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Avaliação do arranjo físico e custos logísticos na transferência de
Avaliação de arranjo físico e custos logísticos na transferência de maquinário em uma unidade fabril Lauren Maria Corradini Bataglin [email protected] Taina Lourenço Basilio [email protected] José Geraldo Vidal Vieira [email protected] Nara Rossetti [email protected] RESUMO O artigo propõe avaliar problemas comumente existentes nos processos produtivos, referentes a tipo de leiaute e custos logísticos. O objetivo é avaliar o impacto da transferência de duas máquinas entre unidades fabris, focando em custos logísticos e no rearranjo do leiaute. Para isso, tiveram como embasamento prático dados históricos de maquinários, classificação do fluxo de processo e características da produção. Como base teórica, foi realizada uma análise de arranjo físico utilizando a tecnologia de grupo, por meio da aplicação de dois algoritmos, o ROC e o CNA e uma análise de custos por meio do payback, taxa interna de retorno e valor presente líquido. Os resultados sugerem a mudança de duas máquinas de unidade fabril e a implementação de uma manufatura celular no chão fabril. Dessa forma, os fluxos cruzados poderão ser minimizados e a produtividade da empresa manufatureira, aumentado. Conclui-se que, pela viabilidade financeira e pela análise técnica do arranjo físico, não há impacto negativo na transferência das duas máquinas e que a melhor opção é a implantação de um leiaute combinado, por meio do arranjo de células e arranjo físico por processo. Palavras-chave: Leiaute, Análise de custos, Tecnologia de grupo. Evaluation of physical arrangement and logistics costs in the transfer of machinary in a factory ABSTRACT This article evaluates common problems that happen in a production process, related to types of layout and logistcs cost.The goal is to evaluate the impact of transfering two machines between factories, focusing on logistcs costs and layout rearrangement. Historical data about the machinary, classification of the process flow and production characteristics were used as practical basis. For the theoretical basis, an analysis was conducted about the physical arrangements, using group technology, with the application of two algorithms, ROC and CNA. An analysis of cost using payback, internal rate of return and net present value was calculated, as well. The results suggest a change of these two machines and the implementation of a celular layout in the factory. This way, the crossed flows can be minimized and the factory’s produtivity can be increased. Therefore, the financial and the layout analysis showed that the tranfers of these two machines do not generate negative impact and that the best option is an implementation of a combined layout, with celular and process physical arrangement. Keywords: Layout, Costs analysis, Group Technology. Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 2, p. 300-308, Jan./Jun. 2013. 300 Avaliação de arranjo físico e custos logísticos na transferência de maquinário em uma unidade fabril 1. Introdução Nos dias atuais, em razão da concorrência acirrada que se instala entre as indústrias, o aumento da produtividade tem-se tornado item de preocupação para os responsáveis pelo planejamento, controle e programação da produção. De acordo com Corrêa e Gianesi (1993), em um ambiente globalizado e altamente competitivo é constante e necessária reavaliar a função produção nas organizações, de forma a atender às demandas com qualidade, rapidez e confiabilidade a um menor custo. Além disso, dados indicam a importância particular existente no estudo da etapa de fabricação. Isso porque cerca de 5% do tempo destinado à execução de uma peça é ocupado por máquinas e os 95% restantes, consumidos em movimentação e filas de espera (DOUMEINGTS, 1984 apud RIBEIRO; MEGUELATI, 2002, p. 63). Pode-se, dessa forma, ratificar a grande relevância da análise dos processos produtivos, a fim de otimizá-los, por meio de reduções de fluxos cruzados, menores tempos de set up e lead time. A otimização do leiaute, por sua vez, é um dos grandes fatores proeminentes na busca incessante na melhoria da produtividade e custos de produção. Isso porque uma alocação de recursos de produção racional pode contribuir, significativamente, para o aumento da eficiência