Japao 3

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Japao 3
Relações Luso – Nipónicas nos sécs. XVI e XVII. (3ª Parte)
Carlos Jaca
Publicado no “DIÁRIO DO MINHO” 28/09/05, 05/10/05 e 12/10/05
Durante o período de permanência portuguesa no Japão, a política do país
fechado não possibilitava o estabelecimento de relações diplomáticas entre os dois
países, isto se quisermos dar à referida expressão o sentido que hoje geralmente lhe
atribuímos. No entanto, apesar de tão diferentes culturas, os objectivos religiosos e
comerciais obrigavam a estabelecer contactos por enviados ou missões diplomáticas.
Relações Politicas e Diplomáticas. Primeiros contactos.
O primeiro contacto diplomático, se assim se pode chamar, foi protagonizado por
S. Francisco Xavier quando foi recebido em audiência pelo “rei” ou dáimio de
Yamaguchi. Obviamente, não se trata rigorosamente de uma embaixada, porquanto não
é enviada por um soberano a outro. No entanto, deve considerar-se relevante o facto
de ter sido preparada em nome do vice-rei da Índia,
representante do rei de Portugal.
Quando em 20 de Novembro de 1551 Xavier partiu do
Japão, o dáimio do Bungo, Otomo Sorin, fazia acompanhar o
Santo Apóstolo de um enviado ao vice-rei da Índia com a
promessa de bem acolher nos seus domínios padres e
comerciantes portugueses. Para o rei de Portugal, Otomo
enviava belos presentes e uma carta sendo portador o
converso japonês Bernardo, que viria a ingressar na
Companhia de Jesus, no Colégio de Coimbra, tornando-se
assim o primeiro japonês a pisar terras europeias.
Em 1554-1556, o vice-rei D. Pedro de Noronha designa Fernão Mendes Pinto para
acompanhar uma missão religiosa ao Japão, chefiada pelo Vice-Provincial Pe. Nunes
Barreto, mas o autor da “Peregrinação” viajava na qualidade de embaixador,
encarregado de estabelecer relações diplomáticas entre o Japão e a Índia Portuguesa.
Um ano antes desta missão, Otomo escrevera também uma carta, acompanhada
de alguns presentes, ao rei de Portugal, D. João III, incumbindo-se desta tarefa Diogo
Lopes de Sousa. A resposta a esta carta tem o selo de D. Sebastião, que então tinha
apenas quatro anos. É dirigida a Otomo, em 16 de Março de 1558, e nela diz o rei que o
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seu avô estava para responder à «visitação que lhe mandastes fazer», mas tinha
falecido.
Em 11 de Março de 1562, D. Sebastião dirigia-se novamente ao “rei” do Bungo e,
enviando cópia ao vice-rei da Índia, Conde de Redondo, confirmava que nas suas
relações com o Japão, apenas o preocupavam intenções de carácter religioso não
mencionando nas suas cartas quaisquer interesses de ordem comercial. De facto,
revelava tão somente um forte desejo em difundir a fé católica no Japão e levar o
dáimio do Bungo a converter-se à lei de Cristo.
A Corte de Lisboa mantinha-se informada dos progressos da cristianização, não só
por relatos dos capitães e mercadores como ainda pelas cartas que os jesuítas enviavam
directamente ao rei.
Por sua vez, as autoridades japonesas mostravam-se interessadas em chamar às
suas terras os barcos portugueses, pois o comércio era uma apreciável fonte de riqueza,
como foi o caso do extraordinário desenvolvimento da cidade de Nagasaki. Como
sabiam que os barcos não viriam senão aos portos onde aos padres era permitido residir
e pregar, os dáimios rivalizavam em acolher os missionários. Por isso, o dáimio de
Kagoshima escrevia ao vice-rei da Índia, em 1562:
«V. S. me fará grande honra querer escrever-me porque eu o farei todos os anos
e quando cá mandar portugueses, ou padres, tragam cartas ou recado de V. S. e eu
lhes farei todo o gasalhado e honra que suas cousas merecem».
O “rei” de Bungo, escrevendo em 13 de Setembro de 1568 ao bispo de Niceia, D.
Belchior Carneiro, refere uma carta da Raínha de Portugal «a qual estimei em tanto que
a trago em meu pescoço por relíquias». Porém, Otomo só em 1578 se deixou baptizar,
adoptando o nome de Francisco em homenagem ao “Apóstolo das Índias.”
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Embaixada japonesa ao Papa e ao rei de Portugal (Filipe II de Espanha).
Por volta de 1581, Valignano informava existirem no Japão cerca de 200 igrejas,
20 colégios ou residências com mais de 80 padres e frades, 2 grandes seminários e perto
de 150.000 cristãos.
O Padre Alexandre Valignano tinha sido enviado por Roma como Visitador da
Companhia das Índias Orientais, cabendo-lhe organizar a missão do Japão, elevada a
vice-província, subordinada ao Provincial de Goa.
A dimensão que o cristianismo atingira no território japonês e a necessidade de
um maior apoio europeu à continuidade e consolidação da obra de proselitismo e
cultura, poderão ter inspirado ao Visitador Alexandre Valignano a ideia de enviar uma
embaixada japonesa ao Velho Continente.
Efectivamente, entre 1582 e 1590, realiza-se a primeira embaixada do Japão à
Europa. A oportunidade da missão justificava-se não só para dar a conhecer a grandeza
da obra evangélica levada a cabo pelos missionários nas novas paragens, mas
principalmente para que os japoneses soubessem, através dos seus embaixadores, o que
era o mundo cristão ocidental, a importância das suas cidades, o fausto das suas cortes
e a dimensão da Igreja de que já faziam parte
Luís Fróis no seu «Tratado dos Embaixadores Japões
que foram do Japão a Roma no ano de 1582», refere que
Valignano, o cérebro da embaixada, pretendia «mostrar aos
Japoneses as grandezas da Europa, para que eles viessem
contar o que viram com os seus próprios olhos, para que
não julgassem que não era exacto o que lhes diziam os
padres; também desejava que os senhores feudais cristãos
do Japão enviassem seus parentes a prestar obediência ao
Santo Padre e que este e a sua Corte tivessem
conhecimento dos japoneses».
A embaixada era composta pelos japoneses Mâncio
Ito e Miguel Chigiva e representavam os senhores de Bungo, Arima e Omura,
respectivamente Otomo Yoshishige, Arima Shigetada e Omura Sumitada, que enviavam
as suas homenagens ao Papa e ao Rei de Portugal. Os jovens embaixadores, rapazinhos
que andavam pelos 14 anos, eram acompanhados por dois parentes, Martim Hara e
Julião Nakaura e iam confiados aos cuidados do Pe. Diogo de Mesquita, que era Mestre
do Seminário de Anzuchi e lhes servia de intérprete, e do Irmão Jorge de Loiola.
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Entretanto, de Roma, o Geral da Companhia, Cláudio Aquaviva, determinou que
o Pe. Valignano permanecesse em Goa na qualidade de Provincial, fazendo-se substituir
pelo Pe. Nuno Rodrigues, Reitor do Colégio de S. Paulo naquela mesma cidade.
A embaixada partiu de Nagasaki, em 20 de Fevereiro de 1582, no barco do
capitão Inácio de Lima em direcção a Goa.
Por este tempo não se sabia aqui, ainda, do falecimento do Cardeal D. Henrique
e que, em consequência das Cortes de Tomar de 1581, Filipe II de Espanha era, agora,
também rei de Portugal, facto só conhecido no Japão no Verão de 1582.
A viagem foi longa, tendo a embaixada permanecido alguns meses em Macau e
Cochim. Durante o longo tempo das esperas e da viagem, os dois jovens japoneses
estudavam latim, canto, música, japonês e português.
A 20 de Fevereiro de 1584, dois anos depois de terem largado de Nagasaki,
partiram finalmente para Lisboa onde desembarcaram a 10 de Agosto do mesmo ano.
Recebidos com muito carinho e entusiasmo, ficaram alojados no Convento de S. Roque,
propriedade da Companhia.
Nos Paços da Ribeira foram recebidos pelo Cardeal - Arquiduque, Alberto de
Áustria, que substituía Filipe II no Governo do Reino, em virtude do rei de Portugal e
Espanha se encontrar em Toledo.
O Cardeal Alberto acolheu-os «mui alegre e dignamente» e através do intérprete
Pe. Diogo de Mesquita «respondeo compridamente, mostrando quanto folgava com sua
hida, e vista, e que teria bem cuidado das couzas que lhe encomendavam, e por um
grande espaço dilatou a pratica em lhes perguntar de sua disposição, idades, parentes,
e como se chamavam, e outras diversas couzas. E tendo com elles comprimentos de
muita humanidade, se despediram de S. Alteza».
Durante os 26 dias que permaneceram em Lisboa visitaram o Paço de Sintra e
S.Julião da Barra, mas foi o Mosteiro dos Jerónimos «que de todas as couzas que viram
em Portugal foi a que mais lhes agradou quando viram a riqueza daquelle portal, a
sumptuosidade da Igreja, e nobreza daquelle Mosteiro».
A 5 de Setembro viajaram para Évora onde visitaram o Arcebispo D. Teotónio e
foi rezada missa solene em que Mâncio e Miguel tocaram órgão «mui arrezoadamente»
surpreendendo os assistentes».
