54174380-Educacao-e-Cidadania-Modulo-14
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54174380-Educacao-e-Cidadania-Modulo-14
EDUCAÇÃO E CIDADANIA UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL E 14 POR FALAR EM POESIA ... P OEMAS UM PARA CANTAR ACRÓSTICO PARA ... RECRIAÇÃO A UM DE POEMA LINGUAGEM DA POESIA CLASSIFICADO DIFERENTE DESENHANDO BRINCADEIRAS R IMAS POEMAS E RECRIAÇÃO E QUADRAS TRAVA -LÍNGUAS & P OESIA P OEMAS POESIA FALADA AO VENTO P OEMAS PARA RIR 40 EDUCAÇÃO E CIDADANIA UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL 14 ORGANIZAÇÃO CURRICULAR PARA AS UNIDADES DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA DA FEBEM/SP MÓDULO DE ATIVIDADES ESCOLARES Governador do Estado de São Paulo Geraldo Alckmin Secretário de Estado da Educação Gabriel Chalita Secretário Adjunto Paulo Alexandre Pereira Barbosa Chefe de Gabinete Mariléa Nunes Vianna Coordenadora de Estudos e Normas Pedagógicas Sonia Maria Silva Presidente da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor Marcos Antonio Monteiro Secretaria de Estado da Educação Praça da República, 53 Centro 01045-903 São Paulo SP Telefone: (11) 3218-2000 www.educacao.sp.gov.br EDUCAÇÃO E CIDADANIA UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL Autoria 14 Realização SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO Coleção Educação e Cidadania, módulo 14 Material produzido no âmbito do projeto Elaboração e Implementação de Proposta Pedagógica para Adolescentes em Situação de Conflito com a Lei, desenvolvido pelo CENPEC para a FEBEM/SP – Fundação para o Bem-Estar do Menor do Estado de São Paulo e SEE/SP - Secretaria de Estado da Educação CENPEC - CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EDUCAÇÃO, CULTURA E AÇÃO COMUNITÁRIA R. Dante Carraro 68 Pinheiros 05422-060 São Paulo SP http://www.cenpec.org.br Diretora presidente Maria Alice Setubal Coordenação geral Maria do Carmo Brant de Carvalho Coordenação do Projeto (Equipe Currículo & Escola) Maria Silvia Bonini Tararam (Coord.) e-mail: [email protected] Maria José Reginato Ribeiro Marilda F. Ribeiro de Moraes Autoria do módulo Poesia América dos Anjos Costa Marinho Jorge Marinho Maria Alice Mendes de Oliveira Armelin Equipe técnica América A.C.Marinho Elizabeth Barolli Marlene C. Alexandroff Ronilde Rocha Machado Assessoria Isa Maria F. R. Guará Yara Sayão Edição de Texto Tina Amado A equipe agradece a contribuição dos educadores da FEBEM/SP, participantes dos encontros de discussão que subsidiaram a produção deste material entre outubro de 2000 e fevereiro de 2001 Edição de Arte Eva Paraguassú de Arruda Câmara José Ramos Néto Camilo de Arruda Câmara Ramos Ilustração Luiz Maia Poesia / Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária – CENPEC – São Paulo; CENPEC; FEBEM, SEE/SP; 2003. Coleção Educação e Cidadania. Módulo de oficinas culturais 14 Ilustr.; 12 fichas ISBN: 85-85786-36-1 Educação e Cidadania: proposta pedagógica 1. Educação, ponte para o mundo 2. Família e relações sociais 3. Justiça e cidadania 4. Saúde, uma questão de cidadania 5. O trabalho em nossas vidas 6. Artes visuais e cênicas 7. Conto 8.Correspondência 9. Educação ambiental: problemas globais, ações locais 10. Hora de se mexer 11. Jogos da vida 12. Jornal 13. Música e movimento 14. Poesia 15. Ponto de encontro I. Título II. CENPEC III. FEBEM CDD-370.11 São Paulo, 2003 Wagner Mendes Soares CRB-8 – 038/2002 SUMÁRIO Introdução 6 Oficina 1 E por falar em poesia... 11 Oficina 2 Poemas para cantar 12 Oficina 3 Um acróstico para... 13 Oficina 4 Recriação de poema 14 Oficina 5 A linguagem da poesia 15 Oficina 6 Um classificado diferente 16 Oficina 7 Desenhando poemas 17 Oficina 8 Brincadeiras e recriação 18 Oficina 9 Rimas e quadras 19 Oficina 10 Trava-línguas & poesia 20 Oficina 11 Poesia falada 21 Oficina 12 Poemas ao vento 22 Oficina 13 Poemas para rir 24 Referências bibliográficas 25 Fichas 27 Sugestões para o acervo da Unidade 25 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 6 INTRODUÇÃO Quem lê vai em frente, quem escreve vai também. O poeta segue contente quando dirige esse trem. Fernando Paixão A poesia, quase sempre, está presente em nossas vidas: nas canções com que as mães nos embalaram; nas falas, questionamentos e descobertas das crianças; nas cantigas de roda; nas parlendas; nos trava-línguas; nas adivinhas; nas páginas de um diário de adolescência; nas frases de amor, de dor ou de consolo que trocamos; nas músicas que ouvimos no rádio e cantarolamos sem atinar por quê... Isso acontece porque, nessas situações, as palavras têm uma força e um sentido incomuns – elas são empregadas com base em seu poder lúdico, sugestivo, emocional. Para muitos de nós – e especialmente para o poeta Carlos Drummond de Andrade –, essa poesia tão inerente à infância vai-se perdendo com o passar dos anos e muitos culpam a escola por essa perda. Acreditamos, porém, que a aproximação com a poesia pode acontecer concretamente em qualquer espaço, desde que se conviva com autores e estilos, reavivando continuamente a capacidade de olhar e ver – a essência reveladora da poesia – ver as coisas com olhos de primeira vez. Assim, o objetivo destas oficinas é a aproximação dos jovens com a linguagem poética, no sentido de se familiarizarem com a poesia, para que tenham prazer em ler e ouvir poemas e, sobretudo, para que se sintam motivados a expor suas emoções através dos recursos tão expressivos da linguagem poética. Selecionamos poemas de autores e estilos diversos; alguns se destinam apenas à leitura e apreciação pelos alunos; outros servirão também de base para atividades. Apostamos em você, professor, como mediador sensível, capaz de intensificar o contato dos alunos com a poesia, orientando-os no sentido de ler e ouvir cada poema, saboreando o ritmo, os sons, as imagens, a disposição gráfica, não apenas uma vez, mas inúmeras vezes e, a cada uma delas, buscando novas descobertas. Certamente, a observação mais atenta desses recursos trará aos jovens uma compreensão maior da linguagem poética e lhes dará condições para que ensaiem seus próprios passos em poesia. Nas atividades que se seguem, os alunos produzirão poemas, tendo como estímulo obras diversas, produzidas por autores consagrados ou por jovens como eles. É a partir deles que se desenvolvem as oficinas, cujos encaminhamentos buscam fazer com que os participantes se apropriem dos recursos e estilos apresentados. Contudo, se algum dos jovens preferir, poderá optar por criar livremente seus poemas, sem se prender às orientações dadas. Nesse caso, é importante que você respeite e valorize essa opção, pois os resultados podem ser muito interessantes. Ao final de cada oficina, não se esqueça de encaminhar a troca de poemas para leitura silenciosa e oral, motivar para um trabalho de ilustração (quando desejarem) e garantir a revisão dos textos. Quem lê ou escreve poemas lida com sentidos novos e incomuns das palavras e expressões. Por isso, em todas as atividades é importante ter alguns dicionários disponíveis para consulta. A ficha “zero” desta e de outras oficinas traz orientações para o uso do dicionário, bem como para o trabalho em grupo. Todos os textos produzidos devem ter um leitor real. Para isso, têm de ser expostos na própria sala onde acontecem as oficinas ou divulgados em mural, painel ou jornal. E, sempre que possível, reunidos em coletâneas manuscritas ou impressas (via computador) e até mesmo ilustradas, acessíveis a todos. É importante explicar isso ao grupo antes do início de cada oficina, pois essa informação pode tanto motivar a participação dos jovens quanto garantir a preservação dos textos que produzirem. Organização deste módulo Este fascículo contém orientações e sugestões de procedimento para o desenvolvimento de 13 oficinas. Cada uma é apresentada em três partes: Aquecimento, Atividade (diferentes etapas) e Fechamento. Contém também a reprodução de todas as fichas para alunos. O material do aluno participante é composto de 12 fichas numeradas conforme o número da respectiva oficina (a primeira oficina requer duas fichas; e, em dois casos, uma mesma folha traz, na frente e no verso, fichas para duas oficinas). Na verdade, são 11 fichas para as oficinas de Poesia mais a ficha “zero”, com orientações para uso do dicionário e para o trabalho em grupo, que também integra outros módulos de oficinas. Leia com eles essa ficha sempre que houver um número razoável de participantes novos, pedindo que façam as atividades aí propostas. Antes de iniciar cada oficina, estude este fascículo e as fichas dos jovens, providenciando o material necessário junto à coordenação com antecedência (um disquete para impressão das fichas, conforme o número de alunos presentes, integra este módulo). A seguir, apresentamos algumas orientações gerais para o trabalho com poemas e a produção de textos poéticos, organização de coletânea, recursos poéticos, além de sugestões para o trabalho com os não-alfabetizados. O trabalho com poemas e a produção de textos poéticos O verdadeiro conhecimento de poesia não se preocupa muito com definições ou conceitos... A poesia espera nosso envolvimento pessoal, espera que nos aproximemos dela dispostos a sentir, experimentar, vivenciar. (...) Para entender um poema é preciso deixar-se contaminar por ele, aceitar que as palavras nele empregadas tenham vários sentidos. Carlos Felipe Moisés Para entender poesia, é preciso gostar de poesia. E, para gostar de poesia, é preciso ler poesia e, talvez, escrever poesia. Quanto mais OFICINAS DE POESIA se gosta, mais se entende e quanto mais se entende, mais se gosta, sobretudo quando não se perde de vista o sentido lúdico da poesia: fazer poesia é brincar com as palavras. As oficinas aqui propostas partem do princípio de que, para gostar de poesia, é preciso convívio constante, familiaridade com o texto poético. Não se propõe mais que isso. Se, nesse convívio, os jovens perceberem de quais estratégias os poetas lançam mão para provocar em nós o impacto que a poesia provoca e, mais ainda, se conseguirem eles próprios utilizar esses recursos em seus poemas, não se pode esperar mais nada. Organização de coletânea À medida que oficinas forem ocorrendo, vá organizando os poemas produzidos pelos jovens para serem reunidos em coletâneas. É conveniente que dela façam parte não só as produções mais bem-sucedidas, mas também aquelas mais frágeis ou tímidas. Afinal, o objetivo será apresentar uma mostra dos trabalhos realizados e é importante que todos sejam contemplados. Lembre-os de que a coletânea deve conter poemas de todos os participantes, com a respectiva indicação de autoria. Cada um pode escolher, dentre seus poemas, aquele de que mais gosta. Oriente a seleção, revisão e diagramação dos textos que farão parte da coletânea. É claro que, dada a rotatividade dos alunos, alguns autores podem não mais estar presentes no momento da organização. Você irá avaliar, pelo volume de produção e número de alunos, a periodicidade da organização de coletâneas. Idealmente, pelo menos uma deve ser montada ao final de cada quinzena de trabalho nessa oficina. Discuta com o grupo presente formas de reprodução da coletânea. Os textos podem ser manuscritos ou, se dispuserem de computador para uso dos jovens, podem ser digitados e impressos. Poderão também ser ilustrados manualmente pelos autores ou por meio de um programa específico de computador. Depois de prontos, devem passar por uma última revisão, para que cheguem ao público sem erros gramaticais ou de imprensa. 7 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 8 V ALORIZE O PORTFÓLIO Independentemente das diferentes possibilidades de divulgação, cópias de todas as produções dos jovens devem ser guardadas nos seus portfólios. Parte da produção dos alunos será registrada nas próprias fichas, que vão para o portfólio. Para rascunho e anotações durante as oficinas, usarão seus cadernos, se os tiverem, ou folhas de papel avulsas – as quais também poderão ser guardadas nele. Recursos poéticos O objetivo destas oficinas é sensibilizar os meninos e meninas para a poesia, de modo que possam saboreá-las e, em suas tentativas poéticas, expressar de forma natural sentimentos e emoções. Portanto, não se propõe de maneira alguma que estudem rimas, comparação, metáfora, personificação, paralelismo ou outros recursos utilizados pelos poetas para dar maior expressividade ao poema. Contudo, como os poemas que irão ler estão repletos desses recursos, consideramos interessante exemplificar aqui alguns deles, para que você tenha elementos que lhe permitam comentá-los, caso haja necessidade em alguma das oficinas. Inicialmente vamos falar de rima rima, isto é, da combinação dos sons finais de cada verso. É um recurso da poesia tradicional, mas ainda usado por poetas modernos, que às vezes o utilizam e às vezes não. Veja um exemplo de Manuel Bandeira: Trova Atirei um limão doce Na janela do meu bem: Quando as mulheres não amam, Que sono as mulheres têm! Outro recurso pode ser observado nos dois primeiros versos do Poeminha sentimental de Mário Quintana: Poeminha sentimental O meu amor, o meu amor, Maria É como um fio telegráfico da estrada Aonde vêm pousar as andorinhas... De vez em quando chega uma E canta (Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!) Canta e vai-se embora Outra, nem isso, Mal chega, vai-se embora. A última que passou Limitou-se a fazer cocô No meu pobre fio de vida! No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo. As andorinhas é que mudam. Neles, o poeta faz uma comparação entre elementos aparentemente distantes: “O meu amor, o meu amor, Maria / É como um fio telegráfico”. Note que o autor utilizou a palavra como para criar uma relação de semelhança entre amor e fio telegráfico. Poderia ter utilizado outras palavras como parece, lembra etc. O sentido dessa comparação entre os dois elementos constrói-se e ganha lógica ao longo do poema. Passemos ao poema Família desencontrada, também de Mário Quintana. Família desencontrada O Verão é um senhor gordo, sentado na varanda, suando em bica e reclamando cerveja. O Outono é um tio solteirão que mora lá em cima no sótão e a toda hora protesta aos gritos: “Que barulho é esse na escada?!” O Inverno é o vovozinho trêmulo, com a boina enterrada até os olhos, a manta enrolada nos queixos e sempre resmungando: “Eu não gosto deste agosto, eu não gosto deste agosto...” A Primavera, em contrapartida – é ela quem salva a honra da família! –, é uma menininha pulando corda cabelos ao vento pulando e cantando debaixo da chuva curtindo o frescor da chuva que desce do céu o cheiro da terra que sobe do chão o tapa do vento na cara molhada! Oh! a alegria do vento desgrenhando as árvores revirando os pobres guarda-chuvas erguendo saias! A alegria da chuva a cantar nas vidraças sob as vaias do vento... Enquanto desafiando o vento, desafiando tudo – no meio da praça a menininha canta a alegria da vida! Note como o poeta estabelece uma relação bastante estreita entre as estações do ano e certos tipos humanos, sem contudo utilizar termos de comparação (como, parece, lembra etc.). Trata-se de um tipo de comparação mais ampla e rica, de caráter pessoal, subjetivo. Observe as seguintes metáforas metáforas: “O Verão é um senhor gordo...”, “O Outono é um tio solteirão...”, “O Inverno é o vovozinho trêmulo...”, “A Primavera (...) é uma menininha...”