Mini-guia de estudos - Simulação Interna do Santa Maria

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Mini-guia de estudos - Simulação Interna do Santa Maria
SISa
2011
Guia de Estudos
Politburo de 1924
Guia elaborado por:

Fernando Ferreira – Diretor Geral;

Marcel Martins – Diretor ;

Pedro Guijarro – Diretor de Imprensa.
Guia de Estudos
Politburo de 1924
Sumário
1. Marxismo.......................................................................................................................................3
2. Partido Operário Social-Democrata Russo...............................................................................4
2.1. O Segundo Congresso do POSDR ......................................................................................5
3. Crise do Império Russo...............................................................................................................6
3.1. Guerra Russo Japonesa........................................................................................................6
3.2. Revolução de 1905.................................................................................................................8
4. A Grande Guerra Mundial............................................................................................................9
5. A Revolução de 1917..................................................................................................................11
5.1. Lênin............................ ........................................................................................................11
5.2. A Revolução de 1917...........................................................................................................14
6. Governo Lênin............................................................................................................................16
6.1. A Guerra Civil Russa............................................................................................................16
6.1.1. Contexto histórico da Guerra Civil.............................................................................16
6.1.2. Os primeiros anos do conflito....................................................................................17
6.1.3. O fim da Guerra Civil.................................................................................................18
6.2. A Fome de 1921...................................................................................................................19
6.3. NEP......................................................................................................................................20
6.4. A criação da União Soviética................................................................................................20
7. A situação em 1924....................................................................................................................21
7.1. A morte de Lênin.................................................................................................................21
7.2. A disputa pela sucessão......................................................................................................22
7.3. As discussões no Politburo.................................................................................................23
8. Divisão do Politburo...................................................................................................................24
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1. Marxismo:
Em 1848, o alemão Karl Marx publicou o Manifesto Comunista, e apresentou uma nova
análise da sociedade. Tomando a dialética de Hegel e o socialismo como bases para sua
teoria, encontrou as raízes da desigualdade social na divisão dos bens materiais.
Segundo Marx, a organização social é determinada pelo materialismo histórico. As
relações sociais seriam definidas segundo a divisão dos meios de produção entre seus
componentes. A distribuição dos meios de produção, ou seja, o fator socioeconômico, é a
infraestrutura, que age determinando um segundo fator, a superestrutura (composta por fatores
como política, religião e cultura). Em resumo, a organização da sociedade capitalista é
baseada exclusivamente na divisão dos bens materiais (meios de produção).
Marx, então, analisou as mudanças nos meios de produção ao longo da História a partir
da dialética de Hegel. A teoria da dialética hegeliana estabelece uma situação inicial,
denominada tese. A tese é necessariamente contraditória, e sua oposição é denominada
antítese. A partir do choque entre tese e antítese, surge uma síntese, que passa a ser uma
nova tese, reiniciando o processo.
Para Marx, as mudanças históricas nos meios de produção reproduzem a dialética
hegeliana: cada meio de produção carrega sua própria contradição. A partir do conflito entre o
meio vigente e uma proposta para mudança, surge um novo meio, que dá origem a outro
processo. Na Revolução Francesa (1789), por exemplo, o conflito entre a monarquia
absolutista e os burgueses deu origem à sociedade burguesa no país.
A sociedade capitalista é baseada na exploração da força de trabalho por um detentor dos
meios de produção. Cada trabalhador deveria receber, como prega o socialismo, o mesmo que
sua produção rende ao empregador. Porém, o pagamento acaba sendo menor, o que gera
lucro para o empregador, sendo essa a denominada mais valia. Ou seja, o capitalismo é
baseado na exploração da força de trabalho de uma maior parte da população por uma minoria
detentora dos meios de produção. Assim, o capitalismo gera a desigualdade, dando origem a
um processo da dialética hegeliana: os trabalhadores acabariam insatisfeitos com a
exploração, realizando uma revolução, que resultaria em uma sociedade igualitária. Seria esse,
portanto, o "germe da negação" do capitalismo.
Essa sociedade proposta por Marx cede ao Estado o papel de regular a distribuição das
riquezas de maneira igualitária entre todos. Com o passar do tempo, a sociedade socialista não
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teria a necessidade da existência do Estado, já que a igualdade seria permanente. A partir da
contradição surgiria uma etapa final, que não apresentaria uma antítese: o Comunismo.
2. Partido Operário Social-Democrata Russo:
Fundado em 1898 na cidade de Minsk, o Partido Operário Social-Democrata Russo
(POSDR) tinha a função de congregar sob uma mesma organização diversos grupos
revolucionários que atuavam no Império Russo. Baseou-se no Partido Social-Democrata
Alemão, que à época podia ser considerado o principal partido marxista na Europa Ocidental.
Da conferência realizada em Minsk, foi publicado o Manifesto do POSDR, apresentando
as ideias defendidas pela organização. A principal faz referência à realização da Revolução
Socialista no Império Russo. A forma como seria realizada gerou, posteriormente, uma grande
disputa interna no POSDR. Segundo o Manifesto, a Revolução Russa deveria ser dividida em
duas fases: a primeira visaria transferir o poder do Tsar para a burguesia, ou seja, inicialmente
o objetivo era unicamente derrubar a autocracia tsarista. A segunda fase seguiria os
pressupostos do marxismo, sendo realizada pelo proletariado, criando uma sociedade
socialista.
Além de apresentarem um planejamento para a Revolução, os membros do partido
defenderam o fortalecimento do capitalismo no Império Russo. Segundo a linha defendida pelo
POSDR, o capitalismo precisaria se desenvolver no país, pois só assim seria possível haver
uma real transição para o socialismo, não havendo sentido realizar a Revolução
imediatamente. Além disso, o fortalecimento do capitalismo no Império Russo possibilitaria o
crescimento das indústrias no país, o que acabaria resultando no crescimento do proletariado,
a classe que deveria realizar a verdadeira Revolução. Por fim, criticaram as práticas terroristas
que outros grupo opositores ao governo do tsar Nicolau II adotavam. Segundo os membros do
partido, tais práticas não surtiam um resultado efetivo, pois mesmo que Nicolau II fosse
assassinado, haveria um herdeiro para substituí-lo. Defendiam a conscientização da massa
trabalhadora, promovendo ações coordenadas, não isoladas, que pudessem levar à derrubada
do tsarismo.
Dentro do partido, porém, havia uma divergência de ideias quanto a esse modelo de
Revolução. Inicialmente um pequeno problema, as diferenças acabaram aumentando, e
acabariam sendo discutidas seriamente no Segundo Congresso do POSDR, realizado em
1903.
