“Há escolas em Portugal onde as janelas não se podem abrir!”

Transcrição

“Há escolas em Portugal onde as janelas não se podem abrir!”
ENTREVISTA
ENTREVISTA
por | RITA ASCENSO
fotografia | RICARDO GOMES
“Há escolas em Portugal onde
as janelas não se podem abrir!”
Eduardo de Oliveira Fernandes faz uma análise da actual situação energética e
ambiental dos nossos edifícios e deixa vários alertas. Destaque para a necessidade
de promover e quantificar a eficiência energética através do uso de um conjunto
de indicadores (etiquetas energéticas do SCE) nos concursos, nos projectos...
e a necessidade urgente de se proceder a auditorias da situação pós-ocupacional
das obras da Parque Escolar. Quanto à revisão da regulamentação térmica,
destaque ainda para a importância da flexibilização e simplificação do RSECE.
Entre Dezembro e Janeiro deste ano
saíram vários diplomas sobre as renováveis e eficiência energética que
antevêem uma dinâmica interessante nesta área para os próximos tempos...
São boas ideias mas vamos ver como
vão ser postas a funcionar.
Já existe um fundo para o PNAEE (Plano
Nacional de Acção para a Eficiência
Energética) e as medidas já se podem
concretizar...
O problema principal do PNAEE tem a
ver com a hierarquia das medidas e
a forma como essas medidas vão ser
avaliadas. Antes de se ser capaz de
quantificar o efeito da eficiência energética, não se pode dizer que a redução
das importações é devida à eficiência
energética. Essa redução estará mais
facilmente ligada ao aumento do contributo das renováveis e, sem dúvida,
também à crise que vivemos. É preciso
sermos claros. Por exemplo, dá-se muita
importância ao veículo eléctrico mas
este é um vector tecnológico que não
terá impacto nenhum significativo em
termos energéticos num horizonte próximo, desde logo pela progressão lenta
com que irá aparecer no mercado. Sendo assim, o veículo eléctrico, como tem
sido vendido politicamente, é sobretudo
um instrumento de alienação energética
e não mobiliza para a eficiência energética. Para bem colocar a questão da
electricidade nos transportes, veja-se
que, hoje em dia, tudo o que são transportes eléctricos (comboios, metros...)
representa menos de 1% da electrici20 | Março/Abril climatização
dade. Como a electricidade representa
23% da energia final (2009), estamos
a falar de valores de 0,2%. Por outro
lado, temos essa onda da iluminação
eléctrica com a promoção das lâmpadas
eficientes e os famosos reguladores de
fluxo para a iluminação pública etc. Claro
que tudo isso é importante mas, a par
disso, vemos que os edifícios públicos
tiveram um crescimento de consumo
de electricidade da ordem dos 9 a 10%
ao ano na última década em iluminação
eléctrica ineficiente. Andamos a tentar
segurar os colibris mas deixamos escapar as avestruzes. Ou seja, com tudo
isto, com o PNAEE parece privilegiar-se
a elencagem das medidas que no papel ocupam o mesmo espaço mas cujo
impacto não é nem conhecido nem
hierarquizado nem priorizado.
O programa Eco.Ap para a eficiência
energética dos edifícios dos Estado
tem objectivos e timings muito claros. Pretende-se aumentar em 20% a
eficiência energética destes edifícios
numa cronologia já definida.
Eu sei, mas repare-se que em relação
aos edifícios temos que ter em conta
que a nossa experiência passada recente
não é muito abonatória. Veja-se que, em
2010/2011, o país assiste à intervenção
da Parque Escolar, uma empresa para a
promoção de edifícios escolares públicos, que é um exemplo literalmente escandaloso do ponto de vista da eficiência
energética. Ou senão publiquem-se de
imediato os valores da etiqueta energética de todas as escolas inauguradas
pelo Governo ou em curso de reabilitaclimatização Março/Abril | 21
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ção, quer geridas pela Parque Escolar,
quer por iniciativa das autarquias. Façase um anúncio no jornal com a listagem
das escolas e respectivas etiquetas, em
fase de projecto – o que corresponderia
à fase de licenciamento, se fossem sujeitas à jurisdição energético-ambiental
dos Municípios - e prometa-se que se
publicará uma nova lista dentro de um
ano com a avaliação pós-ocupacional.
