Agenda Tecnológica Setorial – ATS
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Agenda Tecnológica Setorial – ATS
Agenda Tecnológica Setorial – A T S Tecnologias de Informação e Comunicação - TIC D ISPLAY RELATÓRIO ANALÍTICO DA CONSULTA ESTRUTURADA Centro de Gestão e Estudos Estratégicos Ciência, Tecnologia e Inovação Este texto integra um conjunto de documentos que compõem o projeto Agenda Tecnológica Setorial (ATS), que inclui: Panorama Econômico Setorial Panorama Tecnológico Setorial Relatório Descritivo da Consulta Estruturada Relatório Analítico da Consulta Estruturada O material completo está disponível no site da ABDI: www. abdi.com.br ©2016 – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida, desde que citada a fonte. REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Michel Temer Presidenta Interino MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, DA INDÚSTRIA, COMÉRCIO EXTERIOR E SERVIÇOS Marcos Pereira Ministro MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Gilberto Kassab Ministro Miguel Nery Presidente Interino ABDI Mariano Francisco Laplane Presidente CGEE Maria Luisa Campos Machado Leal Diretora de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação Marcio de Miranda Santos Diretor Executivo Paulo César Marques da Silva Diretor do Desenvolvimento Produtivo – Substituto Antonio Carlos Filgueira Galvão Gerson Gomes José Messias de Souza (a partir de 19/08/15) Diretores Carla Maria Naves Ferreira Gerente de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação Leonardo Reisman Chefe de Gabinete ©2016 – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida, desde que citada a fonte. SUPERVISÃO Maria Luisa Campos Machado Leal SUPERVISÃO Marcio de Miranda Santos EQUIPE TÉCNICA DA ABDI EQUIPE TÉCNICA CGEE Carla Maria Naves Ferreira Gerente de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação Liliane Sampaio Rank de Vasconcelos Coordenadora Zil Miranda Assessora Especial Kátia Regina Araújo de Alencar Assessora Rodrigo Rodrigues Analista Sênior Kleber de Barros Alcanfôr Assessor Carlos Venicius Frees Especialista Setorial Lilian M. Thomé Andrade Brandão Assessora Ricardo Gonzaga Martins Especialista Setorial Rogério Mendes Castilho Assessor Adriana dos Santos Ghizoni Assistente de Projetos Simone Rodrigues Neto Andrade Assistente Administrativo COORDENAÇÃO TÉCNICA GERAL COMITÊ TÉCNICO DE ESPECIALISTAS Fabio Stallivieri (UFF) Ricardo Naveiro (UFRJ) Rodrigo Sabbatini (UNICAMP) Jorge Britto (UFF) Carlos Achete Carlos Azen Celso Pinto Saraiva Flavia Carneiro Lopes Dantas Marcos Cremona Thebano Emilio de A. Santos Victor Pellegrini Mammana COORDENAÇÃO TÉCNICA SETORIAL Paulo Bastos Tigre (UFRJ) Panorama Econômico Viviane Carvalho Nogueira (CTI) Panorama Tecnológico COORDENAÇÃO DE COMUNICAÇÃO Simone Zerbinato Coordenadora de Comunicação Substituta Rachel Mortari Edição/Organização Maria Irene Lima Mariano Revisão Rodrigo Martins (Tikinet) Projeto Gráfico Bruna Orkki (Tikinet) Diagramação ABDI Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial SCN Quadra 1, Bloco D, Ed. Vega Luxury Design Offices, Torre Empresarial A Asa Norte, Brasília – DF CEP 70.711-040 – Tel.: (61) 3962 8700 www.abdi.com.br CGEE Centro de Gestão e Estudos Estratégicos SCS Quadra 9, Torre C, 4º andar Ed. Parque Cidade Corporate CEP: 70.308-200 +55 61 3424-9600 Sumário 1. Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 2. Resultados da consulta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 2.1. Subsistema de materiais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 2.2. Subsistema de tecnologias de produto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 2.3. Subsistema de tecnologias de processos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 3. Considerações Finais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 Lista de Figuras Figura 1 – Cadeia de suprimentos de displays de LCD de matriz ativa. . . . . . . . 