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16 Rumos Cruzados AÇORIANO ORIENTAL QUINTA-FEIRA, 13 DE DEZEMBRO DE 2012 COORDENAÇÃO PAULO MENDES | TEXTOS JOSEFINA CRUZ | www.aipa-azores.com Nota de Abertura Diferentes “janelas” “O mundo pode ser visto, percecionado e vivido através de muitas janelas. A nossa janela é uma entre muitas”. A frase é absolutamente banal mas aplica-se perfeitamente ao tema da última edição deste ano do “Rumos Cruzados” que, por imperativo da época, é dedicada ao Natal. Partimos de uma outra janela: partilhamos com o leitor outras celebrações religiosas que assumem diversos contornos, aparentemente, diferentes dos católicos. Referimos aparentemente porque, apesar da divergência de calendário, existe uma dimensão comum entre as diferentes comemorações (o mais importante) que é a solidariedade, o amor perante o próximo e a união familiar. Para além de uma breve descrição histórica sobre essas diferentes celebrações, completamos essa partilha de outras “janelas” com testemunhos de 8 imigrantes residentes na Região, provenientes da China, Austrália, Polónia, Bangladesh, Nigéria, Bélgica, Sérvia e Espanha. O assumir que o mundo pode e deve ser percecionado a partir de várias janelas assume, de igual modo, a vantagem de nos ajudar a relativizar o nosso contexto e as nossas verdades; sem tentarmos hierarquizar, já que a tentação de dizer que a minha “ janela” é melhor do que a do “outro” compromete qualquer tentativa de diálogo e de um relacionamento positivo com outras culturas. À medida que avançamos nessa diversidade, vamos apercebendo que, no essencial, somos todos os iguais. Partilhamos as mesmas expectativas, os mesmos receios e as mesmas esperanças. Queremos ter saúde para nós e para os nossos para que possamos concretizar as nossas ambições; queremos que o amor possa nos acompanhar no nosso quotidiano; queremos um mundo bem melhor, onde cada um de nós, com a sua janela, com a sua forma de ver, interpretar e viver o mundo possa ser feliz. No limite é isso que interessa, sendo que as supostas diferenças são um pormenor nessa imensidão de convergência que existe entre todos nós, seres humanos. Que a felicidade seja uma constante nas nossas vidas. Comemorações religiosas que coexistem nos Açores PAULO JORGE Se para os católicos a quadra natalícia simboliza a reunião da família, a árvore de Natal e a casa enfeitada, um presépio, uma ceia abundante e a troca de presentes entre os familiares e amigos próximos, para muitas comunidades que praticam outras religiões, esta data nada significa. Em Portugal e nos Açores, em particular, existem hoje comunidades imigrantes que não comemoram o Natal, não obstante de celebrarem outra outras datas que, também, assumem uma grande importância para as suas religiões. Nesta edição do “Rumos Cruzados” queremos dar conhecer algumas festas de diversas comunidades religiosas, cujo significado é o mesmo do Natal para os cristãos. O “DIWALI” na religião Hindu O “Diwali” é uma festa indiana que dura cinco dias e cuja data varia com as fases da lua. Sendo uma das festas mais importantes para esta religião, é uma época em que todos os Hindus se juntam com a sua família, o Diwali também se denomina “Festa das Luzes”, já que todas as casas são iluminadas, simbolizando o Conhecimento. Na índia, o “Diwali” é celebrado em várias regiões de formas diferentes. No Norte festeja-se o regresso a casa de “Rama” depois do exílio. Mais a Oeste é homenageada a deusa da prosperidade, “Lakshmi”. Independentemente de todas as lendas, nesta ocasião celebra-se a vitória do Bem sobre o Mal, a união das famílias e a Esperança no Futuro. Para se acolher estes deuses, as pessoas acendem várias lamparinas de barro chamadas diye, ilu- aconteceu quando recuperaram o Templo de Jerusalém e a sua consagração, há mais de 2000 anos. Como em muitas outras festas, também nesta as famílias se