Em Vila Viçosa foram recebidos pelos duques de Bragança, D. Teodósio e D.
Catarina, com grande aparato e pompa, tendo os «Senhores Japões ficado
admiradíssimos de ver o estado, e riqueza daquella casa de Bragança, e da sua baixela
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de ouro e prata, e ouro, a Capella não somente ornada de ricas peças, e ornamentos de
muito preço, e vazos grandíssimos de prata e ouro, mas o concerto e ordem sem
discrepância dos cantares e tangedores, as quaes cousas todas estavam tanto a ponto, e
com tanta polícia preparadas, como se podia fazer para receberem, e agazalharem hum
Rey dos Grandes de Europa».
De Vila Viçosa a missão dirigiu-se para Toledo e Madrid. No Escorial foi-lhes
concedida audiência por Filipe II que «os abraçou benigno mostrando grande estimação
da amizade dos seus Reys. Fez-lhes El-Rey grandes mercês e lhes mandou mostrar o
Escorial, e todas as grandezas da sua corte; mandou-lhes preparar huma boa nau para o
transporte a Itália».
Em 20 de Março de 1585 foram recebidos em Roma com grande cerimonial, ao
som de trombetas e clarins. O Papa convocou um consistório a fim de tratar das
formalidades da recepção, determinando que se realizasse «com as mesmas honras que
se davam aos embaixadores da Europa, para edificação dos Reys do Japão, e confusão
dos hereges. Foi o Bispo de Imola, Mestre-camera do Papa cumprimentá-los em nome
de S. Santidade, e o mesmo também fizeram os cardeais e embaixadores».
Efectivamente, a recepção em Roma foi a mais espectacular, com um magnífico
cortejo composto de cavalaria pontifical, cardeais, embaixadores, camareiros e oficiais
do palácio, músicos e à frente Mâncio Ito escoltado por dois arcebispos.
Todos os sinos tocaram e o castelo de Sant´Ângelo disparou salvas de artilharia.
Na recepção com invulgar solenidade, na Sala Régia do Vaticano, os embaixadores
apresentaram as cartas e Gregório XIII abraçou-os, chorando, comovido pela
homenagem dos cristãos que tinham vindo de tão longe. Tratou-os paternalmente,
ofereceu-lhes fatos europeus e dinheiro para as suas despesas.
Os embaixadores tiveram ocasião de assistir à entronização de Sisto V, em 15 de
Abril, duas semanas após o falecimento de Gregório XIII.
No regresso, nas várias cidades da Itália, as manifestações de pompa e regozijo
foram iguais às das cidades por onde haviam passado na ida. Voltaram por Madrid,
Évora, Lisboa, Batalha, Alcobaça. Na visita a Coimbra, onde permaneceram vinte dias,
os jovens embaixadores assistiram às festas do Natal.
Em Abril de 1586 a missão empreendia a viagem de regresso. Porém, só em 1590,
depois de passarem por Goa e Macau os embaixadores japoneses, novamente
acompanhados pelo Pe. Valignano, que ficara naquela cidade como Provincial,
chegaram a Nagasaki.
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Como se sabe, a situação tinha mudado muito com a morte de Oda Nobunaga, e
estar em vigor o édito de 24 de Julho de 1587, decretado por Hideyoshi, que ordenara a
expulsão dos jesuítas.
Antes que a embaixada entrasse no Japão, Hideyoshi declarara que só receberia
o Pe. Valignano no caso deste lhe vir prestar apenas homenagem, pois se viesse como
embaixador para lhe pedir em nome do vice-rei da Índia que revogasse o édito da
expulsão dos missionários nem sequer desejava vê-lo. E, principalmente, que não viesse
falar-lhe da sua «diabólica religião».
Após negociações, Valignano obteve licença para entrar no Japão, não como
missionário, mas na qualidade de embaixador do vice-rei da Índia, D. Duarte de
Meneses.
Na recepção à embaixada os dáimios do Bungo, Arima e Omura, manifestaram
uma enorme satisfação pelo magnífico acolhimento proporcionado aos seus enviados e
pela carta e presentes do rei de Portugal.
Pode considerar-se que a missão dos três dáimios de Kiushu à Europa constituiu
um acontecimento relevante na história das relações entre o Oriente e o Ocidente.
Embaixada de Portugal ao Japão em 1647.
Já foi referido que, em 1638, tinha sido decretada no Japão a proibição de todo
o comércio com os portugueses sob pretexto de terem
eles continuado a trazer missionários, transgredindo
ordens em contrário, e de terem fomentado a rebelião
dos cristãos em Shimabara.
Acontece que pouco depois, em 1640, Portugal
recupera
a
sua
independência,
ficando
por
consequência a cidade de Macau privada do mercado
da
prata
das
Filipinas
que,
de
certo
modo,
compensava a perda da prata japonesa. Ora, sem a prata, essencialmente para se
resgatarem todas as riquezas da China, os interesses comerciais de Macau estavam
condenados à ruína.
A pedido da cidade de Macau, em 1642, e por influência em Lisboa de António
Fialho Ferreira e do padre jesuíta António Francisco Cardim, D. João IV nomeia em
Dezembro de 1643 uma embaixada ao Japão, de que encarrega o Capitão Gonçalo
Sequeira de Sousa, fidalgo da sua casa.
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A notável empresa diplomática destinada a reatar relações comerciais com o
Japão deixou Lisboa em princípios de 1644, mas só alcançaria o seu destino em 1647,
depois de tempestades, desvios de rota e outros contratempos em Goa e Macau.
Finalmente, em 26 de Julho de 1647, os dois galeões de El-Rei de Portugal
chegavam à vista de Nagasaki.
Após a chegada, veio uma embarcação pequena, a que chamam “funem”, «e os
que vinham nella perguntaram que embarcações eram aquellas, quem vinha nellas, e
que queriam, respondeo-se-lhes serem galeões del Rei de Portugal, nos quais enviava
seu embaixador ao imperador do Japão e que havia perto de quatro annos que tinha
partido do Reino, com a qual se despedio a embarcação».
Mais tarde veio outra embarcação que trazia três “jurabaças” (intérpretes)
perguntando se se tratava de uma verdadeira embaixada ou de negociantes, tendo-se
respondido que era uma embaixada oficial do rei de Portugal participando a
restauração da independência e a subida ao trono, não os movendo qualquer intenção
de comércio.
Na madrugada de 15 de Agosto os portugueses verificaram com surpresa que os
galeões estavam prisioneiros, cercados por três fileiras de embarcações, erguendo-se a
intervalos torres armadas com peças de artilharia. Era um cerco fortíssimo, do qual
seria difícil sair. Durante a angustiosa espera, Sequeira de Sousa manteve a maior
dignidade e sangue frio, recusando o ataque ao cerco que os marinheiros pretendiam
levar a cabo.
A 29 de Agosto, depois de várias visitas dos japoneses aos galeões, a trazer e
levar mensagens, vieram finalmente dois altos funcionários com os intérpretes trazer a
resposta que se esperava do conselho do governo, cujo teor é o seguinte:
1º- «Que o Emperador do Japão mandou matar muitos europeus portugueses e
castelhanos, porque tendo prohibido a lei christã, e os mesmos portugueses e
castelhanos mandaram muitas vezes de seus reinos padres a Japão persuadindo e
fazendo christãos a muitos japões, foram causa suas mortes;
2º- «Que a prova certa que promulgando a lei dos christãos com capa da mesma
lei tomaram reinos alheios, e que desejam grandemente tomar também o reino do
Japão, como confessaram alguns europeus, pelo que o Emperador mais e mais tem esta
lei por penosa;
3º -«Que o Emperador por razão dos dous capítulos sobreditos prohibio
rigorosamente o comercio e navegação e comunicação dos portugueses e castelhanos
com o Japão
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4º - «Que posto que o Emperador de Japão os anos atrás mandou e intimou que
se por algum caso viessem a Japão alguns navios do sobredito reino, seriam castigados
com pena de morte todos os que nelles viessem, com tudo por que o Emperador ouvio
agora que el-rei de Portugal lhe mandou embaixador por recobrar seu reino, e que o
embaixador sem repugnância nem resistência entrou no porto de Nagasaque, não julga
o dito embaixador por digno de morte;
5º - «Que ainda que el-rei de Portugal diz agora que deseja amizade do
Emperador, com tudo não há para que assim o desejar, porém outra cousa seria se na
carta que el-rei de Portugal escreve ao Emperador do Japão houver prova certa que
daqui por diante não promulgarão mais com o Japão a lei christã, que o Emperador
tantos annos há tem prohibido a navegação e comunicação daquele reino com Japão,
tão somente por cauza da lei christã, por nenhum caso dará ouvidos a alguma outra
couza, posto que o sobredito possa, assim prohibe o Emperador daqui por diante mais e
mais toda a comunicação daquelle reino com Japão».
Em face desta última determinação, o embaixador Sequeira de Sousa achou
conveniente perguntar aos governadores se D. João IV escrevesse ao Imperador,
garantindo que futuramente «não promulgarão seus vassalos mais a lei cristã nestes
reinos de Japão», a antiga amizade poderia ser reatada.
