MARCO ISAÍAS ALAYO CHÁVEZ DEPOSIÇÃO E
Transcrição
MARCO ISAÍAS ALAYO CHÁVEZ DEPOSIÇÃO E
MARCO ISAÍAS ALAYO CHÁVEZ DEPOSIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE FILMES DE SiO2 CRESCIDOS PELA TÉCNICA DE PECVD A BAIXA TEMPERATURA Dissertação apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia. São Paulo 1996 MARCO ISAÍAS ALAYO CHÁVEZ DEPOSIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE FILMES DE SiO2 CRESCIDOS PELA TÉCNICA DE PECVD A BAIXA TEMPERATURA Dissertação apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia. Área de concentração: Engenharia de Microeletrônica Orientadora: Prof. Dra. Inés Pereyra São Paulo 1996 Alayo Chávez, Marco Isaías Deposição e Caracterização de filmes de SiO2 pela Técnica de PECVD a Baixa Temperatura. São Paulo, 1996. 96 p. Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia Eletrônica. 1. Dióxido de silício. 2. Plasma CVD. 3. Estruturas MOS. 4. Microeletrônica Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia Eletrônica DEDICATORIA A mis queridos padres: Eustaquio y Carolina A mis hermanos: Marlon, César y Nilton A mi linda Gaby Cabel AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar gostaria de agradecer imensamente a minha orientadora Prof. Dra. Inés Pereyra pela valiosa orientação, dedicação e amizade brindada no desenvolvimento deste trabalho. Ao Dr. Marcelo Nelson Paez Carreño pelo contínuo incentivo, apoio e proveitosas discussões ao respeito do trabalho. Ao Dr. José Augusto de Alencar e ao Dr. Luiz Molina Torres pelas sugestões e criticas do trabalho. Ao colega Rogério Junqueira Prado pela revisão cuidadosa deste trabalho. A todos os integrantes do grupo de Novos Materiais ao qual eu pertenço: André, Geraldo, Raimundo pela valiosa colaboração na deposição e caracterização das películas. Ao Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI), especialmente ao grupo SOICMOS, pela disponibilidade de seus equipamentos e ao colega Victor Sonneberg pelas sugestões e criticas na realização das medidas elétricas. Ao pessoal técnico do LME pela inestimável ajuda no processamento das lâminas. À entidade CAPES pelo auxilio financeiro. A todos que direta ou indiretamente colaboraram com a execução deste trabalho e que involuntariamente foram omitidos. SUMÁRIO Capítulo 1 - ANTECEDENTES E OBJETIVOS 1.1 1.1 Introdução 1.1 1.2 Histórico 1.4 1.3 Objetivos 1.6 Capítulo 2 - ESTADO DA ARTE E METODOLOGIA 2.1 2.1 Introdução 2.1 2.2 Estado da arte 2.2 2.3 Metodologia do Trabalho 2.8 Capítulo 3 - TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO 3.1 Introdução 3.2 Técnicas de caracterização estrutural e composicional 3.1 3.1 3.1 3.2.1 Perfilometria 3.1 3.2.2 Elipsometria 3.3 3.2.3 Espectroscopia de absorção na região de infravermelho 3.3 Técnicas de caracterização elétrica 3.5 3.11 3.3.1 Equações básicas para a determinação das características elétricas 3.12 a) Resistividade 3.12 b) Tensão de banda plana 3.14 c) Densidade de carga efetiva dentro do SiO2 3.15 d) Resistência série 3.16 e) Permissividade dielétrica do SiO2 3.17 f) Estados na interface Si/SiO2 3.18 g) Campo de ruptura do SiO2 3.19 Capítulo 4 - PARTE EXPERIMENTAL 4.1 4.1 Introdução 4.1 4.2 Técnicas de PECVD 4.1 4.3 Obtenção dos filmes 4.7 4.4 Amostras depositadas para a análise estrutural e composicional 4.11 4.5 Caracterização estrutural e composicional 4.12 4.5.1 Perfilometria 4.13 4.5.2 Elipsometria 4.13 4.5.3 Espectroscopia de absorção na região de infravermelho 4.6 Caracterização elétrica dos filmes Capítulo 5 - RESULTADOS E DISCUSSÕES 5.1 Introdução 4.14 4.15 5.1 5.1 5.2 Resultados estruturais e composicionais 5.2 5.2.1 Influência do fluxo de silano 5.3 5.2.2 Influência da temperatura do porta-substrato 5.7 5.2.3 Influência da densidade de potência de rf 5.10 5.2.4 Influência da relação de fluxos N2O/SiH4 5.13 5.2.5 Influência da pressão de deposição 5.17 5.2.6 Discussão dos resultados físicos 5.20 5.3 Resultados elétricos 5.3.1 Discussão dos resultados elétricos Capítulo 6 - CONCLUSÕES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 5.22 5.34 6.1 RESUMO Neste trabalho reportamos os resultados da deposição e caracterização de películas de dióxido de silício obtidas pela técnica de deposição química a vapor assistida por plasma direto(DPECVD) a baixas temperaturas (< 400 oC). As películas foram crescidas pela decomposição apropriada de silano e óxido nitroso, variando essencialmente cinco parâmetros de deposição e suas propriedades ópticas e estruturais foram analisadas através da espectroscopia de absorção infravermelha e elipsometria. Para analisar também as propriedades de interface e obter a resistividade e constante dielétrica do material, foram fabricados capacitores MOS usando as películas depositadas por DPECVD como camada isolante, e suas curvas I-V e C-V para alta e baixa frequência foram medidas. Os resultados demonstram a viabilidade de obter películas finas de dióxido de silício por DPECVD sim traços (dentro dos limites de detecção da análise de FTIR) de ligações SiOH, SiNH ou SiH, desde que adequadas condições de deposição sejam utilizadas. Em particular, mostramos que a técnica de DPECVD combinada com baixos fluxos de silano, baixa pressão de deposição e alta densidade de potência de rf é tão efetiva como as técnicas de alta diluição com hélio ou plasma remoto CVD, em promover o crescimento de películas altamente estequiométricas, estruturalmente similares ao dióxido de silício crescido termicamente, tendo a vantagem adicional da simplicidade. A análise dos resultados elétricos permitiu concluir que as películas depositadas apresentam valores ótimos de constante dielétrica, resistividade e tensão de ruptura, muito próximos aos do material crescido termicamente. Porém, observamos também valores altos de carga efetiva dentro do óxido e grande quantidade de armadilhas na interface, que produzem elevados valores de tensão de limiar e inversão lateral nos capacitores MOS fabricados sobre lâminas de silício de tipo p como substrato. ABSTRACT In this work we report the results of the deposition and characterization of silicon dioxide films grown by the Direct Plasma Enhanced Chemical Vapor Deposition (DPECVD) technique at low temperature (< 400 oC). The films were obtained by the decomposition of appropriate mixtures of silane and nitrous oxide, varying essentially five deposition parameters and their optical and structural properties were analyzed through Fourier Transform Infra-Red Spectroscopy and Ellipsometry. In order to analyze also the properties of the interface and to obtain the resistivity and dielectric constant of the material, MOS capacitors were fabricated using this DPECVD films as insulating layer, and their I-V characteristics and C-V curves at high frequency and low frequency were measured. The results demonstrate the feasibility of obtaining highly stoichiometric silicon dioxide thin films by DPECVD without traces (within the detection limits of the FTIR analysis) of SiOH, SiNH or SiH bonds, provided that suitable deposition conditions are utilized. In particular we show that DPECVD combined with very low silane flow, low deposition pressure and high rf power density is as effective as other techniques, like helium dilution or remote plasma CVD, in promoting the growth of highly stoichiometric films structurally similar to thermally grown silicon dioxide and having the added advantage of simplicity. The analysis of electric results permitted us to conclude that the deposited films present optimal values for the dielectric constant, electrical resistivity and breakdown voltage, very close to thermally grown material. However we also observed large values for the effective charge within the oxide as well as large amount of interface states in the Si/SiO2 interface, which produce high values of the threshold voltage and lateral inversion in MOS capacitors fabricated using this PECVD SiO2 as insulator layer on p-type single-crystalline silicon substrates. LISTA DE SÍMBOLOS A = Área do capacitor MOS. Cc = Capacitância corrigida considerando o efeito da resistência série. Cfb = Capacitância total do dispositivo para o qual a tensão superficial do silício é igual a zero (φs = 0). Chf = Capacitância medida em alta frequência. Clf = Capacitância medida em baixa frequência. Cma = Capacitância paralela medida. Cox = Capacitância do filme de SiO2. Dit = Estados na interface Si/SiO2. dox = Espessura do filme de SiO2. Eox = Campo elétrico de ruptura da película de SiO2.. eo = Permissividade dielétrica no vazio. eox = Permissividade dielétrica relativa da película de SiO2. esi = Permissividade dielétrica relativa do silício. Gma = Condutância paralela medida. K = Constante de Boltzmann. N = Concentração de dopantes dentro da lâmina de silício. NA = Concentração de aceitadores dentro do silício. ND = Concentração de doadores dentro do silício. Neff = Densidade de carga efetiva dentro da película de SiO2. ni = Concentração de portadores intrínsecos no silício. q = Constante que indica a carga do elétron. R = Resistência da película de SiO2 calculado pela medida da curva I-V. Rs = Resistência série do dispositivo MOS. T = Temperatura do dispositivo em graus Kelvin. vfb = Tensão de banda plana do dispositivo MOS. vox = Tensão máxima aplicada na porta do capacitor que origina a ruptura da pelicula de SiO2. vox = Tensão máxima de ruptura aplicada na pelicula de SiO2. w = Frequência de medida. wms = diferença de função de trabalho entre o metal e o semicondutor. ∆i = Variação da corrente que passa pelo capacitor MOS. ∆v = Variação da tensão da porta do capacitor MOS. ρ = Resistividade da película de SiO2. φs = Tensão superficial do silício. CAPÍTULO 1 ANTECEDENTES E OBJETIVOS 1.1.- INTRODUÇÃO Entre os diversos materiais utilizados atualmente na microeletrônica, o dióxido de silício (SiO2) é um dos mais importantes na fabricação de dispositivos semicondutores, discretos ou integrados. Esta importância deve-se fundamentalmente às excelentes propriedades estruturais, composicionais e elétricas deste material que levaram a sua utilização em diversas aplicações. Uma destas aplicações é por exemplo sua utilização como máscara litográfica devido a sua capacidade de diminuir consideravelmente a difusão ou implantação de muitas impurezas doadoras ou aceitadoras, permitindo obter junções com dimensões e profundidades perfeitamente controláveis; tal característica fez do SiO2 a peça fundamental no desenvolvimento do processo planar utilizado na fabricação de circuitos integrados (CI's). As excelentes propriedades passivantes deste material permitem também minimizar as reações químicas produzidas na superfície dos dispositivos semicondutores melhorando a estabilidade e a performance destas estruturas, logrando assim uma maior uniformidade das características de dispositivo a dispositivo. As propriedades dielétricas deste material permitem, por outra parte, a utilização do SiO2 como camada isolante entre estruturas semicondutoras localizadas muito próximas e/ou entre os diferentes materiais utilizados na tecnologia de CI's. Todas estas características presentes no SiO2 foram fundamentais para o desenvolvimento da microeletrônica. Posteriormente, a utilização do SiO2 como dielétrico de porta nas estruturas Metal-Isolante-Semicondutor (MIS) significou um enorme avanço 1.2 tecnológico dentro da microeletrônica, já que a utilização destas estruturas permitiu o aumento da integração dos CI's. Dentro das estruturas Metal-Isolante-Semicondutor existem três regiões que são importantes: a camada de silício, a camada isolante e a interface SiIsolante (figura 1.1). M I camada isolante Interface Si/Isolante S camada de silício Fig. 1.1 - Diagrama simplificado de uma estrutura Metal-IsolanteSemicondutor (MIS). Particularmente, cargas no isolante não são desejáveis, pois elas afetam adversamente a performance e a estabilidade do dispositivo. Um dielétrico de porta de boa qualidade para dispositivos MIS deve possuir baixa densidade de estados de interface, alta resistividade, alta tensão de ruptura, e baixa densidade de cargas fixas e móveis. Estes filmes também devem estar livres de defeitos locais, que atuam como armadilhas para portadores injetados, pois a captura destes portadores, particularmente se ocorre muito perto da interface, pode reduzir a tensão de ruptura e incrementar a densidade de estados de interface, afetando consequentemente a tensão de limiar do dispositivo. Neste sentido, o SiO2, crescido em condições apropriadas, cumpre com todas estas condições, apresentando as melhores características estruturais e composicionais para sua utilização como camada isolante de porta nos que vieram a se chamar dispositivos MOS (Metal-Óxido-Semicondutor) [1]. 1.3 A técnica comumente utilizada para a fabricação do SiO2 é a conhecida como "crescimento térmico", que consiste na oxidação da própria lâmina de silício utilizada como substrato, sendo que parte da lâmina de silício é consumida para formar o SiO2. Este tipo de processo requer temperaturas elevadas (~1000 o C) para aumentar a difusão do oxigênio através do substrato. Porém, acontece que o processamento do SiO2 a temperaturas elevadas induz degradações na estrutura periódica do substrato (defeitos), incrementa as difusões laterais e verticais, e produz degradações nas camadas metálicas [2]. Embora, no passado isto não representasse um problema, hoje em dia, devido à redução das dimensões dos dispositivos semicondutores até escalas submicrométricas (0,25µm ou menos) na tecnologia de Ultra Larga Escala de Integração ("Ultra Large Scale Integration", ULSI), as altas temperaturas de processamento estão se convertendo num fator limitante para o avanço da tecnologia de CI's. Tal é assim, que além das altas difusões laterais originadas pelas elevadas temperaturas de processamento do SiO2 não permitirem uma maior integração, a atual utilização de semicondutores compostos requer materiais dielétricos obtidos a baixas temperaturas. Por exemplo, os detetores infravermelhos baseados em InSb [3,4] ou HgCdTe [5], requerem em sua fabricação, dielétricos processados a temperaturas menores que 250 oC para evitar a evaporação do constituinte mais volátil, o que originaria a perda das características semicondutoras desejáveis do material. Também futuras aplicações em telas planas, que devem usar substratos poliméricos no lugar do vidro, requererão deposições a temperaturas menores que 300 oC. A seguir enumeramos algumas das vantagens de se conseguir filmes de SiO2 a baixas temperaturas de processamento: − Diminuição significativa das difusões laterais e verticais dos átomos incorporados no substrato. − Melhor conservação ou manutenção da planaridade das lâminas utilizadas como substrato. 1.4 − Melhor controle da espessura e da uniformidade das dopagens nos filmes finos. – Preservação dos filmes finos metálicos permitindo a utilização de dupla camada metálica. − Preservação das ligações de hidrogênio nos dispositivos baseados em filmes de silício amorfo hidrogenado (a-Si), necessários para conservar as propriedades semicondutoras dos filmes de a-Si. − Conservação das características semicondutoras nos semicondutores compostos tais como GaAs, CdTe, InSb, HgCdTe, etc., pois a baixa temperatura evita a evaporação do constituinte mais volátil. Todo o mencionado anteriormente têm motivado o interesse de muitos pesquisadores em encontrar uma técnica que permita a fabricação de filmes dielétricos a baixa temperatura de processamento. 1.2.- HISTÓRICO O estudo das diferentes propriedades do dióxido de silício (SiO2) e suas diversas aplicações na microeletrônica iniciou-se desde a década de 50. Foi em 1957 que Frosh e Derrick [6] descobriram que o dióxido de silício é capaz de se comportar como uma barreira efetiva contra a difusão de impurezas dopantes, fazendo possível controlar eficazmente a profundidade da junção difundida e sua localização relativa sobre a lâmina de silício. Trabalhos iniciais de passivação de superfícies foram realizados por Atalla et al. [7], em 1959, demonstrando-se as propriedades passivantes do dióxido de silício em diodos de junção e em transistores bipolares. Já em 1960-1961, Ligenza e Spitzer [8,9] fabricaram o primeiro dióxido de silício de boa qualidade com alta tensão de ruptura num ambiente de vapor de água sob pressão atmosférica. Pesquisas posteriores mostraram que o SiO2 é também uma máscara efetiva nos processos de implantação iónica, que permite obter concentrações de 1.5 impurezas dopantes muito menores e um melhor controle dessa concentração do que a técnica de difusão. Por essa mesma época (década de 60) descobriu-se que o SiO2 também permite minimizar a natureza altamente reativa com o meio ambiente das superfícies dos dispositivos semicondutores, melhorando a performance e estabilidade das estruturas semicondutoras e logrando uma maior uniformidade das características de dispositivo a dispositivo. Porém, a descoberta do efeito de campo, base do funcionamento das estruturas MOS, determinou a utilização do SiO2 em uma de suas mais importantes aplicações. Na verdade, o efeito de campo já era conhecido há muitos anos. Em 1935, Liandrat [10] estabeleceu que a condutividade de um filme semicondutor pode ser modulada por um campo elétrico transversal externo. Mais ainda, foi como consequência de um estudo profundo deste efeito de campo (Bardeen e Brattain, 1947 [11]) que a ação do transistor foi descoberta. Em 1948 Shockley e Pearson [12] demostraram experimentalmente a existência do efeito de campo em uma lâmina semicondutora de silício. Finalmente, Atalla [13] em 1965, propôs pela primeira vez que o SiO2 crescido termicamente em substratos monocristalinos de silício poderia ser usado como isolante de porta nas estruturas MOS. Esta conclusão surgiu de estudos da passivação do óxido nos transistores bipolares de silício. Como consequência disto, em 1960, Kahng e Atalla fabricaram as primeiras estruturas MOSFET’s [13,14] utilizando filmes de SiO2 crescidos por Ligenza e Spitzer [8,9] num ambiente de vapor de água sob pressão atmosférica. Estas foram as primeiras pesquisas que demonstraram as excelentes propriedades estruturais, composicionais e elétricas do SiO2 que resultaram em sua vasta utilização na microeletrônica. Atualmente, a necessidade de diminuir o tamanho dos dispositivos semicondutores até escalas submicrométricas, permitindo uma maior integração, e a utilização cada vez mais de semicondutores 1.6 compostos, causa que a obtenção de SiO2 a baixas temperaturas de processamento seja considerada de suma importância para o avanço da tecnologia de CI's. 1.3.- OBJETIVOS O principal objetivo deste trabalho é utilizar a técnica de Deposição Química a Vapor Assistida por Plasma (PECVD) para crescer filmes de dióxido de silício a baixas temperaturas com boas propriedades estruturais, composicionais e elétricas. Para isto, estudaremos a influência de cada um dos parâmetros variáveis em nosso sistema de PECVD sobre as características estruturais, composicionais e elétricas do filme. CAPÍTULO 2 ESTADO DA ARTE E METODOLOGIA 2.1.