, desenvolve o Plano Municipal de Turismo, em 199526. Dez anos se passaram desde os primeiros trabalhos de planejamento para o ecoturismo e o município que possui atualmente cerca de 20 mil habitantes, e contava à época, com apenas dois antigos hotéis que ofereciam 130 leitos. Atualmente conta com 27 estabelecimentos de hospedagem que oferecem cerca de 2000 leitos, 5 áreas de camping para cerca de 1.200 pessoas, passou de 1 para 22 restaurantes e de 1 agência para 16 agências de receptivo. Na época, não existiam sítios ecoturísticos estruturados, hoje dispõem de 19 sítios ecoturísticos com cachoeiras, corredeiras, trilhas e oferecem diversas atividades praticadas em ambiente natural, e um moderno Centro de Estudos do Universo - CEU, porém as principais atividades de Brotas ainda estão relacionadas a prática dos esportes de aventura, especialmente o rafiting27, canyoning28 e o boiacross 29 no rio Jacaré-pepira e outros afluentes. (PREFEITURA/BROTAS, 2003) (CASTRO, 2003) (MATA’DENTRO, 2003) 25 Daniela Nascimento, ex-diretora de turismo de Brotas em depoimento cedido em 28 de novembro de 2003, em São Paulo. 26 Daniela Nascimento, depoimento, cit. 27 Rafiting: descidas em corredeiras ou passeios/expedições em rios ou lagos com a utilização de botes infláveis movidos a remo e com capacidade para seis a oito pessoas. (ECOTURISMO, 2002, p. 33) 28 canyoning : descida e/ou exploração de rios de montanha, com a utilização de técnicas verticais associada a cachoeiras. (ECOTURISMO, 2002, p. 32) 29 Boiacross: descida de rios com corredeiras em bóias infláveis individuais. (ECOTURISMO, 2002, p. 32) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 48 Segundo informações da Prefeitura de Brotas, em estimativa realizada em 2002, nos finais de semana, de alta temporada, o município chegava a receber 3000 visitantes, nos feriados prolongados este número aumentava para 6.000, e no carnaval chegou a atingir o número de 10.000 visitantes, ou seja, um número correspondente a quase 50% da população de Brotas. È bom que se registre, que Brotas não possui uma demanda exclusivamente relacionada ao ecoturismo, mas também ao segmento de turismo de aventura e esportivo. Dados de 2002 da prefeitura davam conta de que, o turismo gerava mais de 1000 empregos diretos e que oferecia trabalho direta ou indiretamente a 25% da população30. (PREFEITURA/ BROTAS, 2003) O desenvolvimento do ecoturismo em Brotas promoveu maior conscientização por parte da população sobre a importância da conservação de seus recursos naturais, uma vez que estes são responsáveis pela geração de emprego e renda para boa parte da população, aumentando significativamente as receitas do município. As próprias agências ofereceram cursos de capacitação de monitores criando uma geração de jovens com oportunidade de exercerem uma nova atividade profissional no próprio município. Assim, o ecoturismo contribuiu para promover o resgate de patrimônios históricos e culturais da comunidade, recuperar áreas degradadas, reduzir o êxodo rural e estimular melhorias na infra-estrutura desta cidade. Bem como, melhorias na infra-estrutura de muitos sítios rurais, que influenciou na qualidade de vida da população e aumentou sua auto-estima. Certamente, esta verdadeira “explosão” do turismo ocorrida em Brotas, não gerou somente benefícios, gerou também uma série de dificuldades e novos desafios a serem enfrentados. Um volume muito maior de lixo é gerado, aumentando as despesas com a coleta e acarretando problemas de destinação. O aumento no volume de esgotos domésticos obrigou a prefeitura a ampliar a capacidade da sua estação de tratamento. Problemas com impactos físicos em trilhas, descaracterização da paisagem em decorrência da falta de planejamento adequado em diversos sítios de visitação. Excesso de visitantes na cidade levando moradores a desocuparem suas residências a fim de alugarem seus imóveis para temporadas gerando diversos conflitos entre visitantes e moradores. Especulação imobiliária e aumento da economia informal. O excesso de visitantes em algumas ocasiões gerou aumento de trânsito, 30 Daniela Nascimento, depoimento, cit. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 49 filas, ruídos, excesso de botes no rio, aumento nos preços de mercadorias gerando inflação, desconforto para a população e para os próprios visitantes proporcionando queda na qualidade dos serviços prestados. (FRANCISCO JÚNIOR, 1999) Para fazer frente a estes novos desafios, o COMTUR, reestruturado em 1999, passou a coordenar o Projeto de Normatização Turística, iniciado em dois mil e em fase de conclusão. Contratou um consultor jurídico e coordenou grupos de trabalho integrados pelos representantes do próprio COMTUR, Prefeitura Municipal, EcoAssociação, EMBRATUR, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” - ESALQ e diversos representantes do trade. Foram sucessivas reuniões para elaboração da legislação turística municipal, através da qual esperase ordenar e minimizar os problemas advindos da “explosão” do turismo no município. Recentemente foi aprovada a Lei que cria a “Política Municipal para o Desenvolvimento do Turismo Sustentável”; a primeira do Brasil. Além do aparato jurídico elaborado para ser submetido à Câmara Municipal, foram estabelecidas capacidades de suporte dos sítios de visitação turística e limitado, por consenso, o número de botes de rafiting a serem utilizados ao mesmo tempo no rio Jacaré-pepira, o número de pessoas nas vias de descida de canyoning nas cachoeiras, assim como a capacidade máxima de operação de todas as atividades praticadas, aquáticas (boiacross, canoagem, acquaride), verticais (cascading,tirolesa) e terrestres (caminhadas, mountain-bike e cavalgadas). Também foi realizado mapeamento e avaliação em todas as trilhas, sendo proposto um Plano de Monitoramento do Impacto da Visitação para as trilhas de acesso aos atrativos e para as bases de operação de rafting no rio e de canyoning nos sítios ecoturísticos31. 3.2.3 – ANÁLISE DOS CASOS DE BONITO E BROTAS É interessante observar que, tanto em Bonito quanto em Brotas, o desenvolvimento do ecoturismo surge como alternativa a outras atividades que vinham despontando com grande potencial de degradação ambiental. No caso de Bonito a ameaça se dava através da mineração de mármore e calcário que colocava em risco o patrimônio ambiental e histórico contido nas grutas e cavernas daquela região. No caso de Brotas, a ameaça caracterizava-se pela 31 Daniela Nascimento, depoimento, cit. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 50 instalação de um curtume que lançaria grande quantidade de matéria orgânica no rio Jacarépepira. Em ambos os casos o movimento em defesa do meio ambiente, surge logo após a Rio92 e sob a influência deste evento. Tanto em Bonito quanto em Brotas as ações de capacitação foram decisivas para a consolidação destes municípios como destinos ecoturísticos, dentre elas destacam-se o Curso de Formação de Guias e a Oficina de Capacitação em Ecoturismo - OCE, em Bonito, e em Brotas, os cursos de monitores promovidos pela Mata’dentro e outras, como: a Oficina do Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT, pelo EMBRATUR, e as Oficinas de Planejamento do COMTUR32. (HISTÓRICO, 1996, p. 29) “Desde os primeiros 35 monitores locais formados no primeiro curso, em 1996, já passaram por nossos cursos mais de 150 pessoas, das quais quase 80 trabalham hoje diretamente ligadas às agências, considerada um exemplo para o Brasil. O objetivo inicial foi cumprido. Hoje são muitos empregos diretos gerados pelo ecoturismo em Brotas.” (MATA’DENTRO, 2002) [...] a realização do primeiro curso de formação de guias, patrocinado pelo Serviço de Apoio a Pequena e Média Empresa – SEBRAE e pela Prefeitura Municipal, coordenado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Inicia-se em 1993, portanto, a profissionalização do turismo na região, traduzida numa organização da atividade, a partir de entidades públicas e organizações não-governamentais, sempre sob o rígido olhar disciplinador dos ambientalistas, os guardiões da natureza, nessa época muito mais fortalecidos em decorrência da realização, no ano anterior, da Eco-92 na cidade do Rio de Janeiro. (BARBOSA E ZAMBONI, 2000 apud BOGGIANI, 2001, p. 141) Paralelamente às ações promovidas pela iniciativa privada, órgãos governamentais e ONGs em nível municipal como os exemplificados, o governo federal também vem desenvolvendo alguns programas no sentido de consolidar algumas regiões do país como destinos de ecoturismo. É fundamental que cada setor desenvolva o seu papel, que no caso do setor público é: oferecer infra-estrutura básica e turística, formação e capacitação profissional, promoção dos destinos e gestão adequada dos órgãos públicos a fim de garantir o monitoramento e controle do número de visitantes e da qualidade dos produtos oferecidos ao mercado. 32 Daniela Nascimento, depoimento, cit. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 51 3.3 – PRINCIPAIS PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS No Brasil verificou-se que a implementação de programas governamentais no âmbito federal busca cumprir ações previstas no documento das Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo, 1994. Estes programas apresentam, de modo geral, uma significativa abrangência territorial e áreas de atuação, como planejamento, implantação de infra-estrutura, ações com unidades de conservação, e principalmente em capacitação. Acredita-se que uma análise do desenvolvimento destes programas possa melhor elucidar alguns aspectos do estágio de desenvolvimento do ecoturismo, e principalmente no que se refere a capacitação, já que muitas das ações voltadas para sensibilizar e instrumentalizar recursos humanos estão sendo desenvolvidas entre vários órgãos governamentais, no âmbito federal, estadual e municipal, efetivando parceiras entre os diversos níveis de governo, bem como a participação da iniciativa privada, e sociedade civil organizada. 3.3.1 – PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DO ECOTURISMO NA AMAZÔNIA LEGAL O potencial do ecoturismo na Amazônia pode ser indicado pelo fato de que a bacia Amazônica contém um terço das florestas tropicais do globo, com uma extraordinária biodiversidade. Essas regiões, no entanto, sofrem ameaças. A expansão da agricultura, pecuária, extração de madeira e exploração de minérios ameaçam a conservação desta floresta e da sua biodiversidade. O ecoturismo coloca-se como uma alternativa importante a estas atividades, pois é capaz de conciliar desenvolvimento e conservação. A opção pelo desenvolvimento sustentável na Amazônia reforçada pelo ecoturismo, requer ações conjuntas, organizadas e planejadas tanto pelo governo como pelos diversos segmentos do setor privado, baseadas em análises dos impactos ambientais e sócio-culturais. A ausência de planejamento, de ações integradas e descentralizadas poderia colocar em risco a própria integridade dos atrativos ecoturísticos, transformando a potencialidade do Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 52 ecoturismo como instrumento de conservação ambiental e geração de benefícios sócioeconômicos às comunidades, em um mecanismo de maior degradação ambiental e desvalorização cultural. O Programa Nacional de Ecoturismo integrando o EMBRATUR e o MMA, criado em 1995, iniciou sua atuação com a formação de um Grupo Técnico de Coordenação – GTC – Amazônia que criou grupos de trabalho em cada estado da Amazônia, e começou a estabelecer ações para gestão do ecoturismo com governos estaduais e com o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID. A partir de então começa a ser desenhado o Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia Legal – PROECOTUR. (BRASIL/ MMA, 2003) Este Programa federal para o ecoturismo foi criado oficialmente em 2000, é cofinanciado pelo governo brasileiro e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, tendo como executor o MMA, por meio da Secretaria de Coordenação da Amazônia - SCA, pela Unidade de Gerenciamento do Programa – UGP. Este núcleo é formado por um grupo técnico que faz a coordenação do Programa executando ações que se relacionam com os órgãos federais e internacionais, com o Ministério do Turismo, pelo EMBRATUR, IBAMA, e o BID. (BRASIL/ MMA, 2003) Trata-se de um programa de planejamento e investimentos do governo federal que visa desenvolver o ecoturismo na Amazônia brasileira em parceria com os estados amazônicos. Tem o propósito de criar uma estrutura apropriada e implementar as condições necessárias para que os nove estados da Amazônia Legal possam administrar e gerenciar áreas selecionadas para o ecoturismo de forma responsável e adequada. (ECOTURISMO, 2002) Para a gestão do Programa com os estados da Amazônia Legal foram criados os Núcleos de Gerenciamento do Programa - NGP, nos nove estados da Amazônia em órgãos dos governos estaduais relacionados ao ecoturismo. O grupo técnico deste núcleo executa ações planejadas pelo Programa e está alocado principalmente nas secretarias, departamentos e institutos estaduais de turismo, meio ambiente e planejamento. Existe ainda um NGP instituído no IBAMA, em Brasília, para a gestão específica das unidades de conservação. (BRASIL/ MMA, 2003) Através dos estudos realizados, desde o período de 1995, foram estabelecidos os pólos de ecoturismo. Estes foram selecionados em função da singularidade dos atrativos de Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 53 ecoturismo existentes nestas localidades. Para a gestão do programa em cada município estão sendo estabelecidos os Grupos Técnicos Operacionais – GTOs, para viabilizar a ações previstas , como a melhoria da infra-estrutura já existente, assim como a criação de equipamentos e serviços adequados para tornar viável a chegada dos ecoturistas. A idéia é aproveitar ainda a presença de unidades de conservação e criar diversos produtos ecoturísticos nos pólos, para que esses possam ser complementares. Acreditando que a ênfase dada pelo programa às localidades, possa promover a região amazônica como destino de ecoturismo. (BRASIL/ MMA, 2003) Um dos grandes desafios do programa, ainda não completamente realizado, é a organização de GTOs, a serem estruturados nos destinos ecoturísticos dos pólos, onde deverão participar todos os atores envolvidos, coordenados pelas prefeituras e com representantes da sociedade civil organizada e do trade. Possui ainda como órgãos consultivos os Grupos Técnicos de Coordenação – GTCs, o GTC – Amazônia, em nível regional e os GTCs – estaduais, sediados nos respectivos estados. Estes são formados pelas instituições representativas dos setores envolvidos, trade, órgãos governamentais e sociedade civil organizada. (BRASIL/ MMA, 2003) Uma das maiores dificuldades de um programa desse porte é o estabelecimento de parcerias agregando os governos de nove estados da Amazônia, prefeituras e organizações da sociedade civil, de partidos e ideologias diversas e muitas vezes com interesses antagônicos. “O PROECOTUR se propõe a fomentar diretrizes para o ecoturismo, maximizar os benefícios econômicos sociais e ambientais, gerar alternativa que substitua atividades que degradam o meio ambiente amazônico e através desta criar empregos, renda e oportunidades de desenvolvimento econômico, contribuindo para o desenvolvimento sustentável da região amazônica”. (BRASIL/ MMA, 2003) O Programa apresenta objetivos específicos abrangentes que envolvem proteção e desenvolvimento dos atrativos turísticos; implementação de infra-estrutura básica de serviços; estabelecimento de condições favoráveis para investimentos; avaliação do mercado nacional e internacional; proposição de regulamentos para o ecoturismo; capacitar recursos humanos; estimular a utilização de tecnologias apropriadas; valorizar as culturas locais e contribuir para financiar a conservação da biodiversidade. (BRASIL/ MMA, 2003) O Programa foi dividido em duas fases: fase I - pré-investimentos e a fase II investimentos. A fase I com prazo de implementação de até três anos (início em agosto de Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 54 2000), com objetivo de verificar a viabilidade técnica, ambiental, social e econômica do ecoturismo na Amazônia, para alcançar estes objetivos desenvolve planejamentos estratégicos estadual e para a Amazônia, para que possam ser estabelecidos os investimentos a serem implementados. A fase seguinte, com prazo de implementação de três anos, concentrará os recursos disponíveis nos pólos de ecoturismo selecionados pelos estados, de acordo com os planejamentos elaborados. (BRASIL/ MMA, 2003) O programa está estruturado em três componentes principais e atividades relacionadas. O primeiro Planejamento e Estudos, que elabora a estratégia amazônica para o ecoturismo, as estratégias e planos de desenvolvimento dos pólos de ecoturismo e planos de manejo e de uso público para as unidades de conservação. O segundo de Infra-Estrutura, que deverá equipar os pólos com a infra-estrutura necessária para o desenvolvimento do ecoturismo. E o último de Fortalecimento Institucional, no qual está inserida a capacitação de recursos humanos e a assistência técnica a empreendedores e gestores do ecoturismo nos pólos da Amazônia. (BRASIL/ MMA, 2003) De acordo com a Agenda Positiva da Amazônia33 o ecoturismo foi estabelecido como uma das prioridades para a implementação de uma política capaz de conter o avanço do desmatamento na Amazônia. Neste documento afirma-se a disposição do PROECOTUR, em alocar recursos financeiros públicos e privados, explorar de forma sustentável o potencial ecoturístico, gerar emprego e renda, identificar novos produtos, conduzir programas de capacitação, respeitar e envolver as comunidades tradicionais e ribeirinhas no processo de desenvolvimento do ecoturismo. (AGENDA, 2002) Na execução das ações estabelecidas ao longo dos primeiros dois anos, foram elaborados planos e estratégias para o desenvolvimento do ecoturismo em todos os estados da Amazônia. No sub-componente de capacitação foi inicialmente realizada a etapa de sensibilização onde foram realizadas oficinas perfazendo aproximadamente um total de 1000 participantes. (BRASIL/ MMA, 2003) Nestas ações foram difundidos conhecimentos sobre ecoturismo e realizadas atividades práticas onde todos os setores envolvidos vivenciaram um produto ecoturístico existente ou potencial, e avaliam a possibilidade de criar novos produtos nas suas localidades. 33 Agenda Positiva da Amazônia – Documento resultante de processo de negociação entre Governo, setor produtivo e sociedade civil, desencadeado no início de 1999 como resposta as elevadas taxas de desmatamento verificadas na Amazônia. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 55 Através dos planos e estratégias foram identificados os pólos para os quais deverão ser canalizados os investimentos do programa. A proposta do PROECOTUR é integrar estes pólos por meio de roteiros com atrativos complementares, dotando-os de toda infra-estrutura e serviços públicos e privados para atendimento aos visitantes.O mapa 3, identifica os pólos de ecoturismo do PROECOTUR na Amazônia. Mapa 3 - Pólos de ecoturismo da Amazônia do PROECOTUR/ SAC/ MMA. Autor: Anselmo Cristiano de Oliveira – Arquivo – PROECOTUR Espera-se que o programa prepare o terreno e crie cenários favoráveis para estimular a iniciativa privada a investir. Uma vez capacitadas, orientadas e com linhas de créditos mais acessíveis a serem disponibilizadas através de instituições parceiras, como: BASA, BNDS e outras, as próprias comunidades deverão ter oportunidades para empreenderem. Dentre as diversas ações do programa está à criação de novas unidades de conservação, bem como a estruturação e elaboração de planos de manejo das unidades que permitam a realização de atividades de ecoturismo nestas áreas. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 56 Outras ações relevantes para o sucesso do programa são as ações de capacitação. Normalmente geram expectativas, especialmente nas comunidades e demais atores diretamente envolvidos, por isso devem estar respaldadas por planos e estratégias de implementação de infra-estrutura básica e turística. Desta forma pretende-se envolver as comunidades anfitriãs, permitindo que estas possam interferir no processo de implementação do ecoturismo interagindo com o poder público. Assim como o PROECOTUR existem outros programas governamentais com o objetivo de desenvolver o ecoturismo em outras regiões do país, além da Amazônia. 3.3.2 - PROGRAMA PÓLOS DE DESENVOLVIMENTO DO ECOTURISMO O programa Pólos de Desenvolvimento do Ecoturismo está sendo implementado pelo EMBRATUR, em conjunto com o IEB. Possui como objetivos principais a identificação de localidades brasileiras onde o ecoturismo já ocorre e outras com potencial de desenvolvimento e fazer um levantamento das características, das potencialidades e das condições da infra-estrutura nas localidades em que o ecoturismo se apresenta como uma nova alternativa de desenvolvimento. O Programa abrange todo o território brasileiro e identificou, numa primeira etapa, 96 regiões ou pólos com potencial para o desenvolvimento de atividades ecoturísticas, distribuídos nos 26 estados brasileiros e em 550 municípios. O mapa 4, identifica os pólos de ecoturismo do programa. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 57 Mapa 4 - Distribuição dos pólos de ecoturismo no Brasil. Fonte: PÓLOS (2001, p. 71) “O programa deverá propor metodologias de planejamento, projeto e gestão visando à implantação dos pólos ecoturísticos, segundo os princípios do desenvolvimento sustentável.” (BRASIL/ MET, 2002) O Programa possui um Comitê Gestor, que foi criado oficialmente pelo Ministério de Esportes e Turismo, em julho de 2002, com o objetivo de apoiar e gerir o desenvolvimento destes pólos, por meio de uma política de turismo sustentável, promovendo a identificação e a formatação de produtos e serviços ecoturísticos e definindo estratégias próprias. O Comitê conta com a participação de um representante de cada uma das respectivas entidades, conforme identificado na tabela 3. Ministério do Esporte e Turismo – MET Fundação SOS Mata Atlântica EMBRATUR - Diretoria de Economia e Fomento e Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT Fundo Brasileiro para a Biodiversidade – FUNBIO Ministério do Meio Ambiente – MMA - PROECOTUR, Secretaria de Desenvolvimento Sustentável WWF do Brasil Ministério da Cultura – MinC – Programa Monumento Eco Associação para Estudos do Ambiente Outras instituições políticas no âmbito do Governo Federal e Estadual mediante convocação da Diretoria do Comitê. Instituto de Hospitalidade Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira Instituto para o Desenvolvimento da Economia do Indivíduo do Ambiente e da Sociedade - IDEIAS Brasil Connects Representantes de cada pólo dos respectivos biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal, Campos e Zona Costeira. Reserva da Biosfera - 58 IEB Tabela 3 – Integrantes do Comitê do Programa Pólos de Ecoturismo no Brasil. Fonte: BRASIL/ MET, 2002. O Programa encontra-se em fase de estruturação de Comitês Gestores Regionais, nos respectivos pólos e, até o momento, não foi além de identificar os pólos de ecoturismo no país e publicar documento denominado “Pólos de Ecoturismo: Planejamento e Gestão”. 3.3.3 – OUTROS PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS Outros programas governamentais estão relacionados direta ou indiretamente com o desenvolvimento do ecoturismo no país, dentre os quais destacam-se o PRODETUR – Nordeste I e II e o PRODETUR – Sul, embora estejam mais voltados ao turismo em geral, certamente contribuem para o segmento do ecoturismo. O Programa Pantanal, mais abrangente, deverá envolver outros aspectos relacionados ao desenvolvimento sustentável, mas também contribuirá para prover infra-estrutura básica e ecoturística na região. O Programa de Ação para o Desenvolvimento Integrado do Turismo - PRODETUR executado pelo MET, no EMBRATUR, é um programa global de desenvolvimento turístico regional, estruturado e concebido pelos Governos Federal e Estaduais, para financiar a implantação de infra-estrutura de suporte turístico, propiciando e incentivando investimentos da iniciativa privada para implantação de equipamentos turísticos. Estão sendo implantados inicialmente no PRODETUR – Nordeste I e II e o PRODETUR – Sul. A Região Norte está sendo contemplada com o PROECOTUR, a Centro-Oeste parcialmente contemplada com o Programa Pantanal. A Região Sudeste é a única ainda não contemplada com um programa do porte dos programas citados. (EMBRATUR, 2003) A Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável do Ministério do Meio Ambiente, em parceria com o Petrópolis Visitors & Convention Bureau, PETROTUR e Universidade Católica de Petrópolis, está desenvolvendo projeto para a promoção do Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 59 ecoturismo no “Pólo de Ecoturismo da Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro”, com este objetivo foram desenvolvidos cursos e um workshop em Petrópolis. (BRASIL/ MMA, 2003) Pode-se verificar que as ações governamentais muitas vezes se sobrepõem, como no caso do Programa Pólos de Desenvolvimento do Ecoturismo e do PROECOTUR. Além disso, nota-se que a lentidão burocrática emperra a necessária agilidade de ações que deveriam dar respostas rápidas às demandas dos fluxos turísticos que requerem infra-estrutura e serviços de qualidade, essenciais para que o país não perca espaço no competitivo setor ecoturístico mundial e possa consolidá-lo como alternativa de desenvolvimento sustentável. Como foi possível demonstrar, o ecoturismo no Brasil, enquanto segmento especializado do turismo, ainda é muito recente, tendo se desenvolvido, mais especificamente nos últimos dez anos. É básico termos como pano de fundo, o meio ambiente em bom estado de conservação, a partir deste pré-requisito algumas peças devem se juntar: o governo implementando infra-estrutura básica e turística, oferecendo formação e capacitação profissional, promovendo e administrando adequadamente os destinos; a iniciativa privada oferecendo equipamentos e serviços de qualidade, a comunidade capacitada e envolvida e o ecoturista devidamente preparado. Meio Ambiente Conservado Governo Ecoturista Iniciativa Privada Sociedade Organizada Figura 1: Representa os componentes fundamentais que devem interagir para viabilidade do ecoturismo Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 60 Ao mesmo tempo em que todos os setores relacionados ao ecoturismo forem sendo estruturados, a capacitação para o turismo e ecoturismo no Brasil, também recente, deverá contribuiu para a consolidação desta atividade nas próximas décadas, promovendo a formação de profissionais e desenvolvendo pesquisas que fortaleçam as ações dos setores acima citados. 3.4 – PANORAMA GERAL DO ENSINO FORMAL EM TURISMO Apesar de ser freqüentemente denominado de “industria sem chaminé”, de acordo com Trigo (2000, p. 246), “turismo é serviço, apesar de ser chamado livremente de indústria”, pois está baseado principalmente na prestação de serviços, e tão pouco é uma atividade intrinsecamente sustentável. Assim, para que o turismo possa assumir a desejada condição de atividade sustentável, faz-se necessário que seja analisado como uma ciência; pela complexidade existente na diversidade de serviços prestados, pelas características peculiares de cada serviço envolvido em todas as etapas do desenvolvimento do produto turístico e pelas inter-relações existentes entre todos os setores envolvidos. Avaliando ainda a necessidade de planejamento para o desenvolvimento desta atividade, identifica-se que a elaboração dos planos locais e/ou regionais precisam estar norteados por princípios de sustentabilidade. O sucesso do turismo sustentável não pode ser pautado apenas pelo ponto de vista econômico de grandes empreendedores hoteleiros ou parques temáticos, especialmente quando se refere ao segmento do ecoturismo. Pressupõe-se, pela proposta conceitual difundida mundialmente, que se deva levar em conta a fragilidade dos recursos que “explora”, considerando que os produtos de ecoturismo devem ser desenvolvidos por grupos reduzidos de pessoas, minimizando os impactos negativos que podem ser gerados pela atividade, diferenciando-se assim do turismo de massa. Faz-se necessário que sejam viabilizados empreendimentos de menor porte, preferencialmente desenvolvidos pelas comunidades anfitriãs. Estas necessitam de capacitação para prestarem serviços de qualidade, e assim, participarem de um mercado extremamente competitivo como o do ecoturismo. Por envolver prestação de serviços, a educação para o turismo é condição básica para que o Brasil possa se consolidar como destino de qualidade em ecoturismo. Neste sentido, o Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 61 ensino formal possui um papel decisivo, especialmente no que tange os operadores que deverão encontrar na oferta de cursos um “cardápio” capaz de atender desde os treinamentos básicos para emissão de passagens, passando por cursos de graduação34 e pós-graduação lato sensu 35 e strito sensu36. Segundo Trigo (1998, p. 172), ainda existe em vários lugares do planeta, resistência à compreensão de que a elevação da qualidade dos serviços turísticos, dos padrões de segurança, da lucratividade e da eficiência depende em boa parte de formação profissional séria e continuada. Como o turismo é uma atividade de utilização intensa de recursos humanos, só o ensino e a formação especializada destes recursos, poderão responder aos desafios que o setor enfrenta, em particular as mudanças tecnológicas que o mundo apresenta e que apontam claramente para as “pluricompetências” que atualmente respondem as exigências da competitividade no mercado de trabalho. (SILVA, 1995 apud ANSARAH, 2002, p. 16) Desde a criação da pioneira, Faculdade de Turismo do Morumbi, em 1971, até a atualidade, o número de faculdades de turismo no país cresceu assustadoramente, porém a grande “explosão” de cursos de turismo ocorreu mais acentuadamente nos últimos oito anos. O primeiro levantamento científico do qual se tem notícia, realizado em 1994, por Ansarah e Rejowiski sobre os cursos superiores em turismo em nível de graduação no Brasil, apontava a existência de 33 cursos. Até o final de 2002, já se somava a impressionante marca de 467 cursos, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – INEP (2002). Quanto aos cursos de pós-graduação lato sensu, como não são fiscalizados pelo Ministério da Educação – MEC, não existe até o momento, cadastro indicando a totalidade da oferta ou informação sobre monitoramento dos mesmos. Os cursos de pós-graduação strito-sensu também são de difícil mensuração, pois estão vinculados a diversas áreas de conhecimento nas universidades públicas e privadas, ou a institutos inseridos nestas instituições de ensino superior. Assim, estes cursos de pósgraduação podem estar vinculados a departamentos de administração, economia, ciências 34 Os cursos de graduação conferem diferentes títulos como, bacharel, licenciado, tecnólogo e normalmente possui duração de três a cinco anos. (ANSARAH E REJOWISKI, 1996, p. 37) 35 Cursos de especialização ou de aperfeiçoamento que seguem a graduação com objetivo técnico profissional. (DUARTE, 1984 apud ANSARAH E REJOWISKI, 1996, p. 39) 36 Cursos regulares que visam desenvolver e aprofundar a formação adquirida na formação e conferem grau acadêmico de mestrado ou doutorado. (DUARTE, 1984 apud ANSARAH E REJOWISKI, 1996, p. 39) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 62 sociais, comunicação e até mesmo em alguns casos, diretamente relacionados a reitorias de universidades. Quanto aos cursos livres, técnicos e seqüenciais também se tornou impossível apurar o número exato de cursos oferecidos no país, mas pode-se inferir que o número seja muito elevado pelas apurações realizadas por meio da internet. Não se pode garantir que a qualidade de ensino desses cursos, nos diversos níveis, seja proporcional à sua proliferação, ao contrário, há motivos para inferir-se que a qualidade destes seja inversamente proporcional à sua grandeza numérica, pois não existem profissionais, com formação e experiência adequadas em quantidade capaz de atender a esta enorme demanda. O desequilíbrio existente na prestação dos serviços turísticos brasileiros é causado no âmbito educacional, por um lado, pela falta de qualificação dos profissionais, e por outro pela inadequação da proposta pedagógica existente nas instituições de ensino. Principalmente porque os cursos superiores lançam uma enorme quantidade de profissionais a cada ano no mercado de trabalho, sem se preocupar mais profundamente se os mesmo estão preparados para atenderem às reais necessidades do mercado nacional, regional ou local. (ANSARAH, 2002, p. 117) A abertura indiscriminada de novos cursos superiores em turismo não garante a formação de recursos humanos capacitados. Assim, para alcançar uma melhor formação profissional, será necessário o desenvolvimento da melhoria permanente da qualidade do ensino. (Ansarah, 2002:118) As doutoras Marília Ansarah e Miriam Rejowiski, já alertavam para este problema no artigo publicado na Revista Turismo e Análise, em 1996: “Os dados descritos ‘neste artigo’ indicam um crescimento quantitativo do número de cursos superiores de turismo no Brasil de 1994 a 1996. Tais dados deveriam ser melhor analisados, em função de características qualitativas dos mesmos e, também, em função das reais necessidades de absorção dos recursos humanos na área.” (ANSARAH E REJOWISKI, 1996, p. 44) Identifica-se a necessidade de desenvolver uma análise qualitativa dos profissionais que estão sendo formados em cursos superiores de turismo, porém ainda não foram realizados exames que possam avaliar a qualidade do processo de ensino na formação destes profissionais. Devem ser ainda considerados nesta avaliação, os diversos mecanismos para disponibilizar informações de qualidade aos estudantes, passando pela formação dos Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 63 professores, pela qualidade do acervo bibliográfico, e o incentivo e possibilidade para o desenvolvimento de pesquisa científica nas instituições de ensino superior de turismo, tanto públicas quanto privadas. [...] Num país como o Brasil, o que impera ainda é o jeitinho brasileiro. Algumas instituições não consideram que a educação em turismo deva ser planejada e levada a sério como áreas já consolidadas como engenharia, odontologia, direito... apenas exemplificando. Investem as instituições educacionais, muitas vezes, para conseguir a autorização do curso de turismo e irão reinvestir após quatro anos, para conseguir o reconhecimento. E depois de uma nova pausa, não há investimento contínuo. É por este motivo que espero ansiosamente a vinda do “Provão” – Exame Nacional de Cursos. Há necessidade de uma supervisão constante na educação em turismo, a exemplo do que já acontece em áreas tradicionais, para realmente haver qualidade na educação, no projeto pedagógico bem planejado, docentes titulados (instituições investindo na titulação e os valorizando com remuneração condizente) e uma biblioteca possuindo títulos nacionais e internacionais incentivando a pesquisa. (ANSARAH, 2002, p .118-119) De acordo com pesquisa realizada por Ansarah, (2002, p. 91), pode-se verificar que a oferta de cursos superiores de turismo se concentra acentuadamente nas instituições particulares atingindo atualmente um percentual de 92%, enquanto as instituições públicas concentram apenas 8% da oferta. Esta enorme concentração de cursos superiores em turismo existente no ensino privado justifica-se pelo fato de surgirem como grande oportunidade mercadológica. Estes cursos em turismo despertam atualmente um significativo interesse nas pessoas pela difusão da idéia nos veículos de propaganda nos meios de comunicação e institucionais, do efetivo potencial de desenvolvimento da atividade de turismo no Brasil, sendo a “profissão do futuro”, associado às diversas possibilidades de inserção no mercado de trabalho pelo turismo, nas instituições governamentais, não-governamentais e empresas privadas, acabam gerando uma forte demanda de estudantes às instituições de ensino. Outro fator que influencia o aumento da demanda dos cursos superiores de turismo nos últimos anos relaciona-se aos custos relativamente baixos para implantação destes cursos pelas instituições de ensino. Especialmente quando estes são comparados aos cursos das áreas das ciências exatas ou biológicas, que exigem investimentos financeiros vultuosos por parte das instituições para montagem de laboratórios. Constata-se ainda, na comparação entre os gráficos 1 e 2, que há uma forte concentração da oferta na Região Sudeste. Pode-se afirmar que um dos principais fatores que Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 64 influenciam esta concentração é a concentração populacional. Porém com 92% dos cursos de turismo oferecidos por instituições privadas, funciona um mecanismo de livre mercado onde a oferta corresponde à procura, que obviamente é maior nos grandes centros urbanos. Norte 4% Sudeste 50% Norte 8% Sul 18% Sul 15% Centro Oeste 10% Sudeste 42% Nordeste 18% Gráfico 1 - Distribuição dos cursos superiores em turismo no Brasil por região, em 2002. Fonte: (INEP, 2002) Centro Oeste 7% Nordeste 28% Gráfico 2 - Distribuição da população brasileira por região do país, em 2002. Fonte: (IBGE, 2002) Esta concentração na região sudeste é acentuada principalmente, em função do desequilíbrio gerado pela mega-oferta que possui o Estado de São Paulo, atualmente com 166 cursos superiores de turismo, destes, 53 só na cidade de São Paulo. Como pode ser observado nos gráficos 3 e 4. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 65 180 166 160 140 120 100 80 60 39 36 40 30 29 20 6 1 0 AL AM 6 2 AP BA CE 10 13 13 DF ES 8 6 GO MA MG MS 20 19 18 3 MT PA 6 PB 7 4 PE PI PR RJ RN 13 3 1 RO RR 2 1 RS SC SE SP TO Gráfico 3 - Distribuição dos cursos superiores em turismo no Brasil por estado. Fonte: (INEP, 2002) 40000000 35000000 30000000 25000000 20000000 15000000 10000000 5000000 0 AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO Gráfico 4 - Concentração populacional no Brasil por estado. Fonte: (IBGE, 2002) A proliferação de cursos é conseqüência direta do aumento da oferta de oportunidades de trabalho. ‘Muitas universidades viram nesse nicho a chance de abrir mais cursos’, diz o presidente da Abdeth, José Veloso Campos, 53. Mesmo assim, a procura ainda é bem maior que a oferta. No ano passado, turismo foi o terceiro curso mais concorrido do vestibular da Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular), com 55 candidatos por vaga. (NÚMERO, 2001) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 66 A significativa oferta de cursos superiores em turismo identificada na região sudeste, e a elevada demanda por estes cursos está relacionada também à representativa concentração populacional existente no país nesta região, que buscam formação superior para estarem mais bem inseridas no mercado de trabalho, com remuneração mais condizente às necessidades financeiras exigidas nos grandes centros urbanos. Associado a concentração populacional e a necessidade de qualificação profissional da região sudeste, o maior número de agências de viagens também está alocado nesta região. De acordo com pesquisa do EMBRATUR, realizada no ano 2000, a região concentra 53% das agências do país o que corresponde a 5.020 estabelecimentos, sendo 2.727 só no Estado de São Paulo. Estas atendem, ao maior mercado emissor de turistas do Brasil; partem de São Paulo, mais de 3 milhões de passageiros aéreos com destino aos demais estados do país. (Inep, 2003) Contudo com tamanha oferta concentrada nos grandes centros urbanos, não se atende a uma necessidade crucial para a qualificação da oferta do país, especialmente àquela relacionada ao ecoturismo, que ocorre principalmente nas áreas mais remotas. Há que se atender a necessidade de formação e capacitação daqueles que compõe as comunidades anfitriãs das áreas de destino, tanto através do ensino formal, como por meio de cursos livres não formais. 3.4.1 – FORMAÇÃO EM ECOTURISMO Constata-se que o fenômeno turístico é recente no Brasil, quando se tem como parâmetro a criação de cursos de turismo, verifica-se que possui apenas pouco mais de trinta anos. Se o turismo no Brasil é “jovem” o ecoturismo ainda é uma “criança” com idade em torno de seis a nove anos, especialmente em relação à produção acadêmica. Verifica-se que a maior produção ocorreu de maneira mais acentuada, especialmente nos últimos seis anos. Segundo levantamento efetuado junto à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, a primeira dissertação de mestrado relacionada ao assunto foi apresentada em 1993, por Luiz Moretto Neto à Universidade Federal de Santa Catarina, pelo Departamento de Geografia, sob o título: “A Atividade Turística e o Desenvolvimento Sustentado. Estudo de Caso: O Balneário de ingleses e o Projeto Costa Norte Ilha de Santa Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 67 Catarina”, orientador não informado. Porém como se pode constatar, este trabalho ainda não utilizava a denominação “ecoturismo” no título. A denominação aparece pela primeira vez no título de uma dissertação apresentada em 1996, por Vinícius de Albuquerque Maranhão, à Universidade Federal do Rio de Janeiro, pelo Departamento de Geografia, sob o título: “Pantanal Matogrossense: da Caça e Pesca ao Ecoturismo. Análise do Desenvolvimento Turístico”, sob a orientação de Leila Christina Duarte Dias. Pode-se verificar ainda, que a produção acadêmica sobre o assunto, apresenta um crescimento acentuado nos últimos seis anos. O gráfico 5 demonstra a produção acadêmica no Brasil, através do número de dissertações e teses relacionadas ao assunto, até o ano de 2001. Esta indicação é realizada pelo tipo de trabalho e por ano, totalizando 64 trabalhos. O gráfico 6 demonstra a produção acadêmica no Brasil, através do número de dissertações e teses, que utilizaram a expressão “ecoturismo” ou “turismo ecológico” no título até 2001, por tipo de trabalho e por ano, totalizando 29 trabalhos. 15 2001 2000 14 3 9 1999 2 1998 8 Doutorado 5 1997 Mestrado 4 1996 1995 1994 1 1993 1 0 Profissionalizante 5 10 15 20 Gráfico 5 - Dissertações e teses relacionadas ao assunto até 2001, por tipo de trabalho e por ano. Fonte: (CAPES, 2002) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 68 9 2001 2000 4 1 1 1999 Doutorado 4 4 1998 1997 3 1996 3 Mestrado Profissionalizante 0 2 4 6 8 10 Gráfico 6 - Produção científica no Brasil - dissertações e teses com a expressão “ecoturismo” ou “turismo ecológico” no título, até 2001, por tipo de trabalho e por ano. (CAPES, 2002) Verifica-se que o número de profissionais com mestrado e doutorado com trabalhos relacionados ao tema é muito pequeno, especialmente se comparado com o número de cursos superiores oferecidos no país. Pode-se inferir que não há mestres e doutores, com trabalhos relacionados ao ecoturismo, suficientes para ministrarem a disciplina de ecoturismo que tem sido freqüentemente inserida nos currículos dos cursos de graduação. Segundo Pires (2002:234), o primeiro curso de graduação a implantar uma disciplina de Turismo e Ecologia, com enfoque no que na época se denominava de Turismo Ecológico, no Brasil, foi a Faculdade de Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALE, no estado de Santa Catarina, em 1990. O primeiro curso de especialização (lato sensu) em ecoturismo do país foi criado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Social – SENAC, na cidade de São Paulo em 1993 com dez turmas já formadas. Inicialmente, este curso recebeu a denominação de “Turismo e Meio Ambiente”, depois modificado para “Turismo Ambiental”, e finalmente em 1996, “Ecoturismo”. Anualmente são formadas turmas com cerca de 40 alunos. Neste período, apenas 200 alunos apresentaram seus trabalhos de conclusão de curso para obtenção do título de especialista. Este curso foi estendido para as unidades do SENAC nas cidades de Águas de São Pedro e Campos do Jordão, no Estado de São Paulo e vem sendo mantido atualmente, apenas em São Paulo e Águas de São Pedro. Logo após, em 1994 surge na Faculdade de Turismo da Bahia, em Salvador, o Curso de especialização, lato sensu, em turismo com uma das áreas de aprofundamento no ecoturismo. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 69 Estes cursos de pós-graduação lato sensu do SENAC de São Paulo e da Faculdade de Turismo da Bahia foram os pioneiros, porém de 1994 em diante foram lançados inúmeros cursos especialização em ecoturismo, no país. (PIRES, 2002, p. 235) Como tais cursos não requerem autorização do MEC para seu funcionamento, tornou-se impossível mensurar a oferta atual. Desta forma, a qualidade destes cursos também é algo de difícil mensuração e questionável em alguns estabelecimentos pela pouca oferta de profissionais experientes e capacitados neste mercado tão recente no país. De acordo com a Resolução CES/CNE nº 1 de 3 de abril de 2001, que estabelece normas para o funcionamento de cursos de pós-graduação e, em seu art. 6º , dispõe: “Os cursos de pós-graduação lato sensu, oferecidos por instituições de ensino superior ou por instituições especialmente credenciadas para atuarem nesse nível educacional, independem de autorização, reconhecimento e renovação de reconhecimento (grifo meu), e devem atender ao disposto nesta Resolução.” (BRASIL/ MEC, 2003) Outros cursos de ensino livre, técnicos ou seqüenciais são amplamente oferecidos sem que tenha sido possível, no âmbito deste trabalho identificá-los, porém sabe-se que são numerosos. De qualquer forma, a grande concentração da oferta ocorre nas regiões mais urbanizadas do país, ficando, de modo geral muito distantes dos potenciais destinos ecoturísticos, uma vez que a oferta não é regulada pela necessidade de capacitação, mas em geral, pelo tamanho da demanda com poder aquisitivo. É imperativo levar formação e capacitação profissional aos destinos ecoturísticos e dar oportunidades de acesso às comunidades anfitriãs, para que estas possam estar efetivamente envolvidas e usufruir, de fato, dos potenciais benefícios que o ecoturismo poderá oferecer. A formação é fundamental para que os profissionais possam assumir também, postos de direção, gerência e administração de empreendimentos, caso as comunidades anfitriãs não tenham acesso, mais uma vez ficarão relegadas às oportunidades de emprego que forem eventualmente oferecidas por empreendedores originados dos grandes centros urbanos. Certamente a oportunidade de acesso a formação superior em turismo, pressupõe ofertas anteriores ao ensino fundamental e médio, ainda extremamente limitadas, em grande parte dos destinos potenciais para o ecoturismo no Brasil, e demais países latino-americanos. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 70 De qualquer forma, entende-se que é papel do poder público e outras iniciativas subsidiadas, levar formação e capacitação em turismo a estes destinos, considerando que dificilmente haverá uma demanda capaz de justificar economicamente esta oferta, ao menos do ponto de vista do lucro visado pelas instituições privadas. A realidade econômica dos países latino-americanos reforça que muitas ações de capacitação devem ser ainda realizadas, entre ensino formal e não formal, mas que viabilizem ampliar o quadro de profissionais e técnicos, contribuindo para suprir a atual carência em recursos humanos preparados para a execução de produtos de ecoturismo. Sabe-se que estes produtos dependem necessariamente da qualidade da prestação de serviço, para fortalecer a credibilidade destes destinos no mercado nacional e internacional do ecoturismo, tanto no Brasil como no Peru. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 71 CAPÍTULO – 4 – ECOTURISMO NO PERU No Peru o Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAM, em 2001, por iniciativa da Comissão de Promoção do Peru – PROMPERU, foi estimulado pelo ano internacional do ecoturismo a estabelecer um Grupo Técnico de Turismo Sustentável. Este grupo foi formado por representantes de instituições públicas e acadêmicas, empresários e ONGs que elaboraram o Programa Nacional de Turismo Sustentável. O governo peruano entende que este documento representa uma importante iniciativa para estabelecer um acordo multisetorial no país, para que seja possível desenvolver o modelo de turismo sustentável, no qual o segmento de ecoturismo está contemplado de forma enfática. (PRIMER, 2002, p. 05) Deste grupo técnico formou-se três comissões, sendo elas a Comissão do Plano Nacional de Turismo Sustentável, a Comissão de Eventos para Celebração do Ano Internacional de Ecoturismo e a Comissão de Ecoturismo. Esta última comissão, a cargo da PROMPERU, realizou um diagnóstico do país, que serviu de base para a elaboração do documento intitulado: “Primer Informe de la Situación del Ecoturismo en el Perú”, utilizado como referência na Conferência Mundial de Ecoturismo de Quebec, em maio de 2002, porém sua publicação ocorreu cinco meses após a conferência. Desta forma, este documento será utilizado como base para a elaboração do Plano Nacional de Turismo Sustentável Peruano. (PRIMER, 2002, p. 5) Portanto pela significativa abrangência dos dados apresentados no documento “Primer Informe de la Situación del Ecoturismo en el Perú”, bem como percebendo a importância e atualidade dos diagnósticos desenvolvidos por um grupo multisetorial, considerada uma ação pioneira e inovadora neste país. Entendeu-se que este documento deveria ser, entre outras fontes bibliográficas utilizadas, o principal objeto de análise para as reflexões realizadas neste capítulo. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 72 4.1 – LOCALIZAÇÃO E CARACTERÍSTICAS GERAIS O Peru está localizado na parte central e ocidental da América do Sul, dividido em 24 Departamentos, dentre os quais Lima, onde se localiza a capital federal com o mesmo nome e uma Província Constitucional, El Callao. Os Departamentos estão divididos em 180 províncias que por sua vez, divide-se em 1.747 distritos. Com extensão territorial de 1.285.216 km2 é o terceiro maior país da América do Sul. Ao norte o país tem limites geográficos estabelecidos com Equador e Colômbia, ao sul com Chile, a leste com Brasil e Bolívia, e a oeste o oceano Pacífico, como se pode observar no mapa 5 e 6 que apresentam respectivamente a localização do Peru no mundo e na América do Sul. Mapa 5 – Localização do Peru no Mundo. Fonte: AGENCIA, 2003. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 73 Mapa 6 - Localização do Peru na América do Sul. Fonte: ENJOY, 2002. Possui atualmente uma população de 26.749.000 habitantes, destes mais de 70% concentram-se em áreas urbanas, só na capital a população chega a sete milhões de habitantes. (INEI, 2003) Como consecuencia de la migración rural-urbana y del inusitado crecimiento demografico a nivel nacional que 7 millones del año 1940 pasó a 24 millones en 1997, en el país, se han reproducido deformaciones que son aprovechadas por el narcotráfico, la delincuencia organizada puede rebrotar sino se solucionan los problemas de miseria que viven aproximadamente 6 millones de peruanos, fundamentalmente en los pueblos más alejados del territorio nacional. (DALL’ORTO, 1998, p. 71) Em Roquié (1991, p. 61-62) identifica-se que 22% da população latino-americana está vivendo em cidades com mais de 4 milhões de habitantes. Salienta ainda que a urbanização latino-americana tem sua história baseada na forma de colonização espanhola que “foi essencialmente urbana”. Nas cidades administrativas dos “vice-reinos” havia maior Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 74 concentração de renda e poder estabelecidos, onde residiam funcionários reais junto aos grandes proprietários de terras e donos das minas. Roquié aponta ainda que as civilizações pré-colombianas ficavam praticamente excluídas das áreas urbanas, e que após a independência, “com a integração desses países ao mercado mundial como produtores de bens primários, o lugar das cidades se reforçou ainda mais. [..] As cidades, especialmente as maiores, concentram em seu seio as engrenagens da economia e os encantos de uma existência ‘moderna’ à margem de um mundo dominado pela tradição e pelo arcaísmo rural.” Desta forma, verifica-se que entre muitas cidades latino americanas, a cidade de Lima, está inserida na média de percentagem de ocupação e com sua história marcada pela forma de ocupação espanhola. Quando se observa em fontes bibliográficas sobre turismo o forte aspecto da ocupação espanhola, justificado pelos mais de quatro séculos e meio da integração das crenças das comunidades tradicionais peruanas, de origem Inca com a cultura espanhola, contribuindo para o atual perfil religioso presente na capital do país. (SIERRA, 1999, p. 39) Portanto cabe salientar que se identificou ainda em Roquié (1991, p. 34-35) uma análise sobre a tipologia estabelecida pelo antropólogo Darcy Ribeiro que os povos testemunhos, descendentes das civilizações asteca, maia e incaica, onde as comunidades autóctones foram menos influenciadas pela civilização européia, uma significativa fração destas comunidades ainda fala a língua vernacular, pois na zona incaica do Peru, da Bolívia e do Equador, entre outras zonas rurais montanhosas destes países, as concentrações de indígenas representam 50% da população, entre os que falam o quícha e aimará, demonstrando a diversidade cultural do Peru. A República do Peru possui um sistema de governo presidencialista, unitário e descentralizado. A constituição vigente foi elaborada por um congresso eleito democraticamente e promulgada em 31 de outubro de 1993. (INEI, 2003) No ano 2000 foi eleito para o cargo de presidente da república, Alberto Fugimori, sendo o seu segundo mandato, deveria governar o país até 1995, porém devido ao seu envolvimento com problemas de corrupção e instabilidades políticas, renuncia ao cargo e abandona o país em novembro deste mesmo ano, no seu lugar assume Valentin Pantigua Corazao e permanece até julho de 2001, quando é eleito o Presidente Alejandro Toledo Manrique com mandato até julho de 2006. (INEI, 2003) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 75 Identificou-se que o país está dividido em três regiões topográficas e climáticas distintas, apresentadas sucintamente abaixo. A Costa, nesta estreita área litorânea do oceano Pacífico encontram-se as principais atividades econômicas e políticas do país, com a maior concentração de indústrias, comércios e agriculturas. A capital política Lima, além de ser o centro econômico do Peru, abriga 30% da população peruana. O marco de fundação da cidade data de 18 de janeiro de 1535, pelo espanhol Francisco Pizarro. (ENJOY, 2002) (SIERRA, 1999, p. 39) A Serra, uma zona central montanhosa "Cordillera de los Andes", abrange as montanhas, platôs e vales elevados que cobrem 27% da área. Dependendo da altitude, o clima varia de temperado a muito frio, com cidades construídas a mais de 3.800 metros acima do nível do mar, como é o caso de Puno, no lago Titicaca, localizado acima dos 3.850 metros e Cerro de Pasco 4.302 metros. (ENJOY, 2002) A Selva contém a bacia superior da Amazônia, é a região mais extensa e menos povoada do Peru. A Floresta Amazônica, com clima tropical úmido e chuvoso, cobre uma área equivalente a 60% do território nacional, nesta região forma-se o rio Amazonas da união dos rios Marañón e Ucayali perto da cidade de Nauta no Departamento de Loreto. A flora e a fauna são consideradas as mais ricas do mundo, (ENJOY, 2002) Em relação ao potencial que possui, o turismo no Peru ainda é uma atividade econômica pouco explorada. Durante os últimos anos vem crescendo em virtude da procura por novas experiências em contato com ambientes naturais conservados. As estatísticas apontam crescimento e atualmente o turismo já é responsável pelo ingresso mais de um milhão de dólares, porém este resultado está muito aquém da real possibilidade do setor no país, podendo, segundo alguns analistas, ser multiplicado por cinco ou até dez vezes caso sejam investidos recursos suficientes em infra-estrutura, serviços e em um aproveitamento racional destes recursos turísticos. O país possui vantagens comparativas significativas no cenário do turismo mundial, pois foi sede de antigas civilizações pré-colombianas com numerosos vestígios podendo ser encontrados em todo o território, além das singulares riquezas naturais do país. (AGENCIA, 2003) “Es una realidad que cada día más personas en el mundo hace turismo de naturaleza o ecoturismo, buscando regocijarse visitando y experimentando aquello que resulta totalmente opuesto a su cotidianeidad.” (AGENCIA, 2003) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 76 Segundo Boza (2000), o turismo no Peru destaca-se pelos seguintes aspectos: gera cerca de 350 mil postos de trabalho diretos, 4.9% da População Economicamente Ativa – PEA urbana, cerca de US$ 1 milhão/ano em divisas, cerca de US$ 100 milhões de arrecadação de impostos e contribui para o crescimento do país sendo responsável por cerca de 4.5% do Produto Interno Bruto – PIB. Contudo ainda não se constitui no maior gerador de divisas, pois os principais produtos de exportação do Peru ainda constituem-se de matérias-primas minerais: cobre, ouro, prata, cromo, zinco, produtos pesqueiros, algodão e têxteis. (ENJOY, 2002) (ADUANAS, 2000 apud AGENCIA, 2003) 4.1.1 – RECURSOS NATURAIS O Peru é um país privilegiado por sua diversidade de recursos naturais, esta entre os doze países megadiversos do mundo. Dos 103 ecossistemas conhecidos, o Peru possui 84, onde se pode encontrar mais de 18.5% das espécies de aves do mundo, 19% das espécies animais, e 7.8% de plantas cultiváveis. Calcula-se que exista neste país cerca de 25.000 espécies de plantas, 10% do total mundial, das quais 30% são endêmicas40. É o quinto país do mundo em número de espécies, é o segundo em espécies de aves, é o sétimo em anfíbios, o sexto em mamíferos. Tal diversidade está certamente relacionada com a diversidade geográfica e climática do país, pois o Peru é um dos países com a maior quantidade de microclimas do mundo. (PRIMER, 2002, p. 23) “[..]O ápice da diversidade global de plantas é a flora conjunta de três paises andinos, Colômbia, Equador e Peru. Lá ocorrem mais de 40 mil espécies em apenas 2% da superfície do globo. O recorde mundial de diversidade de árvores em um só local foi estabelecido por Alwyn Gentry na floresta pluvial perto de Iquitos, no Peru. Ele encontrou cerca de trezentas espécies em cada um de dois lotes de um hectare. Peter Ashton encontrou mais de mil espécies num censo conjunto de lotes selecionados de um hectare em Bornéo. Esses números devem ser comparados com as setecentas espécies nativas encontradas em todos os principais habitats dos Estados Unidos e Canadá, desde os mangues pantanoso da Flórida ás Florestas de coníferas de Labrador.” (WILSON, 1994, p. 212) 40 O termo endêmico aqui definido como: “táxon (níveis hierárquicos de classificação dos seres vivos e podem expressar-se em nível de espécies, gênero, famílias e ordens) nativo e restrito a uma determinada área geográfica. O endemismo também é variável no tempo.” (Ross, 1995, p. 536) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 77 Esta megadiversidade coloca o país em situação privilegiada em relação ao ecoturismo com outros países, pois as pesquisas biológicas realizadas fomentam um elevado potencial neste país frente ao mercado de observadores de aves norte-americano, estimado em mais de 60 milhões de pessoas, dos quais mais de 20 milhões viajam ao menos una vez ao ano. (ENJOY, 2002) A Cordilheira dos Andes, dividida em três ramais, cortando o país de norte a sul é o território das serras e vales de altitude. Dezenas de grandes vulcões permanentemente cobertos de neve a mais de 6000m de altitude e na sua base há inúmeras lagoas. Acima de 4000 m de altitude situa-se o Lago Titicaca. Na vertente oriental dos Andes, nascem os rios que contribuem para a formação do rio Amazonas, o maior do planeta. Entre 600 e 1.500m de altitude estende-se a floresta alta, denominada pelos antigos de “rupa-rupa” que significa quente-quente. (CONSERVATION, 1999) A diversidade de temperatura e umidade nestes ambientes, explicam a grande biodiversidade da Amazônia peruana. Na reserva de Manu com quase dois milhões de hectares localizados na Amazônia, foram inventariadas 91 espécies de mamíferos, 1 100 de borboletas, 600 de besouros e 545 de aves. E em algumas regiões existem mais de 300 espécies de árvores por hectare. Além da sua riqueza biológica, o Peru é o país de cultura mais antiga e diversa da América Latina. (CONSERVATION, 1999) Na lista dos Patrimônios da Humanidade da UNESCO estão contidos nove itens do Peru, são eles: cidade de Cuzco (antiga capital do império Inca), ruínas de Machu Picchu, Parques Nacionais de Manu, Huascarán e rio Abiseo, Zona Arqueológica Chan Chan, Centro Histórico de Lima e as Linhas de Nazca. (GRECO, 1999, p. 48) Os incas viveram no Perú de 1100 até 1532. Tinham uma civilização avançada, embora não tivessem uma língua escrita, chegou a possuir uma população em torno de 15 milhões de habitantes. Sua capital era Cuzco. Em 1532, Francisco Pizarro conquistou os incas e o seu território passou a fazer parte do império espanhol. Até 1821, quando se declarou a Independência do Peru. Os incas viveram em Machu Picchu, uma cidade constituída como uma fortaleza nos Andes. Também era um centro religioso. Macchu Picchu significa "la montaña vieja", descuberta por um arqueólogo norteamericano, Hirman Bignam, em 1921. (UNIVERSITY, 2002) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 78 Tradicionalmente o Peru é conhecido em todo o mundo por seu patrimônio arqueológico, porém as preferências do mercado internacional estão mudando, os ecoturistas procuram visitar novos destinos, especialmente aqueles que oferecem atrativos naturais em alto grau de conservação, preferencialmente com pouca interferência humana. (PRIMER, 2002, p. 23) Los recursos naturales del Perú, principalmente la biodiversidad o diversidad biológica, se convierten en atractivos que pueden permitir captar la atención de los turistas, especialmente ecoturistas. Por otro lado, si bien es cierto que en la mayor parte del territorio peruano se puede desarrollar ecoturismo por la gran diversidad de flora y fauna, las Áreas Naturales Protegidas son especialmente privilegiadas para esta práctica. (ENJOY, 2002) O Peru possui 15,3% de seu território protegido em unidades de conservação, dentro do Sistema Nacional de Áreas Naturais Protegidas – SINANPE, divididas em 53 áreas, contudo o ecoturismo não se desenvolve exclusivamente em áreas protegidas, pois pode se apresentar como uma alternativa para outras áreas naturais que não se encontram protegidas pelo estado. Desta forma, utilizando-se estas áreas para o desenvolvimento de atividades ecoturísticas, pode-se diminuir a pressão que poderia ser exercida sobre as áreas naturais protegidas e ainda promover a valorização dos recursos naturais de outras áreas promovendo sua utilização sustentável. (PRIMER, 2002, p. 30) 4.1.2 – RECURSOS ARQUEOLÓGICOS, HISTÓRICOS E CULTURAIS O Peru possui atrativos arqueológicos e históricos mundialmente reconhecidos, pois a diversidade cultural é considerada como recurso turístico singular, pela elevada diversidade de etnias, estas com costumes ancestrais tradicionais, distribuídas em 42 grupos étnicos diferentes na Amazônia, com 12 famílias lingüísticas e 45 línguas vivas. (PRIMER, 2002, p. 33) No Peru viveram sociedades complexas com uma história superior a 1.500 anos a.C. que deixaram um riquíssimo patrimônio constituído por monumentos arquitetônicos, artísticos. As comunidades tradicionais peruanas apresentam ainda costumes e tradições baseadas nas relações entre o homem e a natureza. Este patrimônio material e imaterial Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 79 peruano, embora não sejam os principais atrativos dentro dos produtos ecoturísticos, constituem-se em atrativos complementares de grande significado. (PRIMER, 2002, p. 33) A oferta diferencial do Peru é extremamente diversificada abrangendo atrativos históricos, culturais e ambientais. Em relação ao ecoturismo possui um enorme potencial, ainda pouco utilizado, pois este segmento do turismo ainda é bastante recente, vem se consolidando principalmente nos últimos dez anos. Porém, apesar da riqueza de recursos para o desenvolvimento desta atividade, possui sérios problemas relacionados a qualidade da prestação de serviços ecoturísticos, principalmente aqueles relacionados aos meios de transporte e hospedagem, indicando a necessidade de melhor qualificação de recursos humanos nestes setores. (PRIMER, 2002, p. 20) 4.2 – EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS TURÍSTICOS E EOTURÍSTICOS Identificou-se que no Peru já existem diversos equipamentos e serviços turísticos que estão relacionados diretamente ao ecoturismo. Estes serão apresentados de forma a facilitar a identificação do estágio de desenvolvimento em que se encontram atualmente no país. Pois, de acordo com a Organização Mundial do Turismo – OMT, 2002, o turismo registrou 1.027.000 chegadas de visitantes com passaporte ou salvo conduto no Peru em 2001. 4.2.1 - HOSPEDAGEM Existe um elevado número de estabelecimentos de hospedagem que não se encontram categorizados ou registrados, o que dificulta uma avaliação mais precisa dos serviços de hospedagem em geral, e especialmente a oferta relacionada ao ecoturismo, como se pode verificar no exemplo de Madre de Dios, onde 92% dos estabelecimentos de hospedagem não são classificados. (PRIMER, 2002, p. 34-35) Entre as justificativas para o fato de haverem tantos estabelecimentos não classificados, neste e outros locais de destino ecoturísticos, deve-se ao fato de que os critérios de Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 80 classificação adotados no país não se adaptam ao tipo de estabelecimento de hospedagem mais freqüentemente oferecido aos ecoturistas. Desta forma, seria necessário desenvolver uma adequação no sistema de classificação, para empreendimentos de ecoturismo, bem como oferecer aos empreendedores destes estabelecimentos que se classificarem, formas de orientação e benefícios diferenciados, contribuindo para melhoria da infra-estrutura hoteleira no país com maior qualidade. Atualmente muitos países latino-americanos como o Brasil, Costa Rica, e o próprio Peru, têm fomentado o desenvolvimento de sistemas de certificação para o ecoturismo, porém acredita-se que a complexidade de produtos ecoturísticos dificulta a aplicação e os entendimentos necessários para sua implementação. Entende-se que existem muitas dúvidas, fazendo com que não se saiba ao certo o que certificar: se os fornecedores, os equipamentos, o roteiro, o pacote ou os destinos. A certificação seria complementar ao sistema de classificação e categorização. Portanto a certificação deveria estar relacionada com critérios de sustentabilidade do ecoturismo, oferecendo parâmetros que possam nortear empreendedores e consumidores sobre a qualidade e autenticidade dos produtos ecoturísticos. Diversos “alberques de selva” como são denominados os estabelecimentos de hospedagem situados nas florestas peruanas, seguindo os princípios do ecoturismo, trabalham dentro dos conceitos de sustentabilidade: utilizam insumos biodegradáveis, práticas construtivas locais e conceitos arquitetônicos de baixo impacto ambiental e visual, procuram minimizar os impactos sobre a fauna e a flora, envolvem as comunidades e utilizam insumos produzidos por elas. (PRIMER, 2002, p. 38) 4.2.2 – ACESSO E SERVIÇOS DE APOIO O ecoturismo de modo geral procura áreas naturais menos impactadas pelo homem, porém estas áreas apresentam grandes dificuldades de acesso, especialmente por terra. A grande variação de altitude, relevo e clima, geram grandes dificuldades para manutenção das condições adequadas de tráfego nas estradas peruanas. Em algumas áreas é essencial o acesso Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 81 por ar e para tanto serão necessários investimentos em aeroportos, aeródromos e heliportos que facilitem a mobilização rápida do ecoturista, que de outra maneira são desperdiça muitas horas com deslocamentos. (PRIMER, 2002, p. 38-39) No caso do transporte na região de selva, Floresta Amazônica peruana, o principal meio é o fluvial, onde o percurso torna-se parte das atividades, pois a paisagem, constitui-se em atrativo ecoturístico, porém as embarcações, de modo geral, ainda não são as mais adequadas. Muitos investimentos serão necessários para que sejam oferecidos transportes fluviais com conforto, rapidez e segurança para melhorar a qualidade dos roteiros ecoturísticos. (PRIMER, 2002, p. 39) Outros serviços de apoio para a operação também são deficientes, tais como: alimentação, limpeza, higiene, saúde, comunicação entre outros. Todos estes serviços requerem, não só equipamentos adequados como capacitação profissional para que sejam oferecidos serviços com padrões de qualidade internacional. (PRIMER, 2002, p. 40) 4.2.3 – AGÊNCIAS E OPERADORAS No Peru, as décadas de 80 e 90 registraram as primeiras iniciativas para o desenvolvimento do ecoturismo. Foram os primeiros projetos conservacionistas desenvolvidos na região amazônica peruana que fizeram surgir as iniciativas pioneiras relacionadas ao ecoturismo que tiveram diferentes origens, algumas vinculadas as ONGs, empresas privadas ou iniciativas comunitárias. (PRIMER, 2002, p. 41) Atualmente no Peru, podem ser encontradas diversas empresas que oferecem produtos sob o “rótulo” de ecoturismo, porém nem todas se aproximam, na prática, dos princípios do ecoturismo. De modo geral, o termo ecoturismo é utilizado indistintamente para o turismo de natureza e de aventura, constituindo-se muito mais em uma estratégia de marketing do que propriamente uma política de desempenho da empresa. (PRIMER, 2002, p. 40) A maior parte dos pacotes ecoturísticos são oferecidos ao mercado turístico externo, através de agências e operadoras internacionais especializadas em “turismo responsável”. No entanto, pretende-se promover uma maior aproximação das agências e operadoras nacionais Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 82 com o objetivo de conquistar o mercado interno interessado em ecoturismo e também oferecer produtos ecoturísticos aos operadores internacionais. (PRIMER, 2002, p. 40-41) 4.2.4 – RECURSOS HUMANOS Excetuando-se a região de Cusco, onde já existe maior consciência sobre as vantagens e desvantagens do desenvolvimento do turismo, não existe nas demais regiões do país uma cultura voltada ao turismo, o que existe é uma expectativa muito grande para que o desenvolvimento do ecoturismo gere, a curto prazo, emprego e renda para as comunidades anfitriãs, porém não se tem consciência melhor difundida sobre os possíveis impactos desta atividade. (PRIMER, 2002, p. 42) “El turismo por definición es una actividad en la que participan todos aquellos que toman contacto con el turista, desde el taxista hasta el guía especializado. En el caso del ecoturismo, esta participación es aún más importante dado que el visitante está interesado en tomar contacto con la población local, sus costumbres y su cultura.” (PRIMER, 2002, p. 42) Assim, verifica-se que ações de capacitação e sensibilização para o ecoturismo são fundamentais no estágio atual no Peru para que os setores e comunidades anfritãs sejam melhor instrumentalizadas para atuarem no mercado de trabalho, e desenvolverem ações que contribuam para a manutenção dos recursos naturais e culturais existentes. 