54174380-Educacao-e-Cidadania-Modulo-14

Transcrição

54174380-Educacao-e-Cidadania-Modulo-14
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES
EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL
E
14
POR FALAR EM POESIA ...
P OEMAS
UM
PARA CANTAR
ACRÓSTICO PARA ...
RECRIAÇÃO
A
UM
DE POEMA
LINGUAGEM DA POESIA
CLASSIFICADO DIFERENTE
DESENHANDO
BRINCADEIRAS
R IMAS
POEMAS
E RECRIAÇÃO
E QUADRAS
TRAVA -LÍNGUAS &
P OESIA
P OEMAS
POESIA
FALADA
AO VENTO
P OEMAS
PARA RIR
40
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES
EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL
14
ORGANIZAÇÃO CURRICULAR PARA AS
UNIDADES DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA
DA FEBEM/SP
MÓDULO DE ATIVIDADES ESCOLARES
Governador do Estado de São Paulo
Geraldo Alckmin
Secretário de Estado da Educação
Gabriel Chalita
Secretário Adjunto
Paulo Alexandre Pereira Barbosa
Chefe de Gabinete
Mariléa Nunes Vianna
Coordenadora de Estudos e Normas Pedagógicas
Sonia Maria Silva
Presidente da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor
Marcos Antonio Monteiro
Secretaria de Estado da Educação
Praça da República, 53 Centro
01045-903 São Paulo SP
Telefone: (11) 3218-2000
www.educacao.sp.gov.br
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES
EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL
Autoria
14
Realização
SECRETARIA DE
ESTADO DA EDUCAÇÃO
Coleção Educação e Cidadania, módulo 14
Material produzido no âmbito do projeto
Elaboração e Implementação de Proposta Pedagógica para Adolescentes em
Situação de Conflito com a Lei, desenvolvido pelo CENPEC para
a FEBEM/SP – Fundação para o Bem-Estar do Menor do Estado de São Paulo e
SEE/SP - Secretaria de Estado da Educação
CENPEC - CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM
EDUCAÇÃO, CULTURA E AÇÃO COMUNITÁRIA
R. Dante Carraro 68 Pinheiros
05422-060 São Paulo SP
http://www.cenpec.org.br
Diretora presidente
Maria Alice Setubal
Coordenação geral
Maria do Carmo Brant de Carvalho
Coordenação do Projeto (Equipe Currículo & Escola)
Maria Silvia Bonini Tararam (Coord.)
e-mail: [email protected]
Maria José Reginato Ribeiro
Marilda F. Ribeiro de Moraes
Autoria do módulo Poesia
América dos Anjos Costa Marinho
Jorge Marinho
Maria Alice Mendes de Oliveira Armelin
Equipe técnica
América A.C.Marinho
Elizabeth Barolli
Marlene C. Alexandroff
Ronilde Rocha Machado
Assessoria
Isa Maria F. R. Guará
Yara Sayão
Edição de Texto
Tina Amado
A equipe agradece a contribuição dos educadores da
FEBEM/SP, participantes dos encontros de discussão que
subsidiaram a produção deste material entre outubro de
2000 e fevereiro de 2001
Edição de Arte
Eva Paraguassú de Arruda Câmara
José Ramos Néto
Camilo de Arruda Câmara Ramos
Ilustração
Luiz Maia
Poesia / Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação
Comunitária – CENPEC – São Paulo; CENPEC; FEBEM, SEE/SP; 2003.
Coleção Educação e Cidadania.
Módulo de oficinas culturais 14
Ilustr.; 12 fichas
ISBN: 85-85786-36-1
Educação e Cidadania: proposta pedagógica 1. Educação, ponte para o
mundo 2. Família e relações sociais 3. Justiça e cidadania 4. Saúde,
uma questão de cidadania 5. O trabalho em nossas vidas 6. Artes
visuais e cênicas 7. Conto 8.Correspondência 9. Educação ambiental:
problemas globais, ações locais 10. Hora de se mexer 11. Jogos da
vida 12. Jornal 13. Música e movimento 14. Poesia 15. Ponto de
encontro I. Título II. CENPEC III. FEBEM
CDD-370.11
São Paulo, 2003
Wagner Mendes Soares CRB-8 – 038/2002
SUMÁRIO
Introdução
6
Oficina 1
E por falar em poesia...
11
Oficina 2
Poemas para cantar
12
Oficina 3
Um acróstico para...
13
Oficina 4
Recriação de poema
14
Oficina 5
A linguagem da poesia
15
Oficina 6
Um classificado diferente
16
Oficina 7
Desenhando poemas
17
Oficina 8
Brincadeiras e recriação
18
Oficina 9
Rimas e quadras
19
Oficina 10
Trava-línguas & poesia
20
Oficina 11
Poesia falada
21
Oficina 12
Poemas ao vento
22
Oficina 13
Poemas para rir
24
Referências bibliográficas
25
Fichas
27
Sugestões para o acervo da Unidade
25
EDUCAÇÃO E CIDADANIA
6
INTRODUÇÃO
Quem lê vai em frente,
quem escreve vai também.
O poeta segue contente
quando dirige esse trem.
Fernando Paixão
A poesia, quase sempre, está presente em
nossas vidas: nas canções com que as mães
nos embalaram; nas falas, questionamentos e
descobertas das crianças; nas cantigas de roda;
nas parlendas; nos trava-línguas; nas adivinhas;
nas páginas de um diário de adolescência; nas
frases de amor, de dor ou de consolo que
trocamos; nas músicas que ouvimos no rádio e
cantarolamos sem atinar por quê... Isso
acontece porque, nessas situações, as palavras
têm uma força e um sentido incomuns – elas
são empregadas com base em seu poder lúdico,
sugestivo, emocional.
Para muitos de nós – e especialmente para o
poeta Carlos Drummond de Andrade –, essa
poesia tão inerente à infância vai-se perdendo
com o passar dos anos e muitos culpam a
escola por essa perda. Acreditamos, porém,
que a aproximação com a poesia pode
acontecer concretamente em qualquer espaço,
desde que se conviva com autores e estilos,
reavivando continuamente a capacidade de
olhar e ver – a essência reveladora da poesia –
ver as coisas com olhos de primeira vez.
Assim, o objetivo destas oficinas é a
aproximação dos jovens com a linguagem
poética, no sentido de se familiarizarem com a
poesia, para que tenham prazer em ler e ouvir
poemas e, sobretudo, para que se sintam
motivados a expor suas emoções através dos
recursos tão expressivos da linguagem poética.
Selecionamos poemas de autores e estilos
diversos; alguns se destinam apenas à leitura e
apreciação pelos alunos; outros servirão
também de base para atividades.
Apostamos em você, professor, como mediador
sensível, capaz de intensificar o contato dos
alunos com a poesia, orientando-os no sentido
de ler e ouvir cada poema, saboreando o ritmo,
os sons, as imagens, a disposição gráfica, não
apenas uma vez, mas inúmeras vezes e, a cada
uma delas, buscando novas descobertas.
Certamente, a observação mais atenta desses
recursos trará aos jovens uma compreensão
maior da linguagem poética e lhes dará
condições para que ensaiem seus próprios
passos em poesia.
Nas atividades que se seguem, os alunos
produzirão poemas, tendo como estímulo obras
diversas, produzidas por autores consagrados
ou por jovens como eles. É a partir deles que
se desenvolvem as oficinas, cujos
encaminhamentos buscam fazer com que os
participantes se apropriem dos recursos e
estilos apresentados. Contudo, se algum dos
jovens preferir, poderá optar por criar
livremente seus poemas, sem se prender às
orientações dadas. Nesse caso, é importante
que você respeite e valorize essa opção, pois
os resultados podem ser muito interessantes.
Ao final de cada oficina, não se esqueça de
encaminhar a troca de poemas para leitura
silenciosa e oral, motivar para um trabalho de
ilustração (quando desejarem) e garantir a
revisão dos textos.
Quem lê ou escreve poemas lida com sentidos
novos e incomuns das palavras e expressões. Por
isso, em todas as atividades é importante ter alguns
dicionários disponíveis para consulta.
A ficha “zero” desta e de outras oficinas traz
orientações para o uso do dicionário, bem como
para o trabalho em grupo.
Todos os textos produzidos devem ter um leitor
real. Para isso, têm de ser expostos na própria
sala onde acontecem as oficinas ou divulgados
em mural, painel ou jornal. E, sempre que
possível, reunidos em coletâneas manuscritas
ou impressas (via computador) e até mesmo
ilustradas, acessíveis a todos.
É importante explicar isso ao grupo antes do
início de cada oficina, pois essa informação
pode tanto motivar a participação dos jovens
quanto garantir a preservação dos textos que
produzirem.
Organização deste módulo
Este fascículo contém orientações e sugestões
de procedimento para o desenvolvimento de
13 oficinas. Cada uma é apresentada em três
partes: Aquecimento, Atividade (diferentes
etapas) e Fechamento. Contém também a
reprodução de todas as fichas para alunos.
O material do aluno participante é composto de
12 fichas numeradas conforme o número da
respectiva oficina (a primeira oficina requer
duas fichas; e, em dois casos, uma mesma
folha traz, na frente e no verso, fichas para
duas oficinas). Na verdade, são 11 fichas para
as oficinas de Poesia mais a ficha “zero”, com
orientações para uso do dicionário e para o
trabalho em grupo, que também integra outros
módulos de oficinas. Leia com eles essa ficha
sempre que houver um número razoável de
participantes novos, pedindo que façam as
atividades aí propostas.
Antes de iniciar cada oficina, estude este
fascículo e as fichas dos jovens, providenciando
o material necessário junto à coordenação
com antecedência (um disquete para
impressão das fichas, conforme o número de
alunos presentes, integra este módulo).
A seguir, apresentamos algumas orientações
gerais para o trabalho com poemas e a
produção de textos poéticos, organização de
coletânea, recursos poéticos, além de sugestões
para o trabalho com os não-alfabetizados.
O trabalho com poemas e a
produção de textos poéticos
O verdadeiro conhecimento de poesia não se
preocupa muito com definições ou conceitos...
A poesia espera nosso envolvimento pessoal,
espera que nos aproximemos dela dispostos a
sentir, experimentar, vivenciar. (...) Para
entender um poema é preciso deixar-se
contaminar por ele, aceitar que as palavras nele
empregadas tenham vários sentidos.
Carlos Felipe Moisés
Para entender poesia, é preciso gostar de
poesia. E, para gostar de poesia, é preciso ler
poesia e, talvez, escrever poesia. Quanto mais
OFICINAS DE POESIA
se gosta, mais se entende e quanto mais se
entende, mais se gosta, sobretudo quando não
se perde de vista o sentido lúdico da poesia:
fazer poesia é brincar com as palavras.
As oficinas aqui propostas partem do princípio
de que, para gostar de poesia, é preciso
convívio constante, familiaridade com o texto
poético. Não se propõe mais que isso. Se,
nesse convívio, os jovens perceberem de quais
estratégias os poetas lançam mão para
provocar em nós o impacto que a poesia
provoca e, mais ainda, se conseguirem eles
próprios utilizar esses recursos em seus
poemas, não se pode esperar mais nada.
Organização de coletânea
À medida que oficinas forem ocorrendo, vá
organizando os poemas produzidos pelos
jovens para serem reunidos em coletâneas.
É conveniente que dela façam parte não só as
produções mais bem-sucedidas, mas também
aquelas mais frágeis ou tímidas. Afinal, o
objetivo será apresentar uma mostra dos
trabalhos realizados e é importante que todos
sejam contemplados. Lembre-os de que a
coletânea deve conter poemas de todos os
participantes, com a respectiva indicação de
autoria. Cada um pode escolher, dentre seus
poemas, aquele de que mais gosta. Oriente a
seleção, revisão e diagramação dos textos que
farão parte da coletânea. É claro que, dada a
rotatividade dos alunos, alguns autores podem
não mais estar presentes no momento da
organização. Você irá avaliar, pelo volume de
produção e número de alunos, a periodicidade
da organização de coletâneas. Idealmente, pelo
menos uma deve ser montada ao final de cada
quinzena de trabalho nessa oficina.
Discuta com o grupo presente formas de
reprodução da coletânea. Os textos podem ser
manuscritos ou, se dispuserem de computador
para uso dos jovens, podem ser digitados e
impressos. Poderão também ser ilustrados
manualmente pelos autores ou por meio de um
programa específico de computador. Depois de
prontos, devem passar por uma última revisão,
para que cheguem ao público sem erros
gramaticais ou de imprensa.
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EDUCAÇÃO E CIDADANIA
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V ALORIZE
O PORTFÓLIO
Independentemente das diferentes possibilidades de
divulgação, cópias de todas as produções dos jovens
devem ser guardadas nos seus portfólios. Parte da
produção dos alunos será registrada nas próprias
fichas, que vão para o portfólio. Para rascunho e
anotações durante as oficinas, usarão seus
cadernos, se os tiverem, ou folhas de papel avulsas
– as quais também poderão ser guardadas nele.
Recursos poéticos
O objetivo destas oficinas é sensibilizar os
meninos e meninas para a poesia, de modo que
possam saboreá-las e, em suas tentativas
poéticas, expressar de forma natural sentimentos
e emoções. Portanto, não se propõe de maneira
alguma que estudem rimas, comparação,
metáfora, personificação, paralelismo ou
outros recursos utilizados pelos poetas para
dar maior expressividade ao poema. Contudo,
como os poemas que irão ler estão repletos
desses recursos, consideramos interessante
exemplificar aqui alguns deles, para que você
tenha elementos que lhe permitam comentá-los,
caso haja necessidade em alguma das oficinas.
Inicialmente vamos falar de rima
rima, isto é, da
combinação dos sons finais de cada verso. É
um recurso da poesia tradicional, mas ainda
usado por poetas modernos, que às vezes o
utilizam e às vezes não. Veja um exemplo de
Manuel Bandeira:
Trova
Atirei um limão doce
Na janela do meu bem:
Quando as mulheres não amam,
Que sono as mulheres têm!
Outro recurso pode ser observado nos dois
primeiros versos do Poeminha sentimental de
Mário Quintana:
Poeminha sentimental
O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o
mesmo.
As andorinhas é que mudam.
Neles, o poeta faz uma comparação entre
elementos aparentemente distantes: “O meu
amor, o meu amor, Maria / É como um fio
telegráfico”. Note que o autor utilizou a palavra
como para criar uma relação de semelhança
entre amor e fio telegráfico. Poderia ter
utilizado outras palavras como parece, lembra
etc. O sentido dessa comparação entre os dois
elementos constrói-se e ganha lógica ao longo
do poema.
Passemos ao poema Família desencontrada,
também de Mário Quintana.
Família desencontrada
O Verão é um senhor gordo, sentado na
varanda,
suando em bica e reclamando cerveja.
O Outono é um tio solteirão que mora lá em
cima no sótão
e a toda hora protesta aos gritos:
“Que barulho é esse na escada?!”
O Inverno é o vovozinho trêmulo, com a boina
enterrada até os olhos,
a manta enrolada nos queixos e
sempre resmungando: “Eu não gosto deste
agosto, eu não gosto deste agosto...”
