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V.14, N.1 / 2016 Summary Sumário Summary Editorial 3–4 Equipe de trabalho Work team 5 Editorial V.14 N.1 Pesquisa em Educação – Teaching Research Identificação de concepções antropomórficas, teleológicas e vitalistas entre participantes de uma reunião anual da SBBq 6 – 28 Identification of anthropomorphic, teleological and vitalist conceptions amongst participants of an annual meeting of SBBq Ariane Leites Larentis, Lúcio Ayres Caldas, Manuel Gustavo Leitão Ribeiro, Marcelo Hawrylak Herbst, Coelho Garcia, Letícia Labati Terra, Rodrigo Volcan Almeida Tomás Diagnósticos e Intervenções no Ensino de Bioquímica Diagnoses and interventions in Biochemistry Teaching 29 – 51 Andreza Costa Scatigno, Bayardo Baptista Torres Os Aminoácidos nos Livros Didáticos de Biologia do Ensino Médio e de Bioquímica do Ensino Superior 52 – 72 Amino Acids in Textbooks of Biology for High School and of Biochemistry for Higher Education Patrícia Santos de Oliveira, Caroline Dutra Lacerda, Maria Lucia Bianconi Inovações Educacionais – Educational Innovations Aula prática de Fotossíntese: Demonstração da reação de Hill em cloroplastos com dissipação de energia por fluorescência mediante desacoplamento ou inibição dos fotossistemas pelo herbicida Diuron 73 – 88 Practical lesson of Photosynthesis: A demonstration of Hill reaction in chloroplasts with energy dissipation by fluorescence upon photosystems uncoupling or inhibition by Diuron herbicide Vadim Ravara Viviani Apresentação de resultados de pesquisas científicas como estratégia para aumentar o interesse dos alunos em fisiologia 89 – 98 Presentations of scientific research results as a strategy to increase the interest of students in physiology Caroline Dalla Colletta Altermann, Alexandre Garcia, Pâmela Billig Mello-Carpes Observación del efecto reductor de N-Acetilcisteína en el metabolismo de levaduras 121 – 129 Observing reducing effect of N-acetylcysteine in the metabolism of yeast Sebastián Chapela, María Milagros Romo Manzini, Hilda Burgos, Manuel Alons, Carlos Alberto Stella protVirt: simulação da dosagem de proteínas por espectrometria auxiliando as aulas práticas de Bioquímica 130 - 141 protVirt: simulação da dosagem de proteínas por espectrometria auxiliando as aulas práticas de Bioquímica Gabriel Gerber Hornink REB na Escola – REB in the School Fisio Card Game: um jogo didático para o ensino da fisiologia na educação básica Fisio Card Game: um jogo didático para o ensino da fisiologia na educação básica Tarcila de Araújo Alves, Lucas de Souza Falcão, Aline Tatiane Souza, Thaís Santiago do Amaral, Sheila Pereira de Lima, Thaís Billalba Carvalho 99 – 120 V.14, N.1 / 2016 Work Team Work Team 2016 (Jan-Jul) 1. Editorial Team Chief-editors Bayardo Bapstista Torres, Instituto de Química (USP), Brasil Eduardo Galembeck, Depto. Bioquímica, Instituto de Biologia, Universidade de Campinas (Unicamp), Brasil Co-editors Gabriel Gerber Hornink, Depto. Bioquímica, Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG), Brasil Vera Maria Treis Trindade, Departamento de Bioquímica, Instituto de Ciências Básicas da Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Brasil Editorial Board Adriana Cassina, Department of Biochemistry, Facultad de Medicina, Universidad de la República, Uruguay Angel Herráez, Departamento de Bioquímica y Biología molecular, Universidad de Alcalá de Henares, Madrid, Spain André Amaral Gonçalves Bianco, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Brasil Denise Vaz de Macedo, Depto. Bioquímica, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Brasil Eneida de Paula, Depto. Bioquímica, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Brasil Jose Antonio Martinez Oyanedel, Universidad de Concepción, Chile Josep Maria Fernández Novell, Department of Molecular Biology & Biochemistry, Universitat de Barcelona, Spain Leila Maria Beltramini, Instituto de Física de São Carlos, Universidade Estadual de São Paulo (USP), Brasil Manuel João da Costa, Escola de Ciências da Saúde, Universidade do Minho, Portugal Maria Lucia Bianconi, Instituto de Bioquímica Médica, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil María Noel Alvarez, Department of Biochemistry, Facultad de Medicina, Universidad de la República, Uruguay Miguel Ángel Medina Torres, Department of Molecular Biology & Biochemistry Faculty of Sciences University of Málaga, Spain Nelma Regina Segnini Bossolan, Instituto de Física de São Carlos, Universidade de São Paulo (USP), Brasil Paulo De Avila Junior, Centro de Ciências Naturais e Humanas (CCNH) Universidade Federal do ABC (UFABC), Brasil Raul Herrera Faúndez, Instituto de Biología Vegetal y Biotecnologia, Universidad de Talca, Chile Wagner Seixas da Silva, Instituto de Bioquímica Médica, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil Work Team 2. Reviewers V14. N1, 2016 Ana Lúcia Ana Lúcia Hoefel, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Brasil Andreza Costa Scatigno, Depto. Química, Universidade de Sorocaba UNISO), Brasil Álvaro Reischack de Oliveira, Escola superior de Educação Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Brasil Bayardo Bapstista Torres, Instituto de Química - USP, Brasil Carolina Nascimento Spiegel, Universidade Federal Fluminense, Brasil Eduardo Galembeck, Depto. Bioquímica, Instituto de Biologia, UNICAMP, Brasil Eduardo Fernandes Barbosa, Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), Brasil Gabriel Gerber Hornink, Depto. Bioquímica, Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG), Brasil Maria Lucia Bianconi, Instituto de Bioquímica Médica Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil Miguel Ángel Medina Torres, Department of Molecular Biology & Biochemistry Faculty of Sciences University of Málaga, Spain Pâmela Billig Mello-Carpes, Universidade Federal do Pampa (Unipampa), Brasil Paulo Afonso Granjeiro, Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ), Brasil Vera Maria Treis Trindade, Depto. Bioquímica, Instituto de Ciências Básicas da Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Brasil 3. Institutional support SBBq – Brasilian Society of Biochemistry and Molecular Biology: http://www.sbbq.org.br Jerson Lima da Silva (UFRJ) - Acting President Glaucius Oliveira (IFSC - USP) - Elected President José Roberto Meyer Fernandes (UFRJ) - Vice-President Walter R. Terra (IQ-USP) - General Secretar Eduardo Moraes Rego Reis (IQ-USP) - First Secretary Maurício da Silva Baptista (IQ-USP) - General treasurer Aline Maria da Silva (IQ-USP) - First treasurer Anibal Eugenio Vercesi (UNICAMP) - National Policy Coordinator Richard Garrat (IFSC-USP) - International Relations Coordinato Cover and Journal Layout: Gabriel Gerber Hornink http://dx.doi.org/10.16923/reb.v13i2.564 http://dx.doi.org/10.16923/ xx/xx/2016 4 n. / 201X Enviado em: Publicado em: Educational Innovations Editorial 2016 – 1 O primeiro número de 2016 traz diversos artigos, abordando desde a pesquisa em ensino de Bioquímica, até práticas e métodos de ensino para o nível superior e médio, distribuídos em três seções da revista. Durante este semestre fomos inclusos no ERIH Plus “European Reference Index for the Humanities and Social Sciences” (ERIH PLUS), criado e desenvolvido por pesquisadores do Comitê Permanente para as Humanidades (SCH) da Fundação Europeia de Ciência (ESC). Na seção “Pesquisa em ensino” há um artigo abordando as concepções vitalícias e teleológica, dos participantes de uma reunião da SBBq, sobre os processos evolutivos. Os outros dois abordam diretamente os processos de ensino-aprendizagem de Bioquímica, um deles fazendo um diagnóstico das dificuldades no aprendizado de Bioquímica e o outro avaliando o como o conceito de aminoácidos fora abordado em livros de Biologia do ensino médio (aprovados no Plano Nacional do Livro Didático – 2012 e 2015). A seção “Inovações Educacionais” se inicia com um artigo sobre uma interessante prática abordando a fotossíntese, por meio da demonstração da reação de Hill em Cloroplasto. Apresenta-se uma aula prática, da Argentina (em espanhol), sobre o efeito reduto da NAcetilcisteína no metabolismo de levedura. Além dessas práticas, apresenta-se um artigo sobre um software educacional envolvendo a dosagem de proteínas, que pode ser utilizado adjunto às atividades em laboratório. Vale conferir essas práticas e, quem sabe, fazer o teste com elas em seu laboratório. Finalizando esta seção, apresenta-se a pesquisa sobre um método diferenciado para o ensino de Fisiologia, o qual aborda a proposição de colóquios para disseminação e discussão de novas descobertas científicas. Na seção “REB na Escola”, temos outro material sobre Fisiologia, no qual se apresenta o Fisio Card Game, um jogo lúdico de cartas envolvendo os conteúdos básicos da Fisiologia que são abordados no ensino Médio. Não deixe de ler o artigo e baixar as cartas para jogar com sua turma. Atenciosamente Gabriel G. Hornink Vera Maria T. Trindade Eduardo Galembeck Unifal-MG UFRGS Unicamp Bayardo B. Torres USP V.14, N.1 / 2016 Enviado em: 26/08/2016 Publicado em: 18/06/2016 Teaching Research Identificação de concepções antropomórficas, teleológicas e vitalistas entre participantes de uma reunião anual da SBBq Identification of anthropomorphic, teleological and vitalist conceptions amongst participants of an annual meeting of SBBq Ariane Leites Larentis 1,2*, Lúcio Ayres Caldas 1,3, Manuel Gustavo Leito Ribeiro 1,4, Marcelo Hawrylak Herbst 1,5, Tomás Coelho Garcia 1,6, Letícia Labati Terra 1, Rodrigo Volcan Almeida 1,7 Grupo Interinstitucional e Interdisciplinar de Estudos em Epistemologia (www.epistemologia.ufrj.br) Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana, Escola Nacional de Saúde Pública(ENSP/CESTEH), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Rio de Janeiro, RJ, Brasil 3 Grupo de Pesquisa de microscopia Aplicada às Ciências da Vida, Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO), Duque de Caxias, Rio de Janeiro, Brasil 4 Departamento de Biologia Celular e Molecular, Instituto de Biologia (IB), Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, RJ, Brasil 5D Instituto de Química, Instituto de Ciências Exatas (ICE), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Seropédica, RJ, Brasil 6 Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil 7 Departamento de Bioquímica, Instituto de Química (IQ), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil 1 2 *e-mail: [email protected] Resumo Neste trabalho, buscou-se identificar obstáculos epistemológicos entre os presentes na XXXIX Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (SBBq). Um questionário com perguntas e excertos de artigos científicos de revistas de alto fator de impacto foi respondido por 97 presentes (39 estudantes de iniciação científica, 42 pós-graduandos e 16 professores e pesquisadores). A partir da noção de obstáculo epistemológico proposta por Bachelard, foi possível identificar concepções vitalistas (animismo), concepções teleológicas dos processos evolutivos, em afirmações como a existência de objetivos/finalidades na adaptação dos organismos, assim como uma visão antropomórfica dos processos biológicos em avaliação, tanto nas respostas às perguntas como na aceitação ou não identificação destes obstáculos nos excertos. Verificou-se a presença de figuras de linguagem, metáforas e analogias (obstáculo verbal) na explicação da evolução e do sistema imune, também presentes nos excertos dos artigos. Palavras-chave: antropomorfismo; teleologia; vitalismo. Abstract The aim of this work was to identify epistemological obstacles amongst participants of XXXIX Annual Meeting of Brazilian Society of Biochemistry and Molecular Biology. A questionnaire with selected excerpts of scientific papers from high impact factor journals was answered by 97 participants of this annual meeting (39 under-graduates, 42 graduate students, and 16 professors and researchers). From Bachelard’s notion of teleological obstacle, it was possible to identify vitalist conceptions (animism), teleological approaches of the evolution processes, expressed in apologies of immanent purposes in organisms’ adaptation, and an anthropomorphic vision of the biological processes under evaluation in the answers and also in the acceptance or not recognition of these obstacles in the excerpts. The presence of figures of speech, metaphors and analogies (verbal obstacle) were verified in explaining the evolution and the immune system, also present in the excerpts. Keywords: anthropomorphism; teleology; vitalism. Identification of anthropomorphic, teleological and vitalist conceptions amongst participants of an annual meeting of SBBq 1 Introdução A Bioquímica é uma importante área do conhecimento das ciências biológicas e químicas, fazendo parte do currículo básico de vários cursos de saúde e de alguns cursos de Engenharia nas universidades. Devido à grande complexidade das vias metabólicas, à enorme terminologia de enzimas e moléculas reguladoras e ao grau de pensamento abstrato exigido para sua compreensão, é recorrente que educadores utilizem o emprego de recursos técnicos e uma linguagem que facilitem o aprendizado e atraiam a atenção por parte dos estudantes. O uso de argumentos finalistas, antropomórficos e vitalistas, além de linguagem metafórica e analogias, é legitimado pela maioria dos educadores e reforçado por sua presença em artigos científicos da área, publicados em revistas indexadas e de impacto considerável. No entanto, é importante questionarmos quando essas ferramentas são usadas apenas como apoio à compreensão deste campo científico e como figuras de linguagem, ou se elas estão presentes entre estudantes, professores e pesquisadores na forma de conceitos estabelecidos e evidenciando concepções errôneas acerca do conhecimento científico, i. e., se elas estão atuando como obstáculos epistemológicos. A partir de sua noção de Obstáculo Epistemológico, apresentada em 1938 em “A Formação do Espírito Científico”, Gaston Bachelard discute que é em termos de obstáculos no próprio ato de conhecer que o problema do conhecimento científico deve ser colocado, como causas de estagnação e até de regressão das ciências. Bachelard propõe que “o ato de conhecer dá-se contra um conhecimento anterior, destruindo conhecimentos mal estabelecidos (...)” [1]. Um obstáculo epistemológico pode ser compreendido como uma forma de conhecimento que resiste às mudanças devido ao seu poder explicativo ou, em outras palavras, devido à sua posição conceitual num dado sistema de conhecimentos [2]. Entre os obstáculos epistemológicos identificados por Bachelard (1996) estão o animismo e o conhecimento unitário e pragmático. Bachelard caracteriza o obstáculo animista ao analisar a interferência de noções presentes no campo da Biologia ao entendimento de fenômenos da Física e da Química. Para Bachelard, a intuição da vida impede um estudo objetivo dos fenômenos físicos: “A Vida é uma palavra mágica”. O obstáculo animista trata a “vida como um dado claro e geral” [1]. No campo da Física, o animismo funciona ao nível das imagens; porém o mesmo não ocorre na Biologia. Michel Pêcheux, em “Sobre a História das Ciências” [3] http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.558 18/06/2016 7 Identification of anthropomorphic, teleological and vitalist conceptions amongst participants of an annual meeting of SBBq discute que o animismo toma em Biologia o nome de vitalismo. Segundo Pêcheux, o papel desempenhado pelo animismo nas ciências físicas não é o mesmo que o do vitalismo na Biologia. Ao discutir o vitalismo no campo das ciências biológicas, Pêcheux mostra que ele representa uma posição conceitual nesta ciência. Neste trabalho adotaremos esta última concepção nas discussões sobre o obstáculo animista. O obstáculo do conhecimento unitário e pragmático descrito por Bachelard alerta sobre o perigo de se recorrer à unidade da natureza e utilidade dos fenômenos naturais ao tentar explicá-los: “Em todos os fenômenos, procura-se a utilidade humana, não só pela vantagem que pode oferecer, mas como princípio de explicação. Encontrar uma utilidade é encontrar uma razão.” [1]. Na prática científica, este obstáculo revela a tendência a uma concepção finalista e, portanto, teleológica dos fenômenos. A teleologia é considerada por Ernst Mayr como a ideologia que mais influenciou a Biologia: “talvez nenhuma outra ideologia tenha influenciado a biologia mais profundamente que o pensamento teleológico” [4]. Investigando as concepções de Bachelard e Mayr, propusemos a noção de obstáculo teleológico [5]. O aspecto antropomórfico do obstáculo unitário e pragmático destacado neste trabalho corresponde a um desenvolvimento teórico da concepção bachelardiana de obstáculo epistemológico, objeto de estudos a que nosso grupo de pesquisas tem se dedicado. Alguns autores, não utilizando como referencial teórico a epistemologia de Bachelard, têm pesquisado a importância do animismo, da teleologia e do antropomorfismo no ensino de ciências [6-9]. Segundo Tamir e Zohar [7], a teleologia se refere a casos nos quais os fins são usados como explicações para a forma como certas estruturas são construídas, ou para a maneira como certas funções são exercidas. Estes autores também argumentam que a explicação teleológica implica a atribuição de consciência a seres não humanos, ou a diferentes órgãos, sendo desta forma, uma maneira enganadora de se entender cientificamente o fenômeno. Por outro lado, antropomorfismo é considerado como a atribuição de um racional humano a seres não humanos, assim Tamir e Zohar [7] consideram que a teleologia pode ser considerada como um caso especial de antropomorfismo. Em um trabalho anterior [10], foi possível identificar concepções vitalistas e teleológicas entre pós-graduandos da área de Bioquímica. Esses resultados provocaram o questionamento se essas concepções eram características daquele grupo investigado http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.558 18/06/2016 8 Identification of anthropomorphic, teleological and vitalist conceptions amongst participants of an annual meeting of SBBq ou poderiam estar presentes em um público mais abrangente. Pela importância destes obstáculos ao desenvolvimento do conhecimento científico na área de Bioquímica e ciências correlatas, neste trabalho buscou-se identificar as concepções vitalistas (animismo), antropomórficas e teleológicas entre pesquisadores participantes da XXXIX Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (SBBq), por ser o principal congresso brasileiro da área. 2 Materiais e Métodos Este trabalho constitui um aprofundamento (prático e teórico) do estudo apresentado de forma resumida no VIII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – ENPEC [11]. Os questionários foram distribuídos aleatoriamente aos inscritos na XXXIX Reunião Anual da SBBq (18 a 21 de maio de 2010, Foz do Iguaçu, Paraná) em palestras, sessões de pôsteres, no credenciamento e recebimento de auxílio. O questionário foi elaborado com o objetivo de identificar obstáculos epistemológicos e verificar o nível de concordância/discordância com afirmativas e excertos baseados em noções do senso comum ou extraídos de artigos científicos de revistas de qualidade reconhecida e elevado fator de impacto (os títulos das revistas foram omitidos nos questionários para evitar sugestionar as respostas). Após cada um dos excertos (Quadro 1), os participantes deveriam assinalar o seu nível de concordância com o texto, escolhendo uma das seguintes alternativas, elaboradas com base na escala de Likert [12]: Discordo; Discordo parcialmente; Não sei; Concordo parcialmente; Concordo. Além disso, o questionário estimulava os participantes a justificar suas respostas perguntando “Por quê?” após a escala de alternativas. As respostas dos questionários, transcritas sem correções, estão apresentadas em quadros em documento suplementar. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.558 18/06/2016 9 Identification of anthropomorphic, teleological and vitalist conceptions amongst participants of an annual meeting of SBBq Quadro 1. Excertos baseados em noções do senso comum ou extraídos de artigos publicados em revistas de qualidade reconhecida e elevado fator de impacto. Os excertos foram apresentados na forma de um questionário e os participantes deveriam assinalar o grau de concordância com cada um deles. O excerto (1) é de autoria de Ernst Mayr [4], definindo a evolução como um processo não teleológico e foi inserido no questionário como forma de um controle sobre as demais respostas. 1) “A evolução (é) com freqüência considerada um processo teleológico porque levaria a “melhoramento” ou “progresso”. (...) Decerto é a seleção natural um processo de otimização, mas não tem meta definida, e, considerando o número de restrições e a freqüência de eventos aleatórios, seria por demais equivocado chamá-la de teleológica. (...) A seleção natural lida com propriedades de indivíduos de determinada geração; ela simplesmente carece de uma meta de longo alcance, embora assim pareça quando se olha para trás, abrangendo uma longa série de gerações.” [Mayr, 2005] 2) Sobre a “hipótese de manipulação”: “É bem conhecido que a infecção com T. gondii pode afetar a cognição e o comportamento de roedores. (...) Estudos mais recentes levaram os pesquisadores a formular a hipótese de manipulação. Esta hipótese estabelece que o parasita pode alterar o comportamento de seus hospedeiros para aumentar sua taxa de transmissão. (...) Em 1994, Webster et al. publicaram estudos demonstrando que ratos infectados com T. gondii foram mais ativos e menos neofóbicos à urina de gatos do que os controles; as respostas à urina de animais não predadores tais como coelhos não foram alteradas pela infecção toxoplasmática. Estas alterações levariam o rato a ser mais facilmente devorado pelo gato, assim completando o ciclo de vida do T. gondii e sendo um exemplo da hipótese de manipulação.” [Yolken et al., 2009; tradução nossa] [13] 3) “O objetivo de todos os organismos é viver”. 4 ) Sobre a ideia de “corrida armamentista”: “Muitas bactérias patogênicas escondem-se e crescem em compartimentos intracelulares ligados à membrana, chamados fagossomos, onde elas são protegidas do sistema imune e ainda recebem nutrientes da célula infectada. Esta situação coloca um problema para o hospedeiro. Desta forma a célula hospedeira toma medidas para destruir o patógeno, o qual, obviamente, tenta se defender. Em uma clássica “corrida armamentista” evolucionária, ambos, patógeno e células hospedeiras têm desenvolvido um arsenal de armas, e esta corrida certamente não está terminada ainda.” [Kuijl e Neefdjes, 2009; tradução nossa] [14] 5) Sobre a ideia de “patógenos traiçoeiros”: “Parasitas intracelulares usam várias estratégias para invadir as células e subverter as rotas de sinalização celular e, assim, ganhar uma posição contra as defesas do hospedeiro. Entrada eficiente, habilidade para explorar nichos intracelulares, e persistência fazem destes parasitas patógenos traiçoeiros.” [Sibley et al., 2004; tradução nossa] [15] 6) “Os microrganismos têm personalidade.” Foram coletados 97 questionários respondidos: 39 por estudantes de iniciação científica (ICs), 42 por pós-graduandos (PGs) e 16 por professores e pesquisadores (PPs) com formação em Bioquímica e áreas correlatas de universidades e institutos de pesquisa distribuídos pelo país (Fiocruz, Instituto Butantan, UEM, UEPG, UFABC, UFAL, UFBA, UFC, UFES, UFMA, UFOP, UFPE, UFPR, UFRGS, UFRJ, UFRN, UFRRJ, UFS, UFSC, UFSJ, UMC, UnB, UNESP, Unicamp, Unifesp, UNIRIO, UNIOESTE, UPE, UPMUniversidade Presbiteriana Mackenzie, USP). Os cursos de graduação identificados foram Agronomia/Ciências Agrícolas, Biologia/Ciências Biológicas, Bioengenharia, Biomedicina, Bioquímica, Biotecnologia, Educação Física, Engenharia Agronômica, Farmácia, Física, Medicina, Medicina Veterinária, Microbiologia/Imunologia, Nutrição, Odontologia e Química, incluindo bacharelado, licenciatura e cursos para tecnólogos. Dos participantes, dois pós-graduandos eram da Universidad Nacional de Córdoba, Argentina. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.558 18/06/2016 10 Identification of anthropomorphic, teleological and vitalist conceptions amongst participants of an annual meeting of SBBq Este trabalho faz parte de uma linha de pesquisa do Grupo Interinstitucional e Interdisciplinar de Estudos em Epistemologia (GI2E2 – www.epistemologia.ufrj.br), integrado atualmente por docentes e pesquisadores de diferentes instituições do Estado do Rio de Janeiro (Fiocruz, UFRJ, UFF, UFRRJ e UERJ) que foi avaliada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da ENSP/Fiocruz e aprovada sob o número CAAE 14095313.0.0000.5240. Não foi empregado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), pois o estudo foi conduzido de forma cega, não sendo possível aos pesquisadores terem acesso aos dados pessoais e preservando a identidade de todos os participantes, com garantia de anonimato e confidencialidade das respostas. Assim, os questionários foram anônimos e os resultados foram analisados em conjunto e não individualmente ou focando alguma instituição ou método de ensino específico. Esta abordagem foi escolhida porque o GI 2E2 não tem como objeto de pesquisa a implementação de estudos cognitivos individuais, mas sim do processo de desenvolvimento das ciências e a investigação dos obstáculos epistemológicos a elas relacionados, que ocorre de forma histórica e coletiva. 3 Resultados Foram identificadas concepções antropomórficas, teleológicas e vitalistas nas repostas ao questionário em todas as três categorias, independente da área de formação, da universidade ou do tempo de atuação em Bioquímica. 3.1 Evolução segundo Ernst Mayr Com relação a este excerto, o perfil de respostas entre as categorias foi diverso, com significativo número de respostas “Não sei” entre estudantes de iniciação científica (aproximadamente 36%) e pós-graduandos (12%). Entretanto nenhum PP afirmou não saber opinar sobre a frase (Figura 1). Essa diversidade ocorreu possivelmente devido à maior ou menor familiaridade com os termos e conceitos presentes no excerto. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.558 18/06/2016 11 Identification of anthropomorphic, teleological and vitalist conceptions amongst participants of an annual meeting of SBBq Figura 1. Respostas (%) ao excerto “A evolução (é) com frequência considerada um processo teleológico porque levaria a “melhoramento” ou “progresso”. (...) Decerto é a seleção natural um processo de otimização, mas não tem meta definida, e, considerando o número de restrições e a frequência de eventos aleatórios, seria por demais equivocado chamá-la de teleológica. (...) A seleção natural lida com propriedades de indivíduos de determinada geração; ela simplesmente carece de uma meta de longo alcance, embora assim pareça quando se olha para trás, abrangendo uma longa série de gerações.” [4]. Algumas respostas discursivas dos ICs e PGs são explícitas: “Não entendi a frase.”; “Não sei o que é teleológico!”; “Não sei. Série de terminologias abstratas (...)”. Contudo, há um alto índice de concordância entre os ICs: 43,6% afirmaram concordar, mesmo manifestando objeções quanto à frase (caso do item “concorda parcialmente”). Conforme análise das demais respostas é possível que a autoridade de Mayr na área tenha induzido ao maior nível de concordância neste excerto, como explicitado por um estudante: “Mayr é mestre, e a evolução é fato”. Das respostas que concordaram com o excerto de Mayr entre os estudantes de iniciação científica, destacam-se: “Concordo. Eventos aleatórios são extremamente comuns no tempo do universo (...)” e “Concordo parcialmente. A evolução natural não tem como prevê (sic) o futuro das espécies, qual sobreviverá, porém, quando olhamos para trás, vimos que muitas gerações foram extintas e as resistentes (que conseguiram sobreviver) permaneceram.”. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.558 18/06/2016 12 Identification of anthropomorphic, teleological and vitalist conceptions amongst participants of an annual meeting of SBBq Entre os pós-graduandos destacamos os que concordam com a frase (31%): “Concordo parcialmente. Para mim o nome evolução é equivocado para a teoria. A origem da palavra evoluir significa melhorar. E a teoria não é essa...”; “Concordo. A evolução não leva necessariamente a uma melhora ou objetiva um fim específico. É aleatória. E é a seleção natural que faz com que determinadas características perdurem ou sejam eliminadas.”. O maior índice de discordância foi entre os PGs: 47,6% dos estudantes discordaram. A análise das justificativas expostas por alguns PGs indica que, ao tentar explicar suas discordâncias, os alunos demonstraram não ter compreendido corretamente o excerto de Mayr. Como exemplo, podemos citar: “Discordo parcialmente. Não acho que a seleção natural tenha uma meta de longo alcance, e sim uma meta evolutiva (...)”. No excerto Mayr afirma que a seleção “carece de uma meta de longo alcance”, o que seria incompatível com a discordância do aluno. Após analisar as justificativas, consideramos que respostas deste tipo refletem o fato de que possam ter ocorrido erros de interpretação do excerto. Dois outros exemplos de discordância são apresentados a seguir: “A idéia (sic) de melhoramento é errada. A seleção natural não tem uma meta.” e “A evolução não é um processo de melhoramento, ou progresso. Se isso ocorrer é muito bom, porém a evolução é uma mudança (sic) ela não é direcionada, ela apenas ocorre”. Essas opiniões demonstram a dificuldade na compreensão/não familiaridade com os termos empregados no excerto. Identificamos essa dificuldade ao perceber que algumas respostas na escala de Likert concordam com o texto, mas ao justificar os alunos explicitam conceitos completamente opostos: “Toda evolução tem como principal objetivo a melhora, em especial a sobrevivência e para manutenção da espécie.”; “A evolução resulta de eventos aleatórios que por seleção natural conferem um ‘objetivo’, se olharmos para trás (sic).” (grifos nossos). Apenas 25% dos PPs discordaram do trecho, mostrando uma identificação maior com o autor e suas ideias. Os professores e pesquisadores que concordaram (75%) enfatizaram o questionamento à teleologia comumente associada aos processos evolutivos. Destacamos as respostas: “Os seres vivos constituem um produto evolucionário à (sic) cada geração, sobrevivendo ou sucumbindo a adversidades.”; “Mudanças só são observadas após um longo período, às vezes não são claras. Mas após várias gerações são observadas.”. Entre os que discordaram (25%), estão algumas http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.558 18/06/2016 13 Identification of anthropomorphic, teleological and vitalist conceptions amongst participants of an annual meeting of SBBq respostas que explicitam um pensamento teleológico e vitalista, como: “A evolução não é retilínea, ela é regida por uma força que prima pela sobrevivência (...)” (grifo nosso). Do ponto de vista científico, materialista, que força seria esta que prima pela sobrevivência? Mayr (2005) discute que, para os vitalistas, as manifestações de vida em um organismo são controladas por uma “força vital” (vis vitalis), o que, na terminologia bachelardiana constitui-se como um obstáculo epistemológico [10]. Apesar da discordância formal com o excerto, outras respostas dos professores questionaram a teleologia no processo de seleção natural, como: “Seleção natural, num determinado ambiente um indivíduo pode se sobressair (sic), porém não necessariamente o ‘melhor’, até (sic) porque o fator que causa a seleção não precisa ser permanente. Assim o mais adaptado se mantém (sic), não o ‘melhor’.”; “A teleologia fundamenta-se em um projeto transcendental ao jogo dos acasos fortuitos das mutações aleatórias. Portanto, não há objetivos ou alvos a serem atingidos.”. 3.2 Hipótese de manipulação Dos ICs participantes da pesquisa, 35,9% não soube opinar sobre a frase da “hipótese da manipulação”, contra 23,8% dos PGs e 12,5% dos PPs. Contudo, a maior parte das respostas a este excerto foi de concordância (ou concordância parcial), como mostrado na Figura 2, sem questionamento das concepções vitalista e teleológica implícitas na “hipótese de manipulação”, ou pelo menos, da presença de um obstáculo verbal que deixa margem a uma interpretação de intencionalidade no processo descrito pelos autores do artigo. O grau de discordância total e parcial quanto à frase ficou em 23% para os ICs, 19% para os PGs e 25% para os PPs. Ao mesmo tempo a concordância foi alta para os PPs: 62,5% dos professores-pesquisadores concordaram com essa assertiva, enquanto apenas 35,8% dos ICs e 45,2% dos PGs opinaram a favor. Contudo, dos PGs que concordaram parcialmente, alguns questionaram a intencionalidade do parasita, como pode ser verificado no comentário: “Pois não acredito que o T. gondii tenha desenvolvido esta ‘artimanha’ com o intuito específico que conhecemos, o acaso favoreceu esta estratégia dele, e provavelmente muitas outras deixaram de ser usadas pois não conferiam nenhuma vantagem, prevalecendo esta.”, discutindo a estratégia como tendo sido favorecida pelo acaso por ser vantajosa para o T. gondii. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.558 18/06/2016 14 Identification of anthropomorphic, teleological and vitalist conceptions amongst participants of an annual meeting of SBBq Figura 2. Respostas (%) ao excerto “É bem conhecido que a infecção com T. gondii pode afetar a cognição e o comportamento de roedores. (...) Estudos mais recentes levaram os pesquisadores a formular a hipótese de manipulação. Esta hipótese estabelece que o parasita pode alterar o comportamento de seus hospedeiros para aumentar sua taxa de transmissão. (...)” [13]. Em algumas respostas verificou-se a afirmação de que o excerto descreve o processo de evolução destes organismos, em outras, observou-se o questionamento do termo “manipulação” por implicar intencionalidade. Dentre os ICs que discordaram e justificaram sua opinião, a maioria questionou o termo “manipulação”, como podemos observar: “Não é manipulação, é seleção natural.”; “Não se trata de manipulação, o bicho não pensa.” e “Não seria uma manipulação.”. Nas opiniões discursivas dos PGs que concordaram com o excerto podemos observar que a manipulação é justificada por eventos evolutivos, ou seja, a hipótese estaria de acordo com a teoria da evolução: “O que ocorre hoje é consequência do processo evolutivo que selecionou este comportamento em ratos, em sua interação com o parasita.” e “Essa hipótese está de acordo com a teoria da evolução.”. Apesar dos questionamentos, muitos concordaram, concordaram parcialmente ou discordaram somente parcialmente. Essa postura pode ser explicada pelo possível reconhecimento de que o excerto provém de um artigo científico publicado. Apesar de não http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.558 18/06/2016 15 Identification of anthropomorphic, teleological and vitalist conceptions amongst participants of an annual meeting of SBBq ter sido exposto o periódico utilizado, nem de identificarmos o título do artigo, esse fato poderia ser constatado através da presença do nome do autor e ano da publicação. Assim, não foi possível evitar totalmente o sugestionamento das respostas, como pretendido. 