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2.1. O Segundo Congresso do POSDR:
O POSDR surgiu com uma grande desorganização interna, já que congregava diversos
grupos socialistas, e deveria tomar forma para poder organizar a Revolução de maneira
eficiente. Assim, em julho de 1903, foi convocado o Segundo Congresso do Partido Operário
Social-Democrata Russo.
As treze primeiras sessões foram realizadas na cidade de Bruxelas, na Bélgica. Porém, o
Congresso acabou sofrendo com uma forte repressão policial, o que resultou na transferência
para Londres.
Vladimir Illych Lênin, um dos líderes mais
destacados do POSDR, sugeriu que a organização
deveria trabalhar sem alianças com outras agremiações
políticas, e tendo apenas versados no Marxismo entre
seus membros, que deveriam se dedicar exclusivamente
ao Partido. Por fim, propôs que essa deveria ser
realizada segundo o modelo proposto por Marx, ou seja,
armada e realizada pelo proletariado (no caso do Império Figura 1: Vladimir Lênin por volta
Russo, Lênin incluiu também os camponeses, já que de 1895.
eram a maioria no país) seguida pela imediata
implementação de um sistema socialista.
Julius Martov, um dos principais aliados de Lênin, passou a liderar uma ala de oposição.
Martov e seus apoiadores não acreditavam na implementação imediata do socialismo na
Rússia, pois o capitalismo no país ainda não estava
suficientemente desenvolvido. Sendo assim, o proletariado
(sem a participação camponesa) deveria apoiar a burguesia
na luta pela deposição do Tsar. Quando o capitalismo
estivesse devidamente desenvolvido, as contradições do
sistema econômico iriam aparecer. A etapa final seria a
convocação de uma Assembleia Constituinte, que instalaria,
Figura 2: Julius Martov.
por meio da ação democrática, um governo socialista.
As divergências não foram solucionadas, o que
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resultou na divisão do POSDR em dois novos partidos: os apoiadores de Lênin passaram a
constituir o Partido Bolchevique (cujo nome significa maioria), e os apoiadores de Martov
criaram o Partido Mencheviuqe (cujo nome significa minoria).
3. A crise do Império Russo:
O Império Russo sempre foi marcado por uma histórica situação de desigualdade social. A
situação, porém, parecia ter se agravado em um período de tempo relativamente curto.
A maior parte da população russa era composta por camponeses, que vivam em
condições precárias. Explorados incondicionalmente por uma elite aristocrática fundiária, os
camponeses russos ainda sofriam com diversos outros problemas. O rigoroso inverno resultava
em inúmeras mortes. A fome, juntamente às precárias condições de vida para agravar a
condição miserável em que os camponeses viviam.
Nas cidades, a industrialização russa foi tardia, lenta e desorganizada. Com grande
investimento de capital estrangeiro, uma indústria incipiente começou a surgir no país,
espalhada por algumas poucas cidades grandes. O proletariado russo passou a ser igualmente
explorado. Porém, ao contrário do campesinato, passou a se organizar, exigindo melhoras nas
condições de trabalho. Diversas organizações operárias passaram a agir, e logo foram
colocadas na ilegalidade.
No plano político, o país era comandado por um governo absolutista e de base
aristocrática, com os poderes concentrados nas mãos do Tsar. As organizações políticas que
surgiam eram rapidamente consideradas ilegais, e qualquer manifestação era duramente
reprimida.
Com uma população de milhões de pessoas e um território extenso, o Império Russo
congregava diversos povos, o que tornava o país um retalho de diferentes culturas, e a
discriminação era um problema.
E no início do século XX, a situação se agravaria ainda mais.
3.1. A Guerra Russo Japonesa:
Internamente, o Império Russo encontrava-se prestes a entrar em colapso. Os problemas
continuavam se agravando, as condições de trabalho nas indústrias era precária, o campo
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sofria com a fome e a exploração da mão de obra, e alguns movimentos de oposição ao regime
tsarista começavam a ganhar força entre a pequena burguesia e o proletariado.
Com o avanço das demais potências, como França e Reino Unido na África, e o
crescimento de países como Estados Unidos e o Império Alemão, o Império Russo viu a
necessidade de expandir seus territórios. E voltou-se para a Ásia, mais especificamente para
os territórios da Manchúria e da Coreia, sob domínio japonês.
A partir da década de 1860, o Japão adotara uma postura de modernização e de
industrialização, abandonando sua tradicional política de isolamento. O crescimento do país foi
notável, e passou a incomodar algumas potências, em especial o Império Russo, que sempre
tivera interesse no continente asiático. O Japão encontrou um obstáculo para sua expansão no
Império Chinês, que detinha duas regiões de grande interesse, a Coreia e a Manchúria. Em
1894, o Japão entrou em guerra com a China, e, cerca de um ano depois, conquistou a vitória,
passando a exercer influência sobre a Coreia e a dominar a Manchúria. O Império Russo, por
sua vez, sempre teve interesse na Manchúria, e viu na derrota chinesa uma chance de
expandir seu domínio. Aliando-se à França e ao Império Alemão, pressionou o Japão pela
devolução da Coreia e da Manchúria. O pedido foi atendido parcialmente: o Japão devolveu
uma parte da Manchúria e transformou a Coreia em sua zona de influência. Enquanto isso, os
russos, com ajuda dos franceses, pagaram a dívida de guerra da China. Em troca, a parte
chinesa da Manchúria e a Península de Liautung passaram para o domínio russo. Com isso, as
pretensões japonesas encontravam o domínio russo como um novo obstáculo.
O Reino Unido, temendo que a expansão russa viesse a ameaçar seu domínio econômico
sobre o Império Chinês, buscou uma aliança com os japoneses e, pela primeira vez, um país
asiático estabelecia uma verdadeira aliança com uma potência europeia. Com o apoio
britânico, o Japão passava a ter condições de entrar em confronto direto com o Império Russo,
e os britânicos podiam contar com uma barreira para o avanço russo na Ásia, defendendo sua
dominação econômica sobre o Império Chinês.
A tensão crescia na Ásia, e a guerra era iminente. E, no dia 6 de fevereiro, o Japão cortou
as relações diplomáticas com o Império Russo. Em 8 de fevereiro, atacou a frota russa
estacionada em Porto Artur, um ponto estratégico importante na Península de Liautung, dando
início ao conflito. A frota russa perdeu vários navios, mas ainda impediu uma ação maior por
parte dos japoneses. Porto Artur foi então cercado pela marinha japonesa, o que bloqueou a
frota russa e permitiu que o exército japonês invadisse a península. Comandados pelo General
Alexey Kuropatkin, o exército russo passou a se retirar rumo ao norte, em direção á Manchúria,
onde estavam estacionados cerca de 215 000 soldados. Um contra-ataque russo foi armado,
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mas não obteve sucesso, e as tropas dos dois países acabaram estacionadas. Procurando
decidir a guerra, os japoneses tomaram Porto Artur, o que acabaria sendo decisivo, já que a
em terra as batalhas resultavam em um grande número de baixas para os dois lados, mas
nenhuma aparente resolução.
Percebendo a necessidade de resolver o
conflito no mar, o Tsar Nicolau II moveu a frota
russa do Mar Báltico, comandada pelo Almirante
Rojestvensky, para as águas japonesas. A longa
viagem esgotou o estoque de carvão da frota, e,
em uma tentativa de renovar esse estoque,
Figura 3: Soldados russos entrincheirados na
guerra contra o Japão.
seguiram em direção a Vladivostok. A frota russa
acabou sendo surpreendida por um ataque
japonês quando passava pela Coreia em maio de
1905. O resultado foi um massacre: 19 navios afundados (incluindo o do Almirante
Rojestevnsky) e 5 capturados, de um total de 37. Com a derrota dos reforços, o Império Russo
estava derrotado pelo Japão.
No dia 5 de setembro de 1905, com a mediação do presidente norte-americano Theodore
Roosevelt (interessado em conter o avanço russo na Ásia), foi assinado o Tratado de
Portsmouth, encerrando oficialmente o conflito. O Império Russo cedeu a Manchúria, a região
de Shakhalin e a Península de Liautung ao Japão, reconheceu a Coreia como zona de
influência japonesa, desmilitarizou o porto de Vladivostok, cedeu parte de sua frota oriental aos
japoneses e teve que reduzir seu poderio militar na Ásia.
As consequências para um já abalado Império Russo não poderiam ser piores. Os gastos
tinham sido enormes, o exército sofrera mais de 50 000 baixas e o país havia sido derrotado. O