9 Lista de Tabela Tabela 1 – Agrupamento das tecnologias relevantes prioritárias e críticas do subsistema de materiais e seus principais players mundiais, em função dos elos da cadeia de suprimentos de displays e das principais tecnologias de displays . . . . . . . . . . . 8 Tabela 2 – Tecnologias relevantes prioritárias e críticas do subsistema de tecnologias de produto, associadas a suas principais aplicações e seus principais players mundiais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 Tabela 3 – Tecnologias relevantes críticas do subsistema de processos e equipamentos associados e seus principais player mundiais. . . . . 15 1. Introdução Este documento tem como objetivo apresentar uma análise técnica dos resultados da consulta estruturada da ATS de TICs-Displays. As tecnologias relevantes prioritárias e críticas identificadas na consulta estão associadas a quatro tecnologias de displays: display de cristal líquido (LCD), diodo orgânico emissor de luz (OLED), e-paper (ou display reflexivo) e diodo inorgânico emissor de luz (LED). Praticamente todas as tecnologias relevantes estão de acordo com a tendência mundial em displays, que aponta para displays de alta (HD) e ultra alta definição (UHD), displays de grande área, displays flexíveis e displays transparentes. A característica pujante e dinâmica dessa indústria tem mostrado que inovações tecnológicas desenvolvidas na academia ou centros de pesquisa podem se tornar tecnologias dominantes em um curto período de tempo, de modo que muitas vezes é difícil fazer previsões sobre esta indústria. De qualquer maneira, nesta análise se buscou situar os resultados da consulta no cenário mundial atual e futuro da indústria de displays. Também foram listados alguns players mundiais empenhados no desenvolvimento de cada uma das tecnologias relevantes prioritárias e críticas identificadas na consulta. Os resultados são apresentados de acordo com os três subsistemas tecnológicos que organizaram a lista de tecnologias emergentes submetidas à consulta: subsistema de materiais, subsistema de tecnologias de produto e subsistema de processos e equipamentos. 7 Agenda Tecnológica Setorial – ATS Relatório Analítico 2. Resultados da consulta 2.1. Subsistema de materiais No subsistema de materiais, foram selecionadas duas tecnologias relevantes prioritárias e 12 tecnologias relevantes críticas. Estas tecnologias são utilizadas em três tecnologias de displays – LCD, OLED e e-paper –, e estão em consonância com as tendências mundiais. A Tabela 1 apresenta o agrupamento das tecnologias relevantes prioritárias e críticas para o subsistema de materiais, de acordo com os elos da cadeia de suprimentos de displays, e alguns dos principais players mundiais empenhados no desenvolvimento destas tecnologias. Tabela 1 – Agrupamento das tecnologias relevantes prioritárias e críticas do subsistema de materiais e seus principais players mundiais, em função dos elos da cadeia de suprimentos de displays e das principais tecnologias de displays Tecnologias relevantes prioritárias e críticas Elos da cadeia de suprimentos Prioritárias LCD 1. Transistor de filme fino (TFT) Óxido de zinco (ZnO) Óxido de zinco e estanho (ZTO) Óxidos amorfos semicondutores (AOS) Óxido de índio, gálio e zinco (IGZO) OLED e-paper ZnO ZTO ZnO ZTO AOS IGZO AOS IGZO Filmes ópticos com texturas ----- ----- 3. Lâmpadas para unidade de retroiluminação (BLU) Diodos emissores de luz (LEDs) OLED branco (WOLED) ----- ----- Críticas 2. Filmes ópticos 4. Materiais funcionais 5. Substratos 6. Eletrodo transparente e condutor (TCE) ----Tintas de materiais funcionais Substratos flexíveis Grafeno Nanofios de prata (AgNW) e nanotubos de carbono (NTC) AOS Pequenas moléculas orgânicas (small molecules) ----Tintas de materiais funcionais Tintas de materiais funcionais Substratos flexíveis Substratos flexíveis Grafeno AgNW e NTC AOS Grafeno AgNW e NTC AOS Fonte: Elaboração própria 8 Tecnologias de Informação e Comunicação - TIC Display Principais players Sharp, Samsung, LG, CBRITE, AUO, BOE, Chimei