Considerações Civis
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Considerações Civis
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO Maj Inf FELIPE RÍMOLO COSENDEY A Aplicação das “Considerações Civis” na Força de Pacificação ARCANJO. Rio de Janeiro 2014 Maj Inf FELIPE RÍMOLO COSENDEY A Aplicação das “Considerações Civis” na Força de Pacificação ARCANJO. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialistaem Ciências Militares. Orientador: Ten Cel Cav Rovian Alexandre Janjar Rio de Janeiro 2014 C834a COSENDEY, Felipe Rímolo A Aplicação das “Considerações Civis” na Força de Pacificação ARCANJO./ Rio de Janeiro: Escola de Comando e Estado-Maior do Exército,2014. 53f. :il ; 30cm. Trabalho de Conclusão de Curso - Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2014. Bibliografia: f. 55-58. 1. Considerações Civis. 2. Operações Interagências 3. Pacificação. I. Título. CDD 355.4 CDD 355.4 Maj Inf FELIPE RÍMOLO COSENDEY A Aplicação das “Considerações Civis” na Força de Pacificação ARCANJO. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialistaem Ciências Militares. Aprovado em ___ de ______________de_______. COMISSÃO AVALIADORA ____________________________________________ Rovian Alexandre Janjar – Ten Cel Cav – Presidente Escola de Comando e Estado-Maior do Exército ___________________________________________ João Luiz de Araújo Lampert – Ten Cel Inf – Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército ____________________________________________ José Euclides Oliveira de Araújo –Maj Com – Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército À minha esposa Nágela, companheira de sempre, e minha filha Maria Eduarda, pela paciência e compreensão demonstradas durante a realização deste Curso de Altos Estudos Militares. AGRADECIMENTOS À Deus, pela vida e saúde. Ao TC Rovian Alexandre Janjar, meu orientador, pelas observações firmes e seguras. Ao meu pai, Genino Jorge Cosendey, e ao meu avô, Genino Augusto Cosendey, antigos soldados que me serviram de exemplo de dedicação, honestidade e entusiasmo pela carreira. “A guerra nada mais é que a continuação da política por outros meios.” Karl von Clausewitz RESUMO As “Considerações Civis” se referem à capacidade que a população, as agências civis, governamentais ou não, as lideranças civis e a mídia, dentre outros, podem exercer, numa Área de Operações, influindo diretamente no curso das ações. Esta particularidade cresce de importância na atualidade, tendo em vista o aumento da participação do Exército Brasileiro (EB) em missões de preservação da ordem pública, como foi o caso das Operações Interagências desencadeadas pela Força de Pacificação Arcanjo, no início da década de 2010, na cidade do Rio de Janeiro. Estas Operações puseram à prova a capacidade de o EB operar, num ambiente urbano e dominado pelo narcotráfico, sob as vistas e o julgamento das populações local e nacional, além da comunidade internacional. Neste contexto de interoperabilidade com diversos órgãos civis e agências de segurança pública nacional, estadual e municipal, o EB desenvolveu estratégias, aplicando Táticas, Técnicas e Procedimentos (TTP) eficazes, que permitiram o cumprimento das diversas missões, tendo, na sua maior parte, conservado o apoio populacional. Desta forma, observou-se que as Operações Arcanjo levaram o Comando daquela Força de Pacificação (Cmdo F Pac) a priorizar as considerações civis nos seus planejamentos. Isso trouxe grande evolução à Doutrina Militar Terrestre, pois, com exceção das experiências do Exército Brasileiro em operações de Forças de Paz sob a égide das Nações Unidas, nunca foi tão evidente a capacidade de os civis influenciarem na Área de Operações. Neste sentido, o presente trabalho pretende analisar a aplicação concreta das “Considerações Civis” nos exames de situação do Cmdo F Pac Arcanjo, a fim de promover o aperfeiçoamento, neste aspecto, da Doutrina Militar Terrestre vigente. Palavras-chave: Considerações Civis, Operações Interagências e Pacificação. ABSTRACT The "Civil Considerations" refer to the ability of the population, civilian agencies, government or not, civil leaderships and the media, among others, may exercise in an Operations’ Area, directly influencing the course of action. This feature grows in importance, and in view of the increased participation of Brazilian Army on missions to preserve public order, as was the case of the Interagency Operations triggered by Pacification Force Archangel, in the early 2010s, in the city of Rio de Janeiro. These operations have tested the ability of the Brazilian Army operate in an urban environment dominated by drug trafficking, under the eyes and judgment of local and national populations and the international community. In this context, interoperability with several civilian agencies and national, state and local public safety agencies, the army has developed strategies, applying Tactics, Techniques and Procedures (TTP) effective, which allowed the completion of several missions, and, mostly, kept the population support. Thus, it was observed that the Archangel Operations Command prioritized more and more civil considerations into their planning. This brought great progress to the Military Doctrine, because, with the exception of the experiences of the Brazilian Army in Peacekeeping operations, under the aegis of the United Nations, has never been so evident the ability to influence civilians in the Area of Operations. In this sense, this paper discusses the practical application of the "Civil Considerations" in examinations situation of the F Pac Archangel Command, to promote the improvement in this aspect of the Military Doctrine. Keywords: Civil Considerations, Interagency Operations and Pacification. LISTA DE FIGURAS E QUADROS Quadro 1 – Coleta de dados................................................................................ 17 Quadro 2 – Relação dado, coleta e tratamento................................................... 18 Quadro 3 – Espectro dos Conflitos...................................................................... 23 Quadro 4 – Operações no Amplo Espectro......................................................... 23 Quadro 5 – Tarefas das Operações no Amplo Espectro..................................... 24 Quadro 6 – Índice de Desenvolvimento Social.................................................... 29 Figura 1 - Vista aérea do Complexo da Penha.................................................... Figura 2 - Vista aérea do Complexo do Alemão.................................................. 30 31 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ABIN Agência Brasileira de Inteligência ACISO Ação Cívico-Social A Op Área de Operações AOG Apoio aos Órgãos Governamentais APOP Agentes Perturbadores da Ordem Pública B A Log Ex Base de Apoio Logístico do Exército BOAI Batalhão de Operações de Apoio à Informação BPE Batalhão de Polícia do Exército BPM Batalhão de Polícia Militar CAvEx Comando de Aviação do Exército CCOMSEx Centro de Comunicação Social do Exército COpEsp Comando de Operações Especiais C DoutEx Centro de Doutrina do Exército CF Constituição Federal Cmdo Comando CML Comando Militar do Leste Cmt Comandante DPJM Delegacia de Polícia Judiciária Militar DMT Doutrina Militar Terrestre EB Exército Brasileiro Elm Elementos EM Estado-Maior EscSup Escalão Superior Esqd C Mec Esquadrão de Cavalaria Mecanizado ECEME Escola de Comando e Estado-Maior do Exército EsAO Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais FA Forças Armadas F CbnCj Força Combinada Conjunta F Ter Força Terrestre F Pac Força de Pacificação Funai Fundação Nacional do Índio GLO Garantia da Lei e da Ordem GU Grande Unidade GUEs Grupamento de Unidades-Escola IBAMA INCRA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária IDS Índice de Desenvolvimento Social LA Lições Aprendidas MD Ministério da Defesa Minustah Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti O Op Ordem de Operações Op Operações Op Info Operações de Informação OSP Órgão de Segurança Pública PEF Plano Estratégico de Fronteiras PF Polícia Federal PMERJ Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro PRF Polícia Rodoviária Federal RDOP Relatório Diário de Operações TC ou TenCel Tenente-Coronel TTP Táticas, Técnicas e Procedimentos TO Teatro de Operações U Unidades UPA Unidades de Pronto Atendimento UPP Unidade de Polícia Pacificadora SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 13 2 METODOLOGIA......................................................................................... 16 3 ATUAL AMBIENTE INTERAGÊNCIAS...................................................... 19 3.1 GENERALIDADES ..................................................................................... 19 3.2 COORDENAÇÕES INTERAGÊNCIAS ....................................................... 21 3.3 ABRANGÊNCIA DAS OPERAÇÕES INTERAGÊNCIAS ........................... 22 4 FORÇA DE PACIFICAÇÃO ARCANJO..................................................... 26 4.1 GENERALIDADES....................................................................................... 26 4.1.1 Considerações iniciais............................................................................. 26 4.1.2 Antecedenteshistóricos........................................................................... 27 4.1.3 Causas imediatas da intervenção............................................................ 28 4.2 BASE LEGAL PARA O EMPREGO............................................................. 29 4.3 ÁREA DE OPERAÇÕES.............................................................................. 30 4.3.1 Complexo da Penha................................................................................... 31 4.3.2 Complexo do Alemão................................................................................. 32 4.4 COMPOSIÇÃO DA FORÇA......................................................................... 33 4.5 TAREFAS OPERACIONAIS........................................................................ 34 4.6 CONSIDERAÇÕES CIVIS........................................................................... 35 4.6.1 Considerações Civis no atual Exame de Situação................................. 35 4.6.2 Considerações Civis na Formação da Consciência Situacional......... 36 4.6.3 Aplicação das Considerações Civis na F Pac......................................... 36 4.6.3.1 Estrutura....................................................................................................... 37 4.6.3.2 Capacidades................................................................................................. 37 4.6.3.3 Organizações................................................................................................ 39 4.6.3.4 Pessoas........................................................................................................ 39 4.6.3.5 Eventos......................................................................................................... 41 5 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES........................................................ 43 REFERÊNCIAS.................................................................................................... 