Oratoria de FAG - fAu | federación Anarquista Uruguaya
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fAu - federación Anarquista uruguaya Oratoria de FAG – Eduardo DISCURSO DA FAG PARA O ATO DE 1º DE MAIO DA FAU Em nome da Federação Anarquista Gaúcha, organização integrante da Coordenação Anarquista Brasileira queremos saudar este ato pelo 1º de Maio. Um dia de luta. Um dia de memória. Uma data que está diretamente relacionada a influência da nossa ideologia libertária na luta dos trabalhadores. As origens do 1° de maio estão ligadas com a proposta dos trabalhadores organizados na Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) em declarar um dia de luta pelas oito horas de trabalho. Sendo a AIT a impulsionadora das lutas dos trabalhadores nesse período, é importante registrar que em nosso continente foi a Internacional anti autoritária a que teve maior influência no movimento operário. Depois do Congresso de Haya da 1ª Internacional onde se separam as duas concepções (a federalista e a estatista) em meio à forte polêmica, é a corrente libertária(anarquista) que vai impulsionar a continuidade da Internacional. Foi no ano de 1872 em Saint Imier, na Suiça, que Bakunin e os federalistas fundavam a Internacional conhecida mais tarde como Anti autoritária. Foi enfrentando situações adversas e atuando durante um largo período na clandestinidade que a Internacional foi desenvolvendo atividades e propostas que guardam correspondência direta com as práticas daquele período. A tática da “ginástica revolucionária”, que compreendia a realizações de greves sempre com vistas de acumularem forças para uma greve geral, táticas estas que foram debatidas no Congresso da AIT de 1866, serão levadas a cabo pelos federalistas em inúmeros países onde serão preponderantes na organização do nascente operariado, a exemplo do Brasil, onde a estratégia defendida por Bakunin e seus companheiros para atuação no movimento operário, o sindicalismo revolucionário, logrou um grande êxito. Apesar de ter sido impulsionado como uma estratégia anarquista, concretizou-se como uma obra de toda a classe trabalhadora que se mobilizou em torno dos sindicatos e decidiu e decidiu assumir para si a tarefa de mudar o mundo. Foi o sindicalismo revolucionário que no Brasil impulsionou as greves gerais de 1917 com ação direta, independência e solidariedade de classe. É nesse contexto que irá entrar para a história o 1º de Maio como um dia internacional page 1 / 7 fAu - federación Anarquista uruguaya de luta dos trabalhadores em função dos trágicos acontecimentos em torno da greve geral pelas 08 horas de trabalho na cidade de Chicago, Estados Unidos, em 1886, termina com uma tremenda repressão, resultando em inúmeros mortos e feridos pela polícia de Chicago, além da prisão de 10 anarquistas, os quais 7 são condenados a pena de morte, 2 a prisão perpétua e 1 a 15 anos de prisão, entrando para a história como os mártires de Chicago Os direitos históricos conquistados pelos trabalhadores diante da flexibilização Os anos que sucederam o período das greves gerais no Brasil impulsionadas pelo sindicalismo revolucionário do século XX, foram marcados pela Ditadura do Estado Novo com o presidente Getúlio Vargas aplicando um controle e repressão sobre as organizações operárias com inspiração no fascismo. Ao mesmo tempo, foi criada a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), onde uma série de direitos que haviam sido reivindicados nas décadas anteriores acabaram sendo reconhecidos. A CLT foi editada em 1943 e ao longo da década de 90, no auge do neoliberalismo durante o mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, houveram uma série de tentativas de reformas na legislação trabalhista que, no entanto, não obtiveram êxito em virtude da oposição política feita na época principalmente pelo PT e também pela resistência dos trabalhadores No entanto, em novembro de 2011, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo/SP, mesmo sindicato que projetou Lula, apresenta ao governo uma proposta de flexibilização da legislação trabalhista. O objetivo dessa proposta chamada de Acordo Coletivo Especial (ACE) é nacionalizar e estender para o conjunto da classe trabalhadora a experiência de negociação presente na região do ABC, ou seja, acordos que possibilitaram aos patrões a redução de salários e direitos. São acordos que permitem que o negociado prevaleça sobre o legislado, ou seja, abre margem somente para a retirada de direitos, já que para negociar mais direitos e conquistas para além do que já está previsto em lei não há necessidade de se fazer nenhuma nova legislação. Dessa forma, fica garantido aos patrões a tranquilidade que tais acordos – feitos separadamente por empresa, rebaixando direitos e fragmentando mais um pouco as lutas da classe trabalhadora – não possam ser questionados juridicamente. Em outras palavras, se o trabalhador se sentiu lesado a partir da aprovação do acordo, caso o page 2 / 7 fAu - federación Anarquista uruguaya projeto vire lei, não adianta denunciar e nem recorrer ao Judiciário. A maléfica proposta do Acordo Coletivo Especial enfrenta a resistência do movimento sindical mais combativo que busca se recompor e superar a fragmentação com atos em unidade. Tomamos aqui como exemplo as recentes mobilizações nacionais que antecedem este primeiro de maio em torno de pautas comuns que tocam o conjunto das classes oprimidas no país. O Partido dos Trabalhadores como agente conservador da estrutura de dominação No Brasil, os 10 anos do Partido dos Trabalhadores como elite dirigente conservaram uma base econômica baseada nas exportações de commodities minerais e agrícolas, no agronegócio e nos grandes projetos de infra-estutura e energia sob a liderança de grandes grupos econômicos e financeiros transnacionais. O governo brasileiro ao longo da última década financiou com dinheiro do BNDES a expansão das transnacionais brasileiras produzindo oligopólios que controlam a economia do país. Os fatos recentes na conjuntura nacional deflagram não somente a opção política que fez o PT, mas também os limites e condicionantes de fazer parte da estrutura do Estado onde se acaba reproduzindo a lógica do sistema de dominação. As recentes nomeações de Blairo Maggi, membro da bancada ruralista e maior plantador individual de soja do mundo, para a comissão do Meio Ambiente e de Marco Feliciano, pastor membro da bancada evangélica, para a Comissão de Direitos Humanos são demonstrações de que vale qualquer tipo de aliança em nome da governabilidade. A tomada de assento pelas forças conservadoras e reacionárias em duas comissões historicamente hegemonizadas pelas forças progressistas, revela que agora em primeiro lugar estão os acordos políticos-eleitorais. A nomeação de Marco Feliciano está relacionada também com a formação das alianças políticas de sustentação governistas visando as costuras eleitorais para 2014. Como pano de fundo nesses fatos recentes da conjuntura está também a consolidação dos interesses privados que atravessam os mega-projetos da Iniciativa de Integração da Infraestrutura Regional Sulamericana (IIRSA) atacando ao meio ambiente e aos direitos dos povos indígenas, quilombolas, camponeses, entre outros. A luta pelo transporte público como ensaio de poder dos oprimidos da cidade page 3 / 7 fAu - federación Anarquista uruguaya Todos os anos, em distintas cidades de nosso país somos atacados logo nos primeiros meses pela patronal do transporte em conjunto com o poder público com escandalosos aumentos nos preços das passagens de ônibus. O precário transporte coletivo que envolve ônibus em péssimo estado (sem as devidas adaptações para deficientes físicos), linhas atrasadas e superlotadas, um regime de super exploração aos trabalhadores do setor aliado a uma tarifa exorbitante, fazem parte de uma série de desrespeitos impostos pelos de cima aos trabalhadores e oprimidos de norte a sul deste país. Essa escandalosa situação tem levado sobretudo a juventude a se mobilizar e tomar as ruas contra os aumentos, pelo passe livre estudantil e para desempregados e por um outro modelo de transporte, que seja 100% público. Já se vai mais de uma década onde inúmeras capitais brasileiras começaram a ser literalmente sacudidas pelas lutas contra o aumento da tarifa de ônibus e pelo passe livre para estudantes e desempregados, como foi o caso de Salvador (2003), Florianópolis (2004, 2005), dentre tantas outras. Este ano foi a vez de Porto Alegre se levantar contra o aumento na tarifa do transporte e contra as péssimas condições do transporte coletivo. Após anos de atos pequenos com pouca repercussão mas muita dedicação e paciência militante, tivemos no último mês massivos atos contra o aumento da tarifa, chegando em seu ápice a reunir mais de 10 mil pessoas em um ato e poucos dias depois mais de 5 mil pessoas em um ato debaixo de uma forte chuva. Uma memorável jornada de lutas que transcorreu em um momento onde o poder público se mostrava intransigente, alegando a impossibilidade de reduzir a tarifa enquanto a mídia corporativa jogava um papel de agente ideológico do poder público e da patronal do transporte, criminalizando e ridicularizando o movimento. A unidade de diversos setores da esquerda, sem sectarismos, em torno do Bloco de Luta pelo Transporte Público e dos setores libertários e combativos na Frente Autônoma foi acumulando de ato em ato, panfletagem em panfletagem, reuniões em reuniões desde o início do ano. A força das ruas, a disposição de luta radicalizada demonstrada em diversos setores da juventude e também dos trabalhadores rodoviários que se somaram a luta fez com que a justiça acatasse uma liminar obrigando a revogação do aumento. Uma importante vitória dos debaixo em um momento marcado por capitulações, por ausência de ação direta e luta popular autônoma. Uma vitória que ganha contornos muito mais amplos que a redução da tarifa e abre caminho para um novo estilo nas lutas sociais, rejeitando o personalismo de “líderes e organizações iluminadas” que falam e negociam a revelia do movimento. page 4 / 7 fAu - federación Anarquista uruguaya Com a vitória parcial do movimento a patronal do transporte, até então calada, entrou em cena buscando reverter a decisão judicial. Enquanto não são capazes de reverter a decisão judicial precarizam ainda mais o transporte, diminuindo o número de linhas e fazendo com que as pessoas passem um tempo ainda maior nas filas, além de terem de suportar ônibus ainda mais lotados. Crimes cotidianos de uma classe! Crimes tão “sutis e refinados” quanto seus “costumes” e residências e por isso não dignos de serem escancarados nas manchetes da mídia corporativa. A mídia corporativa que desde o início atacou de forma voraz a luta contra o aumento da tarifa, passou a mudar o discurso assim que luta se massificou. De forma cínica passou a “reivindicar” a legitimidade da luta ao mesmo tempo que trabalha diariamente para semear discórdias e dividi-lo, sobretudo a partir do isolamento e criminalização dos setores mais combativos. Essa mesma mídia assumiu o papel de agente indiscreto da repressão, identificando e reproduzindo ostensivamente imagens de companheiros que praticavam a ação direta nos atos (enquanto se silenciava sobre a repressão policial que feriu gravemente muitos companheiros, além dos inúmeros escândalos que envolvem a máfia do transporte) para exigir que sejam intimados e condenados judicialmente. Já são dezenas de companheiros intimados e muitos já são os relatos de companheiros que tenham recebido ameaças pelas ruas de agentes a paisana. A atuação da mídia corporativa enquanto um agente ideológico deste sistema de dominação que é o capitalismo não é nenhuma novidade para a luta e organização dos de baixo. Um bom exemplo disso é retomarmos a heróica luta dos operários de Chicago pela redução da jornada de trabalho e a tragédia que a acompanhou, com mais de uma centena de companheiros mortos e feridos, e a prisão e posterior execução de companheiros anarquistas que ficaram conhecidos como “os mártires de Chicago”. Em meio à caça às bruxas que acontecia após a repressão na greve de Chicago, a mídia corporativa da época expunha seu ódio espumoso a luta e organização operária. Afirmava o jornal Chicago Times “A prisão e os trabalhos forçados são a única solução adequada para a questão social”, já o New York Tribune ia além “Estes brutos [os operários] só compreendem a força, uma força que possam recordar durante várias gerações…”. Assim como nos episódios de Chicago, temos ainda hoje a mídia hegemônica ocupando um papel de agente ideológico do sistema de dominação, formando consensos, conspirando, fragmentando e criminalizando a luta e organização dos de baixo, o que exige encarar esse inimigo com a mesma força que encaramos a patronal e os diversos governos de turno. page 5 / 7 fAu - federación Anarquista uruguaya Diante disso nós reforçamos nossa atitude, a pauta do transporte público não é um caso de polícia, a questão social urgente e necessária que se acusa só pode ser resolvida por decisão política. E para fazer cumprir suas demandas o povo não pode confiar seus interesses ao poder burocrático dos conchavos de gabinete e às decisões tomadas a portas fechadas entre elites políticas e grupos econômicos dominantes. A democracia de base é um mecanismo social que se representa na política pelas assembleias, pelas marchas, distintas formas de luta e organização de base dos setores populares. Estamos unidos com o Bloco de Lutas na defesa de um modelo de trasporte coletivo 100% público, que liquide com o lucro dos patrões na exploração de nossos direitos, das liberdades públicas de acesso e mobilidade do conjunto do povo sobre a cidade. Um modelo público de transporte coletivo, junto com o fortalecimento da oposição sindical dos rodoviários contra os pelegos e o controle e a vigilância dos setores populares formam um projeto social que exige longas peleias pelo caminho. Para os anarquistas da FAG, o modelo público é um marco para acumular forças de mudança, avançar direitos e conquistar melhores serviços à revelia do controle dos capitais privados. Luta para empoderar o povo e não se acomodar nas estruturas burocráticas do poder, que usurpa a força coletiva em direito público, mas em causa particular. Saudação aos 30 anos da Coluna Cerro-Teja É com grande satisfação e alegria que nos somamos hoje às comemorações dos 30 anos da Coluna Cerro-Teja neste 1 de maio. Importante marco dentro da esquerda classista e combativa oriental, a Coluna tem se mantido firme ao longo destes 30 anos e mantendo firme uma cultura de classe, organização e luta que tanto é presente na história destes bairros. Reivindicamos com carinho e admiração o exemplo das grandes “barriadas” promovidas pelos operários da carne no Cerro, o espírito classista, combativo e de intransigência para com os verdugos tão bem expressados na consigna de “ni carneros, ni milicos” que agitavam trabalhadores dos frigoríficos e moradores destes bairros. O paralelo 38 durante a greve dos grêmios solidários, a persistente resistência contra o “pachecato” e posteriormente a ditadura civil-militar, a ocupação de ANCAP durante a heróica greve geral contra o golpe gorila que agora completa 40 anos de impunidade. Para nós é sempre uma grande alegria poder presenciar a manutenção de uma cultura de classe, organização e luta nestes queridos bairros que foram palco de históricas lutas de nossa classe. Temos certeza de que a Coluna Cerro-Teja tem sido um fator de grande importância para manter viva uma memória de luta dos de baixo no Uruguai, assim page 6 / 7 fAu - federación Anarquista uruguaya como organizando e animando os setores classistas e combativos dispostos a lutar sem claudicações. Saudamos portanto todos companheiros e companheiras que hoje saem às ruas para se somar a esta importante coluna. Em memória dos mártires da indústria da carne: Companheiros Spala, Muñoz, Motta e Paleo presentes! Viva o paralelo 38 e as greves dos grêmios solidários! Viva a greve geral contra o golpe gorila! Há 40 anos de impunidade: Justiça e castigo aos culpados! Em memória a Alberto “Pocho” Mechoso, lutador social do Cerro, desaparecido pela genocida Operação Condor e recentemente encontrado. Viva a Coluna Cerro-Teja! Arriba los que luchan carajo! _______________________________________________ federacionAnarquistauruguaya.com.uy page 7 / 7 Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)
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