reúnem, comem juntas, acendem velas, rezam e trocam presentes. A festa dos judeus tem início todo o dia 25 do mês judeu chamado “Kislev”. Este corresponde ao dia 22 dezembro do calendário cristão. Na Região residem imigrantes de diferentes nacionalidades e religiões minando as casas, os edifícios públicos e os escritórios. As casas são enfeitadas e as famílias reúnem-se, dizem orações, festejam e na segunda noite lançam foguetes para afastarem o mal. Preparam-se doces e outros alimentos que simbolizam a fertilidade e a prosperidade. “EID AL-FITR” na religião muçulmana O calendário muçulmano é lunar, sendo que cada novo mês começa com a nova lua. Esta festa celebra o fim do “Ramadan” (o nono mês lunar), durante o qual os muçulmanos não comem nem bebe entre o nascer e o pôr-do-sol. No Eid al-Fitr, que em árabe significa ‘quebra do jejum’, agradece-se a Alá a sua ajuda durante o jejum. É uma festa de alegria, que dura três dias, e em que se vai à mesquita rezar, fazem-se grandes almoços de família e trocam-se presentes. “HANNUKAH” uma festa da religião judaica Os judeus não creem que Jesus é o Messias e, por isso, não celebram o Natal como o nascimento de Jesus. No entanto, comemoram uma festa religiosa designada “Hannukah”. O Hanukkah dura oito dias e é representado por um candelabro de nove braços, usado pelos Judeus para celebrarem o milagre que Tenha um Natal diferente Realização de inquéritos Na ilha de São Miguel, a AIPA e a CRESAÇOR irão realizar uma festa de Natal no dia 21 de dezembro, pelas 19h30 horas, no salão paroquial de São José. Esta será uma festa natalícia que abrangerá tradições de diversas culturas. Os interessados deverão inscrever a sua família, através dos seguintes contactos: 296286365/ [email protected]. Queres fazer parte de um estudo sobre as migrações? Procuramos voluntários que tenham disponibilidade para a realização de inquéritos na ilha de São Miguel. Os interessados deverão enviar um e-mail com os seus dados (nome e contactos) para [email protected] ou através do telefone 296286365. Festa de Natal na ilha terceira A AIPA realizará, na ilha Terceira, um jantar de Natal, no dia 15 de dezembro, pelas 19h30 horas, no restaurante “Africana”. Os interessados deverão inscrever-se: 295213139 / [email protected] Ano Novo Chinês na religião budista Para o Budismo a Lua Cheia e a Lua Nova são os marcos realmente importantes, em que têm lugar as celebrações de recolhimento e oração. É a maior de todas as festividades budistas chinesas e uma das mais coloridas do mundo. É uma festa familiar dedicada aos deuses e aos antepassados em que as pessoas vão aos templos pedindo proteção e favores para o novo ano lunar que começa, aproveitando também para consultar os adivinhos que preveem o futuro. Para as famílias é também uma altura de festejar e de visitar familiares e amigos. Esta festa realiza-se entre 21 de Janeiro e 20 de Fevereiro de cada ano, dura 15 dias e marca o início do novo ano. Como pudemos ver, nem todas as religiões celebram o Natal como nós celebramos. E até mesmo entre cristãos existem várias diferenças de celebração. O mais importante é respeitarmos todos os tipos de culturas, religiões e crenças. Com 44 Ideias Simples para promover a Tolerância e celebrar a Diversidade, do Alto comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural - ACIDI - Maio de 2007. Dia Internacional dos Migrantes No próximo dia 18 de dezembro comemora-se o Dia Internacional dos Migrantes. Este pretende chamar a atenção para a necessidade de garantir que todos os migrantes gozem dos direitos e liberdades fundamentais. Rumos Cruzados 17 AÇORIANO ORIENTAL QUINTA-FEIRA, 13 DE DEZEMBRO DE 2012 AIPA O Natal na “voz” de imigrantes Todos os elementos natalícios têm significados especiais: a árvore representa a vida, as bolas penduradas no pinheiro natalino substituem as frutas, que simbolizavam todo gesto concreto de fraternidade que se fazia no advento do Natal, e o presépio é uma representação artística do nascimento de Jesus. KHALEDA RUBI ANOS BANGLADESH “Em Bangladesh, os muçulmanos não comemoram o Natal. Temos outras celebrações como o Eid. Nesta época fazemos o jejum e depois há a festa que dura dias, em que toda a família se junta e visita-se a casa uns dos outros. Nestes dias, os homens vão para o campo rezar e as mulheres ficam em casa a cozinhar e a porem-se bonitas para a festa.” BABATUNDE HAMMED ANOS NIGÉRIA “O Natal e o ano novo são uma época famosa e celebrada também na Nigéria. Durante este período, os nigerianos que moram longe de casa voltam para passar o natal com a família. De acordo com o costume, prendas são trocadas, as ruas e casas são decoradas. Durante a noite, as praias são utilizadas para se fazer a festa com músicos, danças e canções populares. É comemorado em grande estilo!” A Lapónia é considerada o lugar onde a cultura do Natal é a mais forte do mundo. Como o país é muito frio, algumas famílias, na noite de Natal, antes da ceia, costumam fazer saunas para se aquecerem CHRYS CHRYSTELLO ANOS AUSTRÁLIA TAMARA BILBIJA ANOS SÉRVIA O Natal na Sérvia é uma celebração que dura quatro dias. A preparação começa dias antes de de janeiro. O dono da casa traz folhas secas com nome de badnjak que mais tarde queima, simbolizando o ano de sucesso. Uma das nossas tradições na mesa é um bolo-pão de soda, que tem uma moeda oculta no interior. A tradição diz que quem encontrar a moeda vai ter um feliz ano. Na Rússia, durante o regime comunista, as árvores de Natal foram banidas para serem substituídas por árvores de Ano Novo. Segundo a tradição do país, a ceia deve ter mel, grãos e frutas, mas sem a degustação de carnes MIROSLAWA MORAIS ANOS POLÓNIA “Nos Açores mantenho uma das tradições polacas de que gosto muito, o Natal. Neste dia, antes do jantar em família fazemos uma pausa, partimos uma hóstia (que a minha família manda da Polónia) e partilhamos os pedaços dela entre os familiares, desejando felicidades.” KATHLEEN LEROY ANOS BÉLGICA “Na Bélgica, o Natal é uma oportunidade para todas as famílias se encontrarem e partilharem o peru de natal. Depois do jantar, algumas famílias vão assistir à Missa do Galo. As casas são decoradas com a árvore e as prendas são colocadas debaixo dela. Os belgas gostam de se divertir nos mercados de Natal e saborear licores ou vinho quente à volta de lareiras.” “Saudades do Natal com areias brancas e calor em Bondi Beach, Sidney, a praia favorita com o seu circo de gente e ondas. Frigoríficos e comida na praia, os intermináveis almoços ao ar livre, o espaço imenso da Austrália, mais de etnias diferentes todas partilhando o sentimento único de sermos australianos qualquer que fosse a origem. Também se comia bacalhau, peru e bolo-rei, mas havia milhares de variantes por onde escolher e as prendinhas só se abriam na manhã de e não na consoada.” SHOUZHEN WU ANOS CHINA “Na China damos mais importância ao ano novo. Mas todas as igrejas fazem grandes festas e no fim quando a festa acaba as crianças vão para a porta da igreja e recebem sacos cheios de bombons. No ano novo celebramos o “Ano Chinês”, em que de 1 até 1 de janeiro há muita festa. No primeiro dia acordamos tarde, visitamos a família e recebemos envelope com dinheiro.” Na suécia, embora a tradição do Natal tenha uma grande semelhança em todo o ocidente, diferencia-se por começar em 13 de dezembro, (dia de Santa Luzia), com procissões onde se carregam tochas acesas ANNA INGLADA ANOS ESPANHA “Caganers, els galets, l’escudella… palavras que são pouco conhecidas fora de Catalunha, a minha região. Um dos mais engraçados é o Tió, que é um tronco de árvore com a barretina (chapéu típico catalão) que as crianças pegam com um bastão à noite do dia de Natal ao ritmo da canção tradicional. O Tió caga doces e rebuçados para as crianças.”