A resposta transmitida verbalmente pelos governadores foi negativa; que o
desejo do Imperador era não querer com os portugueses amizade alguma e que a sua
última vontade era que se fossem embora.
Concluindo, poderá admitir-se que a embaixada de 1647, parece ser o resultado
do facto do governo de D. João IV presumir que o Japão nos expulsara por julgar os
negociantes e embaixadores «meros instrumentos de Castela, da sua ambição de
domínio e opressão». A embaixada de D. Gonçalo de Sequeira falhou, mas os japoneses
ficaram agradavelmente impressionados com os seus modos dignos e determinados, por
isso lhe permitiram cumprir a sua missão em paz.
A última tentativa para restabelecer relações com o Japão foi feita por Macau
em 1685, quando um junco japonês deu à costa naquele território. O Governo
macaense aproveitou a oportunidade levando os treze náufragos para Nagasaki, no
barco “S. Paulo”. As autoridades japonesas agradeceram e louvaram a atitude dos
portugueses, mas lembraram, mais uma vez, que as leis anticristãs estavam em vigor.
Concluindo este capítulo apraz registar que, muito recentemente, 13 de Julho,
no encerramento da Peregrinação Internacional Aniversária ao Santuário de Fátima, o.
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Arcebispo de Osaka, D. Leo Jun Ikenaga, agradeceu a herança missionária portuguesa
no Japão, sublinhando que foi graças às caravelas portuguesas que o Cristianismo
chegou a este país asiático.
«Em 1543 os primeiros portugueses atracaram no sul do Japão. Foi a partir de
então, já lá vão mais de 450 anos, que as caravelas portuguesas com os seus
missionários nos levaram a fé cristã», sublinhou.
A Igreja Católica no Japão, organizada em 16 dioceses, conta com cerca de 500
mil fiéis, pouco menos de 0,5% da população a que se junta outro meio milhão de
católicos provenientes das comunidades de imigrantes, em especial brasileiros,
peruanos, coreanos e filipinos.
O Comércio Luso – Nipónico. O eixo comercial Macau – Nagasaki – Macau.
Descobertas as ilhas nipónicas, logo os comerciantes portugueses começaram a
demandar o Japão. Se bem que, por este tempo, Portugal não tivesse ainda
estabelecido relações oficiais com a China, verificava-se a existência de um comércio
de contrabando ao longo da costa chinesa, nomeadamente nos territórios de Liampó e
Chincheo.
Efectivamente, a partir de meados do séc. XVI, a rota principal do nosso
comércio dirigia-se para a Índia, com uma linha de derivação para Malaca e China e
outra de Macau para Nagasaki.
O documento mais antigo que refere o nome de Macau, e comprova
simultaneamente a presença portuguesa, é uma carta de Fernão Mendes Pinto:
«Macuao, 20 de Novembro de 1555» registando ainda, o mesmo texto, a variante
“Amaquo”. Também o Provincial jesuíta, Pe. Belchior Nunes Barreto, escreve: «deste
Machoam porto da China, 23 de Novembro de 1555».
Refira-se, no entanto, que a formal cessão de Macau aos portugueses feita
inicialmente pelas autoridades de Cantão data de 1557,logo ratificada pelo imperador
Von Tsong por via da «admirável conduta dos portugueses no extermínio dos piratas,
que entusiasticamente a aplaudiu e, querendo mostrar-se liberal, confirmou a
autorização de os portugueses se estabelecerem na Península de Macau (1557) e dela se
considerarem senhores».
Assim, a presença portuguesa em Macau funcionaria como garante de
estabilidade em toda a região e cobertura à sua navegação costeira. Contudo, sem
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prejuízo para o auxílio no combate à pirataria no mar de Cantão, parece mais provável
que a cessão de Macau tivesse atrás de si um processo evolutivo de natureza politica e
económica que se verificava na China. A cessão ter-se-á feito não tanto para servir
como base de policiamento contra a pirataria, mas fundamentalmente como porto e
entreposto do seu comércio externo e navegação estrangeira.
A cedência de Macau a Portugal proporcionava aos chineses criar, fomentar e
proteger o seu comércio externo, auferindo todas as suas vantagens, mas sem arcar
com as correspondentes responsabilidades, trabalhos e perigos. A cessão fez-se aos
portugueses, porque éramos os únicos intermediários capazes de efectivar e
desenvolver este comércio, visto determos nas nossas mãos o exclusivo das
comunicações marítimas e comerciais, não só entre a Europa e o Oriente como também
- o que era importantíssimo – entre as diversas regiões do Extremo – Oriente entre si.
Foi assim que, após o estabelecimento de Macau, os portugueses se transformaram em
intermediários e transportadores de todo o lucrativo comércio e tráfego da China com o
Japão, Manila, Sião, Malaca, Índia e Europa.
Por volta de 1560, havia poucos chineses que ousavam ir ao Japão e poucos
japoneses se atreviam a sair do seu país.
Devido à fricção constante existente nesta altura entre chineses e japoneses, e
ao facto de o Imperador Ming ter proibido todas as relações entre o seu Império e o
Japão, os portugueses teriam chegado na melhor oportunidade para obter um
monopólio, mais ou menos oficial, do comércio entre os dois países, podendo assim
servir de intermediários. Era, de facto, o estabelecimento do entreposto de ligação
entre Goa e Nagasaki para o intercâmbio comercial e cultural luso – japonês.
Este comércio consistia, essencialmente, em o Japão importar seda crua (não
preparada, tal e qual sai do casulo), roupas de seda, ouro, veludo, pólvora, cerâmica,
chumbo, fio torcido, que os portugueses traziam da China, e especiarias oriundas da
Índia e do Sudeste asiático.
No regresso do Japão os portugueses traziam barras de prata, artigos lacados e
outros objectos de arte de menor importância. Saliente-se que os artigos levados para o
Japão eram originários da China e dos Mares do Sul, nada da Europa. O vinho era
trazido, em tonéis, de Portugal e com frequência oferecido como presente aos senhores
feudais que muito o apreciavam. Também era prática corrente dos jesuítas oferecer
artigos de origem europeia às autoridades locais.
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A viagem de ida e volta entre Goa e Nagasaki, porto terminal do comércio
japonês a partir de 1570, demorava de dezoito meses a três anos, conforme a duração
da estadia em Macau (e / ou Nagasaki), se perdesse a monção.
Nagasaki era uma pobre aldeia de pescadores quando foi encontrada pelo Pe.
Gaspar Vilela, tendo sido o Pe. Cosme de Torres a descobrir as excepcionais vantagens
marítimas como bom porto natural e hoje um dos maiores do Japão. Documentação da
época atesta que os portugueses estavam muito contentes com o porto, a que
chamaram o melhor porto do mundo. A partir de 1571, os barcos portugueses
começaram a entrar em Nagasaki quase todos os anos. No alto, na extremidade do
cabo, construíram uma igreja e as cidades vizinhas de Shimabara, Omura, Hirado,
Yokoseura, etc., começando a prosperar. Japoneses que tinham sido expulsos das suas
casas por terem aderido ao cristianismo, começaram a mudar-se para estas regiões e
construíram as suas próprias cidades cristãs.
Até meados da década de 1550, altura em que os portugueses se estabeleceram
em Macau, o comércio com o Japão era mantido através da iniciativa privada, mas
como os lucros aumentaram o Estado passou a controlá-lo sob a chefia de um capitãomor. Mais tarde, a viagem passou a ser adjudicada em hasta pública na cidade de Goa.
O posto de capitão-mor era conferido pelo vice-rei ou governador da Índia, e
anteriormente por concessão régia, como recompensa do serviço prestado nas guerras
da Índia. O capitão-mor, que auferia boa percentagem sobre a maioria dos produtos
que constituíam o carregamento, além dos lucros conseguidos através do seu próprio
investimento particular, acumulava as funções de governador de Macau, mas a partir de
1623 a autoridade do capitão limitava-se aos navios e à jurisdição sobre a comunidade
portuguesa de Nagasaki, de acordo com a tradição asiática que permitia às
comunidades estrangeiras administrarem-se com certa autonomia. O capitão-mor era
tratado com grandes atenções pelas autoridades japonesas, e quando visitava o xógun
recebia as honras do dáimio. Geralmente, porém, o capitão-mor ficava em Nagasaki e
enviava um representante ao xógun de Kioto, e mais tarde a Edo, ao menos uma vez
por ano, levar presentes, segundo costume japonês.
Efectivamente, o capitão-mor era investido não apenas do direito de
superintender no comércio, administração sobre os súbditos portugueses na área
servida pela viagem, como também era investido de poderes de representação
diplomática.
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A viagem proporcionava elevada rentabilidade, contribuindo para que tanto
Macau como Nagasaki se transformassem de obscuras aldeias piscatórias em
florescentes portos de mar, graças a um comércio mutuamente lucrativo. Realizavamse gigantescos lucros, que eram quatro vezes superiores aos obtidos antes da extensão
do comércio ao Japão. Na verdade, a viagem completa Índia – Japão, algumas vezes
dando lucros dez ou mais vezes superiores ao valor original das cargas embarcadas na
Índia ou Malaca, era a mais lucrativa de todas as rotas.
