A LEITURA VIVENCIADA ANTES E ALÉM DA ESCRITA
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A LEITURA VIVENCIADA ANTES E ALÉM DA ESCRITA
PRÉ –JORNADA - HUMANISMO MÉDICO SENTIDOS, EMOÇÕES E RAZÃO NA LEITURA Maria Helena Martins – CELPCYRO 06/06/2014 A presença do Humanismo Médico na pauta da Pré-Jornada CELPCYRO se deve ao propósito de trazer aos profissionais de saúde mental questões ligadas a eles mas que, aparentemente, fogem às suas práticas cotidianas. Resgatamos aqui uma questão que sempre agrega valor à bagagem cultural de quem dela tome conhecimento. Leitura é a questão que escolhemos para esta Pré-Jornada. Aparentemente se trata de algo mais que sabido por todos nós, entretanto demanda uma abordagem que atravesse o já sabido, que supere a mera decifração da escrita. Isso não significa maior dificuldade para entendê-la, mas implica disponibilidade para perceber como ela acontece ao vivo e em cores e na caixa-preta. A LEITURA ENTRE O ÓBVIO E O EXTRAORDINÁRIO A observação de procedimentos ao ler, realizados por leitores iletrados ou analfabetos – desde crianças a adultos em situações diversas - , propiciou verdadeiros achados de natureza empírica sobre o que é a leitura, permitindo que se apresente aqui um tanto desse material e reflexões decorrentes dele. Constatações sobre a leitura: • acontece na interação dos sentidos, das emoções e da razão • incentiva a sensibilidade, a imaginação e o intelecto • provoca novas leituras em outras linguagens, permitindo a “iluminação mútua” entre elas e http://www.youtube.com/watch?v=nkvLq0TYiwI de 0,02 a 1,06 STARRY, STARRY NIGHT Don McLean Starry, starry night. Paint your palette blue and grey, Look out on a summer's day, With eyes that know the darkness in my soul. Shadows on the hills, Sketch the trees and the daffodils, Catch the breeze and the winter chills, In colors on the snowy linen land. Now I understand what you tried to say to me, How you suffered for your sanity, How you tried to set them free. They would not listen, they did not know how. Perhaps they'll listen now. ………………………………………………….. UMA NOÇÃO AMPLA DE LEITURA A leitura se constitui como um processo de atribuição de significados a linguagens verbais e não-verbais ou a quaisquer formas de expressão. Tal processo é circunstanciado no tempo e no espaço do leitor, que é mobilizado por seus sentidos, suas emoções e sua razão, simultaneamente, embora um ou outro desses componentes prevaleça. INTERAÇÃO esquemática DOS COMPONENTES DO PROCESSO DE LEITURA • Sentidos> Sensações Os sentidos ( visão, audição, olfato, paladar, tato) expandem-se em sensações (manifestações com tendência afetiva). Ambos tendem a ser vivências simples e passageiras . • Emoções> Sentimentos As emoções envolvem nossa psique, nossa imaginação e nossa sensibilidade, sendo mais impulsivas, tendem a se desdobrar em sentimentos, vivências mais complexas e duradouras . • Razão > Intelecto A razão envolve nossa capacidade pensante e memória, mesclando sentidos, emoções , permite estabelecer relações significativas entre o que se lê e nosso intelecto ( inteligência), também evoluem relacionando-as com outras leituras realizadas. ANTÍDOTOS CONTRA A NÃO-LEITURA • A leitura começa antes e vai além do conhecimento da escrita A criança, desde que nasce, é leitora ávida do mundo que a cerca, sendo a leitura propulsora decisiva de seu crescimento. Quando lemos – sendo alfabetizados, analfabetos ou iletrados - levamos para essa leitura nossa bagagem cultural e vivências anteriores que farão parte do processo dessa nova leitura e, possivelmente, continuaremos lendo após o contato com o novo objeto da leitura, via memória, imaginação, reflexão a seu respeito e compartilhamento com outros leitores. . Estamos sempre lendo – importa mais a qualidade da leitura do que aquilo que lemos Sentidos, emoções e pensamentos estão sempre em ação, levando-nos a ler todo o tempo, de modo mais ou menos consciente, com maior ou menor intensidade, dependendo da necessidade, da disponibilidade, das circunstâncias. A LEITURA AO JEITO DE CADA LEITOR e a INTEGRIDADE DO QUE É LIDO Cada leitor realiza uma leitura pessoal - a sua leitura –, que pode se modificar conforme é repetida, apesar daquilo que é lido não se alterar. Aliás, embora se possa realizar várias e diferentes leituras de um objeto, fenômeno, ato, livro, de uma situação , é fundamental respeitar o que se está lendo, sem distorcer sua integridade formal e de conteúdo. Esse é um dos requisitos mais exigentes para uma leitura efetiva. Um artista plástico, um professor de literatura, um músico, um crítico de artes, um leitor comum ou um analfabeto– cada um deles lerá conforme sua experiência e suas expectativas. E essa leitura será aceitável desde que seja coerente com a obra, mesmo revelando limitações do leitor . COERÊNCIA INTERNA DO OBJETO LIDO COERÊNCIA NA LEITURA Se podemos ler qualquer forma de expressão, para que o processo de leitura aconteça de modo coerente e convincente , buscamos uma significação/um sentido naquilo que se apresenta para ler. O resultado desse procedimento será mais bem sucedido quanto mais coerente seja com o expresso naquilo que é lido - um quadro, um poema, uma paisagem, uma cena, uma conversa, uma canção ou um gesto, um olhar, uma notícia, uma receita culinária , uma bula de remédio, etc. Como devo ler essa imagem? ou O que essa imagem diz para mim? A LEITURA COMO ESTRANHAMENTO DO ÓBVIO Tomate Alface Azeite Arroz Feijão Carne Peixe • Como cada leitor lê essa lista? Por que um conjunto de palavras tão óbvias pode levar a mal-entendidos? • Cada leitor realiza sua leitura a partir de conhecimentos prévios • •Se o leitor tem maiores conhecimentos mais diversificada será sua leitura , também mais correta ou mais complexa? SENTIDOS, EMOÇÕES E RAZÃO interagindo fundamentam o PROCESSO DE LEITURA Para qualquer leitor, analfabeto ou alfabetizado, a a interação de sentidos, emoções e razão fundamenta o processo de leitura, ainda que um ou outro prevaleça ou mesmo seja pouco perceptível. Cada um desses componentes também tende a se desenvolver nessa ordem, tendo maior ou menor presença no processo. E a experiência de vida que possua o leitor é fundamental para ele perceber uma significação no que se apresenta para ler. Mais: para estar predisposto a descobertas leitura, não importa que linguagem na ou que assunto se apresente para ler., assim como sempre haverá tantas leituras quantos forem os leitores. O EQUÍVOCO DE INSISTIR NA FORMAÇÃO DO HÁBITO DE LEITURA O que prende um leitor a um livro, por ex., são as grandes ou pequenas descobertas de si e do mundo que a leitura propicia. Assim, o que torna alguém um leitor efetivo é sua expectativa em relação ao que possa encontrar num texto, o que não acontece se ele lê como quem toma água, escova os dentes, se penteia – quase mecanicamente. Esses procedimentos caracterizam hábitos, e o hábito pertence ao âmbito do já sabido, nunca propiciará uma revelação, saciará a vontade de querer saber mais… “ O mais difícil, mesmo, é a arte de desler” Mario Quintana VISITE O SITE www.celpcyro.org.br E SAIBA MAIS [email protected]