3.3 “O objetivo de todos os organismos é viver” Em relação à frase “O objetivo de todos os organismos é viver”, 12,8% dos ICs não souberam responder. De todas as frases e/ou excertos avaliados no estudo esse foi o menor índice de “Não sei” indicado pelos estudantes de iniciação científica. A maior parte das respostas foi de concordância entre estudantes de IC (56,4%), PGs (69%), PPs (62,5%), com perfil de respostas similar entre todas as categorias (Figura 3). Ou seja, pesquisados que questionaram outros excertos, concordaram com este. Algumas respostas indicaram que o objetivo é a prevalência ou perpetuação dos genes em vez de “O objetivo de todos os organismos é viver”. Respostas que indicam noções similares (“Perpetuar seus genes.”; “Crescer e reproduzir-se (...)”; “Deixar descendentes.”; “(...) se adaptar ao meio.”; “Ou sobreviver.”) apresentaram declarações tanto de “Concordo ou Concordo parcialmente” quanto “Discordo ou Discordo parcialmente”, indicando que não foi identificado o caráter teleológico implícito na ideia de “objetivo”. Para os PPs, verificou-se um percentual similar que concordou com este excerto e também com o excerto de Ernst Mayr [4], que afirma o oposto: a seleção natural “não tem meta definida”, ou seja, a sobrevivência (ou extinção) de uma espécie não é um objetivo no processo de seleção natural. Esta concepção científica é o oposto da noção teleológica presente na resposta de um dos estudantes de graduação: “A evolução leva a (sic) conservação da vida.” http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.558 18/06/2016 16 Identification of anthropomorphic, teleological and vitalist conceptions amongst participants of an annual meeting of SBBq Figura 3. Respostas (%) à afirmação “O objetivo de todos os organismos é viver”. A maior parte da discordância geral em relação à frase veio dos ICs: 25,6% discordaram ou discordaram parcialmente. Logo em seguida 25% dos PPs discordam e 19% dos PGs. Entre os ICs, houve respostas em que a existência de objetivos foi questionada. Como nas respostas: “Discordo. A afirmação apresenta 2 problemas. Primeiro, o uso da palavra ‘objetivo’ supõe uma teleologia para a vida, o que não é correto do ponto de vista científico (por não poder ser verificado ou sequer inferido de dados concretos). Segundo, a palavra ‘viver’ não é muito precisa, pois é amplamente usada em nossa língua em diferentes contextos, permitindo que a frase seja interpretada conforme a vontade do leitor.”; “Concordo parcialmente. Acredito que a grande maioria dos organismos vivos não tenham (sic) consciência que estão vivos, ou de qualquer outra coisa, quanto mais um objetivo.”. A resposta de um estudante de iniciação científica questionou a visão teleológica na sentença, mas não notou que interpretações finalistas dos processos biológicos podem ter relação com o campo religioso: “Concordo. É uma visão teleológica, mas bem melhor que uma visão teológica ou religiosa.” http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.558 18/06/2016 17 Identification of anthropomorphic, teleological and vitalist conceptions amongst participants of an annual meeting of SBBq Vale destacar a resposta na qual um doutorando identificou o problema principal na sentença: “Discordo. Los organismos no tienen objetivo.”. As respostas, mesmo aquelas que formalmente foram caracterizadas como discordâncias, apresentaram uma concepção teleológica, na definição proposta por Mayr [4] e uma concepção pragmática e unitária, segundo Bachelard [1]. É o caso das respostas dadas por professores/ pesquisadores apresentados no Quadro 3. 3.4 Corrida armamentista O perfil de respostas ao excerto que descreve a ideia de “corrida armamentista” é apresentado na Figura 4. Figura 4. Respostas (%) ao excerto “Muitas bactérias patogênicas escondem-se e crescem em compartimentos intracelulares ligados à membrana, chamados fagossomos, onde elas são protegidas do sistema imune e ainda recebem nutrientes da célula infectada. Esta situação coloca um problema para o hospedeiro. Desta forma a célula hospedeira toma medidas para destruir o patógeno, o qual, obviamente, tenta se defender. Em uma clássica “corrida armamentista” evolucionária, ambos, patógeno e células hospedeiras têm desenvolvido um arsenal de armas, e esta corrida certamente não está terminada ainda.” [14]. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.558 18/06/2016 18 Identification of anthropomorphic, teleological and vitalist conceptions amongst participants of an annual meeting of SBBq A maior parte concorda com o trecho: aproximadamente 64% dos ICs, 52,4% dos PGs e 68,75% dos PPs. Entre os PPs, o maior percentual foi o de concordância parcial e muitos não explicaram em quais pontos houve objeção. Muitas respostas reforçaram o seu caráter teleológico, relacionando o processo ao fato dos organismos terem como objetivo viver ou perpetuar seus genes. Dos excertos avaliados nesse estudo, esse foi o com menor discordância total, indicando que essa visão já é padrão em algumas explicações científicas. Apenas 10,2% dos ICs, 16,7% dos PGs e 25% dos PPs discordaram dessa frase. Algumas respostas questionaram o caráter teleológico do excerto, como aquelas que questionaram a existência de um planejamento (“Parece que existe um ‘planejamento’ usando estes termos e não existe planejamento.”), que as células tenham consciência (“Parasitas como as bactérias intracelulares não tem (sic) consciência (sic) e apenas evoluíram (sic) bioquimicamente para essa forma.”) ou que as células tomam decisões (“Porque se trata de una situación fisiológica, las células no toman desiciones.”). Os termos foram também questionados, mesmo em concordâncias: “(...) não aplicaria estes termos p/ uma conceituação (sic) científica” e algumas respostas identificaram seu caráter antropomórfico: “Corrida armamentista é um termo/fenômeno completamente sociológico/antropológico. De forma nenhuma se aplica à situação em questão.”e “(...) o homem tentando HUMANIZAR as relações naturais, os ciclos biológicos, e etc...”. Outras respostas não identificaram os obstáculos antropomórfico, teleológico, vitalista e verbal presentes na afirmação, até por ser um jargão comumente usado na área, mas buscaram atribuir o texto aos mecanismos bioquímicos, fisiológicos ou moleculares relacionados, a exemplo da resposta de um mestrando: “Por exemplo, as interleucinas que possuem receptores de membrana inibidoras (sic) de alguns ‘invasores’.”. 3.5 Patógenos traiçoeiros Com relação ao excerto que trata dos “patógenos traiçoeiros”, também houve um maior percentual de concordâncias entre todas as categorias analisadas (Figura 5). Um percentual de 56,4% dos ICs, 45,2% dos PGs e 56,2% dos PPs concordaram de forma geral (concordaram e concordaram parcialmente). http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.558 18/06/2016 19 Identification of anthropomorphic, teleological and vitalist conceptions amongst participants of an annual meeting of SBBq Figura 5. Respostas ao excerto (%) “Parasitas intracelulares usam várias estratégias para invadir as células e subverter as rotas de sinalização celular e, assim, ganhar uma posição contra as defesas do hospedeiro. Entrada eficiente, habilidade para explorar nichos intracelulares, e persistência fazem destes parasitas patógenos traiçoeiros” [15]. Algumas respostas questionaram o termo empregado e alguns participantes identificaram o obstáculo epistemológico presente no excerto, mesmo sem nomeá-lo em termos bachelardianos (“ ‘Traiçoeiro’ é palavra usada para descrever comportamento humano, e não deve ser usada para descrever a ação de um microorganismo (sic) sobre o ambiente que habita (...)”; “Um ser que não possui consciência, não apresenta características de personalidade.”; “Parasitas não pensam, seres unicelulares evolui (sic) ao acaso.”; “Traiçoeiro para mim seria alguma ação indigna humana.”; “São os seres humanos que ainda não descobriram uma melhor forma de trabalhar com ele.”; “Esta seria uma atitude de um ser pensante.”; “Termos que caracterizam comportamentos humanos (...)”; “Adjetivos com traiçoeiros só cabem a quem possui a faculdade cognitiva.”; “A traição é um valor cultural e humano (...)”; “Patógenos (sic) não elaboram estratégias!”). Como em outras respostas, mesmo concordando, o termo foi questionado (“São traiçoeiros (sic) para o homem.”; “Discordo da palavra traiçoeiro (sic).”) ou explicado http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.558 18/06/2016 20 Identification of anthropomorphic, teleological and vitalist conceptions amongst participants of an annual meeting of SBBq em termos bioquímicos/biológicos (“Co-evolução patógeno (sic) hospedeiro.”; “Subvertem as rotas de sinalização.”; “Evolução.”; “A Leishmania e o tripanossoma, por exemplo, apresentam moléculas de membrana que suprimem o sistema imune (...)”; “Alguns patógenos passam a expressar genes de resistência à (sic) drogas por exemplo.”). Isso indica que a forma de descrever um sistema biológico, empregando uma analogia, jargão, que configura um obstáculo verbal segundo Bachelard, é aceito na área. Isto foi resumido da seguinte forma por uma das respostas de um(a) mestrando(a): “(...) isso é apenas uma analogia!”. Entretanto, muitas respostas não somente não questionaram seu caráter antropomórfico como reforçaram uma concepção teleológica destes processos, como na resposta: “Acredito que a evolução ensinou estes parasitas.”. O índice de discordância foi maior entre os PPs: aproximadamente 31,3%. Esse índice cai para 18% entre os ICs e 23,8% entre os PGs. Entre os que discordam, estão as respostas: “(...) o termo traiçoeiro não pode ser aplicado a patógenos (sic)”; “A traição é um valor cultural e humano (sic) portanto ñ pertence ao mundo do patógeno.”; e outras que apresentam uma concepção teleológica apesar da discordância: “Não se trata de ser ‘traiçoeiro’ e sim uma estratégia de sobrevivência e perpetuação.”; “Apenas tentam se manter vivos de uma forma que o sistema do invasor não o (sic) reconheça.”. Outras respostas questionaram o excerto, mas não formalmente: “Concordo parcialmente. Discordo da palavra traiçoeiro (sic).”; “Não sei. Isto é evolucionário (sic) na minha opinião.”. 3.6 “Microrganismos têm personalidade” Essa sentença que contém um obstáculo epistemológico explícito apresentou a maior parcela da discordância entre ICs e PPs, 51,2% e 68,7% respectivamente. A discordância geral entre os PGs foi relativamente menor, 19,5% (Figura 6). Entre os ICs, a discordância se expressou em respostas como: “Se tivessem eles teriam comunicação ou código reconhecível.”; “Eles não são irracionais?! Não possuem sistema nervoso.”; “O uso da palavra ‘personalidade’ não é adequado, pois se refere a uma característica (ou conjunto de características) tipicamente humana; portanto, não pode ser usada para descrever uma característica de microorganismos (sic), que não têm como apresentar ‘personalidade’ do modo como essa palavra é definida.” http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.558 18/06/2016 21 Identification of anthropomorphic, teleological and vitalist conceptions amongst participants of an annual meeting of SBBq Figura 6. Respostas (%) à sentença “Os microrganismos têm personalidade”. Dentre os grupos participantes, os PGs foram os que mais concordaram com essa assertiva: 45,2%. Os ICs tiveram 28,2% de concordância e os PPs 18,7%. Entre as concordâncias foram identificadas respostas com concepções antropomórficas e vitalistas ao comparar personalidade ao fenótipo dos microrganismos, características bioquímicas/genéticas ou pela expressão de seus genes: “Os microrganismos têm fenótipos que podem ser interpretados como personalidade dependendo do envolvimento que o pesquisador tem com seu objeto/ferramenta de pesquisa.”; “Se personalidade envolver características bioquímicas/genéticas próprias.”; “A ‘personalidade’ é dada pela expressão de genes que permitem a ele ter ou não personalidade.”. Entre o menor percentual que concordou, estão respostas que reforçam uma concepção (ou uma linguagem) antropomórfica e uma visão teleológica do processo de adaptação ao meio: “Pode ser uma tomada de decisão que levará a uma adaptação mais favorável ao organismo.”; “Conseguem perceber o ambiente e mudar suas atividades gerais de acordo com a situação.”; “Certamente eles se aproveitam do meio e de outros microrganismos para sobreviver com eficiência a situações inóspitas. Sofrem mutações, agregam material genético e assim se tornam eficientes.”. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.558 18/06/2016 22 Identification of anthropomorphic, teleological and vitalist conceptions amongst participants of an annual meeting of SBBq Mesmo entre os participantes que afirmaram não saber opinar (20,5% ICs; 23,8% PGs; 12,5% PPs) foram verificadas respostas que tendiam a questionar o termo “personalidade”, como exemplo: “Nunca pensei sobre isso. Mas parece que personalidade é algo muito humano e que tentamos por (sic) esta característica (sic) em todos e tudo.”. Outras respostas tendiam a aceitá-lo: “Cada organismo, micro ou não, tem sua (sic) peculiaridades, exigências e necessidades.”; “(...) se a ideia aqui for dizer que os microrganismos têm (sic) características próprias só deles, então eu concordo!”. 4 Discussão Foi possível identificar concepções antropomórficas e vitalistas nas respostas dos estudantes de iniciação científica, pós-graduandos, professores e pesquisadores ao questionário. Foi identificada uma visão teleológica/finalista do processo de evolução em afirmações como a existência de objetivos/finalidades na adaptação dos organismos. Tendencialmente, os professores e pesquisadores posicionaram-se em maior percentual em todas as respostas (menor número de respostas: “Não sei” ou abstenções em relação aos estudantes e pós-graduandos), com exceção daquelas atribuídas à frase “O objetivo de todos os organismos é viver”. Entretanto, observou-se também a presença destas concepções vitalistas e teleológicas, muitas vezes de forma muito similar às demais categorias. As afirmações teleológicas identificadas em muitas respostas corroboram os argumentos de Mayr [4] e de Bachelard [1] de que se caracterizam como obstáculos ao conhecimento científico. Segundo Bachelard [1], o obstáculo pragmático e unitário se expressa na associação entre verdade e utilidade, segundo a qual não é possível conceber um fenômeno que não seja “útil” na Natureza. Mayr [4] discute que não há nenhum apoio para a teleologia na teoria de Darwin apresentada em “Origem das Espécies” (ainda que em correspondências, particularmente em seus últimos anos, ele tenha sido por vezes descuidado com sua linguagem). Depois que Darwin estabeleceu o princípio da seleção natural, esse processo foi amplamente interpretado como teleológico (tanto por adeptos quanto por opositores); a evolução era com frequência considerada um processo teleológico porque levaria a um “melhoramento” ou “progresso”. Entretanto, esta visão deixa de ser razoável quando se considera a natureza variacional da evolução darwiniana, que não tem meta final e (re) começa a cada nova geração. A evolução leva frequentemente a “becos sem saídas fatais” e resultam num “movimento irregular em http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.558 18/06/2016 23 Identification of anthropomorphic, teleological and vitalist conceptions amongst participants of an annual meeting of SBBq zigue-zague na mudança evolutiva” (...) “É lamentável que alguns autores, mesmo na literatura mais recente, pareçam dotar a evolução de uma capacidade teleológica” [4]. As concepções teleológicas interferem na compreensão e na prática científica dos estudantes, pós-graduandos e até mesmo dos professores e pesquisadores, como mostrado nas respostas aos questionários. Considerando o conhecimento atual dos processos evolutivos, as concepções teleológicas agem como obstáculos ao avanço científico, não havendo motivos para a permanência do pensamento teleológico no processo de ensino que pode ser o principal responsável por estas concepções presentes entre cientistas e estudantes. Temos discutido em nosso grupo de pesquisa que o campo religioso pode influenciar na interpretação finalista dada aos processos evolutivos, ou seja, a crença de que as modificações ocorrem sempre orientadas por uma força imaterial no sentido da perfeição em níveis mais elevados. No entanto, creditar essa interpretação finalista somente a uma elaboração equivocada ligada à religião é uma visão simplista demais. A visão finalista dos processos evolutivos encontra eco dentro do próprio pensamento biológico, conforme discutido anteriormente em Ribeiro e colaboradores [5]. No processo de aprendizagem, de acordo com Sepulveda e El-Hani [16], conforme ocorre o ensino da teoria darwinista da evolução, o conhecimento científico pode ser integrado às crenças religiosas e, através da criação de um modelo explicativo próprio, os conteúdos vão sendo elaborados e reorganizados pelos estudantes de forma a mantê-las. Segundo Porto e Falcão [17], a evolução biológica, da mesma forma que a origem da vida, por serem temas incorporados de forte influência cultural (particularmente religiosa) deveriam dispor de mais tempo e maior número de atividades escolares para serem melhor compreendidos. Com relação às concepções antropomórficas discutidas na área, parece-nos mais razoável considerar que o antropomorfismo é uma manifestação teleológica onde os aspectos finalistas são direcionados às características humanizantes. Desta forma, identificamos que o antropomorfismo se insere na teleologia, e não o contrário como sugerido por Tamir e Zohar [7], pois existem explicações teleológicas que não são focadas em características humanizantes. É neste sentido que, ao buscarmos o desenvolvimento teórico do obstáculo do conhecimento unitário e pragmático proposto por Gaston Bachelard, chegamos à conclusão de que este se relacionava em alguns aspectos com a teleologia de Ernst Mayr, o que nos fez propor a noção do obstáculo teleológico [5]. Agora, http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.558 18/06/2016 24 Identification of anthropomorphic, teleological and vitalist conceptions amongst participants of an annual meeting of SBBq tentando avançar mais na caracterização desta noção, nos parece que o aspecto do conhecimento unitário identificado por Bachelard está mais intimamente relacionado à influência de uma visão filosófica nas ciências, portanto mais diretamente ligado à teleologia caracterizada por Mayr. Já o antropomorfismo tem uma ligação mais próxima ao aspecto pragmático, do obstáculo caracterizado por Bachelard, por isso vamos caracterizá-lo como obstáculo antropomórfico. Problematizando a noção de obstáculos epistemológicos, autores [2, 5, 10, 18, 19] discutem que o obstáculo epistemológico é um conhecimento, uma concepção e não uma dificuldade ou falta de conhecimento. Esse conhecimento é capaz de produzir respostas adaptadas a certos problemas, mas também produz respostas falsas em outros tipos de problema. Ele é um tipo de conhecimento que resiste às contradições com as quais é defrontado, bem como ao estabelecimento de um conhecimento melhor, isto é, apresenta resistência a modificações, caracterizando-se por se manifestar de forma recorrente. A rejeição desse conhecimento e a consequente superação do obstáculo levarão a um novo saber (conhecimento). Desta forma, assim como não se pode ter uma visão unilateral dos obstáculos epistemológicos, é preciso perceber até que ponto as concepções representam um progresso para o conhecimento dos processos ao permitir uma explicação dos mesmos. É preciso identificar em qual estágio do desenvolvimento do conhecimento científico estas concepções passam a obstaculizar o desenvolvimento de conceitos mais precisos, sendo esta a preocupação principal de que trata a epistemologia de Bachelard, daí sua importância [5]. Ao avaliar as respostas às questões colocadas, é possível perceber que os obstáculos antropomórfico, teleológico e vitalista/animista estão presentes em conjunto com o obstáculo verbal (verbalismo) definido por Bachelard [1]. Os termos presentes nos excertos dos artigos científicos, como “hipótese de manipulação”, “corrida armamentista” e “patógenos traiçoeiros” podem ser caracterizados como obstáculos verbais segundo Bachelard, muitas vezes utilizados sem que os cientistas se deem conta dos seus efeitos. O efeito deste obstáculo nas ciências é discutido por Marly Bulcão [20], divulgadora do pensamento bachelardiano em nosso país: “Admitindo o desenvolvimento da ciência como descontínuo, com ruptura entre conhecimento passado e presente, a linguagem também deve ser retificada para se adequar aos novos conhecimentos. O processo de retificação da linguagem é mais lento http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.558 18/06/2016 25 Identification of anthropomorphic, teleological and vitalist conceptions amongst participants of an annual meeting of SBBq que o da ciência, surgindo muitas vezes palavras que em lugar de expressarem os fenômenos são obstáculos à explicação científica. Metáforas são obstáculos que parecem simplificar a explicação científica, sugerindo diversas propriedades de uma substância, mas impedem construções mais precisas.” [20] Parece-nos que estas figuras de linguagem estão profundamente arraigadas nas concepções dos pesquisadores que responderam à pesquisa, fazendo com que não questionassem o seu uso nos excertos. O que também se torna um obstáculo ao desenvolvimento do conhecimento científico. Como discute Alice Casimiro Lopes [21], é possível inicialmente utilizar imagens, analogias e metáforas, mas é necessária a ruptura com estes obstáculos para avançar no processo de construção do conhecimento científico. 5 Considerações finais Em um trabalho anterior [10], foram identificadas concepções teleológicas e vitalistas entre estudantes de pós-graduação em Bioquímica e foi enfatizada a necessidade de se incluir discussões epistemológicas em disciplinas da graduação, de forma a reduzir o impacto dessas concepções no desenvolvimento da pesquisa científica (elaboração de conceitos, formulação de experimentos, interpretação e discussão de resultados, etc...) por aqueles estudantes. No entanto, o que se observa nos resultados obtidos e apresentados no presente artigo, é que tais concepções estão presentes mesmo entre os professores, i.e., aqueles que deveriam ser capazes de promover este necessário debate com os estudantes. Desta forma, identificou-se que tais discussões epistemológicas não devem se restringir à sala de aula, mas devem ser estimuladas na comunidade científica, através de palestras, simpósios e grupos de estudo dentro das unidades de pesquisa. Devem necessariamente conter um debate sobre as diferenças entre o conhecimento comum e o processo de construção do conhecimento científico, além de promover um resgate da história da constituição de determinada disciplina (no caso, a Bioquímica) como uma disciplina científica, enfatizando-se como a produção de conceitos e teorias se fez de modo a eliminar ou minimizar a influência de tais concepções. Além disso, acredita-se que seja fundamental discutir com os estudantes, professores e pesquisadores a importância da utilização de uma linguagem adequada http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.558 18/06/2016 26 Identification of anthropomorphic, teleological and vitalist conceptions amongst participants of an annual meeting of SBBq para a boa compreensão dos processos bioquímicos/biológicos, percebendo-se os limites e perigos do emprego de metáforas e analogias. Entende-se que é essencial discutir, principalmente com os alunos, a importância da leitura crítica independente do autor do texto. O ensino de Biologia, em particular de evolução através de seleção natural, precisa ser debatido, a formação científica dos professores melhorada, e sua didática otimizada com o objetivo de desenvolver metodologias e instrumentos que minimizem ou contornem os obstáculos epistemológicos. Desta forma, esperamos com este trabalho contribuir para um debate necessário relacionado à construção e desenvolvimento do conhecimento científico, em particular na Bioquímica e áreas correlatas. Referências [1] Bachelard G. A Formação do Espírito Científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto; 1996. [2] Brousseau G. Epistemological obstacles and problems in mathematics. In Balacheff N, Cooper M, Sutherland R, Warfield V (Edition and translation). Theory of didactical situations in mathematics. New York: Kluwer Academic Publishers; 2002. p.79-98. [3] Pécheux M, Fichant M. Sobre a História das Ciências. Lisboa: Editorial Estampa; 1971. [4] Mayr E. Biologia, Ciência Única: reflexões sobre a autonomia de uma disciplina científica. São Paulo: Companhia das Letras; 2005. [5] Ribeiro MGL, Larentis AL, Caldas LA, Garcia TC, Terra LL, Herbst MH, Almeida RV. On the debate about teleology in Biology: the notion of “teleological obstacle”. 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Uma Análise da Epistemologia de Gaston Bachelard. Rio de Janeiro: Edições Antares; 1981. [21] Lopes AC. Currículo e Epistemologia. Ijuí: Editora Unijuí; 2007. Agradecimentos À Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (SBBq), especialmente à Cynthia Sayuri Bando, pelo auxílio na distribuição dos questionários entre os participantes da XXXIX Reunião Anual, ocorrida de 18 a 21 de maio de 2010 em Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil. Este trabalho se beneficiou das discussões na disciplina Lógica e Filosofia da Ciência do Instituto de Química da UFRJ. Os autores agradecem aos estudantes Carolina Nicolau, Eduardo Trevisol, Karen Einsfeldt, Frederico Castro, Luciana Facchinetti de Castro Girão, Rafael Alves de Andrade. Ao Professor Dr. Gilberto Barbosa Domont, por viabilizar a pesquisa junto à SBBq. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.558 18/06/2016 28 V.24 N.1 /2016 Enviado em: 15/03/2016 Publicado em: 23/05/2016 Teaching Research Diagnósticos e intervenções no Ensino de Bioquímica Diagnoses and interventions in Biochemistry Teaching 1 Andreza Costa Scatigno *, Bayardo Baptista Torres 1 2 2 Universidade de Sorocaba, UNISO Instituto de Química, Universidade do Estado de São Paulo, USP *e-mail: [email protected] Resumo A aprendizagem da Bioquímica tem sido um problema para muitos alunos de cursos de graduação, às vezes resistentes aos esforços dos docentes. A falta de clareza sobre as bases do problema enfrentado pelos participantes do processo dificulta a adoção de medidas para resolvê-lo. Este artigo relata a pesquisa para diagnosticar as dificuldades dos alunos do curso Nutrição de uma Instituição de Ensino Superior da rede particular de ensino com o aprendizado de Bioquímica. As dificuldades resultavam da pequena proficiência nas diferentes linguagens empregadas na comunicação bioquímica: visual, verbal e simbólica. Os dados obtidos foram usados para subsidiar o planejamento e a aplicação de intervenções corretivas dos problemas detectados. Os resultados gerais da reformulação curricular mostraram um ganho considerável no aprendizado e melhoria na motivação dos estudantes. Palavras-chave: Ensino de Bioquímica, Literacia Visual, Intervenções didáticas Abstract Learning Biochemistry has been a problem for many undergraduate students and sometimes resists to the efforts of teachers. The lack of clarity on the bases that produce the difficulties faced by students and teachers hinders the adoption of measures to solve them. This article reports the research to diagnose the reasons of the difficulties of Nutrition students in Biochemistry learning at a private Higher Education Institution. The difficulties resulted from the small proficiency in different languages used in biochemical communication: visual, verbal and symbolic. The data obtained from many tests were used to support the planning and implementation of corrective interventions. The overall results of the curriculum reform showed a considerable gain in learning and improvement in student motivation. Keywords: Biochemistry teaching, Visual Literacy, Didactic interventions Diagnoses and interventions in Biochemistry Teaching 1 Introdução 1.1 A aprendizagem significativa Os estudantes de Bioquímica costumam definir esta disciplina como uma coleção de estruturas químicas e reações, de difícil assimilação e desintegrada de sua prática profissional [1]. Esta apreciação não surpreende, pois, na estrutura instrumental de grande parte dos currículos do Ensino Superior, o reconhecimento da importância das disciplinas básicas ocorre tardiamente, quando os conceitos que exploram são necessários para o prosseguimento do curso ou para o exercício profissional. Por isso, os benefícios que essas disciplinas poderiam trazer para a formação integrada dos estudantes ficam muito comprometidos. Para enfrentar a dificuldade descrita, um dos desafios dos professores no Ensino Superior é obter dos alunos a participação ativa que contribuiria para facilitar e aprofundar a aprendizagem, conferindo-lhe o sentido que a estrutura curricular não evidencia. De fato, o empenho de alunos e professores na construção do conhecimento afasta atitudes que não fazem parte de um processo de ensino construtivista: transmissão de conhecimentos, passividade, omissão, desinteresse e reprodução. Em contrapartida, valoriza a pesquisa, a análise, a produção, a criação, a leitura e o aprofundamento nas discussões propostas [2]. Entretanto, na maioria dos casos, mesmo com domínio do conteúdo, falta aos professores o ferramental metodológico para implementar estratégias ativas de aprendizagem. A adoção destas estratégias prevê mudanças no papel dos professores, por transferir o centro do processo educativo para os estudantes. Os docentes atuam como agentes mediadores, propondo desafios aos seus alunos e ajudando-os a resolvêlos por meio de atividades em grupo, em que os alunos mais adiantados possam cooperar com os que tiverem mais dificuldades [3]. Esses são procedimentos alicerçados nos princípios estabelecidos por Jean Piaget [4] e Lev Vygotsky [5], que iniciaram os seus trabalhos na década de 1920. As ideias construtivistas passaram a ser utilizadas com maior ênfase a partir da década de 1960, quando David Ausubel propôs a Teoria da Aprendizagem Significativa, fazendo a distinção entre aprendizagem significativa e aprendizagem mecânica [6]. A aprendizagem significativa ocorre quando, na interação com a estrutura cognitiva pré-existente, um novo conteúdo adquire significado. Se não ocorrer a interação ou acontecer um número pequeno de interações, a aprendizagem é mecânica e o novo 23/05/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.626 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v13i2.564 http://dx.doi.org/10.16923/ xx/xx/2016 30 Diagnoses and interventions in Biochemistry Teaching conteúdo passa a ser armazenado na estrutura cognitiva isoladamente ou por meio de associações arbitrárias. Para possibilitar a aprendizagem significativa, é necessário haver na estrutura cognitiva do aprendiz um conjunto de conceitos relevantes que ancorem a nova informação. Ao conjunto destes conceitos básicos é dado nome de subsunçores [7]. 1.2 As representações externas A aprendizagem de Bioquímica depende em grande parte da linguagem simbólica e muitos bioquímicos concordam que as ferramentas de visualização dão suporte ao entendimento e à pesquisa em biociências celulares e moleculares. Tais ferramentas, denominadas representações externas (external representations – ERs) por psicólogos cognitivos, retratam fenômenos do mundo externo contendo relações espaciais e podem ser distinguidas de representações internas (modelos mentais), que são um protótipo da mente [8]. As ERs permitem que professores e pesquisadores construam modelos significativos de fenômenos, com o objetivo de facilitar a visualização, integração e entendimento dos conceitos bioquímicos. No entanto, como têm sido diagnosticadas dificuldades dos alunos no entendimento das ERs [9], é fundamental que o professor esteja atento a melhor maneira de ensinar e interpretar as ERs referentes a cada tópico abordado, sobretudo porque é virtualmente impossível conduzir qualquer unidade de ensino/aprendizagem de Bioquímica sem recorrer às ERs. Adicionalmente, muitos estudos [10] indicam que boa parte das dificuldades de aprendizado derivam da falta de integração dos níveis representacionais dos fenômenos químicos e bioquímicos: macroscópico, microscópico ou submicroscópico e simbólico, necessária para o aprendizado significativo. 1.3 As literacias Literacia foi originalmente definida como o domínio da habilidade de ler e escrever, situando-se em plano cognitivamente mais elevado do que a mera alfabetização. Ao longo de pouco tempo, o termo foi expandido para a habilidade de dominar, além da linguagem, números, imagens e outros meios de entender e usar os sistemas principais de símbolos de uma cultura [11]. Com esta abrangência, literacia é vista como um continuum de habilidades que capacitam os indivíduos a alcançar seus objetivos no trabalho e na vida [12]. A palavra literacia muitas vezes é substituída por letramento, com a mesma origem e a mesma acepção. Por isso é comum encontrar a expressão letramento científico [13, 14]. 23/05/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.626 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v13i2.564 http://dx.doi.org/10.16923/ xx/xx/2016 31 Diagnoses and interventions in Biochemistry Teaching Neste artigo relatamos a investigação feita em uma disciplina de Bioquímica dirigida aos alunos de Nutrição de uma Instituição de Ensino Superior da rede particular. A pesquisa originou-se de um conjunto de observações assistemáticas que indicavam aproveitamento muito baixo dos alunos, apesar da dedicação do docente e do reconhecimento deste empenho pelos estudantes. Este quadro está longe de constituir uma situação específica, mas repete o cenário encontrado em muitas disciplinas e em muitas instituições particulares de ensino. 1.4 Perfil dos alunos pesquisados Os alunos, cursando o período diurno ou noturno, compõem turmas com 37-50 participantes. Em uma das turmas pesquisadas, 76% dos alunos tinham idade entre 19 e 23 anos, 74% cursaram o ensino fundamental em escolas publicas e 83% trabalhavam. Em outras turmas, repetiu-se o padrão, com pequenas variações. No total foram coletados dados de sete turmas. 1.5 Perfil da Instituição de Ensino Na instituição pesquisada, as disciplinas do curso de Nutrição são semestrais, e as disciplinas de Bioquímica têm carga horária semanal de 2 horas/aula. O conteúdo de Bioquímica é dividido em duas disciplinas: Bioquímica, oferecida no 1° semestre do curso e Bioquímica Metabólica, no 2° semestre. O professor deve seguir um programa que contém os tópicos a serem trabalhados. A metodologia, o aprofundamento de cada tópico e a forma de avaliação são escolhas do professor. Existe obrigatoriedade mínima de duas provas por semestre, inseridas no período de provas do calendário da Instituição. Não há pré-requisitos para cursar a disciplina de Bioquímica e o ingresso na Instituição é conseguido por exame vestibular, com relação candidato/vaga menor que 1. 2 Justificativa A necessidade do estudo em uma Instituição de Ensino Superior da rede particular justifica-se pela contribuição quantitativa dessas escolas para a formação profissional, mais significativa do que a das escolas públicas. Em 2015 existiam, no Brasil, 458 Instituições de Ensino Superior (IES) oferecendo o curso de Nutrição, sendo 391 (85,4%) particulares e 67 (14,6%) públicas. No Estado de São Paulo, havia 117 IES, 111 (94,9%) particulares e 6 (5,1%) públicas. E na cidade de São Paulo, 37 IES, 36 (97,3%) 23/05/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.626 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v13i2.564 http://dx.doi.org/10.16923/ xx/xx/2016 32 Diagnoses and interventions in Biochemistry Teaching particulares e 1 (2,7%) pública [15]. A proporção de escolas particulares em relação às públicas tem aumentado significativamente nos últimos anos. No Estado de São Paulo, o número de escolas públicas que oferece o curso de Nutrição diminuiu de 10 para 6, enquanto que o das particulares aumentou de 62 para 111, como apresenta-se na Figura 1. IES Particulares IES Públicas Figura 1. Número de IES cadastradas no Ministério da Educação e ativas em janeiro de 2011 e setembro de 2015 no Brasil, no Estado de São Paulo e na Cidade de São Paulo. O estudo relatado neste artigo foi iniciado com uma coleta de dados para confirmar a veracidade das observações impressionistas que originaram o projeto. Naturalmente, o aprendizado de Bioquímica requer um nível mínimo de proficiência em matemática e linguagem, além do domínio da linguagem simbólica (símbolos e nomenclatura químicos, gráficos e tabelas) que permeia constantemente a comunicação bioquímica. Para diagnosticar as causas que impediam ou dificultavam o aprendizado, foi avaliado o grau de proficiência dos estudantes em diferentes tipos de literacia (verbal, simbólica, gráfica, etc.). Tendo sido clarificadas algumas das razões do baixo rendimento dos estudantes, foram desenvolvidas e aplicadas ferramentas metodológicas (intervenções) específicas, com estratégias ativas de aprendizagem [16], destinadas a atenuar ou corrigir os problemas diagnosticados. A condução da pesquisa alinha-se com a forma metodológica de estudo de caso [17], com abordagem mista quantitativa e qualitativa [18], e está esquematizada no item seguinte. 