O quinhentista Diogo do Couto calculava que o capitão-mor arrecadava entre 70
a 80 mil pardaus em cada viagem, acrescentando que muitas vezes bastava uma destas
viagens para permitir ao capitão-mor reformar-se com fortuna.
De facto, na primeira década do séc. XVII, a posição alcançada pelos mercadores
de Macau em Nagasaki era privilegiada. Os barcos que vinham de Macau traziam
geralmente a bordo duzentos ou mais mercadores, que desembarcavam imediatamente,
instalando-se cada um numa casa com os seus criados e escravos. Não olhavam a gastos
e nada parecia ser caro para eles. Durante os sete ou oito meses que permaneciam em
Nagasaki, chegavam a despender mais de 200.000 ou 300.000 mil moedas de prata, com
o que a população local muito beneficiava. Esta era uma das razões por que os
japoneses que aí viviam lhes dispensavam acolhimento tão cordial
Mesmo já nos últimos anos do comércio com o Japão os portugueses carregavam
anualmente 150 a 200 mil quilos de prata. Notável, se atendermos ao facto de que a
produção mundial da prata orçava por 370 a 420 mil quilos, correspondendo a produção
do Japão um terço a metade da produção mundial nessa época.
O comércio marítimo da Ásia, que permaneceu quase um século nas mãos dos
portugueses, iria entrar em declínio com o aparecimento de holandeses e ingleses nos
mares do Extremo-Oriente, no inicio do século XVII, tornando arriscada a viagem das
“naus de prata” de Goa para Nagasaki, com escala por Macau.
A par do crescente poderio holandês acirrado pelo ódio religioso e politico por
via da União Ibérica, intensificava-se a oposição das autoridades japonesas contra a
pregação da fé de Cristo, recrudescendo a perseguição aos cristãos, tanto conversos
como missionários, que, com desprezo da lei, continuavam a chegar de fora.
Como a prosperidade económica de Macau dependia essencialmente do comércio
com o Japão, os mercadores «puseram-se contra os padres», acusando-os de serem
«causa de quebrar-se este comércio importante por mandarmos padres a Japão».
Perante tal conjuntura, os mercadores decidiram enviar ao governo de Lisboa um
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pedido no sentido de proibir a actividade dos missionários no Japão e, se para isso fosse
necessário, «alcançar Breve de Sua Santidade que o haja por hora, enquanto as cousas
não tomam outro termo. Não pode Vossa Paternidade crer a miséria em que fica esta
cidade, porque, como todos, tinhão empregada sua prata em peças e seda para Japão,
como estas fazendas se não venderão, não se acha na terra hum real, porque pellas
fazendas ninguém dá nada, e tanto monta como se nada tivessem».
A carreira anual efectuada pela “nau do trato”, entre Goa e Nagasaki, durou até
1639, altura em que a política do país fechado do Xogunado hereditário dos Tokugawas
proibiu, sob pena de morte, as relações com o estrangeiro, exceptuando um reduzido
grupo de holandeses e de chineses, localizados e limitados a dois pequenos bairros de
Nagasaki
Cristianismo e comércio. A cedência de Nagasaki à Companhia de Jesus.
A participação dos jesuítas nas transacções comerciais, apesar de contrária à sua
«profesión e Constituciones», justificava-se pelos elevados custos a que a obra
espiritual da cristianização, ensino, manutenção de hospitais e cura de doentes
obrigava. E mais: sem a presença dos missionários no Japão, dificilmente teria sido
possível, poder-se-á dizer mesmo impossível, ao comércio luso-japonês atingir tão
notável projecção nos mares do Extremo – Oriente. Acrescente-se ainda o efeito
moderador e humanitário proveniente da intervenção dos jesuítas no comércio, como
era o caso da sua oposição ao tráfico de escravos tendo, inclusivamente, os bispos
Pedro Martins e Luís de Cerqueira ameaçado os negreiros de excomunhão
Os barcos portugueses que vinham anualmente para o Japão entravam nos portos
de Kiushu. A partir daqui iniciavam, então, os jesuítas o seu trabalho missionário.
Porém, como muitas vezes os senhores feudais de Kiushu estavam mais interessados no
ganho material do que no espiritual, os jesuítas resolviam tirar partido do interesse
deles pelo comércio, a fim de expandir o seu trabalho de evangelização. Saliente-se
que os comerciantes portugueses mantinham estreitos contactos com os jesuítas, não só
porque estes estavam sob a protecção do rei de Portugal, mas também pelo facto de se
manterem bem informados acerca da situação política japonesa permitindo-lhes, assim,
fornecer conselhos prudentes e seguros.
Com efeito, os jesuítas actuavam frequentemente como intermediários
defendendo, quando necessário, os interesses dos marinheiros e comerciantes junto dos
Carlos Rodrigues Jaca
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grandes senhores, devido às relações com estes serem mais directas do que com os
capitães ou comerciantes, que permaneciam pouco tempo no Japão.
Que o comércio luso-nipónico não pode (ou não podia) ser dissociado da religião
é o que, claramente, ressalta de uma informação do Pe. Visitador, Alexandre
Valignano:
«Vossa Reverência compreenderá que a seguir à graça e favor de Deus, o maior
auxílio que temos tido até aqui em conservar cristãos, é a “Grande Nau”.
Como os senhores do Japão são muito pobres, e os benefícios quando os barcos
vêm aos seus portos são muito grandes, eles procuram por todos os meios atraí-los aos
seus portos.
E desde que se convenceram de que eles só virão aonde há cristãos e igrejas, e
onde os padres desejam que eles venham, acontece que muitos deles, embora sejam
pagãos, procuram conseguir que os padres venham e conservar as igrejas e os
conversos, pensando que por estes meios, os barcos garantirão outros favores que
desejam obter dos padres. E como os japoneses dependem tanto dos seus senhores,
convertem-se logo que os senhores lhes dizem que o façam e pensam que é esse o seu
desejo. Esta é a porta por onde entraram a maior parte dos que foram baptizados no
começo; e deste modo começamos a ser recebidos no Japão e a converter cristãos em
vários lugares».
No entanto, deve referir-se que muitas das facilidades concedidas pelos dáimios
aos padres visavam a mira no lucro comercial, e se alguns deles se converteram, outros
exteriorizavam sentimentos (nunca experimentados) a fim de cativar a simpatia dos
missionários. Com frequência, os senhores feudais recorriam à intercessão dos padres
para que os barcos viessem comerciar aos seus portos.
Quanto os dáimios privilegiavam o comércio português pode verificar-se pelo
elucidativo episódio ocorrido com o “Santa Cruz”, comandado por Pedro de Almeida.
Quando o barco ancorou frente a Hirado em 1564, o jesuíta Cosme de Torres aproveitou
a oportunidade para exercer pressão sobre Matsuura, dáimio, que havia proibido os
padres de entrar em Hirado e dizer missa. Fundeado a seis milhas da cidade, o capitão
do barco impôs condições à sua entrada no porto, conseguindo, desse modo, a
readmissão dos jesuítas em Hirado e permissão para reconstruir uma igreja. Antes de se
fixarem em Nagasaki os navegadores e comerciantes portugueses frequentavam vários
portos e baías na ilha de Kiushu, nomeadamente, Kagoshima e Yamagawa, onde os
dáimios da família Shimazu criaram dificuldades à cristianização. Como os comerciantes
procuravam os lugares onde viviam os missionários, uma vez que estes constituíam o
Carlos Rodrigues Jaca
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seu apoio moral e elo de ligação, sobretudo no início, com os senhores feudais,
procuraram novos portos situados mais ao norte.
Descoberto o excelente porto de Nagasaki os portugueses procederam à
construção da cidade, em lugar acidentado para garantir melhor defesa, e voltado ao
mar.
A decisão da escolha teria pertencido ao Pe. Cosme de Torres «para que a Nao
pudesse perseverar nas terras de Dom Bartholomeo, e a Christandade ser com ella
favorecida, e ajudada, buscar-lhe porto seguro, e tomando um piloto com alguns
companheiros, de propósito andou o Padre. Correndo aquella costa e sondando as
entradas para descobrir o que melhor parecesse; e achando para isto ser apto e
conveniente o porto de Nagasaki, fazendo primeiro os consertos necessários com Dom
Bartholomeo, começou o Padre e os cristãos que andavam com suas famílias às costas
morando à sombra da Nao e ordenar-lhe ali Povoação de assento e morada certa».
A primeira vez que a “nau do trato” fundeou no porto de Nagasaki, uma aldeia
de pescadores, foi em 1571, ano da fundação da cidade. Com o comércio de Macau e o
afluxo de refugiados cristãos, Nagasaki iria, em breve, tornar-se numa grande cidade,
conhecida em todo o Japão
Em 9 de Junho de 1580, conforme consta da acta de doação, Omura Sumitada,
senhor de Orima (baptizado com o nome de Bartolomeu) e seu filho Sancho, atendendo
ao muito que deviam aos padres da Companhia, faziam «uma doação livre e perpétua, à
dita Sociedade e ao seu Padre Visitador, da aldeia de Nagasaki com todas as terras e
campos dentro dos seus confins sem qualquer reserva e dou-lhes de agora em diante
posse dela…Também dou e concedo a titulo perpétuo os dinheiros que o navio dos
portugueses tem que pagar pelo tempo em que permanece no dito porto, reservando
para mim os direitos do navio e de todos os outros navios que cheguem ao dito porto.