barril de pólvora iria explodir pela primeira vez.
3.2. A Revolução de 1905:
Ainda durante a Guerra Russo Japonesa, o Padre Gregori Capone, membro da Okhrana
(polícia secreta do Tsar, responsável por prender membros de organizações contrárias ao
governo) organizou um abaixo-assinado no início de 1905.
Com reivindicações como fim da censura, reforma agrária, liberdade religiosa e melhores
condições de vida e uma pequena abertura democrática, o documento recebeu cerca de 135
mil assinaturas. No dia 22 de janeiro do mesmo ano, Capone organizou uma passeata em
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direção ao palácio de inverno do Tsar com o objetivo de entregar o abaixo-assinado. A
população seguiu pacificamente pelas ruas da capital do Império, Petrogrado. A guarda
imperial russa foi ordenada a disparar na direção dos manifestantes, para impedir que
conseguissem se aproximar do palácio do Tsar. O resultado foi um massacre, com centenas de
mortos. O dia ficou conhecido como Domingo
Sangrento.
A insatisfação foi geral, e a população
começou a se organizar. E, no mesmo ano,
eclodiu
o
primeiro
grande
movimento
revolucionário no país.
A Revolução de 1905 acabou sendo
caracterizada por ações isoladas, mas que
ocorreram em intervalos de tempo relativamente
próximos. O movimento teve repercussão no
Figura 4: Multidão marcha em 22/01/1905.
campo e na cidade, com protestos, saques, greves e ataques.
No campo, as ações foram pilhagens, incêndios de propriedades e diversos ataques. As
exigências eram melhores condições de vida e trabalho, menor preço do aluguel de terras,
reforma agrária e aumento do salário dos trabalhadores rurais.
Nas cidades, foram organizados vários protestos, e uma greve geral ocorreu em
Petrogrado, logo após o Domingo Sangrento, reunindo mais de 400 000 trabalhadores ao final
de janeiro. O movimento revolucionário se espalhou pelo Império, e diversas greves foram
realizadas nas regiões da Finlândia, Polônia, Letônia, Cáucaso e nos Urais. Em março, as
universidade russas paralisaram as aulas em função das greves, e diversos estudantes
aderiram à Revolução. A principal greve aconteceu em outubro, organizada por ferroviários.
Alguns dias após seu início, a paralisação já envolvia mais de 2 milhões de ferroviários, o que
bloqueou as estradas de ferro do Império.
Aos poucos, porém, o movimento começou a perder força. Devido à greve dos
ferroviários, o Tsar divulgou o Manifesto de Outubro, permitindo a criação de um Parlamento, a
Duma, e permitiu que alguns partidos políticos saíssem da ilegalidade (dentre eles as facções
do antigo POSDR). Porém, o Tsar poderia fechar a Duma, e essa tinha seus membros eleitos
por voto censitário, portanto tinha maioria aristocrática. Porém, a Revolução de 1905 (um
ensaio para a Revolução de 1917, como definiu Lênin) deixou uma herança maior. Provou que
o tsarismo poderia ser derrubado, e conseguiu a criação dos Sovietes, que passariam a ser
fundamentais nas lutas futuras dentro do Império Russo.
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4. A Grande Guerra Mundial:
Em 1914, um acontecimento foi determinante para o país: a eclosão da Grande Guerra
Mundial. Membro da Tríplice Entente ao lado do Reino Unido e da França, o Império Russo
passou a enfrentar a Tríplice Aliança (as Potências Centrais), composta pelo Império Alemão,
Império Austro-Húngaro e Império Turco-Otomano. No mesmo ano, o Império Russo sofreu
uma grande derrota na Batalha de Tannenberg, sofrendo 30 000 baixas e tendo 90 000
soldados capturados. Porém, o ano teve um saldo positivo, com as tropas do Império AustroHúngaro sendo empurradas para Galícia, na Ucrânia, próxima à fronteira do Império Russo.
No ano seguinte, o Império Alemão renovou suas tropas no front Oriental. Com um melhor
treinamento e melhores equipamentos, os alemães rapidamente avançaram, retomando a
Galícia, dominando a Polônia (então parte do Império Russo). Os russos sofreram 400 000
baixas, com soldados sem treinamento (camponeses recrutados às pressas) e sem
equipamento adequado. Os oficiais não tinham a capacidade para lidar com a situação, e eram
frequentemente substituídos. O exército sofria com a falta de alimento e de munição, e batia
em retirada desordenadamente.
Em 1916, os russos conseguiram se reorganizar e lançar um contra-ataque, que
conseguiu, ao custo de muitas
baixas, conter o avanço alemão.
A
produção
aumentou,
de
voltada
alimentos
quase
exclusivamente para o conflito, o
que gerou escassez nos campos.
Greves começavam a eclodir na
capital São Petersburgo, e as
inúmeras baixas aumentavam a Figura 5: Soldados russos entrincheirados durante a Grande
insatisfação da população e do Guerra.
próprio exército. A frágil economia russa estava em outra profunda crise.
Apesar dos protestos, o Tsar Nicolau II insistiu em manter o país no conflito, aumentando
a insatisfação popular. A Okhrana emitiu relatórios em que evidenciava a possibilidade de uma
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revolta. A Duma informou ao Tsar que seriam tomadas providências caso não fosse convocada
uma Assembleia Nacional Constituinte.
Com a recusa do Tsar, uma revolução teve início em fevereiro de 1917. O Império Russo
deixaria a guerra oficialmente em 3 de março de 1918, já sob o governo bolchevique,
assinando o Tratado de Brest-Litovsk e cedendo às Potências Centrais os Países Bálticos, a
Finlândia, parte da Polônia e parte da Ucrânia. Ao todo, os russos sofreram 3,3 milhões de
baixas (1,8 militares e 1,5 civis).
5. A Revolução de 1917:
5.1. Lênin:
Vladimir Ilitch Ulianov, de codinome revolucionário Lênin, nasceu em 1870, em Simbirsk,
no Volga Médio, em pleno coração da Rússia. Filho de pais professores e mergulhado na
repressão de 1880, foi, assim como seus outros quatro
irmãos, desde cedo politicamente ativo e revolucionário. O
irmão mais velho de Vladimir, Alexandre, ao contrário do
que acreditava Lênin, enxergava eficácia nas ações
terroristas e se envolveu numa trama para o assassinato
de Alexandre III. Tendo o movimento sido frustrado,
Alexandre, por quem Vladimir tinha profunda admiração e
amor, morreu aos dezenove anos executado.
Figura 6: Lênin por volta de 1918.
Lênin teve uma educação de classe média mas se destacou, como apontava o pai de
Alexandre Kerenski, que por coincidência era o diretor de sua escola, por “sua invulgar diligência e
esmero”, “seu pensamento metódico” e “sua concisão, simplicidade e clareza de expressão”. Mais
tarde, com certa dificuldade por possuir um irmão terrorista, Lênin foi admitido na faculdade de
Direito em Kazan, mas apenas quatro meses depois, pela participação num motim, acabou
expulso, segundo o relato:
“Fazia-se notar pelo seu ar sigiloso, pela sua desatenção e até certa rudeza no
trato. Dois dias antes da reunião amotinadora, já dava a perceber que estava planejando
alguma ação imprópria; ficou um tempo enorme no saguão conversando com estudantes
dos menos recomendáveis, foi a casa e voltou trazendo um objeto que os demais lhe
haviam pedido, e de modo geral teve um procedimento bastante estranho. No dia quatro
de dezembro irrompeu no recinto da reunião, entre os cabeças, sendo ele e Polianski os
primeiros que entraram gritando no corredor do segundo pavimento, a agitarem os braços
como para darem coragem aos outros... Tendo em vista as circunstâncias singulares que
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envolvem a família Ulianov, esse comportamento dele deu margem para que o julgassem
perfeitamente capaz de manifestações ilegais e criminosas de toda ordem.”
Sob contínua vigilância policial, foi proibido de reingressar numa outra faculdade. Apenas
três anos depois conseguiu uma licença para ingressar na Universidade de São Petersburgo, onde
obteve excelente desempenho. Depois de formado, trabalhou como assistente de um advogado
liberal. Em dezembro de 1887, Vladimir admitiu a seus colegas de estudo sua intenção de tornarse revolucionário profissional, e já no ano seguinte lia os volumes de O Capital de Marx e
integrava um círculo clandestino de debates marxistas em Kazan
Em 1883 a família Ulianov mudou-se para Moscou, mas Lênin dirigiu-se para Petrogrado
aparentemente como advogado, entretanto, passava a maior parte de seu tempo em atividade
política num grupo de intelectuais marxistas que já principiavam o contato com operários fabris. E
em 1894 publicou – clandestinamente – Quem são os
amigos do povo, uma crítica aos populistas e um apelo
visando à fundação de um Partido Social-Democrático
Russo.
Interessado numa atuação mais pratica, entrou em