- INTRODUÇÃO As diferentes limitações originadas pela utilização de temperaturas elevadas no processamento das películas de SiO2∗ estimularam a procura por novas técnicas que permitam a obtenção deste material a temperaturas muito mais baixas que as normais. Nessa procura, o interesse de muitos pesquisadores dirigiu-se fundamentalmente à utilização de variantes da técnica de deposição química a vapor (CVD)∗∗ para o processamento deste material, já que as probabilidades de vencer as limitações originadas utilizando estas técnicas eram mais favoráveis. As primeiras técnicas a serem utilizadas na fabricação destes filmes foram a deposição química a vapor a alta ou baixa pressão ("Atmospheric Pressure Chemical Vapor Deposition", APCVD ou "Low Pressure Chemical Vapor Deposition", LPCVD), porém as temperaturas mínimas alcançadas com estes métodos para a obtenção de SiO2 não chegaram a ser tão baixas quanto desejável. Hoje em dia, outra das variantes, conhecida como processo de deposição química a vapor assistida por plasma ("Plasma Enhanced Chemical Vapor Deposition", PECVD) aparece como uma alternativa promissória. Neste capítulo mostraremos os resultados alcançados até este momento no que se refere ao processamento de películas de SiO2 utilizando a técnica de PECVD (e suas variantes) e explicaremos a metodologia que utilizaremos para o desenvolvimento deste trabalho. ∗ As limitações originadas pelas elevadas temperaturas de processamento foram já mencionadas no capítulo 1. ∗∗ Para maiores detalhes sobre esta técnica, remitir-se ao capítulo 4. 2.2 2.2.- ESTADO DA ARTE Como foi mencionado anteriormente, os problemas vinculados às altas temperaturas de processamento motivaram o interesse de vários pesquisadores na obtenção de películas de SiO2 a temperaturas muito mais baixas que as utilizadas atualmente. Com este intuito, o processo de CVD foi o primeiro a ser utilizado, sem atingir totalmente o objetivo. Porém, com o aparecimento da técnica de PECVD, esta apresentou-se como a melhor alternativa para a deposição de filmes de SiO2 devido às baixas temperaturas de processamento atingidas com este processo. Num processo PECVD, os gases reagentes são excitados por um campo elétrico, o qual permite iniciar e manter a descarga luminosa ou plasma. Os elétrons excitados, altamente energéticos, fornecem suficiente quantidade de energia aos gases reagentes, transformando-os em várias espécies ativas (tais como radicais neutros e íons). A natureza altamente reativa destas espécies facilita a formação de filmes a baixas temperaturas de substrato. Porém, as propriedades físicas e elétricas dos filmes gerados pela técnica de PECVD são determinadas pela natureza e composição do plasma, que por sua vez são controladas pelas variáveis de deposição envolvidas no processo. Mas, devido a natureza muito complexa da dinâmica das partículas dentro do plasma e a grande diversidade de espécies ativas geradas, é difícil quantificar uma relação exata entre os fatores de entrada (tais como: temperatura do substrato, pressão da câmara, potência de rf e fluxos dos gases) e os parâmetros de saída críticos. Especificamente para o caso do crescimento de SiO2 obtido por PECVD, certos esforços tem sido realizados nestes últimos anos para entender tais relações, incluindo um estudo da influência da frequência e a potência de rf nas propriedades dos filmes de SiO2 [15] e análises de emissão óptica do plasma na deposição de filmes de SiO2 por PECVD [16], entre outras. Esta química complicada, envolvida no processo de crescimento das películas por PECVD, é a causante da incorporação de ligações indesejáveis na 2.3 estrutura composicional dos filmes depositados [17,18]. Adams [19] no ano de 1983, reportou os resultados que obteve sobre o crescimento de películas de SiO2 utilizando esta técnica. O processo foi realizado num reator PECVD direto ou convencional com acoplamento capacitivo utilizando silano (SiH4) e óxido nitroso (N2O) como gases reagentes e com uma temperatura de substrato de 300 o C. Os resultados das medidas de espectroscopia de infravermelho nas amostras crescidas mostraram a existência de ligações não desejáveis, tais como Si-OH e Si-NH na estrutura composicional dos filmes. O processo PECVD direto ou convencional utilizado por Adams, conhecido também como DPECVD ("Direct Plasma Enhanced Chemical Vapor Deposition"), caracteriza-se pelo fato de “todos” os gases participantes no processo de deposição serem excitados pelo alto campo elétrico produzido pelo gerador de rf. Posteriormente, no ano de 1989, Batey et al. [20] realizando estudos mais detalhados sobre a deposição de filmes de SiO2 com a técnica de PECVD direta ou convencional, concluíram que os gases reagentes facilmente sofrem quebras incontroláveis, originando uma grande variedade de espécies excitadas dos gases reagentes envolvidos no processo. A excitação do SiH4 e do N2O por plasma direto produz certos subprodutos de estados excitados, incluindo SiH, SiH2, SiH3, etc., que constituem a base para uma série de reações heterogêneas, originando nos filmes depositados ligações não desejáveis, tais como N-H, Si-H, Si-OH, SiN, etc. que modificam as características estruturais e composicionais do material. Neste tipo de processo, as taxas de deposição são muito altas (mais de 1000 Å/min.), ao ponto de os filmes de SiO2 produzidos desta maneira serem geralmente porosos, como consequência de seu rápido crescimento. A porosidade apresentada nestes filmes é uma das principais causas da baixa densidade e da pobre qualidade elétrica deste material. Além disso, os danos produzidos no substrato pelo bombardeamento direto de íons devido ao plasma altamente energético permanece quase inevitável. Todos estes problemas apresentaram-se fundamentalmente pela química complexa envolvida no processo de deposição dentro do plasma, originando a 2.4 formação de uma grande diversidade de espécies ativas, tendo como consequência a incorporação de ligações não desejáveis na estrutura do filme depositado. Neste sentido, muitos pesquisadores iniciaram estudos que permitam entender esta química do plasma, e a partir daí tentar encontrar uma forma de controlar as reações químicas envolvidas no processo de deposição. Um dos primeiros trabalhos a respeito foi realizado por Hollahan [21], que determinou o produto final que acontece no processo PECVD convencional para a formação do SiO2 a partir de uma mistura de SiH4 e N2O, a saber: SiH4 + N2O → SiO2 + 2H2 + 2N2 (2.1) Posteriormente, Longeway et al. (1984) [22] e Richard et al. (1985) [23] lograram estabelecer a molécula precursora [(SiH3)2O] que permite a obtenção de filmes de SiO2 por PECVD. Esta molécula sofre uma reação química sobre a superfície do substrato, substituindo o hidrogênio das ligações de Si-H das moléculas de disiloxana por átomos de oxigênio, resultando com esta mudança a formação de filmes de SiO2 aproximadamente estequiométricos [24,25]. As reações chamadas de superfície podem ser expressados como: (SiH3)2O + O* → 2SiO2 + 2H2 + H2O (2.2) Mas o problema fundamental de como controlar as reações químicas envolvidas no processo continuava sem ser resolvido. Neste sentido desenvolveram-se duas soluções, ambas surgidas experimentalmente: a) Diluição de mistura de N2O e SiH4 num gás inerte não reagente como por exemplo Hélio. b) Modificação do sistema PECVD convencional de tal forma que permita controlar as quebras das moléculas participantes no processo. 2.5 A primeira técnica foi desenvolvido por Hsieh et al. [26] no ano de 1993 utilizando um reator DPECVD e uma mistura de N2O e SiH4 diluído em Hélio, logrando com isto uma diminuição significativa das ligações não desejáveis, tais como: N-H, Si-H, Si-OH, Si-N, etc. Este resultado experimental, porém já tinha sido previsto muito antes nos trabalhos de Longeway et al. [22], no ano de 1986. Preocupados com o entendimento da física do plasma, eles determinaram a seqüência das reações químicas que ocorrem no processo de deposição de SiO2 por PECVD utilizando uma mistura de N2O e SiH4 diluídos em Hélio. A saber: N2O + X* → NO + N* (2.3) e NO + X* → N* + O* (2.4) Onde X* denota as espécies geradas no plasma, as quais podem ser átomos de Hélio excitado ou elétrons excitados, N* representa os átomos de nitrogênio excitados, e O* representa os átomos de oxigênio excitados. Os átomos de oxigênio excitados podem então reagir com o SiH4 para produzir (SiH3)2O, e participar nas reações de superfície necessárias para a formação dos filmes de SiO2 estequiométricos. As reações requeridas para a produção da disiloxana, foram estabelecidas como: He* + N2O → N2 + O* + He (2.5) e O* + 2SiH4 → H2 + (SiH3)2O (2.6) Estabelecida a química envolvida na formação da disiloxana a partir de uma mistura de N2O e SiH4 diluída em Hélio, o crescimento de SiO2 altamente estequiométrico surge das reações de superfície já citadas anteriormente (equação 2.2). 2.6 Todos os resultados anteriores permitiram estabelecer que a utilização do hélio como diluente na mistura SiH4/N2O para o crescimento de filmes de SiO2, apresenta as seguintes vantagens [26,27]: a) O Hélio tem uma suficiente condutividade térmica e uma grande seção eficaz para excitação por elétrons energéticos [20], o que permite iniciar e manter mais facilmente o plasma. b) Incrementa a produção da molécula precursora (disiloxana), pois como pode ser observado na equação 2.5, o hélio ativo contribui à quebra do N2O formando radicais excitados de oxigênio (O*), essenciais para a formação da disiloxana (equação 2.6). c) Promove a reação na superfície do substrato, aumentando a substituição das ligações de Si-H pelas ligações Si-O. Isto pode ser concluído da equação 2.2, onde podemos observar que a substituição do hidrogênio das ligações Si-H das moléculas de disiloxana por átomos de oxigênio, acontece devido à existência de radicais de oxigênio ativos, gerados a sua vez pela reação do hélio com o N2O (equação 2.5). d) Reduz a produção de grupos de ligações não desejadas, tais como Si-N, SiOH, N-H, etc [27]. e) O plasma de He, o qual contém átomos neutros e íons, minimiza o bombardeamento por íons mais pesados, diminuindo os danos produzidos ao substrato. f) Não participa nas reações desde que ele é um gás inerte. g) Uma elevada diluição de He pode até eliminar a decomposição do SiH4 por plasma direto. Isto permite a eliminação ou diminuição das espécies ativas originadas da quebra do SiH4, tais como SiH, SiH2, SiH3, etc., que constituem a base para uma série de reações heterogêneas vinculadas à formação de uma grande variedade de ligações não desejáveis nos filmes depositados. 2.7 Desta forma logrou-se encontrar uma solução para o controle adequado das reações químicas envolvidas no processo, permitindo consequentemente a obtenção de películas de SiO2 com características estequiométricas utilizando simplesmente um processo de DPECVD e uma mistura de N2O e SiH4 diluída em Hélio. A segunda solução, desenvolvida por Lucovsky et al. [28] no ano de 1987, consistiu em modificar construcionalmente a técnica de deposição de DPECVD convencional, ao que eles chamaram de processo de PECVD por plasma remoto (RPECVD). A diferença básica entre as duas técnicas, DPECVD e RPECVD, está na possibilidade, existente no RPECVD, de selecionar o gás reagente a ser excitado, diminuindo assim as reações heterogêneas. Isto implica que com a nova técnica se logra selecionar o tipo de radical formado pela quebra da molécula de silano evitando a formação de uma grande variedade de espécies ativas, controlando-se, assim a composição e a estequiometria do filme depositado. O processo também minimiza os danos produzidos pelos íons altamente energéticos induzidos pelo plasma na superfície do substrato [28,29]. Lucovsky et al. [29,30,31] iniciaram a deposição de filmes de SiO2 num reator RPECVD com acoplamento indutivo utilizando uma mistura de SiH4 e N2O diluído em Hélio, logrando uma redução bastante significativa daquelas ligações não desejadas. Os estudos teóricos das reações químicas vinculadas ao processo de deposição continuaram sendo desenvolvidas. Em 1991, May et al. [32] apresentaram um modelo empírico para processos de deposição de semicondutores baseados em plasma usando modelos estatísticos, e mais recentemente, em 1993, Han et al. [33], fizeram um modelamento das propriedades dos filmes do SiO2 por PECVD utilizando redes neurais. Os resultados dos estudos estruturais e composicionais dos filmes de SiO2 crescidos pela técnica de PECVD a baixa temperatura motivou também o interesse de diversos pesquisadores a experimentar a utilização deste material em diversas aplicações, especificamente, como isolante de porta em estruturas MOS [30,34,35]. Cabe destacar, porém, que encontraram-se numerosas dificuldades 2.8 intrínsecas que terão que ser contornadas para a obtenção de um bom filme com características elétricas aceitáveis, entre as quais uma das mais importantes é o controle da qualidade da interface Si/SiO2 [36,37]. No óxido crescido termicamente, a interface Si/SiO2 é formada ao final do processo e está localizada abaixo do óxido nativo devido a que o mecanismo de crescimento do SiO2 por este método consiste no consumo da parte superficial da lâmina de silício para formar o SiO2. Em contraste, a deposição de SiO2 por PECVD ocorre acima do óxido nativo, consequentemente a interface Si-SiO2 é notavelmente controlada pelas propriedades do óxido nativo. O tratamento da superfície prévio à oxidação é muito mais crítico, portanto, nos óxidos depositados a baixas temperaturas. Estes estudos permitiram determinar os fatores que podem contribuir à pobre performance elétrica das estruturas MOS empregando óxido depositado por PECVD, entre os quais podemos citar: − Um pobre processamento de limpeza da superfície do semicondutor antes da deposição que pode gerar defeitos na interface. − A presença de um elevado armadilhamento de elétrons associados com a estequiometria pobre do material, incluindo uma relativamente alta concentração de impurezas tais como hidrogênio, carbono, etc. − Pode existir uma interação entre o semicondutor e o óxido depositado devido às possíveis diferenças em seus coeficientes de dilatação (stress) gerando defeitos interfaciais eletronicamente ativos. 2.3.- METODOLOGIA DO TRABALHO Os trabalhos anteriores nos levaram a pensar que selecionando apropriadamente as condições de deposição num reator convencional de DPECVD seria possível controlar as reações heterogêneas e produzir 2.9 consequentemente filmes estequiométricos. Iniciamos assim um estudo exaustivo da influência dos parâmetros controláveis de deposição, a saber: fluxo de silano, potência de rf, pressão do processo, temperatura do substrato e relação de fluxos N2O/SiH4. Nosso primeiro passo foi o estudo da influência da variação do fluxo de silano nas propriedades estruturais dos filmes de SiO2 depositados por DPECVD. Para avaliar a influência da variação do fluxo de SiH4 na mistura gasosa sem a interferência dos outros parâmetros, controláveis externamente, permitidos pela técnica PECVD, fixamos estes parâmetros em valores determinados por estudos bibliográficos [29] e em base a nossas experiências passadas com outros materiais. Consideramos também, para a fixação destes parâmetros, a hipótese que diminuindo a pressão de deposição aos valores mínimos possíveis poderíamos diminuir as ligações não desejáveis, visto que o livre caminho médio das moléculas reagentes aumentaria, provocando desta forma um efeito similar ao da utilização de um gás diluente no processo de crescimento. Mudanças, então, nas propriedades estruturais e composicionais das amostras, assim crescidas, só poderiam ser causadas pelo parâmetro variável, pois os restantes permaneceram constantes. Porém, estes parâmetros assim fixados não eram necessariamente os mais adequados para a obtenção de filmes de SiO2 com boas qualidades estruturais, composicionais e elétricas, isto é, não tínhamos conhecimento de como influenciava cada parâmetro de deposição nas propriedades dos filmes. Precisávamos então, fazer também uma análise da influência de cada um desses parâmetros controláveis nas características das películas. Com este objetivo fizemos várias séries de amostras, onde só um dos parâmetros era variado por vez. Análises destas séries de amostras permitiram posteriormente determinar o valor ótimo para cada um dos parâmetros que produziam os filmes de SiO2 com as melhores qualidades estruturais e composicionais. O conjunto de caracterizações envolveu medidas de perfilometria para um estudo da espessura e taxa de deposição, elipsometria para uma análise do índice 2.10 de refração e espessura, e espectroscopia de infravermelho para uma análise estrutural e composicional dos filmes depositados. Com a finalidade também de fazer um estudo das propriedades da interface, obter a densidade efetiva de carga, permissividade dielétrica, resistividade e tensão de ruptura do óxido depositado por PECVD, fabricamos capacitores MOS, usando nossos filmes de SiO2 como camada isolante de porta. Medidas da curva de capacitância-voltagem (C-V) em alta e baixa frequência, e da curva de corrente-tensão (I-V) destes capacitores e a posterior correlação dos resultados com modelos teóricos nos permitiram determinar as características elétricas de nosso material. CAPÍTULO 3 TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO 3.1.- INTRODUÇÃO As técnicas de caracterização constituem importantes ferramentas que nos permitem comparar, analisar e discutir as diferentes características físicas e elétricas das películas de SiO2 crescidas por PECVD. Neste capítulo, nós descrevemos detalhadamente as técnicas de caracterização e a teoria básica utilizada para a determinação das diversas propriedades estruturais, composicionais e elétricas dos filmes depositados. 3.2.- TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL E COMPOSICIONAL Para a determinação das diferentes características estruturais e composicionais dos filmes depositados por PECVD a baixas temperaturas, nós utilizamos as técnicas de perfilometria, elipsometria e espectroscopia na região de infravermelho. 3.2.1.