de suas operações e para as reduções de custo de movimentação (DRIRA et al., 2007). A empresa analisada neste estudo de caso atuava no setor de laminados plásticos e produzia artigos escolares e de escritório. Por meio de análise do seu fluxo fabril, buscou-se propor o tipo de leiaute que melhor se adequaria à fábrica, embasado nos dados históricos de produção, nos processos produtivos, na relação entre volume e variedade e no principal objetivo de desempenho primado por esta – o menor custo. É importante ressaltar que essa empresa conta com o auxílio de uma segunda unidade fabril, pertencente aos mesmos proprietários, onde é realizada a estocagem e expedição da produção. O foco de estudo do artigo é, assim, avaliar o impacto da transferência de duas máquinas entre unidades fabris, dos pontos de vista técnico (rearranjo físico) e financeiro (custos logísticos). Essas máquinas produzem, em sua maioria, produtos acabados, ou seja, prontos para serem estocados, porém fazem uso de bobinas produzidas 301 em uma segunda unidade fabril. Notaram-se, nesse aspecto, elevados custos logísticos de transporte. Isso trouxe como implicação a necessidade de analisar a viabilidade financeira na realocação dessas duas máquinas à segunda unidade fabril, o que, por consequência, geraria para a empresa analisada a possibilidade de mudanças no seu leiaute, devido à ocorrência de espaço vazio deixado por tais mudanças. Portanto, o impacto da transferência das duas máquinas e a análise do rearranjo físico utilizando métodos científicos na sua análise constituíram a motivação desta pesquisa, ao mesmo tempo que contribuíram para a melhoria de produtividade e de fluxo no ambiente de produção. 2. Revisão bibliográfica 2.1. Análise de custos e investimentos A realização de investimentos é uma ação comum na busca de retornos lucrativos e sustentáveis quando há possibilidade de melhoria de produção. Isso poderá levar à geração de riquezas e, segundo Dias e Malaco (2010), empresas em um mercado globalizado veem como fundamental o investimento em diversas áreas, como na área de aquisição de novos instrumentos e de aumento da produtividade. No entanto, fatores como o alto custo do capital, a escassez de recursos no seu sentido mais amplo, a busca pela rentabilidade e a geração de riquezas são preponderantes para que investimentos realizados sejam previamente analisados e mensurados exaustivamente, prevenindo fracassos, perdas financeira e patrimonial, tanto dos projetos quanto dos agentes investidores (MARQUEZAN, 2006). Um projeto de investimento convencional apresenta desembolsos na fase inicial e recebimentos nos períodos futuros. Claro que para haver retorno sobre o investimento será necessário que o total das entradas de caixa supere o das saídas (BARBIERI et al., 2007). Dessa forma, uma taxa de juros mínima aceitável deve ser sempre estipulada pelo investidor para servir de parâmetro, podendo ser, por exemplo, a taxa SELIC. Segundo o Banco Central, essa taxa é obtida mediante o cálculo da taxa média ponderada e ajustada das operações de financiamento por um dia, lastreadas em títulos públicos federais e cursadas no referido sistema ou em câmaras de compensação e liquidação de ativos, na forma de operações compromissadas. Seu valor é Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 2, p. 300-308, Jan./Jun. 2013. Lauren Maria Corradini Bataglin, Taina Lourenço Basilio, José Geraldo Vidal Vieira e Nara Rossetti hoje, aproximadamente, 10,75% ao ano, o que gera uma taxa mensal de 0,85%. A principal fase das decisões de investimentos no longo prazo consiste na utilização de métodos de avaliação financeira com vistas a apurar os resultados das aplicações de capital. Os métodos mais comuns a serem utilizados nesta análise são: Payback, Taxa Interna de Retorno e Valor Presente Líquido. 2.1.1. Fluxo de caixa O Fluxo de Caixa se refere ao montante de caixa recebido e gasto por uma empresa em determinado período de tempo. Para uso dos métodos de análise de investimento propostos neste artigo, torna-se necessário o cálculo do fluxo de caixa. Além disso, segundo Sá (2010), estudar o fluxo de caixa é procurar compreender o processo de formação de liquidez de uma empresa. Fato de demasiada relevância em um projeto. 