maior contato com a cada vez maior massa operária por
meio da distribuição de panfletos nas portas de fábricas. Em
1895 Lênin saiu do país com o objetivo de pedir a
Plekhanov e outros emigrantes que discutissem a
possibilidade de fundação de um partido e de colaboração
clandestina. Também preparava-se um jornal mas, no Figura 7: Nadezhda Krupskaia,
momento de lançamento do primeiro número, em dezembro esposa de Lênin.
de 1895, Lênin e outros próceres da União de Petrogrado
foram presos.
Vladimir ficou um ano preso
antes do julgamento e depois foi
condenado a três anos de isolamento na
Sibéria, contudo essa foi uma excelente
oportunidade para Lênin escrever muita
coisa e completar seu livro O
Desenvolvimento do Capitalismo na
Rússia, e, ainda, para ler muitos livros
que lhe eram enviados. Mais tarde, com
a chegada de Nadezhda Krupskaia, que
também fora exilada, ele se casou,
mesmo no exílio.
Quando
Lênin
finalmente
retornou do exílio, ele retomou seu trabalho e revitalizou seus contatos imediatamente. Tendo
compreendido que seria impossível a publicação do jornal nos limites russos, ele embarcou para a
Figura 8: O jornal Iskra.
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Suíça. Em 1900 foi finalmente publicado o primeiro número de seu jornal Iskra (“A Centelha”).
Em julho e agosto de 1903 se
realizou, fora da Rússia, um Congresso do Partido, célebre pela cisão entre bolcheviques e
mencheviques. Nesse ponto, Lênin assume a liderança do Partido Bolchevique Independente.
Em 1905, durante a Revolução, Lênin voltou ao Império Russo, mas, com a frustração do
movimento, Ulianov se dirigiu para a Finlândia e, em 1907, retomou sua vida de exilado. Com o
fracasso da revolução, o partido encontrou
sérias dificuldades financeiras. Lênin
conseguiu um empréstimo de Mr. Fels, rico
industrial, graças ao auxílio de George
Lansbury, empréstimo esse que só pode
ser pago em 1923, após a Revolução
Outubro, mas com integralmente e com
juros acumulados.
Quando voltou à Rússia, em 1917,
Lênin foi aclamado chefe do Partido
Bolchevique, posição na qual tivera,
diferentemente dos outros exilados pois
nunca chegou a perder o contato com seu
país
natal,
mantendo-se
sempre
Figura 9: O Pravda.
constantemente informado. Em 1912, por
exemplo, quando o primeiro jornal bolchevique legalizado – Pravda ("A Verdade") – começou a
circular em Petrogrado, Lênin exigiu minuciosas explicações sobre o dinheiro arrecadado para o
jornal: fazia questão de saber de onde vinham as contribuições regulares, e portanto a base
financeira estável, para o partido. Ele pessoalmente vivia arrumando jeitos de fazer chegar
veladamente ao Império Russo cartas, publicações clandestinas e armas.
Assim compreende-se a excelência de Lênin como líder: sua capacidade de compreender
tudo o que se passava no partido, por dentro e por fora das revoluções, sua maestria em saber
ouvir – não muito comum nos russos – e na conciliação de correntes de pensamentos a primeira
vista opostos, mas que após a intervenção de Lênin, ponderada mas firme, agradava à todas as
linhas de pensamento e, é claro pela sua dedicação ininterrupta, como é relatado pela sua esposa:
“Era capaz de romper relações com seus amigos mais íntimos, se imagina-se que
iriam atrapalhar o movimento; e igualmente sabia aproximar-se de um inimigo da véspera,
de modo simples e cordial, sempre que a causa o exigisse. Continuava franco e duro
como sempre. Amava a vida campestres, as flores verdejantes, as caminhadas pelas
montanhas e lagos; mas também amava os ruídos da cidade grande, a multidão dos
trabalhadores, seus camaradas, a luta, avida em todas as suas facetas. Observando-o
dia-a-dia, porém, a gente podia ver que ele ia-se tornando cada vez mais reservado, mais
cuidadoso com as pessoas, e mais meditativo. Os anos de exílio foram difíceis de
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aguentar, e consumiram muito das forças de Lênin; mas fizeram dele o homem de luta de
que as massas precisavam e o único que as haveria de conduzir à vitória”.
Em 1907 Lênin deixa Zurique, onde até então morava, e segue com mais trinta e dois
revolucionários para Petrogrado. No dia de sua chegada, o Ministério das Relações Exteriores
recebeu da Embaixada Britânica um memorando no qual Lênin era citado como homem
extremamente perigoso e “excelente organizador”, que “muito provavelmente” haveria de
encontrar numerosos adeptos na capital russa.
5.2.A Revolução de 1917:
Com o exponencial crescimento do proletariado, “germe de negação” capitalista, o colapso
do regime, ou seja, a luta entre a classe burguesa opressora e classe proletária oprimida, só se
aproximava, bastava a estes organização e união. Entretanto, Marx esclarecia que, em coerência
histórica, essa classe dominante – a burguesia – não seria diferente das anteriores ao não permitir
a fácil transição de poder para a nova classe dominante – o proletariado – pacificamente.
No contexto russo, era perceptível um anacronismo no século dezenove, pois, em
contraste com um capitalismo, perdurava fortes resquícios do feudalismo. Assim, Lênin
argumentava que uma transição para o socialismo só seria possível a partir de uma revolução ao
mesmo tempo contra o tsarismo e a burguesia, incluindo os camponeses ricos. E essa revolução
seria liderada pelo proletariado, uma vez que esse “é o verdadeiro e declarado inimigo do
absolutismo”, segundo palavras do próprio Lênin.
Mas o que o Vladimir enxergava nos partidos Sociais-Democratas pelo mundo,
principalmente no alemão, o maior, era a corrupção dos valores marxistas e uma acomodação dos
grandes líderes nos altos cargos políticos, que garantiam bons salários. Nesse sentido, a
circulação do jornal Iskra foi importante para manter os ideais revolucionários puros e para formar
o tipo de organização partidária que para Lênin eram essenciais.
O Domingo Sangrento, como também ficou conhecida a revolução de 1905, foi
fundamental à proporção que foi um ensaio para a revolução de 1917: erros foram corrigidos e as
fraquezas superadas. E, se a guerra com o Japão deixara enormes marcas de fome e miséria, a
primeira guerra mundial só potencializara a situação caótica que dominava o campo e as cidades,
elevando-a a níveis insuportáveis. Trabalhadores deixavam o campo para servir ao exército,
criando enormes defasagens na produção, as ferrovias, ao invés de alimentar as cidades com a
produção agrícola, alimentavam os campos de batalhas com soldados e armas.
Nas trincheiras, devido à defasagem de mantimentos, munição e até mesmo de armas,
além da incapacidade dos velhos generais de adequação do confronto bélico aos moldes do
século vinte, o caos se instalava, pois, à medida que as baixas aumentavam, também
14
Guia de Estudos
Politburo de 1924
aumentavam as insubordinações. Entretanto, o maior erro do czar foi assumir, em 1915, o controle
direto do exército, pois assim os fracassos na guerra foram associados imediatamente à figura do
Tsar.
Em 23 de fevereiro de 1917, que mais tarde seria reconhecido como o Dia Internacional
das Mulheres, operárias saíram para as ruas gritando “abaixo a fome, pão para os trabalhadores”
e conclamando outros operários a participar da manifestação. A
singularidade do movimento está no fato de que o temível
exército cossaco, que deveria reprimir a manifestação, foi
embora. Enquanto isso, o Tsar simplesmente ignorasse os
ocorridos.
Figura 10: Lênin discursa em
1917.
Finalmente, no dia 28 de fevereiro, os manifestantes
invadiram o Palácio Tauride, onde a Duma se reunia, e foram
recebidos pelo popular deputado Kerensky. Mais tarde,
iniciaram-se duas reuniões simultâneas, uma dos deputados da
Duma, que mais tarde comporiam o Governo Provisório, e outra
dos Sovietes de Petrogrado, no qual os bolcheviques tinham
apenas duas representações em quatorze. Os sovietes decidem
criar seu próprio jornal, o Izvestia ("O Mensageiro").
O Tsar possuía um limitado exército leal, o que tornou impraticável o estado de sítio que
foi por ele proclamado. Com medo de que se repetisse o sangrento confronto da revolução de
1905, o Grão-Duque ordenou a retirada do exército leal que permanecia no palácio de inverno. E,
em dois de março, quando o Tsar tentava se retirar para o palácio de Alexandre, foi assinada a
abdicação.
Contudo, derrubado o Tsar, reavivavam-se antigas divergências entre o Governo
Provisório, que era constituído majoritariamente pela classe média e defendia a permanência do
Império Russo na guerra, e o Soviete de Deputados dos Trabalhadores e Soldados, que queriam
terras para os camponeses, jornada de