46 ANEXO A..................................................................................................... 48 ANEXO B..................................................................................................... 49 ANEXO C..................................................................................................... 51 13 1 INTRODUÇÃO Segundo BRASIL (2014), o emprego da Força Terrestre (F Ter) baseia-se no conceito operativo nomeado “Operações no Amplo Espectro”. Desta forma, as Operações combinam, simultaneamente ou sucessivamente, operações em atitude ofensiva, atitude defensiva, de pacificação e de apoio a órgãos governamentais. A fim de atender às novas realidades e hipóteses de emprego da Força Terrestre Brasileira, o Exército Brasileiro (EB), por meio do seu Centro de Doutrina (C Dout Ex), introduziu na metodologia do Exame de Situação do Comandante, constante do Manual de Campanha EB20-MC-10.211, Processo de Planejamento e a Condução das Operações Terrestres, 1ª Edição/2014, as “Considerações Civis” como mais um fator da decisão. Em que pese tantas incertezas, pode-se, nos dias de hoje, delinear no campo de batalha contemporâneo algumas características que tendem a se repetir: a presença da mídia instantânea no campo de batalha, influenciando de forma prevalente nas decisões políticas (BRASIL, 2012, p. 04). Para os TC Peter Fromm, Douglas Pryer e Kevin Cutright, apud NASCIMENTO (2013), celulares com câmera registram uma operação desproporcional, levando uma Força Armada ao julgamento moral e a uma condenação estrategicamente premeditada. Nas operações desencadeadas em ambiente Interagências, as Forças Armadas podem ser empregadas em situações pré-planejadas ou imprevistas, em situações de crise que exijam um planejamento emergencial. A Força Terrestre (F Ter) participa de tais operações no contexto das situações de guerra e de ‘não guerra’, conforme descreve a Doutrina Militar de Defesa (SANTOS FILHO, 2013, p. 35). Foi neste contexto de Operações Interagências¹, num ambiente urbano com presença massiva de civis e sob olhares atentos das mídias nacional e internacional, que o EB operou na Força de Pacificação (F Pac) ARCANJO, em 2011, na cidade do Rio de Janeiro. Esta F Pac, estabelecida por Diretriz Ministerial, após solicitação do Governo do Estado do Rio de Janeiro, garantiu a lei e manteve a ordem nas comunidades dos Complexos da Penha e do Alemão que ameaçavam os sistemas de segurança pública estadual e municipal. ________________________ ¹Operações Interagências: interação das Forças Armadas com outrasagências com a finalidade de conciliar interesses e coordenar esforços para aconsecução de objetivos ou propósitos convergentes que atendam ao bem comum,evitando a duplicidade de ações, dispersão de recursos e a divergência de soluçõescom eficiência, eficácia, efetividade e menores custos. 14 Ressalta-se que o emprego do EB na F Pac ARCANJO teve o amparo legal fixado na Diretriz Ministerial nº 15, de 04 de dezembro de 2010, a qual estabeleceu os conceitos fundamentais da pacificação e orientou as condutas individuais e coletivas de seus integrantes. Neste sentido, o presente trabalho se propôs ao estudo da aplicação concreta das “Considerações Civis” nos Exames de Situação do Cmt F Pac ARCANJO II, IV e VII, em 2011, a fim de promover o aperfeiçoamento, neste aspecto, da Doutrina Militar Terrestre vigente. Face do que acima foi exposto, levantou-se o seguinte problema: de que maneira a experiência adquirida na F Pac ARCANJO pode contribuir para o aperfeiçoamento da DMT, no que diz respeito às considerações civis? O objetivo geral desta pesquisa foi corroborar a DMT, no que diz respeito às “Considerações Civis”, mediante pesquisas qualitativas das experiências adquiridas pelo Exército Brasileiro na F Pac ARCANJO II, IV e VII. Em especial, foram verificados os conceitos doutrinários atuais a respeito de Considerações Civis, de Op Pac, de Operações de Apoio aos Órgãos Governamentais e de Força de Pacificação. Para tanto, teve-se como objetivos específicos: -apresentar as características das Operações de Pacificação, das operações em ambiente interagências e das considerações civis, realizando uma revisão bibliográfica; -Identificar como os Estados-Maiores das F Pac ARCANJO aplicaram as “Considerações Civis” nos seus Exames de Situação; - realizar levantamento das vantagens obtidas pela Força nos planejamentos onde, efetivamente, houve aplicação das “Considerações Civis”; e -corroborar a DMT, a cerca das “Considerações Civis”, no processo de Exame de Situação do Cmt. A hipótese levantada para o presente estudo foi a que se segue: -valorizar as considerações civis nos Exames de Situação, numa Operação cuja população esteja inserida na Área de Operações (A Op), aumentadas chances de sucesso da Força e reduz os efeitos colaterais. Sinteticamente, foram manipuladas duas variáveis no esforço de resolver o problema dessa pesquisa. A variável independente foi à realização de Operações de Pacificação e a variável dependente foi a presença de civis na A Op. 15 O enfoque da pesquisa foi fundamentado na relação existente entre a Força de Pacificação ARCANJO, num contexto de Operações Interagências, e os civis na Área de Operações. A participação do vetor militar ficou mais complexa, por ocorrer em ambientes com a presença da população civil concentrada em núcleos urbanos, o que reduz a possibilidade de identificar o oponente, demandando novas capacidades de combate para evitar o efeito colateral. (BRASIL, 2012, fl 03). Na conjuntura atual, onde é cada vez mais requisitada a presença das FA na solução de crises em ambientes urbanos, as operações se tornaram mais complexas. Nestas operações, em apoio aos órgãos governamentais (AOG), não há inimigo, existe agentes diversos, como por exemplo, os perturbadores da ordem pública (APOP), os habitantes locais (favoráveis ou desfavoráveis à F Pac), a imprensa, dentre outros. Neste contexto, e pelo fato de o EB ter se preocupado na revisão de suas doutrinas para adaptar-se às novas demandas de emprego, o problema proposto justificou-se. Desta forma, a pesquisa procurou apresentar as vantagens significativas obtidas pelas F Pac ARCANJO nos planejamentos onde, efetivamente, houve aplicação das “Considerações Civis”. Assim, este trabalho monográfico expôs a dimensão que as “Considerações Civis” atingiram nas Operações denominadas F Pac ARCANJO. de Apoio aos Órgãos Governamentais, 16 2 METODOLOGIA A pesquisa foi do tipo qualitativa. Segundo MINAYO, 2004, (citado por NEVES E DOMINGUES, 2007) esta última se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. Seguindo a taxionomia de GIL (2002), essa pesquisa, quanto aos seus objetivos, foi descritiva - explicativa. Descritiva porque teve porfinalidade observar, registrar e analisar a aplicação das “Considerações Civis” pela F Pac ARCANJO. Explicativa porque identificou os fatores que contribuíram para a maior ou menor ocorrência da aplicação dessas considerações. Quanto aos procedimentos, ainda de acordo com GIL (2002), a pesquisa foi um misto de bibliográfica e documental. Bibliográfica porque teve sua fundamentação na investigação sobre os assuntos disponíveis em manuais, notas de coordenação doutrinárias militares e artigos de acesso livre ao público em geral. Documental porque utilizou-se de trabalhos, lições aprendidas e relatórios produzidos no EB. O universo foi constituído pelo Cmdo F Pac ARCANJO e de unidades de combate subordinadas que compuseram a F Pac ARCANJO, em 2011. Todos do Grupamento de Unidades-Escola da 9ª Brigada de Infantaria Motorizada (GUEs/ 9ª Bda Inf Mtz). Essa pesquisa iniciou-se com uma revisão bibliográfica (livros, manuais, revistas, jornais, artigos, internet, teses e dissertações) com dados pertinentes ao assunto. Para tal, foram usadas, principalmente, as bases de dados do Ministério da Defesa e das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) e de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO). Em prosseguimento, utilizou-se a pesquisa documental nos arquivos dos órgãos envolvidos na pesquisa. O objetivo principal foi o de levantar informações em documentos não publicados, como por exemplo, Lições Aprendidas (LA), Relatórios de Operações, entre outros afins ao objeto da pesquisa. A fim de elucidar o processo de coleta de dados empregado no presente trabalho, foi utilizado o seguinte quadro: 17 Objetivos Tipo de Pesquisa Apresentar as características das operações de pacificação, a das operações em ambiente interagências e das considerações civis Identificar como os Estados-Maiores da F Pac b ARCANJO valorizavam as “Considerações Civis” nos seus Exames de Situação Realizar levantamento das vantagens obtidas pela Força nos planejamentos c onde, efetivamente, houve aplicação das “Considerações Civis” Corroborar a Doutrina Militar Terrestre, a cerca d das “Considerações Civis”, no processo de Exame de Situação Quadro 1 – Coleta de dados Fonte: o Autor Dados Coleta Características e capacidades da F Pac, num ambiente interagências e com a presença de civis na A Op Descritiva, qualitativa, bibliográfica e documental Registros de Trabalhos de Estado-Maior valorizando das “Considerações Civis” Literatura Relatórios e LA de Op onde foram aplicadas as “Considerações Civis” Descritiva, explicativa, qualitativa, bibliográfica e documental Registros de emprego Para o tratamento dos dados da pesquisa foi empregada a análise de conteúdo, que, para VERGARA (2005), visa identificar o que se diz a respeito de determinado tema. Num primeiro momento, os textos da pesquisa bibliográfica foram interpretados. Dessa forma, foram identificados concepções a respeito de Op Interagências, Força de Pacificação, Trabalho de Estado-Maior e Considerações Civis. Num segundo momento, a análise foi realizada fruto da observação dos documentos pesquisados. De posse disso, foi feita a triangulação dos dados obtidos pelas pesquisas bibliográfica e documental, no intuito de atingir o objetivo geral dessa pesquisa. A fim de ilustrar as relações entre dados, coleta e tratamento da presente pesquisa foi elaborado o seguinte quadro. Dados Características e capacidades da F Pac, num ambiente interagências e com a presença de civis na A Op Coleta Tratamento Literatura Análise de Conteúdo 18 Registros de Trabalhos de EstadoMaior valorizando das “Considerações Civis” Estudos de caso onde foram aplicadas as “Considerações Civis” Possibilidades e deficiências, quanto ao aspecto “Considerações Civis”, dos Exames de Situação do Cmt Quadro 2 – Relação dado, coleta e tratamento Fonte: o Autor Análise de Conteúdo e Comparação Triangulação Essa seção apresentou a metodologia a ser utilizada, evidenciando, de forma objetiva e clara, os seus tipos, universo e amostra, formas de coleta e tratamento de dados e, por fim, as limitações dos métodos elencados. A pesquisa proposta neste tema requer o entendimento de conceitos diversos. Muitos destes conceitos são novos, fruto das recentes revisões doutrinárias, os quais contribuirão sobremaneira para esclarecer o momento e o ambiente operacional vivido pelo EB na F Pac ARCANJO. Desta forma, apresentam-se, sequencialmente, os estudos dos capítulos Atual Ambiente Interagências e Força de Pacificação ARCANJO. Contudo, o primeiro capítulo visa apenas subsidiar a análise do segundo capítulo, que é o foco principal deste trabalho. 