Se não se fizer isto toda a credibilidade
do Eco.Ap desmorona-se.
Quer explicar porque acha a actuação
da Parque Escolar escandalosa?
Trata-se de um programa de grande
dimensão (3,5 mil milhões de euros de
investimento) com projectos para 20 a
50 anos feitos em tempos absolutamente recorde e essa pressa é naturalmente
má conselheira e facilitadora da Lei de
Murphy. Mas, sobretudo, é um indicador de irresponsabilidade porque foram
alienados os objectivos da qualidade
para a sustentabilidade com a pressa de
colocar as obras na rua. Privilegiaram-se
os aspectos de impacto visual, com um
certo novo riquismo no uso de materiais, etc., mas com conceitos absolutamente contraditórios com a legislação.
Previram-se 500 milhões de euros para
o ar condicionado e, como é sabido,
alguns dos equipamentos depois de
instalados foram desligados, porque as
escolas não têm capacidade financeira
para custear a sua operação. Há escolas
em Portugal onde as janelas não se
podem abrir! Isto é um crime contra a
saúde e contra a lógica da relação entre
o edifício e o ambiente. Provavelmente
não entra na categoria dos crimes de
que os tribunais se ocupam mas é-o
em termos metafóricos e seguramente
políticos. É uma aberração despender
tantos milhares de milhões (biliões
para os americanizados) em obras com
um elevado grau de perenidade sem
atender às tendências da evolução das
tecnologias, dos conceitos de conforto e
das exigências em termos de qualidade
do ambiente interior. E ainda por cima
apresentá-los ao país como bons, isto
é, como modelos a seguir.
Não terão sido erros detectados no
início e que posteriormente foram
ultrapassados?
Provavelmente, em parte. Mas os ca22 | Março/Abril climatização
sos existem e estão aí. Estas escolas
estão a funcionar. Há escolas com estas características em que as salas se
transformam em câmaras de CO2, o que
afecta a produtividade e o bem-estar
dos alunos.
Provavelmente são poucos os casos...
Não sei quantos são mas sei que há
ainda bastantes. Era fundamental fazer
uma auditoria rápida da situação pósocupacional em relação a essa matéria.
Eu, aliás, já sugeri em várias instâncias
que se proceda a um levantamento e
se actue de forma urgente.
Entretanto os edifícios do Estado vão
ser alvo de reabilitações energéticas...
Que erros podemos evitar?
Desde logo é fundamental que se use
um conjunto de indicadores. Já temos
as letras/categorias das etiquetas energéticas do SCE (Sistema de Certificação
Energética e de Qualidade do Ar Interior).
Usemo-las nos concursos, nos projectos,
nas auditorias, nos anúncios das obras e
das respectivas inaugurações. Deveríamos ter presentes essas quantificações
em qualquer programa de eficiência
energética e exigir, por exemplo, que
um edifício, uma vez reabilitado, passe
de “G” a “B”. Ou seja, temos que exigir
que os degraus da mais-valia energética
e ambiental sejam quantificados dessa
forma. Se não quisermos agarrar os
progressos às letras, uma vez que é de
crer que os valores correspondentes à
hierarquia das letras venham a mudar
muito rapidamente, podemos fazê-lo
com base nos valores da energia por m2,
que é o mesmo. Voltando aos projectos
da Parque Escolar, as desculpas que
apontam para a dificuldade em ‘gerir’
o protagonismo dos arquitectos seriam
desmontadas se esses projectos tivessem sido lançados com a exigência da
satisfação de um dado escalão. Bastaria
ter posto uma letra que quem presidisse
à inauguração tornava pública e valorizaria, se fosse ‘boa’! Se esses edifícios
tivessem sido projectados com essa
exigência, hoje era possível avaliar o
trabalho e perceber se a obra satisfez. É
fundamental termos indicadores porque
é a única forma de podermos atribuir
credibilidade às acções que viermos a
fazer. Não nos podemos esquecer de
“Veja-se que, em 2010/2011, o
país assiste à intervenção da Parque Escolar, uma empresa para
a promoção de edifícios escolares
públicos, que é um exemplo literalmente escandaloso do ponto
de vista da eficiência energética. Ou senão publiquem-se de
imediato os valores da etiqueta
energética de todas as escolas
inauguradas pelo Governo ou
em curso de reabilitação, quer
geridas pela Parque Escolar, quer
por iniciativa das autarquias”.