2.1.2. Payback “O Payback é indicador que determina o prazo de recuperação de um investimento, também chamado de payout” (MARQUEZAN, 2006, p. 6). Além disso, segundo Marquezan (2006, p. 6), o cálculo do Payback é indicador, com o papel de avaliar a atratividade de um investimento, podendo ser visualizado pela seguinte fórmula matemática: Payback = $ Retorno por Período/$ Investimento A TIR deve ser comparada com uma taxa mínima de retorno, para analisar se o investimento é, de fato, rentável. Nessa análise foi usada a SELIC como taxa de desconto. 2.1.4. Valor presente líquido Valor Presente é um conceito matemático que indica o valor atual de uma série uniforme de capitais futuros, descontados a determinada taxa de juros compostos, pelos respectivos prazos. “Basicamente, este método estabelece uma comparação entre o custo de um investimento e o valor presente de fluxos de caixa que o projeto deverá gerar” (FIGUEIREDO NETO; ALVES, 2002). O VPL de um projeto de investimento pode ser definido como a soma algébrica dos valores descontados do fluxo de caixa a ele associado (SILVA; FONTES, 2009). Assim, pode-se dizer que é a diferença do valor presente das receitas menos o valor presente dos custos, como ilustrado na equação 2. Eq. 2 em que: Rj = valor atual das receitas; Cj = valor atual dos custos; i = taxa de juros; j = período em que as receitas ou os custos ocorrem; e n = número de períodos ou duração do projeto. 2.1.3. Taxa interna de retorno Hartmam e Schafrick (2004 apud BARBIERI et al., 2007) afirmaram que, quando única, a Taxa Interna de Retorno (TIR) define o retorno de um investimento. Seu cálculo pode ser representado pela fórmula matemática (equação 1). Eq. 1 em que: Ft são os fluxos previstos de entrada de caixa em cada período de vida do projeto; TIR é a taxa de rentabilidade equivalente periódica; e t é o tempo. 2.2. Leiaute celular A ideia básica da manufatura celular é melhorar o gerenciamento do sistema de manufatura, por meio do agrupamento de recursos produtivos, em células independentes, isto é, subsistemas de produção (GHINATO, 1998 apud DALMAS, 2004). Esse tipo de arranjo físico é basicamente projetado para ser flexível. Segundo Dalmas (2004 apud COLEHO, 2008, p. 4), no arranjo físico celular os recursos transformados que entram na operação se movimentam dentro da célula, que possui todos os recursos transformadores necessários a atender às suas necessidades imediatas de processamento. Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 2, p. 300-308, Jan./Jun. 2013. 302 Avaliação de arranjo físico e custos logísticos na transferência de maquinário em uma unidade fabril Nela, os postos de trabalho estão próximos e atendem a certo número de peças de forma linear. Isso conduz a uma maior automatização, a uma redução do tempo de preparação das máquinas, a uma padronização das ferramentas empregadas e a uma redução dos ciclos de fabricação, com menor movimentação de materiais, além de baixos estoques intermediários. Para a implantação de leiaute celular, utiliza-se, normalmente, Tecnologia de Grupo (TG), por meio de métodos matemáticos e algoritmos que atestam melhor formação de máquinas em torno de um fluxo de produção. Tecnologia de Grupo é o tema da próxima seção. algoritmo rearranja as linhas e colunas, em ordem decrescente de valor, até que não haja mais mudanças. Com esse método de agrupamento de células surge um novo arranjo físico, adequado para a produção. Opera-se na matriz incidência de máquinas e produtos, em que o número 1 indica a incidência do produto naquela máquina em específico e o número 0 (zero), a não incidência. Os procedimentos estão descritos a seguir. 1) Para a linha m = 1, 2, 3..., M, calcule o decimal equivalente cm para ler a entrada como palavra binária. 2.3. Tecnologia de grupo Reordenar as linhas com Rm decrescendo. No caso de um empate, mantenha a ordem original. 