19 3 ATUAL AMBIENTE INTERAGÊNCIAS 3.1GENERALIDADES No que se refere ao atual ambiente interagências, a DMT do EB apresentou, em 2013, o novo Manual de Campanha “Operações em Ambiente Interagências” (EB20-MC-10.201). Este manual regula as ações da F Ter quanto às particularidades deste tipo de operações. Ainda, como importante fonte de consulta, podemos nos valer de doutrina estrangeira. Neste caso, temos o manual Joint Publication 3-08, Interagency Coordination During Joint Operations (publicação do Comando Conjunto dos Estados Unidos da América-EUA), o qual regulaas operações interagências entre forças militares e as diversas agências nacionais e transnacionais. O emprego das Forças Armadas em operações interagências está respaldado no Decreto Nº 7.496, de 8 de junho de 2011, da Presidência da República, o qual criou o Plano Estratégico de Fronteiras (PEF) e instituiu a atuação integrada dos órgãos de segurança pública (OSP), da Secretaria da Receita Federal do Brasil e das Forças Armadas, além da integração com os países vizinhos. Isso evidencia a preocupação cada vez maior do governo federal na interação de forças (militares e civis), visando o combate às novas ameaças. Também, o supracitado plano criou os Gabinetes de Gestão Integrada de Fronteira (GGIF), objetivando integrar e articular as ações federal, estaduais e dos 16 municípios da faixa de fronteira. Pode-se dizer que a criação dos GGIF foi uma importante iniciativa governamental na medida em que reuniu forças civis e militares na consecução de objetivos comuns, favorecendo à interoperabilidade das operações interagências desencadeadas nos anos seguintes. Operações Interagências sãoa interação das Forças Armadas com outras agências com a finalidade de conciliar interesses e coordenar esforços para a consecução de objetivos ou propósitos convergentes que atendam ao bem comum, evitando a duplicidade de ações, dispersão de recursos e a divergência de soluções com eficiência, eficácia, efetividade e menores custos. (BRASIL, 2014a, p 167). Na nova conjuntura, onde a população recebe informações quase em tempo real pelos veículos da mídia, os atores estatais e não-estatais demandam por maior participação nos momentos de crise. 20 De acordo com as análises de Santos Filho (2013), tem sido frequentes as ações das Forças Militares, em momentos de crise nacional, juntamente com outros segmentos da sociedade. Esse “novo ambiente” seria o ambiente interagências. As operações em ambiente Interagências podem ser consideradas as realizadas nas situações de “guerra” ou “não guerra”, no País e/ou no exterior, que envolvam as interações entre as Forças Armadas (FA) e agências, mediante a coordenação e Unidade de Esforços, visando à consecução de objetivos comuns de interesse do Estado. (SANTOS FILHO, 2013, p. 34, grifo nosso). De acordo com a Joint Publication (JP) 3-08: Interorganizational Coordination During Joint Operations, Washington/ DC (2011),apud Santos Filho (2013, p. 34), Unidade de Esforços significa “a busca da colaboração em prol dos objetivos da operação, que devem ser comuns entre as agências, apesar das diferenças de técnicas, táticas e procedimentos entre os participantes.” Nas operações militares, a Unidade de Esforços é assegurada pela “Unidade de Comando”, com a designação de um único comandante com a autoridade para dirigir e coordenar os esforços de todas as forças subordinadas em busca de um objetivo comum. No ambiente interagências, por outro lado, o comandante militar deve buscar a cooperação e a construção do consenso. (BRASIL, 2013, p 5-1, grifos nossos). Entende-se que o termo “interagências” está relacionado ao ambiente operacional, na medida em que deve ser buscada a interação da Força Terrestre com uma ou mais agências (federal, governamentais, estaduais ou municipais) na consecução de objetivos comuns. Em 2014, dentre os diversos novos manuais relacionados ao preparo e ao emprego da F Ter publicados pelo EME, foi apresentado o Manual de Campanha “Operações em ambiente Interagências”. Isso irá trazer, dentre diversos benefícios, o estabelecimento de linguagem adequada entre as agências envolvidas nas operações e o EB e a implantação da mentalidade interagências na F Ter. Ademais, [...] a interação da F Ter com outras agências irá conciliar interesses e coordenar esforços para a consecução de objetivos ou propósitos convergentes que atendam ao bem comum, evitando a duplicidade de ações, dispersão de recursos e a divergência de soluções com eficiência, eficácia, efetividade e menores custos. (BRASIL, 2013, p. 1-2, grifo nosso). Ressalta-se ainda que, as operações interagências devem ocorrer no nível mais elementar de colaboração, onde: [...]os vetores envolvidos no atendimento à emergência (civis e militares) planejam suas ações com relativa independência, e somente se reúnem 21 para se assegurarem de que as atividades não causem interferências umas nas outras. As agências estão, portanto, no nível da Minimização de Conflitos. (SANTOS FILHO, 2013, p. 32, grifo nosso). Assim, pode-se inferir que, atualmente, a F Ter está sendo vocacionada, em razão das novas demandas, a conduzir operações interagências. A tendência é de que os Estados estejam preparados para empregar uma diversificada combinação de vetores militares e civis na solução de conflitos e crises. Para alcançar êxito, torna-se imprescindível que sejam aperfeiçoadas a integração interforças e a cooperação Interagências. (BRASIL, 2013, p 2-3). 3.2 COORDENAÇÕES INTERAGÊNCIAS Atualmente, as coordenações interagências têm sido cada vez mais requeridas, em todos os níveis (federal, estaduais e municipais), a fim de se obter resultados mais satisfatórios nas operações. No Brasil, o Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA), criado no ano de 2010, é a instituição de mais alto nível responsável por estas coordenações, onde se tem emprego conjunto das FA entre si ou destas com Forças Auxiliares e Agências governamentais. O EMCFA, órgão diretamente subordinado ao Ministério da Defesa (MD), tem cumprido a sua missão organizando e coordenando exercícios conjuntos, num ambiente interagências, ou seja, das três FA com a Polícia Federal (PF), a Polícia Rodoviária Federal (PRF), a Receita Federal, a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), a Fundação Nacional do Índio (Funai), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), os Gabinetes de Gestão Integrada (GGI), além de diversos Órgãos de Segurança Pública (OSP) e outras agências. Dentre as operações conjuntas, recentemente realizadas sob a coordenação direta do EMCFA, destacam-se: a AGATA7 (em toda a faixa de fronteira), a HILEIA PÁTRIA e a CURARE (ambas na Amazônia). Todas ocorreram em 2013, num ambiente interagências, visando o combate a delitos transfronteiriços. No caso do emprego do EB na F Pac ARCANJO, no final de 2010 e em 2011, o EMCFA apenas acompanhou os trabalhos daquela Força, tendo em vista a mesma não ter atuado de forma conjunta com as outras Forças, embora tivesse sido apoiada pela Marinha e pela Força Aérea em alguns momentos. Neste contexto, as coordenações da F Ter com as diversas agências na A Op ficaram a cargo do 22 Comando Militar do Leste (CML), no nível operacional, e do Cmdo da F Pac ARCANJO, no nível tático. Segundo Brasil (2013), a complexidade atual em se buscar soluções às crises requer planos bem coordenados, pois cada instituição traz consigo características próprias (linguagens, missões, habilidades, filosofia e cultura) que influirão na operação como um todo, podendo até levá-la ao fracasso. Também, Brasil (2013) afirma que a participação das Forças Armadas (FA) em Operações Interagências se dá, num primeiro momento, a nível estratégico, por meio do Ministério da Defesa (MD), onde é definido o contrato de objetivos. Neste contrato, ficam acertados os prazos, as atribuições, as responsabilidades, os meios empregados, os orçamentos etc. Paraa Joint Publication (JP) 3-08: Interorganizational Coordination During Joint Operations, Washington/ DC (2011), apud Santos Filho (2013, p. 34, grifo nosso), “A coordenação interagência requer o desenvolvimento de métodos de planejamento e mecanismos de colaboração, fortalecendo a confiança entre os participantes e produzindo a Unidade de Esforços.” 3.3 ABRANGÊNCIA DAS OPERAÇÕES INTERAGÊNCIAS As Operações Interagências são, normalmente, desencadeadas no amplo espectro dos conflitos. Segundo BRASIL (2013), estas vão desde “defesa da soberania e da integridade do patrimônio nacional até ações subsidiárias de apoio às políticas governamentais”, o que revela inúmeras possibilidades de atuação. Esse novo conceito, denominado “Amplo Espectro”, pode ser melhor definido da seguinte forma: [...]combinação, simultânea ou sucessiva, de operações em atitude ofensiva, defensiva, operações de pacificação e/ou de apoio a órgãos governamentais, como emprego de um conjunto interdependente de forças capazes de explorar a iniciativa, aceitar riscos e criar oportunidades para alcançar resultados decisivos. (BRASIL, 2014a, p. 3-4, grifo nosso). Ressalta-se, também, que é normal no ambiente operacional contemporâneo: [...] a presença de diferentes vetores nas Operações no Amplo Espectro, no desempenho de suas atividades de interesse ou tarefas específicas necessárias em prol da população local, com possível envolvimento de agências civis de órgãos nacionais, internacionais e interestatais, cuja presença testemunha e proporciona legitimidade às ações militares (BRASIL, 2013). 23 A Operação AGATA 7, desencadeada em toda a faixa de fronteira terrestre (2013); e a F Pac ARCANJO, nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro (2011); foram exemplos de operações interagências bem sucedidas. A primeira (Op AGATA 7), embora se assemelhe a Operações de GLO, é atribuição subsidiária especificada pelo Art. 16-A da LC 97/1999 (alterada pela LC nº 136, de 25 de agosto de 2010). Art. 16-A. Cabe às Forças Armadas, além de outras ações pertinentes, também como atribuições subsidiárias, preservadas as competências exclusivas das polícias judiciárias, atuar, por meio de ações preventivas e repressivas, na faixa de fronteira terrestre, no mar e nas águas interiores, independentemente da posse, da propriedade, da finalidade ou de qualquer gravame que sobre ela recaia, contra delitos transfronteiriços e ambientais, isoladamente ou em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo, executando, dentre outras, as ações de: (Incluído pela Lei Complementar nº 136, de 2010). I - patrulhamento; (Incluído pela Lei Complementar nº 136, de 2010). II - revista de pessoas, de veículos terrestres, de embarcações e de aeronaves; e (Incluído pela Lei Complementar nº 136, de 2010). III - prisões em flagrante delito. (Incluído pela Lei Complementar nº 136, de 2010). (BRASIL, 1999, grifo nosso) Quanto à F Pac ARCANJO, esta se caracterizou uma Operação em Apoio aos Órgãos Governamentais (O AOG), desencadeando ações preventivas e repressivas na tarefa de Garantir a Lei e da Ordem. De acordo com a característica do emprego autorizado na GLO, podem-se executar as ações abaixo: a) assegurar o funcionamento dos serviços essenciais sob a responsabilidade do órgão paralisado; b) controlar vias de circulação; c) desocupar ou proteger as instalações de infraestrutura crítica, garantindo o seu funcionamento; d) garantir a segurança de autoridades e de comboios; e) garantir o direito de ir e vir da população; f) impedir a ocupação de instalações de serviços essenciais; g) impedir o bloqueio de vias vitais para a circulação de pessoas e cargas; h) permitir a realização de pleitos eleitorais; i) prestar apoio logístico aos OSP ou outras agências; j) proteger locais de votação; k) realizar a busca e apreensão de armas, explosivos etc; e l) realizar policiamento ostensivo, estabelecendo patrulhamento a pé e motorizado. (BRASIL, 2014, p. 29) Essas características de “Operações no Amplo Espectro”, que variam desde a paz estável até o conflito armado, ficam melhor entendidas no contexto dos quadros abaixo: 24 Quadro 3 – Espectro dos Conflitos Fonte: EB20-MF-10.103 Quadro 4 – Operações no Amplo Espectro Fonte: EB20-MF-10.103 Ressalta-se que, nos últimos grandes eventos, como os Jogos Mundiais Militares (JMM/ 2011), a Rio+20 (2012), a Copa das Confederações (2012) e a Jornada Mundial da Juventude (JMJ/ 2013), a F Ter operou ativamente, de forma integrada com diversas agências. O sucesso destes eventos evidenciou a sua capacidade de atuação num ambiente interagências. O emprego da F Ter em missões subsidiárias, como Op Pipa, Apoio à Defesa Civil (atingidos por barragens e enchentes) e Apoio às Eleições, também evidenciam a abrangência da participação da Força Terrestre em Operações Interagências. Todas as supracitadas operações, além de serem interagências, enquadram-se no contexto de Operações de Apoio aos Órgãos Governamentais (AOG). Isso pode ser observado no quadro abaixo, o qual identifica as principais tarefas em Operações de Apoio a Órgãos Governamentais. Principais Tarefas Operações de Apoio a Órgãos Governamentais •Apoiar a assistência a desastres (naturais ou provocados pelo homem) • Apoiar na administração de consequências de acidentes químicos, biológicos, radiológicos, nucleares e explosivos (QBRNE) • Garantir os poderes constitucionais, e, por iniciativa de qualquer um desses, a lei e a ordem 25 • Proporcionar outras formas de apoio designado Finalidades • Preservar a vida • Restaurar serviços essenciais • Manter ou restaurar a lei e a ordem • Proteger estruturas estratégicas e propriedades • Restabelecer as instituições locais • Moldar o ambiente operacional para o êxito das operações no ambiente interagências Quadro 5 – Tarefas das Operações no Amplo Espectro Fonte: EB20-MF-10.103 Ainda, têm-se as Operações de Paz da Organização das Nações Unidas (ONU). Neste contexto, a Minustah é importante exemplo de atuação brasileira em operações interagências, pois, desde 2004, vem promovendo a paz no Haiti, juntamente com órgãos governamentais e não-governamentais de várias nações. Desta forma, as operações interagências parecem indicar uma otimização de emprego de forças militares e agências civis, no atualcontexto de Segurança e Defesa, onde cresce de importância a sinergia de esforços para a obtenção de vantagens concretas, face às novas ameaças (delitos transfronteiriços, insurgências, instabilidades institucionais, catástrofes climáticas, terrorismo etc). 