- Perfilometria O perfilômetro é um instrumento electromecânico que mede o perfil de superfícies de materiais sólidos através do movimento horizontal de uma agulha sobre a superfície da amostra. Esta agulha encontra-se acoplada mecanicamente ao núcleo de um transformador diferencial linearmente variável ("Linear Variable Differential Transformer", LVDT). O alto grau de precisão do 3.2 equipamento permite que a agulha caminhe sobre a superfície da amostra detectando variações ou defeitos na superfície do material, que causam translações verticais na agulha, e consequentemente, mudanças na posição do núcleo do LVDT. Estas mudanças no LVDT produzem um sinal analógico proporcional ao deslocamento vertical da agulha, condicionando-se e convertendo-se posteriormente a um formato digital através de um conversor analógico-digital de alta precisão. O sinal digitalizado correspondente ao percurso da agulha sobre a superfície é armazenado na memória de um computador para posterior manipulação. A figura 3.1 representa o diagrama de blocos da estrutura interna de um perfilômetro típico que permite a medição da espessura de diversos materiais. OSCILADOR IMPRESSORA DEMODULADOR LVDT AMPLIFICADOR DISPLAY CONVERSOR PROCESSAMENTO A/D DIGITAL DETETOR DE FASE AGULHA DE AMOSTRA DIAMANTE Fig. 3.1 - Diagrama de blocos da estrutura interna de um perfilômetro. Problemas intrínsecos relacionados com o próprio sistema de medida deste equipamento, obrigam a que o perfilômetro seja operado numa área que apresente um mínimo de vibrações mecânicas, já que estas podem causar erros na medida, especialmente para espessuras de amostras compreendidas na menor escala. 3.3 3.2.2.- Elipsometria O elipsômetro é um instrumento óptico que mede mudanças no estado de polarização de feixes colimados de luz monocromática polarizada causadas pela reflexão em superfícies. Uma medição elipsométrica envolve a incidência de um feixe colimado elipticamente polarizado de luz monocromática sobre a superfície de uma amostra e a posterior determinação do estado de polarização do feixe refletido. Os parâmetros ópticos obtidos a partir da diferença entre os estados de polarização dos feixes incidente e refletido, em combinação com teoria física nos permitem determinar o valor do índice de refração e da espessura da amostra medida. Cabe destacar aqui que o índice de refração de um determinado material é definido como a relação entre a velocidade da luz no vácuo e a velocidade da luz dentro do material, e é proporcional à raiz quadrada da permissividade do material para alta frequência. Quando a densidade do material incrementa, a velocidade da luz no material diminui e, portanto, o índice de refração incrementa. Similarmente, um incremento na polaridade das moléculas dentro do material decrementa a velocidade da luz no material e incrementa o índice de refração e a constante dielétrica. Este conceito será muito importante para podermos analisar os resultados que apresentaremos posteriormente. A elipsometria tem certas vantagens sobre os outros métodos de medição de espessuras e de índice de refração do filme, a saber: − Permite a determinação do índice de refração de filmes finos de espessuras desconhecidas. − Não requer ambientes ou condições especiais, tais como lugares altamente limpos ou altas temperaturas, para a realização da medida. − O elipsômetro tipo "nulling" (tal como o que vamos a utilizar para este trabalho) tem a vantagem que as quantidades medidas são ângulos azimutais (ângulo de fase das componentes de polarização) os quais podem ser medidos 3.4 com alta resolução e precisão. Isto também elimina completamente os erros causados pela variação da intensidade da luz incidente, variação na refletância total das amostras sendo medidas, e variações do sistema detectoramplificador usado para medir a intensidade do feixe refletido. O diagrama esquemático de um elipsômetro tipo "nulling" é mostrado na figura 3.1. Este equipamento, apresenta dois eixos ópticos, um eixo correspondente ao feixe incidente e outro correspondente ao feixe refletido, os quais permitem ajustar convenientemente o ângulo de incidência com respeito à amostra localizada na interseção dos eixos. FONTE DE DETETOR LUZ FILTRO DE LUZ POLARIZADOR ROTATIVO COMPENSADOR DE UM QUARTO DE ONDA Não polarizada ANALISADOR ROTATIVO nemhuma luz para condição de anulação p p FILME s s p SUBSTRATO Linearmente polarizada s Elípticamente polarizada Linearmente polarizada para condição de anulação Fig. 3.2 - Diagrama esquemático de um elipsômetro do tipo "nulling". Uma fonte de luz colimada, monocromática, não polarizada ou polarizada circularmente é direcionada à superfície da amostra a medir. O feixe de luz colimado passa através do polarizador e do compensador que são montados ao 3.5 longo do eixo incidente, é refletido na amostra para logo passar pelo analisador e entrar no fotodetector. O polarizador tem como função converter de forma conveniente a luz primária não polarizada numa luz linearmente polarizada. O compensador de um quarto de onda converte a luz linearmente polarizada proveniente do polarizador numa luz elipticamente polarizada. Esta luz posteriormente incidirá sobre a amostra com um ângulo de incidência escolhido. As propriedades ópticas da amostra mudam o estado de polarização do feixe incidente. O feixe refletido passa ao fotodetector através de um prisma analisador e um filtro de banda limitada. A posição do prisma analisador para o qual obtém-se a condição nula ou mínima do feixe refletido no fotodetector, produzirá uma corrente de saída proporcional ao ângulo de fase das componentes de polarização do feixe. Este parâmetro, assim encontrado, junto com uma conveniente análise numérica, realizada pelo próprio equipamento, permite a determinação do valor do índice de refração e da espessura da amostra medida. 3.2.3.- Espectroscopia de absorção na região de infravermelho A espectroscopia na região do infravermelho é uma técnica analítica importante para o esclarecimento da estrutura molecular de compostos orgânicos e inorgânicos. Seu campo de aplicação compreende muitas disciplinas, desde a identificação de compostos orgânicos até o registro do espectro no infravermelho de cristais simples. Uma breve discussão da origem do espectro de infravermelho permitirá um melhor entendimento desta técnica. Todas as moléculas podem ser consideradas como átomos unidos por ligações químicas. Quando incidimos uma determinada radiação sobre certa molécula, uma mudança em seu estado vibracional ocorre. A frequência de radiação necessária para mudar o estado vibracional da molécula está geralmente compreendida na região de infravermelho (0,77µm∼1000µm). Durante o 3.6 movimento vibracional de uma molécula, devido por exemplo a uma radiação infravermelha, a distribuição de carga suporta uma mudança periódica, e em geral o momento dipolar muda também periodicamente. As vibrações moleculares que estão relacionadas com uma mudança no momento dipolar são chamadas de infravemelho ativo, enquanto que vibrações para as quais a distribuição da carga muda e não altera o momento dipolar surgido, são chamadas de infravermelho inativo. Quando a frequência de radiação, incidindo sobre uma molécula, coincide com a frequência de ressonância natural da molécula, ocorrerá uma mudança no estado vibracional, que se for acompanhada por uma mudança no momento dipolar (infravermelho ativo), e portanto na energia da molécula, uma banda de absorção associada com este estado vibracional será vista no espectro de absorção. A intensidade desta absorção dependerá da magnitude da transição do momento dipolar enquanto que a frequência da absorção, dependerá das massas dos átomos envolvidos e suas posições relativas para a determinada ligação [38,39]. É mais conveniente fazer o tratamento do problema vibracional em função de coordenadas internas que descrevem os movimentos dos átomos, tais como: mudanças no comprimento e ângulo das ligações, e nos ângulos de torção. As bandas no espectro de infravermelho podem ser relacionadas tanto com a vibração longitudinal ("stretching") quanto vibração angular ("bending") de uma ligação química particular. É importante destacar, porém, que o problema é raramente simples, pois as frequências das vibrações não dependem somente da natureza das ligações particulares entre dois átomos, mas também da própria molécula e de sua vizinhança. Muitas bandas de absorção no infravermelho são devidas a vibrações acopladas; isto é, vibrações que envolvem mais de um tipo de movimento ocorrendo à mesma frequência. Apesar de toda a complexidade, pode-se pensar em primeira aproximação que grupos de frequências de absorção podem estar relacionadas aos movimentos dos átomos individuais que compõem a molécula. Isto é, dentro da mais simples 3.7 aproximação assume-se que partes isoladas da molécula, com determinada ligação química, podem vibrar independentemente do restante. Este conceito é conhecido com o nome de grupo. Se tivermos um movimento complexo de átomos, este pode ser considerado como uma agregação de um pequeno número de movimentos básicos, os quais são definidos como vibrações fundamentais da molécula. Estas podem ser: − Vibrações conhecidas como stretching (ou de valência), que são movimentos vibracionais periódicos de esticamento e relaxamento, produzindo uma banda distinguível de absorção infravermelha observada para todas as moléculas contidas dentro de um mesmo grupo. Podemos distinguir duas classes de movimentos: a)"movimento simétrico", onde os dois átomos extremos movimentam-se para dentro e fora em fase; b) "movimento assimétrico", onde um movimenta-se para dentro e o outro para fora alternadamente (Fig. 3.3). − Vibrações conhecidas como bending, onde o movimento vibracional ocorre na direção perpendicular à ligação entre os átomos. Este grupo é freqüentemente subdividido em quatro tipos: a) scissor (ou bending propriamente dito), onde os movimentos dos átomos estão na direção da mudança do ângulo entre os átomos que formam o grupo; b) wagging, na qual não há mudança no ângulo entre as ligações do grupo vibrando, isto porque a vibração toma lugar para cima e para baixo do plano, e seus movimentos estão em fase; c) rocking, onde o ângulo entre os átomos muda em relação ao movimento no plano dos átomos extremos em fase; d) twisting, onde os átomos do mesmo grupo movimentam-se no mesmo plano mas em direções opostas de um em relação ao outro (Fig. 3.3). As descrições apresentadas acima sobre a espectroscopia de infravermelho são corretas somente para moléculas totalmente isoladas. No mundo real, raramente esta situação acontece. Para materiais sólidos, as moléculas interagem, e esta interação influi no espectro de infravermelho. Isto é 3.8 manifestado como um alargamento ou um deslocamento das bandas ou eventualmente, com a aparição de novas bandas. Fig. 3.3 - Representação esquemática dos diferentes tipos de vibrações fundamentais stretching e bending. 3.9 Considerando o caso de materiais amorfos, a espectroscopia de infravermelho destes filmes pode ser descrita também da mesma forma que para um material cristalino. No entanto, se comparados localmente com os materiais cristalinos, mesmo tendo um arranjo de primeiros vizinhos muito similar, estes materiais apresentam dispersão tanto na distância da ligação dos elementos presentes, como no ângulo das ligações. Isto provoca na espectroscopia de infravermelho de materiais amorfos basicamente um alargamento das bandas de absorção. Isto é, o incremento na desordem de um material amorfo originará mudanças nas ligações químicas dos elementos componentes (variação na distância e ângulo das ligações), causando um deslocamento da frequência de ressonância daquelas estruturas desordenadas dentro do material amorfo, alargando portanto a banda de absorção. Outra diferença no espectro na região de infravermelho destas amostras pode incluir deslocamentos das frequências de absorção devido à influência de grupos próximos de átomos. A técnica de medição de um espectrômetro infravermelho comum consiste na utilização de um monocromador para selecionar cada comprimento de onda de luz. Um sistema de grades, filtros e fendas separam a luz em diferentes frequências e cada uma destas regiões (∆ν) do espectro de energia é incidida sobre a amostra. A resposta da amostra para cada ∆ν é medida no detector seqüencialmente. Já no caso de um espectrômetro de infravermelho por transformada de Fourier (FTIR), a luz não é separada em frequências individuais, mas é modulada por um interferômetro. Todas as frequências incidem na amostra ao mesmo tempo e a resposta desta amostra para todas as frequências é detectada simultaneamente. Dado que os resultados dos espectros medidos pelo FTIR não são visualizáveis diretamente, um computador é usado posteriormente para a manipulação matemática necessária (utilizando transformada rápida de Fourier) para obter o espectro de absorção na região do infravermelho da amostra medida [40]. 3.10 Esta técnica será de fundamental importância no nosso estudo de películas de SiO2, portanto um breve estudo espectral deste material ajudará no entendimento de nossa pesquisa. Espectros de absorção no infravermelho de filmes de SiO2 tipicamente mostram uma banda intensa na faixa de 1100 a 1050 cm-1, devida ao modo vibracional de stretching da ligação silício-oxigênio (Si-O). A intensidade, posição, e forma da banda depende da estequiometria do filme e varia portanto, com as condições de deposição e parâmetros de processo do filme. Além do modo stretching de Si-O, os filmes apresentam os modos bending a 800 cm-1 e rocking a 465 cm-1, como podemos apreciar na tabela 3.1. Tabela 3.1 - Principais modos vibracionais do SiOx e suas respectivas frequências de ressonância. frequência de ressonância Modo Vibracional para o SiO2 (cm-1) 1150 stretch do Si-O2 fora de fase 1075 stretch do Si-O2 em fase 940 stretch do Si-O (Si dopado com oxigênio) 800 bend do Si-O2 465 rock do Si-O2 Os espectros de infravermelho de filmes de SiOx depositados por CVD tem sido usados para obter informação acerca da estrutura local ao correlacionar a quantidade de oxigênio no filme com a frequência de vibração do modo stretching da ligação Si-O. Pai et al. [41], determinaram que a frequência do modo stretching decresce desde 1075 cm-1 para filmes de SiO2 estequiométricos até 940 cm-1 para silício amorfo dopado com oxigênio. O decréscimo pode ser atribuído à diferença na frequência de vibração entre a ligação Si-O e a ligação Si-Si. A medida que a concentração de oxigênio diminui na estrutura do filme, existirá uma maior influência espectral da ligação Si-Si. O comprimento médio da banda de Si-O e a intensidade de um pequeno pico observado em 1150 cm-1 3.11 também são dependentes da concentração de oxigênio no filme. Pai et al. concluíram que o alargamento da banda de stretching (1075 cm-1) a medida que a concentração de oxigênio diminui é consequência da mudança das ligações que ocorrem para o átomo de oxigênio. A fusão do pico de stretching em fase (1075 cm-1) com o pico de stretching fora de fase (1150 cm-1) a medida que diminui a concentração de oxigênio contribui também para o aumento da largura média. 3.3.- TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO ELÉTRICA: A caracterização elétrica dos filmes de SiO2 depositados por PECVD a baixas temperaturas envolvem fundamentalmente três passos: - Fabricação de capacitores MOS utilizando nossa película de SiO2 como camada isolante de porta. - Medição, nos dispositivos MOS fabricados, das curvas I-V, C-V em alta e baixa frequência e tensão máxima de ruptura. - Correlação dos resultados obtidos com a predição de modelos teóricos básicos. A medida da corrente que passa por um determinado capacitor MOS (medido experimentalmente) em função da tensão aplicada em sua porta representa a curva I-V deste dispositivo. Esta curva permite a obtenção de vários parâmetros elétricos, como veremos posteriormente. Para a obtenção da capacitância em baixa frequência em função da tensão aplicada à porta do capacitor MOS, realiza-se também a medida da corrente que passa por este dispositivo. A fórmula dada a seguir (equação 3.1) permite posteriormente correlacionar a corrente medida com a capacitância em baixa frequência: C= I ∂ .v ∂ .t (3.1) 3.12 onde: I = Valor da corrente medida sobre o capacitor MOS. dv/dt = Velocidade da rampa de tensão aplicada sobre o capacitor. Cabe destacar que esta medida só será possível se o equipamento tem a capacidade de sincronizar a ativação da rampa de tensão com a medição da corrente. Para a obtenção da curva de C-V em alta frequência nós medimos a impedância (tanto o módulo como o ângulo de fase) do capacitor MOS. O valor deste parâmetro permite a obtenção posterior da capacitância e da condutância do dispositivo. Para isto deve-se aplicar uma rampa escalonada de tensão contínua somada a uma tensão alterna de pequeno sinal sobre a porta do dispositivo. Finalmente, para a obtenção do campo elétrico máximo de ruptura do dispositivo, aplicam-se tensões progressivamente mais elevadas até se observar uma mudança brusca (de várias ordens de grandeza) no valor da corrente medida. O valor da tensão para o qual aconteceu a mudança brusca da corrente em conjunto com um modelo matemático, que explicaremos a seguir, nos permitem determinar o campo máximo de ruptura de nossa película. 3.3.1.- Equações básicas para a determinação das características elétricas Os diferentes parâmetros elétricos de nosso material podem ser obtidos correlacionando os resultados das quatro medidas elétricas mencionadas acima com as predições dos modelos teóricos básicos: a) Resistividade: O valor da resistividade de nosso filme pode ser calculado utilizando os resultados da medida da curva de I-V dos capacitores MOS fabricados. Certas precauções tem que ser tomadas na medição da curva I-V dos capacitores MOS, utilizada no cálculo da resistividade, entre as quais a mais 3.13 importante é a necessidade de aplicar uma tensão adequada na porta do capacitor MOS que origine uma queda quase total desta tensão no óxido de porta deste dispositivo, evitando assim a influência da camada de depleção do substrato na resistência do dispositivo. Isto só acontece quando o capacitor MOS medido se encontra na região de acumulação. Cabe destacar também que para o caso dos materiais isolantes (tais como o SiO2), eles apresentam dois diferentes regimes de condução: - Regime ôhmico : Ele se comporta como uma resistência variando a corrente linearmente com a tensão. Este regime ocorre para baixas tensões aplicadas, quando os portadores de carga são principalmente os elétrons gerados termicamente. - Regime de injeção ou controlado por carga espacial: Este ocorre para tensões aplicadas mais elevadas onde os portadores injetados começam a dominar a condução. Nesta situação o material deixa de ser eletricamente neutro, passando a apresentar carga espacial. O método de extração do valor da resistividade consiste fundamentalmente em gerar um gráfico com os resultados da medida de I-V, apresentando-se os eixos de tensão e de corrente num formato logarítmico. Realizado isto, desenha-se no mesmo diagrama uma reta cuja tangente seja 1 e procura-se a região da curva que tenha a mesma inclinação que a reta desenhada. A região assim selecionada constituirá a parte ôhmica da medida total de I-V do dispositivo MOS. Identificada a região linear da curva característica I-V do dispositivo, procedemos ao cálculo da resistência e resistividade do material por meio da lei de Ohm: 3.14 R= ∆v ∆i ρ = R× A dox (3.2) onde: ∆v = Variação da tensão da porta do capacitor MOS. ∆i = Variação da corrente que passa pelo dispositivo. ρ = Resistividade do material. R = Resistência do material calculado pela medida da curva I-V. A = Área do capacitor MOS. dox = Espessura do filme de SiO2. b) Tensão de banda plana: A tensão de banda plana pode ser obtida utilizando os resultados da medida da curva C-V em alta frequência. Nosso primeiro passo é calcular a capacitância de banda plana de acordo com os modelos teóricos básicos por meio da equação mostrada a seguir [42]: Cfb = ε ox × ε o × A KT ε si ⋅ ε o ε × dox + ox × N ε si q2 (3.3) onde: Cfb = Capacitância total do dispositivo para o qual a tensão superficial do silício é igual a zero (φs = 0). eox = Permissividade dielétrica relativa do SiO2( 3,9). eo = Permissividade dielétrica no vazio (8,854 x 10-14 F/cm). esi = Permissividade dielétrica relativa do silício (11,7). K = Constante de Boltzmann ( 8,617 x 10-5 ev/K). 