A Primavera, em contrapartida
– é ela quem salva a honra da família! –,
é uma menininha pulando corda cabelos ao
vento
pulando e cantando debaixo da chuva
curtindo o frescor da chuva que desce do céu
o cheiro da terra que sobe do chão
o tapa do vento na cara molhada!
Oh! a alegria do vento desgrenhando as
árvores
revirando os pobres guarda-chuvas
erguendo saias!
A alegria da chuva a cantar nas vidraças
sob as vaias do vento...
Enquanto
desafiando o vento, desafiando tudo –
no meio da praça a menininha canta
a alegria da vida!
Note como o poeta estabelece uma relação
bastante estreita entre as estações do ano e
certos tipos humanos, sem contudo utilizar
termos de comparação (como, parece, lembra
etc.). Trata-se de um tipo de comparação mais
ampla e rica, de caráter pessoal, subjetivo.
Observe as seguintes metáforas
metáforas: “O Verão é
um senhor gordo...”, “O Outono é um tio
solteirão...”, “O Inverno é o vovozinho trêmulo...”,
“A Primavera (...) é uma menininha...”.
Agora, leia algumas das Definições poéticas de
Quintana e observe mais metáforas.
Definições poéticas
Modéstia: A modéstia é uma vaidade escondida atrás da porta.
Recordação: A recordação é uma cadeira de balanço embalando sozinha.
Amigo: Amigo é a criatura que escuta todas as
nossas coisas sem aquela cara que parece estar dizendo: – E eu com isso?
Reticências: As reticências são os três primeiros passos do pensamento que continua por
conta própria o seu caminho.
Sonho: Um poema que, ao lê-lo, nem sentirias
que ele estivesse escrito, mas que fosse brotando, no mesmo instante, de teu próprio coração.
Madrigal: As velhinhas bonitas são passas de
uva.
Mentira: A mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer.
Sonhar: Sonhar é acordar-se por dentro.
Hipopótamo: O hipopótamo é um bruto sapatão afogado.
Gato: O gato é preguiçoso como uma segundafeira.
Horror: Com seus OO de espanto, seus RR guturais, seu hirto H, HORROR é uma palavra de
cabelos em pé, assustada da própria significação.
Camuflagem: a esperança é um urubu pintado
de verde.
(Em: Sapo amarelo. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1996)
OFICINAS DE POESIA
Saiba que há um tipo especial de metáfora que
consiste em dar aos seres inanimados
características e atitudes próprias dos seres
animados. Esse recurso chama-se
personificação ou prosopopéia
prosopopéia. Note, nas
duas últimas estrofes do poema O adolescente
de Quintana, as características humanas que o
poeta atribui às folhas e à vida.
O adolescente
A vida é tão bela que chega a dar medo
Não medo que paralisa e gela,
estátua súbita,
mas
esse medo fascinante e fremente de curiosidade que
faz
o jovem felino seguir para frente farejando o vento
ao sair, a primeira vez, da gruta.
Medo que ofusca: luz!
Cumplicemente,
As folhas contam-te um segredo
Velho como o mundo:
Adolescente, olha! A vida é nova...
A vida é nova e anda nua
Vestida apenas com o teu desejo!
(Superjovem, São Paulo [Abril], v.1, n.2, p.7, set. 1991)
Outro recurso bastante usado pelos poetas é
o paralelismo
paralelismo, isto é, a repetição de versos ou
parte de versos nas várias estrofes do poema.
Observe atentamente este outro poema de
Quintana:
Passarinho na tarde de sábado
Como se fosse o primeiro passarinho do mundo
Na primeira manhã do mundo,
Voa e revoa
Por cima do mundo, por cima de tudo,
Por cima da praça modesta
Onde velhinhos sentados
Fazem um pouco de sesta.
Voa e revoa, inquieto.
Por cima da gente que passa
Apressada,
Por cima das árvores
Por cima da estátua eqüestre
Que está no meio da praça.
Esvoaça,
Esvoaça
Alegre!
Passarinho, eu te acho uma graça...
Só uma coisa te peço, passarinho de
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EDUCAÇÃO E CIDADANIA
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minh’alma:
Não me faças nenhum descuido em cima do
cavalo da estátua!
O trabalho com os jovens
não-alfabetizados
Provavelmente você terá na sala jovens com
diferentes experiências em leitura e escrita;
muitos sequer conhecerão as letras e o que a
escrita representa. Mas isso não deve ser
impedimento para sua participação nas
atividades propostas nas oficinas. Ao contrário
– embora saibamos que o tempo de participação
desses jovens em uma oficina não é suficiente
para fazer com eles um trabalho consistente de
alfabetização –, é possível aproximá-los um
pouco mais do mundo da escrita.
Participar das atividades propostas para as
diversas oficinas e módulos e entrar em
contato com diferentes tipos de texto escrito
permitem que o sujeito internalize as
diferentes formas de organização textual e
descubra o que a escrita representa e como
se organiza. Quando você (ou um colega
alfabetizado) lê para o aluno, ele também se
torna leitor, porque atribui sentido ao texto
lido. Quando você (ou um colega alfabetizado)
registra as idéias do aluno não-alfabetizado em
um texto coletivo, ele também é autor do texto.
À medida que participa dessas atividades, vai
internalizando o discurso escrito, reconhecendo
letras, relacionando-as aos sons. Para que isso
ocorra, algumas vezes são precisos pequenos
ajustes nas propostas, mas sobretudo um
trabalho muito grande de cooperação. Por
exemplo, um leitor mais experiente, professor
ou colega, ajuda o aprendiz a progredir na
leitura e na escrita dando-lhe seu testemunho
de leitura, apontando onde está lendo. Os menos
experientes podem ditar o que têm a dizer para
que outros escrevam, registrar como souberem
(inclusive por meio de desenho) e ter uma
participação oral mais ativa. O importante é que
as atividades permitam a inclusão de todos e
contribuam para a superação das dificuldades
de cada um. Além disso, você pode:
dispor materiais de leitura ao alcance de
todos;
ler sempre os textos para eles – não apenas os
que não sabem gostam de ouvir alguém ler;
preparar-se antes para a leitura,
demonstrando prazer nela e, se o texto
permitir, fazer suspense, desafiá-los a
adivinhar o que virá depois;
escrever na lousa o título do poema ou um
ou mais versos;
de vez em quando, pedir que reproduzam o
que você tiver lido, por meio de desenho ou
escrita, como souberem;
comentar poemas (ou outros textos) que
você tenha lido e achado interessantes;
aproveitar o trabalho com os textos que
permitem memorização (poesias, parlendas,
adivinhas) e incentivar os alunos que ainda
não lêem a fazer “leitura de memória” –
sabendo o texto de cor, fazem de conta que
estão lendo;
procurar ler o que os alunos rabiscam ou
tentam escrever, indagando o que queriam
escrever e traduzindo para a escrita
convencional, sem apagar o que o aluno fez
(deixar as duas formas juntas);
sempre que possível, fazer produção coletiva
de textos: enquanto eles criam oralmente o
texto, você vai escrevendo na lousa ou em
papel pardo; esses textos podem ser
copiados pelos alunos (ou reproduzidos por
via eletrônica, se houver equipamento
disponível) para que possam colá-los em
folhas que vão integrar o portfólio, além de
ser organizadas em forma de coletânea.
Elogie todas as tentativas que fizerem.
Comemore com eles cada progresso, não
permita que se acomodem ou desistam.
Impulsione-os sempre para vôos maiores e faça
com que sintam que você está com eles.
Bom trabalho!
E
OFICINA 1
POR FALAR EM
POESIA ...
Material necessário: fichas 1A e 1B; papel
pardo e canetas; folhas de papel (ou cadernos)
para os alunos, lápis, borracha, caneta.
Aquecimento
Converse com os jovens sobre poesia, procurando
saber se conhecem alguns poemas, se gostam ou
não de poesia e por quê. Se notar que há pouco
interesse pelo tema, desafie-os argumentando que
é preciso conhecer para gostar. Veja se identificam
as letras de canções populares como poemas, pois
este pode ser um ponto de partida para introduzir
poemas mais elaborados.
Se observar que já conhecem alguns poemas ou
letras de música, ainda que parcialmente, peça que
os registrem em papel pardo para afixá-los na sala.
Proponha que declamem/cantem esses poemas.
Pergunte como sabem que se trata de poemas.
Deixe que expressem suas idéias, procurando
observar quais elementos dessa linguagem já são
percebidos por eles. Nesse momento, não importa
tanto a qualidade do que vão dizer nem se está
certo ou errado. O importante é que falem,
manifestem livremente as impressões que têm
acerca do que leram ou escreveram.
Provavelmente eles serão capazes de identificar o
ritmo, as rimas, o jogo de palavras, a mensagem
sugestiva. Em seguida, faça você também
observações sobre os poemas que apresentaram.
ATIVIDADE
OFICINAS DE POESIA
1a etapa
Distribua as fichas 1A e 1B e convide-os a
conhecer um pouco mais poesia, lendo alguns dos
poemas selecionados aí reproduzidos. Proponha
que, num primeiro momento, manuseiem as fichas
1A e a frente da 1B, observem os títulos dos
poemas, as ilustrações, os autores. Peça que
escolham um poema que mais lhes agrade. Tente
saber a razão dessas escolhas. Os que quiserem
podem ler em voz alta o poema preferido.
Após a leitura, abra espaço para uma conversa
descontraída, para que cada um possa expor o que
sentiu. Procure criar na classe um clima de respeito,
onde a expressão de sentimentos seja acolhida pelo
grupo. Estimule os mais tímidos a se pronunciar,
lançando questões e expondo, você também, seus
sentimentos sobre os poemas. Esclareça que a
poesia pega o leitor sobretudo pela emoção.
2a etapa
Sugira que façam uma rápida leitura silenciosa do
texto no alto da ficha 1B verso e leia com eles o
poema de Rachel Topfstedt Duarte. Conte que
Rachel é aluna de uma escola pública e compôs
esse poema quando estava na 5a série. Pergunte o
que o poema tem de mais característico.
Provavelmente eles dirão que é o fato de todas as
palavras começarem com a letra m. Se não
perceberem, mostre, indicando também que essas
palavras fazem parte de um mesmo universo de
significação (maternidade/mãe). Proponha que
façam coletivamente um exercício de composição
de um poema semelhante. Para isso, deverão
escolher um tema sobre o qual escreverão (por
11
EDUCAÇÃO E CIDADANIA
12
exemplo, felicidade, liberdade, paz, amor etc.). Em
duplas, eles registrarão em folhas de papel
(durante um período de 5 minutos, por exemplo) o
maior número possível de palavras ligadas ao tema
escolhido e começadas com a mesma letra: a para
amor, p para paz, f para felicidade etc.
Esta é uma oportunidade para que os nãoalfabetizados possam identificar e memorizar uma
letra do alfabeto ou mesmo a escrita de algumas
palavras.
Em seguida, na lousa, você registrará as palavras
escolhidas por eles, discutindo com a turma quais
delas têm a ver com o desenvolvimento do poema e
a melhor forma de organizá-las, estabelecendo
relações mais significativas ou gradações de
intensidade. É possível negociar alterações até que o
grupo chegue a um consenso e se dê por satisfeito.
Fechamento
Finalmente, o texto poderá ser registrado na ficha
1B de cada um e também em uma folha de papel
pardo, afixado no mural da sala. Isso permitirá que
os novos participantes das oficinas possam se
inteirar do que já foi desenvolvido até então.
POEMAS
OFICINA 2
PARA CANTAR
Material necessário: ficha 2; dicionários;
aparelho de som, CD contendo a canção
Lavagem cerebral de Gabriel o Pensador;
papel pardo e canetas; folhas de papel (ou
cadernos), lápis, borracha, caneta.
Aquecimento
O objetivo desta oficina é trabalhar com a
poesia em sua forma mais cotidiana e mais
antiga, isto é, associada à música. Por isso,
convide os participantes a ler a letra de uma
canção e refletir sobre ela. Distribua a ficha 2,
que traz a letra de Lavagem cerebral de Gabriel
o Pensador. Pergunte se conhecem essa
canção ou outra desse autor. Provavelmente,
já terão ouvido algo a respeito ou algumas de
suas músicas – Lôra burra e Cachimbo da paz,
por exemplo, fizeram bastante sucesso. Caso
não se manifestem, explique que ele é um
jovem compositor de rap que costuma fazer
críticas bastante sérias e contundentes por
meio de suas letras; e que essa composição foi
lançada no seu primeiro CD, em 1993.
ATIVIDADE
1a etapa
Leia com eles a letra – de preferência, ouvindo-a
primeiro. Em seguida, peça que procurem no
dicionário o significado das três palavras que
iniciam a letra da música, já que, embora tomadas
freqüentemente como sinônimas, têm significações
diferentes. Para auxiliá-lo, transcrevemos os
verbetes do Novo Dicionário Aurélio da Língua
Portuguesa.
Discriminação. S.f. 1. Ato ou efeito de discriminar.
2. Faculdade de distinguir ou de discernir;
discernimento. 3. Separação, apartação,
segregação: discriminação racial.
Preconceito. S.m. 1. Conceito ou opinião formados
antecipadamente, sem maior ponderação ou
conhecimento dos fatos; idéia preconcebida.
OFICINAS DE POESIA
2. Julgamento ou opinião formada sem se levar
em conta o fato que os conteste; prejuízo. 3.
Superstição, crendice; prejuízo. 4. Suspeita,
intolerância, ódio irracional ou aversão a outras
raças, credos, religiões etc.
Racismo. S.m. 1. Doutrina que sustenta a
superioridade de certas raças; 2. Qualidade,
sentimento ou ato do indivíduo racista.
Procure mostrar que a palavra preconceito é mais
abrangente do que racismo e a discriminação é
decorrência de qualquer tipo de intolerância ou
preconceito.
Depois, questione-os sobre o que acham desse
poema, incentivando-os a expor suas opiniões a
respeito. Que idéia ou frase foi mais significativa
para eles? Por quê? Concordam totalmente ou em
parte com o autor? Por quê? Por que o autor deu
esse título a sua música? Sabem o que significa
lavagem cerebral? Em que situação se usa essa
expressão? Aqui, nesta letra, ela tem um sentido
positivo ou negativo?
Deixe que manifestem suas opiniões livremente e,
se houver posições contrárias, garanta o direito de
expressão e de opinião de cada um, mantendo um
clima de respeito. Se necessário, explique que a
expressão “lavagem cerebral” é usada quando
alguém procura colocar idéias na cabeça das
pessoas, condicionando-as a agir sem pensar,
portanto, alienando-as. No caso da letra de
Gabriel, esse sentido é invertido, ganhando um
caráter positivo, na medida em que cada um é
responsável pela própria lavagem cerebral, isto é,
por limpar a cabeça dos preconceitos que
recebemos como herança cultural. Assim, a
expressão deixa de ser sinônimo de alienação e
passa a significar conscientização.
Fechamento
Proponha que relatem o que é pedido no verso da
ficha e coletivamente montem um painel (em papel
pardo) com frases significativas retiradas do texto,
que sirvam para conscientizar as pessoas sobre o
desrespeito aos direitos humanos que constituem o
preconceito e a discriminação, sobre a estupidez e
os perigos do racismo.