26 4 FORÇA DE PACIFICAÇÃO ARCANJO 4.1 GENERALIDADES 4.1.1 Considerações iniciais A Força de Pacificação ARCANJO foi constituída por solicitação do Governador do Estado do Rio de Janeiro e autorização do Exmo Senhor Presidente da República, por meio de Decreto Presidencial, com a finalidade de preservar a ordem pública nas comunidades dos Complexos da Penha e do Alemão, situados na cidade do Rio de Janeiro. Esta Força ficou desdobrada nos anos de 2010 e 2011, nas supracitadas áreas, conduzindo Operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), Operações de Apoio à Informação, atividades de Inteligência e de Comunicação Social, num ambiente interagências. Para a Doutrina Militar Terrestre brasileira à época, o conceito de F Pac vigente constava do Manual de Campanha C 20-1 – Glossário de Termos e Expressões para Uso no Exército: FORÇA DE PACIFICAÇÃO – Conjunto de forças alocadas a um comando que recebe a missão de operar em uma área de pacificação ou zona de operações. A força de pacificação, normalmente, será organizada com base em uma brigada de infantaria (BRASIL, 2003, p.F-08). Atualmente, o Manual de Fundamentos do EB - “Operações”, apresenta os seguintes conceitos: As Operações de Pacificação (Op Pac) compreendem o emprego do Poder Militar na defesa dos interesses nacionais, em locais restritos e determinados, por meio de uma combinação de atitudes coercitivas limitadas para restaurar ou manter a ordem pública ou a paz social, ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções, provocadas pela natureza ou não, e de ações construtivas, para apoiar esforços de estabilização, de reconstrução, de restauração e/ou de consolidação da paz.(BRASIL, 2014 a, p. 4-18, grifo nosso). As tarefas de pacificação compreendem o emprego da expressão militar na defesa dos interesses nacionais, por meio da combinação de ações coercitivas limitadas e de ações construtivas. As coercitivas podem ser aplicadas, como exemplo, em situações de crise, para restaurar ou manter um ambiente seguro e estável e proteger civis e organizações de ajuda humanitária sob a ameaça iminente de violência física. As ações construtivas, normalmente na paz instável, são utilizadas para apoiar um governo local ou de nação anfitriã em seus esforços de estabilização, de reconstrução, de restauração e de consolidação da paz. (BRASIL, 2014 a, p. 3-8, grifo nosso). 27 Ressalta-se que, diferentemente do conceito genérico de pacificação abordado no Manual de Campanha C 20-1 (Glossário de Termos e Expressões para Uso no Exército), o novo manual de Operações distingue as tarefas de pacificação das outras operações de emprego similares. Isso fica evidente, conforme consta no parágrafo abaixo: As tarefas de pacificação abrangem várias ações, atividades e tarefas militares, em coordenação com outros vetores civis e militares. Em algumas situações, assemelham-se às tarefas de Apoio a Órgãos Governamentais. Distingue-se dessas, contudo, pelo contexto em que normalmente são empregadas – em função da existência de instrumentos abrangidos pelo Estado de Exceção, que podem ser decretados dentro do Território Nacional ou que constam dos diplomas específicos de mandados e resoluções de organismos internacionais, no exterior.(BRASIL, 2014 a, p. 3-8, grifo nosso). Desta forma, pode-se inferir que, atualmente, o termo “Força de Pacificação”, não mais se adéqua as operações militares que foram realizadas nos complexos da Penha e do Alemão em 2010 e 2011. Conforme abordado no capítulo anterior, a Força de Pacificação ARCANJO se enquadraria em Operações de Apoio a Órgãos Governamentais (AOG) no cumprimento de tarefas de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). 4.1.2 Antecedentes históricos No início do século XX, o Estado do Rio de Janeiro, particularmente a sua capital, viu surgir as primeiras “favelas”, hoje denominadas “comunidades”. Isto se deu, basicamente, em razão do deslocamento populacional da zona rural para a urbana, fruto das oportunidades de trabalho e da sensação de melhor condição de vida existente nas cidades. Conforme observado por De Lima (2012), as favelas no Rio de Janeiro surgiram à época da Guerra de Canudos. Naquela região do sertão nordestino, predominava uma vegetação de nome “favela”, que seria uma planta típica resistente à seca. Com o fim dos conflitos, os militares que retornaram à cidade carioca instalaram-se nos morros, devido à crise financeira que os absteve de seus soldos. Assim, por identificação com o ambiente do sertão, os soldados passaram a chamaresses morros de “favelas”. A preocupação do poder público com a nova forma de moradia instalada informalmente no Rio de Janeiro só aconteceu em 1927, através 28 do Plano Agache, um plano urbanístico que previa, simplesmente, o embelezamento do local e não a integração social e a qualidade de vida dos moradores. (DE LIMA, 2012, p. 11). A falta de ações governamentais concretas, relacionadas às infraestruturas de habitação, urbanismo e saneamento básico, tornaram as favelas conjuntos habitacionais insalubres. Nesses aglomerados populacionais, onde há ausência efetiva do Estado, desenvolvem-se atividades ilícitas (tráfico de drogas, formação de quadrilhas, furtos de energia elétrica e de sinais transmissores a cabo, dentre outras), das quais os órgãos de segurança pública estadual tem se mostrado incapazes e insuficientes na repressão aos delitos. 4.1.3 Causas imediatas da intervenção Por volta de 2010, o Estado do Rio de Janeiro vivenciou graves momentos de insegurança pública. Ações criminosas de toda ordem assolaram a população carioca, pondo em evidência as deficiências dos órgãos de segurança estatal. Dentre as ações praticadas àquela época pelo crime organizado, destacaramse roubos de veículos, arrastões em praias, recrudescimento do tráfico de armas e drogas, assassinatos contra postos policiais e queima de ônibus. Ressalta-se que, os atos criminosos acima referenciados foram ordenados por chefes do tráfico carioca (Marcinho VP, Elias Maluco e Fernandinho Beira-Mar), alojados em presídios fora do Estado do Rio de Janeiro, como forma de protesto às suas transferências para fora de suas áreas de influência. Também, tiveram como finalidade intimidar o Estado, em razão da implantação do projeto Polícia Pacificadora (2008), o qual estabeleceu a criação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) nas comunidades cariocas. Essas UPP representam um modelo novo de segurança, o qual abrange policiamento ostensivo e aplicação de políticas sociais nas comunidades. Segundo De Lima (2012), após a criação das UPP, o crime organizado passou a instalar suas bases no Complexo do Alemão, o qual serviu de “Quartel General” e área de homizio para os chefes do tráfico mais procurados pela polícia. Isso levou as autoridades de segurança do Rio de Janeiro a verem aquela comunidade como ponto de elevada periculosidade comprometedora da ordem pública. 29 4.2 BASE LEGAL PARA O EMPREGO A atuação das Forças Armadas (FA) nos complexos da Penha e do Alemão foi uma clássica Operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), tendo sua previsão legal no artigo nº 142 da Constituição Federal de 1988. Art. 142 - As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. (BRASIL, 1988, p. 78) Contudo, as normas para a organização, o preparo e o emprego das FA só foram definidas em 1999, com o advento da Lei Complementar nº 97. A regulamentação desta forma de emprego veio a ocorrer com a aprovação do Decreto nº 3.897/2001. Art. 15. O emprego das Forças Armadas na defesa da Pátria e na garantia dos poderes constitucionais, da lei e da ordem, e na participação em operações de paz, é de responsabilidade do Presidente da República, que determinará ao Ministro de Estado da Defesa a ativação de órgãos operacionais. (BRASIL, 1999, grifo nosso) Os parágrafos abaixo, transcritos do Art 15 da Lei Complementar nº 97/1999, elucidam melhor as condições de emprego. § 2o A atuação das Forças Armadas, na garantia da lei e da ordem, por iniciativa de quaisquer dos poderes constitucionais, ocorrerá de acordo com as diretrizes baixadas em ato do Presidente da República, após esgotados os instrumentos destinados à preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, relacionados no art. 144 da Constituição Federal. § 3o Consideram-se esgotados os instrumentos relacionados no art. 144 da Constituição Federal quando, em determinado momento, forem eles formalmente reconhecidos pelo respectivo Chefe do Poder Executivo Federal ou Estadual como indisponíveis, inexistentes ou insuficientes ao desempenho regular de sua missão constitucional. (Incluído pela Lei Complementar nº 117, de 2004) § 4o Na hipótese de emprego nas condições previstas no § 3 o deste artigo, após mensagem do Presidente da República, serão ativados os órgãos operacionais das Forças Armadas, que desenvolverão, de forma episódica, em área previamente estabelecida e por tempo limitado, as ações de caráter preventivo e repressivo necessárias para assegurar o resultado das operações na garantia da lei e da ordem. (Incluído pela Lei Complementar nº 117, de 2004) § 5o Determinado o emprego das Forças Armadas na garantia da lei e da ordem, caberá à autoridade competente, mediante ato formal, transferir o controle operacional dos órgãos de segurança pública necessários ao desenvolvimento das ações para a autoridade encarregada das operações, a qual deverá constituir um centro de coordenação de operações, composto por representantes dos órgãos públicos sob seu controle operacional ou com interesses afins. (Incluído pela Lei Complementar nº 117, de 2004) 30 § 6o Considera-se controle operacional, para fins de aplicação desta Lei Complementar, o poder conferido à autoridade encarregada das operações, para atribuir e coordenar missões ou tarefas específicas a serem desempenhadas por efetivos dos órgãos de segurança pública, obedecidas as suas competências constitucionais ou legais. (Incluído pela Lei Complementar nº 117, de 2004) (BRASIL, 1999). No caso específico das intervenções federais nos Complexos da Penha e do Alemão (2010/ 2011), com o emprego do EB, os instrumentos legais foram: -Diretriz Ministerial nº 14 (Anexo A), de 25 de novembro de 2010, do Ministério da Defesa, autorizando o apoio das FA nas ações iniciais de invasão ao Complexo da Penha pelas polícias do Estado do rio de Janeiro; e - Diretriz Ministerial nº 15 (Anexo B), de 04 de dezembro de 2010, do Ministério da Defesa, autorizando o prosseguimento do emprego das FA nas ações subsequentes, tanto no Complexo da Penha quanto no Complexo do Alemão, que resultaram na formação da F Pac. Também, a fim de consubstanciar os referidos empregos, foi estabelecido o Acordo para Emprego da F Pac (Anexo C), firmado entre o Governo Federal e o Governo do Estado do Rio de Janeiro, bem como expedidas,pelo Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA), as instruções para o emprego, as quais abordaram a legalidade da operação, as responsabilidades e as regras de engajamento (gerais e específicas). 