. Agora, leia algumas das Definições poéticas de Quintana e observe mais metáforas. Definições poéticas Modéstia: A modéstia é uma vaidade escondida atrás da porta. Recordação: A recordação é uma cadeira de balanço embalando sozinha. Amigo: Amigo é a criatura que escuta todas as nossas coisas sem aquela cara que parece estar dizendo: – E eu com isso? Reticências: As reticências são os três primeiros passos do pensamento que continua por conta própria o seu caminho. Sonho: Um poema que, ao lê-lo, nem sentirias que ele estivesse escrito, mas que fosse brotando, no mesmo instante, de teu próprio coração. Madrigal: As velhinhas bonitas são passas de uva. Mentira: A mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer. Sonhar: Sonhar é acordar-se por dentro. Hipopótamo: O hipopótamo é um bruto sapatão afogado. Gato: O gato é preguiçoso como uma segundafeira. Horror: Com seus OO de espanto, seus RR guturais, seu hirto H, HORROR é uma palavra de cabelos em pé, assustada da própria significação. Camuflagem: a esperança é um urubu pintado de verde. (Em: Sapo amarelo. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1996) OFICINAS DE POESIA Saiba que há um tipo especial de metáfora que consiste em dar aos seres inanimados características e atitudes próprias dos seres animados. Esse recurso chama-se personificação ou prosopopéia prosopopéia. Note, nas duas últimas estrofes do poema O adolescente de Quintana, as características humanas que o poeta atribui às folhas e à vida. O adolescente A vida é tão bela que chega a dar medo Não medo que paralisa e gela, estátua súbita, mas esse medo fascinante e fremente de curiosidade que faz o jovem felino seguir para frente farejando o vento ao sair, a primeira vez, da gruta. Medo que ofusca: luz! Cumplicemente, As folhas contam-te um segredo Velho como o mundo: Adolescente, olha! A vida é nova... A vida é nova e anda nua Vestida apenas com o teu desejo! (Superjovem, São Paulo [Abril], v.1, n.2, p.7, set. 1991) Outro recurso bastante usado pelos poetas é o paralelismo paralelismo, isto é, a repetição de versos ou parte de versos nas várias estrofes do poema. Observe atentamente este outro poema de Quintana: Passarinho na tarde de sábado Como se fosse o primeiro passarinho do mundo Na primeira manhã do mundo, Voa e revoa Por cima do mundo, por cima de tudo, Por cima da praça modesta Onde velhinhos sentados Fazem um pouco de sesta. Voa e revoa, inquieto. Por cima da gente que passa Apressada, Por cima das árvores Por cima da estátua eqüestre Que está no meio da praça. Esvoaça, Esvoaça Alegre! Passarinho, eu te acho uma graça... Só uma coisa te peço, passarinho de 9 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 10 minh’alma: Não me faças nenhum descuido em cima do cavalo da estátua! O trabalho com os jovens não-alfabetizados Provavelmente você terá na sala jovens com diferentes experiências em leitura e escrita; muitos sequer conhecerão as letras e o que a escrita representa. Mas isso não deve ser impedimento para sua participação nas atividades propostas nas oficinas. Ao contrário – embora saibamos que o tempo de participação desses jovens em uma oficina não é suficiente para fazer com eles um trabalho consistente de alfabetização –, é possível aproximá-los um pouco mais do mundo da escrita. Participar das atividades propostas para as diversas oficinas e módulos e entrar em contato com diferentes tipos de texto escrito permitem que o sujeito internalize as diferentes formas de organização textual e descubra o que a escrita representa e como se organiza. Quando você (ou um colega alfabetizado) lê para o aluno, ele também se torna leitor, porque atribui sentido ao texto lido. Quando você (ou um colega alfabetizado) registra as idéias do aluno não-alfabetizado em um texto coletivo, ele também é autor do texto. À medida que participa dessas atividades, vai internalizando o discurso escrito, reconhecendo letras, relacionando-as aos sons. Para que isso ocorra, algumas vezes são precisos pequenos ajustes nas propostas, mas sobretudo um trabalho muito grande de cooperação. Por exemplo, um leitor mais experiente, professor ou colega, ajuda o aprendiz a progredir na leitura e na escrita dando-lhe seu testemunho de leitura, apontando onde está lendo. Os menos experientes podem ditar o que têm a dizer para que outros escrevam, registrar como souberem (inclusive por meio de desenho) e ter uma participação oral mais ativa. O importante é que as atividades permitam a inclusão de todos e contribuam para a superação das dificuldades de cada um. Além disso, você pode: dispor materiais de leitura ao alcance de todos; ler sempre os textos para eles – não apenas os que não sabem gostam de ouvir alguém ler; preparar-se antes para a leitura, demonstrando prazer nela e, se o texto permitir, fazer suspense, desafiá-los a adivinhar o que virá depois; escrever na lousa o título do poema ou um ou mais versos; de vez em quando, pedir que reproduzam o que você tiver lido, por meio de desenho ou escrita, como souberem; comentar poemas (ou outros textos) que você tenha lido e achado interessantes; aproveitar o trabalho com os textos que permitem memorização (poesias, parlendas, adivinhas) e incentivar os alunos que ainda não lêem a fazer “leitura de memória” – sabendo o texto de cor, fazem de conta que estão lendo; procurar ler o que os alunos rabiscam ou tentam escrever, indagando o que queriam escrever e traduzindo para a escrita convencional, sem apagar o que o aluno fez (deixar as duas formas juntas); sempre que possível, fazer produção coletiva de textos: enquanto eles criam oralmente o texto, você vai escrevendo na lousa ou em papel pardo; esses textos podem ser copiados pelos alunos (ou reproduzidos por via eletrônica, se houver equipamento disponível) para que possam colá-los em folhas que vão integrar o portfólio, além de ser organizadas em forma de coletânea. Elogie todas as tentativas que fizerem. Comemore com eles cada progresso, não permita que se acomodem ou desistam. Impulsione-os sempre para vôos maiores e faça com que sintam que você está com eles. Bom trabalho! E OFICINA 1 POR FALAR EM POESIA ... Material necessário: fichas 1A e 1B; papel pardo e canetas; folhas de papel (ou cadernos) para os alunos, lápis, borracha, caneta. Aquecimento Converse com os jovens sobre poesia, procurando saber se conhecem alguns poemas, se gostam ou não de poesia e por quê. Se notar que há pouco interesse pelo tema, desafie-os argumentando que é preciso conhecer para gostar. Veja se identificam as letras de canções populares como poemas, pois este pode ser um ponto de partida para introduzir poemas mais elaborados. Se observar que já conhecem alguns poemas ou letras de música, ainda que parcialmente, peça que os registrem em papel pardo para afixá-los na sala. Proponha que declamem/cantem esses poemas. Pergunte como sabem que se trata de poemas. Deixe que expressem suas idéias, procurando observar quais elementos dessa linguagem já são percebidos por eles. Nesse momento, não importa tanto a qualidade do que vão dizer nem se está certo ou errado. O importante é que falem, manifestem livremente as impressões que têm acerca do que leram ou escreveram. Provavelmente eles serão capazes de identificar o ritmo, as rimas, o jogo de palavras, a mensagem sugestiva. Em seguida, faça você também observações sobre os poemas que apresentaram. ATIVIDADE OFICINAS DE POESIA 1a etapa Distribua as fichas 1A e 1B e convide-os a conhecer um pouco mais poesia, lendo alguns dos poemas selecionados aí reproduzidos. Proponha que, num primeiro momento, manuseiem as fichas 1A e a frente da 1B, observem os títulos dos poemas, as ilustrações, os autores. Peça que escolham um poema que mais lhes agrade. Tente saber a razão dessas escolhas. Os que quiserem podem ler em voz alta o poema preferido. Após a leitura, abra espaço para uma conversa descontraída, para que cada um possa expor o que sentiu. Procure criar na classe um clima de respeito, onde a expressão de sentimentos seja acolhida pelo grupo. Estimule os mais tímidos a se pronunciar, lançando questões e expondo, você também, seus sentimentos sobre os poemas. Esclareça que a poesia pega o leitor sobretudo pela emoção. 2a etapa Sugira que façam uma rápida leitura silenciosa do texto no alto da ficha 1B verso e leia com eles o poema de Rachel Topfstedt Duarte. Conte que Rachel é aluna de uma escola pública e compôs esse poema quando estava na 5a série. Pergunte o que o poema tem de mais característico. Provavelmente eles dirão que é o fato de todas as palavras começarem com a letra m. Se não perceberem, mostre, indicando também que essas palavras fazem parte de um mesmo universo de significação (maternidade/mãe). Proponha que façam coletivamente um exercício de composição de um poema semelhante. Para isso, deverão escolher um tema sobre o qual escreverão (por 11 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 12 exemplo, felicidade, liberdade, paz, amor etc.). Em duplas, eles registrarão em folhas de papel (durante um período de 5 minutos, por exemplo) o maior número possível de palavras ligadas ao tema escolhido e começadas com a mesma letra: a para amor, p para paz, f para felicidade etc. Esta é uma oportunidade para que os nãoalfabetizados possam identificar e memorizar uma letra do alfabeto ou mesmo a escrita de algumas palavras. Em seguida, na lousa, você registrará as palavras escolhidas por eles, discutindo com a turma quais delas têm a ver com o desenvolvimento do poema e a melhor forma de organizá-las, estabelecendo relações mais significativas ou gradações de intensidade. É possível negociar alterações até que o grupo chegue a um consenso e se dê por satisfeito. Fechamento Finalmente, o texto poderá ser registrado na ficha 1B de cada um e também em uma folha de papel pardo, afixado no mural da sala. Isso permitirá que os novos participantes das oficinas possam se inteirar do que já foi desenvolvido até então. POEMAS OFICINA 2 PARA CANTAR Material necessário: ficha 2; dicionários; aparelho de som, CD contendo a canção Lavagem cerebral de Gabriel o Pensador; papel pardo e canetas; folhas de papel (ou cadernos), lápis, borracha, caneta. Aquecimento O objetivo desta oficina é trabalhar com a poesia em sua forma mais cotidiana e mais antiga, isto é, associada à música. Por isso, convide os participantes a ler a letra de uma canção e refletir sobre ela. Distribua a ficha 2, que traz a letra de Lavagem cerebral de Gabriel o Pensador. Pergunte se conhecem essa canção ou outra desse autor. Provavelmente, já terão ouvido algo a respeito ou algumas de suas músicas – Lôra burra e Cachimbo da paz, por exemplo, fizeram bastante sucesso. Caso não se manifestem, explique que ele é um jovem compositor de rap que costuma fazer críticas bastante sérias e contundentes por meio de suas letras; e que essa composição foi lançada no seu primeiro CD, em 1993. ATIVIDADE 1a etapa Leia com eles a letra – de preferência, ouvindo-a primeiro. Em seguida, peça que procurem no dicionário o significado das três palavras que iniciam a letra da música, já que, embora tomadas freqüentemente como sinônimas, têm significações diferentes. Para auxiliá-lo, transcrevemos os verbetes do Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Discriminação. S.f. 1. Ato ou efeito de discriminar. 2. Faculdade de distinguir ou de discernir; discernimento. 3. Separação, apartação, segregação: discriminação racial. Preconceito. S.m. 1. Conceito ou opinião formados antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos; idéia preconcebida. OFICINAS DE POESIA 2. Julgamento ou opinião formada sem se levar em conta o fato que os conteste; prejuízo. 3. Superstição, crendice; prejuízo. 