4.3 – CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL No Peru, existem reconhecidos centros de formação de recursos humanos relacionados ao turismo e a hotelaria, porém a maior parte da oferta concentra-se em Lima. Algumas outras cidades também possuem instituições de ensino, porém a maioria das cidades do país, não contam com centros de formação superior em turismo ou ecoturismo. Neste sentido o Centro de Formação de Turismo - CENFOTUR, tem programas de capacitação, em Cajamarca, Trujillo Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 83 e Huaraz, que contribuem para difundir cursos profissionalizantes em regiões com difícil acesso a instituições de formação técnica. (PRIMER, 2002, p. 43) A tabela 4 apresenta o número total de Centros de Educação Superior que incluem especialidades em turismo. Pode-se perceber que Lima e Cusco concentram a maior quantidade de estudantes em turismo. UNIVERSIDADES (1) CIDADES AMAZONAS ANCASH AREQUIPA AYACUCHO CAJAMARCA CUSCO HUANUCO ICA JUNÍN LA LIBERTAD LIMA LORETO MADRE DE DIOS PASCO PUNO SAN MARTIN TACNA TUMBES UCAYALI TOTAL Nº 1 1 2 1 2 1 1 1 1 7 1 1 1 22 ALUNOS 158 158 275 115 1.100 137 102 8 233 3.981 184 389 50 6.890 CENTROS DE ESTUDOS (2) Nº 1 2 1 2 1 7 1 1 1 1 1 13 ALUNOS 51 455 71 364 90 1.823 200 75 55 115 3.129 Tabela 4 - Instituições que oferecem formação em turismo no Peru. Fonte: MITINCI, 2001 apud PRIMER, 2002, p. 44. (1) As especialidades oferecidas são: Licenciatura em Administração Turística - Hotelaria e Turismo, Licenciatura em Turismo e Hotelaria, Licenciatura em Turismo, Licenciatura em Idiomas e Turismo, Licenciatura em Turismo e Administração Hoteleira, Licenciatura em Gestão em Turismo e Hotelaria, Licenciatura em Administração de Negócios Internacionais e Turismo, Guias de Montanha. (2) As especialidades que oferecidas são: Guia Oficial de Montanha, Guia Oficial de Turismo, Administrador de Serviços de Hotelaria, Administração Hoteleira, Administração de Hotéis e Restaurantes, Administração Turística. Trata-se de Institutos de Educação Técnica e Institutos de Educação Superior. (3) Não foram considerados os estudos de pós-graduação. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 84 Muitos jovens, de cidades pequenas, depositam no turismo a esperança de emprego, de fato o turismo possui elevado potencial para a geração de postos de trabalho, porém para que isso ocorra é fundamental que estes jovens recebam a devida formação e capacitação para exercerem funções específicas relacionadas ao turismo em geral ou especialmente àquelas relacionadas ao ecoturismo. Como muitas vezes, nas pequenas localidades, não existem recursos humanos qualificados para as funções relacionadas ao ecoturismo, muitos empresários acabam optando por trazer profissionais de fora, frustrando a expectativa dos moradores locais. (PRIMER, 2002, p. 45) Diante deste problema muitas ONGs vem desenvolvendo trabalhos relacionados à capacitação para o turismo, analisando-se a tabela 5 verifica-se que estas procuram oferecer estes trabalhos nas províncias do interior do país. LOCALIZAÇÃO Nº DE ONGs PORCENTAGEM Lima 15 36% Interior do País 27 64% TOTAL 42 100% Tabela 5 - ONGs que oferecem capacitação em turismo no Peru. Fonte: PRIMER, 2002, p. 45. A capacitação é de importância fundamental, tanto para que se possam oferecer as comunidades oportunidades reais de se beneficiarem com o desenvolvimento do ecoturismo, como para que se tenha a qualidade necessária para atender as exigências do mercado nacional e internacional, sem perder a autenticidade do ambiente natural e cultural oferecidos nos produtos ecoturísticos. No momento apenas duas instituições acadêmicas no país oferecem cursos especificamente voltados para formação de profissionais e técnicos para o ecoturismo: a Universidade Nacional Agrária La Molina, que oferece um mestrado em ecoturismo desde o ano de 2000, e a Universidade Federico Villareal que oferece curso técnico em ecoturismo com duração de três anos. (PRIMER, 2002, p. 45) Em relação à formação de guias, tem-se priorizado a especialização em turismo histórico-arqueológico, sem levar em conta outros segmentos que também necessitam de capacitação específica, como é o caso do ecoturismo. Para suprir esta deficiência as empresas procuram diversas alternativas, dentre estas, procuram receber estudantes recém formados em Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 85 biologia ou engenharia florestal que em troca do apoio para concluírem seus estudos de campo, desempenham função de guias. No entanto estes permanecem por períodos de apenas seis a dezoito meses, gerando alta rotatividade, o que não é bom para a manutenção de padrões de qualidade nos produtos ecoturísticos. (PRIMER, 2002, p. 45-46) Um exemplo de solução paliativa para o problema, é o que ocorre no caso da Raimforest Expeditions, sediada em Tambopata, esta recebe e/ou contrata biólogos e engenheiros florestais como guias para acompanhar seus clientes. Por sua vez, estes são acompanhados por guias profissionais contratados, promovendo um intercâmbio de conhecimentos, técnicas e experiências, com objetivo de formar um grupo especializado em ecoturismo. A Raimforest oferece aos profissionais um curso específico com duração de quase dois meses. (PRIMER, 2002, p. 46) [...]Uno de los principios que sustentan el ecoturismo es la participación directa o indirecta de la población local. Sin embargo, la mayor parte de la población de las áreas rurales no cuenta con capacitación para ingresar a laborar en el sector turismo. Más aún, muchos habitantes de dichas zonas no han concluido la educación primaria. Por lo tanto, los empresarios se encuentran ante un serio problema para emplearlos. Si más bien se piensa en la posibilidad de que estas comunidades formen microempresas, nuevamente la falta de preparación adecuada en el manejo de un negocio dificulta un involucramiento efectivo y exitoso. (PRIMER, 2002, p. 47) Pode-se citar o que ocorreu na Comunidade de Macro, no Departamento do Amazonas, onde com a intenção de envolver a comunidade local no desenvolvimento do ecoturismo, houve um financiamento através de banco estatal, um equipamento de hospedagem com 20 apartamentos. Infelizmente o documento PRIMER (2002) não esclarece qual a organização que gerou a demanda para o financiamento. Entretanto, nenhuma ação de capacitação em manejo e gestão hoteleira foi oferecida aos membros da comunidade. Isto resultou numa ação desastrosa, sem poder honrar o empréstimo financeiro a comunidade foi submetida a embargos gerados pela inadimplência e o processo encontra-se na justiça. (PRIMER, 2002, p. 47) O que demonstra que é ineficiente disponibilizar apenas financiamento para empreendimentos em ecoturismo sem que os atores, que devem ser os verdadeiros beneficiários, desenvolvam em conjunto programas de capacitação específicos para os setores em que devem atuar e/ou empreender. Além da capacitação, existe uma evidente necessidade de oferecer as comunidades tradicionais acompanhamento e apoio técnico para gerenciar os Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 86 empreendimentos, entendendo-se que entre a teoria e a prática existe um processo de aprendizado que deve ser apoiado e fortalecido para viabilizar os empreendimentos financiados. Existem algumas ONGs que tem procurado apoiar as comunidades peruanas na formação de pequenas empresas de serviços relacionadas ao ecoturismo. (PRIMER, 2002, p. 48) [...]Ya que por el momento muchas poblaciones rurales no cuentan con el nivel requerido, se debe planificar un trabajo constante de capacitación por parte del Estado, las instituciones académicas, las ONGs y la empresa privada para fortalecer la capacidad de crear microempresas de servicios ecoturísticos eficientes y de calidad en manos de pobladores locales que puedan involucrarse en el desarrollo de proyectos de ecoturismo. (PRIMER, 2002, p. 48) A tabela 6 relaciona as comunidades envolvidas com ações de capacitação. COMUNIDADES Timpia (Baixo Urubamba) ATIVIDADE CAPACITAÇÃO Hospedagem Hotelaria e transporte fluvial APOIO ENVOLVIMENTO Perú Verde Empresa Comunitária CEDIA Inkanatura Inferno Hospedagem Hotelaria, idiomas Raimforest Joint Venture (Tambopata) e guias Expeditions (sócios) El Dorado (Pacaya- Hospedagem, Hotelaria, guias, Pronaturaleza Consórcio Comapa 20 de guias e transporte e Greenlife Enero, (Comitê de Manejo Samiria) Comapa transporte manejo de Palmera), Unidade de 20 de Enero, empresarial Pesca Comunitária - UPC UPC Yarina, Yarina, UPC Yacutaita, UPC Yacutaita Pronaturaleza, Greenlife Cooperativa Porcón Hospedagem Empresa Comunitária (Cajamarca) e guia Comunidade de Hospedagem Empresa Comunitária Tingo Llama Trek Acampamento Guias, cozinha de Operador de Associação de Auxiliares (Olleros-Chavín) , trekking com montanha e turismo local de Montanha (ASAM) em lhamas e guias manejo sanitário e sócio sociedade com operador local Guias e Oficinas de guias Pronaturaleza Atividade da Associação Associação de alimentação e alimentação Administração Extratores da ANP Artesanais “San Pedro” (ManglaresTumbes) Tabela 6 – Relação de comunidades que participam do turismo no Peru. Fonte: PRIMER, 2002, p. 50. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 87 Pode-se verificar na tabela 7, que a maior parte das comunidades engajadas recebeu capacitações especializadas, o que demonstra uma relação direta entre a capacitação e o envolvimento efetivo da comunidade nos empreendimentos turísticos. É fundamental criar consciência turística nas comunidades anfitriãs de modo que não sejam criadas situações onde a presença do visitante seja indesejada, gerando conflitos ou levando os visitantes a se sentirem explorados por anfitriões que tentem tirar lucros excessivos em curto prazo. Por outro lado, os visitantes também precisam ser preparados para a experiência da visitação, de modo que sejam respeitadas as possibilidades de conforto local, valores culturais e conservação do ambiente natural destas comunidades. De maneira geral, o ecoturista procura estabelecer contato direto com as comunidades locais e, muitas vezes, se interessa pelas relações estabelecidas ao longo de gerações, entre estas comunidades e o ambiente natural onde vivem. Estas detêm muito conhecimento a cerca destes ambientes, porém não possuem domínio de técnicas de gestão de empreendimentos hoteleiros, de condução de grupos ou de operação ecoturística, indicando que estes conhecimentos precisam ser trabalhados com elas. 4.4 – SETORES CHAVES PARA O DESENVOLVIMENTO DO ECOTURISMO NO PERU O setor público relacionado ao ecoturismo no Peru está representado por: • Ministério de Comércio Exterior e Turismo - MINCETUR • Comissão de Promoção do Peru - PROMPERU • Instituto Nacional de Recursos Naturais - INRENA • Instituto Nacional de Cultura - INC • Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAM • Outros órgãos governamentais relacionados ao desenvolvimento do ecoturismo: Ministério de Agricultura, Ministério do Transporte e comunicações, Ministério de Economia, Finanças e Política Nacional. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 88 O estado desenvolve um papel de protagonista no sentido de gerar e difundir informações, promover a imagem do país como destino ecoturístico, garantir a segurança e prover a infra-estrutura de comunicação básica necessária para o turismo. (PRIMER, 2002, p. 58) O ecoturismo constitui uma excelente oportunidade para trabalhar a descentralização e fortalecimento dos governos locais. A participação destes, nos planos para o desenvolvimento do ecoturismo no país, é de grande importância, pois são estes atores que melhor conhecem as localidades de destino para o ecoturismo, a realidade local, suas necessidades, problemas e potencialidades. O pessoal encarregado das áreas naturais protegidas do Sistema Nacional de Áreas Naturais Protegidas pelo Estado – SINANPE, também são atores chaves, na medida em que assumem as responsabilidades de: planejamento, manejo, gestão, controle, interpretação e educação dentro de uma área protegida. Ainda que existam grandes dificuldades na implementação dos planos mestres e de manejo das áreas protegidas, estes atores mantêm permanente contato com os visitantes e a população local compreendendo as relações que se estabelecem entre uma área protegida e seus usuários. Em resumo o setor público deve fomentar e cuidar para que o ecoturismo se desenvolva ordenadamente, com planejamento adequado às diretrizes e mecanismos de controle. (PRIMER, 2002, p. 59) Os principais setores privados relacionados ao ecoturismo no Peru são: • Câmera Nacional de Turismo - CANATUR • Associação Peruana de Operadores de Turismo - APOTUR • Associação Peruana de Agentes de Viagens e Turismo - APAVIT • Associação de Hotéis, Restaurantes e Afins - AHORA • Associação Peruana de Turismo de Aventura e Ecoturismo - APTAE O papel destes setores no desenvolvimento do ecoturismo, não deve se limitar à realização de investimentos, mas assumir um papel pró-ativo na política, estabelecimento de diretrizes e metas, colaborando com o seu cumprimento, acatando as normas e leis vigentes, contribuir na promoção dos destinos ecoturísticos, implementar tecnologias limpas, monitorar impactos assumindo a tarefa de minimizá-los, valorizar e respeitar o patrimônio natural e cultural, respeitar as comunidades e suas decisões, manter padrões de qualidade em nível Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 89 internacional, consumir produtos locais, colaborar e difundir a importância da conservação cuidando do meio ambiente e capacitar constantemente o seu pessoal nos princípios do ecoturismo. (PRIMER, 2002, p. 59) O setor acadêmico, possui um papel estratégico e fundamental, na medida em que pode contribuir com a formação de profissionais em ecoturismo, a capacitação de pessoal do setor público e privado nos diferentes campos do ecoturismo, e ainda exercer importante papel na extensão social junto à população rural enfatizando a capacitação e educação ambiental. A contribuição de institutos e universidades para o desenvolvimento do ecoturismo pode ocorrer por meio do apoio e patrocínio de estudos e pesquisas, desenvolvimento de metodologia para controle e monitoramento de impactos, elaboração de propostas para a certificação e análise de experiências de ecoturismo no mundo para identificação de acertos e erros. (PRIMER, 2002, p. 59) Entre os representantes da sociedade organizada, verifica-se que em primeiro lugar estão as organizações de base das comunidades e populações anfitriãs, em segundo lugar encontram-se as ONGs, sejam elas das áreas de conservação, grupos sociais, educação, proteção do patrimônio cultural, entre outras. Estas organizações exercem grande influência no âmbito local e regional e podem ser importantes parceiros para o desenvolvimento do ecoturismo. Em muitos casos contam com apoios financeiros de ONGs em nível internacional, como a Conservação Internacional - CI e Fundo Mundial para a Natureza WWF. Podem desenvolver papéis importantes, na área de capacitação das populações locais, realizar campanhas e programas de educação ambiental e valoração do patrimônio natural e cultural, captação de fundos para financiar projetos de microempresas e oferecer apoio técnico e financeiro para iniciativas locais relacionadas ao ecoturismo. (PRIMER, 2002, p. 59-60) O ecoturista constitui parte fundamental deste processo, pois é o consumidor final dos produtos ecoturísticos. Dentre eles pode-se detectar múltiplos interesses especializados, tais como: observadores de pássaros, pesquisadores, estudantes entre outros, para os quais podemse desenhar produtos diferenciados. Para tanto, os estudos de mercado são essenciais para que se possam conhecer seus gostos e preferência e desenhar produtos que possam atendê-los de maneira diferenciada. (PRIMER, 2002, p. 61) Infelizmente no âmbito internacional não foram elaborados recentemente, estudos que permitam conhecer melhor as características do mercado de ecoturismo. De modo geral, as definições mais aceitas, como a elaborada pela The International Ecoturism Society – TIES: Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 90 “viaje responsable a áreas naturales que conservan el medio ambiente y sostienen el bienestar de la población local.”, dificultam a coleta de dados específicos para pesquisas tradicionais em turismo, pois não são objetivas. (PRIMER, 2002, p. 62) 4.5 – ESTUDO DE CASO Para exemplificar o ecoturismo no Peru, optou-se por descrever, o caso da Pousada Amazonas em Tambopata, Madre de Dios, um dos mais conhecidos internacionalmente. Foi apresentado recentemente, pela PhD. Amanda Stronza, da Universidade de Stanford dos Estados Unidos, na Conferência Preparatória para o Ano Internacional do Ecoturismo em 2002, da OMT, em Cuiabá, Brasil, em agosto de 2001. A tabela 7 descreve resumidamente diversos aspectos deste estudo de caso ESTUDO DE CASO DA POUSADA AMAZONAS – PERÚ 1. PROYECTO POSADA AMAZONAS 2. UBICACIÓN Tambopata, Madre de Dios 3. OBJETIVOS DEL PROYECTO - Convertirse en un albergue y un destino turístico natural de primera clase. Ser un piloto exitoso de la alianza entre la comunidad local y la empresa privada, para desarrollar un producto ecoturístico rentable conjugándolo exitosamente con la conservación de recursos naturales y silvestres. - Producir excelentes probabilidades de experiencias de calidad relacionadas con vida silvestre amazónica (y en algunos casos, amenazada), en locaciones accesibles mediante la utilización del inmejorable conocimiento de los pobladores locales. - Producir un albergue confortable, casi lujoso, en armonía con el ambiente a través de una combinación de técnicas de construcción nativas y materiales con diseños arquitectónicos introducidos. - Un creciente número de visitantes que soporten empresas ecoturísticas legítimas y favorezcan a las empresas locales. 4. ACTORES CLAVES Dos son los grandes socios del proyecto: a) Comunidad de Infierno, formada por nativos Ese’eja, inmigrantes (de los Andes) y mestizos. Son propietarios de tierras a tres horas de Puerto Maldonado en bote por el río Tambopata. b) Rainforest Expeditions (RFE), empresa de ecoturismo privada fundada en 1992, cuyo fin es promover la conservación de los lugares donde opera, a través de la investigación, el turismo y la educación. Además, RFE opera el Tambopata Research Center (TRC), a unas horas de Posada Amazonas, en donde desarrolla investigaciones para el Proyecto Guacamayo (conservación de guacamayos); paralelamente, TRC también recibe y alberga investigadores y turistas 5. PRODUCTO QUE OFERECE En 1996, se firma un convenio por 20 años entre la comunidad y RFE para construir y manejar un Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 91 albergue en territorio de la comunidad (dicho contrato fue denominado Asociación Ke'eway). Al finalizar el contrato la empresa decide si sigue en asociación con RFE o si prefiere manejar sola el albergue El albergue se encuentra en la zona de mortiguamiento de la Reserva Nacional de Tambopata. Está prácticamente a la mitad del camino entre TRC y Puerto Maldonado, por lo que se convierte en una parada ideal (pernocte) entre ambos puntos. Fue construido en armonía con el ambiente, con materiales de la zona, usando técnicas de construcción nativas. 6. INVOLUCRAMIENTO DE LA POBLACIÓN LOCAL EN LA GESTIÓN Y MANEJO DE LASLOCAL EN LA GESTIÓN Y MANEJO DE LAS ACTIVIDADES El contrato de 20 años estipula que tanto la comunidad como la empresa posee cada una un 50% de participación en el proceso de toma de decisiones (la comunidad es representada por el Comité de Ecoturismo, formado por diez miembros). El reparto de utilidades es efectuado en un 60% para la comunidad y un 40% para RFE. Un concepto fundamental del proyecto es la participación equitativa en el proceso de toma de decisiones, lo que incluye procedimientos de trabajo, proyectos, políticas, estrategias de marketing, desarrollo de infraestructura e implementación de programas. Individualmente, los miembros participan en la gestión, como guías, asistentes de guía, en cocina y bar, mantenimiento de suelos, asistentes de investigaciones y staff de apoyo en las oficinas. Sin embargo, estos puestos son rotativos, es decir, un mismo miembro no puede permanecer mucho tiempo para dar posibilidad a otros miembros de la comunidad. 7. ACCIONES DESARROLLADAS 7.1 Inversiones El año 1996, un parte de la inversión fue hecha me-diante un préstamo de US$ 396,000 un interés de 9% 7.2 Desarrollo de infraestructura La construcción del albergue empezó en abril de 1997, que para la comunidad local fue un trabajo voluntario. El único material que no pertenece a la zona fue el usado en el piso. En general no existen puertas (en su lugar, se utilizan cortinas de yute) ni ventanas, para lograr un mayor contacto con la naturaleza. En su mayoría, las instalaciones no cuentan con energía eléctrica (sólo se usa energía de un generador por unas pocas horas al día, para recargar batería de filmadoras, un televisor, VHS). Los caminos, pasadizos, cuartos y demás instalaciones usan lámparas de kerosene. 7.3 Rubros de capacitación A los pobladores locales: entrenamiento para los puestos de trabajo ya mencionados mediante talleres de capacitación en los procesos y responsabilidades de cada posición, los mismos que a su vez sirven como procesos de selección. Es importante resaltar que RFE se preocupa por capacitarlos también en la administración misma del negocio y en el proceso de toma de decisiones. RFE participa en conservación local y/ o workshops de turismo e invita a los miembros de la comunidad a participar en talleres de capacitación implementados por la empresa. En cuanto al guiado, en su mayoría se trata de estudiantes o egresados de Lima y Cusco, de especialidades de biología, forestales y turismo. Anualmente se brinda un entrenamiento de casi dos meses, para lo cual se trae al albergue especialistas del Perú y el extranjero. También sirve como proceso de selección. 7.4 Alianzas estratégicas Con la comunidad y con las entidades mencionadas en la sección siguiente. 7.5 Apoyo de otras instituciones a favor de las acciones realizadas - The John D. and Catherine T. MacArthur Foundation, para los programas de entrenamiento del proyecto. - El Fondo General de Contravalor Perú-Canadá, para la infraestructura The American Bird Conservancy, para investigaciones sobre el águila arpía. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 92 8. RESULTADOS 8.1 Beneficios en conservación En el contrato de asociación se estipula la prohibición de la caza de recursos turísticos como el jaguar, lobos de río, águilas arpía, guacamayos, entre otros. Asimismo, figura que la comunidad no cazará o cortará el bosque en las áreas designadas como ecoturísticas por la comunidad. 8.2 Beneficios socio económicos para la población local Sólo en la construcción del albergue, el proyecto ha significado una inyección de ingresos a la comunidad de la siguiente manera: veinte familias produjeron 10,000 frondas de tejidos de palmeras para el techo, quince familias cortaron madera y diez colectaron caña silvestre para los revestimientos de las paredes. Asimismo 65 familias realizaron trabajo de campo por tres meses para realizar el montaje del albergue. Además, la comunidad recibe el 60 % de las utilidades por las operaciones del albergue. Adicionalmente, se considera lo que algunos miembros reciben como sueldo por trabajos en el albergue. Hasta ahora, la comunidad ha recibido aproximadamente US$ 250,000 por sueldos, materiales para construcción, productos alimenticios y servicios. 8.3 Flujo de visitantes En un principio recibía 4,000 turistas al año. Actualmente esta cifra ha ascendido a 12,000 turistas al año. 8.4 Rentabilidad En el 2001 recibieron ingresos por US$ 700,000. Las utilidades son repartidas 60%-40% entre la comunidad y RFE. 9. PROBLEMAS Problemas sociales: se han acentuado los problemas que había entre los distintos grupos de intereses en la comunidad, representados por los nativos, colonos y mestizos Además, cada vez más miembros de la comunidad quieren participar en el albergue, pero éste no cuenta con suficientes puestos disponibles para satisfacer a todos. Por otro lado, el sistema de tratamiento de desechos no es del todo completo, aunque se está trabajando en un sistema de biogas. En nivel de municipio en Madre de Dios, no cuenta con un sistema adecuado de tratamiento y disposición final de desechos. Tabela 7 - Estudo de Caso da Pousada Amazonas – Peru. Fonte: PRIMER, 2002, p. 6468 Podem ser identificados diversos aspectos positivos neste estudo de caso. O fato de a comunidade participar como sócia do empreendimento é de grande importância, pois de modo geral, aos membros das comunidades locais apenas são ofertados, eventualmente, postos de trabalho de menor remuneração, justificando-se que os comunitários não possuem capacitação para ocupar outros postos. Contudo é fundamental a preocupação da Rainforest Expeditions em capacitar a comunidade, entre outras funções, também para administração e tomada de decisões. Nota-se que à capacitação é dada grande importância, pois se procura promover oficinas de capacitação, workshops de turismo e treinamentos para guias. Desta forma, procura-se viabilizar um forte intercâmbio entre o conhecimento científico e o popular resultando em um produto de qualidade capaz de receber média de 1.000 visitantes por mês, número que torna o Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 93 empreendimento economicamente viável, um dos grandes desafios para um empreendimento localizado à grande distância da cidade. A Pousada Amazonas parece estar, de modo geral, em sintonia com os princípios do ecoturismo, pois envolve efetivamente a comunidade local, valoriza sua cultura, contribui com a conservação do meio ambiente, desenvolve trabalho de educação ambiental e contribui com a pesquisa na área de entorno de uma importante unidade de conservação, como é o caso da Reserva Nacional de Tambopata. Quanto aos problemas relacionados aos conflitos gerados na comunidade pela participação no projeto, verifica-se na bibliografia consultada e nas experiências vivenciadas, que estes serão abrandados, na medida em que forem oferecidas outras alternativas econômicas, além do ecoturismo, ou seja, diversificando-se a economia local. Outra preocupação registrada relaciona-se à ausência de tratamento de esgotos em Madre de Dios e à deficiência no tratamento dos efluentes da pousada, pois se constitui em contradição, um empreendimento que pretende conscientizar o visitante sobre a importância da conservação do meio ambiente, colocar o mesmo como agente poluidor dos recursos hídricos da região, ainda que contra sua vontade. De qualquer forma trata-se de um importante exemplo de ecoturismo, especialmente pela inovadora parceria entre a iniciativa privada e a comunidade local. 4.6 – AVALIAÇÃO DA SITUAÇÃO ATUAL DO ECOTURISMO NO PERU De acordo com as análises realizadas pela subcomissão de ecoturismo do Peru para elaboração do “Primer Informe de la Situación del Ecoturismo en el Perú” em uma avaliação preliminar, foi elaborada a tabela 8 que faz uma síntese atual da situação do ecoturismo no país e apresenta propostas de soluções. SÍNTESE DA SITUAÇÃO DO ECOTURISMO NO PERÚ MARCO TEÓRICO PROBLEMÁTICA - Falta definir el ecoturismo y de sus principios como marco teórico guía de una futura estrategia ecoturística. - Confusión entre turismo de naturaleza, turismo de aventura y ecoturismo. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 94 PROPOSTAS - Formular una definición del ecoturismo y sus principios que refleje los aspectos teóricos actuales y que sea aceptada por los actores claves. - Difundir la definición y los principios del ecoturismo aceptados por consenso en el país. RECURSOS PROBLEMÁTICA - El inventario realizado por el MINCETUR y la DNT no es aúnsuficiente para poder reconocer áreas prioritarias para el desarrollo del ecoturismo y realizar una actividad ecoturística planificada. PROPOSTAS - Preparar un inventario de recursos, infra-estructura y servicios enfocado de acuerdo al ecoturismo; dicho inventario debe permitir conocer el estado y la situación real de cada recurso. - Recoger y sistematizar la información sobre los atractivos, alojamiento, infraestructura y servicios turísticos del país. RECURSOS NATURAIS PROBLEMÁTICA - Faltan investigaciones sobre nuestra biodiversidad, tanto en fauna como en flora. - No se destinan suficientes recursos a la investigación científica del patrimonio natural y cultural peruano. - Faltan investigaciones sobre el impacto del turismo en la fauna y la flora. - Faltan investigaciones sobre el impacto del turismo en el patrimonio arqueológico e histórico. PROPOSTAS - Fomentar y apoyar las investigaciones sobre los recursos naturales y su uso sostenible. - Promover los estudios de impacto del turismo en áreas naturales, sean estas protegidas o no. - Promover los estudios de impacto del turismo en el patrimonio arqueológico e histórico. - No permitir el uso turístico de un área natural y/o histórica sin una adecuada investigación y preparación para el ingreso de los visitantes. ÁREAS NATURAIS PROTEGIDAS PROBLEMÁTICA - Carencia de planes de uso turísticos y planes maestros vigentes. - Bajo presupuesto y poco personal. - Falta de zonificación y preparación para el ingreso de turistas. - Escasa difusión sobre el valor de las áreas protegidas. PROPOSTAS - Convertir la conservación de las áreas protegidas en una prioridad nacional. - Formular los planes de uso turístico y actualizar los planes maestros antes que pierdan vigencia. - Asignar un presupuesto y el personal necesario a cada área de acuerdo a las verdaderas necesidades de cada uno, tomando en cuenta la presión que sobre éstas ejerce un alto número de visitantes. - Preparar debidamente las áreas en las que se decida permitir el uso turístico. - Fomentar las campañas de educación ambiental y de valoración de las áreas naturales protegidas. ALOJAMENTO PROBLEMÁTICA - Falta de información periódica-mente actualizada acerca del estado de los establecimientos de hospedaje. De esta manera se puede determinar mejor cuáles son específicamente para ecoturismo, o cuáles reciben ecoturistas. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 95 - Un bajo porcentaje de establecimientos de hospedaje se encuentra clasificado y categorizado. La mayo-ría prefiere no invertir en ello. Las razones pueden ser: no cumplen con los requisitos, la clasificación y cate-gorización no les significa ningún beneficio, los estándares que se exigen son muy exigentes o inaplicables a la realidad peruana. - Ningún hospedaje se ha clasificado aún como Ecolodge. Las exigencias de esta clasificación no se ajustan adecuadamente a criterios de sostenibilidad; además, su aplicación puede variar el contacto con la naturaleza o la esencia misma del negocio. No representa mayores beneficios para los empresarios. PROPOSTAS - Formular normas que regulen las actividades del sector de manera que se ajusten a la realidad nacional y que signifiquen beneficios tanto para los empresarios como para los visitantes en general (por ejemplo, incentivos tributarios, apoyo en promoción). - Establecer un sistema de información sobre el estado de los establecimientos actualizado periódicamente. Las direcciones regionales de turismo cumplen un rol importante en este sentido, y se debe incentivar su participación e interés en la tarea. Dicha información debe estar al alcance de quien la necesite. ACCESIBILIDAD PROBLEMÁTICA - La geografía escarpada peruana y la Cordillera de los Andes constituyen un obstáculo que demora la comunicación por vía terrestre. - Si bien en teoría Cusco e Iquitos son aeropuertos internacionales, sólo el Jorge Chávez viene funcionando como tal. - Deterioro de las vías de comunicación terrestre por lluvias y contrastes climáticos. PROPOSTAS - Diseño de aeropuertos y carreteras teniendo presente la estrategia turística del país. - Fomentar el ingreso de vuelos internacionales en los aeropuertos de Iquitos y Cusco. - Adecuado mantenimiento a las carreteras. SERVICIOS PROBLEMÁTICA - La mayor parte de los servicios de transporte, alimentación, turísticos en general, no se encuentran en el ámbito de las expectativas de un mercado exigente como el del ecoturismo. - Se debe considerar la existencia de servicios ya instalados en zonas con potencial turístico constituye una oportunidad para el desarrollo de micro empresas locales. La falta de calidad ocasiona que los operadores se vean obligados a integrar todos los servicios dentro de su oferta, evitando de esta manera que los beneficios económicos se extiendan a otros pobladores locales. - Carencia de información sistematizada de operadores y agencias que comercializan ecoturismo. PROPOSTAS - Promover una cultura de calidad de servicios turísticos, para ello se debe dar a conocer las exigencias del mercado internacional y fomentar la capacitación especialmente en provincias. - Organizar campañas de capacitación para microempresarios locales, de manera que puedan ingresar en el turismo con éxito. - Registrar las agencias y los operadores de ecoturismo en el Perú, y fomentar que el mismo gremio controle y sancione el cumplimiento de los principios. CAPACITACIÓN EN TURISMO PROBLEMÁTICA - Falta de una conciencia ecoturística en el ámbito nacional, especialmente en comunidades rurales. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 96 - En los centros de capacitación en turismo, no existe una adecuada preparación o especialización en Ecoturismo, ni siquiera en Turismo Sostenible. - La mayoría de centros de preparación se encuentran en Lima y Cusco. - Falta de capacitación de las comunidades locales en turismo, servicios, gestión de empresas turísticas, marketing turísticos y otros temas relacionados al turismo. PROPOSTAS - Fomentar una conciencia ecoturística y de turismo sostenible en el ámbito nacional, desde la educación primaria o inicial hasta la educación superior. - Descentralizar la capacitación en turismo hacia aquellas zonas que se definen como prioritarias para el desarrollo del ecoturismo. - Buscar mecanismos que incentiven las alianzas entre centros de educación en turismo, ONGs, empresas privadas y comunidades organizadas para capacitar a pobladores locales en temas relacionados a la gestión turística. MARCO LEGAL PROBLEMÁTICA - Falta de claridad y coherencia en la legislación. - Aún no se ha aceptado ninguna solicitud de concesión de ecoturismo - Al estar comprendido dentro de la Ley Forestal y de Fauna Silvestre y su Reglamento, existe un gran sesgo forestal y extractivo para el desarrollo de la actividad. PROPOSTAS - Elaboración de un reglamento específico de Ecoturismo, independientemente de quién sea la entidad encargada, que elimine las deficiencias de la actual legislación. Debe representar los intereses de los actores involucrados y ajustarse a la realidad nacional. ACTORES CLAVES PROBLEMÁTICA - Falta de una estrategia y una política clara a seguir con miras a lograr ciertas metas en el desarrollo turístico del país. - Lentitud en la toma de decisiones. - Confusión y superposición en las funciones. PROPOSTAS - Diseñar una política con metas y objetivos, transparentes y concertados que guíe el desarrollo turístico del país. TENDENCIAS INTERNACIONALES PROBLEMÁTICA - Falta un estudio del mercado ecoturístico para el Perú. PROPOSTAS - Realizar el estudio del Perfil del Ecoturista. - Llevar a cabo investigaciones de mercado sobre el ecoturismo. - Difundir los estudios de las tendencias internacionales y de mercado. Tabela 8 – Síntese da situação do ecoturismo no Peru. Fonte: Primer, 2002, p. 112 Verifica-se a necessidade de que o Peru elabore com a participação de todos os atores envolvidos, um “Plano Nacional para o Desenvolvimento do Ecoturismo”. O Estado deve protagonizar esta iniciativa. Dentro deste plano, é fundamental que estejam previstas estratégias para o desenvolvimento de uma consciência sobre a importância do ecoturismo Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 97 para o país, não só para os atores diretamente envolvidos, como também para a população em geral, abrangendo informações sobre seus aspectos positivos e negativos. (PRIMER, 2002, p. 103) Este documento deve ainda conter um inventário dos recursos atrativos com potencial para o ecoturismo, bem como dos equipamentos e serviços disponíveis. Tais informações deveriam ser disponibilizadas através de um sistema de informações criterioso, adequado às necessidades de cada um dos respectivos atores. (PRIMER, 2002, p. 103) Pode-se identificar a ausência de legislação específica para evitar as práticas informais e estimular a regulamentação em todos os setores: agenciamento, operação, hospedagem e outros. A ausência de regulamentação implica na dificuldade de monitoramento adequado da qualidade dos serviços. Contudo, o problema da baixa qualidade dos serviços precisa ser atacado com ações de capacitação que possam ser levadas às áreas de destino, uma vez que a maioria dos centros de formação está situada em Cusco e Lima e as comunidades do interior do país não tem acesso. (PRIMER, 2002, p. 104) Verifica-se ainda na pesquisa bibliográfica, a carência de infra-estrutura básica e turística, especialmente nas localidades mais distantes que muitas vezes não possuem vias de acesso que permitam ao visitante chegar em segurança aos principais atrativos. Há necessidade de construção de novos aeroportos, rodoviárias, portos fluviais e marítimos e estradas de baixo impacto e implementação de saneamento ambiental, apenas para se mencionar algumas das necessidades fundamentais para o desenvolvimento do ecoturismo. (PRIMER, 2002, p. 105) A promoção de produtos ecoturísticos existentes e a criação de novos produtos, é também uma necessidade, porém deve-se levar em conta que a promoção de destinos não preparados e sem planejamentos adequados para o desenvolvimento do ecoturismo poderá gerar conseqüências desastrosas. (PRIMER, 2002, p. 105-106) Para que o ecoturismo se desenvolva no país, é de grande importância que sejam oferecidos incentivos à iniciativa privada ou comunitária, tais como: redução de tributos, financiamento com baixas taxas de juros, fácil acesso ao micro-crédito para possibilitar a viabilidade de pequenos empreendimentos de iniciativas individuais ou comunitárias. (PRIMER, 2002, p. 106) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 98 Finalmente manifesta-se uma preocupação com a utilização indiscriminada do termo ecoturismo, muitas vezes utilizado indevidamente por produtos que não seguem os princípios do ecoturismo e que apenas utilizam o termo como uma estratégia de marketing. (PRIMER, 2002, p. 106) Segue na tabela 9, uma relação das principais regiões e zonas do país identificadas como potenciais para o desenvolvimento do ecoturismo: ZONA CON POTENCIAL PARA O ECOTURISMO NO PERÚ N° ZONA O REGIÓN DEPARTAMENTO REGIÓN 1. Valle del Utcubamba Amazonas Sierra norte 2. Parque Nacional Huascarán Ancash Sierra centro 3. Cordillera del Huayhuash Ancash Sierra centro 4. Cañón del Colca Arequipa Sierra sur 5. Cañón de Cotahuasi Arequipa Sierra sur 6. Cusco-Paucartambo-Pilcopata Cusco Sierra-Selva alta sur 7. Santuario Histórico de Machu Picchu Cusco Selva alta sur 8. Bajo Urubamba (Timpía y alrededores) Cusco Selva alta sur 9. Eje Cusco-Sicuani Cusco Sierra sur 10. Reserva Nacional de Paracas Ica Costa centro 11. Punta San Juan-Marcona Ica Costa sur 12. Alrededores de Iquitos Loreto Selva norte oriental 13. Río Tambopata Madre de Dios Selva sur 14. Parque Nacional del Manu Madre de Dios Selva sur 15. Alrededores del Lago Titicaca Puno Sierra sur 16. Parque Nacional Cerros de Amotape Tumbes Costa norte 17. Santuario Nacional de Manglares Tumbes Costa norte 18. Alrededores de Pucallpa Ucayali Selva central Tabela 9 - Zonas prioritárias para o ecoturismo no Peru. Fonte: PRIMER, 2002, p. 114. Esta lista consiste em uma relação preliminar, já que foi demonstrada a ausência de um inventário e diagnóstico específico para o ecoturismo no país. Pode-se perceber a intenção de abranger as diversas regiões geográficas do Peru, porém foram priorizadas as áreas que atualmente contam com facilidades mais evidentes para o desenvolvimento do ecoturismo em curto prazo. Não ficam, portanto, excluídos outros departamentos ou regiões que não estão relacionadas. Para elaboração desta lista, foram consideradas variáveis como: acessibilidade, Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 99 existência de infra-estrutura básica e turística, proximidade com áreas naturais protegidas ou zonas prioritárias para conservação, atividades ecoturísticas em operação na região ou potencialidade para sua implementação e ainda a demanda turística existente. (PRIMER, 2002, p. 106) A análise do estágio de desenvolvimento do ecoturismo no Peru demonstrou que embora haja uma mobilização em torno do ecoturismo para sua consolidação, as experiências realizadas até o presente momento, evidenciam ainda um estágio inicial. Entretanto, verificase que o Brasil, especialmente no que tange o setor governamental, encontra-se em posição de vanguarda em relação ao Peru, pois já é possível identificar diversas experiências em capacitação e planejamento inseridas em diversos programas. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 100 CAPÍTULO - 5 – EXPERIÊNCIAS BRASILEIRAS EM CAPACITAÇÃO Verifica-se que o ecoturismo poderá ser um modelo demonstrativo da possibilidade de compatibilizar desenvolvimento e conservação ambiental. Fruto da confluência de interesses do turismo, como atividade comercial, que se dá conta da importância da conservação dos recursos naturais e culturais para a própria sustentabilidade do negócio e do movimento ambientalista que passa a identificar no turismo uma atividade capaz de gerar recursos para a conservação do meio ambiente permitindo a sua utilização sustentável. Associado aos aspectos acima apresentados os movimentos sócio-culturais da sociedade passaram a ver o turismo como forte aliado para melhoria da qualidade de vida das comunidades anfitriãs, compatibilizando a conservação do patrimônio material e imaterial da nossa cultura e que estes são indissociáveis do ambiente natural do qual as comunidades humanas fazem parte. A pressão exercida pelo turismo sobre os recursos singulares é inevitável, indicando a necessidade das comunidades anfitriãs se mobilizarem para planejar o desenvolvimento de um turismo sustentável, ou correrão o risco de serem surpreendidas pelos impactos de um turismo não planejado. Entende-se, que o processo de educação para o desenvolvimento do ecoturismo deve abranger visitantes e anfitriões. A educação ambiental prepara o visitante para a experiência da visitação e as ações de capacitação preparam o anfitrião para o desenvolvimento de habilidades para prestação de serviços e para gestão de seus próprios empreendimentos. Os mecanismos de capacitação não são excludentes, ao contrário, se complementam desde a formação básica até o desenvolvimento de programas não-formais para capacitação em áreas específicas. Devem constituir um processo continuo de preparação das comunidades para uma participação consciente nos negócios relacionados ao desenvolvimento do ecoturismo, assim como na proteção dos recursos naturais. Entretanto, não só a comunidade deve ser preparada, mas o ecoturista terá de ser educado para proteger a natureza dos locais que visita, as ações de conscientização ambiental devem, indispensavelmente, voltar-se para o poder público que, possui o papel atribuído pela sociedade como principal responsável pela proteção dos recursos naturais. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 101 O poder público local, muitas vezes, atua permissivamente em favor do poder econômico, quase sempre interessado no lucro em curto prazo e a qualquer preço. (RUSCHMANN, 1997, p.75) Da mesma forma os representantes do trade necessitam de capacitação tanto para estar consciente da sua responsabilidade sobre a conservação dos recursos que “explora”, como para oferecer produtos de qualidade a um mercado extremamente competitivo. O processo de envolvimento das comunidades anfitriãs também deverá ocorrer pela ação educativa, esta deve ser realizada no ambiente de destino do ecoturista para que ocorra o fortalecimento social das comunidades excluídas do contexto político no âmbito local, regional e nacional. Atualmente, encontram-se alguns sinais de transformação nas representações políticas, porém o processo educacional deverá fortalecer as articulações sociais através do resgate dos valores sócio-culturais e ambientais das comunidades anfitriãs. Identifica-se que levar capacitação a locais de difícil acesso é fundamental, para que as comunidades com formação na área do ecoturismo possam alcançar maior autonomia profissional, bem como na gestão dos recursos naturais em que estão inseridas. De modo geral, estas comunidades concentram conhecimentos sobre o ambiente natural e cultural local, que foram transmitidos por várias gerações, especialmente no que tange às comunidades tradicionais. Caso não se invista em capacitação para as comunidades anfitriãs, corre-se o risco de que estrangeiros e ou pessoas oriundas de grandes centros urbanos, monopolizem as principais oportunidades de negócios locais que envolvem o ecoturismo e excluam as comunidades das atividades relacionadas ao ecoturismo ou mantenham-nas na periferia da prestação de serviço com baixas remunerações, incapazes de refletirem na melhoria da qualidade de vida almejada. O depoimento de Oliver Hillel41, neste evento representando a sede do CI dos Estados Unidos, reforça os riscos apontados, relatando experiências vivenciadas em outros países: [...] capacitação e treinamento. Esse é um problema seríssimo com ecoturismo. Quando for se desenvolver ecoturismo em Carrancas, Minas Gerais, tem-se que pensar que a economia de Carrancas ou de outro lugar não é uma economia de mercado afinada com as mais modernas tendências do desenvolvimento 41 Oliver Hillel, em palestra: Panorama mundial do ecoturismo, em 4 de setembro de 1997, no Seminário Ecoturismo e Turismo Sustentável do 3º Fórum de Turismo e Hotelaria em São Paulo, promovido pelo Senac/Centro de Estudos de Administração em Turismo e Hotelaria – CEATEL . Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 102 empresarial. São pessoas que têm uma economia completamente diferente da nossa, normalmente formada por agricultores. Algumas vezes chega até a ser escambo, um dá o milho e o outro dá o pão. Como eu vou falar para essa comunidade de mercado, marketing, qualidade total? Esse choque cultural é um dos maiores desafios que temos em termo de desenvolvimento do ecoturismo. Claro que o brasileiro urbano ou o americano ou alemão que chegam nesse local vão se desenvolver. Por que 65% dos hotéis na Costa Rica pertencem a norte-americanos? Porque são eles que sabem buscar financiamento, fazer projetos para pedir dinheiro, fazer marketing, conhecem o mercado emissor, falam a língua do país emissor, então, claro, eles passam à frente. Qual é nossa resposta? Capacitar e treinar essas pessoas. Fazemos isso na Papua Nova Guiné, uma iniciativa que foi fantástica, uma única oficina, cinco dias de discussão sobre ecoturismo que levou à fundação de uma Associação da Papua Nova Guiné de Ecoturismo, e dois participantes dessa oficina abriram “ecolodges” depois. Ou seja, é uma coisa na qual investe-se 20 mil dólares para organizar algo como uma série de seminários ou oficina, e o resultado são dois “lodges” e uma associação nacional de ecoturismo. Na Indonésia, a ação também foi de promover uma associação de ecoturismo e no Brasil há a iniciativa das Oficinas de Capacitação em Ecoturismo, duas iniciativas bem-sucedidas. Como se podem observar, ações de capacitação podem contribuir para o fortalecimento das comunidades, fomentar sua organização social, estimular a criação de empreendimentos de pequeno porte individuais ou de base comunitária que serão benéficos à melhoria de qualidade de vida destas comunidades, bem como para a conservação dos ambientes naturais e culturais das localidades de destino do ecoturismo. Desta forma, pode-se evitar que estas populações fiquem a margem do desenvolvimento de alternativas econômicas sustentáveis e sucumbam às pressões das demandas dos grandes centros de consumo. Caso não sejam oferecidas alternativas econômicas sustentáveis, corre-se o risco de que estas comunidades possam identificar na caça, pesca, retirada de madeira ilegais, na agricultura e pecuária extensiva sem planejamento, soluções de curto prazo para os seus problemas financeiros agravando os problemas ambientais e conseqüentemente sócioculturais advindos destes modelos. Entende-se que o Estado é o principal guardião legal da maior parte das áreas naturais, muitas delas inseridas em unidades de conservação. As comunidades tradicionais, de alguma maneira, através do tempo, por várias gerações, estabeleceram relações sustentáveis com o ambiente natural onde estão inseridas. Este mesmo Estado deveria reconhecer que estas comunidades possuem um papel estratégico para conservação destas áreas, e ainda oferecer à Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 103 elas as condições necessárias para que estas continuem residindo, seja no entorno ou no interior destas áreas. Para tanto, deve-se oferecer capacitação a estas comunidades para que possam se adaptar a uma nova alternativa que altere a situação sócio-econômica atual. Preparar representantes das comunidades anfitriãs para o ecoturismo, poderá evitar a migração das futuras gerações para os grandes centros urbanos, que agravaria os problemas sócio-econômicos e ambientais nestes centros, e enfraqueceria ainda mais, os conhecimentos tradicionais destas comunidades contribuindo para dar continuidade à destruição dos recursos naturais das suas áreas de origem. Uma característica especial do ecoturismo é a possibilidade de colocar culturas diferentes em contato, permitindo que estas troquem seus conhecimentos, conheçam e passem a respeitar reciprocamente conhecimentos científicos e populares, respeitando as diferenças entre os seus ambientes naturais e culturais. Porém, este processo requer a valorização dos ambientes receptivos e especialmente da auto-estima das comunidades anfitriãs, que se dá através de um processo eficiente e contínuo de capacitação para o ecoturismo. O desenvolvimento de recursos humanos é requisito básico não só para a aquisição de aptidões e conhecimentos técnicos, mas também para o estabelecimento de novos valores que ajudem os indivíduos e as nações a enfrentarem as realidades sociais, ambientais e de desenvolvimento que se encontram em rápida transformação. Se o mundo partilhar o conhecimento, haverá maior entendimento mútuo e maior empenho em partilhar eqüitativamente os recursos globais. (CMMAD, 1991, p. 13) Identifica-se nos princípios e diretrizes do ecoturismo, a importância do envolvimento das comunidades anfitriãs, mas na prática, de modo geral, estas ficam à margem dos projetos. A maioria oferece apenas oportunidades de empregos com baixa remuneração, o que ocorre, de modo geral, pela ausência de ações de capacitação que permita a estas comunidades a inclusão nos planos de desenvolvimento do ecoturismo. Não se pode envolver de fato a comunidade sem capacitá-la. Estas comunidades possuem conhecimentos de fundamental importância para elaborar e viabilizar roteiros ecoturísticos, além de possuírem a autenticidade e legitimidade que o ecoturista deseja encontrar. Contudo, estas comunidades viveram muitas vezes, isoladas da relação com a sociedade urbano-industrial, e devem ter seus conhecimentos, costumes e tradições valorizados e sua auto-estima ampliada para que estejam prontos para o contato Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 104 com os ecoturistas e não sejam corrompidos pelo processo de globalização que poderia pasteurizá-los. O processo educativo passa, fundamentalmente pela emoção, o ser humano tem seu interesse despertado para aquilo que, de alguma maneira, toca o seu emocional. Nenhuma pessoa dará resposta a uma pergunta sem antes questionar a si mesmo sobre o assunto, algo que só fará se for sensibilizado. A partir deste momento, com o interesse despertado, a busca pela informação levará o indivíduo à construção dos seus próprios conhecimentos. É o conhecimento que permitirá ao indivíduo assumir de fato a sua cidadania e ser agente do seu próprio destino. É imprescindível para a proteção do ambiente natural e cultural o papel da comunidade, particularmente na esfera local. “Deve ser reconhecida e facilitada à sua contribuição e participação em todas as decisões que envolvam o meio ambiente”. (BORDEST, 2002, p. 361) Paulo Freire (1996, p. 25), em a Pedagogia da Autonomia afirma que, “[...]ensinar não é transmitir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua produção ou a sua construção,[...]quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender,[...]quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado”. Segundo Freire (1996, p. 33), “ensinar exige respeito aos educandos, aos seus saberes tradicionais, saberes socialmente construídos de geração em geração na prática comunitária”. Para o ecoturismo estes conhecimentos possuem um valor intrínseco, pois a essência do produto ecoturístico é a experiência vivida pelo visitante, esses conhecimentos serão capazes de oferecer ao produto a autenticidade necessária para uma interpretação confiável do ambiente visitado. Não se trata de mantê-los isolados, ao contrário, trata-se de inseri-los, mas não na condição de objeto, mas de agentes de um mecanismo de troca onde o contato com o visitante estabeleça uma relação de simbiose onde ambos, visitante e anfitrião, sejam beneficiados. Um sério problema com que se defrontam muitos países é o desemprego generalizado e a inquietação daí decorrente. Muitas vezes a educação não consegue capacitar pessoas a obterem empregos adequados. Isso se evidencia no grande número de desempregados que foram preparados para exercer funções burocráticas em populações urbanas cada vez maiores. A educação e a formação profissional deveriam também visar à aquisição de conhecimentos práticos e de técnicas profissionalizantes, e, principalmente, a aumentar a Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 105 autoconfiança pessoal. Tudo isso deveria ser apoiado por esforços no sentido de fortalecer o setor informal e incrementar a participação de organizações comunitárias. (CMMAD, 1991, p. 123) De acordo com Roquié (1991, p. 79), não se pode apenas aplicar os rigores da lei sobre as comunidades que desenvolvem atividades degradadoras. Muitas vezes a proibição ou negociação para finalizar as atividades que garantem o sustento destas, pode acarretar perdas econômicas que comprometem a sua sobrevivência, acentuando ou promovendo a exclusão social das mesmas. O processo de sensibilização quanto à importância da conservação não é viável se não formos capazes de apresentar mecanismos ou programas alternativos que permitam a inserção destas pessoas no mercado de trabalho, garantindo a manutenção da qualidade de vida identificada como ideal por estas comunidades. A capacitação é fundamental para profissionalização da atividade ecoturística e deve abranger além dos agentes e operadores emissivos. Estes profissionais, de modo geral, têm acesso ao ensino formal, como se pode constatar pelos dados apresentados neste trabalho, sobre a ampla oferta de cursos formais concentradas nos grandes centros urbanos tanto no Brasil como no Peru. A capacitação para o ecoturismo deve estar apoiada nos conhecimentos das ciências do turismo, da conservação e nos conhecimentos das comunidades tradicionais, deve envolver educação37 e treinamento38 dentro do ensino formal e não-formal, considerar diferentes contextos e ser multi, inter e transdisciplinar. Deve refletir uma atividade que é formada por uma ampla gama de setores inter-relacionados que constituem a complexa teia do ecoturismo. De acordo com Morin (2000, p. 36) a complexidade se dá “quando elementos diferentes são inseparáveis constitutivos do todo (como o econômico, o político, o sociológico, o psicológico, o afetivo, o mitológico), e há um tecido interdependente, interativo e interretroativo entre o objeto de conhecimento e seu contexto, as partes e o todo, o todo e as partes, as partes entre si”. As experiências vivenciadas na capacitação para o ecoturismo no Brasil permitem inferir que caso as ações de capacitação não sejam levadas aos locais de destino do ecoturismo, as comunidades serão excluídas deste processo de desenvolvimento, pois as limitações impostas pelas grandes distâncias, condição financeira, e de maneira geral, a baixa 37 Educação: processo que dá ao indivíduo um conjunto de princípios, não aplicações detalhadas, mas ferramentas para interpretação, avaliação e análise de um novo conhecimento ao desenvolver suas capacidades críticas. A educação fornece uma perspectiva geral não específica de um setor. (Cooper, 2001, p. 173) 38 Compreende-se como treinamento, neste trabalho, uma atividade específica que se concentra na aplicação detalhada de habilidades, freqüentemente práticas procura equipar o “trainee” com habilidades definidas, como - emissão de bilhetes, recepção, condução de grupos em trilhas. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 106 escolaridade das comunidades anfitriãs, impedem o acesso destas ao ensino formal oferecido, na maior parte dos casos, por instituições particulares nos grandes centros urbanos. 5.1 – OFICINAS DE CAPACITAÇÃO PLANEJAMENTO EM ECOTURISMO: ESTRATÉGICO PARA O UMA METODOLOGIA DE DESENVOLVIMENTO DO ECOTURISMO NO BRASIL A capacitação profissional é um dos primeiros passos para uma estratégia planejada de desenvolvimento do ecoturismo. No Brasil o trabalho das Oficinas de Capacitação em Ecoturismo - OCEs, centrada na questão do planejamento estratégico, foi o início de um projeto de formação profissional que buscava a plena utilização do potencial brasileiro no setor. A interpretação do ambiente e a informação de qualidade são a essência do produto ecoturístico. Esse conhecimento abrange muitas áreas como turismo, sociologia, educação ambiental e ecologia, entre outras. No Brasil, por ser uma linha empresarial bastante recente, atuando em regiões que normalmente oferecem pouco apoio técnico, e por privilegiar o interesse do turista pela natureza e cultura do destino, o ecoturismo tem na disponibilidade de pessoal devidamente treinado e capacitado, um de seus maiores desafios. Entretanto, os empresários de sucesso na área atestam: “dos investimentos mais significativos em seu negócio, o treinamento de pessoal tem retorno garantido”. (OFICINAS, 2000, p. 1) “O planejamento estratégico estabelece os grandes eixos ou bases para o desenvolvimento do turismo, podendo ser definido como o instrumento destinado a apontar os objetivos gerais do desenvolvimento com base local, as políticas públicas e as estratégias que nortearão os aspectos referentes aos investimentos tanto públicos quanto privados, que serão destinados ao uso e ao (re) ordenamento dos recursos do território. Enquanto o planejamento no seu sentido tradicional pode vir de cima para baixo, como foi durante todo o regime autoritário da ditadura militar, o planejamento estratégico na sua versão contemporânea não se concebe sem a participação efetiva dos sujeitos locais e é através dele que se desenha o território e que este se consolida.” (RODRIGUES, 2002, p. 13) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 107 Foi o reconhecimento do ecoturismo como importante instrumento para conservação do meio ambiente, que levou à aplicação deste programa no Brasil. Em 1993, o Plano de Ação da CI, no Brasil estabelecia o ecoturismo como prioridade. Dava-se então destaque ao Pantanal, por identificar nesta região de forte atração turística, com tendência a compatibilizar desenvolvimento econômico e conservação ambiental. A CI desenvolvia ainda, neste período, em conjunto com a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia - SUDAM39 e Organização dos Estados Americanos - OEA, um levantamento de áreas com potencial para o ecoturismo, entre outras ações relacionadas a conservação ambiental. Os destinos ecoturísticos estão caracteristicamente localizados em sítios distantes dos centros geradores do conhecimento, tais como universidades e centros técnicos de formação profissional. Operadores, guias e hospedeiros nem sempre têm acesso aos demorados e onerosos meios de aprendizagem formais. Esse fato criou o desafio enfrentado pelos proponentes das OCEs, em 1994, em levar conhecimentos técnicos e práticos, nos locais de desenvolvimento ecoturístico, isto é, os pequenos centros de recepção próximos aos parques e reservas visitados. (OFICINAS, 2000, p. 01) De acordo com a CI, “profissionais de ecoturismo bem treinados, têm a grande oportunidade de informar a população e conscientizar turistas sobre a importância da conservação do patrimônio natural, que acabam transformando-se em aliados da causa. Isso aumenta a responsabilidade e o interesse dos setores governamentais quanto às questões ambientais e favorece a implantação e o fortalecimento das políticas públicas ligadas à conservação”. (OFICINAS, 2000, p. 01) A CI afirmava ainda que o fator considerado mais crítico para promover a qualificação dos recursos humanos no setor do ecoturismo, é a capacitação. As OCEs foram criadas justamente para atender as necessidades de treinamento de profissionais brasileiros em ecoturismo, e buscar formar uma liderança nacional para direcionar padrões de excelência no setor. E como resultado final, a conservação de áreas naturais e conscientização de uma porção cada vez maior da população. (OFICINAS, 2000, p. 12) De acordo com Pires, [...] as oficinas tiveram como objetivo treinar e capacitar agentes locais e regionais, integrantes da iniciativa privada, de instituições e de entidades diversas que já atuavam no ecoturismo ou tinham interesse 39 Esta superintendência foi extinta nos últimos anos do governo Fernando Henrique Cardoso. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 108 em fazê-lo, para desenvolver seus projetos de acordo com critérios de gestão e qualidade que até então não eram difundidos em nosso meio. Essa iniciativa coube a empresa Bioma – Educação e Assessoria Ambiental, empresa de consultoria de São Paulo, que, com apoio de esferas governamentais (Ministério do Meio Ambiente, através da Secretaria de Coordenação da Amazônia; Ministério da Indústria do Comércio e do Turismo, através do EMBRATUR, Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia e governos dos estados) e de entidades civis como o SEBRAE e SENAC, além de empresas e de outras instituições privadas, viabilizou essa que foi a primeira iniciativa de abrangência nacional originada na sociedade para capacitação de recursos humanos fora do processo formal de ensino. (2002, p. 236) 5.1.1 - FORMAÇÃO DO COMITÊ DE ORGANIZAÇÃO DAS OFICINAS Para desenvolver uma política de apoio ao ecoturismo, membros da CI, identificaram a necessidade vital de planejamento para o setor em nível nacional. Encontraram, então, no Ecoplan:net Institute, um parceiro capaz de trazer uma metodologia de planejamento para o desenvolvimento do ecoturismo no Brasil. Simultaneamente às ações da CI, um grupo de pessoas, formado no Seminário de Turismo Ecológico realizado, em 1994, em Ilhéus, na Bahia, manifestava grande preocupação com o crescimento da demanda turística nas áreas estratégicas de conservação, que poderia acentuar o processo de degradação ambiental que alcançava algumas regiões brasileiras. Esse grupo identificou a necessidade de agir em prol do planejamento estratégico para o desenvolvimento adequado do ecoturismo como ferramenta de conservação. O caminho ideal para disseminar estas idéias seria a capacitação profissional voltada ao ecoturismo. O objetivo central que mobilizou o grupo de profissionais justificava-se em minimizar o alto potencial de devastação que a falta de planejamento do turismo pode apresentar. Constatava-se ainda que as poucas opções de treinamento e aperfeiçoamento profissional em ecoturismo disponíveis no país concentravam-se nos grandes centros urbanos, longe dos destinos onde ocorria o crescimento desordenado do ecoturismo. O grupo entendia que a maioria dos pequenos empresários, proprietários de terras, técnicos governamentais e membros de ONGs locais não tinham condições de se deslocar Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 109 para esses centros em busca de capacitação. A solução seria promover programas intensivos de curta duração eminentemente práticos e realizados o mais próximo possível dos destinos. Este grupo, inicialmente encontrava-se composto por representantes de instituições dos três setores: público, privado e de ONGs. O então SENAC - CEATEL, de São Paulo; Instituto Ecológico Cristalino – IEC, de Mato Grosso; Fundação para a Conservação e a Produção Florestal do Estado de São Paulo – FF, do Instituto Florestal, da Secretaria de Meio Ambiente, do referido estado. Como no Brasil, até aquele momento, não havia nenhuma instituição que acumulasse experiência em capacitação em planejamento aplicado ao setor do ecoturismo. Assim, identificou-se na Ecoplan:net Institute, instituição canadense e norte-americana, com experiência na realização da oficina de planejamento estratégico para o ecoturismo. Esta ação foi realizada pelo Centro de Administração do Parque Nacional de Banff, em 1989, no Canadá, e diagnosticada pelo grupo brasileiro com resultados positivos na sua aplicação. Desta forma, no início de 1994, constituiu-se o Comitê Nacional de Organização das OCEs, que passou a ser coordenado pela empresa Bioma. O grupo de profissionais brasileiros, depois de entrar em contato com a experiência de Banff, verificou a possibilidade de adaptação da metodologia utilizada para a realidade brasileira. Realizando então em conjunto com os autores James MacGregor e Leslie Jarvie esta adaptação. O projeto das OCEs sem resultados ainda conhecidos pelo governo e empresariado, deu-se em um momento de delicada transformação econômica, com o recém criado Plano Real e profundas mudanças na economia nacional, apesar do grupo ter apoio institucional do MMA40 e do Ministério do Turismo41, estes órgãos não dispunham, naquele momento de recursos orçamentários para investir no projeto. Alguns estados do país foram escolhidos considerando os sítios de grande interesse para a conservação, como Mata Atlântica, Pantanal e Floresta Amazônica. Assim, oito estados foram definidos para iniciar os trabalhos, sendo eles: Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, abrangendo o Pantanal; Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Bahia, na Mata Atlântica; Amazonas na Amazônia. Nestes oito estados era observado que o ecoturismo já estava em expansão, sem, no entanto contar com planejamento adequado. 40 Neste período era denominado Ministério do Meio Ambiente dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal. 41 Denominado neste ano de 1994 como Ministério da Indústria do Comércio e do Turismo – MICT. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 110 A partir da escolha dos estados foram identificadas instituições relacionadas ao ecoturismo, como ONGs, secretarias de governo e instituições privadas que pudessem indicar profissionais ligados ao setor com interesse em participar do projeto. Dos inúmeros currículos recebidos foram selecionados pelo Comitê de Organização 31 profissionais que participaram do Treinamento Workshops, realizado ao longo de dez dias na Fazenda Intervales42, e ministrado pelos diretores da Ecoplan:net Institute. Os facilitadores capacitados deveriam posteriormente atuar como agentes multiplicadores da metodologia. Como resultado dessa primeira atividade, todos os participantes foram credenciados como facilitadores, e assumiram o compromisso de contribuir com a organização e atuar nas OCEs a serem realizadas nos seus estados de origem. 5.1.2 – PATROCÍNIOS E APOIOS As instituições que viabilizaram o início do projeto foram: SENAC - CEATEL, CI, IEC, FF, e a empresa Bioma, com recursos humanos e financeiros destas instituições, acima citadas e os apoios por parte das seguintes instituições: Viação Aérea Riograndense – VARIG, Pantanal - Linhas Aéreas, Transportes Aéreos da Bacia Amazônica - TABA, Unidos - Seguro Turismo, SEBRAE, de Mato Grosso e Companhia Serrana de Mineração, de São Paulo. Das dezenove oficinas regionais realizadas entre 1994 e 1995, oito foram viabilizadas pelos esforços de diversos patrocinadores e apoiadores das localidades, dos três setores, prefeituras, pequenos empreendimentos locais e ONGs locais. Outras onze oficinas foram promovidas já contando com patrocínio dos seguintes ministérios brasileiros do Meio Ambiente e Turismo, SUDAM, governos estaduais e apoio local; dentre essas oficinas, nove realizaram-se nos respectivos estados da Amazônia Legal. Em quatro anos de projeto foram desenvolvidas, com sucesso, 27 Oficinas em 21 estados do país, uma Oficina de Treinamento de facilitadores, e outras duas Oficinas, respectivamente de Nivelamento e Aperfeiçoamento. Na prática, o primeiro módulo, oferecido foi de treinamento de facilitadores que reproduziram o programa em outros lugares do país. (OFICINAS, 2000, p. 17) 42 Esta área de proteção do estado de São Paulo foi transformada em na unidade de conservação denominada Parque Estadual Intervales. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 111 Identificou-se que o avanço desta ação de capacitação se deu principalmente pelos resultados advindos da difusão de uma metodologia em planejamento em ecoturismo até então inédita no Brasil. 5.1.3 – METODOLOGIA APLICADA NA OFICINA Esta ação de capacitação estava voltada para o setor do ecoturismo, como empreendedores, planejadores, hoteleiros, técnicos e pesquisadores de organizações governamentais e não governamentais, representantes de associações comunitárias e profissionais envolvidos na operação do ecoturismo. A metodologia de planejamento estratégico para o desenvolvimento do ecoturismo, apresentada aos participantes durante as oficinas divide–se em nove fases: 1. Estabelecimento da Missão, Objetivos e Metas 2. Inventário e Análise de Recursos 3. Impactos e Restrições 4. Pesquisa e Análise de Mercado 5. Bases para o Desenvolvimento de Produtos de Ecoturismo 6. Plano Geral de Desenvolvimento 7. Desenvolvimento do Produto de Ecoturismo 8. Estratégia de Marketing 9. Estratégia de Implantação A dinâmica das oficinas baseia-se na apostila de trabalho detalhada; no material de referência permanente e a disponibilidade de quatro facilitadores para orientação. Teve como propósito alcançar os seguintes objetivos: • Estabelecer princípios e critérios para o ecoturismo no Brasil, em nível regional e nacional. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira • 112 Criar um processo que fizesse com que os participantes compreendessem os passos e as atividades envolvidas no planejamento do ecoturismo. • Capacitar os participantes a criarem seus próprios produtos. • Incentivar a integração dos grupos e troca de conhecimentos no processo de criação e planejamento de produtos. • Contextualizar o ecoturismo no turismo sustentável, procurando influenciar o turismo convencional. • Capacitar cada participante para assessorar terceiros no planejamento ecoturístico em sua região. • Criar discussões nos grupos que permitissem desenvolver uma definição clara de ecoturismo e de planejamento para o turismo sustentável. • Criar subgrupos nas oficinas e assessorá-los a conduzir cada fase do processo de planejamento, o que levou os participantes a ter um quadro de referências para o desenvolvimento do ecoturismo em sua região ou comunidade. • Exercitar nos grupos pelo menos um produto, resultado do processo de identificação de oportunidades no mercado local. • Familiarizar os participantes em técnicas para estudos de caso, matrizes de avaliação de produtos e planejamento individual. Os grupos eram divididos por regiões de interesse com potencial para o desenvolvimento do ecoturismo, mantendo a diversidade quanto à formação profissional dos participantes e respectivas áreas de atuação. O limite de participantes por oficina era estabelecido em quarenta e duas pessoas divididas em até sete grupos de seis pessoas. Cada um dos grupos criava, respectivamente, uma instituição hipotética para atuar na área do ecoturismo, em geral eram agências ou operadoras. A seguir, era feita a exposição de cada uma das nove fases em que se divide a metodologia. Após a exposição teórica de cada fase, sob a orientação dos facilitadores, os participantes desenvolviam seus trabalhos com a ajuda da apostila. Cada grupo expunha, então, seus trabalhos e, discutiam os resultados com os demais grupos. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 113 Manaus (AM): ‘Os conhecimentos que adquiri durante a Oficina têm sido utilizados em todas as minhas ações profissionais, tanto no setor público como nas minhas atividades profissionais’, declara Jayth Chaves Filho, ex-Diretor da EMANTUR. Jaith é um entusiasta das Oficinas e diz que a concepção e o planejamento do produto do Ariramba Jungle Camp, uma empresa de sua propriedade em Manaus, aconteceu durante a Oficina. (OFICINAS, 2000, p. 18) No último dia de uma oficina era realizado o estudo de caso que permitia analisar um produto de ecoturismo. Em muitos dos 27 municípios dos 21 estados brasileiros não foi possível identificar um produto de ecoturismo, assim era formatada uma experiência prática hipotética que demonstrava um produto potencial e analisava-se a viabilidade do mesmo. “No estudo de caso da oficina de Costa Marques, em Rondônia – 1995, na visita à reserva Curralinho, os participantes caminharam por uma trilha ribeirinha até um tributário do rio Madeira, e assistiram a uma demonstração interativa de extração de látex por um membro da Associação dos Extratores de Borracha de Rondônia” (OFICINAS, 2000, p. 20) No fechamento dos trabalhos realizava-se uma avaliação oral e escrita da oficina, estas serviram para analisar a eficiência do processo, bem como para o desenvolvimento da avaliação geral das oficinas. 5.1.4 – AVALIAÇÃO GERAL DAS OFICINAS A análise das avaliações preenchidas pelos participantes ao final das oficinas revelou que para a quase totalidade dos participantes a oficina correspondeu às expectativas, e para um pouco mais de dois terços dos participantes. A metodologia foi relevante para o desempenho das suas atividades profissionais. Quanto à se sentir capacitado para aplicar os conhecimentos adquiridos no trabalho, quase metade dos participantes consideraram estar plenamente capacitados. Um pouco mais de um quarto parcialmente capacitados e o restante não se sentiram habilitados. (HISTÓRICO, 1996, p. 24) Sugestões freqüentes indicavam a necessidade de realizar essas oficinas voltadas para o planejamento em outras regiões com potencial para o ecoturismo. Indicavam também a necessidade de oficinas complementares com outros temas e ainda, oficinas de reciclagem profissional. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 114 “É importante desenvolver outras oficinas que aprofundem os temas criação de produtos, capacidade de suporte, padrões básicos de infra-estrutura e produtos para o mercado internacional”, afirmou Lucio Antonio Machado, empresário da Gekko Ecoturismo. Curitiba, no Paraná. (HISTÓRICO, 1996, p. 30) Em alguns estados, mais distantes dos principais centros urbanos brasileiros, a realização das oficinas teve a importante missão de levar a capacitação profissional, onde se faz mais necessária e onde a carência de bibliografias e experiências é crítica. Uma significativa quantidade e diversidade de bibliografias sobre o tema de ecoturismo, turismo, meio ambiente foram levadas nas OCEs. Entendia-se que a disponibilidade de bibliografias sobre ecoturismo ainda era muito escassa no Brasil. Haviam consultas permanentes, funcionava praticamente como biblioteca aberta a consulta. Desta forma, formou-se uma dinâmica interessante entre os participantes e facilitadores da oficina, quando o material disponibilizado em livros era doado, reproduzido, ou ainda comercializado. Os participantes por sua vez apresentavam interesse em agregar ao acervo bibliografias sobre sua região, percebendo que a integração seria um mecanismo de divulgação das características ambientais, sociais e econômicas da região, bem como dos projetos e empreendimentos desenvolvidos pelos profissionais. No final do ano de 1996 já era acumulado significativo número de material de referência bibliográfica, em livros, textos encadernados e grande quantidade de textos avulsos e inúmeros folhetos e catálogos, formou-se uma verdadeira biblioteca itinerante. As oficinas revelaram a imensa necessidade do acesso à bibliografia básica aos profissionais de regiões distantes dos grandes centros. Acredita-se que o material disponibilizado sobre o tema também foi um instrumento de formação entre os participantes, bem como um mecanismo de fortalecimento sócio-cultural de quem disponibilizava materiais sobre sua região. Identificou-se que muitos integrantes das oficinas pertenciam a universidades federais e estaduais, ONGs ambientalistas e sócio-ambientalistas, e instituições governamentais com atuação principalmente na área de turismo e meio ambiente. As oficinas contribuíram para estimular um maior intercâmbio entre os diversos órgãos, que têm elevada importância para a conservação dos recursos naturais. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 115 5.1.5 – ANÁLISE DA PESQUISA SOBRE AS OFICINAS Por iniciativa da CI a empresa Bioma enviou na primeira quinzena do mês de junho de 1996 um questionário a todos os profissionais que haviam participado do processo de capacitação até então. Assim, contou-se com um total de 621 participantes, das 19 oficinas de capacitação em ecoturismo, que haviam sido realizadas entre os anos de 1994 e 1995. Este questionário teve como propósito avaliar os resultados da realização das oficinas. Os questionários foram enviados por meio de mala direta, via correio, a partir do cadastro de endereços feitos nas respectivas oficinas. As respostas foram remetidas via correio ou através de faxímile. Assim, foram respondidos 84 questionários, cerca de 14% dos questionários enviados. Participantes de todos os estados trabalhados estavam representados na amostragem. (HISTÓRICO, 1996, p. 34) Através desta pesquisa foi possível apurar que 85% dos participantes conseguiram utilizar, total ou parcialmente, a metodologia desenvolvida na OCE no seu trabalho. Para 67% dos pesquisados a oficina estimulou o desenvolvimento de algum tipo de empreendimento. Destes, 38% são novos roteiros e 26% na área de hospedagem, sendo que destes as pousadas apresentam um maior percentual seguido pelos lodges, e por último, hotéis. (HISTÓRICO, 1996, p. 34-35) Uma das interpretações possíveis deste resultado é que empreendimentos que implicam em investimentos mais elevados, parecem esbarrar em dificuldade de financiamentos para fazer frente aos elevados custos, pois, de modo geral o investimento para montagem de um roteiro implica em um montante menor de recursos. Em relação aos meios de hospedagem além do fator relacionado ao valor do investimento, pode-se inferir que a opção por pousadas, deve-se ao fato destas serem mais apropriadas para os locais de destino do ecoturismo. Outro resultado da pesquisa revela que cerca de 20% dos empreendimentos implantados após a realização das oficinas foram à criação de agências e operadoras. Outras ações decorrentes foram a criação de cursos de guias de ecoturismo, planejamento, consultorias, núcleo de estudos, ações governamentais e comunitárias. (HISTÓRICO, 1996, p. 35) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 116 Entre algumas ações governamentais a que despontou com maior abrangência foi o Programa da Agenda de Ecoturismo do Vale do Ribeira. “As técnicas que aprendi como facilitador das Oficinas e os conceitos discutidos entre os vários eventos alavancaram o Programa Agenda de Ecoturismo do Vale do Ribeira” afirma Devancyr A. Romão, da Fundação Florestal do Estado de São Paulo. A iniciativa lançada em 1995 envolveu seis Prefeituras, entidades ambientalistas, e empresas de consultoria em meio ambiente e turismo. O Programa da Fundação Florestal implementou um plano de ação que incluiu cursos para mais de 170 monitores ambientais e 120 agentes de apoio ao planejamento do eoturismo”. (OFICINAS, 2000, p. 22) Outra questão verificou se a realização da oficina estimulou ou influenciou a região a realizar novos eventos relacionados ao ecoturismo. Entre 54% dos participantes, afirmaram estarem incentivados e realizaram eventos posteriores, como: seminários, conferências, palestras e cursos de capacitação sobre este tema. Constata-se assim, uma busca permanente em aprofundar as discussões estimuladas pelas oficinas. (HISTÓRICO, 1996, p. 36) A formação de grupos de trabalho ou associações após a realização da oficina foi indicada em mais da metade dos resultados. O mais freqüente foi à formação de grupos de trabalho e associações, o que permite inferir que a oficina estimulou nos participantes a necessidade de buscar organização profissional e associativismo. A formação de grupos de estudo, 21% das indicações, reflete o interesse em aprofundar os conhecimentos. (HISTÓRICO, 1996, p. 36-37) Entre os vários grupos que se formaram em conseqüência das oficinas, destacam-se a ECO-RONDÔNIA, o Núcleo de Ecoturismo do Pará - ECOPARÁ, a ABEATUR em Bonito, e a Associação Mineira dos Organizadores do Turismo Ecológico de Minas Gerais - AMOTE. (HISTÓRICO, 1996, p. 37) Conforme pode ser observado nos depoimentos de representantes da Companhia Paraense de Turismo – PARATUR, as Senhoras Kátia R. F. Barros e Edmê C. da Silva, em Belém, no Pará. “A partir das oficinas, originou-se Núcleo de Ecoturismo do Pará – ECOPARÁ. O Núcleo tem por objetivo promover e desenvolver várias atividades, entre elas o programa em exercício de 1996 de ecoturismo no Pará. A ECOPARÁ promoveu a palestra ‘Águas Termais de Monte Alegre’, em 25 de outubro de 1995, em Belém. O livro ‘Amazônia, Natureza Complexa e Frágil’ e o ‘Projeto de Ecoturismo para o Parque Nacional da Serra dos Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 117 Martírios/Andorinhas’ são outras duas realizações em andamento dessa entidade.” (HISTÓRICO, 1996, p. 29) “A Oficina realizada no Parque do Rio Doce, foi de elevada importância, por ser pioneira e extremamente oportuna. Congregou pessoas atuantes na área, dando-nos uma formação básica fundamental. Era preciso despertar o ecoturismo no Brasil, e Minas Gerais é um estado privilegiado, pois tem várias reservas e grande vocação para essa atividade.” Relato de Tullio Marques Lopes Filho, da Tropa Serrana, Tur Eqüestre e AMOTE - Associação Mineira dos Organizadores do Turismo Ecológico, que atua no Parque Estadual do Rio Doce, de Minas Gerais. (HISTÓRICO, 1996, p. 29) A pesquisa demonstrou também, um estímulo gerado, a integração dos três setores demonstrou que os setores passaram a interagir através da concretização de parcerias entre o setor público, a iniciativa privada e a sociedade civil organizada entre si e com os outros. (HISTÓRICO, 1996, p. 37) A quase totalidade dos participantes indicou a necessidade de continuidade ao programa de capacitação executado pelas oficinas, e ainda sugeriu diversificar as ações em capacitação profissional, destacando a prioridade que deveria ser dada ao planejamento estratégico, treinamento e aperfeiçoamento de guias, seguidas por cursos para infra-estrutura e para elaboração de produtos de ecoturismo. (HISTÓRICO, 1996, p. 38) Como pode ser observado no depoimento de representante da iniciativa privada. “A Oficina, no meu caso, veio formalizar e esclarecer alguns aspectos legais em relação ao ecoturismo e, principalmente revelou a carência de cursos para guias em ecoturismo.” Depoimento de Paulo Roberto Porto, empresário da Adventure Sport, de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. (HISTÓRICO, 1996, p. 30) Constatou-se que 71% dos participantes permaneceram no cargo ou função anterior, ao passo que 18% indicaram crescimento profissional. Isso pode ser considerado significativo, especialmente porque boa parte dos participantes era do setor governamental com estabilidade no emprego. (HISTÓRICO, 1996, p. 39) Metade dos participantes tiveram aumentos nos salários com acréscimos superiores a 50%. Deve-se levar em consideração que outros fatores, além da oficina, podem ter influenciado nesses resultados, embora a capacitação profissional seja reconhecidamente um fator relevante para acréscimos salariais. (HISTÓRICO, 1996, p. 40) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 118 Através do cadastro preenchido pelos 621 participantes até então, foi possível apurar a origem institucional dos mesmos, demonstrando a participação de todos os setores envolvidos, com maior porcentagem para o setor governamental 45%, da iniciativa privada 35%, ONGs 17%, outros 3% não se enquadraram. (HISTÓRICO, 1996, p. 41) “As oficinas são de fundamental importância para o desenvolvimento do país, pois nós que trabalhamos com o turismo sabemos de seu valor significativo para a economia de um Núcleo Regional. Neste sentido, as oficinas servem para o aperfeiçoamento, capacitação e conscientização dos profissionais do setor no segmento mais difundido atualmente. E que se não for gerido por profissionais capacitados pode acarretar em danos irreversíveis para a comunidade receptora”. Liviomar M. P. Costa, docente da área de turismo na Universidade Federal do Maranhão - UFMA, e empresário da Mar & Mar Viagens e Turismo, em São Luís, no Maranhão. (HISTÓRICO, 1996, p. 28) Para os facilitadores a participação no projeto das oficinas de capacitação em ecoturismo foi uma experiência marcante, em função do processo de crescimento profissional pela integração com outros da mesma área de atuação e afins, bem como pela possibilidade de vivenciar experiências em ambientes de representativa singularidade dos recursos naturais e culturais, com elevado potencial para o desenvolvimento do ecoturismo. Muitos destes facilitadores atualmente assumem posições expressivas em instituições públicas, privadas ou no terceiro setor, e continuam envolvidos na área de atuação do ecoturismo. Depois de dois anos de funcionamento temos a agradável sensação de não só termos atingindo os objetivos, como termos ampliado às ações, previstas originalmente para oito estados, para mais de dez estados e a repetição de oficinas em pelo menos mais três estados brasileiros. Neste contexto tivemos o desenvolvimento de inúmeras iniciativas empresariais e governamentais ampliando a oferta de produtos e organizando o setor. Somos conscientes de que há um caminho muito grande a percorrer todavia o estamos fazendo de forma conseqüente e planejada, evitando a distorção de nossos propósitos originais e ampliando a rede de parceiros imbuídos de princípios de sustentabilidade, os quais são fundamentais tanto para a conservação dos recursos naturais, como culturais de nosso país” (HISTÓRICO, 1996, p. 31-32) Depoimento de Reinaldo Lourival, responsável pelo CI do Brasil, do Programa do Pantanal, em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Desta forma, com o reconhecimento e os esforços de todos os setores envolvidos o projeto das oficinas alcançou dimensões maiores do que as planejadas inicialmente. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 119 5.1.6 – ESTRATÉGIA PROPOSTA PARA O PROGRAMA O projeto inicialmente pensado para abranger oito estados alcançou vinte e um estados brasileiros, com a realização de oficinas regionais em vinte e sete cidades diferentes como pode-se verificar na tabela 10. Atingiu um público total de novecentos e sessenta e dois profissionais e interessados em ecoturismo entre 1994 e 1997. OFICINAS DE CAPACITAÇÃO EM ECOTURISMO REALIZADAS NO BRASIL Nº Tipo de Oficina I Treinamento 1a Regional a 2 Regional a 3 Regional a 4 Regional a 5 Regional a 6 Regional 7a 8a 9a Regional Regional Regional 11 a 12 a 13 a 14 a 15 a 10 a 16 a Regional Regional Regional Regional Regional Regional Regional 17 a 18 a 19 a 20 a 21 a 22 a 23 a 24 a Regional Regional Regional Regional Regional Regional Regional Regional Local Parque Est. Intervales – SP Campo Grande – MS Cuiabá – MT Cananéia – SP Curitiba – PR Rio de Janeiro – RJ Serra do Navio – AP Foz do Iguaçu – PR Salvador – BA Belém – PA Rio Branco – AC Costa Marques – RO Poconé – MT Palmas – TO Boa Vista – RR Parque Est. do Rio Doce – MG Porto Alegre – RS Manaus – AM Bonito – MS São Luís – MA Itu – SP Domingos Martins – ES Parnaíba – PI Fortaleza – CE Brasília – DF Data Nº de Participantes 21 a 30/ Out/ 1994 32 04 a 08/ Nov/ 1994 16 18 a 22/ Nov/ 1994 19 25 a 29/ Nov/ 1994 41 06 a 11/ Fev/ 1995 38 04 a 08/Mar/ 1995 40 27/ Jun a 01/ Jun/ 29 1995 25 a 29/ Jul/ 1995 17 08 a 12/ Ago/ 1995 30 29/ Ago a 02/ Set/ 45 1995 12 a 16/ Set/ 1995 26 26 a 30/ Set/ 1995 39 24 a 28/ Out/ 1995 43 13 a 17/ Nov/ 1995 30 21 a 25/ Nov/ 1995 34 21 a 25/Ago/95 27 28/Nov a 02/Dez/ 36 1995 05 a 09/ Dez/ 1995 36 05 a 09/ Dez/ 1995 22 12 a 16/ Dez/ 1995 31 8 a 12/ Out/ 1996 29 12 a 16/ Nov/ 1996 39 19 a 23/ Nov/ 1996 39 26 a 30/ Dez/ 1996 42 03 a 07/ Dez/ 1996 41 Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 120 OFICINAS DE CAPACITAÇÃO EM ECOTURISMO REALIZADAS NO BRASIL – (CONTINUAÇÃO) 25 a Regional Nº Tipo de Oficina Alto Paraíso – GO Local Regional Costa das Baleias–Caravelas–BA 26 a a Regional Costa do Cacau–Canavieiras– BA 27 II Treinamento Manaus – AM Nivelamento Parque Est. Intervales - SP III Treinamento Aperfeiçoamento TOTAL DE PARTICIPANTES DAS OCEs 03 a 07/ Dez/ 1996 Data 43 Nº de Participantes 24 a 29/ Jun/ 1997 17 22 a 27/ Jul/ 1997 22 12 a 16/ Nov/ 1996 32 10 a 21/ Dez/ 1996 27 962 Tabela 10 – Oficinas de Capacitação em Ecoturismo – OCEs, realizadas no período de 1994 a 1997.43 Frente à necessidade de atendimento em maior escala dos estados brasileiros, foi adotada uma estratégia para a continuidade das OCEs realizando-se treinamentos para nivelamento e aperfeiçoamento dos profissionais, que foram patrocinados pela SCA, do MMA e EMBRATUR, do Ministério da Indústria do Comércio e do Turismo e apoio de outras instituições governamentais. O primeiro a ser executado foi o programa de treinamento para nivelamento, realizado em Manaus, no estado do Amazonas, em novembro de 1996, em que foram selecionados sessenta e dois profissionais, identificados no decorrer da realização das OCEs regionais, mas apenas dezessete profissionais tiveram disponibilidade para participar. Posteriormente realizou-se o programa de treinamento para aperfeiçoamento, em dezembro de 1996, no Parque Estadual Intervales, no estado de São Paulo. O programa contou com a orientação novamente dos consultores da Ecoplan:net Institute . Entre catorze facilitadores, que haviam participado do treinamento em 1994, e oito profissionais selecionados no nivelamento e cinco ouvintes, foram credenciados vinte e dois profissionais como agentes mutilplicadores. A proposta seria a realização de oficinas estaduais para treinamento de novos facilitadores para atuação local específica, uma estratégia para formar novos agentes multiplicadores da metodologia. O desenvolvimento dessa estratégia procurava disseminar a metodologia de planejamento do ecoturismo, permitindo que ocorressem inúmeras oficinas 43 Análise desenvolvida pela empresa Bioma Educação e Assessoria Ambiental, em 1998. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 121 regionais, abrangendo localidades com potencial para o desenvolvimento do ecoturismo do país, considerando a dimensão continental do território brasileiro. Entretanto, apesar de todos os esforços desenvolvidos nesta ação de capacitação das OCEs, a continuidade das ações foi interrompida por decisão unilateral do governo federal. Esta paralisação demonstrou falta de comprometimento por parte daqueles que representavam o governo federal na época, pois revelou desperdício de recursos públicos, no momento em que o programa havia alcançado um número maior de agentes multiplicadores e a metodologia deveria se disseminar por todo o país. O governo federal de qualquer forma prossegue em ações para o desenvolvimento do ecoturismo, assumindo e executando outros programas de abrangência relevante, como é o caso da área que representa a Amazônia, envolvendo nove estados brasileiros. 5.2 – AÇÕES DE CAPACITAÇÃO DO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DO ECOTURISMO NA AMAZÔNIA LEGAL Uma das linhas mestras para o desenvolvimento do ecoturismo é o envolvimento das comunidades anfitriãs desde a etapa de planejamento. Mas, para isso, é preciso buscar informação e capacitação. Dessa forma, as comunidades estarão preparadas para aproveitar as oportunidades geradas pelo ecoturismo, beneficiando-se economicamente e melhorando sua qualidade de vida. Ao mesmo tempo, poderão conhecer os aspectos negativos dessa atividade para evitá-los ou diminuir o seu efeito sobre a vida comunitária e o meio ambiente. A capacitação será fundamental também na sua preparação para assumir funções de liderança e gestão das atividades e dos empreendimentos. (ECOTURISMO, 2002) O Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia Legal – PROECOTUR no Brasil pretende em conjunto com outros setores do governo federal, cumprir o papel que compete ao setor público, ou seja, oferecer as comunidades da Amazônia: planejamento, infra-estrutura básica e turística, capacitação profissional, promoção e ainda, orientação e assistência técnica àqueles que tiverem interesse em empreender em equipamentos e serviços ecoturísticos de qualidade, desenvolvendo assim seus principais componentes. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 122 5.2.1 – METODOLOGIA E ESTRATÉGIA PARA CAPACITAÇÃO O processo de capacitação do PROECOTUR faz parte do seu componente de Fortalecimento Institucional, cuja proposta está focalizada na construção da capacidade institucional, técnica e assistencial e na formação de pessoas em diferentes níveis. É objetivo do programa proporcionar capacitação profissional aos diversos segmentos da sociedade principalmente nos municípios integrantes dos pólos ecoturísticos dos estados participantes do programa. Muitas das comunidades locais e/ou tradicionais da região amazônica contam com pouco ou nenhum acesso a informações e capacitação profissionalizante em ecoturismo, trazê-las para um ambiente educacional “formal” pode comprometer o bom andamento do processo de capacitação. Isto fez com que nas ações para capacitação fossem adotadas metodologias pedagógicas diferenciadas e dinâmicas na aplicação dos conteúdos programáticos definidos, com linguagens adequadas para cada público. As ações para capacitação estão sendo desenvolvidas nos pólos de ecoturismo, ou preferencialmente nas localidades em que estão estabelecidas as comunidades. O processo de capacitação do PROECOTUR tem como princípio a apreensão de conceitos e diretrizes do ecoturismo de forma contínua. A partir da etapa de sensibilização pretende-se estimular desdobramentos que envolvam diretamente as comunidades na busca por constante aperfeiçoamento, na troca e disseminação de informações e idéias. Na sensibilização a realização de oficinas, elaboração de material de apoio, e campanha na mídia foram abordados conceitos básicos sobre princípios e critérios do ecoturismo; importância e noções básicas sobre meio ambiente e ecossistemas amazônicos; a importância da conservação e uso sustentável dos recursos naturais, históricos e culturais; identificou-se os principais papéis e responsabilidades dos setores envolvidos na atividade para a manutenção da qualidade dos atrativos e produtos de ecoturismo. Foram avaliadas as possibilidades de mercado do ecoturismo – nacional e internacional; aspectos positivos e impactos negativos do ecoturismo. Foram levadas informações sobre o programa, sua implantação, seus objetivos e ações desenvolvidas para viabilização do ecoturismo e identificação das fases e dos principais mecanismos para participação no programa em nível regional e local. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 123 As ações de sensibilização buscaram ainda, conhecer os principais setores envolvidos nos pólos de ecoturismo, as lideranças locais e engajá-las no processo, funcionando como elemento de levantamento e aglutinação dos formadores de opinião e lideranças para fortalecer nas demais etapas do processo de capacitação, bem como incorporá-las como agentes multiplicadores do processo. Durante a etapa de sensibilização foram realizadas reuniões de trabalho com as lideranças comunitárias e técnicos encarregados de implementar o programa nos estados e municípios. Envolveu também oficinas e visita aos municípios dos respectivos pólos ecoturísticos da Amazônia. Esse trabalho foi acompanhado de campanhas em rádios, TVs e jornais e teve o apoio de materiais didáticos e informativos. Foi planejada a realização de três ações, conduzidas por consultor contratado diretamente pela Unidade de Gerenciamento, sediada na SCA, do MMA. Durante esta etapa foram formados agentes multiplicadores dos Núcleos de Gerenciamento do Programa – NGPs dos estados para que estes assumissem a continuidade das ações de sensibilização nos demais municípios dos respectivos pólos. Um dos principais motivos de se fazer ações diretas do MMA nos pólos, não se restringiu à sensibilização das comunidades anfitriãs, mas também dos próprios coordenadores e técnicos do programa para as necessidades específicas das diversas localidades. Será descrito mais adiante, um maior detalhamento desta etapa, já executada. A segunda etapa da capacitação envolve a realização de oficinas de planejamento que coincide com o momento em que os planos e estratégias para o desenvolvimento do ecoturismo nos pólos, elaboradas pelas consultorias contratadas, está em fase de conclusão. Nas oficinas de planejamento estes documentos são apresentados às comunidades anfitriãs dos pólos, estas interagem entre si e com os técnicos do programa para conhecerem melhor o resultado dos trabalhos, analisarem, ratificarem e retificarem quando necessário, além de contribuírem com outras sugestões e considerações. Para maior eficiência da realização de oficinas de planejamento, e da própria gestão e execução dos planos e estratégias, foi estabelecida uma parceria com o Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT, do EMBRATUR que já possui trabalho consolidado de fomento à estruturação dos municípios para o desenvolvimento do turismo em todo o país. Foi Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 124 realizada no município de Mateiros, na região do Jalapão, no estado do Tocantins, em setembro de 2002, a primeira Oficina de Planejamento do PROECOTUR / PNMT. Paralelamente as oficinas de planejamento, serão contratadas instituições com larga experiência no ensino de turismo no país para realização de cursos específicos de capacitação. Estes serão realizados por profissionais capacitados, de acordo com as necessidades específicas de cada pólo. Devendo atender aos técnicos responsáveis pela implementação do programa nos estados e municípios, representantes dos setores públicos e privados e das comunidades locais relacionadas com ecoturismo. Ao longo das oficinas de sensibilização, realizadas na primeira etapa, foram identificados os principais temas para capacitação a serem priorizados, são eles: • Financiamento e gestão de Empreendimentos Ecoturísticos. • Fundamentos e Estratégias de Marketing Turístico. • Gestão do Ecoturismo em Áreas Protegidas. • Informações Turísticas e Análise Estatística. • Licenciamento de Empreendimentos Ecoturísticos. • Monitores de Ecoturismo. • Qualidade no Atendimento aos Visitantes. Estes cursos serão realizados visando à formação de agentes multiplicadores que deverão assumir a realização dos cursos nas diversas localidades dos respectivos pólos. No decorrer da realização destes cursos serão ainda identificadas outras demandas de capacitação a serem atendidas a fim de buscar oferecer às comunidades anfitriãs oportunidades de emprego, renda, empreendimentos e a conseqüente melhoria de qualidade de vida. Num terceiro momento, pretende-se realizar, após a conclusão das oficinas de planejamento, seminários, em todos os estados, tendo como objetivo avaliar o estágio de desenvolvimento do ecoturismo e dos produtos ecoturísticos implementados nos pólos, assim como analisar as melhores práticas e as estratégias adotadas na Amazônia, em outras regiões do Brasil e em outros países. Haverá espaço para identificar necessidades a serem atendidas pelo programa. Na prática, os seminários servirão como momentos para discutir necessidades, Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 125 carências e diretrizes de acordo com a realidade de cada estado e para avaliar as ações desenvolvidas. 5.2.2 – OFICINAS DE SENSIBILIZAÇÃO A etapa de Sensibilização realizou ao todo 23 ações com diversas reuniões preparatórias e oficinas contemplando parte teórica e prática envolvendo cerca de 950 participantes dos NGPs, e GTOs onde existiam, setores públicos, privados, ONGs, associações e representantes das comunidades locais relacionados ao ecoturismo. Realizadas nos pólos dos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Rondônia, Roraima e Tocantins. A única exceção foi uma ação em Brasília, destinada para as lideranças extrativistas inseridas nos conselhos federais como o CNS e o CNPT. (PROECOTUR, 2002, p. 19) Inicialmente estavam previstas três oficinas de sensibilização para cada um dos nove estados da Amazônia. Porém, nos estados do Mato Grosso e do Maranhão foram realizadas apenas duas ações, e no estado do Pará, até o momento ainda não foram realizadas estas ações. Assim, os outros seis estados foram contemplados com três ações previstas, envolvendo em média 113 pessoas por estado e cerca de 40 participantes por oficina. (PROECOTUR 2002, p. 19) Após a realização das 23 oficinas de sensibilização iniciais foram entregues aos respectivos NGPs um CD Rom contendo todo o material didático e operacional para facilitar a continuidade das ações nos demais municípios dos pólos. Os estados do Amapá e Roraima já estão executando uma série de cinco oficinas cada. (PROECOTUR, 2002, p. 25) Acredita-se que os agentes multiplicadores formados, já estão realizando oficinas de sensibilização nestes municípios, mas as atuais mudanças na gestão governamental nos estados que abrangem a Amazônia, podem futuramente dificultar o repasse mais efetivo em ações de sensibilização, caso seja dada especial atenção à formação de novos agentes. A tabela 11 – apresenta as oficinas de sensibilização executadas: Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 126 OFICINAS DE SENSIBILIZAÇÃO DO PROECOTUR Municípios Estado Cruzeiro do Sul Xapuri Brasiléia sub-total Acre Laranjal do Jarí – RDS rio Iratapuru Macapá Oiapoque sub-total Amapá Presidente Figueiredo Manacapuru – RDS Piranha Manacapuru – RDS Piranha sub-total Amazonas Cururupu Guimarães sub-total Maranhão Alta Floresta Paranaíta sub-total Mato Grosso Pimenteiras Costa Marques Guajará Mirim Sub-total Rondônia Canta Boa Vista Pacaraima Sub-total em Roraima Mateiros Ponte Alta Pium Sub-total no Tocantins Período Nº Participantes ACRE 02 a 05 de Fev / 2002 24 a 27 de Fev / 2002 28 fev a 02 Mar./ 2002 Nº Ações 54 32 35 01 01 01 03 33 44 49 126 01 01 01 03 121 AMAPÁ 04 a 07 de Fev/ 2002 19 a 22 de Fev/ 2002 27 fev a 02 Mar/ 2002 AMAZONAS 02 de Julho de 2001 20 a 23 de Maio/ 2002 24 a 26 de Maio/ 2002 MARANHÃO 17 a 20 de Abr/ 2002 22 a 26 de Abr/ 2002 MATO GROSSO 10 a 13 de Dez/ 2001 04 a 07 de Dez/ 2001 RONDÔNIA 28 nov a 01 Dez/ 2001 04 a 07 de Dez/ 2001 10 a 13 de Dez/ 2001 RORAIMA 03 a 06 de Abr/ 2002 08 a 10 de Abr/ 2002 11 a 13 de Abr/ 2002 TOCANTINS 18 a 20 de Mar/ 2002 22 a 26 de Abr/ 2002 17 a 20 de Abr/ 2002 52 39 41 132 01 01 01 03 51 34 85 01 01 02 44 45 89 01 01 02 30 46 42 118 01 01 01 03 30 24 30 84 01 01 01 03 48 50 52 150 01 01 01 03 40 40 945 01 01 23 BRASÍLIA Lideranças extrativistas Sub-total em Brasília TOTAL 22 a 23 de Nov/ 2001 Tabela 11 – Síntese das Oficinas de Sensibilização do PROECOTUR/ SCA/ MMA. Fonte: (PROECOTUR, 2002, p. 20) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 127 5.2.3 – ANÁLISE DOS RESULTADOS Os resultados apresentados na avaliação aplicada aos participantes da oficina de sensibilização do PROECOTUR identificaram aspectos considerados relevantes, como a significativa aceitação desta ação de capacitação do programa, a compreensão dos temas abordados e a identificação do perfil dos participantes. A análise poderá contribuir para futuras ações de capacitação do programa nestas localidades. Para facilitar a apresentação dos resultados, estes foram divididos em três categorias, a saber: perfil do participante; avaliação da oficina de sensibilização; participantes e ecoturismo. (PROECOTUR, 2002, p. 44) A maior parte dos participantes era composta principalmente de membros de organizações governamentais, cerca de 40%. Observa-se uma significativa participação de representantes extrativistas, agricultores e organizações não governamentais locais, ou regionais, expressa em aproximadamente um terço dos participantes, tal fato justifica-se por ter havido muitas ações em Reservas de Desenvolvimento Sustentável –RDSs, Reservas Extrativistas – RESEXs, ou em localidades próximas a estas categorias de unidades de conservação, ou pela realização de uma oficina específica para lideranças extrativistas em Brasília.Verificou-se finalmente que um quinto dos participantes eram profissionais, comerciantes, empresários do turismo ou ecoturismo, guias turísticos e artesãos. (PROECOTUR, 2002, p. 44) Em relação ao grau de escolaridade, verificou-se que participantes com ensino fundamental foram os mais numerosos, seguidos por pessoas que possuem ensino médio, faculdade, pós-graduação e, por fim e em menor quantidade, aqueles que nunca freqüentaram escola. Ainda que se considere a diversificada composição do grupo no que tange o grau de escolaridade, os níveis de compreensão foram muito satisfatórios, apontando 89% dos participantes, ótima facilidade de compreensão e 11% grau médio de compreensão. Talvez isto se deva ao excelente trabalho realizado pelos profissionais que mediaram as Oficinas de Sensibilização, percentagem significativa dos participantes, 91%, considerou ótimo o desempenho dos mediadores. A quase totalidade dos participantes 95%, afirmou que a oficina correspondeu ou superou as suas expectativas. (PROECOTUR, 2002, p. 45) Segundo a Secretária de Coordenação da Amazônia - MMA, Mary Helena Allegretti, as ações de promoção do ecoturismo no Brasil, em especial na região amazônica, inserem-se na macro-estratégia de conservação da biodiversidade daquele bioma, na medida em que Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 128 constitui alternativa de geração de renda para a região, com baixo impacto ambiental. Sua implementação pressupõe, no entanto, uma intensa preparação, seja do ponto de vista da infra-estrutura instalada nos municípios que serão objeto de intervenção, seja do ponto de vista da sensibilização das populações que os habitam, capacitando-as para atenderem as demandas relativas ao ecoturismo e disseminando, entre elas, os princípios básicos da conservação e da preservação dos ecossistemas. (ALLEGRETTI, 2000) As principais ações de capacitação voltadas para o desenvolvimento do ecoturismo no país, ao longo dos últimos oito anos, foram coordenadas pela SCA, do MMA, e demonstram uma clara prioridade para a Amazônia. O próprio fato de um programa do porte do PROECOTUR estar sediado dentro deste ministério deixa claro que a partir da elaboração das “Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo”, de 1994, ecoturismo foi colocado para o governo federal como uma ferramenta de conservação. Embora tenha havido uma interrupção abrupta no projeto das OCEs – Planejamento Estratégico, patrocinadas pelo MMA, entre 1994 e 1996, a estruturação do PROECOTUR com forte ênfase no componente de fortalecimento institucional onde se inclui a capacitação aponta que existe uma forte preocupação na busca de alternativas para inserção das comunidades anfitriãs no processo de desenvolvimento do ecoturismo, especialmente na Amazônia. O mapa 7, aponta todas as localidades onde foram realizadas, até a presente data, ações de capacitação e seus tipos. Estão plotados no mapa, 54 pontos representando as localidades onde foram realizadas as ações, destas, 34 oficinas ou 63% das ações foram realizadas no âmbito da Amazônia Legal. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 129 Mapa 7 – Ações de Capacitação em Ecoturismo realizadas no Brasil pelas OCEs – Planejamento Estratégico e Oficinas de Sensibilização do PROECOTUR/ SCA/ MMA, de 1994 a 2002. Autor: Anselmo Cristiano de Oliveira, PROECOTUR, 2002. 5.3 – OUTRAS AÇÕES EM CAPACITAÇÃO Além das oficinas relatadas, outras experiências de capacitação para o ecoturismo ocorreram, nenhuma até o momento, com o mesmo volume de participantes atingidos e a mesma abrangência, porém também ofereceram contribuições importantes. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 130 5.3.1 - WORKSHOP DE ESTRUTURAÇÃO SOCIAL O Programa de Ações Estratégicas para a Amazônia Brasileira – PRODEAM, por meio do Grupo Técnico de Coordenação de Ecoturismo para a Amazônia Legal – GTC, SCA, do MMA, e SUDAM, pela Secretaria Especial de Políticas Públicas, do então Ministério do Planejamento e Orçamento - MPO contratou consultores autônomos para realização de uma ação de capacitação denominada “Workshop de Estruturação Social”, em Xapuri, no Acre, entre 16 e 20 de dezembro em 1996. Teve como público, representantes de áreas extrativistas de Cachoeira, São Miguel, Floresta, São Pedro, Dois Irmãos e Palmari. Nesta ação foram utilizados recursos da metodologia Zopp, voltada para planejamento de projetos orientado por objetivos, método oficial da Sociedade Alemã de Cooperação Técnica – GTZ, e empregado na concepção de projetos elaborados de maneira participativa. (ECOTURISMO, 1997, p. 01-07) Esta ação tinha por objetivo, “verificar se o ecoturismo poderia ser uma alternativa de aumento da renda e melhoria da qualidade de vida para a população”. As etapas percorridas pela metodologia foram: análise da situação, introdução de conceitos de ecoturismo, levantamento da oferta turística, ações para melhoramento da oferta turística, montagem de um roteiro para turismo receptivo - trabalho de campo, e avaliação técnica do produto Xapuri. (ECOTURISMO, 1997, p. 06) Esta ação de capacitação teve continuidade posteriormente, em 1997, com a participação do CNS, a realização de mais quatro ações em duas RESEXs implantadas, Rio Cajarí no Amapá, e Ouro Preto, em Rondônia. Seguido de duas em fase de implantação no Lago do Tucuruí e Tapajós, no estado do Pará. (ECOTURISMO, 1997, p. 06-07) Apesar do nome estabelecer possibilidades de “estruturação social” das comunidades extrativistas da Amazônia, verifica-se neste tema um caráter pretensioso reconhecendo-se que sociedades, de modo geral, não são estruturadas a partir de uma única ação de capacitação. Esta ação pode ser um mecanismo para fortalecer um determinado aspecto desta sociedade, como é o caso do ecoturismo. Historicamente a organização social destas populações extrativistas da Amazônia antecede a muitas décadas a realização destas oficinas. Mas verifica-se a importância desta ação ao levar à estas comunidades uma atividade de capacitação alternativa capaz de contribuir também com o desenvolvimento do ecoturismo em comunidades extrativistas tradicionais da Amazônia. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 131 5.3.2 – MELHORES PRÁTICAS PARA O ECOTURISMO - MPE O FUNBIO, criado em outubro de 1995, é uma organização não governamental que atua no Brasil em prol da conservação da biodiversidade. Identificou-se que partir de 1999, o ecoturismo começou a ser investigado como área potencial de trabalho para o FUNBIO, dentro do "Programa de Estudos Estratégicos". (FUNBIO, 2003) Uma das principais carências identificadas dizia respeito à capacitação profissional das comunidades nos destinos de ecoturismo. Em resposta a esse problema foi desenvolvido um programa de capacitação em “melhores práticas para o ecoturismo”, através do qual o FUNBIO pretende investir dois milhões de reais para capacitar sessenta monitores para atuarem como agentes multiplicadores das “melhores práticas”. (FUNBIO, 2003) O MPE até o momento capacitou duas turmas de monitores, formando 22 monitores em 2001 e 32 monitores em 2002, através de um curso realizado na Reserva da Vale do Rio Doce, em Linhares, durante dois meses contínuos de treinamento, com cerca de 360 horas/aula divididas em teoria e prática. (FUNBIO, 2003) Na etapa atual os monitores são enviados a destinos de ecoturismo apontados pelos parceiros: Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP, o Banco da Amazônia – BASA, EMBRATUR, e MMA, através da Secretária de Desenvolvimento Sustentável – SDS. Desta forma, identificou-se que são os parceiros do projeto que determinam as localidades em que devem ser enviados os monitores, para realizar a parte prática. Nestes locais, os monitores devem atuar junto às comunidades por um período médio de seis meses, e então recebem o certificado de monitor do MPE. (FUNBIO, 2003) No período em que os monitores estão estagiando são incumbidos, entre outras coisas, de realizar inventário e diagnóstico dos respectivos destinos. Assim, o programa busca atender demandas para tentar suprir as carências das destinações para buscar oferecer informações que melhorem os serviços para o desenvolvimento do ecoturismo nos respectivos destinos. (FUNBIO, 2003) Até o momento, são estas as ações de capacitação não formais de maior destaque para o desenvolvimento do ecoturismo no país. Outras de menor repercussão certamente estão ocorrendo por iniciativas de governos estaduais, municipais, ONGs e outras instituições, Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 132 porém delimitamos o estudo apenas àquelas que até o momento apresentaram maior repercussão no Brasil. Além destas ações outros fatores ainda deverão favorecer o aumento da demanda, tais como: maior ênfase à educação ambiental nas escolas, maior cobertura na mídia sobre problemas ambientais, maior apoio governamental ao desenvolvimento de atividades sustentáveis e proliferação de organizações não governamentais ambientalistas. Além do aumento do número de UCs, bem como de maiores investimento na preparação destas para receberem visitantes. Sabe-se que o aumento da demanda de visitantes por ambientes naturais e culturais conservados esta relacionado diretamente às unidades de conservação - UCs. O ecoturismo estabelece inter-relações cada vez mais estreitas com a conservação e a educação ambiental. No âmbito das unidades de conservação, essa aproximação é reforçada por uma decisão oficial, sensível à demanda de visitação do novo mercado e pelo aumento do número de visitas espontâneas que ocorrem a partir do início dos anos 90, expressa nas Diretrizes para uma política nacional de ecoturismo (Brasil, 1994). Entre as diretrizes expostas neste documento, encontrase a orientação da atividade ecoturística nas unidades de conservação, entre outras áreas. (DINES E BARROS, 2000, p. 48) No Brasil o desenvolvimento do turismo em unidades de conservação, principalmente nos Parques Nacionais, e atualmente de forma mais acentuada a atividade de ecoturismo e educação ambiental, passa a ser alvo de preocupação nas análises, documentos e ações que são realizadas no meio acadêmico, órgãos governamentais relacionados direta e indiretamente com a gestão das áreas protegidas, ONGs, e associações representativas da sociedade civil organizada e principalmente de comunidades que passaram a sofrer pressões pela criação de Parques, Estações Ecológicas, entre outras categorias de unidades nas quais a permanência de populações humanas, ainda que sejam comunidades tradicionais, não estão contempladas no território a ser estabelecido como unidade de conservação. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 133 CAPÍTULO – 6 – ECOTURISMO NO BRASIL E PERU: ANÁLISE COMPARATIVA Como se pode verificar nas pesquisas bibliográficas, o primeiro passo para o desenvolvimento do ecoturismo em qualquer parte do mundo é o estabelecimento de diretrizes que norteiem a elaboração uma política e a partir desta o desenvolvimento de planos para o setor, uma definição clara de conceitos e elaboração de um arcabouço legal que respalde a integridade dos recursos ambientais e culturais utilizados. Neste sentido o Brasil está à frente, pois como foi demonstrado possui desde 1994 suas “Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo”, onde se encontra uma definição clara do conceito. Possui uma legislação ambiental bem abrangente, embora com deficiente fiscalização e controle de sua aplicação. Como foi apontado, no Peru não foram feitos, até o momento, inventários, diagnósticos e planos com enfoque para o ecoturismo, enquanto no Brasil entre outros, o Programa Pólos de Ecoturismo e o Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo para a Amazônia Legal PROECOTUR vem realizando estes trabalhos. Tanto no Brasil como no Peru faltam pesquisas de mercado específicas sobre ecoturismo, que possam definir melhor o perfil do ecoturista, seus gostos e preferências, os destinos concorrentes e outras informações que possam subsidiar a iniciativa privada a tomar decisões de mercado, aos próprios gestores públicos tomarem decisões de manejo e até mesmo nortear ações do terceiro setor. Em ambos os países não se identificam estratégias de marketing voltadas à consolidação destes, como destinos apropriados para a prática do ecoturismo. Para o mercado internacional em geral, o Peru continua como destino de turismo histórico-arqueológico e o Brasil como destino de “sol e praia”. Verifica-se que não existem políticas de incentivo à pesquisa sobre a fauna e flora que constituem, em ambos os países, significativo diferencial para atratividade deste segmento de mercado. Em relação as unidades de conservação, como será discutido abaixo verifica-se uma porção significativa dos territórios nacionais sob regime de proteção, contudo na prática faltam recursos para equipar as unidades com materiais e pessoal capacitado para receber os Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 134 ecoturistas. Atualmente, no Brasil, boa parte das UCs, estão com seus planos de manejo sendo elaborados ou concluídos. Não foi possível identificar nas pesquisas realizadas sistemas de informação especializados em ecoturismo que orientassem os ecoturistas em relação à roteiros, empreendimentos especializados, agências e outros. Por outro lado foram identificados poucos empreendimentos que trabalham dentro dos princípios do ecoturismo tanto no Brasil como no Peru. No Peru o número de aeroportos internacionais é muito pequeno, sendo apenas Cusco Iquitos e Jorge Chaves, porém, na prática, somente este último opera com este tipo de vôo. Neste aspecto o Brasil está bem melhor estruturado apresentando 25 aeroportos internacionais dentre os 65 aeroportos que possui. Deve-se, contudo considerar que, neste caso a dimensão territorial é um fator relevante, porém mesmo considerando que o Brasil é quase sete vezes maior que o Peru, estabelecendo-se uma proporção entre o número de aeroportos internacionais e a extensão territorial dos respecitvos países identifica-se vantagem favorável ao Brasil em termos de infra-estrutura aeroportuária. (PRIMER,2002) (INFRAERO, 2003) Pode-se verificar deficiência na qualidade da prestação de serviços relacionados ao ecoturismo, sabe-se da carência de capacitação profissional nas localidades de destino e grande concentração de oferta nos grandes centros urbanos, o que ocorre em ambos países. No entanto a oferta de capacitação no Brasil é consideravelmente maior, mesmo tomando em conta a diferença numérica entre a população brasileira e peruana. Tendo-se como parâmetro os cursos de nível superior no Brasil, foram identificados nos levantamentos realizados para este trabalho, um total de, 467 instituições que oferecem cursos em turismo e no Peru são apenas 35. Destaca-se ainda que no Brasil já há uma ampla oferta de cursos específicos para ecoturismo, são inúmeros cursos de especialização em ecoturismo e cursos técnicos entre outros, enquanto no Peru só duas instituições oferecem cursos, uma em nível de mestrado e outra como curso técnico. Em relação as ações de capacitação não formal para o ecoturismo, no Brasil as maiores iniciativas são governamentais, enquanto no Peru este papel tem sido exercidos pelas ONGs. Não foram identificadas no Peru, ações com a abrangência similar às experiências brasileiras relatadas neste trabalho. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 135 Em função de todos os aspectos relatados verifica-se que o desenvolvimento do ecoturismo no Brasil está bem à frente em relação ao Peru, porém em ambos os casos o ecoturismo ainda é constituído de destinos, empreendimentos e prestadores de serviços isolados como exemplos, porém não há consciência coletiva com relação à importância de uma operação sustentável dentro do ecoturismo, nem tão pouco, destinos consolidados como ecoturísticos no mercado internacional, embora verifique-se uma forte tendência, principalmente para consolidação da Amazônia e Pantanal no Brasil e Amazônia peruana. Em relação ao turismo mundial em geral, a América do Sul ainda representa uma pequena fatia do mercado, como se pode identificar na tabela 12, ficando com apenas com a décima parte do volume de chegadas internacionais. Desta parte, o Brasil fica com cerca de 20% e o Peru com algo em torno de 5%. A Argentina e o Uruguai superam o Brasil em número de turistas internacionais e o Peru recebe um número cerca de cinco vezes menor do que o Brasil, que embora demonstre estar bem à frente neste aspecto, sabe-se, que tanto quanto o Peru possui enorme potencial a ser explorado, porém para tanto, serão necessários muitos investimentos em: planejamento, infra-estrutura, promoção e capacitação até que sejam conquistados padrões internacionais na prestação de serviços turísticos. Chegada de Turistas Internacionais por País de Destino Turistas Internacionais (1.000) Ano(s) Mundo América do Sul Argentina Bolívia BRASIL Chile Colômbia Equador Guiana Francesa Guiana Paraguai PERU Suriname Uruguai Venezuela 1990 457.306 7.892 1.930 254 1.091 943 813 362 64 280 317 48 1.267 525 2000 696.793 15.432 2.991 5.313 1.742 530 615 75 221 1.027 1.968 469 Fatia do Mercado 1995 10,8 2,1 0,3 1,8 1,4 1,3 0,4 0,1 0,4 0,5 0,0 1,9 0,6 1999 12,4 2,4 0,3 4,2 1,3 0,4 0,4 0,1 0,1 0,2 0,8 0,0 1,7 0,5 Taxa de Crescimento 99/98 3,8 -2,1 -3,8 -21,2 6,0 -7,8 -19,0 -0,4 2,9 10,3 -23,1 15,1 3,6 -4,2 -14,3 00/99 7,4 2,2 3,2 4,0 7,4 -2,9 20,8 -17,8 8,8 -5,1 -20,1 Crescimento no Período 99/95 4,3 6,4 6,1 4,8 26,6 1,3 -21,0 3,7 -8,3 -11,5 14,9 7,3 0,6 .4,3 Tabela 12 – Chegada de Turistas Internacionais por País de Destino. Fonte: WTO, 2003. Uma das similaridades entre Brasil e Peru é que ambos possuem a maior parte de seus territórios cobertos pela maior floresta tropical do planeta, a Floresta Amazônica. No Peru, assim como no Brasil, esta floresta sofre ameaças de diversos tipos: desmatamento, expansão da fronteira agrária, pasto para pecuária extensiva, extração de madeira, contaminação de Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 136 fontes de água, terra e ar devido a derramamentos de óleo, e uso de mercúrio para mineração de ouro. (CONSERVATION, 1999) Das características mais importantes destes países para indicá-los como potenciais para o desenvolvimento do ecoturismo, está a megadiversidade biológica existente. Sabe-se que o ecoturista procura o contato com ambientes naturais conservados e, a diversidade de seres vivos encontrados nestas áreas, constitui-se em forte atrativo ecoturístico. A tabela 13 nos permite verificar a diversidade de espécies expressa em vários grupos de seres vivos com destaque para o Brasil e o Peru. Mamíferos Indonésia México BRASIL Zaire China PERU Colombia India 515 449 428 409 394 361 359 350 Aves Colômbia PERU BRASIL Indonesia Ecuador Venezuela Bolivia India Anfíbios 1721 1 701 1 622 1 519 1 447 1 275 1 250 1 200 BRASIL Colombia Equador México Indonésia China PERU Zaire 516 407 358 282 270 261 251 216 Répteis México Australia Indonésia BRASIL Índia Colombia Ecuador PERU 717 688 600 467 453 383 345 297 Plantas Com Flores BRASIL Colombia China México Austrália África do Sul Indonésia PERU 55 000 45 000 27 000 25 000 23 000 21 000 20 000 20 000 Tabela 13 – Comparação de variedade de espécies entre países megadiversos. Fonte: MCNEELY et al, 1990 apud PRIMER, 2002, p. 24. A megadiversidade destes dois países não se restringe a área ambiental, pois em termos culturais a diversidade também é enorme, o Peru se destaca neste aspecto por ser herdeiro de culturas milenares como a incaica e por possuir um patrimônio arqueológico mundialmente conhecido. Embora para o ecoturismo sejam atrativos complementares, pois, no caso do ecoturismo as principais motivações são mesmo ambientais, e neste sentido, ambos possuem um patrimônio sem igual em todo o mundo. Ao longo do último século muitas nações estabelecem em seus territórios áreas naturais destinadas à conservação ambiental, frente aos acelerados avanços advindos da urbanização gerando degradação do meio ambiente, pela exploração dos recursos naturais renováveis e não renováveis, ou ainda pela migração das populações humanas para ocupação de novas áreas, principalmente aquelas destinadas à agricultura. As nações tem criado áreas protegidas para conservação dos recursos naturais que se constituem em patrimônios ambientais de toda a comunidade planetária. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 137 6.1 – HISTÓRICO DA CRIAÇÃO DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO Segundo Le Preste, a transformação de espaços territoriais em propriedades públicas destinadas a conservação ambiental está baseada no poder exercido pelos Estados para conter a lógica da destruição dos bens comunais e utilizar sua autoridade para preservação dos recursos naturais. Ao passar o regime de propriedade privada ou comum para pública deveria eliminar os estímulos a exploração desses recursos, e reduzir os problemas advindos da degradação ambiental, baseada na lógica da criação de parques nacionais, estaduais e municipais. A transformação de propriedades públicas na implantação de parques foi pioneira nos EUA. (LE PRESTE, 2000, p. 54) Esta transformação inicia-se mais pontualmente com a criação do Parque Nacional de Yellowstone, em 1o de março de 1872, pelo Congresso norte-americano, e reconhecido como modelo mundial de área protegida. Este modelo foi baseado principalmente por teóricos como Thoreau e Marsh, que integravam o movimento de criação de ‘áreas naturais’ para preservação das florestas, pela crescente degradação de florestas norte-americanas, em conseqüência da ocupação humana por colonos a oeste do país, e o uso dos recursos por mineradoras e madeireiras. “Marsh, em 1864, havia publicado em livro chamado Man and Nature, amplamente divulgado e discutido nos Estados Unidos, onde demonstrava que a onda de destruição do mundo natural ameaçava a própria existência do homem sobre a Terra.”. Assim, no modelo norte-americano o homem era visitante e não morador, as populações inseridas nestas áreas deveriam ser transferidas, neste modelo às áreas não deveriam ser habitadas permanentemente. (MACCORNICK, 1992 apud DIEGUES, 1994, p. 22) Desta forma, o Estado que utiliza este modelo de unidade de conservação passa a ter a posse do território e ser, na maioria das vezes, o gestor de áreas naturais protegidas e implica diretamente em disponibilizar recursos vultuosos para indenizar antigos moradores. Inserido no contexto mundial o Brasil iniciou, em 1937, a transformação de territórios públicos e privados em unidades de conservação – UCs, seguindo o modelo norte-americano, com a criação do Parque Nacional de Itatiaia, no Rio de Janeiro. Quase 70 anos após o projeto inicial de André Rebouças, surge o Parque Nacional de Itatiaia (RJ) – criado com o objetivo de ‘além das suas finalidades de caráter científico [...] atender às de ordem turística[...]’ – embasado no Código Florestal de 1934, Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 138 que estabeleceu os primeiros conceitos para Parques Nacionais, Florestas Nacionais e Florestas Protetoras. (COSTA, 2002, p. 18) Na defesa da criação do Parque Nacional de Itatiaia, já em 1911, Hubmayer declarou na SOCIEDADE BRASILEIRA DE GEOGRAFIA, no Rio de Janeiro, que aquele parque nacional ‘sem igual no mundo, estaria às portas da bela capital, oferecendo portanto, aos cientistas e estudiosos, inesgotável potencial para as mais diversas pesquisas, além de oferecer um retiro ideal para a reconstituição física e psicológica após o trabalho exaustivo nas cidades. Outrossim, apresentaria fonte de satisfação a excursionistas e visitantes curiosos dos atrativos da natureza local’. (PÁDUA E FILHO apud DIEGUES, 1994, p. 103) Os problemas relacionados às questões fundiárias na maioria dos parques brasileiros ainda não foram solucionados, passados mais sete décadas desde o início da criação de parques nacionais brasileiros. A importação do modelo norte-americano com exclusão das populações humanas das áreas naturais protegidas estendidas aos estados brasileiros também foi criticada em âmbito regional, como pode ser verificado abaixo. [...] A apropriação recente dos ambientes litorâneos paulistas se deu num momento político peculiar do país, quando a sociedade civil e o próprio Estado passariam a incorporar um discurso preservacionista. Durante toda a década de 1970, por meio de vários decretos, as instituições voltadas para a preservação da serra do Mar e de seus recursos foram se transformando em leis efetivas. [...] Foram criados parque, reservas e outras unidades de proteção integral. A mentalidade preservacionista do poder público se refinou no mesmo período em que ocorreu a ocupação desenfreada da serra das baixadas litorâneas. É uma constatação positiva, embora a efetivação das normas estabelecidas esteja sendo, muitas vezes, atropelada pela falta de fiscalização e pela falta de critérios que incorporem o homem ao seu meio ambiente, valorizando uma identidade cultural que faz parte da ‘memória’ da região. A própria Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA) constata que, ao se apressar em deter agressões ao meio ambiente, ‘reproduziu um estilo autoritário de intervenção, dando a impressão de conceder a prioridade à preservação dos recursos naturais, da flora e da fauna em detrimento do elemento humano nele já integrado’ (Relatório do PTA/ fase 1989). Esses critérios estão sendo revistos, criticados e, no limite, a própria sociedade (lideranças intelectuais, ecologistas, colônia de pescadores, associação de artesãos, de moradores e outros) têm se mantido atentas, para que a reformulação dos mesmos possibilite a sobrevivência do meio ambiente e das populações caiçaras. (LUCHIARI,1997, p. 72) Mesmo com muitas dificuldades na gestão das áreas naturais o governo brasileiro não retrocedeu na política pública federal quanto à gestão das áreas naturais por comunidades tradicionais. Mas, no final do século XX o governo viu-se pressionado a contemplar UCs com Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 139 inclusão de populações tradicionais em sua área. Como é o caso de Reservas Extrativistas e Reservas de Desenvolvimento Sustentável. A estratégia estabelecida entre atores sociais49 viabilizou a implementação desta categoria de unidade de conservação com a presença de populações humanas, sendo resultado de uma aliança conservacionista. O Conselho Nacional dos Seringueiros optou, em 1986, frente às possibilidades constitucionais existentes no país pela ‘propriedade da União’ e ‘usufruto coletivo exclusivo da terra’, foi baseada na situação jurídica das terras indígenas que seria contemplada na Constituição de 198844. Para os seringueiros a criação de uma unidade de conservação estava baseada na garantia da questão agrária e sindical destas populações, como um mecanismos de resistência pela decadência da atividade econômica estruturada em antigos seringais associado a ausência de títulos da terra. Pois, os seringueiros estavam suscetíveis a expansão das fronteiras agrícolas, contrários a derrubada da floresta por fazendeiros e especuladores, provenientes principalmente na década de setenta, da região sul e sudeste, que identificaram no Acre terras baratas. (CUNHA E ALMEIDA, 2001, p. 189) A criação das Reservas Extrativistas representa um grande passo para compatibilizar desenvolvimento e conservação do meio ambiente, é fruto da luta liderada por Chico Mendes contra o desflorestamento da Amazônia. Em entrevista à Linda Rabbin, em Xapuri no Acre, em 26 de julho de 1988 ele manifesta seus desejos e sua alegria pela criação desta categoria de UC45: Meu sonho é ver toda essa floresta preservada, conservada, porque nós entendemos que ela é a garantia de todo o futuro dos povos da floresta. E não é só isso. Nós não queremos, nós estamos conscientes de que a Amazônia, ela não pode ser intocável. Agora nós acreditamos que com as Reservas Extrativistas, [...] basta que o governo leve a sério a proposta dos seringueiros e dos índios, que eu acredito que em poucos anos a Amazônia poderá se transformar em uma região economicamente viável, não só para nós, mas para o país e para toda a humanidade, para todo o planeta. Agora a sua destruição, eu acho que significa o genocídio de todos nós, que moramos nessas matas e com repercussão negativa para o resto do país e para a própria 49 Dentre eles destacam-se militantes das delegacias sindicais da floresta, lideranças do Conselho Nacional dos Seringueiros - CNS, pesquisadores, assessores, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico - BNDE, a Procuradoria-Geral da República e algumas Ongs brasileiras e estrangeiras. (CUNHA E ALMEIDA, 2001, p. 188) 44 A definição de terra indígena segundo o artigo 231, Constituição de 1988, inclui os espaços de habitação, as áreas cultivadas, e os espaços destinados a “preservação dos recursos ambientais necessários ao bem-estar dos povos indígenas, bem como da terra necessária para sua reprodução física e cultural, em conformidade com seus hábitos, costumes e tradições”. (CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA – apud CUNHA E ALMEIDA, 2001, p. 188) 45 Depoimento reproduzido na defesa de tese de doutorado de Mary Helena Allegretti, na sede do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília – UNB em 18 de dezembro de 2002. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 140 humanidade.[...]Esse é o meu sonho! É ver a Amazônia livre dos fazendeiros , livre da motoserra, livre do fogo devorador. Esse é o meu sonho! Em 23 de janeiro de 1990 foi criada a Reserva Extrativista do Alto Juruá, pelo Decreto n°98.863. Era a primeira unidade de conservação desse tipo, um território de meio milhão de hectares que passaria do controle de patrões para a condição jurídica de terra da União destinada ao uso fruto exclusivo de moradores, por meio de concessão, e cuja administração poderia ser por lei realizada pelos convênios entre governo e s associações representativas locais. (CUNHA E ALMEIDA, 2001, p. 188) Existe uma resistência muito grande por parte dos “preservacionistas” que acreditam que não é possível compatibilizar a presença humana em áreas destinadas à conservação e os conservacionistas, rotulados pelos primeiros como “socioambientalistas”, que defendem que algumas comunidades tradicionais são de fato as verdadeiras responsáveis pela conservação destas áreas e, portanto, devem nelas permanecer. No Peru, mesmo dentro da categoria de Parques Nacionais é permitida a manutenção de comunidades, não sendo permitida a permanência daqueles que não tenham ocupado ancestralmente estes territórios. Esta é uma longa polêmica que ainda será alvo de grandes discussões, porém de acordo com Dourojeanni e Pádua, (2001, p. 229), “o ‘socioambientalismo’ e o ‘ambientalismo’ não podem continuar dando o triste exemplo de gladiadores ou galos de briga no meio da arena, estimulados a lutar para que outros, neste caso os ‘desenvolvimentistas’, especialmente os que não tem escrúpulos, se locupletem às suas custas. A desunião entre os que desejam conservar a natureza, por uma via ou outra, só beneficia os que só têm interesse em ganhar mais dinheiro.” Observa-se que o entendimento da expansão do território nacional brasileiro inserido em UCs, ainda persegue a indicação do PNUMA, da necessidade de garantir um mínimo de manutenção da biodiversidade com a proteção de cerca 10% do Planeta, distribuídas proporcionalmente em áreas protegidas em proporção similar em cada nação ou ambiente natural específico, como é o caso da Floresta Amazônica ou o Cerrado brasileiro, entre outros biomas. (CUIDANDO, 1993:XII) A lista oficial das Nações Unidas das Áreas Protegidas mexe com o orgulho das nações. Cada país procura estar na lista com o maior número de áreas e também atingir o percentual proposto pela UICN. Contudo não basta decretar novas unidades de conservação, há que se criar mecanismos para sua sustentabilidade. (DOUROJEANNI E PÁDUA, 2001, p. 59) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 141 Este percentual foi incorporado como ideal para conservação de ambientes naturais, e indicado em projetos por ONGs internacionais, com representação no Brasil, como pode ser verificado abaixo em projeto para a Amazônia brasileira em campanha da World Wildlife Fund – WWF. A campanha do WWF que originou este compromisso (a autora referese ao compromisso do governo brasileiro em proteger as florestas tropicais brasileiras, e em especial ao Projeto Áreas Protegidas da Amazônia – ARPA) fixou como meta converter dez por cento da Amazônia em unidades de proteção integral, proposta endossada pelo ministro do Meio Ambiente anterior. Entretanto, tal meta vem sendo, desde seu princípio, questionada por governos estaduais e por organizações não governamentais sociais e ambientalistas, sob o argumento de que a modalidade de cada unidade de conservação a ser criada deve ser definida por meio de consulta pública e considerar as características de cada região. (ALLEGRETTI, 2001, p. 01) Atualmente, verifica-se em diversos países a intenção de alcançar este percentual de proteção, como é o caso do Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, o Brasil possui atualmente próximo de 6,3% do território nacional em UCs. Verificou-se que, em 1993, havia cerca de 2,4% do território em áreas protegidas, em uma única década este percentual chega quase a triplicar, fato anteriormente não ocorrido no Brasil, o que demonstra um maior interesse do governo brasileiro em expandir estas áreas como um mecanismo de proteção dos biomas brasileiros. (IBAMA, 2002) No Brasil a partir do ano de 2002 a regulamentação de um Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC favorece o exercício do Estado em gerir suas áreas naturais protegidas, em alguns casos em parceria com comunidades tradicionais legalmente ou não inseridas em UCs. 6.2 – UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO BRASIL Identifica-se que a regulamentação do Decreto N°4.340, de 22 de agosto de 2002, regulamenta a Lei N°9.985, de 18 de julho de 2000, e o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, que tem como propósito maior estabelecer os critérios e as normas federais para a criação, implantação e gestão das UCs. Este sistema pode ser Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 142 considerado um avanço na política nacional brasileira como um mecanismo que contribua para a conservação dos recursos naturais. Identificam-se significativas dificuldades de gerenciar um sistema nacional para UCs como o SNUC, principalmente quando se trata de áreas com elevadas dimensões territoriais. Na categoria de parques nacionais temos como exemplo, o recém criado Parque Nacional de Tumucumaque, com cerca de 3,8 milhões de hectares, no estado do Amapá, atualmente considerado o maior parque do mundo. No bioma da Amazônia, encontram-se também com significativa dimensão territorial, os Parques Nacionais do Jaú e do Amazonas, ambos no estado do Amazonas, cada parque abrange mais de 2,2 milhões de hectares. Assim, verifica-se que em apenas três parques, dos onze parques existentes no bioma da Amazônia, uma dimensão territorial com percentual superior a cinqüenta dos territórios nesta categoria de unidade de conservação deste bioma. Totalizando uma área destinada a proteção integral em parques nacionais de aproximadamente 12,4 milhões de hectares, acrescentando as demais categorias de proteção integral alcança um território a ser protegido de cerca de 18 milhões de hectares, sendo em espaço o Bioma mais representativo em área protegida no Brasil, com as UCs criadas até o final do ano de 2002. (IBAMA, 2002) A tabela 14 - Extensão dos biomas brasileiros em UCs federais, por período de criação. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO PROTEÇÃO INTEGRAL BIOMAS ÁREA HA PERÍODO USO ÁREA HÁ SUSTENTÁVEL PERÍODO Amazônia 18.047.934,52 de 1974 a 2002 22.173.942,20 de 1961 a 2002 Cerrado 3.304.258,78 de 1959 a 2002 1.395.058,66 de 1983 a 2002 Mata Atlântica 937.864,59 de 1937 a 2002 2.349.867,08 de 1968 a 2002 Caatinga 288.439,20 de 1979 a 2002 1.141.854,32 de 1946 a 2001 Costeiro 171.729,08 de 1981 a 2002 546.054,63 de 1984 a 2002 Marinho 144.290,75 de 1979 a 1990 94.783,00 de 1984 a 1996 Campos Sulinos 45.164,63 em 1986 318.000,00 em 1992 Pantanal 11.200,00 em 1981 0,00 - Caatinga - Cerrado 559.211,00 de 1998 a 1999 0,00 - Caatinga - Mata Atlântica Caatinga - Amazônia 160.790,60 de 1985 a 1990 0,00 - 13.988,00 de 1969 a 1971 0 - 9.280,00 em 1992 135.000 em 1981 0,00 - 0 - 4.344,33 em 1968 33.928 em 1989 368.384,00 de 1984 a 1993 Cerrado - Amazônia Cerrado - Pantanal Cerrado – Mata Atlântica Mata Atlântica – Costeiro Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação de 1992 a 1996 Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 143 Marinho - Mata Atlântica 0 - 156.100,00 em 2000 Não identificado 0 - 450,59 2002 Total de UC - Proteção Integral em HA 23.853.799,15 30.150.668,81 Tabela 14 – Análise da extensão territorial das UCs de proteção integral e uso sustentável por bioma por período de criação das UCs no Brasil. Fonte: COUTINHO, 2003. O fato de uma área ser declarada como Unidade de Conservação, não garante, por si só, a sua integridade, dependendo para tanto da implementação de uma política de gestão que equacione as questões fundiárias, administre a possibilidade de compatibilizar a conservação com o desenvolvimento, fiscalize, monitore, desenvolva ações de educação ambiental e investimentos em infra-estrutura e serviços que garantam sua proteção efetiva e o bem estar das populações envolvidas. Los sistemas de áreas protegidas son particularmente importantes para el desarrollo sostenible de los países suramericanos, puesto que constituyen una de las formas más eficaces de alcanzar muchos objetivos de conservación prioritarios. Quizás su objetivo más importante es mantener una representación de la diversidad natural de cada país, aunque también aseguran el funcionamiento de procesos ecológicos y regulan el clima. También brindan a la sociedad un sinnúmero de beneficios sociales, culturales, ecológicos y económicos directos e indirectos. [...] En las últimas décadas, en América del Sur, ha habido cada vez menos áreas naturales intactas que proteger e incorporar a los sistemas nacionales. Esto se debe al continuo crecimiento demográfico, la expansión de las fronteras agrícolas, y la industrialización y la urbanización. Todos estos factores contribuyen a la modificación acelerada del paisaje y a la destrucción del medio ambiente [...]