oito horas, retirada do país da guerra,
separação da Igreja do Estado, oficiais
eleitos democraticamente e exército
com disciplina voluntária.
A Duma, depois que o GrãoDuque Miguel – após ter sido indicado
pelo Tsar – recusou a coroa, proclamou
a República, encerrando a dinastia dos
Romanov, e o Governo provisório
Figura 11: O Palácio Tauride.
elegeu o príncipe Georgy Lvov para o
primeiro-ministro e Kerensky para
ministro da guerra. Todavia, após a renúncia de Lvov, Kerensky assumiu como primeiro-ministro.
Com a manutenção do caos interno devido à não preocupação de Kerensky com a situação do
15
Guia de Estudos
Politburo de 1924
povo e com a não retirada da Rússia da guerra, o poder do Governo Provisório estava cada vez
mais difuso.
Essa fraqueza no poder dará margem para o golpe de estado realizado pelos
bolcheviques, conhecida como a segunda parte da revolução de 1917, ou Revolução de Outubro.
A partir desse ponto, a revolução bolchevique caminha a
passos largos: Trotsky é eleito presidente do soviete de
Petrogrado, os bolcheviques ingressam em massa nos sovietes,
Lênin entra clandestinamente na Rússia e a Guarda Vermelha,
uma milícia popular, é criada. O prestígio dos bolcheviques
também cresceu imensamente depois que esses tiveram
participação fundamental na desmantelamento da tentativa de
golpe do General Kornilov, que ameaçava tomar a capital. Em 25
de outubro, com o apoio da frota do Báltico e da guarnição militar,
os bolcheviques triunfam, derrubando a resistência de Kerensky e
do Governo Provisório.
Figura 12: General Kornilov.
Já em sete de novembro de 1917, com larga maioria no
Congresso dos Sovietes, os bolcheviques definitivamente tomam o poder, a partir da criação do
Conselho dos Comissários do Povo, tendo Lênin como presidente. Trotsky assume o cargo de
Ministro dos Negócios Estrangeiros e Stalin o de Ministro das Nacionalidades (Interior). Também é
assinado o acordo de paz com a Alemanha, com a perda da Polônia, da Finlândia, da Ucrânia e
dos países Bálticos. Assim, instala-se o primeiro Estado socialista do mundo.
6. O Governo Lênin
6.1. A Guerra Civil Russa:
6.1.1. Contexto histórico da Guerra Civil:
A tomada do poder na Rússia pelos bolcheviques gerou uma rápida reação, tanto dentro
quanto fora do país. Os mencheviques, tendo perdido sua considerável participação na política
russa, se aliaram a alguns apoiadores do regime tsarista contra o recém-empossado governo de
Lênin. Ao mesmo tempo, era notável que potências capitalistas, principalmente Reino Unido,
Japão, França e Estados Unidos temiam que o espírito revolucionário ultrapassasse as fronteiras
da Rússia.
Os opositores do novo regime, com grande apoio do capital estrangeiro, rapidamente
organizaram um exército para a derrubada dos bolcheviques. Era o início da Guerra Civil Russa,
que se estenderia por quatro anos, e seria o primeiro grande problema de Lênin.
Com a queda do regime tsarista e a posterior derrubada do Governo Provisório, o poderio
militar russo passou para as mãos do Exército Vermelho, uma organização criada por Trotsky em
1918 como substituta da Guarda Vermelha e composta por voluntários, o que reduzia
consideravelmente o contingente à disposição. Ainda em 1918 foi instituído o alistamento
16
Guia de Estudos
Politburo de 1924
obrigatório, e antigos oficiais tsaristas, passaram a ser "voenspetsy" (conselheiros militares),
sendo ameaçados de morte e obrigados a jurar lealdade ao Exército Vermelho. No fim, mais de
80% do Exército Vermelho tinham sido membros do exército tsarista. No mesmo ano, a
Assembléia Constituinte foi dissolvida pelo governo bolchevique. Com isso, o domínio bolchevique
estava definitivamente estabelecido na Rússia. A oposição - os russos brancos (membros do
deposto Governo Provisório e tsaristas) - passou a se organizar para derrubar o governo.
Ao fim da Revolução de Outubro, a parte russa na Ásia Central permanecia sob controle
das forças tsaristas. Entre novembro de 1917 e os primeiros meses de 1918 a região foi dominada
pela Guarda Vermelha, servindo como base para o Partido Comunista nas estepes russas.
Começava a Guerra Civil, que se estenderia pelos próximos anos. Pequenos e esporádicos
confrontos entre as tropas brancas e vermelhas marcaram o final de 1917.
6.1.2. Os primeiros anos do conflito:
Em 1918, primeiro ano de conflito intenso, a Guarda Vermelha dominou Kiev, capital da
Ucrânia, em janeiro, e avançou em direção à região de Rostov, dominada por cossacos (tribos
militares), e ganharam controle sob essa em fevereiro. Nos meses seguintes, porém, os russos
brancos iniciaram um contra-ataque e passaram também a contar com apoio militar e financeiro
estrangeiro. Tropas francesas e britânicas invadiram e dominaram diversos portos russos ao
oeste. Na Ásia Central, tropas britânicas tentaram dominar as regiões de Tashkent, Bukhara,
Khiva (Uzbequistão) e Ashkhabad (Turcomenistão), sem sucesso. Parte da Ucrânia foi retomada
pelos cossacos, que criaram o Exército de Don, comandado por Pyotr Krasnov. O grande avanço
das tropas brancas, porém, ocorreu no leste da Rússia.
No período da Grande Guerra
Mundial, tropas tchecoslovacas se
aliaram voluntariamente à Entente em
troca da promessa da independência
do país após o conflito. Cerca de 30
000
soldados
das
Legiões
Tchecoslovacas foram enviados ao
Império Russo. Com a queda do tsar e
a assinatura do Tratado de BrestLitovsk pelos bolcheviques, o Império
Alemão exigiu que as tropas
tchecoslovacas na Rússia fossem Figura 13: As Legiões Tchecoslovacas.
desarmadas.
A tentativa bolchevique de desarmamento resultou em um levante das Legiões. Com a
atenção dos bolcheviques voltada para a Revolta das Legiões, os russos brancos conseguiram
dominar a Sibéria e parte do leste russo, estabelecendo o "Governo Provisório da Rússia", sob o
comando do Almirante Aleksandr Kolchak.
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Guia de Estudos
Politburo de 1924
Em 1919, as tropas de Kolchak avançaram em direção ao centro da Rússia, sendo
barrados por uma linha de cidades. O norte do Cáucaso foi dominado pelas tropas do General
Anton Denikin, que chegaram à cidade de Tsaritsyn.Tropas anglo-americanas capturaram
Arkhangelsk. Ao noroeste, o General Nikolai Yudenich organizou um efetivo de aproximadamente
30 000 soldados estonianos e britânicos para tentar tomar Petrogrado. Trotsky organizou e
comandou pessoalmente a defesa, com cerca de 15 000 soldados e os 700 000 habitantes da
cidade, expulsando Yudenich de volta para a Estônia. O Exército de Don conseguiu invadir o
território russo, mas foi barrado pelo General Mikhail Tukhachevsky. Na Ásia, tropas japonesas
tomaram Vladivostok.
O mês de junho acabaria sendo decisivo para o resultado da guerra. Os bolcheviques
retomaram a Sibéria, empurrando as tropas de Kolchak em direção à região de Chita, ocupada por
tropas japonesas. Com o leste razoavelmente livre, as tropas vermelhas puderam concentrar-se
no combate a Denikin, que dominara Tsaritsyn e avançava perigosamente em direção a Moscou.
O Exército de Don também tentou avançar na Rússia, mas foi contido. Após um longo embate, o
Exército Vermelho, sob o comando de Trotsky, conseguiu retardar o avanço das tropas brancas
em setembro. Reino Unido, Estados Unidos e
França passaram a oferecer apenas equipamentos,
apoio técnico e financeiro, retirando as tropas do
conflito. Com isso, as tropas de Denikin
encontravam-se, em setembro, com suprimentos
limitados e desgastadas fisicamente. Em novembro,
após inúmeras baixas para os dois lados, os brancos
tinham poucos pontos dominados no Cáucaso, e a
resistência na Rússia estava prestes a acabar.
Na Ucrânia, os bolcheviques contavam com
apoio
do
Exército Negro, sob o comando do
Figura 14: Trotsky discursa para o Exército
Vermelho.
revolucionário anarquista Nestor Makhno, que
conseguira ocupar o sul do país e a região da
Crimeia. O Exército Vermelho retomou Kiev em dezembro de 1919, levando o Exército de Don
para o Mar Negro. Makhno foi derrotado pelas tropas brancas, e não recebeu auxílio dos
bolcheviques, o que permitiu que o Exército de Don organizasse um último ponto de resistência
em Odessa e na Crimeia.
6.1.3. O fim da Guerra Civil:
No início de 1920, o exército de Kolchak acabou se desfazendo, em especial devido à
perda de Omsk, no ano anterior.Grygory Semyonov assumiu o comando sobre os poucos
soldados que insistiam na luta, e seguiu em direção à região de Chita, ocupada por tropas
japonesas, e conseguiram manter o controle sobre a região. Porém, alguns meses depois, as