4.3 ÁREA DE OPERAÇÕES De acordo com De Lima (2012), a Área de Operações dos Complexos da Penha e do Alemão é composta por 13 favelas, inseridas nos bairros de Ramos, Olaria, Inhaúma, Bonsucesso e Penha, as quais ocupam uma área aproximada de 14 Km². Da pesquisa realizada por De Lima (2012), observa-se que estes dois complexos têm os mais baixos Índices de Desenvolvimento Social (IDS), dentre os principais bairros da cidade do Rio de Janeiro, conforme consta no quadro abaixo. LAGOA PENHA ALEMÃO IDS: 0,854 IDS: 0,584 IDS: 0,474 Posição: 01 de 158 Posição: 85 de 158 Posição: 149 de 158 Quadro 6 – Índice de Desenvolvimento Social Fonte: Instituto Pereira Passos 31 Estes IDS levam em conta redes de água e esgoto, coleta de lixo, número de banheiros por morador, tempo de estudo, analfabetismo e renda, o que retratam as péssimas condições de vida das suas populações. 4.3.1 Complexo da Penha A área de pacificação na Penha era composta pelas comunidades dos Morros Frei Gaspar, da Caixa D’Água, do Caracol, do Cariri, do Sereno, da Chatuba, Laudelino Freire, da Fé, da Vila Proletária e da Vila Cruzeiro. Destaca-se aí a Igreja da Penha, edificação turística construída na porção mais alta do referido Complexo. Nesta área, os narcotraficantes se instalaram em posições dominantes com ampla visada, favorecendo ao alerta da aproximação de forças policiais nas favelas. A “casa Amarela” e a “casa Verde” eram exemplos desses Pontos Fortes. Em razão do simbolismo que as rodeavam, elas foram as primeiras a serem conquistadas pela F Pac, que, inclusive, passou a utilizá-las como Pontos Fortes. Destacam-se, também, neste Complexo, a subestação de energia elétrica, a Serra da Misericórdia e a estrada da Pedreira. Estas duas últimas tornaram-se conhecidas, em âmbito nacional, por ocasião da fuga de traficantes que foi transmitida ao vivo pelas emissoras de TV, na 1ª fase do cerco na Penha, em dezembro de 2010. Ressalta-se que essa região de favelas é de fácil acesso a importantes rodovias, como, por exemplo, a Avenida Brasil e as Linhas Amarela e Vermelha, o que facilitava tanto a fuga de traficantes quanto as ações criminosas de roubo de veículos e arrastões. Fig 1 – Imagem do Complexo da Penha. Fonte: Google 32 Nesta subárea da F Pac, a Zona de Ação ficou a cargo de FT valor unidade, tendo sua Base de Operações instalada no Parque Ary Barroso. 4.3.2 Complexo do Alemão De acordo com De Lima (2012), o nome “alemão”, atribuído a esse complexo de favelas, refere-se à aquisição de terras na Serra da Misericórdia pelo polonês Leonard Kaczmarkiewicz, em 1920. A partir da década de 1950, este colono, conhecido como “alemão”, dividiu e vendeu suas propriedades em lotes, os quais eram referenciados como “morros do alemão”. As favelas que se comportam neste complexo e que pertenciam à A Op foram: o Morro do Alemão, Nova Brasília, Grota, o Morro da Chatuba, o Morro dos Mineiros, o Morro do Caracol, o Morro da Caixa d’água, a Alvorada, a Matinha, Palmeiras, a Fazendinha e a Pedra do Sapo. A Área de Operações do Complexo do Alemão, de aproximadamente 6 km², tinha como limites: a Vila Cruzeiro, ao norte; a Estação Ferroviária de Ramos, a leste; a Estrada Velha da Pavuna, ao Sul; e a Pedreira, a oeste. Da pesquisa realizada por De Lima (2012), a população deste Complexo seria em torno de 80 mil habitantes, vivendo em 20 mil domicílios, o que o caracteriza como região densamente povoada. Fig 2 – Imagem aéreado Complexo do Alemão. Fonte: Google 33 Na subárea Complexo do Alemão, a Zona de Ação ficou a cargo de FT valor unidade, tendo a Base de Operações fixada na antiga fábrica da Coca-Cola, no centro do Complexo. A fim de aproveitar as boas condições logísticas desta Base e por ser este Complexo mais sensível que o da Penha, o Quartel General da F Pac ARCANJO também se instalou por lá. Essa proximidade do Cmdo Bda com suas unidades subordinadas teve como principais benefícios: os exercícios da liderança e da ação de comando do Esc Sup para com o Esc subordinado e a intervenção oportuna e eficaz nos momentos de crise. Esses aspectos muito contribuíram para o sucesso das ações militares em ambos os Complexos. 4.4 COMPOSIÇÃO DA FORÇA A F Pac ARCANJO, tropa de valor Brigada, contou com os seguintes meios orgânicos: - 2 (duas) Forças –Tarefas (FT) valor batalhão, em 1º escalão; - 1 (um) Esquadrão de Cavalaria Mecanizado (Esqd C Mec), em reserva; e - Tropas da Bda: Cia Com, Cmdo, Cia Cmdo e Pel PE. Também, os Cmdo Bda das F Pac contaram com o apoio de diversas organizações do EB, como, por exemplo, o CAvEx, o BOAI, o CIE, o CCOMSEx, o COpEsp, a B A Log Ex e o 1º BPE. Além de Elm Esc Sup de que são orgânicos. Sendo a ARCANJO uma operação típica de GLO, num ambiente interagências, outras instituições civis e militares compuseram as F Pac. Dentre estas, destacamse: a PMERJ, 1 (uma) Delegacia de Polícia Civil e 1(uma) DPJM, contribuindo sobremaneira para as ações que lá se desenvolveram. Elementos (Elm) das instituições supramencionadas ficaram sob o comando direto da F Pac no interior da A Op, o que favoreceu, principalmente, a atenção quanto ao cumprimento dos dispositivos legais, como lavratura de APF e expedições de mandados de busca e apreensão, em apoio às ações militares. De Lima (2012) aborda em sua obra as grande unidades que fizeram parte da F Pac ARCANJO, de 2010 a 2012: Cmdo F Pac Período Bda Inf Pqdt 26/ 11/ 10 a 20/ 02/ 11 (12 semanas) 9ª Bda Inf Mtz 21/ 02/ 11 a 15/ 05/ 11 (12 semanas) 34 11ª Bda Inf L (GLO) 16/ 05/ 11 a 14/ 08/ 11 (13 semanas) 9ª Bda Inf Mtz 15/ 08/ 11 a 06/ 11/ 11 (12 semanas) 4ª Bda Inf L (Mth) 07/ 11/ 11 a 26/ 01/ 12 (12 semanas) 11ª Bda Inf L (GLO) 27/ 01/ 12 a 08/ 04/ 12 (10 semanas) 9ª Bda Inf Mtz 09/ 04/ 12 a 30/ 06/ 12 (12 semanas) Quadro 7 – Contingentes da F Pac ARCANJO Fonte: Brasil, 2012, p. 49. Os rodízios realizados pelas Forças constituídas foram fundamentais para proporcionar o descanso necessário às tropas, permitindo o cumprimento das missões com reduzidos efeitos colaterais. Além disso, permitiu que brigadas de diferentes naturezas e de diferentes Comandos Militares de Área fossem empregadas numa operação real, enriquecendo suas capacidades operacionais. 4.5 TAREFAS OPERACIONAIS As tarefas operacionais cumpridas durante a Operação ARCANJO eram as mais diversas. Destacaram-se as operações típicas de GLO, como, por exemplo, Posto de Bloqueio e Controle de Via Urbana (PBCVU), escolta e segurança de autoridades no cumprimento a Mandados de Prisão, Prisão em Flagrante Delito, Patrulhamento Ostensivo (a pé, motorizado e aéreo), Cerco e Vasculhamento, Revista de Pessoal e Material etc. A fim de manter atualizada a consciência situacional da área de operações e angariar o apoio da população, foram realizadas atividades de Inteligência, Operações de Apoio à Informação, Ação Cívico-Social (ACISO), principalmente por meio de atendimentos médicos, e reuniões com lideranças das comunidades. As tropas da F Pac também apoiaram as ações policiais no combate a instalações de TV e internet clandestinas, máquinas caça-níquel e distribuição irregular de gás. Além das missões supracitadas, também se desenvolveram medidas ativas e passivas de Guerra Eletrônica, a fim de proteger nossos sistemas de comunicações e buscar informações do tráfico local. Desta forma, em razão da grande diversificação da natureza dastarefas cumpridas pelas F Pac, pode-se inferir que, quanto ao aspecto doutrinário, o EB construiu conhecimentos novos e consolidou a doutrina de GLO vigente. 35 4.6 CONSIDERAÇÕES CIVIS 4.6.1 Considerações Civis no atual Exame de Situação Atualmente, o Exército Brasileiro adota, como método de planejamento detalhado, o Exame de Situação do Comandante, que é um aprimoramento do antigo método de “Estudo de Situação”. O Exame de Situação do Comandante é o processo sistemático de planejamento detalhado de emprego dos elementos da Força Terrestre, que visa a dar uma sequência lógica e ordenada aos diversos fatores que envolvem o processo decisório nas operações no Amplo Espectro (BRASIL, 2014, p. 5-1). De acordo com BRASIL (2012, fl. 05), para atender ao novo ambiente operacional, cujas operações são desencadeadas no “amplo espectro”, “a metodologia do Estudo de Situação do Comandante requereu aperfeiçoamentos e atualizações de acordo com os novos meios e sistema de armas disponíveis –, as considerações civis tornaram-se mandatórias como fator de decisão”. Com isso, as “considerações civis” deixam de ser apenas um dos aspectos a serem considerados no ambiente operacional e “passam à condição de fator preponderante que orientará o processo decisório, juntamente com os fatores Missão, Terreno e Condições Meteorológicas, Inimigo, Meios e Tempo” (BRASIL, 2012, fl. 06). Para o novo processo de planejamento: [...] as considerações civis analisam a influência da cultura e das atividades da população local sobre o (a) TO/ A Op e a condução das operações sobre essas populações. Inclui efeitos da infraestrutura, das instituições e organizações civis e da liderança política/ civil local. As considerações civis compreendem seis vetores: áreas, estruturas, capacidades, organizações, pessoas e eventos. (BRASIL, 2014b, p. 2-9). O Manual de Campanha EB20-MC-10.211, Processo de Planejamento e a Condução das Operações Terrestres, publicado em 2014, apresenta um novo memento do Exame de Situação do Comandante, o qual baliza a sequência das ações de planejamento dos comandantes de diversos níveis. Este memento já aborda, no item 2. SITUAÇÃO E SUA COMPREENSÃO - CONSIDERAÇÕES QUE AFETAM AS POSSÍVEIS LINHAS DE AÇÃO, os seis supracitados vetores das considerações civis que devem ser identificados para subsidiar o processo decisório. 36 4.6.2 Considerações Civis na Formação da Consciência Situacional Os aspectos culturais de uma sociedade, intrinsecamente ligados aos regionalismos, são refletidos nos comportamentos dos indivíduos que a compõem. Em operações urbanas torna-se necessário identificar a cultura local (valores, ética etc) e a forma de operar das outras Forças (civis e militares) naquela área. Daí pode-se levantar a provável percepção da população sobre a atuação das Forças Singulares, o que servirá de apoio aos comandantes das tropas da F Ter envolvidas para adaptação do modus operandi na A Op e, consequentemente, ter os impactos de suas operações minimizados. Neste contexto, o papel do comandante cresce de importância, pois este formará, junto com seu Estado-Maior, uma consciência situacional mais real possível, baseado nos seis vetores das considerações civis, o que favorecerá planejamentos mais coerentes que permitam o cumprimento da missão com reduzidos efeitos colaterais. A consciência situacional considera a cultura (a própria e a dos outros atores existentes no TO/ A Op) e seus possíveis reflexos sobre as operações. As crenças, valores, normas de conduta social, costumes e tradições de uma sociedade formam um conjunto que exerce influência sobre a forma como os integrantes de uma sociedade entendem e definem parâmetros sobre o que é permitido ou não e como avaliam o que é ou não é relevante. (BRASIL, 2014b, p. 2-10). Ainda de acordo com Brasil (2014b, p. 1-3), a consciência situacional “é a perfeita sintonia entre a situação percebida pelos comandantes e a situação real, de modo a permitir melhores condições ao processo decisório”. Essa nova competência requerida dos comandantes cresce de importância em operações urbanas, pois nossas tropas tendem a interpretar os acontecimentos de acordo com os princípios e valores intrínsecos a nossa cultura. 