3.15 q = Constante que indica a carga do elétron (1,6 x 10-19 Coulombs). N = Concentração de dopantes dentro da lâmina de silício. Utilizando este valor de Cfb calculado e a curva de C-V em alta frequência procuramos a tensão de porta para a qual a capacitância medida tem o valor da capacitância de banda plana calculada. A tensão assim encontrada será a tensão de banda plana (vfb). c) Densidade de carga efetiva dentro do SiO2: É muito importante determinar a densidade de carga dentro do SiO2, já que esta carga pode originar entre outras coisas a variação do potencial de superfície do silício (φs), o aumento da tensão de banda plana e a inversão lateral nos capacitores MOS de tipo p [43]. Para o cálculo da carga efetiva dentro do SiO2 utilizamos os resultados da medida da curva de C-V em alta frequência e a equação apresentada a seguir [44]: Neff = Cox q× A × ( wms − vfb) (3.4) onde: Neff = Densidade de carga efetiva dentro do SiO2. Cox = Capacitância do SiO2. Este valor obtém-se da curva experimental de CV em alta frequência e consiste na capacitância máxima total medida na região de acumulação. vfb = Tensão de banda plana calculada da forma mencionada anteriormente. wms = Diferença da função de trabalho entre o metal e o semicondutor. Especificamente, a função de trabalho entre o alumínio (metal) e o silício (semicondutor) pode ser obtida mediante a seguinte equação [45]: 3.16 wms = −0.6 + KT ni × ln NA para tipo p q wms = −0,6 + KT ND × ln ni para tipo n q (3.5) onde: wms = Diferença da função de trabalho entre o alumínio e o silício. T = Temperatura do dispositivo em graus Kelvin. ni = Concentração de portadores intrínsecos no silício (1,45x1010 cm-3). NA = Concentração de aceitadores dentro do silício. ND = Concentração de doadores dentro do silício. d) Resistência Série (Rs): A resistência série em um dispositivo MOS é um parâmetro elétrico que pode alterar os resultados das medições da curva de C-V em alta frequência, originando sérios erros na extração das características elétricas deduzidas desta curva. O grau de influência destes erros dependerá da tensão aplicada na porta do capacitor e da frequência da medida. Assim para evitar erros na extração dos parâmetros é necessário corrigir a curva experimental medindo o valor da resistência série e logo incluindo-a na admitância paralela medida. A resistência série num dispositivo MOS pode ser produzida por quatro diferentes fontes: O contato feito pela ponta de medida na porta do capacitor MOS, o contato feito nas costas da lâmina de silício, a resistência da região quase neutra e da região de depleção da lâmina de silício e a distribuição não uniforme de dopantes na região de silício sob a porta do capacitor. Para medir a resistência série de um capacitor MOS, polarizamos este dispositivo com uma tensão suficientemente alta, levando-o à região de acumulação forte. Nesta região o circuito equivalente do capacitor MOS consiste na capacitância do SiO2 em série com Rs. A partir dos valores da capacitância 3.17 paralela e da condutância paralela medidas podemos obter, então, o valor da resistência série utilizando a equação [46]: Rs = Gma Gma 2 + ω 2 ⋅ Cma 2 (3.6) onde: Rs = Resistência série do dispositivo MOS. Gma = Condutância paralela medida. Cma = Capacitância paralela medida. w = Frequência de medida. Conhecendo a resistência série do respectivo capacitor MOS, podemos calcular agora a capacitância corrigida para cada ponto de tensão de porta utilizando a seguinte equação [47]: Cc G ( = 2 ma ) + ω 2 ⋅ Cma 2 × Cma a 2 + ω 2 ⋅ Cma 2 (3.7) onde: a = Gma - (Gma2 + w2.Cma2) x Rs Cc = Capacitância corrigida considerando o efeito da resistência série. e) Permissividade dielétrica do SiO2: A permissividade é uma medida da polarização do dielétrico dentro de um campo elétrico. Um incremento na polaridade do material (devido por exemplo à incorporação do nitrogênio ou hidrogênio na estrutura do filme) incrementa a permissividade do material. Também, um decremento da densidade do filme causa uma diminuição na permissividade assumindo que a qualidade do material permanece constante. 3.18 O valor da capacitância corrigida na região de acumulação forte, calculada a partir da equação mostrada acima, corresponde à capacitância do SiO2 de porta de nosso dispositivo. Como é sabido, esta capacitância devida ao SiO2 está relacionada com a permissividade dielétrica da seguinte forma: ε ox = 1 Cc ⋅ d ox × εo A (3.8) Desta maneira, podemos calcular a permissividade dielétrica de nosso material conhecendo simplesmente a capacitância do dispositivo na região de acumulação. f) Estados na interface Si/SiO2 (Dit): Os estados de interface são defeitos localizados na interface Si/SiO2, cada um dos quais origina um ou mais níveis de energia dentro da banda proibida do semicondutor. Estes defeitos podem trocar carga com o volume da lâmina de silício. Especificamente, eles podem interagir com a banda de condução do silício capturando ou emitindo elétrons e com a banda de valência capturando ou emitindo lacunas. Para o cálculo dos estados de interface utilizamos os resultados das medidas das curvas de C-V em alta e baixa frequência. De acordo com o modelo desenvolvido por Nicollian [48], a densidade de estados na interface Si/SiO2 é dado por: 1 1 1 Dit = × − q Clf Cox −1 1 1 − − C C hf ox onde: Dit = Estados na interface Si/SiO2. −1 (3.9) 3.19 Clf = Capacitância medida em baixa frequência. Chf = Capacitância medida em alta frequência. Cox = Capacitância do SiO2. g) Campo de ruptura do SiO2: O campo de ruptura é o máximo campo elétrico que pode suportar o SiO2 antes de que o dispositivo MOS se danifique totalmente (quebra dielétrica do óxido). Este parâmetro pode ser obtido encontrando a tensão na qual acontece o curto no capacitor MOS. Dada esta tensão devemos saber que porção da mesma está aplicada sobre o SiO2, sabendo que: v ox = v g − v fb − φ s (3.10) onde: vox = Tensão máxima de ruptura aplicada no SiO2. vg = Tensão máxima aplicada na porta do capacitor que origina a ruptura do SiO2 (aumento abrupto da corrente no dispositivo). obtemos: Eox = Vox dox (3.11) onde: Eox = Campo elétrico de ruptura do SiO2.. Estes procedimentos de extração de parâmetros serão posteriormente utilizados na análise dos resultados obtidos. CAPÍTULO 4 PARTE EXPERIMENTAL 4.1.- INTRODUÇÃO Na primeira parte deste capítulo discutimos as técnicas de PECVD conhecidas atualmente e explicamos o funcionamento do sistema de deposição por PECVD que foi utilizado para o crescimento dos filmes estudados neste trabalho. Descrevemos as partes que compõem este reator e o sistema que controla cada parâmetro do processo permitindo determinar a influência de cada parâmetro variável de processo nas características estruturais e composicionais das películas. A seguir, indicamos as condições de deposição utilizadas no crescimento de cada uma das amostras e descrevemos os equipamentos e os métodos utilizados para a caracterização estrutural, composicional e elétrica destes filmes. 4.2.- TÉCNICAS DE PECVD O processo de deposição química a vapor (CVD) é uma importante técnica na fabricação de dispositivos eletrônicos. Este processo consiste na deposição de películas sólidas não voláteis sobre um substrato através da reação de vapores químicos (reagentes) que contém os constituintes requeridos para a formação de um determinado material. A energia necessária para realizar as quebras dos gases reagentes é fornecida pelas altas temperaturas utilizadas no processamento. Dentro desta técnica destacamos o processo de deposição química a vapor assistida por plasma (PECVD) que, igualmente ao processo CVD, permite o crescimento de películas a partir da mistura adequada de determinados gases 4.2 químicos, mas, além da utilização da temperatura para realizar as quebras dos gases reagentes, esta técnica utiliza também um campo elétrico (que pode ser contínuo ou alternado) que excita os gases e inicia e mantém uma descarga luminosa dentro da câmara de processo. Os elétrons excitados, altamente energéticos suprem suficiente quantidade de energia aos gases reagentes, transformando-os em várias espécies ativas que ao reagir quimicamente resultam na formação da película. A formação destas espécies ativas pelo plasma facilita assim a deposição do filme a temperaturas mais baixas. As técnicas de PECVD podem ser classificadas em função do tipo de excitação utilizada: campo elétrico contínuo ou campo elétrico alternado. Dentro das técnicas com campo elétrico alternado podemos distinguir aquelas que utilizam baixa frequência, rádio frequência (rf) ou microondas. O tipo mais utilizado para a deposição de filmes finos amorfos é a técnica com campo elétrico de rf. Dentro deste tipo podemos distinguir também algumas classificações em função da forma do acoplamento do campo elétrico (ou potência) de rf, posição dos eletrodos, seleção do gás reagente excitado, entre outras. Dependendo do tipo de acoplamento da potência de rf, os processos de PECVD podem ser agrupados em duas categorias, reatores com eletrodos externos e acoplamento indutivo e reatores com eletrodos internos e acoplamento capacitivo. A figura 4.1 esquematiza um reator PECVD com acoplamento indutivo. Tal como podemos apreciar neste diagrama, os eletrodos existentes neste sistema encontram-se fixados na parede externa do tubo. Esta característica particular de colocar os eletrodos no exterior da câmara de deposição tem a grande vantagem de eliminar a contaminação proveniente da ação erosiva do plasma sobre o material que os constitui. Porém, esta configuração apresenta a desvantagem de que o plasma atua sobre a parede interna da câmara influindo nas características de crescimento das películas depositadas. Com a finalidade de minimizar esta ação, o diâmetro deve ser grande o suficiente para manter o substrato bem 4.3 afastado das paredes internas do tubo, mas por outro lado, cabe destacar que a transmissão da potência do gerador de rf ao plasma converte-se num fator limitante das dimensões da câmara. BOBINA INDUTORA SUBSTRATO PORTA-SUBSTRATO CÂMARA DE DEPOSIÇÃO Fig. 4.1 - Diagrama esquemático de um reator com acoplamento indutivo. Podemos apreciar que os eletrodos estão localizados na parte exterior da câmara de processo. Outra desvantagem deste tipo de sistema refere-se à não homogeneidade na espessura das películas depositadas. Isto se deve ao fato da distribuição da densidade do plasma não ser uniforme (simetria axial). Assim, a posição da amostra no substrato é um fator importante para se obter boa reprodutibilidade nas deposições das películas. Os problemas apresentados neste tipo de reator de acoplamento indutivo podem ser superados utilizando reatores com eletrodos internos e acoplamento capacitivo. Neste tipo de reator, esquematizado na figura 4.2, os eletrodos de rf são conectados a duas placas ou grades paralelas localizadas no interior da câmara, permitindo um acoplamento capacitivo do gerador de rf. Deste modo a transmissão da potência ao plasma independe do tamanho do reator. A homogeneidade na espessura dos filmes obtidos com esta técnica melhora 4.4 notavelmente já que agora a distribuição da densidade do plasma é uniforme sobre todo o substrato (simetria planar). SUBSTRATO RF GERADOR DE RF ELETRODOS PORTA-SUBSTRATO CÂMARA DE DEPOSIÇÃO Fig. 4.2 - Diagrama esquemático de um reator de acoplamento capacitivo. Os eletrodos estão conectados a duas placas paralelas no interior da câmara de processo. Outro tipo de classificação da técnica PECVD, considera o tipo de gás reagente a ser excitado na deposição e a localização do plasma com respeito ao substrato; assim, podemos distinguir duas categorias, uma excitação por plasma direto (DPECVD ou PECVD propriamente dito) e uma excitação por plasma remoto (RPECVD) [49]. A diferença básica entre estas duas categorias fundamenta-se na possibilidade existente no RPECVD de selecionar o gás reagente a ser excitado pelo plasma, diminuindo assim as chamadas reações heterogêneas já explicadas no capítulo 2. A figura 4.3 contém o desenho de um reator típico para um processo PECVD ou DPECVD propriamente dito. Nesta figura esquematizamos um reator mostrado com acoplamento capacitivo para o subministro de energia de rf. Neste caso, uma das placas do capacitor serve como porta-substrato (configuração tipo diodo). 4.5 RF 2. 1. 1. 3. 3. À BOMBA DE VÁCUO Fig. 4.3 - Representação esquemática de um reator PECVD direto ou convencional com acoplamento capacitivo e configuração tipo diodo. O processo de deposição no sistema da figura 4.3 compreende três passos: 1. Injeção dos gases reagentes à câmara de deposição. 2. Decomposição dos gases reagentes ativada por plasma de rádio-frequência. 3. Deposição do filme fino no substrato aquecido. GERADOR c.a. DE RF FONTE D.C. ELETRODOS SUBSTRATO PORTA- SUBSTRATO Fig. 4.4 - Esquema simplificado do sistema de rf com acoplamento capacitivo e método de separação espacial do plasma (configuração tipo triodo). Como podemos apreciar o plasma é mantido afastado da amostra. 4.6 Alternativamente, é possível também acoplar a energia de rf dentro do reator utilizando uma configuração tipo triodo (tal como podemos apreciar na figura 4.4) onde o porta-substrato encontra-se afastado das placas de rf, diminuindo os danos por bombardeamento de íons. Este tipo de acoplamento é justamente o mesmo que nosso sistema de PECVD utiliza. A figura 4.5 contém uma representação esquemática de um reator típico para um processo RPECVD. N20, H2, He BOBINA INDUTORA 1. 3. SILANO 2. 4. SUBSTRATO PORTA-SUBSTRATO À BOMBA DE VÁCUO Fig. 4.5 - Desenho de um reator RPECVD com acoplamento indutivo. Este processo pode ser dividido em quatro passos: 1. Excitação por plasma de um ou mais gases reagentes (mas não todos) em conjunto com um gás inerte utilizado como diluente (por exemplo, O2 ou N2O somado a um gás inerte, tal como He) 2. Extração das espécies ativadas (por exemplo, oxigênio somado a átomos excitados de He) da região do plasma. 4.7 3. O transporte das espécies ativadas para uma região livre de plasma, onde elas serão misturadas e combinadas com algum outro gás reagente, usualmente SiH4 diluída em Argônio. Esta reação, geralmente, forma as moléculas precursoras que contém os grupos de ligações do filme desejado, por exemplo, Si-O. 4. Deposição do filme num substrato quente numa região livre de plasma dentro da câmara do reator. Na figura 4.5, a potência de rf é acoplada ao sistema indutivamente, mas, alternativamente um acoplamento capacitivo pode também ser usado. Do mencionado anteriormente podemos concluir que com o processo DPECVD temos o inconveniente de quebrar sem discriminação as moléculas participantes no processo de deposição, enquanto que com a técnica de RPECVD selecionamos o tipo de radical a ser formado, controlando assim a composição e a estequiometria do filme. 4.3.- OBTENÇÃO DOS FILMES Todos os filmes estudados neste trabalho foram crescidos no reator PECVD No. 1 do Laboratório de Microeletrônica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. O sistema é do tipo DPECVD com configuração do tipo triodo e acoplamento capacitivo. Na figura 4.6, apresentamos um diagrama esquemático do sistema de controle e acesso dos gases. O sistema permite controlar vários parâmetros de deposição, tais como: potência de rf, fluxo dos gases, pressão do processo e temperatura do portasubstrato. 4.8 válvula pneumática "on / off" sensor de pressão sensor / controlador de fluxo .... visor vâlvula manual tipo borboleta reator .... vâlvula gaveta booster vâlvula automática bomba difusora saída de gases gases bomba mecânica da etapa de deposição bomba mecânica da difussora saída de gases Fig. 4.6 - Representação esquemática do reator PECVD existente no Laboratório de Microeletrônica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. O reator conta com dois sistemas de bombeamento de vácuo, um para processo de limpeza da câmara (alto vácuo através da bomba difusora) e o outro para a etapa de deposição (bomba mecânica de processo). A etapa de alto vácuo tem como função garantir que a deposição seja tanto quanto possível isenta de contaminantes prejudiciais às características dos filmes, e é ativada horas antes de se realizar a deposição. Este sistema é composto de uma bomba difusora de óleo, CVC modelo PMC-6B, assistida por uma bomba rotatória de pre-vácuo. Isto permite que se atinjam pressões em torno de 10-6 torr no interior da câmara de processo. A monitoração da pressão é realizada através de um medidor de ionização do tipo Bayard-Alpert ("Ion-Gauge"), capaz de medir entre 10-3 e 10-9 torr. 4.9 O sistema de vácuo para a etapa de deposição é composto por uma bomba mecânica rotatória de duplo estágio modelo E2M80 em série com outra do tipo "Booster" EH-250, ambas de fabricação Edwards. O controle da pressão de deposição pode ser realizado manualmente através de uma válvula tipo borboleta ou com uma válvula automática ("throttle valve") controlada por um equipamento de fabricação MKS. A monitoração da pressão para esta etapa é realizada através de um medidor do tipo pressão absoluta (sistema capacitivo, Baratron-122A-MKS) que permite medidas entre 10 e 10-3 torr. Este medidor de tipo baratron é um manômetro cujo funcionamento independe da espécie gasosa, realizando a medida através da variação da capacitância devido à influência da pressão sobre umas das placas do capacitor. As bombas para a etapa de deposição encontram-se o mais próximo possível da câmara de deposição com a finalidade de diminuir ao máximo as impedâncias impostas pela tubulação, permitindo um ótimo aproveitamento das velocidades nominais de bombeamento. A câmara de deposição é constituída por um recipiente de forma cilíndrica de aço inoxidável contando com dois visores cilíndricos e duas entradas de gases. As dimensões aproximadas da câmara são de 40 cm de altura e 35 cm de diâmetro. O sistema de geração de rf é composto por uma fonte modelo RFX-600, Advanced Energy Corp, operando na frequência de 13,56 MHz com uma potência máxima permitida de 600 watts e por um cassador de impedâncias. O fornecimento deste sinal de rádio-frequência à mistura gasosa é feito através de um acoplamento capacitivo composto por duas grades de 400 cm2 de área (20 cm x 20 cm). O sistema utiliza o método de separação espacial do plasma (sistema tipo triodo) [50] no qual os gases são decompostos numa região afastada do substrato, diminuindo o bombardeamento de íons e/ou elétrons sobre a película que está sendo depositada. 