Darei ordem aos meus funcionários para fazer a colecta destes direitos, mas não devem
interferir em nada que diga respeito à governação do dito lugar» … No entanto, o
documento da doação reservava para D. Bartolomeu o direito de soberania, como se
infere do tributo anual que os jesuítas tinham de lhe pagar.
A doação da cidade e porto de Nagasaki envolvia uma complexidade tal, que
Valignano achou por conveniente dar conhecimento e justificações às autoridades de
Roma. Como Valignano tinha sido o homem que aceitou a doação e assentou nas suas
condições, competia-lhe enviar ao Geral da Companhia, em Roma, o relato fiel da
origem da cedência e as razões que levaram Omura Sumitada a fazer a oferta.
Carlos Rodrigues Jaca
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Comunicava que os proventos dos navios ser-lhe-iam assegurados para sempre,
porquanto se o porto pertencesse aos missionários os comerciantes nunca mais
deixariam de lá ir. E mais: o próprio D. Bartolomeu e o seu território ficariam seguros,
pois se o porto fosse pertença da Igreja «seria sempre para ele um santuário onde se
poderia refugiar numa qualquer emergência, e desta forma nunca perderia o seu
território».
Valignano comunicava, ainda, que tinha aceite a doação, condicionada ao direito
de abandonar o porto sempre que o julgasse conveniente, pedindo ao Geral parecer
favorável a esta condição. Isto impunha-se não só por via da instabilidade da política
japonesa, mas também devido ao regulamento sobre a posse dos bens eclesiásticos:
muitos desses bens eclesiásticos não poderiam ser alienados sem autorização da Santa
Sé, o que tornava a situação melindrosa no caso de uma mudança imprevisível da
política japonesa., visto que a distância de Roma não permitia uma autorização
atempada.
O Geral Aquaviva ratificou a doação, mas não deixou de sublinhar que em caso
nenhum deveria ser aceite apenas para garantir as vidas dos membros da Companhia na
sua condição temporal. Aceitava a doação e aprovava a condição imposta por
Valignano, «porque pareceu ao Padre Visitador e a outros padres do Japão que desta
forma a comunidade cristã e o senhorio das terras de Omura poderão ser ajudados».
Pode afirmar-se, sem dúvida, que a doação de 1580 continha vantagens para
ambas as partes: D. Bartolomeu garantia para os seus domínios o comércio português e
a protecção contra as ambições de Riõzõji (que era pagão e senhor de todo o reino de
Hizen); aos missionários era-lhes assegurado um rendimento anual e uma base sólida
para o seu apostolado.
Presença da Cultura Portuguesa no Japão.
O contacto com a cultura europeia, através especialmente dos portugueses,
marcou de tal modo a cultura japonesa que em nenhum outro país, exceptuando o
Brasil e os nossos antigos territórios africanos, a influência portuguesa foi tão
profunda e extensa.
Facilmente se conclui que o cultural e o religioso estão “umbilicalmente”
ligados na acção portuguesa no Japão, não só porque essa acção foi fundamentalmente
Carlos Rodrigues Jaca
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desenvolvida por missionários, mas também pela carga que o factor religioso exercia,
por esse tempo, na cultura portuguesa, nomeadamente ultramarina.
A civilização europeia, levada pelos portugueses, chega ao Japão num momento
histórico. A cultura japonesa encontrava-se numa situação de baixo nível e abalada por
frequentes guerras feudais que destruíam o país; o próprio budismo «a mais rica fonte
de espiritualidade», envolvia-se em lutas políticas, dividido em seitas religiosas que se
guerreavam criando um clima de descrédito.
Profundas transformações iriam acontecer no território japonês por efeito do
impacto da cultura portuguesa. No entanto, convém esclarecer que neste processo de
europeização, colaboraram e distinguiram-se homens de varias nações, como S.
Francisco Xavier, que era basco, Alexandre Valignano, italiano, mas na sua maior parte
os missionários eram portugueses e, mais que quaisquer outros, constituíam a
vanguarda e o “grosso da coluna” na missão de ocidentalizar o Japão dos sécs. XVI e
XVII.
Educação e Ensino.Quando os jesuítas portugueses chegaram ao Japão e verificaram a
degeneração em que se encontrava o ensino, decidiram lançar meios para dotar a
juventude de educação cristã.
A primeira escola elementar foi estabelecida em Funai, na Igreja de Bungo, em
1561, e vinte anos mais tarde a rede estendia-se por todo o país, atingindo cerca de
duas centenas.
Obviamente, que o ensino da Religião ocupava o lugar mais importante entre as
disciplinas que eram leccionadas, bem como orações em japonês e latim,
acompanhadas de música sacra. O Catecismo Romano publicado em 1563, foi traduzido
no Japão cinco anos depois, e era utilizado como livro de texto. O estudo de línguas,
especialmente o japonês e o latim, implicava uma cuidada preparação, sendo o japonês
estudado em caracteres românicos.
Após o decreto de expulsão dos missionários por Hideyoshi em 1587, estas escolas
elementares entraram rapidamente em decadência.
Para além destas escolas elementares os jesuítas portugueses estabeleceram
Seminários no Japão, porquanto o progresso do cristianismo aconselhava a preparação
de sacerdotes japoneses. O Visitador Alexandre Valignano fundou dois Seminários, um
Colégio e um Noviciado. No Seminário de Arima estudavam cerca de 100 estudantes,
quatro dos quais foram enviados à Europa em 1582, e um sobrinho do Imperador
Carlos Rodrigues Jaca
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Ogimachi. Filhos de dáimios e samurais e outros alunos procedentes de classes sociais
superiores estudaram no Seminário de Miyaco.
Em 1585, foi estabelecido em Funai um Colégio de Humanidades e Retórica.
Porém, devido à lei de 1587, teve de transferir-se para Chijiwa e finalmente para
Amacusa e Nagasaki. Pode avaliar-se o elevado nível deste Colégio quando se lê a
famosa “Arte Breve da Língoa do Japam”, a primeira gramática de língua japonesa,
composta pelo Padre João Rodrigues, Tçuzzu (intérprete) e publicada pelo Colégio de
Nagasaki
À época da chegada dos portugueses a ciência existente no Japão era a mesma
que fora trazida da China, sendo fortemente influenciada pela adivinhação,
superstição ritos religiosos e feitichismo; a observação e a experimentação não
despertavam qualquer interesse, encontrando-se a astronomia, matemática e medicina
em situação idêntica à que haviam atingido nos sécs. VIII e IX.
Apesar das suas limitações, a ciência europeia da época muito poderia transmitir
aos japoneses não só no domínio do conhecimento, como no do método e critério
cientifico, para além de que em certas ciências como a astronomia e as ciências
náuticas, os portugueses alcançaram renome europeu dada a sua larga experiência
marítima.
O notável influxo da cultura portuguesa, “Namban Bunca”, que o Japão foi
absorvendo e iria amadurecer nos dois séculos seguintes, manifestava-se no campo da
astronomia, geografia, arquitectura, arte militar, ciências naturais e com particular
repercussão no domínio da medicina e da navegação, das artes, das técnicas da
construção naval e da imprensa.
As Ciências:
Ciência Militar. Quando os três portugueses chegaram à ilha de Tanegashima, em 1543,
iniciaram os japoneses no uso das armas de fogo, nomeadamente o mosquete, (em
japonês “Teppô), que iriam despertar grande interesse entre os senhores feudais. A
melhor informação sobre a chegada dos portugueses ao Japão denomina-se
precisamente “Teppô – Ki (Livro das Espingardas) obra composta no período Keichô
(1596 - 1614) pelo bonzo Dariuji Bunji ou Fumiyuki
Carlos Rodrigues Jaca
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As primeiras espingardas, “Teppô”, foram fabricadas em Tanegashima, a pequena
ilha onde os portugueses primeiro desembarcaram, e passaram a ser chamadas
“tanegashima.”
Inicialmente, canhões e pistolas eram importados da Índia pelos senhores
feudais, mas, pouco depois, com uma rapidez incrível, os armeiros japoneses
dominavam a técnica de fabrico de espingardas, sendo vendidas aos milhares por todo o
país. Nos finais do séc. XVI estabelecia-se uma fundição de canhões em Nagasaki.
O emprego da artilharia transformou totalmente a arte da guerra: mudança das
tácticas militares, sistemas de fortificação e encurtamento das guerras civis. A
composição dos exércitos foi modificada, passando a fazer menos uso da cavalaria e a
empregar mais largamente a infantaria, de tal modo que no espaço de uma geração
desapareceram os combatentes a cavalo.
Oda Nobunaga, o 1º unificador do Japão, e os seus dois sucessores, Hideyoshi e
Ieyasu, nunca prescindiram da técnica de guerra, atribuindo grande importância às
armas de fogo; a própria protecção que Nobunaga dispensou aos missionários não era
alheia ao interesse de adquirir armas e munições aos portugueses.
Os êxitos militares de Nobunaga e de Hideyoshi não seriam possíveis sem a
utilização das armas de fogo, facilitando a unificação do país.