4.6.3 Aplicação das Considerações Civis na F Pac ARCANJO II, IV e VII As F Pac II, IV e VII, foco deste trabalho, estiveram sob o Cmdo de uma mesma GU, a GUEs/ 9ª Bda Inf Mtz. Esse aspecto facilitará o estudo da aplicação das considerações civis nos exames de situação do comandante operacional. Pelo fato da Operação ARCANJO ser tipicamente uma Operação de GLO, com repressão à prática de ilícitos, policiamento ostensivo, dentre outras ações, a fim de se estabelecer um ambiente seguro e estável, o contato com a população era diário. 37 Contudo, lidar com uma população acostumada com a ausência do Estado, onde ospequenos delitos, a ilegalidade e os crimes (homizio de veículos roubados, “gato” de energia elétrica e internet, tráfico de drogas etc) tornam-se costumeiros, requer grande habilidade da F Pac, a fim de se evitar desgastes que possam comprometer a missão. Isso porque a tropa na A Op, objetivando a recuperação da sensação de segurança, restringe a liberdade de ação da comunidade pelarepressão dos atos ilegais. Neste subcapítulo, o estudo irá basear-se nos vetores que compreendem as considerações civis: estruturas, capacidades, organizações, pessoas e eventos, com exceção do vetor “área”, em razão de já ter sido abordado anteriormente. 4.6.3.1 Estruturas Quanto a este vetor, atenção deve ser dada as principais estruturas existentes na área de operações como, por exemplo, os PC das Forças de Segurança (BPM e UPP), estradas e vielas, pontes, mídias locais, subestações de energia, estações de tratamento e reservatórios de água, hospitais, escolas, templos religiosos etc. Na Operação Arcanjo, o conhecimento das estruturas da A Op foi essencial para a atuação da tropa, pois isso faz parte do estudo do terreno urbano, trazendo implicações diretas nas operações. O desconhecimento ou o estudo mal feito do terreno poderia levar ao insucesso da missão. Por essa razão, foi feito o máximo de levantamento a respeito das estruturas existentes nas comunidades dos Complexos do Alemão e da Penha. Dessa forma, foram identificadas “bocas de fumo”² e vielas, ruas e avenidas, residências das lideranças do tráfico, postos de observação do tráfico etc. Esses dados foram obtidos de diversas formas como, por exemplo, reconhecimentos feitos por patrulhas (a pé e motorizadas) e ações de inteligência, combinadas com imagens do Google Earthe de fotografias aéreas, as quais foramamplamente usadas pela tropa em todos os níveis.Ainda, havia o DisqueDenúncia, o qual demonstrou ser uma fonte de dados valiosa, contribuindo para alimentar tanto a Inteligência como a Comunicação Social. ________________________ ²Boca de fumo: local onde é feita a venda de substâncias ilícitas tais como maconha, cocaína e crack. 38 4.6.3.2 Capacidades O vetor “capacidades” das considerações civis busca a identificação das reais condições (capacidades) do Estado na A Op, como a atuação das polícias, do corpo de bombeiros, dos postos públicosde saúde, dos sistemas de abastecimento de água e recolhimento de lixos etc. Esse conhecimento ajuda a formar a consciência situacional do Cmt e pode indicar as áreas mais carentes da presença do Estado. Nos complexos do Alemão e da Penha, foram realizados pela F Pac levantamentos dessas capacidades. Isso permitiu a identificação das áreas onde o Estado se fez mais ausente e, consequentemente, teve maior influência dos líderes do tráfico, representantes maiores do crime organizado. Este novo “ator” passou a exercer influência, junto à população local, promovendo ajuda por meio da distribuição de medicamentos, de itens de subsistência, muitas vezes roubados, além de garantir segurança (a polícia não entrava) etc. Dessa forma, as F Pac puderam alinhar seus planejamentos às necessidades. Para o restabelecimento da ordem, era fundamental que as tropas atuassem mais nesses locais. Com isso, foram intensificados os PBCVU, os patrulhamentos nas praças, antes palco de “feiras de drogas” e ostentação de armamentos, com o emprego da massa para se ter o efeito dissuasório, além da realização de diversas operações de vasculhamento em comunidades críticas. Tudo isso, a fim de reduzir a atuação dos narcotraficantes. A presença e dissuasão das F Pac, após a retirada do controle dessas áreas mais carentes da presença do Estado das mãos dos narcotraficantes, permitiu, ao governo do Estado do Rio de Janeiro, desencadear ações visando a recuperação de suas capacidades. Exemplos disso foram a criação de um centro judiciário de solução de conflitos e cidadania – a Casa da Justiça, a instalação das Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e UPP, a instalação do Teleférico no Alemão e os projetos sociais (Escolinha de Futebol Zico 10, Escola de Vôlei Bernardinho e a academia ao ar livre). 4.6.3.3 Organizações Esse vetorvisa ao levantamento da presença de sindicatos, ONG, instituições religiosas, organizações comunitárias, organizações criminosas etc, na A Op. 39 Nos Complexos da Penha e do alemão, essas organizações têm participação ativa nas comunidades, influenciando diretamente nas operações militares. Por isso, ter o apoio de associações e lideranças locais significa contar com grande parte da população local, o que é extremamente desejável numa área urbana. A F Pac ARCANJO também se utilizou das organizações comunitárias para tomar conhecimento dos anseios da população, medir os impactos causados pelas operações militares e obter informações. Condé (2013) ressalta a importância do contato da F Pac com as organizações locais em seu trabalho, quando cita a ACISO (prestação de atendimento médico) realizada na Associação de Moradores do Morro das 4 Bicas, onde foram atendidos aproximadamente 30 moradores. Na ocasião, o General Cmt F Pac estabeleceu contato com o presidente da Associação. Isso permitiu àquele Cmt ampliar a sua consciência situacional, além de colher diversas informações, inclusive, a respeito da atuação do tráfico local. 4.6.3.4 População Neste vetor, procura-se identificar as estruturas sociais, a cultura, as normas e costumes, as principais atividades econômicas, os impactos das operações na economia local, os descontentamentos, as redes sociais etc. Na F Pac, o levantamento dos supracitados aspectos se deram antes e durante as operações, por meio de reuniões de coordenação com as diversas agências envolvidas na pacificação (Polícias Civil e Militar, Agências de Inteligência, Secretaria de Segurança Pública do Estado do RJ etc). Estas informações eram aperfeiçoadas continuadamente pela F Pac, seja pelas reuniões com os líderes das comunidades seja pelas próprias informações obtidas pela inteligência e pelas patrulhas na A Op. Desta forma, o Estado Final Desejado, no nível tático, foi sempre garantir a lei e a ordem na A Op com o mínimo de efeitos colaterais (impactos na economia local, redução da liberdade de circulação das pessoas etc), os quais poderiam trazer descontentamentos aos populares. A necessidade de se conquistar e manter a opinião pública na A Op, para garantir a legitimidade das ações da F Pac, provocou a criação da Seção de Operações de Informação (Op Info) na Operação ARCANJO VI. Com isso, a F Pac 40 integrou as principais capacidades das Op Info (a Comunicação Social, as Operações de Apoio à Informação, a Guerra Eletrônica, a Guerra Cibernética, e a Inteligência), concentrando esforços para se ter resultados mais satisfatórios. Embora houvesse sempre a preocupação em reduzir os impactos das operações militares na A Op, algumas dessas provocaram reações negativas por parte da população, como na seqüência de fatos narrados a seguir num Relatório Diário de Operações (RDOp): No dia D, a Força de Pacificação realizou, no Complexo do Alemão, a operação GÁS LEGAL. Essa operação contou com o apoio de equipes da Agência Nacional do Petróleo e teve como objetivo o combate ao comércio irregular de gás de cozinha. Na mesma semana, a mídia veiculou a dilatação do prazo de permanência do Exército Brasileiro na missão de pacificação dos Complexos do Alemão e da Penha. Possivelmente, como consequência desses dois fatos, no dia D+3, na região do Largo do Zumbi (Complexo do Alemão), uma fração da FT X foi hostilizada com garrafadas e cadeiradas ao tentar efetuar a detenção de um suspeito. Em resposta ao procedimento dos baderneiros, a tropa utilizou spray de pimenta e tiros de calibre 12 mm. Em D+4, houve manifestação de cerca de 50 (cinquenta) motociclistas que percorreram toda a área do COMPLEXO DO ALEMÃO (Rua NOVA, Estrada de ITARARÉ, Rua JOAQUIM DE QUEIROZ, Avenida ITAOCA e Rua CANITAR). Em D+5, populares se deslocaram pela Rua NOVA e pela ESTRADA DE ITARARÉ. A manifestação apresentou atos de hostilidade contra a tropa - xingamentos e gritos com palavras de ordem depreciativas. (RDOP apud CONDÉ, 2013). Em contrapartida, enquanto a tropa esteve presente nos Complexos da Penha e do Alemão, por diversas vezes a população deu sinais de apoio à atuação da tropa, como consta no trecho de um R DOp transcrito abaixo: Uma senhora de aproximadamente 45 anos passou pela tropa e entregou um recado com os seguintes dizeres: “Oi, bom dia, eu estou gostando muito de ver vocês aqui. É isto que está precisando neste local. Este Sereno³ muito esquecido, não é só o alemão que está em perigo. Eu sou de Minas, mas estou horrorizada. Se eu pudesse falar com vocês eu gostaria, mas tem muitos olhos olhando e o perigo está por aqui à noite. Têm muito para morrer, os que falam com vocês. Na noite de quinta, sexta e sábado, neste baile, está acontecendo muitas coisas. Sem comentários. Eu não posso parar para conversar com vocês”. O bilhete foi entregue ao Escalão Superior (RDOP apud CONDÉ, 2013, grifo nosso). 4.6.3.5 Eventos Quanto a este vetor, busca-se elencar as datas comemorativas, os feriados nacional, estadual e municipal, os períodos eleitorais e os distúrbios civis, a fim de subsidiar os planejamentos. Na F Pac ARCANJO, o planejamento de emprego e o acompanhamento,por parte da tropa, das principais festas em datas comemorativas foi fundamental para ________________________ ³Sereno: citação referente ao Morro do Sereno, situado no Complexo da Penha. 