Para finalizar a atividade, sugira que cantem a
música.
UM
OFICINA 3
ACRÓSTICO
PARA ...
Material necessário: ficha 3; dicionários; papel
pardo e canetas; folhas de papel (ou cadernos),
lápis, borracha, caneta.
Aquecimento
Pergunte aos jovens se sabem o que é um
acróstico, se já leram ou produziram algum
poema desse tipo.
Distribua a ficha 3 e leia com eles os três
acrósticos apresentados, explicando que esse é
um tipo de poema (rimado ou não) em que se
homenageia uma pessoa (colocando seu nome
na vertical e tomando cada letra como início de
um verso). O mais provável é que os versos
(linhas do poema) contenham características
dessa pessoa — adjetivos ou mesmo frases
sobre ela.
ATIVIDADE
1a etapa
Juntamente com o grupo, faça um levantamento de
características físicas e/ou psicológicas, positivas ou
negativas, normalmente encontradas nas pessoas.
Você pode organizar essa listagem na lousa já em
ordem alfabética, pedindo a eles que dêem duas a
três características começadas com a letra A (ex:
amável, amigo, ansioso...), B, C etc. O grupo pode
registrar nos cadernos. Explique que elas poderão
ser utilizadas na criação do/s acróstico/s que cada
um vai fazer. Lembre-os de que as características
indicadas não devem ser depreciativas (burro,
idiota etc.): às vezes, num acróstico é possível
utilizar características negativas que permitem
revelar como uma pessoa é, física ou
psicologicamente, sem que o resultado seja
ofensivo ou agressivo (o que, aliás, não caberia
num poema de homenagem a alguém).
2a etapa
Agora peça que escolham alguém conhecido
(artista, esportista) e que, coletivamente, produzam
13
EDUCAÇÃO E CIDADANIA
14
um acróstico com seu nome. Você será o escriba e
anotará na lousa as sugestões do grupo. Deixe que
escolham democraticamente quais palavras ou
frases ficam melhor em cada verso. Ao terminar, a
turma registra esse acróstico nas fichas.
3a etapa
Nesta etapa, você vai sugerir que cada jovem
crie um ou mais acrósticos, homenageando
pessoas queridas. Ajude aqueles que tiverem
dificuldades, dando pistas e sugestões. Lembreos de assinar suas produções e estimule os que
terminarem mais cedo a ajudar também. Peça
que copiem o acróstico em suas fichas
(lembrando que o verso desta ficha será usado
na oficina seguinte).
Fechamento
Sugira que enviem seus acrósticos à família ou
aos amigos. Como nas demais oficinas, não se
esqueça da publicação dos acrósticos, colados em
papel pardo, para serem afixados em mural ou
painel. Se for possível digitar e imprimir em
computador, pode-se compor uma pequena
coletânea acessível a todos e que fará parte do
acervo da Unidade.
RECRIAÇÃO
OFICINA 4
POEMA
DE
Material necessário: ficha 4 (no verso da ficha
3); dicionários; papel, lápis, borracha, caneta.
Aquecimento
Leia para eles a seguinte notícia – se
necessário, mais de uma vez:
TRABALHADOR MORRE
AFOGADO!
Na tarde de ontem, foi encontrado, na Lagoa Rodrigo de Freitas, o corpo de um homem pardo,
aparentando 30 anos de idade, identificado como
sendo João da Silva, solteiro. Segundo testemunhas, a vítima foi vista pela última vez saindo de
um bar embriagada.
A polícia investiga o motivo da morte.
Pergunte aos participantes se é possível criar
um poema a partir dessa notícia de jornal.
Deixe que discutam e expressem livremente
suas opiniões.
ATIVIDADE
1a etapa
A seguir, entregue a ficha 4 (ou, no caso dos que já
a tiverem, diga que tomem o verso da ficha 3) e
peça que leiam o Poema tirado de uma notícia de
jornal de Manuel Bandeira. Oriente-os a observar
que, apesar de o poema não ter rimas e dos versos
terem tamanhos diferentes, o autor organizou as
idéias de um jeito poético. Mantendo as
características de uma notícia de jornal, ampliou a
história de João, mostrando suas condições de
trabalho e moradia, seu desabafo no Bar Vinte de
Novembro e a morte por afogamento – tudo isto
denunciando a vida pobre e alegre, anônima e ao
mesmo tempo trágica do personagem.
2a etapa
Em seguida, solicite a eles que pensem sobre
pessoas com quem conviveram ou que imaginam
existir (coletor de lixo, padeiro, motorista de táxi
etc.) e que tentem fazer o mesmo percurso do
poeta, levantando as origens e as condições de vida
e, por fim, imaginando uma atitude repentina para
o personagem escolhido.
Os alunos poderão escrever primeiro uma notícia sobre
esse personagem e, depois, recriar o poema, retomando
a estrutura do texto lido, mas agora a partir de suas
próprias idéias e reflexões. Se você perceber que a
classe vai encontrar dificuldade em desenvolver a
atividade, faça coletivamente tanto a produção da
notícia como a recriação do poema partindo de um
trabalhador escolhido pelos alunos, antes de
propor a atividade individual do texto poético.
Durante a elaboração individual do rascunho na
ficha, passe orientando os alunos, dando sugestões
e tecendo comentários sobre o que produziram, de
modo que se sintam incentivados a prosseguir em
suas tentativas poéticas.
Fechamento
Depois, devem trocar entre si as produções e ler
para a classe o que produziram. As notícias e os
poemas devem ser passados a limpo, ilustrados (se
o desejarem) e expostos no mural ou painel,
colados em folhas de jornal. Não se esqueça de
guardar os textos para compor a coletânea de
poemas da oficina.
OFICINAS DE POESIA
A
OFICINA 5
LINGUAGEM DA
POESIA
Material necessário: ficha 5; dicionários; cola;
papel, lápis, borracha, caneta.
Esta oficina tem como finalidade incentivar os
alunos a perceber a expressividade da poesia
com sua linguagem metafórica, sugestiva,
aberta a múltiplas interpretações; a perceber
os recursos expressivos da poesia que
emocionam e inquietam o leitor, em confronto
com o texto referencial, que pode ser de jornal,
história e outros.
Sugerimos acompanhar duplas de textos
tratando de um mesmo tema – um texto
poético e outro referencial – para observar
como a linguagem da poesia trabalha os
múltiplos sentidos das palavras, enquanto a
linguagem não-poética limita-se ao significado
usual dos termos.
Aquecimento
Converse com os jovens dizendo que nesta
oficina vão comparar textos que trabalham
com linguagens diferentes. Um é o texto
poético, que se caracteriza pelo jogo de
palavras, e o outro, verbetes de dicionário,
que utiliza vocábulos no sentido preciso e
objetivo.
ATIVIDADE
1a etapa
De início, leia com eles, na ficha 5, o poema
O constante diálogo de Carlos Drummond de
Andrade; compare-o com a definição da palavra
diálogo dada pelo dicionário (a definição foi
transcrita na ficha para facilitar, mas você também
pode aproveitar o ensejo para “treinar” o uso de
dicionários). Chame a atenção dos alunos para a
forma como a temática do diálogo está presente no
poema e no verbete, mostrando como no dicionário
as palavras são definidas de um jeito preciso,
objetivo.
15
EDUCAÇÃO E CIDADANIA
16
Em seguida, levante e compare com eles as
diferenças entre os dois textos, destacando os
recursos que aparecem no poema: a disposição em
versos e estrofes, a repetição rítmica da palavra
diálogo, o fato de partir do mais geral (“Há muitos
diálogos”) para o mais particular (“Escolhe teu
diálogo”). Mostre para os alunos que, se o verbete
apenas define com precisão os sentidos e as
situações relativas à palavra diálogo enquanto
comunicação, conversa, troca de idéias, o poema
amplia esses significados, sugerindo o diálogo
como busca permanente de receptores, luta com as
palavras, ação, escolha e compromisso com a vida.
2a etapa
Agora, peça que leiam na ficha o poema Liberdade
de Fernando Pessoa e o verbete correspondente e
sigam o mesmo roteiro, explorando os dois textos e
expondo suas conclusões.
3a etapa
Proponha depois que os participantes escolham um
dos temas tratados, ou outro de sua preferência, e
que, depois de consultar o dicionário, tentem
defini-lo num pequeno poema ou frase poética,
evitando ficar preso ao sentido dicionarizado da
palavra. Peça que leiam o texto do verso da ficha e
que registrem aí suas produções, copiando-as
depois em folhas avulsas.
Fechamento
Prontos e revisados os textos, organize junto com
eles um livro-sanfona, com páginas coladas na
lateral, escrevendo na primeira a palavra-tema –
por exemplo, “Liberdade é...” – e, nas
subseqüentes, as várias definições criadas pelo
grupo. Não se esqueça de pedir que os autores
assinem suas produções. O livrinho irá compor o
acervo da oficina.
UM
OFICINA 6
CLASSIFICADO
DIFERENTE
Material necessário: ficha 6; dicionários; um
caderno de classificados de jornal, se possível;
papel, lápis, lápis de cor, borracha, canetas
coloridas.
Aquecimento
Pergunte aos jovens se já viram em jornais ou
revistas a seção de classificados. Certamente
haverá respostas afirmativas. Continue,
perguntando para que servem os classificados
e se o grupo sabe dizer que palavras costumam
iniciar tais textos. Se achar conveniente,
mostre um caderno de classificados de jornal,
para facilitar a identificação dos verbos. Anoteos na lousa.
ATIVIDADE
1a etapa
Em seguida, façam a leitura dos classificados na
ficha 6. Discuta com eles que características tem
este tipo de texto. Leve-os a perceber que são
textos curtos, objetivos, com palavras abreviadas e
onde consta o produto ou o serviço oferecido, além
de telefone e endereço para contato.
Mostre que essas características se devem tanto à
finalidade do texto quanto à necessidade de
comunicar algo com eficiência, mas usando poucas
palavras, pois quanto mais se escreve, mais se paga
para anunciar.
2a etapa
Leia com eles os classificados poéticos da ficha e
explique que alguns são da autoria de uma poeta
de renome – Roseana Murray – e outros foram
produzidos por alunos de uma escola pública,
durante uma oficina semelhante à que estão
fazendo agora.
Peça que observem o que se manteve da estrutura
original do classificado – verbos como compro,
troco, vendo, procuro – e o que se alterou: os
produtos, bens, ou serviços são substituídos por
sentimentos ou objetos, transformados pelo caráter
poético do texto (como em “compro gavetas /para
guardar minha infância/minhas lembranças”).
Também há diferenças nos recursos lingüísticos e
na organização gráfica dos textos, já que se trata,
agora, de poemas.
3a etapa
Em seguida, proponha a eles que soltem a
imaginação e escrevam seus próprios classificados
poéticos, iniciando com qualquer dos verbos
utilizados comumente nos anúncios de jornal:
procurar, vender, trocar, comprar, precisar etc.
Diga também que as rimas, embora marquem o
ritmo do poema e o tornem mais agradável, não
são indispensáveis.
Se houver dificuldade, oriente-os, dê dicas e
sugestões. Incentive-os a reescrever seus textos,
se necessário, pois é assim que os poetas fazem.
Os jovens que tiverem muita dificuldade podem
fazer o poema com um colega que tenha mais
facilidade.
Fechamento
Cada um registra seu texto na ficha. Depois,
com lápis de cor ou canetas hidrográficas, eles
podem transcrevê-lo em folhas e ilustrá-los se
quiserem. Se todos concordarem, podem trocar
os poemas entre si para leitura. Depois disso,
resta expô-los.
OFICINAS DE POESIA
DESENHANDO
OFICINA 7
POEMAS
Material necessário: ficha 7; papel pardo, cola;
papel, lápis, lápis de cor, borracha, canetas
coloridas.
Aquecimento
Distribua entre os participantes a ficha 7,
trazendo poemas visuais. Divida-os em duplas:
cada uma fica encarregada de observar
atentamente um dos poemas e comentar para o
grupo em quê esses poemas são diferentes.
É importante perceberem que, além da
sonoridade, do ritmo e da rima, o poeta utiliza
recursos visuais e gráficos, conseguindo um
efeito bastante interessante: o poema não é
apenas escrito, mas também “desenhado”.
Explique que nos poemas concretos — como
são chamados — o poeta organiza os versos de
modo a mostrar o formato de alguma coisa ou
a explorar as letras e o significado das
palavras.
ATIVIDADE
1a etapa
Cada um dos participantes retoma um dos poemas
impressos no verso da ficha e tenta dar-lhe a
configuração de um poema concreto, porém sem
alterar o que diz o poema. Caso tenham
dificuldade em fazê-lo, você poderá, juntamente
com os jovens, organizar um dos poemas, de modo
a dar-lhes maior segurança. Depois, poderão fazer
suas tentativas individualmente ou em duplas, se
preferirem. Ajude-os dando dicas, para que
aprimorem seus trabalhos.
Para auxiliá-lo, damos algumas sugestões para
explorar graficamente a apresentação de alguns
poemas indicados na ficha.
No primeiro haicai, a palavra “voa” pode ser
escrita separando-se as letras ( V O A) ou
escrevendo-as de forma sinuosa para simular uma
17
EDUCAÇÃO E CIDADANIA
18
ave em vôo. No segundo, pode-se trabalhar com a
palavra “salta” alongando o “l” e o “t” ou
deslocando as sílabas de forma a que “ta” fique
num plano superior a “sal”. E ainda, a palavra
“lado” pode ser concretamente deslocada para o
lado. Em Debussy, as expressões “Para cá, para
lá...” sugerem o movimento pendular do novelo
balançando-se; isso pode ser representado, por
exemplo, separando-se o “Para cá” do “para lá”,
escritos em forma de arco. A última palavra do
poema, “caiu”, também pode ser escrita
colocando-se suas letras de forma descendente,
sugerindo a queda do novelo.
Em seguida, peça que copiem o poema já
transformado em folhas avulsas e, se concordarem,
troquem os poemas, para que todos possam ver o
que o grupo produziu.
2a etapa
BRINCADEIRAS
OFICINA 8
RECRIAÇÃO
Material necessário: ficha 8; cartolina,
tesoura; papel, lápis, borracha, canetas
coloridas.
Preparação
Antes de iniciar a atividade, copie os poemas
que constam da ficha 8 (Coisas e A vida) em
papel pardo ou cartolina. Recorte cada um em
tiras, de modo que cada verso fique separado.
Embaralhe as tiras contendo os versos de cada
poema separadamente e faça um montinho ou
guarde em um envelope.
Havendo tempo e receptividade do grupo para a
atividade, você pode propor a seguir que tentem
produzir pequenos poemas utilizando os recursos
já vistos. O assunto pode ser um pássaro que passa
veloz, uma borboleta em seu vôo gracioso, uma
pipa em evoluções pelo céu, uma árvore que se
desfolha, um sino que bate pausadamente, ou
outros que eles imaginarem.
Aquecimento
Fechamento
ATIVIDADE
Ao passarem seus poemas concretos a limpo em
folha avulsa, podem utilizar canetas ou lápis de cor.
Depois de prontos, os poemas podem circular
entre os participantes para uma leitura final.