Innolux, Sony, Foxconn 3M, Keiwa, Gamma Optical, Toray Advanced Film, U Bright Optronics, SKC Haas LEDs: Heesung Electronics, Coretronic, Osram, Philips, Hansol WOLED: Philips, Konica Minolta, Osram, NEC, Kaneca, Lumiotec, LG, GE, Samsung UDC, Merck, LG Chem, BASF, Dupont, Idemitsu Kosan, Dow Chem, Duksan Hi Metal Dupont, Sun Chemical, Plextronics, Kovio, PolyIC, Inktec, Henkel, SPG Prints Dupont Teijin, ITRI, Corning e Asahi (vidro flexível) Grafeno: Samsung, Sony, Power Booster, Graphene Square, Top Nanosys AgNW: Cambrios, Carestream, Seashell, Dupont, Blue Nano NTC: Canatu, Eikos, Unidym, SWeNT, Top Nanosys, LG A Figura 1 traz uma ilustração da cadeia de suprimentos de displays de LCD de matriz ativa.1 Os elos localizados na parte inferior da cadeia compõem a região de front-end da cadeia de displays e apresentam um maior grau de complexidade tecnológica. Já os elos localizados na parte superior da cadeia compõem a região de back-end, que consiste na integração das partes que constituem o módulo de LCD. Os elos correspondentes às tecnologias relevantes prioritárias e críticas do subsistema de materiais (identificados na primeira coluna da Tabela 1) para displays de LCD foram assinalados na Figura 1. Todas as tecnologias relevantes estão localizadas na região de front-end da cadeia de displays, que apresenta um maior grau de complexidade tecnológica e demanda investimentos de longo prazo para o seu estabelecimento. Hoje no Brasil não há empresas atuando nas etapas de front-end. Atualmente, as fábricas no país das grandes fabricantes mundiais de displays, como Samsung, LG, Foxconn, Sony, Sharp e Panasonic, atuam nas etapas finais do back-end, limitando-se a etapas de fabricação das placas de circuitos impressos e montagem de partes elétricas e mecânicas dos displays. Figura 1 – Cadeia de suprimentos de displays de LCD de matriz ativa Fonte: Victor Pellegrini Mammana, PDP-Displays (2008) As duas tecnologias classificadas como relevantes prioritárias para o subsistema de materiais (óxido de zinco – ZnO e óxido de zinco e estanho – ZTO) fazem parte do grupo dos materiais óxidos amorfos semicondutores (AOS), que vêm sendo intensivamente investigados nos últimos cinco anos para aplicação em transistores de filme fino (TFTs). Estes TFTs são um elemento comum nos displays de matriz ativa das tecnologias de displays de LCD, OLED e e-paper. Em geral, existem duas rotas tecnológicas principais para a obtenção dos diferentes tipos de AOS – a rota química e a rota física. Na rota química, os AOS são obtidos por meio da síntese química em solução, e na rota física os AOS são obtidos por meio da deposição em fase vapor em equipamentos como o sputtering. Embora estes equipamentos apresentem custo elevado, os filmes de AOS obtidos por meio da rota física apresentam melhor uniformidade, maior rendimento e melhores propriedades elétricas, e por tal razão esta é a rota utilizada industrialmente. No Brasil, há mais de 1 Ilustração elaborada em 2008 no trabalho coordenado pelo Dr. Victor Pellegrini Mammana, do CTI Renato Archer, para a Política de Desenvolvimento Produtivo para Displays (PDP-Displays). 9 Agenda Tecnológica Setorial – ATS Relatório Analítico quinze grupos de pesquisa ligados a universidades e centros de pesquisa desenvolvendo pesquisas em ZnO obtido através da rota química para aplicação em células solares, baterias, sensores de gás e fotocatálise.2 No último congresso da Sociedade Brasileira de Pesquisas em Materiais (SBPMat), realizado em 2014, foi identificado somente um grupo de pesquisa atuando na aplicação de ZnO para TFTs no Brasil.3 A escolha da rota química pelos grupos de pesquisa brasileiros se deve principalmente ao seu baixo custo. Entre as doze tecnologias classificadas como relevantes críticas para o subsistema de materiais, foram relacionados novamente materiais da classe dos AOS, o óxido de zinco, gálio e índio (IGZO). Embora ainda não haja um consenso sobre qual o óxido com melhor desempenho para a