4.10 Este tipo de configuração permite ao porta substrato funcionar como um terceiro eletrodo, podendo ser polarizado positiva ou negativamente em relação ao eletrodo ativo da fonte de rf, conforme mostrado na figura 4.4. A aplicação de um campo elétrico constante externo permite assim estudar a variação das características das películas depositadas em função da polarização aplicada. Vários trabalhos publicados sobre este assunto [51,52,53,54] indicam que é possível controlar o bombardeamento de íons através da polarização, possibilitando uma sensível melhora nas características elétricas das películas. O sistema de aquecimento do porta substratos é do tipo resistivo com uma temperatura máxima de operação da ordem de 600 oC. A monitoração da temperatura é feita via um termopar tipo K que está em contato direto com o porta substrato. Os gases são encaminhados através de linhas de aço inoxidável eletropolidas de 1/4" de diâmetro que ligam as garrafas com a câmara de deposição. Antes de alcançarem a câmara esses gases passam por duas válvulas, uma de abertura variável para o controle eletrônico do fluxo (Controladora de fluxo de massa, "Mass Flow Controlers") e outra pneumática de corte instantâneo (tipo 2258, fabricado pela MKS). A válvula controladora de fluxo de massa, que efetua a regulação e monitoração do fluxo, não é capaz de obstruir totalmente a passagem do gás, sendo por isto necessária a atuação da válvula pneumática que executa a função de on / off. Os reguladores de fluxo são controlados através de uma unidade de controle computadorizada fabricada pela MKS. As válvulas pneumáticas necessitam de um sistema de ar comprimido, que inclui filtros, reguladores de pressão e válvulas solenóide, que possibilitam a automatização do processo de entrada dos gases. Neste trabalho foram utilizados 3 gases: Silano (SiH4), Hidrogênio (H2) e óxido nitroso (N2O) todos a 100% de composição. 4.11 4.4.- AMOSTRAS DEPOSITADAS PARA A ANÁLISE ESTRUTURAL E COMPOSICIONAL Tabela 4.1.- Condições de deposição das amostras utilizadas para a análise estrutural e composicional. NOME TEMPERATURA (oC) PRESSÃO DE DEPOSIÇÃO (mtorr) FLUXO de SiH4 (sccm)∗ DENSIDADE POTÊNCIA (mW/cm2)∗∗ RELAÇÃO N2O/SiH4 PARÂMETRO VARIÁVEL OX-17 OX-15 OX-16 OX-18 230 280 320 370 8 8 8 8 3 3 3 3 150 150 150 150 4 4 4 4 OX-39 OX-40 OX-41 OX-42 OX-43 320 320 320 320 320 16 50 75 100 150 3,2 3,2 3,2 3,2 3,2 250 250 250 250 250 13 13 13 13 13 OX-24 OX-22 OX-21 OX-20 OX-19 OX-23 280 280 280 280 280 280 13 14 17 23 29 48 3 5 10 15 20 40 150 150 150 150 150 150 4 4 4 4 4 4 FLUXO DE SILANO OX-26 OX-25 OX-13 OX-27 320 320 320 320 8 8 8 8 3 3 3 3 50 100 150 250 4 4 4 4 POTÊNCIA DE R.F. OX-27 OX-28 OX-39 OX-48 OX-50 OX-51 320 320 320 320 320 320 8 12 16 19 22 46 3 3 3,2 3,2 3,2 3,2 250 250 250 250 250 250 4 9 13 16 20 60 RELAÇÃO N2O/SiH4 TEMPERATURA PRESSÃO DEPOSIÇÃO ∗ A unidade métrica utilizada neste trabalho para a medida do fluxo de massa de um determinado gás é o "standard cubic centimeter per minute" (sccm), cuja equivalência é: 1sccm = 1 cm3 de gás a pressão atmosférica e 25 oC por minuto. ∗∗ A densidade de potência mostrada na tabela foi obtida da divisão da potência de rf aplicada nos eletrodos dividida pela área dos mesmos (400 cm2). 4.12 Como foi mencionado anteriormente, cinco parâmetros de deposição foram variados: O fluxo de silano, a pressão de deposição, a potência de rf, a temperatura do substrato e a relação de fluxos N2O e SiH4. A tabela 4.1 mostra as condições de deposição de todas as amostras estudadas. Cabe destacar nesta tabela que para o caso do estudo da variação do fluxo do silano e da variação da relação de fluxos N2O/SiH4, a pressão de deposição variou ante o incremento do parâmetro em estudo. Este fato ocorreu porque nós decidimos manter constante o tempo de residência no mínimo valor possível para diminuir a probabilidade das reações heterogêneas. Por outro lado, salvo as deposições com fluxos muito altos, a pressão de deposição se manteve baixa com o qual o livre caminho médio foi alto para todas as deposições. Em cada deposição utilizaram-se vários tipos de substratos, escolhidos em função de suas vantagens com relação ao método de caracterização física experimental pretendido. Na tabela 4.2 mostramos os diferentes tipos de substratos e a técnica de caracterização física para o qual foi utilizada. Tabela 4.2 - Tipo de substrato utilizado para cada técnica de caracterização estrutural e composicional. TIPO DE SUBSTRATO TÉCNICA DE CARACTERIZAÇÃO vidro comum perfilometria silício policristalino de baixa resistividade polido em ambas faces espectroscopia de infravermelho silício monocristalino tipo n+ polido elipsometria 4.5.- CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL E COMPOSICIONAL DOS FILMES : As técnicas de caracterização utilizadas para estudar as propriedades dos filmes foram perfilometria, elipsometria e espectroscopia de infravermelho. Uma análise dos resultados destas caracterizações permitiu posteriormente determinar 4.13 a influência de cada parâmetro variável sobre as propriedades estruturais e composicionais das películas. A seguir, fazemos uma descrição mais detalhada de como foram realizadas essas caracterizações. 4.5.1.- Perfilometria: Para as medidas da espessura de nossas películas de SiO2 utilizamos o perfilômetro Dektak-3030 existente no Laboratório de Sistemas Integráveis da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Para esta medida os filmes foram depositados sobre substratos de vidro onde parte dele era coberta com uma máscara mecânica que não permitia a deposição do filme na região selecionada do substrato. Desta maneira definíamos um degrau na amostra que possibilitava a medida da espessura com o perfilômetro. O perfilômetro DEKTAK 3030 permite realizar medidas de espessura de alta precisão com uma margem de erro de ± 60 Å. A agulha utilizada para a medida é de diamante com um diâmetro de 12,5 µm. Para obter a máxima precisão o equipamento deve ser operado numa área livre de vibrações excessivas e montado sobre uma mesa de isolamento vibracional para evitar fontes de ruídos externas que afetem o processo de medida. Tais considerações foram tomadas em conta ao momento de realizar as medidas de espessura. 4.5.2. Elipsometria: As películas depositadas em substratos de silício monocristalino foram utilizadas para a medida do índice de refração e espessura valendo-se de um elipsômetro RUDOLPH RESEARCH-AUTO EL NIR-3/4D/SS1. Para esta técnica utilizaram-se feixes incidentes de 3 comprimentos de onda de 4050, 6328 e 8300 cm-1 incididos alternadamente sobre a superfície da amostra. O estado de polarização do feixe refletido é dependente das propriedades estruturais da 4.14 película medida, como mostrado no capítulo 3. Os parâmetros ópticos medidos, que caracterizam a diferença entre os estados de polarização dos feixes incidente e refletido, em combinação com modelos físicos teóricos, permitem determinar o índice de refração e a espessura das amostras. As principais características deste equipamento são: − Resolução e precisão máxima de medidas de espessura na faixa de 3Å a 10Å (para óxido de silício sobre silício). − Precisão na medida do índice de refração com um erro absoluto de ± 0.005 − Comunicação com o microcomputador permitindo a medida e a visualização em dois ou três dimensões de até 600 pontos por lâmina. 4.5.3.- Espectroscopia de Absorção na região de Infravermelho: A técnica de espectroscopia vibracional de absorção fornece informações sobre a composição e estrutura das películas analisadas. Esta medida é simples, reprodutível (posto que não destrói a amostra) e altamente determinativa para uma análise qualitativa e quantitativa do tipo de ligações existentes no filme depositado. O sistema baseia-se na obtenção da quantidade de energia absorvida pelas moléculas como consequência dos diferentes modos vibracionais dos grupos moleculares existentes no filme. Os filmes utilizados para tal fim, foram depositados em silício policristalino de alta resistividade, polido em ambas faces, para minimizar ao máximo o espalhamento do feixe de luz nas superfícies. Neste trabalho utilizou-se o espectrofotômetro por transformada de Fourier, FTS-40 da marca BIO-RAD existente no Laboratório de Microeletrônica da Universidade de São Paulo para a obtenção dos espectros de absorção na região de infravermelho. Estes espectros foram normalizados posteriormente pela espessura do respectivo filme e corrigida sua linha de base com a finalidade de 4.15 fazer uma comparação direta dos espectros das diferentes amostras. Este equipamento tem a capacidade de medir o espectro de absorção de uma amostra numa faixa de 400 cm-1 até 4000 cm-1 com uma resolução de até 2 cm-1. 4.6.- CARACTERIZAÇÃO ELÉTRICA DOS FILMES Para poder determinar os diferentes parâmetros elétricos dos filmes de SiO2 crescidos por PECVD a baixas temperaturas, nós fabricamos capacitores MOS de três áreas diferentes: 0,01 cm2 (grande), 0,0025 cm2 (médio) e 0,0009 cm2 (pequeno) utilizando nossa película de SiO2 como camada isolante de porta. A fabricação destes dispositivos possibilitou a extração das curvas de Corrente versus Tensão de porta (I-V), Capacitância versus Tensão de porta em alta frequência (C-V alta) e Capacitância versus Tensão de porta em baixa frequência (C-V baixa). Posteriormente, correlacionando estas curvas experimentais com os modelos teóricos básicos obtivemos os diferentes parâmetros elétricos, tais como: resistividade, permissividade dielétrica, tensão de ruptura, cargas fixas e estados na interface Si/SiO2. As lâminas utilizadas como substrato nestes capacitores foram de silício monocristalino de 1,5 polegadas de diâmetro e 350 µm aproximadamente de espessura. Utilizamos dois tipos de substratos: tipo p e tipo n, sendo que a resistividade da lâmina tipo p está dentro da faixa de 10 a 20 ohm-cm, enquanto que a da lâmina tipo n está na faixa de 30 a 60 ohm-cm. Fabricamos varias lâminas com capacitores MOS, mas fundamentalmente utilizamos três lâminas para a caracterização de nossa película. Estas lâminas foram designadas neste trabalho com os nomes de: p1, p2 e n1. 4.16 (a) (b) Fig. 4.7 - (a) Cela básica utilizada para a fabricação dos capacitores MOS nas lâminas de silício e (b) estrutura geométrica interna para cada tipo de capacitor. 4.17 Na figura 4.7 observamos a cela básica, que inclui os diferentes capacitores MOS, repetida ao longo de toda a lâmina. Esta cela é constituída por um capacitor grande (A=0,01 cm2) sem anel de guarda metálico, dois capacitores médios (A=0,0025 cm2) com e sem anel de guarda metálico, e dois capacitores pequenos (A=0,0009 cm2) com e sem anel de guarda metálico. O anel de guarda, metálico, diminui o efeito do aumento da área produzido pela inversão da superfície do semicondutor mesmo sem polarização devido à carga efetiva presente no óxido. Um processo de difusão tipo p+ (anel de guarda difundido) se realizou também aorededor de cada capacitor das lâminas tipo p com a finalidade de evitar o mesmo efeito mencionado anteriormente. Cada lâmina contém aproximadamente 160 celas básicas efetivas para realizar as medidas elétricas. Mostramos também, nesta figura um diagrama esquemático da estrutura geométrica interna dos capacitores MOS com e sem anel de guarda construídos sobre as lâminas de tipo p e n. A tabela 4.3 mostra as características de cada tipo de substrato e a contribuição esperada do volume do substrato à resistência série dos dispositivos. Esta contribuição da lâmina ao valor de resistência série do dispositivo foi calculada tanto para o valor máximo como para o valor mínimo da faixa de resistividade média de cada substrato. Tabela 4.3 - Características das lâminas de silício monocristalino utilizadas como substratos dos capacitores MOS. tipo substrato tipo p tipo n Resistividade(Ω Ω -cm) 10 20 30 60 concentração de dopantes 1.25x1015 6.25x1014 1.60x1014 8.01x1013 grande 0.01 cm2 35 70 105 210 Resistência Série (ohm) médio pequeno 0.0025 cm2 0.0009 cm2 140 388.9 280 777.8 420 1166.7 840 2333.3 A tabela 4.4 mostra o tipo de substrato utilizado para cada dispositivo, a espessura do SiO2 depositado por PECVD a baixa temperatura e a capacitância 4.18 de acumulação estimada utilizando o valor da permissividade dielétrica do SiO2 estequiométrico crescido termicamente (3,9). Tabela 4.4 - Tipo de substrato utilizado para cada dispositivo MOS, espessura do SiO2 depositado por PECVD e capacitância teórica esperada. Nome da tipo de espessura Capacitância lâmina substrato do SiO2 (Å) Teórica (pF) grande médio pequeno p1 p 2300 150,13 37,53 13,51 p2 p 220 1521,96 380,49 136,98 n1 n 310 1113,89 278,47 100,25 A tabela 4.5 apresenta as condições de deposição utilizadas para a fabricação do óxido de porta das lâminas p1, p2 e n1. Tabela 4.5 - Condições de deposição das películas de SiO2 utilizadas como isolante de porta nos capacitores MOS. NOME DA LÂMINA TEMPERATURA (oC) PRESSÃO DE DEPOSIÇÃO (mtorr) FLUXO DE SiH4 (sccm) DENSIDADE POTÊNCIA (mW/cm2) RELAÇÃO N2O/SiH4 TEMPO (min) P1 320 12 3 250 9 60 P2 280 26 3,2 250 20 5 N1 320 19 3,2 250 16 7 Cabe destacar que as condições de deposição para a fabricação do SiO2 de porta da primeira lâmina (p1) não foram as melhores encontradas; isto ocorreu porque no momento que fabricamos esta lâmina, nós estávamos ainda pesquisando as características físicas dos filmes. Já as lâminas p2 e n1 apresentam um óxido de porta com melhores características estruturais e composicionais. Fabricados estes capacitores, iniciamos as medidas de I-V, C-V em alta frequência e C-V em baixa frequência. Estas curvas nos permitiram posteriormente determinar os diferentes parâmetros elétricos de nosso material. 4.19 Aplicando tensões contínuas negativas ao dispositivo (para garantir que o capacitor esteja em acumulação) e medindo a corrente que passa pelo capacitor, podemos gerar uma curva da corrente versus a tensão aplicada na porta do capacitor (I-V). Baseados nesta curva e utilizando o método explicado na seção 3.3.1 logramos determinar a resistividade de nosso material. O equipamento que utilizamos para este efeito foi o HP4145B existente em nosso laboratório. Este equipamento tem a capacidade de aplicar tensões até um máximo de ±100 volts e medir corrente da ordem dos picoampères. A lâmina que utilizamos para o cálculo da resistividade foi a p1 por motivos que posteriormente explicaremos. Para a medida da curva C-V em alta frequência, nós utilizamos o equipamento HP4280 existente no Laboratório de Sistemas Integráveis. Este equipamento calcula a capacitância gerando uma tensão alterna de 30 milivolts de amplitude à frequência de 1 MHz sobreposta a uma rampa de tensão contínua programável e mede a capacitância paralela e a condutância paralela do dispositivo. Basicamente, o sistema mede a impedância do dispositivo (módulo e ângulo de fase) e calcula a partir deste dado a capacitância e a condutância paralela. A obtenção desta curva C-V em alta frequência permite a determinação de vários parâmetros elétricos, tais como: Resistência série, carga efetiva dentro do SiO2, permissividade dielétrica. Os cálculos para a obtenção destes parâmetros a partir da curva de C-V em alta frequência foram já descritos na seção 3.3.1. Para a medida da curva C-V em baixa frequência, nós utilizamos o equipamento HP4240 existente no Laboratório de Sistemas Integráveis. Este sistema possui uma fonte de tensão programável de ±100 V (com resolução de 100 mv) e mede correntes de até 10-15 A. A precisão do equipamento sobre toda a faixa de tensões é de 0,5%. O princípio básico deste equipamento para a medida da curva C-V em baixa frequência baseia-se na equação 3.1 mostrada no capítulo 3. Isto é possível porque a ativação da rampa da fonte de tensão e a medida da capacitância estão completamente sincronizados. Fazendo uso desta curva junto com a de C-V em alta frequência logra-se estimar os estados na interface Si/SiO2. 4.20 Tanto para a medida da curva de C-V em alta frequência como na de baixa frequência utilizamos os capacitores da lâmina p2 por motivos que explicaremos posteriormente. Finalmente, para a medição da tensão de ruptura utilizamos o traçador de curvas Tektronix 577 existente em nosso laboratório. Os dispositivos que utilizamos para esta medida foram os da lâmina p1. CAPÍTULO 5 RESULTADOS EXPERIMENTAIS E DISCUSSÕES 5.1.- INTRODUÇÃO Iniciamos este capítulo com a análise e discussão dos resultados obtidos das caracterizações físicas realizadas sobre nossas películas de SiO2. Estas caracterizações abarcaram, como mencionado no capítulo 4, medidas do índice de refração, taxa de deposição, estrutura e composição dos filmes depositados. Estas medidas nos permitiram posteriormente correlacionar os efeitos de cada um dos parâmetros de deposição sobre as características físicas do material e determinar o valor ótimo de cada um destes parâmetros para a obtenção de SiO2 com boas qualidades estruturais e ópticas. Desta maneira, mostramos que a técnica DPECVD pode ser exitosamente utilizada para produzir SiO2 altamente estequiométrico sem a incorporação apreciável de Si-OH e Si-H (nos limites de detecção da técnica de FTIR), se os parâmetros de deposição são controlados adequadamente. A seguir apresentamos os resultados obtidos das caracterizações elétricas realizadas sobre os capacitores MOS cuja fabricação foi detalhada no capítulo 4 (utilizando nossa película como camada isolante de porta). Resultados destas medidas nos permitiram concluir que nossos filmes apresentam valores ótimos de constante dielétrica, resistividade e tensão de ruptura, muito próximos dos valores do SiO2 crescido termicamente. Porém, pudemos também notar uma grande quantidade de carga efetiva dentro do óxido e uma alta densidade de armadilhas na interface Si/SiO2 que produzem uma tensão de banda plana muito elevada e consequentemente o efeito de inversão lateral nos capacitores MOS fabricados sobre lâminas de silício tipo p. 5.2 5.2.- RESULTADOS ESTRUTURAIS E COMPOSICIONAIS Como foi mencionado no capítulo anterior, séries de amostras foram crescidas variando essencialmente cinco parâmetros de deposição: a pressão do processo, o fluxo de silano, a temperatura do porta-substrato, a relação de fluxos N2O/SiH4 e a potência de rf. Tabela 5.1 - Valores do índice de refração e a taxa de deposição para as amostras crescidas com diferentes parâmetros de deposição. NOME PARÂMETRO VARIÁVEL ÍNDICE DE REFRAÇÃO (n)± ± 0,005 TAXA DE DEPOSIÇÃO (Å / min.) ±12% OX-17 OX-15 OX-16 OX-18 Ts = 230 oC Ts = 280 oC Ts = 320 oC Ts = 370 oC 1,483 1,480 1,471 1,429 47 37 34 30 OX-39 OX-40 OX-41 OX-42 OX-43 Pd = 16 mtorr Pd = 50 mtorr Pd = 75 mtorr Pd = 100 mtorr Pd = 150 mtorr 1,454 1,464 1,480 1,474 32 23 6 6 1 sccm sccm sccm sccm sccm sccm 1,482 1,504 1,540 1,560 1,580 1,622 45 80 143 207 233 437 mW/cm2 mW/cm2 mW/cm2 mW/cm2 1,530 1,490 1,475 1,472 31 33 34 37 1,472 1,450 1,454 1,431 1,431 1,468 37 42 32 38 38 19 OX-24 OX-22 OX-21 OX-20 OX-19 OX-23 F(SiH4) = 3 F(SiH4) = 5 F(SiH4) = 10 F(SiH4) = 15 F(SiH4) = 20 F(SiH4) = 40 OX-26 OX-25 OX-13 OX-27 RF = 50 RF = 100 RF = 150 RF = 250 OX-27 OX-28 OX-39 OX-48 OX-50 OX-51 (N2O/SiH4) (N2O/SiH4) (N2O/SiH4) (N2O/SiH4) (N2O/SiH4) (N2O/SiH4) = 4 = 9 = 13 = 16 = 20 = 60 Onde Ts = temperatura do substrato, Pd = pressão do processo, F(SiH4)= fluxo de silano, RF = densidade de potência de rf e (N2O/SiH4)= F(N2O)/F(SiH4). 