Proponha, finalmente que montem um painel para
expor seus trabalhos, utilizando papel pardo ou
cartolina. As próprias folhas de papel onde
desenharam podem ser dispostas de forma a criar
um efeito visual, por exemplo: a figura de um sol,
de uma flor, de um pássaro, formando a palavra
poesia etc. Afixem o painel em local visível, para
que outras pessoas possam ler e apreciar o trabalho
do grupo.
E
Divida a turma em dois grupos e dê um
montinho ou envelope a cada um. Explique que
os versos de um poema foram embaralhados e
peça que, no máximo em dez minutos, tentem
organizar o poema, dispondo as tiras com os
versos na forma que acharem melhor. Um dos
participantes copia o poema tal como foi
organizado. A seguir, as tiras devem ser
novamente embaralhadas e trocadas com as do
outro grupo. Repete-se o procedimento
anterior.
1a etapa
Reunindo a classe, irão comparar o resultado de
seu trabalho, para perceber que é possível fazer
diferentes combinações com os versos.
Distribua em seguida a ficha 8, que traz a versão
original dos poemas, para que as comparem com as
suas. Estimule-os a dizer qual delas mais agradou
e se houve alteração de sentido. Valorize a
produção dos participantes, destacando aspectos
interessantes em relação ao original.
2a etapa
Proponha agora que, em folhas avulsas, recriem
um dos poemas, tomando como ponto de partida
um dos versos. Podem também, em vez de compor
outro poema, acrescentar versos aos que o poeta
criou. Como de costume, os poemas devem ser
escritos na ficha e copiados em folhas avulsas.
Fechamento
As folhas com os poemas criados pelos jovens
devem circular pelo grande grupo, antes de serem
expostas.
OFICINAS DE POESIA
RIMAS
OFICINA 9
E QUADRAS
Material necessário: ficha 9 (verso da ficha 8);
papel, lápis, borracha, caneta.
Aquecimento
Peça aos participantes que se sentem em
semicírculo. Pergunte se sabem o que é rima
em poesia, peça que dêem exemplos. Se houver
dúvidas, esclareça. Diga que as rimas
aparecem principalmente nos finais dos versos
e dão maior sonoridade ao poema, pela
semelhança dos sons das palavras. Dê
exemplos você mesmo/a (café/chulé, pão/
irmão, dentadura/fechadura, entrar/cantar,
sorrir/pedir), estimulando-os a propor outros.
ATIVIDADE
1a etapa
Explique ao grupo que agora irão fazer o “jogo das
rimas”, um desafio em que você dirá uma palavra e
cada um, rapidamente, deverá dizer uma palavra
que rime com ela. Quando todos tiverem falado a
rima da primeira palavra, você passará à segunda e
assim sucessivamente. Não vale demorar na
resposta nem repetir o que alguém já disse. Quem
o fizer, fica fora do jogo. Comece, por exemplo,
com quadrado, sentia, mulher, amor, vazio,
tristeza, safanão, rapaz, abacaxi, e vá acrescentando
outras com terminação menos comum. Com
certeza, alguns participantes se atrapalharão e
acabarão saindo do jogo. Procure criar um clima
para que entendam isso como regra de uma
brincadeira, sem se sentirem desmerecidos pelo
fato. Quanto mais participantes saem, mais o jogo
se agiliza. Em função do tempo disponível, você
pode encerrar a brincadeira mesmo que restem
alguns jovens. Neste caso, parabenize-os por
“resistir” por mais tempo. Se sobrar apenas um
participante, sem dúvida você pode declará-lo o
“rei das rimas” do dia.
2a etapa
Agora, distribua a ficha 9 (ou peça que retomem o
verso da ficha 8, no caso dos que a tiverem) e
19
EDUCAÇÃO E CIDADANIA
20
PALAVRÃO
NÃO VALE
Em qualquer situação, o educador não deve
encorajar o emprego de palavrões, especialmente
em sala de aula; e, caso seja falado algum, não deve
fazer alarde. Para evitar que, durante a brincadeira,
um dos jovens diga uma palavra de baixo calão para
rimar com aquela que você disse, lembre-os antes
do jogo, estabelecendo como regra que palavrões
não valem.
convide-os a continuar as quadrinhas ou trovas,
completando-as com mais dois versos logicamente
utilizando rimas. (Quadrinhas ou trovas são
poemas de quatro versos apenas.) Deixe que
escolham trabalhar em pequenos grupos ou
individualmente.
Fechamento
Terminada esta etapa, eles podem ler para os colegas
o que produziram. Você também pode ler algumas
das quadrinhas em sua forma original, para que
comparem sua criação com a dos poetas populares.
Algumas quadras de Ricardo Azevedo (de
Armazém do folclore. São Paulo: Ática, s.d.):
Sexta-feira faz um ano
Que meu coração fechou
Quem morava dentro dele
Tirou a chave e levou.
Uma velha muito velha
Mais velha que o meu chapéu
Foi pedida em casamento
Levantou as mãos ao céu.
Não dês a ponta do dedo
Que logo te levam a mão
Depois da mão, vai o braço,
Vai o peito e o coração.
Você me mandou cantar
Pensando que eu não sabia
Pois eu sou que nem cigarra
Canto sempre todo dia.
Depois de passadas a limpo, as quadrinhas podem
ser expostas e também guardadas para compor
uma coletânea.
TRAVA-LÍNGUAS
& POESIA
OFICINA 10
Material necessário: ficha 10; papel, lápis,
borracha, caneta, canetas coloridas.
Preparação
Decore um dos trava-línguas abaixo (ou outro
que consta da ficha 10) para usá-lo no
aquecimento desta oficina. Escolha aquele que
lhe parece mais apropriado e que você consiga
dizer com rapidez e sem se atrapalhar:
Corrupaco papaco, a mulher do macaco,
ela pita, ela fuma, ela toma tabaco
debaixo do sovaco.
Porco crespo, toco preto.
Um tigre, dois tigres, três tigres.
Pia o pinto, a pipa pinga.
A pipa pinga, o pinto pia, quanto mais o pinto
pia, mais a pipa pinga.
Aquecimento
Proponha um desafio ao grupo: Quem
consegue falar mais rápido a frase: (diga o
trava-línguas que você escolheu, repetindo-o
algumas vezes, para que possam memorizála). Dê um tempo para tentarem. Certamente
muitos se atrapalharão, o que será motivo de
riso, mas não deve ser motivo de gozação.
Procure manter o clima de brincadeira e de
respeito.
Pergunte a eles se sabem o nome dessas frases
“enroladas”. E explique que se chamam travalínguas, que às vezes são rimadas — o que
ajuda na memorização. Geralmente
apresentam seqüências de palavras difíceis de
se pronunciar e, como devem ser faladas bem
depressa, acabam concretamente “travando” a
língua da pessoa. Daí vem o caráter de
brincadeira que ensina, pois obriga a pessoa a
articular e pronunciar bem as palavras. É um
ótimo exercício para quem deseja falar em
público com desembaraço e correção.
ATIVIDADE
1a etapa
Distribua aos participantes a ficha 10 com travalínguas e diga que devem treinar, pois cada um
será responsável pela apresentação de um deles.
Deixe-os escolher livremente quem vai ler cada um
dos trava-línguas; ou, se preferir, pode sorteá-los
entre os participantes. Caso haja um número maior
de alunos, dois podem falar o mesmo travalínguas.
Combine um tempo para treinarem, combinando
também quantas chances o participante terá, se não
conseguir falar seu trava-línguas corretamente na
primeira tentativa. Feito isso, proponha que
iniciem as apresentações.
2a etapa
Depois desse primeiro momento, convide-os a ler
as Travatrovas de Ciça, no verso da ficha. Você
pode solicitar que alguns dos participantes — por
exemplo, os que se saíram melhor na 1ª etapa —
leiam em voz alta os poemas.
Em seguida, em duplas ou mesmo
individualmente, os participantes deverão criar
novos trava-línguas ou travatrovas, registrando-os
em suas fichas. Oriente-os, dando dicas. Por
exemplo: usar palavras que tenham encontros
consonantais seguidos de R ou L (br, bl, cr, cl, dr,
dl, fr, fl, gr, gl, pr, pl, tr, tl, vr, vl) ou palavras cujos
sons são parecidos, como S/X (Sasha, Xuxa), X/
CH (chave/xarope) ou, ainda, alternar palavras
com R/RR (caro/carro) e S/SS (casa/passa). Vale
também inventar palavras como Ciça fez em
Caraca, girassarão.
Fechamento
Os participantes podem ler para o grupo seu/s
trava-línguas ou então trocá-los entre si, para uma
leitura oral do que foi produzido.
Depois, a produção do grupo deve ser passada a
limpo para ser exposta. Se houver interesse em
ilustrar os trava-línguas, os jovens poderão fazê-lo.
OFICINAS DE POESIA
POESIA
OFICINA 11
FALADA
Material necessário: ficha 11; aparelho de
som, CD com música de fundo.
Aquecimento
Inicie esta oficina conversando com os jovens
sobre o jogral. Pergunte se sabem o que é e, se
necessário, explique que é uma forma de se
declamar um poema em grupo. Para fazê-lo,
divide-se o poema em versos ou blocos de
versos, de acordo com o número de pessoas do
grupo, e cada um fica responsável por falar
esse trecho. Estrategicamente, para chamar a
atenção do ouvinte, alguns versos são falados
por todos, em conjunto. É essa alternância
entre uma ou mais vozes falando que cria um
belo efeito sonoro dando maior expressividade
ao poema. Diga que esta não é uma atividade
complicada, mas que exige ensaio e
concentração para chegar a um bom resultado.
Em seguida, distribua a ficha 11, que traz os
poemas Tentação de Carlos Queiroz Telles e
Trem de ferro de Manuel Bandeira.
ATIVIDADE
1a etapa
Peça que leiam silenciosamente o texto inicial da
ficha e o primeiro poema, Tentação, procurando
perceber a pontuação e a entonação que deve ser
dada a cada verso. Em seguida, você deve ler o
poema, em voz alta. Busque ser expressivo/a e dar
entonação correta aos versos, pois você estará
fornecendo um modelo de leitura aos jovens.
(Antes da oficina, é bom que você leia o poema
várias vezes para obter maior fluência e encontrar a
melhor forma de apresentá-lo ao grupo). A ficha já
traz uma divisão possível em vozes, mas cabe a
você fazer as adaptações necessárias, em função do
número de participantes da oficina. Caso haja mais
jovens do que as vozes previstas na divisão do
poema, você pode sugerir que um ou mais trechos
sejam lidos por duplas, por exemplo. Caso
contrário, você pode fazer com que um ou mais
jovens falem mais de um verso. Em seguida,
21
EDUCAÇÃO E CIDADANIA
22
combine com eles a distribuição dos trechos do
poema.: quem lerá os versos numerados como voz
1, voz 2 etc.
2 etapa
a
Feita a atribuição de vozes, peça que iniciem a
leitura do poema. Se houver mais de um leitor por
verso ou trecho, é bom que se sentem juntos, pois
devem buscar ler em uníssono (um único som),
mantendo a mesma intensidade e ritmo.
Não desanime se nas primeiras leituras houver
vozes se desencontrando ou se um ou outro
participante estiver distraído e demorar para falar
seu verso. Incentive-os a não desanimar. O
processo é assim mesmo. Somente após várias
repetições as vozes se “afinam”. Repasse com eles o
jogral, até que o grupo esteja bastante afinado e
possa fazer uma apresentação definitiva do mesmo.
Nesse momento, se houver condições, você pode
colocar uma música escolhida previamente como
fundo.
Fechamento
Após a apresentação do jogral, abra espaço para
comentários e impressões sobre a atividade.
Pergunte se gostaram e se querem repetir a
experiência com o poema de Manuel Bandeira,
Trem de ferro.
Esta pode ser a mesma ou uma nova oficina.
Deixamos a divisão do poema de Manuel
Bandeira para você discutir e organizar com os
participantes. O processo será o mesmo, mas ao
trabalho com as vozes você pode acrescentar
também sons como o apito do trem e movimentos
corporais relacionados aos movimentos do trem.
Seria ideal haver espectadores para uma
apresentação final. Combine com a coordenação da
Unidade a possibilidade de reunir ouvintes para os
jovens. Eles gostarão de ser aplaudidos.
POEMAS
OFICINA 12
AO VENTO
Material necessário: ficha 12 (no verso da
ficha 11); lápis, borracha, caneta, canetas
coloridas; tesoura, papel para dobraduras,
palitos de sorvete e linha (para fazer móbiles).
Preparação
Antes da realização desta oficina, leia a
história do poeta que criou os haicais. Você vai
contá-la para os participantes e, para manter o
interesse deles, é necessário fazê-lo com
segurança, calma, explorando as entonações
de voz adequadas a cada momento da história.
A história de Bashô
Esta é a história de um homem que viveu há
mais de 300 anos num lugar distante conhecido
como o país do sol nascente. Naquela época, o
Japão tinha um imperador e a sociedade se dividia, de forma muito rígida, em classes que não
se misturavam.
Bashô nasceu em uma família rica e poderosa, cujos homens tinham como destino ser samurais, isto é, guerreiros que serviam lealmente
a um nobre, chamado de xogum. Assim, ainda
jovem, Bashô tornou-se um samurai. Mas um
dia renunciou a todos os privilégios de que gozavam os guerreiros e escolheu ser poeta. Desligou-se da corte do imperador e do nobre xogum a quem servira e passou a viver como um
homem comum, em contato permanente com a
natureza, sua fonte de inspiração e de reflexão.
Tornou-se grande amigo e discípulo do poeta
Sengin, que lhe ensinou a arte da poesia. Além
de tornar-se ele próprio um grande poeta, Bashô
criou um tipo de poema muito simples e conciso, de apenas três versos: o haicai.
Mais tarde, após a morte de seu mestre, refugiou-se num mosteiro budista. Com os monges
aprendeu a vestir-se e viver com simplicidade,
tornando-se um homem sábio, de espírito mais
forte e sensível.
Viajou por todo o país e aos poucos foi aperfeiçoando e inovando a poesia. Foi sendo cada
vez mais admirado e ganhando seguidores. Entre seus discípulos havia homens de todas as
classes, desde ricos samurais e mercadores até
pobres camponeses. Aliás, os dois discípulos por
quem mostrou maior afeição foram um criminoso e um mendigo.
(Fonte: Haikais de Bashô, trad. Olga Savary, São Paulo:
Hucitec. 1989)
Aquecimento
Inicie esta oficina contando a história de
Bashô, o guerreiro que virou poeta. Incentive
os jovens a fazer comentários e pergunte se
sabem como é um haicai. (Atualmente, a grafia
correta da palavra é esta, pois foi assim
incorporada ao vocabulário ortográfico da
língua portuguesa; no entanto, até certo tempo
atrás usava-se a grafia haikai, daí aparecerem
as duas formas, conforme a época de produção
do texto).
