Untitled - Guerra e Paz

Transcrição

Untitled - Guerra e Paz
lemos
os livros
que lhe
damos a
ler
at é ao ú lt i m o m e d o
título original: Every Last One
autor: Anna Quindlen
© Anna Quindlen, 2010
© Guerra e Paz, Editores S.A., 2011
Reservados todos os direitos
tradução: Rita Guerra
revisão: Helder Guégués
design de capa: Ilídio J.B. Vasco
paginação: Nuno Rodrigues da Costa
isbn: 978-989-702-019-3
depósito legal: 326506/11
1.ª edição: Maio de 2011
Guerra e Paz, Editores S.A.
R. Conde Redondo, 8 - 5.º Esq.
1150-105 Lisboa
Tel.: 21 314 44 88
Fax: 21 314 44 89
E-mail: [email protected]
www.guerraepaz.net
até ao
último
medo
ANNA QUINDLEN
tradução
Rita Guerra
ficção · romance
Para os meus filhos, que me salvaram a vida
Aproxima-se a noite
Sobre os campos, uma noite nunca vista,
Que não acende quaisquer luzes.
Ao longe parece acetinada, mas
Quando se estende sobre os joelhos e o seio
Não traz conforto algum.
Para onde foi a árvore, que prendia
A terra ao céu? O que se encontra sob as minhas mãos,
Que não sou capaz de sentir?
O que sobrecarrega as minhas mãos?
philip larkin
E
sta é a minha vida: o despertador toca às cinco e meia, com
o murmúrio de um locutor da rádio pública que me diz que
houve um golpe de Estado no Chade, um tornado no Texas.
O meu marido agita-se ao meu lado, por breves instantes, vira-se,
pestaneja e volta a dormir durante mais uma hora. O meu robe
encontra-se aos pés da cama, algodão estampado no Verão, veludo
com borlas para o frio. A cafeteira começa a trabalhar, na cozinha
em baixo, quando saio da casa de banho; desço as escadas, descalça,
faço uma pausa para arrumar um par de botas abandonado na
entrada das traseiras e para recolher o jornal deixado no degrau em
frente à porta. A tijoleira castanha da cozinha foi uma má escolha;
está sempre fria. Deixo a cadela sair da sua casota e deito uma
caneca de comida seca na tigela dela. Detesto as madrugadas, a animação suspensa do mundo lá fora, o véu negro e depois o cinzento
opressivo do horizonte ao longo dos montes do outro lado das portas envidraçadas. Mas é a única altura em que posso descansar sem
dormir, pensar sem decidir, falar e ouvir a minha própria voz. É a
única altura em que posso estar sozinha. Pouco menos de uma
hora, em cada dia útil, sem que ninguém faça exigências.
O nosso quarto fica ao fundo do corredor e por vezes, ao passar, consigo ouvir a respiração das crianças, cada uma delas tão específica a descansar como acordada. Alex inspira e expira de forma
metódica, regular, como se estivesse profundamente sob o manto
do sono, ainda que pontapeie sempre os cobertores, deixando uma
perna comprida, com as suas ténues cicatrizes cirúrgicas, exposta
ao ar da noite. Do outro lado do quarto, Max balbucia, resmunga,
vira-se e rosna uma série de sílabas sem sentido. Durante mais de
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até ao último medo
um ano, desde os onze anos, Max teve problemas de sonambulismo.
Descobria-o a lavar as mãos no lavatório da casa de banho ou na
cozinha, em baixo, a pestanejar cegamente para o interior do frigorífico aberto. Mas deixou de o fazer depois do primeiro Verão que
passou no acampamento para sonâmbulos.
Ruby trauteia, uma nota alta e estrangulada a cada exalação.
Quando era mais nova, temi que tivesse asma. Dorme quase sempre de costas, os cobertores firmemente aconchegados sobre o
peito, o cabelo aberto sobre as almofadas. Devia ser fácil para ela
deslizar de debaixo do cobertor e fazer a cama, mas nunca se dá a
esse trabalho a menos que a ameace.
Sento -me no andar de baixo, com o café e o jornal, fitando a
janela enquanto a minha mente zumbe. Às seis e meia ouço o chuveiro na casa de banho principal. Glen está acordado e prepara-se
para o trabalho. Às seis e quarenta e cinco puxo o edredão de cima
de Ruby, que o volta a agarrar e se enrola sob ele, como uma larva.
– Mais dez minutos – diz.
Às sete debruço -me, primeiro sobre Alex, depois sobre Max,
e enterro o nariz nos seus pescoços, começando a sentir o cheiro
ligeiramente acre da masculinidade sob o cheiro doce de criança.
– Está bem, está bem – diz Alex, irritado.
Max não diz nada, limita-se a sair da cama e a despir a T-shirt
demasiado grande, enquanto cambaleia até à casa de banho.
Há uma linha pintada no centro do quarto. Há dois anos vieram ter comigo, exaltados, numa tarde de Junho, e exigiram o
direito a escolher as suas próprias cores. Eu estava distraída e concordei. Fizeram um bom trabalho, tiraram cuidadosamente as
medidas, cobriram o chão com um encerado. Alex pintou o seu
lado de azul-claro, Max de verde -lima. As outras mães dizem: «Não
vai acreditar no que o Jonathan» – ou o Andrew ou o Peter –
«me disse sobre o quarto dos gémeos.» Se os rapazes tivessem sido
os meus primeiros filhos, talvez eu também tivesse achado aquilo
uma loucura, mas Ruby já me tinha preparado. Ela tem uma torre
de latas de refrigerante empilhadas contra uma parede do quarto.
Trata-se de uma afirmação ambiental ou, simplesmente, de uma
daquelas coisas que se fazem quando se tem quinze anos.
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Agora que tem dezassete e ultrapassou essa fase, já quase a esqueceu, mas, como cometi o erro de lhe perguntar, demasiado cedo,
quando é que ela a ia desmantelar, nunca o fez.
Abro a porta do quarto de Ruby e, embora esta não emita
qualquer som – lubrificou as dobradiças, acho eu, provavelmente
com óleo de bebé ou óleo de banho ou qualquer outra coisa disparatadamente inapropriada, para que não a ouçamos ranger, durante
a noite –, ela diz:
– Estou acordada!
Eu fico ali, à espera, porque se me limitar a confiar na sua palavra, ela voltar-se -á a enrolar no quente e cairá no longo túnel do
sono em que só os adolescentes vivem, a meio caminho de um
estado de coma ou inconsciência.
– Mãe, estou acordada! – grita ela, atira para o lado os cobertores e começa a prender o cabelo longo e ondulado no cimo da
cabeça. – Posso -me vestir em paz, por favor? Para variar?
Ela faz com que pareça que eu deixo, constantemente, entrar
um bando de espectadores que a fitam de boca aberta, enquanto
ela se prepara para enfrentar um novo dia.
Só Glen surge minimamente alegre, o casaco do fato sobre um
dos braços. Guarda as batas brancas no trabalho. Estão profissionalmente limpas e engomadas, e cheiram maravilhosamente, como
a mais limpa das roupas limpas. Sobre o coração, a azul, está bordado «Doutor Latham». Do andar de cima consigo ouvir o cair dos
cereais na tigela. Ele come a mesma coisa todas as manhãs, sai para
o trabalho sempre à mesma hora. Usa uma camisa azul ou amarela,
com uma gravata às riscas ou com um pequeno padrão que se
repete. De quando em vez, um paciente agradecido oferece-lhe uma
gravata de presente, estampada com pequenos pares de óculos,
um diagrama do olho ou olhos. Agradece a essas pessoas, com sinceridade, mas nunca as usa.
Não é arrumado, mas sabe onde está tudo: em que cadeira
deixou a pasta, para que zona do balcão da cozinha atirou a carteira. Faz um trejeito com os cantos da boca quando as coisas não
estão onde deviam: quando a cadela está em cima dos móveis;
quando as crianças e os seus amigos fazem demasiado barulho,
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até ao último medo
até demasiado tarde; quando os copos de vinho tinto estão arrumados no lugar dos copos de vinho branco. Agora parece ter
ficado para sempre gravado na sua expressão, como o oposto das
covinhas.
– Por favor, poupa-me – diz a minha amiga Nancy, revirando
os olhos. – Se isso é o pior que podes dizer sobre ele, então não tens
qualquer direito de te queixar.
Nancy diz que o marido dela, Bill, um tipo que parece um
espantalho, alto e desengonçado, deixa um rasto de roupas enquanto
se despe, como se fossem migalhas de um conto de fadas. Certa vez
perguntou-lhe onde estava a máquina de lavar.
– Pensei que era um milagre que ele quisesse saber – diz ela
quando conta a história, e fá-lo muitas vezes. – Afinal, o tipo das
reparações estava à porta e o Bill não sabia para onde havia de o
mandar.
A nossa máquina de lavar fica no vestíbulo, junto à cozinha.
Há uma conduta concebida para enviar as coisas do andar de cima
para o de baixo. Ao longo dos anos, os nossos filhos usaram a conduta para mochilas, bolas de futebol, baquetas. Catrapum, catrapum,
catrapum.
– É uma conduta para a roupa suja – grito eu. – Roupa suja.
Roupa suja.
A roupa suja é a minha vida, bem como as refeições e as reuniões na escola e os jogos e os recitais. Escolho um casaco de malha
e coloco -o sobre o baú aos pés da cama. Estamos no final de Abril,
supostamente na Primavera, mas o tempo está tão instável como o
humor de um adolescente, o sol dá lugar às nuvens, que dão lugar
a chuvadas, que se transformam em tempestades, que dão, mais
uma vez, lugar ao sol.
– Cheiras mal – ouço Alex dizer a Max do corredor. Max
recusa-se a responder. – Cheiras a merda! – diz Alex.
– Tento na língua! – grito eu.
– Eu não disse nada! – grita Ruby, para lá da porta do seu
quarto.
Os cabides deslizam no varão, dentro do roupeiro, com um
som que faz lembrar um instrumento de música tribal. Três panca
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das surdas: sapatos, suponho. O quarto dela dá sempre a impressão
de ter sido saqueado. O pai dela evitar olhar para a porta fechada,
como se imaginasse o que se encontra do outro lado. Os irmãos
estão terminantemente proibidos de lá entrar e, sinceramente, também não estão interessados. Pilhas de livros, camisolas variadas,
uma bolsa a tiracolo virada ao contrário, até as cuequinhas de
renda; tendo em conta que pertencem à irmã, quem é que quer
saber? A minha presença é tolerada porque trago as pilhas de roupa
lavada. «Guarda isso nas gavetas», digo sempre e ela nunca o faz.
Seria muito mais fácil para mim fazê-lo eu mesma, mas este impasse
tornou-se parte do nosso relacionamento, a minha tentativa de
ensinar a Ruby algo sobre responsabilidade, a tentativa dela de mostrar independência. E tanto das nossas vidas em conjunto consiste
em ir convivendo, em dizer coisas que sabemos serão ignoradas,
mas dizendo -as na mesma, como música de fundo.
Não sei bem como, Ruby emerge todas as manhãs da desordem do seu quarto bela e distinta: um par de corsários antigos, uma
blusa rendada que comprei na faculdade, um casaco de malha comprido, de caxemira, com um buraco de traça numa das mangas, uma
fita à volta do cabelo. Ruby nunca se parece com mais ninguém.
Admiro -a por isso e sinto -me, ao mesmo tempo, um pouco intimidada, como se descobrisse que tínhamos tipos sanguíneos incompatíveis.
Alex usa uma T-shirt com umas calças de ganga. Max usa uma
T-shirt com umas calças de ganga. Max pára para esfregar a barriga
da cadela quando entra na cozinha. Ela semicerra os olhos, deliciada. O seu nome é Virgínia e tem nove anos de idade. Veio para
nossa casa ainda cachorrinho, quando os gémeos tinham cinco
anos e Ruby oito. Ginger, lê-se na tigela de terracota, que lhe comprámos no primeiro Natal que passou connosco. Max esfrega a base
da cauda da Ginger.
– Agora cheiras a cão – diz Alex.
A torradeira salta, emitindo um ruído que faz lembrar uma
pistola de brincar. A porta do frigorífico fecha-se. Preciso de mais
pasta de dentes. Ruby roubou a minha pasta de dentes.
– Estou a ir! – grita ela da porta das traseiras.
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até ao último medo
Não tomou o pequeno-almoço. Ela e as amigas Rachel e Sarah
vão passar pela loja dos donuts e comprar café gelado e donuts com
geleia. Sarah é nadadora de competição e pode comer qualquer
coisa. «Tem o metabolismo de um colibri», diz a minha amiga
Nancy, que é a mãe de Sarah, o que é conveniente para ambas.
Nancy é bióloga, professora na universidade, por isso suponho que
deva saber tudo sobre metabolismos. Rachel é um ano mais velha
do que as outras duas e leva-as de carro para a escola. As três juram
que Rachel conduz devagar e de forma segura. Eu sei que não é verdade. Imagino Rachel a lamentar-se uma vez mais, por causa de um
rapaz qualquer de quem ela gosta mesmo, mesmo muito, mas que
é insensível às suas atenções, o volante numa mão, um donut na
outra, atacando a curva com os pneus a chiar. A cautela e a nutrição são para os adultos. Elas são jovens, imortais.
– A carrinha! – grita Alex e Max fala, por fim.
Este é um dos pontos altos do dia para a nossa família: Max
fala.
– Já vou! – resmunga.
– Levem uma camisola – digo -lhes eu.
Ou não me ouvem ou não querem saber. Consigo vê-los,
de mochila às costas, a subir para a carrinha da escola preparatória.
Alex entra primeiro.
– Temos geleia? – pergunta Glen.
Ele sabe onde estão as coisas dele mas sofre de amnésia no que
diz respeito aos objectos partilhados por todos.
– Está onde sempre esteve – digo eu. – Abre os olhos e procura.
Depois tiro dois frascos de geleia da prateleira da porta do frigorífico e pouso -os com estrondo na mesa, à frente dele. Só consigo
gerir um modo matinal, por isso trato o meu marido como se fosse
mais uma das crianças. Ele não se importa ou nem sequer repara.
Gosta daquele momento, quando as crianças ali estiveram, mas,
de súbito, deixaram de estar. A cadela volta para a cozinha, com as
unhas a bater na tijoleira.
– Não lhe dês de comer – digo, como faço todas as manhãs.
Passados poucos minutos, escuto o barulho das mastigadelas
atabalhoadas da Ginger a comer a côdea de um English muffin.
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De seguida percorre a casa toda e deixa-se cair, pesadamente, aos
meus pés.
Depois de ter lido o jornal, Glen sai para o trabalho. Começa
as consultas mais cedo um dia por semana e termina-as mais tarde
três dias, para estudantes e pessoas com horários de trabalho inflexíveis. O consultório situa-se numa pequena vivenda a um quarteirão do hospital. Ele tira o carro da rampa da entrada e vira à direita,
para a nossa rua, todas as manhãs. Certo dia virou à esquerda e eu
quase corri para a rua para o chamar. Cheguei a abrir a porta da
frente e vi que um vizinho estava a substituir o alcatrão da sua
rampa de entrada e que um cilindro a vapor estava a bloquear a
estrada, do lado direito. O vizinho acenou. «Desculpe o incómodo»,
disse -me. Eu acenei-lhe em resposta.
Visto um par de calças caqui, uma camisa branca e umas sabrinas macias com sola de borracha. «Essas roupas são tão… maternais», diz-me por vezes Ruby. Não é bem um insulto. Estou seca e
bronzeada por causa do meu trabalho, ou talvez seja por causa da
genética. A minha mãe ensinava Inglês a alunos do liceu, o que não
é uma profissão muito exigente a nível físico, e também ela está
seca e bronzeada. Aos setenta anos, continua a vestir roupas de ténis
sem pensar nisso.
Às oito e meia um camião de descargas entra na rampa de
acesso. De lado tem um trio de flores pintadas de forma primitiva,
como as que as raparigas do segundo ano desenham nos seus cadernos, com marcadores coloridos. Uma flor azul, uma flor cor-de-rosa, uma flor amarela e, para um dos lados, as palavras latham
landscaping. Um dia era revisora freelancer, depois tive três filhos,
depois tirei um curso de jardinagem, depois abri uma empresa de
paisagismo. A empresa é bem-sucedida.
– Eh, Mary Beth – diz Rickie, do camião.
Traz vestido o anoraque da Latham Landscaping, mas o fecho
de correr tem alguma dificuldade em manter-se fechado sobre a
barriga grande e dura. O camião está limpo, mas eu sei que o porta-luvas está cheio de invólucros de doces e papel parafinado gorduroso. Rickie trata do equipamento; já não consegue usar uma pá
ou apanhar as ervas daninhas. Vamos ver uma faia-púrpura, a duas
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cidades daqui, que está a perder casca. O mais certo é tratar-se de
um fungo que tem andado por aí, movendo -se lenta e silenciosamente através das florestas e dos jardins, como uma constipação
através das turmas dos miúdos na escola; primeiro um, depois
outro, de seguida meia dúzia ou mais. É uma pena; trata-se de uma
árvore gloriosa, daquelas que parecem imutáveis.
É assim que aquilo que faço para ganhar a vida contribui para
que me sinta humilde: posso olhar para um carvalho americano
num jardim ou para os narcisos amarelos que plantei no ano anterior e saber que, muito depois de eu ter partido, haverá sombra e
cor, ainda que eu não esteja lá para ver. Em muitos aspectos é uma
sensação calmante, como dizer a uma filha que um dia os nossos
brincos de diamante serão dela, sem nunca explicar o que significa
«um dia».
– Queres parar para beber café? – pergunta Rickie. O que
Rickie quer dizer com café é uma caixa de donuts sortidos.
– Claro – digo eu. – Mais nunca é demais. – Vasculho a mala.
– Espera, voltei-me a esquecer do telefone. Volto já.
É possível que ainda haja geada nocturna, pelo que não há
muito que possamos fazer nos jardins das pessoas. O ano passado,
por volta desta altura, uma mulher contratou-nos para plantar centenas de flores para o casamento da filha, ao ar livre. Deus
abençoara-a. A tarde de Primavera fora soalheira e quente, pelo que
os delfínios, as lobélias e os belos amores-perfeitos, roxos e azuis,
brilhavam contra o verde da relva, rivalizando – eu diria mesmo
ofuscando – os vestidos azul-holandês das damas de honor. Na noite
seguinte, houve uma vaga de frio. Aqueles amores-perfeitos eram
as coisas mais tristes que imaginar se possa, na manhã seguinte,
espalhados pelo chão. Odiei vê-los assim.
– Recebemos uma chamada para um trabalho grande em
redor do tribunal – diz Rickie. – O secretário municipal quer que
lhes mandes uma proposta.
– Oh, meu Deus, salva-me do secretário municipal. Diga eu o
que disser, eles vão querer sardinheiras.
Rickie passa por cima de um buraco na estrada e as ferramentas saltam na parte de trás do camião, tilintando. Tiro um lenço da
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mala e assoo -me. Uma mulher que só vagamente reconheço acena
enquanto esperamos num sinal vermelho. Todos os dias, com poucas variações – neve, pequenas maleitas, uma falha na entrega do
jornal, uma mochila perdida, uma festa de pijama que nos deixou
um, dois ou, por vezes, três miúdos que se esqueceram de alguma
coisa –, todos os dias são como este. Medianos. Comuns. Mais ou
menos.
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