Os japoneses procuraram assimilar dos portugueses os conhecimentos de técnica
militar e de emprego de armas de fogo. Nos finais do séc. XVI surge o primeiro tratado
de artilharia cujo autor é Inatomi Ichimu (1562 – 1611), «Inatomi Ryu Kajutsu»(Tratado
de Artilharia de Inatomi).
Os conhecimentos adquiridos em contactos com os europeus iam sendo
progressivamente desenvolvidos e compilados em várias obras, e teria sido «a diligência
dos japoneses em procurar pôr-se a par dos progressos da arte militar ocidental que
permitiu ao Japão sair vitorioso da guerra com a China em 1894 – 1895 e vencer uma
das maiores potências europeias, a Rússia, em 1904 - 1905».
Medicina. Antes da chegada dos portugueses o exercício da medicina no Japão baseavase em conhecimentos trazidos, nos meados do séc.VI por médicos e farmacêuticos
chineses. No século seguinte, esses conhecimentos eram adquiridos através de
estudantes japoneses que se deslocavam à China. A medicina chinesa, “Kampo Igaku”,
envolvia práticas de feitiçaria, ritos budistas, incluía acupunctura, massagem e drogas;
permanecendo durante séculos em estagnação, a medicina japonesa limitava-se a
copiar a medicina chinesa.
Carlos Rodrigues Jaca
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Assim, quando os portugueses chegaram e trouxeram a medicina europeia,
“Namban Igaku”, (medicina do povo do Sul), operou-se uma viragem espectacular na
medicina japonesa, apesar da ciência médica ocidental se encontrar ainda em «estado
primitivo, mas o principio de objectividade que a ela presidia era de extraordinária
importância para expulsar as superstições e feitiçarias que envolviam a medicina
oriental».
Cabe a Luís de Almeida, mercador e licenciado para exercer a medicina, a glória
de
ter
introduzido
a
medicina
ocidental
no
Japão:
«impressionado por la actividad de los jesuítas en el Japón
en cuanto al tratamiento de enfermedades, y viendo la
cantidad de abortos y el abandono de niños por razones de
pobreza, asi como el numero de leprosos, dicidió ingressar
en la Compañia de Jesus, entregando todo su dinero,
fundando un hospital en Funai em 1557 del cual llegó a ser
medico».
Luís de Almeida
Luís de Almeida, justificaria a edificação do hospital
pelo facto dos japoneses não terem «maneira de cura, principalmente e de cirurgia».
Os primeiros anos da vida missionária de Luís Almeida desenvolvem-se em Funai,
a capital do Bungo. O seu campo de trabalho são os dois departamentos do hospital:
dirigia um departamento para os feridos e outro para leprosos e doentes contagiosos.
Anos de trabalho silencioso, abnegado, durante os quais se vai preparando para o seu
futuro apostolado. Aprende o idioma, os costumes e, nesse contacto diário, intimo, com
os seus doentes, vai penetrando no coração japonês.
Como a medicina interna, a cirurgia e o tratamento da lepra tivessem atingido
resultados satisfatórios, aumentou o número daqueles que acorriam ao hospital, o que
levaria Luís de Almeida a preparar quem o pudesse ajudar e também dar oportunidade
ao seu trabalho instruindo, assim, alguns japoneses, que cedo se tornaram óptimos
colaboradores. Entre os seus discípulos salienta-se Yamamoto Gensen que, em 1619,
escreveu o mais antigo livro conhecido sobre cirurgia, “Bangai Shuyo” (Colectânea
Sumária dos Conhecimentos Médicos).
Luís de Almeida medicava com drogas e ervas, tendo estabelecido uma farmácia
«com tantos materiais em mezinhas que mandara vir da China, que pera tudo se achava
logo remédio en sua caridade».
Carlos Rodrigues Jaca
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Entregue ao trabalho de manhã à noite, curando numerosos doentes, uns
residentes no hospital e outros que iam à consulta, a sua reputação estendia-se à
capital Miyaco (actual Kioto) e à região de Kanto, no Leste do Japão.
Um outro jesuíta português, cirurgião, tendo abjurado o cristianismo após ter
sido torturado, Cristóvão Ferreira, mais conhecido pelo nome japonês de Sawano
Chuan, contribuiu para a continuidade da tradição médica portuguesa, escrevendo o
livro “Namban Geka Hidensho” (“A Tradição Secreta da Cirurgia Namban”) e, ainda,
formando vários discípulos.
Geografia. Até meados do séc. XVI, os conhecimentos que os japoneses conheciam no
domínio da geografia eram muito rudimentares. Segundo um autor nipónico moderno
pensava-se, então, que o mundo se reduzia ao Japão, Índia e China, não tendo a menor
ideia acerca da existência da Europa,
África e América.
De qualquer modo, pelo menos a
partir da chegada dos portugueses, é
notório o interesse dos japoneses por
mapas, cartas e globos demonstrando
viva
curiosidade
em
obter
informações sobre o resto do mundo.
Oda Nobunaga interessava-se
pela
geografia
da
Índia,
pelos
costumes de outros países e ainda por aspectos relativos ao clima, Sol, Lua e estrelas.
Certamente, sabendo do interesse de Hideyoshi pelos assuntos de natureza
geográfica, a embaixada enviada ao Papa em 1582 trouxe-lhe entre os presentes,
enviados a partir de Roma, Portugal e Espanha, um exemplar do atlas mundial de
Abraão Ortelius, composto por 53 mapas, tendo Hideyoshi encomendado ao pintor Kano
Eitoku um biombo cujo tema era um desses mapas ampliado.
O interesse pela geografia pode ainda observar-se na temática tratada em cerca
de dez ou mais biombos da época. O primeiro mapa-mundo e esfera armilar, conhecidos
no Japão, datam de 1630, elaborados por Fukada Seshitsu. Acrescente-se, também, que
a teoria da esfericidade da terra surge pela 1ª vez, em 1650, numa obra japonesa,
“Kenkon Bensetsu” (Acerca do Universo) que é a tradução de um livro português de
astronomia, como se conclui da seguinte passagem: «Há dois países na Europa, Portugal
e a Espanha: os Espanhóis navegaram para Oeste e os Portugueses para Leste, para a
Carlos Rodrigues Jaca
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China e o Japão e aí se encontraram muitas vezes. Portanto a forma da terra é
redonda».
Astronomia. Também a astronomia fez sentir a sua influência sobre a cultura japonesa.
Parece que uma das razões da atenção dispensada aos missionários era o seu
conhecimento na área da astronomia, uma vez que tanto no Japão como na China, era
atribuída enorme importância aos fenómenos celestes na vida social e individual.
Considere-se que os missionários dissertaram sobre os corpos celestes, a
estrutura do Universo, a Terra e os fenómenos atmosféricos para demonstrar a
existência de Deus, já que os japoneses não tinham o conceito como Criador. Por esta
razão se compreende que as missões tivessem feito sentir a Roma a necessidade de
todos os missionários serem versados
em astrologia.
Valignano, Carlo Spínola e mais
tarde Cristóvão Ferreira contribuíram,
de
modo
notável,
para
o
desta
ciência
no
desenvolvimento
Japão. Em Miyaco, estabeleceram um
Instituto de Matemática e Astronomia e
em Nagasaki um Observatório.
Obviamente, os jesuítas não trouxeram para o Japão a teoria heliocêntrica, que
Copérnico lançara precisamente no ano da chegada dos portugueses, porquanto o
sistema geocêntrico de Ptolomeu representava a doutrina oficial da Igreja, além de que
aos japoneses interessava sobretudo a prática de navegação.
O primeiro livro que se conhece no Japão sobre a astronomia ocidental é da
autoria de Frei Pedro Gomes, Vice-Provincial do Japão, publicado em 1594 e usado nas
escolas japonesas.
Ciências Náuticas. No inicio do séc. XVII apareceu um livro japonês sobre navegação
“Genna Kokaisho” (Livro Náutico da Era Genna), escrito por Ikeda Koun, provavelmente
cristão de Nagasaki, e que aprendera a arte de navegar com o capitão Manuel
Gonçalves durante uma viagem a Manila em 1619.
Considerado por Kiichi Matsuda, Professor da Universidade de Kwansei-Gakuin
(Osaca), como o documento mais valioso da história da ciência no Japão, este livro
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resume todas as técnicas de navegação usadas pelos portugueses, que eram então as
mais avançadas do Mundo.
O autor japonês inclui no “Genna Kokaisho” os seguintes tópicos: o calendário
solar (almanaque); tábuas de longitude e latitude; métodos para calcular a latitude
pela altura do Sol; técnica para ler a bússola e as suas 32 direcções; medida do
quadrante; astrolábio; mapa de declinação; mapa de navegação dos mares entre
Nagasaki e Macau; uso da sonda; mapa de
navegação dos mares entre o Sião e o Japão;
conhecimentos
indispensáveis
para
navegadores e pilotos; vária informação de
astronomia.
Embora
decretada
a
em
política
1639,
de
tivesse
isolamento,
diminuído
significativamente a importância deste conjunto de conhecimentos, a obra de Ikeda
Koun iria servir de apoio às gerações seguintes como se prova pela utilização que dela
faz, em 1670, Shimaya Sadashigue no seu livro “Anjin no Hô” (Princípios de Navegação).