5.3 Estas películas foram caracterizadas fisicamente valendo-nos das técnicas de: perfilometria para a obtenção da espessura, elipsometria para a determinação do índice de refração e da espessura e espectroscopia de infravermelho para a análise da estrutura e composição. Na tabela 5.1 mostramos os resultados do índice de refração e da taxa de deposição obtidos pelas técnicas de perfilometria e elipsometria para cada uma das amostras depositadas. Nesta tabela indicamos o nome designado a cada amostra, o valor do parâmetro de deposição que foi variado e os respectivos valores obtidos para o índice de refração e a taxa de deposição. 5.2.1.- Influência do fluxo de Silano Para a análise da influência do fluxo de silano nas características físicas de nossas películas utilizamos amostras depositadas à pressão mínima permitida pelo sistema, com temperaturas de porta-substratos de 280 oC, relação de fluxos N2O/SiH4 de 4, densidade de potência de rf de 250 mW/cm2 e fluxo de silano variado entre 3 e 40 sccm. Uma análise da influência do fluxo de silano para valores mais baixos não foi possível devido às limitações próprias do sistema utilizado (os controladores de fluxo de nosso reator de PECVD não possibilitam sua utilização para valores menores de 3 sccm). Além disto, análises da influência do fluxo de silano para valores maiores de 40 sccm já não foram realizados devido a que as propriedades composicionais das amostras crescidas com estes valores de fluxo, afastavam-se cada vez mais das características desejadas, perdendo-se portanto o interesse de realizar a análise das propriedades destas amostras. Na figura 5.1 observamos a influência bem marcada, do fluxo de silano no índice de refração. Para fluxos altos de silano obtemos um índice de refração de 1,63, tendendo ao valor correspondente ao nitreto de silício, enquanto que, para fluxos menores aproxima-se bem do valor do índice de refração do SiO2 estequiométrico crescido termicamente (n =1,46). 5.4 INDICE DE REFRAÇÃO (n) 1.64 1.62 1.60 1.58 1.56 1.54 1.52 Temperatura : 280 oC 1.50 Potência: 150 mW/cm2 Relação de N2O/SiH4: 4 1.48 (a) SiO2 térmico 1.46 0 10 20 30 40 FLUXO DE SILANO (sccm) Fig. 5.1 - Variação do índice de refração com o fluxo de silano. O fluxo de silano influi também grandemente na taxa deposição segundo o que podemos observar na figura 5.2. Para um fluxo de 3 sccm de silano, a taxa deposição é de 45 Å/min, enquanto que para um fluxo de 40 sccm, obtemos um TAXA DE DEPOSIÇÃO (Å/min) incremento da taxa de deposição até o valor de 437 Å/min. 500 400 300 200 Temperatura : 280 oC 100 Potência : 150 mW/cm2 Relação de N2O/SiH4 : 4 0 0 10 20 30 40 FLUXO DE SILANO (sccm) Fig. 5.2 - Variação da taxa deposição com o fluxo de silano. 5.5 Os resultados obtidos da variação do fluxo de silano sobre a taxa de deposição não são surpreendentes, já que é o silano o principal responsável pelo crescimento do filme. Relembrando a reação fundamental na formação de SiO2 a partir da mistura de N2O e SiH4 mostrado na equação 2.1: SiH4 + 2N2O → SiO2 +2H2 + 2N2 Podemos concluir que um aumento do fluxo de silano gerará um aumento das reações químicas dentro do sistema, e portanto, originará um incremento na taxa de deposição*. Uma análise dos espectros de infravermelho mostrados na figura 5.3, nos permite determinar um importante efeito da variação do fluxo de silano sobre as propriedades estruturais dos filmes. A amostra crescida com o fluxo menor só apresenta as bandas de vibração típicas das ligações Si-O (espectro de absorção no infravermelho muito parecido ao do SiO2 crescido termicamente), porém, as amostras crescidas com fluxos maiores apresentam também as bandas correspondentes às ligações Si-NH, Si-OH e Si-Hn. Para altos fluxos de silano o pico correspondente ao modo vibracional de stretching (~1060 cm-1) começa a se alargar e o ombro posicionado na região correspondente entre 1100 e 1200 cm-1 se faz menos definido. É muito interessante notar também que a banda vibracional do Si-NH decresce para valores muito altos do fluxo de silano, quase no mesmo momento que a vibração do Si-H em modo stretching começa a ser aparente. Para estes valores altos de fluxo de silano, os espectros de absorção na região de infravermelho são muito parecidos aos medidos em uma película de oxinitreto rico em silício. Estes resultados obtidos a partir dos espectros de infravermelho, nos ajudam a compreender melhor o comportamento que apresenta o índice de * O aumento quase linear da taxa de deposição ante o incremento do fluxo de silano mostra que praticamente todas as moléculas de silana que entram na região do plasma estão sendo aproveitados no processo de deposição. 5.6 refração ante a variação do fluxo de silano. Para fluxos baixos, os filmes depositados apresentam uma estrutura muito semelhante à do SiO2, e seu índice de refração, portanto, aproxima-se ao valor do SiO2 estequiométrico (1,46). Porém, para fluxos altos, incrementam-se as reações do silano com outros radicais, formando ligações não desejáveis (Si-H, Si-N, Si-NH) que ao serem incorporadas na película, modificam as características estruturais e ópticas do material. Então, um incremento do fluxo de silano, aumenta a incorporação do hidrogênio, silício e nitrogênio na estrutura física da película, produzindo assim um aumento do índice de refração. 3 ABSORBÂNCIA (u.a.) Si-O (Stretching) Si-O (bending) Si-O(Rocking) x7 2 Si-NH Si-H 3 sccm Si-OH 5 sccm 10 sccm 1 15 sccm 20 sccm 40 sccm Si-H 0 4000 3000 1000 NÚMERO DE ONDA (cm-1) Fig. 5.3 - Espectros de absorção no infravermelho para amostras depositadas à temperatura de 280 oC, potência de rf de 250 mW/cm2, relação de fluxos N2O/SiH4 de 4, e fluxo de silano variando entre 3 e 40 sccm. Notar que a região compreendida entre 2000 cm-1 a 4000 cm-1 foi amplificada em sete vezes com a finalidade de analisar melhor a incorporação do nitrogênio, hidrogênio e oxigênio na estrutura do filme. 5.7 5.2.2.- Influência da temperatura do porta-substrato Para a análise da influência da temperatura do porta-substrato sobre as características do material foram depositadas amostras a temperaturas variando entre 230 e 370 oC, fluxo de silano de 3 sccm, potência de rf de 150 mW/cm2, pressão do processo de 8 mtorr (mínima permitida pelo sistema para estas condições de deposição) , e relação de fluxo N2O/SiH4 de 4. O índice de refração diminui com o aumento da temperatura do substrato, tal como pode ser observado na figura 5.4. Para uma temperatura de 230 oC obtemos um índice de refração de 1,483, enquanto que para uma temperatura de ÍNDICE DE REFRAÇÃO (n) 370 oC, o índice de refração diminui a 1,429. 1.49 1.48 1.47 1.46 1.45 1.44 Pressão : 8 mtorr. Fluxo de SiH4 : 3 sccm. Potência : 150 mW/cm2. Relação de N2O/SiH4 : 4. 1.43 1.42 240 280 320 360 o TEMPERATURA DE PROCESSO ( C) Fig. 5.4 - Índice de refração dos filmes em função da temperatura do portasubstrato. No caso da taxa de deposição (mostrado na figura 5.5), Observamos também uma diminuição deste parâmetro ante o incremento da temperatura do porta-substrato. Para a temperatura mínima analisada a taxa de deposição foi de 5.8 47 Å/min, enquanto que para a temperatura mais alta, a taxa de deposição TAXA DE DEPOSIÇÃO (Å/min) decresceu a 30 Å/min. 50 Pressão : 8 mtorr. Fluxo de SiH4 : 3 sccm. 45 Potência : 150 mW/cm2. Relação de N2O/SiH4 : 4. 40 35 30 25 210 240 270 300 330 360 390 TEMPERATURA DE PROCESSO (oC) Fig. 5.5 - Taxa de deposição das películas em função da temperatura do porta-substrato. A diminuição do índice de refração ante o aumento da temperatura poderia ser atribuida tanto a uma melhor estequiometria da película como a uma diminuição da densidade dos filmes depositados∗ . Por outro lado, como a taxa de deposição diminui, deveríamos esperar uma maior densificação da película e portanto um aumento do índice de refração. Estes resultados, então, nos permitem predizer que a diminuição do índice de refração não é devido à densificação da película, mas sim às mudanças estruturais produzidas dentro material. A figura 5.6 apresenta os espectros de absorção no infravermelho em função da variação da temperatura do porta-substrato. ∗ O fundamento desta afirmação encontra-se na definição do índice de refração mencionado na seção 3.2.2 do capítulo 3. 5.9 ABSORBÂNCIA (u.a.) 5 x 40 Si-NH 4 Si-OH 370 oC 3 320 oC 2 280 oC 1 230 oC 4000 3500 3000 2500 2000 1000 -1 NÚMERO DE ONDA (cm ) Fig. 5.6 - Espectros de absorção no infravermelho em função da temperatura de deposição para as amostras crescidas à potência de rf de 150 mW/cm2, pressão de deposição de 8 mtorr, fluxo de silano de 3 sccm e relação de fluxos N2O/SiH4 de 4. Notar que a região compreendida entre 2500 cm-1 a 4000 cm-1 foi amplificada em 40 vezes com a finalidade de analisar melhor a incorporação do nitrogênio, hidrogênio e oxigênio na estrutura do filme. Podemos observar que o modo vibracional de stretching correspondente à ligação do Si-O define-se melhor para altas temperaturas. Observamos também, que a incorporação do nitrogênio na forma de Si-NH (banda localizada em 3400 cm-1) incrementa a medida que aumentamos a temperatura de processamento. A temperaturas baixas apresenta-se uma incorporação apreciável das ligações SiOH na estrutura do filme, que diminui com o incremento da temperatura de processaento. A incorporação dos radicais de Si-OH na estrutura do filme é observada no espectro de infravermelho como uma grande banda estendida entre 3350 e 3650 cm-1. 5.10 5.2.3.- Influência da densidade de potência de rf Para o estudo da influência da densidade potência de rf sobre as propriedades das películas utilizamos amostras crescidas à pressão de deposição de 8 mtorr, temperatura do substrato de 320 oC, fluxo de silano de 3 sccm, relação de fluxos N2O/SiH4 de 4, e densidade de potência de rf variando entre 50 ÍNDICE DE REFRAÇÃO (n) e 250 mW/cm2. 1.53 Pressão : 8 mtorr. Temperatura : 320 oC. Fluxo de SiH4 : 3 sccm. 1.52 1.51 Relação de N2O/SiH4 : 4. 1.50 1.49 1.48 1.47 50 100 150 200 250 DENSIDADE DE POTÊNCIA (mW/cm2) Fig. 5.7 - Influência da densidade de potência de rf sobre o índice de refração. A figura 5.7 mostra o índice de refração das películas em função da densidade potência de rf utilizada durante o processo de deposição. Observa-se que o índice de refração diminui ao incrementar a densidade de potência de rf. Assim, para a densidade de potência de 50 mW/cm2 o valor do índice de refração é de 1,530, enquanto que para a densidade de potência máxima utilizada (250 mW/cm2) o valor do índice de refração cai a 1,472. O aumento da densidade de potência de rf aumenta muito levemente a taxa de deposição. Para 50 mW/cm2 a taxa de deposição é de 31 Å/min., entanto que 5.11 para 250 mW/cm2 de densidade de potência a taxa de deposição incrementa a 37 TAXA DE DEPOSIÇÃO (Å/min) Å/min, como podemos observar na figura 5.8. 50 40 30 20 10 Pressão : 8 mtorr. Temperatura : 320 oC. Fluxo de SiH4 : 3 sccm. Relação de N2O/SiH4 : 4. 0 50 100 150 200 250 DENSIDADE DE POTÊNCIA (mW/cm2) Fig. 5.8 - Influência da densidade de potência de rf sobre a taxa de deposição. Como o índice de refração diminui ao passo que a taxa de deposição aumenta levemente, nós podemos atribuir isto a uma diminuição na densidade do filme. A análise de IR ajudará a esclarecer esta questão. A análise dos espectros de absorção no infravermelho para as varias potências de rf permitiu determinar a influência deste parâmetro sobre a estrutura e composição do material. A figura 5.9 mostra os espectros no infravermelho em função da variação da densidade de potência de rf. 5.12 ABSORBÂNCIA (u.a.) 5 Si-O (stretching) 4 Si-O (bending) Si-O (Rocking) x10 Si-NH 3 250 mW/cm2 150 mW/cm2 2 100 mW/cm2 1 50 mW/cm2 0 4000 3000 2000 1000 -1 NÚMERO DE ONDA (cm ) Fig. 5.9 - Espectros de absorção no infravermelho das amostras depositadas à pressão de processo de 8 mtorr, temperatura dos substratos de 320 oC, fluxo de silano de 3 sccm, relação de fluxos N2O/SiH4 de 4 em função da potência de rf variando entre 50 e 250 mW/cm2. Notar que a região compreendida entre 2000 cm-1 a 4000 cm-1 foi amplificada em 10 vezes com a finalidade de analisar melhor a incorporação do Nitrogênio, Hidrogênio e Oxigênio na estrutura do filme. Podemos observar que a banda centrada em 1060 cm-1, correspondente ao modo vibracional de stretching do Si-O, sofre um alargamento ao diminuir a densidade de potência de rf devido ao efeito dos modos vibracionais de stretching do Si-N em 830 cm-1, bending do Si-H em 870 cm-1 e bending do SiNH em 1200 cm-1. Também podemos observar que a incorporação de nitrogênio na forma de Si-NH (banda centrada em 3400 cm-1) incrementa monotonicamente quando a densidade de potência de rf decresce. O aumento da energia subministrada pelo gerador de potência de rf, incrementa a ionização e geração de radicais excitados que participam no processo de deposição do material. O SiH4, utilizado no processo, facilmente é quebrado a potências baixas, enquanto 5.13 que N2O, para ser ionizado, precisa de potências maiores [55]. A potências baixas os radicais ativos de silana, devido à pouca quantidade de radicais de oxigênio, recombinam-se com radicais de silana e nitrogênio, formando ligações não desejáveis que modificam as características estruturais e ópticas do material, obtendo, por conseguinte, índices de refração altos. A medida que aumentamos a potência, incrementamos a ionização das moléculas de N2O com relação às moléculas de SiH4, originando neste sentido um aumento na taxa de deposição. Potências maiores aumentam assim a geração de radicais ativos de oxigênio que ao se recombinar com o silício melhoram a estrutura, composição e estequiometria do filme, levando à obtenção de índices de refração próximos de 1,46. Esta influência da densidade de potência de rf nas propriedades estruturais dos filmes satura para valores altos da densidade de potência de rf, já que o espectro do filme depositado a 250 mW/cm2 é idêntico ao espectro depositado a 150 mW/cm2. Chegamos à mesma conclusão observando os valores dos índices de refração das amostras depositadas variando-se a densidade de potência de rf. Este efeito de saturação pode ser devido a que para potências de rf maiores que 150 mW/cm2 a geração de radicais de oxigênio já é suficiente para consumir todas as moléculas de silana, de tal maneira que não existem mais radicais de silana para se recombinar com outros radicais. 5.2.4.- Influência da relação de fluxos N2O/SiH4 Para a análise da influência da relação de fluxos de N2O/SiH4 sobre as características do material, foram depositadas amostras à temperatura de portasubstrato de 320 oC, fluxo de silano de 3 sccm, densidade de potência de rf de 250 mW/cm2, mínima pressão de deposição permitida pelo sistema para essas condições e relação de fluxos N2O/SiH4 variando entre 4 e 60. Como já mencionamos anteriormente o silano quebra mais facilmente que o N2O [55], de modo que para obter filmes aproximadamente estequiométricos, só valores altos da relação de fluxos entre o N2O e o SiH4 devem de ser utilizados 5.14 já que estávamos interessados em obter filmes com a melhor estequiometria possível. A figura 5.10 mostra a influência da relação de fluxos N2O/SiH4 sobre o índice de refração das amostras depositadas. Como podemos observar, para a relação de fluxos N2O/SiH4 de 4, o valor do índice de refração é de 1,472. Aumentos sucessivos deste parâmetro de estudo até 20, originam uma queda no valor do índice de refração a 1,431. Porém, incrementando mais o parâmetro de ÍNDICE DE REFRAÇÃO (n) estudo a 60, o valor do índice de refração aumenta até 1,468. 1.48 Temperatura : 320 oC. Fluxo de SiH4 : 3 sccm. 1.47 Potência : 250 mW/cm2. 1.46 1.45 1.44 1.43 0 10 20 30 40 50 60 RELAÇÃO DE FLUXOS N2O/SiH4 Fig. 5.10 - Índice de refração em função da relação de fluxos N2O/SiH4. A influência da relação de fluxos N2O/SiH4 sobre a taxa de deposição pode ser observado na figura 5.11. Para relações de fluxos N2O/SiH4 baixos, a taxa de deposição é de 37 Å/min. Este valor permanece quase constante aumentando a relação de fluxos até 20. Porém, um aumento drástico da relação de fluxos N2O/SiH4 para 60 origina uma diminuição da taxa de deposição para 19 Å/min. 5.15 Analisando a faixa da relação de fluxos N2O/SiH4 compreendida entre 4 e 20 observamos claramente uma diminuição do índice de refração a medida que aumentamos a relação. Isto pode ser devido a uma diminuição na densidade do filme ou a uma melhora estequiométrica. Porém, analisando a influência da relação sobre a taxa de deposição, a qual permanece quase constante dentro da faixa de estudo, concluímos que o decréscimo do valor do índice de refração se deve a um aumento na estequiometria mais que a mudanças morfológicas. O caso particular apresentado na relação de fluxos N2O/SiH4 de 60 pode ser devido a que para esse valor, o aumento da pressão de deposição começa a ser significativo de tal maneira de que a potência efetiva por molécula se reduz originando uma diminuição das quebras das moléculas de óxido nitroso. Uma TAXA DE DEPOSIÇÃO (Å/min) análise dos espectros de infravermelho permitirá reforçar nossa conclusão. 50 40 30 20 10 0 Temperatura : 320 oC. Fluxo de SiH4 : 3 sccm. Potência : 250 mW/cm2 0 10 20 30 40 50 60 RELAÇÃO DE FLUXOS N2O/SiH4 Fig. 5.11 - Taxa de deposição em função da relação de fluxos N2O/SiH4. A figura 5.12 mostra os espectros de absorção na região de infravermelho em função da variação da relação de fluxos N2O/SiH4. Observamos que a medida que aumentamos a relação de fluxos até 20, produzimos um deslocamento da 5.16 banda de absorção do Si-O no modo vibracional de stretching em direção à posição correspondente do SiO2 crescido termicamente. Além disto, podemos observar que o pico de absorção do modo vibracional de stretching do Si-O fora de fase (região compreendida entre 1100 e 1200 cm-1) apresenta uma melhor definição. ABSORBÂNCIA ( u.a. ) 1.6 Razão N2 O/SiH4 1.4 Si-O ( Stretching ) 1.2 Si-O (s) número onda 4 9 13 16 20 óxido térm. 1059,20 1062,03 1065,66 1070,21 1069,68 1081,99 1.0 óxido térmico 0.8 20 0.6 16 0.4 Si-O ( Bending ) 13 9 0.2 4 0.0 1400 1200 1000 800 600 NÚMERO DE ONDA ( cm-1 ) Fig. 5.12 - Espectros de absorção no infravermelho em função da relação de fluxos N2O/SiH4, para amostras depositadas à temperatura de substrato de 320 oC, fluxo de silano de 3,2, densidade de potência de rf de 250 mW/cm2 e a mínima pressão de deposição permitida pelo sistema para essas condições de processo. O deslocamento dos picos de stretching das relações compreendidas entre 4 e 20 (figura 5.13), aproximando-se do valor correspondente ao SiO2 crescido termicamente, está relacionado a uma melhor estequiometria e a um ângulo de ligação Si-O-Si mais fechado conforme o mencionado no capítulo 3. Da mesma forma, o deslocamento do pico de stretching da relação de fluxos N2O/SiH4 de 60, afastando-se do valor correspondente ao pico do SiO2 térmico, pode significar uma diminuição da estequiometria do filme devido à redução significativa dos radicais de oxigênio necessários para a formação do SiO2. Esta 5.17 redução dos radicais de oxigênio se deve a que a potência efetiva por molécula é FREQUÊNCIA STRETCHING-1)(cm cada vez menor a medida que incrementamos a relação N2O/SiH4. 