utilização em TFTs para displays de matriz ativa, a maioria dos relatos aponta para o IGZO. Esta é uma questão ainda em aberto, uma vez que problemas referentes à baixa estabilidade dos TFTs de IGZO ainda não foram solucionados. Ainda há muita pesquisa e desenvolvimento a se realizar nesta área. Os principais players mundiais envolvidos no desenvolvimento de TFTs de AOS estão investigando vários tipos de óxidos obtidos por meio da rota física. No Brasil, só foi identificado um grupo de pesquisa atuando no desenvolvimento de TFTs de IGZO obtidos por rota química.3 Outra tecnologia relevante crítica para o subsistema de materiais são as lâmpadas de diodos inorgânicos emissores de luz (LEDs). Os LEDs são a tendência mundial em lâmpadas para a unidade de retroiluminação (BLU) para displays de LCD. A produção em massa dos LEDs por várias empresas tem feito seu preço diminuir significativamente ao longo dos últimos anos. Além da aplicação em BLU, as lâmpadas de LED têm penetrado os importantes mercados de iluminação residencial, iluminação automotiva e iluminação pública. O uso de OLEDs brancos (WOLEDs) como BLU ainda não é uma realidade, mas poderá viabilizar a obtenção de displays de LCD flexíveis no futuro. Deste modo, os players listados na Tabela 1 que se dedicam ao desenvolvimento de WOLEDs têm como objetivo principal a sua utilização em iluminação em geral, e não como lâmpadas para BLU em displays de LCD. Porém, caso venha a se provar a viabilidade da utilização dos WOLED sem BLU, os players estarão aptos, do ponto de vista tecnológico, a fornecer este tipo de tecnologia para utilização em displays de LCD. Apesar de as duas tecnologias, LED e WOLED, consistirem de diodos emissores de luz, suas rotas tecnológicas são completamente diferentes. Outra tendência mundial em materiais para displays identificada na consulta estruturada como tecnologia relevante crítica são os substratos flexíveis. Desde 2013, grandes empresas do setor, como Samsung e LG, têm sinalizado para a produção em larga escala 2 Pesquisa realizada nos anais do XIII Encontro da SBPMat, ocorrido em João Pessoa, Paraíba, no período de 28 de setembro a 2 de outubro de 2014. 3 Grupo da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) de São José do Rio Preto, coordenado pelo Prof. Dr. Lucas Fugikawa Santos. Fonte: Anais do XIII Encontro da SBPMat, realizado em João Pessoa, Paraíba, no período de 28 de setembro a 2 de outubro de 2014. 10 Tecnologias de Informação e Comunicação - TIC Display de displays flexíveis de OLED. No final de 2013, a Samsung colocou no mercado o primeiro smartphone com display flexível, o Galaxy Round. O display flexível é mais leve e mais fino do que o display rígido convencional, e por isso tem sido considerado para aplicações em relógios inteligentes. Os eletrodos transparentes e condutores (TCEs) são um elemento comum não só em diversas tecnologias de displays, mas também em células solares, telas de toque e dispositivos optoeletrônicos. Atualmente existem seis principais classes de materiais (nanofios de prata –AgNW, grafeno, nanotubos de carbono – NTC, polímeros condutores, óxidos amorfos semicondutores – AOS e malhas metálicas) que estão sendo investigadas por mais de duzentas empresas para aplicação em TCE em alternativa ao óxido de índio e estanho (ITO), que apresenta sérias limitações.4 O resultado da consulta estruturada apontou quatro classes de materiais como tecnologias relevantes críticas – grafeno, AgNW, NTC e AOS. As rotas tecnológicas para obtenção de TCEs de grafeno e nanotubos de carbono apresentam similaridades, sendo que os materiais podem ser sintetizados utilizando-se o mesmo tipo de equipamento (reator de deposição química em fase vapor, CVD). As outras classes de materiais apresentam rotas tecnológicas diferentes. Atualmente, o AgNW apresenta-se como o material com resultados mais promissores para substituição do ITO em TCEs para displays, devido a sua alta condutividade, alta transparência e baixo custo. O