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que temos um clima ameno que favorece uma certa negligência e os níveis
de utilização de energia são baixos. Isto
dá campo a que muitas intervenções
possam ser de qualidade insuficiente, isto é energeticamente ineficiente,
sem que alguém se queixe. A Administração Pública e os seus serviços não
têm a qualidade nem provavelmente
a competência técnica requerida para
a intervenção neste campo vastíssimo.
Repare que no domínio da electricidade
existem preocupações com a segurança,
mas, nestes domínios da climatização
e do conforto, a intervenções são todas
elas relativamente complexas e não é
fácil que os interlocutores que são, em
geral, os utilizadores finais, acabem por
perceber o que está em jogo.
Temos os instrumentos necessários.
O que falta fazer?
Nós temos instituições que foram criadas com esse fim, as quais, aliás, têm
vindo a trabalhar bastante. E temos
uma rede de peritos e de esquemas
de formação. Mas há uma tónica num
certo activismo e na propaganda em
desfavor de uma actuação mais estruturada e consequente. E, curiosamente,
diga-se claramente, é já patente uma
certa descredibilização da actividade
da certificação e do corpo de peritos,
situação que deve ser encarada com
muita seriedade, nomeadamente, pela
associação profissional com mais crédito no domínio, que é a Ordem dos
Engenheiros.
Temos um sistema de certificação energética e qualidade do ar a funcionar.
Em jeito de balanço, começamos a ter
melhores edifícios? Ou seja, acha que
os conceitos de redução dos consumos,
eficiência e racionalidade energética
estão a passar ou ainda é cedo para
tirarmos conclusões?
É cedo para tirar conclusões fechadas,
as observações que se podem fazer
não são de condenação final mas de
alerta. Corremos o risco de que essas
observações de alerta possam não ser
atendidas na devida conta no percurso
que estamos a fazer. Precisamos de ter
um discurso que seja sólido e de comportamentos de grande autenticidade.
Por exemplo, somos enfáticos a exibir
números de certificados de edifícios
24 | Março/Abril climatização
RSECE (Regulamento dos Sistemas Energéticos de Climatização em Edifícios), era
para dizer que em Portugal é possível
termos amplo espaço para o conceito
de ‘net zero energy building’ aplicado ao
conforto de Inverno e de Verão...
O RCCTE aplica-se a uma fatia do edificado. Os edifícios de serviços têm
um peso muito grande nos consumos
energéticos...
Se comparar os m2 de edifícios de habitação com os de edifícios de serviços
temos muito mais habitação e eu estou
preocupado também nessas áreas, onde
é preciso ter uma outra intervenção,
onde o conforto é baixo e a tentação é
de o melhorar com a adição de tecnologias de aquecimento com soluções
sem qualidade. Nós temos a tradição
- e bem - de classificar os edifícios por
funcionalidade. Sabemos que muitas
instalações estão mal dimensionadas e
a funcionar mal de uma forma desregulada. Não estou com isto a dizer que o
mercado vai ter que ser necessariamente reduzido, o que estou a dizer é que o
mercado tem que ser acarinhado. Para
além da instalação, é necessário termos
programas de rotina de manutenção
muito mais próximos, porque a energia e
também a Qualidade do Ar Interior (QAI)
são de facto um problema e nós não
sabemos ainda como pegamos nele.