2) Para a coluna p =1, 2, 3..., P, calcule o decimal equivalente rp para ler a entrada como palavra binária. Este conceito se baseia no agrupamento de peças similares em famílias, com o objetivo de fabricá-las em células ou ilhas que reúnem máquinas especialmente selecionadas para esse fim. Segundo Gallagher e Knight (1986), a TG é um princípio de manufatura que identifica e designa peças e processos semelhantes ou relacionados, tirando vantagens dessas similaridades durante todos os estágios de projeto e manufatura. No entanto, o projeto das células de fabricação consiste na resolução de um problema matemático de grande complexidade (KUSIAK, 1987 apud RIBEIRO; MEGUELATI, 2002, p. 63). Com posse de uma matriz de incidência, na forma [peças x máquinas], rearranjam-se tanto as linhas quanto as colunas dessa matriz, para obtê-la no formato blocodiagonal. Os elementos situados dentro dos blocos são constituintes das células, enquanto os que estão fora delas são chamados de movimentos intercélulas e classificados como indesejáveis na prática. Para realizar a diagonalização em bloco, da matriz incidência, muitos métodos podem ser utilizados, entre eles o algoritmo ROC (Rank Order Clustering) e o CNA (Close Neighbour Algorithm). 2.3.1. ROC Segundo Coelho (2008, p. 4), o Rank Order Cluster foi desenvolvido por King (1980) para agrupar máquinas e consiste de grande simplicidade. Cada linha e coluna da matriz peçamáquina são consideradas uma palavra binária e são convertidas pelo procedimento, para cada linha (coluna) dentro do decimal equivalente. Assim, o 303 Reordenar as colunas com Rp em ordem decrescente. No caso de um empate, mantenha a ordem inicial. 3) Caso não se consigam fazer mais alterações na nova matriz peça-máquina, deve-se, então, parar; senão, deve-se voltar ao passo 1. 2.3.2. CNA O Close Neighbour Algorithm, desenvolvido por Boe e Chen (1991), também é um algoritmo da família dos arranjos de matrizes. “Sua lógica de convergência ao resultado ótimo em apenas uma interação e sua simplicidade de implementação faz do CNA um dos algoritmos mais referenciados na literatura” (MUKHOPADHY et al., 1995; HICKS, 2004; LI; PARKIN, 2002; CHEN 2003 apud DALMAS, 2004). Ele é considerado um dos algoritmos mais eficientes para o arranjo de matrizes de incidência. Igualmente ao ROC, sua implementação baseia-se na construção de uma matriz de incidência. Os passos são relatados a seguir: 1) Constrói-se uma matriz B (máquina x máquina), em que se comparam duas máquinas por vez, e marca-se o número de produtos que elas compartilham. Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 2, p. 300-308, Jan./Jun. 2013. Lauren Maria Corradini Bataglin, Taina Lourenço Basilio, José Geraldo Vidal Vieira e Nara Rossetti 2) Somem-se todos os valores obtidos no passo 1 de cada linha, construindo uma coluna Si. 3) Selecione-se a linha com maior Si. Em caso de empate, pegue-se a de menor índice. 4) Nela, selecione o item (bij) de maior valor. O j indicará a próxima linha a ser trabalhada. Em caso de empate, analisa-se o Si da linha j e seleciona-se a de maior Si. 5) Repitam-se esses passos até que todas as linhas sejam reordenadas. 6) Para ordenação das colunas da matriz, divide-se a matriz obtida em duas partes iguais, a superior e a inferior (Seq A e Seq B, respectivamente). Se a matriz tiver número ímpar de linhas, a parte superior deve ter número ímpar de linhas. 7) Some-se o número de incidências (1) que cada metade possui e marcam-se as colunas em que a soma dessas incidências na Seq A for igual à da Seq B. 8) Numeram-se essas colunas da esquerda para a direita. 9) As colunas ainda não assinaladas são de novo divididas em duas partes, e volta-se ao passo 6. 10) O algoritmo encerra quando todas as colunas forem reordenadas. 2.3.3. Eficiência de agrupamento A Eficiência de Aprupamento (ou Group Efficiency - GE) é uma forma de medir a eficiência na formação de células. Essa mensuração é realizada por meio da quantificação de elementos fora das celúlas resultantes, bem como dos espaços ociosos dentro das células. Quanto menores forem essas incidências, menor será a eficiência na formação de determinada célula. A equação 3 ilustra o método para cálculo da eficiência. GE = [(1 – Ex) + (Es)] / 2 critérios: demanda, flexibilidade do chão fabril e duplicidade de máquinas. Quanto à demanda, a mudança do arranjo físico visa, principalmente, ao aumento da produtividade, sendo crucial a verificação da existência de uma demanda que supra esse aumento de produção. Caso isso não ocorra, haverá formação de estoques e, consequentemente, mais gastos. É também necessária a análise do chão fabril e de duas máquinas existentes nele para a averiguação de flexibilidade para mudanças. Observações como a existência de diversos pontos de energia, de paredes que impeçam o rearranjo e das dimensões das máquinas para analisar se são propícias