tropas japonesas se retiraram de Chita, abrindo caminho para os bolcheviques retomarem a região
em novembro. Kolchak foi capturado por tropas tchecoslovacas e entregue aos bolcheviques,
sendo executado no mesmo ano. Semyonov exilou-se na China. Na Ásia Central, o único
problema passou a ser a Revolta dos Basmachi, grupos islâmicos que lutavam para libertar a Ásia
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Guia de Estudos
Politburo de 1924
do domínio russo. O General Enver Pasa, da Turquia, assumiu o comando das tropas rebeldes,
que estavam na luta contra os russos desde 1916. As tropas russas, sob o comando de Mikhail
Frunze, conseguiram apaziguar o a luta, embora até 1924 o conflito não estivesse encerrado.
O exército de Denikin uniu-se ao de Don, criando o Exército Russo do Sul. Os
bolcheviques avançaram em direção ao rio Don, dominado pelos brancos, que tentaram uma
evacuação em direção a Novorossiysk. Denikin renunciou ao comando do Exército do Sul, que foi
assumido por Pyotr Wrangel. A pequena parte controlada na Ucrânia passou a ser o último foco
de resistência dos brancos na Guerra Civil. Wrangler tentou uma última ofensiva, mas foi contido e
empurrado de volta para a Crimeia pelo Exército Vermelho, sob o comando de Mikhail Frunze, e
seu recente aliado, o Exército Negro, de Nestor Makhno. Com o conflito perdido, Wrangler e os
últimos soldados brancos exilaram-se na Turquia.
Tentando reassumir em definitivo o controle sobre a Ucrânia, o governo russo ordenou à
Cheka (polícia secreta) que assassinasse Nestor Makhno, o líder anarquista e então aliado. As
tentativas fracassaram, e o Exército Vermelho, ainda sob o comando de Frunze iniciou uma
campanha contra os anarquistas, exilando Makhno em 1921. Algumas revoltas camponesas
eclodiram, mas foram reprimidas. A Ucrânia retornava às mãos russas.
Pouco aconteceu nos anos seguintes: tropas bolcheviques continuaram em conflito com
os Basmachi na Ásia Central, e conseguiram retomar Vladivostok das tropas japonesas, que eram
as únicas a ocupar alguns territórios russos na Ásia.
As consequências foram catastróficas para o país: além dos 2,7 milhões de mortos no
conflito em si, a área cultivada caiu para 62% comparada ao período pré-guerra. A produção de
minérios caiu considervalemente. O país passou por períodos de seca em 1920 e 1921, e por um
período de fome em 1921. Lênin foi forçado a adiar o projeto socialista na recém-criada União
Soviética, e criou a Nova Política Econômica (NEP) para estabilizar a situação do país.
6.2. A Fome de 1921:
Entre 1914 e 1921, a Rússia esteve envolvida em dois grandes conflitos: A Grande Guerra
Mundial, lutando de 1914 a 1917, e a
Guerra Civil, do fim de 1917 a 1921. A
produção no campo sofreu duros golpes.
Para a Grande Guerra, a maior parte do
exército foi composta por camponeses
sem treinamento militar, o que resultou
em um grande número de mortes e a
queda na produção, com o pouco
restante sendo voltado para o exército.
Na Guerra Civil, o Comunismo de Guerra
adotado por Lênin tinha, dentre suas
Figura 15: Vítimas da fome de 1921.
medidas, recolher a produção dos
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Guia de Estudos
Politburo de 1924
camponeses para repassá-la ao Exército Vermelho. A Rússia passava por um enorme período de
seca, e a medida de Lênin agravou a falta de alimentos no campo.
A problema da fome continuou até 1922, sendo abrandado com o avanço econômico da
União Soviética. Nesse período de um ano, foram mais de três milhões de mortos em decorrência
da crise de alimentos. Apesar da gravidade do problema não ser comparável à crise anterior, o
país ainda sofre, em 1924, com a falta de alimentos no campo.
6.3. NEP
O início de seu governo é atormentado pelas crises de abastecimento das cidades,
miséria generalizada e pela tentativa de derrubada do poder pelos contrarrevolucionários,
apoiados pelas potências europeias. A produção do trigo passou a ser monopólio estatal, os
excedentes ficavam com os governos locais para a administração. Incentivos foram dados as
industrias, que ficaram nas mãos dos operários, e tentou-se reconstruir os parques industriais.
Todavia, o que podia ser notado era que o país, que ainda não possuía um poder
realmente consolidado, não estava pronto para mudanças tão profundas. Lênin, consciente disso,
decide abandonar o comunismo de guerra e criar a Nova Política Econômica (NEP), uma volta ao
capitalismo de Estado como solução para resolver o impasse econômico: “É preciso dar dois
passos para trás para depois avançar”. O objetivo fundamental é organizar e planejar a economia
e a sociedade e as medidas foram: permissão de criação de empresas privadas, como a
manufatura e o comércio em pequena escala, a liberdade salarial e de comércio exterior, sob
supervisão do Estado, são autorizados os empréstimos externos e os camponeses são obrigados
a pagar taxas em espécie.
No ano de 1922, uma reunião do Comitê de Nacionalidades, chefiado pelo Comissário do
Povo Joseph Stalin, resultou na criação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas,
congregando sob uma mesma bandeira os diversos componentes do antigo Império Russo, e
outras repúblicas que haviam aderido ao processo revolucionário socialista.
6.4. A criação da União Soviética
O Império Russo congregava diversas etnias, e se estendia por parte da Europa e da
Ásia. Os tsares ignoravam essa diversidade, desfavorecendo as minorias e privilegiando os
eslavos. Com a Revolução de 1917 e a posterior tomada de poder pelos bolcheviques, as minorias
passaram a receber uma atenção um pouco maior, embora ainda pouco significativa.
Um dos principais líderes bolcheviques, Joseph Stalin era parte de uma das minorias, os
georgianos, vindo de uma ao sul de Moscou e com aspirações à autonomia política. Em uma
tentativa de dar maior importância às diversas etnias do território russo, o governo bolchevique
criou o cargo de Secretário de Nacionalidades, assumido pelo próprio Stalin, que, em 1922,
20
Guia de Estudos
Politburo de 1924
assumiria como Secretário Geral do Partido Comunista, função criada por Lênin para que um
membro forte do partido coordenasse as questões administrativas.
Em dezembro do mesmo ano, contando com
esse cargo de maior importância, Stalin convocou uma
Conferência entre representantes das Repúblicas
Socialistas que compunham a Rússia: Mikhail Kalinin
(República Federativa Socialista Soviética da Rússia),
Mikhail Tskhakaya (República Socialista Federativa
Soviética Transcaucasiana), Mikhail Frunze e Grigori
Petrovski (República Socialista Soviética da Ucrânia)
e
Aleksandr Chevyakov (República Socialista Figura 16: A bandeira da recém-criada
Soviética da Bielorrússia). No dia 29 de dezembro de União Soviética.
1922, os cinco representantes das quatro repúblicas assinaram a Declaração de Criação da União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
7. A situação em 1924:
Os primeiros anos do Governo Lênin foram marcados por crises, especialmente políticas e
econômicas. Após a derrubada do Governo Provisório em outubro de 1917 e a consequente
implementação de um governo socialista na Rússia, o Ocidente rapidamente voltou-se contra o
país. A primeira medida foi o apoio aos russos brancos. Enquanto o governo revolucionário exigia
a anulação do Tratado de Brest-Litovsk (retornando os territórios que o país havia cedido), os
outrora aliados da Tríplice Entente
pressionavam o país e financiavam os
contrarrevolucionários bolcheviques. A
Guerra Civil, inevitável, eclodiu em 1918, e
os efeitos foram sentidos nos anos
seguintes: além do saldo de dois milhões de
mortos, os investimentos no conflito
agravaram a crise da já abalada economia
russa. Buscando estabilizar a situação, Lênin
pôs em prática a Nova Política Econômica
(NEP), contando com investimentos
privados, gerando polêmica entre os Figura 17: Trotsky( à esquerda), Lênin (ao centro) e
membros do Partido Comunista.
Kamenev (à direita) em 1919.
Apesar das críticas, a NEP
conseguiu recuperar consideravelmente a economia soviética.
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Guia de Estudos
Politburo de 1924
7.1. A morte de Lênin:
Em 30 de agosto de 1918, Fanya Kaplan, do Partido Revolucionário Socialista, disparou
três tiros contra Lênin: um no braço, outro no pescoço e um terceiro, que atingiu uma mulher
próxima ao líder revolucionário, que era acusado por Kaplan de trair os ideais socialistas.
Lênin foi levado ao Kremlin, e sobreviveu, embora sem retirar a bala do pescoço. A saúde
do líder russo passou a piorar. Além de sofrer com as consequências do atentado, era visto