grafeno, que em 2010 rendeu o prêmio Nobel a dois físicos, tem sido considerado o material do futuro para inúmeras aplicações (baterias, sensores, displays, células solares, circuitos eletrônicos, etc.), devido às suas excelentes propriedades elétricas, mecânicas e ópticas. As pesquisas promissoras em grafeno realizadas em universidades e centros de pesquisa ao redor do mundo vêm atraindo a atenção de muitas empresas, que têm investido cifras milionárias nesta tecnologia.5 Em 2013, a União Europeia lançou um programa para o desenvolvimento de pesquisas em grafeno, que contará com o investimento de cerca de € 1 bilhão em dez anos.5 O Brasil apresenta uma grande iniciativa para o desenvolvimento de pesquisas nesta área, com a criação de um centro de pesquisas dedicado ao estudo do grafeno e suas aplicações, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, que conta com a parceria do Centro de Pesquisas em Grafeno da Universidade Nacional de Cingapura. Na área de displays, o grafeno tem apresentado resultados muito promissores, principalmente para a obtenção de displays flexíveis e transparentes. Recentemente, a Samsung apresentou um TCE flexível de grafeno de 30 polegadas. Entre as tecnologias classificadas como não atrativas, duas têm ganhado grande destaque na indústria de LCDs nos últimos dois anos: os filmes e os componentes ópticos de quantum-dots associados aos LEDs da BLU de LCDs. Displays de LCD com filmes ou 4 Colegrove, Jennifer. Touch and emerging display monthly report: Automotive HUD, free-shape display, ITO-replacement, touch and touchless control, Touch Display Research Inc., Relatório de Novembro de 2014. 5 Graphene markets, technologies and opportunities 2014-2024: IDTechEx Webinar slides. Disponível em: <http://www. idtechex.com/research/webinars/graphene-markets-technologies-and-opportunities-2014-2024-00013.asp>. Acesso em: 15 dez. 2014. 11 Agenda Tecnológica Setorial – ATS Relatório Analítico componentes ópticos de quantum-dots apresentam uma grande melhoria na qualidade das cores dos displays de LCD, e empresas como a Sony e a Amazon já adotam esta tecnologia em alguns de seus produtos. A qualidade das cores obtidas nos displays de LCD com filmes ou componentes ópticos de quantum-dots tem sido comparada com a qualidade das cores obtidas nos displays de OLED, que são os grandes rivais dos displays de LCD. O surgimento e emprego recente destas tecnologias pela indústria pode ter dificultado a sua identificação pelos respondentes da consulta estruturada. 2.2. Subsistema de tecnologias de produto O subsistema de tecnologias de produto apresentou uma tecnologia relevante prioritária e 14 tecnologias relevantes críticas. A Tabela 2 apresenta o agrupamento destas tecnologias, suas principais aplicações e alguns dos principais players mundiais. As tecnologias relevantes deste subsistema estão associadas a quatro tecnologias de displays: LCD, OLED, e-paper e LED. A única tecnologia relevante prioritária para este subsistema é a tecnologia de LEDs para displays de LED de grande área. Esta tecnologia está de acordo com a tendência mundial para displays de grande área, que cada vez mais tem adotado a tecnologia de painéis de LED para utilização em estádios, ginásios e outdoors. Embora esta tecnologia represente um nicho de mercado pequeno, sua associação com a indústria de iluminação pode representar um mercado expressivo, visto que as lâmpadas de LED já têm penetrado os importantes setores de iluminação residencial, iluminação automotiva, BLU para displays de LCD e iluminação pública. As rotas tecnológicas para a fabricação de LEDs para displays de grande área e para iluminação são semelhantes.6 6 Há pelo menos três fábricas no Brasil de lâmpadas LED – Elo e Intral (no Rio Grande do Sul) e FLC (São Paulo) –, das quais duas são inclusive habilitadas pela Lei de Informática. Há também fabricação de luminárias LED, tanto para ambientes internos como para áreas externas (iluminação pública, praças, parques, etc.). 