4. Suspeita, intolerância, ódio irracional ou aversão a outras raças, credos, religiões etc. Racismo. S.m. 1. Doutrina que sustenta a superioridade de certas raças; 2. Qualidade, sentimento ou ato do indivíduo racista. Procure mostrar que a palavra preconceito é mais abrangente do que racismo e a discriminação é decorrência de qualquer tipo de intolerância ou preconceito. Depois, questione-os sobre o que acham desse poema, incentivando-os a expor suas opiniões a respeito. Que idéia ou frase foi mais significativa para eles? Por quê? Concordam totalmente ou em parte com o autor? Por quê? Por que o autor deu esse título a sua música? Sabem o que significa lavagem cerebral? Em que situação se usa essa expressão? Aqui, nesta letra, ela tem um sentido positivo ou negativo? Deixe que manifestem suas opiniões livremente e, se houver posições contrárias, garanta o direito de expressão e de opinião de cada um, mantendo um clima de respeito. Se necessário, explique que a expressão “lavagem cerebral” é usada quando alguém procura colocar idéias na cabeça das pessoas, condicionando-as a agir sem pensar, portanto, alienando-as. No caso da letra de Gabriel, esse sentido é invertido, ganhando um caráter positivo, na medida em que cada um é responsável pela própria lavagem cerebral, isto é, por limpar a cabeça dos preconceitos que recebemos como herança cultural. Assim, a expressão deixa de ser sinônimo de alienação e passa a significar conscientização. Fechamento Proponha que relatem o que é pedido no verso da ficha e coletivamente montem um painel (em papel pardo) com frases significativas retiradas do texto, que sirvam para conscientizar as pessoas sobre o desrespeito aos direitos humanos que constituem o preconceito e a discriminação, sobre a estupidez e os perigos do racismo. Para finalizar a atividade, sugira que cantem a música. UM OFICINA 3 ACRÓSTICO PARA ... Material necessário: ficha 3; dicionários; papel pardo e canetas; folhas de papel (ou cadernos), lápis, borracha, caneta. Aquecimento Pergunte aos jovens se sabem o que é um acróstico, se já leram ou produziram algum poema desse tipo. Distribua a ficha 3 e leia com eles os três acrósticos apresentados, explicando que esse é um tipo de poema (rimado ou não) em que se homenageia uma pessoa (colocando seu nome na vertical e tomando cada letra como início de um verso). O mais provável é que os versos (linhas do poema) contenham características dessa pessoa — adjetivos ou mesmo frases sobre ela. ATIVIDADE 1a etapa Juntamente com o grupo, faça um levantamento de características físicas e/ou psicológicas, positivas ou negativas, normalmente encontradas nas pessoas. Você pode organizar essa listagem na lousa já em ordem alfabética, pedindo a eles que dêem duas a três características começadas com a letra A (ex: amável, amigo, ansioso...), B, C etc. O grupo pode registrar nos cadernos. Explique que elas poderão ser utilizadas na criação do/s acróstico/s que cada um vai fazer. Lembre-os de que as características indicadas não devem ser depreciativas (burro, idiota etc.): às vezes, num acróstico é possível utilizar características negativas que permitem revelar como uma pessoa é, física ou psicologicamente, sem que o resultado seja ofensivo ou agressivo (o que, aliás, não caberia num poema de homenagem a alguém). 2a etapa Agora peça que escolham alguém conhecido (artista, esportista) e que, coletivamente, produzam 13 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 14 um acróstico com seu nome. Você será o escriba e anotará na lousa as sugestões do grupo. Deixe que escolham democraticamente quais palavras ou frases ficam melhor em cada verso. Ao terminar, a turma registra esse acróstico nas fichas. 3a etapa Nesta etapa, você vai sugerir que cada jovem crie um ou mais acrósticos, homenageando pessoas queridas. Ajude aqueles que tiverem dificuldades, dando pistas e sugestões. Lembreos de assinar suas produções e estimule os que terminarem mais cedo a ajudar também. Peça que copiem o acróstico em suas fichas (lembrando que o verso desta ficha será usado na oficina seguinte). Fechamento Sugira que enviem seus acrósticos à família ou aos amigos. Como nas demais oficinas, não se esqueça da publicação dos acrósticos, colados em papel pardo, para serem afixados em mural ou painel. Se for possível digitar e imprimir em computador, pode-se compor uma pequena coletânea acessível a todos e que fará parte do acervo da Unidade. RECRIAÇÃO OFICINA 4 POEMA DE Material necessário: ficha 4 (no verso da ficha 3); dicionários; papel, lápis, borracha, caneta. Aquecimento Leia para eles a seguinte notícia – se necessário, mais de uma vez: TRABALHADOR MORRE AFOGADO! Na tarde de ontem, foi encontrado, na Lagoa Rodrigo de Freitas, o corpo de um homem pardo, aparentando 30 anos de idade, identificado como sendo João da Silva, solteiro. Segundo testemunhas, a vítima foi vista pela última vez saindo de um bar embriagada. A polícia investiga o motivo da morte. Pergunte aos participantes se é possível criar um poema a partir dessa notícia de jornal. Deixe que discutam e expressem livremente suas opiniões. ATIVIDADE 1a etapa A seguir, entregue a ficha 4 (ou, no caso dos que já a tiverem, diga que tomem o verso da ficha 3) e peça que leiam o Poema tirado de uma notícia de jornal de Manuel Bandeira. Oriente-os a observar que, apesar de o poema não ter rimas e dos versos terem tamanhos diferentes, o autor organizou as idéias de um jeito poético. Mantendo as características de uma notícia de jornal, ampliou a história de João, mostrando suas condições de trabalho e moradia, seu desabafo no Bar Vinte de Novembro e a morte por afogamento – tudo isto denunciando a vida pobre e alegre, anônima e ao mesmo tempo trágica do personagem. 2a etapa Em seguida, solicite a eles que pensem sobre pessoas com quem conviveram ou que imaginam existir (coletor de lixo, padeiro, motorista de táxi etc.) e que tentem fazer o mesmo percurso do poeta, levantando as origens e as condições de vida e, por fim, imaginando uma atitude repentina para o personagem escolhido. Os alunos poderão escrever primeiro uma notícia sobre esse personagem e, depois, recriar o poema, retomando a estrutura do texto lido, mas agora a partir de suas próprias idéias e reflexões. Se você perceber que a classe vai encontrar dificuldade em desenvolver a atividade, faça coletivamente tanto a produção da notícia como a recriação do poema partindo de um trabalhador escolhido pelos alunos, antes de propor a atividade individual do texto poético. Durante a elaboração individual do rascunho na ficha, passe orientando os alunos, dando sugestões e tecendo comentários sobre o que produziram, de modo que se sintam incentivados a prosseguir em suas tentativas poéticas. Fechamento Depois, devem trocar entre si as produções e ler para a classe o que produziram. As notícias e os poemas devem ser passados a limpo, ilustrados (se o desejarem) e expostos no mural ou painel, colados em folhas de jornal. Não se esqueça de guardar os textos para compor a coletânea de poemas da oficina. OFICINAS DE POESIA A OFICINA 5 LINGUAGEM DA POESIA Material necessário: ficha 5; dicionários; cola; papel, lápis, borracha, caneta. Esta oficina tem como finalidade incentivar os alunos a perceber a expressividade da poesia com sua linguagem metafórica, sugestiva, aberta a múltiplas interpretações; a perceber os recursos expressivos da poesia que emocionam e inquietam o leitor, em confronto com o texto referencial, que pode ser de jornal, história e outros. Sugerimos acompanhar duplas de textos tratando de um mesmo tema – um texto poético e outro referencial – para observar como a linguagem da poesia trabalha os múltiplos sentidos das palavras, enquanto a linguagem não-poética limita-se ao significado usual dos termos. Aquecimento Converse com os jovens dizendo que nesta oficina vão comparar textos que trabalham com linguagens diferentes. Um é o texto poético, que se caracteriza pelo jogo de palavras, e o outro, verbetes de dicionário, que utiliza vocábulos no sentido preciso e objetivo. ATIVIDADE 1a etapa De início, leia com eles, na ficha 5, o poema O constante diálogo de Carlos Drummond de Andrade; compare-o com a definição da palavra diálogo dada pelo dicionário (a definição foi transcrita na ficha para facilitar, mas você também pode aproveitar o ensejo para “treinar” o uso de dicionários). Chame a atenção dos alunos para a forma como a temática do diálogo está presente no poema e no verbete, mostrando como no dicionário as palavras são definidas de um jeito preciso, objetivo. 15 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 16 Em seguida, levante e compare com eles as diferenças entre os dois textos, destacando os recursos que aparecem no poema: a disposição em versos e estrofes, a repetição rítmica da palavra diálogo, o fato de partir do mais geral (“Há muitos diálogos”) para o mais particular (“Escolhe teu diálogo”). Mostre para os alunos que, se o verbete apenas define com precisão os sentidos e as situações relativas à palavra diálogo enquanto comunicação, conversa, troca de idéias, o poema amplia esses significados, sugerindo o diálogo como busca permanente de receptores, luta com as palavras, ação, escolha e compromisso com a vida. 2a etapa Agora, peça que leiam na ficha o poema Liberdade de Fernando Pessoa e o verbete correspondente e sigam o mesmo roteiro, explorando os dois textos e expondo suas conclusões. 3a etapa Proponha depois que os participantes escolham um dos temas tratados, ou outro de sua preferência, e que, depois de consultar o dicionário, tentem defini-lo num pequeno poema ou frase poética, evitando ficar preso ao sentido dicionarizado da palavra. Peça que leiam o texto do verso da ficha e que registrem aí suas produções, copiando-as depois em folhas avulsas. Fechamento Prontos e revisados os textos, organize junto com eles um livro-sanfona, com páginas coladas na lateral, escrevendo na primeira a palavra-tema – por exemplo, “Liberdade é...” – e, nas subseqüentes, as várias definições criadas pelo grupo. Não se esqueça de pedir que os autores assinem suas produções. O livrinho irá compor o acervo da oficina. UM OFICINA 6 CLASSIFICADO DIFERENTE Material necessário: ficha 6; dicionários; um caderno de classificados de jornal, se possível; papel, lápis, lápis de cor, borracha, canetas coloridas. Aquecimento Pergunte aos jovens se já viram em jornais ou revistas a seção de classificados. Certamente haverá respostas afirmativas. Continue, perguntando para que servem os classificados e se o grupo sabe dizer que palavras costumam iniciar tais textos. Se achar conveniente, mostre um caderno de classificados de jornal, para facilitar a identificação dos verbos. Anoteos na lousa. ATIVIDADE 1a etapa Em seguida, façam a leitura dos classificados na ficha 6. Discuta com eles que características tem este tipo de texto. Leve-os a perceber que são textos curtos, objetivos, com palavras abreviadas e onde consta o produto ou o serviço oferecido, além de telefone e endereço para contato. Mostre que essas características se devem tanto à finalidade do texto quanto à necessidade de comunicar algo com eficiência, mas usando poucas palavras, pois quanto mais se escreve, mais se paga para anunciar. 2a etapa Leia com eles os classificados poéticos da ficha e explique que alguns são da autoria de uma poeta de renome – Roseana Murray – e outros foram produzidos por alunos de uma escola pública, durante uma oficina semelhante à que estão fazendo agora. Peça que observem o que se manteve da estrutura original do classificado – verbos como compro, troco, vendo, procuro – e o que se alterou: os produtos, bens, ou serviços são substituídos por sentimentos ou objetos, transformados pelo caráter poético do texto (como em “compro gavetas /para guardar minha infância/minhas lembranças”). Também há diferenças nos recursos lingüísticos e na organização gráfica dos textos, já que se trata, agora, de poemas. 3a etapa Em seguida, proponha a eles que soltem a imaginação e escrevam seus próprios classificados poéticos, iniciando com qualquer dos verbos utilizados comumente nos anúncios de jornal: procurar, vender, trocar, comprar, precisar etc. Diga também que as rimas, embora marquem o ritmo do poema e o tornem mais agradável, não são indispensáveis. Se houver dificuldade, oriente-os, dê dicas e sugestões. Incentive-os a reescrever seus textos, se necessário, pois é assim que os poetas fazem. Os jovens que tiverem muita dificuldade podem fazer o poema com um colega que tenha mais facilidade. Fechamento Cada um registra seu texto na ficha. Depois, com lápis de cor ou canetas hidrográficas, eles podem transcrevê-lo em folhas e ilustrá-los se quiserem. Se todos concordarem, podem trocar os poemas entre si para leitura. Depois disso, resta expô-los. OFICINAS DE POESIA DESENHANDO OFICINA 7 POEMAS Material necessário: ficha 7; papel pardo, cola; papel, lápis, lápis de cor, borracha, canetas coloridas. Aquecimento Distribua entre os participantes a ficha 7, trazendo poemas visuais. Divida-os em duplas: cada uma fica encarregada de observar atentamente um dos poemas e comentar para o grupo em quê esses poemas são diferentes. É importante perceberem que, além da sonoridade, do ritmo e da rima, o poeta utiliza recursos visuais e gráficos, conseguindo um efeito bastante interessante: o poema não é apenas escrito, mas também “desenhado”. Explique que nos poemas concretos — como são chamados — o poeta organiza os versos de modo a mostrar o formato de alguma coisa ou a explorar as letras e o significado das palavras. ATIVIDADE 1a etapa Cada um dos participantes retoma um dos poemas impressos no verso da ficha e tenta dar-lhe a configuração de um poema concreto, porém sem alterar o que diz o poema. Caso tenham dificuldade em fazê-lo, você poderá, juntamente com os jovens, organizar um dos poemas, de modo a dar-lhes maior segurança. Depois, poderão fazer suas tentativas individualmente ou em duplas, se preferirem. Ajude-os dando dicas, para que aprimorem seus trabalhos. Para auxiliá-lo, damos algumas sugestões para explorar graficamente a apresentação de alguns poemas indicados na ficha. No primeiro haicai, a palavra “voa” pode ser escrita separando-se as letras ( V O A) ou escrevendo-as de forma sinuosa para simular uma 17 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 18 ave em vôo. No segundo, pode-se trabalhar com a palavra “salta” alongando o “l” e o “t” ou deslocando as sílabas de forma a que “ta” fique num plano superior a “sal”. E ainda, a palavra “lado” pode ser concretamente deslocada para o lado. Em Debussy, as expressões “Para cá, para lá...” sugerem o movimento pendular do novelo balançando-se; isso pode ser representado, por exemplo, separando-se o “Para cá” do “para lá”, escritos em forma de arco. A última palavra do poema, “caiu”, também pode ser escrita colocando-se suas letras de forma descendente, sugerindo a queda do novelo. Em seguida, peça que copiem o poema já transformado em folhas avulsas e, se concordarem, troquem os poemas, para que todos possam ver o que o grupo produziu. 