1076 SiO2 crescido termicamente 1074 1072 1070 1068 1066 1064 1062 1060 1058 0 10 20 30 40 50 60 RELAÇÃO DE FLUXOS N2O/SiH4 Fig. 5.13 - Valor máximo do modo vibracional de stretching da ligação SiO em função da relação de fluxos N2O/SiH4. 5.2.5.- Influência da pressão de deposição Para o estudo da influência da pressão de processo nas propriedades dos filmes foram depositadas amostras a uma temperatura de substrato de 320 oC, fluxo de silano de 3,2 sccm, densidade de potência de rf de 250 mW/cm2, relação de fluxos N2O/SiH4 de 13 e pressão de deposição variando entre 16 e 150 mtorr. A pressão de 16 mtorr utilizada na primeira amostra deste conjunto foi a mínima permitida pelo sistema para estas condições de processamento. A figura 5.14 mostra que a influência da pressão de deposição sobre o índice de refração dos filmes é pouco apreciável e que não apresenta um comportamento sistemático. Para baixas pressões de deposição obtivemos um índice de refração de 1,454. À medida que aumentamos a pressão o índice de 5.18 refração mostrou uma tendência a aumentar, chegando a um valor máximo de 1,480 para a pressão de 75 mtorr. Porém, aumentando mais ainda a pressão de processo, observamos uma queda do índice de refração até 1,474 para a pressão de 100 mtorr. Não foi possível medir o índice de refração da amostra OX-43 depositada a 150 mtorr porque obtivemos o filme com uma espessura muito fina que não permitiu ao elipsômetro fazer uma medida correta (espessura menor ao ÍNDICE DE REFRAÇÃO (n) limite permitido pelo equipamento). Temperatura : 320 oC. Potência : 250 mW/cm2. Fluxo de SiH4 : 3,2 sccm. 1.48 Relação de N2O/SiH4 : 13. 1.47 1.46 1.45 0 20 40 60 80 100 PRESSÃO DE PROCESSO (mtorr) Fig. 5.14 - Índice de refração em função da pressão de deposição. Assim, como pode ser observado na figura 5.15, a pressão de processo afeta fundamentalmente a taxa de deposição. Para pressões baixas de processo a taxa de deposição chega a 32 Å/min, entanto que para pressões altas de deposição ésta diminui até 1 Å/min. Isto está relacionado com um aumento das reações em fase gasosa, já explicados no capítulo 2, devido à diminuição do livre caminho médio das moléculas participantes no processo de deposição. Este incremento das reações em fase gasosa foi evidenciado pela formação de grande quantidade de partículas sólidas na câmara durante o processo de deposição. TAXA DE DEPOSIÇÃO (Å/min) 5.19 35 Temperatura : 320 oC. Potência : 250 mW/cm2 Fluxo de SiH4 : 3,2 sccm. 30 25 Relação de N2O/SiH4 : 13. 20 15 10 5 0 0 20 40 60 80 100 120 140 160 PRESSÃO DE PROCESSO (mtorr) Fig. 5.15 - Taxa de deposição em função da pressão de processo. ABSORBÂNCIA (u.a.) 1.2 1.0 0.8 0.6 150 mtorr. 100 mtorr. 75 mtorr. 0.4 50 mtorr. 0.2 16 mtorr. 0.0 2000 1500 1000 500 PRESSÃO DE PROCESSO (mtorr.) Fig. 5.16 - Espectros de absorção no infravermelho em função da pressão de deposição para amostras depositadas a uma temperatura de substrato de 320 oC, fluxo de silano de 3,2 sccm, densidade de potência de rf de 250 mW/cm2, relação de fluxo N2O/SiH4 de 13. 5.20 A análise de infravermelho das amostras crescidas com diferente pressão de deposição não permitiu identificar nenhuma variação estrutural ou composicional dos filmes, tal como pode ser apreciado na figura 5.16. 5.2.6.- Discussão dos resultados físicos Todos os resultados obtidos através das caracterizações estruturais e composicionais de nossas películas de SiO2 foram analisadas cuidadosamente permitindo-nos montar um modelo simplificado que explica as reações químicas envolvidas no processo de deposição. Este modelo pode ser dividido em três passos: 1.- É sabido que [55] a densidade de potência de rf decompõe mais facilmente as moléculas de silana que as do N2O. Assim, a diminuição da densidade da potência de rf decresce a concentração de radicais de N2O ([N2O]*) sem afetar apreciavelmente a concentração de radicais de SiH4 ([SiH4]*). Deste modo, ao não existir suficiente quantidade de radicais de oxigênio, os radicais de silana reagem entre eles e com o hidrogênio e o nitrogênio, aumentando a incorporação de Si-Si, Si-NH e Si-H na composição do filme a medida que diminuímos a densidade de potência de rf. 2.- Os radicais, resultantes da decomposição da molécula de silana, reagem preferencialmente com os radicais contendo oxigênio, tal como foi concluído da análise dos resultados do fluxo de silano e da relação de fluxos N2O/SiH4. O aumento do fluxo de silano incrementa a concentração de radicais de silana dentro do plasma, enquanto que para baixos fluxos de silano e alta relação de N2O/SiH4 a concentração de radicais de silana diminui o suficiente para garantir que não existam reações entre eles ou com o nitrogênio, resultando na formação de filmes com excelentes estequiometrias 5.21 comparáveis com as dos filmes de SiO2 crescidos termicamente. Por outro lado, aumentando o fluxo de silano e/ou diminuindo a relação N2O/SiH4 incrementa-se a incorporação de Si-NH e Si-H, diminuindo a estequiometria do filme. 3.- O nitrogênio, o hidrogênio e o excesso de silicio se incorporarão na estrutura composicional do filme somente quando existirem radicais de silana excedentes, depois de que todos os radicais de oxigênio tenham sido consumidos pela reação. Nesta forma existirá uma densidade de potência limite que produz uma quantidade de radicais de oxigênio suficiente para consumir todos os radicais de silano, resultando em filmes com boa estequiometria. Isto foi exatamente o que ocorreu para filmes depositados com densidades de potência acima de 150 mW/cm2. Os resultados mostraram uma saturação no índice de refração e nas intensidades das ligações químicas detectadas por FTIR. O modelo proposto nos permite concluir que para obter filmes de SiO2 altamente estequiométricos precisamos de alta relação de fluxos N2O/SiH4, baixos fluxos de SiH4 e relativamente altos valores de densidade de potência de rf. Os resultados obtidos mostram também que uma temperatura próxima de 320 oC é recomendável para se obter filmes com alta estequiometria e que pressões de deposição menores que 20 mtorr devem ser utilizadas para prevenir as reações em fase gasosa. A técnica de DPECVD pode ser assim, utilizada exitosamente para produzir filmes de SiO2 com excelentes propriedades estruturais e composicionais. Uma vez terminadas as análises e discussões dos resultados obtidos das propriedades físicas de nossas películas em função da influência dos cinco parâmetros variáveis de deposição, demos por concluída a primeira parte de 5.22 nosso trabalho, mostrando-nos satisfeitos com os resultados alcançados. A partir daí começamos o estudo e análise das características elétricas de nossas películas de SiO2. 5.3.- RESULTADOS ELÉTRICOS Tal como foi mencionado no capítulo 4, fabricamos capacitores MOS de três áreas diferentes sobre lâminas de silício do tipo p e n com a finalidade de obter as diferentes características elétricas de nosso material, tais como: resistividade, permissividade dielétrica, tensão de ruptura, carga efetiva dentro do SiO2 e armadilhas na interface Si/SiO2. A estrutura e composição dos filmes de SiO2, utilizados como isolante de porta nos capacitores MOS, foram caracterizados previamente à fabricação dos dispositivos. A tabela 5.2 apresenta os resultados obtidos dos valores do índice de refração e da taxa de deposição destas películas. Tabela 5.2 - Índice de refração e taxa de deposição do SiO2 utilizado como isolante de porta nas estruturas MOS das lâminas p1, p2 e n1. NOME DA LÂMINA ESPESSURA (Å) ÍNDICE DE REFRAÇÃO (n)± ± 0,005 TAXA DE DEPOSIÇÃO (Å/min)± ± 12% % p1 2300 1,45 38 p2 220 1,44 44 n1 310 1,43 44 Três lâminas foram as utilizadas na caracterização elétrica do material designadas com os nomes de p1, p2 e n1. A medida da espessura do filme de SiO2 usada na lâmina p1 foi realizada com a técnica de perfilometria e verificada com a técnica de elipsometria. Já as espessuras do SiO2 utilizadas nas outras lâminas (p2 e n1) só foram medidas com a técnica de elipsometria por ser tão finas que impediam a realização de uma medida confiável no perfilômetro (O erro da medição com esta técnica para as espessuras destas lâminas é muito alto). 5.23 Para a determinação das propriedades elétricas de nosso material era preciso realizar medidas das curvas I-V e C-V em alta e baixa frequência nos capacitores MOS fabricados, correlacionando-os posteriormente com os modelos teóricos já explicados no capítulo 3. Para a medição da curva I-V destes capacitores utilizamos o equipamento HP4145B existente em nosso laboratório. Com esta curva e utilizando o método explicado na seção 3.2.1 do capítulo 3, nós logramos obter o valor promédio da resistividade de nosso material. Era muito aconselhável fabricar capacitores com filmes de SiO2 de espessuras finas (< 400 Å) para uma melhor determinação dos parâmetros elétricos destes dispositivos∗; porém, o fato de nosso sistema de PECVD possuir o porta-substrato com a face de deposição voltada para cima poderia originar a incorporação de partículas indesejáveis sobre a superfície do substrato de silício no momento de introduzir a lâmina ao reator, possibilitando a formação de defeitos e buracos durante o crescimento do material ("pinholes") e produzindo problemas tais como correntes de fuga altas ou até curtos de tensão se a espessura do filme for muito fina (da ordem do tamanho destas partículas). Posteriormente, fabricadas as lâminas p2 e n1 (que possuíam filmes finos de SiO2), as medidas realizadas sobre elas, mostraram poucos capacitores com estes problemas. Foi possível, então, fazer medidas confiáveis sobre a grande maioria dos dispositivos MOS testados. Os primeiros capacitores utilizados para o cálculo da resistividade foram os da lâmina p1, a mesma que apresentava uma camada de SiO2 grossa. Na tabela 5.3 mostramos os valores típicos obtidos para a resistência e a resistividade do filme de SiO2 utilizado nesta lâmina. Foram aplicadas tensões negativas à porta dos capacitores (levando-os à região de acumulação) com a finalidade de evitar a influência da região de depleção no cálculo da resistividade. ∗ Explicaremos posteriormente esta afirmação. 5.24 Tabela 5.3 - Resistividade calculada do SiO2 da lâmina p1 NOME NOME DA LÂMINA RESISTÊNCIA (x 1012 ohm) RESISTIVIDADE (x 1014 ohm-cm) p1p1 p1 5,32 2,08 p1p2 p1 3,86 1,51 p1p3 p1 3,14 1,23 p1p4 p1 3,68 1,44 p1p5 p1 5,52 2,16 p1p6 p1 3,42 1,34 4,16 1,63 1,01 0.39 MÉDIA DESVIO PADRÃO Tal como podemos apreciar nesta tabela, a resistividade média de nossa película de SiO2 está em torno de 1,6 x 1014 ohm-cm, valor muito aceitável para este tipo de material. Este resultado foi muito alentador pois significou um indício de que era possível a obtenção da curva de C-V em baixa frequência nestes capacitores∗. Posteriormente, foram realizadas também medidas de I-V nos capacitores pequenos da lâmina p2 obtendo um valor promédio de resistividade de 6 x 1014 ohm-cm ± 20%. Se considerarmos um erro na medição da espessura de ±40Å, os resultados para esta lâmina, mesmo com a incerteza em relação à medida da espessura do SiO2, mostram um valor da resistividade ainda maior que o obtido para a lâmina p1. A figura 5.17 mostra uma curva típica da medida de I-V de um capacitor pequeno da lâmina p1 e os pontos específicos que foram utilizados para o cálculo da resistividade. A reta de 45 graus incluída neste mesmo gráfico foi colocada para mostrar a região onde a amostra apresenta um comportamento resistivo. Foi justamente esta região a que utilizamos para calcular o valor da resistividade. Podemos notar também que para tensões mais elevadas a curva apresenta um ∗ Os problemas fundamentais que impedem a obtenção da curva C-V em baixa frequência são as correntes de fugas altas e as baixas resistividades que podem apresentar os capacitores MOS. 5.25 comportamento quadrático compatível com a injeção de portadores através da camada de óxido. 1015 -13 CORRENTE (x 10 A) 1000 1014 v=40,5 i=72 1013 100 v=28,8 i=50 Região de injeção 1012 Região Ohmica 1011 100 10 10 TENSÃO (volts) Fig. 5.17 - Curvas de corrente e resistividade de um capacitor pequeno da lâmina p1 em função da tensão de porta. Os valores da tensão e da corrente foram invertidos de sinal com a finalidade de poder mostrar o gráfico logaritmicamente. Neste mesmo gráfico incluímos a curva de resistividade calculada pela fórmula: ρ = V / I × A / dox onde: ρ = resistividade V= tensão aplicada à porta do capacitor I = Corrente que passa pelo capacitor A = Área do capacitor dox = espessura da camada de SiO2 (5.1) 5.26 Estes resultados demonstram que nossas películas de SiO2 depositado por PECVD apresentam um valor ótimo de resistividade, muito próximo do valor do SiO2 crescido termicamente. Tanto para a medida da curva C-V em alta frequência como na de baixa frequência utilizamos os capacitores das três lâminas. A utilização das lâminas p2 e n1 (ambas, formadas por uma película fina de SiO2) na medição das características elétricas do dispositivo tem grande vantagem porque permite calcular as características elétricas do material com maior precisão, pois neste caso, a diferença entre o valor da capacitância em acumulação e o valor da capacitância em inversão é maior, aumentando com isto a resolução da faixa do estudo* para a obtenção dos diferentes parâmetros elétricos. Outro motivo para a utilização destas lâminas é que o efeito da carga efetiva na tensão de banda plana dos dispositivos é menor para camadas finas de SiO2. A figura 5.18 apresenta as curvas típicas de C-V em alta frequência de um capacitor grande da lâmina p1 e de um capacitor médio da lâmina p2. Tal como podemos apreciar nestas figuras, existe um deslocamento da tensão de banda plana (vfb) em ambas as lâminas para valores negativos de tensão de porta, sendo mais notório este deslocamento na lâmina p1. Este resultado é devido fundamentalmente à existência de uma grande quantidade de carga efetiva dentro do SiO2. A influência (apreciavelmente maior) da grande quantidade de carga efetiva na tensão de banda plana da lâmina p1 deve-se fundamentalmente a que ésta lâmina apresenta a camada de SiO2 mais grossa, sendo que a espessura desta camada influi significativamente no vfb tal como podemos apreciar na seguinte fórmula: v fb = φ ms − Qeff × d ox ε ox × A Onde: vfb = Tensão de banda plana *Região compreendida entre a depleção e inversão fraca do capacitor MOS. 5.27 A = Área do capacitor dox = Espessura da camada de SiO2 Assim, enquanto maior a espessura da camada de SiO2, maior será a influência da carga efetiva na tensão de banda plana do dispositivo. CAPACITÂNCIA ( pF ) 160 Tensão de banda plana (vfb) 140 120 100 80 -100 -80 -60 -40 -20 0 20 CAPÂCITANCIA ( pF ) TENSÃO DE PORTA ( volts ) (a) 400 Tensão de banda plana (vfb) 300 200 100 -8 -6 -4 -2 0 TENSÃO DE PORTA (volts.) 2 4 (b) Fig. 5.18 - Curva típica de C-V em alta frequência de (a) um capacitor grande da lâmina p1 e (b) um capacitor médio da lâmina p2. Notamos na região de inversão forte o aumento da capacitância total devido à inversão lateral causado pela grande quantidade de carga efetiva dentro do SiO2. Observamos também neste mesmo diagrama um incremento da capacitância na região de inversão forte. Este efeito singular observado em nossos capacitores MOS conhece-se com o nome de inversão lateral [43]. A curva C-V em alta frequência característica de um capacitor MOS com substrato 5.28 tipo p é afetado quando a superfície do silício ao redor da porta está invertida pela carga dentro do SiO2. A carga do SiO2 não afeta a capacitância em acumulação e depleção. Porém, quando a carga dentro do SiO2 inverte a superfície ao redor da porta, em lugar de saturar no valor de Cmin, a capacitância aumenta a um valor maior que o esperado. A geração de elétrons (portadores minoritários) na camada de inversão não pode seguir um sinal de frequência alta (1 MHz). Porém, como a camada de inversão é um condutor, um fluxo de corrente alternada se produz através da camada de inversão próxima à porta, passando à camada de depleção, atravessando o volume de silício e saindo pelo contato existente na costa da lâmina. Este fluxo de corrente alternada é mostrado na figura 5.19. Iac porta SiO2 camada de inversão camada de depleção semicondutor tipo p Fluxo de corrente ac Fig. 5.19 - Diagrama da seção transversal de um capacitor MOS mostrando o fluxo de corrente alternada devido à inversão lateral [43]. Como resultado do espalhamento da corrente alternada ao redor da porta, a corrente alternada flui em uma área muito maior que a área da porta. Portanto gera-se uma capacitância adicional com este aumento de área efetiva que se soma à capacitância de inversão já existente, produzindo o efeito chamado de inversão lateral. 5.29 A figura 5.20 apresenta uma curva típica de C-V em alta frequência de um capacitor médio da lâmina n1. Tal como podemos apreciar, esta curva já não apresenta a inversão lateral presente nas lâminas p1 e p2, mostrando desta maneira que a carga efetiva dentro do SiO2 depositado por PECVD é positiva. Foram realizadas também medidas de curvas de C-V em alta frequência nas lâminas p1 e p2 polarizando o anel de guarda metálico negativamente. Os resultados mostraram que a inversão lateral produzida nestes capacitores diminuía a medida que aumentávamos o módulo da tensão aplicada ao anel de guarda metálico. CAPACITÂNCIA (pF) 250 CAP. ALTA FREQUÊNCIA - lâmina N1 - capacitor médio 200 150 100 50 0 -8 -6 -4 -2 0 TENSÃO (volts) Fig. 5.20 - Curva típica de C-V em alta frequência de um capacitor médio da lâmina n1. A tabela 5.4 mostra os valores médios da densidade de carga efetiva dentro do SiO2 calculados a partir da curva de C-V em alta frequência de vários capacitores (grandes, médios e pequenos) das lâminas p1, p2 e n1 e da fórmula 3.3 do capítulo 3. Nesta mesma tabela incluímos os valores médios da tensão de banda plana dos diversos capacitores das três lâminas obtidos também da curva de C-V em alta frequência e da fórmula 3.4 do capítulo 3. Como já 5.30 mencionamos, nosso filme de SiO2 apresenta uma alta quantidade de carga efetiva originando consequentemente o aumento da tensão de banda plana e o efeito de inversão lateral nos capacitores MOS das lâminas de substrato de tipo p (p1 e p2). Tabela 5.4 - Carga efetiva dentro do SiO2 e tensão de banda plana das lâminas p1, p2 e n1. NOME DA LÂMINA TAMANHO DO CAPACITOR DENSIDADE DE CARGA EFETIVA (x 1012 cm-1) TENSÃO DE BANDA PLANA (volts) p1 GRANDE 6,17 -66,4 p1 MÉDIO 7,62 -81,73 p1 PEQUENO 8,08 -86,63 p2 GRANDE 1,2 -2,02 p2 MÉDIO 1,3 -2,2 p2 PEQUENO 2,68 3,37 N1 GRANDE 2,54 -3,77 N1 MÉDIO 2,54 -5,22 N1 PEQUENO 3,74 -6,11 Para o cálculo da resistência série e permissividade dielétrica do SiO2 depositado por PECVD utilizamos os capacitores médios da lâmina p2. A tabela 5.5 mostra os resultados de resistência série e permissividade dielétrica calculados a partir das curvas experimentais de C-V em alta frequência de alguns dos capacitores da lâmina p2 e das equações 3.6 e 3.8 do capítulo 3. Tal como podemos apreciar nesta tabela, o valor da resistência série dos capacitores é practicamente da mesma ordem que a contribuição do substrato de silício no valor da resistividade total do capacitor (Rs = 90,5 ohm). Observamos também que nosso material apresenta uma permissividade promédio de εox = 3,92 muito próxima do valor típico do SiO2 crescido termicamente (εox = 3,9). 