41 se levantar as necessidades de aumento de efetivos (reforço do 1ºBPE, de PM femininas, do Batalhão de Trânsito da PM etc) em operações pontuais na região desses eventos (intensificação de patrulhamento, PBCVU etc). Isso inibia a deflagração de tumultos e o acirramento de ânimos nas festas populares, além de reduzir o comércio ilegal de drogas. O relato (extrato de R DOp) a seguir exemplifica o emprego de tropas da F Pac em apoio ao evento das eleições, realizado em 2011: Por volta das 16h 20 mim houve um princípio de tumulto, durante o período de votação das chapas dos moradores da comunidade. O tumulto ocorreu na Rua Joaquim de Queiroz, em frente ao Banco Santander. Tudo começou devido ao conflito entre as chapas adversárias, quando a tropa foi solicitada pela população no momento em que os eleitores começaram a brigar. O GC que lá se encontrava de permanência no “Ginásio Canitar” dispersou a Turba com spray de pimenta, formou um cordão de isolamento e após informar ao escalão superior, recebeu reforço. Cmt da Patrulha (RDOP apud CONDÉ, 2013). Segundo Condé (2013, p. 100), “Eventos como eleições, reuniões comunitárias, manifestações etc, demandam o emprego de efetivos maiores, pois a possibilidade de um pequeno atrito desencadear uma briga generalizada e uma turba descontrolada é considerável”. O estudo dos vetores das considerações civis, pela F Pac ARCANJO, subsidiando as Op militares, foi fundamental para o sucesso da missão atribuída ao EB. Desse estudo, a F Pac obteve os seguintes resultados positivos: - apoio, na maioria das vezes, dos líderes comunitários e promotores de eventos para intercederem, junto aos populares, evitando tumultos nas festas; - manutenção, de maneira geral, de um bom relacionamento com a população da área, pelo aprimoramento das técnicas de abordagem da tropa, mesmo tratando-se de elementos suspeitos; - A redução do índice de ocorrência de ilícitos, em razão do emprego da massa para inibir ações hostis dos APOP; - Desencadeamento de ações rápidas com o máximo de surpresa, visando à eficácia das ações, desestabilizando os APOP e criminosos; e - A obtenção de resultados mais eficientes e expressivos nas operações, fruto do estreito contato das autoridades da administração pública estadual e municipal com os integrantes do Comando da F Pac. 42 5 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES A Força de Pacificação ARCANJO se configurou numa oportunidade para que o EB se adestrasse em Operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), de forma integrada com os Órgãos de Segurança Pública. Sinteticamente, pode-se dizer que, ao se nivelar o conhecimento de toda a tropa empregada na operação ARCANJO, a Força Terrestre obteve ganhos relevantes com a melhoria da instrução militar de Garantia da Lei e da Ordem, com destaque para a atenção às considerações civis, que diretamente refletiu no bom desempenho dos militares envolvidos na Pacificação dos Complexos do Alemão e da Penha. A Operação ARCANJO foi uma operação de Garantia da Lei e da Ordem e não uma operação de Pacificação, como foi chamada. Isso considerando o novo manual EB20-MF-10.103 (Operações), o qual define que operações de Pacificação: [...] assemelham-se às tarefas de Apoio a Órgãos Governamentais, contudo, distinguem-se destas quanto ao contexto em que são conduzidas – em território nacional no estabelecimento de Estado de Exceçãoou no exterior, sob a capitulação específica de mandatos de organismos internacionais (BRASIL, 2014-a, p. 4-19). Desta forma, como o Estado do Rio de Janeiro vivia uma situação de normalidade, apresentando apenas insuficiência de meios para a manutenção da ordem pública, o contexto foi de Garantia da Lei e da Ordem em apoio ao governo do Rio de Janeiro (uma das operações básicas tipificadas no novo manual de fundamentos EB20-MF-10.103_Operações). As ações de pacificação nos Complexos do Alemão e da Penha foram evidenciadas em fases bem distintas. A primeira, a de intervenção, foia investida do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) e da Polícia Civil, juntamente com a Marinha do Brasil, em 25 de novembro de 2010. Essa foi a fase da ascendência do poder militar sobre a diplomacia, com confronto armado de alta intensidade. O grande objetivo desta fase foia entrada com sucesso do poder militar na A Op. A segunda fase foi decisiva, pois a Força estabeleceu as condições para o sucesso estratégico, ou seja, o retorno da paz. Ela foi conduzida, a partir de 26 de novembro de 2010, pela Brigada de Infantaria Paraquedista, realizando um cerco no perímetro no Complexo do Alemão, favorecendo às ações de investimento pelo 43 BOPE. Esta fase durou aproximadamente 3 (três) meses, época em que a 9ª Brigada de Infantaria Motorizada (GUEs/ 9ª Bda Inf Mtz) assumiu a A Op. A terceira fase foi a de normalização progressiva. Esta fase se caracterizou pela assunção da A Op pela 9ª Bda Inf Mtz (F Pac ARCANJO II), em 21 de fevereiro de 2011, e encerramento das operações em 30 de junho de 2012, por essa mesma brigada (F Pac ARCANJO VII), tendo participado do rodízio diversas outras Grande Unidades do EB, possibilitando aprimorarem seus adestramentos em Op GLO. As diversas tarefas operativas realizadas na A Op como, por exemplo, Posto de Bloqueio e Controle de Via Urbana (PBCVU), cumprimento a Mandados de Prisão, Prisão em Flagrante Delito, Patrulhamento Ostensivo (a pé, motorizado e aéreo), Cerco e Vasculhamento, Revista de Pessoal e Material etc, proporcionaram a manutenção da estabilidade daquele ambiente urbano enquanto a F Pac ARCANJO lá esteve presente. Isso favoreceu a instalação da UPP nos complexos do Alemão e da Penha após a F Pac ARCANJO. Há uma tendência, cada vez maior, dos conflitos se darem em ambientes urbanos, como foi a referida F Pac. Neste contexto, a presença da população na A Op trouxe significativos reflexos para as operações, o que fez crescer de importância as “considerações civis” no planejamento detalhado do exame de situação. Quanto ao supracitado, percebe-se a evolução doutrinária deste aspecto, materializada no atual exame de situação do comandante. Inicialmente, essa evolução se deu, em 2012, com a nota de coordenação doutrinária Nr 02/2012 – C DoutEx, estabelecendo as “considerações civis” como fator de decisão. Posteriormente, em 2014, o Manual de Campanha EB20-MC-10.211 (Processo de Planejamento e a Condução das Operações Terrestres) esmiuçou as considerações civis em seis vetores distintos, sendo estes: áreas, estruturas, capacidades, organizações, pessoas e eventos. Isso permitiu aos Estados-Maiores adequarem seus exames de situação à nova realidade. Por fim, a experiência adquirida pelo EB na F Pac ARCANJO serviu para a aplicação efetiva das considerações civis, o que possibilitou ao Exército promover evoluções doutrinárias significativas, as quais se encontram presentes nos novos manuais da F Ter, com destaque para os manuais: Operações, Operações em Ambiente Interagências e Processo de Planejamento e a Condução das Operações Terrestres. Os estudos a respeito deste assunto devem ser continuados nas 44 principais escolas militares do EB (AMAN, ESAO e ECEME), visando à constante revisão doutrinária das Op GLO com enfoque nas considerações civis. 45 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 18. ed. Rio de Janeiro: Saraiva, 1998. ______.Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1997. Dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas. Brasília, 9 de junho de 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 04Maio14. ______. Lei Complementar nº 136,de 25 Ago 10.Altera a Lei Complementar nº97, de 9 de junho de 1999, que “dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas”, para criar o Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas e disciplinar as atribuições do Ministro de Estado da Defesa. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 26 ago. 2010. _______. Ministério da Defesa. Manual de Garantia da Lei e da Ordem – MD33 – M-10, 1ª Edição, aprovado pela Portaria Normativa Nº 186/MD, de 31 de janeiro de 2014. ______. ______. ExércitoBrasileiro. Departamento de Pesquisa e Pós-graduação. ME 21-59: Elaboração de Projetos de Pesquisa na ECEME. Rio de Janeiro: ECEME, 2012b. ______. ______. ______. Estado-Maior. Manual de Campanha C 101-5- EstadoMaior e Ordens,2º Volume. Brasília-DF, 2ª Edição, 2003, aprovado pela Portaria Nº 076-EME, de 08 de setembro de 2003. ______. ______. ______. ______.Manual de CampanhaC 20-1 -Glossário de Termos e Expressões para uso no Exército.Brasília-DF,3ª Edição, 2003, aprovado pela Portaria Nº 121-EME, de 19 de dezembro de 2003. ______.______. ______. ______. Centro de Doutrina do Exército. Nota de Coordenação Doutrinária Nr 02/2012 – C DoutEx, de 20 de dezembro de 2012. ______.______. ______.______. Manual de Campanha EB20-MF-10.103 Operações. Brasília-DF, 4ª Edição, 2014, aprovado pela Portaria Nº 004-EME, de 9 de janeiro de 2014a. ______.______. ______.______. Manual de CampanhaEB20-MC-10.201 Operações em Ambiente Interagências. Brasília-DF, 1ª Edição, 2013, aprovado pela Portaria Nº 02-EME, de 31 de janeiro de 2013. ______.______. ______.______. Manual de Campanha EB20-MC-10.211, Processo de Planejamento e a Condução das Operações Terrestres. BrasíliaDF, 1ª Edição, 2014, aprovado pela Portaria Nº 010-EME, de 29 de janeiro de 2014b. 46 CONDÉ, Leonardo Pires. Emprego de uma Força-Tarefa Batalhão de Infantaria na Operação Arcanjo. 2013. 215 f. Dissertação (Mestrado) – Escola de aperfeiçoamento de Oficiais. 2013. DE LIMA, Carlos Alberto. Os 583 Dias da Pacificação dos Complexos da Penha e do Alemão. 1. Ed – Rio de Janeiro: Agência 2ª Comunicação, 2012. GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. Ed - São Paulo:Atlas, 2002. LAKATOS, E. MARCONI, M.A. Fundamentos da metodologia científica. 5. Ed São Paulo: Atlas, 2003. MINAYO, M.C. de S.(org). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 23. Ed. Petrópolis: Vozes, 2004 apud NEVES, E.B. DOMINGUES, C.A. Manual de Metodologia da Pesquisa. EB/CEP, 2007. NASCIMENTO, Hertz Pires do. A Abrangente Concepção de Emprego da Força Terrestre. Revista Doutrina Militar Terrestre, Publicação do Exército Brasileiro, Ano 001, Ed. 002. Disponível no site http://www.cdoutex.eb.mil.br. Acesso em: 15 Set 2013. NEVES, E.B. DOMINGUES, C.A. Manual de Metodologia da Pesquisa. EB/CEP, 2007. SANTOS FILHO, Jonas de Oliveira. As Operações Militares no Ambiente Interagências. Revista Doutrina Militar Terrestre, Publicação do Exército Brasileiro, Ano 001, Ed. 002. Disponível no site http://www.cdoutex.eb.mil.br. Acesso em: 15 SET 2013. VERGARA, Sylvia C. Métodos de Pesquisa em Administração. São Paulo: Editora Atlas, 2005. 47 ANEXO A DIRETRIZ MINISTERIAL Nº 14/ 2010 “O SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA determinou o emprego das FORÇAS ARMADAS, para a garantia da lei e da ordem, na cidade do Rio Janeiro. Tal decisão decorreu de solicitação feita pelo SENHOR GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO JANEIRO, nesta data. O SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA autorizou a atuação das forças “nas condições e extensão solicitadas”. Assim, com fundamento no art. 7, I, do Decreto n. 3.897/2001, e nos limites solicitados pelo SENHOR GOVERNADOR, DETERMINO 1. Ao COMANDANTE DO EXÉRCITO que acione efetivo de “800 militares”, do COMANDO MILITAR DO LESTE (CML), para “serem utilizados na proteção de Perímetro de áreas conflagradas a serem tomadas pelas forças estaduais e pela Polícia Federal”, além do efetivo necessário para o apoio da tropa e sua defesa. Esse efetivo estará sob o comando do oficial designado pela autoridade militar competente e deverá operar em coordenação e articulação com as forças policiais estaduais e federais e com as demais forças militares. 2. Ao COMANDANTE DA AERONÁUTICA que acione: a. Uma aeronave de asa rotativa “Super Puma para transporte de tropa” ou equivalente; e b. Uma aeronave de asa rotativa “H1H para utilização com atiradores” ou equivalente. As aeronaves deverão ser operadas por militares da Aeronáutica em coordenação e articulação com as forças policiais estaduais e federais e com as demais forças militares. 