1a etapa
Distribua então a ficha 12 (ou peça aos alunos que
tomem o verso da ficha 11, se a tiverem). Deixe
que leiam os haicais em silêncio. Pergunte o que
mais lhes chamou a atenção nesses poemas. Eles
podem responder que são curtos, quase não têm
rimas. Explique então que os haicais são poemas
bem sintéticos, curtinhos, divididos em três versos
(linhas), com respectivamente 5, 7 e 5 sílabas; que
podem ser sérios, alegres, tristes, amorosos,
irônicos; e que o poeta, com bem poucas palavras,
procura sobretudo sugerir idéias e emoções,
estimulando o leitor a associar idéias livremente.
Depois, indague sobre o assunto dos poemas. Se
não chegarem a uma resposta evidente, faça-os ver
a presença constante de elementos da natureza, já
que esta, para os orientais, é um elemento
importante de equilíbrio humano.
2a etapa
Convide-os agora a tentar criar seus haicais.
Podem fazer rascunhos no caderno e copiá-los nas
fichas. Oriente-os para tomar como ponto de
partida elementos da natureza e tentar retirar deles
uma reflexão, uma lição de vida, traduzindo-a de
maneira simples, mas profunda, como fez Bashô
neste haicai:
Admirável
não pensar ao ver um raio:
“É fugaz a vida”.
Ajude-os dando dicas, sempre que possível.
Mesmo que não consigam bons resultados ou que
não respeitem muito as regras, valorize seu esforço
(Com certeza, alguns notarão que as regras
relativas ao número de sílabas . Neste caso, vale
mais o processo do que o produto. Passando entre
OFICINAS DE POESIA
as mesas, aproveite para dar dicas de correção
ortográfica e revisão dos poemas.
Fechamento
O grupo pode passar a limpo seus haicais sobre
cartolina ou sulfite recortados em quadradinhos,
ou na forma de elementos da natureza (flor, árvore,
borboleta, sol, lua, gato...) ou ainda sobre
dobraduras que representem animais, flores etc.
Com os quadradinhos, recortes ou dobraduras
podem montar um painel de exposição ou criar
móbiles, prendendo-os com linhas a palitos de
sorvete (desses usados para artesanato). Depois,
é só pendurar os móbiles para que esses poemas
tão leves dancem ao vento...
23
EDUCAÇÃO E CIDADANIA
24
POEMAS
OFICINA 13
PARA RIR
Material necessário: ficha 13; dicionários;
papel, lápis, borracha, caneta.
Aquecimento
Nesta oficina, os participantes vão trabalhar
com paródias. Para iniciar, pergunte-lhes se
sabem o que é uma paródia. Caso não saibam,
peça que pesquisem no dicionário. Se os
dicionários para pesquisa fossem de autores
diferentes, provavelmente seriam encontradas
definições diversas, porém semelhantes.
Anote na lousa a/s definição/ões encontradas.
(A definição do dicionário Aurélio é: Paródia
s.f.: 1. imitação cômica de uma composição
literária. 2. P. ext. imitação burlesca.)
ATIVIDADE
1a etapa
Distribua a ficha 13, que traz dois poemas, dos
quais um é paródia do outro. Caso tenha alunos
com diferentes graus de domínio da leitura,
proponha a leitura em duplas, juntando um leitor
mais, e um menos experiente. Peça que leiam a
frente da ficha, buscando observar o que há de
parecido e também de diferente entre eles. E ainda
o que acham que a autora da paródia quis
expressar, ao modificar o texto de outro poeta.
Abra espaço para que façam comentários e
acrescente suas observações, caso queira. Em
seguida, proponha a leitura das quatro paródias
no verso da ficha, todas feitas com base no
mesmo poema de Gonçalves Dias. Explique que
essas paródias são baseadas em um poema
consagrado, e que, ao fazê-las, os parodistas não
necessariamente querem criticar o texto original,
podendo inverter ou distorcer as idéias originais
com o objetivo de produzir humor e ironia. Diga
que este é um recurso muito usado, até por poetas
famosos, para “brincar” com poemas já
conhecidos. Também os humoristas parodiam
falas e atitudes de políticos e celebridades.
2a etapa
Convide-os a fazer uma paródia, trabalhando nas
duplas ou individualmente. Podem tomar com
ponto de partida os próprios poemas da ficha ou
uma cantiga infantil conhecida, ou então – o que
talvez achem mais fácil – uma canção popular de
sucesso.
Oriente-os para não utilizar expressões grosseiras
ou palavrões, pois muitas vezes este é um caminho
fácil para chegar ao humor, mas com certeza não é
o mais recomendável para criar uma boa paródia.
Cada um redige sua paródia em uma folha avulsa;
proceda à revisão coletiva dos tetos e depois cada
um copia a sua na ficha.
Fechamento
Os jovens podem ler ou cantar suas paródias para
o grupo. Para expor seus trabalhos, é interessante
apresentar, lado a lado, o poema ou letra original e
a paródia, como forma de facilitar a compreensão
dos leitores.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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Garnier, s.d.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia completa e
prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,1973.
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Canto de regresso à pátria]. In: SCHWARTZ, Jorge.
Oswald de Andrade: literatura comentada (seleção de
textos, notas, estudos biográfico, histórico e crítico).
São Paulo: Abril Educação, 1980.
AZEVEDO, Ricardo. Armazém do folclore. São Paulo:
Ática, s.d.
BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de
Janeiro: José Olympio, 1966.
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São Paulo: Hucitec, 1989.
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Paulo: Ática, 1990.
CAMÕES, Luís de. Obra completa. Rio de Janeiro:
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CAPARELLI, Sérgio. Poesia fora da estante. Porto
Alegre: Projeto, 1996.
CENPEC - CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM
EDUCAÇÃO, CULTURA E AÇÃO COMUNITÁRIA.
Ensinar & aprender. 4v. São Paulo: CENPEC;
Curitiba; SEED/PR, 1998.
CEREJA, William R., MAGALHÃES, Thereza C. Todos os
textos. São Paulo: Atual, 1998.
CHACAL. Papo de índio. In: POESIA jovem dos anos 70.
São Paulo: Abril Cultural, 1981.
CIÇA. Travatrovas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, s.d.
DINORAH, Maria. Giroflê giroflá. Belo Horizonte: Lê,
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EMEF MÁXIMO DE MOURA SANTOS. Coletânea de
poesias. São Paulo, 1998.
FERNANDES, Millôr. Literatura comentada. São Paulo:
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FOLHA de S. Paulo. [Classificados] Revista da Folha,
São Paulo, 2 dez. 2000.
GABRIEL, o pensador. Gabriel, o pensador. s.l.: Sony,
1993. CD.
GONÇALVES DIAS, Antonio. Canção do exílio. In:
BANDEIRA, Manuel (coord.) Apresentação da poesia
brasileira. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d.
GRÜNEWALD, José L. A vida. In: SIMON, Iumna M.,
DANTAS, Vinicius. Poesia concreta: José Lino
Grünewald (seleção de textos, notas, estudos
biográfico, histórico e crítico). São Paulo: Abril
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OFICINAS DE POESIA
25
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MELLO, Thiago de. Estatutos do Homem. São Paulo:
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MENDES, Murilo. Poesia completa e prosa. Rio de
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MORAIS, Vinicius de. Obra poética. Rio de Janeiro:
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MURRAY, Roseana. Classificados poéticos. Belo
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________. Receitas de olhar. São Paulo: FTD, 1999.
PAES, José P. Um passarinho me contou. São Paulo:
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________. Poemas para brincar. São Paulo: Ática,
1991.
PESSOA, Fernando. Cancioneiro: obras completas. Rio
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PINTO, Gustavo A.C. Relâmpagos. São Paulo: Massao
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QUINTANA, Mário. Sapo amarelo. Porto Alegre:
Mercado Aberto, 1996.
ROCHA, Ruth. Ai que saudades... In: O mito da infância
feliz. São Paulo: Summus, 1983.
SOARES, Jô. Canção do exílio às avessas. Veja, São
Paulo, 16 set. 1992.
SOUZA, Ângela L Três gotas de poesia. São Paulo:
Moderna, 1998.
TAVARES, Ulisses. Caindo na real. São Paulo:
Brasiliense, 1984.
TELLES, Carlos Q. Sonhos, grilos e paixões. São Paulo:
Moderna, 1990.
Nota: É das obras acima citadas que os autores
extraíram os poemas aqui apresentados. Algumas
delas estão esgotadas, mas você poderá encontrar os
mesmos (e outros) poemas em outras coletâneas e
antologias. De Mário Quintana, por exemplo, o Sapo
amarelo é difícil de encontrar, mas há cerca de 15
títulos no mercado, inclusive coletâneas dirigidas ao
público juvenil. Veja outras sugestões a seguir.
SUGESTÕES PARA
DA UNIDADE
O ACERVO
Livros
AZEVEDO, Ricardo. Livro de papel. São Paulo: Ed. do
Brasil, 2001.
GULLAR, Ferreira. Poemas. São Paulo: Global,1986.
BEATRIZ, Elza. Caderno de segredos. São Paulo:
Brasiliense, 1987.
JOSÉ, Elias. O jogo das palavras mágicas. São Paulo:
Paulinas, 1996.
CAPARELLI, Sérgio. Come-vento. Porto Alegre: L&PM,
1987.
LEMINSKI, Paulo. Caprichos e relaxos. São Paulo:
Brasiliense, 1985.
DINORAH, Maria. Hora nua. Porto Alegre: Movimento,
1980.
EDUCAÇÃO E CIDADANIA
26
MURALHA, Sidônio. A dança dos pica-paus. Curitiba:
Nórdica, 1976.
PAIXÃO, Fernando. Poesia a gente inventa. São Paulo:
Ática, 1996.
QUINTANA, Mário. O batalhão das letras. 2.ed. São
Paulo: Globo, 1984.
Filmes / vídeos
O CARTEIRO e o poeta – Il Postino / The postman (dir.
Michael Redford). EUA/ Itália, 1994. (109")
Numa remota ilha do Mediterrâneo, o tímido e
simplório Mário, filho de pescadores, consegue
emprego como carteiro. Na entrega da volumosa
correspondência ao “poeta do amor” Pablo Neruda,
que lá vive exilado, surge entre os dois terna
amizade. A convivência desperta em Mário o gosto da
poesia, enquanto ele pede ajuda ao poeta para
ganhar o coração da mulher que ama. Filme
envolvente, foi aplaudido pela crítica e pelo público
do mundo inteiro.
SOCIEDADE dos poetas mortos – Dead Poets Society
(dir.Peter Weir). EUA, 1989. (129")
Um carismático professor de literatura, chegando a
uma escola conservadora, desperta nos alunos novos
questionamentos, incentivando-os a pensar por si
mesmos e a “fazer de suas vidas algo extraordinário”.
Além de poesia, o filme discute as relações entre
professor e aluno e entre pais e filhos.
Todos os textos e imagens de terceiros são aqui reproduzidos com a expressa autorização de seus autores ou de seus
representantes legais.
O Cenpec e os autores deste módulo agradecem a gentil cessão de direito de uso de textos de Ângela Leite de Souza,
Bashô/Olga Savary, Carlos Queiroz Telles, Chacal, Elias José, Ferreira Gullar, Folha de S. Paulo, Fundação Fernando
Pessoa, Gabriel o Pensador, Gustavo Alberto C. Pinto, Jô Soares, José Lino Grünewald, José Paulo Paes, Millôr Fernandes,
Oswald de Andrade, Paulo Leminski, Ricardo Azevedo, Roseana Murray, Ruth Rocha, Sérgio Caparelli, Thiago de Mello.
Reprodução de poemas de Carlos Drummond de Andrade (p.29,30,37): © Graña Drummond
Reprodução de poemas de Mário Quintana (p.8,9,10,29): © Elena Quintana
Reprodução de poemas de Manuel Bandeira (p.30,36,42,47) © Solombra Books
Reprodução de poema de Ruth Rocha (p.49) © Ruth Rocha Serviços Editoriais S/C Ltda., representada por MAS
Agenciamento Artístico, Cultural e Literário Ltda.
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
FICHA 0
POESIA
NOME
DATA
DICIONÁRIO: orientações para uso
Esta ficha mostra como está organizada essa grande lista de palavras que é o dicionário.
Dicionário é o livro que registra um conjunto de palavras organizadas alfabeticamente.
A ordem alfabética é usada para organizar listas de todos os tipos, dicionários,
enciclopédias, catálogos e outros.
O dicionário da língua portuguesa, além de mostrar como são escritas as palavras, traz
seu significado e algumas informações gramaticais.
Para consultar o dicionário, o principal é conhecer bem o alfabeto.
Para treinar um pouco, complete as seqüências abaixo com as letras que estão
faltando:
F,
L,
N,
,
,
,
,
,
,
,
,
,
,L
,Q
,S
S,
B,
A,
,
,
,
,
,
,
,
,
,
,Z
,G
,F
Escreva as palavras abaixo em ordem alfabética:
CAVALINHO, VAGALUME, ESTRELA, TERRA
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
NOITE, BRINQUEDO, FADA, SONHO, CORAÇÃO
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Como as palavras acima não começam com a mesma letra, para pô-las em ordem
alfabética você precisou prestar atenção só à primeira letra de cada uma. No
entanto, é claro que muitas palavras começam com a mesma letra. Para pôr em
ordem palavras com a mesma letra inicial, é preciso observar as letras restantes.
Observe as palavras abaixo:
GOIABA, GIRAFA, GARRAFA, GRADE, GELÉIA
Todas começam com a mesma letra. Portanto, temos de ordená-las prestando
atenção nas segundas letras. Faça um círculo em torno da segunda letra de cada
palavra.
Experimente colocá-las agora em ordem alfabética.
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Ordene agora estas palavras guiando-se pela segunda letra:
BRINQUEDO, BARULHO, BOLINHO, BEIJU
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
CAFÉ, CHAVE, CLARA, CORRIDA
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
TAMBÉM, TUIM, TORRE, TRAVE, TESOURA
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
27
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
28
FICHA 0 VERSO
POESIA
Faça um círculo em volta da terceira letra de cada palavra:
FAÇANHA, FADIGA , FAÍSCA, FARAÓ, FATIGAR
Agora ponha-as em ordem, reparando na ordem alfabética da terceira letra.
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Faça o mesmo para as seguintes listas de palavras:
PEREGRINO, PENETRAR, PESADO, PEQUENO, PELÚCIA
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
RECUPERAR, RENDOSO, REFLEXO, RELÂMPAGO, RETRATO
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Dicas
Você já sabe que, para achar uma palavra no dicionário, não basta prestar atenção só na
primeira letra: é preciso olhar também para as outras. Agora veja mais uma dica.
Procure no dicionário a palavra CONVENCIDA. Encontrou? Não? Então, procure
CONVENCIDO. Encontrou, não é? Então, tente FAMOSO e FAMOSA. Qual das duas você
encontrou? Sabe por quê? Quando as palavras têm o mesmo sentido no masculino e no
feminino, o dicionário só registra o masculino.
Outra dica: procure no dicionário a palavra AFLITOS. Não encontrou, não é? Mas encontrou
AFLITO, não? O dicionário registra as palavras no singular.
Finalmente a última dica, por enquanto. Procure no dicionário as palavras: OLHOU, CAÍA,
FUJAM. Não achou nenhuma, não é?