12 Tecnologias de Informação e Comunicação - TIC Display Tabela 2 – Tecnologias relevantes prioritárias e críticas do subsistema de tecnologias de produto, associadas a suas principais aplicações e seus principais players mundiais Críticas Prioritária Tecnologias relevantes prioritárias e críticas Principais aplicações Principais players Diodos emissores de luz inorgânicos (LEDs) Display de LED de grande área Tooper, Dicolor, Desay, Leyard, Unilumin Tecnologia IPS Display de LCD de matriz ativa (AMLCD) Hitachi, LG, Samsung, NEC TFT de LTPS Displays de AMLCD, OLED (matriz ativa e matriz passiva) e e-paper Samsung, LG, Foxconn, JDI, BOE, AUO, Chimei Innolux, Wintek, Tianma, China Star TFT de AOS Displays de AMLCD, OLED (matriz ativa e matriz passiva) e e-paper BOE, Tianma, Sharp, Samsung, LG, CBRITE, AUO, BOE, Chimei Innolux, Sony, Foxconn TFT de grafeno Displays transparentes e flexíveis das tecnologias de AMLCD, OLED (matriz ativa e matriz passiva) e e-paper Fujitsu Laboratories, HRL Laboratories, IBM, Samsung Matriz de TFT de alta densidade Displays de AMLCD e AMOLED de ultra alta definição (UHD) AUO, Chimei Innolux, Samsung, LG, BOE, China Star, Sony Sensor de toque in-cell Displays de AMLCD, AMOLED e e-paper Samsung, LG, JDI, Sharp, BOE, Tianma, ChinaStar, Sharp OLED de pequenas moléculas (SMOLED) Display de OLED de matriz ativa ou matriz passiva LG, Samsung, AUO, Innolux, JDI, Wintek, BOE, Visionox, CSOT, Foxconn OLED de polímeros (POLED) Display de OLED de matriz ativa ou matriz passiva Sumitomo, OTS OLED branco (WOLED) Lâmpadas para iluminação em geral Philips, Konica Minolta, Osram, NEC, Kaneca, Lumiotec, LG, GE, Samsung OLED RGB Display de OLED de matriz ativa ou matriz passiva Samsung, AUO, Innolux, JDI, Wintek, BOE, Visionox, CSOT Tecnologia de encapsulamento de filme fino (TFE) Display de OLED flexível Vitex, UDC, Veeco, GE Tecnologia Eletroforética Display reflexivo tipo e-paper E Ink Tecnologia Electrowetting Display reflexivo tipo e-paper Samsung (Liquavista), Varioptic, ITRI, ADT, Gamma Dynamics Tecnologia MEMS-IMOD Display reflexivo tipo e-paper Qualcomm Elaboração própria 13 Agenda Tecnológica Setorial – ATS Relatório Analítico Entre as tecnologias relevantes críticas, destacam-se as tecnologias de TFTs, que são um elemento essencial em displays de alto desempenho de diversas tecnologias. Atualmente a maioria dos displays de alto desempenho das tecnologias LCD e OLED utilizam TFTs de silício policristalino obtido a baixa temperatura (LTPS). Recentemente, a Sharp começou a utilizar TFTs de AOS em alguns de seus produtos. As rotas tecnológicas envolvidas para a fabricação de TFTs de LTPS e TFTs de AOS são diferentes, sendo que a rota tecnológica para TFTs de AOS apresenta um menor número de etapas de processo. Além disso, esta rota tecnológica apresenta grande similaridade com a rota tecnológica para a fabricação de TFTs de silício amorfo (a-Si), que ainda é muito utilizado em displays de LCD. Algumas empresas, como LG, Samsung, Sharp e AUO, anunciaram a conversão de suas linhas de fabricação de TFTs de a-Si para a fabricação de TFTs de AOS.7 É importante mencionar que, embora as tecnologias de displays de LCD, OLED e e-paper possam empregar TFTs de LTPS e de AOS, o TFT fabricado para uma determinada tecnologia de display não pode ser utilizado em outra tecnologia. Isto se deve às diferenças no modo de acionamento elétrico associado a cada tecnologia. O nível de complexidade tecnológica de um TFT de LTPS ou de AOS é maior para displays de OLED do que para displays de LCD. Displays de e-paper empregam TFTs menos complexos do que as tecnologias de displays de OLED e LCD. TFTs de grafeno também têm apresentado resultados promissores, principalmente para a obtenção de displays flexíveis e transparentes, porém ainda estão em fase de investigação na academia e em centros de pesquisa. A única tecnologia classificada como relevante prioritária para este subsistema que diverge da tendência mundial atual