. (CUIDANDO, 1993, p .131) O desenvolvimento do ecoturismo está intrinsecamente relacionado com as UCs, embora o objetivo primordial destas UCs seja a própria conservação, identificando a possibilidade de servirem à visitação pública e desta forma gerarem diversos benefícios. Segundo Wallace, (1997, p. 142) “Usar y proteger no es una contradicción de términos, es un solo concepto con dos componentes simbioticos”. Dentre os principias motivos dessa relação entre ecoturismo e UCs está o fato de que estas áreas guardam o ambiente natural conservado, possibilitando ao visitante um raro contato com fauna e flora que, de modo geral, não se pode encontrar nos ambientes urbanos, de onde se originam a maior parte dos visitantes de UCs. Segundo Heras (1999:277) dentre os principais motivos que contribuem para a consolidação do ecoturismo estão a possibilidade do Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 144 contato com espécies, como grandes primatas, felinos e outros mamíferos ameaçados de extinção, que muitas pessoas querem ver em liberdade. Especialmente aquelas capazes de produzir o que se chama “efeito galápagos”, quanto mais rara é uma espécie, animal ou vegetal maior o interesse há por vê-la. O ecoturismo não é exclusivo de áreas naturais protegidas, e não está, portanto, restrito a elas. O que ocorre é que os espaços reconhecidos juridicamente como proprietários de valores ecológicos importantes, despertam maiores interesses do ecoturista, oferecendo ainda a segurança de que seus recursos, ao menos na teoria, serão conservados, pois existe uma legislação que os protege. (HERAS, 1999, p. 73) A maior parte das UCs, de proteção integral são criadas sob critérios de proteção dos recursos biológicos e não sob critérios ecoturísticos ou sócio-culturais o que leva muitos gestores a rechaçarem a idéia de incrementar a visitação nas unidades sob sua gestão. Alegam que as UCs não estão preparadas para receber visitantes, que não possuem infra-estrutura, recursos humanos em número e capacitação adequados, equipamentos e recursos financeiros para que possam exercer um manejo capaz de garantir a integridade da área. Baseiam-se ainda, em diversos exemplos de destinações que foram negativamente impactadas pela visitação pública. Contudo, verifica-se que quando há planejamento e quando as áreas são devidamente equipadas e preparadas, o ecoturismo pode ser um forte aliado para a manutenção da própria integridade destas. Barros II, 1997, pergunta: as áreas protegidas são “protegidas de quem e para quem?” Esta pequena, mas complexa indagação, caracteriza-se em uma provocação do autor ao Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, chama a atenção dos preservacionistas para o fato de que: se o ser humano é parte da natureza, seria incompatível a conservação destas UCs e o seu uso público? Acredita-se que as ameaças de degradação nas UCs são passíveis de controle, e que os benefícios podem ser maximizados através do manejo adequado dessas áreas. De acordo com Wallace (1997, p. 143) “podemos permitir la visitación y otros usos en las unidades de conservación cuando tenemos la capacidad de manejo”. Existem diversas técnicas capazes de possibilitar ao gestor da Unidade minimizar os impactos causados pela visitação e através da aplicação destas, poderão: modificar as Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 145 expectativas e o comportamento do visitante, aumentar a capacidade de carga46 da área visitada, monitorar a visitação para evitar a super-exploração dos recursos. Dentre as ferramentas a disposição do gestor para minimizar os impactos negativos da visitação estão: a restrição ao tamanho dos grupos, ao tráfego de veículos, a algumas atividades que ofereçam maior dificuldade de monitoramento, ao acesso, sinalização, alertar sobre o nível de dificuldades das trilhas, só permitir algumas atividades com o acompanhamento de monitores, fiscalização eficiente. Cabe ao gestor, estabelecer as regras específicas da Unidade e fazer cumprir as regras gerais para usuários e concessionários. De todas, a ferramenta de manejo que tem se mostrado mais profilática é a educação ambiental de visitantes e a capacitação dos recursos humanos da Unidade. Um trabalho eficiente poderá inclusive ampliar as capacidades de cargas dos atrativos, uma vez que o comportamento do grupo é tão ou mais importante do que o número de seus componentes. Segundo o próprio IBAMA, O estabelecimento de uma relação equilibrada entre custo e benefício da visitação fundamenta-se em um eficaz processo de administração das UCs, que preveja programas de educação, informação e interpretação disponibilizadas aos visitantes, assim como na implantação de programas de desenvolvimento sustentável para o entorno das UCs e, ainda, em coerentes decisões políticas. (IBAMA, 2002) Embora existam diversas técnicas para que o gestor possa manter sob controle os impactos gerados pela visitação pública, além dos trabalhos de educação ambiental e capacitação, é fundamental para garantir que a visitação pública não gere impactos significativos e que não seja ultrapassada a capacidade de carga do ambiente visitado, monitorar e avaliar constantemente os locais de visitação. Deve-se considerar que a natureza é extremamente dinâmica e pode alterar periodicamente a capacidade de carga dos locais de visitação de acordo com as condições climáticas, comportamento da fauna e da flora. Se bem planejada e administrada, a visitação em UCs pode gerar diversos benefícios: • Sócio-Econômicos – gerar recursos através de ingressos, taxas de concessões, comércio e impostos gerando retorno para as comunidades e para a própria conservação. 46 “Número máximo de pessoas que podem utilizar um local sem causar alterações inaceitáveis num ambiente físico (psicológico, social, histórico e econômico e sem declínios sensíveis a qualidade da experiência adquirida pelo visitante” (MATHIELSON E WALL, 1982) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira • 146 Ambientais – nas áreas visitadas o próprio visitante pode contribui com a fiscalização, impedindo a exploração ilegal da fauna e flora silvestres. • Educativo – desenvolvimento de trabalhos de educação ambiental com estudantes e visitantes em geral. • Científico – estimular e desenvolver pesquisas científicas. • Culturais – viabilizar a conservação de heranças e tradições culturais. Por outro lado, são diversas as ameaças de impactos pela visitação pública: • Econômicas – gerar inflação. • Ambientais – impactos pela compactação do solo, erosão, lixo, poluição dos cursos d’água, poluição do ar pelo excesso de fumaça de veículos. • Culturais – Descaracterização de festas, costumes e tradições locais. A capacidade de manejo implica em dispor de infra-estrutura e equipamentos, do número adequado de funcionários em função da extensão, da complexidade da área e, sobretudo de uma equipe devidamente treinada e capacitada para gestão da Unidade de conservação. Segundo informações do IBAMA, no Brasil dos 52 parques federais existentes, apenas cerca de 23 estão recebendo visitação pública atualmente. Poucos parques são capazes de gerar receita significativa através da visitação pública. Em termos de UCs sob administração federal do IBAMA, a principal exceção é o Parque Nacional de Foz do Iguaçu, que recebe entre 800 mil e 1 milhão de visitantes por ano, contudo, deve-se considerar que possui um dos maiores atrativos do mundo, as Cataratas do Iguaçu e, atualmente, possui uma das melhores infra-estruturas instaladas. (IBAMA, 2003) Os dez Parques Nacionais mais visitados no Brasil são em ordem decrescente do número de visitantes: Foz do Iguaçu, no estado do Paraná; Tijuca, no estado do Rio de Janeiro; Brasília, no Distrito Federal; Itatiaia, no Rio de Janeiro; Chapada dos Guimarães, no estado do Mato Grasso; Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro; Marinho de Fernando de Noronha, estado de Pernambuco; Caparaó, que abrange territórios dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo; Aparados da Serra, no estado do Rio Grande do Sul; e Marinho de Abrolhos, no estado da Bahia. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 147 No Brasil um exemplo de projeto que atraí grande atenção de visitantes é o Tamar Tartarugas Marinhas. O Projeto Tamar junto com a Fundação Pró-Tamar, monitora mil quilômetros de praia, com 20 bases cobrindo oito estados brasileiros. 90% das pessoas envolvidas nesse trabalho são membros das comunidades onde as bases estão instaladas. Institucionalmente é ligado institucionalmente ao IBAMA, tendo uma empresa petrolífera estatal, a PETROBRAS como seu principal patrocinador. Ao contribuir para o desenvolvimento do ecoturismo nas regiões do Brasil onde está presente, o Tamar produz mais uma alternativa de divulgação do projeto e gera recursos para ajudar a financiar seu trabalho de pesquisa e conservação. (PROJETO, 2002) Diversas bases do projeto TAMAR ficam dentro de UCs. Algumas estão mais estruturadas para visitação, incluindo tanques para observação das tartarugas e loja para a compra de souveniers. Pode-se verificar o elevado potencial do ecoturismo na geração de receita para as unidades de conservação, analisando-se o Sistema Nacional de Parques dos Estados Unidos. Este é formado por 376 áreas protegidas que recebem, por ano mais de 270 milhões de visitantes e geram uma receita de 10 bilhões de dólares e 200.000 empregos. (MITRAUD,1999) Apesar da popularidade que tem atualmente em determinadas regiões, o ecoturismo, se mal planejado e administrado, também pode ter muitos efeitos negativos. Uma das maiores dificuldades é a falta de controle sobre forças externas, condições sobre as quais, as autoridades da área protegida não têm nenhum controle. O turismo como fonte de ingressos está sujeito a muitas flutuações, algumas das quais podem ser significativas. O ecoturismo é uma atividade extremamente suscetível a todo tipo de influências. A simples notícia da ocorrência de uma doença com potencial endêmico, por exemplo, pode levar um destino a não receber visitantes por longos períodos. Outro problema crônico no turismo é a sazonalidade, ainda que no ecoturismo este seja um aspecto muito menos importante do que no caso do turismo de praia ou de montanha, que ocorrem basicamente, respectivamente no verão e inverno gerando grandes transtornos para os envolvidos. Em função disto os gestores destas áreas não devem enxergar o ecoturismo como a única possibilidade de geração de recursos econômicos e sim mais uma dentre outras fontes. Da mesma forma, deve ser enfocado pelas comunidades que vivem dentro ou no entorno Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 148 destas Unidades, especialmente para que estas não fiquem exclusivamente dependentes desta atividade, a melhor estratégia é diversificar as atividades econômicas. Mapa 8 - Unidades de Conservação Federais no Brasil. 47 Fonte: IBAMA, 2003. A tabela 15 abaixo demonstra a extensão de áreas protegidas em UCs federais, por tipo de uso em relação à extensão territorial do Brasil em 854.546.152,91 Km2 Área das UCs % Parque Nacional 16.632.358,28 1,95 Estação Ecológica 3.660.881,54 0,43 128.521,00 0,02 3.431.927,23 0,40 110,70 0,00 23.853.799,15 2,80 Categoria de UCs de Proteção Integral Refúgio de Vida Silvestre Reserva Biológica Reserva Ecológica48 Sub-total em UCs de Proteção Integral 47 Nota Técnica: Situação em 03/01/2003. Área expressa em hectares. Cálculos efetuados através do software Arcview, projeção sinusoidal. Dados sujeitos a alterações em função do aprimoramento dos mapas digitais utilizados. As sobreposições entre as Ucs foram processadas incluindo-as na categoria de maior restrição.Baseia-se na malha municipal digital do Brasil de 1996, fornecida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Ibge, não inclui as ilhas oceânicas. 48 Sabe-se que a categoria de Reserva Ecológica não é mais contemplada pelo atual Snuc, mas suas áreas naturais já inseridas nesta categoria serão alocadas em outras categorias de unidade de conservação. Desta forma considera-se ainda áreas como território protegido pela União. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 149 Área das UCs % 7.568.861,00 0,87 70.686,12 0,01 Floresta Nacional 17.378.915,39 2,03 Reserva Extrativista 5.132.206,30 0,60 Sub-total em UCs de Uso Sustentável 30.150.668,81 3,52 Total Geral 54.004.467,96 6,32 Categoria de UCs de Uso Sustentável Área de Proteção Ambiental Área de Relevante Interesse Ecológico Tabela 15 – Extensão Territorial de UCs no Brasil. Fonte: IBAMA, 2003. RESEX 9% E.E. 7% PARNA 31% FLONA 35% RVS 0% ARIE APA 0% 12% REBIO 6% Gráfico 7 – Distribuição das Unidades de Conservação Brasileiras. Como pode ser observado há uma significativa proporção de categorias de unidades de conservação estabelecidas pelo SNUC como de proteção integral, em que a gestão das áreas naturais pelo Estado brasileiro contempla a possibilidade de visitação pública, mesmo com caráter mais restrito em educacional, com a exclusão destes territórios de comunidades tradicionais inseridas nestas áreas. Entretanto, observa-se ainda, que apesar das dificuldades encontradas já podem ser identificadas áreas naturais protegidas tendo como gestoras estas comunidades ou particulares. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 150 6.3 – O SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO BRASIL Em tese todas as categorias de UCs poderiam receber visitantes, porém algumas com mais restrições do que outras. De acordo com os diferentes objetivos de conservação o SNUC prevê diversos tipos de unidades, estas devem ser gerenciadas de maneiras diferentes, de acordo com seus planos de manejo, em função disto foram criadas diferentes categorias de manejo. 6.3.1 – AS CATEGORIAS DE PROTEÇÃO INTEGRAL Unidades de conservação de uso indireto: onde é restringido o aproveitamento direto dos recursos naturais, admitindo-se apenas o aproveitamento indireto dos seus benefícios. As unidades de proteção integral contemplam as categorias de Parque Nacional, Reserva Biológica, Estação Ecológica, Monumento Natural e Refúgio da Vida Silvestre. (BRASIL/ SNUC, 2002, p. 15) As UCs que mais se relacionam com o ecoturismo são os Parques. Estes podem ser excelentes atrativos para o ecoturista e de acordo com o SNUC está categoria prevê a visitação pública, porém indica que: “a visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração, e àquelas previstas em regulamento”, a mesma orientação é dada para as categorias de Monumento Natural e Refúgio da Vida Silvestre. (BRASIL/ SNUC, 2002, p. 16) Como o Plano de Manejo é um instrumento fundamental para a gestão os cinqüenta e dois Parques Nacionais existentes no Brasil verifica-se atualmente que vinte parques estão em processo de elaboração, re-elaboração ou previsão de elaboração de seus planos de manejo. Assim, dezessete parques apresentam seus planos ainda vigorando, e catorze restantes não possuem planos, ainda sem previsão de elaboração dos mesmos. Desta forma, distancia-se estas UCs, de maior potencial para o ecoturismo, de realizarem atividades de visitação pública. (IBAMA, 2003) As categorias de Reserva Biológica e Estação Ecológica possuem maiores restrições às visitações, muito embora sejam permitidas exclusivamente visitas destinadas à educação Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 151 ambiental e pesquisas. De acordo com o SNUC, “É proibida a visitação pública, exceto quando com objetivo educacional, de acordo com o que dispuser o Plano de Manejo da unidade ou regulamento específico”. (BRASIL/ SNUC, 2002, p. 15-16) Considerando-se que o ecoturismo, de acordo com a definição oficial brasileira anteriormente citada, que demonstra a importância de incentivar a conservação pelo caráter educacional, com ênfase na possibilidade de propiciar ao ecoturista a formação de uma consciência ambientalista trabalhando com a interpretação ambiental, pode-se compreender que as Reservas Biológicas e Estações Ecológicas são categorias que podem compatibilizar seus objetivos conservacionistas, com a visitação “ecoturística” no stritu sensu da palavra. Desta forma, estariam disponíveis para o ecoturismo, ainda que submetidas a critérios mais rigorosos. Sendo estas UCs de “Uso indireto”, e tendo o produto ecoturístico como característica peculiar o fato de não ser levado pelo consumidor, mas, apenas vivenciado, pode-se considerar o uso ecoturístico um uso indireto. Uma das frases comumente encontradas em trilhas de ecoturismo e que reforça a idéia exposta é: “da natureza nada se leva a não lembranças, nada se tira a não ser fotografias e nada se deixa a não ser, pegadas”. Sabe-se, contudo que estamos falando de uma atividade que possui elevado potencial de compatibilidade com a conservação, porém para que isto seja efetivo, como já foi exposto, é necessário que se lance mão de uma série de técnicas de controle de impacto de visitação. O desrespeito à capacidade de carga de um local de visitação poderá levá-lo à exaustão, conduzindo o produto ecoturístico ao fracasso. Porém mesmo conhecendo a capacidade de suporte existirá sempre uma pressão para excedê-la em função dos benefícios econômicos proporcionados e o administrador da área deverá resistir. Porém, como já foi dito, o gestor deverá sempre lançar mão de um instrumento básico para a mitigação de impactos gerados pela visitação, a educação ambiental e a capacitação. De acordo com o SNUC, as UCs têm como objetivo primordial à proteção dos recursos naturais, porém consta também como um dos objetivos: “favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico”. Sendo assim, desde que este objetivo não inviabilize àquele, as UCs devem possibilitar aos seres humanos conhecer as riquezas naturais de forma que compreendam que o equilíbrio do meio ambiente depende da proteção dos ecossistemas onde estão inseridos e Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 152 desta forma sentirem-se mais motivados ainda a contribuir com a conservação do ambiente em que vivem. 6.3.2 – AS CATEGORIAS DE USO SUSTENTÁVEL As unidades de conservação consideradas de uso direto: são aquelas nas quais a exploração e o aproveitamento econômico direto são permitidos, mas de forma planejada e regulamentada. São identificadas como unidades de uso sustentável. São classificadas em diferentes categorias: Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse Ecológico, Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio Natural. (BRASIL/ SNUC, 2002, p. 18) Identifica-se que os objetivos destas unidades de uso sustentável são plenamente compatíveis com visitações ecoturísticas, conforme fica estabelecido pelos planos de manejo ou uso. Destacam-se as categorias de Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva Extrativista que tem em comum o fato de abrigarem populações tradicionais no seu interior. Diversas populações residentes nessas áreas identificaram o ecoturismo como um mecanismo com potencial para complementarem economicamente as atividades tradicionais desenvolvidas por elas, além de contribuir para viabilizar uma experiência diferenciada por parte do visitante ao compartilhar atividades tradicionais comunitárias. Para o visitante, o fato de estas comunidades habitarem, de modo geral, por várias gerações estas áreas e conseguirem manter a integridade dos ecossistemas ali existentes, caracteriza-se, por si só, em atrativos interessantíssimos. Existem ricas experiências com ecoturismo em algumas destas unidades com, destaque para as RESEX Estaduais de Curralinho e Pedras Negras, Região do Vale do Guaporé, em Rondônia, onde vivem famílias de seringueiros e castanheiros. Desde 1995 desenvolvem projetos para implantação do ecoturismo tendo obtido apoios governamentais nos três níveis e de ONGs internacionais. “Atualmente, nestas RESEXs, o desenvolvimento das atividades extrativistas tradicionais não são capazes de assegurar a qualidade de vida necessária para a manutenção de suas Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 153 comunidades, fazendo com que procurem novas alternativas econômicas, com destaque para o ecoturismo”. (COUTINHO, 2000, p. 02) As comunidades dessas Reservas Extrativistas estão despertando para uma outra alternativa, que não só a exploração direta dos recursos naturais, como também a possibilidade de gerar recursos, empregos, melhoria de qualidade de vida, além de contribuírem com a conservação dos recursos naturais e culturais nestas áreas através do ecoturismo. Existe também um exemplo interessante de RDS que trabalha com ecoturismo no estado do Amazonas: a Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá, primeira unidade de conservação desta categoria implantada no Brasil, onde é desenvolvido um programa exemplar de ecoturismo que envolve as comunidades de pescadores e artesãos. O programa de ecoturismo da reserva vem sendo implantado desde 1997, é uma fonte alternativa de recursos para o manejo da reserva, e meio de sobrevivência para parte das populações tradicionais. (BANNERMAN, 2001. p. 03) Um dos principais fatores responsáveis pelo sucesso de experiências como estas são os aspectos participativos das comunidades anfitriãs e a preocupação com a sua capacitação, pois na maior parte das vezes, estas comunidades ficam excluídas do mercado de trabalho formal, pela carência de capacitação profissional, além de não contarem com infra-estrutura e serviços para seu bem estar, como saneamento básico, atendimento médico hospitalar, abastecimento de energia, alimentação, hospedagem, centros de formação profissional, entre outros bens e serviços que podem ser implantados com o desenvolvimento do ecoturismo. (COUTINHO, 2000, p. 06) Alem de se beneficiarem, quando capacitadas e efetivamente envolvidas, as comunidades passam a ser fortes aliadas das UCs, contribuindo inclusive com a fiscalização das áreas. Levantamento do IBAMA nas reservas existentes mostra que as populações dessas áreas ajudam a diminuir o desmatamento com mais eficácia do que a fiscalização tradicional. (MARQUES, 1999) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 154 6.3.3 – AS CATEGORIAS E OS TIPOS DE VISITAÇÃO Para garantir a manutenção dos recursos existentes no interior destas UCs que recebem visitação pública, maximizar benefícios advindos do ecoturismo e mitigar seus impactos negativos, é imprescindível que sejam estabelecidas parcerias entre os três setores: sociedade civil organizada, governos e o trade, na gestão destas áreas, convergindo interesses comuns. A tabela 16, relaciona de maneira simplificada UCs com tipos de visitação de acordo com o SNUC. Como pode ser observado em todas as categorias é permitida a visitação, ainda que algumas, condicionem estas visitas a objetivos educacionais. Porém, é fundamental que, em todas as UCs onde já estejam sendo realizadas atividades de ecoturismo, sejam desenvolvidos programas de treinamento e capacitação e estabelecidos padrões de monitoramento do impacto da visitação nestas áreas. CATEGORIAS DE MANEJO DE UCs TIPOS DE VISITAÇÃO Área de Proteção Ambiental – APA (terras Definida pelo órgão gestor para as áreas de públicas e particulares) domínio público Estação Ecológica (posse e domínio público) Somente com objetivo educacional Floresta Nacional (posse e domínio público) Condiciona ao plano de manejo, às normas do órgão gestor e aos regulamentos Monumento Natural (podem ser constituídos Condiciona ao plano de manejo, às normas do também por áreas de particulares) órgão gestor e aos regulamentos Parque Nacional, (domínio público) Estadual e Municipal Educação, interpretação ambiental e recreação em contato com a natureza Refúgio de Vida Silvestre (podem ser Condiciona ao plano de manejo, às normas do constituídos também por áreas de particulares) órgão gestor e aos regulamentos Reserva Biológica (posse e domínio público) Somente com objetivo educacional Reserva de Desenvolvimento Sustentável Compatível com os interesses locais e de (domínio público e uso concedido às acordo com o disposto no plano de manejo populações tradicionais) Reserva Extrativistas (domínio público e uso Compatível com os interesses locais e de concedido às populações extrativistas acordo com o disposto no plano de manejo tradicionais) Reserva de Fauna (posse e domínio público) Condiciona ao plano de manejo e ao órgão gestor Reserva Particular do Patrimônio Natural (área Turística, recreativa, educacional conforme se privada) dispuserem em regulamento Tabela 16 – Tipo de Uso das UCs no Brasil. Fonte: ECOTURISMO, 2002, p. 49 Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 155 É papel do setor público liderar o processo de aglutinação dos setores, uma vez, que é responsável pelas UCs. Deve haver liderança e parceria entre o governo e o trade no desenvolvimento de mecanismos para controlar o impacto do ecoturismo no meio ambiente, garantir que os operadores forneçam programas de qualidade e oferecer capacitação, especialmente nas comunidades receptivas onde o acesso a programas de capacitação é muito mais difícil. Assim é de grande importância que o governo leve a capacitação aos destinos ecoturísticos para que estes possam consolidar-se como produtos confiáveis para o mercado nacional e internacional. 6.4 – O SISTEMA NACIONAL DE ÁREAS NATURAIS PROTEGIDAS NO PERU Para proteção dos seus recursos naturais o Peru criou o Sistema Nacional de Áreas Naturais Protegidas – SINANPE através do Instituto Nacional de Recursos Naturais - INRENA. Atualmente o Peru conta com 53 áreas naturais ou UCs, que juntas abrangem cerca de 15,3% do território nacional. O SINANPE agrupa o conjunto de Áreas Naturais Protegidas em nove categorias que por sua vez se distinguem entre as áreas de uso indireto e direto. As de uso indireto impõem maiores restrições ao uso. Neste grupo estão inseridos os Parques Nacionais, Santuários Nacionais e Santuários Históricos. “Son áreas protegidas de uso indirecto, las que permiten la investigación científica no manipulativa, la recreación y el turismo, en zonas apropiadamente designadas y manejadas para ello. En estas áreas no se permite la extracción de recursos naturales, así como modificaciones y transformaciones del ambiente natural”. (Ley de ANP, 1997 apud PRIMER, 2002, p. 25) As de uso direto permitem o uso sustentável dos recursos. “Áreas protegidas de uso directo son aquellas que permiten el aprovechamiento o extracción de recursos, prioritariamente por las poblaciones locales, en aquellas zonas y lugares y para aquellos recursos, definidos por el plan de manejo del área. Otros uso y Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 156 actividades que se desarrollen deberán ser compatibles con los objetivos del área”. (LEY DE ANP, 1997 apud PRIMER, 2002, p. 25) Dentro deste grupo encontram-se as Reservas Comunais Reservas Nacionais, Áreas de Caça, Refúgios de Vida Silvestre, Reservas Paisagísticas e Bosques de Proteção. O Estado pode ainda, estabelecer Zonas Reservadas que constituem-se em áreas de proteção de caráter temporário onde são desenvolvidas pesquisas e estudos que permitam determinar as categorias onde serão classificadas definitivamente, bem como as suas respectivas extensões. Atualmente estas Zonas abrangem a maior parte das Áreas Naturais Protegidas, cerca de 8%, portanto apenas 7% do território do Peru está protegido de maneira definitiva. (PRIMER, 2002, p. 26;30) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 157 Mapa 9 - Unidades de Conservação Federais no Peru. Fonte: COMISIÓN, 2003. Os Parques Nacionais são áreas que constituem mostras representativas dos diversos biomas do país. Nestas áreas, é mantida a integridade dos ambientes naturais. Nos Parques Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 158 Nacionais, é proibido o uso direto dos recursos naturais com fins comerciais e o assentamento de grupos humanos que não tenham ocupado ancestralmente estes territórios. Nestas unidades se permite, sob condições especiais, a entrada de visitantes com fins científicos, educativos, recreativos e culturais. Atualmente o Peru conta com oito Parques Nacionais que ocupam uma área de 4.812.509,84 ha, o que representa 3,7% do território nacional. (ENJOY, 2002) (INRENA, 2003) As Reservas Nacionais são áreas destinadas à conservação da diversidade biológica e a utilização sustentável dos recursos de flora e fauna silvestre, aquática ou terrestre. Nestas é permitido o aproveitamento comercial dos recursos naturais, porém de acordo com os planos de manejo aprovados, supervisionados e controlados pela autoridade nacional competente. Atualmente estão estabelecidas oito Reservas Nacionais que ocupam uma área de 3.221.376,00 ha, que representam 2,5% do território nacional. (ENJOY, 2002) (INRENA, 2003) Os Santuários Nacionais são áreas protegidas, com características de intangibilidade, constituem habitat de espécies ou de uma comunidade de flora e fauna, assim como as formações naturais de interesse científico e paisagístico. O Peru possui seis unidades de conservação classificadas como Santuários Nacionais, que abrangem uma área total de 48.113,10 ha, o que representa 0,037% do território nacional. (ENJOY, 2002) Os Santuários Históricos são áreas protegidas, com características de intangibilidade, que contém patrimônios naturais relevantes e abrangem o entorno de locais de especial significado nacional, por conter patrimônios monumentais e arqueológicos ou por serem lugares históricos do país. Abrangem uma área de 41.279.38 ha que representa 0,032% do território nacional. (ENJOY, 2002) As Zonas Reservadas são áreas que, reunindo as condições para serem consideradas como Áreas Naturais Protegidas, requerem a realização de estudos complementares para determinar, entre outras, a extensão e a categoria que deverão conter. Atualmente existem 15 Zonas Reservadas que cobrem uma área total de 10.163.283.02 ha, o que representa 8 % do território nacional. (ENJOY, 2002) Os Bosques de Proteção são áreas estabelecidas com o objetivo de garantir a proteção de bacias hidrográficas, matas ciliares e áreas de captação de água de cursos d’água em geral para proteger áreas ecologicamente frágeis. Nestes é permitida a utilização de recursos para o desenvolvimento de atividades que não ponham em risco a cobertura vegetal da área. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 159 Atualmente, existem 6 Bosques de Proteção que cobrem una superfície de 389.986,99 hectares que representam 0,3 % do território nacional. (ENJOY, 2002) As Reservas Comunais são áreas destinadas à conservação da flora e fauna silvestre, em beneficio de populações rurais vizinhas. O uso e comercialização de recursos são estabelecidos no plano de manejo, que devem ser aprovados e supervisionados pela autoridade competente e conduzidos pelos beneficiários. Podem ser de utilização agrícola, pecuária ou florestal. Cobrem una superfície de 651.158 hectares, o que representa 0,5% do território nacional. (ENJOY, 2002) As Áreas de Caça são destinadas ao aproveitamento de fauna e flora silvestre, através da prática regulamentada da caça desportiva. Atualmente o país conta com duas Áreas de Caça que cobrem una superfície de 124.735 hectares, o que representa 0,1% do território nacional. (ENJOY, 2002) O manejo das Áreas Naturais Protegidas se baseiam em seus respectivos planos mestres, similares aos planos de manejo no SNUC brasileiro. Instrumentos de planejamento através do qual são definidos os zoneamentos, estratégias e políticas gerais para a gestão das áreas entre outros aspectos. Dentro destes é definido o uso público e turístico das áreas de acordo com os objetivos e características específicas. Atualmente, apenas duas das 53 áreas que integram o SINANPE, contam com plano de uso turístico: o Parque Nacional de Huascarán e a reserva Nacional de Pacaya Samiria. (PRIMER,2002, p. 30) As áreas mais visitadas são o Parque Nacional de Huascarán, o Santuário Histórico de Machu Picchu, a Reserva Nacional de Lachay e de Paracas e a Zona Reservada dos Pantanos de Villa. Estas concentraram 88% do total de visitantes entre 1990 e 1999. (PRIMER, 2002, p. 31) A Reserva Nacional de Paracas por exemplo, possui elevada arrecadação através das taxas de ingresso, porém estes recursos são repassados ao SINANPE que os distribui de acordo com suas próprias condições. Este sistema permite manter as áreas que não contam com fluxo turístico. Por outro lado dificulta a manutenção de áreas que recebem grande fluxo de visitantes e que em função disto enfrentam despesas advindas do manejo desta visitação elevada. Por outro lado, muitas destas áreas não contam com material informativo e centros de interpretação adequados para prestar serviços de informação e orientação sobre a importância da conservação dos recursos naturais contidos nestas áreas. (PRIMER, 2002, p. 32) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 160 Áreas como Paracas e Lachay recebem um grande fluxo de visitantes que se quer tem conhecimento que estas são áreas protegidas. Os visitantes esperam receber em troca do ingresso pago, serviços como: estacionamento, vigilância, alimentação e outros que infelizmente não existem. (PRIMER, 2002, p. 30) Atualmente o SINANPE dispõe de importantes ferramentas para o desenvolvimento do ecoturismo nas Áreas Naturais Protegidas contidas na Lei DS Nº 038-2001-AG para modalidades de turismo e recreação e determinação de capacidade de carga, bem como para a prestação de serviços no interior destas áreas. (PRIMER, 2002, p. 33) De acordo com a UICN o número de categorias reconhecidas pelo núcleo de especialistas que se dedica a catalogar as unidades de conservação existentes no mundo, World Commission Protected Áreas – WCPA, é de apenas 6, são elas: Categoria I – Áreas Naturais Selvagens ( áreas naturais manejadas com fins científicos e de proteção estrita), Categoria II – Parques Nacionais (áreas naturais manejadas principalmente para conservação de ecossistemas e a recreação), Categoria III – Monumento Natural (área protegida manejada para conservar características específicas) Categoria IV – Área de Manejo de habitats/espécies (área manejada principalmente para a conservação, com intervenção ao nível de gestão), Categoria V – Paisagens Manejadas (áreas terrestres ou marinhas, manejadas principalmente para conservar paisagens) e Categoria VI – Área Protegida com Recursos Manejados (área de reserva de recursos manejados). (DOUROJEANNI E PÁDUA, 2001, p. 57) A tabela 17 estabelece uma comparação entre as categorias estabelecidas pela UICN e as categorias estabelecidas no SNUC brasileiro e o SINANPE peruano: Uso Terra Uso Indireto Terra Pública Uso Indireto Terra Pública Uso Indireto Terra Pública ou Privada Uso direto Terra Pública ou Privada Uso direto Terra Pública ou Privada Uso direto UICN I – Áreas Naturais Selvagens Ia – Reserva Natural Estrita Ib – Área Natural Silvestre II – Parque Nacional III – Monumento natural IV – Área de Manejo de habitats/espécies V – Paisagens Manejadas (terrestre ou marinha protegidas) VI – Área Protegida com BRASIL – SNUC PERU - SINANPE Estação Ecológica Reserva Biológica Não Existe Parque Nacional Estadual - Municipal Monumento natural Parque Nacional Santuário Nacionais Santuário Histórico Refúgio de Vida Silvestre Área de Relevante Interesse Ecológico Área de Proteção Ambiental Refúgio de Vida Silvestre Reserva Extrativista Reserva Nacional Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Paisagem Protegida Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira Terra Pública ou comum Recursos Manejados Reserva de Fauna Reserva de Desenvolvimento Sustentável Floresta nacional Estadual 161 Reserva Comunal Bosque de Proteção (existem Florestas Nacionais, mas não são consideradas UCs Tabela 17 – Comparação entre categorias de Ucs no Brasil e Peru. Fonte: DOUROJEANNI E PÁDUA, 2001, p. 58. O Brasil possui uma extensão territorial de 854.501.075,32 ha, destes 53.987.080,96 ha, estão contidos em unidades de conservação, 6,3% de todo o território nacional. O Peru possui uma extensão territorial de 128.521.560,00 ha, destes 19.673.709,92 ha, destes, corresponde à áreas naturais protegidas 15,31% de todo o território nacional. Embora possa se analisar que deste total 8% são Zonas Reservadas e, portanto, ainda não são definitivas, dentro do SINANPE, porém destinar esta parcela do território para estudos, a fim de determinar a categoria de manejo já aumenta consideravelmente a possibilidade de que estas áreas serão protegidas. De qualquer forma o Peru possui maior percentagem de seu território em áreas protegidas em relação ao Brasil. As unidades de conservação possuem importância fundamental para o desenvolvimento do ecoturismo, ainda que algumas categorias não sejam utilizadas diretamente à visitação, além da sua função primordial que é a conservação dos recursos naturais contidos nestas áreas, apresentam uma contribuição indireta para o ecoturismo na medida em que permitem a reprodução de espécies e disseminação de sementes que serão de grande importância no repovoamento de outras áreas onde a visitação é permitida. As Ucs tem se mostrado foco prioritário do interesse dos ecoturistas em todo o mundo. Em função disto, procuramos utilizar como objeto de análise comparativa para este trabalho, os sistemas de UCs do Brasil e do Peru, pois estes certamente desempenharão papéis de relevante importância na consolidação do ecoturismo como eficiente ferramenta para contribuir com a conservação destas áreas e para a melhoria da qualidade de vida das populações do entorno ou interior destas. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 162 CONCLUSÕES Desde a primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, em Estocolmo, verificou-se a necessidade de implementar estratégias ambientais capazes de promover um desenvolvimento socioeconômico eqüitativo. Mas foi em Nosso Futuro Comum, que foi lançado oficialmente, o reconhecimento mundial sobre a possibilidade de promover o desenvolvimento sustentável. Este modelo passa a ser colocado como contraponto ao modelo desenvolvimentista que gerou, ao longo da história, tantos impactos negativos, não só ambientais como sócio-culturais e, assim passa a representar um novo paradigma e ser amplamente discutido no Brasil, especialmente a partir da Rio/92. Essa discussão fortalece a opção por alternativas capazes de compatibilizar desenvolvimento e conservação como é o caso do ecoturismo. Desta forma foram estabelecidos como objetos de estudo deste trabalho, dois países da América Latina que possuem a maior parte de seus territórios cobertos pela mais extensa floresta tropical do planeta, a Floresta Amazônica. Brasil e Peru têm em comum ainda, entre outras coisas, a condição de países em desenvolvimento, em busca de caminhos que levem à possibilidade de oferecerem aos seus habitantes, condições dignas de vida, conservando seus ambientes naturais e mantendo a megadiversidade biológica e cultural que apresentam. O ecoturismo coloca-se como uma alternativa que oferece a possibilidade de desenvolver-se dentro de uma perspectiva de sustentabilidade, e é especialmente viável para regiões com essas características. O que foi reforçado na Conferência Mundial de Ecoturismo, ocorrida em Quebec, com representantes de mais de 130 países. Além da preocupação com a conservação ambiental expressa em todas as definições para o ecoturismo, um dos princípios contidos na maioria das definições analisadas, refere-se à questão do envolvimento da comunidade anfitriã como beneficiária do desenvolvimento da atividade. Para que isto ocorra, é de fundamental importância o desenvolvimento de ações de capacitação profissional que ofereçam oportunidades reais de inclusão social a estas comunidades e para a conquista de melhores condições de vida. As diversidades de biomas verificadas no Brasil e no Peru reforçam o potencial de expansão para o ecoturismo, no entanto, apesar da significativa representatividade de populações tradicionais residentes nestes biomas, verificou-se que sua inserção social é, de Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 163 modo geral, negligenciada, compondo um quadro com moldura social de acentuada concentração de pobreza. Proporcionar formação profissional para estas comunidades, é um importante instrumento de inclusão e autonomia, especialmente por considerar suas dificuldades concretas de acesso à informação sobre o tema e a capacitação profissionalizante. É preciso garantir que essas comunidades participem do processo de desenvolvimento do ecoturismo desde o planejamento e tenham acesso ao conhecimento necessário para desenvolver estratégias de geração de emprego e renda, e possibilitar investimentos em empreendimentos individuais ou comunitários relacionados ao ecoturismo. Assim, poderão obter benefícios reais e melhoria de qualidade de vida efetiva. Estas comunidades possuem conhecimentos de fundamental importância para elaborar e viabilizar roteiros ecoturísticos, além de possuírem a autenticidade e legitimidade que o ecoturista deseja encontrar. Contudo, estas comunidades viveram muitas vezes, isoladas da relação com a sociedade urbano-industrial, e devem ter seus conhecimentos, costumes e tradições valorizados e sua auto-estima ampliada para que estejam prontos para o contato com os ecoturistas. Preparar representantes das comunidades anfitriãs para o ecoturismo, poderá evitar a migração para os grandes centros urbanos, que agravam os problemas sócio-econômicos e ambientais das grandes cidades, e deixando vulneráveis as suas áreas de origem. Uma característica especial do ecoturismo é a possibilidade de colocar culturas diferentes em contato, permitindo que estas troquem seus conhecimentos, conheçam e passem a respeitar reciprocamente conhecimentos científicos e populares, respeitando as diferenças entre os seus ambientes naturais e culturais. Porém, este processo requer a valorização dos ambientes receptivos e especialmente da auto-estima das comunidades anfitriãs, que se dá através de um processo eficiente e contínuo de capacitação para o ecoturismo. Um plano para o desenvolvimento do ecoturismo deve delinear claramente os requisitos para treinamento em todos os níveis, desde planejadores, gestores, operadores, investidores, educadores e representantes das comunidades que leve a capacitação às principais destinações ecoturísticas. As experiências brasileiras aqui discutidas demonstram que um método eficiente para levar capacitação profissional para o desenvolvimento do ecoturismo, especialmente às Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 164 localidades mais distantes de países com grandes extensões territoriais, como é o caso do Brasil, é a formação de agentes multiplicadores. Este método foi utilizado nas Oficinas de Capacitação em Ecoturismo, é utilizado no processo de capacitação do PROECOTUR, pelo programa Melhores Práticas para o Ecoturismo e pelo Programa Nacional de Municipalização do Turismo, todos desenvolvidos no Brasil. As ações de capacitação na forma de oficinas permitem a integração entre mediadores e participantes, sendo de fundamental importância para a construção do conhecimento dos atores envolvidos. Promovem maior participação e interatividade entre educadores e educandos, tornando o processo de ensino/aprendizagem mais dinâmico e eficiente. O desenvolvimento de dinâmicas de grupo e a realização de atividades práticas, com ênfase no conteúdo teórico abordado, contribuem para melhor assimilação dos conceitos, permitindo que o participante vivencie experiências que poderão ser utilizadas quando estiver atuando como profissional em ecoturismo. É de grande importância nas ações de capacitação voltadas ao ecoturismo a utilização de visitas técnicas a atrativos naturais, culturais, históricos e comunitários contribuindo para que as interpretações sejam enriquecidas. É importante observar nos casos analisados, que as ações de capacitação foram responsáveis por fomentar a criação de empreendimentos, formação de grupos e associações que desempenharam importante papel na organização de estruturas mais profissionais e eficientes para o sucesso do ecoturismo nas destinações ou empreendimentos. Outro aspecto que merece destaque nas lições aprendidas a partir das experiências brasileiras abordadas, refere-se às interrupções ou defasagens de tempo existentes entre uma ação e outra, frustrando as expectativas geradas e levando os participantes ao desinteresse e desmobilização. Tanto no Brasil como no Peru o ecoturismo ainda se caracteriza por alguns poucos destinos ou até mesmo por empreendimentos isolados que trabalham dentro dos princípios que norteiam este segmento. A maioria, dos empreendimentos, surge por uma oportunidade mercadológica imediata, sem o necessário comprometimento em relação às práticas ambientalmente e culturalmente sustentáveis. Estes, ao invés de serem instrumentos de conservação ambiental e geração de benefícios sócio-econômicos às comunidades, acabam por aumentar o processo de degradação ambiental, gerando desequilíbrios e desvalorização cultural. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 165 Apesar de ser um dos maiores propósitos do ecoturismo, minimizar os impactos e maximizar os benefícios da visitação, este setor cresceu tanto nestes últimos anos que em alguns destinos se tem enfrentado problemas decorrentes do excesso de visitantes. No entanto o respeito ao ambiente natural e cultural deve ser uma questão de princípio por parte dos operadores, em primeiro lugar por coerência e além disto, por ser este mesmo ambiente, a principal base de recursos do seu negócio. Devem ser viabilizados empreendimentos de menor porte, preferencialmente desenvolvidos pelas comunidades anfitriãs. Estas necessitam de capacitação para prestarem serviços de qualidade, e assim, participarem de um mercado extremamente competitivo como o do ecoturismo. Porém não é suficiente disponibilizar financiamentos para empreendimentos em ecoturismo sem que os empreendedores participem de programas de capacitação específicos para as áreas em que irão empreender. Além da capacitação, existe uma evidente necessidade de oferecer acompanhamento e apoio técnico iniciais para o gerenciamento dos empreendimentos. Por envolver prestação de serviços, a educação para o turismo é condição básica para que o Brasil e o Peru possam se consolidar como destinos ecoturísticos de qualidade. Neste sentido, o ensino formal também possui um papel decisivo. Contudo com tamanha oferta concentrada nos grandes centros urbanos, não se atende a uma necessidade crucial para a qualificação da oferta do país, especialmente àquela relacionada ao ecoturismo, que ocorre principalmente nas áreas mais remotas. Há que se atender a necessidade de formação e capacitação daqueles que compõe as comunidades anfitriãs das áreas de destino, tanto através do ensino formal, como por meio de cursos não formais. Como muitas vezes, nas pequenas localidades, não existem recursos humanos qualificados para as funções relacionadas ao ecoturismo, muitos empresários acabam optando por trazer profissionais dos grandes centros urbanos, frustrando a expectativa dos moradores locais. A formação é fundamental para que os profissionais possam assumir também, postos de direção, gerência e administração de empreendimentos, caso as comunidades anfitriãs não Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 166 tenham acesso, mais uma vez ficarão relegadas às oportunidades de emprego que forem eventualmente oferecidas por empreendedores originados dos grandes centros urbanos. Certamente a oportunidade de acesso a formação superior em turismo, pressupõe ofertas anteriores ao ensino fundamental e médio, ainda extremamente limitadas, em grande parte dos destinos potenciais para o ecoturismo no Brasil e no Peru. De qualquer forma, entende-se que é papel do poder público e outras iniciativas subsidiadas, levar formação e capacitação em turismo a estes destinos, considerando que dificilmente haverá uma demanda capaz de justificar economicamente esta oferta, ao menos do ponto de vista do lucro visado pelas instituições privadas. A realidade econômica dos países latino-americanos reforça que muitas ações de capacitação devem ser realizadas, entre ensino formal e não formal, contribuindo para suprir a atual carência de recursos humanos capacitados no setor de ecoturismo. Sabe-se que este setor depende fundamentalmente da qualidade na prestação de serviço, para fortalecer a credibilidade destes destinos no mercado nacional e internacional do ecoturismo, tanto no Brasil como no Peru. É fundamental criar consciência turística nas comunidades anfitriãs de modo que não sejam criadas situações onde a presença do visitante seja indesejada, gerando conflitos ou levando os visitantes a se sentirem explorados por anfitriões que tentem tirar lucros excessivos em curto prazo. Por outro lado, os visitantes também precisam ser preparados para a experiência da visitação, de modo que sejam respeitadas as possibilidades de conforto local, valores culturais e conservação do ambiente natural destas comunidades. De maneira geral, o ecoturista procura estabelecer contato direto com as comunidades locais e, muitas vezes, se interessa pelas relações estabelecidas ao longo de gerações, entre estas comunidades e o ambiente natural onde vivem. Estas detêm muito conhecimento a cerca destes ambientes, porém não possuem domínio de técnicas de gestão de empreendimentos hoteleiros, de condução de grupos ou de operação ecoturística, indicando a necessidade de que estes conhecimentos sejam trabalhados com elas. Os empreendedores devem ser preparados para que incorporem em seus empreendimentos ecoturísticos, práticas sustentáveis, seja na arquitetura de seus edifícios, que deve ser inspirada nos conhecimentos vernaculares, na aquisição de equipamentos não Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 167 poluentes, nas atividades desenvolvidas com mínimo impacto, bem como, na operação adequada dos roteiros. Deve ser estimulado o desenvolvimento de outras atividades econômicas compatíveis com o ecoturismo. Diversificando-se a economia pode-se compatibilizar atividades que complementem as necessidades econômicas das localidades de destino, minimizando eventuais problemas que poderão surgir, tais como: conflitos de interesse, sazonalidade de produtos ou programas de ecoturismo ou prejuízos financeiros. Caso não sejam oferecidas alternativas econômicas sustentáveis, corre-se o risco de que estas comunidades possam identificar na caça, pesca, retirada de madeira ou minerais de forma ilegal, agricultura ou pecuária sem planejamento, soluções de curto prazo para os seus problemas financeiros, gerando impactos ambientais e conseqüentemente sócio-culturais relacionados a estas atividades. O Estado é o principal guardião legal da maior parte das áreas naturais, muitas delas inseridas em unidades de conservação. Porção significativa dos territórios, do Brasil e Peru, está sob regime de proteção, contudo faltam recursos para equipar estas áreas com materiais e pessoal capacitado para garantir a manutenção adequada destas áreas e viabilizar de forma criteriosa a visitação ecoturística. Evidenciou-se no Brasil e Peru, ausência de pesquisas de mercado específicas sobre ecoturismo, que permitam definir melhor o perfil do ecoturista, seus gostos e preferências, os destinos concorrentes e outras informações que possam subsidiar a iniciativa privada, os gestores públicos e até mesmo o terceiro setor na tomada de decisões relativas à projetos ecoturísticos. Em ambos os países não se identificam estratégias de marketing voltadas à consolidação destes, como destinos apropriados para a prática do ecoturismo. Para o mercado internacional em geral, o Peru continua como destino de turismo histórico-arqueológico e o Brasil como destino de “sol e praia”. Não foi possível identificar nas pesquisas realizadas na rede mundial de computadores, a disponibilidade de sistemas de informações ecoturísticas especializados, que pudessem orientar os ecoturistas e o trade em geral, em relação a atrativos, equipamentos, serviços, roteiros e demais informações de interesse para suprir as diversas necessidades, e desta forma, fomentar o desenvolvimento de destinos de ecoturismo. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 168 Verifica-se que em ambos os países pesquisados há carência de maior incentivo à pesquisa sobre fauna e flora, indispensáveis para maior conhecimento das riquezas naturais, que se constituem na principal base de recursos para o ecoturismo. No Brasil já há uma ampla oferta de cursos específicos para ecoturismo, são inúmeros cursos de especialização em ecoturismo e cursos técnicos entre outros, enquanto no Peru só duas instituições oferecem cursos, uma em nível de mestrado e outra como curso técnico. Em relação às ações de capacitação não formal para o ecoturismo, no Brasil as maiores iniciativas são governamentais, enquanto no Peru este papel tem sido exercido pelas ONGs. Não foram identificadas no Peru, ações com a abrangência similar às experiências brasileiras relatadas neste trabalho. Em função de todos os aspectos investigados, verifica-se que o desenvolvimento do ecoturismo no Brasil está bem à frente em relação ao Peru, porém em ambos os casos o ecoturismo ainda é constituído de exemplos pontuais de destinos, empreendimentos e prestadores de serviços. Não há nestes países, consciência coletiva com relação à importância de uma operação sustentável dentro do ecoturismo, nem tão pouco, destinos ecoturísticos plenamente consolidados no mercado internacional, embora se verifique uma forte tendência, principalmente para consolidação dos destinos, Amazônia e Pantanal no Brasil e Amazônia e Sierra no Peru. Finalmente, pode-se concluir que o ecoturismo poderá consolidar-se em países da América Latina, como Brasil e Peru. Para tanto, é necessário que todos os atores envolvidos assumam seus respectivos papéis: o governo, planejando, implementando infra-estrutura básica e turística, oferecendo formação e capacitação profissional, promovendo e administrando adequadamente os destinos; a iniciativa privada, oferecendo equipamentos e serviços de qualidade; a comunidade devidamente capacitada e envolvida, prestando serviços e empreendendo e o ecoturista devidamente preparado, interagindo e gerando emprego e renda nas localidades de destino. Desta forma poderão contribuir para transformar a utopia do ecoturismo em realidade. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 169 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGENDA 21 Brasileira. Brasília: MMA, 2002. AGENDA positiva da Amazônia. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2001. ANGELO, C. Cúpula mundial termina em decepção. Folha de São Paulo, São Paulo. 5 set. 2002. Caderno Ciência, p. A16. ANSARAH, M. G. dos R. Formação e capacitação do profissional em turismo e hotelaria: reflexões e cadastro das instituições educacionais no Brasil. São Paulo: Aleph, 2002. (Série turismo) ______. ; REJOWSKI, M. Levantamento de dados – cursos superiores de turismo e hotelaria no Brasil. Revista Turismo e Análise: São Paulo, v. 5 n. 1, p. 116-128, maio 1994. REJOWSKI, M. ______. ; Panorama do ensino em turismo no Brasil: graduação e pós- graduação. 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Experiências Brasileiras em Capacitação 180 Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 181 ANEXO – 1 - RELAÇÃO DE ÁREAS NATURAIS PROTEGIDAS DO PERU CATEGORIAS BASE LEGAL FECHA UBICACIÓN POLITICA EXTENSION ha PARQUES NACIONALES (9) 4 812 509.84 CUTERVO LEY Nº13694 08.09.61 CAJAMARCA 2 500.00 TINGO MARIA LEY Nº15574 14.05.65 HUANUCO 4 777.00 MANU D.S.Nº0644-73-AG 29.05.73 CUSCO y MADRE DE DIOS HUASCARAN D.S.Nº0622-75-AG 01.07.75 ANCASH CERROS DE AMOTAPE D.S.Nº0800-75-AG 22.07.75 TUMBES y PIURA RIO ABISEO D.S.Nº064-83-AG 11.08.83 SAN MARTIN 274 520.00 D.S.Nº068-86-AG 29.08.86 PASCO 122 000.00 YANACHAGACHEMILLEN BAHUAJA-SONENE CORDILLERA AZUL D.S.Nº 048-2000AG D.S.Nº 031-2001AG 340 000.00 91 300.00 04.09.00 MADRE DE DIOS y PUNO 22.05.01 1 532 806.00 SAN MARTIN, LORETO, UCAYALI Y HUÁNUCO RESERVAS NACIONALES (9) 1 091 416.00 1 353 190.84 3 221 376.00 PAMPA GALERAS R.S.Nº157-A 18.05.67 AYACUCHO JUNIN D.S.Nº0750-74-AG 07.08.74 JUNIN y PASCO PARACAS D.S.Nº1281-75-AG 25.09.75 ICA LACHAY D.S.Nº310-77-AG 21.06.77 LIMA 5 070.00 TITICACA D.S.Nº185-78-AA 31.10.78 PUNO 36 180.00 D.S.Nº070-79-AA 09.08.79 AREQUIPA y MOQUEGUA CALIPUY D.S.Nº004-81-AA 08.01.81 LA LIBERTAD PACAYA SAMIRIA D.S.Nº016-82-AG 04.02.82 LORETO TAMBOPATA D.S.Nº 048-2000-AG 04.09.00 MADRE DE DIOS SALINAS Y AGUADA BLANCA 6 500.00 53 000.00 335 000.00 366 936.00 64 000.00 2 080 000.00 SANTUARIOS NACIONALES (6) 274 690.00 48 113.10 HUAYLLAY D.S.Nº0750-74-AG 07.08.74 PASCO 6 815.00 CALIPUY D.S.004-81-AA 08.01.81 LA LIBERTAD 4 500.00 LAGUNAS DE MEJIA D.S.Nº015-84-AG 24.02.84 AREQUIPA 690.60 AMPAY D.S.Nº042-87-AG 23.07.87 APURIMAC 3 635.50 MANGLARES DE TUMBES D.S.Nº018-88-AG 02.03.88 TUMBES 2 972.00 TABACONAS-NAMBALLE D.S.Nº051-88-AG 20.05.88 CAJAMARCA SANTUARIOS HISTORICOS (4) Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação 29 500.00 41 279.38 Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 182 CHACAMARCA D.S.Nº0750-74-AG 07.08.74 JUNIN PAMPA DE AYACUCHO D.S.Nº119-80-AA 14.08.80 AYACUCHO MACHUPICCHU D.S.Nº001-81-AA 08.01.81 CUSCO BOSQUE DE POMAC D.S.Nº034-2001-AG 03.06.01 LAMBAYEQUE 2 500.00 300.00 32 592.00 5 887.38 RESERVA PAISAJISTICA (1) NOR YAUYOS - COCHAS 221 268.48 D.S.Nº033-2001-AG 03.06.01 LIMA y JUNIN 221 268.48 ZONAS RESERVADAS (15) MANU LAQUIPAMPA APURIMAC PANTANOS DE VILLA TUMBES 10 163 283.02 R.S.Nº0151-80-AADGFF R.M.Nº00692-82AG/DGFF R.S.Nº0186-88AG/DGFF R.M.Nº00144-89AG/DGFF R.M.Nº0594-94-AG 26.06.80 MADRE DE DIOS 257 000.00 05.10.82 LAMBAYEQUE 11 346.90 28.04.88 JUNIN y CUSCO 1 669 200.00 29.05.89 LIMA 396.00 28.09.94 TUMBES 75 102.00 ALGARROBAL EL MORO D.S.Nº02-95-AG 13.01.95 LALIBERTAD 320.69 CHANCAYBAÑOS D.S.Nº001.96-AG 14.02.96 CAJAMARCA 2 628.00 AYMARA LUPACA D.S.Nº002-96-AG 01.03.96 PUNO 300 000.00 GÜEPPI D.S.Nº003-97-AG 03.04.97 LORETO 625 971.00 RIO RIMAC D.S.Nº 023-98-AG 23.12.98 LIMA SANTIAGO - COMAINA D.S.N° 005-99-AG 24.01.99 AMAZONAS y LORETO D.S.N° 006-99-AG 04.03.99 LORETO ALTO PURUS D.S.N° 030-2000-AG 07.07.00 MADRE DE DIOS y UCAYALI AMARAKAERI D.S.N° 028-2000-AG 07.07.00 MADRE DE DIOS y CUSCO CORDIRELLA COLAN R.M.Nº0213-2002-AG 06.03.02 AMAZONAS ALLPAHUAYO MISHANA Franja de 28 Km. BOSQUES DE PROTECCION (6) 1 642 567.00 57 667.43 5 101 945.00 419 139.00 64 114.74 389 986.99 A.B. CANAL NUEVO IMPERIAL R.S.Nº0007-80-AA/DGFF 19.05.80 LIMA 18.11 PUQUIO SANTA ROSA R.S.Nº0434-82-AG/DGFF 02.09.82 LA LIBERTAD 72.50 PUI PUI R.S.Nº0042-85-AG/DGFF 31.01.85 JUNIN 60 000.00 SAN MATIAS-SAN CARLOS R.S.Nº0101-87-AG/DGFF 20.03.87 PASCO 145 818.00 PAGAIBAMBA R.S.Nº0222-87-AG/DGFF 19.06.87 CAJAMARCA 2 078.38 ALTO MAYO R.S.Nº0293-87-AG/DGFF 23.07.87 SAN MARTIN 182 000.00 Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira RESERVAS COMUNALES (2) 183 651 158.11 YANESHA R.S.Nº0193-88-AG-DGFF 28.04.88 EL SIRA D.S.Nº037-2001-AG 23.06.01 PASCO 34 744.70 HUANUCO, PASCO Y 616 416.41 UCAYALI COTOS DE CAZA (2) 124 735.00 EL ANGOLO R.S.Nº0264-75-AG 01.07.75 PIURA 65 000.00 SUNCHUBAMBA R.M.Nº00462-77-AG 22.04.77 CAJAMARCA 59 735.00 54 AREAS NATURALES PROTEGIDAS SUPERFICIE DEL PERU (ha) % DEL PERU PROTEGIDO Fonte: INRENA, 2003. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação 19673709,92 128 521 560.00 15,31 Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 184 ANEXO – 2 - RELAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO BRASIL PROTEÇÃO INTEGRAL (P.N., R.B., R.Ec., E.E., R.V.S.) PARQUES NACIONAIS NORTE 01. P.N. da Amazônia (1017) 02. P.N. do Pico da Neblina (1019) 03. P.N. de Pacaás Novos (1020) 04. P.N. do Cabo Orange (1021) 05. P.N. do Jaú (1022) 06. P.N. da Serra do Divisor (1033) 07. P.N. do Monte Roraima (1034) 08. P.N. Viruá (1039) 09. P.N. Serra da Mocidade (1038) 10. P.N. do Araguaia (1016) 11. P.N. da Serra da Cutia (1046) 12. P.N. das Nascentes do Rio Parnaíba (1048) 13. P.N. Montanhas do Tumucumaque (1049) TOTAL DE P. N. NO NORTE NORDESTE 14. P.N. de Ubajara (1004) 15. P.N. de Sete Cidades (1008) 16. P.N. do Monte Pascoal (1011) 17. P.N. da Serra da Capivara (1018) 18. P.N. dos Lençois Maranhenses (1023) 19. P.N. Marinho dos Abrolhos , (1025) 20. P.N. da Chapada Diamantina (1027) 21. P.N. Mar. de Fernando de Noronha (1029) 22. P.N. Serra das Confusões (1040) 23. P.N. Pau Brasil (1042) 24. P.N. Descobrimento (1041) 25. P.N. de Jericoacoara (1047) 26. P.N. do Catimbau (1050) TOTAL DE P. N. NONORDESTE SUDESTE 27. P.N. do Itatiaia (1001) 28. P.N. da Serra dos Orgãos (1003) 29. P.N. de Caparaó (1007) 30. P.N. da Tijuca (1009) 31. P.N. da Serra da Bocaina (1013) 32. P.N. da Serra da Canastra (1014) 33. P.N. da Serra da Cipó (1026) 34. P.N. Grande Sertão Veredas (1031) 35. P.N. Restinga de Jurubatiba (1037) 36. P.N. Cavernas do Peruaçu (1043) 37. P.N. das Sempre-Vivas (1051) TOTAL DE P. N. NO SUDESTE SUL 38. P.N. do Iguaçu (1002) 39. P.N. de Aparados da Serra (1005) 40. P.N. Ilha Grande (1036) 41. P.N. de São Joaquim (1010) UF AM e PA AM RO AP AM AC RR RR RR TO RO BA, MA, PI e TO AP e PA UF CE PI BA PI MA BA BA PE PI BA BA CE PE UF RJ e MG RJ MG e ES RJ RJ e SP MG MG MG RJ MG MG UF PR RS PR e MS SC Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação ÁREA EM HA 864.047,00 2.200.000,00 764.801,00 619.000,00 2.272.000,00 846.633,00 116.000,00 227.011,00 350.960,45 557.714,00 283.611,70 729.813,55 3.867.000,00 13.698.591,70 ÁREA EM HA 6.288,00 7.700,00 22.500,00 100.000,00 155.000,00 88.249,00 152.000,00 11.270,00 502.411,00 11.538,00 21.129,00 8.416,08 62.300,00 1.148.801,08 ÁREA EM HA 30.000,00 10.527,00 31.853,00 3.200,00 100.000,00 200.000,00 33.800,00 84.000,00 14.860,00 56.800,00 124.000 689.040 ÁREA EM HA 185.262,50 10.250,00 78.875,00 49.300,00 Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 42. P.N. da Lagoa do Peixe (1028) 43. P.N. do Superagui (1032) 44. P.N. da Serra Geral (1035) 45. P.N. de Saint-Hilaire/Lange (1045) TOTAL DE P. N. NO SUL CENTRO-OESTE 46. P.N. da Chapada dos Veadeiros (1015) 47. P.N. das Emas (1006) 48. P.N. de Brasília (1012) 49. P.N. do Pantanal Matogrossense (1024) 50. P.N. da Chapada dos Guimarães (1030) 51. P.N. da Serra da Bodoquena (1044) TOTAL DE P. N. NO CENTRO-OESTE 185 RS PR RS PR UF GO GO e MS DF MT MT MS TOTAL EM PARQUES NACIONAIS 34.400,00 33.928,00 17.300,00 25.000,00 434.315,50 ÁREA EM HA 236.570,00 133.063,00 30.000,00 135.000,00 33.000,00 76.481,00 644.114,00 16.614.862,28 RESERVA BIOLÓGICA NORTE 01. R.B. do Jarú (2003) 02. R.B. do Rio Trombetas (2004) 03. R.B. do Lago Piratuba (2005) 04. R.B. do Abufari (2011) 05. R.B. do Guaporé (2012) 06. R.B. do Tapirapé (2018) 07. R.B. do Uatumã (2023) UF RO PA AP AM RO PA AM ÁREA HA 268.150,00 385.000,00 357.000,00 288.000,00 600.000,00 103.000,00 940.358,00 TOTAL R.B. NORTE NORDESTE 08. R.B. de Una (2006) 09. R.B. de Serra Negra (2007) 10. R.B. de Saltinho (2013) 11. R.B. do Gurupi (2015) 12. R.B. de Santa Isabel (2016) 13. R.B. de Pedra Talhada (2020) 14. R.B. do Atol das Rocas (2002) 15. R.B. Guaribas (2021) UF BA PE PE MA SE AL e PE RN PB 2.941.508,00 ÁREA HA 11.400,00 1.100,00 548 341.650,00 2.766,00 4.469,00 36.249,00 4.321,60 TOTAL R.B. NORDESTE SUDESTE 16. R.B. de Poço das Antas (2001) 17. R.B. do Córrego do Veado (2008) 18. R.B. Augusto Ruschi (2009) 19. R.B. de Sooretama (2010) 20. R.B. de Comboios (2014) 21. R.B. do Córrego Grande (2017) 22. R.B. União (2024) 23. R.B. do Tinguá (2019) UF RJ ES ES ES ES ES e BA RJ RJ 402.503,60 ÁREA HA 5.000,00 2.392,00 4.000,00 24.000,00 833,23 1.504,80 3.126,00 26.000,00 TOTAL R.B. SUDESTE SUL 24. R.B. Marinha do Arvoredo (2022) UF SC 66.856,03 ÁREA HA 17.600,00 UF DF 17.600,00 ÁREA HA 3.460,00 TOTAL R.B. SUL CENTRO-OESTE 25. R.B. da Contagem (2025) TOTAL R.B. CENTRO-OESTE 3.460,00 TOTAL DE R.B. BRASIL 3.431.927,63 Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 186 ESTAÇÃO ECOLÓGICA NORTE 01. E.E. Rio Acre (3004) 02. E.E. de Anavilhanas (3008) 03. E.E. de Maracá-Jipioca (3003) 04. E.E. do Jari (3009) 05. E.E. Juami-Japurá (3015) 06. E.E. de Caracaraí (3013) 07. E.E. Niquiá (3014) 08. E.E. de Maracá (3005) 09. E.E. Serra Geral do Tocantins (3029) 10. E.E. de Jutaí-Solimões (3030) 11. E.E. de Cuniã (3022) TOTAL E.E. NORTE NORDESTE 12. E.E. de Uruçuí-Una (3006) 13. E.E. do Seridó (3010) 14. E.E. de Aiuaba (3025) 15. E.E. de Murici (3026) 16. E.E. Raso da Catarina (3028) 17. E.E. do Castanhão (3027) TOTAL E.E. NORDESTE SUDESTE 18. E.E. dos Tupinambás (3018) 19. E.E. de Tamoios (3021) 20. E.E. de Pirapitinga (3020) UF AC AM AP AP e PA AM RR RR RR TO e BA AM RO ÁREA EM HA 77.500,00 350.018,00 72.000,00 227.126,00 870.300,00 80.560,00 286.600,00 101.312,00 716.306,00 288.187,37 53.221,23 3.123.130,60 UF PI RN CE AL BA CE ÁREA HA 135.000,00 1.163,00 11.525,00 6.116,43 99.772,00 12.579,20 UF SP RJ MG 266.155,63 ÁREA HA 27,8 8.450,00 1.090,00 UF SP SP ÁREA HA 43,25 5.500,00 UF SC RS RS PR 15111,05 ÁREA HA 712 10.764,63 272,63 4.835,00 UF MT MT MT 16584,26 ÁREA HA 11.200,00 28.700,00 200.000,00 ESTAÇÃO ECOLÓGICA SUDESTE 21. E.E. Tupiniquins (3016) 22. E.E. Mico-Leão-Preto (3031) TOTAL E.E. SUDESTE SUL 23. E.E. de Carijós (3019) 24. E.E. do Taim (3017) 25. E.E. de Aracuri-Esmeralda (3001) 26. E.E. de Guaraqueçaba (3011) TOTAL DE E.E. SUL CENTRO OESTE 27. E.E. de Taiamã (3002) 28. E.E. da Serra das Araras (3012) 29. E.E. de Iquê (3007) TOTAL DE E.E CENTRO-OESTE 239.900,00 TOTAL DE E.E. NO BRASIL 3.660.881,54 RESERVA ECOLÓGICA NORTE 01. R.Ec. de Sauim-Castanheira (4001) TOTAL DE R. Ec. NORTE SUL 02. R.Ec. Ilha dos Lobos (4002) TOTAL DE R. Ec. SUL TOTAL DE R. ECOLÓGICA NO BRASIL UF AM ÁREA EM HA 109 109 UF RS ÁREA HA 1,7 Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação 1,7 110,7 Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 187 REFÚGIO DE VIDA SILVESTRE NORDESTE 01. R.V.S. Veredas do Oeste Baiano (1) UF BA TOTAL DE REF. DE VIDA SILV. NO BRASIL ÁREA EM HA 128.521,00 128.521,00 TOTAL DE UC DE PROTEÇÃO INTEGRAL (HA) 23.836.303,15 USO SUSTENTÁVEL (ARIE, APA., RESEX., FN) ÁREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL NORTE 01.A.P.A. do Igarapé Gelado (5012) TOTAL DE A.P.A. DO NORTE NORDESTE 02. A.P.A. Barra do Rio Mamanguape (5019) 03. A.P.A. Chapada do Araripe (5022) 04. A.P.A. Costa dos Corais (5024) 05. A.P.A. Delta do Parnaíba (5020) 06. A.P.A. de Fernando de Noronha (5011) 07. A.P.A. Jericoacoara (5006) 08. A.P.A. de Piaçabuçu (5002) 09. A.P.A. Serra da Ibiapaba (5021) 10. A.P.A. Serra de Tabatinga (5016) TOTAL DE A.P.A. DO NORDESTE SUDESTE 11. A.P.A. de Petrópolis (5001) 12. A.P.A. de Cairuçu (5008) 13. A.P.A. Morro da Pedreira (5015) 14. A.P.A. da Serra da Mantiqueira (5010) 15. A.P.A. de Cananéia-Iguapé-Peruíbe (5007) 16. A.P.A. Carste da Lagoa Santa (5014) 17. A.P.A. Cavernas do Peruaçu (5013) 18. A.P.A. de Guapi-Mirim (5005) 19. A.P.A. da Bacia do rios São João/Mico-Leão-Dourado (5029) TOTAL DE A.P.A. DO SUDESTE SUL 20. A.P.A. Ibirapuitã (5017) 21. A.P.A. Anhatomirim (5018) UF PA ÁREA EM HA 21.600,00 21.600,00 UF PB CE, PI, e PE AL e PE PI, CE e MA PE CE AL CE e PI ÁREA HA 14.640,00 1.063.000,00 413.563,00 313.800,00 93.000,00 207 9.143,00 1.592.550,00 PI, MA, TO e BA 35.000,00 3.534.903,00 UF RJ RJ MG MG, RJ e SP SP MG MG RJ RJ ÁREA HA 59.049,00 32.688,00 66,200,00 422.873,00 234.000,00 35.600,00 143.866,00 13.961,00 150.700,00 1.092.737,00 UF RS SC ÁREA HA 318.000,00 3.000,00 UF PR e SP ÁREA HA 283.014,00 PR, SP e MS SC 1.003.059,00 156.100,00 UF DF e GO DF GO, TO e MT GO e BA GO e DF 1.763.173,00 ÁREA HA 35.588,00 82.967,00 357.126,00 176.159,00 504.608,00 ÁREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL SUL 22. A.P.A. de Guaraqueçaba (5009) 23. A.P.A. Ilhas e Várzeas do Rio Paraná (5023) 24. A.P.A. da Baleia Franca (5026) TOTAL DE A.P.A. DO SUL CENTRO-OESTE 25. A.P.A. da Bacia do Rio Descoberto (5003) 26. A.P.A. da Bacia do Rio São Bartolomeu (5004) 27. A.P.A. Meandros do Araguaia ( 5025) 28. A.P.A. das Nascentes do rio Vermelho ( 5027) 29. A.P.A. do PLanalto Central ( 5028) TOTAL DE A.P.A. DO CENTRO-OESTE TOTAL DE A.P.A. NO BRASIL Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação 1.156.448,00 7.568.861,00 Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 188 ÁREAS DE RELEVANTE INTERESSE ECOLÓGICO NORTE 01. A.R.I.E. Javari Buriti (7009) 02. A.R.I.E. Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais ( 7008) 03. A.R.I.E. Seringal Nova Esperança ( 7019) TOTAL DE A.R.I.E. DO NORTE UF AM AM ÁREA EM HA 15.000,00 30.085,00 AC 2.576,47 NORDESTE 04. A.R.I.E. Manguezais da Foz do Rio Mamanguape (7010) 05. A.R.I.E. Murici (7001) (englobada pela E.E. de Murici) 06. A.R.I.E. Cocorobó (7002) 07. A.R.I.E. Vale dos Dinossauros (7005) TOTAL DE A.R.I.E. DO NORDESTE UF PB AL BA PB 47.661,47 ÁREA HA 5.721,07 7.500,00 - SUDESTE 08. A.R.I.E. Matão de Cosmópolis (7007) 09. A.R.I.E. Floresta da Cicuta (7006) 10. A.R.I.E. Mata de Santa Genebra (7012) 11. A.R.I.E. Ilhas Queimada Grande e Queimada Pequena(7013) 12. A.R.I.E. Ilha Ameixal (7014) 13. A.R.I.E. Pé-de-Gigante (7016) 14. A.R.I.E. Vassununga (7017) 15. 8. A.R.I.E. das Ilhas Cagarras (7015) TOTAL DE A.R.I.E. DO SUDESTE UF SP RJ SP SP SP SP SP RJ 13.221,07 ÁREA HA 173,05 131,28 251,78 33 400 10,6 149,87 200 SUL 16. A.R.I.E. Ilhas do Pinheiro e Pinheirinho (englobada pelo P.N. do Superagui) 17. A.R.I.E. Pontal dos Latinos e Pontal dos Santiagos (7003) 18. A.R.I.E. Serra das Abelhas e Rio da Prata (7018) TOTAL DE A.R.I.E. DO SUL UF PR 1349,58 ÁREA HA 109 RS SC 1.750,00 4.604,00 6.463,00 CENTRO-OESTE 19. A.R.I.E. Capetinga/Taquara (7004) TOTAL DE A.R.I.E. DO CENTRO-OESTE UF DF ÁREA HA 2.100,00 2.100,00 TOTAL DE A.R.I.E.NO BRASIL 70.795,12 RESERVAS EXTRATIVISTAS NORTE 01. R.Ex. Alto Juruá 02. R.Ex. Chico Mendes 03. R.Ex. Rio Cajari 04. R.Ex. Rio Ouro Preto 05. R.Ex. Lago do Cuniã 06. R.Ex. Extremo Norte do Tocantins 07. R.Ex. Tapajós-Arapiuns 08. R.Ex. Médio Juruá 09. R.Ex. Alto Tarauacá 10. R.Ex. Baixo Juruá 11. R.Ex. Rio Cautário 12. R.Ex. Auatí-Paraná 13. R.Ex. Barreiro das Antas 14. R.Ex. Soure 15. R.Ex. Jutaí UF AC AC AP RO RO TO PA AM AC AM RO AM RO PA AM HA 506.186,00 970.570,00 481.650,00 204.583,00 55.850,00 9.280,00 647.610,74 253.226,50 151.199,64 187.982,31 73.817,90 146.950,82 107.234,25 15.343,00 275.532,88 UF AC HA 750.794,70 RESERVAS EXTRATIVISTAS NORTE 16. R.Ex. Cazumbá-Iracema Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 189 17. R.Ex. Maracanã 18. R.Ex. de São João da Ponta 19. R.Ex. Chocoaré-Mato Grosso 20. R.Ex. Mãe Grande de Curuçá PA PA PA PA 30.018,88 3.203,40 2.785,72 37.062,90 TOTAL DE RESEX DO NORTE NORDESTE 21. R.Ex. Ciriáco 22. R.Ex. Mata Grande 23. R.Ex. Quilombo do Frexal 24. R.Ex. Baía de Iguape 25. R.Ex. Marinha do Corumbau 26. R.Ex. Marinha do Delta do Parnaíba 27. R.Ex. Marinha da Lagoa do Jequiá UF MA MA MA BA BA MA AL 4.910.882,64 ÁREA HA 7.050,00 10.450,00 9.542,00 8.117,53 89.500,00 27.071,30 10.203,90 TOTAL DE RESEX DO NORDESTE SUDESTE 28. R.Ex. Arraial do Cabo 29. R.Ex. do Mandira UF RJ SP TOTAL DE RESEX DO SUDESTE SUL 30. R.Ex. Pirajubaé 161.934,73 ÁREA HA 56.769,00 1.175,93 57.944,93 UF SC ÁREA HA 1.444,00 TOTAL DE RESEX DO SUL 1.444,00 TOTAL DE RESEX NO BRASIL 5.132.206,30 FLORESTA NACIONAL NORTE 01. F.N. Altamira 02. F.N. Amapá 03. F.N. Amazonas 04. F.N. Bom Futuro 05. F.N. Carajás 06. F.N. Caxiuanã 07. F.N. Cubaté 08. F.N. Cuiari 09. F.N. Humaitá 10. F.N. Içana 11. F.N. Içana-Aiari 12. F.N. Itacaiunas 13. F.N. Itaituba I 14. F.N. Itaituba II 15. F.N. Jamari 16. F.N. Macauã 17. F.N. Mapiá-Inauiní 18. F.N. Pari-Cachoeira I 19. F.N. Pari-Cachoeira II 20. F.N. Piraiauara 21. F.N. Purus 22. F.N. Roraima 23. F.N. Saraçá-Taquera 24. F.N. Tapajós 25. F.N. Tapirapé-Aquiri 26. F.N. Taracuá I 27. F.N. Taracuá II 28. F.N. Tefé 29. F.N. Urucu 30. F.N. Xié UF PA AP AM RO PA PA AM AN AM AM AM PA PA PA RO AC AM AM AM AM AM RR PA PA PA AM AM AM AM AM Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação HA 689.012,00 412.000,00 1.573.100,00 280.000,00 411.948,87 200.000,00 416.532,17 109.518,55 468.790,00 200.561,47 491.400,27 141.400,00 220.034,20 440.500,00 215.000,00 173.475,00 311.000,00 18.000,00 654.000,00 631.436,66 256.000,00 2.664.685,00 429.600,00 600.000,00 190.000,00 647.744,00 559.504,09 1.020.000,00 66.496,38 407.935,81 Dissertação de Mestrado em Integração da América Latina – PROLAM Luiz Fernando Ferreira 190 31. F.N. Xingu 32. F.N. Mulata 33. F.N. Pau-Rosa 34. F.N. Santa Rosa do Purus 35. F.N. São Francisco 36. F.N. Jatuarana TOTAL DE F.N. NO NORTE PA PA AM AC AC AM 252.790,00 212.751,18 827.877,00 230.257,34 21.600,00 837.000 NORDESTE 37. F.N. Araripe-Apodi 38. F.N. Contendas do Sincorá 39. F.N. Cristópolis 40. F.N. Açu 41. F.N. Nísia Floresta 42. F.N. Sobral TOTAL DE F.N. NO NORDESTE SUDESTE 43. F.N. Capão Bonito 44. F.N. Ipanema 45. F.N. Mário Xavier 46. F.N. Passa Quatro 47. F.N. Rio Preto 48. F.N. Ritápolis 49. F.N. Lorena 50. F.N. Paraopeba 51. F.N. de Goytacazes 52. F.N. de Pacotuba TOTAL DE F.N. NO SUDESTE UF CE ÁREA HA 38.626,32 BA BA RN RN CE 11.034,30 11.952,70 215,25 174,95 598 62.601,52 ÁREA HA 4.344,33 5.179,93 493 335 2.830,63 17.281.949,99 SUL 53. F.N. Açungui 54. F.N. Caçador 55. F.N. Canela 56. F.N. Chapecó 57. F.N. Ibirama 58. F.N. Irati 59. F.N. Passo Fundo 60. F.N. São Francisco de Paula 61. F.N. Três Barras TOTAL DE F.N. NO SUL CENTRO-OESTE 62. F.N. Brasília 63. F.N. Silvânia TOTAL DE F.N. NO CENTRO-OESTE UF SP SP RJ MG ES MG SP MG ES ES UF PR SC RS SC SC PR RS RS SC UF DF GO 89,5 249,31 200 1.350,00 450,59 15.522,29 ÁREA HA 728,28 710,44 517,73 1.606,63 570,58 3.495,00 1.328,00 1.606,70 4.458,50 15021,86 ÁREA HA 3.353,18 466,55 3.819,73 TOTAL DE FLONAs DO BRASIL 17.378.915,39 TOTAL DE UC DE USO SUSTENTÁVEL 30.150.777,81 TOTAL DE UC NO BRASIL 53.987.080,96 Autora: Maria do Carmo Barêa Coutinho, 2003. Ecoturismo: Estágio no Brasil e Peru. Experiências Brasileiras em Capacitação