a deslocamentos relevantes. Por fim, deve-se verificar se as máquinas são no mínimo duplicadas. No caso de um leiaute combinado, ocorrência muito comum atualmente é necessária à existência de máquinas iguais ou que processam o mesmo tipo de produto para ambos os arranjos físicos (celular e por processo). A relação entre os dois últimos itens é mostrado no Quadro 1. A demanda não foi relacionada, pois, sendo baixa, a sua análise não se justificaria para a formação de célula. Quadro 1 - Matriz flexibilidade por duplicação Alta duplicação Baixa duplicação Alta flexibilidade Baixa flexibilidade Viável Viável Viável Inviável Fonte: Elaboração própria. Assim, para que não haja viabilidade de implantação do leiaute celular, a flexibilidade e a duplicação devem ser baixas. Nas outras possibilidades, é viável a mudança para o arranjo físico celular. Eq. 3 em que: Ex é o número de incidências extracélulas dividido pelo número total de incidências. Es é o número de espaços ocupados dividido pelo número de espaços intracélulas. 2.3.4. Viabilidade do arranjo físico celular Para modificação do leiaute fabril, foram considerados na análise da sua implementação três 3. Metodologia A metodologia consiste em um conjunto de passos a serem desenvolvidos para alcançar o objetivo principal: “é avaliar o impacto da transferência de duas máquinas entre unidades fabris, em termos de custos logísticos e no rearranjo do layout”. Dessa forma, foi feita uma revisão bibliográfica sobre os temas (Análise de Custos e Investimentos; Tecnologia de Grupo), bem como Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 2, p. 300-308, Jan./Jun. 2013. 304 Avaliação de arranjo físico e custos logísticos na transferência de maquinário em uma unidade fabril um estudo de caso, por meio de entrevistas com gerentes de produção e visitas técnicas para conhecer as especificidades da produção e para a obtenção dos dados. 3.1. Visitas técnicas percentual no faturamento da empresa, não serem sazonais e sim os mais fabricados. Por fim, a quarta, e última visita, foi útil para obtenção de dados financeiros da empresa. Dados como faturamento e planejamento de investimentos foram necessários para o andamento da análise de custos e investimentos do projeto. O Quadro 2 resume informações relevantes das visitas técnicas. 3.2. Análise de custos e investimentos Quadro 2 - Número de visitas técnicas e informações sobre elas Nº de visitas Duração Acompanhante (s) Objetivos 1 2,5 horas Diretor-Geral e Gerente de Produção Apresentação da empresa (chão fabril e informações gerais) 2 1,5 hora Gerente de Produção Coleta de dados logísticos 3 2 horas Gerente de Produção Coleta de dados logísticos 4 1 hora Diretor-Geral Coleta de dados financeiros Fonte: Elaboração própria. As visitas técnicas realizadas foram todas de extrema importância, porém tiverem objetivos estabelecidos diferentes. A primeira visita-técnica foi basicamente uma apresentação da empresa como um todo. Conheceu-se o chão fabril e, além disso, informações gerais sobre a empresa referentes a clientes, fornecedores, demanda, tipos de processo e, principalmente, limitações da empresa (o foco de estudo do problema) foram obtidas. A segunda e a terceira visita tiveram foco na análise aprofundada do problema escolhido, ou seja, dados sobre custos de transporte e leiaute atual da empresa foram obtidos. Alguns dados foram simplesmente fornecidos pelo gerente de produção, enquanto outros foram obtidos a partir da minuciosa observação do chão fabril, a exemplo de uma listagem dos 31 principais produtos, analisando-se todas as máquinas pelas quais passavam para serem produzidos. Esses produtos foram utilizados em todas as análises realizadas neste artigo. Sua seleção deveu-se ao fato de eles representarem grande 305 Para realização da análise de custos e de investimentos, foi preciso tomar conhecimento da receita e dos custos logísticos de transporte dos produtos processados pelas máquinas analisadas. Isso porque, a partir desses dados, foram feitos um fluxo de caixa da situação atual e um fluxo de caixa com a proposta de mudança das máquinas. A comparação desses valores colaborou para a obtenção dos resultados. Assim, pôde ser feita uma análise de viabilidade do transporte do maquinário proposto. 