Agora procure: OLHAR, CAIR e FUGIR. Entendeu? Isso mesmo: é que os dicionários não
trazem os verbos conjugados, mas apenas no infinitivo (o nome do verbo).
Com essas dicas, você já pode encontrar quase tudo no dicionário.
ORIENTAÇÕES
PARA O TRABALHO EM GRUPOS
Muitos trabalhos que você está fazendo nestas
oficinas são propostos para ser realizados em grupo.
Isso porque acreditamos que as pessoas aprendem
umas com as outras e que todas podem se
desenvolver muito mais, quando têm oportunidade
de confrontar suas idéias com as dos colegas.
Entretanto, isso só acontece se todos participarem
igualmente de todas as atividades e disserem o que
pensam realmente, se todos se esforçarem.
Quando há um trabalho para ser feito em grupo, de
nada adianta dividi-lo e distribuir um pedaço para
cada um, porque assim cada participante fica
somente com a visão da sua parte e perde a visão
do todo. Pior ainda é quando só um ou dois
trabalham (porque o grupo acha que são mais
inteligentes, ou mais estudiosos) e os outros ficam
olhando, sem coragem ou com preguiça de
participar. Além disso, não seria justo: os que não
participam deixam de aprender.
Mesmo não sabendo direito como é para fazer, é
preciso tentar. É assim que a gente aprende. As
atividades propostas podem ser realizadas por todos
os alunos, especialmente se uns ajudarem os
outros. Quando um colega não sabe, a gente deve
dar dicas, fazer junto, mas não fazer por ele.
Quando a gente faz pelo outro, a gente não ajuda,
atrapalha, impede o outro de aprender. Às vezes, há
colegas que acham que não sabem (porque nunca
tentaram), mas eles podem se surpreender e
descobrir que têm muito o que ensinar para o
grupo. Não deixe que o outro faça por você: exija
seu direito de participar.
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
FICHA 1A
POESIA
NOME
29
DATA
Oficina 1 E por falar em poesia...
Convite
Poesia é brincar com palavras
Como se brinca
Com bola, papagaio e pião.
Só que
Bola, papagaio e pião
De tanto brincar, se gastam,
As palavras não:
Quanto mais se brinca
Com elas,
Mais novas ficam.
Como a água do rio,
Que é água sempre nova.
Como cada dia,
Que é sempre um novo dia.
José Paulo Paes
Carlos Drummond de Andrade
(Alguma poesia. Rio de Janeiro: Record, 2001)
Mário Quintana
A mentira é uma verdade que se esqueceu de
acontecer.
(Sapo amarelo. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986)
entre
A informação
ós cada
ap
,
es
parêntes
ferência
poema, é a re
de ele foi
do livro de on
o do
ul
extraído: o tít
editora
,
de
livro, a cida
ação.
ic
bl
pu
e data de
Veio uns ômi di saia preta
cheiu di caixinha e pó branco
qui eles disserum qui chamava açucri
Aí eles falarum e nós fechamu a cara
depois eles arrepitirum e nós fechamu o corpo
Aí eles insistirum e nós comemu eles.
Chuac!
João amava Teresa que amava Raimundo
Que amava Maria que amava Joaquim que amava
Lili
Que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o
convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para
tia,
João suicidou-se e Lili casou com J. Pinto
Fernandes,
Que não tinha entrado na história.
Mentira?
Chacal
(Poesia jovem dos anos 70. São Paulo: Abril Cultural, 1981)
(Poemas para brincar. São Paulo: Ática, 1991)
Quadrilha
Papo de índio
primeiro beijo,
igual apertar campainha
de casa estranha.
um pique só.
Ulisses Tavares
(Caindo na real. São Paulo: Brasiliense, 1984)
Rascunho
Escreve no seu caderno,
escreve:
noções de biologia
exercícios de matemática
questões gramaticais
e no canto da página,
em vermelho: um coração
nossas iniciais.
Ulisses Tavares
(Caindo na real. São Paulo: Brasiliense, 1984)
Haicai
São duas faíscas
incendiando meu medo,
os olhos do gato.
Ângela Leite de Souza
(Três gotas de poesia. São Paulo: Moderna, 1998)
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
FICHA 1A VERSO
POESIA
Irene no céu
30
Manuel Bandeira
Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.
Imagino Irene entrando no céu:
– Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
– Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.
(Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio,
1966)
Soneto da fidelidade
Vinícius de Morais
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
A onda
A onda anda
aonde anda
a onda?
a onda ainda
ainda onda
ainda anda
aonde?
aonde?
a onda a onda
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
Manuel Bandeira
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
(Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985)
Amor é fogo...
(Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio,
1966)
Porquinho-da-índia
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Amor é fogo que arde sem se ver;
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente;
é dor que desatina sem doer.(...)
Camões
(Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1963)
Manuel Bandeira
Quando eu tinha seis anos ganhei um porquinhoda-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do
fogão!
Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...
O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira
namorada.
(Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio,
1966)
Orion
Carlos Drummond de Andrade
A primeira namorada, tão alta
que o beijo não a alcançava,
o pescoço não a alcançava,
nem mesmo a voz a alcançava.
Eram quilômetros de silêncio.
Luzia na janela do sobradão.
(Boitempo. 5.ed. Rio de Janeiro: Record, 1998)
0 sinal (...) indi
ca que
um trecho fo
i saltado.
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
FICHA 1B
POESIA
NOME
E por falar em poesia...
Estatutos do homem
Artigo 1
Artigo 9
31
DATA
Thiago de Mello
Fica decretado que agora vale a verdade,
que agora vale a vida
e que de mãos dadas
trabalharemos todos pela vida
verdadeira.
(...)
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu amor,
Mas que sobretudo tenha sempre
o quente sabor da ternura.
(...)
Artigo 11 Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.
(...)
(Estatutos do Homem. São Paulo: Martins Fontes, 1977)
Receita de olhar
nas primeiras horas da manhã
desamarre o olhar
deixe que se derrame
sobre todas as coisas belas
o mundo é sempre novo
e a terra dança e acorda
em acordes de sol
faça do seu olhar imensa caravela
(Receitas de olhar. São Paulo: FTD, 1999)
Roseana Murray
(cont.)
Dois e dois: quatro
Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena
Ferreira Gullar
Como teus olhos são claros
e a tua pele, morena
como é azul o oceano
e a lagoa, serena
S
como um tempo de alegria
por trás do terror me acena
e a noite carrega o dia
no seu colo de açucena
— sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade, pequena.
(Poemas. São Paulo: Global, 1986)
Desprezo
DESPREZO é uma palavra dura,
feita de ferro e aço,
de fogo e gelo.
É lâmina afiada
que corta por dentro
e nem deixa sangrar.
Elias José
(O jogo das palavras mágicas. São Paulo: Paulinas, 1996)
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
32
FICHA 1B VERSO
POESIA
Um pouco de conversa
Os poemas desta e da ficha 1A são para você ler. Foram feitos por grandes poetas e já
emocionaram muita gente antes de chegar às suas mãos.
Aproveite, abra seu coração, deixe a poesia entrar e as emoções saírem.
Gostou? Então que tal contar um pouco do que você sentiu e dizer qual dos poemas lhe
agradou mais? Se quiser, leia esse poema para o grupo.
Agora, leia o poema abaixo com bastante atenção.
Minha mamãe
Rachel Topfstead Duarte
Mãe, mainha, ma-mã,
maternidade, mamar,
mingau, mão macia,
momento mágico.
Mandona, maligna,
mesquinha, não!
Molusco, minhoca, argh!
Moleca, mais tarde,
menina, meiga, madura,
mas, minha,
mamãe maravilhosa,
merecidamente, medalha.
(Coletânea de poesias. São Paulo:
EMEF Máximo de Moura Santos,
1998)
Esse poema foi feito em 1998, por uma adolescente como você, aluna da Escola Municipal
de Ensino Fundamental “Professor Máximo de Moura Santos”, durante uma oficina
semelhante a esta da qual você está participando agora. Releia o poema e procure
descobrir o que ele tem de especial, de diferente.
Descobriu? Você percebeu que, além da letra m, todas as palavras estão relacionadas à
idéia de mãe? Então, agora, que tal você e os colegas tentarem fazer coletivamente um
poema desse tipo? Vocês vão escolher uma palavra (paz, amor, felicidade) e terão a ajuda
do/a professor/a para orientá-los e anotar na lousa suas sugestões. Preste atenção nas
orientações do professor e capriche, para que o poema saia legal. Depois, anote-o abaixo.
Se quiser, ofereça-se para passar o poema do grupo a limpo, numa folha de papel pardo ou
cartolina. Ele será afixado na parede e, assim, outras pessoas vão ler e apreciar o que
vocês fizeram.
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EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
FICHA 2
POESIA
NOME
DATA
Oficina 2 Poemas para cantar
Lavagem cerebral
Gabriel o Pensador
Racismo, preconceito e discriminação em geral
É uma burrice coletiva sem explicação
Afinal que justificativa você me dá
para um povo que precisa de união
Mas demonstra claramente, infelizmente
Preconceitos mil, de naturezas diferentes
Mostrando que essa gente
Essa gente do Brasil é muito burra!
E não enxerga um palmo à sua frente
Porque se fosse inteligente
Esse povo já teria agido de forma mais consciente
Eliminando da mente todo o preconceito
E não agindo com a burrice estampada no peito
A “elite” que devia dar um bom exemplo
É a primeira a demonstrar esse tipo de sentimento
Num complexo de superioridade infantil
Ou justificando um sistema de relação servil
E o povão vai como um bundão
Na onda do racismo e da discriminação
Não tem a união e não vê a solução da questão
Que por incrível que pareça está em nossas mãos
Só precisamos de uma reformulação geral
Uma espécie de lavagem cerebral.
Não seja um imbecil. Não seja um Paulo Francis
Não se importe com a origem ou a cor do seu
semelhante
O que que importa se ele é nordestino e você não?
O que que importa se ele é preto e você é branco?
Aliás, branco no Brasil é difícil
Porque no Brasil somos todos mestiços
Se você discorda então olhe para trás
Olhe a nossa história, os nossos ancestrais
O Brasil colonial não era igual a Portugal
A raiz do meu país era multirracial
Tinha índio, branco, amarelo, preto
Nascemos da mistura, então por que o
preconceito?
Barrigas cresceram, o tempo passou...
Nasceram os brasileiros cada um com a sua cor
Uns com a pele clara, outros mais escura
Mas todos viemos da mesma mistura
Então preste atenção nessa sua babaquice
Pois como eu já disse racismo é burrice
Dê à ignorância um ponto final:
Faça uma lavagem cerebral.
Negro e nordestino constroem seu chão
Trabalhador da construção civil conhecido como
peão
No Brasil o mesmo negro que constrói seu
apartamento ou que lava o chão de uma
delegacia
É revistado e humilhado por um guarda nojento
que ainda recebe o salário e o pão de cada dia
Graças ao negro, ao nordestino e a todos nós
Pagamos homens que pensam que ser humilhado
não dói
O preconceito é uma coisa sem sentido
Tire a burrice do peito e me dê ouvidos
33
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
34
Me responda se você discriminaria
Um sujeito com a cara do PC Farias
Não, você não faria isso não...
Você aprendeu que o preto é ladrão.
Muitos negros roubam, mas muitos são roubados
E cuidado com esse branco aí parado do seu lado
Porque se ele passa fome, sabe como é,
Ele rouba e mata um homem seja você ou seja o
Pelé
Você e o Pelé morreriam igual
Então que morra o preconceito e viva a união
racial
Quero ver nessa música você aprender e fazer a
lavagem cerebral
O racismo é burrice, mas o mais burro não é o
racista, é o que pensa que o racismo não
existe
O pior cego é o que não quer ver
E o racismo está dentro de você
Porque o racista na verdade é um tremendo
babaca
Que assimila os preconceitos porque tem cabeça
fraca
E desde sempre não pára pra pensar
Nos conceitos que a sociedade insiste em lhe
ensinar
E de pai para filho o racismo passa
Um pouco de conversa
FICHA 2 VERSO
POESIA
Em forma de piadas que teriam bem mais graça
se não fossem o retrato da nossa ignorância
Transmitindo a discriminação desde a infância
E o que as crianças aprendem brincando
é nada mais, nada menos do que a estupidez se
propagando
Qualquer tipo de racismo não se justifica
Ninguém explica
Precisamos da lavagem cerebral pra acabar com
esse lixo que é uma herança cultural
Todo mundo é racista, mas não sabe a razão
Então eu digo, meu irmãoSeja do povão ou da
“elite”
Não participe, pois como eu já disse racismo é
burrice
Como eu já disse racismo é burrice
Como eu já disse racismo é burrice
Como eu já disse racismo é burrice
E se você é mais um burro
Não me leve a mal
é hora de fazer uma lavagem cerebral
Mas isso é compromisso seu
Eu nem vou me meter
Quem vai lavar a sua mente não sou eu
É você.
(CD Gabriel o pensador. Sony, 1993)
A letra que você leu e ouviu é de um rap de Gabriel o Pensador. Os raps desse compositor
sempre tratam de questões sociais sérias, procurando fazer com que as pessoas pensem
sobre elas.
Este poema discute o problema do preconceito, do racismo e da discriminação. Você sabe
o que significam essas três palavras? Consulte o dicionário e converse com os colegas
sobre o resultado dessa consulta.
Agora, participe ativamente da discussão que o/a professor/a vai propor; depois, escolha,
na própria letra, a frase que, na sua opinião, você considera mais importante para mostrar
como o preconceito, o racismo e a discriminação não fazem sentido, são uma estupidez.
As frases que você e os colegas escolherem servirão para compor um painel a respeito do
tema. E para terminar esta oficina, se você e a turma acharem legal, vocês podem cantar
esse rap.
Conte aqui alguma situação de discriminação que você tenha presenciado.
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EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
FICHA 3
POESIA
NOME
DATA
Oficina 3 Um acróstico para...
M ansa voz,
A zul nos olhos,
R iso contido e
C ordial
I maginação à solta
A miga sempre leal.
L inda
A mável
U nica
R omântica
A morosa
A manhã nasce
N atural e
D e repente me
R evela que você
É meu amor!
Um pouco de conversa
Os poemas que você acabou de ler são acrósticos e servem para homenagear uma pessoa
de quem se gosta: um parente, um/a amigo/a, o/a namorado/a...
Para fazer um acróstico, use palavras que indiquem qualidades dessa pessoa ou frases que
expressem o que ela significa para você. E o nome da pessoa, como você já sabe, deve
ficar em destaque, na vertical. Para começar, você e os colegas podem fazer uma lista de
palavras que indiquem qualidades (atencioso, bonito, esperto, inteligente etc.). Assim fica
mais fácil encontrar as palavras certas na hora de compor o poema. Depois, podem
escolher um ídolo da turma (artista, esportista) e juntos tentar criar um acróstico com o
nome dele/a.
O passo seguinte é usar o mesmo esquema e cada um fazer acrósticos para as pessoas de
quem gosta. Você pode também enviá-lo por correio à pessoa homenageada. E guarde
seus poemas para que sejam expostos: afinal, a gente escreve é para ser lido por outros.
Registre aqui os acrósticos que você compôs.