trabalhando ininterruptamente, o que agravava seu estado físico e psicológico. Lênin ficava cada
vez mais debilitado, e, em maio de 1922, o excesso de atividades (Vladimir dizia que seu último
descanso havia sido durante a recuperação do atentado de Kaplan) cobrou um preço: Lênin sofreu
um acidente vascular cerebral, limitando os movimentos de seu lado direito. Recuperou-se, mas
reduziu o ritmo de trabalho.
Nesse período, escreveu seu testamento. Em dezembro, sofreu outro AVC, que paralisou
definitivamente o lado direito. Em março de 1923 sofreu um terceiro AVC, que o deixou preso a
uma cama e mudo.
No dia 21 de janeiro de 1924, aos 53 anos, Vladimir Lênin faleceu em Gorki. As
divergências ideológicas, que já existiam internamente no partido afloram, na disputa pelo poder
de duas linhas de pensamento contrastantes: a de Trotsky, que, por conhecer o marxismo em sua
essência, defendia a expansão do comunismo para o mundo e a de Stalin, que buscava o
“socialismo em um só país”.
7.2. A disputa pela sucessão:
A piora considerável da saúde de Lênin após o segundo acidente vascular cerebral
inevitavelmente trouxe à tona a questão da sucessão do debilitado líder soviético. Em 1923, o
terceiro AVC fez com que providências fossem tomadas. Stalin, Kamenev e Zinoviev, três dos
principais membros do Partido Comunista se organizaram em uma Troika (triunvirato) para
comandar a União Soviética. O medo maior, comum aos três, era uma eventual ascensão de
Trotsky, que sabidamente era apoiado por Lênin, embora com algumas ressalvas.
A primeira manobra da Troika foi retirar Trotsky do cargo de Comissário do Povo para a
Guerra, cargo que passou a Kliment Voroshilov, membro do Comitê Central do Partido Comunista.
Diversos dos aliados de Trotsky, em especial Georgy Pyatakov, foram expurgados do Partido
Comunista, isolando a esquerda.
O Testamento de Lênin era outra das preocupações da Troika, pois seus membros
sabiam que as últimas palavras de Lênin seriam críticas aos rumos da política soviética. Lênin
desejava que o documento fosse lido um ano antes, no XII Congresso, de abril de 1923, porém
não teve seu desejo atendido. Nadezhda Krupskaia, a viúva de Lênin, enviou o testamento ao
Comitê Central, e em maio de 1924, durante o XIII Congresso do Partido Comunista da União
Soviética, Lev Kamenev leu as últimas palavras de Lênin para os membros do partido, com a
condição de que nenhum outro país conseguisse acesso ao documento.
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Guia de Estudos
Politburo de 1924
O testamento criticava os principais membros do Politburo: Kamenev, Zinoviev, Trotsky,
Bukharin e, principalmente, Stalin. Lênin afirmava que a Troika era uma aliança política instável
devido aos interesses particulares de seus membros. Para o líder, Kamenev e Zinoviev mereciam
desconfiança por terem sido contrários à Revolução de Outubro. Trotsky era elogiado como o
membro mais capacitado para a sucessão, mas era criticado quanto à sua pouca aptidão para a
política e seu excesso de confiança. Bukharin, um dos jovens revolucionários, era criticado por ser
excessivamente conservador. Porém, as principais críticas estavam voltadas para Stalin.
O Secretário Geral era visto por Lênin como um homem bruto, pouco educado, que
abusava do poder, concentrado excessivamente em suas mãos. Por fim, o desejo do líder
revolucionário era a deposição de Stalin, que era incapaz de comandar o país. O testamento,
porém, foi não foi levado em conta, já que os membros do Partido consideravam que Lênin estava
"debilitado" quando o escreveu.
7.3. As discussões no Politburo:
Duas correntes políticas polarizavam as discussões no Partido Comunista: o "socialismo
em um só país", que tinha Stalin como principal defensor, e a "revolução permanente", ideia
defendida por Trotsky. A ideia do "socialismo em um só país" estabelecia que, antes de uma
revolução socialista em escala mundial, esse deveria se desenvolver e ser consolidado em um
único país (no caso, a URSS), pois, caso contrário, não haveria chance de sucesso para esse
país, isolado em meio a um mundo de capitalistas, sem parceiros. Para Trotsky, as parcerias
seriam alcançadas com uma revolução socialista mundial, criando uma parceria com outros países
socialistas, pois a URSS sozinha seria incapaz de se desenvolver.
Para concretizar sua ideia, Stalin concentrava um poder cada vez maior como Secretário
Geral. Trotsky, porém, defendia que o poder político não deveria ser concentrado por um partido,
mas cedido ao proletariado, e também era contrário à burocratização da estrutura do Partido
Comunista. Stalin defendia, ainda, que a URSS já estava próxima do socialismo "real",
favorecendo a teoria de consolidá-lo internamente. Trotsky dizia que, embora o país fosse uma
conquista revolucionária, não alcançaria o socialismo enquanto outros países europeus não
aderissem à revolução.
Quanto às classes sociais, Stalin defendia a presença do campesinato na revolução
socialista, enquanto Trotsky acreditava que o Secretário Geral privilegiava os camponeses e
desfavorecia os operários, que seriam de fato responsáveis pela revolução. Além disso, afirmava
que os Estados desenvolvidos dificilmente teriam uma agitação revolucionária imediata devido ao
bem-estar de parte da população.
A NEP e uma eventual abertura política também opunham Trotsky, Stalin e outros
membros do Politburo. A política econômica era criticada por Trotsky, Solkonikov e Frunze, que a
consideravam distante do socialismo (era o "capitalismo de Estado", segundo Solkonikov) e
defendiam o fim da NEP e dos investimentos privados. Já Stalin e seus aliados de direita, em
especial Bukharin, defendiam a permanência da NEP, essencial para consolidar a economia
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Politburo de 1924
soviética e, consequentemente, fortalecer o socialismo no país. Quanto à política, Stalin era
criticado principalmente por Trotsky e Frunze, e de maneira moderada por Rudzutaks, que
defendiam uma maior abertura. Já Stalin e a ala de direita defendiam um governo forte e
autoritário, que colaborasse com a consolidação do socialismo.
A Geórgia, terra natal de Stalin, também era alvo de disputas, com Trotsky defendendo a
autonomia do povo georgiano, enquanto o Secretário Geral era contrário, defendendo que o
território continuasse submetido à República Socialista Federativa Soviética Transcaucasiana,
sem a criação de um território administrativo para a Geórgia exclusivamente.
As fronteiras com os Países Bálticos e, principalmente, com a Polônia e com a Finlândia
sempre foram alvos de disputa, já que o governo bolchevique pretendia retomar os territórios
cedidos no Tratado de Brest-Litovsk.
8. Divisão do Politburo:
Um pouco antes da morte de Lênin, iniciou-se uma disputa pela sucessão do líder
soviético. Em um primeiro momento, a disputa opôs duas ideias: o fortalecimento do socialismo na
União Soviética à ideia da revolução mundial, tendo, respectivamente, Stalin e Trotsky como
principais defensores.
Dois dos principais membros do Politburo, e candidatos fortes à sucessão de Lênin, Lev
Kamenev e Grigory Zinoviev (que compunham a troika ao lado de Stalin), tinham ideias
semelhantes às de Trotsky, de quem, ironicamente, eram fortes adversários políticos. Stalin
encontrava um forte apoio nos membros da "ala de direita" do Politburo: Nikolai Bukharin, Alexei
Rykov, Mikhail Tomsky e Mikhail Kalinin. Embora fosse favorito à sucessão de Lênin devido às
suas alianças políticas, Stalin também tinha grandes adversários políticos, sendo Trotsky o
principal, mas não o único. Mikhail Frunze também era um forte opositor de Stalin, pois
compartilhava da ideia da revolução socialista mundial. Apontado como um forte candidato à
sucessão, Frunze raramente considerava tal hipótese, e apoiava Zinoviev.
Janis Rudzutaks e Grigory Solkonikov eram opositores moderados de Stalin. Criticavam
algumas das atitudes do Secretário Geral, mas evitavam ações mais abertas. Alguns boatos
chegavam a apontar Rudzutaks, um dos homens de confiança de Lênin dentro do Partido
Comunista, como uma das escolhas do ex-líder para a sucessão.
Stalin também possuía um apoio moderado do veterano Felix Dzerzhinsky, responsável
pelo Terror Vermelho, uma execução de milhares de opositores do governo de Lênin, realizada a
mando de Stalin.
Vyacheslav Molotov deve sua presença no Politburo principalmente à sua fortíssima
ligação com Stalin, e, portanto, o apóia incondicionalmente.
24
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Politburo de 1924
8.1. Joseph Stalin