Também as grandes naus e carracas (antigos barcos de longo curso), que
anualmente aportavam ao Japão, estimulavam a construção naval e a sua marinha
mercante e de guerra.
Os
barcos
portugueses,
que
representavam
para
a
época
um
avanço
extraordinário na técnica de construção, eram muito admirados sobretudo pela sua
tonelagem, chegando mesmo as maiores naus a atingir as 2000 toneladas.
Há notícia de que, por volta de 1587, Oda Nobunaga mandou construir um barco
couraçado de ferro sob a direcção de técnicos portugueses. Hideyoshi cobiçava os
nossos barcos tentando, por uma vez, adquirir um navio de guerra ancorado em
Nagasaki. Os portugueses sempre se opuseram a que os japoneses criassem a sua
própria frota, receando o aniquilamento do rico comércio de Macau com o Japão.
As Artes:
Pintura. Os biombos “Namban”. (“Namban”, significava Bárbaros do Sul, designação
que os japoneses davam a portugueses e espanhóis).
Seria também através dos missionários que os japoneses iriam tomar contacto
com a arte europeia, nomeadamente com os novos processos de pintura a óleo e
pintura mural. Com o objectivo de ensinar e aplicar estes novos processos, foi criada
Carlos Rodrigues Jaca
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uma escola que viria a ser a origem de toda a pintura em estilo euro-japonês, nos sécs.
XVI e XVII.
Desde cedo os missionários trouxeram consigo obras de arte religiosa,
especialmente quadros a óleo de santos, e que
logo chamaram a atenção dos japoneses.
Como o desenvolvimento do cristianismo
tornasse insuficiente o número de quadros
importados para satisfazer o desejo daqueles
que os queriam possuir, os artesãos e artistas
japoneses começaram a reproduzir no estilo
europeu. Pela primeira vez se ensinava no
Japão «pintura al óleo, pintura mural (usando uma mezcla de yema de huevo, cola y
pigmentos), pintura al carbón y gravados. El hermano jesuíta Giovanni Nicolao fué el
más famoso pintor y maestro del nuevo estilo». Grande número de pinturas religiosas
perderam-se durante a perseguição, mas foi possível encontrar muitas que
permaneceram ocultas cerca de trezentos anos.
Entre a arte japonesa de inspiração europeia são dignos de referência os famosos
biombos “Namban”, dos quais foram encontrados cerca de sessenta e, provavelmente,
pintados entre 1600 e 1630. Os seus autores são desconhecidos, com excepção de Kano
Eitoku e Kano Naizen.
Embora os biombos “Namban” apresentem influência ocidental nas técnicas e
materiais utilizados, o estilo é totalmente japonês, sendo a chegada dos portugueses ao
Japão o tema fundamental destas pinturas. Nestes biombos, de dois a quatro, seis ou
mesmo oito caixilhos, a chegada do barco português a lançar âncora na baía é
representada à esquerda; ao centro, uma procissão de cavaleiros e de fidalgos,
precedidos pelo Capitão-mor, acompanhados pelo séquito dos escravos e dos serventes;
à direita: o grupo de religiosos, os padres e os monges das diferentes ordens, mas
principalmente jesuítas vestidos de negro.
Existe também um grupo de biombos conhecidos pelos nomes de “Mapa-mundi”,
“Padre com dois meninos japoneses”, “Rei católico lutando contra um rei maometano”,
“A batalha de Lepanto” e “Quatro cidades europeias”, todos eles cópias mais ou menos
fiéis de quadros provenientes da Europa.
Se bem que as cenas mais frequentes sejam relativas a Nagasaki, a maior parte
dos biombos era pintada em Kioto.
Carlos Rodrigues Jaca
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Esta arte começa a declinar ainda antes da expulsão definitiva dos portugueses,
pois o recrudescimento da perseguição ao cristianismo não podia deixar de limitar a
liberdade de temas dos pintores da arte “Namban”.
Música. Referências da época dão-nos algumas notícias acerca da introdução da música
europeia no Japão, particularmente no que diz respeito às canções e hinos religiosos
ensinados nas escolas dos jesuítas, sendo que os temas das canções eram histórias
bíblicas em latim e português. Porém, a música não era exclusivamente religiosa,
também os marinheiros tinham as suas bandas ou orquestras: quando S. Francisco
Xavier
chegou
a
Funai,
os
marinheiros
marcharam em formação levando à frente
uma banda de música.
Os cortejos desfilavam das naus em
visita
aos
orquestra.
dáimios
Fernão
acompanhados
Mendes
Pinto,
por
que
acompanhou o Padre Francisco Xavier em
visita ao dáimio do Bungo, Otomo Yoshishige,
diz que eram seguidos por «trombetas e
frautas
que
de
quando
em
quando
alternadamente iam tangendo».
Nas escolas eram organizados cursos
especiais de música. Na Igreja de Arima era
ensinada música vocal e instrumental, bem
como música gregoriana, polifónica e órgão.
Os jovens embaixadores enviados à Europa
tocaram órgão na Sé Catedral de Évora, surpreendendo todos os presentes, e no seu
regresso ao Japão tocaram harpa, violino e outros instrumentos perante Hideyoshi, que
gostou tanto que os fez repetir três vezes.
Arquitectura. Outro campo de grande influência portuguesa é visível na arquitectura
de castelos feudais, como o foi na construção das escolas de Arima, Azuchi, perto de
Kioto, Funai e em outros edifícios de carácter religioso que, posteriormente, foram
destruídos.
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A arquitectura militar foi directamente aprendida com os portugueses,
representando uma harmónica fusão entre os elementos arquitectónicos tradicionais e a
arquitectura europeia.
Os castelos eram fortificados para resistirem aos canhões, então frequentemente
utilizados. Eram constituídos por sólidos muros de pedra, que serviam de base a uma
elevada estrutura de madeira, revestida de cal, chamada “tenshu-kaky (torre do
castelo) sendo a construção rodeada de fossos.
Considera-se não haver castelos construídos na Europa, na mesma época, que se
lhes possam comparar em beleza e, ao mesmo tempo, adequados à defesa.
Urbanismo – Nagasaki. Nagasaki é uma cidade diferente de todas as cidades japonesas.
As cidades japonesas preferem a planície ou, na montanha, o planalto, onde o terreno
é igual e sem ondulação. Por isso todas as cidades japonesas, com excepção de
Nagasaki, são planas, sobre campo raso. A edificação destas cidades seguiu,
antigamente, os cânones urbanísticos chineses, isto é, a construção em xadrez,
constituída por ruas traçadas horizontalmente. Foi o sistema seguido nas antigas
capitais de Nara e de Kioto.
Nagasaki optou por um sistema urbanístico diferente. Foram os portugueses que
escolheram a localização da cidade e que iniciaram a sua construção. Escolheram um
lugar acidentado, por permitir mais fácil defesa, voltado ao mar. Era o sistema grego da
Acrópole e o sistema das cidades medievais.
Parece, dizem, que este sistema veio a dar boas provas no final da 2ª Grande
Guerra: «enquanto Hiroshima, erguida na planície, ficou destruída numa área de 12
quilómetros quadrados, ou seja 90% da sua área, com 150 mil vítimas das quais 80.000
mortos, Nagasaki, protegida pelos outeiros, que a dividem, foi destruída em menos de
metade, 4,5 quilómetros quadrados, com 40 mil mortos e outros tantos feridos».
Nagasaki era o centro cristão no Japão. Ali se refugiaram os cristãos perseguidos,
os comerciantes portugueses e os tripulantes dos navios que permaneciam em Nagasaki
de Junho a Fevereiro, os comerciantes espanhóis e chineses, bem como a populaça
japonesa que vivia do comércio e do contacto com os estrangeiros.
Imprensa. Ao visitar pela primeira vez o Japão, o Pe. Alexandre Valignano advertindo
para a necessidade da publicação de livros sobre religião e de textos a utilizar nas
escolas, viria a providenciar para que os embaixadores japoneses, na sua viagem a
Roma, trouxessem no regresso uma máquina impressora de caracteres metálicos.
Carlos Rodrigues Jaca
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De facto, em 1590, a embaixada à Europa trazia de volta, ao seu país de origem,
uma imprensa e dois irmãos jesuítas japoneses que aprenderam a arte tipográfica em
Portugal. A imprensa cujo tipo de letras era de metal podia imprimir letra latina,
“romaji”, caracteres chineses, “kanji” e os dois silabários japoneses, “katakana” e
“hiragana”. Os jesuítas foram os primeiros a usar “hiragana”, com ideogramas cursivos,
“sôsho”, e introduziram o uso do “kana” ao lado do caracter chinês, processo chamado
“furigana”, ainda hoje habitualmente usado, que muito facilita a leitura do japonês.
Ao proceder à transcrição ortográfica da língua japonesa em caracteres latinos,
os jesuítas possibilitaram,
através dos livros cristãos,
aos
japoneses
saber
de
hoje
como
era
pronunciado o seu próprio
idioma nos sécs. XVI e XVII.
A
instalada
tipografia
ficou
inicialmente
(1591) em Kazusa, no ano
seguinte é transferida para
Amacusa e, por fim, em
1598, a violência das perseguições obriga-a a fixar-se em Nagasaki.
Entre 1591 e 1614 foram publicadas obras de carácter religioso, literário e
estudos sobre a língua japonesa algumas das quais são, ainda hoje, consideradas
valiosíssimas.
Relativamente a livros de carácter doutrinário, alguns deles de autores célebres,
saliente-se a “Imitatio Christi” de Tomás de Kempis, publicada sob o título de
“Contemptus Mundi”, “Doctina Christiana”, “Fides no Doxi”, que é a quinta parte da
“Introdução ao Símbolo da Fé” por Frei Luís de Granada, “Guia de Pecadores”, do
mesmo autor, e “Exercitia Spiritualis” de Santo Inácio de Loiola.
Como livros de línguas, foram dados à estampa o “De Institutione Gramática”
(Gramática Latina), por Emanuel Álvares S. J., “Dictionarium latino-lusitanicum ac
japonicum”, “Rakuyo-Shu (Dicionário Japonês - Chinês), “Vocabulário de Língoa de
Japan”, «muy copioso com a Linguagem portuguesa em que se gastaram mais de quatro
annos por hum Padre, que com diversos japoens o fez com muita diligencia, que sem
duvida há de ser de grande proveito para os que de novo vem a esta terra»; “Arte de
Carlos Rodrigues Jaca
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Língoa de Japan”, gramática da língua japonesa do Padre João Rodrigues, famosa desde
então até aos nossos dias, pois ainda hoje é adoptada nas escolas japonesas.
Ainda na tipografia de Amacusa foram impressos textos literários japoneses em
caracteres latinos como “Taiheiki” (Crónica da Grande Pacificação),”Wakan-roei-shu”
(Colecção de Poesia Nipo-Chinesa), “Kinku-shu” (Colecção de Provérbios), “HeikeMonogatari” (Contos de Heike), e vários outros “monogatari” (contos) já desaparecidos.
Entre as publicações de carácter didáctico que alcançaram alguma notoriedade,
e de que existem ainda exemplares, refira-se uma tradução das “Fábulas” de Esopo, em
japonês, e uma antologia na mesma língua de autores gregos e latinos: Homero, Platão
Aristóteles, Séneca e Cícero.
Saliente-se que grande número de palavras portuguesas passaram para língua
japonesa, sendo que umas são de uso diário em quase todo o país, algumas são usadas
em determinadas regiões e outras caíram em desuso: ananás – ananasu; biscoito –
bisukouto; bolo – boru; botão – botan; capa – kappa; capitão – kapitan; carta – karuta;
Cristo – kirishito; católico – katorikku; frasco – furasuku; Jesus – esu; pão – pan;
manteiga – manteika; marmelo – marumero; Portugal – Porutogaro; manto – manto;
sabão – shabon; saia – saya; tabaco – tabako; vaca – waca; veludo – birodo; vidro –
bidoro; calção – karusan; piloto – piroto; ouro – uru, etc., etc.
Mesmo depois da expulsão definitiva e após uma permanência de quase cem
anos, «la langue portugaise fut pendant des annés la langue officielle de
communication des Japonais avec les Hollandais, puis avec les Anglais qui arrivaient
pour faire du commerce. Les interprètes étaient absolument nécessaires pour discuter
les problèmes diplomatiques qui ne cessaient pás de se pose et surtout pour interroger
les missionnaires qui continuaient de pénétrer clandestinement au Japon».
Em 1673, o navio inglês “Return” aportou a Nagasaki com uma carta de Carlos II
dirigida ao Shógun, onde lhe propunha a efectivação de relações comerciais.
Significativo: a carta em inglês era acompanhada da respectiva tradução portuguesa.
Os novos conhecimentos que os Portugueses levaram ao Japão no campo da
astronomia, da geografia, da arquitectura, da arte militar, das ciências naturais e
especialmente da medicina e da navegação, das artes, das técnicas da construção naval
e da imprensa, não se perderam. Não só influíram no pensamento japonês mas ainda
constituíram a base duma nova atitude científica, simples, por vezes rudimentar, e de
um modo de pensamento que os intelectuais japoneses, nos dois séculos seguintes, ou
sós, ou auxiliados pela experiência holandesa, haveriam de pensar, amadurecer e
desenvolver.
Carlos Rodrigues Jaca
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Wenceslau de Moraes.
Seria uma lamentável omissão que um estudo dedicado às relações luso-nipónicas
não referisse, ainda que em ligeira abordagem, o escritor notável que dedicou a sua
vida e obra ao Japão – Wenceslau de Moraes.
Wenceslau José de Sousa de Moraes nasceu em Lisboa
(1854) e veio a falecer em Tokushima (1929) no Japão, sua
terra adoptiva.
O facto de ter seguido a carreira da marinha levou-o ao
contacto com o Oriente, fixando-se primeiro em Macau. Aqui
(conheceu Camilo Pessanha), exerceu as funções de adjunto
do capitão do porto e foi professor do liceu. Não se
identificando com a civilização chinesa fixa-se no Japão e
passa a desempenhar as funções de Cônsul de Portugal em
Kobe.
Em Junho de 1913 o governo nipónico nomeia-o Cônsul Geral de Portugal no
Japão. Quatro dias depois pedia a exoneração, não só de cônsul como de oficial da
Marinha, considerando que assim teria mais tempo para escrever os seus livros, em que
descreve o Japão que o enfeitiçara com os seus encantos e os seus amores.
Tendo-se niponizado, fixa residência em Tokushima e, já viúvo, passa a viver
intensamente a vida japonesa, facto que o levou a escrever uma obra singular, fruto da
sua apurada sensibilidade e contínua emoção.
Na vaga de escritores que nos fins do século XIX, e primeira metade do seguinte,
têm abundantemente escrito sobre o Japão, Wenceslau de Moraes «sobressai entre
todos pela intimidade do seu conhecimento sobre o povo japonês. E mais: a sua obra
tem tido mais voga no Japão do que em Portugal.
Que o Japão tem demonstrado interesse por Wenceslau de Moraes pode,
facilmente, comprovar-se pelos monumentos que lhe foram consagrados em Tokushima,
em 1954, e, em 1964, em Kobe. Tokushima, a pequena cidade de Shikoku, «é o coração
da obra de Moraes, terra do “Bon – Odori”, o local dos seus amores tristes e da sua
solidão». Também em Tokushima existe hoje um pequeno cenáculo, o “Moraes Kensho –
Kai”, dedicado ao culto da memória do escritor pela “Sociedade dos Amigos de Moraes”
O amor que Wenceslau de Moraes dedicou ao Japão é bem patente no que
escreveu: «Cheguei ao Japão.Amei-o, em transportes de delírio, bebi-o como se bebe
um néctar (…) Estou num país delicioso, o Japão. Era aqui, em Nagasaki, que eu
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desejaria passar o resto da minha vida, à sombra destas árvores que não têm parceiras
no mundo». De facto, dezassete anos em Kobe e outros tantos em Tokushima
resultaram numa fecunda vivência no país que adoptou.
Esse amor pelo Japão levou-o a criar uma obra de notável valor, caracterizada
por duas vertentes: uma de pura criação literária, que atinge a mais alta expressão em
“O – Yone” e “Ko – Haru”, e “Bon – Odori em Tokushima”, aos quais se podem juntar
numerosas histórias e lendas; a outra, constituída pelas obras de divulgação da história
e da cultura japonesas, como”Relance da Alma Japonesa”, “Relance da História do
Japão”, a maior parte dos artigos compilados nos “Serões” e muitas das “Cartas do
Japão». O livro “Dai – Nippon”, publicado em 1897, é um dos mais conhecidos e
caracteriza-se pelo «tom impressionista, cheio de vida e com que o autor transmite
imagens daquela época». Do livro foram publicados apenas 1000 exemplares em edição
da Imprensa Nacional. Imediatamente esgotados, tornaram-se um valor de leilões e só
em 1923 houve uma 2ª edição.
Em artigos para o “Comércio do Porto”, entre 1902 e 1915, Moraes descreveu a
vida ritualizada dos japoneses, o modo como os mínimos actos quotidianos obedeciam a
praxes, do género da cerimónia do chá.
Curiosamente, e ao contrário do que acontece em Portugal, a memória do
escritor e diplomata continua a ser recordada no Japão:
Um planeta menor, recentemente descoberto, foi baptizado com o nome
“Moraes”, em homenagem ao escritor português. O planeta com dez quilómetros, tem
uma órbita de 5,53 anos entre Marte e Júpiter. Fica na constelação de Pégaso, não
podendo ser visto a olho nu.
O autor da descoberta, o cientista japonês Hiromu Maeno, diz ter pretendido
fazer «uma retribuição» a um português que contribuiu muito para promover a imagem
do Japão e de Tokushima, cidade onde Moraes viveu os últimos anos da sua vida.
Em carta ao cientista, o embaixador português em Tóquio considera que «se o
Japão foi a última fronteira dos Descobrimentos Portugueses, o espaço é a última
fronteira da Humanidade e, graças à descoberta de V. Exa., o nome e a memória
de Wenceslau de Moraes brilharão para sempre no firmamento do espaço sideral».
Carlos Rodrigues Jaca
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Carlos Rodrigues Jaca
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