3.3. Tecnologia de grupo A TG realizada tomou como base o uso de dois algoritmos: o ROC e o CNA. Para a implementação desses métodos, é necessário o conhecimento de quais produtos são processados por quais máquinas da unidade fabril. Dessa forma, a construção da matriz incidência se torna possível e, da mesma forma, a análise da TG. Tal análise pode ser conferida nos resultados apresentados adiante. 4. Resultados A solução proposta para o problema encontrado na empresa analisada é o transporte das duas máquinas-alvo do projeto para a empresa parceira, em que se concentram o estoque e a expedição dos produtos. Para verificar essa viabilidade, foi necessária a análise de custos e investimentos, e os resultados foram fundamentais para as decisões tomadas. 4.1. Análise de custos e investimentos 4.1.1. Fluxo de caixa Seguindo a metodologia utilizada neste artigo, foi calculado o fluxo de caixa dos custos logísticos Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 2, p. 300-308, Jan./Jun. 2013. Lauren Maria Corradini Bataglin, Taina Lourenço Basilio, José Geraldo Vidal Vieira e Nara Rossetti das duas máquinas em questão, como pode ser visto na Tabela 1. Os custos da situação atual consistem na soma do frete dos produtos acabados (R$331,20) com o frete das bobinas (R$177,10). Já os custos advindos da situação futura, ou seja, supondo que as máquinas analisadas tenham sido transferidas para a segunda unidade fabril, são a soma de uma parcela única de R$720,00, referente ao transporte das máquinas, aos fretes mensais dos produtos semiacabados de R$126,00, para que esses continuem seu processo produtivo. Tabela 1 - Fluxo de caixa de 12 meses Mês Situação atual (R$) Situação futura (R$) Economia (R$) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 508,30 508,30 508,30 508,30 508,30 508,30 508,30 508,30 508,30 508,30 508,30 508,30 846,00 126,00 126,00 126,00 126,00 126,00 126,00 126,00 126,00 126,00 126,00 126,00 (337,70) 382,30 382,30 382,30 382,30 382,30 382,30 382,30 382,30 382,30 382,30 382,30 Fonte: Elaboração própria. Analisando a Tabela 1, pode-se verificar que somente no mês imediatamente após o investimento houve um prejuízo de R$337,70. Após o primeiro mês, tem-se apenas o custo de transportes dos produtos semiacabados, que é menor do que o valor na situação atual, gerando um lucro mensal de R$382,00. A Figura 1 apresenta uma representação do investimento do transporte das máquinas para a outra unidade fabril. Sendo o primeiro mês responsável pela saída referente ao investimento e os demais, referentes aos ganhos da empresa. dessa taxa é hoje de aproximadamente 10,75% ao ano, o que gera uma taxa mesal de 0,85%. 4.1.4. Valor presente líquido (VPL) O Valor Presente Líquido encontrado foi de R$3.629,95. Pelo fato de o valor encontrado ter sido positivo, o investimento é considerado atraente, e há a possibilidade de acréscimo da riqueza da empresa. Esse valor é basicamente quanto um investimento fututo acrescido de um custo inicial estaria valendo hoje. 4.2. Tecnologia de grupo Figura 1 - Representação gráfica do investimento Fonte: Elaboração própria. 4.1.2. Payback O payback é o tempo necessário para o ressarcimento de um investimento. O valor encontrado para o estudo de caso é de 1,8, ou seja, um mês e 24 dias. Isso significa um rápido retorno, se comparado ao prazo de análise desse investimento, um ano. Esse valor evidencia os baixos riscos relacionados a esse investimento. 4.2.1. ROC e CNA Comprovada a viabilidade financeira, foi necessário rearranjar o leiaute de forma a ocupar eficientemente o espaço vazio deixado. Analisando a matriz de incidência dos 31 principais produtos, percebe-se intuitivamente a formação de células. Com a ajuda dos algoritmos ROC e CNA, pode-se comprovar essa intuição. O resultado foi a matriz presente na Figura 2. 4.1.3. Taxa interna de retorno (TIR) A rentabilidade expressa em uma taxa de juros compostos do projeto foi de 113% a.m. O que evidencia uma rentabilidade altíssima, dado que a taxa de desconto utilizada foi a taxa SELIC. O valor Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 2, p. 300-308, Jan./Jun. 2013. 306 Avaliação de arranjo físico e custos logísticos na transferência de maquinário em uma unidade fabril Figura 2 - Matriz ordenada pelo método ROC. Fonte: Elaboração própria. Pode-se observar a formação de células que estão destacadas, comprovando que o arranjo de máquinas nessas células específicas é o mais adequado para os 31 produtos analisados. Podem-se observar também, claramente, 100% de eficiência no agrupamento, pois não existem produtos sendo processados por máquinas fora das células, tampouco espaços vazios dentro das células encontradas. Logo, torna-se desnecessário, nesse caso, o cálculo de GE. Pela Figura 2, percebe-se claramente a formação de células que estão circuladas, sendo mais bem representadas na Tabela 2. Tabela 2 - Células formadas Células Máquinas 1 207, 208, 210, 211, 213, 215, 216, 217, 218 2 219, 220, 222 3 221, 223 Fonte: Elaboração própria. No entanto, a empresa produz uma gama de 600 produtos, ou seja, há mais de 500 produtos não considerados nos algoritmos. Por esse motivo, deve-se manter o leiaute atual para o processamento deles. Em suma, a melhor opção para a empresa é um leiaute combinado, com arranjo de células e arranjo físico por processo. 4.2.2. Viabilidade do arranjo físico celular Feita a detecção das células, foram necessárias três constatações para a viabilidade do novo leiaute: 307 Demanda: a empresa possui uma demanda de 45% ainda não atendida. Isso sugere que células de manufatura poderiam ser usadas para acelerar parte da produção e, assim, atender a essa demanda. Assim, o aumento da produtividade com esse novo arranjo físico não geraria estoques. Flexibilidade: a empresa possui alta flexibilidade para a mudança de leiaute, com um chão de fábrica amplo, sem restrições físicas (como paredes e obstáculos fixos) e diversos pontos de energia. Duplicidade das máquinas: todas as máquinas analisadas são duplicadas; algumas até triplicadas. Assim, pelos dois primeiros itens analisados, pode-se concluir que é possível a implantação do arranjo físico celular. No entanto, como já observado, o melhor leiaute para esse caso seria o combinado. Para isso, o quesito duplicidade de máquinas deve ser atendido, o que de fato ocorreu na análise do último item. 5. Considerações finais A fim de garantir maior eficiência produtiva, as organizações têm buscado diversos métodos para reduzir fluxos cruzados, custos logísticos e má utilização dos recursos produtivos. Esses métodos contemplam a enorme área de estudo da Engenharia de Produção, podendo se restringir à aplicação da tecnologia de grupo e de análises de custos e investimentos. Com eles, o objetivo inicial do projeto foi alcançado, uma vez que pode ser realizada a avaliação do impacto da transferência de duas máquinas, focando-se na análise de custos Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 3, n. 2, p. 300-308, Jan./Jun. 2013. Lauren Maria Corradini Bataglin, Taina Lourenço Basilio, José Geraldo Vidal Vieira e Nara Rossetti logísticos e rearranjo do leiaute. Dessa forma, chegou-se ao leiaute mais apropriado para o caso estudado, o combinado (celular e por processo). O fato de terem sido selecionados apenas 31 dos 600 produtos da empresa para a realização dos métodos da tecnologia de grupo pode ter sido uma limitação deste estudo. No entanto, esses produtos são os mais demandados e com maior porcentagem no faturamento da indústria, por isso a aproximação realizada é válida. Para que as soluções propostas possam ser aplicadas com maior confiança, estudos mais aprofundados podem ser realizados futuramente. Um exemplo seria a análise da disposição das células dentro do chão de fábrica, considerando-se os processos e máquinas necessários para a fabricação de todos os produtos da empresa. Outra proposta seria a ampliação deste estudo, considerando-se os 600 produtos para a formação de célula e o rateio de custos para a fabricação de produtos pelas máquinas. Proposta de aplicação de teoria de operações reais em projetos agropecuários. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO - ENEGEP, 22., 2002, Curitiba. Anais... Coritiba, 2002. 6. Referências RIBEIRO, J. F. F.; MEGUELATI, S. Organização de um sistema de produção em células de fabricação. Gestão e Produção, v. 9, n. 1, p. 62-77, 2002. BANCO CENTRAL DO BRASIL [Internet]. Brasil: Banco Central do Brasil, atualizada em 8 nov. 2010. Taxa Selic Diária. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br>. Acesso em: 8 nov. 2010. BARBIERE, J. C.; ÁLVARES, A. C. T.; MACHLINE, C. Taxa interna de retorno: controvérsias e interpretações. 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