Secretário Geral do Partido Comunista da URSS;

Escolha para a sucessão: Stalin

Alianças fortes: Nikolai Bukharin, Alexei Rykov, Mikhail Tomsky, Mikhail Kalinin,
Vyacheslav Molotov.

Alianças moderadas: Lev Kamenev, Grigory Zinoviev, Felix Dzerzhinsky.

Oposições fortes: Léon Trotsky, Mikhail Frunze, Janis Rudzutaks.

Oposição moderada: Grigory Solkonikov.
8.2. Léon Trotsky

Comandante do Exército Vermelho;

Escolha para a sucessão: Trotsky

Alianças moderadas: Janis Rudzutaks, Grigory Solkonikov.

Oposições fortes: Joseph Stalin, Lev Kamenev, Grigory Zinoviev.
8.3. Lev Kamenev
25
Guia de Estudos
Politburo de 1924

Diretor do Comitê Central do Partido Comunista da URSS;

Escolha para a sucessão: Kamenev

Aliança forte: Grigory Zinoviev.

Aliança moderada: Joseph Stalin.

Oposição forte: Léon Trotsky.
8.4. Grigory Zinoviev

Diretor da Internacional Comunista (Comintern) e Comissário do Povo para o
Exército;

Escolha para a sucessão: Zinoviev

Aliança forte: Lev Kamenev.

Aliança moderada: Joseph Stalin.

Oposição forte: Léon Trotsky.
8.5. Nikolai Bukharin

Teórico socialista renomado e editor-chefe do Pravda;
26
Guia de Estudos
Politburo de 1924

Escolha para a sucessão: Stalin

Alianças fortes: Joseph Stalin, Alexei Rykov, Mikhail Tomsky, Mikhail Kalinin.

Oposição forte: Léon Trostky.
8.6. Alexei Rykov

Diretor do Conselho de Comissários do Povo;

Escolha para a sucessão: Stalin

Alianças fortes: Joseph Stalin, Nikolai Bukharin, Mikhail Tomsky, Mikhail Kalinin, Lev
Kamenev.

Oposição forte: Léon Trotsky.
8.7. Mikhail Tomsky

Secretário Geral da União Internacional Trabalhista Vermelha (Profintern);

Escolha para a sucessão: Stalin

Alianças fortes: Joseph Stalin, Nikolai Bukharin, Alexei Rykov, Mikhail Kalinin.

Oposição forte: Léon Trotsky.
8.8. Mikhail Frunze
27
Guia de Estudos
Politburo de 1924

Diretor do Comitê Militar Revolucionário;

Escolha para a sucessão: Zinoviev

Aliança moderada: Grigory Zinoviev.

Oposição forte: Joseph Stalin.
8.9. Janis Rudzutaks

Secretário do Comitê Central do Partido Comunista da URSS;

Escolha para a sucessão: Trotsky

Aliança moderada: Léon Trotsky.

Oposição moderada: Joseph Stalin.
8.10. Mikhail Kalinin
 Diretor do Comitê Executivo Central da União Soviética;
 Escolha para a sucessão: Stalin
 Alianças fortes: Joseph Stalin, Nikolai Bukharin, Mikhail Tomsky, Alexei Rykov.
 Oposição forte: Léon Trotsky.
28
Guia de Estudos
Politburo de 1924
8.11. Felix Dzerzhinsky

Diretor do Supremo Conselho Nacional de Economia e chefe da GPU (polícia
secreta soviética);

Escolha para a sucessão: Stalin

Aliança moderada: Joseph Stalin.
8.12. Grigory Sokolnikov

Comissário do Povo em Finanças;

Escolha para a sucessão: Trotsky

Aliança moderada: Léon Trotsky.

Oposição moderada: Joseph Stalin.
8.13. Vyacheslav Molotov

Vice-secretário do Comitê Central do Partido Comunista da URSS;

Escolha para a sucessão: Stalin
29
Guia de Estudos

Aliança forte: Joseph Stalin.

Oposição forte: Léon Trotsky.
Politburo de 1924
30

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