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35
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
FICHA 4
POESIA
36
DATA
Oficina 4 Recriação de poema
Você acabou de ouvir, contada pelo/a professor/a, uma notícia aparentemente igual a tantas
outras que se vêem nos jornais. Será que daria para se fazer um poema com uma história
assim? Ou será que no poema não há lugar para coisas tão comuns, tão reais?
Leia o poema abaixo com atenção. Veja se há rimas, se os versos (linhas) têm
todos o mesmo tamanho, se o poeta coloca novas informações ou apenas o que
está na notícia de jornal. Por que será que o autor colocou esse título em seu poema?
Poema tirado de uma notícia de jornal
João Gostoso era carregador de feira-livre e morava
no morro da Babilônia num barracão sem número.
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e
morreu afogado.
Manuel Bandeira
(Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974)
Tente agora imaginar um outro trabalhador como João Gostoso: humilde, anônimo, lixeiro,
padeiro, taxista, carteiro, operário... Como seria sua vida? Onde moraria? Seria casado?
Teria filhos? Amigos? Que atitude repentina poderia ter tomado, e em que circunstâncias?
Algo o levaria também a um fim trágico? Talvez não necessariamente. Escreva uma
pequena notícia sobre o que teria ocorrido com esse personagem imaginário. Depois, com
base na notícia, recrie o poema, seguindo a estrutura do texto de Manuel Bandeira. Se
acharem difícil, a classe pode sugerir ao/à professor/a fazer a notícia e o poema coletivo,
com base em um personagem escolhido pelo grupo.
Ao final da atividade, se cada um produziu seu poema, vocês podem trocá-los, para cada
um ler o que o outro fez. Depois, passem a limpo e, se quiserem, podem ilustrá-los. Na
hora de expô-los, seu grupo pode criar um painel colando as notícias e poemas de cada um
sobre folhas de jornal, que serão afixadas na parede.
Faça aqui o rascunho de seu poema (usando lápis, para poder corrigir, se
necessário).
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EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
FICHA 5
POESIA
NOME
37
DATA
Oficina 5 A linguagem da poesia
Leia os poemas abaixo.
O constante diálogo
Liberdade
Há muitos diálogos
O diálogo com o ser amado
o semelhante
o diferente
o indiferente
o oposto
o adversário
o surdo-mudo
o possesso
o irracional
o vegetal
o mineral
o inominado
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada,
O sol doira
Sem literatura.
Carlos Drummond de Andrade
O diálogo contigo mesmo
com a noite
os astros
os mortos
as idéias
o sonho
o passado
o futuro
Escolhe o teu diálogo
e
tua melhor palavra
ou
teu melhor silêncio
mesmo no silêncio e com o silêncio
dialogamos.
(Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 1973)
Fernando Pessoa
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta,
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
(Cancioneiro: obras completas. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 1972)
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
38
FICHA 5 VERSO
POESIA
Um pouco de conversa
A frente da ficha traz poemas de dois famosos
poetas. Você já ouviu falar deles? E o que
achou dos poemas? Gostou?
Se você leu com atenção os verbetes do
dicionário explicando o que querem dizer as
palavras diálogo e liberdade, deve ter
percebido algumas diferenças entre as
definições que o dicionário dá e a forma como
os poetas vêem e dizem essas mesmas coisas.
Seria muito bom se você tentasse explicar para
o grupo aquilo que percebeu.
Agora, diga o que significa para você a palavra
diálogo ou a palavra liberdade. Você pode
escrever um pequeno poema ou fazer uma
frase poética definindo uma delas, ou talvez
juntando as duas. Veja alguns exemplos:
Liberdade, essa palavra
Que o sonho humano alimenta,
Que não há ninguém que explique
E ninguém que não entenda.
(Cecília Meirelles)
Diálogo é um abraço feito de palavras...
(Maria Alice M.A. Oliveira)
Agora é por sua conta! Tente fazer o seu, sem
medo de errar. Pense e reescreva seu poema
(ou seus poemas) ou frase quantas vezes for
necessário, até chegar a algo que lhe agrade.
O/a professor/a pode dar algumas dicas.
O
QU E DI Z O DI CI ON
ÁR IO
Diálogo [do gr. Diálog
os, pelo lat. Dialogu]
S.m. 1. Fala entre duas
ou mais pessoas;
conversação, colóquio
. 2. Obra literária
ou científica em forma
dialogada. 3. Troca
ou discussão de idéias
, de opiniões, de
conceitos, com vista à
solução de
problemas, ao entendim
ento ou à
harmonia; comunicaç
ão: Sua maior
dificuldade na vida ve
m de não ter
diálogo com os filhos
. 4. Teat. Colóquio
dramático entre os ato
res, móvel da ação
da peça, o que constitu
iu o elemento
básico do gênero teatra
l. (Cf. dialogo, do
v. dialogar.)
Liberdade [do lat. Libert
ate] S.f. 1. Faculdade
de cada um se decidir
ou agir segundo a
própria determinação:
sua liberdade,
ninguém a tolhia. 2. Po
der agir, no seio
de uma sociedade org
anizada, segundo a
própria determinação,
dentro dos limites
impostos por normas
definidas: liberdade
civil; liberdade de impre
nsa; liberdade de
ensino. 3. Faculdade de
praticar tudo o
que não é proibido po
r lei. 4. Supressão
ou ausência de toda op
ressão
considerada anormal,
ilegítima, imoral:
Liberdade de pensam
ento é um direito
fundamental do home
m.
(Aurélio Buarque de Ho
landa Ferreira, Novo
Dicionário da Língua Por
tuguesa)
Depois, registre-o abaixo para guardar (não se esqueça do título), pois
certamente você vai querer mostrá-lo a outras pessoas, além dos colegas de
oficina. Passe-o a limpo também em sulfite, para que você e a turma possam
montar um livro-sanfona com tudo o que foi produzido. O/a professor/a vai
explicar como se faz.
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EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
FICHA 6
POESIA
39
NOME
DATA
Oficina 6 Um classificado diferente
Um pouco de conversa
Talvez você não saiba, mas há classificados e classificados. Leia estes abaixo, reparando
bem no jeito com se estruturam. Alguns chegam até a ter erros de Português:
D. ZULMIRA. Joga-se búzios,
faz-se consultas espirituais,
faz e desfaz qualquer tipo de
trabalho. Problemas sobre
casamento, namoro, doenças, negócios financeiros etc.
Consultas c/ hora marcada
pelos fones (11) 222-33 44
COMPRO jóias. Antigas/
modernas, brilhantes, relógios,
pratarias, quadros, porcelanas,
cristais etc. Cubro oferta do
mercado. Anita 24 hs F-5349944/ 534-4499
COLCHÕES – Conserto.
Reformo. Fabrico. Qquer tipo
e tamanho. Atendo a domicílio. 30a de Tradição. Fones:
200-0034 (loja) / 222-4433
(fábrica)
BARRACA PASTEL Vende-se
completa c/ acess. P/ hot
dog, em bom estado. R$ 400
F: 368-8030 ou 922-0022
Alice
Estes são classificados tirados de jornais e revistas. Você notou como são curtos? Pois
mesmo assim, são eficientes. É que quem oferece um produto ou serviço não quer gastar
muito anunciando, e quem vai comprar, não quer perder muito tempo lendo.
Notou também que há palavras abreviadas? Compreendeu o que significam? Se tem
dúvida, pergunte a um colega ou ao/à professor/a.
E os telefones citados, serão indispensáveis? É lógico! Senão, como entrar em contato
com a pessoa que anuncia?
Leia agora estes outros classificados:
Classificados poéticos
Roseana Murray
Menina apaixonada oferece
um coração cheio de vento
onde quem quer pode soprar
três sementes de sonho.
O coração da menina
ilumina as noites escuras
como se fosse um farol.
É um coração como todos os outros:
às vezes diz sim
às vezes diz não
às vezes diz sim
às vezes diz não
e tem sempre uma enorme
fome de sol.
Troco um passarinho na gaiola
por um gavião em pleno ar
Troco um passarinho na gaiola
por uma gaivota sobre o mar
Troco um passarinho na gaiola
por uma andorinha em pleno vôo
Troco um passarinho na gaiola
por uma gaiola aberta, vazia...
Quero asas de borboleta azul
para que eu encontre
o caminho do vento
o caminho da noite
a janela do tempo
o caminho de mim
(Classificados poéticos. Belo Horizonte: Miguilim, 1988)
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
40
FICHA 6 VERSO
POESIA
Leia a seguir alguns outros poemas que foram inspirados pela leitura dos
Classificados poéticos de Roseana Murray. Seus autores, jovens como vocês, eram
alunos da escola pública EMEF “Prof. Máximo de Moura Santos”, de São Paulo.
Troco um cachorro
falante por um tapete
mágico, um tapete que
me leve para bem alto,
onde eu possa dormir
com as estrelas, falar
com o sol, e, ao
amanhecer, prosseguir
sem destino.
(Elaine Aparecida de
Oliveira, 1994)
Compro uma casa perto
do mar, um lugar para
sonhar, sem guerras
nem violência, só com
sonhos e
entretenimento. Uma
casa que cure todos os
males, uma bela casa
(Kleber W. dos Santos, com todos os meus
1994) sonhos, uma casa onde
a realidade não caiba,
onde tudo seja festa e
alegria.
Vendem-se uns sapatos
encantados que dançam
sozinhos um belo
bailado. Quando se
calçam, eles voam tão
alto que vão parar no
céu como uma abelha
num favo de mel!
Procuro a casa dos
meus sonhos na ilha do
pensamento que seja
feita de chuva de
alegrias e de vento.
(Kelly Cristina Ferreira de
Carvalho, 1994)
(Leandro de Oliveira
Armelin, 1994)
Os classificados poéticos são só um pouco parecidos com os do jornal, não é? Você
percebeu o que mudou? Comente isso com os colegas e o professor.
Agora é sua vez de fazer um classificado poético. Escolha um dos verbos – procurar,
vender, comprar, oferecer, trocar – e fale de seus sonhos, sentimentos, emoções, desejos,
esperanças... Não é preciso usar rimas. Basta querer se soltar e dar asas à imaginação. Se
achar difícil, trabalhe em dupla, com um colega. Depois, passe seu poema para uma folha
de sulfite. Escreva usando cores, se puder; ilustre seu poema, se quiser. E junto com o
grupo, monte um painel ou um livro com os poemas de todos.
Transcreva também aqui seu poema.
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EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
FICHA 7
POESIA
NOME
41
DATA
Oficina 7 Poemas concretos
Um pouco de conversa
Esta ficha contém poemas bem diferentes. Será que você já viu algo igual?
Junto com um colega, leia os poemas abaixo com atenção, procurando observar, além
das palavras, o jeito como elas vêm escritas no papel, se formam figuras etc.
A primavera endoideceu
Sérgio Caparelli
(Poesia fora da estante. Porto Alegre: Projeto, 1996)
Terremoto
José Paulo Paes
(sem título)
SE VOCÊ JUNTAR TODAS AS PULGAS
TERÁ A MAIOR PULGA
DO MUNDO.
vento
que é vento
fica
AGORA, SE ESSA PULGA
PICAR ESSE CACHORRO
E ELE SE COÇAR
VAI
CU
O
DO
DO!
SA
DIR
MUN
TO
meu ritmo
bate no vento
e se
des
pe
da
ça
SE VOCÊ JUNTAR TODOS OS CACHORROS
TERÁ O MAIOR CACHORRO
DO MUNDO.
(Um passarinho me contou. São Paulo: Ática, 1997)
Paulo Leminski
parede
parede
passa
(Poesia fora da estante. Porto Alegre: Projeto, 1996)
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
42
FICHA 7 VERSO
POESIA
Desenhando poemas
Depois de conhecer alguns poemas concretos, você vai tentar dar esse jeito diferente a um dos
poemas abaixo. Não vale mudar as palavras! Você vai trabalhar somente com a forma como ele
apresenta, procurando explorar a relação entre o que as palavras dizem (significado) e o jeito
como podem ser escritas, “desenhadas” no papel. Não é difícil! E o resultado é bem legal!
Haikais
À toa, à toa,
Joaninha abre a capa
De bolinha e voa.
Ângela Leite de Souza
O meu gafanhoto,
Gozado, salta de lado!
(Ele é canhoto.)
(Três gotas de poesia. São Paulo: Moderna,
1998)
Que tudo passe
passe a noite
passe a peste
passe o verão
passe o inverno
passe a guerra
e passe a paz
passe o que nasce
passe o que nem
passe o que faz
passe o que faz-se
que tudo passe
e passe muito bem
Paulo Leminski
Caprichos e relaxos. São Paulo: Brasiliense,
1985)
Debussy
Manuel Bandeira
Para cá, para lá...
Para cá, para lá...
Um novelozinho de linha...
Para cá, para lá...
Para cá, para lá...
Oscila no ar pela mão de uma criança
(Vem e vai...)
Que delicadamente e quase a adormecer o
balança
— Psio... —
Para cá, para lá...
Para cá e ...
— O novelozinho caiu.
(Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1974)
Relógio
As coisas são
As coisas vêm
As coisas vão
As coisas
Vão e vêm
Não em vão
As horas
Vão e vêm
Não em vão
Oswald de Andrade
(Literatura comentada. São Paulo: Abril Educação, 1980
Escreva aqui qual poema você
escolheu para “concretar” e desenhe-o:
Deu certo? Agora que você já se iniciou nos
segredos dos poemas concretos, crie seu
próprio poema! Pense em um pássaro que
passa voando rapidinho, numa pipa
rabeando pelo ar, nas folhas que caem de
uma árvore, nas ondas do mar ou em
qualquer outra coisa e escreva, tentando
usar o que aprendeu nesta oficina. Depois é
passar a limpo seu poema e, junto com a
turma, bolar um jeito de expor, por exemplo
formando um desenho ou uma palavra com
as próprias folhas de papel onde
desenharam seus poemas.
Não se esqueça de guardar seu poema
desenhado no portfólio junto com esta ficha.
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
FICHA 8
POESIA
NOME
DATA
Oficina 8 Brincadeiras e recriação
Um pouco de conversa
É, parece que o poeta José Paulo Paes tinha razão ao dizer que “Poesia é brincar com
palavras”, você não acha?
Você participou, com os colegas, de uma atividade interessante em que percebeu que
fazer poesia significa fazer escolhas e jogar com as palavras. E como será que os poetas
organizam seus poemas? Será que ficaram iguais ao do seu grupo?
Veja abaixo como são os poemas originais e compare com o que você e seu grupo
fizeram.
Coisas
Coisas boas:
bombom, bolinho, bolacha,
pastel, pipoca, pitanga.
Maria Dinorah
Coisas lindas:
barquinho, balão, boneca,
palhaço, pião, poema.
Coisas de todos:
lagoa, estrada, folhagem,
luar, estrela, farol.
A vida
a
vida
comida
a
vida
b e b i d a
a
vida
dormida
a
vida
i
d
a
José Lino Grünewald
(Poesia concreta. São Paulo: Abril Educação, 1982)
Coisas de poucos:
mel, moeda, medalha,
milagre, amigo, amor.