23/05/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.626 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v13i2.564 http://dx.doi.org/10.16923/ xx/xx/2016 33 Diagnoses and interventions in Biochemistry Teaching 3 Desenvolvimento e Métodos As etapas do estudo estão apresentadas na Figura 2. a Traçar o perfil dos alunos e da Instituição de Ensino. Aplicar questionários, testes de literacia visual, de interpretação de texto e de gráficos. Investigar a familiaridade dos alunos com termos específicos da Bioquímica. Estudar as intervenções necessárias e possíveis para a carga horária da Disciplina de Bioquímica e de acordo com o Sistema de Ensino da Instituição. b Aplicar as intervenções. Avaliar a eficiência das intervenções por meio de questionários e dos mesmos testes aplicados antes das intervenções. Comparar os resultados e os depoimentos dos alunos antes e depois das intervenções. Figura 2. Algumas etapas desenvolvidas para (a) diagnosticar as dificuldades dos estudantes e planejar as intervenções e (b) avaliar sua eficácia. 4 Diagnósticos: Instrumentos 4.1 Diagnósticos preliminares, anteriores às intervenções Questionários respondidos por alunos de diferentes turmas (anos subsequentes, cursos diurno e noturno) trouxeram informações muito semelhantes sobre as dificuldades enfrentadas pelos alunos no aprendizado de Bioquímica. Nestes questionários, os respondentes deveriam indicar seu grau de concordância com diferentes afirmações em uma escala de Likert [19] com os níveis: Concordo fortemente, Concordo, Indiferente/Indeciso, Discordo, Discordo fortemente. Havia também nos questionários questões “abertas”. 84 a 96% dos respondentes (n=47 a 50 alunos, 100% dos matriculados), dependendo da turma, concordaram ou concordaram fortemente que a Bioquímica é importante para sua profissão. Este reconhecimento deveria trazer a motivação adequada para o aprendizado que, entretanto, foi dificultado pela falta de base em Química: de 77 a 95% (também dependendo da turma) concordaram ou concordaram fortemente que foi 23/05/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.626 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v13i2.564 http://dx.doi.org/10.16923/ xx/xx/2016 34 Diagnoses and interventions in Biochemistry Teaching esta a principal dificuldade encontrada. Alguns depoimentos são esclarecedores e paradigmáticos: “ ... não consegui imaginar sobre o que a professora estava falando ...”; ...não consigo imaginar esses desenhos acontecendo ...”; “A única [sic] dificuldade que encontrei foi em relação às reações químicas ...”; “ ... a única [sic] dificuldade que encontro é em especificar as ligações (desenhos) dos compostos estudados ...” As declarações qualificam os resultados quantitativos, revelando a grande dificuldade com conceitos químicos e com a interpretação das representações simbólicas da Bioquímica (ERs), chamadas “desenhos”. Dificuldades análogas foram detectadas em relação aos outros parâmetros investigados. Nas próximas seções serão apresentados os resultados das intervenções, coletados, na maioria pelas respostas aos questionários de avaliação, também estruturados como descrito no início desta Seção. Quando pertinentes, são mostrados dados comparativos, obtidos antes (A) e depois (D) das intervenções. 4.2 Literacia visual Para o diagnóstico da competência dos estudantes relativa a essa habilidade, aplicou-se a ferramenta para diagnóstico de literacia visual desenvolvida e validada por santos et al [20]. As questões componentes do teste foram categorizadas em muito fácil, fácil, médias e difíceis (Figura 3). 1 Muito fácil 2 Muito fácil 23/05/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.626 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v13i2.564 http://dx.doi.org/10.16923/ xx/xx/2016 35 Diagnoses and interventions in Biochemistry Teaching 3 Muito fácil 4 Muito fácil 5 Fácil 6 Fácil Fácil 8 Fácil 7 9 Média 10 Média 23/05/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.626 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v13i2.564 http://dx.doi.org/10.16923/ xx/xx/2016 36 Diagnoses and interventions in Biochemistry Teaching 11 Difícil 12 Difícil Figura 3. Teste diagnóstico para Literacia Visual. 4.3 Literacia verbal/ Interpretação de texto Um fragmento de aproximadamente uma página e meia de um livro texto de Bioquímica [21] foi distribuído aos alunos para leitura e interpretação. Os alunos deveriam responder questões (Figura 4) que tinham por objetivo avaliar a capacidade de interpretação e de compreensão de palavras muito usadas nos livros de Bioquímica. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO E SIGNIFICADO DAS PALAVRAS 1. Sublinhe as palavras que não fazem sentido para você, ou seja, aquelas cujo significado você não saberia explicar. 2. Segundo o texto, por que precisamos ingerir proteínas? 3. O que você entende da frase: “O pool de aminoácidos nunca é integralmente aproveitado para a síntese, porque as proteínas sintetizadas em um dado instante não são as mesmas que estão sendo degradadas”? 4. Explique com suas próprias palavras o que é equilíbrio nitrogenado. Se aumentarmos a ingestão proteica, como nosso organismo reage quanto à eliminação de nitrogênio? 5. Para uma pessoa que precisa se alimentar com alto teor de proteína, qual refeição seria mais adequada? Explique. a) Carne bovina, arroz e feijão (100 g de cada componente). b) Ovo, arroz e mandioca (100 g de cada componente). c) Carne de porco, batata e milho (100 g de cada componente) Figura 4: Questões para investigar a capacidade de interpretação de texto por parte dos alunos e o reconhecimento de palavras 4.4 Literacia simbólica: Leitura, Interpretação e Construção de gráficos Foi testada a proficiência dos estudantes na linguagem gráfica que, frequentemente, medeia a comunicação bioquímica. Havia dois níveis de verificação pretendidos neste teste: a capacidade de (1) ler e de (2) interpretar gráficos (Figura 5). 23/05/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.626 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v13i2.564 http://dx.doi.org/10.16923/ xx/xx/2016 37 Diagnoses and interventions in Biochemistry Teaching A. A leptina é um hormônio que age no nosso cérebro inibindo o apetite e estimulando o gasto de energia. Analise os gráficos abaixo e responda: 1. Qual é a relação observada entre a ingestão de alimentos e os níveis de leptina plasmática entre os ratos? 2. Esboce um gráfico de tempo (dia) x peso corporal (g), baseando-se nos gráficos, admitindo que o peso inicial é o mesmo e considerando que os dois ratos têm atividades físicas semelhantes. 3. Podemos dizer que um rato tem maior tendência em ganhar peso que o outro? Explique sua resposta. B. A hemoglobina é uma proteína transportadora de O2 e a mioglobina é armazenadora de O2 nos músculos. Analise o gráfico abaixo e responda: 1. Qual é o porcentual de saturação com oxigênio da mioglobina e da hemoglobina na pressão venosa e na pressão arterial? 2. A mioglobina e a hemoglobina têm a mesma saturação com O2 nas diferentes pressões parciais de oxigênio? 3.Quais são as principais diferenças observadas no gráfico entre a mioglobina e a hemoglobina? Figura 5. Questões para investigar a capacidade de leitura e interpretação de gráficos. 5 Intervenções: Instrumentos e procedimentos Os resultados obtidos pelos instrumentos de diagnósticos esclareceram, ao menos parcialmente, as razões do baixo rendimento no aprendizado dos estudantes. De fato, como será mostrado na Seção 6 (Resultados e Discussões), detectou-se, no universo de estudantes pesquisados, grandes dificuldades com relação a todos os itens examinados. Como os testes diagnósticos foram aplicados em estudantes que já haviam concluído a disciplina de Bioquímica, ficou evidente que, sem desenvoltura para decodificação da linguagem química simbólica, com baixo letramento e com dificuldade de leitura e interpretação de gráficos e tabelas, o desempenho que poderiam apresentar na disciplina de Bioquímica estava, de antemão, comprometido. A etapa seguinte do projeto foi, por isso, planejar e aplicar uma série de intervenções que pudessem preparar os estudantes para o aprendizado pretendido. Essas intervenções foram aplicadas ao longo da disciplina ministrada. 23/05/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.626 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v13i2.564 http://dx.doi.org/10.16923/ xx/xx/2016 38 Diagnoses and interventions in Biochemistry Teaching 5.1 Exercícios iniciais A partir do primeiro dia de aula, houve cuidado especial com o significado das representações químicas (fórmulas, em particular), retomando conteúdos típicos de ensino médio, mas que os diagnósticos haviam revelado serem deficientes. A Figura 6 (6a, 6b e 6c) apresenta uma atividade típica deste período, composta por um breve texto explicativo e exercícios relativos ao assunto. FÓRMULAS QUÍMICAS 1. Fórmula molecular É uma representação de um composto químico. Por exemplo, a fórmula química da água é H2O. Nesta fórmula aparecem letras e número. As letras representam os elementos químicos que se unem para formar a molécula de água. O número subscrito é chamado de índice e indica a quantidade de átomos do elemento presente em cada molécula: a molécula de água, H2O, é constituída por dois átomos de hidrogênio e 1 átomo de oxigênio. O número 1 é omitido. 2. Fórmula estrutural Refere-se ao arranjo dos átomos para formar um composto. Como é necessário manter uma mesma proporção no número de átomos para formar uma substância idêntica a outra, é necessário que os átomos (mesmo sendo iguais) sejam arranjados numa forma específica no espaço. Diferenças na disposição dos átomos de carbono são o que diferenciam, por exemplo, o diamante da grafite, como mostram os esquemas seguintes. A fórmula estrutural de uma substância é, portanto, a representação de como átomos se ligam. Negro de fumo - fuligem Nanotubos Fulereno C60 Grafite Diamante Figura 6a. Texto para revisão de Fórmulas Químicas. 23/05/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.626 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v13i2.564 http://dx.doi.org/10.16923/ xx/xx/2016 39 Diagnoses and interventions in Biochemistry Teaching 1. Quantos átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio têm as moléculas abaixo? a) C6H12O6 b) C12H24O12 c) HCOOH (ácido fórmico) d) CH3COOH (ácido acético) e) CH3CH2OH (etanol) 2. A partir da fórmula estrutural abaixo, escreva a respectiva fórmula molecular a) O=O b) H–O–H H c) H H HH C H H C C C C H HH C H H d) H H H H HO H H e) O OH H OH OH f) CH2 OH Figura 6b. Exercícios para revisão de Fórmulas Químicas. Agrupe os compostos abaixo de acordo com suas semelhanças e escreva a fórmula molecular. OH CH2 a) H3C O CH3 b) CH3 H3C CH2 NH c) H3C NH CH3 CH3 CH3 CH2 d) H3C CH3 e) O CH H3C CH3 g) CH H2C CH H3C CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 CH2 CH3 CH2 CH2 CH3 CH2 h) HC H2C f) i) CH2 H2C CH2 CH3 CH CH3 CH2 C CH3 Figura 6c. Exercícios para revisão de Fórmulas Químicas. 23/05/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.626 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v13i2.564 http://dx.doi.org/10.16923/ xx/xx/2016 40 CH3 Diagnoses and interventions in Biochemistry Teaching 5.2 Literacia visual Antecedendo o estudo de uma via metabólica passou-se a explorar com atenção o seu significado, ilustrando também algumas reações químicas, reversíveis e irreversíveis. Pretendeu-se, assim, suprir as dificuldades diagnosticadas referentes à linguagem simbólica. Cuidado especial foi observado com a compreensão das expressões transportadores de elétrons, reações de óxido-redução, fosforilação, isomerização, clivagem e outras equivalentes, que fazem parte do vocabulário rotineiro do professor mas, como os testes revelaram, não tinham significado para os estudantes. Cada um destes itens foi abordado imediatamente antes do assunto para o qual sua compreensão era necessária. Nas Figuras 7, de a à d, estão mostrados exercícios preparatórios para os estudos da via glicolítica (Figuras 7a e 7b), do ciclo de Krebs (Figura 7c) e da regulação metabólica (Figura 7d). 1. Quantas reações químicas reversíveis existem nas vias metabólicas hipotéticas abaixo? 2. Quais são os substratos e os produtos de cada reação? A B C Glicose D Glicose 6-fosfato Frutose 6-fosfato B A E F A Frutose 1,6-bisfosfato B E A B C D D C C G D C E A D B Figura 7a. Questões preparativas para o estudo da via glicolítica. 23/05/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.626 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v13i2.564 http://dx.doi.org/10.16923/ xx/xx/2016 41 Diagnoses and interventions in Biochemistry Teaching Seguem-se as características de 4 tipos de reações químicas: a) Óxido-redução: ocorre quando há transferência de elétrons juntamente com a transferência de H+. b) Fosforilação: ocorre quando há transferência do grupo fosfato. c) Isomerização: é um rearranjo intramolecular. d) Clivagem: ocorre quando uma molécula é “quebrada” em duas. * Classifique as reações seguintes em um destes 4 tipos: A ATP ADP Glicose B Glicose 6-fosfato NAD+ NADH A B H O P CH2 H C H O H H P O O CH2 H HO H H OH H CH2OH OH OH OH HO O D H C HO H H C OH H C H C OH H C O P HO E C O C H H ATP ADP HO O C O C H OH H C OH H C OH H C OH P H Frutose 6-fosfato Frutose 6-fosfato Frutose 1,6-bisfosfato C H C H C O P H H H OH H OH Glicose 6-fosfato H C O C OH Frutose 6-fosfato H OH C H C H C O Glicose 6-fosfato C H H C OH HO OH C H C O P CH2 O O P O H H OH C C CH2 C C OH OH H O O O O P H P O O F Frutose 1,6-bisfosfato H CH2 O O P O C OH H OH H2 C C O O Gliceraldeído 3-fosfato C O CH2 O O P O O Di-hidroxiacetona fosfato Figura 7b. Questões preparativas para o estudo da via glicolítica. 23/05/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.626 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v13i2.564 http://dx.doi.org/10.16923/ xx/xx/2016 42 Diagnoses and interventions in Biochemistry Teaching O esquema seguinte representa uma via metabólica C2 C4 C6 CO2 CO2 a) O esquema representa reações cíclicas? b) O que são reações cíclicas? c) Se o ciclo der 5 voltas, quantas moléculas de C6 serão formadas? d) Se o ciclo der 6 voltas, quantas moléculas de CO2 serão formadas? e) Para o ciclo dar uma volta, quantas moléculas de C4 são necessárias? f) Como o ciclo faz para, a partir de uma molécula com 4 carbonos receber 2 carbonos e voltar a ter 4 carbonos ao final de uma volta? Figura 7c. Questões preparativas para o estudo do ciclo de Krebs. 1. De acordo com o esquema seguinte. Responda: ATP ADP quinase (inativa) Enz OH Enz P (ativa) fosfatase Pi H2O a) é correto afirmar que a enzima ficará ativa quando ganhar um grupo fosfato do ATP? b) o que é necessário para que a enzima fique inativa? c) qual a importância desta regulação para o metabolismo em geral? 2. Sabendo que o sinal negativo indica inibição e o sinal positivo indica ativação, qual produto final da via representada abaixo é aumentado de acordo com a regulação? A B C D F G H E Figura 7d. Questões preparativas para o estudo de regulação metabólica. 5.3 Literacia verbal/ Interpretação de texto No decorrer da disciplina, frases conceituais eram lidas com os alunos, solicitando seu entendimento, oferecendo assessoria para interpretação, quando necessário. Este tipo de exercício foi adotado rotineiramente, descartando o princípio da autonomia do texto. O procedimento era o seguinte. Era dado um texto, como, por exemplo, “O 23/05/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.626 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v13i2.564 http://dx.doi.org/10.16923/ xx/xx/2016 43 Diagnoses and interventions in Biochemistry Teaching metabolismo abrange centenas de reações multienzimáticas, mas as vias metabólicas centrais são em pequeno número e notavelmente similares em todas as formas de vida”. Aos alunos era solicitado que redigissem o que haviam entendido sobre o texto e, a seguir, suas interpretações eram discutidas pelo grupo. A intenção era tornar a participação discente mais ativa e desenvolver a capacidade de interpretação, antes delegada exclusivamente aos professores. Com o objetivo de esclarecer a compreensão e/ou a acepção de termos usados tecnicamente na explicação dos conceitos, passou-se a pedir aos estudantes que perguntassem ou anotassem todas as palavras não compreendidas. Adicionalmente, foram sugeridas palavras ou expressões particulares à Bioquímica ou que tivessem acepções coloquiais diferentes das acepções técnicas, como via metabólica, substrato, equilíbrio, síntese, biossíntese, degradação, oxidação, etc. 5.4 Literacia simbólica: Leitura, Interpretação e Construção de gráficos Para favorecer a compreensão de gráficos, foram aplicados exercícios em grupos, como os exemplificados na Figura 8. 1. A enzima pepsina atua no estômago dos animais e a enzima glicose 6-fosfatase atua dentro das células. a) Como estas informações podem ser comprovadas pelos dados dos gráficos abaixo? b) Qual é o pH ótimo de cada enzima, aproximadamente? c) Em pH 6 qual enzima estará desnaturada? d) Em pH 2 qual enzima estará desnaturada? Pepsina Glicose 6-fosfatase 2. A leptina é um hormônio que age no nosso cérebro inibindo o apetite e estimulando o gasto de energia. Analise os gráficos a seguir e responda: 23/05/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.626 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v13i2.564 http://dx.doi.org/10.16923/ xx/xx/2016 44 Diagnoses and interventions in Biochemistry Teaching a) Qual é a relação observada entre a variação do peso corporal dos ratos e os níveis de leptina plasmática nos 28 dias? b) Esboce um gráfico de tempo (dia) x ingestão de alimentos (g), baseando-se nos gráficos dados e sabendo que o rato 1 inicia se alimentando com 20 g e o rato 2, com 10 g de ração. c) Podemos dizer que um rato tem maior tendência em ganhar peso que o outro? Explique sua resposta. Figura 8. Exercícios para desenvolver a capacidade de leitura e interpretação de gráficos. 5.5 Outras estratégias didáticas 5.5.1 Questões ao fim de cada aula Ao fim de cada aula eram oferecidas aos alunos questões contemplando os principais pontos abordados, constituindo, no seu conjunto, um resumo do assunto. Os estudantes deveriam responder as questões e suas respostas eram discutidas na aula seguinte. Os objetivos da estratégia eram: fazer emergir precocemente as dúvidas, desenvolver a capacidade de escrita e manter o estudo regular de Bioquímica. Este procedimento foi muito bem avaliado pelos alunos. 5.5.2 Provas em grupo Ao final de cada tópico do programa eram aplicadas provas a serem respondidas pelos estudantes reunidos em grupos de 3 a 5 componentes. Antes da aplicação da prova, que ocupava, em média, 2/3 do tempo de aula, as dúvidas sobre o tópico em questão eram esclarecidas. As provas tinham caráter estritamente instrucional e seu resultado não era contabilizado para compor a média dos participantes. 23/05/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.626 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v13i2.564 http://dx.doi.org/10.16923/ xx/xx/2016 45 Diagnoses and interventions in Biochemistry Teaching 6 Resultados e discussões 6.1 Exercícios iniciais Os exercícios constantes das Figuras 6b e 6c foram avaliados por meio do questionário de avaliação da disciplina. 75% e 97% dos alunos das turmas da manhã e da noite, respectivamente, declararam que os exercícios aplicados ajudaram no aprendizado. 63% e 91% dos alunos das turmas da manhã e da noite, respectivamente, acreditam também que os exercícios ajudaram a compreender melhor os fluxogramas e as reações químicas das vias metabólicas. 6.2 Literacia visual O teste de literacia visual (Figura 3) foi aplicado a uma turma antes das intervenções (A) e a duas turmas depois (D). Os resultados estão mostrados na Tabela 1. Tabela 1. Porcentagem de erros nas questões fáceis e muito fáceis. Depois Antes (n= 50) (n=28) (n=35) Questão 1 88 11 20 Questão 2 59 39 11 Questão 3 59 64 48 Questão 4 94 43 26 Questão 5 71 82 48 Questão 6 53 79 91 Questão 7 59 14 71 Questão 8 77 7 3 Como se depreende dos resultados, houve uma melhora na compreensão da linguagem simbólica, embora ainda tenham persistido dificuldades muito importantes na interpretação das representações simbólicas (ERs) (questões 3, 6 e 7). Uma apreciação geral dos resultados pode ser obtida com a média aritmética em porcentagem de erros por questão (incluindo todas as questões) ou apenas as fáceis e muito fáceis (Tabela 2). Tabela 2. Comparação dos testes de literacia visual antes e depois das intervenções. Antes Porcentagem média de erros por questão (todas as questões). Porcentagem média de erros por questão (fáceis e muito fáceis). Depois 68 47 41 70 42 40 Os instrumentos de intervenção, para a literacia visual, apresentados na Figura 7, 23/05/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.626 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v13i2.564 http://dx.doi.org/10.16923/ xx/xx/2016 46 Diagnoses and interventions in Biochemistry Teaching de a à d, por sua natureza, não podem ser avaliados individualmente. O resultado global de sua aplicação incide sobre a compreensão melhor de todas as vias bioquímicas estudadas, ou seja, na melhoria do aprendizado como um todo. A investigação sobre a eficácia do procedimento foi feita por meio do questionário de avaliação geral da disciplina, que continha a afirmação relativa ao que se pretendia averiguar (Tabela 3). Tabela 3. Porcentagem de respostas de duas turmas ao item especificado. CF = Concordo fortemente, C = Concordo, I = Indeciso/Indiferente. D = Discordo, DF = Discordo fortemente. N = 31 e 36 para as duas turmas, 100% dos matriculados responderam o teste Os exercícios ajudaram a compreender os fluxogramas e as reações químicas das vias metabólicas. CF C I D DF 78 19 3 - - 81 19 - - - 6.3 Literacia verbal/ Interpretação de texto No teste diagnóstico de interpretação de texto as palavras mais sublinhadas foram: substratos, vias metabólicas, oxidativas, biossintéticas, pool, hidrólise, catalisada, gliconeogênese, proteolíticas, creatinina, fosfocreatina, purina. Como o teste foi aplicado no início da disciplina de Bioquímica, era esperado que algumas palavras (gliconeogênese, creatinina, purina) fossem desconhecidas para os estudantes; por outro lado, palavras como hidrólise, catalisada, oxidativas expressam conceitos habitualmente aprendidos no ensino médio. Na ausência de significado para estas palavras, é possível antecipar a dificuldade que os alunos enfrentam no aprendizado de Bioquímica. As intervenções contínuas ao longo da disciplina permitiram esclarecer a maioria das palavras importantes, como mostram os resultados da Tabela 4. Insistir com os alunos para que perguntem sempre o significado das palavras e, à menor suspeita do professor que uma palavra não faz parte do vocabulário dos alunos, escrever seu significado no quadro e reforçá-lo a cada vez que a palavra voltar a aparecer foi uma estratégia muito eficaz para familiarizar os estudantes com o vocabulário rotineiramente usado na Bioquímica. 23/05/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.626 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v13i2.564 http://dx.doi.org/10.16923/ xx/xx/2016 47 Diagnoses and interventions in Biochemistry Teaching Tabela 4. Palavras sublinhadas no texto pelos alunos de duas turmas e porcentagem de alunos que as assinalaram antes e depois da intervenção. Turma 1 (n=29) Palavras do texto assinaladas pelos alunos Substratos Turma 2 (n=36) Antes Depois Antes Depois 52 4 25 6 Oxidados 21 4 8 0 Vias metabólicas 35 0 39 3 Oxidativas 45 0 67 3 Proteolíticas 55 25 58 6 Hidrólise 48 4 28 8 Catalisada 48 7 28 8 Biossintéticas 62 4 75 3 Precursores Enzimas proteolíticas 14 0 3 0 10 4 78 8 O resultado geral dos testes de literacia verbal indicou o desconhecimento de palavras importantes para a compreensão e o aprendizado de Bioquímica, dificuldade de leitura e interpretação do texto que não foram atenuadas pelas intervenções. O resultado das respostas às questões 2 e 3 da Figura 4 confirma a observação (Tabela 5). Parecem exceções, mas não são, as respostas às questões 4 e 5 que podiam ser localizadas no texto e por isto foram respondidas de forma correta pela maioria dos alunos. Tabela 5. Porcentual de respostas incorretas dadas por alunos de duas turmas, antes e depois das intervenções. Turma 1 Turma 2 (n = 29) (n = 36) Antes Depois Antes Depois Questão 2 55 25 31 22 Questão 3 69 82 61 67 Questão 4 17 14 3 6 Questão 5 3 0 0 3 A interpretação de texto é, de fato, uma habilidade complexa que necessita uma dedicação frequente à leitura e à escrita. Apesar dos resultados quantitativos apresentados, incentivar a interpretar cada frase dos textos parece ter exercido certa motivação nos alunos. Essa percepção é referendada pelas respostas dos alunos no questionário de avaliação da disciplina: em duas turmas (com 31 e 36 alunos) o grau de concordância à afirmação “As explicações sobre o significado das palavras ajudaram a 23/05/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.626 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v13i2.564 http://dx.doi.org/10.16923/ xx/xx/2016 48 Diagnoses and interventions in Biochemistry Teaching compreender as explicações dadas nas aulas”, foi de 81% e 19% em uma turma e 83% e 17% em outra para Concordo fortemente e Concordo, respectivamente. 6.4 Literacia simbólica: Leitura, Interpretação e Construção de gráficos O teste mostrado na Figura 8 foi aplicado em duas turmas antes e duas turmas depois das intervenções. Os resultados estão expressos na Tabela 6. Tabela 6. Porcentagem de respostas incorretas aos testes da Figura 8. Antes Depois Turma 1 Turma 2 Turma 3 Turma 4 (n=28) (n=35) (n=25) (n=33) Questão A1 39 34 12 15 Questão A2 57 52 32 24 Questão A3 50 29 12 30 Questão B1 36 29 36 27 Questão B2 29 29 8 9 Questão B3 43 29 16 12 Os resultados indicam nítido progresso obtido com as intervenções, tanto na leitura quanto na interpretação de gráficos, excetuando-se as respostas à questão B1. A interpretação destes resultados precisa ser cuidadosa, porque contém um pressuposto: as turmas são comparáveis. Turmas sucessivas, cursando o mesmo período, na mesma instituição, certamente não são idênticas, mas, com pequenas diferenças, reagem de modo muito próximo, porque têm nível de entrada equivalente. Essas ressalvas autorizam as conclusões. 6.5 Outras estratégias didáticas 6.5.1 Questões ao fim de cada aula Nas avaliações qualitativas, os alunos de várias turmas destacaram que as questões ao fim de cada aula ajudaram muito no estudo e entendimento da disciplina: “... os questionários também ajudam bastante para exercitar o que foi aprendido”; “... algo que ajudou a fixar os ensinamentos foram os questionários após cada aula”; “... além disso os questionários ajudam muito”. 6.5.2 Provas em grupo Os alunos apoiaram enfaticamente este procedimento (Tabela 7). 23/05/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.626 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v13i2.564 http://dx.doi.org/10.16923/ xx/xx/2016 49 Diagnoses and interventions in Biochemistry Teaching Tabela 7. Porcentagem de respostas de duas turmas ao item especificado. CF = Concordo fortemente, C = Concordo, I = Indeciso/Indiferente. D = Discordo, DF = Discordo fortemente. N = 31 e 36 para as duas turmas. 100% dos matriculados responderam o teste. As provas em grupo ajudaram a compreender melhor as aulas. CF C I D DF 84 16 - - - 94 6 - - - Os dados quantitativos ratificam a observação do comportamento dos estudantes. Era clara a grande participação dos alunos e a atividade colaborativa por eles desempenhada. Esta atividade mostrou ser de grande valia para o aprendizado: houve melhora significativa no desempenho da prova individual em comparação com turmas anteriores que não haviam tido este tipo de experiência. Reforça esta conclusão o fato de não haver nota atribuída à resolução da prova. Os resultados do procedimento repetem os obtidos com sua aplicação em contexto muito diferente [22]. 7 Avaliações qualitativas e conclusão Alguns depoimentos dados pelos alunos em respostas a questões discursivas incluídas no questionário final de avaliação do curso são esclarecedores e triangulam intimamente com os resultados da observação sistemática do seu comportamento durante a disciplina e com os resultados quantitativos obtidos pelo próprio questionário. O conjunto destas declarações sintetiza e avalia o produto deste projeto: “... as atividades em grupo com aplicação de provas auxilia muito ...”; “... o método de ensino é muito favorável, não tornando a aula cansativa ..."; “As dificuldades eram as palavras diferentes, mas com as explicações dos significados, ajudou muito.”; “As aulas dinâmicas, com questões no final da aula fez toda a diferença para o aprendizado, e esclarecimento de palavras e textos.”; “ ... para melhorar acho que não preciso mais de nada tudo está muito claro e objetivo, os trabalhos, as provinhas e as prova bimestrais.”; “... o método de aplicar provas em grupos também fez com que melhorasse o aprendizado, pois um ajuda o outro nas dúvidas.”; " ... métodos em que me estimulou a aprender e querer ir atrás de livros para compreender mais.”; “Os métodos utilizados nas aulas foram de extrema importância para assimilação da matéria, foram dinâmicos e não tornaram a aula cansativa.”; “O que ajudou bastante foi as provas em grupo que ajudou a ter maior esclarecimento.”; “ ... através das explicações, exercícios, interação professor e aluno, pude armazenas além do que eu mesma esperava.” 23/05/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.626 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v13i2.564 http://dx.doi.org/10.16923/ xx/xx/2016 50 Diagnoses and interventions in Biochemistry Teaching Referências [1] Vargas LHM. 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Lucia Bianconi 1,2 * Mestrado em Formação Científica para Professores de Biologia, Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Xerém, RJ 2 Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis, Universidade Federal do Rio de Janeiro 1 *e-mail: [email protected] Agências de fomento: CAPES e CNPq Resumo O tema “aminoácidos” foi analisado em onze livros didáticos de Biologia do ensino médio aprovados no Plano Nacional do Livro Didático de 2012 e de 2015 e em seis livros textos de Bioquímica utilizados no nível superior. O tema foi escolhido por permitir a exemplificação do conceito de pKa e sistema tampão, importante no estudo de estrutura e função de proteínas e enzimas, apesar de considerado árido pelos alunos de graduação da área da Saúde. Em todos os livros de ensino médio foi identificado ao menos um problema que leva à formação de concepções alternativas. Ao contrário, nos livros de ensino superior, o assunto é abordado de forma clara apesar de terem sido identificados alguns vícios de linguagem na descrição da estrutura dos aminoácidos. Ao final, apresentamos uma sugestão de abordagem colaborativa que tem sido bastante eficaz no ensino desse e de assuntos correlatos. Palavras-chave: aminoácidos; concepções alternativas; aprendizado colaborativo. Abstract The topic “amino acids” was analyzed in eleven textbooks of Biology for High School, approved in the National Plan of Didactic Books of 2012 and 2015, and in six Biochemistry textbooks for higher education. This particular topic allows the exemplification of pKa and Buffer systems, which is important to the understanding of structure and function of proteins and enzymes although considered hard by undergraduate students of Health Science majors. At least one problem that leads to misconceptions was identified in the Biology textbooks. On the contrary, the subject is clearly presented in the Biochemistry textbooks, although a few vices of language in the definition of the structure of amino acids”, para “in the definition of amino acids structure. A suggestion of collaborative approach that is shown to be effective in this and in related subjects is presented. Keywords: amino acids; misconceptions; collaborative learning. Amino Acids in Textbooks of Biology for High School and Biochemistry for Higher Education 1 Introdução Conceitos de Bioquímica são introduzidos durante o Ensino Médio (EM) na disciplina Biologia. Porém, nos livros didáticos do EM, muitos desses conceitos são apresentados de forma confusa e, até mesmo, incorreta, como observado por Oliveira [1] no caso particular do tema “Estrutura e Função de Proteínas”, nos livros de Biologia aprovados no pelo Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) de 2012. Esses problemas podem ser resultado da simplificação que muitos autores utilizam com o objetivo de facilitar a compreensão de conteúdos considerados abstratos. Esse problema se agrava ao levarmos em conta a necessidade de uma base teórica de Química para a compreensão dos conceitos de Bioquímica. Geralmente, o aluno que ingressa no EM tem uma base muito superficial de Química, proveniente do 9º ano do Ensino Fundamental (EF). Mesmo assim, espera-se que o aluno seja capaz de compreender o que são átomos e substâncias, o que são moléculas e algumas de suas propriedades, além de algumas funções químicas, como ácidos, bases, sais e óxidos. Porém, ao ingressarem no EM, os alunos apresentam uma grande dificuldade com diversos conceitos de Biologia, mais precisamente de Bioquímica, porque não conseguem relacionar os novos conceitos com aqueles aprendidos anteriormente. Há cerca de três décadas, muitos autores têm se preocupado em estudar as concepções alternativas do aluno de ensino básico (EF e EM) sobre diferentes temas de Ciências [2-6]. Na década de 1980, as concepções alternativas eram chamadas de concepções prévias, concepções errôneas ou mesmo erros conceituais [2]. Carrascosa [3] considera concepções alternativas aquelas que levam ao erro conceitual e que se repetem ao longo dos diferentes níveis educacionais, resistindo ao ensino dos conceitos corretos. Segundo o autor, muitas dessas concepções, encontradas tanto em alunos quanto em professores, têm sua origem no próprio livro didático [3]. Um exemplo de concepções alternativas que resistem ao ensino dos conceitos corretos foi observada com alunos brasileiros de nível médio [4] e superior [5] que consideram a glicose como única fonte de produção de ATP. Essa concepção perdura mesmo após o ensino formal de que outros nutrientes, por exemplo, lipídios e aminoácidos, podem ser fontes de ATP. Os autores correlacionam esse problema à forma com que o metabolismo é inicialmente apresentado nos livros didáticos de EF e reforçado nos livros de EM [4,5]. A origem das concepções alternativas nem sempre é relacionada ao EM ou ao livro didático, já que as experiências pessoais e o aprendizado informal também são http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.625 18/05/2016 53 Amino Acids in Textbooks of Biology for High School and Biochemistry for Higher Education importantes na formação de conceitos [2,3,6]. Brum [6], por exemplo sugere que o cotidiano e a mídia têm uma forte influência nas concepções alternativas de alunos de EF sobre bactérias. Neste artigo, com o objetivo de identificar possíveis problemas que possam levar à formação de concepções alternativas por parte dos estudantes, foi realizada uma análise do tópico “aminoácidos” em livros de Biologia (ensino médio) e Bioquímica (nível superior). O termo “aminoácido” foi cunhado em 1898, apesar de asparagina e glicina já terem sido descobertos em 1806 e 1820, respectivamente [7]. Os α-aminoácidos são compostos orgânicos que contêm um grupo amino ligado a um carbono alfa, ou seja, a um carbono ligado a um grupo carboxila. São os blocos construtores das proteínas, os quais apresentam uma estrutura mínima em comum que difere, apenas, na cadeia lateral. Esta, confere propriedades importantes na manutenção da estrutura proteica. Os aminoácidos são classificados como essenciais e não essenciais, de acordo com a possibilidade do organismo humano realizar (ou não) sua síntese [8]. Alguns deles são sintetizados a partir de aminoácidos essenciais, sendo considerados semi-essenciais. Como os aminoácidos contêm dois grupos ionizáveis, são compostos interessantes para explicar e/ou exemplificar os conceitos de pKa e sistema tampão, conceitos essenciais para a compreensão de diferentes funções biológicas. A Figura 1 mostra a fórmula geral dos aminoácidos em duas situações encontradas em livros didáticos: a forma que ocorre em pH neutro (Figura 1A) e uma forma geralmente chamada de neutra, impossível de ocorrer em qualquer pH (Figura 1B). Figura 1. Fórmula geral dos aminoácidos. Representação da forma ionizada (A) dos aminoácidos, onde R representa a cadeia lateral. Em (B), a chamada “forma neutra” dos aminoácidos encontrada em diferentes livros didáticos. Ao final do artigo, apresentamos uma sugestão de abordagem didática que tem sido eficaz não só no ensino do tema, mas por mostrar a importância de o aluno participar do próprio processo de ensino e aprendizagem. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.625 18/05/2016 54 Amino Acids in Textbooks of Biology for High School and Biochemistry for Higher Education 2 Metodologia 2.1 Livros Didáticos de Ensino Médio As coleções de Biologia avaliadas neste artigo, listadas no Quadro 1, foram aprovadas pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) do Ministério da Educação e Cultura (MEC), sendo oito coleções do PNLD 2012 e nove do PNLD 2015. As coleções EM1 e EM7 foram aprovadas apenas no PNLD 2012, as coleções EM9, EM10 e EM11 foram adicionadas ao PNLD 2015 e as demais, em ambos. As coleções EM1 (2012) e EM9 (2015), dos mesmos autores, foram avaliadas como obras independentes. Quadro 1. Coleções de Livros Didáticos de Biologia Aprovadas no PNLD 2012 e no PNLD 2015. Livro* Nome da Coleção Autores Editora, Edição e Ano de Publicação EM1 Biologia Amabis, J.M.; Martho, G.R. Moderna 3a Edição, 2010 EM2 Novas Bases da Biologia Bizzo, N. Ática 1a Edição, 2010 2a Edição, 2013 EM3 Biologia Silva Jr, C.; Sasson, S.; Caldini Jr, N. Saraiva 10a Edição, 2010 11ª Edição, 2013 EM4 Biologia Hoje Linhares, S.; Gewandsnajder, F. Ática 1ª Edição, 2010 2a Edição, 2013 EM5 Bio Lopes, S.; Rosso, S. Saraiva 1a Edição, 2010 2a Edição, 2013 EM6 Biologia Mendonça, V.; Laurence, J. Mendonça, V. Nova geração 1a Edição, 2010 2a Edição, 2013 EM7 Biologia Pezzi, A.; Gowdak, D. O.; Mattos, N. S. FTD 1ª Edição, 2010 EM8 Ser Protagonista Biologia Santos, F. S.; Aguilar, J. B. V.; Oliveira, M. M. A. Osorio, T. C. Edições SM 1a Edição, 2010 2a Edição, 2013 EM9 Biologia em Contexto Amabis, J.M.; Martho, G.R. Moderna 1a Edição, 2013 EM10 Biologia – Unidade e Diversidade Favaretto, J. A. Saraiva 1a Edição 2013 EM11 Conexões com a Biologia Brockelmann, R. H. Moderna 1a Edição, 2013 *Livros com duas edições tiveram a primeira aprovada no PNLD 2012 e a segunda, no PNLD 2015 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.625 18/05/2016 55 Amino Acids in Textbooks of Biology for High School and Biochemistry for Higher Education Cada coleção é composta de três volumes e um Manual do Professor para cada volume. O tópico “aminoácidos”, escolhido para a análise, apareceu sempre no primeiro volume, destinado à primeira série do EM. As análises foram realizadas no livro do aluno e no manual do professor, sendo este indicado com o código da coleção a que pertence. Ou seja, o código EM1 se refere ao volume 1 da coleção 1 e ao manual do professor desse mesmo volume. Para a análise da abordagem teórica sobre aminoácidos, foi realizada uma leitura criteriosa do texto principal e das leituras complementares presentes no livro do aluno, a fim de verificar a forma com que esse conteúdo tem sido apresentado no EM. Foram analisados: definição de aminoácidos, grau de ionização dos grupos amina e carboxila nas figuras que representam os aminoácidos e a definição de aminoácidos essenciais e não essenciais. 2.2 Livros Didáticos de Ensino Superior Para a análise do tema “aminoácidos”, foram selecionados livros de Bioquímica utilizados em cursos superiores da área biológica (Quadro 2). Procuramos analisar as versões originais dos livros estrangeiros para evitar uma discussão sobre problemas provenientes da tradução realizada pelas editoras. A análise foi semelhante à realizada com livros do ensino médio (ver sec. 2.1), tendo esses livros recebido os marcadores alfanuméricos de ES1 a ES6 (Quadro 2), sendo os primeiros, livros de autores brasileiros (ES1 e ES2) e os demais, listados em ordem alfabética considerando o primeiro autor. Quadro 2. Livros de Bioquímica utilizados no Ensino Superior. Livro Nome do Livro Autores Editora, Edição e Ano de Publicação Guanabara-Koogan 4a Edição, 2015 ES1 Bioquímica Básica Marzzoco, A. e Torres, B.B. ES2 Bioquímica Motta, V.T. ES3 Biochemistry ES4 Harper’s Illustrated Biochemistry Murray, R.K., Bender, D.A., Botham, K.M., Kennelly, P.J., Rodwell, V.W. e Weil, P.A. McGraw-Hill Medical 29ª Edição, 2012 ES5 Lehninger Principles of Biochemistry Nelson, D.L. e Cox, M.M. W. H. Freeman 5ª Edição, 2008 ES6 Biochemistry Voet, D. e Voet, J.G Wiley 4ª Edição, 2011 Berg, J.M., Tymoczko, J.L., Stryer, L. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.625 18/05/2016 Medbook 2ª Edição, 2011 Palgrave MacMillan 7ª Edição, 2011 56 Amino Acids in Textbooks of Biology for High School and Biochemistry for Higher Education 3 Resultados 3.1 Os aminoácidos nos livros didáticos do ensino médio A análise do tema aminoácidos foi realizada nos livros dedicados à 1a série do EM, de coleções aprovadas nos PNLDs de 2012 e 2015. De acordo com o Guia do PNLD 2015 [9], a escolha das coleções que fazem parte do PNLD é realizada após a análise, por professores de ensino superior e médio de todo o país, de uma cópia descaracterizada (sem autoria e editora) das coleções para garantir o anonimato durante todo o processo. Mesmo assim, podemos observar que seis das oito coleções aprovadas no PNLD 2012 foram, também, aprovadas no PNLD 2015, nas suas novas edições (Quadro 1). Uma das coleções, de autoria de Amabis e Martho (EM1), aprovada em 2012, não aparece na lista das aprovadas em 2015, tendo sido substituída pela coleção EM9, dos mesmos autores. Sendo coleções distintas, assim foram consideradas neste trabalho, apesar de termos verificado uma grande semelhança nos textos do capítulo analisado, indicando que os autores aproveitaram o texto da coleção antiga na nova coleção. O Quadro 3 traz as definições de aminoácidos encontradas nos livros de Biologia aprovados pelo PNLD de 2012 e 2015. Como pode ser observado, essa definição não foi encontrada apenas no livro EM6. Nas coleções EM2, EM3, EM4, EM5 e EM11 os autores citam que os aminoácidos são assim denominados devido à presença dos grupos amina e carboxila na molécula. As coleções EM1, EM2, EM7, EM9 e EM11 citam o “carbono alfa” sem, contudo, explicar o que é. Nas duas edições do livro EM2, o autor diz que “o primeiro carbono de sua cadeia” é o carbono alfa, uma informação que poderá levar a uma concepção alternativa, já que a definição está parcialmente correta, pois deveria ser dito que é o primeiro carbono ligado ao grupo funcional, no caso, a carboxila. Quando o autor diz “primeiro carbono”, não fica claro a qual se refere, já que todos os aminoácidos contêm um outro carbono do grupo carboxila. A cadeia lateral dos aminoácidos é frequentemente indicada de forma incorreta, como um “radical”, termo utilizado para descrever uma molécula que possui um elétron desemparelhado, ou seja, é uma molécula reativa (instável)1. De acordo com Rodrigues [10], o uso do termo “radical” no lugar de substituinte é um vício comum, mas entendemos que esse erro leva à construção de uma concepção alternativa. Esse termo foi excluído nas definições encontradas nas novas edições dos livros EM2 e EM4. 1 IUPAC Gold Book (http://goldbook.iupac.org/R05066.html) http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.625 18/05/2016 57 Amino Acids in Textbooks of Biology for High School and Biochemistry for Higher Education Com exceção do livro EM6, os livros analisados apresentam a fórmula geral dos aminoácidos em uma figura. Porém, a fórmula geral correta, com os dois grupos ionizados (Figura 1A), aparece apenas em dois livros: na primeira edição do EM2 e na segunda edição do EM8. Na segunda edição do livro EM2, não há mais a figura da fórmula geral dos aminoácidos. Na maioria dos livros, as fórmulas representam o grupo amina na forma desprotonada (-NH2) e o grupo carboxila na forma protonada (-COOH), como ilustrado na Figura 1B. Considerando os valores médios de pKa dos grupos amina (pKa 10) e carboxila (pKa 2), a estrutura esquematizada na Figura 1B só ocorreria em uma situação impossível, na qual o pH deveria ser maior que 10 e menor que 2, ao mesmo tempo. Como não há nenhuma observação nesse sentido, a representação leva à construção de um conceito equivocado. De fato, tem sido observado que, ao estudar a ionização de aminoácidos na disciplina Bioquímica oferecida no ciclo básico de cursos da área da saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro, por exemplo, os alunos têm muita dificuldade para compreender que a forma representada na Figura 1B não existe, já que esta é a forma apresentada nos livros de Biologia e mesmo em alguns livros usados no ensino superior (ver sec. 3.2). O mesmo é observado até em alguns livros de Química do EM, como é o caso de um livro que mostra as formas de um aminoácido em pH ácido, neutro e básico mas que apresenta uma ilustração da “forma neutra” da Figura 1B [11]. Nesse mesmo livro, o autor apresenta três exemplos de aminoácidos (glicina, alanina e serina) com a fórmula estrutural neutra [11]. Na segunda edição do livro EM8, a fórmula que aparecia incorreta (neutra) na edição anterior, foi corrigida (zwiteriônica). Na primeira edição do livro EM2, apesar de a fórmula geral do aminoácido estar representada corretamente, na página seguinte à da figura, onde são mostradas as fórmulas dos vinte aminoácidos comuns, os grupos amina e carboxila estão representados como –NH2 e –COOH, respectivamente. Além disso, a representação das fórmulas nessa tabela é confusa, dificultando a identificação da cadeia lateral. Nesse livro há uma observação no manual do professor que explica que a forma com os grupos ionizados é a “considerada pelos químicos como a correta”, e que a forma adotada em uma das tabelas do capítulo é a com ambos não ionizados, não deixando claro para o professor o motivo de serem representados dessa forma na tabela citada. Aqui vale comentar que essa forma não é apenas ‘considerada’ correta pelos químicos, já que é a forma correta. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.625 18/05/2016 58 Amino Acids in Textbooks of Biology for High School and Biochemistry for Higher Education Quadro 3. Definições de aminoácido nos livros didáticos de Biologia aprovados no PNLD 2012 e 2015. Livro Definição de aminoácido EM1 Apresentam um átomo de carbono denominado carbono-alfa, ao qual se ligam um grupo amina (-NH2), um grupo carboxila (-COOH), um átomo de hidrogênio (-H) e um quarto grupo genericamente denominado –R (de radical), que varia nos diferentes aminoácidos, caracterizando-os. EM2 Denominados alfa-aminoácidos, pois o primeiro carbono (o carbono alfa) de sua cadeia está ligado de um lado a um grupo funcional amina (-NH2) e de outro a um grupo funcional ácido carboxílico (-COOH). Além dessas duas ligações, o carbono alfa da molécula se liga a um átomo de hidrogênio e a outros átomos que formam um radical orgânico. As diferenças entre os aminoácidos são conferidas pelos diferentes radicais orgânicos. (1a Edição, 2010) Eles são denominados alfa-aminoácidos, pois o primeiro carbono (o carbono alfa) de sua cadeia está ligado de um lado a um grupo funcional amina (-NH2) e, de outro, a um grupo funcional ácido carboxílico (-COOH). (2a Edição, 2013) EM3 Qualquer molécula de aminoácido tem um grupo ácido carboxílico ou carboxila (-COOH) e um grupo amina (-NH2) ligados a um átomo e carbono. A esse mesmo carbono ficam ligados ainda um átomo de hidrogênio e um radical (R). EM4 Em sua molécula, há um grupamento carboxila (COOH) – que caracteriza os ácidos orgânicos – e um grupamento amina (NH2),vindo daí o nome aminoácido. Aparece um radical (R), que varia de acordo com o tipo de aminoácido. (1a Edição, 2010) Os aminoácidos são cadeias de carbono com hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e, as vezes, enxofre. Em sua molécula, há um grupamento carboxila (COOH) – que caracteriza os ácidos orgânicos – e um grupamento amina (NH2), vindo daí o nome aminoácido (uma função química ou grupamento é um conjunto de substâncias com propriedades químicas semelhantes). (2a Edição, 2013) EM5 Em suas moléculas, todos eles apresentam um grupamento amina (NH2) e um grupamento carboxila ou ácido carboxílico (COOH), de onde deriva o nome aminoácido. Esses grupamentos estão ligados a um mesmo átomo de carbono, que, por sua vez, está ligado a um átomo de hidrogênio e a um radical que varia de aminoácido para aminoácido. EM6 Não definiu. EM7 Caracterizam-se quimicamente pela presença de um átomo de carbono (denominado carbono α), ao qual se ligam um grupo carboxílico (COOH), um grupo amina (NH 2), um radical e um átomo de hidrogênio. EM8 São compostos orgânicos formados por carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio (alguns ainda apresentam enxofre). São caracterizados por apresentar um grupo carboxila (COOH), um grupo amina (NH2) e um radical (R), todos eles unidos a um mesmo átomo de carbono. EM9 São vinte os tipos de aminoácidos que formam as proteínas e todos apresentam um átomo de carbono (C) central, denominado carbono alfa, ao qual se ligam: um átomo de hidrogênio (-H), um grupo amina (-NH2), um grupo carboxila (-COOH) e um radical (-R) que varia entre os diversos aminoácidos. EM10 A molécula de um aminoácido é formada por um átomo de carbono central, ao qual se ligam um grupo amina, um grupo carboxila, um átomo de hidrogênio e uma cadeia lateral (ou radical). EM11 Todos os aminoácidos possuem a mesma estrutura básica: um átomo de carbono (chamado de carbono-alfa), ligado simultaneamente a um átomo de hidrogênio (H), a uma cadeia lateral chamada radical, a um grupo amina (NH2) e a um grupo carboxila (COOH). Estes dois últimos grupamentos responsáveis pela denominação aminoácidos são sempre os mesmos; já o radical varia de um aminoácido para outro, podendo ser um simples átomo de hidrogênio até uma grande cadeia de carbonos interligados. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.625 18/05/2016 59 Amino Acids in Textbooks of Biology for High School and Biochemistry for Higher Education Muitos autores afirmam que existem 20 “tipos” de aminoácidos codificados pelo código genético, também descritos como aminoácidos comuns ou naturais. Alguns deles indicam que os diferentes “tipos” se devem às diferenças nas cadeias laterais como, por exemplo, no livro EM3, onde os autores comentam uma figura da alanina com a cadeia lateral destacada, com o texto: “Essa parte em amarelo varia de acordo com o tipo de aminoácido: pode ser um simples átomo de hidrogênio ou cadeia de carbonos”. Porém, não existem 20 “tipos” de aminoácidos, ou seja, 20 completamente distintos, pois variam apenas na cadeia lateral. Se considerarmos as propriedades das cadeias laterais, importantes na manutenção da estrutura proteica, por exemplo, sabemos que aminoácidos com cadeias laterais semelhantes apresentam propriedades semelhantes. Ou seja, os aminoácidos podem ser agrupados em apenas dois grandes grupos (ou tipos) de acordo com a polaridade da cadeia: polares e apolares. Outra possibilidade seria agrupá-los de forma mais detalhada em cinco grupos (ou tipos): apolares, aromáticos, polares sem carga, carregados positivamente e carregados negativamente, semelhante ao apresentado em alguns livros de Bioquímica dedicados ao ensino superior (ver sec. 3.2). Apenas no livro EM2, a utilização do termo “tipo” foi considerada adequada, pois há uma tabela com todos os aminoácidos onde os mesmos estão separados de acordo com a cadeia lateral, sendo os aminoácidos alifáticos e aromáticos considerados “apolares”, por exemplo. Apenas no livro EM8 os autores dizem que “alguns aminoácidos contêm enxofre em sua fórmula”, sem especificar quais são. Os livros EM2 e EM11 apresentam trechos que afirmam ou sugerem que há na natureza outros aminoácidos além dos 20 comuns: “[...] existem muitos tipos de aminoácidos, mas apenas vinte deles são utilizados nas proteínas fabricadas pelos seres vivos” (EM2; ambas as edições) “Cerca de 150 aminoácidos diferentes são conhecidos, porém somente vinte fazem parte da composição de proteínas nos seres vivos.” (EM11) Como observado no Quadro 4, a classificação dos aminoácidos em essenciais e não essenciais foi encontrada na maioria dos livros analisados, com exceção do livro EM6, no qual os aminoácidos não foram citados, e do livro EM9, dos mesmos autores do livro EM1. Em quase todos os livros aprovados nas duas edições do PNLD, não houve modificação no texto onde aparecem essas definições (Quadro 4). Apenas o livro EM7 descreve que os aminoácidos não essenciais são “sintetizados” pelo organismo, ou seja, utilizando, de forma correta, o processo de síntese. Em seis dos livros analisados (EM1, EM5, EM8, EM10 e EM11) os autores usam a palavra “produzir” e http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.625 18/05/2016 60 Amino Acids in Textbooks of Biology for High School and Biochemistry for Higher Education em outros dois (EM2 e EM4), a palavra “fabricar”, para se referirem à síntese dos aminoácidos pelo organismo. Seria interessante a utilização do termo correto para evitar vícios de linguagem que se perpetuam no ensino superior. Alguns autores (EM1, EM5, EM10 e EM11) se referem, de forma incorreta, aos aminoácidos não essenciais como sendo os “naturais”. Quadro 4. Definição de aminoácidos essenciais e não essenciais nos livros didáticos de Biologia aprovados no PNLD*. Livro Definição EM1 Aminoácidos que um organismo não consegue produzir são chamados de aminoácidos essenciais e precisam fazer parte da dieta alimentar; aminoácidos que podem ser produzidos a partir de outras substâncias celulares são chamados de aminoácidos não essenciais, ou naturais.** (2012) EM2 Um ser humano adulto consegue fabricar quase todos os aminoácidos de que precisa, com exceção de oito deles, que são os chamados aminoácidos essenciais.** (2012) Os aminoácidos que o ser humano não consegue fabricar são chamados aminoácidos essenciais e devem obrigatoriamente fazer parte da dieta. (2015) EM3 Chamamos naturais os aminoácidos que um organismo animal é capaz de produzir. Os aminoácidos que devem ser por ele ingeridos são ditos essenciais, já que são necessários para a síntese de suas proteínas e para a sua sobrevivência. (2012 e 2015) EM4 Os animais podem fabricar um tipo de aminoácido a partir de outro que tenha obtido na alimentação. No ser humano adulto, os aminoácidos essenciais não podem ser formados a partir de outros em quantidade suficiente para suprir suas necessidades; por isso, devem estar presentes obrigatoriamente na alimentação. (2012 e 2015) EM5 Os aminoácidos produzidos por um organismo são chamados naturais, enquanto os que necessitam ser ingeridos, por não serem sintetizados, são chamados essenciais. (2012 e 2015) EM7 Para um animal, denomina-se aminoácido natural o que pode ser sintetizado por suas células e aminoácido essencial o que não pode ser sintetizado. (2012) EM8 Os aminoácidos que o corpo não produz, chamados aminoácidos essenciais. Os demais, chamados não essenciais. (2012 e 2015) EM10 Aminoácidos naturais ou não essenciais podem ser produzidos a partir de outros aminoácidos ou de carboidratos. Aminoácidos essenciais são os que não sintetiza, e obtém por meio da alimentação. (2015) EM11 Alguns aminoácidos podem ser produzidos pelo organismo; são os chamados aminoácidos naturais. Outros não são sintetizados pelo organismo e têm de ser obtidos pela alimentação. (2015) *O ano da aprovação no PNLD está indicado em parênteses. **Leitura Complementar. O assunto “aminoácidos essenciais” foi apresentado em uma leitura complementar no livro EM2, onde o autor chama a atenção para o fato de que os mesmos podem ser encontrados facilmente em alimentos de origem animal e ressalta o problema de dietas vegetarianas que devem ser supervisionadas por especialistas para não comprometer a síntese proteica. No livro EM5, os autores citam a combinação arroz com feijão, comum http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.625 18/05/2016 61 Amino Acids in Textbooks of Biology for High School and Biochemistry for Higher Education na dieta brasileira, “propicia a ingestão de todos os aminoácidos essenciais para o organismo humano”. O conceito de complementação nutricional de dietas combinadas (cereal/legume) como é o caso do arroz com feijão, tem sido aplicado a fim de aumentar a qualidade proteica da alimentação humana. Porém, Kannan e colaboradores [12] mostraram que uma dieta de arroz com feijão apresenta quantidades limitantes de isoleucina e triptofano e quase limitantes em lisina e valina. Além disso, o escore químico corrigido pela digestibilidade (PDCAAS)2 da dieta de arroz com feijão é de, apenas, 0,47 (valor de referência = 1,0). Quando a dieta inclui a ingestão de proteínas animais (leite, ovos e/ou carne), mesmo em baixas quantidades, a complementação com arroz e feijão é bem interessante, mas em dietas veganas, nas quais a ingestão de proteínas de origem animal é banida (em muitos casos, a ingestão de soja e aveia também é proibida), é necessário que a dieta seja equilibrada, principalmente na fase de crescimento. O autor do livro EM2 comete um erro ao afirmar que são oito e não nove os aminoácidos essenciais, pois não considerou a histidina, apesar de já ter sido demonstrado em 1975 por Kopple e Swendseid [13], tanto para homens normais quanto para portadores de uremia crônica, a necessidade da ingestão desse aminoácido. Em nenhum dos livros de EM encontramos alguma citação sobre os aminoácidos considerados semi-essenciais, aqueles sintetizados dos essenciais, como é o caso da cisteína, sintetizada a partir de metionina, e da tirosina, a partir de fenilalanina, além de arginina, que não é sintetizada em quantidades suficientes para a demanda nutricional do organismo [8]. Os autores do livro EM5, indicam oito aminoácidos como essenciais mas complementam a informação dizendo que “a histidina e a arginina têm sido consideradas aminoácidos essenciais por alguns pesquisadores”. Os autores do livro EM9, citam que os aminoácidos não essenciais podem ser “produzidos a partir de outros aminoácidos ou de carboidratos”. Essa afirmação é interessante, pois mostra a possibilidade de obtenção de aminoácidos não apenas das proteínas. Porém, em seguida, sua definição é confusa, provavelmente devido a um erro de impressão (“Aminoácidos essenciais são os que não sintetiza, e obtém por meio da alimentação”). Por fim, a definição mais equivocada de todos os livros analisados foi encontrada no livro EM5, onde os aminoácidos são chamados “monopeptídeos”. Essa nomenclatura é incorreta, pois um peptídeo é formado pela ligação peptídica que ocorre entre o grupamento carboxila de um aminoácido com o grupo amina do aminoácido subsequente. 2 Calculado pela relação entre o conteúdo do aminoácido limitante (mg/g de proteína) e o conteúdo deste em uma proteína de referência, multiplicado pela digestibilidade verdadeira. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.625 18/05/2016 62 Amino Acids in Textbooks of Biology for High School and Biochemistry for Higher Education Após a formação da ligação peptídica (amida), temos apenas resíduos de aminoácidos. Ou seja, o peptídeo mais simples é um dipeptídeo. 3.2 Os aminoácidos nos livros didáticos do ensino superior Considerando que muitas concepções alternativas persistem no ensino superior [4,5] e levando em conta nossa experiência no ensino de Bioquímica na Universidade Federal do Rio de Janeiro, realizamos a mesma análise em livros didáticos comumente indicados aos alunos de graduação. Foram avaliadas as edições mais novas disponíveis em Março de 2016, sendo que as definições encontradas em livros estrangeiros foram analisadas a partir das versões originais, em inglês, a fim de manter a fidelidade ao texto, sem cometer equívocos de avaliação devidos à tradução. O Quadro 5 mostra as definições de aminoácido encontradas nesses livros. Nenhuma das definições foi considerada incorreta, apesar de uma delas ter sido muito superficial (livro ES4). Com exceção do livro ES4, os autores definem uma estrutura geral para os aminoácidos como sendo moléculas que possuem um grupo amino e grupo carboxílico ligada a um carbono. Porém, apesar de não informar no corpo principal do capítulo destinado ao tema, na tabela onde são apresentadas as estruturas dos 20 aminoácidos, mais comuns, essa parte da estrutura está sempre destacada e, portanto, fica a cargo do leitor fazer essa associação. Além disso, no final do livro ES4, os autores apresentam, em um dos tópicos do sumário, a seguinte frase: Todos os aminoácidos possuem pelo menos dois grupos funcionais, ácidos fracos, R-NH3+ e R-COOH. Muitos deles também contêm um grupo funcional ácido fraco como -OH, -SH, guanidina, ou imidazol. (Tradução nossa)3 Essa citação traz alguns problemas conceituais, já que os grupos amina e guanidina não são ácidos e, sim, bases orgânicas. Além disso, ao se indicar o grupo –OH, não ficou claro se estão indicando o grupo hidroxila de tirosina e serina ou se seria de carboxilas das cadeias laterais de aspartato e glutamato. No caso particular da tirosina e da serina, deveria ser explicado que o grupo funcional se refere a um álcool que apresenta um valor de pKa muito elevado, podendo atuar tanto como um ácido fraco (ácido de Arrhenius) ou uma base fraca (base de Lewis). Dois livros (ES2 e ES3) citam um “carbono central” e em quatro (ES1, ES2, ES3 e ES5) citam um “carbono α”. Não consideramos essencial que se defina um carbono α em livros de nível superior, mas nossa experiência tem mostrado que os alunos não sabem 3 Original: All amino acids possess at least two weakly acid functional groups, R-NH3+ and R-COOH. Many also possess additional weakly acidic functional groups such as –OH, -SH, guanidino, or imidazole group. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.625 18/05/2016 63 Amino Acids in Textbooks of Biology for High School and Biochemistry for Higher Education essa definição, quando são questionados. Talvez seja interessante citar em uma nota de rodapé ou em um quadro onde aparecem informações adicionais ou de apoio ao texto principal. Alguns alunos confundem a nomenclatura “α” com a propriedade de quiralidade da maioria dos aminoácidos ou com a posição do átomo de carbono na cadeia. Isso ocorre devido à descrição ser, de certa forma, superficial. Os autores do livro ES4, por exemplo, comentam que, com exceção da glicina, o carbono-α é quiral (Quadro 4). Nos livros ES2 e ES3, o carbono-α é descrito como o carbono central da molécula, o que também pode levar a uma formação inadequada do conceito de átomo central. Quadro 5: Definições de aminoácido nos livros didáticos de Bioquímica utilizados em nível superior Livro Definição de aminoácido ES1 Aminoácidos são compostos que apresentam, na sua molécula, um grupo amino (−NH2) e um grupo carboxila (–COOH). Entre os aminoácidos que compõem as proteínas, a única exceção é a prolina, que contém um grupo imino (–NH–) no lugar do grupo amino, sendo a rigor um iminoácido. Em pH fisiológico, esses grupos estão na forma ionizada: –NH3+, –COO− e – NH2+. Os aminoácidos têm uma fórmula básica comum, com os grupos amino e carboxila ligados ao carbono α, ao qual também se liga um átomo de hidrogênio e um grupo variável chamado cadeia lateral ou grupo R. ES2 Os α-aminoácidos possuem um átomo de carbono central (α) onde estão ligados covalentemente um grupo amino primário (−NH2), um grupo carboxílico (−COOH), um átomo de hidrogênio e uma cadeia lateral (R) diferente para cada aminoácido. Existem duas exceções, a prolina e hidroxiprolina, que são α-iminoácidos. ES3 Aminoácidos são os blocos construtores das proteínas. Um α-aminoácido consiste de um átomo de carbono central, chamado de carbono α, ligado a um grupo amino, um grupo carboxila, um átomo de hidrogênio e um grupo R distinto. O grupo R é comumente descrito como cadeia lateral.* ES4 De mais de 300 aminoácidos que ocorrem naturalmente, 20 constituem as unidades monoméricas predominantes das proteínas.[…] Com exceção da glicina, o carbono-α dos aminoácidos é quiral.* ES5 Todas as proteínas, […] são construídas do mesmo conjunto ubíquo de 20 aminoácidos, ligados covalentemente em sequências lineares características. […] Todos os 20 aminoácidos comuns são α-aminoácidos. Eles apresentam um grupo carboxila e um grupo amino ligado ao mesmo carbono (o carbono α). Eles diferem entre si pelas cadeias laterais, ou grupos R. que variam em estrutura, tamanho e carga elétrica, as quais influenciam a solubilidade dos aminoácidos em água. Além desses 20 aminoácidos, existem muitos outros menos comuns.* ES6 [...] todas as proteínas são compostas de 20 aminoácidos “padrão” […] Essas substâncias são conhecidas como α-aminoácidos porque, com exceção da prolina, eles têm um grupo amina primária e um grupo ácido carboxílico *Tradução nossa. Textos originais no Apêndice A (Quadro 7). Foi interessante notar que em nenhuma das definições a cadeia lateral é apresentada como um radical, como nos livros de EM, mesmo apresentando-a como “grupo R”. Porém, essa representação, associada à designação comum nos livros de EM (radical) pode contribuir para perpetuação do conceito inadequado. Todos os livros mostram as estruturas dos 20 aminoácidos comuns e indicam os http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.625 18/05/2016 64 Amino Acids in Textbooks of Biology for High School and Biochemistry for Higher Education valores de pKa do grupo carboxila (também citado como pK1) e amina (pK2), além do pKa de cadeias laterais que apresentam um grupo ionizável (pKR). Porém, a fórmula estrutural geral neutra dos aminoácidos, ainda é encontrada em alguns livros, mesmo nas edições mais recentes. Esse é o caso do livro ES6, o qual apresenta uma figura intitulada “fórmula estrutural geral dos aminoácidos” com a “forma neutra” dos aminoácidos da Figura 1B e, pouco depois, comentam que em pH fisiológico ambos os grupos estão completamente ionizados, ilustrando com a fórmula da Figura 1A. Apesar de apresentarem a estrutura correta, ao ilustrar a forma neutra, sugerem que esta possa existir. No livro ES4, os autores também apresentam as duas formas, como exemplificamos na Figura 1, mas dizem que a fórmula neutra não pode ocorrer em solução aquosa porque: [...] em qualquer pH baixo o suficiente para protonar o grupo carboxila, o grupo amina também estará protonado. De forma análoga, em qualquer pH suficientemente alto para que a forma protonada do grupo amino seja predominante, o grupo carboxila estará presente como COO-.(Tradução nossa)4 O Quadro 6 mostra as definições de aminoácidos essenciais e não essenciais encontradas nos livros de bioquímica mais utilizados no nível superior, as quais são muito semelhantes nos livros de EM avaliados. De forma geral, os autores definem como não essenciais os aminoácidos que podem ser sintetizados pelo organismo humano e os essenciais, aqueles que devem ser obtidos pela dieta. É interessante notar que essas definições são encontradas em capítulos destinados ao metabolismo de aminoácidos. Logo em seguida à definição, todos mostram uma tabela identificando quais aminoácidos estão em cada grupo. A maioria dos autores considera como sendo nove os aminoácidos essenciais, mas, nos livros ES2, ES4 e ES6 são indicados 10 deles. Os autores dos livros ES4 e ES6 mencionam a arginina como essencial porque, embora o ser humano seja capaz de sintetizá-lo, o faz em quantidades menores do que o necessário. No livro ES2 há menção à histidina, considerando-a essencial até os doze anos de idade. No livro ES5, apesar de os autores considerarem nove aminoácidos como essenciais, indicam seis outros como semiessenciais, pois são requeridos em maior quantidade do que a capacidade de síntese, em determinadas situações. No livro ES1, os autores citam dois aminoácidos semiessenciais, sintetizados a partir de essenciais, mas os consideram como não essenciais. Os termos “essenciais” e “não essenciais” para a definição podem levar a um erro 4 Texto original: “[...] at any pH low enough to protonate the carboxyl group, the amino group would also be protonated. Similarly, at any pH sufficiently high for an uncharged amino group to predominate, a carboxyl group will be present as R-COO-.” http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.625 18/05/2016 65 Amino Acids in Textbooks of Biology for High School and Biochemistry for Higher Education conceitual, como observado pelos autores do livro ES4, pois ao se classificar um aminoácido como “não essencial” aquele que pode ser sintetizado, podemos sugerir que não é muito importante, quando todos são necessários à síntese proteica. Quadro 6. Definições de aminoácidos essenciais e não essenciais nos livros didáticos de Bioquímica utilizados em nível superior. Livro Definição de aminoácidos essenciais e não essenciais ES1 [..]dos vinte aminoácidos encontrados nas proteínas, nove não podem ser sintetizados pelo ser humano [...] e devem, portanto, ser obrigatoriamente obtidos pela dieta, chamando-se, por isto, aminoácidos essenciais. Ainda mais, dois outros aminoácidos — cisteína e tirosina — são sintetizados unicamente a partir de aminoácidos essenciais — metionina e fenilalanina — e, quando ausentes da dieta, fazem aumentar a necessidade dos aminoácidos precursores. [...] apenas nove aminoácidos que podem ser prontamente formados a partir de compostos intermediários do metabolismo de carboidratos. Estes nove aminoácidos e os dois que são sintetizados a partir de aminoácidos essenciais são chamados aminoácidos não essenciais. ES2 Os aminoácidos sintetizados em quantidades suficientes por mamíferos a partir da amônia e de esqueletos carbonados, são denominados não−essenciais; ou seja, eles estão disponíveis para as células mesmo quando não incluídos na dieta. Por outro lado, os aminoácidos essenciais são aqueles não sintetizados ou sintetizados em velocidade inadequada às necessidades metabólicas do organismo e, portanto, devem ser ingeridos na dieta. ES3 A maioria dos microorganismos, tais como E. coli, podem sintetizar todo o conjunto básico dos 20 aminoácidos, enquanto os seres humanos não pode fazer 9 deles. Os aminoácidos que precisam ser supridos pela dieta são chamados aminoácidos essenciais, enquanto que os outros são denominados aminoácidos não essenciais. ES4 Humanos e outros animais superiores não tem a capacidade de sintetizar 10 dos 20 L-αaminoácidos comuns em quantidades adequadas para garantir o crescimento infantil ou manter a saúde em adultos. Consequentemente, a dieta humana precisa conter quantidades adequadas desses aminoácidos nutricionalmente essenciais. [...] Como empregado aos aminoácidos, os termos “essencial” e “não essencial” são enganosos dado que todos os 20 aminoácidos são essenciais para garantir a saúde. Dos 20 aminoácidos, 8 devem estar presentes na dieta humana e, portanto, deveriam ser denominados “nutricionalmente essenciais”. Os outros 12 aminoácidos são “nutricionalmente não essenciais” já que não há necessidade de estarem presentes na dieta. ES5 Os organismos são muito variados em termos de sua habilidade de sintetizar os 20 aminoácidos. Enquanto a maioria das bactérias e plantas sintetizam todos os 20, mamíferos podem sintetizar apenas cerca da metade deles – geralmente aqueles de vias simples. Esses são os aminoácidos não essenciais, não necessários na dieta [...]. O restante, os aminoácidos essenciais, devem ser obtidos pela alimentação. ES6 Os aminoácidos são classificados em dois grupos, essenciais e não essenciais. Os mamíferos sintetizam os aminoácidos não essenciais a partir de precursores metabólicos, mas devem obter os aminoácidos essenciais da dieta. *Tradução nossa. Textos originais no Apêndice A (Quadro 8). 