Quer a energia, quer a QAI têm muito
que ver com a manutenção e utilização
correcta dos equipamentos.
“É já patente uma certa
descredibilização da actividade
da certificação e do corpo
de peritos, situação que deve
ser encarada com muita
seriedade, nomeadamente,
pela associação profissional
com mais crédito no domínio,
que é a Ordem dos Engenheiros”.
ligados ao SCE, mas não alertamos (explicamos) que se está consciente do
que isso significa no âmbito do RCCTE
(Regulamento das Características de
Comportamento Térmico dos Edifícios).
Ora, os certificados no âmbito do RCCTE
são uma marca de qualidade do edifício propriamente dito como ‘sistema
energético para o conforto’, mas praticamente não têm expressão energética
no próximo futuro. Isso tem que ser bem
explicado às pessoas! Porque o RCCTE é
um regulamento feito para o edifício no
que se refere ao seu comportamento no
clima sem sistemas energéticos. Quando
temos edifícios com RCCTE, classe “A”,
isso significa que aquele edifício está
especialmente bem desenhado. Esse
discurso não aparece. Isto preocupame, porque no fundo o RCCTE para a
habitação e pequenos edifícios de baixa
ocupação tem muito que ver com aquilo
de que tanto se fala hoje: o “net zero
energy building” e não é apresentado
como tal. Quando, em 1981, pensámos
em fazer dois regulamentos, RCCTE vs
“É fundamental que se mantenham os dois regulamentos RCCTE
e RSECE separados e isso penso
que está a acontecer; é necessário que se seja muito cauteloso
porque estamos num período de
transição e talvez haja espaço
para sermos menos rigorosos em
certos aspectos do que a legislação vigente; e, em terceiro lugar,
é necessário acautelar a exequibilidade e praticabilidade da
verificação do que se requer”.
Temos uma nova Directiva para os
edifícios que é muito mais exigente
ao nível das inspecções, manutenção...
que está a tentar abrir o caminho para
os “net zero energy buildings” também
para a área dos serviços, mas que ainda deixa de fora a QAI embora faça
uma elencagem a várias normas...
Estamos no bom caminho mas é preciso
notar que a Directiva deixa espaço para
que os diversos países encontrem soluções que sejam consentâneas com as
suas condições climáticas e isso obriga
a que nós tenhamos um pensamento
e uma elite que se debruce sobre estas
coisas. Como dizia um arquitecto catalão,
um país como o nosso tem um clima
que favorece a chamada arquitectura
da complexidade, porque do outro lado
temos um Norte da Europa com Verões
pouco fortes e onde os projectos são
baseados no isolamento térmico. Não se
esqueça de que o ”net zero” vem sobretudo associado ao isolamento térmico
(ver caso da Alemanha em caixa).
Existe uma comissão que está a trabalhar na revisão da regulamentação
térmica, no âmbito da nova Directiva
para os edifícios. Que mensagem gostaria de passar?
Eu tenho procurado passar algumas
mensagens mas não tenho a intenção
de interferir com o trabalho da comissão. Queria, no entanto, reforçar três
pontos essenciais: é fundamental que
se mantenham os dois regulamentos
RCCTE e RSECE separados e isso penso que está a acontecer; é necessário
que se seja muito cauteloso porque
estamos num período de transição e
talvez haja espaço para sermos menos
rigorosos em certos aspectos do que a
legislação vigente; e, em terceiro lugar,
é necessário acautelar a exequibilidade
e praticabilidade da verificação do que
se requer. Muitas vezes, quando começamos a trabalhar nestes documentos,
temos a tentação de os encarar como
definitivos. Repare-se que os países
desenvolvidos trabalham com normas
e os regulamentos que fazem apelo às
normas. As normas são informações de
natureza técnicas e deixam um certo
espaço para a intervenção do político.