3. Aos COMANDANTES DAS FORÇAS ARMADAS que, articuladamente, acionem: a. “Dez viaturas blindadas para transporte de pessoal”, incluindo as respectivas guarnições que as conduzirão; b. “Equipamentos de comunicação aeronave x solo”, para serem cedidos, temporariamente, às forças estaduais; c. “Equipamentos de visão noturna”, para serem cedidos, temporariamente, às forças estaduais; 4. Ao ESTADO MAIOR CONJUNTO DAS FORÇAS ARMADAS que designe oficial para: a. promover a integração dos comandos militares empregados na operação; b. promover a ligação com as autoridades estaduais e federais; e c. manter este Ministério informado das operações, via o Centro de Operações Conjuntas (COC). NELSON A. JOBIM - Ministro da Defesa” 48 ANEXO B DIRETRIZ MINISTERIAL Nº 15/ 2010 O EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA, atendendo à EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS INTERMINISTERIAL nº 00460/MD/GSI, de 02.12.2010, decorrente da solicitação do GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, datada de 01.12.2010, para dar “continuidade ao processo integrado de pacificação do Estado do Rio de Janeiro, entre a União e o Estado ... nos termos dos §§ 2º, 3º e 4º da Lei Complementar nº 97/1999 e dos artigos 2º, 3º e 5º do decreto 3.897/2001”, AUTORIZOU o prosseguimento do “emprego temporário de militares das Forças Armadas ... para a preservação da ordem pública nas comunidades do Complexo da Penha e do Complexo do Alemão”. Assim, com fundamento no art. 7º, I do Decreto nº 3.897/2001, considerando o solicitado pelo SENHOR GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO e a AUTORIZAÇÃO PRESIDENCIAL, DETERMINO 1. Ao COMANDANTE DO EXÉRCITO que: 1.1. ORGANIZE uma FORÇA DE PACIFICAÇÃO (F Paz), subordinada ao Comando Militar do Leste, para dar prosseguimento ao contido na DIRETRIZ MINISTERIAL nº 014/2010, com a missão de “preservação da ordem pública nas comunidades do Complexo da Penha e do Complexo do Alemão”, integrada por: a) recursos operacionais militares necessários (pessoal e material), com funções de patrulhamento, revista e prisão em flagrante; e b) “meios de segurança pública do Estado”, nos termos manifestados pelo SENHOR GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, no Ofício GG 390/2010, de 01.12.2010. 1.2. DESIGNE o Comandante da F Paz, que, de imediato, definirá com as autoridades estaduais, o início das operações; 1.3. REMETA ao ESTADO-MAIOR CONJUNTO DAS FORÇAS ARMADAS: a) o “Plano de Operações”, para conhecimento e registro; b) as “Regras de Engajamento”, para análise deste Ministério e subseqüente aprovação do MINISTRO DA DEFESA e do GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO JANEIRO; e c) o montante descriminado das necessidades financeiras exigidas pela operação. 1.4. PROMOVA, sempre que necessário, os entendimentos e ligações com os COMANDANTES DA MARINHA e da AERONÁUTICA e com as demais autoridades federais, estaduais e municipais, dos diversos poderes. 2. Aos COMANDANTES DA MARINHA e da AERONÁUTICA que: 2.1. PERMANEÇAM em condições de alocar recursos operacionais para integrar a F Paz, quando solicitados; e 49 2.2. MANTENHAM informado o CHEFE DO ESTADO-MAIOR CONJUNTO DAS FORÇAS ARMADAS das eventuais necessidades de recursos financeiros exigidos pela operação. 3. Ao CHEFE DO ESTADO-MAIOR CONJUNTO DAS FORÇAS ARMADAS (CEMCFA) que: 3.1. REMETA aos COMANDANTES DAS FORÇAS SINGULARES as “Instruções para o Emprego das Forças Armadas no Estado do Rio de Janeiro”; 3.2. CONHEÇA e REGISTRE o “Plano de Operações” da F Paz; 3.3. ANALISE e SUBMETA ao MINISTRO DA DEFESA, ouvida a CONSULTORIA JURÍDICA (CONJUR) deste Ministério, as “Regras de Engajamento” da F Paz; 3.4. PROSSIGA na ligação com as autoridades estaduais e federais, nos termos da DM 014/2010; 3.5. AVALIE, em coordenação com todas as autoridades e Comandos envolvidos, e SUBMETA ao MINISTRO DA DEFESA e ao GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, com periodicidade máxima de trinta (30) dias, as condições de continuidade da operação da F Paz; 3.6. MANTENHA o acompanhamento permanente da operação por intermédio do Centro de Operações Conjuntas (COC); 3.7. REMETA ao MINISTRO DA DEFESA e ao GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, diariamente, relatório circunstanciado do andamento e resultados das ações, e, a qualquer momento, informação complementar, quando a situação exigir; 3.8. CONSOLIDE e ENCAMINHE à SECRETARIA DE ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL DO MINISTÉRIO DA DEFESA (SEORI), para avaliação e providências, as necessidades financeiras apresentadas pelos COMANDOS DAS FORÇAS. 4. AO SECRETÁRIO DE ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL que SUBMETA ao MINISTRO DA DEFESA as providências recomendadas para o atendimento das solicitações de recursos financeiros em apoio à operação. 5. AO CONSULTOR JURÍDICO deste Ministério que: 5.1. EMITA parecer sobre as “Regras de Engajamento” da F Paz; e 5.2. ORGANIZE serviço de acompanhamento jurídico em apoio às operações. NELSON A. JOBIM - Ministro da Defesa 50 ANEXO C ACORDO PARA O EMPREGO DA FORÇA DE PACIFICAÇÃO FIRMADO ENTRE O GOVERNO FEDERAL E O GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO a. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, atendendo à exposição de Motivos Interministerial nº 00460/MD/GSI, de 2 de dezembro de 2010, decorrente da solicitação do GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, datada de 1º de dezembro de 2010, para dar “continuidade ao processo integrado de pacificação do Estado do Rio de Janeiro entre a União e o Estado, nos termos da lei Complementar nº 97, de 1999, e Decreto nº 3.897, de 2001”, autorizou o “emprego temporário de militares das Forças Armadas para a preservação da ordem pública nas comunidades do Complexo da Penha e do Complexo do Alemão”. b. Por meio da Diretriz Ministerial nº 15, de 2010, o Ministro de Estado da Defesa determinou ao Comandante do Exército a organização de uma Força de Pacificação, subordinada ao Comando Militar do Leste, integrada por recursos operacionais militares necessários (pessoal e material), com funções de patrulhamento, revista e prisão em flagrante e por “meios de segurança pública do Estado”, nos termos manifestados pelo Governador do Estado do Rio de Janeiro. A UNIÃO FEDERAL, POR INTERMÉDIO DO MINISTÉRIO DA DEFESA (MD), neste ato representado pelo MINISTRO DE ESTADO DE DEFESA, DR NELSON A. JOBIM, e o ESTADO DO RIO DE JANEIRO, neste ato representado pelo GOVERNADOR, SR SÉRGIO CABRAL FILHO, considerando o disposto nos diplomas legais e normativos referenciados, acordam: Artigo I - Finalidade A finalidade do presente acordo é estabelecer as condições de implementação das ações no cumprimento da Diretriz Ministerial Nr 15 / 2010, de 4 de dezembro de 2010, para o emprego da Força de Pacificação, visando promover a preservação da garantia da lei e da ordem pública nas comunidades do Complexo da PENHA e do Complexo do ALEMÃO, na Cidade do Rio de Janeiro. Artigo II – Fundamentos do emprego e Competências da Força de Pacificação 1. As atividades da Força de Pacificação serão desenvolvidas em cooperação com o Governo do Estado do Rio de Janeiro em uma situação de normalidade institucional e, portanto, em plena vigência do Estado de Direito. 2. Todas as ações deverão ser desencadeadas com a fiel observância aos preceitos legais vigentes no País, os quais constituirão fator limitativo da liberdade de ação durante a autodefesa e a legítima defesa. Ninguém poderá ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei. 3. As medidas da competência exclusiva da Polícia Judiciária, pertinentes a finalidade estabelecida no artigo I, como busca e apreensão e outras, serão realizadaspelos “meios de segurança pública do Estado”, integrantes da Força de Pacificação e serão conduzidas para a Delegacia de Polícia Civil que integrará a Força de Pacificação, à exceção da ocorrência de ilícitos penais militares. 51 4. Os militares e civis detidos pela prática de ilícitos comuns serão encaminhados para a Delegacia referida no item anterior. 5. Os militares e civis detidos na prática de ilícitos penais militares serão encaminhados para a Delegacia de Polícia Judiciária Militar, que atuará junto à Força de Pacificação. 6. É vedada a atuação de policiais militares e policiais civis não integrantes da Força de Pacificação no interior da Área de Pacificação, conforme delimitação constante neste instrumento. Em situações excepcionais, esta atuação poderá ser autorizada pelo Comandante da Força de Pacificação. 7. O mandado judicial de competência das polícias judiciárias, com objeto não atinente à finalidade prevista no artigo I, que demande apoio policial e cuja execução ocorra no interior da Área de Pacificação, serão cumpridos por intermédio da Delegacia de Polícia Civil da Força de Pacificação. 8. A Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro informará previamente ao Comando da Força de Pacificação sobre o desenvolvimento de atividades policiais, realizadas nas áreas contíguas ao perímetro da Área de Pacificação, que possam redundar em conflito com facções criminosas, para fins de conhecimento e coordenação. 9. A realização de eventos públicos no interior da Área de Pacificação deverá ser previamente comunicada ao Comando da Força de Pacificação, para fins de coordenação dos respectivos projetos. 10. A Força de Pacificação informará, diariamente, à Secretaria de Segurança Pública as prisões e apreensões de material realizadas para fins de conhecimento e atualização de registros. Artigo III – Constituição da Força de Pacificação 1. A Força de Pacificação para o cumprimento da missão de preservação da ordem pública tem a seguinte organização: a. Comando: 01 (um) oficial-general do Exército; b. Tropa das Forças Armadas: (02) duas Forças-Tarefas, valor Batalhão; c. Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro: 01 (um) Comando de Polícia Militar e 03 (três) Batalhões de Campanha de Polícia Militar; d. Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro: 01 (uma) Delegacia de Polícia Civil. 2. A Força de Pacificação se subordina diretamente ao Comando Militar do Leste, cabendo a este coordenar as ações da Força de Pacificação e ligar-se ao Governo Estadual e, por intermédio do Comando do Exército, ao Ministério da Defesa. Artigo IV – Área de Pacificação A área de atuação da Força de Pacificação compreende a faixa de terreno e o espaço aéreo sobrejacente, tendo os seguintes limites: ao Norte pela Avenida VICENTE DE CARVALHO, Avenida BRÁS DE PINA, Largo DA PENHA, Rua MONSENHOR ALVES DA ROCHA, Rua ITANHANDU e o ponto da encosta N do Morro da PENHA; prosseguindo a Este pela Rua EÇA DE QUEIRÓS, Rua AURÉLIO GARCINDO, Rua DELFIM CARLOS, Rua JORGE MARTINS, Rua PARANHOS e Estrada do ITARARÉ; prosseguindo para Sul pela Estrada da ITAOCA e Estrada ADHEMAR BEBIANO e para Oeste pela Rua AUGUSTO E SOUSA, pelo corte no terreno da PEDREIRA DO COMPLEXO DO ALEMÃO e pela Rua MATURACÁ no encontro com a Avenida VICENTE DE CARVALHO. 52 Artigo V – Das atribuições específicas dos integrantes da Força de Pacificação 1. O Comando da Força de Pacificação planejará o emprego e coordenará a execução de todas as atividades das Forças Tarefas do Exército, dos Batalhões de Campanha da Polícia Militar e da Delegacia de Polícia Civil que integram a Força. 2. Os militares do Exército Brasileiro, integrantes da Força de Pacificação, executarão ações de patrulhamento ostensivo, revista e prisão em flagrante. 3. Os policiais militares dos Batalhões de Campanha de Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, integrantes da Força de Pacificação, participarão do patrulhamento ostensivo, executarão revistas, vasculhamentos e prisões e apoiarão a Delegacia de Polícia Civil da Força de Pacificação no cumprimento de mandados judiciais. 4. A Delegacia de Polícia Civil da Força de Pacificação realizará todas as ações de Polícia Judiciária decorrentes da atuação da Força de Pacificação e apoiará a execução dos mandados judiciais de competência das polícias judiciárias a serem cumpridos no interior da Área de Pacificação. 5. O Governo do Estado apoiará, ainda, a atuação da Força de Pacificação com outros meios estaduais necessários ao restabelecimento das funções governamentais em benefícioda população, em atendimento às solicitações do Comando da Força de Pacificação. O presente Acordo entra em vigor na data de sua assinatura, ativa a Força de Pacificação, delimita sua área de responsabilidade e autoriza o início de suas operações. Sérgio Cabral Filho – Governador do Estado do Rio de Janeiro Nelson A. Jobim – Ministro de Estado de Defesa