2a etapa BRINCADEIRAS OFICINA 8 RECRIAÇÃO Material necessário: ficha 8; cartolina, tesoura; papel, lápis, borracha, canetas coloridas. Preparação Antes de iniciar a atividade, copie os poemas que constam da ficha 8 (Coisas e A vida) em papel pardo ou cartolina. Recorte cada um em tiras, de modo que cada verso fique separado. Embaralhe as tiras contendo os versos de cada poema separadamente e faça um montinho ou guarde em um envelope. Havendo tempo e receptividade do grupo para a atividade, você pode propor a seguir que tentem produzir pequenos poemas utilizando os recursos já vistos. O assunto pode ser um pássaro que passa veloz, uma borboleta em seu vôo gracioso, uma pipa em evoluções pelo céu, uma árvore que se desfolha, um sino que bate pausadamente, ou outros que eles imaginarem. Aquecimento Fechamento ATIVIDADE Ao passarem seus poemas concretos a limpo em folha avulsa, podem utilizar canetas ou lápis de cor. Depois de prontos, os poemas podem circular entre os participantes para uma leitura final. Proponha, finalmente que montem um painel para expor seus trabalhos, utilizando papel pardo ou cartolina. As próprias folhas de papel onde desenharam podem ser dispostas de forma a criar um efeito visual, por exemplo: a figura de um sol, de uma flor, de um pássaro, formando a palavra poesia etc. Afixem o painel em local visível, para que outras pessoas possam ler e apreciar o trabalho do grupo. E Divida a turma em dois grupos e dê um montinho ou envelope a cada um. Explique que os versos de um poema foram embaralhados e peça que, no máximo em dez minutos, tentem organizar o poema, dispondo as tiras com os versos na forma que acharem melhor. Um dos participantes copia o poema tal como foi organizado. A seguir, as tiras devem ser novamente embaralhadas e trocadas com as do outro grupo. Repete-se o procedimento anterior. 1a etapa Reunindo a classe, irão comparar o resultado de seu trabalho, para perceber que é possível fazer diferentes combinações com os versos. Distribua em seguida a ficha 8, que traz a versão original dos poemas, para que as comparem com as suas. Estimule-os a dizer qual delas mais agradou e se houve alteração de sentido. Valorize a produção dos participantes, destacando aspectos interessantes em relação ao original. 2a etapa Proponha agora que, em folhas avulsas, recriem um dos poemas, tomando como ponto de partida um dos versos. Podem também, em vez de compor outro poema, acrescentar versos aos que o poeta criou. Como de costume, os poemas devem ser escritos na ficha e copiados em folhas avulsas. Fechamento As folhas com os poemas criados pelos jovens devem circular pelo grande grupo, antes de serem expostas. OFICINAS DE POESIA RIMAS OFICINA 9 E QUADRAS Material necessário: ficha 9 (verso da ficha 8); papel, lápis, borracha, caneta. Aquecimento Peça aos participantes que se sentem em semicírculo. Pergunte se sabem o que é rima em poesia, peça que dêem exemplos. Se houver dúvidas, esclareça. Diga que as rimas aparecem principalmente nos finais dos versos e dão maior sonoridade ao poema, pela semelhança dos sons das palavras. Dê exemplos você mesmo/a (café/chulé, pão/ irmão, dentadura/fechadura, entrar/cantar, sorrir/pedir), estimulando-os a propor outros. ATIVIDADE 1a etapa Explique ao grupo que agora irão fazer o “jogo das rimas”, um desafio em que você dirá uma palavra e cada um, rapidamente, deverá dizer uma palavra que rime com ela. Quando todos tiverem falado a rima da primeira palavra, você passará à segunda e assim sucessivamente. Não vale demorar na resposta nem repetir o que alguém já disse. Quem o fizer, fica fora do jogo. Comece, por exemplo, com quadrado, sentia, mulher, amor, vazio, tristeza, safanão, rapaz, abacaxi, e vá acrescentando outras com terminação menos comum. Com certeza, alguns participantes se atrapalharão e acabarão saindo do jogo. Procure criar um clima para que entendam isso como regra de uma brincadeira, sem se sentirem desmerecidos pelo fato. Quanto mais participantes saem, mais o jogo se agiliza. Em função do tempo disponível, você pode encerrar a brincadeira mesmo que restem alguns jovens. Neste caso, parabenize-os por “resistir” por mais tempo. Se sobrar apenas um participante, sem dúvida você pode declará-lo o “rei das rimas” do dia. 2a etapa Agora, distribua a ficha 9 (ou peça que retomem o verso da ficha 8, no caso dos que a tiverem) e 19 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 20 PALAVRÃO NÃO VALE Em qualquer situação, o educador não deve encorajar o emprego de palavrões, especialmente em sala de aula; e, caso seja falado algum, não deve fazer alarde. Para evitar que, durante a brincadeira, um dos jovens diga uma palavra de baixo calão para rimar com aquela que você disse, lembre-os antes do jogo, estabelecendo como regra que palavrões não valem. convide-os a continuar as quadrinhas ou trovas, completando-as com mais dois versos logicamente utilizando rimas. (Quadrinhas ou trovas são poemas de quatro versos apenas.) Deixe que escolham trabalhar em pequenos grupos ou individualmente. Fechamento Terminada esta etapa, eles podem ler para os colegas o que produziram. Você também pode ler algumas das quadrinhas em sua forma original, para que comparem sua criação com a dos poetas populares. Algumas quadras de Ricardo Azevedo (de Armazém do folclore. São Paulo: Ática, s.d.): Sexta-feira faz um ano Que meu coração fechou Quem morava dentro dele Tirou a chave e levou. Uma velha muito velha Mais velha que o meu chapéu Foi pedida em casamento Levantou as mãos ao céu. Não dês a ponta do dedo Que logo te levam a mão Depois da mão, vai o braço, Vai o peito e o coração. Você me mandou cantar Pensando que eu não sabia Pois eu sou que nem cigarra Canto sempre todo dia. Depois de passadas a limpo, as quadrinhas podem ser expostas e também guardadas para compor uma coletânea. TRAVA-LÍNGUAS & POESIA OFICINA 10 Material necessário: ficha 10; papel, lápis, borracha, caneta, canetas coloridas. Preparação Decore um dos trava-línguas abaixo (ou outro que consta da ficha 10) para usá-lo no aquecimento desta oficina. Escolha aquele que lhe parece mais apropriado e que você consiga dizer com rapidez e sem se atrapalhar: Corrupaco papaco, a mulher do macaco, ela pita, ela fuma, ela toma tabaco debaixo do sovaco. Porco crespo, toco preto. Um tigre, dois tigres, três tigres. Pia o pinto, a pipa pinga. A pipa pinga, o pinto pia, quanto mais o pinto pia, mais a pipa pinga. Aquecimento Proponha um desafio ao grupo: Quem consegue falar mais rápido a frase: (diga o trava-línguas que você escolheu, repetindo-o algumas vezes, para que possam memorizála). Dê um tempo para tentarem. Certamente muitos se atrapalharão, o que será motivo de riso, mas não deve ser motivo de gozação. Procure manter o clima de brincadeira e de respeito. Pergunte a eles se sabem o nome dessas frases “enroladas”. E explique que se chamam travalínguas, que às vezes são rimadas — o que ajuda na memorização. Geralmente apresentam seqüências de palavras difíceis de se pronunciar e, como devem ser faladas bem depressa, acabam concretamente “travando” a língua da pessoa. Daí vem o caráter de brincadeira que ensina, pois obriga a pessoa a articular e pronunciar bem as palavras. É um ótimo exercício para quem deseja falar em público com desembaraço e correção. ATIVIDADE 1a etapa Distribua aos participantes a ficha 10 com travalínguas e diga que devem treinar, pois cada um será responsável pela apresentação de um deles. Deixe-os escolher livremente quem vai ler cada um dos trava-línguas; ou, se preferir, pode sorteá-los entre os participantes. Caso haja um número maior de alunos, dois podem falar o mesmo travalínguas. Combine um tempo para treinarem, combinando também quantas chances o participante terá, se não conseguir falar seu trava-línguas corretamente na primeira tentativa. Feito isso, proponha que iniciem as apresentações. 2a etapa Depois desse primeiro momento, convide-os a ler as Travatrovas de Ciça, no verso da ficha. Você pode solicitar que alguns dos participantes — por exemplo, os que se saíram melhor na 1ª etapa — leiam em voz alta os poemas. Em seguida, em duplas ou mesmo individualmente, os participantes deverão criar novos trava-línguas ou travatrovas, registrando-os em suas fichas. Oriente-os, dando dicas. Por exemplo: usar palavras que tenham encontros consonantais seguidos de R ou L (br, bl, cr, cl, dr, dl, fr, fl, gr, gl, pr, pl, tr, tl, vr, vl) ou palavras cujos sons são parecidos, como S/X (Sasha, Xuxa), X/ CH (chave/xarope) ou, ainda, alternar palavras com R/RR (caro/carro) e S/SS (casa/passa). Vale também inventar palavras como Ciça fez em Caraca, girassarão. Fechamento Os participantes podem ler para o grupo seu/s trava-línguas ou então trocá-los entre si, para uma leitura oral do que foi produzido. Depois, a produção do grupo deve ser passada a limpo para ser exposta. Se houver interesse em ilustrar os trava-línguas, os jovens poderão fazê-lo. OFICINAS DE POESIA POESIA OFICINA 11 FALADA Material necessário: ficha 11; aparelho de som, CD com música de fundo. Aquecimento Inicie esta oficina conversando com os jovens sobre o jogral. Pergunte se sabem o que é e, se necessário, explique que é uma forma de se declamar um poema em grupo. Para fazê-lo, divide-se o poema em versos ou blocos de versos, de acordo com o número de pessoas do grupo, e cada um fica responsável por falar esse trecho. Estrategicamente, para chamar a atenção do ouvinte, alguns versos são falados por todos, em conjunto. É essa alternância entre uma ou mais vozes falando que cria um belo efeito sonoro dando maior expressividade ao poema. Diga que esta não é uma atividade complicada, mas que exige ensaio e concentração para chegar a um bom resultado. Em seguida, distribua a ficha 11, que traz os poemas Tentação de Carlos Queiroz Telles e Trem de ferro de Manuel Bandeira. ATIVIDADE 1a etapa Peça que leiam silenciosamente o texto inicial da ficha e o primeiro poema, Tentação, procurando perceber a pontuação e a entonação que deve ser dada a cada verso. Em seguida, você deve ler o poema, em voz alta. Busque ser expressivo/a e dar entonação correta aos versos, pois você estará fornecendo um modelo de leitura aos jovens. (Antes da oficina, é bom que você leia o poema várias vezes para obter maior fluência e encontrar a melhor forma de apresentá-lo ao grupo). A ficha já traz uma divisão possível em vozes, mas cabe a você fazer as adaptações necessárias, em função do número de participantes da oficina. Caso haja mais jovens do que as vozes previstas na divisão do poema, você pode sugerir que um ou mais trechos sejam lidos por duplas, por exemplo. Caso contrário, você pode fazer com que um ou mais jovens falem mais de um verso. Em seguida, 21 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 22 combine com eles a distribuição dos trechos do poema.: quem lerá os versos numerados como voz 1, voz 2 etc. 2 etapa a Feita a atribuição de vozes, peça que iniciem a leitura do poema. Se houver mais de um leitor por verso ou trecho, é bom que se sentem juntos, pois devem buscar ler em uníssono (um único som), mantendo a mesma intensidade e ritmo. Não desanime se nas primeiras leituras houver vozes se desencontrando ou se um ou outro participante estiver distraído e demorar para falar seu verso. Incentive-os a não desanimar. O processo é assim mesmo. Somente após várias repetições as vozes se “afinam”. Repasse com eles o jogral, até que o grupo esteja bastante afinado e possa fazer uma apresentação definitiva do mesmo. Nesse momento, se houver condições, você pode colocar uma música escolhida previamente como fundo. Fechamento Após a apresentação do jogral, abra espaço para comentários e impressões sobre a atividade. Pergunte se gostaram e se querem repetir a experiência com o poema de Manuel Bandeira, Trem de ferro. Esta pode ser a mesma ou uma nova oficina. Deixamos a divisão do poema de Manuel Bandeira para você discutir e organizar com os participantes. O processo será o mesmo, mas ao trabalho com as vozes você pode acrescentar também sons como o apito do trem e movimentos corporais relacionados aos movimentos do trem. Seria ideal haver espectadores para uma apresentação final. Combine com a coordenação da Unidade a possibilidade de reunir ouvintes para os jovens. Eles gostarão de ser aplaudidos. POEMAS OFICINA 12 AO VENTO Material necessário: ficha 12 (no verso da ficha 11); lápis, borracha, caneta, canetas coloridas; tesoura, papel para dobraduras, palitos de sorvete e linha (para fazer móbiles). Preparação Antes da realização desta oficina, leia a história do poeta que criou os haicais. Você vai contá-la para os participantes e, para manter o interesse deles, é necessário fazê-lo com segurança, calma, explorando as entonações de voz adequadas a cada momento da história. A história de Bashô Esta é a história de um homem que viveu há mais de 300 anos num lugar distante conhecido como o país do sol nascente. Naquela época, o Japão tinha um imperador e a sociedade se dividia, de forma muito rígida, em classes que não se misturavam. Bashô nasceu em uma família rica e poderosa, cujos homens tinham como destino ser samurais, isto é, guerreiros que serviam lealmente a um nobre, chamado de xogum. Assim, ainda jovem, Bashô tornou-se um samurai. Mas um dia renunciou a todos os privilégios de que gozavam os guerreiros e escolheu ser poeta. Desligou-se da corte do imperador e do nobre xogum a quem servira e passou a viver como um homem comum, em contato permanente com a natureza, sua fonte de inspiração e de reflexão. Tornou-se grande amigo e discípulo do poeta Sengin, que lhe ensinou a arte da poesia. Além de tornar-se ele próprio um grande poeta, Bashô criou um tipo de poema muito simples e conciso, de apenas três versos: o haicai. Mais tarde, após a morte de seu mestre, refugiou-se num mosteiro budista. Com os monges aprendeu a vestir-se e viver com simplicidade, tornando-se um homem sábio, de espírito mais forte e sensível. Viajou por todo o país e aos poucos foi aperfeiçoando e inovando a poesia. Foi sendo cada vez mais admirado e ganhando seguidores. Entre seus discípulos havia homens de todas as classes, desde ricos samurais e mercadores até pobres camponeses. Aliás, os dois discípulos por quem mostrou maior afeição foram um criminoso e um mendigo. (Fonte: Haikais de Bashô, trad. Olga Savary, São Paulo: Hucitec. 1989) Aquecimento Inicie esta oficina contando a história de Bashô, o guerreiro que virou poeta. Incentive os jovens a fazer comentários e pergunte se sabem como é um haicai. (Atualmente, a grafia correta da palavra é esta, pois foi assim incorporada ao vocabulário ortográfico da língua portuguesa; no entanto, até certo tempo atrás usava-se a grafia haikai, daí aparecerem as duas formas, conforme a época de produção do texto). 1a etapa Distribua então a ficha 12 (ou peça aos alunos que tomem o verso da ficha 11, se a tiverem). Deixe que leiam os haicais em silêncio. Pergunte o que mais lhes chamou a atenção nesses poemas. Eles podem responder que são curtos, quase não têm rimas. Explique então que os haicais são poemas bem sintéticos, curtinhos, divididos em três versos (linhas), com respectivamente 5, 7 e 5 sílabas; que podem ser sérios, alegres, tristes, amorosos, irônicos; e que o poeta, com bem poucas palavras, procura sobretudo sugerir idéias e emoções, estimulando o leitor a associar idéias livremente. Depois, indague sobre o assunto dos poemas. Se não chegarem a uma resposta evidente, faça-os ver a presença constante de elementos da natureza, já que esta, para os orientais, é um elemento importante de equilíbrio humano. 