O político deve sobretudo definir as
metas, os ‘targets’, os tempos e não
entrar no detalhe. Por cá, o processo
é moroso e típico de países em que o
tempo e a produtividade contam muito
pouco. Uma vez que existe esta pressão
das Directivas europeias, aconselharia que encontrássemos soluções com
alguma transitoriedade e flexibilidade. Isto, tendo presente que o RCCTE
é um regulamento com uma grande
estabilidade conceptual, enquanto o
RSECE tem menos estabilidade. Não se
justifica, por exemplo, que andemos a
espartilhar tanto os valores da ventilação, porque não temos conhecimento
científico bastante para isso nem faz
sentido (e espero poder prová-lo dentro
de um ano). As técnicas do conforto
adaptativo são fundamentais e há nesse
domínio a necessidade de uma abordagem menos fundamentalista, quer na
vertente térmica, quer na vertente da
climatização Março/Abril | 25
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“Na Alemanha e durante mais de 20 anos, foi possível baixar as necessidades
de aquecimento ambiente, melhorando o isolamento térmico e ajustando
a ventilação adequadamente. É impressionante a queda de mais de 90%
das necessidades energéticas, onde o aquecimento tem a parte do leão.
Veja-se a expressão relativa do uso da electricidade específica e também do
calor para a produção de água quente sanitária. Em Portugal, os edifícios,
estatisticamente, quase não têm a barra vermelha, ou, quando existe, ela
tem uma expressão menor equivalente ao azul e ao amarelo. Isto põe em
evidência o racional adoptado para o RCCTE e reduz a motivação para se terem
grandes expectativas quanto à eficiência energética, em termos de redução
de consumo, relacionada com o aquecimento ambiente das habitações,
relativamente a consumos passados. A aplicação do RCCTE será relevante,
sobretudo, relativamente à diminuição dos consumos futuros”.
ventilação. Esta, no pressuposto de que
fazemos o trabalho de casa, removendo
quanto possível as fontes de poluição no
interior (estratégia de QAI pelo controlo
na fonte).
Mas quanto à QAI…
Continuando a falar da QAI, produzimos agora, com mais três colegas, um
estudo para a Direcção Geral de Saúde
da Comunidade Europeia e chegámos
à conclusão de que, em termos de
doenças, o grande problema são as
doenças cardiovasculares que já conhecemos. Depois aparecem a asma e
as alergias, o cancro do pulmão... mas
o que é interessante verificar é que a
grande contribuição como fonte/causa
está ligada à combustão. Rapidamente temos que olhar para o ar exterior
quando chegamos a esta conclusão e
o ar exterior é da responsabilidade das
autoridade públicas. Estas autoridades
têm a obrigação de nos fornecerem
um ar limpo, tal como acontece com a
água nas torneiras, que deve ser melhor
26 | Março/Abril climatização
do que a água mineral. As autoridades têm esta responsabilidade mas o
ar das nossas cidades continua a não
corresponder aos requisitos necessários
e a estar carregado de muitas micro
partículas, benzeno e outras substâncias
nocivas.
Aqui surge a necessidade de introduzir
a noção de exposição (exposure), que é
muito importante que seja assimilada,
porque, enquanto o ar que respiramos
no interior dos edifícios é o mesmo ar
que vem do exterior, no exterior temos,
em geral, um tempo de permanência
muito menor do que no interior. Quer
dizer que a poluição exterior pode ser
mais prejudicial no interior, ou seja, o ar
exterior pode ser uma fonte dominante
de poluição interior pela maior exposição no interior do que no exterior. Numa
escola que esteja em meio urbano, ao
aumentarmos a ventilação para reduzir
o CO2, podemos estar a trazer para o
interior benzeno ou micro-partículas da
rua. Nesse caso, ao ventilar, estaríamos,
porventura, a tentar contrariar qualquer
“Uma vez que existe esta
pressão das Directivas europeias,
aconselharia que encontrássemos
soluções com alguma transitoriedade e flexibilidade. Isto,
tendo presente que o RCCTE
é um regulamento com uma
grande estabilidade conceptual,
enquanto o RSECE tem menos
estabilidade. Não se justifica,
por exemplo, que andemos
a espartilhar tanto os valores
da ventilação, porque não
temos conhecimento científico
bastante para isso nem faz
sentido (e espero poder
prová-lo dentro de um ano)”.