(Cantiga da estrela. Belo Horizonte: Lê, 1993)
Agora é sua vez de poetar. Escolha um dos versos dos poemas acima (por exemplo:
“Coisas boas” ou “a vida”) e continue o poema, colocando outras idéias, diferentes
daquelas que os autores colocaram. Ou então, amplie o poema original, acrescentando
outras coisas além das que o autor pensou. Mãos à obra!
Depois, registre seu poema abaixo e também numa folha de papel, para ser
exposto.
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43
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
FICHA 9
POESIA
44
Oficina 9 Rimas e quadras
Um pouco de conversa
Você já participou do jogo das rimas e deve ter ficado craque no assunto.
Quem quiser comprar saudade
Eu tenho semente e dou
Um canteiro tenho cheio
Que aquele ingrato deixou.
rimas
Então lá vai outro desafio: completar os poemas abaixo com mais dois versos (linhas), mas
sempre fazendo rimar o segundo verso com o quarto. A primeira quadra ou trova já está
pronta, para facilitar; as outras você “tira de letra” (ou de rima?)!
Quando terminar, você e os colegas podem ler o que fizeram, passar a limpo as que vocês
mais gostaram, para expor em forma de mural, painel ou livro.
Complete:
Sexta-feira faz um ano
Que meu coração fechou
Menina dos olhos grandesNão olha tanto
pra mim
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Uma velha muito velha
Mais velha que o meu chapéu
A roseira quando nasce
Toma conta do jardim
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Não dês a ponta do dedo
Que logo te levam a mão
Eu amo quem não me quer
E desprezo a quem me ama
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Você me mandou cantar
Pensando que eu não sabia
Dois beijos tenho na boca
Que jamais esquecerei
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Lá no fundo do quintal
Tem um tacho de melado
Coitadinho de quem canta
Na porta do seu amor
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(Ricardo Azevedo. Armazém do folclore.
São Paulo: Ática, s.d.)
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
FICHA 10
POESIA
NOME
DATA
Oficina 10 Trava-línguas & poesia
Um pouco de conversa
Se você já se divertiu um pouco na primeira parte desta oficina, prepare-se, porque aí vem
mais. Você terá de falar direito e bem depressa um dos trava-línguas abaixo. Mas antes,
decida com o professor e com a turma quem vai falar o quê. Treine, solte a língua e boa
sorte!
Corrupaco, papaco, a mulher do macaco,
ela pita, ela fuma, ela toma tabaco debaixo do
sovaco
Se a aranha arranha a rã, se a rã arranha a aranha,
como a aranha arranha a rã? Como a rã arranha a
aranha?
A pipa pinga, o pinto pia, quanto mais o pinto pia,
mais a pipa pinga.
Sabendo o que sei e sabendo o que sabes e o
que não sabes e o que não sabemos, ambos
saberemos se somos sábios, sabidos ou
simplesmente saberemos se somos sabedores.
Não tem truque, troque o trinco, traga o troco e
tire o trapo do prato.Tire o trinco, não tem truque,
troque o troco e traga o trapo do prato.
Maria-mole é molenga. Se não é molenga,
não é Maria-mole. É coisa malemolente, nem
mala,nem mola, nem Maria nem mole.
Tinha tanta tia tantã. Tinha tanta tia antiga.Tinha
tanta anta que era tia. Tinha tanta tia que era anta.
Olha o sapo dentro do saco, o saco com o sapo
dentro, o sapo batendo papo e o papo soltando
vento.
Paga o pato, dorme o gato, foge o rato, paga o
gato, dorme o rato, foge o pato, paga o rato,
dorme o pato, foge o gato.
Um grego é gago, outro grogue é gagá. Tem um
grego gagá e um grogue gago. Tem também um
grego grogue e um gago gagá.
Pedro tem o peito preto. O peito do pé de
Pedro é preto. Se o peito de Pedro é preto,
o peito do pé de Pedro é preto?
Larga a tia, lagratixa! Lagartixa, larga a tia!Só no
dia em que sua tia chamar largatixa de lagartixa!
Porco crespo, toco preto.
Um prato de trigo para três tigres tristes.
(Transcritos de toalha de bandeja de loja MacDonald’s
e de Ricardo Azevedo, Armazém do folclore.
São Paulo: Ática, s.d.)
Se você gostou dos trava-línguas e se “enroscou” neles, experimente agora ler e falar as
Travatrovas de Ciça, no verso.
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EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
46
FICHA 10 VERSO
POESIA
Travatrovas
Ciça
Chave de chumbo
– Eu acho, “seu” Chico Sá,
que sua chave de chumbo
tomou um chá de sumiço.
Mas Sheila acha que a chave,
a chave de chumbo, se acha
no chão da sala de Xerxes,
“seu” Xerxes Sousa da Silva,
seu sócio, “seu” Chico Sá.
Se um dia me der na telha
Se um dia me der na telha
eu frito a fruta na grelha
eu ponho a fralda na velha
eu como a crista do frango
eu cruzo zebu com abelha
eu fujo junto com a Amélias
e um dia me der na telha.
Briga
Piparote, peteleco,
um coque, um teco, um tostão.
Puxão de orelha, bicada,
tapa, soco, murro, unhada,
pé-d’ouvido, beliscão.
Tabefe, catiripapo, traulitada, safanão.
Caraca, girassarão
Caraca, girassarão
Sarracalha, rebimboca,
Piravaga, aratamboca,
turuntalha, piparão.
Sevi, pevi, omarão,
guajão, guajiba, gibamba,
guarricoca, ricucamba,
ricoca, samarimbeta,
teti, tirolé, trombeta,
patativa, sarabamba.
Otorrinolaringologismo
Tem um otorrinolaringologista
otorrinolaringologando
todo contente, todo feliz
otorrinolaringologicamente
meu ouvido, minha garganta e meu nariz.
O pedreiro Pedro Alfredo
O pedreiro Pedro Alfredo,
o Pedro Alfredo Pereira,
tramou tretas intrigantes,
transou truques, pregou petas,
pois Pedro Alfredo Pereira
é um tremendo tratante!
O rato, o pato, o gato e o Nonato
O rato roeu a roupa do Rei de Roma,
o pato poeu a poupa do Pei de Poma,
o gato goeu a goupa do Guei de Gomae
o Nonato noeu a noupa do Nei de Noma.
Chegou “seu” Chico Sousa
Só sei que “seu” Chico Sousa
chegou e trouxe da China
a seda xadrez da Célia
o xale roxo da Sônia
o xale cinza da Sheila
e a saia chique da Selma.
Se um dia me der na telha
Se um dia me der na telha
eu frito a fruta na grelha
eu ponho a fralda na velha
eu como a crista do frango
eu cruzo zebu com abelha
eu fujo junto com a Amélias
e um dia me der na telha.
(Travatrovas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, s.d.)
Legal, não? Você não acha que também pode criar o seu? Preste atenção nas dicas do
professor e mãos à obra!
Copie abaixo seu trava-línguas ou travatrova e, se quiser, ilustre-o para expor.
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EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
FICHA 11
POESIA
NOME
47
DATA
Oficina 11 Poesia falada
Um pouco de conversa
Nesta oficina você vai aprender que, além de ser lida em silêncio, a poesia pode ser lida
em voz alta e de uma forma bonita e expressiva. Para isso e só juntar um grupo de
pessoas, escolher um bom poema, dividir os versos (linhas) ou trechos do poema entre as
pessoas e depois cada um falar seu pedacinho na ordem e na hora certa. Fácil, não é? Mas
é preciso ensaiar um pouco para ter bons resultados, porque no começo tem gente que
vacila, tropeça nas palavras, fala muito baixo ou muito alto, muito devagar ou muito
depressa. É preciso que todas as vozes se afinem, se encaixem como peças de uma
engrenagem. O professor vai ajudar.
Vamos tentar? No primeiro poema abaixo, está indicada uma sugestão de distribuição das
vozes. Para o segundo, sejam criativos; vocês podem inclusive superpor vozes (um grupo
de vozes pode, por exemplo, ficar repetindo baixinho “café com pão” enquanto outras
falam outros versos).
Tentação
Voz 1
Voz 2
Voz 3
Voz 4
Voz 5
Voz 6
Voz 7
Voz 8
Voz 9
Voz 10
Todos
Carlos Queiroz Telles
Tudo o que está
do lado de lá.
Tudo o que está
atrás de um não.
Tudo o que está
com cara de errado.
Tudo o que está
com ar de pecado.
Tudo o que está
na lista da lei.
Tudo o que está
na bronca do pai.
Tudo o que está
na cisma da mãe.
Tudo o que está
guardado em segredo,
trancado a chave
no fundo da mala,
escondido da gente
no pó do porão...
Tudo isso tem cara
de ser muito bom!
(Sonhos, grilos e paixões. São Paulo: Moderna, 1990)
Trem de ferro
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virge Maria que
foi isso maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Manuel Bandeira
Oô...Quando
me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô... Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Oô...
Vou mimbora,
vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
(Estrela da Vida Inteira.
Rio de Janeiro:
José Olympio, 1974)
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
FICHA 12 VERSO
POESIA
48
DATA
Oficina 12 Poemas ao vento
Um pouco de conversa
Você ouviu a história do poeta Bashô, que desenvolveu o haicai — um tipo de poesia muito
especial, admirada no mundo todo.
Leia agora alguns poemas que ele criou e outros, escritos por poetas mais
modernos inspirados na arte desse velho mestre.
Haicais
Bashô
Poetas brasileiros
Porta fechada,
deito-me no silêncio:
prazer da solidão.
Admirável
não pensar ao ver o raio:
”É fugaz a vida”.
Gota de orvalho:
lágrima da madrugada
que a folha enxugou.
Mil vezes ao dia,
três gotas de poesia. Uso
interno somente.
Lá vai meu boné
volteando pelo céu...
Cabeça-de-vento!
(Ângela Leite de Souza. Três gotas
de poesia. São Paulo: Moderna,
1998)
No mar sombrio
dourada ainda
a voz dos patos selvagens.
Tufo de capim
em boca de boi será
chiclete de menta?
Velhas janelas
debruçam as memórias
ao entardecer.
A caveira é bem rara.
Não pensa nem fala.
Só encara.
Agora é inverno
e no mundo uma só cor;
o som do vento.
Estas pimentas:
acrescentai-lhes asas
e serão libélulas.
Sol e chuva, chuva
e sol. E se o espanhol
casar com a viúva.
O sofrimento
para a poesia
é bom adubo.
Podes crer,
Com um dia de doença
Já aprendo a morrer.
Nesta noite
ninguém pode deitar-se:
lua cheia.
(Haikais de Bashô. Trad. Olga Savary. São Paulo: Hucitec, 1989)
Quem anda com os pés
na cabeça é artista
de circo ou... piolho.
Aliás, tudo
para a poesia
é bom adubo
(Gustavo Alberto C. Pinto.
Relâmpagos. São Paulo: Massao
Ohno, 1990)
Socialistas imundos:
Querem acabar
Com os vagabundos!
(Millôr Fernandes. Literatura
comentada. São Paulo: Abril
Educação, 1980)
O que você achou? O que mais lhe chama a atenção nos haicais?
Ouça as explicações do professor sobre esse tipo de poema: isso vai ajudá-lo a criar seus
próprios haicais. Pode parecer difícil, mas vale a pena tentar!
Depois que terminar, passe seus poemas a limpo. O professor vai dar sugestões para
organizar a exposição dos haicais.
Transcreva aqui seu/s haicai/s.
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EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
FICHA 13
POESIA
NOME
49
DATA
Oficina 13 Poemas para rir
Um pouco de conversa
Vocês consultaram o dicionário, discutiram, e agora já sabem o que significa paródia. Que
tal ver na prática como ela funciona?
Leia os textos abaixo e procure observar com atenção que modificações a
parodista fez no poema original e que efeito ela conseguiu com isso. Discuta a
respeito com os colegas e o professor.
Meus oito anos
Casimiro de Abreu
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo do laranjais!
(...)
Oh! dias de minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
(...)
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava as Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
(...)
(Obras completas. Rio de Janeiro: Garnier, s.d.)
Ai que saudades...
Ruth Rocha
Ai que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais...
Me sentia rejeitada,
Tão feia, desajeitada,
Tão frágil, tola, impotente,
Apesar dos laranjais.
(...)
Oh dias de minha infância,
Quando eu ficava doente,
Ou sentia dor de dente,
E lá vinha tratamento!
Era um tal de vitamina...
Mingau, remédio, vacina,
Inalação e aspirina,
Injeção e linimento!
(...)
Naqueles tempos ditosos
Não podia abrir a boca,
E a professora era louca,
Só queria era gritar.
Senta direito, menina!
Ou se não, tem sabatina!
Que letra mais horrorosa!
E pare de conversar!(...)
(O mito da infância feliz. São Paulo: Summus,
1983)
EDUCAÇÃO
E CIDADANIA
50
FICHA 13 VERSO
POESIA
Paródias
Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
(...)
Gonçalves Dias
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
(Apresentação da poesia brasileira. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d.)
Canção do exílio
Murilo Mendes
Nossas flores são bonitas,
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
(Poesia completa e prosa. Rio de
Janeiro: Nova Aguilar, 1994)
Canção do exílio
facilitada
LÁ?
AH!
José Paulo Paes
Canto de
regresso à pátria
SABIÁ...
PAPÁ...
MANÁ...
SOFÁ...
SINHÁ...
Minha terra tem Palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá.
(Transcrito de Wiliam R. Cereja e
Thereza C. Magalhães, Todos os
textos. São Paulo: Atual, 1998)
Oswald de Andrade
CÁ?
BAH!
(Literatura comentada. São Paulo: Abril
Educação, 1980)
Agora é sua vez de fazer um poema para rir.
Escolha: trabalhe sozinho ou com um colega.
Para fazer sua paródia, tome como inspiração
um dstes poemas, ou uma cantiga de roda,
ou a letra de uma canção popular de
sucesso.
Não se esqueça de que palavrões e
expressões grosseiras podem até ficar
engraçadas numa paródia, mas são um
recurso fácil e de mau gosto, que mostram
falta de criatividade do parodista.
Ao terminar, você e os colegas podem trocar
os textos que produziram, de modo que
todos fiquem conhecendo o que cada um
fez. Podem também lê-los ou cantá-los — se
as paródias forem feitas a partir de letras de
música.
Para expor, passe a limpo sua paródia e o
poema ou letra original, lado a lado.
Registre aqui sua paródia.
Canção do exílio
às avessas*
Jô Soares
Minha Dinda* tem cascatas
Onde canta o curió
Não permita Deus que eu tenha
De voltar pra Maceió.
(...)
O meu céu tem mais estrelas
Minha várzea tem mais cores.
Este bosque reduzido
Deve ter custado horrores.
(...)
Finalmente, aqui na Dinda,
Sou tratado a pão-de-ló.
Só faltava envolver tudo
Numa nuvem de ouro em pó.
E depois de ser cuidado
Pelo PC com xodó,
Não permita Deus que eu tenha
De acabar no xilindró.
(Veja. 16 set. 1992)
* Crítica ao ex-presidente Collor e
à sua luxuosa casa em Brasília
(Casa da Dinda).
40
ISBN 85-85786-36-1
Autoria
Realização
SECRETARIA DE
ESTADO DA EDUCAÇÃO