4 Sugestão de abordagem teórica Apesar de ser um assunto pontual – aminoácidos – costumamos explorar o fato de apresentarem dois grupos ionizáveis para fixar o conteúdo “pKa e sistema tampão” devido à sua grande importância no sistema biológico. Ao longo da disciplina, os alunos são apresentados a diferentes situações nas quais necessitam a compreensão do conceito de pKa, como, por exemplo, na mudança de pKa da histidina que regula a afinidade da http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.625 18/05/2016 66 Amino Acids in Textbooks of Biology for High School and Biochemistry for Higher Education hemoglobina por oxigênio, na determinação de pKa de grupos ionizáveis que participam no sítio catalítico de várias enzimas, ou mesmo na grande mudança de pKa que ocorre com a cadeia lateral ionizável de alguns resíduos de aminoácidos em consequência do enovelamento proteico. Um exemplo utilizado em sala de aula é o da ribonuclease T1 [14], na qual o pKa da cadeia lateral do resíduo Asp76 é igual a 0,6 enquanto que no aminoácido livre, o pKa é 3,9. Os mesmos autores mostraram que o pKa do Asp76 pode aumentar para 6,4 em um triplo-mutante da enzima [14]. Quando iniciamos a aula sobre aminoácidos, os alunos já estão familiarizados com o equilíbrio ácido-base e a equação de Henderson-Hasselbalch. Porém, essas definições foram apresentadas com ácidos fracos monopróticos e percebemos, ao longo dos anos, que não é muito fácil a percepção das duas faixas tamponantes nos aminoácidos. Em nossas aulas há uma participação ativa dos alunos, então, sugerimos uma atividade inicial para trabalharem os equilíbrios ácido-base dos aminoácidos. Em primeiro lugar, pedimos para descreverem a fórmula geral dos aminoácidos que, com alguma ajuda (dependendo da turma), terminamos por ilustrar a forma neutra da Figura 1B. Ou seja, essa é a fórmula que tem sentido inicial para eles. Em seguida, descrevemos os dois equilíbrios possíveis, separadamente, indicando o valor de pKa médio de cada um dos grupos ionizáveis (Figura 2): Figura 2. Indicação de pKa médio em grupos ionizáveis. Considerando os dois equilíbrios (que permanecem no quadro ou projetados), pedimos para que desenhem todas as formas possíveis dos aminoácidos, trabalhando em diferentes valores de pH. No final, os alunos nos apresentam 4 formas (Figura 3), as quais são copiadas no quadro: Figura 3. Diferentes formas de um aminoácido desenhadas por alunos. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.625 18/05/2016 67 Amino Acids in Textbooks of Biology for High School and Biochemistry for Higher Education Dizemos aos alunos que uma das fórmulas não é possível de ocorrer e pedimos que encontrem a “forma impossível”, nos explicando o porquê dela não existir. Dessa maneira, os alunos encontram o erro conceitual que trazem do EM. A figura é complementada com os equilíbrios e a forma incorreta é salientada (Figura 4): Figura 4. Complementação das formas dos aminoácidos após intervenção. Essa dinâmica, apesar de muito simples, tem garantido o aprendizado dos alunos, pois observamos que a apresentação das formas corretas, por si só, não era eficaz. É comum verificarmos nas avaliações institucionais da disciplina que os alunos comentam o quanto é mais fácil entender quando participam do raciocínio envolvido no conceito. 5 Discussão Neste artigo, apresentamos uma análise de um tema único – aminoácidos – devido à importância que tem no aprendizado de conceitos mais complexos, relativos à estrutura e função de proteínas, em Bioquímica, além de conceitos de outras disciplinas. Cabe aqui uma reflexão sobre esse e outros assuntos apresentados aos alunos no EM. Quando iniciamos o projeto de análise dos livros didáticos de Biologia do EM, percebemos que os erros conceituais e as concepções alternativas observadas em alunos de graduação são oriundos de uma simplificação que leva a uma superficialidade dos conteúdos, bastante nociva ao ensino. Além disso, não se pratica a interdisciplinaridade. A fragmentação do ensino é uma consequência da divisão de conteúdos em disciplinas. Japiassu [15] afirma que a “estruturação da educação básica brasileira, separada em séries e componentes curriculares, divide e distancia os saberes científicos”. De fato, as disciplinas não “conversam” entre si, gerando um distanciamento que dificilmente será superado enquanto não houver uma reforma importante no ensino básico brasileiro. Gostaríamos de salientar que, ao analisarmos o volume de coleções de Biologia dedicado à 1a série do EM, e estendendo a avaliação às outras séries, http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.625 18/05/2016 68 Amino Acids in Textbooks of Biology for High School and Biochemistry for Higher Education percebemos claramente a fragmentação do ensino na própria disciplina. O conteúdo analisado neste artigo se refere a uma classe de compostos biológicos de funções mistas. Porém, “aminoácidos” é um dos conteúdos iniciais da 1a série de Biologia do EM e as funções orgânicas, incluindo as mistas, são ensinadas na 3a série, em Química. Da mesma forma, os conceitos de pH e de equilíbrio ácido-base com a definição de pKa são introduzidos, em Química na 2a série do EM. Considerando a base muito frágil de Química, introduzida no ensino fundamental, não se pode esperar que o aluno tenha uma compreensão plena do que está sendo explicado. Com isso, aumenta-se a frustração do professor, que não têm como fazer tal introdução. Gerhard e Rocha Filho [16] mostraram que os docentes reconhecem a necessidade de um trabalho interdisciplinar, mas atribuem à escola a tarefa de proporcionar um diálogo entre as diferentes disciplinas, enquanto Wirzbicki e Zanon [17] sugerem uma maior integração entre os professores de Biologia e Química. De fato, é difícil para um professor de Biologia introduzir conteúdos de Química. Se nosso ensino fosse melhor organizado, evitaríamos um ensino meramente propedêutico, como tem sido observado no EM, em todo o país. As matrizes curriculares são extensas e obrigam o professor, no tempo curto de suas aulas, a apenas transferir o conhecimento que, nem sempre, é capaz de dominar. Wirzbicki e Zanon [17] mostraram, por meio de entrevistas, a ansiedade de professores de Biologia do EM que não dominam conteúdos de Química necessários para o bom entendimento de diversos conteúdos. Seria essencial uma reforma na qual os responsáveis por cada disciplina compreendessem que devemos ensinar nosso aluno a ser mais participativo, a raciocinar e a desenvolver capacidades cognitivas que estão sendo tolhidas numa “escola” que aposta na incoerência de fornecer uma quantidade enorme de informações sem profundidade. Consideramos que o conteúdo extenso e superficial de Biologia e Química nos livros didáticos de EM pode dificultar uma educação plena dos jovens desse ciclo educacional já que requer memorização sem permitir que sejam trabalhados outras capacidades cognitivas como aquelas necessárias para execução de tarefas, ou seja, raciocínio, lógica, tomada de decisão e resolução de problemas, essenciais para a formação de um indivíduo atuante na sociedade contemporânea. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.625 18/05/2016 69 Amino Acids in Textbooks of Biology for High School and Biochemistry for Higher Education 6 Conclusão Este trabalho descreve como um tema multi e interdisciplinar é apresentado em livros de Biologia do ensino médio e de Bioquímica do ensino superior. Apesar de pontual, permite a aplicação de conceitos de pKa e sistema tampão, apresentados no início de um curso de graduação na disciplina Bioquímica, importante para a compreensão de outros conceitos. Em alguns cursos, como Odontologia, Medicina e Farmácia, por exemplo, esse tema será importante em outras disciplinas. Nossa experiência tem mostrado que a abordagem didática adotada tem sido eficiente no aprendizado, já que os alunos retêm o conceito, como observado em Farmacologia, por exemplo. Como comentado acima, os conceitos adquiridos no ensino básico perpetuam no ensino superior e uma mudança conceitual efetiva ocorre apenas quando o “novo conceito” causa uma “revolução” no modo de pensar do estudante. Dessa forma, é importante que sejam apontados os erros conceituais nos livros didáticos do ensino médio, sejam eles provenientes de uma simplificação ou de uma apresentação incorreta, a fim de amenizar as dificuldades de aprendizado de novos conceitos na graduação, em qualquer disciplina. Nosso trabalho mostrou a existência da simplificação do conceito e da representação da fórmula geral dos aminoácidos nos livros de Biologia do EM que levam a concepções alternativas. Os mesmos erros não foram observados nos livros de Bioquímica do ensino superior. Após essa análise, ficou clara a necessidade de uma maior integração entre as disciplinas Biologia e Química para que haja uma interdisciplinaridade efetiva no processo de ensino-aprendizagem de conceitos de Bioquímica. Referências [1] Oliveira, PS. Estrutura e função das proteínas nos livros didáticos de biologia aprovados no PNLD 2012. Dissertação de Mestrado [Biologia Geral]. Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro. [2] Giordan A, De Vechi G. As origens do saber: das concepções dos aprendentes aos conceitos científicos. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1996. [3] Carrascosa, J. El problema de lãs concepciones alternativas em La actualidad (parte II). El cambio de concepciones alternativas. Revista Eureka sobre Enseñanza y Divulgación de lãs Ciencias 2005; 2(3): 388402. [4] Luz MRMP, Oliveira GA, Da Poian AT. Glucose as the sole metabolic fuel: Overcoming a misconception using conceptual change to teach the energy-yielding metabolism to Brazilian high school students. Biochemistry and Molecular Biology Education 2013; 41 224-231. [5] Oliveira GA, Sousa CR, Da Poian AT, Luz MRMP. Students’ Misconception about Energy-Yielding Metabolism: Glucose as the Sole Metabolic Fuel. Advances in Physiology Education 2003; 27(3): 97-101. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.625 18/05/2016 70 Amino Acids in Textbooks of Biology for High School and Biochemistry for Higher Education [6] Brum WP. O tema bactéria no ensino fundamental: concepções alternativas dos estudantes sobre as implicações na saúde humana. Revista de Educação, Ciências e Matemática 2014; 4(3): 1-12. [7] Wu, G. Amino Acids: Biochemistry and Nutrition. 1. ed. New York: CRC Press; 2013 [8] Wu G, Wu ZL, Dai ZL, Yang WW, Liu C, Wang B, Wang JJ, Yin YL. Dietary requirements of “nutritionally nonessential amino acids” by animals and humans. Amino Acids 2013; 44: 1107-1113. [9] MEC. Guia de Livros Didáticos: PMLD 2015: Biologia: Ensino Médio. Brasília: 80p; 2014. [10] Rodrigues JAR. Recomendações da IUPAC para a nomenclatura de moléculas orgânicas. Química Nova na Escola 2001; 13: 22-28. [11] Lisboa JCF. Ser protagonista. Química. 3º ano. 1. ed. São Paulo: Edições SM; 2010. [12] Kannan, S, Nielsen, SS, Mason, AC. Protein digestibility-corrected amino acid scores for bean and bean-rice infant weaning food products. J. Agric. Food Chem. 2001; 49: 5070−5074 [13] Kopple JD, Swendseid ME. Evidence that histidine is na essential amino acid in normal and chronically uremic man. J Clin Invest 1975; 55(5): 881-891. [14] Thurlkill RL, Grimsley GR, Scholtz JM, Pace CN. Hydrogen bonding markedly reduces the pK of buried carboxyl groups in proteins 2006 J Mol Biol. 362: 594-604 [15] Japiassu H. Interdisciplinaridade e patologia do saber. 1. ed. Rio de Janeiro: IMAGO; 1976. [16] Gerhard AC, Rocha Filho J B. 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Parte dos resultados aqui apresentados foram obtidos durante a dissertação de mestrado de Patricia S Oliveira (Mestrado em Formação Científica para Professores de Biologia, UFRJ, Brasil). http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.625 18/05/2016 71 Amino Acids in Textbooks of Biology for High School and Biochemistry for Higher Education Apêndice A. Quadros complementares ao trabalho. Quadro 7. Textos originais das definições de aminoácido nos livros estrangeiros de Bioquímica utilizados em nível superior Livro Definição de aminoácido ES3 Amino acids are the building blocks of proteins. An α-amino acid consists of a central carbon atom, called the α carbon, linked to an amino group, a carboxylic acid group, a hydrogen atom, and a distinctive R group. The R group is often referred to as the side chain. ES4 Of the over 300 naturally occurring amino acids, 20 constitute the predominant monomer units of proteins. [...] With the sole exception of glycine, the α-carbon of every amino acid is chiral. ES5 All proteins,[...] are constructed from the same ubiquitous set of 20 amino acids, covalently linked in characteristic linear sequences. [...] All 20 of the common amino acids are α-amino acids. They have a carboxyl group and an amino group bonded to the same carbon atom (the α carbon). They differ from each other in their side chains, or R groups, which vary in structure, size, and electric charge, and which influence the solubility of the amino acids in water. In addition to these 20 amino acids, there are many less common ones. ES6 [...] all proteins are composed of the 20 “standard” amino acids […]These substances are known as α-amino acids because, with the exception of proline, they have a primary amino group and a carboxylic acid group substituent on the same carbon atom […] proline has a secondary amino group. Quadro 8. Textos originais das definições de aminoácidos essenciais e não essenciais nos livros didáticos de Bioquímica utilizados em nível superior Livro Definição de aminoácidos essenciais e não essenciais ES3 Most microorganisms, such as E. coli, can synthesize the entire basic set of 20 amino acids, whereas human beings cannot make 9 of them. The amino acids that must be supplied in the diet are called essential amino acids, whereas the others are termed nonessential amino acids. ES4 Humans and other higher animals lack the capability to synthesize 10 of the 20 common L-αamino acids in amounts adequate to support infant growth or to maintain health in adults. Consequently, the human diet must contain adequate quantities of these nutritionally essential amino acids. […]As applied to amino acids, the terms "essential" and "nonessential" are misleading since all 20 common amino acids are essential to ensure health. Of these 20 amino acids, 8 must be present in the human diet, and thus are best termed "nutritionally essential." The other 12 amino acids are "nutritionally nonessential" since they need not be present in the diet. ES5 Organisms vary greatly in their ability to synthesize the 20 common amino acids. Whereas most bacteria and plants can synthesize all 20, mammals can synthesize only about half of them— generally those with simple pathways. These are the nonessential amino acids, not needed in the diet (see Table 18–1). The remainder, the essential amino acids, must be obtained from food. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.625 18/05/2016 72 V.14, N.1 / 2016 Enviado em: 26/08/2015 Publicado em:18/05/2016 Educational Innovations Aula prática de Fotossíntese: Demonstração da reação de Hill em cloroplastos com dissipação de energia por fluorescência mediante desacoplamento ou inibição dos fotossistemas pelo herbicida Diuron Practical lesson of Photosynthesis: A demonstration of Hill reaction in chloroplasts with energy dissipation by fluorescence upon photosystems uncoupling or inhibition by Diuron herbicide Vadim R. Viviani1,2* Departamento de Física, Química e Matemática, CCTS, Campus de Sorocaba, Universidade Federal de São Carlos, Rod. João L. Santos, km 110, Itinga, Sorocaba, SP, Brasil 2 Programa de Pós-graduação em Biotecnologia e Monitoramento Ambiental, CCTS, Campus de Sorocaba, Universidade Federal de São Carlos, Rod. João L. Santos, km 110, Itinga, Sorocaba, SP, Brasil 1 *e-mail: [email protected] Resumo Na fotossíntese, o processo fotoquímico de transferência de elétrons é facilmente demonstrado através da reação de Hill, onde aceptores de elétrons artificiais são reduzidos por suspensões ativas de cloroplastos na presença de luz. Entretanto, não é comum mostrar no ensino de graduação o destino da energia luminosa absorvida pela clorofila quando os fotossistemas não estão funcionais. Apresentamos uma proposta de aula prática que consiste em uma adaptação da reação de Hill usando cloroplastos intactos de espinafre, que inclui a visualização de dissipação de energia por fluorescência e efeito dose/resposta em cloroplastos lisados ou inibidos pelo hebicida DIURON. Esta aula prática, destinada às disciplinas de Bioquímica e Biofísica para cursos de graduação de Química, Ciências Biológicas e Engenharias Florestal, Ambiental e Agronômica, tem como objetivos complementar os princípios básicos de fotoquímica demonstrados através da reação clássica de Hill, com princípios de fotofísica através da dissipação de energia por fluorescência da clorofila, melhorando a compreensão do processo da fotossíntese, e introduzindo o conceito de fluorescência e sua aplicação como ferramenta bioanalítica moderna para monitorar a fotossíntese em plantas e ecossistemas vegetais. Palavras-chave: estados eletronicamente excitados; fluorescência; clorofila. Abstract During photosynthesis, the photochemical electron transfer process is easily demonstrated by the Hill reaction, where artificial electron acceptors are reduced by active chloroplasts suspensions in the presence of light. However, the destiny of luminous energy absorbed by chlorophyll molecules in uncoupled or damaged photosystems is not usually demonstrated. Here we provide an adaptation of the classical Hill reaction using intact spinach chloroplasts, which includes the visualization of energy dissipation by fluorescence in lysed chloroplasts, and a dose/effect response in photosystems inhibited by the herbicide DCMU. This laboratory lesson, which is aimed to biochemistry and biophysics for undergraduate courses of Chemistry, Biological, Environmental and Agricultural Sciences, provides the basic photochemical principles using the classical Hill reaction, and photophysical principles through the visualization of energy dissipation by chlorophyll fluorescence, improving the understanding of the photosynthetic process, and introducing the concept of fluorescence and its applications as bioanalytical tool to monitor photosynthesis in plants and vegetal ecosystems. Keywords: electronically excited states; Fluorescence; chlorophyll. Practical lesson of Photosynthesis: A demonstration of Hill reaction in chloroplasts with energy dissipation by fluorescence upon photosystems uncoupling or inhibition by Diuron herbicide Ficha da atividade desenvolvida Título Aula Prática de Fotossíntese: Uma demonstração da reação de Hill em suspensões de cloroplastos e dissipação de energia por fluorescência mediante desacoplamento dos fotossistemas ou inibição pelo herbicida Diuron. Público alvo Estudantes de graduação dos cursos de Ciências Biológicas, Química, Engenharia Florestal, Engenharia Ambiental, Agronomia, Biotecnologia. Disciplinas relacionadas Bioquímica, Biofísica. Objetivos educacionais Providenciar aos estudantes de graduação de cursos de Ciências Biológicas, Química, Engenharia Florestal e Ambiental os conceitos fotofísicos e fotoquímicos do processo de fotossíntese e suas aplicações ambientais. Justificativa de uso Os estudantes de Química, Ciências Biológicas, Engenharia Florestal e Ambiental são tradicionalmente expostos unicamente aos conceitos químicos da Fotossíntese durante as disciplinas de Bioquímica, sem entretanto terem um embasamento de fotofísica e fotoquímica, tão importantes para compreensão de processos fotobiológicos como a fotossíntese. Assim esta aula prática visa fornecer estes fundamentos através da demonstração da interrupção da transferência de elétrons e concomitante dissipação de energia por fluorescência em fotossistemas desacoplados ou inibidos pelo herbicida Diuron, com a exposição dos estudantes a conceitos como estados eletronicamente excitados, fluorescência e transferência de energia. Conteúdos trabalhados Fotossíntese, transferência de elétrons, transferência de energia, estados eletronicamente excitados em sistemas biológicos, fluorescência da clorofila. Duração estimada 2–3h Materiais utilizados Espinafres frescos, tubos de ensaios, cadinhos de porcelana, funis de vidro, gaze, tubos de centrífuga, papel-alumínio, capilares, ácido ascórbico, 2,6-diclorofenolindofenol, fosfato de sódio monobásico e dibásico, Triton X-100, Sacarose, Diuron, Transiluminador UV. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.557 18/05/2016 74 Practical lesson of Photosynthesis: A demonstration of Hill reaction in chloroplasts with energy dissipation by fluorescence upon photosystems uncoupling or inhibition by Diuron herbicide 1 Introdução O evento primário da fotossíntese é a absorção de luz pelas moléculas de clorofila, que se tornam eletronicamente excitadas [1,2]. Ao absorver um fóton de luz de freqüência apropriada, o elétron de uma molécula faz uma transição de um orbital de menor energia (estado fundamental) para um orbital de maior energia (estado excitado) [1,2]. A molécula eletronicamente excitada é uma entidade altamente instável e efêmera, podendo esta voltar ao estado fundamental em questão de nanosegundos (10-9 s) liberando energia na forma de luz. Uma molécula eletronicamente excitada adquire propriedades físico-químicas como acidez, polaridade, e propriedades redutoras diferentes da mesma molécula no estado fundamental, podendo perder sua energia nas seguintes formas: (I) por transferência de energia por ressonância a outra molécula muito próxima com a capacidade de absorver esta energia, voltando ao estado fundamental; (II) realização de uma reação fotoquímica, como transferência de elétrons para um aceptor de maior potencial de redução (redução); (III) emitindo um fóton de luz visível (fluorescência) e (IV) por relaxamento térmico, em que as moléculas perdem energia na forma de vibrações emitindo radiação infravermelha. A Figura 1 apresenta os destinos fotofísicos e fotoquímicos dos estados eletronicamente excitados em sistemas biológicos. Figura 1. Destinos dos estados eletronicamente excitados em sistemas biológicos: (I) Transferência de energia por ressonância eletromagnética; (II) fotoquímica (oxido-redução); (III) desativação radiativa (fluorescência) e (IV) desativação térmica. (S) molécula fotoreceptora; ([S]*) molécula fotoreceptora eletronicamente excitada; (A) aceptor de elétrons ou de energia; (A*) aceptor de energia excitado; (A-) aceptor de elétrons reduzido; (P+) produto oxidado. (Figura de V. Viviani) Nos fotossistemas das plantas, as moléculas de clorofila estão organizadas próximas umas das outras, com complexos protéicos na membrana dos sacos tilacoides no interior dos cloroplastos, de modo que a energia de excitação é eficientemente transferida de uma molécula antena para outra na forma de excitons (transferência de energia por ressonância eletromagnética), até alcançar a clorofila do centro de reação fotoquímica que funciona como aceptora final desta energia de excitação [3]. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.557 18/05/2016 75 Practical lesson of Photosynthesis: A demonstration of Hill reaction in chloroplasts with energy dissipation by fluorescence upon photosystems uncoupling or inhibition by Diuron herbicide A clorofila excitada do centro de fotoreação torna-se um forte redutor, transferindo então um elétron para uma série de aceptores de maior potencial de redução (oxidantes) até o aceptor final (o NADP+), num processo de óxido-redução (destino II). Neste processo, a clorofila se torna oxidada e seu potencial de redução se torna muito aumentado, suficientemente para remover elétrons de um doador fraco, que no caso da fotossíntese oxigênica das plantas e algas é a água. Desta forma, durante a fotossíntese, a absorção de luz pela clorofila serve como fonte de energia para impulsionar elétrons da água pelos fotossistemas I e II até um aceptor final de elétrons que pode ser natural ou artificial, com a liberação de oxigênio molecular. No processo, grande parte da energia (30 a 40%) é estocada como energia potencial de redução das ligações químicas do NADPH e na geração de um gradiente de prótons cuja energia é ultimamente estocada nas ligações fosfato do ATP. Alguns herbicidas como o DCMU [3-(3,4-diclorofenil)-1,1-dimetiuréia] encontrado comercialmente com o nome de DIURON, atuam inibindo o transporte de elétrons em nível de citb6f, um dos transportadores de elétrons do fotossistema II [3]. A transferência de elétrons impulsionada pela luz foi primeiramente demonstrada por R. Hill na década de 1930 [1,2]. Trabalhando com suspensão de cloroplastos ativos na presença de um aceptor de elétrons artificial, o 2,6diclorofenolindofenol (2,6-DCF) que tem forte coloração azulada, Hill verificou que mediante iluminação o aceptor se tornava reduzido perdendo a coloração, de acordo com a equação a seguir: H2O + 2A + hλ 2AH + 1/2O2 Desde então, a reação de Hill tem sido utilizada para demonstrar a transferência de elétrons na fotossíntese usando suspensões de cloroplastos em aulas de laboratório. Entretanto, na reação de Hill não fica evidente qual o destino da energia da luz absorvida pela clorofila, quando os fotossistemas são desacoplados, ou quando a transferência de elétrons é inibida por algum agente como um herbicida. Neste trabalho, introduzimos uma adaptação da reação de Hill que tem sido aplicada com sucesso desde 2007 em aulas práticas das disciplinas de Bioquímica proferidas aos cursos de Ciências Biológicas e Engenharia Florestal, onde demonstra-se, além da transferência de elétrons em cloroplastos intactos, a dissipação de energia por fluorescência mediante o desacoplamento dos fotossistemas dos cloroplastos por lise, e mediante inibição da cadeia de transporte de elétrons pelo herbicida DIURON. No decorrer da preparação deste artigo, um artigo sobre uma aula prática que usa a fluorescência da clorofila para mostrar a dissipação de energia em cloroplastos lisados também foi publicado [4]. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.557 18/05/2016 76 Practical lesson of Photosynthesis: A demonstration of Hill reaction in chloroplasts with energy dissipation by fluorescence upon photosystems uncoupling or inhibition by Diuron herbicide 2 Procedimentos e recursos 2.1 Descrição geral e objetivos dos experimentos O objetivo geral desta aula prática é demonstrar para estudantes do ensino superior a reação fotoquímica clássica de transferência de elétrons, a reação de Hill, o efeito do desacoplamento dos fotossistemas e da inibição da transferência de elétrons no processo de transferência de energia. Os objetivos específicos são: (1) Verificar a reação de Hill de transferência de elétrons numa suspensão de cloroplastos intactos de espinafres, na presença e ausência de luz, usando o aceptor artificial o 2,6-Diclorofenolindofenol (2,6-DCF); (2) verificar o efeito do herbicida Diuron [3-(3,4-Diclorofenil)-1-1-dimetiluréia] na transferência de elétrons da fotossíntese, e (3) verificar o efeito do desacoplamento dos centros de fotorreação (fotossistemas) na transferência de elétrons e energia nos fotossistemas e (4) verificar o efeito da inibição do transporte de elétrons pelo herbicida Diuron na dissipação de energia por fluorescência. 2.2 Reagentes Sacarose, fosfato de potássio, 2,6-diclorofenolindofenol, ácido ascórbico, Triton X-100, Diuron [3-(3,4-Diclorofenil)-1-1-dimetiluréia] 50%; água destilada. 2.3 Equipamentos Transiluminador UV Loccus Biotecnologia (Brasil), centrífuga, espectrofotômetro Químis. 2.4 Experimento I. Preparação de suspensão ativa e lisado de cloroplastos Neste experimento são preparadas a suspensão ativa e lisado de cloroplastos, a partir de folhas de espinafre. A suspensão é preparada por processo de maceração das folhas em solução isotônica de sacarose, seguida de centrifugação em diferentes velocidades para precipitar diferentes organelas, seguida de resuspensão da fração de cloroplastos em solução tamponada isotônica. O lisado é preparado usando o mesmo procedimento, mas com resuspensão final da fração de cloroplastos na presença de um agente lítico, o detergente neutro Triton X-100. A seguir a descrição detalhada do procedimento: http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.557 18/05/2016 77 Practical lesson of Photosynthesis: A demonstration of Hill reaction in chloroplasts with energy dissipation by fluorescence upon photosystems uncoupling or inhibition by Diuron herbicide 1. Macerar 30 g de folhas de espinafre em cadinho de porcelana previamente gelado com 30 mL de sacarose 0,35 M gelada. 2. Usando funil com gaze posicionado sobre um Becker acondicionado no gelo, filtrar o macerado. 3. Dispensar o homogenato em 2 tubos de centrífuga tipo Falcon de 15 mL e centrifugar por 2 min a 200 g (1300 rpm). Se possível usar centrífuga refrigerada (dispensável). 4. Desprezar o precipitado, dispensar o sobrenadante (verde-escuro) dos dois tubos em novos tubos de centrífuga tipo Falcon de 15 mL e centrifugar novamente, desta vez por 7 min a 3000 rpm. 5. Após a 2ª centrifugação, descartar o sobrenadante dos dois tubos e utilizar o precipitado verde-escuro (fração rica em cloroplastos) para resuspensão e lise nos experimentos abaixo. 6. Apresenta-se a seguir e na Tabela 1 o tratamento utilizado para preparação da suspensão e lisado de cloroplastos: Tubo I (Suspensão de cloroplastos). Resuspender completamente com agitação suave o precipitado verde-escuro em 5 mL de tampão fosfato 50 mM pH 6.5/sacarose 0.35 M gelado. Esta fração constitui a suspensão de cloroplastos ativa. Tubo II (Lisado de cloroplastos). Resuspender completamente o precipitado em 5 mL de tampão fosfato 50 mM pH 6.5/sacarose + Triton X-100 1% gelado. Esta fração corresponde ao lisado de cloroplastos. Observar e anotar as diferenças óticas das duas preparações (cor, opacidade). Tabela 1. Tratamento doas frações de cloroplastos. Tubo/Amostra Volume Sacarose/Tampão fosfato pH 6.5 (mL) Suspensão de cloroplastos 5 Volume Sacarose/Tampão fosfato pH 6.5 + Triton X-100 (mL) - Lisado de cloroplastos - 5 2.5 Experimento II. Ensaio da reação de Hill Neste experimento analisa-se a redução do reagente 2,6-DCF por suspensões de cloroplastos ativas sob os efeitos de iluminação e ausência de iluminação, na presença de ácido ascórbico, na presença do herbicida Diuron, e na presença de lisado de http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.557 18/05/2016 78 Practical lesson of Photosynthesis: A demonstration of Hill reaction in chloroplasts with energy dissipation by fluorescence upon photosystems uncoupling or inhibition by Diuron herbicide cloroplastos. A Tabela 2 apresenta a preparação do ensaio da reação de Hill com suspensão ativa e lisado de cloroplastos. O experimento consiste nas seguintes etapas: Preparar 5 tubos de ensaio e dispensar as seguintes quantidades, conforme a tabela 2. As suspensões e lisado de cloroplastos devem ser adicionados por último. O tubo 3 deve ser previamente envolto em papel-alumínio. Observar e anotar a cor dos tubos antes da adição da suspensão ou lisado, Imediatamente após a adição da suspensão ou lisado de cloroplastos. Expor os tubos 1, 2, 4 e 5 diretamente à luz solar (ou luz fluorescente branca de 15 W) durante 10 min. O tubo 3 deve permanecer totalmente protegido da luz com papel-alumínio. Após 10 min, remover os tubos da fonte de luz, remover o papel-alumínio do tubo 3, e IMEDIATAMENTE anotar a cor de todos os tubos. Desconsiderar a ligeira coloração esverdeada comum a todos os tubos causada pela presença de clorofila. Questões sugeridas: A) Desenhe detalhadamente a estrutura do esquema Z com todos os componentes da cadeia de transporte de elétrons, pontos de geração de ATP, NADPH. B) Em quais tubos ocorre transferência de elétrons induzida pela luz? Explique. C) Indicar em que ponto do esquema Z o 2,6-DCF atua, e qual o mecanismo? D) Qual a função do ácido ascórbico? E) Qual o efeito bioquímico do DIURON e onde ele atua na fotossíntese? http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.557 18/05/2016 79 Practical lesson of Photosynthesis: A demonstration of Hill reaction in chloroplasts with energy dissipation by fluorescence upon photosystems uncoupling or inhibition by Diuron herbicide 2.6 Experimento III. Desacoplamento dos fotossistemas e dissipação de energia Neste experimento utilizam-se capilares para retirar suspensão de cloroplastos e lisado previamente estocados em gelo, para analisar o destino da energia de excitação da clorofila na forma de fluorescência em ambas as preparações. 1. Com dois tubos capilares, puxar por capilaridade até ca de 2/3 do comprimento do tubo com: (1) a suspensão de cloroplastos e (2) o lisado; 2. Selar a ponta dos tubos com chama do bico de Bunsen, tomando muito cuidado para não aquecer as amostras líquidas; 3. Observar e anotar as propriedades ópticas (cor, opacidade) da suspensão e lisado contra a luz branca; 4. Levar os capilares para o transiluminador de luz ultravioleta (360 nm) num local escuro, ligar a fonte de luz e observar o que acontece com a suspensão e o lisado. Questões sugeridas: O que é fluorescência? Qual tubo capilar exibiu fluorescência? Por quê? O que a fluorescência diz sobre a integridade dos fotossistemas? Explique? Qual a relação entre o experimento I da reação de Hill usando o lisado de cloroplastos e este experimento da fluorescência? 2.7 Experimento IV. Efeito do herbicida Diuron na dissipação de energia por fluorescência Em seguida analisou-se o efeito do herbicida DIURON no processo de transferência de energia nos fotossistemas intactos pela análise de fluorescência. Para isto, utilizando micropipeta semi-automática, mistura-se em 4 microtubos de centrífuga (1,5 mL) 90 µl de suspensão de cloroplastos e 10 µl de soluções aquosas com concentrações crescentes (2-50 % massa/vol) do herbicida DIURON e incuba-se os tubos a temperatura ambiente (22-25°C) por 10 min. Em seguida retira-se com os capilares as suspensões controle e aquelas tratadas com diferentes concentrações de DIURON, sela-se os tubos na chama do bico de Bunsen, e leva-se os tubos para o transiluminador UV. Observar a intensidade da fluorescência destes tubos e anotar as diferenças. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.557 18/05/2016 80 Practical lesson of Photosynthesis: A demonstration of Hill reaction in chloroplasts with energy dissipation by fluorescence upon photosystems uncoupling or inhibition by Diuron herbicide Questões sugeridas: a) Quais tubos exibem fluorescência? b) Qual a diferença na fluorescência dos tubos? c) Explique que relação existe entre a intensidade de fluorescência com a concentração do DIURON. Explique o mecanismo. d) Qual a relação deste experimento com o experimento I de inibição de transferência de elétrons em cloroplastos intactos na presença de DIURON? e) Que aplicações analíticas você prevê para a fluorescência da clorofila na análise da fotossíntese? Pesquisar na literatura o emprego da fluorescência da clorofila. Manuseio de soluções contendo DIURON e descartes. O DIURON é um agente tóxico, principalmente herbicida, que tem de ser manuseado com cuidado, usando luvas de acrílico, e não pode ser descartado no meio ambiente. Os conteúdos líquidos dos tubos de ensaio contendo DIURON, dada sua toxicidade, tem de ser descartados em recipientes plásticos ou de vidro adequadamente rotulados com o nome do reagente, volume e concentração aproximada. 3 Resultados esperados Apresenta-se na Tabela 2 a preparação do ensaio da reação de Hill com cloroplastos intactos e lisados e os resultados esperados. Tabela 2. Preparação do ensaio da reação de Hill com suspensão ativa e lisado de cloroplastos, sob efeitos de iluminação e ausência de luz, e na presença do herbicida Diuron. Tubo 1 Tampão fosfato (mL) 4,3 DCMU 50% (mL) 2 4,3 0,5 0,1 (Suspensão) Azul escuro Incolor (ligeiramente esverdeado) Azul escuro 3 4,3 0,5 Azul escuro Azul escuro 4 5 4,1 4,3 0,1 (Suspensão) (papel-alumínio) 0,1 (Suspensão) 0,1 (Lisado) Incolor (ligeiramente esverdeado) Incolor (ligeiramente esverdeado) Azul escuro Azul escuro Azul escuro Azul escuro Azul escuro Azul escuro Azul escuro 0,2 2,6DCF (mL) 0,5 Suspensão/lisado cloroplastos (mL) Cor inicial Cor + Extrato Cor 10 min 0,1 (Suspensão) + ácido ascórbico Transparente 0,5 0,5 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.557 18/05/2016 81 Practical lesson of Photosynthesis: A demonstration of Hill reaction in chloroplasts with energy dissipation by fluorescence upon photosystems uncoupling or inhibition by Diuron herbicide 3.1 Reação de Hill Apresenta-se na Figura 2 e Tabela 2 os resultados esperados do primeiro experimento, onde analisou-se a ocorrência da reação de Hill na presença de cloroplastos intactos, e sua interrupção na ausência de luz, na presença de cloroplastos lisados e na presença do herbicida Diuron. No tubo 1, na presença de ácido ascórbico, observa-se que a intensa cor azul do 2,6-DCF prontamente desaparece, independentemente da presença de suspensão de cloroplastos. No tubo 2, a cor é inicialmente azul escura, mas após exposição a luz branca por 10 min a cor azul desaparece, com a solução tornando-se incolor. No tubo 3, que ficou blindado da luz, a coloração após 10 min permanece azul escura. Nos tubos 4 (com Diuron) e 5 (com lisado) a cor também permanece azul escura. Nota-se que em todos os tubos permanece uma suave coloração esverdeada, devido à presença de clorofila tanto da suspensão quanto do lisado de cloroplastos, mas esta não deve ser considerada, pois é comum a todos os tubos. A presença de coloração esverdeada serve como confirmação da presença de clorofila nas suspensões intactas e nos lisados, e que portanto as diferenças nos experimentos não devem ser atribuídas a ausência de clorofila. a c b Figura 2. Reação de Hill: (a) coloração dos tubos mediante adição do 2,6-DCF; (b) coloração após adição da suspensão de cloroplastos ou lisado; (c); coloração dos tubos após 10 min de exposição a luz. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.557 18/05/2016 82 Practical lesson of Photosynthesis: A demonstration of Hill reaction in chloroplasts with energy dissipation by fluorescence upon photosystems uncoupling or inhibition by Diuron herbicide 3.2 Dissipação de energia por fluorescência Neste experimento, analisou-se o que acontece com o fluxo de energia luminosa absorvida com cloroplastos intactos e com cloroplastos lisados, através da fluorescência. Apresenta-se na Figura 3 a dissipação de energia por fluorescência em cloroplastos lisados e sua ausência em cloroplastos intactos. Observa-se que o capilar I com a suspensão intacta permanece escuro mediante irradiação de luz ultravioleta, enquanto que o tubo II com lisado de cloroplastos emite intensa fluorescência avermelhada. Eventualmente o tubo I pode apresentar ligeira fluorescência, o que indica degradação dos cloroplastos resultante da preparação ou manuseio incorretos da suspensão de cloroplastos. Figura 3. Dissipação de energia por fluorescência de cloroplastos intactos e lisados: (A) suspensão de cloroplastos e (B) lisado. 3.3 Efeito do herbicida Diuron na dissipação de energia. Na Figura 4 apresenta-se o efeito de concentrações crescentes (10-50%) do herbicida Diuron, na dissipação de energia por fluorescência em cloroplastos intactos. Observa-se ausência de fluorescência no tubo capilar controle (Fig. 4A), e intensidades crescentes de fluorescência conforme aumenta a concentração de Diuron (Fig.4 B-D). Figura 4. Efeito de concentrações crescentes (massa/volume) do herbicida Diuron na fluorescência da clorofila em suspensões de cloroplastos: (A) controle sem Diuron; (B) 1,0%; (C) 2,5% e (D) 5,0%. (Imagem V.Viviani). http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.557 18/05/2016 83 Practical lesson of Photosynthesis: A demonstration of Hill reaction in chloroplasts with energy dissipation by fluorescence upon photosystems uncoupling or inhibition by Diuron herbicide 4 Discussão A presente aula prática tem sido aplicada com sucesso na disciplina de Bioquímica para os cursos de Ciências Biológicas e Engenharia Florestal desde 2007. A prática permite demonstrar o evento fotoquímico primário da fotossíntese, a transferência de elétrons mediada pela luz, através da reação clássica de Hill, usando suspensões ativas de cloroplastos, e a dissipação de energia de excitação das moléculas de clorofila mediante desacoplamento ou inibição da transferência de elétrons através da fluorescência. A reação de Hill já é bem conhecida e rotineiramente utilizada em aulas práticas de fotossíntese [2]. A fotossíntese nas plantas resulta da eficiente conversão de energia luminosa em energia química durante a fase clara, mediada por unidades funcionais chamadas de fotossistemas I e II. Estes fotossistemas e o esquema Z da fotossíntese de transferência de elétrons pelos fotossistemas pode ser visualizado no livro de Bioquímica de Nelson e Cox [3]). As moléculas de clorofila antena nas membranas dos tilacoides dos cloroplastos absorvem luz UV/visível tornando-se eletronicamente excitadas e transferindo sua energia por ressonância eletromagnética para outras moléculas de clorofila antena próximas [1-3]. A energia é transmitida por ressonância eletromagnética até a clorofila do centro de fotoreação. Neste ponto a energia da clorofila excitada é transferida, desta vez na forma de elétrons, para aceptores com maior potencial de redução da cadeia de transporte de elétrons do esquema Z, até chegar ao citocromo b6F, via plastoquinona. No primeiro experimento demonstrou-se a reação clássica de redução do reagente de Hill usando 2,6-Diclorofenolindofenol como aceptor artificial de elétrons. Verificou-se que a reação de redução do 2,6-DCF ocorre sem necessidade de luz no tubo 1 com ácido ascórbico, um redutor natural; no tubo 2 a redução ocorre mediante iluminação; e nos tubos 3 que foi blindado da luz, 4 em que foi adicionado o herbicida Diuron, e 5 em que utilizou-se um lisado de cloroplastos em vez de cloroplastos ativos, não ocorre redução do aceptor de elétrons. No tubo 1 o ácido ascórbico atua como redutor do 2,6-DCF. No tubo 4, o Diuron atua como inibidor competitivo do complexo citocromo b6F em relação a plastoquinona, interrompendo o fluxo de elétrons. A Figura 6 mostra a semelhança estrutural da plastoquinona e do herbicida Diuron. Assim, este primeiro experimento mostra as condições necessárias para que haja transferência fotoquímica de elétrons para o reagente de Hill: energia luminosa, clorofila, uma cadeia de transporte de elétrons intacta e funcional (fotossistemas acoplados) capaz de reduzir o 2,6-DCF. Na http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.557 18/05/2016 84 Practical lesson of Photosynthesis: A demonstration of Hill reaction in chloroplasts with energy dissipation by fluorescence upon photosystems uncoupling or inhibition by Diuron herbicide ausência de um destes requisitos (luz no tubo-3; aceptores de elétrons funcionais no tubo4; fotossistemas intactos tubo-5), a reação de redução do 2,6-DCF é interrompida. Figura 6. Estrutura da plastoquinona e do herbicida Diuron (extraído de Nealson e Cox [3]). No experimento II, demonstra-se a destino da energia absorvida pelas clorofilas quando os cloroplastos estão intactos e quando são lisados. Nos cloroplastos intactos, verifica-se que a energia luminosa é absorvida (a suspensão permanece escura na presença de luz violeta/ultravioleta demonstrando a absorção quase integral de luz). A partir da comparação do tubo 2 e 3 do experimento I com este experimento II, conclui-se que a energia da absorção de luz na suspensão de cloroplastos intactos é canalizada para impulsionar elétrons para o aceptor 2,6-DCF que se torna reduzido (incolor). Entretanto, no lisado de cloroplastos, embora a luz ainda seja absorvida pelas moléculas de clorofila, esta energia é dissipada novamente na forma de luz (fluorescência) na ausência de aceptores de elétrons próximos. O processo de fluorescência não deve ser confundido com reflexão da luz, no qual a luz é refletida no mesmo comprimento de onda da luz absorvida (a mesma frequência), ou com a cor que é o resultado da absorção diferencial de luz de diferentes comprimentos de onda. Na fluorescência a energia luminosa é absorvida pela molécula, que se torna eletronicamente excitada, e é novamente liberada na forma de luz, mas de energia menor (frequência menor ou comprimento de onda maior), devido a perda de parte desta energia na forma de vibração molecular ou calor. Nos cloroplastos lisados, a clorofila ainda está presente, como pode ser http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.557 18/05/2016 85 Practical lesson of Photosynthesis: A demonstration of Hill reaction in chloroplasts with energy dissipation by fluorescence upon photosystems uncoupling or inhibition by Diuron herbicide atestado pela coloração verde-escura da solução. Entretanto a clorofila não está mais associada em complexos protéicos transportadores de elétrons na membrana do tilacóide, mas solubilizada. Para que haja transferência de energia de excitação por ressonância de uma molécula de clorofila antena para outra, as moléculas de clorofila devem estar a não mais de um raio de 15 Å de distância, para que os orbitais eletrônicos das duas moléculas doadora e aceptora de energia se sobreponham. Além disto, para que haja a transferência efetiva de elétrons da molécula de clorofila excitada do centro de fotorreação para o primeiro aceptor de elétrons da cadeia de transporte do esquema Z, estas moléculas também têm de estar muito próximas e intimamente acopladas. Assim, na ausência de moléculas de clorofila próximas para transferir a energia por ressonância, e na ausência de acoplamento com aceptores de elétrons próximos, as moléculas de clorofila apesar de ainda absorverem a energia luminosa, tornando-se excitadas, perdem sua energia de excitação novamente na forma de luz e calor. Dessa forma, no experimento I e II verifica-se que durante a absorção de luz em cloroplastos intactos a energia luminosa é eficientemente canalizada para a geração de um fluxo de elétrons para o aceptor artificial 2,6-DCF por um caminho escuro (fotoquímica), como evidenciado na Fig.3, enquanto que no desacoplamento dos fotossistemas, ou na presença de um inibidor da cadeia de transporte de elétrons, a energia não pode ser mais canalizada para geração de um fluxo de elétrons, sendo dissipada novamente na forma de luz (fluorescência avermelhada) e calor (evidenciado pela diferença de energia da luz absorvida na região do ultravioleta/azul e da energia da luz visível emitida como fluorescência avermelhada), evidenciando os destinos III e IV. Finalmente, no experimento III, verifica-se que na presença do herbicida Diuron, também não ocorre transferência de elétrons, e a energia de excitação neste caso também é liberada na forma de luz. Neste caso as clorofilas entram num ciclo de excitação/ desexcitação (fluorescência) contínuo, sem transferência efetiva de elétrons, resultando na fluorescência observada. Verifica-se ainda uma aplicação prática da fluorescência da clorofila: aumentando a concentração de Diuron nas suspensões de cloroplastos aumenta a intensidade da fluorescência emitida, demonstrando um efeito dose/resposta. Este aumento de fluorescência dependente da concentração de Diuron, evidencia uma utilidade prática da intensidade de fluorescência como parâmetro analítico para monitorar o bom funcionamento dos fotossistemas em organismos vegetais [5]. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.557 18/05/2016 86 Practical lesson of Photosynthesis: A demonstration of Hill reaction in chloroplasts with energy dissipation by fluorescence upon photosystems uncoupling or inhibition by Diuron herbicide No conjunto, estes três experimentos mostram quatro destinos fotofísicos e fotoquímicos possíveis das moléculas de clorofila eletronicamente excitadas pela luz na fotossíntese: (I) transferência de energia entre as moléculas de clorofila. Nos cloroplastos intactos, nem todas as moléculas de clorofila que absorveram a luz transferem elétrons, assim as moléculas de clorofila antena devem passar a energia de excitação umas para as outras; (II) fotoquímica, por meio da reação clássica de Hill de transferência de elétrons para o 2,6-DCF, atestada nos tubos 2 e 3 do experimento I; (III) a dissipação de energia na forma de fluorescência quando a clorofila encontra-se desacoplada dos fotossistemas e quando a transferência de elétrons é inibida pelo herbicida DIURON nos fotossistemas e (IV) dissipação de energia na forma de calor, atestada pela frequência ou comprimento de onda da luz emitida na fluorescência (avermelhada) que é de menor energia da luz absorvida (UV/azul). Esta diferença de energia entre a frequência de luz absorvida e emitida é perdida na forma decaimento térmico através de vibrações moleculares. Resumindo, esta aula demonstra os princípios fotofísicos e fotoquímicos subjacentes a fotossíntese e a outros processos fotobiológicos. Além disto, a aula introduz a propriedade da intensidade de fluorescência como um importante parâmetro analítico para monitorar o bom funcionamento dos fotossistemas em cloroplastos e organismos fotossintéticos. A fluorescência da clorofila de fato vem sendo utilizada para monitorar o funcionamento de organismos, comunidades e ecossistemas fotossintéticos. Um bom exemplo disto é a atual análise de produção de biomassa por plâncton marinho através de análise de fluorescência via satélite ou a análise de fluorescência em campo por fluorímetros portáteis [5]. 5 Impacto no ensino-aprendizado Nesta aula prática os estudantes são expostos a princípios fotofísicos e fotoquímicos subjacentes ao processo de fotossíntese. A reação clássica de Hill já é corriqueiramente utilizada para demonstrar o evento fotoquímico da fotossíntese, a transferência de elétrons mediada pela luz em cloroplastos intactos. Nesta aula prática, além da reação clássica de Hill, o estudante tem a oportunidade de visualizar outros eventos fotofísicos importantes para o processo da fotossíntese, especialmente a dissipação de energia por fluorescência da clorofila quando a transferência de elétrons é interrompida por desacoplamento dos fotossistemas ou pela inibição pelo herbicida Diuron. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.557 18/05/2016 87 Practical lesson of Photosynthesis: A demonstration of Hill reaction in chloroplasts with energy dissipation by fluorescence upon photosystems uncoupling or inhibition by Diuron herbicide Assim, o aluno adquire uma compreensão básica sobre os destinos fotoquímicos e fotofísicos da energia nos fotossistemas, sendo exposto aos conceitos de: (1) estados eletronicamente excitados; (2) transferência fotoquímica de elétrons; (3) transferência de energia por ressonânica eletromagnética e (4) fluorescência, tão importantes para explicar a fotossíntese e outros processos fotobiológicos. Além disto, o estudante é introduzido ao uso do parâmetro “intensidade de fluorescência” como ferramenta bioanalítica para monitorar a eficiência do processo fotossintético em plantas e comunidades vegetais. 6 Considerações finais A presente aula demonstra os princípios fotofísicos e fotoquímicos da fotossíntese através da reação de Hill usando cloroplastos intactos, e a dissipação de energia por fluorescência mediante o desacoplamento dos fotossistemas, ou inibição dos mesmos por herbicidas como Diuron, introduzindo a fluorescência como parâmetro analítico para monitorar o funcionamento de fotossistemas em plantas e comunidades fotossintéticas. A aula pode ser aplicada em cursos superiores de ciências básicas como física, química e ciências biológicas, bem como em cursos aplicados como engenharia florestal, engenharia agronômica e ambiental. Referências [1] Brennan T. Basic Photossynthesis. Photobiology 2008. [acesso em: 01 ago 2015]. Disponível em: http://www.photobiology.info/Brennan.htm [2] Fork, DC. Photosynthesis. In: Smith KC. (editor) The Science of Photobiology. Ney York: Plenum Publishing; 1977. p. 329-369. [3] Nelson DL, Cox M. Princípios de Bioquímica de Lenhinger. 5o ed. Porto Alegre: Sarvier-Artmed; 2009. [4] Loreto ELS, Sepell. LMN. Fluorescência da Clorofila, Orbitais e Fotossíntese: atividades práticas integrando conceitos de Química, Física e Biologia. REB [periódicos na internet]. 2013 [acesso em: acesso em: 01 ago 2015];11(1):25-36. Disponível em: http://bioquimica.org.br/revista/ojs/index.php/REB/article/view/254. [5] Minagawa J. Recent Progress of Bio/Chemiluminescence and Fluorescence analysis in photosynthesis. Kerala: Research Signpost; 2007. p. 150-174. Agradecimentos A Gabriela Oliveira, Mariele Carvalho e Vanessa Bevilaqua (UFSCar) pela assistência técnica durante a implementação desta aula, à Rogilene Prado (UFSCar) pela revisão do texto, e à Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e CNPq pelo suporte financeiro. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.557 18/05/2016 88 V.14, N.1 / 2016 Submitted in: 19/09/2015 Published in: 20/06/2016 Educational Innovations Apresentação de resultados de pesquisa científica como estratégia para aumentar o interesse dos alunos em fisiologia Presentations of scientific research results as a strategy to increase the interest of students in physiology Caroline Dalla Colletta Altermann1, Alexandre Garcia1, Pâmela Mello-Carpes1* 1 Physiology Research Group, Federal University of Pampa, Uruguaiana, Rio Grande do Sul, Brazil *e-mail: [email protected] Support: Brazilian Physiological Society (Sociedade Brasileira de Fisiologia – SBFis) Abstract In the search for strategies to arouse the interest of undergraduate students in science, it was proposed the project "Colloquiums in Physiology" in order to disseminate and discuss scientific discoveries and improve the students’ interest in Physiology. This work aimed to verify the perception of participants about the impact of this activity. The activity included lectures throughout the semester and at the end of each lecture, a questionnaire was applied to listeners. Among the 171 students who answered the questionnaire, 81% (n=139) considers that this proposal increased their interest in physiology, 96% (n=164) believes that it is an important activity and achieved its goal of promote science disclosure, and 83% (n=142) stated that the project promotes interaction between research, teaching and outreach activities. Thus, it highlights the importance of this type of event for the academic formation. Keywords: Human Physiology; education; lectures. Resumo Na busca por estratégias que despertem o interesse de acadêmicos pela ciência, foi proposto o projeto “Colóquios em Fisiologia” com o intuito de disseminar e discutir novas descobertas científicas e melhorar o interesse dos estudantes pela fisiologia. Este trabalho objetivou verificar a percepção dos participantes acerca do impacto desta atividade. A atividade contou com palestras ao longo do semestre e ao final de cada uma foi aplicado um questionário aos ouvintes. Dentre os 171 alunos que responderam ao questionário, 81% (n=139) considera que esta proposta aumentou o seu interesse em fisiologia, 96% (n=164) acredita que esta é uma atividade importante e atingiu seu objetivo de promover a divulgação da ciência, e 83% (n= 142) afirmou que o projeto promove a interação entre pesquisa, ensino e extensão. Assim, destacamos a importância da realização deste tipo de evento para a formação acadêmica. Palavras-chave: Fisiologia Humana; educação; palestras. Educational Innovation: Presentations of scientific research results as a strategy to increase the interest of students in physiology Ficha da atividade desenvolvida Título Colóquios em Fisiologia Público alvo Acadêmicos dos cursos da área saúde e biológicas Disciplinas relacionadas Fisiologia Humana, Bioquímica, Anatomia Humana, Fisiologia do Exercício, Biomecânica, Biologia Geral, entre outras. Objetivos educacionais Despertar nos discentes o interesse por diferentes assuntos relacionados à Fisiologia Humana por meio da apresentação de novidades científicas resultantes de pesquisas científicas; proporcionar aos acadêmicos uma atividade extraclasse que colabore para sua formação. Justificativa de uso Trata-se de uma estratégia de ensino por meio da realização de palestras educacionais como forma de garantir mais oportunidades aos acadêmicos considerando que o processo de formação profissional deve ser contínuo e acompanhar as inovações científicas. Conteúdos trabalhados Fisiologia da memória, doenças neurodegenerativas e novas descobertas científicas na área de fisiologia. Duração estimada 1h e 30min. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.562 20/06/2016 90 Educational Innovation: Presentations of scientific research results as a strategy to increase the interest of students in physiology 1 Introdução Atualmente se faz necessário encontrar estratégias para motivar os alunos, mostrar a eles que a aprendizagem é um processo contínuo e que a curiosidade é a ferramenta para buscar novas informações que vão além do plano curricular [1]. A aprendizagem ativa sugere a necessidade de o aluno construir sua própria compreensão e tem se mostrado como um modelo que garante e capacita o aluno para o domínio dos conteúdos curriculares, além de melhorar sua capacidade de resolver problemas [2]. Neste contexto devem-se considerar as transformações da sociedade contemporânea, transformações estas que têm colocado em questão os aspectos relativos à formação profissional e à busca por informações; assim, se fazem necessárias novas formas de construir o conhecimento. Neste sentido, a análise sobre a aprendizagem das ciências tem contribuído para obtenção de melhores práticas educativas e há uma constante busca por métodos inovadores que possam ser usados como auxiliares para a educação atual [3, 4], e, assim, promover a utilização de ferramentas diferentes, visando estimular novas formas de pensar e aprender. Além das aulas teóricas expositivas, algumas disciplinas, como a fisiologia incluem aulas práticas em seu currículo acadêmico. Estas aulas contribuem para o desenvolvido da aprendizagem e trazem a possibilidade de melhorar a compreensão dos conteúdos por meio da experimentação e verificação de fenômenos e processos. No entanto, novas legislações e questões éticas e filosóficas têm levado a uma gradativa diminuição de práticas que utilizam experimentação animal em sala de aula. Com isso os educadores enfrentam o desafio de procurar métodos alternativos para garantir a qualidade do ensino. A Fisiologia Humana estuda as funções biológicas dos diferentes órgãos e sistemas corporais, ou seja, como funciona o nosso organismo, sendo a introdução para disciplinas profissionalizantes [5] e pode ser considerada uma disciplina complexa e em constante transformação [4]. Ela está inserida no plano curricular de todos os cursos das áreas da saúde e ciências biológicas e estuda os mecanismos fisiológicos fundamentais para manutenção da homeostasia, sendo relacionada a outras disciplinas básicas do currículo, tais como bioquímica, farmacologia, genética, entre outras, o que permite que os alunos, futuros profissionais, estejam aptos a entender, interpretar e enfrentar diferentes situações clínicas na sua trajetória profissional. Considerando a importância do estudo da fisiologia e a dificuldade de compreensão e desinteresse muitas vezes observados nos estudantes, os docentes acabam por buscar http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.562 20/06/2016 91 Educational Innovation: Presentations of scientific research results as a strategy to increase the interest of students in physiology estratégias para motivar e melhorar o ensino. Nos últimos anos, têm-se buscado novas estratégias de informação a serem aliadas às práticas de ensino tradicional, de forma a colaborar com o desenvolvimento do pensamento crítico e reflexivo dos discentes [2, 6]. Para isso, têm sido utilizadas aulas práticas, que possibilitam a experimentação e interação entre os alunos [4], além de outras ferramentas, como as tecnologias de informação e comunicação (TICs). Um exemplo é a fisiomídia, um tutorial hipermídia desenvolvido para auxílio do ensino da disciplina de Fisiologia [7], modelos computacionais de ensino e/ou jogos [8], entre outras estratégias que contribuem para facilitar o aprendizado e compreensão da fisiologia [9, 10]. Um dos aspectos importantes a se considerar na busca por melhorias no ensino de fisiologia é que esta ciência, assim como a maioria das ciências experimentais, está em constante transformação, mudando à medida que novas pesquisas são realizadas e divulgadas e, desta forma, agregando novos conhecimentos. Neste contexto, a pesquisa aliada ao estudo teórico torna-se um facilitador do aprendizado [11], e discutir a pesquisa científica na área da fisiologia, relacionando-a aos conhecimentos já consolidados nos livros didáticos de fisiologia, permite que os estudantes percebam que ainda há muito que entender e compreender, e que não existem verdades incontestáveis. Diante desta busca por estratégias de ensino diferenciadas e motivadoras, é importante considerar, também, que os alunos que ingressam na graduação, especialmente naqueles cursos pertencentes à área da saúde, devem ser instigados a questionar, a pesquisar e a aprofundar seus conhecimentos [12]. Assim, a tríade ensinopesquisa-extensão ganha destaque no contexto universitário, visto que eventos científicos envolvendo os acadêmicos são uma oportunidade para disseminar e discutir novidades da ciência e podem ser considerados como uma ferramenta extraclasse importante para despertar o interesse dos estudantes. Para contemplar essa demanda, propomos uma atividade com o objetivo de estimular o interesse dos estudantes de fisiologia em conhecer pesquisas na área e entender sua relação com o conteúdo presente nos livros didáticos e abordado nas aulas. O projeto, intitulado “Colóquios em Fisiologia”, contou com palestras públicas para divulgação, popularização e discussão de temáticas relacionadas à fisiologia e suas subáreas, divulgando resultados de pesquisas científicas e sua aplicabilidade no cotidiano. O presente artigo tem por objetivo relatar esta ação e verificar a percepção dos estudantes participantes sobre o impacto dos Colóquios em Fisiologia no seu interesse pela fisiologia e conhecimento na área e temas correlatos. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.562 20/06/2016 92 Educational Innovation: Presentations of scientific research results as a strategy to increase the interest of students in physiology 2 Procedimentos e recursos O projeto de extensão “Colóquios em Fisiologia” é realizado semestralmente, com uma média de duas edições/semestre. O formato do evento permite que sejam realizadas palestras expositivas dialogadas de aproximadamente 1 h e 30 min seguidas de um momento de discussão sobre o tema abordado, proporcionando a atualização e debate de assuntos relacionados à fisiologia. Este modelo visa à apresentação do assunto com a contextualização do tema considerando o conhecimento prévio dos acadêmicos, incluindo novidades científicas no que refere a pesquisas realizadas pelo pesquisador/palestrante convidado e por outros cientistas da área. Questionamentos e discussão do assunto junto aos estudantes podem ocorrer durante a palestra ou ao final da mesma, sendo mediada pelo palestrante. Desde o início de 2014 foram realizadas 8 edições dos Colóquios, todas com convidados externos à universidade, abordando diferentes temas de discussão como descrito no Quadro 1. Quadro 1. Temas abordados nos Colóquios em Fisiologia desde 2014. Título do Colóquio Número de participantes Estresse pré-natal e repercussões sobre o desenvolvimento do Sistema Nervoso 67 participantes Participação do Sistema Histaminérgico na consolidação e na reconsolidação da 37 participantes memória espacial em ratos Experimental treatment to prevent neurocognitive impairment in AD mice/Tratamento 61 participantes experimental para prevenir o déficit neurocognitivo em camundongos com doença de Alzheimer (convidado internacional) Farmacologia da memória 35 participantes The brain: A few of its triks / O cérebro: um pouco sobre seus truques (convidado 42 participantes. internacional) Hemorragia Intracerebral: Mecanismos e terapias 26 participantes. Estresse Oxidativo induzido por metais: Efeitos no sistema cardiovascular e 38 participantes reprodutor Como puede la ciencia avanzar a traves de la gastronomia / Como a ciência pode 40 participantes progredir através da gastronomia (convidado internacional) Total de participantes 346 Média de participantes por edição 44 O público-alvo são acadêmicos dos diferentes cursos de graduação da instituição (Fisioterapia, Enfermagem, Educação Física, entre outros) e alunos de pós-graduação (mestrado e doutorado), no entanto a participação é aberta a toda comunidade. Cada colóquio é amplamente divulgado na Universidade por meio de cartazes e mídia eletrônica utilizando redes sociais que os alunos têm acesso e o site da Universidade. Todas as edições são gratuitas e após a realização um certificado é enviado aos participantes. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.562 20/06/2016 93 Educational Innovation: Presentations of scientific research results as a strategy to increase the interest of students in physiology Ao final das palestras foi aplicado um questionário anônimo incluindo questões fechadas/objetivas e abertas para obter a opinião dos participantes acerca do projeto. A participação na avaliação foi voluntária e um total 171 alunos (22,91 ± 5,44 anos) respondeu ao questionário. Os resultados foram analisados e os resultados são apresentados na forma de porcentagem. As respostas abertas mais representativas da opinião geral dos participantes também são apresentadas e discutidas na próxima sessão. 3 Resultados e Discussões As edições dos Colóquios em Fisiologia contaram com a participação de acadêmicos de graduação e pós-graduação de diferentes cursos da instituição. Verificou-se que 81% (n=139; Figura 1A) dos participantes que responderam ao questionário considera que esta proposta aumentou o seu interesse em fisiologia. Despertar o interesse dos alunos é um desafio para qualquer disciplina; atividades como a proposta podem representar uma oportunidade para um maior engajamento no ambiente acadêmico e, assim, promover nos alunos a curiosidade científica e o interesse por diferentes assuntos por meio da troca de ideias. O estudo da fisiologia não é exceção, e, às vezes, surgem dificuldades de aprendizado em determinados assuntos e precisamos recorrer a diferentes estratégias de ensino-aprendizagem para favorecer o estudo e aprendizado dos alunos, logo, atividades extracurriculares são ferramentas que podem melhorar a motivação dos acadêmicos e auxiliam o estabelecimento de conexões com a prática profissional. Estudos prévios utilizando estratégias semelhantes a aqui proposta, na forma de oferta de seminários e/ou palestras extra-classe, também encontraram resultados positivos. Em dois destes estudos palestras com profissionais da saúde buscaram contextualizar a presença da fisiologia no cotidiano profissional, e, com isso, promoveram maior interesse dos alunos na fisiologia, facilitando seu aprendizado. Outro estudo promoveu ciclos de apresentação e discussão de artigos científicos na área de neurofisiologia, articulando, assim, a integração entre ensino, pesquisa e extensão. Verificou-se também que 96% (n=164; Figura 1B) dos participantes acredita que o projeto é uma atividade importante e atingiu seu objetivo de promover a divulgação e popularização da ciência. Este é um aspecto relevante do projeto, já que a trajetória acadêmica não deve estar limitada as atividades curriculares, o que implica que os estudantes busquem uma educação superior mais abrangente e não somente um caminho unidirecional. A divulgação científica, além de importante para uma formação http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.562 20/06/2016 94 Educational Innovation: Presentations of scientific research results as a strategy to increase the interest of students in physiology acadêmica completa, também é uma forma interessante de promover o interesse dos estudantes pelos conteúdos relacionados à ciência. Estudos prévios demonstram que envolver estudantes de graduação em atividades de divulgação e popularização da ciência contribui para seu aprendizado e desenvolvimento acadêmico. Figura 1. Resultados da avaliação das atividades pelos participantes. Quando questionados se este formato de evento consegue promover a interação entre pesquisa, ensino e extensão, a maioria dos participantes, 83% (n= 142) afirmou que sim (Fig 1C). Esta interface é importante para proporcionar aos acadêmicos uma oportunidade de ampliar seus conhecimentos, e, assim, tornar-se mais crítico e perceber as diferentes oportunidades e atuações que o profissional pode exercer. A universidade prevê a atuação docente e discente na tríade ensino-pesquisa-extensão, mas ainda é preciso in- http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.562 20/06/2016 95 Educational Innovation: Presentations of scientific research results as a strategy to increase the interest of students in physiology centivar os alunos a vivenciar a inter-relação entre estes aspectos, e estratégias envolvendo seminários e palestras com apresentação de dados e artigos científicos mostraramse efetivas neste trabalho e em trabalhos prévios. Corroborando com Santos, que considera fundamental para a formação dos acadêmicos a participação em atividades fora da sala de aula: projetos de iniciação científica, atividades de monitoria e eventos científicos, o formato dos Colóquios aqui proposta pode ser considerado uma opção viável e interessante para contemplar esta tríade, contribuindo para a formação profissional e cidadã, despertando o senso indagativo e possibilitando maior interação entre palestrantes convidados e a comunidade acadêmica participante. Quando solicitados a comentar sobre o aproveitamento das palestras, os estudantes participantes consideraram: “Muito interessante (a palestra) e tema muito bem abordado. Gostei e vou participar das próximas edições.” “Muito interessante, principalmente para o acadêmico que pretende seguir carreira de pesquisador.” “Com a palestra foi possível ter um bom aproveitamento do tema, com certeza colaborou para minha formação acadêmica.” “O Colóquio é muito importante para o melhor entendimento de estruturas do Sistema Nervoso Central.” “Palestra muito boa, com exemplos práticos e de forma simples.” “Excelente. Proporcionou a construção de novos conhecimentos utilizando linguagem clara, proporcionando a reflexão dos assuntos abordados.” “Ótima palestra, explicações que interligaram o conteúdo já estudado em sala de aula com pesquisas científicas e o cotidiano profissional.” “Ótima oportunidade de interação com pesquisador de outra instituição.” “Uma oportunidade para ampliar o conhecimento, trocar ideias e assim melhor nossa formação.” Por fim, foi solicitado que os participantes atribuíssem uma nota para cada edição. A nota média obtida foi 8,83 ± 1,04, o que demonstra um bom aproveitamento e aceitação deste formato de evento. Ao final de cada palestra ocorreram discussões pertinentes sobre o tema, técnicas e novas perspectivas de pesquisa, o que vai ao encontro do objetivo da proposta. Observou-se que a partir desta interação entre palestrante e ouvintes surgiram possíveis redes de colaboração entre pesquisadores e estudantes visando o desenvolvimento de futuros projetos em parceria ou aperfeiçoamento de alunos de iniciação científica e pós-graduação em outros laboratórios ou departamentos. Estas possibilidades são uma importante conexão para a implantação de novas técnicas e o desenvolvimento de novas pesquisas científicas. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.562 20/06/2016 96 Educational Innovation: Presentations of scientific research results as a strategy to increase the interest of students in physiology 4 Considerações finais Os resultados observados permitem concluir que a presente proposta atingiu o objetivo inicial, aumentando o interesse dos estudantes em fisiologia e temas correlatos. Acreditamos que esta estratégia pode ser usada em diferentes contextos e torna-se uma forma de agregar conhecimento, sendo uma estratégia acessível, de simples execução e que contribui para facilitar o processo ensino-aprendizagem. Neste contexto, os eventos científicos são um facilitador para se estabelecer relações entre pesquisadores, onde é possível ocorrer contatos específicos e úteis para o aperfeiçoamento, sendo, também, um meio eficiente para conexão e articulação de novas descobertas, além de, ser uma estratégia para melhorar o ensino e oportunizar aos acadêmicos novos conhecimentos. Referências [1] Souza, C.S., A.G. Iglesias, and A. Pazin-Filho, Estratégias inovadoras para métodos de ensino tradicionais – aspectos adicionais. Revista da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, 2014. 47(3): p. 284-92. [2] Freeman, S., et al., Active learning increases student performance in science, engineering, and mathematics. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 2014. 111(23): p. 8410-8415. [3] Cardoso, I.M. and R.S. Lima, Métodos ativos de aprendizagem: o uso do aprendizado baseado em problemas no ensino de logística e transportes. Ensino em Tansportes, 2012. 20(3): p. 79-88. [4] Rezende-Filho, F.M., et al., A student-centered approach for developing active learning: the construction of physical models as a teaching tool in medical physiology. BMC Med Educ, 2014. 14: p. 189. [5] Barros, W.B., et al., Seminários Didáticos: Ferramenta De Aproximação Das Disciplinas Básicas Com A Prática Profissional. Revista Ciência em Extensão, 2012. 8(3): p. 127-141. [6] Silva, V.M., et al., Impacto do uso de estratégias investigativas sobre as emoções e a motivação dos alunos e as suas concepções de ciência e cientista. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, 2015. 14(1): p. 17-34. [7] Netto, C.M., et al., Sistema tutorial hipermídia de auxílio ao ensino de fisiologia oral. Infocomp Journal of Computer Science, 2004. 3(2): p. 1-7. [8] Kreutz, L.S., Modelo computacional para ensino de fisiologia cardiovascular, in Centro Tecnológico2001, Universidade Federal de Santa Catarina. [9] Lara, M.V., et al., Objetos De Aprendizagem Como Coadjuvantes Do Processo De Ensino-Aprendizagem De Fisiologia Humana. Revista de Ensino em Bioquímica, 2014. 12(1): p. 34-47. [10] Macknight, A.D., Humanizing Physiology Education. Physiology, 2014. 29(4): p. 216-217. [11] Albuquerque, M.A.C., et al., Bioquímica como Sinônimo de Ensino, Pesquisa e Extensão: um Relato de Experiência. Revista Brasileira de Educação Médica, 2012. 36(1): p. 137-142. [12] Monerat, C.A.A. and M.B. Rocha, Análise da percepção de estudantes de graduação da área da saúde sobre o tema Biologia Celular. Revista de Ensino em Bioquímica, 2015. 13(1): p. 27-44. [13] Borges, S. and P.B. Mello-Carpes, Physiology applied to everyday: the practice of professional contextualization of physiology concepts as a way of facilitating learning. Advances in Physiology Education, http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.562 20/06/2016 97 Educational Innovation: Presentations of scientific research results as a strategy to increase the interest of students in physiology 2014. 38(1): p. 93-95. [14] Mello-carpes, P.B., L.S. Vargas, and B. Neves, Ciclo de debates em neurofisiologia: uma estratégia de integração ensino-pesquisa-extensão. Revista da Extensão, 2015. 10: p. 20-25. [15] Peres, C.M., A.S. Andrade, and S.B. Garcia, Atividades Extracurriculares: Multiplicidade e Diferenciação Necessárias ao Currículo. Revista Brasileira de Educação Médica, 2007. 31(3). [16] Borges, S. and P.B. Mello-Carpes, Undergraduate students as promoters of science dissemination: a strategy to increase students' interest in physiology. Advances in Physiology Education, 2015. 39(2): p. 133136. [17] Martins, A. and P.B. Mello-Carpes, A Proposal for Undergraduate Students’ Inclusion in Brain Awareness Week: Promoting Interest in Curricular Neuroscience Components. Journal of Undergraduate Neuroscience Education, 2014. 13(1): p. A41-A44. [18] Vargas, L.d.S.d., J.R.d. Menezes, and P.B. Mello-Carpes, Increased interest in physiology and science among adolescents after presentations and activities administered by undergraduate physiology students. Advances in Physiology Education, 2016. 40(2): p. 194-197. [19] Santos, M.P., Extensão Universitária: Espaço De Aprendizagem Profissional E Suas Relações Com O Ensino E A Pesquisa Na Educação Superior. Revista Conexão UEPG, 2012. 8(2): p. 154-163. Agradecimentos Os autores agradecem a todos os acadêmicos pela participação nas palestras, bem como à Sociedade Brasileira de Fisiologia (SBFis) pelos recursos concedidos por meio do Programa de Auxilio a Organização de Eventos. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.562 20/06/2016 98 V.14, N.1 / 2016 Submitted in: 29/12/2015 Published in:21/06/2016 REB in the School Fisio card game: um jogo didático para o ensino da fisiologia na educação básica Fisio card game: an educational game for physiology teaching in basic education Tarcila de Araújo Alves1, Lucas de Souza Falcão1, Aline Tatiane Souza1, Thaís Santiago do Amaral1, Sheila Pereira de Lima1, Thaís Billalba Carvalho2* Universidade Federal do Amazonas – Curso de Ciências Biológicas Universidade Federal do Amazonas – Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de Ciências Fisiológicas, Laboratório de Fisiologia Animal 1 2 *e-mail: [email protected] Resumo O ensino de fisiologia apresenta dificuldades em dois pontos importantes: 1. a fragmentação do estudo dos sistemas biológicos, que dificulta a visão da integração sistêmica e do funcionamento do organismo; e 2. a dificuldade que os estudantes apresentam para memorizar as estruturas anatômicas e suas funções. Esses dois aspectos afastam o interesse dos alunos em aprender os conteúdos de fisiologia e, neste contexto, apresentamos o Fisio card game. Este jogo consiste na formação de grupos de cartas com relação fisiológica que objetiva aumentar a visão integrada entre os sistemas biológicos e auxiliar na memorização de termos encontrados neste conteúdo. Após a elaboração, o referido jogo didático foi aplicado para estudantes do terceiro ano do ensino médio e foram respondidos questionários que indicam que o jogo pode auxiliar nos dois pontos já citados e, portanto, pode ser usado como um facilitador no processo de ensino/aprendizado por despertar interesse nos alunos. Palavras-chave: Morfofisiologia; Jogo Lúdico; Integração Sistêmica. Abstract The physiology teaching struggles in two major points: 1. the study of biological systems in fragmented pieces, making harder to build an integrated systemic and functioning view of the organism; and 2. the difficulty presented by students in memorizing anatomic structures and to match them with their functions. These two aspects decrease students’ interest in learning physiology subjects, and in this context we present the Fisio card game. This game consist in grouping cards showing physiological relationship, aiming to enhance the integrated view among biological systems, and to assist the memorization definitions related to this content. Fisio card game was field tested with senior high school students’ who answered a survey about how the game can help these two points already mentioned, being a facilitator in the teaching/learning process to engage students. Keywords: Morphophysiology; Playfulness game; Systemic integration. Fisio card game: an educational game for physiology teaching in basic education Ficha da atividade Título Fisio card game: um jogo didático para o ensino da fisiologia na educação básica. Público alvo Alunos do terceiro ano do ensino médio. Disciplinas relacionadas Ciências, Biologia e Educação Física. Objetivos educacionais Estimular o discente a relacionar de forma integrada a estrutura e o funcionamento dos sistemas do corpo humano ajudando-o na fixação de nomes necessários para o entendimento do conteúdo e para ter uma visão integradora sobre os sistemas fisiológicos. Justificativa de uso Em geral, os alunos do ensino médio apresentam dificuldades para visualizar os processos fisiológicos de modo integrado. Diante do exposto, elaboramos um jogo didático que tem por objetivo estimular os discentes a pensar em sistemas fisiológicos e integração por meio da competitividade. Conteúdos trabalhados Sistema Endócrino, Sistema Sensorial, Sistema Nervoso, Sistema Reprodutor, Sistema Renal, Sistema Respiratório, Sistema Digestório e Sistema Circulatório. Estimativa de duração 25 minutos Materiais utilizados Folhas de papel A4 para impressão das cartas, tinta para impressão colorida, papel casca-de-ovo/cartão para base das cartas, cola branca e tesoura. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.614 21/06/2016 100 Fisio card game: an educational game for physiology teaching in basic education 1 Introdução O ensino de fisiologia na educação básica costuma ser dividido em sistemas biológicos com o objetivo de facilitar sua aprendizagem, contudo, tal escolha pode ter o efeito contrário, pois essa abordagem distorce a integração do organismo levando o aluno a pensar nos processos funcionais de maneira fragmentada, o que gera dificuldades para a sua compreensão [1]. Além disso, a dificuldade na memorização de estruturas anatômicas afeta diretamente o ensino da fisiologia, pois, sem este conhecimento, o aluno não consegue compreender o funcionamento dos sistemas. De fato, o ensino de Ciências tem por objetivo estimular a construção de um aprendizado significativo que supere apenas a memorização de nomes, regras e leis, porém, para que isso ocorra é fundamental que o estudante identifique no mínimo a nomenclatura utilizada na disciplina [2]. Além disso, devem ser desenvolvidas competências e habilidades definidas pelo MEC, tais como: Compreender interações entre organismos e ambiente, em particular aquelas relacionadas à saúde humana, relacionando conhecimentos científicos, aspectos culturais e características individuais; Identificar padrões em fenômenos e processos vitais dos organismos, como manutenção do equilíbrio interno, defesa, relações com o ambiente, sexualidade, entre outros; e Interpretar modelos e experimentos para explicar fenômenos ou processos biológicos em qualquer nível de organização dos sistemas biológicos [3]. Barbão e Oliveira [4] mostraram que alunos de ensino médio de escolas públicas apresentam dificuldade de conceituação e/ou compreensão dos termos da Biologia. No entanto, para que se compreenda a fisiologia é de suma importância o conhecimento sobre o nome e localização de estruturas e órgãos relacionados, o que permitirá a visão integrada do funcionamento do organismo. A motivação do aluno também tem um papel fundamental na aprendizagem significativa, pois esta requer que o agente se interesse pelo assunto. A motivação pode ser entendida como o que inicia e move as ações de um indivíduo [5, 6]. Atualmente, existem muitas inovações tecnológicas como animações, jogos digitais, cartas ou de perguntas e respostas além de técnicas como a dramatização ou outras dinâmicas de grupo que visam estimular a aprendizagem dos alunos. Os recursos didáticos motivadores, como os jogos didáticos, são ferramentas fundamentais para a aquisição de conhecimento e a adoção de tais inovações na prática docente deve ser considerada quando se tem por objetivo a apropriação de conhecimento por parte do discente [7, 8]. Os jogos didáticos se mostram uma estratégia com grande potencial para a http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.614 21/06/2016 101 Fisio card game: an educational game for physiology teaching in basic education facilitação do processo ensino/aprendizagem, uma vez que podem estimular o interesse dos alunos [9, 10]. Cunha [11] afirma que jogos didáticos são produzidos para determinadas aprendizagens e diferenciam-se de outros materiais pedagógicos por envolverem o aspecto lúdico, sendo utilizados como alternativa para a aprendizagem de conteúdos de difícil compreensão [12]. Vários objetivos podem ser considerados durante a utilização dos jogos didáticos, tais como: o desenvolvimento da inteligência e da personalidade, que são fundamentais para a construção de conhecimentos; o desenvolvimento da sensibilidade, que atua no sentido de estreitar laços de amizade e afetividade; a socialização; o envolvimento da ação e do desafio e a mobilização da curiosidade e a criatividade [13]. Além disso, as atividades lúdicas permitem trabalhar a ansiedade, testar os próprios limites, aumentar a segurança e a autoestima, o desenvolvimento da autonomia, o aprimoramento da coordenação motora, o aumento da concentração e da atenção e estimular a ampliação do raciocínio lógico, de estratégias e da criatividade [13, 14]. Diante do exposto, os jogos lúdicos instigam o aluno a aprender de forma interativa e dinâmica, favorecendo a construção do processo de aprendizagem a partir da associação de conhecimentos prévios com o cotidiano. Neste contexto, o professor apresenta papel fundamental como condutor, estimulador e avaliador da aprendizagem [15, 16]. De acordo com Campos e colaboradores [12], o jogo lúdico possibilita a aproximação dos alunos ao conhecimento científico, pois os leva a uma vivência, ainda que virtual, de problemas ou conceitos abstratos ou de difícil associação com a realidade dos estudantes. Considerando que os conceitos sobre os sistemas e suas funções são abordados de maneira dissociada durante o ensino médio, o uso de jogos para a compreensão e fixação de conteúdos de fisiologia se mostra uma alternativa válida e de fácil execução. Assim, elaboramos um jogo didático que tem por objetivo esclarecer e tornar mais evidente os conceitos estruturais básicos de forma a proporcionar ao aluno uma visão integrada da fisiologia. 2 Material e Métodos 2.1 Elaboração do jogo O Fisio card game foi elaborado durante a disciplina Prática como Componente Curricular em Fisiologia Humana ministrada para o curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal do Amazonas. Durante a elaboração do referido jogo http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.614 21/06/2016 102 Fisio card game: an educational game for physiology teaching in basic education foi possível verificar as diferenças entre os assuntos abordados na educação básica e os conteúdos ministrados na graduação. Assim, o exercício de avaliar os livros didáticos de ensino médio e a experiência prática na conversão do conteúdo de fisiologia para um jogo lúdico foi muito proveitosa, pois evidenciou a relação direta e a importância da participação do aluno e do professor no processo de ensino e aprendizagem. Além disso, todo o processo de teorização do jogo até a confecção das cartas, sua aplicação em sala de aula e análise de resultados demonstraram a necessidade de buscar alternativas metodológicas que estimulem a problematização e a contextualização para o ensino de conceitos básicos e que contribuam para a construção do conhecimento. 2.2 Confecção e recursos utilizados O jogo Fisio card game é constituído por 56 cartas divididas em oito categorias: sistema nervoso, sensorial, respiratório, circulatório, endócrino, digestório, renal e reprodutor, tendo ainda oito cartas adicionais de hormônios e três cartas coringas. Cada sistema possui seis cartas com estruturas e termos relacionados ao mesmo (Apêndice A), apresenta-se na Tabela 1 as cartas pertencentes aos seus respectivos sistemas. Tabela 1. Identificação das cartas que representam cada sistema. Sistema Nervoso Sensorial Respiratório Circulatório Endócrino Digestório Renal Reprodutor Hormônios Coringas Cartas encéfalo, impulso nervoso, reflexo e neurônio visão, boca, receptores sensoriais, narinas, audição e tato oxigênio, pulmões, alvéolos, faringe, laringe e músculos respiratórios veias, capilares, sangue, linfa, pressão sanguínea e coração hipotálamo, tireóide, suprarrenais, paratireóides e hipófise pâncreas, intestino, absorção, fígado, esôfago e dentes rins, água, uréia, bexiga, glomérulo e filtração ovário, útero, testículos, ovulação, puberdade e amamentação hormônio antidiurético, insulina, glucagon, ocitocina, adrenalina, gonadotropinas, prolactina e calcitonina equilíbrio, entropia e regulação O baralho foi elaborado a partir da impressão colorida das cartas em papel A4, no tamanho de 4,5 cm X 7,0 cm e apresenta uma imagem com o nome da estrutura ou uma imagem representativa ao termo fisiológico que a nomeia e o título da carta em destaque. As cartas foram cortadas e coladas em papel casca de ovo, para maior resistência e, em seguida, plastificadas. Uma alternativa é utilizar o papel cartão colorido como base para as cartas. No total foram confeccionados seis baralhos para aplicação do jogo em sala de aula para 33 alunos do terceiro ano do ensino médio. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.614 21/06/2016 103 Fisio card game: an educational game for physiology teaching in basic education 2.3 Modo de Jogar e Regras O objetivo do jogo é formar uma trinca de cartas relacionadas entre si, isto é, são consideradas trincas válidas as que são formadas por componentes de um mesmo sistema fisiológico (ex. sistema nervoso: encéfalo, impulso nervoso e neurônio). Outra opção é a formação de trincas de integração direta entre os sistemas, chamadas de trincas integradoras. Neste caso, o aluno deve explicar por que as cartas formam uma integração direta – ex. sangue, adrenalina e O2 formam uma integração em um processo fisiológico, uma vez que quando liberada no sangue a adrenalina aumenta a frequência respiratória e a disponibilidade de O2 para o metabolismo celular. Para isso, os jogadores podem formar trincas a) com a carta trunfo; b) com a carta guia; e c) com as cartas presentes em suas mãos. Podem jogar de três a cinco pessoas. Os participantes deverão sentar-se em forma de círculo e as cartas que compõem o jogo deverão ser embaralhadas. Cada jogador receberá cinco cartas viradas com a face que contém a informação voltada para baixo, de modo que os demais participantes não leiam seus conteúdos. O restante do baralho deve ser empilhado, com as cartas viradas para baixo, e disposto no centro do círculo, formando um monte de compra que esteja ao alcance de todos os jogadores quando estes precisarem. As cartas descartadas deverão ser dispostas viradas para cima na mesa, ao lado do monte de compra, para que sejam compradas pelos outros jogadores. O primeiro participante a jogar será aquele que embaralhou e distribuiu as cartas e o jogo seguirá em sentido horário. Ele deverá virar a primeira carta do monte de compras – essa é a carta trunfo, que não poderá ser alterada e poderá ser utilizada por todos os jogadores para formar trincas, caso tenham duas cartas que sejam relacionadas com a carta trunfo. O mesmo jogador escolherá dentre as cinco cartas da sua mão a carta guia, e deverá colocá-la virada para cima na mesa. A carta guia permanecerá na mesa até algum jogador formar uma trinca com ela. O jogador que pegar a carta guia para formar uma trinca, deverá escolher outra carta guia dentre as cartas da sua mão. O participante encerrará sua jogada quando comprar uma carta do monte de compras. Os jogadores poderão ter no mínimo três e no máximo cinco cartas na sua mão, devendo descartar as cartas excedentes no monte de descarte. As cartas referentes aos conceitos de ‘Equilíbrio, ‘Regulação’ e ‘Entropia’ são chamadas de coringas visto que podem ser utilizadas para completar qualquer trinca. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.614 21/06/2016 104 Fisio card game: an educational game for physiology teaching in basic education A carta de cima do monte de descarte poderá ser comprada somente pelo jogador à esquerda daquele que realizou o descarte e assim em diante. O jogador que escolher fazer isso poderá continuar sua jogada, ou seja, poderá colocar trincas na mesa, caso seja possível. Sua jogada se encerrará no momento em que comprar uma carta do monte de compras. O jogo finaliza após cinco rodadas. O jogador que tiver colocado mais trincas na mesa vence o jogo. No caso de empate, ganhará aquele que tiver feito trincas que sejam constituídas por cartas de mais de um sistema, ou seja, trincas integradoras. 2.4 Aplicação do jogo Com o objetivo de avaliar a importância da aplicação de novas estratégias de ensino para Ciências e Biologia na educação básica e de tornar o conhecimento científico mais concreto para o discente, o jogo Fisio card game foi aplicado para 33 alunos do terceiro ano do ensino médio (Figura 1). De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio – Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias [16], a diversificação dos processos vitais e as diferentes estratégias fisiológicas utilizadas para resolver as necessidades básicas dos seres vivos são conteúdos abordados no segundo ano do ensino médio, portanto, os alunos avaliados deveriam ter conhecimento prévio do assunto aplicado. Figura 1. Aplicação do jogo didático para alunos do terceiro ano do ensino médio. Para verificar os conhecimentos prévios dos discentes foi aplicado um questionário preliminar com cinco questões objetivas e de fácil compreensão, abordando conceitos gerais sobre os sistemas fisiológicos (Apêndice B). Após a aplicação do questionário preliminar, os alunos foram divididos em grupos para testar o jogo Fisio card game. Antes das partidas, as regras foram explicadas e os grupos foram monitorados http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.614 21/06/2016 105 Fisio card game: an educational game for physiology teaching in basic education para o auxílio e esclarecimento de possíveis dúvidas. Em seguida, foi aplicado um questionário de compreensão composto por cinco questões objetivas e que teve como objetivo avaliar se o jogo auxiliou na revisão dos conteúdos de fisiologia e se houve maior compreensão da associação existente entre os sistemas biológicos (Apêndice C). 3 Resultados e Discussão O foco do jogo proposto é a revisão e a associação dos conceitos relativos aos sistemas fisiológicos, pois trabalha diretamente com os componentes do corpo humano e suas respectivas funções. Além disso, o Fisio card game objetiva uma perspectiva integrativa do funcionamento do organismo, por meio da formação de relações entre as cartas que representam componentes de um mesmo sistema fisiológico (trincas válidas) e/ou pela formação de trincas de integração direta entre os sistemas (trincas integradoras). O questionário preliminar revelou a dificuldade dos alunos para rememorar assuntos do corpo humano abordados no segundo ano do ensino médio. Isso pode ser evidenciado, pois a maioria das respostas informadas pelos alunos foi incorreta, o que indica falta de conhecimento prévio e provável dificuldade durante a participação no jogo (Figura 2). Figura 2. Porcentagem de erros e acertos das respostas apresentadas pelos alunos nos questionários preliminar e de compreensão. No início do jogo os alunos ficaram confusos devido a quantidade de regras, contudo conforme jogavam, as regras ficaram mais claras com a prática, o que incentivou a continuidade do desenvolvimento das atividades. Todos os grupos conseguiram http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.614 21/06/2016 106 Fisio card game: an educational game for physiology teaching in basic education terminar pelo menos uma rodada do jogo, que corresponde à formação de no mínimo uma trinca válida. Os aplicadores atuaram como mediadores durante a realização das partidas e, neste momento, os conhecimentos dos alunos foram testados para estabelecer as associações de cartas com os sistemas as quais estão relacionadas. Após o término das partidas, os alunos responderam ao questionário de compreensão que apresentou maior nível de dificuldade em relação ao questionário preliminar. Foi observado um bom desempenho dos alunos, considerando a maior porcentagem de acertos nas questões conceituais (Figura 2). Assim, esses resultados indicam que o jogo auxiliou na compreensão e fixação dos conteúdos de fisiologia. Isto também está claramente relacionado com a intervenção dos aplicadores ao explicar os componentes nas cartas, pois o conhecimento da anatomia humana é essencial para o entendimento da fisiologia em geral. O uso das cartas se mostrou uma boa alternativa para ilustrar a integração entre as estruturas o que é fundamental para desconstruir a perspectiva fragmentada do funcionamento do organismo. Comparando o desempenho nos dois questionários (Figura 2), observamos que os alunos obtiveram uma melhora nas respostas com a execução do jogo, colaborando com a compreensão da integração fisiológica dos sistemas e com a recordação de assuntos abordados anteriormente. Percebemos a falta de motivação que os alunos apresentam para responder as questões de modo mais elaborado e completo, o que torna evidente a necessidade de contextualizar os conteúdos abordados e, consequentemente, estimular o envolvimento dos alunos. De fato, Orlando e colaboradores [17] relatam que o rendimento dos estudantes vai além das expectativas quando se trabalha com a turma de forma interativa e participativa, contextualizando sempre que possível. Além das questões sobre conhecimentos de fisiologia, foram feitas perguntas sobre a opinião dos alunos em relação ao Fisio card game. Na Figura 3 é possível verificar a opinião dos alunos sobre o aspecto lúdico proporcionado pelo jogo. Além disso, 43% dos alunos informou que o jogo contribuiu para a maior compreensão da fisiologia humana, pois ajudou a lembrar os conceitos que já sabiam e/ou esclareceu dúvidas. Os principais aspectos positivos foram a dinâmica apresentada pelo jogo, que estimulou a competitividade dos alunos e os divertiu, além do próprio aprendizado em si. Esses resultados estão de acordo com outros estudos que evidenciam o uso de modelos tridimensionais, ilustrações e jogos como responsáveis pela melhora na capacidade de adquirir e guardar informações em comparação com métodos de ensino tradicionais [18, 19]. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.614 21/06/2016 107 Fisio card game: an educational game for physiology teaching in basic education Além disso, jogos didáticos permitem a desconstrução de concepções prévias e a compreensão do tema em foco, atuando como um facilitador do processo de ensino aprendizagem [9, 14, 20]. Os aspectos negativos ressaltados foram a grande quantidade de regras, a falta de conhecimento e de experiência dos alunos em relação ao jogo. Figura 3. Porcentagem de repostas dos alunos em relação ao aspecto lúdico do jogo. Como um resultado adicional, podemos refletir sobre os métodos de ensino utilizados na educação que são restritos a um modelo onde os alunos apenas decoram os conteúdos sem ter a percepção total do contexto. No caso dos processos fisiológicos é necessário que sejam adotados métodos que os tornem mais concretos para a compreensão dos educandos. Vasconcellos [21] discute a importância da construção, pelo educador, de outra concepção de educação, ressaltando a necessidade de se ter clareza sobre os limites e problemas de metodologias expositivas, como o baixo nível de interação sujeito-objeto, de conhecimento e a contribuição na formação de um sujeito passivo e não crítico. Assim, considera-se que além de construir o conhecimento é necessário mobilizar o sujeito para o conhecimento e estimular a sua elaboração e síntese [21]. Moratori [22] também afirma que o processo de criação está diretamente relacionado à imaginação e a estrutura da atividade com jogos permite o surgimento de situações imaginárias, encaixando-se perfeitamente na situação descrita neste trabalho. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.614 21/06/2016 108 Fisio card game: an educational game for physiology teaching in basic education 4 Considerações finais Este é um jogo elaborado com materiais de baixo custo e de fácil acesso para os professores. Suas regras são baseadas em jogos de baralho comuns como pif paf e poker, o que desperta o interesse dos alunos. Durante a execução do jogo em sala de aula, observamos seu uso como uma estratégia motivadora e como instrumento de rememoração e fixação de conteúdo, ou ainda de construção de conhecimentos baseados nas experiências prévias apresentadas pelos alunos. Além de despertar a competitividade sadia, os princípios da independência e a associação de conhecimento e o raciocínio rápido que são necessários para que o discente possa formar uma trinca ou fazer uma jogada rápida. Os resultados obtidos mostraram que é necessária a criação de um roteiro ou normas impressas para melhor compreensão das regras. Apesar da dificuldade inicial com alguns nomes de estrutura, o jogo os ajudou a relembrar o conteúdo de fisiologia e fazer associações entre os componentes de diferentes sistemas, mostrando que conseguiram relacionar pelo menos de forma superficial a integração entre os diferentes sistemas em um organismo. Espera-se que o Fisio card game contribua para a revisão de conceitos morfofisiológicos básicos que, por sua vez, podem auxiliar na visão de um organismo integrado e não fragmentado em sistemas não relacionados. De modo geral, o referido jogo apresentou resultados positivos sobre sua aplicação, mostrando que seus objetivos foram cumpridos de modo satisfatório e que pode ser utilizado como material didático de apoio para a disciplina de Biologia . Desse modo, o jogo ainda pode ser ajustado de acordo com as habilidades cognitivas dos alunos com o qual for trabalhado e conforme as necessidades e experiências dos educadores. Referências [1] Vanzela EC, Balbo SL, Justina LAD. A integração dos sistemas fisiológicos e sua compreensão por alunos do nível médio. Arq Mudi 2007; 11(3): 12-9. [2] Merçon F. Os objetivos das ciências naturais no ensino médio. Revista Eletrônica do Vestibular. [periódicos na internet]. 2015. acesso em 15 de Outubro de 2015]. Disponível em: http://www.revista.vestibular.uerj.br/artigo/artigo.php?seq_artigo=38 [3] Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Matriz d e r e f e r ê n c i a p a r a o E N E M . 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Ao Henrique de Souza Oliveira que nos auxiliou na criação do jogo durante a disciplina de Prática de Componente Curricular em Fisiologia. À Magda Rabelo de Souza e ao Emerson Luis Carneiro Merkel que nos ajudaram durante o aperfeiçoamento das regras do jogo. Também agradecemos as estudantes Vêronica Yasmin da Rocha Alecrim, Victória da Silva Mesquita e Wendell Marcelo. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.614 21/06/2016 111 Fisio card game: an educational game for physiology teaching in basic education Apêndice A. Cartas do Fisio card game. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.614 21/06/2016 112 Fisio card game: an educational game for physiology teaching in basic education http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.614 21/06/2016 113 Fisio card game: an educational game for physiology teaching in basic education OXIGÊNIO http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.614 21/06/2016 114 Fisio card game: an educational game for physiology teaching in basic education http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.614 21/06/2016 115 Fisio card game: an educational game for physiology teaching in basic education http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.614 21/06/2016 116 Fisio card game: an educational game for physiology teaching in basic education http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.614 21/06/2016 117 Fisio card game: an educational game for physiology teaching in basic education HORMÔNIO ANTIDIURÉTICO http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.614 21/06/2016 118 Fisio card game: an educational game for physiology teaching in basic education Apêndice B. Questionário Preliminar – Fisiologia Para que este estudo seja válido, é importante que você responda cada questão de maneira cuidadosa e sincera. Todas as suas respostas serão CONFIDENCIAIS, sendo o preenchimento deste questionário ANÔNIMO. Lembramos que sua participação é de extrema importância para a realização deste estudo. 1) Quais são os sistemas que possuem função regulatória: (a) Sistema Nervoso e Sistema Renal (b) Sistema Nervoso e Sistema Circulatório (c) Sistema Endócrino e Sistema Nervoso (d) Sistema Respiratório e Sistema Nervoso. 2) Qual a unidade funcional do sistema respiratório? (a) Alvéolos (b) Dentes (c) Néfrons (d) Neurônios 3) A linfa é componente de qual sistema do corpo humano: (a) Sistema Renal (b) Sistema Circulatório (c) Sistema Endócrino (d) Sistema Respiratório 4) A integração entre todos os sistemas proporciona a __________ que permite a vida nos seres humanos. (a) Frequência Cardíaca (b) Entropia (c) Homeostase (d) Pressão 5) Qual sistema é responsável pelo transporte de nutrientes e outras substâncias pelo organismo. (a) Sistema Renal (b) Sistema Circulatório (d) Sistema Respiratório (c) Sistema Endócrino http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.614 21/06/2016 119 Fisio card game: an educational game for physiology teaching in basic education Apêndice C. Questionários de compreensão – Fisiologia. Para que este estudo seja válido, é importante que você responda cada questão de maneira cuidadosa e sincera. Todas as suas respostas serão CONFIDENCIAIS, sendo o preenchimento deste questionário ANÔNIMO. Lembramos que sua participação é de extrema importância para a realização deste estudo. 1)- Complete as sentenças com a alternativa correta: (a) O ___________ é um orgão muito importante para o sistema ___________, pois controla todos os outros sistemas, o ____________ é a célula responsável pela transmissão do ________________. (__) cérebro, nervoso, neurônio, impulso nervoso. (__) coração, nervoso, complexo de Golgi, estimulo cardíaco. (__) pulmão, endócrino, hepatócito, impulso nervoso. (__) coração, endócrino, hormônio, estimulo hormonal. (b) A digestão inicia com a digestão mecânica através dos ________ para passar pelo ________ que é um órgão tubular por onde o alimento passa e dá acesso a órgãos como o estômago e o ________ onde ocorre a ________ com a ajuda de substâncias produzidas por órgãos como _________ e __________. (__) alvéolos, esôfago, estômago, intestino e reto. (__) dentes, estômago, intestino, circulação, pâncreas, pulmão. (__) dentes, esôfago, intestino, absorção, pâncreas, fígado. (__) alvéolos, estômago, esôfago, fígado e rins. (c) O _____ é um dos componentes mais essenciais para a vida na Terra, os humanos o conseguem por meio da contração de um________ que tem o papel de “puxar” o ar para dentro dos ________ através da ________, tudo isso para que o ar chegue a unidade funcional do sistema respiratório, os ________ onde este será absorvido pelos capilares. (__) O2, músculo, pulmões, traquéia e néfrons (__) CO2, músculo, pulmões, traquéia e alvéolos (__)O2, músculo, pulmões, traquéia e alvéolos (__) CO2, músculos, alvéolos, traquéia e pulmões (d) O sistema circulatório tem a função de transporte de_______ que é bombeado pelo _________ e conduzido por meio de vasos como, por exemplo, as _______ que retornam o sangue para o coração e os _________ que levam sangue ate nossos tecidos, a velocidade com que esse sangue é transportado irá depender da ________, no entanto não é apenas sangue que o sistema circulatório leva, ele também é encarregado de fazer o transporte da __________ que é o líquido que sobra do sangue depois que o corpo o utilizou. (__) sangue, coração, veias, capilares, pressão e linfa (__) sangue, pressão, linfa, coração, veias e capilares (__) sangue, coração, veias, capilares, pressão e H2O (__) H20, coração, veias, capilares, pressão e sangue (e) Durante a ___________ nosso corpo sofre mudanças, em conseqüência da ação de hormônios, que são produzidos por órgão como _________ e ___________ (onde ocorre a maturação dos óvulos, conhecida por __________). Nos homens, essas mudanças ocorrem pela produção de testosterona nos ___________. (__) puberdade, ovário, útero, ovulação, testículos (__) puberdade, ovulação, ovário, útero, testículos (__) puberdade, testículos, útero, ovário, ovulação (__) ovulação, ovário, útero, testículos, puberdade 2)- Em sua opinião o jogo foi divertido? 3)- De que maneira o jogo auxiliou a compreender um pouco mais sobre a fisiologia humana? 4)- Quais os pontos positivos e negativos do jogo? 5)- Você gostaria de ter jogado após as aulas de fisiologia? http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.614 21/06/2016 120 V. 14, N.1 / 2016 Submitted in: 13/11/2015 Published in: 30/06/2016 Educational Innovations Observación del efecto reductor de N-Acetilcisteína en el metabolismo de levaduras Observing reducing effect of N-acetylcysteine in the metabolism of yeast Sebastián Chapela1,2, María Milagros Romo Manzini2, Hilda Burgos2, Manuel Alonso2,3 y Carlos Stella2. 