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coisa de prejudicial, como por exemplo
uma elevada concentração de CO2 gerado no interior mas, em contrapartida,
a trazer para dentro outras fontes de
contaminação. Há questões que estão
ainda em cima da mesa, como esta
que acabo de ilustrar, embora hoje haja
um conhecimento muito maior do que
havia há dez anos. Estas questões têm
que ser analisadas numa perspectiva
flexível e não com a ’não rigidez’ própria
de noviços.
Esteve na génese dos primeiros regulamentos e tem estado à frente de
programas de investigação europeus
determinantes para aquilo que sabemos hoje. São tarefas permanentemente inacabadas?
Claro que sim, que são inacabadas. Mas
há momentos de maior clarividência
do que outros, quer porque haja mais
e melhor informação, quer porque se
vislumbre um método melhor para
abordar um ou outro problema.
Estamos a desenvolver um trabalho muito importante sobre quais os critérios de
ventilação baseados em informação da
saúde. Quando chegarmos à perfeição
da “source control” (eliminando tintas ou
alcatifas poluentes, eliminando o fumo
nos espaços interiores, reduzindo a partículas ultra finas das impressoras etc.),
só iremos precisar da ventilação por
duas razões: ou por ocupação intensa
de pessoas ou para dar conta de alguma
menor e difusa poluição do ar interior
(síndroma do edifício doente). É aqui
que entra o critério da saúde. Temos
que pegar nos guias da qualidade do ar
interior da OMS (Organização Mundial de
Saúde) publicadas recentemente, onde
esta organização se concentra apenas
em alguns componentes (o benzeno, o
dióxido de carbono, o formaldeído...),
seguindo, de alguma forma, as indicações de projectos recentes como o
INDEX e o ENVIE. Agora, e com estes
resultados, vamos à procura de meios
para acompanhar a ventilação de acordo
com as próprias necessidades ditadas
por razões de saúde. Veja-se o caso de
Itália, onde algumas escolas já estão
a utilizar um método novo em que os
professores através de um aparelho de
medição de CO2 que dispõe de um alarme vão abrindo e fechando as janelas
de forma a equilibrar a qualidade do
28 | Março/Abril climatização
senso, muita ética e uma comunidade profissional com
sentido de deontologia. Talvez pelo seu carácter isolado,
pouco respeitado por vezes por parte dos clientes, a nossa
engenharia está na infância de todas estas questões
porque não fazem parte da nossa cultura.
“Falta a promoção de uma abordagem de maior ética e de
responsabilidade profissional mas, também, de cultura e de
reforço do conhecimento. A virtude não está nos ‘gadgets’,
nem nos controladores. É preciso actuarmos junto dos promotores
imobiliários no sentido de os sensibilizarmos para a importância
da adequação dos produtos e sistemas às necessidades”.
ar, usando a concentração do CO2 como
indicador no interior da sala. É claro que
nestas coisas tem que haver alguma
frugalidade que não existia até agora.
Alguma racionalidade e não soluções
fechadas. Temos que ter a flexibilidade de podermos escolher aquilo que
queremos em determinada altura em
função das evidências científicas, isto é,
dos conhecimentos que vamos tendo
sobre estes fenómenos...
Mas não temos conhecimentos sobre
muitas das outras substâncias...
Sim, mas a abordagem, nesse caso,
é uma questão de racionalidade. Por
exemplo, partimos do princípio que a
poluição do tabaco já não existe por que
banimos o uso do tabaco no interior, e
portanto as respectivas substâncias que
não ocorram por outra razão já não têm
que ser consideradas. E só podemos
falar com segurança das substâncias cujo
efeito nós já conhecemos. Se amanhã
descobrirmos outras, teremos que as
incluir, mas enquanto não temos conhecimento toxicológico para atribuir essa
responsabilidade, é irracional fazer-lhes
referência. É esta abordagem soft que
exige muito conhecimento, muito bom
Em relação à revisão da regulamentação térmica não
quer acrescentar mais nada?
Depois de ter contribuído para a actual versão do RSECE
de 2006, sei que é possível simplificá-lo. É preciso dar
muita atenção à sua melhor implementação. Por isso,
tudo o que está regulamentado deve dispor de meios
de verificação na fase de projecto e in situ. Onde penso
que temos um falhanço significativo que era possível
atacar com rapidez é naquilo a que se chamam as “good
practices”. Tudo o que seja o exercício profissional, o
desenho, o projecto, a instalação e a manutenção, está
sem controlo absolutamente nenhum! Tenho pena de
o dizer e já me referi ao assunto atrás. Está tudo entregue aos profissionais, que na sua maioria não têm
conhecimentos suficientes de base numa matéria que
é manifestamente muito complexa e cultural. Mais do
que tecnológica.
Falta a promoção de sensibilidades?
Falta a promoção de uma abordagem de maior ética e
de responsabilidade profissional mas, também, de cultura
e de reforço do conhecimento. A virtude não está nos
‘gadgets’, nem nos controladores. É preciso actuarmos
junto dos promotores imobiliários no sentido de os
sensibilizarmos para a importância da adequação dos
produtos e sistemas às necessidades. Eu tive o privilégio
de classificar o edifício da Gulbenkian como um edifício
limpo e, embora não exista ainda de uma forma rotineira, era importante encontramos os “campeões” dos
edifícios que muitas vezes não são os mais “gadgéticos”.
Já existe um sistema de classificação no nosso país para
a sustentabilidade dos edifícios (Líder) a par de alguns
internacionais como o LEAD (EUA) e o BREEAM (RU),
entre outros, mas esses sistemas são relativamente
qualitativos, o que não sendo mau em si, não podem
fazer esquecer que vivemos em relação à QAI e à energia
um tempo de desempenho (‘performance’), isto é, de
sermos cada vez mais quantitativos. Para esta quantificação, há patamares, há limites inferiores que devemos
respeitar, nomeadamente sujeitos aos critérios da saúde
mas, acima destes limites, devemos introduzir critérios
de flexibilidade.
Existem resultados do Observatório do Porto (AdEPorto
– Agência de Energia do Porto) que já nos permitem
tirar algumas conclusões? (ver caixa)
Aquilo que o Observatório nos mostra não deixa de ser
muito chocante: os projectistas e os promotores estão
a ‘encostar-se’ aos valores mínimos exigidos pela regulamentação. Não há motivação junto dos projectistas
e dos promotores para construir mais eficiente. É uma
atitude de falta de visão, medíocre e insensata, imprópria





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Informação técnica
Atendimento mais rápido
Funcionamento das 8h30
às 13h e das 14h às 19h
ENTREVISTA
Válvulas e Sistemas
de comunidades de elite (arquitectos,
engenheiros e promotores, em geral).
A legislação vai evoluir rapidamente e
os seus edifícios licenciados hoje mas só
construídos amanhã, quando estiverem
erguidos, poderão já ter desempenhos
abaixo dos mínimos legais. Claro que
continuarão a ser legais porque foram
licenciados num dado tempo. Mas não
estarão a responder aos padrões do
momento em que começarão a ser
usados. Mesquinho e ridículo quando
a tendência está traçada e os custos
adicionais poderão ser mínimos ou
nulos.
Prevê-se que o pacote 20-20-20 europeu não seja cumprido à excepção da
penetração das renováveis...
As renováveis são o que é mais fácil. Já
foi o caso do E4: Eficiência Energética e
Energias Endógenas (RCM 154/2001).
Foram as energias renováveis que sobreviveram ao Governo que lançou
o programa. Já a água quente solar
lançada ao mesmo tempo tem sofrido tratos de polé ao longo da última
década e continua a ser desprezada
pelas políticas energéticas nacionais.
Inovação + Qualidade
Ora, a eficiência energética é ainda mais
difícil de abordar.
Estamos muito longe dos objectivos da
eficiência energética nos edifícios...
Nós não sabemos calcular esse contributo. A reabilitação dos edifícios vai ser
determinante e existem já uma série
de campanhas da Comissão Europeia
em preparação nesse sentido. Mas há
sobretudo problemas de financiamento
e de lógica de mercado. É preciso ver
que a eficiência energética na Europa
teve azar porque a energia é medida
em termos de intensidade energética
e significa menos energia para mais
produtividade. Como a produtividade
baixou e quase não tem havido crescimento, existe esse ajustamento de
reduzir de facto a energia por razões
de redução da actividade económica.
Os europeus têm essa vantagem, vão
reduzindo o consumo embora a sua
riqueza também não esteja a crescer.
“Regusol X”: Módulos solares com permutador, de calor, para energia solar:
Sistema inovador e completo, através de um só fornecedor
Ligação ao
Primärkreis–
circuito
anschluss
primário
Água quente
O consumo na Europa tende a aumentar?
Penso que vamos baixar as capitações
a nível geral.
Água fria
“Mostram-se alguns resultados do Observatório da Câmara Municipal do Porto
relativamente aos edifícios licenciados no ultimos três anos. Resultam três
conclusões claras: a) que os edifícios do âmbito do RSECE têm desempenhos
muito baixos; e, que os edifícios do âmbito do RCCTE b) têm bom desempenho
de Verão, porque é essa a condição dos edifícios em Portugal, dado o clima e a
construção de grande inércia térmica, enquanto c) o desempenho de Inverno
é francamente mau com os edifícios a estarem dominantemente ‘encostados’
aos valores máximos de necessidades energéticas nominais permitidas”.
Fonte: Observatório do Porto
OBSERVATÓRIO
30 | Março/Abril climatização
Ligação
ao
Sekundärkreis–
circuito
anschluss
secundário
“A legislação vai evoluir
rapidamente e os seus edifícios
licenciados hoje mas só construídos amanhã, quando estiverem
erguidos, poderão já ter desempenhos abaixo dos mínimos
legais. Claro que continuarão a
ser legais porque foram licenciados num dado tempo. Mas não
estarão a responder aos padrões
do momento em que começarão
a ser usados. Mesquinho e
ridículo quando a tendência está
traçada e os custos adicionais
poderão ser mínimos ou nulos”.
Ilustração do sistema “Regusol X-Duo”
Módulos solares com permutador de calor; para
permuta controlada, de calor, entre o circuito dos
painéis solares (circuito primário) e o depósito de
acumulação (circuito secundário). Os módulos
estão disponíveis com e sem controlador
electrónico.
Modelos:
“Regusol X-Uno” para um circuito secundário
“Regusol X-Duo” para dois circuitos secundários
A válvula de três vias, montada na linha de ida do
circuito se cundário, do “Regusol X-Duo”, permite
que o módulo possa alimentar simultaneamente,
até dois circuitos montados em paralelo
(e.g. permite o uso de dois depósitos de
acumulação,e não apenas um ).
Vantagens:
- Permite a fácil ligação entre circuitos de
aquecimento já existentes, e o circuito dos
painéis solares (e.g. renovação)
- Grande segurança funcional, devido ao uso de
materiais de alta qualidade, monta dos de
modo optimizado
- Toda a montagem e fornecimento, é feito por
uma só entidade (pronto para ligar e funcionar)
- Os permutadores de calor, do tipo soldados,
são fabricados de acordo com as Directivas
Europeias para equipamentos submetidos a
pressão (PED)
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