em displays é a tecnologia de OLED de polímeros semicondutores. Praticamente todos os displays de OLED de matriz ativa e de matriz passiva fabricados atualmente no mundo apresentam painel de OLED de pequenas moléculas orgânicas (SMOLED). Os painéis de OLED de polímeros semicondutores (POLED) apresentam eficiência e tempo de vida inferiores aos painéis de SMOLED, porém os processos de deposição dos polímeros semicondutores são mais simples, pois não requerem equipamentos com alto vácuo ou o uso de máscaras mecânicas de sombra. Muitas empresas têm desenvolvido novos processos para a fabricação de painéis de SMOLED através dos mesmos processos utilizados para a fabricação dos POLEDs. 2.3. Subsistema de tecnologias de processos O subsistema de tecnologias de processos e equipamentos apresentou cinco tecnologias relevantes críticas. A Tabela 3 apresenta estas tecnologias e alguns de seus principais players mundiais. Para este subsistema, destaca-se a tecnologia relevante crítica de fabricação de displays flexíveis pelo processo contínuo rolo-a-rolo (roll-to-roll). Os displays flexíveis representam o futuro das tecnologias de displays, e o processo de fabricação rolo-a-rolo deve ser a tecnologia- chave para a obtenção destes displays. Esta tecnologia promete revolucionar o conceito atual das fábricas de displays, possibilitando a obtenção de metros ou quilômetros de displays flexíveis de forma contínua, com baixo 7 Semenza, Paul. Information Display, v. 28 n. 10, p. 14-16, 2012. 14 Tecnologias de Informação e Comunicação - TIC Display custo e alto rendimento. O Brasil tem uma linha piloto de fabricação rolo-a-rolo de células solares orgânicas instalada no CSEM Brasil, localizado em Belo Horizonte. Tabela 3 – Tecnologias relevantes críticas do subsistema de processos e equipamentos associadas e seus principais players mundiais Tecnologias relevantes críticas Impressão de materiais funcionais em solução por jato de tinta (ink-jet) para displays em geral Impressão de materiais funcionais em solução por jato de tinta (Inkjet) para displays de OLED Deposição de materiais funcionais em solução por spray para displays em geral Processo contínuo de fabricação rolo-a-rolo (roll-to-roll) para displays flexíveis Litografia por nanoimpressão para displays flexíveis Principais players Samsung, LG, Sharp, Toppan, Tokyo Electron, Epson Kateeva, Epson, Sumitomo, Panasonic, Samsung, Tokyo Electron, Toppan, Dupont --------LG, Samsung, Holst Centre, E Ink, Plastic Logic, Fraunhofer, GE LG, Samsung, Holst Centre, Plastic Logic, Fraunhofer Elaboração própria A tecnologia de litografia por nanoimpressão para a gravação de estruturas de dimensões nanométricas está sendo investigada em substituição ao processo convencional de fotolitografia, presente em várias etapas do processo de fabricação de displays de LCD, OLED e e-paper rígidos e flexíveis. Esta tecnologia está inserida na rota tecnológica da fabricação de displays flexíveis pelo processo de fabricação rolo-a-rolo, de modo que a maioria dos players envolvidos na fabricação rolo-a-rolo estão também envolvidos no desenvolvimento da tecnologia de litografia por nanoimpressão. A tecnologia de impressão de materiais funcionais em solução por jato de tinta (ink-jet) tem sido investigada por algumas empresas, principalmente para displays de OLED. Esta tecnologia tem sido considerada a grande promessa para diminuir o alto custo de fabricação de displays de OLEDs de grande área, principalmente para aplicação em TVs. Não foram identificadas empresas ou centros de pesquisa atuantes em displays desenvolvendo a tecnologia de deposição de materiais funcionais por spray. 