1 3 Hospital Británico Buenos Aires, 2Instituto de Investigaciones Biomédicas (INBIOMED) Facultad de Medicina, Ciclo Básico Común, Universidad de Buenos Aires. Argentina. *e-mail: [email protected] Resumen La investigación se centra en el diseño de didácticas experimentales utilizando materiales de fácil adquisición y métodos sencillos de poner en práctica. Se plantea como modelo de estudio el uso de la levadura de panadería Saccharomyces cerevisiae, ya que presenta muchas de las vías metabólicas estudiadas en células superiores. En este trabajo se propuso desarrollar un ensayo que permita observar macroscópicamente la capacidad de la NAcetilcisteína (NAC) de estimular el poder reductor de la levadura utilizando el cambio de coloración del indicador Azul de Metileno (AM). Palavras-chave: Estrés oxidativo; levaduras N-acetilcisteína; educación médica. Abstract The research focuses on the design of experimental teaching using readily available materials and simple methods to implement. It arises as an example for learning, using baker's yeast Saccharomyces cerevisiae, because it has many of the metabolic pathways existing in mammalian cells. In this paper it was developed an essay that allow students to observe macroscopically the capacity of N- Acetyl cysteine (NAC) to stimulate the reducing power of yeast using indicator Methylene Blue (MB) color change. Keywords: Yeast; oxidative stress; N-Acetyl cysteine; medical education. Observación del efecto reductor de N-Acetilcisteína en el metabolismo de levaduras Ficha de la actividad Título Observación del efecto reductor de N-Acetilcisteína en el metabolismo de levaduras Objetivo educacional Alumnos de las carreras de Ciencias Médicas y Biológicas Disciplinas relacionadas Bioquímica, Biología. Objetivos educacionales Capacidad de relacionar el metabolismo con la observación macroscópica de una célula. Entender el cambio de color del indicador Azul de metileno como consecuencia del estado oxido reducción de coenzimas. Justificación de El sistema modelo de levaduras es inofensivo, práctico y accesible para el manejo uso estudiantil. Contenidos trabajados Estrés oxidativo y especies reactivas de oxígeno (ROS) Duración estimada 7-10 días Materiales utilizados Levadura de panadería, glucosa, extracto de levadura, suplemento de aminoácidos y vitaminas, olla a presión, azul de metileno, esferas de vidrio, placas de Petri, filtro para esterilización, tubos de centrífuga clínica, tubos de ensayo y pipetas automáticas. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.571 30/06/2016 122 Observación del efecto reductor de N-Acetilcisteína en el metabolismo de levaduras 1 Introducción El estrés oxidativo en un hecho común en el mundo biológico en general y lleva a efectos tóxicos dentro de la célula. En la práctica médica hay muchas enfermedades que progresan acompañadas de este estrés; tal es el caso de shock severo y séptico [1], embarazos patológicos [2] y daños por isquemia reperfusión [3,4]. Esta situación se produce por un desbalance entre la producción de especies reactivas de oxígeno (ROS) y la capacidad celular de lidiar con estas especies. Diversos mecanismos bioquímicos, moléculas y drogas son responsables de proteger a la célula frente al estrés oxidativo. Entre los mecanismo más comunes tenemos las reacciones de detoxificación de la superóxido dismutasa (SOD), Glutatión peroxidasa (GSH-peroxidasa) y catalasa [5]. Para las drogas, entre otras, se han considerado el uso de beta-caroteno y Vitamina E [6]. En general, estos temas son enseñados a nivel teórico en cursos universitarios de Biología Celular o Bioquímica. Sin embargo, consideramos que sería provechoso para los estudiantes abordar en forma experimental el aprendizaje de este tema utilizando el sistema modelo levadura [7,8]. Nos planteamos, por tanto, el desarrollo de un ensayo que se pueda realizar fácilmente en una clase de trabajos prácticos o a modo de mostración. El ensayo permite observar macroscópicamente [9] las propiedades de una molécula antioxidante como la N-Acetilcisteína [10,11] para establecer un medio intracelular reductor, usando como indicador la coloración del Azul de Metileno [12] (AM). 2 Materiales y métodos 2.1 Células En todos los ensayos se utilizaron levaduras de panadería (Levex®). Estos microorganismos son inocuos y pueden manipularse por alumnos inexpertos. Se extrajo una pequeña porción del paquete, se colocó en 10 ml de agua destilada estéril y se sembró en medio sólido para aislar colonias. Estas colonias son la fuente de inoculo de todos los experimentos, ya que aseguran la ausencia de contaminación [13,14] . 2.2 Medio de Cultivo Se utilizó medio YPD, (Extracto de Levadura 1 %, Peptona 1 %, Glucosa 2 % p/v) y agar 2 % p/v. Todos los componentes de este medio son de Difco pero pueden ser http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.571 30/06/2016 123 Observación del efecto reductor de N-Acetilcisteína en el metabolismo de levaduras reemplazados por otros de menor costo como azúcar de mesa, 2% p/v; caldo de carne filtrado 10 % p/v, levadura de cerveza en polvo, suplementos nutricionales de aminoácidos, etc [13,14]. El agar puede ser reemplazado por el ofrecido en comercios de productos dietéticos utilizando la misma concentración. 2.3 Reactivos La N-Acetilcisteína (NAC) de uso humano se obtuvo de los comprimidos Acemuk 600 del laboratorio IVESTI. Los comprimidos son de uso oral con acción mucolítica de las vías respiratorias. La solución madre se obtuvo disolviendo un comprimido conteniendo 600 mg de NAC en 40 ml de agua destilada. La solución se esterilizó por filtración. 450 µl o 900 µl de esta solución se usaron para suplementar 13 ml de top agar conteniendo 200 µl de una solución 0,1 % de Azul de Metileno (AM) 2.4 Top agar Se preparó con agar (Difco) al 1 % en agua, se esterilizó y antes de verter sobre el cultivo se dejó entibiar. 2.5 Inoculación de placas Placas de medio sólido YPD se inocularon con células de levadura con la técnica de inoculación con esfera de vidrio [13]. Básicamente se agrega a la placa una alícuota de 100-200 µl de una suspensión diluida de levaduras y la siembra se completa haciendo recorrer la esfera por la superficie de la placa. Las colonias se cubren con Top agar con/sin el suplemento de AM. Al cabo de 7-10 días a 30 ºC o temperatura ambiente puede observarse la diferente coloración de las colonias. 2.6 Esterilización El medio de cultivo y todos los elementos utilizados para manipular las células fueron esterilizados por calor húmedo en una olla a presión durante 30 min. 2.7 Procedimientos didácticos La clase está organizada en dos partes. En la primera parte el docente explica el fundamento del trabajo y se procede a sembrar las placas. Puede ser individual o en http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.571 30/06/2016 124 Observación del efecto reductor de N-Acetilcisteína en el metabolismo de levaduras grupos, dependiendo del número de alumnos. El docente puede disponer de tubos adicionales con top agar para que los alumnos practiquen la cobertura que sigue a la siembra. Puede aprovecharse el momento para que los alumnos deliberen sobre temas como esterilidad, nutrientes, dilución de células y difusión del oxígeno. Sería interesante que cada alumno redactara en su cuaderno cuáles son sus expectativas respecto del resultado a obtener luego de incubar las placas. En la segunda parte el docente recapitula el ensayo y los alumnos recibirán las placas sembradas y con crecimiento celular. Se discutirá sobre la base de relacionar la observación macroscópica con el metabolismo de la célula. El docente debe aclarar que se ha usado un sistema modelo en particular, pero que pueden usarse otros sistemas. No es un “trabajo práctico de levaduras” sino de metabolismo y estrés oxidativo. 3 Resultados y discusión Nuestro abordaje experimental, utilizando y estudiando procesos biológicos en células vivas, complementa las formas tradicionales de enseñanza que, en muchos casos, resultan demasiado abstractas y por tanto, de difícil comprensión. El ensayo permite que los alumnos predigan y comprueben fácilmente los resultados de un experimento dentro de un contexto de enseñanza particular. De esta forma, se consigue una mayor aproximación a la relación entre la teoría y el concepto biológico que se pretende enseñar. Este instrumento didáctico les muestra a los estudiantes evidencias macroscópicas de aspectos microscópicos de los temas propuestos. Alumnos del tercer año de la carrera de Ciencias Médicas inocularon placas con una suspensión de células y la dispersaron con una esfera de vidrio estéril. Debido a que el top agar contiene 1 % de agar, su distribución no ofreció inconvenientes. Los eventuales problemas pueden derivarse de la cubrir con el top agar en forma incompleta la superficie sembrada de la placa. Este inconveniente se evita disponiendo de algunos tubos de reserva para que el alumno practique previamente el volcado del top agar. En todos los ensayos se observó crecimiento de colonias. Es importante que el docente elija levaduras de panadería de uso habitual. De esta manera se asegura que las levaduras crezcan luego de ser inoculadas por los alumnos. No hemos observado contaminación en las placas y es aconsejable realizar todas las http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.571 30/06/2016 125 Observación del efecto reductor de N-Acetilcisteína en el metabolismo de levaduras operaciones en un ambiente libre de corrientes de aire. Diversos mecanismos bioquímicos son responsables de moderar el estrés oxidativo dentro de una célula. Sin embargo el amplio uso o “polisemia social” de la palabra estrés hace que su significado se diluya a la hora de enfocar el tema de las especies reactivas de oxígeno (ROS). A través de este simple ensayo el alumno puede “ver” que un color, en este caso el azul representa una situación de estrés y la falta de color a una situación de balance redox dentro de la célula. La Figura 1 presenta los resultados obtenidos. A B C Figura 1. (A) Células con top agar control (B) top agar con 450 µl de solución de NAC y (C) top agar con 900 µl de solución de NAC. La reacción para el colorante se puede resumir: AM + 2 H+ + 2 e (oxidado/azul) AMH 2 (reducido/incoloro) En la placa A las colonias presentan una coloración azul mientras que el agregado de NAC en el top agar (B, C) cambia el color de azul a incoloro indicando un cambio en el estado de oxidación del colorante. El metabolismo de la célula ha reaccionado con el AM en forma análoga a la reacción con la coenzima oxidada NAD + cuando se genera NADH + H+. Si bien el AM ha sido utilizado en otros protocolos de enseñanza, en dichos ensayos se hace hincapié en su acción como cofactor de la enzima succinato deshidrogenasa [15]. En el caso de Anuradh G. y col. han diseñado un dispositivo con el colorante y la levadura para obtener energía eléctrica [16]. Nuestro trabajo extiende el uso del colorante para captar el cambio de estado redox de la célula. El docente debe hacer hincapié en que el color responde a una situación metabólica y podría haberse usado otro colorante de diferente coloración. Esto lo http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.571 30/06/2016 126 Observación del efecto reductor de N-Acetilcisteína en el metabolismo de levaduras mencionamos sobre la base de nuestra experiencia con estudiantes de medicina al usar kits de glucosa. Los estudiantes a veces asocian el color rosado con la molécula de glucosa sin considerar que la coloración simplemente pone de manifiesto una situación metabólica independientemente del colorante usado. Podrá aprovecharse la clase para mencionar las aplicaciones clínicas de técnicas que involucran al AM. En la terapia fotodinámica [17] células conteniendo AM son irradiadas con luz roja (600-650 nm) exacerbando la capacidad del colorante de producir ROS en las células en que se concentró. Usualmente, este contenido se trata en las clases en algún hueco entre distintos temas y eso hace que al alumno no comprenda que la producción de ROS sobreviene continuamente de la misma forma que la célula mantiene una homeostasis de combustibles como la glucosa. Esta didáctica experimental resulta apropiada para trabajar con alumnos inexpertos sin correr riesgos, dada la inocuidad de estas levaduras. Al mismo tiempo, presenta resultados muy claros para su observación macroscópica e interpretación directa sin necesidad de contar con elementos costosos o de difícil manipulación. 3.1 Impacto en la enseñanza En ensayos previos hemos notado que el mayor impacto es en la motivación. Durante el ensayo los alumnos hacen más preguntas que en las clases teóricas. Su papel es más activo. Preguntan por la esterilización, nutrientes, el uso de guantes y en pocos casos se olvidan de traer su delantal de laboratorio. El alumno al ver las placas con crecimiento suele decir “¡guau, esto lo hice yo!”. Esta motivación facilita la tarea del docente para construir conocimiento. A partir del ensayo el docente puede hilvanar otros temas ya vistos durante el curso. Por ejemplo se puede discutir el papel de cada nutriente en el crecimiento celular. El medio de cultivo tiene fuentes de nitrógeno, carbono, vitaminas e iones que pueden relacionarse con las vías metabólicas a estudiarse en el curso (glucólisis, ciclo de los ácidos tricarboxílicos, etc) Otro impacto es que el alumno “ve” la relación entre su observación personal y lo que el docente le mostró sobre un pizarrón. Se podrá discutir la importancia de los experimentos en Bioquímica para deducir conclusiones sobre el funcionamiento celular. http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.571 30/06/2016 127 Observación del efecto reductor de N-Acetilcisteína en el metabolismo de levaduras 4 Consideraciones finales Se exhibe un ensayo con el sistema modelo de levaduras, que representa una célula eucariota capaz de crecer en forma individual. El colorante AM difunde al interior de la célula y su cambio de color permite visualizar el estado de óxido reducción de la célula y el efecto de la droga N-Acetilcisteína. El ensayo es simple y permite discutir el crecimiento de una célula y el efecto de una droga sobre el metabolismo. Si bien existen videos o animaciones sobre el metabolismo celular, nada reemplaza el ensayo concreto sobre la mesada de un laboratorio. Durante la realización de un ensayo experimental surgen consultas o problemas que no pueden contemplarse con otras herramientas para la enseñanza. Este protocolo puede articularse junto a otras herramientas sin que su preparación altere o demande grandes cambios dentro de la organización de la enseñanza. Referencias [1] Martins PS, Kallas EG, Neto MC, Dalboni MA, Blecher S, Salomão R. Upregulation of reactive oxygen species generation and phagocytosis, and increased apoptosis in human neutrophils during severe sepsis and septic shock. Shock 2003;20:208–212. [2] Hung TH, Skepper JN, Burton GJ. In vitro ischemia-reperfusion injury in term human placenta as a model for oxidative stress in pathological pregnancies. Am J Pathol 2001;159:1031-1043. [3] Wischmeyer PE, Vanden Hoek TL, Li C, Shao Z, Ren H, Riehm J, Becker LB. Glutamine preserves cardiomyocyte viability and enhances recovery of contractile function after ischemia-reperfusion injury. JPEN J Parenter Enteral Nutr 2003;27:116-122. [4] Lièvre V, Becuwe P, Bianchi A, Koziel V, Franck P, Schroeder H, Nabet P, Dauça M, Daval JL. 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It is presented in this paper the educational software protVirt, which could be used as a pedagogical innovation in the method of practical classes involving dosage of proteins, focusing on the development of skills for understanding the activities. The software was developed in Adobe Flash, with the possibility of online or offline use. Despite the possibilities of using protVirt in various modalities of education, highlights the use in online courses, in which students develop, commonly, the practical class without the teacher centers, accompanied by monitors and tutors. Keywords: classroom practice; protein measure; educational software. Resumo As aulas práticas no ensino de Bioquímica podem trazer grandes contribuições para o processo de ensinoaprendizagem, sendo que a compreensão destas pelos estudantes dependem, geralmente, de conceitos prévios sobre o experimento e procedimentos realizados. Apresenta-se neste trabalho o software educacional protVirt, o qual pode ser utilizado como uma inovação pedagógica no método de aulas práticas envolvendo dosagem de proteínas, com foco no desenvolvimento de habilidades para compreensão das atividades. Desenvolveu-se o software no Adobe Flash, com possibilidade de uso online ou offline. Apesar das possibilidades de uso do protVirt em diversas modalidades de ensino, destaca-se o uso em cursos a distância, nos quais os estudantes desenvolvem, comumente, as atividades nos polos sem o professor, acompanhados de monitores e tutores. Palavras-chave: Aula prática; dosagem de proteínas; software educacional. Educational innovations: protVirt: protein dosage simulation by spectrometry assisting Biochemistry practical class Ficha da atividade Título protVirt – dosagem virtual de proteína Público-alvo Estudantes de disciplinas de bioquímica ou área que utilizem a metodologia de quantificação de proteínas por meio de espectrofotômetro. Disciplinas relacionadsa Bioquímica, Química. Objetivos educacionais Compreender os princípios das reações e métodos envolvidos na dosagem colorimétrica de proteínas, a partir da reação de biureto e dosagem em espectrofotômetro. Justificativa de uso Dificuldade dos estudantes durante a execução das aulas práticas envolvendo o uso do espectrofotômetro, tanto no uso do equipamento, quanto nos conteúdos relacionados e análise dos dados obtidos. Conteúdos trabalhados Reação de biureto, dosagem de proteínas, espectrofotômetro. Duração estimada 20 minutos. Materiais utilizados Computador. Link http://www.bdc.ib.unicamp.br/bdc/visualizarMaterial.php?idMaterial=1342 05/07/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.641 131 Educational innovations: protVirt: protein dosage simulation by spectrometry assisting Biochemistry practical class 1 Introdução Aulas práticas são recursos extremamente úteis para um ensino de Ciências de qualidade. No ensino superior, principalmente nos cursos de bacharelado das carreiras científicas, como o caso da Biologia, é fundamental proporcionar aos estudantes a oportunidade de planejar, realizar e interpretar experimentos, bem como redigir textos científicos, na forma de relatórios e artigos, que apresentem e discutam os dados obtidos, com embasamento na literatura científica. O processo de planejar experimentos a partir de problemas propostos, definição de experimentos a realizar, execução de experimentos planejados, apresentação de dados, discussão de resultados envolve processos cognitivos altamente complexos e difíceis de serem explorados em aulas expositivas tradicionais. Mesmo com o alto potencial para o exercício de atividades em processos cognitivos mais elevados, incluindo as inter-relações entres diferentes conteúdos e técnicas e construção e produção de conhecimento Muitas vezes as aulas práticas são reduzidas ao desenvolvimento de habilidades motoras, onde se dá uma grande importância na instrumentação, onde o objetivo passa a ser obter resultados precisos e repetitivos a partir de protocolos pré-estabelecidos, sem a participação dos estudantes. Muitas vezes nem as razões pelas quais um determinado experimento é proposto em uma aula prática é explicitado. Além disso, geralmente, focase no momento presencial na instrumentação e não na resolução do problema. A problemática no desenvolvimento das aulas práticas se complexifica com os cursos a distância, nos quais as práticas são acompanhadas pelos tutores e posteriormente discutidas com os professores e o aluno necessita de maior suporte para compreensão das atividades desenvolvidas. Nesse âmbito, o uso de softwares educacionais relacionados às aulas práticas, previamente ou posteriormente ao seu desenvolvimento, poderia potencializar o desenvolvimento desta, possibilitando ao professor explorar de modo mais aprofundando os conhecimentos abordados, ou mesmo simular novos problemas usando de simulações que possibilitam experimentos que necessitariam de grande tempo para sua execução. Para este trabalho se optou pela temática de dosagem de proteínas, para construção do software dada a importância destas para a Bioquímica, assim como do método de espectrometria, que possuí ampla utilização em diversos procedimentos. 05/07/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.641 132 Educational innovations: protVirt: protein dosage simulation by spectrometry assisting Biochemistry practical class 1.1 Software no ensino de bioquímica A Biologia, área de atuação deste projeto, e os conteúdos que ela envolve, como estruturas e processos, são complexos por natureza e difíceis de serem ensinados e aprendidos [1, 2]. A exploração de recursos visuais no ensino de Biologia é muito usado, e portanto é comum encontrar modelos, tanto macro como microscópicos, para facilitar a compreensão desses conteúdos [3, 4, 5, 6]. Neste contexto, torna-se cada vez mais proeminente o número de professores utilizando uma grande diversidade de softwares para o ensino de Bioquímica, devido principalmente essas necessidades de visualização de eventos complexos [7]. Estes softwares estão sendo utilizados como suplemento na graduação nos currículos de Bioquímica. A utilização do computador pode ser parte integrante do processo de ensino aprendizagem, permitindo a “manipulação” de conceitos e estratégias de usos destes conceitos na resolução de problemas ou projetos. Existem diversos tipos de recursos computacionais sendo utilizados no ensino de Bioquímica, entre eles softwares de visualização de moléculas (Rasmol 1) bi ou tridimensionalmente, animações de reações, apresentações de slides, laboratórios virtuais, softwares educacionais, sites, simulações e ferramentas de Bioinformática. Estes softwares não possuem apenas o intuito de facilitar o desenvolvimento das aulas pelos professores, mas de ajudar os estudantes na compreensão dos mecanismos Bioquímicos, muito mais que meramente memorizá-los [7]. O s softwares educacionais possuem um grande potencial, podendo substituir diversos métodos convencionais de ensino, mas isto dependerá de como esta tecnologia será utilizada [8], ou seja, da proposta didática desenvolvida pelo professor. Alguns tipos de materiais, como laboratórios virtuais com simulações permitem que o aluno desenvolva um grande número de experimentações em um curto período de tempo, entretanto, não há muitos softwares de simulações na área da Bioquímica [8]. Estas simulações devem atentar para não se criar uma realidade paralela que exista apenas nas telas dos computadores e jamais poderá ser extrapolada à vivência dos alunos. Além disto, são ferramentas auxiliares para entendimento e relacionados aos conteúdos apresentados nas aulas expositivas e livros-textos. A utilização de simulações tem grande vantagem sobre figuras convencionais, ou mesmo animações, quando se trata de promover a compreensão de fenômenos 1 Rasmol – http://www.openrasmol.org 05/07/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.641 133 Educational innovations: protVirt: protein dosage simulation by spectrometry assisting Biochemistry practical class essencialmente dinâmicos. Aparentemente, os recursos computacionais permitem a exploração de novas estratégias de ensino, quando observadas as estratégias utilizadas na implementação efetiva de simulações na prática pedagógica, observando-se diferentes formas de uso (ênfase na escrita, ensaio e erro, sessão teórica com exercícios, projetos de pesquisa etc). Observa-se que há uma tendência a incorporação do uso de simulações dentro de um contexto mais amplo, como complementação de aulas ou mesmo integrado a diversos projetos e pesquisa [9]. Um dos contextos em que os recursos computacionais podem ser implementados é em aulas práticas de Bioquímica, podendo contribuir para a compreensão dos experimentos (conceitos teóricos e técnicas). 2 protVirt O software protVirt – Dosagem de proteínas [10] (Figura 1) foi desenvolvido a partir da demanda dos estudantes da disciplina de Bioquímica, do curso a distância de licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG), utilizando-se o software Adobe Flash®. Além dessa demanda, os cursos presenciais também fazem uso do protVirt, integrando atividades virtuais com as aulas práticas. Figura 1. Tela de abertura do softwares Educacional protVirt. 05/07/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.641 134 Educational innovations: protVirt: protein dosage simulation by spectrometry assisting Biochemistry practical class O aplicativo está disponível para download na Biblioteca Digital de Ciências2, o que possibilita a inclusão de seu link em qualquer Ambiente Virtual de Aprendizagem, assim com ser incorporado em páginas, fóruns e atividades, pelo fato de ser um arquivo do Flash (SWF). Os alunos desse curso desenvolvem práticas utilizando espectrometria para dosagem de proteínas, nos Polos de apoio presencial, acompanhados pelos tutores presenciais e/ ou a distância. Os tutores atendem os alunos em diversas disciplinas (podendo ser de áreas distintas) e nem todos possuem a familiarização com as práticas de Bioquímica, assim, torna-se importante uma boa preparação prévia dos alunos e uma posterior discussão. Buscando-se uma ferramenta complementar para as aulas práticas, desenvolveuse o software protVirt, apresentando cinco seções: Ligação peptídica (1); Reação do Biureto (2); Espectrofotômetro (3); Dosagem de proteínas (4); Bibliografia (5). As seções do software possuem distintos tipos de interação (leitura, reações animadas, itens destacados com o mouse, vídeo e animação interativa. A primeira seção apresenta uma síntese sobre a ligação peptídica (Figura 2), possibilitando a visualização esquemática desta ligação e detalhes sobre um aminoácido. Figura 2. Tela da seção Ligação peptídica. Apresenta-se na segunda seção (Figura 3) a reação de Biureto, presente em um dos métodos de análise colorimétrica para quantificação de proteínas utilizando-se o 2 http://www.bdc.ib.unicamp.br/bdc/visualizarMaterial.php?idMaterial=1342 05/07/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.641 135 Educational innovations: protVirt: protein dosage simulation by spectrometry assisting Biochemistry practical class espectrofotômetro. Exibem-se informações adicionais ao passar o mouse sobre os textos em vermelhos e sobre o tubo de ensaio. Figura 2. Tela da seção Reação do Biureto. Na seção 4 – Espectrofotômetro (Figura 4), apresentam-se as informações básicas sobre o espectrofotômetro e os princípios físicos envolvidos. Nessa seção, pode-se interagir com o espectrofotômetro por meio do mouse. Figura 4. Tela da seção Espectrofotômetro. 05/07/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.641 136 Educational innovations: protVirt: protein dosage simulation by spectrometry assisting Biochemistry practical class A seção Dosagem de proteína (Figura 5) é a mais interativa, sendo importante o estudante ter acessado as demais seções anteriormente ou ter compreendido os conhecimentos abordados nelas. Figura 5. Tela da seção Dosagem de proteína. O experimento para dosar a proteína é realizado passo a passo com o estudante, iniciando com a preparação dos tubos (10 tubos, sendo 8 com amostras com quantidades de proteínas conhecidas e dois desconhecidos) e com as reações, seguido da quantificação no espectrofotômetro (inserção de uma cubeta por vez no aparelho e mensuração). Por último, solicita-se que o estudante faça a regressão linear a partir dos dados das amostras conhecidas, para se calcular a quantidade de proteína presente nos tubos 9 e 10 (amostras desconhecidas). A regressão deverá ser feita em software específico (ex. Calc – Libreoffice; MS Excell, etc), similarmente ao que ele faria com os dados de um experimento real. Ressalta-se que a imagem do aparelho utilizado é baseada em um aparelho real, similar ao encontrado em muitos laboratórios de aulas páticas de Bioquímica, com necessidade do estudante ligar o aparelho, inserir o comprimento de onda de leitura e depois realizar as leituras de absorbância. Para tanto, o estudante clica no teclado para se ampliar o mesmo (Figura 6) e poder operar o equipamento. 05/07/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.641 137 Educational innovations: protVirt: protein dosage simulation by spectrometry assisting Biochemistry practical class Figura 5. Tela do teclado do espectrofotômetro visualizada pelo usuário quando clicado no aparelho. Destaca-se que, na animação interativa, cada cubeta é identificada dentro do aparelho, correlacionando a cor com a absorbância. Além disso, o aparelho indica alguns possíveis erros, como quando tenta-se fazer a leitura com o compartimento de cubetas aberto ou mesmo vazio. Outro ponto de destaque na animação interativa corresponde as setas de avanças e retornar. Com isso o estudante executa a atividade no tempo dele, podendo avançar para a próxima etapa ou refazer a anterior, de acordo com as necessidades próprias. 2.1 Avaliação do software Para garantir a aplicabilidade educacional do software, o mesmo foi testado por cinco avaliadores, usando o método de avaliação de usabilidade por método de inspeção (avaliação de eurística), conforme descrito por Nielsen [11], sendo que, para tal aplicação, um pequeno número de avaliadores (4 a 5) resulta em resultados significativos. Destaca-se que o aplicativo possui tamanho reduzido, com cerca de 4,5mb, e formato flash (swf), o que resulta na rapidez do download e na possibilidade de seu uso em multiplataformas (Windows, IOS e Linux), apenas com a necessidade do plugin Flash e demandando baixo processamento para sua execução. Apresenta-se na Tabela 1 os principais resultados da avaliação, sendo que cada item possuía uma escala de concordância, baseada na escala de Likert [12], entretanto, como uma escala numérica (1 a 5) para posterior quantificação. Observou-se uma média relativamente alta (4,72), o que garante, de certa forma, sua inserção em propostas educacionais, sem que estas sejam prejudicadas por 05/07/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.641 138 Educational innovations: protVirt: protein dosage simulation by spectrometry assisting Biochemistry practical class problemas de usabilidade que resultariam no mal aproveitamento do software e na desmotivação de seu uso pelos professores e estudantes. Tabela 1. Principais resultados da avaliação de usabilidade do protVirt (n=5). Qualidade técnica da mídia Média Desvio padrão Facilidade de instalação/inicialização 4,80 0,37 Facilidade de uso 4,51 0,54 Facilidade de navegação 4,63 0,38 Confiabilidade (apresenta falhas com frequência) 4,94 0,13 Recuperação no caso de falhas 4,69 0,28 Qualidade das imagens estáticas 4,42 0,49 Qualidade visual 4,61 0,50 Organização da tela 4,94 0,32 Uso individualizado (sem professor) 4,94 0,57 Total 4,72 0,40 Os dados acima corroboram com os comentários dos usuários na própria postagem do material na Biblioteca Digital de Ciências, assim como pelo número de downloads realizados até junho de 2016 (4.219), além dos usuários que usaram o software online. 3 Estratégias de utilização O protVirt pode ser caracterizado, segundo Valente [13], no âmbito dos softwares educacionais, como uma simulação, uma vez que envolve um modelo dinâmico e simplificado de uma prática laboratorial, permitindo ao estudante testar e analisar os resultados obtidos. O fato de ser uma simulação educacional não restringe sua forma ou proposta de utilização, podendo ser incluso em uma proposta motivadora, indutiva, instrumental ou investigativa, relacionado ou não com atividades presenciais no laboratório. Dessa forma, pensando em uma proposta motivadora e/ou indutiva, entendendo este último como a determinação de um caminho específico para a aprendizagem de um conhecimento específico, pode-se propor seu uso integrado à disciplina de Bioquímica, durante a abordagem dos métodos de quantificação de proteínas. Neste caso, após abordar rapidamente esta prática em sala de aula, sugere-se seu uso em sala de informática ou em casa, solicitando aos estudantes o relatório da prática virtual (relatório opcional) e a indicação dos valores das massas de proteínas nas amostras desconhecidas 9 e 10. 05/07/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.641 139 Educational innovations: protVirt: protein dosage simulation by spectrometry assisting Biochemistry practical class A proposta acima pode ganhar também um caráter instrumental, quando se relaciona seu uso (posterior) com uma atividade prática em laboratório. Dessa forma, ao chegar no laboratório, o estudante desenvolveu conhecimentos sobre o método e sobre o uso do equipamento (espectrofotômetro) em si, permitindo um aprofundamento em sala de aula e um melhor desemprenho durante a atividade, que poderá iniciar com uma investigação proposta pelos estudantes, uma vez que conhecem previamente o método relacionado. 4 Impacto no ensino-aprendizagem Tendo em vista as diversas possibilidades de uso do protVirt, tem-se a potencialização dos impactos no processo de ensino-aprendizagem, principalmente quando relaciona-se o uso do software com a atividade prática presencial. Mesmo sem a prática presencial, tem-se diversos cursos que não desenvolvem a prática de dosagem de proteínas e possuem a oportunidade de simular esta em ambiente virtual, possibilitando a aprendizagem deste método. A avaliação da importância do protVirt para a aprendizagem de Bioquímica, segundo a experiência de estudantes de Ciências Biológicas, modalidade EAD(n=26), que usaram o software anteriormente à atividade no Polo, indicou que 70% dos estudantes consideraram muito importante e 30 % importante seu uso, principalmente pelo fato de ter preparado eles para a prática que desenvolveram no polo e poderem chegar com dúvidas mais profundas sobre os conteúdos durante a realização da prática. O mesmo pode ser observado quando de sua utilização com alunos de cursos presenciais de Biomedicina (n=32). Estes também indicaram que o aplicativo auxiliou muito (92%) na compreensão da prática e dos conhecimentos envolvidos, facilitando a realização da atividade prática em laboratório (94%), até mesmo pelo fato do aparelho da simulação ser o mesmo usado durante as atividades. 5 Considerações finais O uso de simulações tem grande potencial no ensino-aprendizagem de Bioquímica, principalmente quando permite que os alunos interajam com o modelo e possibilite conexões com as atividades presenciais. No caso das atividades práticas, uma das dificuldades é instrumental (saber usar os equipamentos) e outra inclui os conhecimentos envolvidos no uso do equipamento em 05/07/2016 http://dx.doi.org/10.16923/reb.v14i1.641 140 Educational innovations: protVirt: protein dosage simulation by spectrometry assisting Biochemistry practical class um protocolo experimental. Nesse sentido, o protVirt traz elementos para ambas questões, podendo ser usado como método de ensino prévio as atividades presenciais, possibilitando uma maior exploração das aulas práticas, tendo em vista os conhecimentos prévios construídos pelos estudantes a partir do uso do software. Referências [1] Barack J, Sheva B, Gorodetsky M. As “process” as it can get: students' understanding of biological processes. International journal of Science Education 1999; 21:1281-1292 .[2] Buckley BC. Interactive Multimedia and model-based learning in biology. International Journal of Science Education 2000; 22:895-935. [3] Mikropoulos TA, Katsikis A, Nikolou E, Tsakalis P. Virtual Environments in Biology teaching. J Biol Educ 2003; 37(4):176-181. [4] Shim KC, Park JC, Kim HS, Kim JH, Park YC, Ryu H (2003) Application of virtual reality technology in biology education. J BIOL EDUC 2003; 37(2):71-74 [5] Baggot LM, Wright B. PhotoCD in biology education. Am Bio Teacher 1999; 58(7):390-395. 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