2a etapa Convide-os agora a tentar criar seus haicais. Podem fazer rascunhos no caderno e copiá-los nas fichas. Oriente-os para tomar como ponto de partida elementos da natureza e tentar retirar deles uma reflexão, uma lição de vida, traduzindo-a de maneira simples, mas profunda, como fez Bashô neste haicai: Admirável não pensar ao ver um raio: “É fugaz a vida”. Ajude-os dando dicas, sempre que possível. Mesmo que não consigam bons resultados ou que não respeitem muito as regras, valorize seu esforço (Com certeza, alguns notarão que as regras relativas ao número de sílabas . Neste caso, vale mais o processo do que o produto. Passando entre OFICINAS DE POESIA as mesas, aproveite para dar dicas de correção ortográfica e revisão dos poemas. Fechamento O grupo pode passar a limpo seus haicais sobre cartolina ou sulfite recortados em quadradinhos, ou na forma de elementos da natureza (flor, árvore, borboleta, sol, lua, gato...) ou ainda sobre dobraduras que representem animais, flores etc. Com os quadradinhos, recortes ou dobraduras podem montar um painel de exposição ou criar móbiles, prendendo-os com linhas a palitos de sorvete (desses usados para artesanato). Depois, é só pendurar os móbiles para que esses poemas tão leves dancem ao vento... 23 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 24 POEMAS OFICINA 13 PARA RIR Material necessário: ficha 13; dicionários; papel, lápis, borracha, caneta. Aquecimento Nesta oficina, os participantes vão trabalhar com paródias. Para iniciar, pergunte-lhes se sabem o que é uma paródia. Caso não saibam, peça que pesquisem no dicionário. Se os dicionários para pesquisa fossem de autores diferentes, provavelmente seriam encontradas definições diversas, porém semelhantes. Anote na lousa a/s definição/ões encontradas. (A definição do dicionário Aurélio é: Paródia s.f.: 1. imitação cômica de uma composição literária. 2. P. ext. imitação burlesca.) ATIVIDADE 1a etapa Distribua a ficha 13, que traz dois poemas, dos quais um é paródia do outro. Caso tenha alunos com diferentes graus de domínio da leitura, proponha a leitura em duplas, juntando um leitor mais, e um menos experiente. Peça que leiam a frente da ficha, buscando observar o que há de parecido e também de diferente entre eles. E ainda o que acham que a autora da paródia quis expressar, ao modificar o texto de outro poeta. Abra espaço para que façam comentários e acrescente suas observações, caso queira. Em seguida, proponha a leitura das quatro paródias no verso da ficha, todas feitas com base no mesmo poema de Gonçalves Dias. Explique que essas paródias são baseadas em um poema consagrado, e que, ao fazê-las, os parodistas não necessariamente querem criticar o texto original, podendo inverter ou distorcer as idéias originais com o objetivo de produzir humor e ironia. Diga que este é um recurso muito usado, até por poetas famosos, para “brincar” com poemas já conhecidos. Também os humoristas parodiam falas e atitudes de políticos e celebridades. 2a etapa Convide-os a fazer uma paródia, trabalhando nas duplas ou individualmente. Podem tomar com ponto de partida os próprios poemas da ficha ou uma cantiga infantil conhecida, ou então – o que talvez achem mais fácil – uma canção popular de sucesso. Oriente-os para não utilizar expressões grosseiras ou palavrões, pois muitas vezes este é um caminho fácil para chegar ao humor, mas com certeza não é o mais recomendável para criar uma boa paródia. Cada um redige sua paródia em uma folha avulsa; proceda à revisão coletiva dos tetos e depois cada um copia a sua na ficha. Fechamento Os jovens podem ler ou cantar suas paródias para o grupo. Para expor seus trabalhos, é interessante apresentar, lado a lado, o poema ou letra original e a paródia, como forma de facilitar a compreensão dos leitores. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, Casimiro. Obras completas. Rio de Janeiro: Garnier, s.d. ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,1973. ________. Alguma poesia. Rio de Janeiro: Record, 2001. ________. Boitempo. 5.ed. Rio de Janeiro: Record, 1998. ANDRADE, Oswald. [Poemas selecionados: Relógio, Canto de regresso à pátria]. In: SCHWARTZ, Jorge. Oswald de Andrade: literatura comentada (seleção de textos, notas, estudos biográfico, histórico e crítico). São Paulo: Abril Educação, 1980. AZEVEDO, Ricardo. Armazém do folclore. São Paulo: Ática, s.d. BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966. BASHÔ, Matsuo. Haikais de Bashô. Trad. Olga Savary. São Paulo: Hucitec, 1989. BERALDO, Alda. Trabalhando com poesia. 2v. São Paulo: Ática, 1990. CAMÕES, Luís de. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1963. CAPARELLI, Sérgio. Poesia fora da estante. Porto Alegre: Projeto, 1996. CENPEC - CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EDUCAÇÃO, CULTURA E AÇÃO COMUNITÁRIA. Ensinar & aprender. 4v. São Paulo: CENPEC; Curitiba; SEED/PR, 1998. CEREJA, William R., MAGALHÃES, Thereza C. Todos os textos. São Paulo: Atual, 1998. CHACAL. Papo de índio. In: POESIA jovem dos anos 70. São Paulo: Abril Cultural, 1981. CIÇA. Travatrovas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, s.d. DINORAH, Maria. Giroflê giroflá. Belo Horizonte: Lê, 1995. EMEF MÁXIMO DE MOURA SANTOS. Coletânea de poesias. São Paulo, 1998. FERNANDES, Millôr. Literatura comentada. São Paulo: Abril Educação, 1980. FOLHA de S. Paulo. [Classificados] Revista da Folha, São Paulo, 2 dez. 2000. GABRIEL, o pensador. Gabriel, o pensador. s.l.: Sony, 1993. CD. GONÇALVES DIAS, Antonio. Canção do exílio. In: BANDEIRA, Manuel (coord.) Apresentação da poesia brasileira. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d. GRÜNEWALD, José L. A vida. In: SIMON, Iumna M., DANTAS, Vinicius. Poesia concreta: José Lino Grünewald (seleção de textos, notas, estudos biográfico, histórico e crítico). São Paulo: Abril Educação, 1982. OFICINAS DE POESIA 25 ________. [sem título] In: AGUIAR, Vera, JACOBI, Sissa, ASSUMPÇÃO, Simone. Poesia fora da estante. 6.ed. Porto Alegre: Projeto; CPL/PUC-RS,1999. MELLO, Thiago de. Estatutos do Homem. São Paulo: Martins Fontes,1977. MENDES, Murilo. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1994. MORAIS, Vinicius de. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985. MURRAY, Roseana. Classificados poéticos. Belo Horizonte: Miguilim, 1988. ________. Receitas de olhar. São Paulo: FTD, 1999. PAES, José P. Um passarinho me contou. São Paulo: Ática, 1997. ________. Poemas para brincar. São Paulo: Ática, 1991. PESSOA, Fernando. Cancioneiro: obras completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1972. PINTO, Gustavo A.C. Relâmpagos. São Paulo: Massao Ono; Aliança Cultural Brasil Japão, 1990. QUINTANA, Mário. Sapo amarelo. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1996. ROCHA, Ruth. Ai que saudades... In: O mito da infância feliz. São Paulo: Summus, 1983. SOARES, Jô. Canção do exílio às avessas. Veja, São Paulo, 16 set. 1992. SOUZA, Ângela L Três gotas de poesia. São Paulo: Moderna, 1998. TAVARES, Ulisses. Caindo na real. São Paulo: Brasiliense, 1984. TELLES, Carlos Q. Sonhos, grilos e paixões. São Paulo: Moderna, 1990. Nota: É das obras acima citadas que os autores extraíram os poemas aqui apresentados. Algumas delas estão esgotadas, mas você poderá encontrar os mesmos (e outros) poemas em outras coletâneas e antologias. De Mário Quintana, por exemplo, o Sapo amarelo é difícil de encontrar, mas há cerca de 15 títulos no mercado, inclusive coletâneas dirigidas ao público juvenil. Veja outras sugestões a seguir. SUGESTÕES PARA DA UNIDADE O ACERVO Livros AZEVEDO, Ricardo. Livro de papel. São Paulo: Ed. do Brasil, 2001. GULLAR, Ferreira. Poemas. São Paulo: Global,1986. BEATRIZ, Elza. Caderno de segredos. São Paulo: Brasiliense, 1987. JOSÉ, Elias. O jogo das palavras mágicas. São Paulo: Paulinas, 1996. CAPARELLI, Sérgio. Come-vento. Porto Alegre: L&PM, 1987. LEMINSKI, Paulo. Caprichos e relaxos. São Paulo: Brasiliense, 1985. DINORAH, Maria. Hora nua. Porto Alegre: Movimento, 1980. EDUCAÇÃO E CIDADANIA 26 MURALHA, Sidônio. A dança dos pica-paus. Curitiba: Nórdica, 1976. PAIXÃO, Fernando. Poesia a gente inventa. São Paulo: Ática, 1996. QUINTANA, Mário. O batalhão das letras. 2.ed. São Paulo: Globo, 1984. Filmes / vídeos O CARTEIRO e o poeta – Il Postino / The postman (dir. Michael Redford). EUA/ Itália, 1994. (109") Numa remota ilha do Mediterrâneo, o tímido e simplório Mário, filho de pescadores, consegue emprego como carteiro. Na entrega da volumosa correspondência ao “poeta do amor” Pablo Neruda, que lá vive exilado, surge entre os dois terna amizade. A convivência desperta em Mário o gosto da poesia, enquanto ele pede ajuda ao poeta para ganhar o coração da mulher que ama. Filme envolvente, foi aplaudido pela crítica e pelo público do mundo inteiro. SOCIEDADE dos poetas mortos – Dead Poets Society (dir.Peter Weir). EUA, 1989. (129") Um carismático professor de literatura, chegando a uma escola conservadora, desperta nos alunos novos questionamentos, incentivando-os a pensar por si mesmos e a “fazer de suas vidas algo extraordinário”. Além de poesia, o filme discute as relações entre professor e aluno e entre pais e filhos. Todos os textos e imagens de terceiros são aqui reproduzidos com a expressa autorização de seus autores ou de seus representantes legais. O Cenpec e os autores deste módulo agradecem a gentil cessão de direito de uso de textos de Ângela Leite de Souza, Bashô/Olga Savary, Carlos Queiroz Telles, Chacal, Elias José, Ferreira Gullar, Folha de S. Paulo, Fundação Fernando Pessoa, Gabriel o Pensador, Gustavo Alberto C. Pinto, Jô Soares, José Lino Grünewald, José Paulo Paes, Millôr Fernandes, Oswald de Andrade, Paulo Leminski, Ricardo Azevedo, Roseana Murray, Ruth Rocha, Sérgio Caparelli, Thiago de Mello. Reprodução de poemas de Carlos Drummond de Andrade (p.29,30,37): © Graña Drummond Reprodução de poemas de Mário Quintana (p.8,9,10,29): © Elena Quintana Reprodução de poemas de Manuel Bandeira (p.30,36,42,47) © Solombra Books Reprodução de poema de Ruth Rocha (p.49) © Ruth Rocha Serviços Editoriais S/C Ltda., representada por MAS Agenciamento Artístico, Cultural e Literário Ltda. EDUCAÇÃO E CIDADANIA FICHA 0 POESIA NOME DATA DICIONÁRIO: orientações para uso Esta ficha mostra como está organizada essa grande lista de palavras que é o dicionário. Dicionário é o livro que registra um conjunto de palavras organizadas alfabeticamente. A ordem alfabética é usada para organizar listas de todos os tipos, dicionários, enciclopédias, catálogos e outros. O dicionário da língua portuguesa, além de mostrar como são escritas as palavras, traz seu significado e algumas informações gramaticais. Para consultar o dicionário, o principal é conhecer bem o alfabeto. Para treinar um pouco, complete as seqüências abaixo com as letras que estão faltando: F, L, N, , , , , , , , , , ,L ,Q ,S S, B, A, , , , , , , , , , ,Z ,G ,F Escreva as palavras abaixo em ordem alfabética: CAVALINHO, VAGALUME, ESTRELA, TERRA ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ NOITE, BRINQUEDO, FADA, SONHO, CORAÇÃO ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Como as palavras acima não começam com a mesma letra, para pô-las em ordem alfabética você precisou prestar atenção só à primeira letra de cada uma. No entanto, é claro que muitas palavras começam com a mesma letra. Para pôr em ordem palavras com a mesma letra inicial, é preciso observar as letras restantes. Observe as palavras abaixo: GOIABA, GIRAFA, GARRAFA, GRADE, GELÉIA Todas começam com a mesma letra. Portanto, temos de ordená-las prestando atenção nas segundas letras. Faça um círculo em torno da segunda letra de cada palavra. Experimente colocá-las agora em ordem alfabética. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Ordene agora estas palavras guiando-se pela segunda letra: BRINQUEDO, BARULHO, BOLINHO, BEIJU ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ CAFÉ, CHAVE, CLARA, CORRIDA ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ TAMBÉM, TUIM, TORRE, TRAVE, TESOURA ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 27 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 28 FICHA 0 VERSO POESIA Faça um círculo em volta da terceira letra de cada palavra: FAÇANHA, FADIGA , FAÍSCA, FARAÓ, FATIGAR Agora ponha-as em ordem, reparando na ordem alfabética da terceira letra. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Faça o mesmo para as seguintes listas de palavras: PEREGRINO, PENETRAR, PESADO, PEQUENO, PELÚCIA ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ RECUPERAR, RENDOSO, REFLEXO, RELÂMPAGO, RETRATO ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Dicas Você já sabe que, para achar uma palavra no dicionário, não basta prestar atenção só na primeira letra: é preciso olhar também para as outras. Agora veja mais uma dica. Procure no dicionário a palavra CONVENCIDA. Encontrou? Não? Então, procure CONVENCIDO. Encontrou, não é? Então, tente FAMOSO e FAMOSA. Qual das duas você encontrou? Sabe por quê? Quando as palavras têm o mesmo sentido no masculino e no feminino, o dicionário só registra o masculino. Outra dica: procure no dicionário a palavra AFLITOS. Não encontrou, não é? Mas encontrou AFLITO, não? O dicionário registra as palavras no singular. Finalmente a última dica, por enquanto. Procure no dicionário as palavras: OLHOU, CAÍA, FUJAM. Não achou nenhuma, não é? Agora procure: OLHAR, CAIR e FUGIR. Entendeu? Isso mesmo: é que os dicionários não trazem os verbos conjugados, mas apenas no infinitivo (o nome do verbo). Com essas dicas, você já pode encontrar quase tudo no dicionário. ORIENTAÇÕES PARA O TRABALHO EM GRUPOS Muitos trabalhos que você está fazendo nestas oficinas são propostos para ser realizados em grupo. Isso porque acreditamos que as pessoas aprendem umas com as outras e que todas podem se desenvolver muito mais, quando têm oportunidade de confrontar suas idéias com as dos colegas. Entretanto, isso só acontece se todos participarem igualmente de todas as atividades e disserem o que pensam realmente, se todos se esforçarem. Quando há um trabalho para ser feito em grupo, de nada adianta dividi-lo e distribuir um pedaço para cada um, porque assim cada participante fica somente com a visão da sua parte e perde a visão do todo. Pior ainda é quando só um ou dois trabalham (porque o grupo acha que são mais inteligentes, ou mais estudiosos) e os outros ficam olhando, sem coragem ou com preguiça de participar. Além disso, não seria justo: os que não participam deixam de aprender. Mesmo não sabendo direito como é para fazer, é preciso tentar. É assim que a gente aprende. As atividades propostas podem ser realizadas por todos os alunos, especialmente se uns ajudarem os outros. Quando um colega não sabe, a gente deve dar dicas, fazer junto, mas não fazer por ele. Quando a gente faz pelo outro, a gente não ajuda, atrapalha, impede o outro de aprender. Às vezes, há colegas que acham que não sabem (porque nunca tentaram), mas eles podem se surpreender e descobrir que têm muito o que ensinar para o grupo. Não deixe que o outro faça por você: exija seu direito de participar. EDUCAÇÃO E CIDADANIA FICHA 1A POESIA NOME 29 DATA Oficina 1 E por falar em poesia... Convite Poesia é brincar com palavras Como se brinca Com bola, papagaio e pião. Só que Bola, papagaio e pião De tanto brincar, se gastam, As palavras não: Quanto mais se brinca Com elas, Mais novas ficam. Como a água do rio, Que é água sempre nova. Como cada dia, Que é sempre um novo dia. José Paulo Paes Carlos Drummond de Andrade (Alguma poesia. Rio de Janeiro: Record, 2001) Mário Quintana A mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer. (Sapo amarelo. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986) entre A informação ós cada ap , es parêntes ferência poema, é a re de ele foi do livro de on o do ul extraído: o tít editora , de livro, a cida ação. ic bl pu e data de Veio uns ômi di saia preta cheiu di caixinha e pó branco qui eles disserum qui chamava açucri Aí eles falarum e nós fechamu a cara depois eles arrepitirum e nós fechamu o corpo Aí eles insistirum e nós comemu eles. Chuac! João amava Teresa que amava Raimundo Que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili Que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, João suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes, Que não tinha entrado na história. Mentira? Chacal (Poesia jovem dos anos 70. São Paulo: Abril Cultural, 1981) (Poemas para brincar. São Paulo: Ática, 1991) Quadrilha Papo de índio primeiro beijo, igual apertar campainha de casa estranha. um pique só. Ulisses Tavares (Caindo na real. São Paulo: Brasiliense, 1984) Rascunho Escreve no seu caderno, escreve: noções de biologia exercícios de matemática questões gramaticais e no canto da página, em vermelho: um coração nossas iniciais. Ulisses Tavares (Caindo na real. São Paulo: Brasiliense, 1984) Haicai São duas faíscas incendiando meu medo, os olhos do gato. Ângela Leite de Souza (Três gotas de poesia. São Paulo: Moderna, 1998) EDUCAÇÃO E CIDADANIA FICHA 1A VERSO POESIA Irene no céu 30 Manuel Bandeira Irene preta Irene boa Irene sempre de bom humor. Imagino Irene entrando no céu: – Licença, meu branco! E São Pedro bonachão: – Entra, Irene. Você não precisa pedir licença. (Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966) Soneto da fidelidade Vinícius de Morais De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. A onda A onda anda aonde anda a onda? a onda ainda ainda onda ainda anda aonde? aonde? a onda a onda Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. Manuel Bandeira Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. (Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985) Amor é fogo... (Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966) Porquinho-da-índia E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Amor é fogo que arde sem se ver; é ferida que dói e não se sente; é um contentamento descontente; é dor que desatina sem doer.(...) Camões (Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1963) Manuel Bandeira Quando eu tinha seis anos ganhei um porquinhoda-índia. Que dor de coração me dava Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão! Levava ele pra sala Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos Ele não gostava: Queria era estar debaixo do fogão. Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas... O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada. (Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966) Orion Carlos Drummond de Andrade A primeira namorada, tão alta que o beijo não a alcançava, o pescoço não a alcançava, nem mesmo a voz a alcançava. Eram quilômetros de silêncio. Luzia na janela do sobradão. (Boitempo. 5.ed. Rio de Janeiro: Record, 1998) 0 sinal (...) indi ca que um trecho fo i saltado. EDUCAÇÃO E CIDADANIA FICHA 1B POESIA NOME E por falar em poesia... Estatutos do homem Artigo 1 Artigo 9 31 DATA Thiago de Mello Fica decretado que agora vale a verdade, que agora vale a vida e que de mãos dadas trabalharemos todos pela vida verdadeira. (...) Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu amor, Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura. (...) Artigo 11 Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã. (...) (Estatutos do Homem. São Paulo: Martins Fontes, 1977) Receita de olhar nas primeiras horas da manhã desamarre o olhar deixe que se derrame sobre todas as coisas belas o mundo é sempre novo e a terra dança e acorda em acordes de sol faça do seu olhar imensa caravela (Receitas de olhar. São Paulo: FTD, 1999) Roseana Murray (cont.) Dois e dois: quatro Como dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena embora o pão seja caro e a liberdade pequena Ferreira Gullar Como teus olhos são claros e a tua pele, morena como é azul o oceano e a lagoa, serena S como um tempo de alegria por trás do terror me acena e a noite carrega o dia no seu colo de açucena — sei que dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena mesmo que o pão seja caro e a liberdade, pequena. (Poemas. São Paulo: Global, 1986) Desprezo DESPREZO é uma palavra dura, feita de ferro e aço, de fogo e gelo. É lâmina afiada que corta por dentro e nem deixa sangrar. Elias José (O jogo das palavras mágicas. São Paulo: Paulinas, 1996) EDUCAÇÃO E CIDADANIA 32 FICHA 1B VERSO POESIA Um pouco de conversa Os poemas desta e da ficha 1A são para você ler. Foram feitos por grandes poetas e já emocionaram muita gente antes de chegar às suas mãos. Aproveite, abra seu coração, deixe a poesia entrar e as emoções saírem. Gostou? Então que tal contar um pouco do que você sentiu e dizer qual dos poemas lhe agradou mais? Se quiser, leia esse poema para o grupo. Agora, leia o poema abaixo com bastante atenção. Minha mamãe Rachel Topfstead Duarte Mãe, mainha, ma-mã, maternidade, mamar, mingau, mão macia, momento mágico. Mandona, maligna, mesquinha, não! Molusco, minhoca, argh! Moleca, mais tarde, menina, meiga, madura, mas, minha, mamãe maravilhosa, merecidamente, medalha. (Coletânea de poesias. São Paulo: EMEF Máximo de Moura Santos, 1998) Esse poema foi feito em 1998, por uma adolescente como você, aluna da Escola Municipal de Ensino Fundamental “Professor Máximo de Moura Santos”, durante uma oficina semelhante a esta da qual você está participando agora. Releia o poema e procure descobrir o que ele tem de especial, de diferente. Descobriu? Você percebeu que, além da letra m, todas as palavras estão relacionadas à idéia de mãe? Então, agora, que tal você e os colegas tentarem fazer coletivamente um poema desse tipo? Vocês vão escolher uma palavra (paz, amor, felicidade) e terão a ajuda do/a professor/a para orientá-los e anotar na lousa suas sugestões. Preste atenção nas orientações do professor e capriche, para que o poema saia legal. Depois, anote-o abaixo. Se quiser, ofereça-se para passar o poema do grupo a limpo, numa folha de papel pardo ou cartolina. Ele será afixado na parede e, assim, outras pessoas vão ler e apreciar o que vocês fizeram. __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ EDUCAÇÃO E CIDADANIA FICHA 2 POESIA NOME DATA Oficina 2 Poemas para cantar Lavagem cerebral Gabriel o Pensador Racismo, preconceito e discriminação em geral É uma burrice coletiva sem explicação Afinal que justificativa você me dá para um povo que precisa de união Mas demonstra claramente, infelizmente Preconceitos mil, de naturezas diferentes Mostrando que essa gente Essa gente do Brasil é muito burra! E não enxerga um palmo à sua frente Porque se fosse inteligente Esse povo já teria agido de forma mais consciente Eliminando da mente todo o preconceito E não agindo com a burrice estampada no peito A “elite” que devia dar um bom exemplo É a primeira a demonstrar esse tipo de sentimento Num complexo de superioridade infantil Ou justificando um sistema de relação servil E o povão vai como um bundão Na onda do racismo e da discriminação Não tem a união e não vê a solução da questão Que por incrível que pareça está em nossas mãos Só precisamos de uma reformulação geral Uma espécie de lavagem cerebral. Não seja um imbecil. Não seja um Paulo Francis Não se importe com a origem ou a cor do seu semelhante O que que importa se ele é nordestino e você não? O que que importa se ele é preto e você é branco? Aliás, branco no Brasil é difícil Porque no Brasil somos todos mestiços Se você discorda então olhe para trás Olhe a nossa história, os nossos ancestrais O Brasil colonial não era igual a Portugal A raiz do meu país era multirracial Tinha índio, branco, amarelo, preto Nascemos da mistura, então por que o preconceito? Barrigas cresceram, o tempo passou... Nasceram os brasileiros cada um com a sua cor Uns com a pele clara, outros mais escura Mas todos viemos da mesma mistura Então preste atenção nessa sua babaquice Pois como eu já disse racismo é burrice Dê à ignorância um ponto final: Faça uma lavagem cerebral. Negro e nordestino constroem seu chão Trabalhador da construção civil conhecido como peão No Brasil o mesmo negro que constrói seu apartamento ou que lava o chão de uma delegacia É revistado e humilhado por um guarda nojento que ainda recebe o salário e o pão de cada dia Graças ao negro, ao nordestino e a todos nós Pagamos homens que pensam que ser humilhado não dói O preconceito é uma coisa sem sentido Tire a burrice do peito e me dê ouvidos 33 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 34 Me responda se você discriminaria Um sujeito com a cara do PC Farias Não, você não faria isso não... Você aprendeu que o preto é ladrão. Muitos negros roubam, mas muitos são roubados E cuidado com esse branco aí parado do seu lado Porque se ele passa fome, sabe como é, Ele rouba e mata um homem seja você ou seja o Pelé Você e o Pelé morreriam igual Então que morra o preconceito e viva a união racial Quero ver nessa música você aprender e fazer a lavagem cerebral O racismo é burrice, mas o mais burro não é o racista, é o que pensa que o racismo não existe O pior cego é o que não quer ver E o racismo está dentro de você Porque o racista na verdade é um tremendo babaca Que assimila os preconceitos porque tem cabeça fraca E desde sempre não pára pra pensar Nos conceitos que a sociedade insiste em lhe ensinar E de pai para filho o racismo passa Um pouco de conversa FICHA 2 VERSO POESIA Em forma de piadas que teriam bem mais graça se não fossem o retrato da nossa ignorância Transmitindo a discriminação desde a infância E o que as crianças aprendem brincando é nada mais, nada menos do que a estupidez se propagando Qualquer tipo de racismo não se justifica Ninguém explica Precisamos da lavagem cerebral pra acabar com esse lixo que é uma herança cultural Todo mundo é racista, mas não sabe a razão Então eu digo, meu irmãoSeja do povão ou da “elite” Não participe, pois como eu já disse racismo é burrice Como eu já disse racismo é burrice Como eu já disse racismo é burrice Como eu já disse racismo é burrice E se você é mais um burro Não me leve a mal é hora de fazer uma lavagem cerebral Mas isso é compromisso seu Eu nem vou me meter Quem vai lavar a sua mente não sou eu É você. (CD Gabriel o pensador. Sony, 1993) A letra que você leu e ouviu é de um rap de Gabriel o Pensador. Os raps desse compositor sempre tratam de questões sociais sérias, procurando fazer com que as pessoas pensem sobre elas. Este poema discute o problema do preconceito, do racismo e da discriminação. Você sabe o que significam essas três palavras? Consulte o dicionário e converse com os colegas sobre o resultado dessa consulta. Agora, participe ativamente da discussão que o/a professor/a vai propor; depois, escolha, na própria letra, a frase que, na sua opinião, você considera mais importante para mostrar como o preconceito, o racismo e a discriminação não fazem sentido, são uma estupidez. As frases que você e os colegas escolherem servirão para compor um painel a respeito do tema. E para terminar esta oficina, se você e a turma acharem legal, vocês podem cantar esse rap. Conte aqui alguma situação de discriminação que você tenha presenciado. __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ EDUCAÇÃO E CIDADANIA FICHA 3 POESIA NOME DATA Oficina 3 Um acróstico para... M ansa voz, A zul nos olhos, R iso contido e C ordial I maginação à solta A miga sempre leal. L inda A mável U nica R omântica A morosa A manhã nasce N atural e D e repente me R evela que você É meu amor! Um pouco de conversa Os poemas que você acabou de ler são acrósticos e servem para homenagear uma pessoa de quem se gosta: um parente, um/a amigo/a, o/a namorado/a... Para fazer um acróstico, use palavras que indiquem qualidades dessa pessoa ou frases que expressem o que ela significa para você. E o nome da pessoa, como você já sabe, deve ficar em destaque, na vertical. Para começar, você e os colegas podem fazer uma lista de palavras que indiquem qualidades (atencioso, bonito, esperto, inteligente etc.). Assim fica mais fácil encontrar as palavras certas na hora de compor o poema. Depois, podem escolher um ídolo da turma (artista, esportista) e juntos tentar criar um acróstico com o nome dele/a. O passo seguinte é usar o mesmo esquema e cada um fazer acrósticos para as pessoas de quem gosta. Você pode também enviá-lo por correio à pessoa homenageada. E guarde seus poemas para que sejam expostos: afinal, a gente escreve é para ser lido por outros. Registre aqui os acrósticos que você compôs. __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 35 EDUCAÇÃO E CIDADANIA FICHA 4 POESIA 36 DATA Oficina 4 Recriação de poema Você acabou de ouvir, contada pelo/a professor/a, uma notícia aparentemente igual a tantas outras que se vêem nos jornais. Será que daria para se fazer um poema com uma história assim? Ou será que no poema não há lugar para coisas tão comuns, tão reais? Leia o poema abaixo com atenção. Veja se há rimas, se os versos (linhas) têm todos o mesmo tamanho, se o poeta coloca novas informações ou apenas o que está na notícia de jornal. Por que será que o autor colocou esse título em seu poema? Poema tirado de uma notícia de jornal João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número. Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. Manuel Bandeira (Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974) Tente agora imaginar um outro trabalhador como João Gostoso: humilde, anônimo, lixeiro, padeiro, taxista, carteiro, operário... Como seria sua vida? Onde moraria? Seria casado? Teria filhos? Amigos? Que atitude repentina poderia ter tomado, e em que circunstâncias? Algo o levaria também a um fim trágico? Talvez não necessariamente. Escreva uma pequena notícia sobre o que teria ocorrido com esse personagem imaginário. Depois, com base na notícia, recrie o poema, seguindo a estrutura do texto de Manuel Bandeira. Se acharem difícil, a classe pode sugerir ao/à professor/a fazer a notícia e o poema coletivo, com base em um personagem escolhido pelo grupo. Ao final da atividade, se cada um produziu seu poema, vocês podem trocá-los, para cada um ler o que o outro fez. Depois, passem a limpo e, se quiserem, podem ilustrá-los. Na hora de expô-los, seu grupo pode criar um painel colando as notícias e poemas de cada um sobre folhas de jornal, que serão afixadas na parede. Faça aqui o rascunho de seu poema (usando lápis, para poder corrigir, se necessário). __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ EDUCAÇÃO E CIDADANIA FICHA 5 POESIA NOME 37 DATA Oficina 5 A linguagem da poesia Leia os poemas abaixo. O constante diálogo Liberdade Há muitos diálogos O diálogo com o ser amado o semelhante o diferente o indiferente o oposto o adversário o surdo-mudo o possesso o irracional o vegetal o mineral o inominado Ai que prazer Não cumprir um dever, Ter um livro para ler E não o fazer! Ler é maçada, Estudar é nada, O sol doira Sem literatura. Carlos Drummond de Andrade O diálogo contigo mesmo com a noite os astros os mortos as idéias o sonho o passado o futuro Escolhe o teu diálogo e tua melhor palavra ou teu melhor silêncio mesmo no silêncio e com o silêncio dialogamos. (Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1973) Fernando Pessoa O rio corre, bem ou mal, Sem edição original. E a brisa, essa, De tão naturalmente matinal, Como tem tempo não tem pressa... Livros são papéis pintados com tinta, Estudar é uma coisa em que está indistinta A distinção entre nada e coisa nenhuma. Quanto é melhor quando há bruma, Esperar por D. Sebastião, Quer venha ou não! Grande é a poesia, a bondade e as danças Mas o melhor do mundo são as crianças, Flores, música, o luar, e o sol, que peca Só quando, em vez de criar, seca. O mais do que isto É Jesus Cristo, Que não sabia nada de finanças Nem consta que tivesse biblioteca... (Cancioneiro: obras completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1972) EDUCAÇÃO E CIDADANIA 38 FICHA 5 VERSO POESIA Um pouco de conversa A frente da ficha traz poemas de dois famosos poetas. Você já ouviu falar deles? E o que achou dos poemas? Gostou? Se você leu com atenção os verbetes do dicionário explicando o que querem dizer as palavras diálogo e liberdade, deve ter percebido algumas diferenças entre as definições que o dicionário dá e a forma como os poetas vêem e dizem essas mesmas coisas. Seria muito bom se você tentasse explicar para o grupo aquilo que percebeu. Agora, diga o que significa para você a palavra diálogo ou a palavra liberdade. Você pode escrever um pequeno poema ou fazer uma frase poética definindo uma delas, ou talvez juntando as duas. Veja alguns exemplos: Liberdade, essa palavra Que o sonho humano alimenta, Que não há ninguém que explique E ninguém que não entenda. (Cecília Meirelles) Diálogo é um abraço feito de palavras... (Maria Alice M.A. Oliveira) Agora é por sua conta! Tente fazer o seu, sem medo de errar. Pense e reescreva seu poema (ou seus poemas) ou frase quantas vezes for necessário, até chegar a algo que lhe agrade. O/a professor/a pode dar algumas dicas. O QU E DI Z O DI CI ON ÁR IO Diálogo [do gr. Diálog os, pelo lat. Dialogu] S.m. 1. Fala entre duas ou mais pessoas; conversação, colóquio . 2. Obra literária ou científica em forma dialogada. 3. Troca ou discussão de idéias , de opiniões, de conceitos, com vista à solução de problemas, ao entendim ento ou à harmonia; comunicaç ão: Sua maior dificuldade na vida ve m de não ter diálogo com os filhos . 4. Teat. Colóquio dramático entre os ato res, móvel da ação da peça, o que constitu iu o elemento básico do gênero teatra l. (Cf. dialogo, do v. dialogar.) Liberdade [do lat. Libert ate] S.f. 1. Faculdade de cada um se decidir ou agir segundo a própria determinação: sua liberdade, ninguém a tolhia. 2. Po der agir, no seio de uma sociedade org anizada, segundo a própria determinação, dentro dos limites impostos por normas definidas: liberdade civil; liberdade de impre nsa; liberdade de ensino. 3. Faculdade de praticar tudo o que não é proibido po r lei. 4. Supressão ou ausência de toda op ressão considerada anormal, ilegítima, imoral: Liberdade de pensam ento é um direito fundamental do home m. (Aurélio Buarque de Ho landa Ferreira, Novo Dicionário da Língua Por tuguesa) Depois, registre-o abaixo para guardar (não se esqueça do título), pois certamente você vai querer mostrá-lo a outras pessoas, além dos colegas de oficina. Passe-o a limpo também em sulfite, para que você e a turma possam montar um livro-sanfona com tudo o que foi produzido. O/a professor/a vai explicar como se faz. __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ EDUCAÇÃO E CIDADANIA FICHA 6 POESIA 39 NOME DATA Oficina 6 Um classificado diferente Um pouco de conversa Talvez você não saiba, mas há classificados e classificados. Leia estes abaixo, reparando bem no jeito com se estruturam. Alguns chegam até a ter erros de Português: D. ZULMIRA. Joga-se búzios, faz-se consultas espirituais, faz e desfaz qualquer tipo de trabalho. Problemas sobre casamento, namoro, doenças, negócios financeiros etc. Consultas c/ hora marcada pelos fones (11) 222-33 44 COMPRO jóias. Antigas/ modernas, brilhantes, relógios, pratarias, quadros, porcelanas, cristais etc. Cubro oferta do mercado. Anita 24 hs F-5349944/ 534-4499 COLCHÕES – Conserto. Reformo. Fabrico. Qquer tipo e tamanho. Atendo a domicílio. 30a de Tradição. Fones: 200-0034 (loja) / 222-4433 (fábrica) BARRACA PASTEL Vende-se completa c/ acess. P/ hot dog, em bom estado. R$ 400 F: 368-8030 ou 922-0022 Alice Estes são classificados tirados de jornais e revistas. Você notou como são curtos? Pois mesmo assim, são eficientes. É que quem oferece um produto ou serviço não quer gastar muito anunciando, e quem vai comprar, não quer perder muito tempo lendo. Notou também que há palavras abreviadas? Compreendeu o que significam? Se tem dúvida, pergunte a um colega ou ao/à professor/a. E os telefones citados, serão indispensáveis? É lógico! Senão, como entrar em contato com a pessoa que anuncia? Leia agora estes outros classificados: Classificados poéticos Roseana Murray Menina apaixonada oferece um coração cheio de vento onde quem quer pode soprar três sementes de sonho. O coração da menina ilumina as noites escuras como se fosse um farol. É um coração como todos os outros: às vezes diz sim às vezes diz não às vezes diz sim às vezes diz não e tem sempre uma enorme fome de sol. Troco um passarinho na gaiola por um gavião em pleno ar Troco um passarinho na gaiola por uma gaivota sobre o mar Troco um passarinho na gaiola por uma andorinha em pleno vôo Troco um passarinho na gaiola por uma gaiola aberta, vazia... Quero asas de borboleta azul para que eu encontre o caminho do vento o caminho da noite a janela do tempo o caminho de mim (Classificados poéticos. Belo Horizonte: Miguilim, 1988) EDUCAÇÃO E CIDADANIA 40 FICHA 6 VERSO POESIA Leia a seguir alguns outros poemas que foram inspirados pela leitura dos Classificados poéticos de Roseana Murray. Seus autores, jovens como vocês, eram alunos da escola pública EMEF “Prof. Máximo de Moura Santos”, de São Paulo. Troco um cachorro falante por um tapete mágico, um tapete que me leve para bem alto, onde eu possa dormir com as estrelas, falar com o sol, e, ao amanhecer, prosseguir sem destino. (Elaine Aparecida de Oliveira, 1994) Compro uma casa perto do mar, um lugar para sonhar, sem guerras nem violência, só com sonhos e entretenimento. Uma casa que cure todos os males, uma bela casa (Kleber W. dos Santos, com todos os meus 1994) sonhos, uma casa onde a realidade não caiba, onde tudo seja festa e alegria. Vendem-se uns sapatos encantados que dançam sozinhos um belo bailado. Quando se calçam, eles voam tão alto que vão parar no céu como uma abelha num favo de mel! Procuro a casa dos meus sonhos na ilha do pensamento que seja feita de chuva de alegrias e de vento. (Kelly Cristina Ferreira de Carvalho, 1994) (Leandro de Oliveira Armelin, 1994) Os classificados poéticos são só um pouco parecidos com os do jornal, não é? Você percebeu o que mudou? Comente isso com os colegas e o professor. Agora é sua vez de fazer um classificado poético. Escolha um dos verbos – procurar, vender, comprar, oferecer, trocar – e fale de seus sonhos, sentimentos, emoções, desejos, esperanças... Não é preciso usar rimas. Basta querer se soltar e dar asas à imaginação. Se achar difícil, trabalhe em dupla, com um colega. Depois, passe seu poema para uma folha de sulfite. Escreva usando cores, se puder; ilustre seu poema, se quiser. E junto com o grupo, monte um painel ou um livro com os poemas de todos. Transcreva também aqui seu poema. __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ EDUCAÇÃO E CIDADANIA FICHA 7 POESIA NOME 41 DATA Oficina 7 Poemas concretos Um pouco de conversa Esta ficha contém poemas bem diferentes. Será que você já viu algo igual? Junto com um colega, leia os poemas abaixo com atenção, procurando observar, além das palavras, o jeito como elas vêm escritas no papel, se formam figuras etc. A primavera endoideceu Sérgio Caparelli (Poesia fora da estante. Porto Alegre: Projeto, 1996) Terremoto José Paulo Paes (sem título) SE VOCÊ JUNTAR TODAS AS PULGAS TERÁ A MAIOR PULGA DO MUNDO. vento que é vento fica AGORA, SE ESSA PULGA PICAR ESSE CACHORRO E ELE SE COÇAR VAI CU O DO DO! SA DIR MUN TO meu ritmo bate no vento e se des pe da ça SE VOCÊ JUNTAR TODOS OS CACHORROS TERÁ O MAIOR CACHORRO DO MUNDO. (Um passarinho me contou. São Paulo: Ática, 1997) Paulo Leminski parede parede passa (Poesia fora da estante. Porto Alegre: Projeto, 1996) EDUCAÇÃO E CIDADANIA 42 FICHA 7 VERSO POESIA Desenhando poemas Depois de conhecer alguns poemas concretos, você vai tentar dar esse jeito diferente a um dos poemas abaixo. Não vale mudar as palavras! Você vai trabalhar somente com a forma como ele apresenta, procurando explorar a relação entre o que as palavras dizem (significado) e o jeito como podem ser escritas, “desenhadas” no papel. Não é difícil! E o resultado é bem legal! Haikais À toa, à toa, Joaninha abre a capa De bolinha e voa. Ângela Leite de Souza O meu gafanhoto, Gozado, salta de lado! (Ele é canhoto.) (Três gotas de poesia. São Paulo: Moderna, 1998) Que tudo passe passe a noite passe a peste passe o verão passe o inverno passe a guerra e passe a paz passe o que nasce passe o que nem passe o que faz passe o que faz-se que tudo passe e passe muito bem Paulo Leminski Caprichos e relaxos. São Paulo: Brasiliense, 1985) Debussy Manuel Bandeira Para cá, para lá... Para cá, para lá... Um novelozinho de linha... Para cá, para lá... Para cá, para lá... Oscila no ar pela mão de uma criança (Vem e vai...) Que delicadamente e quase a adormecer o balança — Psio... — Para cá, para lá... Para cá e ... — O novelozinho caiu. (Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974) Relógio As coisas são As coisas vêm As coisas vão As coisas Vão e vêm Não em vão As horas Vão e vêm Não em vão Oswald de Andrade (Literatura comentada. São Paulo: Abril Educação, 1980 Escreva aqui qual poema você escolheu para “concretar” e desenhe-o: Deu certo? Agora que você já se iniciou nos segredos dos poemas concretos, crie seu próprio poema! Pense em um pássaro que passa voando rapidinho, numa pipa rabeando pelo ar, nas folhas que caem de uma árvore, nas ondas do mar ou em qualquer outra coisa e escreva, tentando usar o que aprendeu nesta oficina. Depois é passar a limpo seu poema e, junto com a turma, bolar um jeito de expor, por exemplo formando um desenho ou uma palavra com as próprias folhas de papel onde desenharam seus poemas. Não se esqueça de guardar seu poema desenhado no portfólio junto com esta ficha. EDUCAÇÃO E CIDADANIA FICHA 8 POESIA NOME DATA Oficina 8 Brincadeiras e recriação Um pouco de conversa É, parece que o poeta José Paulo Paes tinha razão ao dizer que “Poesia é brincar com palavras”, você não acha? Você participou, com os colegas, de uma atividade interessante em que percebeu que fazer poesia significa fazer escolhas e jogar com as palavras. E como será que os poetas organizam seus poemas? Será que ficaram iguais ao do seu grupo? Veja abaixo como são os poemas originais e compare com o que você e seu grupo fizeram. Coisas Coisas boas: bombom, bolinho, bolacha, pastel, pipoca, pitanga. Maria Dinorah Coisas lindas: barquinho, balão, boneca, palhaço, pião, poema. Coisas de todos: lagoa, estrada, folhagem, luar, estrela, farol. A vida a vida comida a vida b e b i d a a vida dormida a vida i d a José Lino Grünewald (Poesia concreta. São Paulo: Abril Educação, 1982) Coisas de poucos: mel, moeda, medalha, milagre, amigo, amor. (Cantiga da estrela. Belo Horizonte: Lê, 1993) Agora é sua vez de poetar. Escolha um dos versos dos poemas acima (por exemplo: “Coisas boas” ou “a vida”) e continue o poema, colocando outras idéias, diferentes daquelas que os autores colocaram. Ou então, amplie o poema original, acrescentando outras coisas além das que o autor pensou. Mãos à obra! Depois, registre seu poema abaixo e também numa folha de papel, para ser exposto. __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 43 EDUCAÇÃO E CIDADANIA FICHA 9 POESIA 44 Oficina 9 Rimas e quadras Um pouco de conversa Você já participou do jogo das rimas e deve ter ficado craque no assunto. Quem quiser comprar saudade Eu tenho semente e dou Um canteiro tenho cheio Que aquele ingrato deixou. rimas Então lá vai outro desafio: completar os poemas abaixo com mais dois versos (linhas), mas sempre fazendo rimar o segundo verso com o quarto. A primeira quadra ou trova já está pronta, para facilitar; as outras você “tira de letra” (ou de rima?)