15 Agenda Tecnológica Setorial – ATS Relatório Analítico 3. Considerações Finais A consulta estruturada de TICs-Displays apresentou poucas tecnologias relevantes prioritárias e um grande número de tecnologias relevantes críticas. Este resultado corrobora com o cenário brasileiro, que apresenta um baixo grau de desenvolvimento destas tecnologias. A pesquisa e desenvolvimento em tecnologias de displays no Brasil concentra-se em poucos laboratórios de pesquisa públicos e universidades. Entre estes, destaca-se o CTI Renato Archer, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que atua em diversas tecnologias de displays e tem sido referência para instituições de pesquisa e desenvolvimento e empresas nacionais e internacionais, por sua atuação em pesquisa básica, pelo desenvolvimento de tecnologias e produtos e pela prestação de serviços de fabricação e caracterização de displays. No Brasil, as fábricas das grandes empresas mundiais atuam somente na montagem final de displays. A fabricação de displays é uma tarefa tecnologicamente complexa, porém de extrema importância para o desenvolvimento econômico do Brasil, uma vez que displays são a interface cada vez mais requerida nos meios de comunicação e informação. Além disso, o país apresenta um atrativo mercado interno, o qual, junto com o Mercado Comum do Sul (Mercosul), desperta um grande interesse para a manufatura local de displays. A consolidação e o incremento da competitividade desse segmento no Brasil demandam ações imediatas para a criação de capacitações científicas e tecnológicas, através do estabelecimento de institutos de pesquisa e desenvolvimento em displays, intercâmbio de especialistas e formação de recursos humanos qualificados para atuar na indústria. Essas ações deverão ser direcionadas para resolver as questões tecnológicas elencadas acima. Vale ressaltar o desenvolvimento de OLEDs de matriz ativa como a corrente principal do desenvolvimento tecnológico de displays. No entanto, as oportunidades de atuação em nichos de mercado, como os displays de grandes dimensões baseados na tecnologia LED, devem ser consideradas. Além disso, ações relacionadas ao estabelecimento da estrutura produtiva, por meio do estabelecimento de acordos para transferência de tecnologia, da criação de políticas de incentivos para atração de indústrias da cadeia de suprimento e da importação de fábricas de pequenas gerações, também são necessárias para que, no futuro, o Brasil possa desenvolver, utilizar e produzir as tecnologias relevantes para a competitividade do segmento. O desenvolvimento de um ecossistema populoso nas tecnologias de displays, se incentivado, pode promover um ambiente competitivo para a instalação de grandes empresas do setor e o aumento da competitividade das indústrias eletrônicas que utilizam displays em seus produtos. Os resultados das consultas estruturadas das tecnologias relevantes e das discussões que aconteceram no Comitê Técnico, assim como as conclusões dos Panoramas Tecnológico e Econômico, conduzem essa Agenda Tecnológica Setorial – ATS a duas importantes vertentes para os investimentos em displays: 16 Tecnologias de Informação e Comunicação - TIC Display • displays de OLED de matriz ativa (AMOLED) para grandes volumes de produção; e • displays de grandes dimensões de LED para nichos de mercado. Essas duas artérias principais, se incentivadas, podem promover o desenvolvimento tecnológico brasileiro e contribuir com a competitividade das indústrias eletrônicas que se utilizam de displays como insumos para seus produtos. Um programa de apoio industrial, em moldes similares ao Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Indústria de Semicondutores (PADIS), poderá ser estruturado para incentivar e promover essa indústria no Brasil. Esse programa passaria pela qualificação dos institutos tecnológicos para o desenvolvimento de tecnologias, em parceria com centros tecnológicos internacionais e/ ou com os centros de multinacionais instalados no Brasil, e também com startups. O programa teria como objetivo criar condições para o Brasil ser fornecedor de componentes para essa indústria, sem se perder de vista o processo de fabricação local de displays. 17 Agenda Tecnológica Setorial – ATS Relatório Analítico Centro de Gestão e Estudos Estratégicos Ciência, Tecnologia e Inovação