5.31 Tabela 5.5 - Resultados da resistência série e permissividade dielétrica para os capacitores médios da lâmina p2. NOME DO CAPACITOR Gmedida (x 10-3 S) Cmedida (pF) RESISTÊNCIA SÉRIE (ohm) CAPACITÂNCIA CORRIGIDA (pF) PERMISSIVIDADE DIELÉTRICA p2ma 0,66 368 114,15 398 3,96 p2mb 0,46 382 77,06 396 3,93 p2mc 0,45 386 73,96 399 3,97 p2md 0,46 387 75,07 401 3,99 p2me 0,51 373 88,79 390 3,88 p2mf 0,5 371 87,88 388 3,85 p2mg 0,65 361 116,69 391 3,88 MÉDIA 0,53 375,43 90,51 394,71 3,92 DESV. 0.09 9,81 18,02 5,02 0,05 STANDAR Onde: Gmedida = Condutância medida no capacitor na região de acumulação, Cmedida = Capacitância medida no capacitor na região de acumulação. CAPACITÂNCIA (pF) 400 Capacitância corrigida 300 Capacitância medida 200 100 -8 -6 -4 -2 0 2 4 TENSÃO DE PORTA (volts) Fig. 5.21 - Curva C-V em alta frequência típica para um capacitor médio da lâmina p2 e sua correspondente curva C-V corrigida pelo valor da resistência série. A figura 5.21 apresenta o gráfico de uma curva típica de C-V em alta frequência e sua correspondente curva de C-V corrigida a partir do valor da 5.32 resistência série e a equação 3.7 mostrada no capítulo 3. Este diagrama permite apreciar a pouca influência da resistência série no valor da capacitância na região de acumulação, confirmando mais ainda o alto valor de resistividade de nosso material. Para o cálculo dos estados de interface utilizamos os capacitores médios da lâmina p2. Neste sentido, nós fizemos medidas das curvas de C-V em alta e baixa frequência. Com estas curvas e utilizando a equação 3.9 do capítulo 3, calculamos as armadilhas na interface Si/SiO2 para estes capacitores. A figura 5.22 mostra as curvas típicas de C-V em alta e baixa frequência para um capacitor médio da lâmina p2. CAPACITÂNCIA (pF) 400 CAP. BAIXA FREQUÊNCIA 300 CAP. ALTA FREQUÊNCIA 200 100 0 -5 -4 -3 -2 -1 0 TENSÃO DE PORTA (volts) Fig. 5.22 - Curvas típicas de C-V em alta e baixa frequência para um capacitor médio da lâmina p2. Realizados os cálculos da densidade de armadilhas na interface Si/SiO2 sobre vários capacitores médios da lâmina p2, pudemos comprovar que nossos dispositivos apresentam um valor promédio de Dit ≈ 2x1012 estados/cm2 ±50%. Este erro deve-se fundamentalmente à presença de capacitâncias parasitárias no 5.33 equipamento utilizado para a medida de C-V em baixa frequência (pontas de prova, cabos, etc). Para o cálculo do campo de ruptura do material, utilizamos os capacitores pequenos da lâmina p1. Decidimos a utilização desta lâmina pelo motivo de que ela apresenta uma camada de SiO2 muito grossa que permitiu determinar sua espessura aceitavelmente e com um erro de medição quase desprezível. Devido aos altos valores da tensão de ruptura, não foi possível utilizar a HP4145-B, pois este equipamento só fornece tensões até um máximo de 100 V, é por este motivo que nós utilizamos o traçador de curvas Tektronix 577. As tensões aplicadas na porta para esta medida foram negativas com respeito ao substrato, de modo a garantir que os capacitores estejam polarizados em acumulação, evitando assim a influência da camada de depleção no cálculo do campo de ruptura. A tabela 5.6 mostra os valores experimentais de campo de ruptura, calculados considerando a espessura do SiO2 de 2300 Å. Cabe mencionar que o valor de tensão mostrado nesta tabela é o valor da tensão efetiva que está caindo sobre o SiO2, isto é, a tensão mostrada na tabela resulta da diferença entre a tensão medida e a tensão de banda plana (não podemos desprezar a tensão de banda plana pelo fato de ela ser muito significativa). Tabela 5.6 - Resultados da medida do campo de ruptura para os capacitores pequenos da lâmina p1. NOME DO CAPACITOR TENSÃO DE RUPTURA (volts) CAMPO DE RUPTURA (x 106 volts/cm) p1p1 p1p2 p1p3 p1p4 MÉDIA -95 -96 -69 -111 -4,1 -4,2 -3.0 -4,8 -92,8 17,4 -4,0 0,75 DESV. PADRÃO Podemos observar que nosso material apresenta um valor médio de tensão de ruptura em torno de -4 x106 volts/cm quase semelhantes aos valores obtidos com um SiO2 crescido termicamente. 5.34 5.3.1.- Discussão dos resultados elétricos Todos os resultados apresentados anteriormente nos permitiram ter um conhecimento global das características elétricas das películas de SiO2 crescidas por PECVD a baixas temperaturas. Pudemos apreciar assim, que nossos filmes apresentam valores ótimos de constante dielétrica (εox=3,92), resistividade (1,6 x1014 ohm-cm), e campo de ruptura (4 x 106 volts/cm), muito próximos dos valores típicos apresentados nos filmes de SiO2 crescidos termicamente e totalmente aceitáveis para sua aplicação como camada dielétrica. Porém, pudemos também notar uma grande quantidade de carga efetiva incorporada em nossas películas de SiO2 e uma alta densidade de armadilhas na interface Si/SiO2, originando consequentemente o valor elevado da tensão de banda plana e o efeito de inversão lateral. Comprovamos também de que a carga efetiva presente em nosso material é positiva, afetando exclusivamente os capacitores fabricados sobre as lâminas de silício do tipo p. A carga incorporada no material é um problema que pode estar se originando no próprio processo de deposição por plasma, dentro do reator. Como mencionamos anteriormente, o plasma quebra as moléculas reagentes que ao se recombinar podem originar uma série de reações heterogêneas formando moléculas em fase sólida que possivelmente se incorporem no material como impurezas livres (não participando dentro da estrutura do filme) aumentando a quantidade de carga efetiva dentro do material. Por outro lado, o valor elevado da densidade de estados na interface Si/SiO2 pode ser devido fundamentalmente a que a deposição de SiO2 por PECVD ocorre acima da superfície do substrato, consequentemente a interface Si/SiO2 é notavelmente controlada pelas propriedades do óxido nativo. Assim, quando o crescimento é realizado com PECVD, o tratamento prévio à deposição do óxido sobre a lâmina utilizada como substrato deve ser realizado tomando-se os maiores cuidados. CAPÍTULO 6 CONCLUSÕES Antes de passarmos às conclusões e a algumas sugestões, convém fazer um pequeno resumo dos resultados apresentados. Como foi mencionado anteriormente, a principal desvantagem da técnica de PECVD para a deposição de SiO2 é que todos os gases reagentes entram dentro da região do plasma quebrando-se de forma não controlada. Resulta assim dificultoso evitar as reações heterogêneas, que originam uma pobre estequiometria do material depositado. Para o caso de deposições com misturas de SiH4 e N2O, estas reações heterogêneas são manifestadas por uma alta concentração de radicais de SiHn dentro do plasma, que reagem não só com os radicais de oxigênio, mas também entre eles e com os radicais de nitrogênio. Isto produz a incorporação indesejável de ligações Si-H e SiN-H dentro da estrutura da película depositada. Este problema, como vimos, foi atacado de duas formas, Lucovsky utilizou a técnica de PECVD por plasma remoto, a qual permite a seleção dos gases reagentes que entram na região do plasma, controlando assim a produção de radicais. Hsieh, por outra lado, utilizou a técnica de DPECVD, mas com misturas de gases altamente diluídos em Hélio. Como o Hélio apresenta uma grande seção cruzada para os elétrons, a quantidade de radicais de SiH4 ([SiH4]*) é diminuída com o conseqüente decréscimo das reações heterogêneas não desejáveis. Nós confirmamos que um efeito similar pode ser obtido reduzindo o fluxo de silano tanto como possível para manter uma alta relação de fluxos N2O/SiH4 e uma baixa pressão de deposição ao passo que a potência de rf deve ser relativamente alta. Os resultados apresentados no capítulo 5 mostraram que sob estas condições a quantidade de radicais de N2O é maior que a quantidade de 6.2 radicais de silano, de forma que a principal reação é do tipo [O]*+[SiH4]*, originando filmes altamente estequiométricos. Concluímos assim que é possível selecionar as reações químicas dentro do plasma, utilizando a técnica simples de DPECVD e sem a presença de nenhum gás diluente, produzindo uma suficientemente alta relação de [N2O]*/[SiH4]*. Alem disto, os resultados obtidos da análise para diferentes temperaturas e diferentes pressões de deposição mostram que é aconselhável a utilização de temperaturas em torno de 320 o C para a obtenção de filmes altamente estequiométricos, enquanto que pressões de deposição abaixo de 20 mtorr devem ser utilizadas para prevenir as reações em fase gasosa. Nossas amostras depositadas sob estas condições, mostraram que as propriedades químicas e o índice de refração são muito próximos dos apresentados pelo dióxido de silício crescido termicamente. Para melhorar as propriedades estruturais e composicionais do material, a relação N2O/SiH4 deve ser incrementada sem aumentar significativamente a pressão de deposição, isto significa que devemos utilizar fluxos de silano menores. Realizaremos reformas no sistema para permitir estas condições. Assim, destes resultados estruturais e composicionais concluímos que a técnica de DPECVD pode ser utilizada om êxito para se produzir dióxido de silício com excelentes propriedades estruturais e índice de refração comparáveis com o dióxido de silício crescido termicamente. Por outro lado, os resultados das caracterizações elétricas mostraram que nossas películas de SiO2 apresentam valores médios de resistividade de 1,6 x 1014 ohm-cm, permissividade dielétrica de 3,92 e campo máximo de ruptura de 4 x 106 volts/cm, próximos dos valores típicos das películas de SiO2 crescidas termicamente e totalmente apropriadas para utilização como dielétrico em microeletrônica. Porém, pudemos observar também que nosso material apresenta uma grande quantidade de carga efetiva (Neff = 5 x 1012 cm-1) e uma elevada densidade de armadilhas na interface Si/SiO2 (Dit = 2 x 1012 estados/cm2) 6.3 originando o aumento da tensão de banda plana e o efeito de inversão lateral nos capacitores fabricados sobre lâminas de silício de tipo p. Nós acreditamos que a grande densidade de carga efetiva dentro do material esteja vinculada ao processo de deposição por plasma que origina a formação de grande quantidade de íons que podem incorporar-se ao filme no momento do crescimento do material. Sugerimos, por este motivo (como uma continuação a este trabalho), fazer um estudo do comportamento das características elétricas ante a influência da polarização do porta-substrato. Uma adequada polarização permitirá possivelmente controlar a elevada quantidade de carga dentro do material. Por outro lado, a grande densidade de armadilhas na interface Si/SiO2 era até certo ponto esperada porque, com a técnica de PECVD, realiza-se uma deposição e não um crescimento do material sobre o substrato. No caso do crescimento, as camadas superficiais da lâmina são consumidas durante o processo de modo que a interface é formada com camadas localizadas mais internamente, deste modo a qualidade da interface não depende tanto da preparação da superfície. Já no caso da deposição o material é depositado acima do substrato que muitas vezes contém uma camada fina de óxido nativo, deste modo a qualidade da interface vai depender significativamente das características desta camada. Para diminuir este problema é imperativo se contar com cuidados extremos no que se refere à limpeza da lâmina utilizada como substrato antes do processo de deposição para eliminar assim a influência do óxido nativo nas características da interface Si/SiO2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] E. H. Nicollian and J. R. Brews, in “MOS Physics and Technology”, WileyInterscience Publication, New York, 2(1982). [2] M.F. Ceiler, Jr.,P. A. Kohl, and S. A. Bidstrup, J. Electrochem. Soc., 142, 6 (1995). [3] E. P. Valcheva and K. G. Germanova, Superlattices Microstruct. 10, 319 (1991). [4] E. P. Valcheva and K. G. Germanova, Mater. Lett. 7, 465 (1989). [5] J. D. Lin, Y. K. Su, S. J. Chang, M. Yokoyama, and F. Y. Juang, J. Vac. Sci. Technol. A 12, 7 (1994). [6] C. J. Frosh and L. Derrick, J. Electrochem. Soc., 104, 547 (1957). [7] M. M. Atalla, E. Tannenbaum, and E. J. Scheibner , Bell Syst. Tech. J., 38, 749 (1959). [8] J. R. Ligenza and W. G. Spitzer, J. Phys. Chem. Solids, 14, 131 (1960). [9] J. R. Ligenza, J. Phys. Chem., 65, 2011 (1961). [10] G. Liandrat, conferences at the College of France, 1935. [11] J. Bardeen and W. H. Brattain, Phys. Rev., 74, 230 (1948). [12] W. Shockley and G. L. Pearson, Phys. Rev., 74, 232 (1948). [13] M. M. Atalla, U.S. Patent 3,206,670 (filed in 1960, issued in 1965). [14] D. Kahng and M. M. Atalla, IRE-IEEE Solid-State Device Research Conference, Carnegie Institute of Technology, Pittsburgh, Pa., 1960; D. Kahng, U.S. Patent 3,102,230 (filed in 1960, issued in 1963). [15] H. P. W. Hey, B. G. Sluijk, and D. G. Hemmes, Solid State Technol., 139-144, Apr. 1990. [16] A. Banerjee and T. DebRoy, J. Vac. Sci. Technol. A 10 (6), 3395-3400 (1992). [17] E. Doering, in Insulating Films of Semiconductors, edited by M. Schulz and G. Pensl (Springer, Berlin, 1981), p. 208. [18] S. S. Chao, G. Lucovsky, S. Y. Lin, C. K. Wong, J. E. Tyler, Y. Takagi, P. G. Pai, and M.J. Mantini, J. Vac. Sci. Technol. A 4, 1574 (1986). [19] A. C. Adams, Solid State Technol., 26, 135 (1983). [20] J. Batey, E. Tierney, J. Stasiak, and T. N. Nguyen, Appl. Surf. Sci., 39, 33 (1989). [21] J. R. Hollahan, J. Electrochem. Soc., 126, 930 (1979). [22] P. A. Longeway, R. D. Estes, and H. A. Weakliem, J. Phys. Chem. 88, 73 (1984). [23] P. D. Richard, R. J. Markunas, G. Lucovsky, G. G. Fountain, A. N. Mansour, and D. V. Tsu, J. Vac. Sci. Technol., A 3, 867 (1985). 6.2 [24] G. Lucovsky, D. V. Tsu, S. S. Kim, R. J. Markunas, and G. G. Fountain, Appl. Surf. Sci. 39, 33 (1989). [25] G. Lucovsky, P. D. Richard, D. V. Tsu, S. Y. Lin, and R. J. Markunas, J. Vac. Sci. Technol., A 4, 681 (1986). [26] S. W. Hsieh, C. Y. Chang, and S. C. Hsu, J. Appl. Phys. 74 (4), 2638 (1993). [27] P. G. Pai, S. S. Chao, and Y. Takagi, J. Vac. Sci. Technol. A 4, 689 (1986). [28] G. Lucovsky and D. V. Tsu, J. Vac. Sci. Technol. A 5 (4), 2231 (1987). [29] Sang S. Kim, D. V. Tsu, and G. Lucovsky, J. Vac. Sci. Technol., A 6 (3), 1740 (1988). [30] S. S. Kim, D. J. Stephens, G. Lucovsky, G. G. Fountain, and R. J. Markunas, J. Vac. Sci. Technol. A 8 (3), 2039 (1990). [31] G. Lucovsky, S. S. Kim, and J. T. Fitch, J. Vac. Sci. Technol. B 8 (4), 822 (1990). [32] G. May , J. Huang, and C. Spanos, IEEE Trans. Semi. Manuf., 4 , 83-98, May 1991. [33] S. S. Han, M. Ceiler, S. A. Bidstrup, P. Kohl, and G. S. May, IEEE Trans. on Components, Packaging, and Manufacturing Technology, A (17), 2, Jun. 1994. [34] S. L. Wright, M. B. Rothwell, J. H. Souk, and Y. Kuo, IEEE Transactions on Electron Devices, 40 (11), 2128 (1993). [35] M. S. Feng, C. W. Liang, and David Tseng, J. Electrochem. Soc., 141 (4), 1040 (1994). [36] Z. Chen, K. Yasutake, A. Doolittle, and A. Rohatgi, Appl. Phys. Lett. 63 (15), 2117 (1993). [37] K. Yasutake, Z. Chen, S. K. Pang, and A. Rohatgi, J. Appl. Phys. 75 (4), 2048 (1994). [38] J. C. Decius and R. M. Hexter, "Molecular Vibrations in Crystals", McGraw-Hill, 1977. [39] E. B. Wilson, Jr., J. C. Decius, and P. C. Cross, "Molecular Vibrations", Dover Publications Inc., New York, 1955. [40] D. M. Back, in “Physics of Thin Films” vol. 15, (Maurice H. Francombe and John L. Vossen, eds.), Academic Press Inc., New York, 265-312 (1991). [41] P.G. Pai, S. S. Chao, and Y. Takagi, J. Vac. Sci. Technol., A 4, 689 (1986). [42] E. H. Nicollian and J. R. Brews, in “MOS Physics and Technology”, WileyInterscience Publication, New York, 83 (1982). [43] E. H. Nicollian and J. R. Brews, in “MOS Physics and Technology”, WileyInterscience Publication, New York, 150-153 (1982). [44] E. H. Nicollian and J. R. Brews, in “MOS Physics and Technology”, WileyInterscience Publication, New York, 426 (1982). 6.3 [45] E. H. Nicollian and J. R. Brews, in “MOS Physics and Technology”, WileyInterscience Publication, New York, 467 (1982). [46] E. H. Nicollian and J. R. Brews, in “MOS Physics and Technology”, WileyInterscience Publication, New York, 223 (1982). [47] E. H. Nicollian and J. R. Brews, in “MOS Physics and Technology”, WileyInterscience Publication, New York, 224 (1982). [48] E. H. Nicollian and J. R. Brews, in “MOS Physics and Technology”, WileyInterscience Publication, New York, 332 (1982). [49] G. Luckovsky and D. V. Tsu, J. Vac. Sci. Technol., A 5, 4 (1987). [50] A. M. Andrade, Obtenção e caracterização de filmes finos de silício amorfo. Aplicações em dispositivos eletrônicos, Tese Doutorado - Escola Politécnica, Depto. de Eng. Eletrônica, Universidade de São Paulo, 1989. [51] I. Pereyra, M. P. Carreño, R. K. Onmori, A. M. Andrade, and R. Martins, Influence of a DC electric field on hydrogen incorporation and doping efficency of a-Si:H films, E. C. Photovoltaic Solar Energy Conference 7, Seville. Proceedings Dordrecht, Kluwer, 528-532 (1986). [52] A. G. Dias, L. Guimaraes, and R. Martins, The effect of static electric and magnetic fields on the optical properties of amorphous hydrogenated silicon films produced by r.f. glow discharge. Thin Sol. Films, 89, 307-313 (1982). [53] F. Alvarez, Bias Dependence of doping efficiency in hidrogenated amorphous silicon, Appl. Phys. Lett., 47 (9), 960-962 (1985). [54] S. Hotta, Y. Tawada, H. Okamoto, Y. Hamakawa, Effects of the substrate potential on the incorporation manner of hydrogen and impurity in a-Si:H films, J. Physique, 42 (10), C4-631-4 (1981)./Apresentado ao 9th International Conference on Amorphous and Liquid Semicondutors, Grenoble, 1981. [55] D. L. Smith and A. S. Alimonda, J. Electrochem. Soc., 140, 1496 (1993).
Documentos relacionados
Arquivo PDF - Grupo de Novos Materiais e Dispositivos
Figura 4.18 - Diagrama do valor da largura a meia altura (FWHM) em função da temperatura de recozimento para as amostras Ox-58 e Ox-16............ 75 Figura 4.19 - Valor da amplitude integrada norm...
Leia mais