! Quando terminar, você e os colegas podem ler o que fizeram, passar a limpo as que vocês mais gostaram, para expor em forma de mural, painel ou livro. Complete: Sexta-feira faz um ano Que meu coração fechou Menina dos olhos grandesNão olha tanto pra mim ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________ Uma velha muito velha Mais velha que o meu chapéu A roseira quando nasce Toma conta do jardim ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________ Não dês a ponta do dedo Que logo te levam a mão Eu amo quem não me quer E desprezo a quem me ama ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________ Você me mandou cantar Pensando que eu não sabia Dois beijos tenho na boca Que jamais esquecerei ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________ Lá no fundo do quintal Tem um tacho de melado Coitadinho de quem canta Na porta do seu amor ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________ (Ricardo Azevedo. Armazém do folclore. São Paulo: Ática, s.d.) EDUCAÇÃO E CIDADANIA FICHA 10 POESIA NOME DATA Oficina 10 Trava-línguas & poesia Um pouco de conversa Se você já se divertiu um pouco na primeira parte desta oficina, prepare-se, porque aí vem mais. Você terá de falar direito e bem depressa um dos trava-línguas abaixo. Mas antes, decida com o professor e com a turma quem vai falar o quê. Treine, solte a língua e boa sorte! Corrupaco, papaco, a mulher do macaco, ela pita, ela fuma, ela toma tabaco debaixo do sovaco Se a aranha arranha a rã, se a rã arranha a aranha, como a aranha arranha a rã? Como a rã arranha a aranha? A pipa pinga, o pinto pia, quanto mais o pinto pia, mais a pipa pinga. Sabendo o que sei e sabendo o que sabes e o que não sabes e o que não sabemos, ambos saberemos se somos sábios, sabidos ou simplesmente saberemos se somos sabedores. Não tem truque, troque o trinco, traga o troco e tire o trapo do prato.Tire o trinco, não tem truque, troque o troco e traga o trapo do prato. Maria-mole é molenga. Se não é molenga, não é Maria-mole. É coisa malemolente, nem mala,nem mola, nem Maria nem mole. Tinha tanta tia tantã. Tinha tanta tia antiga.Tinha tanta anta que era tia. Tinha tanta tia que era anta. Olha o sapo dentro do saco, o saco com o sapo dentro, o sapo batendo papo e o papo soltando vento. Paga o pato, dorme o gato, foge o rato, paga o gato, dorme o rato, foge o pato, paga o rato, dorme o pato, foge o gato. Um grego é gago, outro grogue é gagá. Tem um grego gagá e um grogue gago. Tem também um grego grogue e um gago gagá. Pedro tem o peito preto. O peito do pé de Pedro é preto. Se o peito de Pedro é preto, o peito do pé de Pedro é preto? Larga a tia, lagratixa! Lagartixa, larga a tia!Só no dia em que sua tia chamar largatixa de lagartixa! Porco crespo, toco preto. Um prato de trigo para três tigres tristes. (Transcritos de toalha de bandeja de loja MacDonald’s e de Ricardo Azevedo, Armazém do folclore. São Paulo: Ática, s.d.) Se você gostou dos trava-línguas e se “enroscou” neles, experimente agora ler e falar as Travatrovas de Ciça, no verso. 45 EDUCAÇÃO E CIDADANIA 46 FICHA 10 VERSO POESIA Travatrovas Ciça Chave de chumbo – Eu acho, “seu” Chico Sá, que sua chave de chumbo tomou um chá de sumiço. Mas Sheila acha que a chave, a chave de chumbo, se acha no chão da sala de Xerxes, “seu” Xerxes Sousa da Silva, seu sócio, “seu” Chico Sá. Se um dia me der na telha Se um dia me der na telha eu frito a fruta na grelha eu ponho a fralda na velha eu como a crista do frango eu cruzo zebu com abelha eu fujo junto com a Amélias e um dia me der na telha. Briga Piparote, peteleco, um coque, um teco, um tostão. Puxão de orelha, bicada, tapa, soco, murro, unhada, pé-d’ouvido, beliscão. Tabefe, catiripapo, traulitada, safanão. Caraca, girassarão Caraca, girassarão Sarracalha, rebimboca, Piravaga, aratamboca, turuntalha, piparão. Sevi, pevi, omarão, guajão, guajiba, gibamba, guarricoca, ricucamba, ricoca, samarimbeta, teti, tirolé, trombeta, patativa, sarabamba. Otorrinolaringologismo Tem um otorrinolaringologista otorrinolaringologando todo contente, todo feliz otorrinolaringologicamente meu ouvido, minha garganta e meu nariz. O pedreiro Pedro Alfredo O pedreiro Pedro Alfredo, o Pedro Alfredo Pereira, tramou tretas intrigantes, transou truques, pregou petas, pois Pedro Alfredo Pereira é um tremendo tratante! O rato, o pato, o gato e o Nonato O rato roeu a roupa do Rei de Roma, o pato poeu a poupa do Pei de Poma, o gato goeu a goupa do Guei de Gomae o Nonato noeu a noupa do Nei de Noma. Chegou “seu” Chico Sousa Só sei que “seu” Chico Sousa chegou e trouxe da China a seda xadrez da Célia o xale roxo da Sônia o xale cinza da Sheila e a saia chique da Selma. Se um dia me der na telha Se um dia me der na telha eu frito a fruta na grelha eu ponho a fralda na velha eu como a crista do frango eu cruzo zebu com abelha eu fujo junto com a Amélias e um dia me der na telha. (Travatrovas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, s.d.) Legal, não? Você não acha que também pode criar o seu? Preste atenção nas dicas do professor e mãos à obra! Copie abaixo seu trava-línguas ou travatrova e, se quiser, ilustre-o para expor. __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ EDUCAÇÃO E CIDADANIA FICHA 11 POESIA NOME 47 DATA Oficina 11 Poesia falada Um pouco de conversa Nesta oficina você vai aprender que, além de ser lida em silêncio, a poesia pode ser lida em voz alta e de uma forma bonita e expressiva. Para isso e só juntar um grupo de pessoas, escolher um bom poema, dividir os versos (linhas) ou trechos do poema entre as pessoas e depois cada um falar seu pedacinho na ordem e na hora certa. Fácil, não é? Mas é preciso ensaiar um pouco para ter bons resultados, porque no começo tem gente que vacila, tropeça nas palavras, fala muito baixo ou muito alto, muito devagar ou muito depressa. É preciso que todas as vozes se afinem, se encaixem como peças de uma engrenagem. O professor vai ajudar. Vamos tentar? No primeiro poema abaixo, está indicada uma sugestão de distribuição das vozes. Para o segundo, sejam criativos; vocês podem inclusive superpor vozes (um grupo de vozes pode, por exemplo, ficar repetindo baixinho “café com pão” enquanto outras falam outros versos). Tentação Voz 1 Voz 2 Voz 3 Voz 4 Voz 5 Voz 6 Voz 7 Voz 8 Voz 9 Voz 10 Todos Carlos Queiroz Telles Tudo o que está do lado de lá. Tudo o que está atrás de um não. Tudo o que está com cara de errado. Tudo o que está com ar de pecado. Tudo o que está na lista da lei. Tudo o que está na bronca do pai. Tudo o que está na cisma da mãe. Tudo o que está guardado em segredo, trancado a chave no fundo da mala, escondido da gente no pó do porão... Tudo isso tem cara de ser muito bom! (Sonhos, grilos e paixões. São Paulo: Moderna, 1990) Trem de ferro Café com pão Café com pão Café com pão Virge Maria que foi isso maquinista? Agora sim Café com pão Agora sim Voa, fumaça Corre, cerca Ai seu foguista Bota fogo Na fornalha Que eu preciso Muita força Muita força Muita força Oô... Foge, bicho Foge, povo Passa ponte Passa poste Passa pasto Passa boi Passa boiada Passa galho De ingazeira Debruçada No riacho Que vontade De cantar! Manuel Bandeira Oô...Quando me prendero No canaviá Cada pé de cana Era um oficiá Oô... Menina bonita Do vestido verde Me dá tua boca Pra matá minha sede Oô... Vou mimbora, vou mimbora Não gosto daqui Nasci no sertão Sou de Ouricuri Oô... Vou depressa Vou correndo Vou na toda Que só levo Pouca gente Pouca gente Pouca gente... (Estrela da Vida Inteira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974) EDUCAÇÃO E CIDADANIA FICHA 12 VERSO POESIA 48 DATA Oficina 12 Poemas ao vento Um pouco de conversa Você ouviu a história do poeta Bashô, que desenvolveu o haicai — um tipo de poesia muito especial, admirada no mundo todo. Leia agora alguns poemas que ele criou e outros, escritos por poetas mais modernos inspirados na arte desse velho mestre. Haicais Bashô Poetas brasileiros Porta fechada, deito-me no silêncio: prazer da solidão. Admirável não pensar ao ver o raio: ”É fugaz a vida”. Gota de orvalho: lágrima da madrugada que a folha enxugou. Mil vezes ao dia, três gotas de poesia. Uso interno somente. Lá vai meu boné volteando pelo céu... Cabeça-de-vento! (Ângela Leite de Souza. Três gotas de poesia. São Paulo: Moderna, 1998) No mar sombrio dourada ainda a voz dos patos selvagens. Tufo de capim em boca de boi será chiclete de menta? Velhas janelas debruçam as memórias ao entardecer. A caveira é bem rara. Não pensa nem fala. Só encara. Agora é inverno e no mundo uma só cor; o som do vento. Estas pimentas: acrescentai-lhes asas e serão libélulas. Sol e chuva, chuva e sol. E se o espanhol casar com a viúva. O sofrimento para a poesia é bom adubo. Podes crer, Com um dia de doença Já aprendo a morrer. Nesta noite ninguém pode deitar-se: lua cheia. (Haikais de Bashô. Trad. Olga Savary. São Paulo: Hucitec, 1989) Quem anda com os pés na cabeça é artista de circo ou... piolho. Aliás, tudo para a poesia é bom adubo (Gustavo Alberto C. Pinto. Relâmpagos. São Paulo: Massao Ohno, 1990) Socialistas imundos: Querem acabar Com os vagabundos! (Millôr Fernandes. Literatura comentada. São Paulo: Abril Educação, 1980) O que você achou? O que mais lhe chama a atenção nos haicais? Ouça as explicações do professor sobre esse tipo de poema: isso vai ajudá-lo a criar seus próprios haicais. Pode parecer difícil, mas vale a pena tentar! Depois que terminar, passe seus poemas a limpo. O professor vai dar sugestões para organizar a exposição dos haicais. Transcreva aqui seu/s haicai/s. __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ EDUCAÇÃO E CIDADANIA FICHA 13 POESIA NOME 49 DATA Oficina 13 Poemas para rir Um pouco de conversa Vocês consultaram o dicionário, discutiram, e agora já sabem o que significa paródia. Que tal ver na prática como ela funciona? Leia os textos abaixo e procure observar com atenção que modificações a parodista fez no poema original e que efeito ela conseguiu com isso. Discuta a respeito com os colegas e o professor. Meus oito anos Casimiro de Abreu Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo do laranjais! (...) Oh! dias de minha infância! Oh! meu céu de primavera! Que doce a vida não era Nessa risonha manhã! Em vez das mágoas de agora, Eu tinha nessas delícias De minha mãe as carícias E beijos de minha irmã! (...) Naqueles tempos ditosos Ia colher as pitangas, Trepava a tirar as mangas, Brincava à beira do mar; Rezava as Ave-Marias, Achava o céu sempre lindo, Adormecia sorrindo E despertava a cantar! (...) (Obras completas. Rio de Janeiro: Garnier, s.d.) Ai que saudades... Ruth Rocha Ai que saudades que eu tenho Da aurora da minha vida Da minha infância querida Que os anos não trazem mais... Me sentia rejeitada, Tão feia, desajeitada, Tão frágil, tola, impotente, Apesar dos laranjais. (...) Oh dias de minha infância, Quando eu ficava doente, Ou sentia dor de dente, E lá vinha tratamento! Era um tal de vitamina... Mingau, remédio, vacina, Inalação e aspirina, Injeção e linimento! (...) Naqueles tempos ditosos Não podia abrir a boca, E a professora era louca, Só queria era gritar. Senta direito, menina! Ou se não, tem sabatina! Que letra mais horrorosa! E pare de conversar!(...) (O mito da infância feliz. São Paulo: Summus, 1983) EDUCAÇÃO E CIDADANIA 50 FICHA 13 VERSO POESIA Paródias Canção do exílio Minha terra tem palmeiras, Onde canta o sabiá; As aves que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. (...) Gonçalves Dias Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. (Apresentação da poesia brasileira. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d.) Canção do exílio Murilo Mendes Nossas flores são bonitas, nossas frutas mais gostosas mas custam cem mil réis a dúzia. (Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994) Canção do exílio facilitada LÁ? AH! José Paulo Paes Canto de regresso à pátria SABIÁ... PAPÁ... MANÁ... SOFÁ... SINHÁ... Minha terra tem Palmares Onde gorjeia o mar Os passarinhos daqui Não cantam como os de lá. (Transcrito de Wiliam R. Cereja e Thereza C. Magalhães, Todos os textos. São Paulo: Atual, 1998) Oswald de Andrade CÁ? BAH! (Literatura comentada. São Paulo: Abril Educação, 1980) Agora é sua vez de fazer um poema para rir. Escolha: trabalhe sozinho ou com um colega. Para fazer sua paródia, tome como inspiração um dstes poemas, ou uma cantiga de roda, ou a letra de uma canção popular de sucesso. Não se esqueça de que palavrões e expressões grosseiras podem até ficar engraçadas numa paródia, mas são um recurso fácil e de mau gosto, que mostram falta de criatividade do parodista. Ao terminar, você e os colegas podem trocar os textos que produziram, de modo que todos fiquem conhecendo o que cada um fez. Podem também lê-los ou cantá-los — se as paródias forem feitas a partir de letras de música. Para expor, passe a limpo sua paródia e o poema ou letra original, lado a lado. Registre aqui sua paródia. Canção do exílio às avessas* Jô Soares Minha Dinda* tem cascatas Onde canta o curió Não permita Deus que eu tenha De voltar pra Maceió. (...) O meu céu tem mais estrelas Minha várzea tem mais cores. Este bosque reduzido Deve ter custado horrores. (...) Finalmente, aqui na Dinda, Sou tratado a pão-de-ló. Só faltava envolver tudo Numa nuvem de ouro em pó. E depois de ser cuidado Pelo PC com xodó, Não permita Deus que eu tenha De acabar no xilindró. (Veja. 16 set. 1992) * Crítica ao ex-presidente Collor e à sua luxuosa casa em Brasília (Casa da Dinda). 40 ISBN 85-85786-36-1 Autoria Realização SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO